estrutura eletrÔnica do moo2

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VIVIANE STOEBERL ESTRUTURA ELETRÔNICA DO MoO2 Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre, pelo Programa de Pós-Graduação em Física, do Setor de Ciências Exatas da Universidade Federal do Paraná do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Rodrigo José Ochekoski Mossanek. CURITIBA 2016

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VIVIANE STOEBERL

ESTRUTURA ELETRNICA DO MoO2

Dissertao apresentada como requisito parcial

obteno do grau de Mestre, pelo Programa

de Ps-Graduao em Fsica, do Setor de

Cincias Exatas da Universidade Federal do

Paran do Paran.

Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Jos Ochekoski

Mossanek.

CURITIBA

2016

S871e Stoeberl, Viviane Estrutura eletrnica do MoO2 / Viviane Stoeberl. Curitiba, 2016. 70 f. : il. color. ; 30 cm.

Dissertao - Universidade Federal do Paran, Setor de Cincias Exatas,Programa de Ps-Graduao em Fsica, 2016.

Orientador: Rodrigo Jos Ochekoski Mossanek . Bibliografia: p. 56-61.

1. Molibdnio. 2. Dixido de Molibdnio Estrutura eletrnica. I. Universidade Federal do Paran. II.Mossanek, Rodrigo Jos Ochekoski. III. Ttulo.

CDD: 546.534

iii

AGRADECIMENTOS

Ao professor Rodrigo Mossanek, pela orientao e pelo tempo e pacincia dedicados

desde a iniciao cientfica.

minha famlia, pelo apoio e confiana.

minha amiga Giseli, por todas as horas de estudo e por aguentar meus surtos em

todos os anos de amizade.

Ao meu colega de grupo Eduardo, pela ajuda com o WIEN2k.

Letcia e Maiara, que tambm compartilharam comigo muitas horas resolvendo

listas de exerccios desde a graduao.

Aos professores Kleber D. Machado, Ismael L. Graff, Mrcio H. F. Bettega e Abner

de Siervo pelas participaes nas bancas de pr-defesa e defesa, assim como pelas crticas e

modificaes sugeridas para este trabalho.

Aos demais colegas que contriburam de alguma forma para a concluso deste

trabalho: Ana Carolina, Fernanda, Jeniffer, Jonas, Nicholas e Rafael.

Ao CNPq, pela bolsa de estudos.

http://fisica.ufpr.br/graff/

iv

SUMRIO

LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................... VI

LISTA DE TABELAS ......................................................................................................... X

RESUMO ............................................................................................................................. XI

ABSTRACT ....................................................................................................................... XII

1 - INTRODUO .............................................................................................................. 01

1.1 ESTRUTURA ELETRNICA ................................................................................... 01

1.2 - XIDOS DE METAIS DE TRANSIO .................................................................. 03

1.3 SRIE 4 DOS XIDOS DE METAIS DE TRANSIO ....................................... 07

1.4 OBJETIVOS ................................................................................................................ 08

2 - DIXIDO DE MOLIBDNIO ................................................................................... 10

2.1 - PROPRIEDADES FSICAS ......................................................................................... 10

2.2 - ESPECTROSCOPIA E ESTRUTURA ELETRNICA .............................................. 13

3 - TCNICAS EXPERIMENTAIS .................................................................................. 17

3.1 - PES ................................................................................................................................ 17

3.2 - RPES ............................................................................................................................. 21

4 - MODELO DE CLUSTER ............................................................................................. 23

4.1 - MTODO DE INTERAO DE CONFIGURAES .............................................. 26

4.2 - FLUTUAES DE CARGA NO-LOCAIS .............................................................. 29

5 - RESULTADOS ............................................................................................................... 33

5.1 - PARMETROS E ESTADO FUNDAMENTAL ........................................................ 34

5.2 - PESO ESPECTRAL...................................................................................................... 36

5.3 - NVEL INTERNO ........................................................................................................ 40

5.4 - BANDA DE VALNCIA ............................................................................................. 44

5.5 - MONOCRISTAL .......................................................................................................... 46

5.6 - ABSORO DE RAIOS-X ......................................................................................... 48

5.7 - FOTOEMISSO RESSONANTE ................................................................................ 50

6 - CONCLUSES .............................................................................................................. 54

v

REFERNCIAS .................................................................................................................. 56

APNDICE A EXPANSES DAS BASES .................................................................... 62

A1 - ESTADO FUNDAMENTAL ........................................................................................ 62

A2 - ESTADOS DE REMOO E ADIO...................................................................... 65

APNDICE B PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ............................................... 67

B1 - PREPARAO DAS AMOSTRAS ............................................................................. 67

B2 - MEDIDAS ..................................................................................................................... 68

APNDICE C CLCULO DE ESTRUTURA DE BANDAS ...................................... 69

vi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1: Densidades de estados para os sistemas metlico (ltima banda ocupada

parcialmente preenchida), semicondutor e isolante (gaps separam as bandas de conduo

(vazia) e valncia (totalmente preenchida)). A linha pontilhada representa o nvel de Fermi

() ........................................................................................................................................... 02

Figura 1.2: A regio destacada na tabela peridica apresenta as trs sries de metais de

transio: 3 ( ), 4 ( ) e 5 ( ). A figura tambm mostra o

elemento o, cuja configurao eletrnica []5145 ...................................................... 03

Figura 1.3: Diagrama Zaanen-Sawatzky-Allen em funo de e (em unidades da

hibridizao ) apresentando os diferentes regimes possveis para os compostos OMT.

Retirado de J. Zaanen et al., 1985 ............................................................................................ 04

Figura 1.4: Densidade de estados e flutuaes de carga de mais baixa energia para os regimes:

Mott-Hubbard ( > , transies ), Charge Transfer ( < , ) e Negative Charge

Transfer ( negativo, ). As linhas pontilhadas representam o nvel de Fermi em cada

caso ........................................................................................................................................... 06

Figura 1.5: Relao entre extenso espacial, overlap e correlao eletrnica nas sries dos

OMT. As setas indicam o sentido de aumento de cada caracterstica ...................................... 07

Figura 2.1: a) Estrutura cristalina monoclnica do 2. b) Estrutura do rutilo. Cada octaedro

de oxignios (em azul) possui um on de (em vermelho) em seu centro. Os octaedros

ligam-se pelas bordas atravs do eixo do cristal. As linhas em preto destacam clulas

unitrias para cada estrutura (o Apndice C apresenta detalhes a respeito da construo das

figuras) ...................................................................................................................................... 10

Figura 2.2: Variao da resistividade especfica (retirado de L. Bem-Dor e Y. Shimony, 1974)

com a temperatura para o 2 sem (representado pelos quadrados pretos no grfico) e com

dopagem de ....................................................................................................................... 11

Figura 2.3: Separaes dos nveis do metal ( esquerda) devido ao campo octadrico dos

oxignios na simetria (no centro) e devido distoro da estrutura cristalina (2,

direita) do 2. Aps a separao dos cinco nveis degenerados nas simetrias 2 e

(triplamente e duplamente degenerados, respectivamente), a interao com um octaedro

vizinho implica numa distoro da estrutura, causando assim a dimerizao, o overlap direto

vii

das funes de onda dos ons 4+ vizinhos (dez nveis direita). Os crculos em vermelho e

azul representam os ons e , respectivamente. Os asteriscos indicam os orbitais

antiligantes, que esto desocupados, acima de (ligao ) e parte do 2 (ligao )

ver captulo 4. ........................................................................................................................... 14

Figura 2.4: Densidades de estados parciais dos orbitais 4 2 (grfico superior) e

(grfico inferior) do 2. A banda 22 sofre uma forte separao ligante-antiligante

devido ao emparelhamento 4+ 4+ ao longo do eixo monoclnico. Retirado de V.

Eyert et al., 2000 ...................................................................................................................... 15

Figura 2.5: Espectro de fotoemisso ARUPS (Angle-Resolved Ultraviolet Photoemission

Spectroscopy) para energia de He II (40.85 ). Retirado de R. Tokarz-Sobieraj et al., 2011

.................................................................................................................................................. 16

Figura 3.1: Processos de fotoemisso de nvel interno e de banda de valncia ....................... 18

Figura 3.2: Absoro, fluorescncia e decaimento Auger ........................................................ 21

Figura 4.1: Orbitais moleculares formados pela interao 2 4 na simetria .

Apenas os orbitais das simetrias 2 e possuem contribuies simultneas de e MT .... 23

Figura 4.2: Diagrama da interao entre os orbitais atmicos que geram os orbitais

moleculares nas simetrias 2 (, e ) e (2 e 22) ....................................... 24

Figura 4.3: Efeito do campo cristalino octadrico nos nveis do MT ................................... 25

Figura 4.4: Flutuaes de carga local ( 2 4) e no-locais ( e 4 -

banda coerente) consideradas no modelo de cluster para o 2. Os ons de molibdnio, de

oxignio e os eltrons do meio efetivo so representados pelas cores vermelho, azul e verde,

respectivamente ........................................................................................................................ 30

Figura 4.5: As flutuaes de carga do meio efetivo ocorrem nos orbitais que atravessam o

nvel de Fermi. O orbital relacionado a dimerizao recebe os eltrons vindos do on metlico

do cluster vizinho. As linhas representam os cinco orbitais e as duas colunas indicam a

possibilidade de preenchimento com eltrons com spins up ou down. Os X em preto, azul,

vermelho e verde representam, respectivamente, o preenchimento inicial do estado

fundamental e eltrons vindos do oxignio, do on 4+ do cluster vizinho e do meio efetivo

.................................................................................................................................................. 31

viii

Figura 5.1: Comparao entre o espectro total, calculado via modelo de cluster (painel

superior), e a densidade de estados/, obtida atravs de clculos de estrutura de bandas

(painel inferior) ......................................................................................................................... 37

Figura 5.2: Principais contribuies para cada estrutura da regio prxima ao nvel de Fermi

da Figura 5.1, calculadas via modelo de cluster (painel superior). As flutuaes de mais baixa

energia so do tipo metlicas. A curva em preto representa a soma de todas as contribuies

( 4 total). As contribuies parciais dos orbitais obtidas atravs de clculos de estrutura

de bandas so apresentadas no painel inferior .......................................................................... 38

Figura 5.3: Comparao entre o espectro de XPS do nvel interno 3 (painel superior) e o

calculado atravs do modelo de cluster (painel inferior). As contribuies 31/2 e

33/2 so separadas pelo efeito spin-rbita. O inset mostra a fotoemisso do nvel 1 40

Figura 5.4: Variao da intensidade o satlite do Nvel Interno. A regio azul da curva

representa o regime Mott-Hubbard e a parte mais elevada do grfico (vermelho) ilustra o

regime Charge Transfer. O plano na imagem representa a regio = , uma regio de

transio entre os dois regimes. A barra de cores indica a intensidade de cada regio ............ 43

Figura 5.5: Diagrama apresentando os nveis de energia iniciais e suas configuraes para o

estado fundamental e o nvel interno do 2 ........................................................................ 43

Figura 5.6: Comparao entre o espectro de XPS de banda de valncia (painel superior) e os

estados de remoo (ocupados) calculados via modelo de cluster (painel inferior) para o

2 policristalino .................................................................................................................. 44

Figura 5.7: Painel superior: estados de remoo calculados via modelo de cluster comparados

aos espectros experimentais do monocristal e do policristal do 2. Painel inferior:

estrutura mais prxima ao nvel de Fermi no painel superior, indicada pelo retngulo verde,

comparada com a mesma regio no espectro do monocristal. O espectro experimental do

monocristal (He II = 40,85 ) foi retirado de R. Tokarz-Sobieraj et al., 2011 ...................... 46

Figura 5.8: Comparao entre o espectro de absoro de raios-X (painel superior) e o estado

de adio calculado (estados desocupados) via modelo de cluster (painel inferior) para o

2 ........................................................................................................................................ 48

Figura 5.9: Espectro de Fotoemisso Ressonante do 2 na borda 3 (painel superior).

A diferena entre os espectros na regio da ressonncia (on) e fora dela (off) comparada

ao espectro de remoo de 4 calculado via modelo de cluster (painel inferior). O inset

ix

mostra o espectro de absoro na mesma borda e as setas indicam as energias utilizadas para

medir os espectros .................................................................................................................... 50

Figura 5.10: Contribuies de cada processo para os estados de remoo do 2. As duas

curvas de Interferncia esto sobrepostas e so iguais, pois suas expresses so os complexos

conjugados uma da outra. Os processos direto e indireto so descritos no texto. .................... 52

Figura A1.1: Expanso da base do estado fundamental at a configurao 3. Os X em

preto e azul representam, respectivamente, a ocupao inicial e as flutuaes intra-cluster

(oxignio) ................................................................................................................................. 61

Figura A1.2: Expanso da base do estado fundamental incluindo as flutuaes de carga no-

locais a partir das configuraes 1 e 2 da Figura A1.1. Os X em preto, azul, vermelho e

verde representam, respectivamente, a ocupao inicial e as flutuaes intra-cluster

(oxignio), do meio efetivo e do on de molibdnio vizinho.................................................... 62

Figura A1.3: Elementos de matriz do hamiltoniano correspondente equao (A1.1) ........... 63

Figura A2.1: Expanses das bases dos estados de remoo at a configurao 2 ............... 64

Figura A2.2: Preenchimento inicial para as expanses das bases dos oito possveis estados de

adio ........................................................................................................................................ 65

x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1: Principais caractersticas de trs importantes regimes de transferncia de carga:

Mott-Hubbard (M-H), Charge Transfer (CT) e Negative Charge Transfer (NCT) ................. 05

Tabela 5.1: Valores dos parmetros utilizados nos clculos com o modelo de cluster para o

2 ....................................................................................................................................... 34

Tabela 5.2: Principais contribuies para o estado fundamental do 2 .............................. 35

Tabela 5.3: Principais contribuies para o pico principal do nvel interno 3 do 2,

localizado em ~ 396 na Figura 5.3 ..................................................................................... 41

Tabela C.1: Parmetros utilizados para reproduzir a estrutura monoclnica do 2 da Figura

2.1(a) ......................................................................................................................................... 68

Tabela C.2: Parmetros utilizados para reproduzir a estrutura rutilo do 2 da Figura 2.1(b)

.................................................................................................................................................. 69

xi

RESUMO

A estrutura eletrnica do 2 foi estudada atravs de um modelo de cluster estendido que foi utilizado para reproduzir e interpretar estruturas de espectros experimentais

- fotoemisso de nvel interno e de banda de valncia (XPS), fotoabsoro de raios-X (XAS) e

fotoemisso ressonante (RPES) - com um mesmo conjunto de parmetros. Um clculo de

estrutura de bandas (Density Functional Theory - DFT) presente na literatura foi reproduzido

a fim de comparar qualitativamente seu resultado para densidade de estados do composto com

o peso espectral gerado pelo modelo de cluster. Os resultados confirmam que o composto se

encontra em um regime de transferncia de carga do tipo Mott-Hubbard (M-H) altamente

hibridizado. O forte carter covalente da ligao 4 2 confirmado pelos clculos da fotoemisso ressonante cujas posies das estruturas 4 esto em bom acordo com as estruturas de mesmo carter do peso espectral total. energeticamente mais vantajoso para o

sistema manter o buraco de nvel interno do que blind-lo transferindo eltrons atravs dos

canais de blindagem local (eltrons vindos da banda 2) e no-locais (blindagem de Hubbard e Coerente). Como esperado para um condutor, as flutuaes de carga de menor

energia so do tipo metlicas, os picos prximos ao nvel de Fermi () na banda de valncia possuem blindagem coerente (eltrons vindos do meio efetivo). A formao de dmeros ao

longo do eixo do cristal separa o estado 422 (banda ||) em ligante e antiligante,

mantendo 4 e 4 (bandas ) parcialmente preenchidos na regio de , entre

os picos ||, facilitando a conduo eletrnica. Os resultados para a banda de valncia

mostram ainda que a blindagem local dos oxignios domina os estados que aparecem a

energias mais altas (distantes de ), o que est de acordo com o alto valor da energia de transferncia de carga no regime M-H. A banda de conduo composta por duas estruturas (2 e ) que so separadas por efeitos de campo cristalino que ditam o comportamento deste espectro e justificam o alto valor do parmetro relacionado ao efeito do

campo octadrico para este composto.

Palavras-chave: 2, estrutura eletrnica, modelo de cluster, blindagem no-local, dimerizao, estrutura de bandas.

xii

ABSTRACT

The electronic structure of 2 was studied via extended cluster model calculations. The model was used to reproduce and interpret experimental spectra structures

(core level, valence band and resonant protoemission and X-ray absorption) using a single set

of parameters. A band structure calculation (Density Functional Theory - DFT) was

reproduced from literature in order to qualitatively compare its density of states with the total

spectral weight from cluster model. The results confirm that the compound is in a highly

hybridized Mott-Hubbard (M-H) regime. The strong covalent character of the 4 2 bond is confirmed by the resonant photoemission calculations where the 4 structures positions are in good agreement with the ones in the total spectral weight. Its energetically

more advantageous for the system to keep the core hole without screening it than to transfer

electrons using the local (electrons coming from 2 band) and non-local (Coherent and Hubbard screening) channels. As expected for a conductor, the lowest energy charge

fluctuations are of metallic type, the peaks next to Fermi level () in the valence band have coherent screening (electrons coming from effective media). The 422 states (||

band) are splitted into bonding and antibonding because of the dimer formation along -axis, while 4 and 4 states (

bands) remain partially filled between || peaks,

making easily the conduction through . The valence band results show also the predominance of oxygen local screening for high energy structures (far from ), which agrees with the big value of the charge transfer energy for M-H regime. The conduction band is composed by two structures (2 and ) that are splitted by crystal field effects which dictate the behavior of this spectrum and justifies the big value of the parameter related

to the octahedral field effect for this compound.

Keywords: 2, electronic structure, cluster model, non-local screening, dimerization, band structure.

xiii

1

1 - INTRODUO

1.1 ESTRUTURA ELETRNICA

Os estudos sobre a estrutura eletrnica de materiais tiveram incio em 1900 quando

Drude apresentou a teoria clssica da condutividade metlica. Assumindo que existiam

portadores de carga movendo-se entre os ons (imveis, com cargas positivas), com uma dada

velocidade, e que colidiam um com o outro da mesma forma que ocorria com as molculas de

um gs, Drude utilizou a teoria cintica dos gases, aplicando-a a estes eltrons (P. Drude,

1900). Mais tarde, em 1928, Sommerfeld (A. Sommerfeld, 1928; A. Sommerfeld e H. Bethe,

1967) aplicou um tratamento quntico ao gs de eltrons livres, cujo conceito, originalmente

proposto por Drude e Lorentz (que, em 1905, aplicou a estatstica de Maxwell-Boltzmann

para descrever as velocidades dos eltrons), foi mantido. Sommerfeld utilizou, ento, a

mecnica quntica acoplada a estatstica de Fermi-Dirac. O modelo de eltron livre de

Sommerfeld conseguia remover a dificuldade associada com o calor especfico eletrnico

derivado da lei de equipartio, porm, faz previses quantitativas inadequadas sobre

magnetorresistncia, coeficientes de transporte, entre outros - que so refutadas pela

observao. Neste mesmo ano, Bloch (F. Bloch, 1928) mostrou que a funo de onda de um

eltron de conduo no potencial peridico podia ser descrita na forma de uma onda plana

modulada por uma funo peridica (com o perodo da rede), no importando quo forte o

potencial inico fosse. Baseado no teorema de Bloch, Wilson (A. H. Wilson, 1931)

desenvolveu uma teoria de bandas para slidos, que abrange metais (banda parcialmente

preenchida), semicondutores e isolantes (gap de energia entre a ltima banda completamente

preenchida e as bandas vazias) (Figura 1.1). A estrutura principal da teoria eletrnica dos

metais tem sido aperfeioada desde a metade da dcada de 1930 tanto para aplic-los em

tecnologia quanto para entend-los pelo ponto de vista fundamental.

A Teoria do Funcional da Densidade (DFT) um dos mtodos mais usados no

estudo da estrutura eletrnica de slidos devido a sua capacidade de calcular com exatido a

energia cintica dos eltrons, o potencial dos caroos atmicos e o potencial de repulso

eletrnica (R. O. Jones e O. Gunnarsson, 1989). Porm, para que seja aplicada de forma

prtica, a DFT necessita de algumas aproximaes no potencial de troca e correlao cuja

preciso inversamente proporcional ao grau de correlao do sistema estudado. O clculo do

2

potencial de troca e correlao difcil porque corresponde a contribuies no-locais de

correlao eletrnica. Para sistemas fortemente correlacionados, podem ser utilizados os

Hamiltonianos modelo (P. Anderson, 1961; J. Hubbard, 1963) que, com a incluso de

parmetros*, descrevem corretamente a estrutura eletrnica dos materiais, incluindo efeitos

como a correlao eletrnica e os multipletos atmicos. Estes avanos na teoria possibilitaram

a compreenso de fenmenos como os isolantes de Mott, as transies metal-isolante (N. F.

Mott, 1990), a supercondutividade de alta temperatura (J. G. Bednorz e K. A. Mller, 1986) e

a magnetorresistncia colossal (G. Jonker e J. van Santen, 1950; S. Jin et al., 1994). Um dos

tipos de slidos que mais tem chamado ateno nos ltimos anos por apresentarem uma

grande quantidade de propriedades interessantes (estruturais, eltricas, pticas e magnticas,

etc.) so os xidos de metais de transio que sero discutidos na prxima seo.

Figura 1.1: Densidades de estados para os sistemas metlico (ltima banda ocupada parcialmente

preenchida), semicondutor e isolante (gaps separam as bandas de conduo (vazia) e valncia

(totalmente preenchida)). A linha pontilhada representa o nvel de Fermi ().

* Como a energia de transferncia de carga 2, a repulso Coulombiana , a hibridizao entre orbitais e 2, a troca intra-atmica para pares de spins paralelos, o parmetro do campo cristalino 10, etc. Descreve o topo dos nveis de energia ocupados, em = 0 (zero absoluto).

3

1.2 - XIDOS DE METAIS DE TRANSIO

Os metais de transio so elementos que possuem uma camada incompleta e esto

localizados na regio central da tabela peridica, em trs sries: 3 ( ), 4 ( ) e

5 ( ), como mostra a Figura 1.2.

Figura 1.2: A regio destacada na tabela peridica apresenta as trs sries de metais de transio:

3 ( ), 4 ( ) e 5 ( ). A figura tambm mostra o elemento o, cuja

configurao eletrnica []5145.

A densidade e a distribuio espacial dos orbitais so um caso intermedirio entre

os orbitais do tipo e os do tipo e : no so to delocalizados quanto e e nem to

localizados quanto os orbitais do tipo . Essa caracterstica intermediria responsvel pela

grande variedade de propriedades fsicas (estruturais, eltricas, magnticas, pticas, etc.)

apresentadas por compostos de metais de transio e tambm faz com que os efeitos de

correlao eletrnica nesses compostos sejam responsveis tanto pelo carter itinerante

quanto localizado dos eltrons. Isto torna difcil, at o momento, uma descrio terica

precisa para estes compostos. Os xidos de metais de transio (OMT) podem ser isolantes

(3) (L. F. Mattheiss, 1972), semicondutores (2, abaixo de 68C) (F. J. Morin, 1959)

ou metais (3) (L. F. Mattheis, 1969). Com relao ao ordenamento magntico, os OMTs

4

podem apresentar paramagnetismo (3) (A. Fukushima et al., 1994), ferromagnetismo

(3) (A. E. Bocquet et al., 1992) e antiferromagnetismo () (F. J. Morin, 1954) e, em

alguns casos, podem ainda exibir supercondutividade de alta temperatura (24) (J.

G. Bednorz e K. A. Mller, 1986) e magnetorresistncia colossal (13) (S. Jin et

al., 1994). A transio de fase metal-isolante (M. Imada, A. Fujimori e Y. Tokura, 1998)

tambm pode estar presente em alguns compostos e sua induo pode ocorrer por presso

(23) (D. B. McWhan et al., 1969; 1973), temperatura (2) (F. J. Morin, 1959),

composio qumica (13) (H. F. Pen et al., 1999), dimensionalidade (3

24) (Y. Maeno et al., 1994), entre outros. Como o grau de covalncia no caso dos

OMTs , em geral, grande, as contribuies dos orbitais do oxignio podem se tornar

importantes e podem interferir na estrutura eletrnica dos compostos.

Figura 1.3: Diagrama Zaanen-Sawatzky-Allen (ZSA) em funo de e (em unidades da

hibridizao *) apresentando os diferentes regimes possveis para os compostos OMT. Retirado de J.

Zaanen et al., 1985.

possvel classificar os regimes em que os xidos se encontram atravs da relao

entre os parmetros (repulso Coulombiana nos orbitais ) e (energia de transferncia de

* Definida por uma integral de transferncia de carga entre orbitais e (ver seo 4.1). Custo energtico para transferir um eltron da banda 2 para a banda .

5

carga 2 MT ) (ver Seo 4.1). O diagrama ZSA da Figura 1.3 (retirado de J. Zaanen et

al., 1985) apresenta os regimes obtidos em funo da variao desses parmetros. A Tabela

1.1 apresenta um resumo das principais caractersticas de trs importantes regimes contidos

no diagrama ZSA: Mott-Hubbard (M-H), Charge Transfer (CT) e Negative Charge Transfer

(NCT).

Tabela 1.1: Principais caractersticas de trs importantes regimes de transferncia de carga: Mott-

Hubbard (M-H), Charge Transfer (CT) e Negative Charge Transfer (NCT).

Regio A

(MH)

Regio B

(CT)

Regies D+CD

(NCT)

Valor de > < < 0

Depende da hibridizao

entre e

Eltrons Pesados* ()

Buracos Leves ()

Flutuaes de carga

de mais baixa energia

Para facilitar a compreenso, alm de estarem descritas na Tabela 1.1, as flutuaes

de carga de menor energia para cada um dos trs regimes citados (e seus respectivos

parmetros associados) esto tambm ilustradas na Figura 1.4 que apresenta as densidades de

estados em funo da energia para esses trs regimes.

* A massa efetiva () de um eltron em uma banda depende de (2 2 )1. As bandas possuem baixa disperso de () e por essa razo so chamadas pesadas. As bandas possuem alta disperso de (): so leves.

6

Figura 1.4: Densidade de estados e flutuaes de carga de mais baixa energia para os regimes: Mott-

Hubbard ( > , transies ), Charge Transfer ( < , ) e Negative Charge Transfer (

negativo, ). As linhas pontilhadas representam o nvel de Fermi em cada caso.

7

1.3 SRIE 4 DOS XIDOS DE METAIS DE TRANSIO

A extenso espacial dos orbitais inversamente proporcional correlao eletrnica

efetiva no interior dos mesmos (Figura 1.5). O grau de overlap (sobreposio) com os orbitais

do oxignio, na formao dos OMTs, respeita a ordem crescente da extenso espacial j que

proporcional a esta.

Figura 1.5: Relao entre extenso espacial, overlap e correlao eletrnica nas sries dos OMT. As

setas indicam o sentido de aumento de cada caracterstica.

Como citado na seo 1.2, a srie 4 compreende os elementos entre o zircnio e a

prata ( ). O molibdnio (destacado na Figura 1.2) possui valncias entre 2 + e 6 +

(P. Villar e K. Cenzual, 2007). O 2 (condutor) um dos membros mais simples da

famlia dos molibdatos juntamente com o 3 (isolante) (D. B. Rogers et al., 1969; L. Ben-

Dor e Y. Shimony, 1974; J. Mercier et al., 1982; D. O. Scanlon et al., 2010).

Alguns estudos recentes com relao a condutividade em compostos 4 tais

como 0,9617 e 2 ( = 5%, indica deficincia de oxignio) mostraram que

estes compostos apresentam supercondutividade abaixo de 1,9 (C. A. M. dos Santos et al.,

2007; 2008) e em torno de 6,5 (L. M. S. Alves et al., 2010), respectivamente. O trabalho a

respeito do composto dopado com potssio (2) descrito com maiores detalhes na

seo 2.1.

8

1.4 OBJETIVOS

Esta dissertao tem como objetivo estudar a estrutura eletrnica do Dixido de

Molibdnio (2) na regio prxima ao nvel de Fermi e mostrar quais ingredientes

mnimos devem ser includos nos clculos para obter-se uma descrio correta dessa estrutura.

Para isso, utilizamos um modelo de cluster estendido onde consideramos tambm flutuaes

de carga no-locais (interaes inter-clusters e com um meio efetivo). Os resultados dos

clculos foram comparados a espectros experimentais de fotoemisso (banda de valncia,

nvel interno e ressonante) e fotoabsoro de raios-X. Um clculo de estrutura de bandas

(DFT) foi reproduzido utilizando dados da literatura (V. Eyert et al., 2000) para comparao

com alguns resultados do modelo. Os estudos experimentais publicados at o momento no

apenas possuem baixa resoluo como tambm, em geral, foram publicados h um tempo

bastante razovel (com outra escala de energia de fton). Suas interpretaes dos espectros

experimentais no so capazes de descrever alguns aspectos importantes da estrutura do

2.

Este trabalho est dividido da seguinte forma: o Captulo 2 apresenta a estrutura

cristalina do composto, suas propriedades fsicas e faz uma breve reviso bibliogrfica sobre

estudos experimentais e tericos anteriores a respeito do 2. No Captulo 3, h uma

descrio dos processos fsicos envolvidos nas tcnicas experimentais utilizadas neste

trabalho (Fotoemisso, Fotoemisso Ressonante e Absoro de raios-X). O Captulo 4 trata do

modelo terico utilizado, assim como as modificaes inseridas para descrever detalhes da

estrutura eletrnica do 2 (como as flutuaes de carga no-locais). Tambm neste

captulo apresentamos o mtodo utilizado para resolver o cluster (mtodo de interao de

configuraes) e alguns detalhes a respeito do desenvolvimento do programa utilizado nos

clculos. No Captulo 5 so apresentadas comparaes entre os resultados experimentais e

tericos obtidos a respeito do peso espectral, nvel interno, banda de valncia, banda de

conduo e fotoemisso ressonante do composto. Tambm discutida a composio do

estado fundamental do sistema. As concluses obtidas neste trabalho so apresentadas no

Captulo 6. H tambm trs apndices. O primeiro (A) fornece detalhes sobre a expanso das

bases utilizadas tanto para o estado fundamental quanto para todos os possveis estados

excitados do sistema. O segundo (B) apresenta informaes a respeito da preparao das

amostras e das medidas experimentais realizadas. Por fim, no apndice C podem ser

9

encontrados os parmetros de rede a partir dos quais foi construda a estrutura monoclnica

utilizada no clculo de estrutura de bandas, assim como maiores informaes a respeito deste

clculo.

10

2 - DIXIDO DE MOLIBDNIO

2.1 - PROPRIEDADES FSICAS

O 2 cristaliza em uma estrutura do tipo rutilo distorcido (monoclnica). Na

Figura 2.1 possvel ver a relao entre a estrutura do rutilo e a monoclnica. Os octaedros de

oxignio (2, []2226) esto ligados pelas bordas atravs do eixo monoclnico e

possuem, cada um, um on de molibdnio (4+, []42) em seu centro. As linhas em

preto destacam clulas unitrias para cada estrutura e podemos notar que a clula monoclnica

distorcida (Figura 2.1(a)) possui o dobro do volume da clula tetragonal (Figura 2.1(b)). As

clulas monoclnica e tetragonal esto deslocadas por /2 e a estrutura monoclnica foi

utilizada nos clculos porque possui a distoro cristalogrfica presente no composto. Os

detalhes a respeito da construo das figuras esto presentes no Apndice C.

Figura 2.1: a) Estrutura cristalina monoclnica do 2. b) Estrutura do rutilo. Cada octaedro de

oxignios (em azul) possui um on de (em vermelho) em seu centro. Os octaedros ligam-se pelas

bordas atravs do eixo do cristal. As linhas em preto destacam clulas unitrias para cada estrutura

(o Apndice C apresenta detalhes a respeito da construo das figuras).

Diferentemente do que ocorre em outros compostos de metais de transio, o 2

no apresenta transies de fase estruturais e nem metal-isolante (D. B. Rogers et al., 1969).

11

A anlise da resistividade em funo da temperatura, (), mostra que o composto um

condutor metlico, uma vez que temperatura ambiente sua resistividade especfica (Figura

2.2) est entre ~1,0 104 e ~3,0 104. (D. B. Rogers et al., 1969; L. Bem-Dor e Y.

Shimony, 1974). Os valores encontrados experimentalmente para a susceptibilidade

magntica do 2 o classificam como fracamente paramagntico: < 100

106. . .* (L. Bem-Dor e Y. Shimony, 1974). O 2 possui uma condutividade

anisotrpica devido sua estrutura assimtrica com ligaes (dimerizao) ao

longo do eixo do cristal (B. G. Brandt e A. C. Skapski, 1967; V. Eyert et al., 2000).

Figura 2.2: Variao da resistividade especfica (retirado de L. Bem-Dor e Y. Shimony, 1974) com a

temperatura para o 2 sem (representado pelos quadrados pretos no grfico) e com dopagem de

.

H outros xidos de molibdnio que possuem ligaes metal-metal em sua estrutura,

facilitando a conduo ao longo de uma direo especfica. O 2 apresenta

supercondutividade em temperaturas crticas () que variam entre 4 e 10 K, dependendo da

composio da amostra (L. M. S. Alves et al., 2010; L. M. S. Alves et al., 2012). Os

* Sistema eletromagntico de unidades.

12

resultados sugerem que a dopagem com potssio no necessria para observao do

comportamento eltrico anmalo que induzido pela presena de ons 3+ na amostra (L.

M. S. Alves et al., 2015). A supercondutividade tambm foi observada ( = 12 K) no 2

com deficincia de oxignios () e sugere-se que esta seja causada por flutuaes na

superfcie de Fermi, embora no tenham sido encontradas evidncias de ferromagnetismo na

amostra (D. Parker et al., 2014). A presena de ons 3+ aumentada pela reduo na

estequiometria dos oxignios, o que induz uma dopagem de eltrons que afeta os estados de

valncia e conduo. H um aumento na intensidade das bandas 4 que pode ser

interpretado como um aumento na contagem de eltrons nestes estados. Portanto, h uma

correlao direta entre a dopagem anisotrpica de eltrons na amostra e os comportamentos

anmalos observados no e no 2.

13

2.2 - ESPECTROSCOPIA E ESTRUTURA ELETRNICA

A estrutura eletrnica do 2 foi investigada teoricamente durante as ltimas

dcadas atravs de modelos de cluster (T. A. Sasaki e K. Kiuchi, 1981; H. Yoshino, K.

Shimikoshi e E. Miyazaki, 1985; T. A. Sasaki, T. Soga e H. Adachi, 1982), esquemas de

orbitais moleculares (D. B. Rogers et al., 1969, J. B. Goodenough, 1971; N. Beatham e A. F.

Orchard, 1979) e clculos de estruturas de bandas (Density Functional Theory - DFT) (V.

Eyert et al., 2000; D. O. Scanlon et al., 2010; R. Tokarz-Sobieraj et al., 2011). A

condutividade metlica do composto surge do overlap direto das funes de onda que

ocorre devido sua estrutura distorcida. As separaes dos nveis devido ao campo

octadrico dos oxignios na simetria (ver captulo 4) e a distoro na estrutura

(dimerizao, 2) so mostradas na Figura 2.3.

Um clculo de estrutura de bandas (Density Functional Theory - DFT) que mostra a

densidade dos estados 4 indicando o efeito da distoro que ocorre na estrutura

monoclnica do 2 apresentado na Figura 2.4 (retirado de V. Eyert et al., 2000). Os

grficos superior e inferior referem-se aos estados que pertencem, respectivamente, s

simetrias 2 e (que sero discutidas com mais detalhes no captulo 4 que trata do modelo

terico utilizado para descrever a estrutura eletrnica do composto). A banda 22,

chamada de banda ||, sofre uma forte separao (splitting) ligante-antiligante que se deve ao

emparelhamento ao longo do eixo monoclnico dos ons do metal, 4+ 4+. As

bandas e (chamadas de ) permanecem pouco alteradas e localizam-se

principalmente entre os dois picos ||. Estes resultados esto em bom acordo com outros

obtidos anteriormente utilizando esquemas de orbitais moleculares (D. B. Rogers et al., 1969;

J. B. Goodenough, 1971) e clculos de cluster e tight-binding (T. A. Sasaki, T. Soga e H.

Adachi, 1982; J. K. Burdett, 1985).

14

Figura 2.3: Separaes dos nveis do metal ( esquerda) devido ao campo octadrico dos oxignios

na simetria (no centro) e devido distoro da estrutura cristalina (2, direita) do 2. Aps a

separao dos cinco nveis degenerados nas simetrias 2 e (triplamente e duplamente

degenerados, respectivamente), a interao com um octaedro vizinho implica numa distoro da

estrutura, causando assim a dimerizao, o overlap direto das funes de onda dos ons 4+ vizinhos

(dez nveis direita). Os crculos em vermelho e azul representam os ons e , respectivamente.

Os asteriscos indicam os orbitais antiligantes, que esto desocupados, acima de (ligao ) e

parte do 2 (ligao ) ver captulo 4.

Experimentos de espectroscopia de fotoemisso de banda de valncia (UPS -

Ultraviolet Photoemission Spectroscopy) e nvel interno (XPS - X-ray Photoemission

Spectroscopy) e de absoro (XAS - X-ray Absorption Spectroscopy) tambm foram

realizados para este composto. Os nveis 4 desocupados, com mais baixa energia, esto

aproximadamente 2,5 acima das bandas 2, segundo medidas de refletividade tica (L.

L. Chase, 1974; M. A. K. L. Dissanayake e L. L. Chase, 1978). J os estados desocupados

2, medidos por XAS, separam-se em trs picos acima do nvel de Fermi (V. Eyert et al.,

2000). Com relao aos estados ocupados, experimentos de UPS e XPS mostram que a banda

ocupada tem cerca de 9,0 de largura sendo ~ 2,0 para as bandas 4 que se separam

em dois picos posicionados em ~ 1,5 e ~ 0,5 abaixo de (N. Beatham e A. F.

Orchard, 1979; F. Werfel e E. Minni, 1983). A Figura 2.5 apresenta o espectro de fotoemisso

15

de banda de valncia (que acessa os estados ocupados da amostra) do monocristal de 2

para a energia de He II (40,85 ), retirado de R. Tokarz-Sobieraj et al., 2011. A banda

localizada entre ~ 9,0 e ~ 2,0 possui carter 2. A estrutura com dois picos

localizada logo abaixo de , entre ~ 2,0 e 0,0 , composta pelos estados do metal

4 (N. Beatham e A. F. Orchard, 1979; F. Werfel e E. Minni, 1983). A intensidade do

espectro na regio de diferente de zero, como esperado para um condutor.

Figura 2.4: Densidades de estados parciais dos orbitais 4 2 (grfico superior) e (grfico

inferior) do 2. A banda 22 sofre uma forte separao ligante-antiligante devido ao

emparelhamento 4+ 4+ ao longo do eixo monoclnico. Retirado de V. Eyert et al., 2000.

16

Diferentes aspectos da estrutura eletrnica do 2 so investigados em cada estudo

citado acima. Novamente, queremos demonstrar que h um conjunto mnimo de ingredientes

necessrios para descrever toda a estrutura do composto, de uma forma geral, e no apenas

partes dela.

Figura 2.5: Espectro de fotoemisso ARUPS (Angle-Resolved Ultraviolet Photoemission

Spectroscopy) para energia de He II (40,85 ). Retirado de R. Tokarz-Sobieraj et al., 2011.

https://en.wikipedia.org/wiki/Ultraviolet

17

3 - TCNICAS EXPERIMENTAIS

As tcnicas de espectroscopia so bastante teis para nosso estudo porque acessam

diretamente a estrutura eletrnica dos sistemas. Utilizamos a espectroscopia de fotoemisso

(PES) e fotoemisso ressonante (RPES), que acessam estados ocupados das amostras, e

tambm a espectroscopia de absoro de raios-X (XAS), que mapeiam os estados

desocupados das mesmas. Este captulo descreve, de forma breve, as tcnicas citadas, com o

objetivo de facilitar a compreenso a respeito das comparaes de seus espectros

experimentais com os resultados do modelo de cluster.

3.1 - PES

A Espectroscopia de Fotoemisso (Figura 3.1) uma tcnica baseada no efeito

fotoeltrico onde os eltrons presentes na amostra se desprendem ao absorver ftons que

incidem sobre a mesma. A equao (3.1) descreve o processo de fotoemisso (em que usamos

como exemplo um orbital ) onde um sistema que est num estado inicial (fundamental) com

eltrons absorve um fton e emite um eltron ficando, assim, num estado final com

1 eltrons (Hfner, 2003),

+ 1 + (3.1)

O espectro obtido medindo-se o nmero de eltrons ejetados da amostra em funo

de sua energia cintica e calculando-se, a partir desta, sua energia de ligao (),

= (3.2)

onde a energia dos ftons incidentes, a energia cintica medida dos eltrons e a

soma das funes trabalho da amostra e do analisador.

18

A tcnica recebe nomes diferentes dependendo da energia do fton que se utiliza:

UPS (ultravioleta) ou XPS (raios-X). A fotoemisso pode acessar estados do nvel interno ou

da banda de valncia, desde que haja energia suficiente para desprender tais eltrons da

amostra. A probabilidade de transio entre os estados inicial e final pode ser calculada via

Regra de ouro de Fermi e a intensidade do espectro proporcional esta probabilidade:

||||2( ) (3.3)

onde parte do operador de transio dipolar, | (|) representa o estado inicial (final)

e (), sua respectiva energia.

Figura 3.1: Processos de fotoemisso de nvel interno e de banda de valncia.

Na aproximao de uma partcula (um eltron), a mais simples a ser feita nesse caso,

os estados inicial e final so escritos como produtos de funes. Considerando um sistema

com eltrons, | escrito como um produto entre a funo de onda do orbital do qual o

eltron ser ejetado (|) e a dos -1 eltrons restantes (| ( 1)) (3.4a). O produto

entre a funo de onda (plana) do eltron emitido (|) e |

( 1) descreve | (3.4b).

19

| = | | ( 1) (3.4a)

| = | |

( 1) (3.4b)

O elemento de matriz na equao (3.3) o produto entre o elemento de matriz de um

eltron e uma integral de overlap de 1 eltrons,

|| = ||

( 1)| ( 1) (3.5)

Usando a aproximao de orbitais congelados onde os orbitais restantes do estado

inicial so iguais aos do estado final (|( 1) = |

( 1)), a criao do buraco

durante o processo de fotoemisso no afeta esses orbitais restantes o que torna a integral

igual um. Sob essa hiptese, que no considera a relaxao dos orbitais aps a ionizao, o

experimento de PES mede a energia negativa de Hartree-Fock do orbital , ,

(Teorema de Koopmans - T. Koopmans, 1934).

A hiptese descrita acima no uma boa aproximao na maioria das vezes, pois

aps a emisso do eltron, o sistema tentar minimizar sua energia reajustando os 1

eltrons restantes (relaxao). Para considerar essas possibilidades de relaxao, assumimos

que o estado final ( 1 eltrons) com estados excitados tem energia ( 1). Para

escrever o elemento de matriz de transio devemos somar sobre todos os estados finais

excitados possveis (|( 1) = |

), dessa forma:

|| = || (3.6)

onde =

|

( 1) e seu mdulo ao quadrado a probabilidade de que um eltron

removido do orbital de um estado fundamental com eltrons deixe o sistema no estado

final excitado, . O experimento detecta uma fotocorrente proporcional

20

||||2

,, ||2

( + ( 1) 0() ) (3.7)

onde ||||2 proporcional seo de choque de fotoionizao e 0() a energia do

estado fundamental do sistema de eltrons. A fotoionizao dos vrios orbitais cria linhas

que so acompanhadas por satlites que dependem do nmero de estados criados na

excitao de cada um dos orbitais (Hfner, 2003). O clculo de fotoemisso feito com o

modelo de cluster utiliza uma expresso semelhante a (3.7).

21

3.2 - RPES

A Fotoemisso Ressonante ocorre quando h interferncia de dois canais de

fotoemisso: direto e indireto. Esta tcnica permite identificar em quais regies do espectro h

contribuio do metal, j que tal interferncia ocorre apenas em regies que apresentam

emisso de eltrons . O canal direto de fotoemisso foi descrito na seo 3.1. Quando um

eltron de um nvel interno absorve um fton, h possibilidade de que, ao invs de ser ejetado,

este eltron seja promovido para um estado desocupado da banda de conduo do material.

Nesse caso, aps a absoro, o decaimento do eltron pode ocorrer por fluorescncia

emisso de ftons ou por decaimento Auger (Figura 3.2) emisso de eltrons que

tambm chamado de canal indireto de fotoemisso, pois a energia liberada pelo eltron que

retorna ao nvel interno utilizada por outro eltron para se desprender do material.

Figura 3.2: Absoro, fluorescncia e decaimento Auger.

As equaes (3.8a) e (3.8b) descrevem o processo de absoro e as duas

possibilidades de decaimento, onde representa um buraco em um nvel interno do sistema.

+ +1 + (3.8a)

22

+ +1 1 + (3.8b)

A probabilidade de transio entre os estados inicial e final do processo indireto

semelhante apresentada para o processo direto na equao (3.3) da seo 3.1. Precisamos

incluir o estado intermedirio de absoro, |, na expresso para o canal indireto:

||

|| (3.9)

onde e representam os operadores de transio entre o estado fundamental e o

estado de adio e entre o estado de adio e o estado de remoo (o operador de transio

Auger), respectivamente.

Assim, a expresso para a intensidade do espectro de fotoemisso ressonante

proporcional ,

||||2

||2

( + ( 1) 0() )

onde,

= (

|

( 1) +

||

|| ( 1) ) (3.10)

Dessa forma, a interferncia entre os processos direto e indireto ocorre porque os estados

finais dos processos Auger e PES so os mesmos.

23

4 - MODELO DE CLUSTER

O Modelo de Cluster para o 2 baseado num octaedro (6)8 com um on

central 4+ do metal de transio (MT) rodeado por seis ons do oxignio 2 (simetria

octadrica, ). H seis combinaes lineares possveis de orbitais atmicos na simetria

(1, 1, 1, 2, 2 e )*, porm, apenas duas destas (2 e ) interagem com os

orbitais 4 do metal (Figura 4.1), dando origem a quatro orbitais moleculares nas

simetrias: 2, (ligantes), 2 e

(antiligantes) (J. van Elp et al., 1992).

Figura 4.1: Orbitais moleculares formados pela interao 2 4 na simetria . Apenas os

orbitais das simetrias 2 e possuem contribuies simultneas de e MT.

* Notao de teoria de grupos para as simetrias, onde 1 no degenerado, 1, 1, 2 e 2 so

triplamente degenerados e duplamente degenerado.

24

A Figura 4.2 ilustra um exemplo de como as ligaes ocorrem nessas duas simetrias.

Figura 4.2: Diagrama da interao entre os orbitais atmicos que geram os orbitais moleculares nas

simetrias 2 (, e ) e (2 e 22).

A diferena de energia entre os orbitais das simetrias 2 (decrscimo de 4 ) e

(acrscimo de 6 ) dada pelo parmetro 10 * (Figura 4.3). Essa separao em energia,

tambm chamada de desdobramento de campo cristalino, ocorre devido a simetria do

problema, pois os orbitais que apontam na direo dos (entre os) tomos de oxignio,

formam ligaes do tipo () com os mesmos, na simetria (2).

* e representam integrais da contribuio dos ligantes (oxignios) para o potencial de um eltron. est relacionado aos ons ligantes e , s propriedades dos eltrons do metal de transio (H. P. Martins, 2014).

25

Figura 4.3: Efeito do campo cristalino octadrico nos nveis do MT.

26

4.1 - MTODO DE INTERAO DE CONFIGURAES

Em segunda quantizao, o hamiltoniano que descreve um nico cluster pode ser

escrito como:

= ( 4,2 + 6,), ,, + ( ,),

,, ,,,,

+ [ ( )(,2 ,)] , ,, + (,

, + ,, ), (4.1)

onde ,

(,) cria (destri) um eltron e ,

(,) cria (destri) um eltron num orbital

(que pode ser apenas 2 ou ) com spin . O primeiro e o terceiro termo do hamiltoniano

atribuem energias e aos orbitais e , respectivamente, que dependem de sua simetria.

O segundo termo representa a repulso Coulombiana nos orbitais (os efeitos de

correlao no oxignio no so levados em conta, pois so pequenos quando comparados com

os mesmos efeitos nos orbitais do metal) e a troca interatmica para pares de spins paralelos

(separao entre spins majoritrio e minoritrio). A hibridizao entre os orbitais e

representada por no ltimo termo de (4.1).

O cluster resolvido utilizando o mtodo de interao de configuraes (G. van der

Laan et al., 1981; A. Fujimori e F. Minami, 1984). Este mtodo consiste em expandir a

funo de onda do estado fundamental (Ground State - GS) alm da configurao inica

tornando-a uma combinao linear de diferentes estados de muitas partculas:

| = |2 + |3 + |42 + (4.2)

onde denota um buraco na banda do oxignio. Essa expanso pode continuar at o

preenchimento mximo dos orbitais (10). Os principais parmetros do modelo so:

: energia de repulso Coulombiana;

= + 2: energia de transferncia de carga, necessria para se transferir

um eltron do orbital de 2 para um orbital de 4;

27

so as integrais de transferncia intra-cluster entre e ( para orbitais e

para orbitais 2)

= 3

= 2 (4.3)

2

onde e so as integrais de Slater-Koster que representam o overlap entre dois

orbitais e . (J. C. Slater e G. F. Koster, 1954).

Conhecer apenas o estado fundamental ( eltrons) do sistema no o suficiente,

pois para calcularmos os espectros de fotoemisso e absoro precisamos utilizar informaes

sobre os estados excitados do sistema. H trs possibilidades: estado de Remoo (Removal

State, 1 eltrons), de Adio (Addition State, + 1 eltrons) e de Nvel Interno (Core

State, eltrons). As funes de onda para RS, AS e CS foram expandidas na forma (com

= 2):

| = |1 + |2 + |32 + (4.4)

| = |3 + |4 + |52 + (4.5)

| = |2 + |3 + |42 + (4.6)

onde representa um buraco no nvel interno do sistema. Os parmetros 10 (campo

cristalino), (interao de troca intra-atmica) e = (largura da banda 2 do

oxignio) definem os efeitos de multipleto que separam cada configurao das expanses

mostradas em (4.2), (4.4) - (4.6) em mais estados.

Para calcular o espectro de fotoemisso do nvel interno utiliza-se, adicionalmente,

um potencial de atrao, , entre o buraco de fotoionizao do nvel interno e os eltrons do

nvel 4 do metal (A. E. Bocquet et al., 1996):

=

0.83

28

Diagonalizando os Hamiltonianos de GS, RS, AS e CS obtemos os autovalores e

autovetores de cada um desses estados. O estado de menor energia (verdadeiro estado

fundamental do sistema) dado pelo autovetor associado ao autovalor de menor valor de GS.

Conhecendo o estado fundamental, |, e todos os possveis estados excitados, |.

,

assim como suas energias ( e .

), podemos calcular o peso espectral via regra de ouro

de Fermi dentro da aproximao sbita:

() = |.

|||2

( (.

)) (4.7)

onde o operador do processo experimental que est sendo simulado (Remoo, Adio e

Nvel Interno). Para citar um exemplo, as transies entre GS e Nvel Interno no alteram as

configuraes , portanto, para este caso, igual a matriz identidade e o resultado deste

clculo pode ser comparado com espectros experimentais de fotoemisso de nvel interno do

composto.

29

4.2 - FLUTUAES DE CARGA NO-LOCAIS

H vrias dcadas o modelo de cluster para um nico octaedro utilizado para

reproduzir de forma satisfatria os espectros experimentais de alguns compostos (L. C. Davis,

1982; A. Fujimori, F. Minami e S. Sugano, 1984) e para compreender a origem de fenmenos

como, por exemplo, as transies metal-isolante (R. J. O. Mossanek et al., 2008). Porm, as

flutuaes de carga locais do modelo de cluster simples no so suficientes para explicar a

estrutura eletrnica de sistemas metlicos (A. E. Bocquet et al., 1995). Para o 2,

necessrio incluir dois canais de blindagem no-locais. Alm de incluirmos a interao com

um cluster vizinho (M. A. Van Veenendaal e G. A. Sawatzky, 1993; K. Okada e A. Kotani,

1995) para simular a dimerizao (ver Figura 2.4) entre os ons (tambm chamada de

blindagem de Hubbard), tambm necessrio considerar flutuaes de carga delocalizadas,

com origem em um meio efetivo (M. Taguchi, et al., 2005; R. J. O. Mossanek et al., 2009),

que so responsveis pelo carter metlico do sistema. Esse meio efetivo atua como um banho

de eltrons. A Figura 4.4 apresenta um esquema dos trs tipos de flutuaes de carga

consideradas para o 2, assim como os parmetros relacionados a cada uma delas.

O Hamiltoniano deve ser reescrito com dois termos adicionais:

= + + (4.9)

onde dado por (4.1) e + so definidos por:

= , ,, +

(, , + ,,

), (4.10)

= , ,, +

(, , + ,,

), (4.11)

onde , (,) cria (destri) um eltron no-local com energia em um orbital com spin

e , (,) cria (destri) um eltron no meio efetivo com energia em um orbital com

spin . Os parmetros extras introduzidos pelas flutuaes de carga no-locais so:

30

: integral de transferncia intercluster, entre orbitais de ons 4+ de

clusters vizinhos;

: integral de transferncia efetiva, entre os orbitais do metal e o meio

coerente (efetivo);

= + 2: energia de transferncia de carga efetiva;

= + = : energia de transferncia de carga 4+ 4+.

Figura 4.4: Flutuaes de carga local ( 2 4) e no-locais ( e 4 - banda

coerente) consideradas no modelo de cluster para o 2. Os ons de molibdnio, de oxignio e os

eltrons do meio efetivo so representados pelas cores vermelho, azul e verde, respectivamente.

A forma como os eltrons correspondentes a cada tipo de flutuao so adicionados

aos estados 4 apresentada na Figura 4.5, onde usamos como exemplo o estado 5

que pertence a base do estado fundamental do sistema (, , e representam buracos no

oxignio, 4+ vizinho e banda coerente, respectivamente). Os eltrons provenientes do

meio efetivo so adicionados apenas aos orbitais que atravessam o nvel de Fermi do sistema

(V. Eyert et al., 2000): e , no caso do 2. Como a dimerizao ocorre em 22,

apenas este orbital recebe eltrons provenientes do on de do cluster vizinho. Flutuaes

de carga no-locais para orbitais tem um alto custo de energia e, por esta razo, no so

levadas em conta no clculo.

31

Figura 4.5: As flutuaes de carga do meio efetivo ocorrem nos orbitais que atravessam o nvel de

Fermi. O orbital relacionado a dimerizao recebe os eltrons vindos do on metlico do cluster

vizinho. As linhas representam os cinco orbitais e as duas colunas indicam a possibilidade de

preenchimento com eltrons com spins up ou down. Os X em preto, azul, vermelho e verde

representam, respectivamente, o preenchimento inicial do estado fundamental e eltrons vindos do

oxignio, do on 4+ do cluster vizinho e do meio efetivo.

A funo de onda (4.2) do estado fundamental agora expandida na forma:

| = |2 + 1|

3 + 2|3 + 1|

42 + 2|4 +

+|3 + 1|4 + + |

5 + (4.12)

Para os estados excitados, as funes de onda (4.4), (4.5) e (4.6) se tornam:

| = |1 + 1|

2 + 2|2 + 1|

32 + 2|3 +

+|2 + 1|3 + + |

4 + (4.13)

| = |3 + 1|

4 + 2|4 + 1|

52 + 2|5 +

+|4 + 1|5 + + |

6 + (4.14)

| = |2 + 1|

3 + 2|3 + 1|

42 + 2|4 +

+|3 + 1|4 + + |

5 + (4.15)

As expanses (4.12)-(4.15) podem continuar at 10.

32

O apndice A apresenta mais detalhes sobre as expanses das bases para o estado

fundamental e estados excitados.

O programa utilizado nos clculos foi desenvolvido utilizando o software MATLAB

(MATrix LABoratory). A partir dos arquivos das bases e dos parmetros inseridos, o

programa constri as matrizes dos hamiltonianos para cada estado solicitado (fundamental e

excitados) e os diagonaliza de forma exata gerando assim os autovalores (autoenergias) e

autovetores (autoestados) correspondentes. possvel indicar um corte em energia, acima da

configurao de menor energia, que no altera significativamente o estado fundamental do

sistema e torna os clculos mais rpidos. Foi assim que definimos o tamanho das bases

utilizadas. As ordens das matrizes dos hamiltonianos gerados so 227 (GS e CS), 405 (RS 1),

492 (RS 2), 213 (AS 1, 4, 6 e 8) e 143 (AS 2, 3, 5 e 7) (Apndice A). As intensidades

referentes as transies entre o estado fundamental e os vrios estados finais possveis so

geradas utilizando uma regra de ouro de Fermi (4.7). Para simular a resoluo experimental,

as intensidades so convolucionadas utilizando funes Lorentzianas e Gaussianas. No caso

do peso espectral, por exemplo,

() = | |.||

2 ( (

)) +

+ |

|.||2

( + (

)) (4.16)

onde as matrizes dos operadores de adio (.) e remoo (.) so tambm construdas a

partir das bases e cujos elementos so no nulos apenas quando h possibilidade de

transferncia de eltrons entre o estado excitado em questo e o estado fundamental.

33

5 - RESULTADOS

Os detalhes a respeito da preparao das amostras e das medidas dos espectros

experimentais apresentados neste captulo so descritos no Apndice B.

Mais informaes sobre o clculo de estrutura de bandas (DFT) utilizado na

comparao com o peso espectral na seo 5.2 podem ser encontradas no Apndice C.

Em todos os espectros calculados via modelo de cluster apresentados neste captulo,

a disperso das bandas foi simulada convolucionando-se os estados discretos (barras verticais)

com o auxlio de funes lorentzianas e gaussianas, como citado anteriormente.

Os resultados deste trabalho esto presentes no artigo X-ray spectroscopy and

electronic structure of MoO2 (autores: V. Stoeberl, M. Abbate, L. M. S. Alves, C. A. M. dos

Santos e R. J. O. Mossanek) submetido revista Journal of Alloys and Compounds em 06

de maio de 2016.

.

34

5.1 - PARMETROS E ESTADO FUNDAMENTAL

A Tabela 5.1 mostra os valores dos parmetros utilizados nos clculos com o modelo

de cluster para o 2, sendo estes ajustados utilizando os parmetros do 4+ que serviram

como guia de limites superiores ou inferiores para os do 4+. O 4+ um metal de

transio da srie 3 cujo tomo possui o mesmo nmero de eltrons que o 4+ na banda de

valncia e, por esse motivo, a partir da tendncia para este on podemos estimar , e para

o molibdnio. Os valores estimados desses parmetros para o cromo so: = 6,0, = 3,0 e

= 1,8 . Devido maior extenso espacial dos orbitais 4 em relao aos orbitas 3,

espera-se que o valor da repulso Coulombiana, , seja menor para o molibdnio. O valor da

integral de Slater-Koster ( = 3) ~ 1,8 para o 4+ e ~ 1,7 para o 4+.

No caso do xido de cromo, os octaedros apresentam um maior grau de distoro, porm, a

grande extenso espacial dos orbitais 4 implica numa maior interao , no caso do

2. Esses dois fatos justificam a proximidade dos valores do parmetro.

Tabela 5.1: Valores dos parmetros utilizados nos clculos com o modelo de cluster para o 2.

Parmetro Valor ()

2,0

6,9

3,0

10 3,6

0,37

0,90

2,6

0,43

0,10

35

A relao entre e para este composto sugere um regime de transferncia de carga

do tipo Mott-Hubbard (Seo 1.2) altamente misturado (highly mixed), pois menor que

e tem um valor alto, o que indica alta covalncia 4 2. O valor elevado do

parmetro do campo cristalino, 10 , uma caracterstica da srie 4. A blindagem coerente

tem origem em um estado com grande comprimento de onda (delocalizado) e isto implica em

uma energia de transferncia de carga pequena (indicando o carter metlico do sistema).

Como ~ 2, temos > , que ocorre devido dimerizao entre os ons

4+ de

clusters vizinhos. A distoro cristalogrfica forma pares (dmero) com forte

interao entre os eltrons no interior desse dmero.

As principais contribuies para a composio do estado fundamental so

apresentadas na Tabela 5.2 onde podemos observar que a configurao que mais contribui

2 (33,1%), o que est ligado ao fato do sistema estar no regime Mott-Hubbard ( > ).

Porm, h outras contribuies relevantes: 3 (24,2%), 3 (13,4%) e 4 (9,2%), o

que confirma o regime highly mixed, demonstrando a alta contribuio da dimerizao () e

da covalncia 4 2 (), pois pouco menor que . A pequena contribuio da

configurao 3 (2,0%) se deve ao baixo valor do parmetro quando comparado com .

Tabela 5.2: Principais contribuies para o estado fundamental do 2.

Configurao Contribuio (%)

2 33,1

3 24,2

3

13,4

4

9,2

3 2,0

A ocupao de eltrons nas bandas (calculada atravs de ||, onde o

operador nmero) de 3,0 eltrons, um valor alto que est relacionado ao forte carter

covalente da ligao 4 2, uma vez que o valor nominal esperado para o caso

inico de 2,0 eltrons.

36

5.2 - PESO ESPECTRAL

A Figura 5.1 apresenta uma comparao entre o espectro total calculado via modelo

de cluster e a densidade de estados/ obtida atravs de clculos de estrutura de bandas

(DFT). Os resultados fornecidos por cada mtodo so interpretados de maneiras diferentes,

portanto, o acordo obtido entre os clculos qualitativo. As discrepncias entre os resultados

so atribudas s aproximaes feitas no potencial de troca e correlao e tambm ao fato de

que o clculo de estrutura de bandas fornece resultados referentes ao Estado Fundamental do

sistema enquanto que o peso espectral do modelo de cluster a combinao dos estados de

Remoo e Adio (estados excitados). A interpretao de cada mtodo diferente, porm, o

bom acordo na forma geral dos espectros e nas contribuies parciais para a estrutura

eletrnica usada para justificar parcialmente os resultados do nosso modelo.

Na regio de adio (energias positivas), as posies das bandas 2 () e (

)

em ambos os clculos esto em bom acordo. No clculo de estrutura de bandas, os estados

2 desocupados situam-se entre ~ 0 e 3,0 e os estados , entre 3,0 e ~ 6,5 . Para o

clculo com modelo de cluster, as posies so: entre 0 e ~ 3,5 (2 desocupado) e entre

~ 3,5 e ~ 5,5 (). Na regio de remoo (energias negativas), os picos com carter

4 prximos ao nvel de Fermi () posicionam-se, respectivamente, em ~ 1,6 e

~ 0,4 no clculo de cluster e em ~ 1,4 e ~ 0,4 no clculo utilizando DFT.

Abaixo de aproximadamente 3,0 , a banda 2 domina o espectro em ambos os

clculos.

A separao entre 2 e deve ser da ordem de 10 (~ 3,6 ), j que o efeito

de campo cristalino o responsvel por esta separao. No clculo de cluster, essas bandas

(posicionadas, respectivamente, entre 2,0 e ~ 3,5 e entre 3,5 e ~ 5,5 ) esto separadas

por ~ 3,5 . Esta separao est em bom acordo com o obtido pelo segundo mtodo,

~ 3,6 (bandas localizadas entre 1,5 e ~ 3,0 e entre 3,0 e ~ 6,5 ).

37

Figura 5.1: Comparao entre o espectro total, calculado via modelo de cluster (painel superior), e a

densidade de estados/, obtida atravs de clculos de estrutura de bandas (painel inferior).

As principais contribuies para composio de cada estrutura prxima ao nvel de

Fermi so indicadas na Figura 5.2 (painel superior) que apresenta os estados de remoo e

adio 4 calculados para essa regio. O primeiro pico do estado de remoo (em

~ 0,1 ) e o primeiro pico do estado de adio (em ~ 0,1 ) so formados

principalmente por 2 (blindagem coerente) e por 3 (no-blindado), respectivamente.

Dessa forma, podemos concluir que as flutuaes de carga de mais baixa energia so do tipo

metlicas, 2 2 2 3. A contribuio majoritria de estados 3 na regio de adio

uma caracterstica do regime Mott-Hubbard e o highly mixing indicado pelas

porcentagens dessas contribuies (39% 72%, relativamente baixas). A densidade de

estados parciais dos orbitais 4 tambm so apresentadas na Figura 5.2 (painel inferior).

-12 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6

**

*

Remoo (N-1) Adio (N+1)

*

Total

Mo 4d

O 2p

Estrutura Eletrnica do MoO2

DO

S (

esta

do

s/e

V)

Energia (eV)

-12 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6

Total

Mo 4d

O 2p

Pe

so

Esp

ectr

al

38

Figura 5.2: Principais contribuies para cada estrutura da regio prxima ao nvel de Fermi da Figura

5.1, calculadas via modelo de cluster (painel superior). As flutuaes de mais baixa energia so do tipo

metlicas. A curva em preto representa a soma de todas as contribuies ( 4 total). As

contribuies parciais dos orbitais obtidas atravs de clculos de estrutura de bandas so

apresentadas no painel inferior.

A dimerizao, que ocorre ao longo do eixo da estrutura monoclnica, separa o

estado 22 em ligante a antiligante em aproximadamente 4,4 no clculo de estrutura de

bandas. A estrutura ligante (antiligante) est ocupada (desocupada), posicionada em

~ 1,4 (~ 3,0 ) e chamada de banda || (|| ). Os picos correspondentes no clculo de

cluster so aqueles posicionados em ~ 1,6 e em ~ 3,0 , logo, a separao obtida de

~ 4,6 . O bom acordo entre os resultados obtidos em ambos os mtodos confirma a

necessidade de incluir o canal de blindagem de Hubbard (representada por T) na descrio da

estrutura eletrnica do 2. Outro xido de MT que apresenta a dimerizao o dixido de

vandio, em sua fase isolante. No caso do 2 (R. J. O. Mossanek e M. Abbate, 2006), a

distoro cristalogrfica gerada pela dimerizao dos ons de vandio aumenta a interao

-3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8

d||

d||

Mo 4d(z2)

Mo 4d(x2-y

2)

Mo 4d(xy)

Mo 4d(xz)

Mo 4d(yz)

DO

S (

esta

do

s/e

V)

Energia (eV)

-3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8

RS (N-1) AS (N+1)

d3(39 - 72%)

d2C(27%)

d1(36%)

d1(21%)

Regio prxima a EF

Mo 4d Total

Pe

so

Esp

ectr

al

39

entre os orbitais 2 adjacentes, o que causa a abertura de um gap no nvel de Fermi (transio

metal-isolante). O gap em no ocorre para o 2 por causa da diferena no nmero de

eltrons entre os dois compostos. Para o 2 (cuja valncia nominal do on 4+ 31), h

um nico orbital 2 que se encontra parcialmente preenchido na fase metlica e que aponta

na direo do on 4+ mais prximo (2), formando a banda ||. Como mencionado acima, no

caso do 2 (4+ (42)), o orbital 22 quem forma a banda || e que sofre uma forte

separao (splitting) ligante-antiligante devido formao dos dmeros 4+ 4+. As

bandas e no apresentam splitting e localizam-se principalmente entre os dois picos

||, permanecendo parcialmente preenchidas na regio de e confirmando o comportamento

metlico do sistema.

Alm do bom acordo qualitativo entre o resultado do modelo de cluster e um clculo

de estrutura de bandas (reproduzido da literatura, V. Eyert et al., 2000) nos permitir entender

quantos e quais orbitais participam de cada flutuao de carga GS Estado Final, tambm

sugere que o conjunto de parmetros escolhido est correto e, portanto, apresentamos nas

sees seguintes comparaes entre espectros experimentais (de fotoemisso de nvel interno,

banda de valncia e fotoemisso ressonante e absoro de raios-X) e nossos resultados obtidos

com o mesmo modelo para cada caso.

40

5.3 - NVEL INTERNO

A Figura 5.3 apresenta o espectro de XPS ( = 1840 ) do nvel 3 do 2

que separado pela interao spin-rbita nas contribuies 31/2 e 33/2. As

posies das duas estruturas so bem reproduzidas pelo clculo: ~ 412 e ~ 396 em ambos

os espectros. A separao entre as duas estruturas reproduzida introduzindo-se um termo da

forma . O inset apresenta a fotoemisso do nvel 1, mostrando que este possui

apenas uma estrutura, o que indica a boa qualidade da amostra. O perfil assimtrico dessa

estrutura uma caracterstica de compostos metlicos.

Figura 5.3: Comparao entre o espectro de XPS do nvel interno 3 (painel superior) e o

calculado atravs do modelo de cluster (painel inferior). As contribuies 31/2 e 33/2 so

separadas pelo efeito spin-rbita. O inset mostra a fotoemisso do nvel 1.

3p3/2

3p1/2

Inte

nsid

ad

e N

orm

aliz

ad

a

Fotoemisso do nvel Mo 3p

440 430 420 410 400 390 380

Energia de Ligao (eV)

540 535 530 525Energia de Ligao (eV)

O 1s

41

Como possvel ver na Tabela 5.3, o pico principal na Figura 5.3 (em ~ 396 ) formado

principalmente pelas configuraes 2, 3 e 3 (onde representa um buraco no nvel

interno) e, como vimos na seo 5.1, o estado fundamental composto principalmente por 2,

3 e 3. Isso indica que manter o buraco no nvel interno, sem blind-lo,

energeticamente mais favorvel do que transferir eltrons do oxignio, do on do cluster

vizinho ou da banda coerente para o metal.

Tabela 5.3: Principais contribuies para o pico principal do nvel interno 33/2 do 2,

localizado em ~ 396 na Figura 5.3.

Configurao Contribuio (%)

2 31,6

3 22,5

3

19,3

4

12,8

A ausncia de satlites de transferncia de carga no espectro 3 uma

caracterstica do regime de Mott-Hubbard. Para ilustrar o fato de que nesse regime a

intensidade dos satlites no nvel interno pequena ou quase nula, vamos supor um caso mais

simples: um modelo de dois nveis ( e +1). Para este caso, as formas matriciais dos

hamiltonianos do estado fundamental e do nvel interno so dadas por:

= (0

) (5.1)

= (0

Q) (5.2)

Os autovetores (autoestados) do estado fundamental (|) e dos picos do nvel interno -

principal (| ) e satlite (|

) - so obtidos diagonalizando-se os hamiltonianos (5.1) e

(5.2),

42

| = 1| + 2|

+1 (5.3)

{|

= 1| + 2|

+1

| = 1|

+ 2|+1

(5.4)

A intensidade do satlite calculada atravs de (onde 1 o operador identidade):

= |

|1||2 (5.5)

A Figura 5.4 apresenta um grfico mostrando a variao da intensidade do satlite do nvel

interno medida que e variam entre 0 e 10 . Podemos observar que quando a repulso

Coulombiana tem um valor 3,0 , a intensidade do satlite aproximadamente nula, pois

o sistema permanece no regime Mott-Hubbard, independentemente do valor que assuma.

Porm, medida que aumentamos (mantendo qualquer valor fixo para a energia de

transferncia de carga), o sistema passa para o regime Charge Transfer (Seo 1.2) e

aumenta. O plano na imagem representa a regio intermediria = , onde ocorre a

transio entre os dois regimes. Dessa forma, o resultado desse caso simples confirma que

nosso sistema est no regime M-H e justifica a ausncia de estruturas de satlites relevantes

na Figura 5.3.

Na Figura 5.5 apresentamos os nveis de energia iniciais e suas respectivas

configuraes para o estado fundamental e o nvel interno do 2 (por simplicidade, a

separao por multipletos no foi representada). Lembrando que a configurao de menor

energia para o CS um estado no blindado devido aos valores de e para o regime M-H

(J. Zaanen et al., 1985).

43

Figura 5.4: Variao da intensidade o satlite do Nvel Interno. A regio azul da curva representa o

regime Mott-Hubbard e a parte mais elevada do grfico (vermelho) ilustra o regime Charge Transfer.

O plano na imagem representa a regio = , uma regio de transio entre os dois regimes. A barra

de cores indica a intensidade de cada regio.

Figura 5.5: Diagrama apresentando os nveis de energia iniciais e suas configuraes para o estado

fundamental e o nvel interno do 2.

44

5.4 - BANDA DE VALNCIA

A Figura 5.6 mostra uma comparao entre os estados de remoo (estados

ocupados), calculados via modelo de cluster, e o espectro experimental de XPS da banda de

valncia do 2 (policristalino), com = 1840 . O carter metlico do sistema

confirmado pela presena de estados ocupados no nvel de Fermi, indicado pelo zero de

energia. Os espectros so formados por duas estruturas principais. A banda de oxignio 2

localiza-se aproximadamente entre 10,0 e 2,5 e os estados do metal 4

posicionam-se entre ~ 2,5 e ~ 0,0 . As posies em energia e a intensidade relativa de

todas as estruturas esto bem reproduzidas pelo clculo e podemos considerar que estes

resultados esto em excelente acordo com o espectro experimental.

Figura 5.6: Comparao entre o espectro de XPS de banda de valncia (painel superior) e os estados

de remoo (ocupados) calculados via modelo de cluster (painel inferior) para o 2 policristalino.

d2L

Mo 4d

d2D+

d3LD d

2L

O 2p

XPS de Banda de Valncia do MoO2

Inte

nsid

ad

e N

orm

aliz

ad

a

12 10 8 6 4 2 0 -2

Energia de Ligao (eV)

45

Os estados que aparecem na regio da banda 2, indicados pelas setas na imagem,

possuem carter 4 e tem contribuies principais de estados com blindagem local () e

de Hubbard () e aparecem nessa regio devido a seu alto custo em energia ( e ). A

mistura 4 2 nos picos prximos pequena porque estes no apresentam

configuraes relevantes com blindagem . A estrutura 4 localizada em ~ 1,6 abaixo

de corresponde ao orbital responsvel pela dimerizao (22) e esta composta

principalmente por 1 (36%) e 2 (26%), onde representa a blindagem feita por um

eltron vindo do molibdnio do cluster vizinho (blindagem de Hubbard). O pico de mais

baixa energia , na verdade, composto por mais de uma estrutura, entre ~ 0,4 e 0 , sendo

a mais prxima formada majoritariamente por contribuies dos estados coerentes, que

so assim chamados porque sua intensidade aumenta com a diminuio da temperatura. Essas

estruturas so mostradas com mais detalhes na prxima seo.

46

5.5 - MONOCRISTAL

O painel superior da Figura 5.7 apresenta os espectros de XPS de amostras

policristalina ( = 1840) e monocristalina de 2 comparados com o clculo dos

estados de remoo do modelo de cluster. O espectro experimental do monocristal

(He II = 40,85 ) foi retirado de R. Tokarz-Sobieraj et al., 2011. No painel inferior desta

mesma figura, h uma ampliao da regio prxima , indicada pelo retngulo verde no

painel superior.

Figura 5.7: Painel superior: estados de remoo calculados via modelo de cluster comparados aos

espectros experimentais do monocristal e do policristal do 2. Painel inferior: estrutura mais

prxima ao nvel de Fermi no painel superior, indicada pelo retngulo verde, comparada com a mesma

regio no espectro do monocristal. O espectro experimental do monocristal (He II = 40,85 ) foi

retirado de R. Tokarz-Sobieraj et al., 2011.

O espectro do monocristal tambm apresenta duas estruturas principais com carter

dominante 2 e 4 cujas posies e intensidades relativas esto em bom acordo com as

12 10 8 6 4 2 0

d2Cd

1

d1

monoc.

polic.

Fotoemisso de Banda de Valncia do MoO2

1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 -0,2

Energia de Ligao (eV)

Inte

nsid

ad

e N

orm

aliz

ad

a

47

do espectro experimental do policristal do 2 e com os resultados do modelo de cluster.

As estruturas do painel inferior, posicionadas em 0,45 e 0, 16 , so compostas

principalmente e respectivamente por 1 (~ 21%), 2 (~ 32%) e 2 (~ 27%). Isto

indica que os estados mais prximos ao nvel de Fermi so blindados por eltrons vindos do

meio efetivo (). Esta blindagem coerente na regio prxima est de acordo com a

descrio do carter metlico do composto e com os baixos valores de e utilizados. At a

presente data, no h nenhum clculo presente na literatura indicando a composio das

estruturas nesta parte do espectro. Para que o modelo de cluster fosse capaz de reproduzir a

estrutura dupla, foi necessrio adicionar o canal de blindagem no-local Coerente.

48

5.6 - ABSORO DE RAIOS-X

A Figura 5.8 apresenta a comparao do espectro experimental de absoro de raios-

X do nvel 1 com o clculo do estado de adio (estados desocupados) obtido atravs do

modelo de cluster. A absoro nessa borda corresponde transferncia de eltrons do nvel

1 para estados desocupados de 2. Dessa forma, o espectro representa os estados

desocupados de 2 que esto covalentemente misturados com estados de 4.

Figura 5.8: Comparao entre o espectro de absoro de raios-X (painel superior) e o estado de adio

calculado (estados desocupados) via modelo de cluster (painel inferior) para o 2.

Ambas as estruturas so compostas majoritariamente pelas configuraes 3 e 4. A

separao entre as bandas 2 e de ~ 3,4 no espectro experimental (estruturas

posicionadas em ~529,8 e ~ 533,2 ) e igual a 3,6 no espetro calculado (estruturas

localizadas em ~529,7 e ~ 533,3 ). Os valores esto em excelente acordo com o valor do

*

d3

d3

d3

d||*

*

Espectro de Absoro de Raios-X do MoO2

Inte

nsid

ad

e N

orm

aliz

ad

a

528 530 532 534 536

Energia do Fton (eV)

49

parmetro do campo cristalino 10 : 3,6 . O espectro de absoro na borda de O 1s

ditado por efeitos de campo cristalino e isto confirmado pelo alto valor desse parmetro.

Observando a Figura 5.1 novamente e comparando seu espectro de adio Figura

5.7, constatamos que h uma inverso na intensidade relativa entre as duas estruturas (2 e

). Essa inverso ocorre porque a hibridizao 2 mais forte. As posies e

larguras das bandas em ambos os espectros concordam bem com os valores apresentados

anteriormente (V. Eyert et al., 2000) para a borda do oxignio (XAS com vetor de

polarizao posicionado perpendicularmente ao eixo monoclnico. A contribuio do estado

2 2 desocupado desaparece devido ao seu carter (, majoritariamente) e pouca

hibridizao O 2p. No entanto, ela aparece em resultados de XAS com dicrosmo linear (V.

Eyert et al., 2000).

50

5.7 - FOTOEMISSO RESSONANTE

A Figura 5.9 apresenta os espectros de fotoemisso para o 2 na borda 3

dentro e fora da ressonncia e tambm a diferena entre estes (on - off). O inset (no canto

direito superior) apresenta a absoro no nvel 3 e as setas indicam as energias utilizadas.

Figura 5.9: Espectro de Fotoemisso Ressonante do 2 na borda 3 (painel superior). A

diferena entre os espectros na regio da ressonncia (on) e fora dela (off) comparada ao

espectro de remoo de 4 calculado via modelo de cluster (painel inferior). O inset mostra o

espectro de absoro na mesma borda e as setas indicam as energias utilizadas para medir os

espectros.

O espectro fora da ressonncia (2515 ) possui contribuies apenas do processo

de fotoemisso direto, descrito com detalhes na seo 3.1,

264d + h 264d1 +

on (2525.5 eV)

off (2515 eV)

on - off

Inte

nsid

ad

e N

orm

aliz

ad

a

Espectro de Fotoemisso Ressonante do MoO2 Mo L

3

12 10 8 6 4 2 0 -2

Mo 4d

Pe

so

Esp

ectr

al

Energia de Ligao (eV)

2520 2530Energia do Fton (eV)

XAS Mo L3

51

Quando a energia de ressonncia (2525,5 ) atingida, h interferncia dos dois

canais de fotoemisso (direto e indireto), cuja ocorrncia mediada pelo decaimento Auger

(seo 3.2),

264d + h 254d+1 264d1 +

A curva on - off mostra a diferena entre os dois espectros. Sua intensidade aumenta

(diminui) quando a interferncia construtiva (destrutiva).