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  • CEAN Centro de Ensino Mdio Asa Norte

    Estratificao Social (Classe, Gnero e Etnia) Apostila de Sociologia 3 Ano 1 Bimestre

    Professora: Mariana Ltti

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    Minorias Sociais

    A questo da Igualdade e da Diferena

    A complexa questo da igualdade no uma idia facilmente aceitvel na cultura humana. Estabelecer diferenas parece ter sido sempre uma tendncia da humanidade para, por meio delas, procurar definir a essncia humana e a razo de sua existncia. Foi a partir do Cristianismo que emergiu na sociedade a noo de igualdade. O princpio de que todxs, sem exceo, somos filhxs de Deus era absolutamente novo num mundo que procurava sempre identificar um nico e verdadeiro povo escolhido. Concebida a idia da igualdade original, a ela associou-se a idia de bondade, caridade e vontade divina. Nos sculos seguintes essa idia de igualdade entre os seres humanos foi se desenvolvendo e se firmando. Os filsofos da Ilustrao1 procuravam descobrir novos aspectos dessa igualdade vontade, liberdade e, enfim, igualdade jurdica e civil. Sempre mais no discurso que na ao, reconheceu-se que todas as pessoas tm direito justia, ao trabalho, liberdade e assim por diante.

    O Modo de Produo Capitalista, responsvel por inmeras novas diferenas entre os seres humanos, desenvolveu, por outro lado, a indstria de massa, geradora de grande homogeneizao no mundo, diluindo diferenas e padronizando estilos de vida e consumo. Associada ao marketing e aos meios de comunicao, a globalizao, no sculo XX, uma tendncia.

    Porm, na atual sociedade que se massifica, se padroniza e se assemelha, surgiram grupos que comearam a se distinguir do conjunto da populao. Em primeiro lugar, porque essa sociedade passou a abrigar em seu interior, em um mesmo espao geogrfico, pessoas provenientes das mais diferentes culturas, das mais diversas partes do mundo e de condio social cada vez mais dspar. Todas elas competindo pelo mercado de trabalho e por bens que nunca parecem aumentar na mesma proporo que o nmero de consumidorxs. Os grupos passaram a concorrer e a desenvolver extrema rivalidade e a se opor: mulheres e homens, negrxs e brancxs, nativxs e estrangeirxs, homossexuais e heterossexuais, orientais e ocidentais etc. Cada um desses setores da 1 Movimento filosfico e social que ocorreu nos sculos XVII/XVIII e teve como origem o Renascimento. Seus maiores expoentes foram Ren Descartes, Jean-Jacques Rousseau, John Locke e Adam Smith.

    populao procurou definir sua prpria histria, criou suas justificativas e elaborou formas de organizao em um prol de reivindicaes. Cada um deles, no esforo de criar e afirmar sua prpria identidade, imprimiu diferenas marcantes na realidade social. Os movimentos tnicos, raciais, sexuais, entre outros, disfarando a padronizao da sociedade, deram noo de cidadania um novo sentido.

    Dessa forma podemos perceber que o coletivo encobre as diferenas e discriminaes, passa por cima de perseguies e injustias, cuja superao torna necessria uma ao particular, dirigida e organizada. Diante desses particularismos nenhuma teoria ou projeto poltico que tentasse representar toda a sociedade poderia contentar estes grupos que se sentem especialmente excludos de certos benefcios sociais. As solues que se pretendem globais descontentam esses grupos que buscam formas prprias de pensamento e atuao. Enfim, saem das sombras as diferena e as particularidades. Membros de uma mesma categoria unem-se, denunciam, reivindicam, ocupam espaos e acabam, algumas vezes, por mudar certas formas de comportamento e por denunciar antigos preconceitos. Diante de sua fora estes grupos passam do discurso ao poltica, reafirmando o princpio da diferenciao como base de uma sociedade que s aparentemente se homogeneza.

    O conceito de Minoria Social

    O princpio da maioria como uma fora poltica nasceu com a democracia grega, na qual os sistemas de votao direta submetiam a aprovao das leis ao referendo da maioria numrica de cidados gregos, homens, patrcios, livres. A maioria correspondia a essa superioridade numrica dentre os cidados que legitimava politicamente as decises da Assemblia. Expressava a vontade de uma elite e no os anseios majoritrios da populao como um todo. Assim, aos poucos, a maioria deixou de representar uma quantidade para expressar um princpio de fora poltica: majoritria a deciso que representa a vontade das elites e dos governos institudos. Em oposio, minoritrias so as reivindicaes que representam justamente os grupos que no esto no poder, no conseguem aprovar seus projetos e nem transformar em leis seus anseios. Ou seja, esto em posio de no dominncia e so, recorrentemente, vtimas de discriminao. por isso que, por exemplo, as questes relacionadas s mulheres so minoritrias, apesar de as mulheres representarem quantitativamente mais da metade da populao do mundo. Elas so minoritrias diante das foras polticas em ao tm menos

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    representatividade nas instituies decisivas de exerccio do poder. Esse princpio, pelo qual a maioria identificada com as foras polticas dominantes e a quantidade passa a significar poder, tem contrapartida no desenvolvimento das cincias sociais que, muitas vezes, associam o comportamento dominante ao princpio de normalidade. Para Durkheim, por exemplo, o que caracteriza o fato social a sua generalidade, isto , a recorrncia ou forte incidncia de um trao cultural. Assim, por oposio, o que raro ou discordante associado anormalidade. Atualmente, com a multiplicidade dos casos desviantes e com a complexidade da vida social, fica cada vez mais difcil estabelecer maiorias reais. Predomina assim o uso poltico ou ideolgico desse conceito. Hoje j se reconhece que em casos desviantes esto muitas vezes manifestas tendncias sociais emergentes. Representam aspectos importantes da vida social, sintomas de transformaes que podem ser vislumbrados pelx cientista social.

    Desconsideradas pelas teorias, pelos levantamentos estatsticos, pelos interesses polticos e ideolgicos, as minorias hoje saem a campo. A sociologia, por sua vez, tem se voltado para a estes grupos a fim de estud-los e assim multiplicam os trabalhos de pesquisa que tm por objeto os sujeitos que compe estas minorias. Desse modo, a postura que v com irrelevncia as questes minoritrias tende a perder adeptos. Atualmente, entende-se por maioria ou minoria a capacidade de certos grupos sociais fazerem presso e obterem sucesso em suas reivindicaes. a fora da ao poltica que torna as questes majoritrias ou minoritrias. A formao e a organizao poltica das minorias foram revertendo esta tendncia, assim como foram criando condies para a emergncia de uma nova forma poltica: a democracia participativa. Em vez de confiarem na ao dxs polticxs que xs representam, xs cidads/os partem para a ao concreta, organizando inmeros movimentos e associaes pelo mundo, que nada tm de minoritrios, quer em termos numricos, quer na sua capacidade de mobilizao poltica. As minorias se tornam ento fora poltica e tambm, por conseqncia, objeto das cincias sociais e humanas. Assim, ocorre hoje em dia o advento de novos modelos explicativos e novas metodologias de pesquisa, relao diversa com as demais cincias da sociedade e diferentes objetos para a anlise cientfica.

    Estigmas em relao s pessoas que compe um grupo minoritrio especfico.

    O estigma e a discriminao so processos de desvalorizao dos sujeitos que produzem iniqidades sociais e reforam aquelas j existentes. O estigma pode ser dividido, em termos gerais, em duas categorias relacionadas: o estigma sentido e o estigma sofrido. Estigma sentido a percepo de depreciao e/ou excluso pelo indivduo que vive com alguma caracterstica ou condio socialmente desvalorizada, o que acarreta sentimentos prejudiciais como vergonha, medo, ansiedade, depresso. Por estigma sofrido nos referimos s aes, atitudes ou omisses concretas que provocam danos ou limitam benefcios s pessoas estigmatizadas. Em poucas palavras, o estigma sofrido a discriminao negativa, caracterizada como crime no plano jurdico nacional e internacional.

    A fora dos sentimentos estigmatizantes e seu impacto no modo de vida das pessoas talvez repouse no reconhecimento, por si mesmo e pelxs outrxs, de que sua condio poder ser alvo de preconceito e eventual discriminao, de agresso aberta sua integridade fsica e mental. A nossa socializao histrico-cultural em todos os preconceitos faz com que as pessoas que sofrem preconceito percebam, de forma antecipada e internalizada, eventuais situaes em que podem ser estigmatizadas. Antecipando possveis discriminaes, algumas interdies passam a ser corriqueiras. Pode haver restries de situaes cotidianas como ir a escola, trabalhar, freqentar servios de sade, praticar esportes e freqentar festas ou outros espaos de lazer. Isso faz com que as pessoas mudem drasticamente suas vidas, restringindo, s vezes ativamente, sua participao afetiva e social em suas famlias e comunidades, deixando de usufruir de seus legtimos direitos como ser humano e como cidad/o.

    A luta contra o estigma uma luta dolorosa, desgastante e diria, que (re)feita com toda a gama de recursos e depende de um conjunto de fatores. H uma maior facilidade para esse enfrentamento entre aquelxs que vivem numa condio de cidadania mais plena (xs de maior renda, escolaridade e acesso justia). Mas mesmo entre xs desfavorecidxs vo se criando pequenas, mas importantes, estratgias de sobrevivncia ao estigma que no devem ser desprezadas ou desconsideradas. Viver livre do estigma e de qualquer tipo de discriminao um direito humano bsico que deve ser respeitado.

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    Preconceito e Discriminao

    Preconceitos so crenas a respeito de membros de um grupo tnico identificados segundo suas qualidades indesejveis. Pense em eptetos tnicos, e as conotaes que carregam, como claros indicadores de crenas preconceituosa