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Estudo da cloração direta da escória estanífera
Aluna: Marcelle Athayde Mury Maffort
Orientador: Rogério Navarro C. de Siqueira
1. Introdução
A crescente preocupação com o meio ambiente tem motivado a realização
projetos visando ao tratamento químico de resíduos industriais. Tais materiais, como,
por exemplo, misturas de óxidos oriundas de processos pirometalúrgicos (escórias e
poeiras), se configuram fontes em potencial de metais de elevado valor tecnológico, os
quais, uma vez extraídos de forma apropriada, podem ser então reutilizados. A escória
estanífera, por exemplo, pode ser tratada via cloração, de maneira que elementos como,
por exemplo, Ta, Nb, Zr, Ti, possam ser separados de elementos menos relevantes
economicamente, como, Al, Si, Ca e Mg [1].
Assim, a cloração pode ser vista como uma rota a ser aplicada [1,2] no sentido
de se tratar quimicamente este resíduo, ou seja, obtendo cloretos metálicos como CaCl2,
FeCl3, SnCl4... passíveis de separação por meios físicos, ou pode ser usada com o
objetivo de enriquecer o material (resíduo) em materiais relevantes, como Zr, Ti, Nb,
neste caso, clorando-se o que não interessa.
O processo de cloração pode ser desenvolvido na presença de um agente redutor,
como, por exemplo, uma fonte de carbono (ex. grafite), onde a maioria dos metais pode
ser convertido em cloretos voláteis [6]. Neste caso, ganha-se força motriz, ou seja,
ganha-se poder de cloração porém perde-se seletividade nesta cloração (Figura 1). Outra
possibilidade, no entanto, consiste em se empregar a cloração na ausência do referido
agente, de modo a alcançar uma considerável seletividade mediante o adequado controle
da temperatura, podendo-se, em última instância, além de obter metais de interesse de
forma seletiva, clorar os elementos indesejáveis (de menor valor agregado), deixando-se
o resíduo final enriquecido em metais tecnologicamente mais interessantes [6].
Figura 1. Viabilidade termodinâmica da cloração direta do V2O5 – efeito da presença
de um agente redutor
Neste contexto se insere o presente trabalho, que tem como principal objetivo o
estudo da seletividade associada à cloração de amostras de escória estanífera a 1273 ± 5
K na ausência de um agente redutor, visando a possível utilização do referido resíduo
como uma fonte para a obtenção de metais tecnologicamente relevantes.
2. Objetivos Estudo da viabilidade da cloração de amostras de escória estanífera a 1273 ± 5 K
na ausência de um agente redutor visando à obtenção de uma mistura de óxidos final
enriquecida em metais tecnologicamente importantes, como, por exemplo, Ti, Nb e Zr.
Neste sentido, o presente trabalho traz uma extensão do tempo reacional estudado
anteriormente, de 23 minutos para 43 minutos, bem como a caracterização das amostras
(sólidas) antes da solubilização para 23 e 43min de cloração, dando continuidade ao
trabalho apresentado no XX Seminário de Iniciação Científica PUC-Rio [3].
3. Abordagem termodinâmica A partir de uma abordagem termodinâmica planejada para uma composição em
concordância com os dados de DRX obtidos (tópico 5.1), algumas análises e
observações podem ser feitas.
Fazendo-se o gráfico da pressão de Cl2 x Temperatura para o processo de
cloração de CaO e MgO, utilizando-se a equação (1) para o cálculo da pressão de Cl2,
percebe-se que tanto o Mg quanto o Ca podem ser clorados estando na presença de
óxidos, porém, podemos concluir que a força motriz (poder de cloração) para o CaCl2 é
muito superior à força motriz para o MgCl2.
(1)
No que diz respeito aos demais possíveis óxidos presentes na escória, estudo
similar pode ser realizado, fixando-se a pressão parcial de O2 em 0,03 atm e a
temperatura em 1000°C, e, plotando-se a atividade química do cloreto formado como
função da pressão parcial de Cl2.
Figura 2. Viabilidade termodinâmica para a cloração direta dos óxidos MgO e CaO
Por exemplo, para o cálculo da atividade química de SnCl2, formado a partir da cloração
da casseterita – SnO2, empregou-se a equação (2). Metodologia similar foi utilizada
para os demais óxidos considerados.
(2)
Desta forma, a partir dos dados apresentados nas Figuras (3) a (5), pode-se
concluir que, enquanto os óxidos SiO2, ZrO2, Ta2O5, Nb2O5 não devem reagir com o Cl2
(Figura 4), os óxidos SnO2, Fe2O3, CaO e MgO serão clorados (Figura 3). Convém
ressaltar a superior força motriz para a reação do CaO e a maior estabilidade do Mg na
forma de um silicato, MgSiO3, em comparação com a forma oxidada – MgO (Figura 5)
Figura 3. Estabilidade relativa dos cloretos SnCl4, MgCl2 e FeCl3
Figura 4. Força motriz para a cloração de óxidos e silicatos de Mg, Ti, Zr, Si, Nb, Ta e Al
Figura 5. Estabilidade do magnésio enquanto óxido (MgO) e silicato (MgSiO3) no que tange o processo de cloração direta
4. Procedimentos Experimentais A escória empregada no presente estudo foi pesada e caracterizada
granulometricamente, produzindo-se três frações distintas – 2.83 a 4.00mm (A), 0.354 a
1.19mm (B) e menor que 0.210 mm (C). Cada fração foi moída a um tamanho de
partícula igual ou inferior a 0.10mm e submetida à ação direta do Cl2 puro (0.39 L/min)
a 1273 ± 5 K para tempos reacionais iguais a 20 e 40 minutos divididos em duas etapas.
A primeira, o fluxo de Cl2 é mantido constante por 17 minutos no processo de 20
minutos e por 37 minutos no processo de 40 minutos, e a segunda, definida pelo arraste
com nitrogênio (0.27 L/min), de todo o cloro disponível na atmosfera reacional, por 3
minutos nos dois processos.
Após a etapa reacional, a massa das amostras foi novamente avaliada, para então
promover a remoção dos cloretos não voláteis gerados mediante a solubilização em
água destilada a 348 ± 5K durante 4hs, seguida de filtração a vácuo. O procedimento foi
repetido duas vezes para cada amostra de maneira a se poder garantir que a massa do
material filtrado alcançasse um valor constante. Todos os materiais sólidos produzidos,
bem como as frações de escória antes do processo, foram caracterizados por difração de
raios X (DRX), visando à análise das fases presentes (método de Rietveld com
parâmetros fundamentais) e microscopia eletrônica de varredura (MEV) com
espectrometria de energia dispersiva por emissão de raios X (EDS), para,
respectivamente, o estudo da microestrutura das amostras e determinação de sua
composição elementar.
5. Resultados e discussões
5.1. Escória como recebida
Figura 6. Espectro de DRX característico da fração A não clorada
Figura 7. Espectro de DRX característico da fração B não clorada
Figura 9. Imagens via MEV (global) das frações A (a), B(b) e C(c) não cloradas
Figura 8. Espectro de DRX característico da fração C não clorada
Elemento %massa – Fig. (9a) %massa – Fig. (9b) %massa – Fig. (9c)
O 50,6 ± 2,6 51,1 ± 0,6 51,6 ± 1,2
Ti 2,8 ± 0,04 2,9 ± 0,03 2,3 ± 0,03
Nb 4,0 ± 0,07 3,7 ± 0,1 2,7 ± 0,05
Ta 0,3 ± 0,15 0,1 ± 0,02 0,1 ± 0,001
Ca
Mg
6,2 ± 0,3
1,5 ± 0,02
5,8 ± 0,2
1,6 ± 0,02
4,9 ± 0,4
1,4 ± 0,02
Ce 1,0 ± 0,06 1,1 ± 0,03 0,9 ± 0,02
K 0,8 ± 0,01 0,7 ± 0 0,8 ± 0
Al 4,0 ± 0,09 4,0 ± 0,07 4,3 ± 0,1
Si 12,4 ± 0,6 13,2 ± 0,8 13,0 ± 1,1
Sn 3,3 ± 0,2 4,8 ± 1,4 7,7 ± 1,2
Fe 3,9 ± 0,08 3,9 ± 0,1 4,6 ± 0,1
Zr 7,7 ± 0,6 6,5 ± 0,3 4,7 ± 0,2
Tabela 1. Teores mássicos elementares associados às imagens da Figura (9)
Em uma primeira análise, as frações se mostram quimicamente similares, como
pode ser observado após análise quantitativa dos respectivos difratogramas (Figuras 6, 7
e 8). Além disso, convém notar que todos os elementos identificados na análise via
EDS, se encontraram presentes nos resultados obtidos via análise quantitativa via DRX
(método de Rietveld). No entanto, no que diz respeito aos dados obtidos vida EDS, uma
análise mais atenta dos resultados, sugere algumas diferenças relevantes entre as três
frações estudadas. A fração C se apresenta mais rica em Sn e Fe, e contém um teor
inferior de Ca. Adicionalmente, no que tange os elementos de elevado valor tecnológico
(Zr, Nb, Ti), teores apreciáveis dos mesmos foram encontrados nas três frações, porém,
também na fração C percebem-se quantidades relativamente inferiores, quando
comparadas com as medidas realizadas nas frações A e B. Mediante análises via MEV
com maior aumento (MEV local), de fato, foi possível identificar partículas
apresentando teores bastante significativos em Zr, Ti e Nb, conforme apresentado na
Figura (10) e Tabela (2).
Figura 10. MEV local das frações A (a), B(b) e C(c)
Elemento %massa – Fig. (10a) %massa – Fig. (10b) %massa – Fig. (10c)
Ti 4,8 11,9 14,8
Nb 25,3 17,7 5,7
Ta 3,5 6,4 0
Zr 3,3 27,7 0
Th 0 0 6,3
Tabela 2. Teores mássicos elementares associados às áreas selecionadas da Figura (10)
5.2. Escória clorada e não solubilizada
Figura 11. Imagens via MEV das frações A (a), B(b) e C(c) cloradas com 40 minutos
Elemento %massa – Fig. (11A) %massa – Fig. (11B) %massa – Fig. (11C)
O 49,7 ± 0,2 49,2 ± 0,1 49,1 ± 0,4
Ti 1,9 ± 0,02 2,0 ± 0,02 1,8 ± 0,02
Nb 1,3 ± 0,02 1,3 ± 0,1 1,0 ± 0,02
Ca
Mg
6,2 ± 0,2
1,2 ± 0,01
7,3 ± 2,4
1,1 ± 0,02
7,0 ± 0,05
1,1 ± 0,01
Ce 1,0 ± 0,01 1,3 ± 0,1 1,1 ± 0,01
K 0,4 ± 0,001 0,3 ± 0,001 0,3 ± 0,001
Al 4,2 ± 0,03 4,4 ±0,2 5,4 ± 0,1
Si 14,1 ± 0,2 13,6 ± 1,7 14,1 ± 0,1
Sn 0,3 ± 0,01 0,3 ± 0,01 0,4 ± 0,005
Cl 9,8 ± 0,5 9,8 ± 0,6 10,5 ± 0,2
Fe 0,1 ± 0,003 0,1 ± 0,01 0,1 ± 0,003
Zr 8,5 ± 0,2 8,4 ± 0,7 7,2 ± 0,1
Th 0,8 ± 0,01 0,8 ± 0,02 0,7 ± 0,01
Tabela 3. Teores mássicos elementares associados às imagens da Figura (11)
Figura 12. Imagens via MEV das frações A (a), B(b) e C(c) cloradas com 20 minutos
De maneira a avaliar possíveis restrições cinéticas no que diz respeito às reações
de cloração de interesse, o processo foi estudado para tempos reacionais distintos, 20 e
40 minutos (vide metodologia – tópico 4), desenvolvendo-se em seguida a
caracterização dos materiais obtidos via MEV/EDS.
Observa-se uma grande similaridade dos dados apresentados nas Tabelas (3) e
(4), frações cloradas com 40 e 20 minutos respectivamente, ou seja, sugerindo que a
elevação do tempo reacional não apresentou efeitos sensíveis no que diz respeito à
composição química final. Em ambos os casos, há incorporação de cloro, o que sugere a
presença de cloretos não voláteis, como, por exemplo, a possibilidade de formação de
CaCl2, conforme visto durante a análise termodinâmica preliminar (Figura 2).
Elemento %massa – Fig. (12A) %massa – Fig. (12B) %massa – Fig. (12C)
O 47,8 ± 0,7 48,4 ± 0,3 50,1 ± 0,5
Ti 2,3 ± 0,02 2,0 ± 0,02 1,7 ± 0,04
Nb 2,2 ± 0,03 1,8 ± 0,06 1,3 ± 0,06
Ta 0,2 ± 0,03 0,3 ± 0,1 0,9 ± 0,5
Ca
Mg
8,1 ± 0,04
1,0 ± 0,01
7,4 ± 0,1
1,2 ± 0,01
6,7 ± 0,08
1,1 ± 0,02
Ce 0,9 ± 0,03 1,2 ± 0,04 1,1 ± 0,1
K 0,6 ± 0,01 0,6 ± 0,5 0,4 ± 0,01
Al 4,2 ± 0,06 4,7 ± 0,07 4,8 ± 0,07
Si 13,4 ± 0,06 14,0 ± 0,2 14,5 ± 0,7
Sn 0,6 ± 0,02 0,4 ± 0,03 0,6 ± 0,1
Cl 7,6 ± 0,06 9,3 ± 0,5 8,5 ± 0,2
Fe 0,4 ± 0,01 0,5 ± 0,02 0,3 ± 0,02
Zr 9,7 ± 0,1 7,3 ± 0,2 7,3 ± 0,2
Th 1,0 ± 0,04 0,9 ± 0,06 0,6 ± 0,07
Tabela 4. Teores mássicos elementares associados às áreas selecionadas da Figura (12)
Os teores de Fe e Sn apresentam valores quase nulos, e, assim como a
incorporação de Cl, sugerem que os referidos elementos foram removidos do material
na forma de cloretos voláteis (FeCl3 e SnCl4), novamente em concordância com os
dados termodinâmicos (Figura 3). Vale ressaltar que houve uma redução dos teores de
Nb em relação as frações não cloradas, com o Ti se mantendo constante e o teor de Zr
apresentando um significativo aumento.
A permanência de elementos de elevado valor tecnológico, como Zr, Ti, Ta e
Nb, conforme observado a partir de análises via MEV locais (Figuras 13 e 14, Tabelas 5
e 6), sugere, conforme as expectativas termodinâmicas, que os mesmos não reagiram
com o Cl2 nas condições impostas.
Figura 13. MEV local das frações A (a), B(b) e C(c) cloradas com 40 minutos
Elemento %massa – Fig. (13a) %massa – Fig. (13b) %massa – Fig. (13c)
Ti 0,3 6,894 0,0
Nb 0,9 12,9 2,3
Ta 1,3 8,1 1,6
Zr 22,2 16,8 48,3
Ce 0,02 0,1 1,0
Th 0,4 0,1 2,9
Tabela 5. Teores mássicos elementares associados às áreas selecionadas da Figura (13)
Figura 14. MEV local das frações A (a) e C(c) cloradas com 20 minutos
Elemento %massa – Fig. (14a) %massa – Fig. (14c)
Ti 0,5 0,2
Nb 3,0 1,2
Ta 4,0 0,9
Zr 49,3 42,4
Ce 0 0,1
Th 0,4 0,2
Tabela 6. Teores mássicos elementares associados às áreas selecionadas da Figura (14)
5.3. Escória clorada após solubilização
Após a solubilização (Tabelas 7 e 8), observa-se uma apreciável redução do teor
de Cl (teores quase nulos), e a concomitante redução no teor de Ca, sugerindo a
formação de CaCl2 que é então posteriormente solubilizado. Observou- se também a
presença de Ca residual, que pode ser explicada pela cinética característica da reação de
cloração do CaO, ou seja, não se clorou o suficiente, ou também pela presença do
mesmo em algum silicato não considerado na caracterização das frações de escória
como recebidas. Outro fator importante é o aumento nos teores dos elementos com alto
valor agregado, Ti, Zr e Nb. Entre os três, vale ressaltar o Zr, que atingiu valores na
ordem de 10% para as frações A e B.
Figura 15. Imagens via MEV das frações A (a), B(b) e C(c) cloradas com 40 minutos após
solubilização
Elemento %massa – Fig. (15a) %massa – Fig. (15b) %massa – Fig. (15c)
O 52,4 ± 3,8 52,0 ± 7,1 51,2 ± 2,4
Mg
Ti
1,2 ± 0,1
3,8 ± 1,1
1,2 ± 0,2
3,9 ± 2,0
1,1 ± 0,2
3,5 ± 0,8
Nb 2,6 ± 0,4 2,2 ± 0,8 1,9 ± 1,0
Ta 0,3 ± 0,1 1,1 ± 0,7 0,5 ± 0,3
Ca 1,7 ± 0,6 1,5 ± 0,2 1,8 ± 0,6
Ce 1,3 ± 0,4 1,4 ± 0,4 1,8 ± 0,2
K 0,04 ± 0,002 0,3 ± 0,1 0,06 ± 0,001
Al 4,1 ± 1,7 6,1 ± 3,4 4,3 ± 1,3
Si 17,9 ± 4,4 17,3 ± 6,5 19,2 ± 4,3
Sn 0,3 ± 0,01 0,2 ± 0,03 0,1 ± 0,02
Fe 0,4 ± 0,1 0,4 ± 0,1 0,2 ± 0,02
Zr 7,8 ± 3,5 10,0 ± 4,1 11,0 ± 3,4
Th 0,9 ± 0,1 0,8 ± 0,2 1,0 ± 0,1
Cl 0,2 ± 0,01 0,3 ± 0,03 0,2 ± 0,004
Tabela 7. Teores mássicos elementares associados às áreas selecionadas da Figura (15)
Figura 16. Imagens via MEV das frações A (a), B(b) e C(c) cloradas com 20 minutos após
solubilização
Elemento %massa – Fig. (16a) %massa – Fig. (16b) %massa – Fig. (16c)
O 53,0 ± 1,5 52,2 ± 2,9 52,7 ± 4,8
Mg
Ti
1,4 ± 0,1
3,8 ± 1,7
1,0 ± 0,1
5,0 ± 2,3
1,3 ± 0,1
3,8 ± 1,0
Nb 2,2 ± 0,1 2,7 ± 0,1 2,2 ± 0,1
Ta 0,3 ± 0,1 0 0,7 ± 0,5
Ca 2,2 ± 0,1 2,5 ± 0,3 2,2 ± 0,1
Ce 1,2 ± 0,1 1,9 ± 0,4 1,9 ± 0,7
K 0,1 0,3 ± 0,1 0,1
Al 6,5 ± 0,6 4,8 ± 0,3 5,8 ± 0,6
Si 16,7 ± 0,4 21,4 ± 1,0 18,6 ± 1,5
Sn 0,5 ± 0,1 0,5 ± 0,1 1,1 ± 0,1
Fe 1,0 ± 0,3 1,0 ± 0,1 1,2 ± 0,3
Zr 10,1 ± 0,4 10,0 ± 0,7 7,5 ± 0,6
Th 0,9 ± 0,1 1,0 ± 0,1 0,7 ± 0,1
Cl 0,2 ± 0,01 0,1 0,1
Tabela 8. Teores mássicos elementares associados às áreas selecionadas da Figura (16)
A presença de elementos tecnologicamente relevantes, como Zr, Nb, Ti e Ta foi
novamente comprovada mediante análises via MEV em maiores aumentos (Figuras 17 e
18, Tabelas 9 e 10). Neste contexto, dado que estes elementos permanecem no material
após as duas etapas principais do processo (cloração e solubilização), pode-se concluir
que estes de fato os mesmos devem ser encontrados na escória em questão na forma de
algum material, cuja cloração não apresenta suficiente força motriz nas condições
impostas, seja levando a formação de cloretos voláteis, seja resultando na formação de
cloretos condensados. Neste contexto, os dados obtidos via DRX sugerem que os
referidos elementos devem estar presentes na forma de óxidos, os quais, de acordo com
a avaliação termodinâmica preliminar, não são passíveis de reação com Cl2 nas
condições reacionais impostas.
Figura 17. MEV local das frações A (a), B(b) e C(c) cloradas com 20 minutos após
solubilização
Elemento %massa – Fig. (17a) %massa – Fig. (17b) %massa – Fig. (17c)
Ti 25,7 0 0
Nb 6,9 0 0
Ta 5,4 0 0
Zr 0 17,8 0
Ce 0 0 41,4
Tabela 9. Teores mássicos elementares associados às áreas selecionadas da Figura (17)
Figura 18. MEV local das frações A (a) e B(b) cloradas com 40 minutos após solubilização
Elemento %massa – Fig. (18A) %massa – Fig. (18B)
Ti 12,1 0,02
Nb 19,9 1,2
Ta 8,7 0,6
Zr 9,9 42,3
Ce 0,04 2,0
Tabela 10. Teores mássicos elementares para as áreas selecionadas da Figura (18)
5.4 Conversões alcançadas
As conversões foram calculadas utilizando os dados das massas obtidas durante
o processo. Sendo assim, a conversão só para o processo de cloração (X1) foi calculada
utilizando-se a massa inicial antes da cloração subtraída da massa final após a cloração,
dividindo-se o resultado pela massa inicial. Da mesma forma, calcularam-se as
conversões para o processo de solubilização (X2) e as conversões totais (X3), neste
último caso, considerando-se a massa inicial como a massa antes da cloração e a massa
final como a massa após a etapa de solubilização.
Fração X1 (%) X2 (%) X3 (%)
A 8.8 7.9 7.9 7.5 6.0
20.3 16.7 17.5
27.4 23.2 24.0
B 10.8 9.8 7.0 6.2
9.4 16.7
19.1 24.9
C 15.9 15.2 12.3 12.4
10.8 14.8
25.0 27.7
Tabela 11. Conversões alcançadas para um tempo reacional de 20 minutos
Fração X1 (%) X2 (%) X3 (%)
A 10.3 10.7 8.7
7.9 7.8
17.8 15.8
B 15.0 11.1 12.8
6.7 6.2
20.7 16.6
C 16.8 16.9 17.9
1.6 1.9
18.2 18.5
Tabela 12. Conversões alcançadas para um tempo reacional de 40 minutos
Analisando-se os dados contidos nas Tabelas (11) e (12), observa-se uma perda
de massa mensurável para as três frações testadas, em ambos os tempos reacionais. Tal
fato pode ser explicado pela presença de Fe e Sn, que, conforme a avaliação
termodinâmica (Tópico 3), devem gerar cloretos voláteis nas condições reacionais
impostas. Isso se reflete na significativa redução nos teores dos referidos elementos para
as três frações estudadas, conforme os dados de EDS indicam (Tabelas 1, 3 e 4). De fato
as diferenças entre as três frações podem ser correlacionadas com os teores de Fe e Sn
iniciais. Na fração C temos mais Fe e Sn do que em A e B, e na fração B mais Sn que
em A. Esta tendência é observada tanto para 20 quanto 40min. Em relação ao tempo,
quanto maior o mesmo, maior a perda de massa medida, fato este correlacionável com
as limitações cinéticas inerentes reações de formação dos cloretos de Fe e Sn.
Nas três frações, quanto maior o tempo, mais cloretos se formam, e superior é a
perda de massa, sendo este resultado consistente com os resultados obtidos via EDS
(Tabelas 3, 4, 7 e 8), que indicam a presença de teores inferiores de Sn e Fe nas frações
cloradas com 40min.
Fração Tempo (min) X1 (%) X2 (%) X3 (%)
A 20 7.6 18.2 24.9
A 40 9.7 7.9 16.8
B 20 8.5 13.1 22.0
B 40 13.1 6.5 18.7
C 20 14.0 12.8 26.4
C 40 16.9 1.8 18.4
Tabela 13. Conversões médias para tempos reacionais de 20 e 40min
Voltando-se a atenção somente para a etapa de solubilização, as perdas de massa
são maiores para as frações A e B, em comparação com a fração C, o que pode ser
explicado pelo teor de Ca inicial (Tabela 1), sendo este menor na fração C e maior na
fração A. Quanto menor a fração de Ca, menos CaCl2 se forma, e menor será a redução
de massa durante a solubilização, pois menos Ca é admitido em solução.
As perdas de massa observadas durante a solubilização para as amostras
produzidas com 20min se mostram muito superiores aos observados para as amostras
com 40min, e também superiores às perdas de massa observadas na etapa de cloração,
apresentando, portanto, considerável inconsistência. Isso sugere que os dados obtidos
para as amostras com 20min devem ser reavaliados. Como a principal fonte de erro tem-
se a projeção de material para fora do cadinho utilizado para a calcinação das
membranas de filtração, mascarando a perda de massa real do processo, e resultando,
para todas as frações, em perdas de massa maiores, e consequentemente em valores de
conversão consideravelmente mais elevados do que as expectativas.
Finalmente, convém observar que a conversão total medida para as amostras
obidas com tempo de 40min deve ser controlada pela perda de massa associada à
remoção de Fe e Sn como cloretos voláteis, dado que estes elementos apresentam teores
significativamente superiores ao Ca em todas as amostras, e, conforme observado nos
dados de EDS (Tabela 8), uma parcela não desprezível do cálcio inicial, ainda se
encontra presente, sugerindo que as conversões durante a solubilização poderiam ser de
fato maiores que os valores observados.
5. Conclusões De forma geral, a amostra de escória estanífera estudada é constituida por
diversos agregados minerais (Figura 9), apresentando as três frações estudadas (A, B, e
C), composição química similar, como base nos dados DRX e EDS. Observou-se ainda
presença notável dos elementos de alto valor tecnológico (Zr, Nb, Ti). Estes foram
observados em cristais presentes, tanto nas frações antes do processo, quanto após a
cloração, conforme sugerem as imagens obtidas via MEV em maiores aumentos e os
respectivos dados de EDS (Figuras 10, 13, 14, 17 e 18).
Em se tratando do processo de cloração, o mesmo permitiu a remoção seletiva
de Fe e Sn na forma de cloretos voláteis, em concordância com as expectativas
termodinâmicas. Como consequência, há significativa perda de massa durante a
cloração (Tabela 11 e 12), tanto para 20min quanto para 40min, sendo a formação
desses cloretos a principal responsável pela redução de massa global observada (Tabela
13). Os cloretos de Fe e Sn então produzidos poderiam ser utilizados, por exemplo, na
produção de ligas do sistema Fe - Sn com propriedades magnéticas interessantes [7].
Também em concordância com a avaliação termodinâmica preliminar, os teores dos
demais elementos, com exceção do Ca, não apresentam variações significativas durante
o processo.
Ao analisar os dados de EDS, nota-se que estes sugerem que Ca e Cl devem
formar uma fase não volátil (CaCl2), dado que seus teores nas amostras cloradas e
solubilizadas estão correlacionados (Tabelas 7 e 8), dando suporte às conclusões
oriundas da avaliação termodinâmica do sistema. De fato, no que diz respeito às
amostras A e B, por apresentarem teores de Ca iniciais mais expressivos, conversões
mais elevadas durante a solubilização foram identificadas. A presença de Ca e a total
ausência de Cl nas amostras após a solubilização sugere que este elemento pode estar
inicialmente presente em fases de maior estabilidade do que o CaO, como, por exemplo,
silicatos, hipótese esta não considerada na avaliação da viabilidade termodinâmica do
processo (Tópico 3).
De forma distinta do Ca, o teor de Mg não muda durante o processo. Tal
ocorrência também poderia ser explicado pela presença do mesmo na forma de algum
silicato de elevada estabilidade, MgSiO3, por exemplo, conforme sugerido pelas
análises via DRX, cuja reação de cloração, de acordo com os dados termodinâmicos
gerados (Tópico 3), não deve apresentar força motriz suficiente nas condições
implementadas.
Finalmente, convém observar que, no que diz respeito aos elementos Zr e Ti, o
material final se apresenta sensivelmente enriquecido nos mesmos, elementos estes de
elevado valor tecnológico.
6. Trabalhos futuros Seguindo alinha de pesquisa apresentada no presente relatório, convém realizar
alguns testes e ou caracterizações adicionais, de forma a se poder construir uma
descrição mais precisa para o processo em questão.
Primeiramente, as expressivas variações encontradas para as conversões medidas
logo após o processo de cloração, sugerem que experimentos adicionais sejam
realizados para ambos os tempos testados (20 e 40min), de maneira a conferir maior
credibilidade aos valores médios calculados. Adicionalmente, no que diz respeito à
cloração com 20min de reação, convém repetir experimentos de solubilização para todas
as frações, dado que os valores obtidos aparentam ser significativamente inconsistentes.
O mesmo deve ser realizado para a fração C clorada com 40min, dado que a conversão
medida se mostra muito inferior aos valores associados às frações A e B.
Em seguida, uma análise mais cuidadosa dos ajustes dos difratogramas obtidos
para as frações de escória como recebidas (Figuras 6, 7 e 8) indica que as mesmas
podem ainda ser melhoradas. Por exemplo, a presença de silicatos de Ca, Mb Al não foi
incorporada, o que poderia fazer uma razoável diferença para a qualidade do ajuste, que
já se encontra em nível semiquantitativo. Neste mesmo contexto, é fundamental realizar
a devida caracterização via DRX das amostras antes e após a etapa de solubilização.
Esses dados, quando confrontados com os resultados da análise elementar realizada via
EDS permitirão lançar luz sobre as mudanças composicionais estimuladas pelo em
questão. Neste sentido, a presença de CaCl2 poderia ser comprovada, bem como a sua
remoção após a solubilização. Além disso, a hipótese de que o cálcio se encontra
igualmente presentes em fases de elevada estabilidade (ex. aluminosilicatos) poderia ser
facilmente testada.
Finalmente, a identificação e posterior caracterização de cristais isolados
contendo elementos de elevado valor tecnológico (Zr, Ti e Nb) poderia ser realizada
mediante experimentos de microscopia eletrônica de transmissão. Com este tipo de
técnica, seria igualmente possível a avaliação do conteúdo nanoestruturado presente nas
amostras, dado que a escória em questão foi gerada mediante resfriamento não
controlado a partir do estado líquido. Estas fases com cristais nanoestruturados podem
conter parte significativa dos elementos de maior valor agregado, como Ta, Zr, Ti e Nb.
7. Referências bibliográficas 1 SANTOS, Felipe Sombra dos. Caracterização e processamento químico por
meio de reagentes cloretantes de um resíduo industrial. 2008. 84 f. Dissertação
(Mestrado em Ciência dos Materiais e Metalurgia) – DEMa, Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
2 Fahti, H. Handbook of Phyrometallurgy, 2o ed. Quebec: Metallurgie Extractive
Quebec, 2002.
3 Peackles C. A. Thermodynamic analysis of the selective reduction of electric arc
furnace dust by hydrogen. Canadian Metallurgical Quarterly, v. 46, n. 12, p. 125
– 138, 2007.
4 Strohmeier, G., Bonestell, J.E. Steelworks residues and the Waelz kiln treatment
of electric arc furnace dust. Iron and Steel Engineer, v. 73, p. 87 – 90, 1996.
5 Xiong W. et al. Thermodynamic investigation of the galvanizing systems, I:
Refinement of the thermodynamic description for the Fe- Zn system.
CALPHAD, v. 33, n. 2, p. 433 - 440, 2009.
6 KELLOG H. H. Thermodynamic Relationships in Chlorine Metallurgy. Journal
of Metals, Transactions of AIME, v. 188, p. 862 – 872, 1950.
7 Xiaowei Zuo, Engang Wang, Huan Han, Lin Zhang, Jicheng He. Journal of
Alloys and Compounds, v. 492, p. 621–624, 2010.