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II Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Regional Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional Mestrado e Doutorado Santa Cruz do Sul, RS – Brasil - 28 setembro a 01 de outubro.
ESTRATÉGIAS PRELIMINARES DE AÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO
REGIONAL DE ALEGRETE – RS1
Caroline Venes de Oliveira2
Vera Maria Favila Miorin3
RESUMO
O município de Alegrete se encontra em processo de estagnação devido a sua economia
estar alicerçada, exclusivamente, no setor agropecuário com o domínio da bovinocultura. Para
refletir sobre questões capazes de promover o desenvolvimento regional do Município,
procurou-se realizar um diagnóstico levando em consideração as relações entre os setores
rural e urbano, a fim de alcançar o conhecimento dos processos socioeconômicos e culturais
existentes. Historicamente a atividade mais importante em Alegrete foi a pecuária e, por se
encontrar em zona de fronteira, também foi sede de corporações militares, que contribuiriam
com a dinâmica econômica através de injeções mensais de capital. Na entrada do século XX,
Alegrete perdeu sua hegemonia regional com a saída de importantes sedes de decisão como a
do bispado. Estas perdas, de certa forma ocorrem até hoje, pois muitos jovens buscam a
complementação de seus estudos em outras cidades, provocando o fluxo das economias para
fora. Por outro lado a estrutura fundiária de Alegrete está concentrada na grande propriedade,
tem sua população rural determinada por apenas 10% da população total. A produção do setor
agropecuário está voltada para o mercado interno e externo. A indústria sempre foi menos
expressiva na história municipal, representada apenas pelas de subsistência local. Como
resultado preliminar dos estudos realizados, foram eleitas algumas estratégias de ação para
romper a estagnação, como a priorização de incentivos em educação, como veículo capaz de
1 Pesquisa realizada na disciplina de Planejamento Regional em Geografia, UFSM, RS. 2 Autora e apresentadora. Acadêmica do Curso de Geografia, Bacharelado, GCC/CCNE/UFSM., Endereço eletrônico: [email protected] 3 Profª Drª, responsável pela disciplina, Departamento de Geociências, CCNE/UFSM.
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promover mudanças em culturas arraigadas a valores já ultrapassados e que oferecem
resistência as inovações; outro incentivo diz respeito ao setor industrial, o qual, em curto
prazo, pode contribuir na aceleração da dinâmica produtiva. Considerando-se que a pecuária
por si só ou aliada a agricultura embora seja a maior responsável pelo PIB do município está
bastante comprometida pelas questões ambientais devido a fragilidade do Ecossistema do
Pampa.
PRELIMINARY ACTION STRATEGY TO THE REGIONAL
DEVELOPMENT OF ALEGRETE – RS
ABSTRACT
The Alegrete borough is in a stagnation process due to the its economy, which is based,
exclusively, on livestock. To reflect upon these questions which are able to promote the
borough’s regional development, we sought to make a diagnosis considering the relations
between rural and urban sectors, in order to reach the knowledge of the existing social,
economic and cultural processes. Historically, the main activity in Alegrete was cattle raising
and, because the city is located in the border zone of the state, it has also been the
headquarters of military corporations which contributed to economical dynamics through
monthly capital’s injection. In the beginning of the XX century, Alegrete lost its regional
hegemony with the loss of important decision headquarters, such as the bishopric. These
losses, in a certain way, still happen today because many youngsters seek to complement their
studies in other cities, producing economic flow out. In the other hand, the Alegrete’s
structure is concentrated on the big properties and it has its rural production is determined by
only 10% of the total population. The livestock and agriculture sector are turned to the
internal and external market. The industry has always been less expressive in the borough’s
history, represented only by the local self-consumption. As a preliminary result from carried
out studies, some action strategies were selected to rupture the stagnation, as prioritizing
incentives in education, as a vehicle able to promote changes in rooted cultures, whose values
are still outdated and that resist to innovations; other incentive concerns the industrial sector,
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which, in a short term, can contribute to the productive dynamics acceleration. Taking into
account that livestock, by itself or allied to the agriculture, although being the most important
to the IGP (Internal Gross Product), is very committed to the environmental issues due to the
Pampa’s fragile ecosystem.
Introdução
A Fronteira Oeste, assim como a Campanha Gaúcha que constituem o sul do estado do
Rio Grande do Sul, já foram importantes e ricas áreas do Estado. Suas classes
socioeconômicas abastadas, constituídas por proprietários de terras de campos de excelente
qualidade, além de garantirem a fronteira demarcada por tratados entre Portugal e Espanha
detinham a produção dos principais gêneros de sustentação da economia regional e serviam ao
centro do país onde se desenvolviam as primeiras cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo,
cuja economia voltada para a exportação, pouco conseguia atender ao abastecimento interno,
principalmente de carne. Hoje, estas áreas constituem uma porção do espaço que vem sendo
denominada de “Metade Sul”, cuja terminologia se constituí em sinônimo de áreas de
economia estagnada, pouca produção, povoamento rarefeito, e, conseqüentemente, pouca
geração de empregos e de impostos resultantes das atividades econômicas. Em especial, a
Fronteira Oeste e a Campanha Gaúcha, estão há tempo submetidas a processos de declínio
econômico determinado pela inércia das atividades produtivas quando se comparando esta
porção com outras áreas do Estado, cujas economias se apresentam mais dinâmicas, como é o
caso da também chamada “Metade Norte”. A participação da “Metade Sul” no conjunto da
economia estadual decresce na mesma proporção em que, ao longo do tempo, foram
diminuindo os investimentos públicos e privados, cuja trajetória de retirada de incentivos
ocorre no após Segunda Grande Guerra. (Miorin, 1992)
Historicamente, também se considera que as transformações ocorridas estão vinculadas
às mudanças operadas no conjunto da economia nacional e vinculadas aos novos processos de
produção acelerada que, nos anos 50 e 60 do século XX, marcaram novos rumos à economia
nacional integrando-a rapidamente ao capitalismo internacional.
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Aquelas áreas que se apresentavam capazes de realizar esta transposição, com um certo
grau de aceleração em suas economias, receberam incentivos para tal e contribuíram de forma
emergente com as mudanças requeridas pela conjuntura nacional e internacional. As
economias com base na produção pastoril, necessitando de algum tempo para adaptar e
agregar tecnologias passíveis de acelerar sua produção, que mesmo assim não atenderia ao
ritmo de circulação de capital produtivo querido pelo processo capitalista vigente, não
conheceram outro caminho senão o do declínio econômico. Nem mesmo o processo de
industrialização instalado nas décadas de 50 e 60 do século passado deu preferência a estas
áreas ao instalarem frigoríficos devido a componentes importantes, como: ineficiência de
comunicações, distância dos centros de consumo situados no centro do país e dificuldades de
exportação da carne brasileira devido a problemas de superação interna quanto à qualidade do
produto e de linhas de mercado externo. Problemas esses que somente hoje estão sendo
superados, porém deve-se considerar seus reflexos nas economias das áreas, sobre a qualidade
de vida das populações, bem como de suas forças produtivas e dos elementos de produção.
O estudo teve como objetivo realizar um diagnóstico que permitisse a reflexão sobre
questões importantes para o desenvolvimento regional sustentável e integrado do município
de Alegrete, cuja importância no conjunto regional é inegável devido a sua dimensão,
localização e as relações estabelecidas entre seus setores rural e urbano. Como objetivos
específicos buscava-se alcançar o conhecimento dos processos socioeconômicos e culturais
existentes. Como resultado preliminar dos estudos realizados, foram eleitas algumas
estratégias de ação para romper a estagnação, amenizando as desigualdades.
Na elaboração do diagnóstico foram utilizadas fontes secundárias de informação através
da Prefeitura Municipal de Alegrete; Fundação de Economia e Estatística (FEE); Instituto
Brasileiro de Geografia e Economia (IBGE); SEBRAE e também em alguns autores locais.
Assim, admitem-se a distinção e a articulação de quatro dimensões fundamentais ao
desenvolvimento, definidas pelas dimensões: Ecológica, da Estrutura Produtiva, do
Desenvolvimento Humano e do Poder Institucional. Atualmente, a dimensão Ecológica é vista
como uma categoria crítica para a obtenção do desenvolvimento sustentável ou durável. Já a
dimensão Institucional é analisada como elemento de decisão e formador de políticas
determinantes da promoção do desenvolvimento integrado e sustentável.
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Estas quatro dimensões no planejamento devem estar presentes em todas as etapas
desde o diagnóstico, passando pela programação, implementação, monitoramento e, por fim,
alcançando a avaliação do plano.
Sem progresso técnico não se pode falar em compatibilização entre sustentabilidade e
competitividade, pois é extremamente difícil obter aumentos de produção sem o uso adequado
dos recursos e conhecimento da preservação ambiental como dos impactos ocasionados. Por
outro lado, sem o aumento da produção material consciente, adequada e de acordo com um
conhecimento técnico de uso é impossível entender o sentido de equilíbrio sustentável e
crescimento econômico, qualidade de vida e desenvolvimento socioeconômico,
competitividade e progresso técnico. Considerando essas idéias, a última parte do presente
diagnóstico diz respeito a questões ambientais sem as quais não existe possibilidade de se
pensar na promoção do desenvolvimento regional sustentável e integrado.
1. Localização da Área de Estudo
O município de Alegrete está localizado na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, entre
as coordenadas 29º 17’ 49” e 30º 14’ 10” de Latitude sul e 55º 07’ 53” e 56º 38’31” de
Longitude oeste. Faz divisa a leste com os municípios de São Francisco de Assis, São Vicente
e Cacequi; a oeste com Uruguaiana e ao norte com Itaqui, Manoel Viana e Massambará. É
componente da AMFRO (Associação dos Municípios da Fronteira-Oeste) e está banhado por
constituintes da Bacia do Rio Ibicuí (Figura 1).
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Figura 1: Divisão Municipal do Rio Grande do Sul
2. Diagnóstico e Análise de Área
População: de acordo com o IBGE, no ano de 2002, o município de Alegrete possuía
uma população de 84.969 habitantes, distribuída em população urbana com 76.373 habitantes,
equivalente a 90% do total de sua população e 8.596 habitantes na zona rural, determinando-
se por 10% do total populacional.
Educação: no município existiam 63.992 habitantes com idade de 10 anos ou mais
alfabetizados e para atender a esta população existem 47 estabelecimentos de ensino
fundamental com 15.613 matrículas efetuadas no ano de 2000 e sete estabelecimentos de
ensino médio com 5.010 matriculas disponíveis no mesmo ano de 2000, contudo o número
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total de alunos matriculados era de 16.149 alunos. Caracterizando uma situação que não pode
ser definida, mas que se explicaria pela evasão escolar, ou a saída de jovens para estudar em
outra localidade ou ainda o superávit de vagas em relação às necessidades.
Na zona urbana encontram-se 14 estabelecimentos de ensino fundamental mantidos pela
municipalidade e na zona rural, 13 estabelecimentos; conta ainda com 17 estabelecimentos de
ensino estadual de nível fundamental e médio; uma Escola Agrícola Federal e em nível
superior tem-se o curso de Pedagogia que está instalado no Instituto de Educação Oswaldo
Aranha vinculado à Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - UERGS, além de sediar
um campus da Universidade da Região da Campanha – URCAMP.
As deficiências do município na área da educação se devem a falta de cursos
profissionalizantes adequados às necessidades regionais; repetência na primeira série do
ensino fundamental; evasão em cursos noturnos; baixa remuneração do magistério; falta de
escola aberta para crianças de rua; atualização e capacitação do magistério; alto custo do
ensino superior; há necessidade de uma revisão dos currículos em nível superior; elevado
custo do transporte escolar rural para os cofres municipais.
Cultura: as principais potencialidades culturais do município são determinadas pelas
festas tradicionalistas, pelos festivais de canto e dança, bem como por eventos como
seminários e encontros culturais. A Comunidade conta com catorze centros de tradição
gaúcha, CTG; cinco clubes sociais; escolas de dança, de samba e clube de futebol, além de
museus, centro cultural e cinema. Para otimizar a potencialidade do setor sociocultural na
região e angariar recursos financeiros à divulgação de eventos culturais, o município necessita
organizar um calendário de festividades e de eventos.
Saneamento Básico: segundo o IBGE (2000), em Alegrete encontram-se 24.208
domicílios particulares permanentes e desses 6.122 domicílios possuem banheiro, esgoto
sanitário e rede geral; 19.893 domicílios possuem alguma forma de abastecimento de água e
rede geral e 20.572 recebem coleta de lixo.
As principais dificuldades para sanear a área urbana encontram-se no: alto custo de
investimentos, deficiência de água potável e ausência de tratamento cloacal.Destaca-se que
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esses problemas não se referem a apenas esse município, mas trata-se de uma situação crônica
do Centro e Fronteira Oeste do Estado já referida por Miorin em estudos realizados em 1992.
Saúde: para atender a população o município de Alegrete possui três hospitais com 242
leitos, um Pronto Socorro Municipal, um Hemonúcleo, um Centro Odontológico, um Plantão
Pediátrico, 14 Postos de Saúde, uma Unidade móvel, Farmácia de Manipulação, Laboratório,
Serviços de Saúde Mental e Fisioterapia. Na rede de saúde relativa aos atendimentos na Rede
do SUS, no ano de 2001, houve 541.235 atendimentos. Destaca-se que o Hospital Santa Casa
de Caridade de Alegrete, funciona como pólo regional, pois atende os municípios vizinhos de
Alegrete, principalmente a população do município de Manoel Viana.
Os problemas enfrentados pelo município em relação à saúde dizem respeito aos poucos
recursos financeiros; irregularidade no repasse das verbas comprometendo as finanças
municipais; insuficiência de leitos e de equipamentos; pouca aplicação de recursos na saúde
preventiva; preço dos planos de saúde e baixo controle do banco de dados.
Setor Primário: Alegrete tem o principal rebanho bovino do Estado com 547.159
cabeças, distribuídas entre 2.257 criadores e o segundo maior rebanho ovino com cerca de
650.000 cabeças, o que lhe confere a condição de grande produtor pastoril. Na agricultura
cultivam-se 41 mil hectares de arroz irrigado representando uma produção anual de
aproximadamente 5 milhões de sacas de arroz em casca. Isso significa que o Município ocupa
o quarto lugar no “ranking” dos produtores desse cereal no Estado.
A estrutura fundiária de Alegrete denota acentuada concentração da terra em classes de
propriedade predominantemente grande justificada pelo domínio do criatório e quantidade de
cabeças de gado existentes, ou seja, tamanho do rebanho. Vale lembrar que se trata do maior
município do Rio Grande do Sul e ocupa 98,62% de sua área com atividades rurais. Desse
modo a agropecuária é a base de sustentação da economia local, segundo as informações do
IBGE (2000). A lavoura de arroz plantada e colhida ocupa 46.000 hectares, desenvolvendo
sistemas de produção diversificados, porém é totalmente irrigada praticando a colheita
mecanizada. O sistema de produção tradicional predomina em 90% das lavouras e cerca de
10% se desenvolvem hoje sob a forma de plantio direto.
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Em 787.300 hectares, total da área do município, encontram-se 2.808 propriedades
rurais, sendo que 1.531 delas detêm até 100 hectares (56,6% do total). A produção de
hortifrutigranjeiros, por exemplo, destinada aos mercados é atividade praticada por não mais
do que 30 produtores. Noventa e cinco por cento (95%) das hortaliças consumidas na área
urbana são adquiridas fora do município, indicando desarticulação ou insuficiência de
interação entre as zonas rural e urbana.
A lavoura de milho se apresenta como atividade dominante das pequenas propriedades,
sendo que 70% da produção, não vai além da porteira, pois é destinada a suprir necessidades
internas. O sorgo é plantado em médias e grandes propriedades para atender ao rebanho. A
soja ocupa uma área de lavoura em torno de 4.000 hectares, cultivados segundo sistema de
uso intensivo de insumos, sementes especificadas e de mecanização, envolvendo áreas de um
número restrito de médios e grandes produtores.
Segundo os dados do IBGE, (2000) a produção de lã, que por um bom tempo foi
importante fonte de renda, em 1999 era de R$ 1.274.883, com 282 ovinos tosquiados
equivalentes a 924 kg de lã.
Hoje, a produção primária de Alegrete está voltada para o mercado interno e externo,
exportando principalmente soja e carnes, destinadas a Europa e países da América Latina,
como o Chile. O arroz produzido encontra beneficiamento no próprio local e atende ao
mercado nacional.
Setor Secundário: no ano de 1998, o município de Alegrete possuía 94
estabelecimentos industriais ativos, cinco a mais do que em 1981, denotando baixo interesse
de investimentos o que resulta em um fraco crescimento industrial. Por outro lado, a indústria
sempre foi menos expressiva na história municipal havendo pequenas indústrias locais, pois
poucas foram as que conseguiram permanecer no município. Atualmente esse setor vem
recebendo incentivos que têm impulsionado as indústrias de beneficiamento da produção
rural, como frigoríficos, descascadoras de arroz, indústrias de reforma e de produção de
máquinas e implementos agrícolas, bem como as fábricas metalúrgicas.
Segundo as informações junto a prefeitura municipal de Alegrete, o distrito industrial
está situado a oeste do centro da cidade, em frente ao Complexo Industrial do Matadouro
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Frigorífico, cujo acesso ao local se faz através da estrada municipal que liga Alegrete ao
município de Itaqui, distando, aproximadamente, 9 km do centro da cidade. A área do distrito
industrial tem 50 hectares com loteamento concluído e dividido em 29 lotes de diversos
tamanhos destinados a implantação de indústrias. Segundo dados do ano de 1998, obtidos
junto a Prefeitura municipal, a infra-estrutura dispõe de água, energia elétrica e arruamento,
porém em visita realizada em dezembro de 2003, o distrito industrial apresentava condições
precárias, praticamente sem arruamento e tendo apenas um estabelecimento locado cujo
funcionamento estava desativado. Tal estado revela o resultado da ineficiência das políticas
gerais de caráter regional para darem continuidade à execução do Projeto de Industrialização
Municipal, o qual após motivar as comunidades municipais a aderirem ao “processo de
desenvolvimento via industrialização”, abandona a idéia deixando às municipalidades o ônus
do desgaste político e administrativo.
O distrito industrial possui licença de instalação junto a FEPAM, que realiza a renovada
anualmente. A prefeitura detém uma tipologia de indústrias que podem se instalar no distrito
industrial, sendo elas: de calçados; de couros; de embutidos; de derivados da carne; de sub
produtos e derivados do arroz e; de farelos.
O setor industrial de Alegrete está alicerçado na produção de arroz, e as principais
indústrias de beneficiamento são: Cooperativa Agrícola Alegretense, CAAL; Pillecco
Industrial de Arroz; Cooperativa Santa Terezinha e Grupo Tigre Cereais responsável pela
produção de arroz ecológico, não utilizando agrotóxicos na produção.
Alegrete disponibiliza também de uma infra-estrutura do que já foi um dos melhores
frigoríficos da América Latina, inaugurado em 1978, com uma área de 320,83hectares,
chegando a abater de 80 a 120cabeças-hora de bovinos e 300cabeças-hora de ovinos. O
frigorífico recebia diariamente animais de diversos municípios do Rio Grande do Sul,
localizado no centro da matéria-prima da fronteira-oeste, atuava como regulador de preços do
setor, garantindo a melhor comercialização para o produtor e promovendo o desenvolvimento
econômico de toda a região.
Setor Terciário: esse setor contribui com 20 % da renda do Município e está
representado pelo comércio e serviços em geral; as organizações militares; os órgãos
públicos; a prestação de serviços; o comércio; os serviços públicos; os profissionais liberais.
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Contudo, segundo avaliação do SEBRAE, houve renovação dos mercados e ocorreu
competitividade aumentando a circulação de recursos financeiros sem que isso fosse capaz de
gerar benefícios para uma parcela significativa da população, pois dos benefícios disponíveis
poucos usufruem.
Transportes: o transporte urbano coletivo para o deslocamento de pessoas conta com
os serviços prestados por duas empresas; Nogueira Transportes Ltda. e Vaucher e Cia Ltda.
Os serviços atendem 14 linhas regulares de ônibus de transporte urbano, detendo um
movimento médio diário de 6.000 a 7.000 passageiros/dia.
No transporte aéreo, o município possui um aeroporto, situado no km 12 da BR-290,
mas não efetua transportes de passageiros.
O transporte ferroviário, reflexo da conjuntura nacional, é deficiente em Alegrete, a
Antiga RFFSA, encontra-se sob direção de América Latina Logística, ALL, que se dedica ao
transporte de carga auxiliando no escoamento da produção.
A prefeitura atende 3.500 km de estradas, cuja preocupação é a atenção à recuperação
do asfaltamento e calçamento das ruas, como ainda à melhoria de estradas e pontes. As
rodovias de acesso ao município são em número de quatro estaduais e uma federal, a BR-290
que liga Alegrete a Porto Alegre, as estradas estaduais são: RS-377, ligando Alegrete a São
Francisco de Assis; RS-56 e RS-507 que ligam Alegrete a Itaqui e a RS-183 que une Alegrete
e Livramento.
O transporte é um dos elementos desfavoráveis ao desenvolvimento municipal, pois não
há conservação das estradas de acesso, há nelas a ausência de sinalização e pavimentação; o
transporte coletivo apresenta problemas de lotação; o centro da cidade sofre com a falta de
vagas para estacionamento; não existem ciclovias; o acesso ao aeroporto, através da BR, é
difícil e este, por sua vez, não disponibiliza linha aérea para passageiros, acrescenta-se a tudo
isso a deficiente exploração do terminal ferroviário.
Os problemas citados tornam-se mais agudos considerando-se que o município de
Alegrete faz parte do “Caminho da Integração do MERCOSUL”, por estar localizado
estrategicamente em ponto eqüidistante entre o eixo Rio de Janeiro – São Paulo e as capitais
platinas, Buenos Aires e Montevidéo.
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Energia Elétrica: a energia consumida em Alegrete era gerada no próprio município,
hoje ela é consumida e proveniente do norte do Estado. A Usina Termelétrica de Alegrete
localiza-se na margem direita do rio Ibirapuitã, na zona urbana de Alegrete. Essa usina que já
foi administrada pela ELETROSUL e GERASUL possui uma potência geradora de 66 MW,
consumindo óleo combustível com baixo teor de enxofre, porém encontra-se com as
atividades paradas, mas em prontidão para qualquer emergência. Chegava a queimar em um
período de 24h um total de 440 toneladas de óleo com um alto teor de enxofre, que deram
indícios de causar sérios problemas ambientais e de saúde à comunidade local.
O consumo de energia elétrica em Alegrete conta com 26.633 consumidores, que
gastam 8,7 MW. A cidade possui em 95% de sua área pontos de iluminação pública.
O maior problema quanto à energia elétrica em Alegrete se deve à assistência precária, à
falta constante e à queda de tensão, além do alto custo de implantação da eletrificação rural.
Questões Ambientais: a Secretaria de Meio Ambiente do município desenvolve um
projeto desde junho de 2001 de coleta seletiva do lixo através de postos de entrega voluntária,
iniciou-se no centro da cidade, mais tarde foram os pontos estratégicos, com a participação de
Escolas, Associação de Bairros, Patrulhas Verdes e outras entidades. Basicamente, o projeto
consiste em colocar tonéis, com separações coloridas, para a deposição de recicláveis, em
determinados pontos da cidade.
Alegrete enfrenta problemas ambientais graves como o do caso da usina termelétrica,
onde foi constatado que devido a queima do óleo libera-se alto teor de enxofre e esse fato deu
indícios de causar sérios problemas ambientais e de saúde à comunidade alegretense.
Outro problema existente diz respeito às áreas de alagamento e as enchentes na zona
urbana. Para corrigir tais azares da natureza, desenvolve-se um projeto de manejo ambiental
de áreas alagáveis, prevendo o monitoramento e a fiscalização de áreas de preservação
permanente na zona urbana, objetivando proteger e preservar as áreas de preservação
permanente do rio Ibirapuitã, na zona urbana e impedir novas edificações na área de
preservação permanente. Para isso deverá motivar os moradores de áreas alagáveis a se
transferirem para novos loteamentos, recomendar o plantio de espécies nativas nas margens
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do rio e sugerir ao Executivo que as áreas desocupadas sejam imediatamente transformadas
em Parques.
O problema mais atual diz respeito aos esgotos a céu aberto e sem tratamento na zona
urbana do município, trata-se sem dúvida do principal problema ambiental. Na Administração
de Oswaldo Aranha, em 1932, Alegrete teve grandes avanços, para a época, em termo de
coleta de esgoto. Praticamente toda a área central da cidade era saneada com uma “moderna”
rede coletora. Dessa época até o presente nada foi feito em melhoria do processo. Com o
crescimento do calçamento e pavimentação de ruas ocorreu, proporcionalmente, o aumento da
rede de esgoto coletora do escoamento pluvial. Os moradores que liberavam seus dejetos em
fossas sépticas ocasionava problemas, pois as fossas extravasavam constantemente devido à
impermeabilidade do subsolo (basalto) e a inadequada técnica utilizada na construção das
fossas; viram no esgoto pluvial uma maneira de resolverem seus problemas ligando os
esgotos.
O maior impacto ambiental causado pelos esgotos reside no fato de que os mesmos, na
sua totalidade são liberados in natura no leito do rio Ibirapuitã. A carga orgânica é tão alta
que o rio precisa desprender grande quantidade de oxigênio dissolvido para mineralizar os
materiais, principalmente no verão, quando logo abaixo do trecho que percorre a zona urbana,
o rio se torna anaeróbico ocasionando inclusive a morte de peixes e crustáceos.
Está em andamento um outro projeto, também junto da Secretaria de Meio Ambiente
para a coleta e tratamento do esgoto doméstico da cidade de Alegrete, que tem por objetivo a
coleta do esgoto doméstico da cidade, tratamento e saneamento nos bairros e vilas, além de
combater a poluição e a contaminação no rio Ibirapuitã.
A questão de Resíduos Sólidos Domésticos de Alegrete pode ser vista por dois ângulos:
Primeiro - Coleta - A Prefeitura possuí cinco caminhões coletores de lixo, sendo que
nem sempre todos estão operando (oficina). A coleta ainda é deficitária, pois a grande
quantidade de lixo depositado em locais impróprios deve-se a esta economia proveniente de
falta de funcionários ou de veículos ou desgaste da frota disponível aos serviços. A cidade foi
dividida em áreas de coleta sendo que na zona central a coleta é diária e nas outras zonas,
mais periféricas ela ocorre com intermitências, conforme a distância do centro da cidade. A
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deposição de lixo em locais impróprios não somente exige que se ofereça melhor coleta, mas
por uma total falta de consciência e educação de alguns moradores. Os locais impróprios
escolhidos para a deposição irregular de lixo normalmente são as margens de estradas e
rodovias, nas entradas e saídas da cidade, bem como próximo a pontes e pontilhões. Os
carroceiros, ao prestarem serviços de frete barato, também contribuem para a deposição de
lixo em locais impróprios.
Segundo - Tratamento - O lixo depois de coletado é conduzido para a reciclagem
realizada em uma usina específica para isso. O local da Usina de Compostagem fica distante
10km da cidade e está instalado junto a RS-377, em direção ao município de Manoel Viana. A
área da usina é de 11hectares e apresenta em sua infra-estrutura um prédio de alvenaria
dividido em escritório administrativo, refeitório, cozinha, vestiários e banheiros; um galpão de
alvenaria, que abriga a prensa e recicláveis, uma usina formada de fossa de recepção, guincho,
moega e correia transportadora; três células de aterro sanitário já preenchidas e fechadas, uma
célula aberta. Na área da Usina também foram construídos os drenos de pluvial e de churume.
Foram construídas duas lagoas, uma anaeróbia e outra aeróbia, para tratamento do churume.
Analisando-se o caso dos engenhos de beneficiamento de arroz, eles foram instalados
originalmente na zona rural ou na zona de transição para a cidade. Com o crescimento urbano
e avanço da malha urbana sobre a zona rural os engenhos agora estão localizados na zona
urbana e os processos de beneficiamento, como o descascamento e polimento do arroz geram
resíduos, principalmente partículas sólidas que, jogadas no ar, causam sérios transtornos de
poluição nas cercanias. A casca do arroz, que era depositada em locais impróprios e, muitas
vezes, queimada hoje obedece a uma orientação de lei municipal. Atualmente são em número
de 17 os engenhos de beneficiamento de arroz, localizados na área urbana ou próximos a ela.
Assim eles só fornecem a casca de arroz mediante autorização da Secretaria de Meio
Ambiente.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente realiza um trabalho de fiscalização, sobre a
poluição, em conjunto com a FEPAM, inclusive já ocorrendo notificação de alguns engenhos.
Muitos deles já apresentam melhorias no tratamento de seus resíduos, adaptando lavadores de
partículas e filtros, porém as reclamações em cada safra continuam.
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Na zona rural, uma das atividades de impacto é a lavoura de arroz, que teve suas
atividades econômicas intensificadas e expandidas no Município na década de 70. Hoje o
arroz é cultivado em torno de 49.000 hectares produzindo 256.025 toneladas, provenientes de
377 lavouras, sendo que mais de 15.000ha de terras de várzea são irrigados com água de rios,
riachos, sangas, etc. Mais de 400 barragens banham o restante das terras plantadas com arroz.
Tal alteração, por si só, causa brutal impacto ambiental. No início da cultura do arroz irrigado,
houve um grande desmatamento no município, devido ao uso de locomotivas (máquinas a
vapor), para o bombeamento da água, consumindo grande quantidade de lenha. No entanto o
desmatamento continua em menor ritmo, mas não menos grave e é efetuado, muitas vezes, em
área de preservação permanente de matas, objetivando aumentar as áreas de plantio.
No entanto, é possível com base em tecnologias disponíveis produzir arroz com redução
ou até mesmo supressão do uso de agrotóxicos e com menor uso de água, utilizando-se de
tecnologias como: sistematização da lavoura, plantio direto, transplanto mecanizado de mudas
e/ou plantio pré-germinado que, combinados com a restrição das culturas às áreas situadas
sobre os terraços aluviais mais afastados dos rios, podem resultar em menor risco de
frustração de safra devido às enchentes e menor impacto ambiental.
No que diz respeito à degradação dos solos, segundo a EMATER de Alegrete, a
formação dos solos do município tem origem em rochas vulcânicas, basalto e rochas
sedimentares, como o arenito botucatu. As rochas vulcânicas abrangem aproximadamente,
60% da área do município e deram origem às seguintes unidades de solo: Escobar, Escobar
fase erodida, Vacacaí, Ibirocí, Jacaquá, Ibicuí Virginia, Uruguaiana, Pedregal, São Borja, e
outros.
As rochas sedimentares compreendem os arenitos e os sedimentos gondwânicos, sendo
que as rochas areníticas são representadas pelo arenito da Formação Botucatu e arenitos
intertrápicos. Estas rochas deram origem às seguintes unidades de solo: Cruz Alta, São Pedro
e Santa Maria, principalmente.
A mais importante degradação do solo, no município, se apresenta sob a forma de
areais. Segundo o "Atlas da Arenização do Sudoeste do RS”, 2001, in Plano Ambiental do
município de Alegrete.(Alegrete, 2000), a região de ocorrência dos areais, está localizada no
sudoeste do Rio Grande do Sul, a partir do meridiano de 54° em direção a oeste até a fronteira
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com a Argentina e a República Oriental do Uruguai. Ocupa uma larga faixa, onde se
localizam os municípios de Alegrete, Cacequi, Itaquí, Maçambará, Manoel Viana, Quarai,
Rosário do Sul, São Borja, São Francisco de Assis e Unistalda. Esses dez municípios
totalizam uma área de 30.872,48 km2 e uma área de areais de 3,69 km2.
Em Alegrete, predomina a ocorrência de areais nas bacias hidrográficas do arroio
Lajeado Grande, São João e Sanga da Divisa, localizados na porção centro-leste do
município.
Os solos arenosos são pobres em nutrientes e retêm pouca umidade. Essas
características associadas à intensa mobilidade dos sedimentos pela ação da água e dos
ventos, dificultam a fixação de uma cobertura vegetal. Como conseqüência dessa ação
conjugada de fatores, o município já apresenta em torno de 1500ha de focos de arenização,
com solo desnudo.
3. Estratégias Preliminares de Ação para o Desenvolvimento Regional de Alegrete
A chegada da lavoura de arroz, com seus métodos capitalistas de organização da
produção e do trabalho, embora se constitua em um dos principais itens da formação dos
Impostos sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) recolhidos pelo Estado, ainda é
restrita enquanto prática e não exerce a hegemonia representada pela produção pecuarista que
de longe é a atividade mais importante e ocupação principal de cerca de 95% das propriedades
rurais do maior município em extensão territorial do Rio Grande do Sul.
Praticada essencialmente por descendentes de italianos que, no auge da chamada
modernização (décadas de 60 e 70), expandiram a fronteira agrícola para as terras de
latifúndio, a lavoura de arroz representa ainda hoje, para os estancieiros, uma boa alternativa
para a obtenção da renda da terra através do sistema de arrendamento.
Descendentes de portugueses e espanhóis criam bovinos e ovinos, a produção agrícola,
constituída por milho, fundamentalmente, é restrita ao consumo da propriedade e só
excepcionalmente comercializado o seu excedente. Descendentes de italianos produzem arroz
com modernas tecnologias e utilizando mão-de-obra assalariada, adotando formas de
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organização enquadradas no sistema de empresa capitalista. Porém, na maioria das vezes, o
agricultor também detém a criação e, combinando as duas atividades lavoura e criatório,
obtém um rendimento econômico significativo frente a realidade regional.
Para o pecuarista, o trabalho agrícola e o manejo da terra são considerados uma
atividade subalterna, esta postura se verifica tanto no grande como no pequeno fazendeiro.
Ocorre que a pecuária extensiva tem um resultado econômico diferenciado entre a produção
na estância (latifúndio) e a produção na pequena propriedade. Na primeira gera lucro,
concentração de terra e riqueza; na segunda provoca a inserção periférica no mercado, baixa
lucratividade e escassa produção, renda insuficiente para atender as demandas da propriedade
e da família.
Para Fonseca (1994), com base na obra do sociólogo italiano Gramsci, as dificuldades
para o desenvolvimento da pequena propriedade na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul se
devem, fundamentalmente, embora não só a ela, à cultura do latifúndio arraigada na sociedade
e transmitida de geração em geração pelo exercício da hegemonia da classe estancieira, ou
latifundiária. A estância pastoril, além de ser um meio de vida também é um modo de vida. E
no exercício dessa hegemonia, tanto a ideologia de concepção de mundo, quanto o sistema de
produção do estancieiro tradicional seriam reproduzidos pelas demais classes, notadamente
pelo pequeno proprietário, pequeno pecuarista, que tem na classe latifundiária a sua classe de
referência, isto é, a classe que admira e a que gostaria de pertencer. A concepção de mundo do
estancieiro é reproduzida pelas classes subalternas acriticamente, a difusão da ideologia do
latifúndio, segundo o autor se dá, principalmente, através do Movimento Tradicionalista
Gaúcho (MTG) e pelo modelo de educação experimentado pelas escolas do meio rural.
As explicações para a depressão que vive a “Metade Sul” do Estado são diversas. A
explicação histórica diz que a porção Sul do território gaúcho foi excluída do projeto de
desenvolvimento industrial implantado na porção Norte por razões estratégicas. As demandas
por domínio de áreas de fronteira, travadas com países da Bacia do Prata, teriam determinado
sua ocupação de forma a garantir a posse, deixando o complexo industrial instalado a
distância das lutas com os vizinhos platinos. Por essa razão ocorreu a concentração, nesta
porção do território gaúcho, dos latifúndios definidos por extensas propriedades distribuídas
pela Coroa Portuguesa a militares e a tropeiros que se dedicaram à criação do gado vacum.
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Esta seria a gênese da “vocação” pastoril da “Metade Sul”, bem como o início da história da
grande propriedade, ainda hoje existente.
Inúmeras tentativas de órgãos oficiais de extensão rural em introduzir formas
diversificadas de obtenção de renda resultaram fracassadas, para alguns, sem que explicações
objetivas fossem encontradas para justificar o insucesso. Os que atribuem o insucesso das
iniciativas de aumento de renda a partir da introdução de formas diversificadas argumentam
as condições ambientais diferenciadas que o Ecossistema Pampeano apresenta e, vão além, ao
fazer referência de que nenhum tipo de modelo deve ser “importado” para a área senão criado
aquele que deverá surgir a partir de estudos e avanços tecnológicos preocupados com a
preservação da riqueza ambiental e manutenção do frágil equilíbrio que este Ecossistema
possui.
Há muito que melhorar na zona urbana, como o saneamento, que é precário. O
Município se encontra em posição desprivilegiada no ranking de IDH estadual e nacional, no
campo o êxodo rural tem sua continuidade e os dados de população urbana e rural compravam
isso.
Segundo a análise baseada na Teoria Centro-Periferia do Brasil, as ligações do centro
com a periferia permitem arranjos análogos aos da política tradicional, onde muitos
mecanismos conservadores ou promotores de desigualdade regional continuam a pertencerem
às elites, que através de seu clientelismo beneficiam a estagnação local.
Alegrete, na teoria de pólos de Crescimento de Perroux, pode ser considerada tanto
Periferia como Centro, Periferia em macro escala e Centro se for considerada sua importância
sub-regional. Também pode ser considerada uma região de transição descencional em que há
áreas periféricas de povoamento antigo, podendo ser agrícolas ou declinantes com baixa
produtividade.
Tendo em vista o quadro histórico, cultural e econômico foram eleitas algumas
estratégias de ação para romper a estagnação, como a prioridade aos incentivos em educação,
como veículo capaz de promover mudanças em culturas arraigadas a valores já ultrapassados
e que oferecem resistência às inovações; outro incentivo diz respeito ao setor industrial, o
qual, em curto prazo, pode contribuir na aceleração da dinâmica produtiva.
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Embora a educação não seja responsável pela transformação da sociedade, solucionando
seus problemas e contradições existentes, pode-se, partindo dela, alcançar uma nova
consciência que poderá “construir um novo amanhã”, levando à superação do estado de
dominação e resultando em uma nova ordem social. No município de Alegrete,
principalmente no meio rural, a educação é o subsistema de um sistema maior articulado com
os projetos de desenvolvimento que foram sendo implantados no país que, sempre, priorizou a
diminuição dos índices de analfabetismo, sem questionar os objetivos da educação. Os
estudantes não têm consciência e nem detêm o espírito crítico para tomarem decisões capazes
de introduzir mudanças no meio em que vivem.
Toda a Fronteira Oeste e a Campanha Gaúcha carece hoje de investimentos mínimos de
infra-estrutura, como energia e comunicações. As cidades dessas regiões são poucas e
esparsas se comparadas aos centros urbanos localizados na região da Serra e do Litoral. A
distância entre as sedes dos municípios e as propriedades rurais pode chegar a 100km e a
infra-estrutura de estradas, suas condições de pavimentação e trânsito bem como o
atendimento de energia elétrica às comunidades são as mais precárias. Deixando um exemplo,
o número de pequenas propriedades servidas por eletrificação rural em Alegrete não chega a
50% do total.
Criação de pólos de desenvolvimento local compreendendo distintas localidades dos
municípios a partir de núcleos escolares, onde um técnico agrícola orientaria as atividades de
professores e alunos, prestando, também, assistência técnica a todas as pequenas propriedades
próximas.
O processo de desenvolvimento é um processo qualitativo, integrado e contínuo, as
políticas devem se voltar tanto para o campo como para a cidade, de maneira a integrá-los,
bem como gerar um desenvolvimento a toda a região, visto que os municípios apresentam
problemas estruturais semelhantes aos de Alegrete. O município deve buscar caminhos
próprios para sustentar sua economia, e não depender de forças externas como créditos de que
por muito tempo os pecuaristas se beneficiaram por parte do governo.
Neste processo de desenvolvimento deverá se levar em conta os problemas ambientais
que, como já comentados, são muitos; a diversificação da economia poderá ser a base agrícola
existente seguida da transformação sob a égide de um processo de industrialização; a inclusão
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dos pequenos e médios proprietários também deve ser considerada, através de estímulos e
incentivos à diversificação sustentável de suas economias provocando a formação de um
mercado interno consumidor local e/ou regional. Na região nunca se formou um mercado
interno, os abastados importavam gêneros de outras regiões, e aqueles que não detinham
condições se contentavam com o que o mercado oferece ou então realizam o autoconsumo. A
formação de um mercado ocorre a partir da constituição de um superávit de produção e de sua
diversificação qualitativa, acrescida de uma massa de demanda para o consumo. Isso depende
obviamente da concentração populacional em um determinado espaço.
Referência
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disciplina GCC – 326 – Planejamento Regional. Santa Maria: UFSM, 1999.
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http://www.fee.tche.br . Acesso em 20 Dez. 2003.
FONSECA, V.P.S. A hegemonia do latifúndio pastoril e sua relação com a pequena
propriedade na fronteira Oeste do Rio Grande do Sul – A Contradição do camponês
fronteiriço e a sua concepção de mundo estancieira. Dissertação de Mestrado em Extensão
Rural. Santa Maria, 1994.
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br . Acesso em 05 de Jan. de 2003.
MIORIN, V.M.F. Relatório de Pesquisa: Diagnóstico da Fronteira Centro-Oeste do Rio
Grande do Sul. Santa Maria, 1992: (Relatório de pesquisa financiado pela
FAPERGS/UFSM/ e desenvolvido no LEPeR/GCC/CCNE, 1992).
PERETTI, H. et all. Teoria Centro-Periferia. Trabalho apresentado na disciplina de GCC –
326 – Planejamento Regional. Santa Maria: UFSM, 1999.
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_____. Plano Ambiental do município de Alegrete. Alegrete, 2000.
SEBRAE. Relatório do diagnóstico estratégico para o desenvolvimento municipal de
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