estudo comparado da relaÇÃo entre saneamento … · 2015-04-23 · no brasil e na américa latina...

69
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL E SANITÁRIA ESTUDO COMPARADO DA RELAÇÃO ENTRE SANEAMENTO BÁSICO E INDICADORES EPIDEMIOLÓGICOS ENTRE O BRASIL E A AMÉRICA LATINA Janaina Azevedo de Souza Juiz de Fora 2014

Upload: nguyendang

Post on 12-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL E SANITRIA

ESTUDO COMPARADO DA RELAO ENTRE SANEAMENTO BSICO E INDICADORES

EPIDEMIOLGICOS ENTRE O BRASIL E A AMRICA LATINA

Janaina Azevedo de Souza

Juiz de Fora 2014

ESTUDO COMPARADO DA RELAO ENTRE SANEAMENTO BSICO E INDICADORES

EPIDEMIOLGICOS ENTRE O BRASIL E A AMRICA LATINA

Janaina Azevedo de Souza

II

Janaina Azevedo de Souza

ESTUDO COMPARADO DA RELAO ENTRE SANEAMENTO BSICO E INDICADORES

EPIDEMIOLGICOS ENTRE O BRASIL E A AMRICA LATINA

Trabalho Final de Curso apresentado ao Colegiado do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitria da Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial obteno do ttulo de Engenheira Sanitarista e Ambiental. rea de concentrao: Saneamento. Linha de pesquisa: Sade Ambiental. Orientador: Prof. Dr. Jlio Csar Teixeira.

Juiz de Fora Faculdade de Engenharia da UFJF

2014

III

ETUDO COMPARADO DA RELAO ENTRE ANEAMENTO BICO E INDICADORE EPIDEMIOLGICO ENTRE O BRAIL E A AMRICA LATINA

Janaina Azevedo de Souza

Trabalho Final de Curso submetido Comisso Examinadora designada pelo Colegiado do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitria da Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para a obteno do ttulo de Engenheira Sanitarista e Ambiental. Aprovado em Por: Prof. Dr. Jlio Csar Teixeira Prof. MSc. Fabiano Csar Tosetti Leal Profa. Dra. Maria Helena Rodrigues Gomes

IV

"Tu te tornas eternamente responsvel por aquilo que cativas."

Antoine de Saint-Exupry

V

AGRADECIMENTOS

Agradeo a f concedida por Deus, que me permite acreditar naquilo que sou capaz. Ao meu pai lvaro, meu heri, por todo o incentivo para chegar at aqui e principalmente por ter me ensinado os valores que possuo. minha me Wilma, pelo seu amor incondicional e por todo seu cuidado materno. s minha irms Renata e Patrcia, por todo o apoio, por no me deixarem desistir nunca e estarem sempre ao meu lado, tornando mais fcil encarar os desafios. minha pequena Bebella, por alegrar os meus dias e dar um sentido especial minha vida. Ao meu cunhado Glucio, por servir de exemplo de dedicao e determinao. Ao meu orientador Jlio por toda sua ajuda e dedicao para que este trabalho fosse realizado; Aos mestres, amigos, familiares e todos que contriburam para minha formao pessoal e profissional e tornaram possvel esta conquista. Muito obrigada!

VI

RESUMO A associao existente entre o saneamento e a sade reconhecida mundialmente e sua

importncia vem crescendo nos ltimos tempos. No Brasil e na Amrica Latina tal

relao comprovada pelo impacto positivo nos indicadores de sade quando ocorre

melhoria do saneamento bsico e da qualidade de vida da populao. Desta forma, o

presente trabalho teve como objetivo quantificar e avaliar as associaes de riscos

comuns existentes no Brasil e na Amrica Latina por meio de um estudo comparativo

da cobertura populacional por servios de saneamento bsico e indicadores de sade

utilizando dados secundrios. O mtodo utilizado foi um estudo ecolgico, que pode ser

melhor compreendido como o estudo epidemiolgico que utiliza agregados

populacionais como unidade de anlise. Concluiu-se que a mortalidade infantil, tanto

para o Brasil como para a Amrica Latina, pode ser reduzida com o aumento do

investimento pblico anual em sade como proporo do Produto Interno Bruto (PIB) e

com o aumento da cobertura populacional por esgotamento sanitrio. Concluiu-se ainda,

que a taxa de mortalidade proporcional por doena diarrica aguda em menores de cinco

anos de idade est relacionada proporo de pobres no Brasil e ao PIB per capita na

Amrica Latina, sendo que a taxa de mortalidade proporcional por doena diarrica

aguda em menores de cinco anos de idade pode ser reduzida com o combate pobreza

em ambas as realidades. Por fim, constatou-se a importncia do investimento na

qualidade de vida da populao atravs da educao, segurana, sade e infraestrutura

para combater e reduzir a morbimortalidade, caracterstica do subdesenvolvimento.

VII

SUMRIO LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................. X

LISTA DE QUADROS .............................................................................................................. XI

LISTA DE TABELAS ................................................................................................................ XII

1 INTRODUO ......................................................................................................................... 1

2 OBJETIVOS.............................................................................................................................. 5

2.1 OBJETIVO GERAL .......................................................................................................... 5

2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ............................................................................................ 5

3 REVISO DA LITERATURA ................................................................................................... 6

4 MATERIAL E MTODOS .......................................................................................................18

4.1 METODOLOGIA UTILIZADA PARA ESTUDAR A ASSOCIAO ENTRE

SANEAMENTO E SADE NOS ESTADOS BRASILEIROS UTILIZANDO DADOS

SECUNDRIOS DO MINISTRIO DA SADE ....................................................................18

4.1.1 reas geogrficas abrangidas...............................................................................18

4.1.2 Delineamento epidemiolgico................................................................................18

4.1.3 Base de dados.......................................................................................................18

4.1.4 Indicadores de sade estudados...........................................................................18

4.1.5 Fatores de risco estudados...................................................................................19

4.2 METODOLOGIA UTILIZADA PARA ESTUDAR A ASSOCIAO ENTRE

SANEAMENTO E SADE NOS PASES DA AMRICA LATINA UTILIZANDO DADOS

SECUNDRIOS DA ORGANIZAO PAN-AMERICANA DA SADE

(OPAS)...................................................................................................................................20

4.1.1 reas geogrficas abrangidas...............................................................................20

4.1.2 Delineamento epidemiolgico................................................................................20

4.1.3 Base de dados.......................................................................................................20

4.1.4 Indicadores de sade estudados...........................................................................21

4.1.5 Fatores de risco estudados...................................................................................21

4.3 METODOLOGIA UTILIZADA NA ANLISE COMPARATIVA DE ASSOCIAES

ENTRE SANEAMENTO E SADE NOS ESTADOS BRASILEIROS E NOS PASES DA

AMRICA LATINA.................................................................................................................22

VIII

5 RESULTADOS ....................................................................................................................... 24

5.1 SISTEMATIZAO DE DADOS BIBLIOGRFICOS REFERENTES A INDICADORES

DEMOGRFICOS, SOCIOECONMICOS E DE MORBIMORTALIDADE DO BRASIL E DA

AMRICA LATINA PARA OS LTIMOS ANOS DA PRIMEIRA DCADA DO SCULO XXI

.............................................................................................................................................. 24

5.2 RESULTADO DO ESTUDO DA ASSOCIAO ENTRE COBERTURA POR SERVIOS

DE SANEAMENTO BSICO E INDICADORES EPIDEMIOLGICOS NOS ESTADOS

BRASILEIROS UTILIZANDO DADOS SECUNDRIOS DO MINISTRIO DA SADE

RELATIVOS A 2007...............................................................................................................25

5.2.1 Taxa de mortalidade infantil.............................................................................. 25

5.2.2 Mortalidade proporcional por doena diarrica aguda em menores de cinco anos de idade ........................... .....................................................................................................27

5.2.3 Mortalidade proporcional por doenas infecciosas e parasitrias para todas as idades.....................................................................................................................................28

5.3 RESULTADO DO ESTUDO DA ASSOCIAO ENTRE COBERTURA POR SERVIOS

DE SANEAMENTO BSICO E INDICADORES EPIDEMIOLGICOS NOS PASES DA

AMRICA LATINA UTILIZANDO DADOS SECUNDRIOS DA ORGANIZAO PAN-

AMERICANA DA SADE RELATIVOS AO PERODO DE 2005 A 2010.............................29

5.3.1 Taxa de mortalidade infantil.............................................................................. 29

5.3.2 Mortalidade por enfermidades diarricas agudas em menores de cinco anos de idade ....................... ..............................................................................................................30

5.3.3 Mortalidade em menores de cinco anos de idade..............................................32

5.4 ESTUDO COMPARADO DA ASSOCIAO ENTRE COBERTURA POR SERVIOS DE

SANEAMENTO BSICO E INDICADORES EPIDEMIOLGICOS ENTRE ESTADOS

BRASILEIROS E PASES DA AMRICA LATINA.................................................................33

5.4.1 Taxa de mortalidade infantil................................................................................33

5.4.2 Mortalidade proporcional por doena diarrica aguda em menores de cinco anos de idade ....................... .........................................................................................................34

5.4.3 Mortalidade proporcional por doenas infecciosas e parasitrias para todas as idades nos estados brasileiros e Mortalidade em menores de cinco anos de idade nos pases da Amrica Latina.......................................................................................................35

6 DISCUSSO............................................................................................................................37

6.1 Sistematizao de dados bibliogrficos referentes a indicadores demogrficos,

socioeconmicos e de morbimortalidade do Brasil e da Amrica Latina para os ltimos anos

da primeira dcada do sculo XXI ....................................................................................... 37

IX

6.2 Resultado do estudo da associao entre cobertura por servios de saneamento bsico

e indicadores epidemiolgicos nos estados brasileiros utilizando dados secundrios do

Ministrio da Sade ...............................................................................................................40

6.2.1 Taxa de mortalidade infantil................................................................................40

6.2.2 2 Mortalidade proporcional por doena diarrica aguda em menores de cinco anos de idade.......... ..............................................................................................................42

6.2.3 Mortalidade proporcional por doenas infecciosas e parasitrias para todas as idades.....................................................................................................................................42

6.3 Resultado do estudo da associao entre cobertura por servios de saneamento bsico

e indicadores epidemiolgicos nos pases da Amrica Latina utilizando dados secundrios

da Organizao Pan-Americana da Sade............................................................................43

6.3.1 Taxa de mortalidade infantil................................................................................43

6.3.2 Mortalidade por enfermidades diarricas agudas em menores de cinco anos de idade ....................... ..............................................................................................................44

6.3.3 Mortalidade em menores de cinco anos de idade..............................................45

7 CONCLUSO..........................................................................................................................47

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.........................................................................................50

X

LISTA DE FIGURAS

pg. Figura 5.1 Regresso linear simples entre a taxa de mortalidade infantil

(TMI) e a cobertura por sistemas de esgotamento sanitrio (ICE) nos estados brasileiros IDB 2008

26

Figura 5.2 Regresso linear simples entre a mortalidade proporcional por doena diarrica aguda em menores de cinco anos de idade (MDA) e gasto pblico com saneamento como proporo do PIB (GPSan) IDB 2008

27

Figura 5.3 Regresso linear simples entre a mortalidade proporcional por doenas infecciosas e parasitrias para todas as idades (MDIP) e a cobertura por redes de abastecimento de gua (ICA) nos estados brasileiros IDB 2008

28

Figura 5.4 Regresso linear simples entre a taxa de mortalidade infantil (TMI) e a cobertura por sistemas de esgotamento sanitrio (ICE) nos pases da Amrica Latina

30

Figura 5.5 Regresso linear simples entre a mortalidade proporcional por enfermidades diarricas agudas em menores de cinco anos de idade (MDA) e taxa de crescimento anual da populao (TCA) nos pases da Amrica Latina

31

Figura 5.6 Regresso linear simples entre a mortalidade em menores de cinco anos de idade (TMM5) e a cobertura por sistemas de abastecimento de gua (ICA) nos pases da Amrica Latina

32

XI

LISTA DE QUADROS

pg. Quadro 5.1 Variveis que permaneceram na regresso linear mltipla para a

taxa de mortalidade infantil

33

Quadro 5.2 Variveis que permaneceram na regresso linear mltipla para a mortalidade proporcional por doena diarrica aguda em menores de cinco anos de idade

34

Quadro 5.3 Variveis que permaneceram na regresso linear mltipla para a mortalidade proporcional por doenas infecciosas e parasitarias para todas as idades nos estados brasileiros e mortalidade em menos de cinco anos de idade nos pases da Amrica Latina

35

XII

LISTA DE TABELAS

pg. Tabela 5.1 Sistematizao de dados bibliogrficos

24

Tabela 5.2 Regresso linear multivariada entre a taxa de mortalidade infantil e fatores de risco estudados nos estados brasileiros

25

Tabela 5.3 Regresso linear multivariada entre a mortalidade proporcional por doena diarrica aguda em menores de cinco anos de idade e fatores de risco estudados nos estados brasileiros

27

Tabela 5.4 Regresso linear multivariada entre a mortalidade proporcional por doenas infecciosas e parasitrias para todas as idades e fatores de risco estudados nos estados brasileiros

28

Tabela 5.5 Regresso linear multivariada entre a taxa de mortalidade infantil e fatores de risco estudados nos pases da Amrica Latina

29

Tabela 5.6 Regresso linear multivariada entre a mortalidade por enfermidades diarricas agudas em menores de cinco anos de idade e fatores de risco estudados nos pases da Amrica Latina

30

Tabela 5.7 Regresso linear multivariada entre a mortalidade de menores de cinco anos de idade e fatores de risco estudados nos pases da Amrica Latina

32

1

1 INTRODUO

De acordo com a Organizao Mundial de Sade (OMS), saneamento o controle de

todos os fatores do meio fsico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos

nocivos sobre o seu bem estar fsico, mental e social. O saneamento tambm pode ser

caracterizado como o conjunto de aes sociais e econmicas que tem por um de seus

objetivos alcanar a salubridade ambiental.

A salubridade ambiental o estado de sade normal em que vive a populao urbana e

rural, tanto no que se refere sua capacidade de inibir, prevenir ou impedir a ocorrncia

de endemias ou epidemias veiculadas pelo meio ambiente, como no tocante ao seu

potencial de promover o aperfeioamento de condies favorveis sade e ao bem-

estar (GUIMARES, CARVALHO e SILVA, 2007).

O reconhecimento da importncia do saneamento e de sua associao com a sade

humana remonta s mais antigas culturas. Runas de uma grande civilizao ao norte da

ndia, com mais de 4.000 anos de idade, indicam evidncias da existncia de hbitos

higinicos, incluindo a presena de banheiros e de sistemas de coleta de esgotos

sanitrios nas edificaes, alm de drenagem nos arruamentos. Outros povos, como os

egpcios, dispunham de sistemas de drenagem de gua, alm da existncia de grandes

aquedutos. Tambm destacam-se os cuidados com o destino dos dejetos na cultura

creto-micnica e as noes de engenharia sanitria dos quchuas (ROSEN, 1994).

Segundo Heller (1997), os estudos j realizados sobre a relao entre o saneamento

bsico e a sade pblica permitem afirmar que h melhora nos indicadores de sade

com a melhoria da cobertura por servios de saneamento bsico abastecimento de

gua potvel, esgotamento sanitrio, limpeza urbana e manejo de resduos slidos, e

drenagem e manejo das guas pluviais urbanas.

A gua potvel segura e o esgotamento sanitrio adequado so fundamentais para a

reduo da pobreza, para o desenvolvimento sustentvel e para atingir os Objetivos do

Milnio estabelecidos pela Organizao das Naes Unidas (ONU) no ano 2000. Assim,

em 28 de julho de 2010, a Assembleia Geral das Naes Unidas declarou a gua limpa e

o esgotamento sanitrio adequado um direito humano essencial para gozar plenamente a

vida e todos os outros direitos humanos (ONU, 2010).

2

O abastecimento de gua e a disponibilidade de esgotamento sanitrio para cada pessoa

devem ser contnuos e suficientes para usos pessoal e domstico. Estes usos incluem

gua para beber, higiene pessoal, lavagem de roupa, preparao de refeies e limpeza

do domiclio. De acordo com a Organizao Mundial de Sade (OMS, 2010), so

necessrios de 50 a 100 litros de gua por pessoa, por dia, para assegurar a satisfao

das necessidades bsicas do ser humano e a reduo dos problemas de sade.

Entretanto, a mensurao das condies de vida e sade persiste um desafio. A sade

deve ser pensada como uma resultante das relaes entre as variveis ambientais,

sociais e econmicas que pressionam as condies e a qualidade de vida. Logo, em

toda anlise da situao da sade, os indicadores bsicos de desenvolvimento humano

assumem uma importncia fundamental, pois documentam as condies de vida da

populao e dimensionam o espao social em que ocorrem as mudanas no estado de

sade (OPAS, 2007).

A Amrica Latina tem 471 milhes de pessoas vivendo em cidades, ou seja, 79% do

total de sua populao estimada 597 milhes de habitantes para o ano 2010. O

processo de urbanizao da Amrica Latina pode ser considerado exitoso, j que trouxe

riqueza, aumento da expectativa de vida e acesso a servios pblicos bsicos para

milhes de pessoas (TEIXEIRA, GOMES E SOUZA, 2013). Entretanto, em 2011, na

Amrica Latina 67 milhes de pessoas careciam de acesso gua potvel e mais de 139

milhes de habitantes no dispunham de servios adequados de esgotamento sanitrio

(CEPAL, 2013). Ainda, na Amrica Latina somente 14% das guas residurias so

tratadas e 40% do total de resduos slidos no so dispostos adequadamente,

contaminando o solo e os mananciais de gua (UNICEF, 2006).

Na Amrica Latina, cerca de 23 crianas por mil nascidos vivos morrem antes de

completar cinco anos de idade, o que corresponde a 200 mil mortes por ano na regio.

Destas, cerca de 20 mil crianas morrem todos os anos antes de completar cinco anos

devido a doenas diarricas agudas que poderiam ser evitadas mediante o acesso a

condies de higiene adequadas, infraestrutura de esgotamento sanitrio e

abastecimento com gua potvel (TEIXEIRA, GOMES E SOUZA, 2013).

Alguns achados pontuais sobre a Regio da Amrica Latina (OPAS, 2012):

3

- A regio a mais urbanizada do mundo, com grau de urbanizao de 79%.

- A pobreza caiu de maneira importante de 48,0%, em 1990, para 25,0% da populao

em 2009. Porm, ainda 149 milhes de pessoas vivem em condies de pobreza na

regio.

- Entre 2005 e 2010, a taxa de fecundidade caiu de 2,3 para 2,1 filhos por mulher. No

mesmo perodo, a esperana de vida aumentou de 74,8 para 76,2 anos.

- Apesar de avanos em alguns pases, a tuberculose - com prevalncia de 38 casos por

100 mil habitantes; a malria - endmica em 21 pases, com 6,98 exames positivos por

1.000 habitantes; e a dengue - com 185,06 casos por 100 mil habitantes e picos

epidmicos a cada cinco anos - so ainda desafios persistentes na regio, no perodo

entre 2005 e 2010.

- O grupo das causas externas um problema crescente na regio, com taxa de

mortalidade de 237,8 por 100 mil homens, em 2007, tendo como destaque os

homicdios e a mortalidade no trnsito.

J no caso especfico do Brasil, no incio dos anos de 1990, a Lei Federal no 8.080

(BRASIL, 1990), que dispe sobre o funcionamento dos servios de sade no pas,

reconheceu em seu artigo 3o que a sade tem como fatores determinantes e

condicionantes, entre outros, o saneamento bsico. Logo, houve o reconhecimento legal

da existncia de uma relao de causalidade entre condies inadequadas de

saneamento bsico e o quadro epidemiolgico existente.

Segundo Teixeira e Guilhermino (2006), atravs da associao entre saneamento e

sade nos estados brasileiros utilizando dados secundrios do banco de dados

Indicadores e Dados Bsicos para a Sade 2003 do Ministrio da Sade, foi possvel

constatar que a mortalidade infantil, a mortalidade proporcional por diarreia aguda em

menores de cinco anos de idade e a mortalidade proporcional por doenas infecciosas e

parasitrias para todas as idades estavam associadas com deficincias na cobertura por

servios de saneamento bsico gua e esgotos no ano de 2001.

Alguns achados pontuais sobre o Brasil (IDB, 2011):

4

- O grau de urbanizao do pas de 84%, acima do ndice encontrado para a Amrica

Latina.

- A pobreza caiu pela metade em duas dcadas de 41,0%, em 1990, para 22,1% da

populao em 2009. Porm, ainda 41,8 milhes de pessoas viviam em condies de

pobreza no pas naquele ano.

- Entre 2005 e 2010, a taxa de fecundidade caiu de 2,3 para 1,9 filhos por mulher. No

mesmo perodo, a esperana de vida aumentou de 71,9 para 73,4 anos, abaixo da

esperana de vida observada para a Amrica Latina.

- A tuberculose com prevalncia de 37,6 casos por 100 mil habitantes concentrados na

populao de rua e na populao carcerria; a malria, que reveste-se de importncia

epidemiolgica, atualmente, pela sua elevada incidncia na regio amaznica, com 1,71

exames positivos por 1.000 habitantes; e a dengue, com prevalncia de 514,09 casos por

100 mil habitantes, todos os dados relativos a 2010, so exemplos de endemias

persistentes no pas.

- O grupo das causas externas um problema crescente no Brasil, especialmente entre

os homens. No Brasil, com taxa de mortalidade de causas externas de 461,1 por 100 mil

homens, em 2010, com destaque para os homicdios. Como se pode ver, a situao de

mortalidade por causas externas entre homens um problema crescente no Brasil e na

Amrica Latina.

5

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

O objetivo geral do presente trabalho foi identificar as associaes de riscos comuns

entre cobertura por servios de saneamento bsico e indicadores epidemiolgicos por

meio de estudo comparado entre o Brasil e a Amrica Latina utilizando dados

secundrios.

2.2 Objetivos especficos

sistematizao de dados bibliogrficos referentes a indicadores demogrficos,

socioeconmicos e de morbimortalidade no Brasil e na Amrica Latina para os

ltimos anos da primeira dcada do sculo XXI;

estudar a associao entre cobertura por servios de saneamento bsico e indicadores

epidemiolgicos nos estados brasileiros utilizando dados secundrios do Ministrio

da Sade relativos a 2007;

estudar a associao entre cobertura por servios de saneamento bsico e indicadores

epidemiolgicos nos pases da Amrica Latina utilizando dados secundrios da

Organizao Pan-Americana da Sade (OPAS) relativos a 2010.

6

3 REVISO DA LITERATURA

O reconhecimento da relao da salubridade ambiental com a sade pblica data dos

primrdios da histria humana, embora apenas na primeira metade do sculo XX tenha

sido criado uma rea especfica para o estudo desta relao denominada Sade

Ambiental (RIBEIRO, 2004). Por meio da sade ambiental, procura-se estudar a

evoluo do conhecimento e da prtica que relacionam meio ambiente e sade pblica.

O termo Sade Ambiental foi apresentado em um encontro da Organizao Mundial da

Sade (OMS) como sendo todos aqueles aspectos da sade humana, incluindo a

qualidade de vida, que esto determinados por fatores fsicos, qumicos, biolgicos,

sociais e psicolgicos no meio ambiente. Tambm se refere teoria e prtica de valorar,

corrigir, controlar e evitar aqueles fatores do meio ambiente que, potencialmente,

possam prejudicar a sade de geraes atuais e futuras (OMS, 1993).

Posteriormente, em 1999, Sade Ambiental foi definida pela OMS como o campo de

atuao da sade pblica que se ocupa das formas de vida, das substncias e das

condies em torno do ser humano, que podem exercer alguma influncia sobre a sua

sade e o seu bem-estar (BRASIL, 1999).

J a sade pblica possui uma importante e rica diversidade uma vez que abrange uma

srie de subreas do conhecimento e da prtica. Rosen (1958) ressalta a inter-relao

existente entre todas as subreas envolvidas: atravs da histria humana, os principais

problemas de sade enfrentados pelos homens tm tido relao com a vida em

comunidade, por exemplo, o controle de doenas transmissveis, o controle e a melhoria

do ambiente fsico (saneamento), a proviso de gua e alimentos em boa qualidade e em

quantidade, a proviso de cuidados mdicos, e o atendimento dos incapacitados e

destitudos. A nfase relativa colocada em cada um desses problemas tem variado de

tempo a outro, mas eles esto todos inter-relacionados, e deles se originou a sade

pblica como a conhecemos hoje.

Um exemplo da complexidade entre as inter-relaes existentes o grande nmero de

fatores ambientais capazes de afetar a sade humana e a importncia de aes voltadas

para controlar estes fatores com impacto sobre a sade humana.

7

Como mencionado, as preocupaes com a sade publica e sua relao com os aspectos

ambientais vm da antiguidade. Na Grcia Antiga, no incio do sculo V a.C., a obra de

Hipcrates, um dos expoentes do determinismo ambiental, denominada Dos Ares, das

guas e dos Lugares destacou a relao entre as doenas, principalmente as

endmicas, e a localizao de seus focos. Segundo Barret (2000), o reconhecimento da

relao do local com o desenvolvimento de doenas possibilitou uma nova viso da

medicina que estudava, refletia e criava hipteses sobre o papel do meio ambiente nas

condies de sade das populaes. Percebeu-se que diferenas geogrficas, como

clima, vegetao e hidrografia, estavam ligadas a diferentes padres de doenas. Por

2000 anos, a obra de Hipcrates foi base para o estudo da epidemiologia constituindo o

primeiro trabalho sistemtico a relacionar de forma causal os fatores ambientais s

doenas (ROSEN,1958).

Segundo Carcopino (1975), em Roma, aps a conquista do Mar Mediterrneo, o legado

da cultura grega e suas concepes de sade foi herdado e ainda enriquecido com os

trabalhos de engenheiros e administradores no desenvolvimento do saneamento do meio

como a construo de sistemas de coleta de esgotos, banheiros pblicos e rede de

abastecimento de gua no sculo II d.C. Roma um exemplo marcante na histria da

sade pblica, onde os pntanos foram drenados para reduzir o risco da malria e a

disposio do lixo era organizada.

A decadncia da organizao e da prtica da sade pblica e da cultura urbana veio com

a desintegrao do mundo greco-romano durante o perodo da idade mdia, quando a

higiene e a sade pblica perderam espao para a valorizao de fatores espirituais

como causa e cura de doenas. Naquela poca, as cidades foram acometidas por grandes

epidemias transmitidas devido a problemas de falta de salubridade ambiental, como

acmulo de lixo nas ruas (ROSEN,1958).

Do incio do sculo XVI at meados do sculo XVIII pode-se considerar um perodo de

transio. Um melhor conhecimento das doenas foi possibilitado atravs da

classificao e observao das mesmas permitindo a aplicao do conhecimento

cientfico s necessidades de sade da populao. Alm disso, a ideia de que

microrganismos poderiam causar doenas transmissveis comeou a ganhar fora neste

perodo histrico (RIBEIRO, 2004).

8

Na Inglaterra, no sculo XVIII, o reconhecimento do valor da sade e de seu impacto na

fora de trabalho como fator de produo impulsionou as primeiras tentativas de

aplicao de mtodos estatsticos sade pblica. A Revoluo Industrial, iniciada no

Reino Unido no sculo XVIII, e seus efeitos negativos sobre a sade humana

contriburam para que a Reforma Sanitria tivesse incio na Inglaterra, porm todos os

pases afetados pela industrializao como, por exemplo, Frana, Alemanha e Estados

Unidos, sofreram consequncias semelhantes e demandaram aes similares s

desenvolvidas na Inglaterra.

Entretanto, somente a partir do sculo XIX, com a Reforma Sanitria, houve a

incorporao de aes sobre o meio ambiente como parte de uma poltica de sade.

Dentre as intervenes impostas pela Reforma Sanitria estavam o fornecimento de

gua pura e a disposio adequada de lixo e de esgoto, porm ainda predominava a

teoria de que a origem das doenas estavam nos odores e vapores infecciosos que

emanavam da sujeira das cidades, os miasmas, e que o melhor mtodo para a preveno

de doenas era limpar as ruas do lixo, dos esgotos e das carcaas de animais, o que ficou

conhecido como Teoria Miasmtica (RIBEIRO, 2004).

Em Paris, em 1840, Villerm publicou um relatrio que relacionava as taxas de

mortalidade e morbidade de diferentes setores, indicando a relao existente entre

pobreza e doena. Mas foi o relatrio publicado por Chadwick que comprovou que as

doenas transmissveis estavam relacionadas s condies insalubres do ambiente,

devido falta de drenagem, de abastecimento de gua segura para o consumo humano e

deficincia na coleta de lixo. Diante dos novos achados, houve uma reorientao dos

problemas de sade pblica para a engenharia sanitria, enquanto interveno no

ambiente construdo capaz de contribuir na preveno e no controle de doenas e na

melhoria da sade coletiva, em conjunto com novas preocupaes de cunho social,

como a ideia de que a sociedade precisa prover a sade para seus membros (TEIXEIRA,

2003).

Ainda no sculo XIX surgiu outra vertente dos estudos em sade pblica. Em 1840,

Henle formulou a teoria dos organismos microscpicos vivos como causadores de

doenas infecciosas. Em 1861, Pasteur desenvolveu a Teoria dos Germes levando ao

processo de pasteurizao. Em 1882, Koch descobriu o bacilo da tuberculose, e em

9

1883, o vibrio do clera. Segundo Jones e Moon (1987), o descobrimento de

microrganismos causadores de vrias doenas representou um rpido progresso da

bacteriologia e favoreceu o aparecimento de dois importantes conceitos: o da etiologia

especfica, cada doena tinha uma nica causa identificvel, e o da bala mgica, cada

doena podia ser curada por um agente especfico. Esses novos conceitos

revolucionaram os estudos da relao sade-ambiente, pois foi obtido grande sucesso na

melhoria das condies de sade pblica com o decaimento das taxas de mortalidade,

aumento da esperana de vida, desenvolvimento de tratamentos eficientes com

antibiticos, melhores procedimentos cirrgicos, vacinas e alto nvel de confiana dos

pacientes.

As primeiras dcadas do sculo XX foram marcadas pelo controle de grande parte das

doenas infecciosas e o decrscimo de suas taxas de mortalidade. A evoluo industrial

e tecnolgica ocorrida principalmente nos Estados Unidos e na Europa gerou

acumulao de renda permitindo investimentos pblicos em polticas de sade e na

implantao de programas de saneamento bsico impulsionando os avanos na sade

pblica. Porm, ainda permaneceram, em todo o mundo, as desigualdades em servios

de sade e de saneamento bsico em diferentes nveis socioeconmicos (RIBEIRO,

2004).

Tratando-se do campo das cincias sociais, disciplinas como a sociologia, a

antropologia e a geografia, na metade do sculo XIX e parte do sculo XX, o paradigma

ambientalista comeou a ser substitudo pelo paradigma possibilista que defende que a

humanidade est sujeita a imperativos sociais e culturais e, usa, desenvolve e modifica o

meio ambiente. Para Sauer (1963), meio ambiente e recursos so termos culturais que

expressam tanto capacidades tcnicas quanto valores sociais.

Ainda no final do sculo XIX, a ecologia e disciplinas afins se firmaram como reas de

estudo e investigavam-se as relaes entre as espcies como a simbiose, o mutualismo,

o comensalismo e o parasitismo. Em 1935, o bilogo Arthur Tansley introduziu o

conceito de ecossistema utilizado no princpio da ecologia moderna, onde o ecossistema

integrado por organismos, matria orgnica e habitats agrupados em um conjunto

funcional.

10

Neste contexto, segundo Hutt e Burkitt (1986), vrios fatores ambientais que afetam a

populao de um pas ou de uma regio geogrfica esto relacionados com o padro de

distribuio de doenas. A constituio gentica de um indivduo pode determinar sua

resposta a um aspecto nocivo do meio ambiente. Os fatores ambientais passam a ser

classificados como: agentes fsicos, agentes qumicos, agentes biolgicos e fatores

nutricionais, estando eles relacionados s caractersticas geogrficas de uma regio,

cultura dos grupos populacionais, ao status socioeconmico e a fatores ocupacionais.

Nos ltimos 50 anos, nos pases desenvolvidos ocorreu abrangente melhoria nas

condies de vida e diluio das diferenas sociais em funo da melhor distribuio de

renda entre as populaes, do aumento da escolaridade e da disseminao de

informaes por veculos de comunicao de massa. A consequncia deste processo foi

a homogeneizao das causas de adoecimento e morte, destacando-se as doenas do

modo de vida ocidental, a saber, doenas do aparelho circulatrio, doenas do aparelho

respiratrio, causas externas, neoplasias, diabetes, entre outras (HUTT e BURKITT,

1986).

At os anos 1980, nos pases em desenvolvimento, sobretudo nos mais pobres,

predominavam as doenas infecciosas e parasitrias. Desde ento, com o advento da

industrializao, novos padres de doenas tm surgido, com um aumento da

prevalncia das doenas crnico-degenerativas.

Em 1959, a descoberta do primeiro caso de resistncia de Staphylococcus penicilina

contribuiu para que houvesse retorno s pesquisas sobre a relao sade e ambiente no

sculo XX. Em 1980, trs quartos dos microrganismos norte-americanos j eram

resistentes penicilina, alguns tratamentos mdicos mostraram-se com efeitos colaterais

e algumas das principais causas de morte do sculo XX estavam tambm relacionadas a

fatores ambientais. Desta forma, segundo Jones e Moon (1987), ocorreu um crescente

reconhecimento do papel das causas externas, sobretudo ambientais, na origem de

muitas doenas, como o caso do cncer. Neste contexto, se espalharam crticas ao

modelo biomdico de sade pblica, onde doena um desajustamento ou falha nos

mecanismos de adaptao do organismo ou uma ausncia de reao aos estmulos a cuja

ao est exposto segundo Jnicek e Clroux (1982), e a sade ambiental ganhou

destaque sob um novo enfoque que visava identificar impactos ambientais de aes

11

humanas como contaminao, poluio, mudanas climticas, supresso da cobertura

vegetal, entre outros, e seus efeitos na sade, enfoque este fortalecido a partir da

Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento com a

aprovao da Agenda 21 (CNUMAD, 1992), realizada no Rio de Janeiro em 1992.

No campo das doenas infecciosas, a ecologia das doenas ou dos agentes patognicos

continuava a ser de interesse. Segundo Sorre (1967), a rea de extenso de agentes

patognicos depende em grande parte das condies do meio sendo a ecologia do grupo

resultante das ecologias individuais de seus membros. Haveria uma relao entre a

geografia das enfermidades infecciosas no globo terrestre e as faixas climticas, sendo

que o controle dos vetores biolgicos de doenas baseava-se na sua destruio com

emprego do Diclorodifeniltricloroetano (DDT) e a supresso das condies ambientais

que lhes serviam de apoio (SORRE, 1967). No entanto, essa forma de controle

mostrou-se problemtica visto que os vetores desenvolveram resistncia ao DDT, que,

por sua vez, apresentou resultados mais prejudiciais que a prpria doena que se

pretendia exterminar. Contaminaes tornaram-se frequentes entre os profissionais de

sade, mas o meio ambiente foi o mais afetado.

Era cada vez maior a necessidade de um novo modelo de sade ambiental que

priorizasse aspectos preventivos. Na dcada de 1970, nos Estados Unidos da Amrica

(EUA), foram desenvolvidos programas de combate poluio do ar e da gua, sendo

estabelecidos padres de qualidade para o ar e a gua com o controle de emisses

industriais e domiciliares: o Clean Air Act (EPA, 1970) e o Water Pollution Control Act

(EPA, 1972).

Ainda, nos EUA, foram tambm estabelecidos linhas de crdito e emprstimos para

projetos de tratamento de emisses de poluentes ambientais. Segundo Rabe (1997),

medidas legislativas e de fiscalizao ambiental, que foram aperfeioadas e tornadas

mais rigorosas com o passar dos anos, trouxeram resultados bem sucedidos na

diminuio de poluentes do ar e das guas.

Posteriormente, em 1986, principalmente devido a realizao da Conferncia

Internacional sobre Promoo da Sade em Ottawa, no Canad, houve uma ampliao

do conceito de sade ambiental. A Carta de Ottawa (OMS, 1986) definiu como uma de

suas linhas de ao a criao de ambientes favorveis sade, os chamados ambientes

12

saudveis. At ento, o controle de doenas transmitidas por vetores de doenas de

veiculao hdrica era feito mediante aes ambientais isoladas. Inmeras conferncias

internacionais sobre o tema se sucederam desde ento e vm influenciando polticas de

sade coletiva dos mais diversos pases. A nova sade ambiental ampliou seu potencial

e seus horizontes, desenvolvendo sua base cientfica e prtica, ao mesmo tempo que

forneceu uma base mais slida para a efetividade de polticas e programas de sade

coletiva no enfrentamento dos complexos problemas cientficos, sociais e

administrativos visando a universalizao da sade de alta qualidade (RIBEIRO, 2004).

Ainda, segundo RIBEIRO (2004), a essncia da nova sade pblica constituda pelas

aes voltadas para mudar os fatores relativos aos hospedeiros, aos agentes ou aos

ambientes. Houve a expanso do paradigma hospedeiro agente meio ambiente com

o maior entendimento da definio de cada um dos componentes, em relao tanto s

doenas infecciosas quanto s doenas crnico-degenerativas.

Foi adotada uma nova abordagem que seleciona grupos populacionais com base no

risco de doena e auxilia a determinao de intervenes prioritrias para reduzir a

morbidade e a mortalidade, considerando que a sade dos indivduos afetada por

fatores de risco intrnsecos quela pessoa e por fatores ambientais. Na dcada de 1980, a

Organizao Mundial da Sade (OMS) criou o Environmental Risk Assessment

Programme com o objetivo de gerenciar os riscos em sade ambiental, sobretudo

aqueles relacionados com a poluio do ar, poluio industrial, rudo, radioatividade,

lixo, segurana qumica, emergncias ambientais e gerenciamento de demanda de gua

(CEHA, 2003).

Ainda no campo das concepes de sade pblica mais recentes, outro importante ponto

representado pela Declarao de Alma-Ata (OMS,1978), produzida na Conferncia

Internacional sobre Cuidados Primrios de Sade promovida pela OMS, em 1978, e

pelo documento da OMS-Europa, Sade para Todos no Sculo XXI (OMS-

EUROPE,1998), sendo que este teve como objetivo fornecer subsdios para tornar

realidade a viso de que a sade um direito humano fundamental, viso elaborada na

Declarao de Alma-Ata (OMS, 1978). Ambos os documentos admitem as

desigualdades no estado de sade das populaes, principalmente entre os pases

desenvolvidos e subdesenvolvidos, assim como no interior de cada pas. A base

13

fundamental, preconizada pela OMS, para as polticas de sade se traduz na reduo das

desigualdades e a tica aparece como um pano de fundo.

No Brasil, os problemas de sade relacionados ao meio ambiente foram abordados de

forma similar ao resto do mundo.

A partir da dcada de 1970, no Brasil, aumentaram as preocupaes com os problemas

ambientais e a sua vinculao com a sade. Em 1973, foi criada a Secretaria Especial de

Meio Ambiente (SEMA) no mbito do governo federal, e foram estabelecidos os

padres de qualidade do ar e das guas como j havia ocorrido nos Estados Unidos da

Amrica. Em 1968, foi criado um rgo de controle ambiental no Estado de So Paulo,

a CETESB, primeiramente com o objetivo de controlar a poluio industrial e, aps a

dcada de 1980, tambm com o objetivo de controlar a poluio causada por veculos. O

Estado de Minas Gerais foi pioneiro na implementao de polticas de gesto dos

recursos naturais. Em 1977, foi criada a Comisso de Poltica Ambiental, atual

Conselho Estadual de Poltica Ambiental COPAM (SEMAD, 2014), que mantm a

condio de instncia superior de deliberao das polticas de meio ambiente no Estado.

O COPAM anterior criao do Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA,

que surgiu em 1981. O Estado de Minas Gerais tambm foi o primeiro estado da

federao brasileira a possuir legislao especfica sobre a conservao e a preservao

do meio ambiente com a Lei Estadual no 7.772 (MINAS GERAIS, 1980), antecedendo a

lei federal que dispe sobre a Poltica Nacional de Meio Ambiente, Lei Federal no 6.938

(BRASIL, 1981).

Em 1988, houve uma evoluo na legislao com a promulgao da Constituio

Federal (BRASIL, 1988), que expressou a preocupao da relao sade e meio

ambiente em diversos artigos da Carta Magna. O artigo 196, por exemplo, define sade

como "direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e

econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso

universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao".

J o artigo 225 afirma que "todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo, preserv-lo para as

presentes e futuras geraes".

14

J no artigo 200, incisos II e VIII, fixa-se como atribuies do Sistema nico de Sade

SUS, entre outros, a execuo de aes de vigilncia sanitria e epidemiolgica, bem

como as de vigilncia em sade do trabalhador e colaborao na proteo do meio

ambiente, nele compreendido o do trabalho.

Ao mesmo tempo ampliou-se, em nvel mundial, a conscincia de que a sade,

individual e coletiva, est intrinsecamente relacionada qualidade do meio ambiente.

Nas ltimas dcadas a reduo da qualidade ambiental, consequncia das mudanas

climticas em todo mundo, contribuiu para tornar a relao sade - meio ambiente mais

evidente para a sociedade.

No Brasil, o modelo de crescimento econmico adotado a partir dos anos de 1970 gerou

forte concentrao de renda associado excluso de expressivos segmentos sociais, nos

quais as moradias so precrias sob o aspecto das condies sanitrias e construtivas. A

parcela da populao que vive em condies precrias mais vulnervel s agresses

ambientais, propiciadoras de doenas. Esses fatores, agravados pela falta de

infraestrutura urbana e de servios de saneamento nas reas mais pobres, levam a uma

sobrecarga do setor sade com pacientes acometidos por doenas evitveis (RIBEIRO,

2004).

Ainda, como consequncia do desenvolvimento econmico, o documento Hacia un

Nuevo Enfoque de la Salud Ambiental en el Sector Salud en la Regin de las Americas

(OPAS, 1994) menciona a coexistncia de processos produtivos que constituem riscos

sade humana e ao meio ambiente: Os problemas de sade ambiental da Amrica

Latina e Caribe esto dominados tanto por necessidades no atendidas, enquanto

saneamento ambiental tradicional, como por necessidades crescentes de proteo

ambiental, que tm se tornado mais graves devido urbanizao intensiva em um

entorno caracterizado por um desenvolvimento econmico lento.

Apesar das deficincias citadas, tem ocorrido um aumento da expectativa de vida da

populao brasileira devido s melhorias na distribuio de renda, reduo da pobreza

e da melhoria das condies de vida da populao neste sculo XXI.

Em 1998, o Ministrio da Sade montou um grupo de trabalho, com participantes das

principais universidades do pas, de rgos ambientais e da Organizao Pan-Americana

15

de Sade (OPAS) para elaborar uma Poltica Nacional de Sade Ambiental para o Setor

Sade, em decorrncia dos problemas no setor. O documento preliminar ficou pronto

em junho de 1999. Seu objetivo era: a preveno de agravos sade decorrentes da

exposio do ser humano a ambientes nocivos e a reduo da morbi-mortalidade por

doenas transmissveis, crnico-degenerativas e mentais mediante, sobretudo, a

participao do setor sade na criao, na reconstituio e na manuteno de ambientes

saudveis, contribuindo, assim, para a qualidade de vida da populao brasileira

(BRASIL, 1999).

Em 2002, no V Congresso Brasileiro de Epidemiologia, a Associao Brasileira de Ps-

Graduao em Sade Coletiva - ABRASCO reconheceu a importncia em organizar um

Grupo Temtico para, de maneira mais organizada, participar da luta pelo

desenvolvimento sustentvel, atravs da ao poltica no campo da sade coletiva, em

busca de ambientes saudveis e da promoo da sade (AUGUSTO et al., 2003).

De acordo com Cmara e Tambellini (2003), nas Amricas, a Sade Ambiental, antes

relacionada quase que exclusivamente ao saneamento e qualidade da gua, incorporou

outras questes que envolvem poluio qumica, pobreza, igualdade, condies

psicossociais e a necessidade de um desenvolvimento sustentvel que possa garantir

uma expectativa de vida saudvel para as geraes atuais e futuras.

Em 2003, o Ministrio da Sade criou a Secretaria de Vigilncia em Sade (SVS), que

tem por objetivo geral prevenir e controlar fatores de risco de doenas e de outros

agravos sade decorrentes do ambiente e de atividades produtivas, e como um dos

seus objetivos especficos identificar os riscos e divulgar, para o Sistema nico de

Sade (SUS) e para a sociedade, as informaes referente aos fatores ambientais

condicionantes e determinantes das doenas e de outros agravos sade. A Fundao

Nacional de Sade (Funasa) definiu Vigilncia Ambiental em Sade como um

conjunto de aes que proporciona o conhecimento e a deteco de qualquer mudana

nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na sade

humana, com a finalidade de identificar as medidas de preveno e controle dos fatores

de risco ambientais relacionados s doenas ou outros agravos sade (BRASIL,

2001).

16

Atualmente, com o aumento expressivo da degradao ambiental em nvel mundial, a

proposta de desenvolvimento sustentvel defendida por setores da sociedade civil vem

recebendo grande numero de adeptos, indicando uma nova perspectiva de orientao do

modelo de desenvolvimento econmico.

Por outro lado, o conceito de desigualdade ambiental vem sendo inserido em estudos e

pesquisas. Segundo Torres (1997), a desigualdade ambiental a exposio de

indivduos e grupos sociais a riscos ambientais diferenciados. Os indivduos no so

iguais do ponto de vista do acesso a bens ambientais, tais como ar puro, reas verdes,

locais salubres para moradia, embora muitos desses bens sejam pblicos.

Segundo Martinez-Alier (1999), no mbito social, os princpios ticos baseiam-se no

conceito de justia ambiental descritos em alguns movimentos ambientais dos pobres. A

relao que se faz entre pobreza e degradao ambiental desmistificada, mostrando

que a riqueza e no a pobreza que causa o esgotamento dos recursos naturais. Porm, a

riqueza permite escapar da degradao, transpondo-a para outros lugares. J os pobres

dependem mais dos recursos locais porque no tm poder de compra para participar do

comrcio internacional, nem para habitar em condies de menor risco sua sade por

conta de contaminao e degradao ambientais (MARTINEZ-ALIER e JUSMET,

2001).

A justia ambiental, segundo Porto (2004), entendida como um conjunto de princpios

e prticas que asseguram que nenhum grupo social suporte uma parcela desproporcional

das consequncias ambientais negativas de operaes econmicas, decises polticas ou

a ausncia delas, assegurando o acesso justo e igualitrio aos recursos ambientais do

pas.

No Brasil, as polticas de meio ambiente so focadas na diminuio das desigualdades

regionais no que diz respeito salubridade ambiental, sendo influenciadas pela ideia,

prevista na Constituio Brasileira (BRASIL, 1988), de que sade e meio ambiente so

direitos de todo o povo brasileiro. Desta forma, todos os indivduos devem estar sujeitos

a semelhantes fatores ambientais de risco.

Segundo Mappes e Zembaty (1977), o ambiente saudvel um direito humano, a saber:

Cada pessoa tem esse direito enquanto ser humano porque um ambiente propcio

17

vida essencial para que desenvolva todas suas capacidades. Dados os perigos ao

ambiente hoje e, em consequncia, o perigo prpria existncia, o acesso a um

ambiente saudvel deve ser concebido como um direito que impe sobre cada um

obrigao a ser respeitada.

J no ano de 2012, a Conferncia Internacional Rio+20 realizada no Rio de Janeiro,

Brasil, teve como objetivo a renovao do compromisso poltico com o

desenvolvimento sustentvel por parte dos pases membros das Naes Unidas. O

reconhecimento do direito humano gua potvel e ao esgotamento sanitrio adequado

foi discutido e includo no documento final The Future We Want: "Reafirmamos os

compromissos assumidos no Plano de Johanesburgo e na Declarao do Milnio, quais

sejam: reduzir pela metade, at 2015, a proporo de pessoas sem acesso gua potvel

e ao saneamento bsico e elaborar planos integrados de gesto e de uso eficaz dos

recursos hdricos, assegurando o uso sustentvel da gua. Comprometemo-nos a fazer

com que o acesso gua potvel e ao saneamento bsico a custo acessvel torne-se

progressivamente uma realidade para todos, condio necessria para erradicar a

pobreza, proteger a sade humana, e para melhorar significativamente a implementao

da gesto integrada dos recursos hdricos em todos os nveis, conforme apropriado.

Neste sentido, reiteramos estes compromissos, nomeadamente para os pases em

desenvolvimento atravs da mobilizao de recursos de todas as fontes, capacitao e

transferncia de tecnologia" (ONU, 2012).

Neste incio do sculo XXI, um meio ambiente salubre no s visto como mais um

elemento de qualidade de vida, mas como um direito humano fundamental, portanto um

direito sujeito ao principio universal de igualdade. Desta forma, as pesquisas em sade

ambiental tm buscado subsidiar polticas, programas e aes que visem garantir maior

justia ambiental como direito humano, apesar das dificuldades, por exigir

transformaes nos prprios homens (RIBEIRO, 2004).

18

4 MATERIAL E MTODOS

4.1 Metodologia utilizada para o estudo da associao entre

cobertura por servios de saneamento bsico e indicadores

epidemiolgicos nos estados brasileiros utilizando dados

secundrios do Ministrio da Sade

4.1.1 reas geogrficas abrangidas

O universo da pesquisa foi composto pelos 26 estados brasileiros e o Distrito Federal

com populao total de 189.335.191 habitantes (IDB, 2008).

4.1.2 Delineamento epidemiolgico

O mtodo epidemiolgico empregado foi um estudo ecolgico, que pode ser melhor

compreendido como o estudo epidemiolgico que utiliza agregados populacionais como

unidade de anlise.

4.1.3 Base de dados

A base de dados foi composta por dados secundrios provenientes da publicao

Indicadores e Dados Bsicos para a Sade 2008 (IDB, 2008), editado pela Rede

Interagencial de Informaes para a Sade (RIPSA), que rene instituies

representativas dos segmentos tcnico-cientficos envolvidas na produo e anlise de

dados de interesse para a sade no pas. Foi verificado que as variveis independentes

indicadores de sade no esto correlacionadas entre si e, portanto, tal comportamento

das variveis independentes garante a adequao do modelo utilizado.

4.1.4 Indicadores de sade estudados

- Taxa de mortalidade infantil, 2006 (nmero de bitos de crianas menores de um ano

de idade por 1.000 nascidos vivos).

- Mortalidade proporcional por doena diarrica aguda em menores de cinco anos de

idade, 2006 (proporo de bitos por doena diarrica aguda para menores de cinco

anos de idade - %).

19

- Mortalidade proporcional por doenas infecciosas e parasitrias para todas as idades,

2006 (proporo de bitos por doenas infecciosas e parasitrias para todas as idades -

%).

4.1.5 Fatores de risco estudados

Cada um dos trs indicadores de sade estudado foi analisado por meio de sua

correlao com vrios outros indicadores, divididos em cinco classes de fatores de risco,

a saber:

Indicadores demogrficos:

- Taxa de crescimento anual da populao, 2001-2007 (% de incremento

populacional).

- Grau de urbanizao, 2007 (% da populao urbana).

- Taxa de fecundidade total, 2006 (nmero mdio de nascidos vivos por mulher).

- Taxa padronizada de natalidade, 2006 (nmero de nascidos vivos por 1.000

habitantes).

- Esperana de vida ao nascer, 2007 (nmero de anos de vida esperados).

Indicadores socioeconmicos:

- Taxa de analfabetismo, 2007 (% na populao de 15 anos e mais de idade).

- Produto Interno Bruto (PIB) per capita, 2006 (R$/habitante).

- Razo de renda, 2007 (no de vezes que a renda dos 20% mais ricos supera a dos 20%

mais pobres em um estado).

- Proporo de pobres, 2007 (% da populao com renda familiar per capita de at

meio salrio mnimo).

- Taxa de desemprego, 2007 (% da populao economicamente ativa que se

encontrava sem trabalho).

Indicadores de morbidade e fatores de risco:

- Proporo de nascidos vivos de baixo peso ao nascer, 2006 (% de nascidos vivos

com peso inferior a 2.500 g).

- Prevalncia de dficit ponderal para a idade em crianas menores de cinco anos de

idade, 2006 (%).

- Prevalncia de aleitamento materno exclusivo, 1999 (%).

20

Indicadores de gasto pblico:

- Gasto pblico com sade, como proporo do PIB, 2006 (% do PIB).

- Gasto pblico anual com saneamento como proporo do PIB, 2006 (% do PIB).

Indicadores de cobertura por servios de sade e de saneamento:

- Nmero de consultas mdicas SUS por habitante, 2007 (consultas/habitante).

- Nmero de internaes hospitalares SUS por habitante, 2007 (internaes/100

habitantes).

- Proporo de gestantes com acompanhamento pr-natal, 2006 (% com seis e mais

consultas).

- Cobertura vacinal no primeiro ano de vida, 2007 (% de menores de um ano

imunizados).

- Cobertura por sistemas de abastecimento de gua, 2007 (% da populao urbana).

- Cobertura por sistemas de esgotamento sanitrio, 2007 (% da populao urbana).

- Cobertura por servios de coleta de lixo, 2007 (% da populao urbana).

4.2 Metodologia utilizada para o estudo da associao entre

cobertura por servios de saneamento bsico e indicadores

epidemiolgicos nos pases da Amrica Latina utilizando dados

secundrios da Organizao Pan-Americana da Sade

4.2.1 reas geogrficas abrangidas

O universo da pesquisa foi composto pelos 21 pases integrantes da Amrica Latina com

populao total estimada de 597 milhes de habitantes (UNFPA, 2010).

4.2.2 Delineamento epidemiolgico

O mtodo epidemiolgico empregado foi um estudo ecolgico, que pode ser melhor

compreendido como o estudo epidemiolgico que utiliza agregados populacionais como

unidade de anlise.

21

4.2.3 Base de dados

A base de informaes foi composta por dados secundrios, disponveis para o perodo

de 2005 a 2010, provenientes da Organizao Pan-Americana de Sade (OPAS, 2012).

Foi verificado que as variveis independentes indicadores de sade no esto

correlacionadas entre si e, portanto, tal comportamento das variveis independentes

garante a adequao do modelo utilizado.

4.2.4 Indicadores de sade estudados

- Taxa de mortalidade infantil, 2008 (nmero de bitos de crianas menores de um ano

de idade por 1.000 nascidos vivos).

- Mortalidade por enfermidades diarricas agudas em menores de cinco anos de idade,

2008 (% do total de bitos em crianas menores de cinco anos por doena diarrica

aguda).

- Mortalidade em menores de cinco anos de idade, 2008 (nmero de bitos de crianas

menores de cinco anos de idade por 1.000 nascidos vivos).

4.2.5 Fatores de risco estudados

Cada um dos trs indicadores de sade estudado foi analisado por meio de sua

correlao com vrios outros indicadores, divididos em cinco classes de fatores de risco,

a saber:

Indicadores demogrficos:

- Taxa de crescimento anual da populao, 2009/2010 (% de incremento populacional).

- Grau de urbanizao, 2010 (% da populao urbana).

- Taxa de fecundidade total, 2010 (nmero mdio de nascidos vivos por mulher).

- Taxa bruta padronizada de natalidade, 2010 (nmero de nascidos vivos por 1.000

habitantes).

- Esperana de vida ao nascer, 2010 (nmero de anos de vida esperados).

Indicadores socioeconmicos:

- Taxa de alfabetizao, 2007-2008 (% na populao de 15 anos e mais de idade).

- Produto Interno Bruto (PIB) per capita, 2008 (US$ internacional per capita).

- Razo de renda, 2006-2007 (no de vezes que a renda dos 20% mais ricos supera a dos

20% mais pobres em um pas).

22

- Proporo da populao abaixo da linha internacional de pobreza, 2005-2008 (% da

populao com renda familiar per capita de at meio salrio mnimo).

- Taxa de desemprego, 2005-2008 (% da populao economicamente ativa que se

encontrava sem trabalho).

Indicadores de morbidade e fatores de risco:

- Proporo de nascidos vivos de baixo peso ao nascer, 2005-2008 (% de nascidos vivos

com peso inferior a 2 500 g).

- Prevalncia anual de dficit nutricional moderado e grave em crianas menores de

cinco anos de idade, 2005-2008 (%).

- Prevalncia de aleitamento materno exclusivo at 120 dias, 2005-2008 (%).

Indicadores de gasto pblico:

- Gasto pblico com sade como proporo do PIB, 2008 (% do PIB).

Indicadores de cobertura por servios de sade e de saneamento:

- Nmero de atendimentos ambulatoriais, 2005-2008 (consultas/1.000 habitantes).

- Nmero de internaes hospitalares, 2005-2008 (internaes/1.000 habitantes).

- Proporo de gestantes com acompanhamento pr-natal, 2005-2008 (% em relao ao

total de gestantes).

- Proporo de populao imunizada contra difteria, coqueluche e ttano, 2008 (% de

menores de um ano imunizados).

- Cobertura por sistemas de abastecimento de gua, 2008 (% da populao urbana).

- Cobertura por sistemas de esgotamento sanitrio, 2008 (% da populao urbana).

4.3 Metodologia utilizada na anlise comparativa de associaes

entre saneamento e sade entre os estados brasileiros e os pases

da Amrica Latina

A anlise epidemiolgica foi desenvolvida segundo um processo evolutivo, em etapas,

de forma a permitir a determinao progressiva das exposies efetivamente associadas

aos indicadores de sade estudados. Tal processo envolveu, em sequncia, as seguintes

atividades:

23

anlise descritiva de cada um dos indicadores, avaliando as suas principais

caractersticas, o que propiciou a avaliao da preciso e consistncia dos dados

levantados;

anlise de regresso linear simples entre os indicadores epidemiolgicos versus

indicadores demogrficos, socioeconmicos, de morbidade e fatores de riscos, de gasto

pblico, de cobertura por servios de sade e de saneamento, um a um, de modo a

avaliar as relaes entre os indicadores epidemiolgicos variveis dependentes e os

demais indicadores variveis independentes e pr-selecionar os indicadores a serem

utilizados na regresso linear multivariada em nvel de 10% de significncia (p 0,10);

clculo do coeficiente de correlao linear entre todas as variveis independentes

pr-selecionadas para a anlise de regresso linear mltipla;

anlise de regresso linear mltipla onde se procurou identificar as variveis

independentes estatisticamente associadas a cada indicador epidemiolgico estudado em

nvel de 5% de significncia (p 0,05).

Foi utilizado o pacote estatstico SPSS 15.0 - Statistical Package for Social Sciences.

Espera-se que tal sistemtica tenha sido adequada quanto sua consistncia e ao seu

rigor cientfico.

Posteriormente, realizou-se estudo comparativo entre os fatores de risco associados aos

indicadores de sade estudados para o Brasil e para a Amrica Latina. Foram realizadas

anlises comparativas simples de resultados, anlise do coeficiente angular das

regresses encontradas como parmetro comparativo da intensidade das associaes e

testes de hipteses, que tratou da hiptese inicial que existem associaes comuns entre

fatores de risco e os indicadores epidemiolgicos estudados para diferentes realidades, a

saber, o Brasil e a Amrica Latina.

24

5 RESULTADOS

5.1 Sistematizao de dados bibliogrficos referentes a

indicadores demogrficos, socioeconmicos e de morbimortalidade

do Brasil e da Amrica Latina para os ltimos anos da primeira

dcada do sculo XXI

Na Tabela 5.1 sistematizado um conjunto de indicadores demogrficos,

socioeconmicos e de morbimortalidade referentes ao Brasil e Amrica Latina obtido

no contexto da reviso bibliogrfica realizada neste trabalho, bem como apresentada a

variao percentual entre a realidade brasileira e a realidade latino-americana.

TABELA 5.1 Sistematizao de dados bibliogrficos

Indicador Brasil Amrica Latina Variao

percentual (%)*

Grau de urbanizao

(%)

84,0 79,0 + 6,33

Proporo de pessoas com

baixa renda (%)

22,1 25,0 -11,60

Taxa de fecundidade

(filhos por mulher)

1,9 2,1 - 9,52

Esperana de vida

(anos de vida)

73,4 76,2 - 3,67

Dengue

(casos por 100.000 hab.)

514,1 185,1 + 177,80

Tuberculose

(casos por 100.000 hab.)

37,6 38,0 - 1,05

Malria

(exames + por 1.000 hab.)

1,7 7,0 - 75,71

Taxa de mortalidade de

causas externas

(casos por 100.000 homens)

461,1 237,8 + 93,90

(*) Variao percentual (%) = (Brasil Amrica Latina / Amrica Latina) * 100%

25

Dos dados da Tabela 5.1, pode-se destacar que o Brasil apresenta uma taxa de

incidncia de dengue 177,80% superior da Amrica Latina, mas, por outro lado, a

Amrica Latina apresenta uma proporo de pessoas com baixa renda, ou seja,

proporo da populao residente com renda domiciliar mensal per capita de at meio

salrio mnimo, 11,60% superior ao valor encontrado no Brasil. Observou-se, ainda, que

a prevalncia de malria na Amrica Latina (7,0 exames positivos por 1.000 habitantes),

nos ltimos anos da primeira dcada do sculo XXI, foi bastante superior encontrada

no Brasil (1,7 exames positivos por 1.000 habitantes), indicando o controle da doena

no pas.

5.2 Resultado do estudo da associao entre cobertura por

servios de saneamento bsico e indicadores epidemiolgicos nos

estados brasileiros utilizando dados secundrios do Ministrio da

Sade

Os resultados a seguir constam do trabalho de Teixeira, Gomes e Souza (2011).

5.2.1 Taxa de mortalidade infantil

Ao se processar a anlise de regresso linear mltipla para a taxa de mortalidade infantil

nos estados brasileiros referente aos dados do Ministrio da Sade (IDB 2008),

encontrou-se um coeficiente R2 ajustado de 0,936, sendo que as variveis que

permaneceram no modelo final (p 0,05) foram taxa de analfabetismo, razo de renda,

prevalncia de dficit ponderal para a idade em crianas menores de cinco anos de idade

e cobertura por coleta de lixo com coeficiente positivo, mostrando uma relao

diretamente proporcional com a taxa de mortalidade infantil nos estados brasileiros. Em

outra direo, os indicadores produto interno bruto per capita, gasto pblico anual com

sade como proporo do PIB e cobertura por sistemas de esgotamento sanitrio

apresentaram coeficiente negativo, mostrando uma relao inversamente proporcional

com a taxa de mortalidade infantil no Brasil Tabela 5.2.

26

TABELA 5.2 Regresso linear multivariada entre a taxa de mortalidade infantil e fatores de risco estudados nos estados brasileiros

R2 R Variveis que permaneceram Coef. p valor Sinal 0,936 0,967 Taxa de analfabetismo

+0,971

27

5.2.2 Mortalidade proporcional por doena diarrica aguda em menores de cinco

anos de idade

Na anlise de regresso linear mltipla com os dados do IDB 2008 Tabela 5.3

encontrou-se como variveis estatisticamente associadas mortalidade proporcional por

doena diarrica aguda em crianas menores de cinco anos, com R2 ajustado de 0,580, a

proporo de pobres e o gasto pblico anual com saneamento como proporo do PIB.

A varivel proporo de pobres apresentou um coeficiente positivo, demonstrando

uma relao diretamente proporcional com a mortalidade por doena diarrica aguda em

crianas menores de cinco anos. O gasto pblico anual com saneamento como

proporo do PIB nos estados apresentou um coeficiente positivo tambm, ou seja,

uma relao diretamente proporcional mortalidade proporcional por doena diarrica

aguda em crianas menores de cinco anos.

TABELA 5.3 Regresso linear multivariada entre a mortalidade proporcional por doena diarrica aguda em menores de cinco anos de idade e fatores de risco estudados

nos estados brasileiros

A Figura 5.2 ilustra que quanto maior o gasto pblico anual com saneamento como

proporo do PIB em um estado brasileiro maior a mortalidade proporcional por doena

diarrica aguda em menores de cinco anos de idade para os dados do IDB 2008.

R2 R Variveis que permaneceram

Coef. P valor Sinal

0,580 0,713 Proporo de pobres +0,124

28

FIGURA 5.2 - Regresso linear simples entre a mortalidade proporcional por doena diarrica aguda em menores de cinco anos de idade (MDA) e gasto pblico anual com

saneamento como proporo do PIB (GPSan) IDB 2008

5.2.3 Mortalidade proporcional por doenas infecciosas e parasitrias para todas

as idades

Para os dados do IDB 2008, quando da anlise de regresso linear multivariada Tabela

5.4 identificou-se um coeficiente R2 ajustado de 0,507, sendo que as variveis que

permaneceram no modelo final foram taxa de fecundidade total (p < 0,001) e cobertura

por sistemas de abastecimento de gua (p = 0,028). O indicador taxa de fecundidade

total apresentou coeficiente positivo mostrando uma relao diretamente proporcional

com a mortalidade proporcional por doenas infecciosas e parasitrias para todas as

idades. J o indicador cobertura por sistemas de abastecimento de gua apresentou um

valor de negativo, mostrando uma relao inversamente proporcional com o indicador

em estudo.

TABELA 5.4 Regresso linear multivariada entre a mortalidade proporcional por doenas infecciosas e parasitrias para todas as idades e fatores de risco estudados nos

estados brasileiros

R2 R Variveis que permaneceram

Coef. p valor Sinal

0,507 0,712 Taxa de fecundidade total

+1,310

29

Na Figura 5.3, observa-se que quanto maior a cobertura populacional por servios

adequados de abastecimento de gua menor a mortalidade proporcional por doenas

infecciosas e parasitrias para todas as idades nos estados da federao brasileira.

FIGURA 5.3 - Regresso linear simples entre a mortalidade proporcional por doenas infecciosas e parasitrias para todas as idades (MDIP) e a cobertura por redes de

abastecimento de gua (ICA) nos estados brasileiros IDB 2008

5.3 Resultado do estudo da associao entre cobertura por

servios de saneamento bsico e indicadores epidemiolgicos nos

pases da Amrica Latina utilizando dados secundrios da

Organizao Pan-Americana da Sade

Os resultados a seguir constam do trabalho de Teixeira, Gomes e Souza (2011).

5.3.1 Taxa de mortalidade infantil

Ao se processar a anlise de regresso linear mltipla para a taxa de mortalidade infantil

para os pases da Amrica Latina encontrou-se um coeficiente R2 ajustado de 0,700

sendo que os indicadores que permaneceram no modelo final, com p 0,05, foram

cobertura por sistemas de esgotamento sanitrio (p < 0,001) e gasto pblico anual com

sade como proporo do PIB (p = 0,007) Tabela 5.5.

Os indicadores cobertura por sistemas de esgotamento sanitrio e gasto pblico anual

com sade como proporo do PIB apresentaram coeficiente negativo, mostrando

Grfico MDIPxICA

y = -0,0526x + 9,4374

R2 = 0,27610

1

2

3

4

5

6

7

8

9

0 20 40 60 80 100 120

ICA(% )

MDI

P (%

)

30

uma relao inversamente proporcional com a taxa de mortalidade infantil nos pases da

Amrica Latina.

TABELA 5.5 - Regresso linear multivariada entre a taxa de mortalidade infantil e fatores de risco estudados nos pases da Amrica Latina

R2 R Variveis que permaneceram

Coeficiente

p valor (significncia)

Sinal

0,700 0,837 Cobertura por sistemas de esgotamento sanitrio

-0,657

31

final foram proporo de nascidos vivos de baixo peso ao nascer (p < 0,001), Produto

Interno Bruto (PIB) per capita (p = 0,005) e taxa de crescimento anual da populao (p

= 0,005). Os indicadores proporo de nascidos vivos de baixo peso ao nascer e taxa de

crescimento anual da populao apresentaram coeficiente positivo mostrando uma

relao diretamente proporcional com a mortalidade por enfermidades diarricas agudas

em menores de cinco anos de idade. J o indicador Produto Interno Bruto (PIB) per

capita apresentou um valor de negativo, mostrando uma relao inversamente

proporcional com o indicador epidemiolgico em estudo.

TABELA 5.6 - Regresso linear multivariada entre a mortalidade por enfermidades diarricas agudas em menores de cinco anos de idade e fatores de risco estudados nos

pases da Amrica Latina

R2 R Variveis que permaneceram

Coeficiente

p valor (significncia)

Sinal

0,742 0,861 Proporo de nascidos vivos de baixo peso ao nascer

+ 0,517 < 0,001 +

Produto Interno Bruto (PIB) per capita

- 0,407 0,005 -

Taxa de crescimento anual da populao

+ 0,407 0,005 +

Na Figura 5.5, observa-se que quanto maior a taxa de crescimento anual da populao

em um pas da Amrica Latina maior a mortalidade por enfermidades diarricas

agudas em menores de cinco anos de idade.

32

FIGURA 5.5 - Regresso linear simples entre a mortalidade proporcional por enfermidades diarricas agudas em menores de cinco anos de idade (MDA) e taxa de

crescimento anual da populao (TCA) nos pases da Amrica Latina

5.3.3 Mortalidade em menores de cinco anos de idade

Ao se processar a anlise de regresso linear mltipla, encontrou-se um coeficiente R2

ajustado de 0,556 sendo que as variveis que permaneceram no modelo final com p

0,05 foram cobertura por sistemas de abastecimento de gua (p < 0,001) e razo de

renda (p = 0,013).

O indicador cobertura por sistemas de abastecimento de gua apresentou coeficiente

negativo, mostrando uma relao inversamente proporcional com a mortalidade de

menores de cinco anos de idade. J o indicador razo de renda apresentou coeficiente

positivo, mostrando uma relao diretamente proporcional mortalidade de menores de

cinco anos de idade Tabela 5.7.

TABELA 5.7 - Regresso linear multivariada entre a mortalidade de menores de cinco anos de idade e fatores de risco estudados nos pases da Amrica Latina

R2 R Variveis que

permaneceram

Coeficiente

p valor

(significncia)

Sinal

0,556 0,746 Cobertura por sistemas de abastecimento de gua

- 0,646 < 0,001 -

Razo de renda + 0,410 0,013 +

Grfico MDA x TCA

y = 7,135x - 2,8258

R2 = 0,4321

-5

0

5

10

15

20

25

30

35

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

Taxa de crescimento anual da populao - TCA (%)

Mor

talid

ade p

or en

fermi

dade

s di

arric

as ag

udas

em m

enor

es

de ci

nco a

nos d

e ida

de - M

DA

(%b

itos)

33

Na Figura 5.6 pode-se observar que quanto maior a cobertura populacional por sistemas

de abastecimento de gua em pases da Amrica Latina menor a taxa de mortalidade de

menores de cinco anos de idade na regio.

FIGURA 5.6 - Regresso linear simples entre a taxa de mortalidade de menores de cinco anos de idade (TMM5) e a cobertura por sistemas de abastecimento de gua

(ICA) nos pases da Amrica Latina

5.4 Estudo comparado da associao entre cobertura por

servios de saneamento bsico e indicadores epidemiolgicos entre

estados brasileiros e pases da Amrica Latina

5.4.1 Taxa de mortalidade infantil

No Quadro 5.1 so apresentadas todas as variveis que permaneceram na regresso

linear mltipla para a taxa de mortalidade infantil nos estados brasileiros e nos pases da

Amrica Latina com nvel de significncia de 5% (p 0,05).

Neste quadro, observou-se que duas variveis comuns permaneceram aps a regresso

linear mltipla tanto para os estados brasileiros como para os pases da Amrica Latina,

a saber:

- Gasto pblico anual com sade como proporo do PIB (Coeficiente -); e - Cobertura por sistemas de esgotamento sanitrio (Coeficiente -).

y = -1.4421x + 156.4 R = 0.4324

0

10

20

30

40

50

60

80 85 90 95 100 105

Taxa

de

mo

rtal

idad

e d

e m

en

ore

s d

e 5

an

os

- TM

M5

(p

o 1

00

0n

v)

Cobertura por sistemas de abastecimento de gua (% da populao urbana)

Grfico TMM5 x ICA

34

QUADRO 5.1 - Variveis que permaneceram na regresso linear mltipla para a taxa de mortalidade infantil nos estados brasileiros e nos pases da Amrica Latina

Indicador epidemiolgico Estados brasileiros

(Variveis e coeficiente )

Pases da Amrica Latina

(Variveis e coeficiente )

Taxa de mortalidade infantil

Taxa de Analfabetismo (+) PIB per capita (-) Razo de renda (+) Prevalncia de dficit ponderal para a idade em crianas menores de cinco anos (+) Gasto pblico anual com sade como proporo do PIB (-) (*) Cobertura por sistemas de esgotamento sanitrio (-) (*) Cobertura por servios de coleta de lixo (+)

Gasto pblico anual com sade como proporo do PIB (-) (*) Cobertura por sistemas de esgotamento sanitrio (-) (*)

Observao: (*) variveis comuns.

5.4.2 Mortalidade proporcional por doena diarrica aguda em menores de cinco

anos de idade

A seguir, no Quadro 5.2, so apresentadas todas as variveis que permaneceram na

regresso linear mltipla para a taxa de mortalidade proporcional por doena diarrica

aguda em menores de cinco anos de idade nos estados brasileiros e nos pases da

Amrica Latina com nvel de significncia de 5% (p 0,05).

Conforme mostra o referido quadro no foi observado nenhuma varivel comum aps a

regresso linear mltipla para os estados brasileiros e para os pases da Amrica Latina.

Entretanto, observou-se a existncia de variveis correlacionadas como, por exemplo:

35

- Proporo de pobres e Produto Interno Bruto (PIB) per capita para os estados

brasileiros com R2 = 0,5443, que pode ser classificada, segundo Cohen (1988), como

uma correlao forte. Assim, considerou-se que as variveis proporo de pobres nos

estados brasileiros e Produto Interno Bruto (PIB) per capita nos pases da Amrica

Latina como variveis que representam um mesmo fenmeno, a saber, a influncia da

pobreza nestas duas populaes sobre a mortalidade proporcional por doena diarrica

aguda em crianas menores de cinco anos de idade.

QUADRO 5.2 - Variveis que permaneceram na regresso linear mltipla para a mortalidade proporcional por doena diarrica aguda em menores de cinco anos de

idade

Indicador epidemiolgico Estados brasileiros

(Variveis e coeficiente )

Pases da Amrica Latina

(Variveis e coeficiente )

Mortalidade proporcional por doena diarrica aguda em menores de cinco anos

de idade

Proporo de pobres (+) (*)

Gasto pblico anual com saneamento como proporo do PIB (+)

Proporo de nascidos vivos de baixo peso ao nascer (+)

Produto Interno Bruto (PIB) per capita (-) (*)

Taxa de crescimento anual da populao (+)

Observao: (*) variveis estatisticamente correlacionadas.

5.4.3 Mortalidade proporcional por doenas infecciosas e parasitrias para todas

as idades nos estados brasileiros e mortalidade em menores de cinco anos de idade

nos pases da Amrica Latina

As variveis que permaneceram na regresso linear mltipla para a mortalidade

proporcional por doenas infecciosas e parasitrias para todas as idades nos estados

brasileiros e para a mortalidade em menores de cinco anos de idade nos pases da

Amrica Latina so apresentadas no Quadro 5.3.

No quadro supracitado observou-se que uma varivel comum permaneceu aps a

regresso linear mltipla tanto para os estados brasileiros como para os pases da

Amrica Latina, a saber:

36

- Cobertura por sistemas de abastecimento de gua. Contudo, os dois indicadores epidemiolgicos referem-se a causas de morte e

populaes com idades distintas, a saber, mortalidade por doenas infecciosas e

parasitrias para todas as idades nos estados brasileiros e mortalidade por todas as

causas em menores de cinco anos de idade nos pases da Amrica Latina de modo que

os dois indicadores no so, em princpio, passveis de ser objeto de um estudo

comparado, que passou a ser considerada a hiptese inicial.

Assim, decidiu-se por fazer um teste de hipteses em que a hiptese alternativa

hiptese inicial ser a suposio que as duas variveis acima descritas esto

correlacionadas entre si, de modo a permitir um estudo comparado.

Aps o teste de hipteses, encontrou-se um coeficiente R2 = 0,0219 que indicou a no

existncia de correlao entre as variveis estudadas, segundo a classificao de Cohen

(1988), confirmando a hiptese inicial formulada.

QUADRO 5.3 - Variveis que permaneceram na regresso linear mltipla para a

mortalidade proporcional por doenas infecciosas e parasitarias para todas as idades nos estados brasileiros e mortalidade em menos de cinco anos de idade nos pases da

Amrica Latina

Indicador epidemiolgico Estados brasileiros

(Variveis e coeficiente )

Pases da Amrica Latina

(Variveis e coeficiente ) Mortalidade proporcional por

doenas infecciosas e parasitrias para todas as idade e mortalidade em menores de

cinco anos de idade

Taxa de fecundidade total (+) Cobertura por sistemas de abastecimento de gua (-)(*)

Razo de renda (+) Cobertura por sistemas de abastecimento de gua (-)(*)

Observao: (*) varivel comum.

Apesar da impossibilidade estatstica de se realizar um estudo comparado entre os

indicadores epidemiolgicos mortalidade proporcional por doenas infecciosas e

parasitarias para todas as idades nos estados brasileiros e mortalidade em menores de

cinco anos de idade nos pases da Amrica Latina, pde-se observar que a cobertura por

sistemas de abastecimento de gua, com fornecimento de gua em quantidade e

qualidade adequadas ao consumo humano, tem um importante papel na reduo destes

tipos de mortalidade tanto no Brasil, quanto na Amrica Latina.

37

6 DISCUSSO

6.1 Sistematizao de dados bibliogrficos referentes a

indicadores demogrficos, socioeconmicos e de morbimortalidade

do Brasil e da Amrica Latina para os ltimos anos da primeira

dcada do sculo XXI

Inicialmente, deve-se registrar os elevados graus de urbanizao tanto do Brasil 84%

quanto da Amrica Latina 79%. Segundo The Millennium Development Goals Report

2013 (ONU, 2013), a urbanizao da Amrica Latina um estmulo importante para

retirar os cidados da pobreza e promover o desenvolvimento humano. Ainda, segundo

o relatrio, levando em conta que mais de 80% dos bens e servios mundiais so

produzidos nas cidades, os pases com elevados nveis de urbanizao, desde a China

at os pases da Amrica Latina, com participao relevante do Brasil, desempenharam

um papel essencial na reduo da pobreza. No entanto, o relatrio adverte que, se a

urbanizao no for administrada de modo adequado, tambm poder gerar um

crescimento descontrolado de favelas, doenas e da delinquncia.

Quanto proporo de pessoas com baixa renda, ou seja, proporo da populao

residente com renda domiciliar mensal per capita de at meio salrio mnimo em

determinado pas, ou seja, o equivalente a R$ 362,00 no Brasil em 2014, foram

encontrados os valores de 22,1% da populao brasileira e 25,0% da populao da

Amrica Latina. Tais achados so corroborados por relatrio divulgado pela Comisso

Econmica para Amrica Latina e Caribe (CEPAL, 2013). A CEPAL mostrou-se pouco

otimista com os resultados alcanados na Amrica Latina em 2013, que mostraram um

ritmo menor de reduo da pobreza, que ao longo de toda a dcada de 2000 apresentou

um recuo considerado histrico. A estimativa de que 149 milhes de pessoas na

Amrica Latina continuavam pobres no fechamento de 2013, sendo que 45 milhes de

pessoas residiam no Brasil. O relatrio (CEPAL, 2013) indica a moderao do

crescimento econmico da regio e a alta nos preos de alimentos como principais

fatores para explicar esse ritmo mais lento de reduo da pobreza, mas o estudo recorda

que a reduo dos nveis de pobreza se incrementou graas a um novo ciclo de

investimentos sociais iniciado aps a superao do chamado Consenso de Washington,

38

predominante entre os governos da Amrica Latina na dcada de 1990, quando se

realizou um corte neste tipo de investimento.

Tanto o Brasil como a Amrica Latina experimentaram um forte declnio na taxa de

fecundidade ao longo das dcadas, desencadeando mudanas profundas na distribuio

etria. Os fatores que mais impactam os baixos valores encontrados, para o Brasil de

1,9 filhos por mulher e para Amrica Latina de 2,1 filhos por mulher, tm sido, segundo

o Panorama Social da Amrica Latina 2011 (CEPAL, 2011), aqueles relacionados

nova dinmica dos relacionamentos conjugais como no estar em unio estvel ou

entrar tardiamente em uma unio, alm das separaes temporrias ou definitivas, que

explicam cerca de 50% da reduo a partir da fecundidade natural. Entretanto, o

impacto do uso de mtodos anticoncepcionais, que explica cerca de 40% da reduo na

taxa de fecundidade, mostra um rpido aumento de seu uso, associado no s ao

incremento generalizado da prevalncia anticoncepcional, mas tambm o acesso e maior

uso de mtodos anticonceptivos modernos.

Ainda, pode-se destacar que a esperana de vida na Amrica Latina apresenta um valor

3,67% superior do Brasil. Porm, de acordo com o Relatrio The Global Burden of

Disease: Generating Evidence, Guiding Policy (IHME, 2013), produzido pela Rede de

Desenvolvimento Humano do Banco Mundial junto ao Instituto de Mtrica e Avaliao

em Sade e a Universidade de Washington, embora os latino-americanos estejam

vivendo mais, no esto levando uma vida mais saudvel. A m alimentao, a alta

presso sangunea e o consumo de bebidas alcolicas esto entre os principais riscos

para os anos de vida ajustados em funo da incapacidade (DALYs), ou seja, os anos

perdidos de vida saudvel. O consumo do lcool foi alto em particular no Brasil e na

Venezuela, onde foi respectivamente a terceira e quarta causa de risco dos DALYs em

2010.

O nmero de casos de dengue na Amrica Latina aumentou cinco vezes