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Estratégias eleitorais e o papel dos municípios na eleição para Câmara Legislativa no Brasil em 2006. 12 Flavio Cireno – pesquisador Recife-Brasil (Fundação Joaquim Nabuco – Ministério da Educação) [email protected] Catia Lubambo - pesquisadora (Fundação Joaquim Nabuco – Ministério da Educação) Recife-Brasil [email protected] Maio de 2009 1 Este trabalho é parte do projeto “Gestão Territorial e Participação Política” financiado pela FUNDAJ/MEC. 2 Este trabalho é uma versão ampliada do artigo “Estratégia Eleitoral e Eleições para Câmara dos Deputados no Brasil em 2006”, inicialmente elaborado para apresentação no IV Congresso da Associação Latinoamericana de Ciência Política, realizado em San Jose, CR, 2008.

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Estratégias eleitorais e o papel dos municípios na

eleição para Câmara Legislativa no Brasil em 2006.12

Flavio Cireno – pesquisador

Recife-Brasil

(Fundação Joaquim Nabuco – Ministério da Educação)

[email protected]

Catia Lubambo - pesquisadora

(Fundação Joaquim Nabuco – Ministério da Educação)

Recife-Brasil

[email protected]

Maio de 2009

1 Este trabalho é parte do projeto “Gestão Territorial e Participação Política” financiado pela

FUNDAJ/MEC. 2 Este trabalho é uma versão ampliada do artigo “Estratégia Eleitoral e Eleições para

Câmara dos Deputados no Brasil em 2006”, inicialmente elaborado para apresentação no IV Congresso da Associação Latinoamericana de Ciência Política, realizado em San Jose, CR, 2008.

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1. Introdução

Dentre os trabalhos recentes, o papel dos municípios tem sido

diversas vezes subvalorizado na análise das eleições nacionais brasileiras. Os

trabalhos realizados sobre as estratégias na arena eleitoral tem se ocupado,

maioria das vezes, de variáveis de determinantes da reeleição ou do distrito

eleitoral como unidade de análise, o que no caso das eleições para a câmara

dos Deputados significa uma análise no nível estadual. Este trabalho tenta

resgatar uma linha de pesquisa proposta por Ames (2001), onde o autor

analisa as condições políticas municipais para tentar explicar o comportamento

dos atores políticos. No caso desse trabalho, estaremos circunscritos a uma

das dimensões utilizadas por Ames, nesse caso a concentração municipal.

Nesse contexto, a questão das eleições proporcionais tem sido

amplamente estudada em seus mais variados aspectos desde o retorno do

multipartidarismo à arena eleitoral brasileira, e importantes contribuições têm

sido prestadas sobre este aspecto. Vários trabalhos têm ajudado a esclarecer

de que maneira se dão as distribuições de preferências entre os eleitores e

eleitos, porém de forma mais recente os trabalhos de Pereira e Rennó

(2001,2003 e 2007), os trabalhos de Ames (1994, 1995, 2003) e os trabalhos

de Samuels (2000a e 2000b), apresentam explicações sobre a taxa de sucesso

e a predisposição a competir dos candidatos ao congresso, conseguindo

resultados expressivos. Porém, tem sido pouco explorado o teste empírico de

como se dão as estratégias de todos os candidatos na eleição à câmara

baixa no Brasil, e quais destas estratégias são mais efetivas. O trabalho

procura analisar o tema para a eleição de 2006 no Brasil, através dos

resultados das eleições levando em consideração o município, o distrito

eleitoral e os movimentos de apoio nos níveis estaduais e federal. O texto está

dividido da seguinte maneira: a segunda parte faz uma breve revisão do tema,

apresentado a literatura e discutindo algumas questões sobre as eleições

proporcionais para o Congresso e estratégias eleitorais e levanta as hipóteses

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do trabalho; a terceira parte apresenta os resultados e a quarta e última parte

tece alguns comentários finais.

2. Uma breve revisão do tema e algumas idéias

Esta seção busca no debate recente algumas explicações para os

determinantes das eleições no Brasil, especificamente em três dimensões: a

primeira delas levanta hipóteses sobre o papel dos municípios na arena

eleitoral, a segunda leva em consideração as especificidades do sistema de

representação proporcional de lista aberta no Brasil, do desenho dos distritos

país e suas conseqüências para a definição das estratégias dos candidatos e a

terceira o sistema de apoios que o candidato tem em outras esferas e quais as

suas conseqüências eleitorais.

2.2 – O município como unidade accountable do jogo eleitoral

O município como unidade de análise do sistema de estratégias3

utilizadas no jogo eleitoral para a câmara federal não tem sido alvo de muita

atenção por parte dos estudos sobre eleições no Brasil. Na análise pós

redemocratização, após pesquisa realizada na literatura produzida no Brasil,

apenas os trabalhos de Ames (1995 e 2003) apontam para essa direção, e

além desses, os trabalhos de Pereira e Rennó (2001, 2003 e 2007) e Samuels

(2000a e 2000b) ao analisar o poder dos governadores, tentam gerar

determinantes das decisões de estratégias dos candidatos à câmara baixa.

Em complemento, o trabalho de Soares e Terron (2008), lança luz aos padrões

de votos para presidente no segundo turno da eleição presidencial, utilizando

técnicas de análise geoespacial, e por isso, utilizam o município como unidade

de análise. Fernando Limongi e dois colaboradores, em trabalho recentemente

apresentado na ANPOCS4 apresentam uma análise dos padrões de fidelidade

3 O termo estratégia é utilizado aqui no plural de forma intencional, uma vez que podemos

entender o jogo eleitoral como um jogo em múltiplas rodas, no qual os recursos disponíveis aos atores não estão definidos na primeira rodada, fazendo com que os jogadores e adéqüem às condições do processo. 4 O trabalho, pela falta de autorização necessária para citá-lo, será apenas anotado no trabalho

e não referenciado, por minha presença na apresentação do congresso.

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eleitoral baseado em locais de votação, porém com foco nas eleições

majoritárias.

Contudo, a hipótese que se tenta lançar nesse trabalho é a de que o

município, por algumas características peculiares derivadas do federalismo

brasileiro recente, se transforma em uma instância decisiva na definição de

estratégias do jogo eleitoral. Essas características giram em torno da noção de

que o município é uma unidade accountable no jogo político, dadas as

seguintes condições: a) afora o jogo eleitoral poder ser interpretado como um

jogo repetido, e o próprio processo político também; b) dado ponto anterior,

existe uma exitosa aliança entre representantes da câmara federal e os

prefeitos ou grupos políticos de oposição na consecução ou tomada de poder

nos municípios e c) o município, por causa das características anteriores, se

torna uma unidade accountable no jogo político.

Quanto ao primeiro ponto, podemos entender que o jogo político do

Brasil, ao entendermos que as eleições, até por suas diferenças de calendário,

pode ser analisada como um jogo em múltiplas rodadas entre a esfera

municipal e a esfera estadual/federal, uma vez que essas eleições se revezam

de dois em dois anos. Embora levando em consideração que o jogo político-

eleitoral é naturalmente multidimensional, e por isso de difícil modelagem,

podemos levantar a hipótese que o mesmo é montado estrategicamente com

base nas diferentes arenas disponíveis aos atores. Porém, esse trabalho

analisará apenas uma dimensão: a do jogo municipal X estadual/federal5.

Esse jogo, os participantes, mesmo os aliados, são ameaças potenciais

e cooperadores ao mesmo tempo, uma vez que os apoios são frouxamente

institucionalizados e as possibilidades de comportamentos oportunistas são

altas. Nas eleições nacionais para a câmara baixa, um determinado candidato

é competidor de todos os outros candidatos, e ao mesmo tempo coopera com

5 Peres e Carvalho (2008) levantam a necessidade de uma análise mais aprofundada desse

fato, ao fazerem uma revisão dos estudos legislativos brasileiros.

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os candidatos de seu partido ou coligação6. Como complemento, as barreiras à

entrada na competição para a câmara baixa é pequena, uma vez que o número

de candidatos que os partidos e coligações podem apresentar varia de 150% a

200% do número de vagas por distrito, respectivamente. Dessa forma, os

políticos coexistem em um ambiente de alta incerteza, onde estratégias de

jogos repetidos podem ser aplicadas para diminuí-las7.

Para fins analíticos, podemos supor que a forma através da qual essa

estratégia se estabelece, pode ser através do uso de políticas de pork barrel8,

da seguinte forma:

Quadro 1 – Fluxograma do processo de apoios à câmara Federal

6 Quanto às coligações, pode existir cooperação para o candidato a governador e presidente

sem que os votos desse partido sejam contados para a eleição proporcional. A seção seguinte mostra como se dão estes casos. 7 No caso específico, uma estratégia que se encaixa bem no cenário é a de tit-for-tat. Nessa

estratégia, utilizada em jogos repetidos, o ator X faz o primeiro movimento, cooperativo, beneficiando o ator Y. Isso pode fazer com que o ator Y faça um movimento também cooperativo, e caso se confirme, diminui-se os custos de transação, levando a uma estratégia cooperativa. 8 Escolhas pork barrel são formas através das quais os políticos “coletam” seus votos nas

eleições seguintes através do carreamento de recursos para as suas bases.

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O processo acima analisa o papel municipal das eleições federais para a

câmara, onde existe uma aliança entre os municípios (representadas pelo

prefeito) e os deputados federais e candidatos que atuam nesse campo,

tornando o município uma unidade acccountable do processo. Isso se dá pelo

fato de que as formas de verificação dos outcomes são facilmente

identificáveis, através do trade off entre votos transferidos e obras carreadas,

nos dois sentidos, tanto do deputado com relação aos líderes locais (através de

votos obtidos nas eleições), quanto dos líderes locais com relação aos

deputados (através de obras conseguidas para o município) . Dessa forma, de

dois em dois anos, a aliança entre os líderes locais e “seus” deputados federais

passa por um processo de accountability9.

Porém, o processo acima tem identificados inicialmente três problemas e

uma questão a ser colocada: em primeiro lugar, esse processo funciona melhor

quando a prefeitura está sendo comandada pelo político local que apóia o

deputado, uma vez que grande parte das políticas federais no município a partir

da segunda metade da década de noventa é executada pelo município, o que

pode gerar alguns problemas de confiança e reconhecimento das políticas aos

grupos de oposição que as conseguirem. Um segundo problema é apontado

por Pereira e Mueller (2002, p. 281), onde o uso estratégico dos recursos das

emendas individuais por parte do governo é assim descrito:

“Estamos sugerindo que o governo tem bons motivos para

permitir que os parlamentares emendem o orçamento (...) A

razão disso é que a aprovação de emendas não é o passo final

no processo orçamentário. (...) Cabe ao Executivo a

incumbência de liberar os recursos para as despesas

especificadas no orçamento. E as regras concedem ao governo

uma grande parqueza na decisão de quando e quanto será

executado.(...) Isso põe nas mãos do governo um importante

instrumento para recompensar ou punir os congressistas de

9 Em recente encontro profissional, um prefeito do interior de Pernambuco declarou que, entre

prefeitos e lideranças locais, o deputado federal Inocêncio Oliveira (PR/PE) tinha representação estabelecida em 95 municípios perdendo apenas para o Governador do Estado, e contava com 45 prefeitos eleitos aliados, o que significa mais de 25 % das prefeituras do Estado.

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acordo com o grau de apoio ou de oposição que lhe

proporcionam durante o ano.”

Um terceiro problema apresentado para que o modelo acima é o fato de

que as carreiras políticas não são estáticas, ou seja, o apoiador de hoje é o

competidor de amanhã, nos dois sentidos do fluxo10. Como um último senão,

sendo mais uma anotação do que um problema já estabelecido, a recente

decisão do TSE11, praticamente inviabiliza a troca de partidos para detentores

de mandato legislativo, tornando mais difícil a migração dos apoios,

principalmente no sentido dos prefeitos aos deputados. Mesmo assim, o

resultado esperado é que os deputados mais concentrados nos municípios

tenham uma maior chance de se eleger ou reeleger, quanto maior seja a sua

concentração municipal.

2.1 - Estratégia Política e o sistema eleitoral de lista aberta no

Brasil

Inicialmente, ao analisarmos os candidatos envolvidos em uma

eleição, levamos em consideração que os candidatos à Câmara Federal levam

em consideração a melhor estratégia, escolhendo entre uma série de opções

para montarem as estratégias de campanha, e consequentemente, vencer a

eleição. Porém, existem condições nas quais os candidatos não são

competitivos, sem chances de se eleger, que podemos dividir basicamente me

dois grupos: no primeiro deles, os candidatos podem não ter o objetivo de se

eleger, ou seja, a candidatura de um político ao cargo de deputado pode ter

objetivo diverso ao da sua eleição, objetivando por exemplo, o aumento de sua

exposição no meio político e entre a sua constituency12, aumentando suas

chances para outro cargo em sua localidade ou região. Este tipo de acordo é

comum na política brasileira, e conta com a anuência tácita dos líderes políticos

10

Tanto os prefeitos podem se aventurar a uma campanha federal, quanto os deputados serem candidatos a prefeitos. Em um trabalho em execução, tenho evidências que essas probabilidades aumentam consideravelmente tanto quanto aumenta o tamanho do município. 11

A decisão do TSE vale a partir do dia 27 de março de 2007, não sendo válida para as eleições de 2006. 12

Na base analisada há um exemplo desta argumentação. Entre os 43 integrantes da base que declararam como ocupação principal o cargo de vereador, apenas 4,7% (2 vereadores) se elegeram, enquanto a proporção de eleitos não-vereadores é de 8,6% (101 em 1068).

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locais, regionais e nacionais. O interesse dos líderes políticos reside no fato da

candidatura ser um porto seguro para se investirem recursos para as

campanhas majoritárias13, bem como servirem para a formação de “cauda”

partidária14. Um segundo grupo de candidatos não possui o set de informações

necessárias para definir suas chances de vitória, e geralmente são levados à

candidatura por aspirações pessoais, mas sem reais chances de eleição. Este

tipo de candidatura é estimulada em vários partidos e coligações, para a

formação de uma boa “cauda”.

Isto pode gerar alguns problemas quanto à determinação efeitos das

variáveis, principalmente no que toca às chances de eleição. Por isso, ao

trabalharmos com os dados dos candidatos à eleição, os dividimos entre

candidatos competitivos e não competitivos. Para consideramos competitivos

apenas os candidatos que alcançaram metade dos votos do último candidato a

conseguir uma cadeira no respectivo Estado15. Logo, o resultado esperado é

que o fato de ser competitivo em uma eleição traga vantagens nas chances de

um determinado deputado se eleger. Porém, a variável competitividade é

endógena, uma vez que os candidatos não competitivos não irão se eleger.

Para contornar o problema, optamos por utilizar dois modelos distintos, um

para o total da amostra e outro apenas para os candidatos competitivos.

O segundo ponto a ser tratado é o grau de distorção na

representação dos distritos (Estados) existente nas eleições para a câmara

baixa. Segundo Nicolau (1997), utilizando uma definição de Taagepera e

Shugart (1989), o grau de distorção as eleições na câmara baixa no Brasil pode

13

Neste caso específico, o candidato é parte de um jogo seqüencial que envolve a indicação da candidatura a outros cargos na eleição subseqüente, onde embora as lideranças partidárias não tenham o poder discricionário de indicação, tem condições de tornar o processo mais difícil. Dessa forma, o jogo político é o do tit-for-tat, e a cooperação, na maioria das vezes, é a estratégia dominante. 14

Por causa do Sistema Eleitoral brasileiro, que concilia o método de alocação de cadeiras conhecido como fórmula D’hondt, distritos grandes e alto número de candidatos permitidos por partido ou coligação (150% das vagas párea os partidos e 200% para as coligações), candidatos não competitivos são extremamente importantes para a alocação das cadeiras, sendo uma estratégia cuidadosamente escolhida pelos candidatos, partidos e coligações, dado o contexto de uma determinada eleição. 15

No caso de São Paulo, o último candidato a ser eleito teve apenas 11.132 votos, uma vez que a fórmula de alocação utilizada permite este tipo de distorção. Porém, para manter um único critério para toda a amostra, foi considerada também a metade dos votos do último colocado.

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ser definido como “... uma patologia do sistema de representação”, levando ao

surgimento do que poderíamos chamar de super ou sub-eleitores, onde o voto

de um eleitor de um estado super-representado vale muitas vezes mais do que

o voto de um eleitor de um Estado sub-representado na eleição parlamentar16.

Esta característica faz com que as estratégias para as eleições nesses Estados

sejam bastante diferentes17.

Ao observarmos a tabela 1, podemos notar que a variância entre os

distritos é grande em número de votos, quantidade de competidores, número

de votos necessários para a eleição. Por exemplo, enquanto no Amapá, a

razão entre vagas e votos nominais é de 33.369 por vaga, em São Paulo a

mesma razão é 257.362, 7,7 vezes maior. Outro exemplo diso e a quantidade

de competidores, que pode variar entre 50 no Acre e 952 em São Paulo.O

resultado esperado é que diferentes estratégias de campanha devam ser

escolhidas entre os candidatos vencedores nos diversos estados. Para isso,

utilizamos um set de variáveis dummy, onde o Estado São Paulo é omitido18.

16

Utilizando apenas os votos dados aos candidatos, sem contar os de legenda, a relação é 1 para 7,7 entre Amapá e São Paulo 1 para 4,62 entre Amapá e Pernambuco e 1para 1,67 entre Pernambuco e São Paulo. 17

Ames (2005), Nicolau (2006) e Anastasia (2007) exploraram este tema recentemente. desses autores. 18

O estado de São Paulo, mais populoso do país, é o estado com o maior grau de distorção de representação, por causa do disposto no artigo 45, parágrafo 1° da constituição, que determina que o número de deputados não pode ser inferior a 8 nem superior a 70. Caso o princípio da proporcionalidade fosse observado, o Estado de São Paulo deveria ter 144 deputados, de acordo com o número de eleitores e o tamanho da população. O estado foi escolhido uma vez que em tese, é mais difícil eleger um Deputado Federal no Estado.

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Tabela 1 – Dados sobre eleições nos Estados Brasileiros (2006)

TODOS ELEITOS

CANDIDATOS ELEITOS

MAIS VOTADO MÉDIA

MENOS VOTADO

VOTOS NOMINAIS MÉDIA

MENOS VOTADO

VOTOS NOMINAIS

VOTOS POR VAGA

AC 50 8 28.748

5.816,64 15

290.832 19.655,50 14.785 157.244 36.354

AL 82 9 106.593

15.170,35 25

1.243.969 79.993,78 67.784 719.944 138.219

AM 78 8 147.212

16.538,46 33

1.290.000 110.161,50 81.229 881.292 161.250

AP 63 8 29.547

4.237,32 5

266.951 15.668,00 9.009 125.344 33.369

BA 216 39 436.966

27.108,51 63

5.855.439 113.471,00 27.729 4.425.369 150.139

CE 145 22 667.830

25.850,93 20

3.748.385 129.189,91 44.647 2.842.178 170.381

DF 106 8 129.771

11.618,66 32

1.231.578 80.970,50 55.917 647.764 153.947

ES 83 10 120.821

19.351,22 119

1.606.151 81.206,60 33.863 812.066 160.615

GO 110 17 201.229

23.668,85 144

2.603.574 95.737,18 49.949 1.627.532 153.151

MA 154 18 139.294

16.864,43 13

2.597.122 94.033,89 61.095 1.692.610 144.285

MG 528 53 294.199

16.833,16 15

8.887.909 103.504,60 35.681 5.485.744 167.696

MS 70 8 118.529

15.614,73 38

1.093.031 79.893,63 55.179 639.149 136.629

MT 92 8 128.851

14.374,46 9

1.322.450 81.360,38 52.401 650.883 165.306

PA 137 17 311.526

20.717,15 80

2.838.249 114.602,53 42.738 1.948.243 166.956

PB 87 12 168.301

20.073,18 37

1.746.367 114.580,83 39.361 1.374.970 145.531

PE 198 25 205.212

18.983,71 3

3.758.775 111.989,84 56.247 2.799.746 150.351

PI 83 10 160.310

17.343,76 10

1.439.532 94.029,50 42.151 940.295 143.953

PR 258 30 210.674

19.227,57 62

4.960.712 111.039,37 63.032 3.331.181 165.357

RJ 707 46 293.057

10.493,71 16

7.419.055 94.086,28 23.459 4.327.969 161.284

RN 68 8 195.148

21.809,13 21

1.483.021 134.779,38 69.277 1.078.235 185.378

RO 70 8 65.420

9.400,97 227

658.068 36.620,00 26.573 292.960 82.259

RR 81 8 16.211

2.212,53 2

179.215 11.380,63 8.153 91.045 22.402

RS 279 31 271.939

19.751,27 37

5.510.604 112.273,55 44.472 3.480.480 177.761

SC 131 16 174.511

22.908,77 62

3.001.049 106.253,81 65.770 1.700.061 187.566

SE 48 8 115.466

18.892,46 15

906.838 77.334,63 41.850 618.677 113.355

SP 952 70 739.827

18.923,68 23

18.015.340 155.065,71 11.132 10.854.600 257.362

TO 70 8 43.150

9.036,84 2

632.579 35.035,63 28.626 280.285 79.072

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2.2 - Apoio eleitoral e estratégia

O segundo conjunto de considerações a serem feitas sobre

estratégias políticas diz respeito aos padrões de apoio que os candidatos

conseguem para suas campanhas. Inicialmente, Ames (1994, 1995, 2003) faz

relação entre o apoio municipal recebido pelo candidato à reeleição e até

mesmo para a presidência da república.

Segundo o autor, os candidatos “em face de um Sistema

Eleitoral que inclui como um das principais características o Sistema

Proporcional de Lista Aberta, distritos grandes e de multi-membros,

candidaturas selecionadas a partir de Unidades Subnacionais ativas e

a possibilidade de reeleição imediata, a maioria dos deputados presta

pouca atenção a apelos ideológicos” (Ames, 1995, p.430).

Prosseguindo no texto, Ames afirma que os candidatos procuram

redutos seguros e municípios vulneráveis, e tentam encobrir as próprias

fraquezas eleitorais jogando o jogo que com ele se apresenta. Ou seja, em

outras palavras, a dominância municipal é um fator importante para a eleição,

porém faz com que a estratégia do candidato seja perigosa, uma vez que o

grau de competição é alto. Pereira e Rennó (2007) , trazem esta característica

para a reeleição dos deputados na eleição de 2002 e para um jogo de rodadas

repetidas, com certeza a concentração espacial é um fator de risco para os

deputados. Levando em consideração todos os candidatos, essa estratégia não

se mostra tão arriscada assim, uma vez que a dominância municipal, seja

através de pork ou não, traz inegáveis vantagens no total de votos. Porém, a

dominância municipal traz um aumento substancial de custos na campanha,

uma vez que manter a influência em vários municípios ao mesmo tempo exige

alocação de recursos concentrada espacialmente. Ou seja, o resultado

esperado é de que a variável concentração eleitoral municipal seja positiva.

Dessa forma, a variável deve apresentar efeitos até um determinado limite,

porém tornado-se inefetiva depois disso na consecução de mais votos.

Em se tratando de apoios à Câmara dos Deputados, Samuels

(2000), argumenta que o apoio dos governadores é o que realmente importa na

decisão das vagas para a Câmara dos Deputados uma vez que “... variáveis

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subnacionais dirigem as eleições para o Congresso Nacional: candidatos se

juntam em uma coalizão política puxada por um candidato a governador, e esta

candidatura, e as eleições governamentais dirigem a candidatura para o

Congresso em cada Distrito/Estado”19 (Samuels, 2000, p.241). Dessa forma, a

eleição se daria em dois estágios, com a política nacional se formando a partir

da política estadual, ao menos em sua eleição para o Congresso.

Contra o argumento de Samuels, poderíamos levantar a hipótese

que as coligações e eleições estaduais movidas pelos interesses locais, neste

caso, municipais, e que na verdade o que se dá é um consórcio entre

candidatos a deputados e candidatos a governador na busca de apoios locais.

Assim, bem como o governador apóia os candidatos a deputado federal, os

candidatos a deputado federal apóiam a candidatura a governador20 havendo

instâncias subnacionais decisivas na montagem de ambas as candidaturas.

Contudo, a variável que seria incluída no modelo foi excluída por correr o risco

de apresentar uma inversão de causalidade. Ou seja, ao atribuirmos o efeito do

apoio do governador no modelo, estaríamos na verdade computando o apoio

do deputado ao governador, e não o contrário.

Porém, o apoio do governador à época da eleição não pode ser

desprezado, uma vez que é um instrumento de pork bastante eficiente, uma

vez que os poderes discricionários do governador para alocação dos recursos

na constituency do candidato é tão efetiva quanto os recursos que este

candidato pode carrear do governo federal, porém mais simples de conseguir.

Dessa forma, o apoio do governador seria importante para a eleição do

deputado. O resultado esperado é que o apoio do governador influencie

positivamente nas chances de eleição do candidato.

19

Esta construção não leva em consideração a reeleição dos candidatos a governador, que a partir do momento que não podem mais se candidatar, se converteriam em lame ducks (pato coxo em tradução literal, pessoa ou situação sem chance de sucesso) e o fato do candidato a deputado estar em uma candidatura que tem apoio do antigo governador que não pode mais se eleger, poderia ter um efeito negativo na base. Porém esta hipótese não foi testada uma vez que dada a amostra de três estados utilizada, em dois estados e 95% dos casos produziria colinearidade perfeita. 20

Como exemplo, a mídia especializada nas eleições de 2006 para Pernambuco atribui ao Deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE), que controla várias prefeituras através de alianças e apoio a eleições de prefeitos, uma parcela significativa dos votos conseguidos pelo atual governador Eduardo Campos.

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O apoio do Presidente da República também é uma variável

importante na explicação do sucesso eleitoral dos candidatos a deputado.

Pereira e Rennó ( 2007), atribuem ao apoio do Presidente, principalmente se

candidato à reeleição um alto efeito sobre as chances dos deputados se

reelegerem.O fato do Presidente ser candidato reeleição gera um efeito de

coattail (rabo de casaca, na tradução literal) onde os candidatos apoiados por

um presidente candidato à reeleição têm mais chances de se reeleger. Porém,

Ames (1994), propõe um modelo espacial de apoio para a eleição presidencial

de 1989, onde o papel das pequenas cidades no apoio ao Presidente da

República são muito importantes. O argumento de Ames se baseia em duas

premissas; a primeira delas é a de que “o Governo Central distribui pork

primeiramente aos Municípios e secundariamente aos Estados” (p.97), e a

segunda de que “como resultado, o Presidente tem que persuadir os prefeitos a

persuadirem seus deputados para pagar de volta a generosidade presidencial”.

Se estas premissas correspondessem à realidade da dinâmica política

brasileira em 2006, haveria o mesmo problema que encontramos em Samuels,

só que de maneira diferente: ao invés do apoio do Presidente, o efeito que

estaríamos encontrando seria local, e não nacional. Porém, Pereira e Mueller

(2002), mostram que essa lógica se inverteu: segundo os autores “... o

Executivo permite deliberadamente que os parlamentares façam emendas ao

orçamento a fim de usar estrategicamente a apropriação destas como

mecanismo para coordenar e disciplinar a sua coalizão no Congresso.” Ou

seja, na dinâmica atual do Pork Barrel se inverteu, na medida em que o

deputado é o elo de ligação entre os prefeitos e os recursos. Para o caso

específico da eleição presidencial de 2006, o apoio do Presidente,

principalmente na região Nordeste era alto, dada a ampliação dos programas

de transferência de renda do Governo Federal, principalmente o Bolsa

Família21. Dentro desse contexto, o apoio presidencial na eleição de 2006, em

especial no nordeste, era um produto desejado pelos políticos. Porém, como

21

No governo Fernando Henrique Cardoso, o programa se chamava Bolsa Escola e atendia tão somente pais de crianças matriculadas na Rede Pública de Ensino dentro de uma determinada idade. Afora isso, o Benefício de Prestação Continuada (BPC), atende a pessoas em situação de risco social, como portadores de deficiências e aposentados que não contribuíram para a Previdência.

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medir o apoio do presidente? Os partidos da coligação presidencial na eleição

não são um bom indicador, uma vez que no presidencialismo de coalizão

brasileiro não é raro que partidos ou coligações lancem candidatos distintos,

mas façam parte da mesma colaizão de governo. Amorim Neto (2002) analisa

as colaizões da democracia recente brasileira e demonstra que a estabilidade

do governo está fortemente ligada à proporcionalidade da distribuição de poder

dessas coalizões. O mesmo acontece com Figueiredo (2007), analisando a

governabilidade nos períodos FHC e Lula. Nesse caso a coalizão de governo é

a melhor Proxy para apoio do presidente. Nesse caso, o resultado esperado é

que o apoio do Presidente se converta em votos aos candidatos a deputado

federal.

Um outro ponto a ser discutido é o efeito da candidatura à reeleição

de um determinado deputado, e quais os resultados esperados. Pereira e

Rennó (2007) apresentam dados de eleições entre 1950 e 2002, que indicam

um alto grau de reeleição entre os deputados brasileiros (média de 67%) , e um

número de deputados candidatos à reeleição (68%). Logo a candidatura à

reeleição tem um papel importante na chance de sucesso dos deputados se

elegerem a uma cadeira. Isso se dá por dois motivos: o candidato à reeleição

tem acesso a mais recursos (pork barrel e credit claiming entre outros); Por

outro lado, o candidato à reeleição já passou por outro processo eleitoral

semelhante antes, conhecendo as regras do jogo. O resultado esperado é que

a candidatura à reeleição apresente efeitos positivos na chance do candidato

se eleger.

3. Modelo e Variáveis

Para testar as hipóteses acima, recorremos a duas estratégias

distintas: em um primeiro momento testamos as variáveis discutidas em um

modelo logit, tendo como variável dependente a chance de se eleger para uma

cadeira da câmara, com toda a base de candidatos,e o repetimos em um

segundo momento, apenas com os candidatos considerados competitivos.

Após este primeiro momento, utilizamos um modelo de mínimos quadrados

ordinários (MQO), utilizando como variável dependente o logaritmo neperiano

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dos votos conseguidos pelos candidatos, e o repetimos duas vezes: uma vez

para os candidatos considerados competitivos, e uma segunda vez apenas

para os candidatos eleitos.

3.1 Variáveis no Modelo

Inicialmente, para testarmos as premissas propostas nesse trabalho

utilizamos como variáveis dependentes as seguintes variáveis:

3.1.1 Variáveis dependentes

As variáveis dependentes dos modelos são as seguintes: para o

modelo binomial é o logito da chance de se eleger a uma cadeira na

câmara dos deputados, e no caso da regressão linear por MQO é o

logaritmo neperiano dos votos conseguidos pelo candidato. Esta

conversão da variável resposta se mostrou necessária para corrigir

problemas de heterocedasticidade do modelo.

3.1.2 Competitividade

Foram considerados competitivos os candidatos que conseguiram,

no mínimo, metade dos votos necessários para o preenchimento a

última cadeira em cada estado independente de coligação. Porém a

competitividade é endógena aos modelos, por isso foi adotada a

estratégia de dois modelos para cada tipo de equação.

3.1.3 Dummies para os Estados

Estas variáveis foram incluídas no modelo como controle das

condições específicas de cada um dos estados e das suas

diferenças com relação às distorções apresentadas pelo sistema de

lista aberta no país quanto às estratégias escolhidas pelos

candidatos, e omitido o estado de São Paulo.

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3.1.4 Índice de concentração eleitoral municipal

Foi gerado o índice de dominância municipal proposto por Ames

(2003, p. 65), onde o índice é o produto da proporção dos votos de

um determinado município por um determinado candidato ponderado

pelo peso dessa votação no total de seus votos. Para diminuir o

efeito da distorção que as grandes cidades gerariam neste índice, a

unidade utilizada foi a zona eleitoral, e não o município22.

3.1.5 Apoio do governador

A variável do governador foi medida em termos do pertencimento do

candidato a partidos da coligação do governador candidato à

reeleição ou do candidato apoiado por ele em uma variável dummy.

O pressuposto é o de que os partidos e/ou candidatos que ficarem na

coligação do governador ou do seu candidato terão mais acesso a

pork do que os que não estão. Além disso, a suposição de que a

formação da coligação estadual é um esforço conjunto de ambos os

lados dentro do distrito corrobora essa visão.

3.1.6 Apoio do presidente

Foi gerada uma variável dummy para o pertencimento a partidos da

coalizão de governo à época da eleição o presidente da república,

para medir o efeito de coattail.

3.1.7 Reeleição

A reeleição é amplamente indicada na literatura como um fator de

aumento das chances de um candidato se eleger, e foi medida

22

A variância do tamanho dos sub-distritos tomados como unidade de análise, nesse caso o município pode subestimar o efeito da dominância nas grandes cidades, tendendo a uma “interiorização” dos efeitos da dominância, uma vez que os candidatos votados nas grandes cidades na maioria das vezes irão apresentar uma baixa concentração ou dominância. Dessa forma a estratégia adotada ajuda a diminuir essa distorção.

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através de informações do TSE. Porém não pode ser medido se o

candidato era suplente ou eleito na eleição passada.

3.2 Resultados

Inicialmente foram gerados dois modelos binomiais logit para as chances de

eleição: o primeiro deles para o total da amostra, e o segundo para os

candidatos definidos como competitivos.

3.2.1 Modelo logit

Os modelos logit se apresentaram robustos, com efeitos extremamente altos

e altamente significantes para ambas as amostras utilizadas.

Tabela 2 - Modelos logit para as chances de se eleger

TODOS COMPETITIVOS

indicador_sum 17118,57 23,2205

APOIOGOV 1,411448 1,126414

coalizaopres 1,600661 1,056395

reel2 12,65117 3,041561

Ufac 1,469816 2,61318

Ufal 0,862511 3,548019

Ufam 1,149063 7,443991

Ufap 1,835117 2,211431

UFBA 1,723556 3,190967

Ufce 1,403303 3,189752

Ufdf 1,832156 3,592994

UFES 0,773615 1,296745

Ufgo 0,872139 2,301962

Ufma 1,078307 4,275634

UFMG 0,693742 1,868121

Ufms 1,121082 5,816616

Ufmt 0,394335 1,851328

Ufpa 0,989617 2,903791

UFPB 1,001742 4,134562

UFPE 1,420414 4,897978

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UFPI 0,913741 3,060494

UFPR 1,005509 4,032473

UFRJ 1,117014 2,286627

Ufrn 1,099379 4,491649

Ufro 0,946767 2,272449

Ufrr 1,755128 6,057389

Ufrs 1,045248 3,127091

UFSC 0,992691 2,760349

Ufse 1,389578 3,380265

Ufto 0,717223 2,010365

Constant 0,024295 0,165659

N 4942 1153

Pseudo R2 (Nagelkerke) ,412 ,239

Fonte: TSE – Elaboração própria

Porém, o que é digno de nota é que apesar dos cuidados tomados

quanto aos candidatos não competitivos, o ajuste geral do modelo foi melhor no

total da amostra do que apenas entre os candidatos competitivos. Este

comportamento era de se esperar com relação à significância dos coeficientes

e modelos, dado o tamanho da amostra, porém não com relação ao efeito das

variáveis.

Quanto às variáveis no modelo, todas as hipóteses levantadas no

texto apresentam efeitos positivos, porém os efeitos da variável de dominância

municipal apresentam efeitos realmente grandes nas chances de eleição dos

candidatos. Quanto às variáveis de controle dos distritos e suas condições

locais, apresentam resultados significantes.

3.2.2 Modelo linear por MQO

Os modelos por MQO aqui apresentados foram incluídos para tentar controlar a

incerteza decorrente das regras do sistema eleitoral de lista aberta, pois ao

tomar as decisões de ingressar em um determinado partido ou coligação, o

candidato conta com certo grau de incerteza que deve ser coberto pelo maior

número de votos que ele possa conseguir. Uma vez que ao ajustar as sua

estratégias para a eleição pressupõe uma determinada coligação ou arranjo, se

os efeitos das variáveis do modelo logit se mantiverem nos modelos MQO, há

um ajuste na estratégia do candidato de acordo com as regras da coligação

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escolhida, e os efeitos das distorções do sistema de lista aberta são

contornáveis, ao menos para os candidatos vencedores. Por outro lado, se os

efeitos se inverterem ou saírem do ajuste do modelo, há um efeito não

desejado do sistema de lista aberta com grandes distritos. Um último modelo

foi incluído apenas entre os candidatos eleitos para testar os efeitos da

dominância ou concentração eleitoral municipal: caso os efeitos da

concentração municipal cessem entre os candidatos eleitos, isso indica uma

racionalidade quanto à quantidade de municípios e concentração determinado

candidato deverá ter, uma vez que manter a dominância em um município

custa recursos e barganha tanto federal quanto estadual.

Tabela 3 – Modelos de regressão por MQO

TODOS COMPETITIVOS ELEITOS

(Constant) 7,312 9,954 11,633

Concentração Municipal 12,031 1,296 0,584

Apoio do governador 0,277 0,139 0,075

Coalizão do Presidente 0,493 0,107 0,033

Reeleição 1,944 0,529 0,073

ufac -1,099 -0,886 -1,938

ufal -0,424 0,565 -0,533

ufam -0,486 1,000 -0,194

ufap -0,967 -1,109 -2,124

ufba -0,003 0,553 -0,349

ufce -0,176 0,615 -0,291

ufdf -0,319 0,736 -0,434

ufes -0,009 0,193 -0,551

ufgo -0,252 0,529 -0,420

ufma -0,339 0,735 -0,380

ufmg -0,391 0,468 -0,339

ufms -0,073 0,566 -0,540

ufmt -0,566 0,390 -0,544

ufpa -0,225 0,605 -0,298

ufpb -0,557 0,603 -0,284

ufpe -0,559 0,809 -0,233

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ufpi -0,496 0,549 -0,452

ufpr -0,132 0,741 -0,243

ufrj -0,165 0,287 -0,406

ufrn -0,213 0,912 -0,092

ufro -0,283 -0,281 -1,324

ufrr -1,315 -1,275 -2,453

ufrs 0,020 0,678 -0,253

ufsc 0,010 0,733 -0,299

ufse -0,491 0,424 -0,606

ufto -1,342 -0,176 -1,386

R Quadrado Ajustado 0,444 0,394 0,525

N 4941 1153 513

Fonte: TSE – Elaboração Própria

Os modelos por MQO apresentam um bom ajuste, sendo não

heterocedástico. Em todos os modelos, o sinal quanto as ordens de grandeza e

a significância dos coeficientes se mantêm na mesma direção dos modelos

logit, mostrando um bom grau de conhecimento e ajuste dos candidatos às

regras do jogo, o que faz com que os efeitos das regras eleitorais sejam

dirimidos, em média, por um ajuste das estratégias dos candidatos, tanto para

o total deles, quanto para os candidatos competitivos e eleitos. Uma vez que

em média, os efeitos das regras eleitorais não são significativos para as

estratégias dos candidatos, o que podemos dizer da máxima que nos leva a

crer que as regras eleitorais fazem com que haja uma seleção perversa de

candidatos de baixa qualidade sejam eleitos deputados, enquanto os

candidatos com mais qualidade são excluídos do processo? Talvez a resposta

esteja em variáveis de cultura política e enraizamento das práticas de

patronagem no Brasil. Uma outra opção é que uma amostra com todos os

candidatos a deputado apresente uma dinâmica diferente, o que não está

excluído.

Uma segunda indicação é a diminuição dos efeitytos da trrês

variáveis principais sobre a votação dos eleitos. Diminuição dos efeitos mostra

um ajuste fino dos candidatos sobre qual o grau de dominância necessário

sobre os municípios para a eleição, dada uma determinada coligação. Uma

última indicação que pode ser absorvida do modelo é a do apoio dos

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governadores, que entre os dois últimos modelos não apresenta uma queda

tão significativa quanto as outras variáveis. Cabe lembrar que o apoio do

governador é controlado por Estado, e que em dois dos estados estudados,

temos Lame Ducks estaduais, e mesmo assim o sinal persiste positivo.

4 Conclusões

O sistema proporcional de lista aberta do Brasil foi alvo de diversas

críticas, e indicado como uma seleção perversa para os candidatos a deputado

no Brasil. Porém ao menos nas eleições de 2006, o que se viu foi algo

diferente: as estratégias dos candidatos levam em consideração as regras do

jogo, fazendo com que o ajuste do número de votos necessários siga na

mesma direção à probabilidade predita de se eleger.

Outro debate se refere a de que forma se dá a dinâmica dos apoios

para os candidatos a deputado: se no nível federal, estadual ou municipal.

Sobre isso, podemos indicar que dentro da complexidade do jogo político

brasileiro, para a eleição de 2006, a hierarquia pode ser indicada da seguinte

forma: os apoios locais têm uma influência muito maior nas chances de eleição

e na quantidade de votos dos candidatos, embora sejam utilizados

instrumentalmente nas campanhas, uma vez que a relação gera um alto custo

em caso de eleição. Em segundo lugar , quase empatados, a influência do

presidente, e dos governadores teve um papel significativo nas eleições dos

deputados.

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