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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA DECO Erivelton Rosário do Nascimento ESTRUTURA FILOGENÉTICA E FUNCIONAL DE ASSEMBLEIA DE AVES DA CAATINGA E SEUS DETERMINANTES AMBIENTAIS São Cristóvão 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA – DECO

Erivelton Rosário do Nascimento

ESTRUTURA FILOGENÉTICA E FUNCIONAL DE

ASSEMBLEIA DE AVES DA CAATINGA E SEUS

DETERMINANTES AMBIENTAIS

São Cristóvão

2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA – DECO

ESTRUTURA FILOGENÉTICA E FUNCIONAL DE

ASSEMBLEIA DE AVES DA CAATINGA E SEUS

DETERMINANTES AMBIENTAIS

Erivelton Rosário do Nascimento

Trabalho de conclusão de curso

apresentado ao Departamento de

Ecologia da Universidade

Federal de Sergipe como parte

dos requisitos para obtenção do

título de Bacharel em Ecologia,

desenvolvido sob a orientação

da Prof. Dr. Sidney Feitosa

Gouveia

São Cristóvão

2016

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Dedicado aos meus pais, Augusto e Elenilza.

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“Os que se encantam com a prática sem a ciência são como os timoneiros que entram no

navio sem timão nem bússola, nunca tendo certeza do seu destino. ”

Leonardo da Vinci

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AGRADECIMENTOS

Então, um bom caminho teve que ser percorrido para chegar até aqui. Vários

questionamentos, indecisões, aprendizado e sem dúvida, muitas passagens que ficaram

guardadas contribuíram para este momento. Quero agradecer muito ao orientador, Dr.

Sidney Feitosa Gouveia por toda paciência, conhecimento, confiança e dedicação durante

a graduação.

Gostaria de agradecer aos professores dos Departamentos de Ecologia e Biologia por todo

incentivo e conhecimento que foi passado de maneira fantástica ao longo destes anos.

Aos companheiros do Laboratório de Biologia da Conservação pela ótima convivência e

os momentos descontração. A Isadora, pelos momentos sérios de pura discussão e pelos

momentos “nada haver” que renderam bastante risadas.

Aos meus colegas de turma (Ecologia e Biologia), principalmente a turma 2012.1, que

compartilhamos ótimos momentos. Aos meus amigos inigualáveis Kelvin, Lucas

(Roque), Wendson, Douglas (Bolo), Vinícius (Cask), Tayse, Monalisa, Andreza,

Katarina, Letícia, Célia e Marco, os quais sempre terão meu valor em qualquer situação

da vida.

Aos meus irmãos Everton e Evany por todo o suporte e apoio em diversos momentos.

E principalmente agradecer aos meus pais, Augusto e Elenilza por todo esforço,

dedicação, educação e confiança que depositaram em mim em todos esses anos.

Obrigado!

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SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ......................................................................................... VII

LISTA DE TABELAS ................................................................................................. VIII

RESUMO ....................................................................................................................... IX

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10

2. OBJETIVOS............................................................................................................ 15

2.1. OBJETIVO GERAL ........................................................................................ 15

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................... 15

3. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 15

3.1. ÁREA DE ESTUDO ....................................................................................... 15

3.2. COMPOSIÇÃO DAS ASSEMBLEIAS ECOLÓGICAS ................................ 16

3.3. ESTRUTURA FILOGENÉTICA .................................................................... 16

3.4. ESTRUTURA FUNCIONAL .......................................................................... 18

3.5. PREDITORES AMBIENTAIS ........................................................................ 19

3.6. ANÁLISES ESTATÍSTICAS .......................................................................... 20

4. RESULTADOS ....................................................................................................... 20

5. DISCUSSÃO ........................................................................................................... 26

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 30

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VII

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Padrões de estrutura filogenética ou funcional, cujo os quadrados são

indivíduos compondo a mesma assembleia e o tamanho como um traço funcional. Em

“A” está representado uma assembleia agrupada filogenético e funcionalmente; em “B”

uma assembleia aleatória “C” dispersão filogenética e funcional. ................................. 12

Figura 2- Exemplo de árvore filogenética da avifauna da Caatinga registradas nas

assembleias estudadas..................................................................................................... 17

Figura 3- Mapeamento das assembleias da Caatinga. O tamanho do círculo é

proporcional ao número de espécies, e as cores seguem um gradiente de maior dispersão

(vermelho) para maior agrupamento (azul escuro)......................................................... 22

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VIII

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Distribuição quantitativa de assembleias de aves da Caatinga com estrutura

fenotípica (NRI e NTI) agrupada e dispersa para traços funcionais individuais. Valores

entre parênteses representam a proporção de assembleias com estrutura significativa (α <

0,05) ................................................................................................................................ 23

Tabela 2- Análise do efeito dos fatores abióticos, testados através das hipóteses

ambientais, sob a estrutura filogenética para ambas métricas. Onde, CN= condition

number, medida de multicolinearidade do modelo Temp.=temperatura, Prec.=

precipitação, Sazon. = sazonalidade, hist.= histórico (~21 mil anos), veg.= vegetacional,

alt.= altitude e M.H.C= mudança histórica climática. * p-valor <0,001. ....................... 24

Tabela 3- Análise do efeito dos fatores abióticos, testados através das hipóteses

ambientais, sob a estrutura funcional para ambas métricas. Onde, CN= Condition number,

medida de multicolinearidade do modelo Temp.=temperatura, Prec.= precipitação,

Sazon. = sazonalidade, hist.= histórico (~21 mil anos), veg.= vegetacional, alt.= altitude

e M.H.C= mudança histórica climática. * p-valor <0,001. ............................................ 25

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IX

RESUMO

Com intuito de elucidar os diferentes fatores que determinam a distribuição e diversidade

de espécies em comunidades ecológicas, aspectos ecológicos e evolutivos têm sido

incorporados em estudos de ecologia, possibilitando inferências sobre os processes

envolvidos nos padrões de coexistência através da estrutura filogenética e funcional de

assembleias. Quando a competição é um processo atuante na formação de comunidades

ecológicas, o resultado a coexistência de espécies distantes (filogenético e funcional),

sendo a dispersão indicativa da ação de interações competitivas moldando a estrutura

daquelas assembleias. Por outro lado, filtros ambientais impõem restrições às espécies

permitindo a coexistência de táxons intimamente relacionadas ou ecologicamente

similares, sendo o padrão agrupado da estrutura indicativo dos processos de filtragem. As

aves têm sido amplamente usadas em estudos devido alta a diversidade, disponibilidade

de informações e por apresentarem padrões claros de compartilhamento de nichos em

comunidades. Além de ser um centro de endemismo para aves, a Caatinga apresenta

diversas peculiaridades históricas e climáticas, tornando-a um bioma bastante singular.

Aqui nós buscamos entender como processos ecológicos e evolutivos determinam os

padrões de distribuição de espécies e estruturam as comunidades de aves da Caatinga.

Para isso, avaliamos a estrutura filogenética e funcional de 123 assembleias de aves da

Caatinga utilizando as métricas de distância filogenética e funcional NRI e NTI. Além

disso, testamos hipóteses ambientais relacionadas ao clima atual, estabilidade histórica

climática, produtividade e heterogeneidade ambiental. Estrutura filogenética das

assembleias, demostraram ser predominantemente formadas através de processos de

filtragem ambiental, especialmente relacionado aos fatores climáticos e em menor

intensidade por efeito da competição. Por outro lado, a estrutura funcional parece resultar

principalmente de processos estocásticos, tendo a produtividade primária como um fator

importante na formação das assembleias com alguma estrutura funcional. Além disso,

observamos baixa congruência entre a diversidade filogenética e funcional reforçando a

ideia de que as relações filogenéticas não necessariamente refletem aspectos funcionais.

No entanto, ambas permitem compreender processos distintos relacionados aos padrões

de coexistência de espécies ao longo de gradientes ambientais.

Palavras-chave: avifauna, ecologia de comunidades filogenia, macroecologia.

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1. INTRODUÇÃO

Uma questão central da ecologia é compreender por que existem tantas espécies e por

que elas estão distribuídas onde estão (Hutchinson 1959). Parte dessa questão envolve o

problema de como as espécies coexistem no espaço e determinam os padrões de diversidade

observados. Essa diversidade pode ser entendida como toda a variabilidade das formas de vida

existentes, desde o nível genético ao evolutivo, desde a escala local à global; e esses conjuntos

de espécies que compartilham o espaço, num mesmo tempo, são denominados comunidades

ecológicas (Rosenzweig 1995). Diante da complexidade da própria diversidade, portanto,

entender os processos de formação de comunidades ecológicas requer o envolvimento de

múltiplos fatores e características do ambiente e das espécies envolvidas. Por tanto, em um

cenário atual de constantes mudanças nos ecossistemas naturais e redução acelerada da

diversidade de espécies, avaliar os efeitos da perda de diversidade tem sido problemático,

necessitando incorporar a extensa quantidade e complexidade de fatores envolvidos no que é

diversidade biológica e no que a afeta (Ricotta 2005).

Em comunidades ecológicas, assembleias podem ser entendidas como o conjunto de

espécies de um mesmo grupo coexistindo espaço-temporalmente; e o conjunto de atributos que

caracterizam essas assembleias, incluído riqueza, composição, diferenças entre espécies,

padrões de abundância, organização espacial e papeis ecológicos dessas espécies pode ser

entendido como a estrutura dessas assembleias (Weiher & Keddy 1995, Webb 2000, Pausas &

Verdú 2010). Desta forma, entender como as espécies estão distribuídas espacialmente e os

mecanismos histórico-evolutivos e ecológicos que governam padrões de coexistência de

espécies em nível de comunidades pode oferecer uma compreensão mais abrangente acerca da

biodiversidade e, portanto, elucidar parte questão central da ecologia sobre diversidade e

distribuição dos organismos (Webb 2000, Diaz & Cabido 2001).

Diversos fatores em diferentes escalas influenciam a estrutura de assembleias ecológicas

(Webb et al. 2002, Emerson & Gillespie 2008). Uma vez que a composição de espécies em uma

comunidade depende do pool regional de espécies, a estrutura de uma assembleia é influenciada

em parte por processos históricos como especiação e capacidade de dispersão em largas escalas

(Ricklefs & Schluter 1993). Fatores abióticos como o clima e a produtividade ambiental

também são responsáveis por influenciar a variação espacial da diversidade, operando em

distintas escalas. Além disso, processos bióticos como competição interespecífica limitando a

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coexistência de táxons através da exclusão competitiva são considerados os processos

fundamentais em escala mais locais (Pausas & Verdú 2010, Cavender-Bares et al. 2009).

Historicamente, a estrutura de assembleias ecológicas tem sido investigada em função

de seus padrões de riqueza, abundância e composição de espécies (Magurran 2004).

Recentemente, os estudos têm sido incorporados aspectos ecológicos e evolutivos da estrutura

de assembleias, no intuito de elucidar os diferentes processos envolvidos (Kraft & Ackerly

2010). Um deles descreve a estrutura funcional, a qual considera as semelhanças e diferenças

ecológicas existente entre espécies de uma assembleia (Weiher & Keddy 1995; Petchey &

Gaston 2006; Bello et al. 2012). A segunda abordagem descreve a estrutura filogenética, que

leva em consideração as relações de parentesco evolutivo entre os táxons coexistentes (Webb

2000; Ackerly 2009; Pausas & Verdú 2010). Devido aos recentes avanços tecnológicos,

desenvolvimento de ferramentas para manipulação de filogenias e surgimento de métodos de

análise da estrutura de assembleias, tornou-se cada vez mais possível e comum investigar os

processos ecológico e evolutivos envolvidos na formação de assembleias (Webb et al. 2002;

Webb et al. 2008; Ackerly, 2009; Kembel et al. 2010).

Apesar de carregar informações diferenciadas, a estrutura filogenética e a funcional

possuem a mesma base teórica para a observação dos padrões espaciais de coexistência. Seja

em relação à estrutura funcional ou filogenética, as espécies em uma assembleia podem ser

mais semelhantes ou mais diferentes entre si (Webb et al. 2002). Quando as espécies em uma

comunidade são muito próximas filogenética ou funcionalmente, em relação ao pool regional

de espécies, diz-se que elas apresentam um padrão agrupado. Assembleias com espécies mais

diferentes entre si relativo à biota regional apresentam um padrão disperso. Quando nenhum

desses padrões é observado, tem-se que as assembleias apresentam um padrão aleatório (Figura

1).

Quando a competição interespecífica é um dos principais processos atuantes na

formação de comunidades ecológicas, o resultado é a exclusão competitiva de táxons

filogeneticamente ou ecologicamente semelhantes e, consequentemente, a coexistência de

espécies distantes filogeneticamente ou ecologicamente na mesma assembleia (Webb et al.

2002). Assim, a observação de padrões de dispersão na estrutura de assembleias é indicativa da

ação de interações competitivas entre as espécies moldando a estrutura daquelas assembleias.

De fato, o efeito da competição tem se mostrado bastante importante como determinante da

estruturação de assembleias ecológicas. Alguns estudos avaliando comunidades de mamíferos

(Cooper et al. 2008), carvalhos na Flórida (Cavender-Bares et al. 2004) e aves da família

Parulidae na América do Norte (Lovette & Hochachka 2006), encontraram uma forte tendência

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para dispersão filogenética, demonstrando a força que a exclusão competitiva em táxons menos

relacionados têm sobre estrutura filogenética.

Em contrapartida, quando processos predominantemente abióticos – conhecidos como

filtros ambientais – impõem restrições às espécies, são favorecidas aquelas com determinadas

características que as permitem suportar aquelas condições específicas, o resultado é

coexistência de táxons intimamente relacionadas (filogenético) ou que compartilham

determinados traços ecológicos similares (funcional). O padrão resultante aqui são assembleias

com padrão agrupado filogenética ou funcionalmente (Webb et al. 2002). Esta distribuição

agrupada de táxons semelhantes decorre do fato de que espécies mais próximas

filogeneticamente devem possuir características semelhantes, e que, portanto, seriam capazes

de tolerar aquelas condições. Esse fenômeno é conhecido como conservatismo filogenético de

nicho (Ackerly 2003; Wiens & Donoghue 2004). Este padrão foi observado para assembleias

de beija-flores situada em zonas de elevada altitude no Equador (Graham et al. 2009). Por fim,

quando a formação de assembleias é determinada por processos estocásticos, ou quando os

efeitos de interações competitivas e filtros ambientais se anulam, a estrutura da assembleia irá

assumir um padrão aleatório (Webb et al. 2002, Emerson & Gillespie 2008).

Figura 1- Padrões de estrutura filogenética ou funcional, cujo os quadrados são indivíduos

compondo a mesma assembleia e o tamanho como um traço funcional. Em “A” está

representado uma assembleia agrupada filogenético e funcionalmente; em “B” uma assembleia

aleatória “C” dispersão filogenética e funcional.

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A ideia de conservatismo de nicho surgiu a partir da premissa de que espécies próximas

filogeneticamente tendem a compartilhar mais característica ecológicas em relação à tolerância

ou adaptabilidade àquelas condições, do que espécies distantes na filogenia (Wiens &

Donoghue 2004). A partir desta concepção, o conservatismo de nicho têm sido o principal

pressuposto para que diversos estudos utilizem a informação filogenética como um substituto

da funcionalidade ecológica no entendimento dos processos de formação de assembleias (Webb

2000; Cavender-Bares et al. 2009; Best & Stachowicz 2014). Wiens & Graham (2005), por

exemplo, concluíram que espécies próximas filogeneticamente possuem maior probabilidade

de habitar ambientes similares devido ao conservatismo de nicho. Ou seja, as espécies podem

conservar traços funcionais ao longo do tempo evolutivo, portanto o caráter ecológico estaria

implícito nas relações filogenéticas, suportando o uso do parentesco filogenético entre espécies

para inferir processos ecológicos estruturando assembleias (Losos 2008).

No entanto, a suposição de que o incremento na dispersão filogenética reflete em um

aumento da dispersão nos traços funcionais de assembleias locais tem levantado discussões

sobre a equivalência entre estrutura filogenética e estrutura funcional (Gerhold et al. 2015).

Kraft et al. (2007), por exemplo, constataram que a dispersão filogenética em uma assembleia

será um indicativo de dispersão funcional, somente em casos, cujo os traços das espécies

apresentarem forte conservatismo no traço quando comparados com o pool regional (ver

também Cavender-Bares et al. 2004). No entanto, Mason & Pavoine (2013) concluíram que

índices de diversidade filogenética podem não detectar processos baseado no nicho, mesmo se

o conservatismo do traço for forte, ressaltando a importância da seleção de traços relevante para

a compreensão dos mecanismos de formação de assembleias ecológicas. Além disso, outros

estudos não encontraram correlação significativa entre diversidade filogenética e funcional ao

longo dos gradientes ambientais (Silvertown et al. 2006, Kluge & Kessler 2011, Spasojevic &

Suding 2012, Saito et al. 2016).

Estudos sobre assembleias ecológicas de aves são constantes na literatura, sobretudo em

função da alta diversidade de espécies e a disponibilidade de informações acerca da

distribuição, aspectos morfológicos, ecologia, comportamento e filogenia, possibilitando

execução de estudos macroecológicos mais completos (Hackett et al. 2008, Dunning Jr 2008,

Jetz et al. 2012, Wilman et al. 2014). As aves estão inseridas em um dos grupos mais

diversificados de vertebrados, com mais de 10.000 espécies distribuídas em diversos ambientes

por todo planeta, sendo que no Brasil foram registradas 1.919 espécies de 103 famílias

diferentes (Jetz et al. 2014, Piacentini et al. 2015). Além da elevada diversidade de espécies, as

aves apresentam uma ampla variedade morfológica, de hábitos alimentares, de micro-habitat e

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de comportamento, sendo um dos grupos biológicos mais bem-sucedidos da Terra (Jetz et al.

2014). Devido à essas características, e pelo fato de espécies de aves apresentam padrões claros

de compartilhamento de nichos em comunidades, o grupo tem sido fundamental no próprio

desenvolvimento das bases teóricas da estrutura de comunidades (MacArthur 1958).

A Caatinga é considerada um dos principais centros de endemismo sul-americano de

aves, ou seja, esta região é definida com uma zona de congruência de táxons com distribuição

restrita, como o periquito-da-caatinga (Eupsittula cactorum), a Jacucaca (Penelope jacucaca) e

o bacurauzinho-da-caatinga (Hydropsalis hirundinacea) (Cracraft 1985). Estima-se que cerca

de 510 aves habitem a Caatinga, sendo que mais de 90% se reproduzem no bioma e entorno de

20 são consideradas ameaçada de extinção (Silva et al. 2003, Pacheco 2004). Além disso, apesar

da alta capacidade de mobilidade, as aves da Caatinga apresentam fortes padrões de distribuição

que parecem estar relacionados com questões evolutivas, ambientais e interações ecológicas

(Cracraft 1985). Mares et al. (1985) sugerem que a origem da biota atual da Caatinga se deu

durante o Quaternário, onde áreas de caatingas retraíram a pequenos núcleos semiáridos

dificultando o desenvolvimento de biota adaptada a seca, no entanto os brejos de altitude,

atuando como refúgios com formações mais úmidas, comportaram grande parte da avifauna

observada atualmente.

Além das questões biogeográficas, o bioma apresenta características ambientais,

principalmente com relação ao clima, incluindo altas temperaturas e baixa precipitação, o que

exige que as espécies possuam mecanismos para enfrentar estas condições, sendo a

movimentação sazonal para áreas mais úmidas a principal resposta frente à aridez (Silva et al.

2003). Com relação a vegetação, a Caatinga apresenta alta variedade de habitats desde

formações mais fechadas a áreas abertas. No entanto, o elevado grau de degradação que o bioma

vem sofrendo, tem reduzido bastante as áreas de vegetação natural e consequentemente a

diversidade de espécies (Alves et al. 2009).

Diante de todas estas peculiaridades inerentes ao grupo das aves e à Caatinga, buscamos

aqui investigar os padrões de estrutura filogenética e funcional das assembleias de aves da

Caatinga e como fatores abióticos afetam esses padrões. Especificamente, testamos quatro

hipóteses distintas relacionadas a condições abióticas como preditores dos padrões de estrutura

filogenética e funcional: 1- O clima atual, restringindo o estabelecimento de espécies de acordo

com seus limites fisiológicos (Currie et al. 2004). Para a Caatinga, esperamos que comunidades

que apresentem condições climáticas mais limitantes (altas temperaturas, baixa pluviosidade e

sazonalidade) apresentem tendências ao agrupamento filogenético e funcional, seguindo os

princípios da filtragem ambiental e conservatismo de nicho (Webb 2000); 2- A estabilidade

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histórica climática, a qual prediz maior diversidade em ambientes que sofreram poucas

mudanças climáticas ao longo do tempo evolutivo (Pianka 1966). Neste caso, esperamos que

comunidades com maior estabilidade climática ao longo do tempo apresente composição de

espécies mais agrupada tanto no campo filogenético quanto funcional; 3- Produtividade

ambiental, em que a disponibilidade de recurso resultante da alta produtividade primária

proporciona aumento no agrupamento na estrutura de assembleias (Currie 1991, Waide et al.

1999, Currie et al. 2004 Davies et al. 2007). Sendo assim, esperamos que comunidades com

alta produtividade apresentem alto agrupamento filogenética e funcional. Por fim, 4- A

heterogeneidade ambiental, o qual prevê que uma região com ambientes dissimilares de habitats

permitirá o estabelecimento de um maior número de espécies, através da disponibilidade de

nichos (Davies et al. 2007). Neste caso, esperamos que assembleias de aves que apresentem

maior variedade de habitats apresentem estrutura filogenética e funcionalmente mais dispersa.

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral

Entender como processos ecológicos e evolutivos determinam os padrões de

distribuição de espécies e estruturam as comunidades de aves da Caatinga.

2.2. Objetivos específicos

Caracterizar o padrão espacial da diversidade e da estrutura filogenética e

funcional das assembleias de aves da Caatinga;

Testar as hipóteses relacionadas à formação das assembleias de aves da

Caatinga, especificamente filtro ambiental e exclusão competitiva;

Testar as hipóteses ambientais relacionadas ao clima atual, clima histórico,

Heterogeneidade e produtividade ambiental.

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Área de Estudo

Situada no nordeste do Brasil, a Caatinga abrange cerca de 800.000 Km2. A região é

caracterizada, principalmente, pelas condições climáticas peculiares, uma vez que o bioma está

inserido na isoieta de 1000 mm, porém as chuvas não ultrapassam os 750 mm anuais, além de

serem mal distribuídas ao longo do território (Andrade-Lima 1981). Aliado a baixa

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precipitação, altas temperaturas que transitam, em média, entre 25 e 29°C confere ainda mais

restrições para o estabelecimento de espécies no bioma (Ab’Sáber 2003). A cobertura vegetal

é formada por espécies xerófilas com alguns enclaves de florestas ripárias e cerrado, além de

formações florestais de relevo, os chamados brejos de altitude que são áreas onde as condições

climáticas são amortecidas (Alves et al. 2009). Estas regiões são tidas como de extrema

importância para a manutenção da biota na Caatinga, pelo fato destas áreas terem servido como

refúgio durante o Pleistoceno, papel que provavelmente desempenham até os dias atuais (Mares

et al. 1985)

3.2. Composição das assembleias ecológicas

Inicialmente, fizemos um levantamento bibliográfico dos estudos de assembleias de

aves da Caatinga a partir de diversas fontes, incluindo dissertações, artigos e levantamentos de

biota, no período entre 2014 e 2015. A compilação destes estudos, nos permitiu construir uma

matriz de presenças e ausências das espécies de aves e suas localizações geográficas, ao longo

de todo o bioma Caatinga e algumas zonas de transição com biomas vizinhos.

3.3. Estrutura filogenética

Para caracterizar as relações de parentesco filogenético entre os táxons, utilizamos a

árvore filogenética de Jetz et al. (2012). Devido a carência de informação sobre alguns táxons

na árvore original, utilizamos a hipótese filogenética base de Hackett (2008), na qual as demais

espécies faltantes são imputadas aleatoriamente dentro do clado pertencente. Devido à incerteza

filogenética inerente a esse procedimento, utilizamos 100 árvores selecionadas aleatoriamente

para analisar a estrutura filogenética, incorporando assim o efeito da incerteza nas relações de

parentesco entre as espécies (Figura 2).

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Figura 2- Exemplo de árvore filogenética da avifauna da Caatinga registradas nas assembleias estudadas.

A quantificação da estrutura filogenética foi baseada em duas métricas, o MPD (Mean

Pairwise Distance), o qual calcula a distância filogenética média entre todos os táxons dentro

de uma assembleia; e o MNTD (Mean Nearest Neighbor Distance), que calcula a distância

entre todos os táxons e os respectivos parentes filogenéticos mais próximos. No entanto, devido

a diferenças nos esforços amostrais entre as assembleias, os valores de riqueza de muitas

localidades devem ser subestimados. Esse efeito pode afetar significativamente as estimativas

da estrutura filogenética destas assembleias. Para contornar este efeito causado pelo tamanho

das assembleias, utilizamos as métricas padronizadas NRI (Net Relatedness Index) e NTI

(Nearest Táxon Index), as quais estimam as medidas de MPD e MNTD, respectivamente,

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calculadas a partir de 999 randomizações das composições das comunidades locais (Gotelli

2000; Webb et al. 2008), conforme a seguinte fórmula:

𝑀𝑝. = 1 −(𝑋𝑜𝑏𝑠 − 𝑋𝑚𝑛)

𝑑𝑝. 𝑋𝑚𝑛

Onde, Mp. é a métrica padronizada que será calculada (NRI ou NTI), X obs é o valor

observado de estrutura da assembleia, X mn é o valor de estrutura da assembleia gerado pelo

modelo nulo e dp.Xmn é o desvio padrão das 999 aleatorizações do modelo nulo. O NRI e NTI

comparam os valores observados com a distribuição nula, testando assim a significância dos

índices de estrutura encontrados. Valores positivos de NRI e NTI significam que as

comunidades apresentam estrutura filogeneticamente dispersa, ou seja, as espécies que compõe

determinada comunidade possuem maior distância filogenética do que o esperado pelo acaso.

Esta disposição é presumida como resultante de exclusão competitiva que ocorreu no processo

de formação da comunidade. Por outro lado, valores de NRI e NTI negativos refletem que as

comunidades possuem estrutura filogenética agrupada, ou seja, as espécies que presentes nesta

comunidade possuem uma relação de parentesco maior do que esperado pelo acaso. Esse padrão

sugere que condições ambientais (filtros) devem ter favorecido a ocorrência de espécies

filogeneticamente mais próximas, já que estas tendem a apresentar características mais

semelhantes entre si, ou seja, conservatismo filogenético de nicho. Quando os valores de NRI

e NTI não são significativamente diferentes de zero, é interpretado que as comunidades são

formadas por pools de espécies totalmente aleatório e, portanto, por processos estocásticos

(Webb 2002, Kembel et al. 2010). Devido à incerteza filogenética resultante da alocação de

espécies sem informação genética (comentado anteriormente), calculamos o NRI e NTI para

cada uma das 100 árvores filogenéticas obtidas. Os valores apresentados consistem nas médias

das métricas.

3.4. Estrutura funcional

Utilizando as informações de composição das assembleias no bioma, nós compilamos

um banco de dados dos traços funcionais das espécies, conforme Wilman et al. (2014) e Birdlife

(veja Petchey et al. 2007, Sobral e Cianciaruso 2015 para aplicações semelhantes).Os traços

ecológicos sumarizados estão relacionados a três aspectos fundamentais da ecologia das

espécies: 1) Dieta, dividida em i- invertebrados, ii- mamíferos e aves, iii- répteis e anfíbio, iv-

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19

peixes, v- detritos, vi- frutas, vii- sementes, viii- néctar, ix- outras partes da planta, x-

desconhecido; 2) Micro-habitat de forrageio, classificado em i- dependência florestal, ii-

forrageio aquático submerso, iii- forrageio aquático superficial, iv- forrageio no solo, v-

forrageio no sub-bosque (até 2 m), vi- forrageio no sub-bosque (acima de 2 m), vii- forrageio

em copa de árvores, viii- forrageio acima da vegetação ; 3) Massa corporal (em gramas).

Classes de dieta e de micro-habitat são descritos como proporções (veja Wilman et al. 2014).

Para avaliar as relações ecológicas entre os táxons nas assembleias da Caatinga, nós

utilizamos procedimentos metodológicos semelhantes aos usados para estrutura filogenética,

substituindo a informação filogenética pelas relações de distâncias fenotípicas entre as espécies,

conhecida como filograma (Best & Stachowicz 2014). Para isso, geramos uma matriz de

distância funcional das espécies, tomando como base as diferenças ecológicas existentes entre

os táxons. Devido aos diferentes tipos de dados (proporções e contínuos), calculamos as

distâncias ecológicas entre as espécies utilizando a distância de Gower (Gower 1971). Para

quantificar a estrutura funcional das assembleias foi utilizado também o NRI e o NTI. Apesar

desta métricas serem originalmente criadas para análises de estrutura filogenética (Webb 2000),

elas têm sido também empregadas alguns em estudos de estrutura funcional (Bello et al. 2012;

Best & Stachowicz 2014; Goberna et al. 2014; Saito et al. 2016), pelo fato destas seguirem o

mesmo princípio. Aqui, avaliamos a estrutura funcional das assembleias tanto utilizando todos

os traços funcionais combinados, quanto separados nos conjuntos correspondentes, ou seja, a

estrutura funcional com relação somente à dieta, ao hábito e à massa corporal.

3.5. Preditores ambientais

Usamos quatro conjuntos de preditores ambientais para analisar a contribuição dos

fatores abióticos no processo de formação das assembleias ecológicas: 1- Clima atual,

representado pela temperatura e precipitação anual e a sazonalidade na precipitação; 2-

Estabilidade histórica climática, representado pela temperatura e precipitação do último glacial

(~21 mil anos) e a mudança histórica do clima (diferença entre temperatura anual histórica e a

atual) 3- Produtividade ambiental, descrita pela evapotranspiração real (Actual

evapotranpiration- AET) (Evans et al. 2005); 4- Heterogeneidade ambiental, descrito pela

proporção da cobertura vegetal, número de tipos vegetacionais e pela amplitude da altitude.

Para estimar a cobertura vegetal, estabelecemos um buffer de 5 km no entorno de cada

localidade das assembleias, utilizando um mapa de alta resolução de cobertura vegetal (Hansen

et al. 2013). Além disso, utilizando o mesmo mapa, calculamos a quantidade de classes de

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20

vegetação presente em cada assembleia, sendo que cada classe reflete um nível de cobertura

vegetal (ex. classes próximas a zero indica áreas abertas enquanto mais próximo a 100 reflete

áreas mais densas) a qual chamamos aqui de tipos vegetacionais. As outras variáveis de

temperatura e precipitação atual, sazonalidade da precipitação, temperatura e precipitação

histórica foram extraídas do WordClim (Hijmans et al. 2005), o AET foi extraído do Banco de

Dados Global de Balanço Hídrico do Solo (Trabucco & Zomer 2010).

3.6. Análises estatísticas

Os preditores ambientais foram agrupados segundo as hipóteses a que estão

relacionados (clima atual, estabilidade histórica climática, produtividade ambiental e

heterogeneidade ambiental). Para testar os efeitos dos conjuntos de preditores representativos

de cada, utilizamos regressão linear múltipla (OLS) entre as variáveis respostas (NTI e NRI

filogenético e funcional) e os conjuntos de preditores. Para comparar as hipóteses ambientais,

comparamos os respectivos modelos utilizando o critério de informação de Akaike (AIC). Este

parâmetro descreve a distância matemática entre o modelo predito e os dados observados, de

modo que valores menores indicam melhores modelos (Burnham & Anderson 2004). As

análises foram feitas com o auxílio do programa R (R Development Core Team, 2015)

utilizando os pacotes Picante (Kembel et al. 2010), SDMTools (VanDerWal et al. 2014) e do

programa SAM (Spatial Analysis in Macroecology; Rangel et al. 2006).

4. RESULTADOS

Foram amostradas 123 assembleias de aves ao longo do bioma e algumas zonas de

transição entre biomas (Figura 3), sendo que a riqueza variou entre 21 e 254 espécies, em um

total de 532, distribuídas em 67 famílias. As espécies mais frequentes foram o Pitiguari

(Cyclarhis gujanensis), Corruíra (Troglodytes musculus), Suiriri (Tyrannus melancholicus),

Fim-fim (Euphonia chlorotica) e o Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus). Por outro lado, algumas

das espécies mais raras (apenas um registro) foram a Cigarra-do-coqueiro (Tiaris fuliginosus),

Murucututu-de-barriga-amarela (Pulsatrix koeniswaldiana), Mocho-diabo (Asio stygius),

Jandaia-de-testa-vermelha (Aratinga auricapillus) e Soldadinho-do-araripe (Antilophia

bokermanni).

A estrutura filogenética, quantificada através do NRI, variou entre – 22,06 e 11,64,

sendo que 28 assembleias (22,7%) apresentaram valores positivos de NRI, correspondente a

tendência a dispersão filogenética, das quais 20 (71,4%) delas foram significativamente

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21

diferentes do esperado pelo acaso (p < 0,05). Por outro lado, 95 assembleias (77,3%) tiveram

valores negativos de NRI, sugerindo tendências ao agrupamento filogenético de espécies, o qual

91 (95,7%) delas apresentaram diferenças significativa do esperado pelo modelo nulo. Para o

NTI, a estrutura filogenética variou entre -20,19 e 11,93, apresentando 39 assembleias

(31,7%)com valores positivos, ou seja, tendência a dispersão filogenética, sendo 30 (76,9 %)

delas significativamente mais dispersas do que o esperado pelo acaso. Enquanto, 84 (68,3%)

mostraram tendência ao agrupamento filogenético, com 76 (90,4%) das assembleias diferentes

do esperado pelo acaso (Figura 3).

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22

Figura 3- Mapeamento das assembleias da Caatinga. O tamanho do círculo é proporcional ao número de espécies,

e as cores seguem um gradiente de maior dispersão (vermelho) para maior agrupamento (azul escuro).

Para a estrutura funcional, utilizando todos os traços, os valores de NRI e NTI variaram

entre – 3,19 a 0,66 e de -2,56 a 0,74, respectivamente. Foram encontradas 84 (68,9%)

assembleias com valores negativos, para o NRI e 104 (84,5%) para o NTI. Destas, 16,4% das

assembleias obtiveram agrupamento significativo, para o NRI e apenas 0,7% para o NTI (Figura

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23

3). Nenhuma assembleia apresentou dispersão funcional significativa envolvendo todos traços

funcionais. No entanto, quando observamos a distribuição espacial da estrutura funcional

separada pelos conjuntos de traços, encontramos algumas assembleias com dispersão fenotípica

significativa, para determinados conjuntos de traços (Tabela 1).

Tabela 1- Distribuição quantitativa de assembleias de aves da Caatinga com estrutura fenotípica (NRI e NTI)

agrupada e dispersa para traços funcionais individuais. Valores entre parênteses representam a proporção de

assembleias com estrutura significativa (α < 0,05)

Dieta Micro-habitat Massa Corporal

NRI Dispersão 45,5 (0,0) 16,3 (0,0) 35,8(0,008)

Agrupamento 54,4 (0,008) 83,7 (0,13) 64,2 (0,03)

NTI Dispersão 46,3 (0,0) 26 (0,0) 15,4 (0,008)

Agrupamento 53,6 (0,02) 73,9 (0,03) 84,5 (0,0)

Com relação ao efeito do ambiente sob os padrões de estrutura filogenética e funcional,

testamos as hipóteses de clima atual, estabilidade histórica climática, produtividade ambiental

e heterogeneidade ambiental. A estrutura filogenética, descrita pelo NRI apontou o clima atual

como o principal modelo preditor do padrão de coexistência de espécies, seguindo a

estabilidade histórica climática. No entanto, para o NTI observamos o inverso, a estabilidade

histórica climática foi mais importante para o padrão de estrutura filogenética, seguido do o

clima atual (Tabela 2).

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24

Tabela 2- Análise do efeito dos fatores abióticos, testados através das hipóteses ambientais, sob a estrutura

filogenética para ambas métricas. Onde, CN= condition number, medida de multicolinearidade do modelo

Temp.=temperatura, Prec.= precipitação, Sazon. = sazonalidade, hist.= histórico (~21 mil anos), veg.=

vegetacional, alt.= altitude e M.H.C= mudança histórica climática. * p-valor <0,001.

Métrica Hipóteses Variáveis Slope

(β)

R2 F CN AICc

NRI

Clima atual

Temp. 0.419

0.388* 26.274 1.848 768.076 Prec. -0.41

Sazon. Prec. 0.112

Estabilidade

histórica

climática

Temp. hist. 0.484

0.374* 24.755 1.654 770.942 Prec. hist. -0.389

M.H.C. 0.107

Heterogeneidade

ambiental

Cobertura

veg. -0.419

0.289* 17.084 1.362 786.536 Tipos veg. -0.122

Amplitude

alt. -0.229

Produtividade AET -0.374 0.14* 19.653 1 807.767

NTI

Estabilidade

histórica

climática

Temp. hist. 0.097

0.226* 12.41 1.654 793.936 Prec. hist. -0.008

M.H.C. 0.015

Clima atual

Temp. 0.101

0.191* 10.166 1.848 799.354 Prec. -0.008

Sazon. Prec. 0.007

Heterogeneidade

ambiental

Cobertura

veg. -5.105

0.122* 6.266 1.362 809.378 Tipos veg. -0.002

Amplitude

alt. -0.005

Produtividade AET -0.301 0.09* 12.027 1 811.451

Page 25: ESTRUTURA FILOGENÉTICA E FUNCIONAL DE ......Para isso, avaliamos a estrutura filogenética e funcional de 123 assembleias de aves da Caatinga utilizando as métricas de distância

25

A estrutura funcional descrita pelo NRI aponta a produtividade como o melhor modelo

descritor da estrutura fenotípica. Por outro lado, com o NTI, foi observado que o clima atual e

a estabilidade histórica climática foram os melhores modelos, respectivamente. Entretanto, vale

destacar que a produtividade ambiental, para o NTI não apresentou significância estatística

(Tabela 3).

Tabela 3- Análise do efeito dos fatores abióticos, testados através das hipóteses ambientais, sob a estrutura

funcional para ambas métricas. Onde, CN= Condition number, medida de multicolinearidade do modelo

Temp.=temperatura, Prec.= precipitação, Sazon. = sazonalidade, hist.= histórico (~21 mil anos), veg.=

vegetacional, alt.= altitude e M.H.C= mudança histórica climática. * p-valor <0,001.

Métrica Hipóteses Variáveis Slope (β) R2 F CN AICc

NRI

Produtividade AET -0.523 0.273* 45.466 1 258.221

Clima atual

Temp. 0.098

0.278* 16.219 1.848 259.605 Prec. -0.519

Sazon. Prec. 0.102

Estabilidade

histórica

climática

Temp. hist. 0.136

0.277* 16.125 1.654 259.812 Prec. hist. -0.531

M.H.C. 0.081

Heterogeneidade

ambiental

Cobertura

veg. -0.398

0.174* 9.139 1.362 276.267 Tipos veg. 0.132

Amplitude

alt. -0.05

NTI

Clima atual

Temp. 0.285

0.119* 6.095 1.848 229.969 Prec. -0.167

Sazon. Prec. 0.071

Estabilidade

histórica

climática

Temp. hist. 0.332

0.116* 5.954 1.654 230.35 Prec. hist. -0.164

M.H.C. 0.087

Heterogeneidade

ambiental

Cobertura

veg. -0.102

0.056* 3.047 1.362 238.448 Tipos veg. 0.154

Amplitude

alt. -0.181

Produtividade AET -0.166 0.028 3.43 1 239.801

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26

5. DISCUSSÃO

Apesar de já ter sido considerada uma região com baixa riqueza de espécies, registramos

para a Caatinga 532 espécies de aves, correspondente a pouco mais de 25% das aves brasileira.

Silva et al. (2003) em um estudo completo sobre a avifauna da Caatinga contabilizaram a maior

riqueza de aves para o bioma (510). Desta forma o excedente encontrado aqui pode envolver

espécies de áreas de transição com biomas adjacente a Caatinga. Por outro lado, o limitado

número de registros obtidos, 123 ao longo de aproximadamente 800.000 km2, sugere que ambos

os valores estejam subestimados da real diversidade de espécies da Caatinga.

Com relação à estrutura filogenética, de modo geral, poucas assembleias de aves na

Caatinga apresentaram padrão aleatório, o que indica que processo não estocásticos são mais

importantes na estruturação das assembleias. Houve um predomínio de assembleias com padrão

de agrupamento filogenético entre as espécies, ou seja, a maioria das assembleias de aves da

Caatinga são formadas espécies filogeneticamente próximas. Partindo do pressuposto de que

espécies próximas conservam características semelhantes advinda de um ancestral comum, este

padrão sugere a forte atuação de processo relacionado a filtragem ambiental, restringindo à

coexistência de táxons mais aparentados (Webb et al. 2002). Por outro lado, foi observado

também um número representativo de dispersões filogenéticas, apontando que a competição,

através da exclusão competitiva de táxons intimamente relacionados na filogenia, é um

processo ecológico importante para a organização das assembleias de aves na Caatinga, embora

em uma proporção menor do que os filtros ambientais (Webb et al. 2002). Em uma escala mais

ampla, estudos tem sugerido que assembleias com dispersão filogenética podem surgir a partir

da predominância de processos de especiação alopátrica, o qual reduz a probabilidade de táxons

de uma mesma linhagem evolutiva comporem uma mesma assembleia (Edwards et al. 2005,

Bernagaud et al. 2014, Pigot e Etienne 2015). Além disso, em escala regional a dispersão pode

ser proveniente do alto intercambio biótico observado no entre biomas. Este pode ser o caso

das aves da Caatinga, tendo em vista que boa parte da avifauna presente no bioma possui centros

de endemismo em biomas adjacentes (Silva & Santos 2005).

Com relação a estrutura funcional, o bioma apresentou uma dominância de assembleias

com padrão aleatório, porém com maior tendência ao agrupamento, tendo em vista a quantidade

de assembleias com valores de NRI/NTI negativos. Este resultado sugere que em muitas

assembleias, as espécies presentes são menos similares ecologicamente quanto são

filogeneticamente. Esse padrão pode ser indicativo de que espécies filogeneticamente próximas

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27

ocupem posições diferentes no espaço ambiental, indicando, por exemplo, uma segregação de

nicho entre essas espécies maior do que esperado pelas relações filogenéticas entre elas.

Apesar da existência de variações na quantificação da estrutura das assembleias, tanto

filogenética e funcional, não houve grande diferença quanto ao padrão geral observado ao longo

do bioma quanto ao NRI e NTI. As diferenças podem ser decorrentes da forma como cada

métrica é calculada. Por exemplo, testes de sensitividade mostraram que o NRI tem um poder

maior para capturar assembleias em agrupamento, enquanto o NTI para detectar assembleias

em dispersão (Kraft et al. 2007, Pausas & Verdú 2010). Portanto, quando utilizamos o NRI

pudemos observar uma quantidade maior de assembleias em agrupamento significativo tanto

para a estrutura filogenética quanto para funcional. Quando utilizamos o NTI houve um

incremento no número de assembleias em dispersão, entretanto o padrão geral foi mantido. Isto

reflete na ideia de que os processos relacionados a restrições abióticas filtrando a composição

de assembleias apresentam maior influência na distribuição da avifauna ao longo da Caatinga.

Além dos fatores relacionados a história evolutiva e características ecológicas das

espécies, abordagens baseadas em fatores abióticos podem fornecer informações importantes

para entender a organização das assembleias (Pausas & Verdú 2010). Aqui, nós testamos quatro

hipóteses ambientais: Clima atual, estabilidade histórica climática, produtividade e

heterogeneidade ambiental. As hipóteses climáticas explicaram melhor as variações na

estrutura filogenética, sendo o clima atual o melhor modelo quando usamos o NRI e a

estabilidade histórica climática quando o NTI é a métrica usada. Dessa maneira, a influência do

clima no processo de formação de assembleias foi predominante, com as comunidades

apresentando maior dispersão filogenética na medida em que o clima se torna mais extremo, ou

seja, elevada temperaturas, baixos índices de precipitação e alta sazonalidade de chuvas. Alguns

estudos já observaram o clima como um fator ambiental importante para assembleias de

endotérmicos, por exemplo, Stevens & Gavilanez (2015) encontrou que a sazonalidade na

temperatura é um forte preditor da estrutura filogenética de morcegos na Mata Atlântica, no

qual o aumento da sazonalidade resulta em assembleias com maior dispersão filogenética.

Stager et al. (2015) concluíram que temperaturas extremas atuam como pressões seletivas

importantes que guiam o desempenho fisiológico de aves, sendo que estas adaptações

fisiológicas podem restringir ou favorecer o estabelecimento de uma espécie em uma

assembleia ecológica.

Page 28: ESTRUTURA FILOGENÉTICA E FUNCIONAL DE ......Para isso, avaliamos a estrutura filogenética e funcional de 123 assembleias de aves da Caatinga utilizando as métricas de distância

28

Embora significativamente relacionadas aos padrões observados, a produtividade e a

heterogeneidade ambiental não demostraram alto poder explicativo sobre a estrutura

filogenética em ambas as métricas. Além disso, as duas hipóteses demostraram relação negativa

com a estrutura das assembleias. Inicialmente, esperávamos maior dispersão filogenética na

medida em que os ambientes se tornassem mais heterogêneos. No entanto, observamos que as

assembleias tendem a ter maior agrupamento filogenético em ambientes com maiores variações

de habitats, grau de perda e fragmentação da cobertura vegetal e produtividade ambiental. Por

outro lado, tendo em vista que as assembleias se tornam mais dispersas filogeneticamente com

o aumento da aridez, é plausível esperar de fato um aumento na dispersão filogenética também

na medida em que outros estressores ambientais se intensifiquem, como o grau de perda e

fragmentação de habitat e a redução da produtividade ambiental. Neste cenário, a redução na

qualidade e produtividade dos habitats estaria removendo algumas espécies que possuem

parentes próximos na mesma comunidade, resultando em uma maior dispersão filogenética.

Neste caso, uma maior heterogeneidade resultante da perda e fragmentação de habitat (com

consequente redução na produtividade) estaria ambientando a competição interespecífica de

espécies filogeneticamente próximas (Wiens 1974).

Por outro lado, para a estrutura funcional através do NRI, a hipótese de produtividade

ambiental foi a que melhor explicou a variação da composição de traços dentro das assembleias

de aves na Caatinga. Como para a estrutura filogenética, essa hipótese prediz que o aumento da

produtividade reflete em maior disponibilidade de recurso e assim aumento do agrupamento

filogenética e funcional. Foi observada uma relação negativa entre a estrutura funcional (NRI)

e a produtividade, em que as assembleias tendem ao agrupamento funcional à medida que a

produtividade ambiental aumenta. Como discutido anteriormente, esse resultado sugere que

quanto mais produtivo e com recursos disponíveis é o ambiente, menor será as pressões de

competição, consequentemente espécies com conjuntos de características semelhantes que

proporcionam vantagens àquelas condições tendem a coexistir. Para o NTI, a melhor hipótese

foi o clima atual. Entretanto, curiosamente, para esta métrica a hipótese de produtividade não

apresentou significância estatística. Este resultado parece estar ligado com o método de cálculo

de cada métrica, em que o NRI utiliza todos os pares de espécies possíveis para gerar um valor

de estrutura, enquanto o NTI usa as distâncias de cada espécie para o seu vizinho mais próximo.

Portanto, este cenário sugere que a produtividade representa um filtro ambiental importante

(como descrito pelo NRI), selecionando certos atributos específico das espécies nas

Page 29: ESTRUTURA FILOGENÉTICA E FUNCIONAL DE ......Para isso, avaliamos a estrutura filogenética e funcional de 123 assembleias de aves da Caatinga utilizando as métricas de distância

29

assembleias. Entretanto, a produtividade é pouco informativa sobre o papel das interações

competitivas (que é melhor descrita pelo NTI) entre estas espécies (Kraft et al. 2007).

Em síntese, ao reunir informações sobre distribuição, relações filogenéticas, traços

funcionais de espécies de aves ao longo da Caatinga, associado a informações em escala de

assembleia e de aspectos ambientais ao longo do bioma, encontramos que a história de

formação de assembleias de aves na Caatinga parece ser guiada por diversos processos ao longo

do tempo. Para a estrutura filogenética, processos como a competição intraespecífica limitando

a coexistência de táxons aparentados e, principalmente a forte influência de filtros ambientais,

especialmente relacionado aos fatores climáticos restringindo a formação de assembleias com

táxons intimamente relacionadas parecer ser mais relevantes. Por outro lado, a estrutura

funcional parece resultar principalmente de processos estocásticos, tendo a produtividade

primária como um fator importante na formação das assembleias com alguma estrutura

funcional. Além disso, a proposta de utilizar a informação filogenética para inferir mecanismos

funcionais atuantes no processo de organização de assembleias tem gerado diversos

questionamentos, sobretudo devido à falta de suporte na afirmação de que o aumento na

dispersão filogenética ocasiona maior dispersão de traços funcionais (Carlucci et al. 2015,

Gehold et al. 2015). Como em muitos outros estudos, observamos aqui uma baixa congruência

entre os padrões de estrutura filogenética e funcional. Estes resultados reforçam a ideia de que

as relações filogenéticas não necessariamente refletem aspectos funcionais. Contudo, ambas

permitem compreender processos distintos relacionados aos padrões de coexistência de

espécies ao longo de gradientes ambientais.

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30

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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