estresse urbano© 2050, as cidades deverão concen-trar 70% da população do planeta, ín-dice já...

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ESTRESSE URBANO ESTRESSE URBANO TERÇA-FEIRA 4.12.2012 oglobo.com.br

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Page 1: ESTRESSE URBANO© 2050, as cidades deverão concen-trar 70% da população do planeta, ín-dice já superado pelos países da América Latina e Caribe, regiões com maiores percentuais

ESTRESSE URBANOESTRESSE URBANO

TERÇA-FEIRA 4.12.2012oglobo.com.br

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As estimativas são da Orga-nização das Nações Uni-das (ONU). Todos os dias,cerca de 200 mil pessoaspassam a morar em áreasurbanas em todo mundo.

Até 2050, as cidades deverão concen-trar 70% da população do planeta, ín-dice já superado pelos países daAmérica Latina e Caribe, regiões commaiores percentuais (80%). Tantaspessoas num mesmo lugar trazemenormes desafios, muitos deles co-muns para brasileiros, mexicanos,colombianos: uma grande pressãopor consumo de recursos naturais,que são finitos, e um aumento diárioda demanda por serviços.

A imagem ao lado representa bemas consequências desse cenário. Cri-ada pelo artista catalão Francesc Pa-

lomas, a aquarela de uma cidade su-perpovoada retrata um lugar commuita poluição, excesso de veículos,congestionamentos, poucas áreasverdes, produção abundante de lixo.Uma região urbana que incorporasseos preceitos de uma cidade sustentá-vel deveria ser também mais verde emenos poluída. É um lugar maisagradável para se viver, como mostraa ilustração da próxima página, domesmo artista.

Mas como transformar essa cida-de imaginada em realidade? Apesarda crise econômica mundial que searrasta há anos, uma série de institui-ções públicas e privadas, além de or-ganizações não governamentais, têmapostado na tecnologia para encon-trar soluções inovadoras no caminhodo consumo racional de energia eágua, gestão do trânsito, redução deCO², coleta de detritos e uso de trans-porte sustentável. São as chamadascidades inteligentes.

LIMITESDA VIDAURBANACom previsão de mais 70% da populaçãomundial vivendo nas cidades até 2050,especialistas apostam na tecnologia dainformação para reduzir danos

FRAN

CESC

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FABIO VASCONCELLOS

Especial de Barcelona, [email protected]

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Embora a tecnologia da informaçãoseja uma das principais característi-cas na gestão das cidades inteligen-tes, especialistas, prefeitos e cientis-tas sociais têm defendido a necessi-dade de o uso dessas ferramentaspromoverem ambientes colaborati-vos. Aparentemente simples, a pro-posta tem um efeito bastante signifi-cativo. Muitas soluções para os pro-blemas locais dependem das infor-mações que os próprios moradorestêm acesso — ou podem gerar para asprefeituras — através, por exemplo,dos seus celulares.

— Cidades inteligentes não sãoapenas municípios dotados de infra-estrutura tecnológica, mas aquelasque buscam ações coordenadas quefacilitem o acesso dos cidadãos aosserviços e ao conhecimento. Sem es-sa preocupação, investir apenas emtecnologia pode resultar num grandegasto em equipamento, mas em pou-co ou quase nenhum retorno social eeconômico para a população — ob-serva Tim Campbell, autor do livro“Além das Cidades Inteligentes” epresidente do Urban Age Institute,ONG com sede em Berkeley, nos Es-tados Unidos.

Com a medida que envolve a par-ticipação, Amsterdã faturou o prêmioprincipal do II Congresso Mundial deCidades Inteligentes, realizado emBarcelona, em novembro. Todo o sis-tema de trânsito da cidade holandesafoi aberto para pedestres e motoris-tas, que agora podem acompanharpor seus smartphones qual é a me-lhor opção para se locomover no mu-nicípio, em especial com o uso dasbicicletas. Iniciativa semelhante jáexiste em Barcelona, na Espanha. Lá,a população pode visualizar nummapa digital a localização exata dotrem, táxi, metrô ou ônibus que dese-ja utilizar. Tudo por um aplicativoinstalado nos celulares.

Em Águeda, Portugal, a prefeituracriou uma série de serviços pela in-ternet e iniciou um projeto de incen-tivo ao uso compartilhado de bicicle-tas elétricas. A ideia surgiu por umaquestão topográfica. O prefeito da ci-dade, Gil Nadais, conta que as ruasdo município portuguê são muito ín-gremes, o que dificulta o uso da bici-cletas tradicionais:

— Com a abertura dos dados nosaproximamos da população e incen-tivamos o envolvimento dos morado-res com os demais projetos.

Além de permitir o acesso ao siste-ma de trânsito, a administração deSeul tem apostado agora na troca deinformações por meio digital com osmoradores. O objetivo é identificar omais rapidamente possível as de-mandas da população.

— O nosso modelo consiste em tercapacidade de predizer os aconteci-mentos que afetam a vida das pesso-as; saber o que está acontecendo noexato momento; e dar respostas pre-cisas às demandas — explica JongSung Hwang, assistente do governometropolitano de Seul.

Sensores no celularExemplos de incentivos à colabora-ção acontecem também nos EstadosUnidos, no México e em Israel. EmBoston, a administração local convi-dou a população a usar um aplicativonos seus celulares que é capaz demonitorar o estado de conservaçãodas ruas. O equipamento permiteque as trepidações sofridas pelos car-ros durante o percurso gerem infor-mações online para a prefeitura. Tu-do é apresentado num mapa na inter-net e, depois, é disponibilizado aosmoradores.

— Com essas informações sabe-mos rapidamente onde há problemasnos quais precisamos atuar — explicaNigel Jacob, gerente do escritório denovas tecnologias urbanas da prefei-tura de Boston, nos Estados Unidos.

A administração de Haifa, em Isra-el, tomou uma decisão radical: zeraro uso de papéis nos processos de li-cença urbanística. Tudo foi digitali-zado e está disponível ao cidadão. Amedida foi tomada em 2008 depoisque a prefeitura notou um declínionas licenças para novas construções.O principal problema detectado era aburocracia para obter os documen-tos. Caso parecido ocorreu na cidademexicana de Zapapon. A prefeiturareuniu 600 moradores e, após trêsmeses de muito trabalho, elaborouum mapa em 3D da cartografia da ci-dade. Todo mundo sabe onde estão equais são as construções irregulares,e onde é preciso haver intervenção. FR

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LIMITES DAVIDA URBANA

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ECOCIDADE E TRANSPARÊNCIASe existe ainda distância considerável entre arealidade dos grandes centros urbanos e aideia de uma cidade de fato sustentável, inici-ativas urbanísticas, associada ao uso de tec-nologia, têm mostrado que é possível mudaro modo de vida em alguns lugares. Na Espa-nha, foi construída, em Zaragoza, uma EcoCi-dade, que procura seguir os princípios esta-belecidos pelo Protocolo de Kioto, isto é, bai-xa emissão de gases poluentes e uso racionalde recursos naturais.

O bairro de Valdespartera começou a sererguido em 2002 e foi concluído seis anos de-pois, num antigo terreno militar. O projeto foipossível graças a uma parceria público-priva-da que investiu cerca de R$ 3 bilhões. Com243 hectares e 9.687 apartamentos, a EcoCi-dade espanhola é toda administrada por sis-temas de informação online. O Wonderwarepermite ao centro de controle tomar uma sé-rie de decisões como regar as áreas verdes deacordo com as condições de temperatura e aumidade relativa do ar.

O sistema de informação, que custou cercade 0,26% do investimento total do empreen-dimento, permite também controlar à distân-cia o consumo de energia e gás das residênci-as. Desde que foi criado, o bairro de Valdes-partera mantém um consumo de energia en-torno de 0,06 kw/h por m², quase metade doregistrado na Espanha (0,11 kw/h por m²).Além do monitoramento do uso da energia, aEcoCidade faz coleta seletiva de resíduos, quesão levados diretamente para a reciclagem.

— Entendemos que a sustentabilidade ur-bana é baseada no conhecimento e na possi-bilidade de verificação dos dados em temporeal. Assim podemos tomar medidas commaior poder de precisão — explica o admi-nistrado da EcoCidade, Miguel Portero.

Embora a experiência em Valdesparteratenha chamado a atenção de urbanistas e ins-tituições preocupadas com o futuro das cida-des, Portero defende que modelos como es-ses sobrevivem exclusivamente se tiverem oapoio da população local:

— A ideia de cidade inteligente não deve, éclaro, ser limitada à análise de dados para atomada de decisões estratégicas. É preciso es-tar atento também às demandas da popula-ção para que ela sinta e perceba que há feed-back do administrador. Portanto, o cidadão éo centro entorno do qual a cidade inteligentedeve ser organizar.

O foco nas cidades sustentáveis pode aju-dar municípios que não têm apresentadobons desempenhos no “Índice de Prosperi-dade das Cidades”, produzido pela agênciaHabitat da ONU. O indicador, que vai de 0 a 1(quanto mais próximo de 1, melhor), sintetizaa relação entre cinco fatores consideradosimportantes para o desenvolvimento doscentros urbanos: infraestrutura, produtivida-de econômica, qualidade de vida, inclusãosocial e sustentabilidade ambiental. Viena,na Áustria, atingiu o maior índice (0,925),bem distante, por exemplo, de Bamako(0,491), em Mali, ou de São Paulo (0,757),única cidade do Brasil na lista da ONU.

Construções sustentáveisCom 0,890, o quinto melhor índice do indica-dor, Estocolmo, na Suécia, é uma das cidadesque integram o programa do governo, emparceria com a iniciativa privada. Seu nome:SymbioCity. O projeto incentiva o desenvol-vimento sustentável do município a partir deuma ideia simples: fazer mais por menos.

Atualmente estão em construção cerca de11 mil apartamentos próximo ao centro deEstocolmo, todos projetados para serem sus-tentáveis. Os novos imóveis vão ajudar a re-duzir em 25% o consumo de água e em 40% oimpacto ambiental na região. Para isso, vãoreceber placas solares, que produzem a ener-gia que os moradores utilizarão. A água dachuva será captada e usada nos banheiros. Olixo será coletado por sistema de tubos e leva-do, depois de recolhido, diretamente para areciclagem ou produção de combustível. Atu-almente, 75% dos detritos da cidade já rece-bem esse tratamento.

Em Estocolmo, outros números ajudam aexplicar a boa posição da cidade no indicadorda ONU. Cerca 65% dos moradores utilizam osistema de transporte ferroviário, considera-do de baixa emissão de poluentes porqueopera com energia renovável. No centro dacidade, todos os ônibus utilizam como com-bustível o etanol ou biogás. Segundo JenniferEkstrom, representante do projeto Symbio-City, a crise do petróleo nos anos 70, levou ossuecos a discutirem alternativas de cresci-mento a partir de energia menos poluente.

— Entre 1996 e 2008, conseguimos reduzirem 18% a emissão de gases poluentes e, aomesmo tempo, manter o crescimento do PIBque subiu 45% no período — afirma Jennifer.

FOTOS DE DIVULGAÇÃO

Visão aérea. Área de 243 hectares é aprimeira ecocidade construída na Espanha

LIMITES DA VIDA URBANA

Novo bairro. Erguido num antigo terreno militar, a construção começou em 2002 e foi concluída em seis anos

Estratégia. Centro de controle de Valdespartera

Condomínio. São ao todo 9.687 apartamentos

3 biESTE É O INVESTIMENTO total em reais daconstrução da EcoCidade de Valdespartera, emZaragoza, na Espanha. A área residencial come-çou a ser instalada em 2002 e terminou somenteem 2008. Com o uso de modernos sistemas detecnologia da informação, que custaram apenas0,26% do investimento, os administradores po-dem regular o uso de todos os recursos naturais,como o consumo de energia, água e gás

45%FOI A ECONOMIA de energia obtida pelos mora-dores de Valdespartera. Desde que começou areceber as mais de nove mil famílias, os adminis-tradores passaram a medir o uso da energiaatravés de relógios digitais instalados nas residên-cias. O consumo hoje é de 0,06 kh/h por metroquadrado (m²), bem abaixo da média no restanteda Espanha, que é foi de 0,11 kw/h por m²

11 milÉ O NÚMERO de apartamentos sustentáveis queestão sendo construídos no centro de Estocolmo,uma das cidades com os melhores indicadoresambientais. As unidades terão placas para captara anergia solar, sistema de tubos para a coleta delixo, que leva os detritos diretamente para areciclagem. Os apartamentos vão ainda acumulara água da chuva para ser usado nos banheiros.Com essa medida, a administração local esperareduzir em até 25% o consumo de água

NOVA ECONOMIA

MUTAÇÃO

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Também pressionados pelo crescimento dassuas cidades, países da América Latina e doCaribe, incluindo o México, deverão encararo desafio de tornar seus centros urbanos maissustentáveis num futuro próximo. Em seis dé-cadas, a região ganhou oito megacidades, co-mo São Paulo, Rio de Janeiro, Cidade do Mé-xico e Lima. E os problemas, como trânsito,poluição, geração de detritos e altos índicesde pobreza se acumulam.

A produção diária de lixo na região, porexemplo, chegou a 436 mil toneladas por dia,este ano, o que significa um aumento de 60%em relação a 1995. Naquele ano, a ONU-Ha-bitat registrou 275 mil toneladas diárias. Poroutro lado, 180 milhões de pessoas vivem emcondições de pobreza (33%). Destes, 13% ain-da são indigentes.

Para Tim Campbell, Phd em planejamentourbano pelo Massachusetts Institute of Tech-nology (MIT) e diretor do Urban Age Institu-te, as políticas de combate à pobreza e gera-ção de emprego devem caminhar juntas coma adoção de medidas que possam mitigar osproblemas das grandes cidades dos paísesem desenvolvimento:

— A meu ver, as cidades bra-sileiras, assim com as da Índia eda China, iniciaram esse longoprocesso para se tornarem cida-des inteligentes com, por exem-plo, a adoção de medidas paraconservar seus recursos natu-rais, bem como a criação de no-vos sistemas de trânsito. Masnenhuma cidade pode ser con-siderada inteligente sem pensar na criação deempregos e na redução da pobreza. Resolveressas questões permitirá que os moradorespossam usufruir das melhores tecnologiasem trânsito, habitação e infraestrutura.

Usuários passivosDiretor do Observatório da Sociedade, Go-verno e Tecnologias da Informação, da Uni-versidade de Externado, na Colombia, MarcoAntonio Peres Useche participa de um proje-to com mais sete universidades nos EstadosUnidos, Ásia e Europa com objetivo de definiro que seria uma cidade inteligente, segundo arealidade de cada região. Para ele, a AméricaLatina e Caribe não podem ser “usuários pas-sivos de tecnologia”:

— Acho que a discussão sobre cidades inte-ligentes não deve ser como é na Europa e emoutros países desenvolvidos. Só tecnologianão basta. Penso que ela é menos relevanteporque as cidades são espaços de seres hu-manos, que envolvem questões e os conflitos

humanos e suas dificuldades sociais. NaAmérica Latina e Caribe temos questões im-portantes para serem resolvidas, como a po-breza e a preservação dos recursos naturais.

Apesar da crítica, Useche acredita que háiniciativas importantes no Rio de Janeiro, Me-dellín e Bogotá que utilizam tecnologia, masbuscam associá-las às demandas locais. Paraele, o Centro de Comando e Controle (COR)inaugurado no Rio, em 2010, tem uma pro-posta interessante porque reúne todos os ór-gãos do município para a tomada de decisão.Em Medellín, o governo trabalha desde 2002num projeto de renovação urbanística, queinclui a preservação de áreas verdes e a recu-peração de áreas pobres do município, e queé apontado como uma alternativa de fazeruma cidade inteligente.

Segundo o arquiteto Jorge Pérez Jaramillo,diretor do Instituto de Estudos Metropolita-nos e Regionais da Faculdade de Arquiteturada Universidade Bolivariana, com sede Me-dellín, as mudanças na cidade começaramapós uma profunda crise vivida nos anos 90:altos índices de criminalidade, estagnação

econômica, desigualdade socialentre outros problemas. O saldofoi a mobilização do governo eda sociedade que passaram adiscutir medidas para retomar odesenvolvimento. Nesses dezanos, foram construídos, porexemplo, oito parques, novasescolas, 450 edifícios residenci-ais, novas vias, centros de edu-cação infantil e áreas de convi-

vência.— Nossa crise gerou uma cidade renovada,

com uma cidadania ativa, com esperança nofuturo e com novas formas inteligentes de in-tervenção — explica Jaramillo.

Em Bogotá, o governo iniciou o projeto“Bogotá Humano”, que consiste em medidaspara incentivar a indústria criativa e a partici-pação. Serão inauguradas áreas tecnológicas,que consistem em ambientes prontos para ainstalação das novas empresas. O projeto, es-timado em US$ 650 milhões, prevê a criaçãode Wi-Fi público em parques, praças e corre-dores culturais. Dez pontos já estão em funci-onamento. Cerca de 450 escolas vão ganharconexão à internet em alta velocidade.

— A educação digital é um direito. Esse di-reito é uma oportunidade de melhorarmos agestão da cidade e criarmos oportunidadespara os moradores — diz Mauricio Trujillo,diretor do Conselho Distrital de Bogotá.

LIMITES DA VIDA URBANA

CAOS URBANOTRÂNSITO, POLUIÇÃO,LIXO E ALTOS ÍNDICESDE POBREZA SEACUMULAM

O repórter viajou a convite da Fira Barcelona

As cidades inteligentesde um futuro muitopróximo serão deconexão à internet semfio em todos os lugarese sensores instaladosaté mesmo dentro datubulação de água, gásou em sinais detrânsito, que sófuncionam na presençade pedestres e carros.Empresas na Europa,nos Estados Unidos ena Ásia trabalham 24hpor dia para saberquem vai dominaressas tecnologiasapresentadas comopoderosas ferramentaspara reduzir o consumode bens naturais etornar mais sustentávela vida nos grandescentros urbanos.Diretor do SenseableCity Lab doMassachusettsInstitute of Technology

(MIT), o engenheiro earquiteto Carlo Rattiapresentou noCongresso de CidadesInteligentes, realizadoem Barcelona, o quepode ser uma formainovadora dosadministradores locaiscaptarem informaçõespara suas decisões. Oscelulares, ou qualqueroutro dispositivo móvelde comunicação, geraminformações online quepodem ser organizadase analisadas numgrande banco de dados.— Estamospresenciando hoje oque a Formula 1 fez háalgum tempo. Os carrosde corrida, dotados dealta tecnologia,transformaram-se em dispositivosinteligentes. Ossensores instalados

num Formula 1 geraminformações sobretodos aspectos dofuncionamento edesempenho doscarros. Com isso, osengenheiros podemtomar várias decisões.Isso pode ser aplicadonas grandes cidades —diz Ratti.Em dois experimentosrealizados nos Estados Unidos, ospesquisadores do MITconseguiram produzirgráficos sobre opercurso dos detritosaté a sua destinaçãofinal. Para isso, foraminstalados sensoresdentro de caixas deleite, sacolas plásticas,tênis velhos, entreoutros. Em poucassemanas, foi possívelsaber o longo percursodesses detritos.Descobertas como

essas podem, porexemplo, incentivarmudanças, como atransferência do lixopara locais dereciclagem maispróximos, com menoscusto de viagem. No segundo teste, ossensores instaladosnos veículosdetectaram astrepidações dos carros.Com isso, foi possívelidentificar todos oscontratemposenfrentados pelosmotoristas, comoburacos, buzinas,acidentes ou fortes freadas.Em Cingapura, ospesquisadores do MIT trabalham naimplantação de umsistema que captura o máximo deinformações emitidaspelos diversos sensores

instalados na cidade. O banco de dados, que pode ser acessadopelos moradores,permite que aspessoas tomemdecisões de formacolaborativa, comoadotar medidas parareduzir o consumo deenergia ou utilizarmeios de transportemais econômicos.Mas há muito mais nomundo da tecnologia.Empresas na Europa já desenvolveramsensores que podemser instalados em todos oscompartimentos de umcondomínio, indicandopelo computadorqualquer alteração no sistema deabastecimento deágua, gás e energiaelétrica. A medida podeajudar a reduzir o

consumo excessivo e a perda de recursospor conta devazamentos. Outramedida é a criação dequiosques interativos,já em funcionamentoem Madri, nos quais os moradores poderão marcarconsultas médicasutilizando cartõesmagnéticos. Dispositivosemelhante existe emBarcelona, onde épossível ter acesso aosserviços municipais. A cidade catalã, temaliás, 430 pontos de internet grátis.Na área da energia,outra novidade éParkGreen,estacionamento feitode placas de captaçãode energia solar, que é armazenada e pode abastecer opróprio veículo.

TECNOLOGIA PARA AS CIDADESDispositivos inteligentes a serviço dos urbanistas. Feira emBarcelona apresenta alternativas amigáveis para o futuro

FOTOS DE FÁBIO VASCONCELLOS

High tech. Salão do congressocidades inteligentes, em Barcelona

Menos C0². Carro elétrico a base de solar

Facilidade. Espanhóis têm acesso avários serviços públicos no dispositivo

Digital. Informações sobre as cidades nas ruas

Economia. Lixões com sensores queindicam quando estão cheios