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ESTRATÉGIA PARA CAPACITAR ESPAÇOS MARGINAIS NA ORGANIZAÇÃO DE SISTEMAS PRODUTIVOS EM REDE DE PEQUENAS FIRMAS Alcimar das Chagas Ribeiro I

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ESTRATÉGIA PARA CAPACITAR ESPAÇOS MARGINAIS NA ORGANIZAÇÃO DE SISTEMAS PRODUTIVOS EM REDE DE

PEQUENAS FIRMAS

Alcimar das Chagas Ribeiro

I

SUMÁRIO

Lista de figuras.......................................................................................x

Lista de quadros....................................................................................xi

Lista de diagramas................................................................................xii

Lista de gráficos...................................................................................xiii

Lista de tabelas....................................................................................xiv

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO........................................................................................1

1.1 Uma visão geral sobre os pilares da geração de riqueza.................1

1.2 A origem da riqueza em uma perspectiva histórica..........................4

1.3 A última grande transformação e a nova economia........................11

1.4 A competitividade numa perspectiva empresarial...........................12

1.5 A competitividade como fator de desenvolvimento regional...........16

1.6 Hipóteses centrais e objetivo do trabalho........................................22

1.6.1Hipóteses consideradas...........................................................25

1.6.2 Objetivo do trabalho................................................................26

1.7 O escopo teórico da pesquisa..........................................................26

1.8 Organização do trabalho..................................................................27

CAPÍTULO II

UMA REVISÃO DOS MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÔMICO

NEOCLÁSSICO E ENDÓGENO..........................................................29

2.1 Uma aproximação aos postulados da teoria do crescimento

econômico neoclássico........................................................................29

2.2 Uma aproximação aos postulados da teoria do crescimento

endógeno..............................................................................................34

II

2.3 Uma avaliação dos fundamentos básicos das teorias

neoclássica e endógena frente ‘as estruturas econômicas

com níveis de crescimento insatisfatórios...........................................40

CAPÍTULO III

DISTRITOS INDUSTRIAIS COMO PARADIGMA DE ORGANIZAÇÃO

INDUSTRIAL: UMA AVALIAÇÃO CRÍTICA..........................................49

3.1 Introdução.......................................................................................49

3.2 Estagio inicial dos Distritos Industriais............................................50

3.3 Estagio atual dos Distritos Industriais.............................................54

3.4 Críticas aos Distritos Industriais......................................................65

3.5 A replicabilidade da experiência da Terceira Itália..........................67

CAPÍTULO IV

O PERFIL DA REGIÃO MARGINAL: A experiência da região

Norte Fluminense – RJ..........................................................................77

4.1 Considerações gerais......................................................................77

4.2 Características regionais: O Estado do RJ. E a Região NF............80

4.3 O espaço fundiário do Estado do Rio de Janeiro............................82

4.4 A região Norte Fluminense – características locais.........................89

4.5 Uma verificação empírica sobre a competitividade regional............94

4.5.1 metodologia da pesquisa...................................................94

4.5.2 resultado da pesquisa........................................................98

4.6 Objetivo e metodologia da pesquisa sobre a existência

dos elementos fundamentais dos Distritos Industrias na

Região Norte Fluminense......................................................................102

III

4.6.1 Objetivo e metodologia da pesquisa.................................102

4.6.2 Fundamentos importantes associados aos

Distritos Industrias......................................................................104

4.6.3 Uma investigação sobre a existência dos elementos dos

Distritos Industrias no setor agropecuário da Região Norte

Fluminense.................................................................................106

4.6.4 Resultado da pesquisa......................................................107

4.7 Uma avaliação das políticas institucionais......................................113

4.7.1 Uma avaliação sobre o programa FRUTIFICAR...............115

4.8 Uma análise final.............................................................................117

CAPÍTULO V

ESTRATÉGIA DE CAPACITAÇÃO EM TERRITÓRIOS MARGINAIS

NA BUSCA DE DESENVOOLVIMENTO ECONÔMICO.......................120

5.1 Introdução........................................................................................120

5.2 Composição da estratégia e suas justificativas...............................122

CAPÍTULO VI

CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROPOSTAS PARA NOVAS

PESQUISAS.........................................................................................131

6.1 Considerações finais......................................................................131

6.2 Propostas para novas pesquisas...................................................133

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................135

IV

ANEXO I REGIÕES DE GOVERNO E MICROREGIÕES GEOGRÁFICAS

ESTADO DO RIO DE JANEIRO........................................................147

ANEXO II

VERIFICAÇÃO EMPÍRICA DA COMPETITIVIDADE REGIONAL....149

ANEXO III MEMÓRIA ESTATÍSTICA E INSTITUIÇÕES PESQUISADAS.........154

Memória estatística da ponderação efetuada....................................155

Instituições pesquisadas....................................................................156

V

LISTA DE FIGURAS Figura 1- Os cinco objetivos de desempenho de manufatura

Figura 2- A estrutura do diamante para inovar

Figura 3- Visão gráfica dos modelos de crescimento neoclássico

Figura 4- O ambiente sócio cultural endógeno

Figura 5- Processo organizacional no sistema denominado municipalismo

Figura 6- Do fordismo ao sistema flexível de produção

Figura 7- Além das competências essenciais

Figura 8- População residente, segundo Estado e municípios no ano de 2000

Figura 9- Estrutura agroindustrial da região norte fluminense

Figura 10- Produtividade e ambiente microeconômico

Figura 11- Modelo de rede do tipo “top-down” ou japonesa

Figura 12- Modelo de rede flexível de pequenas empresas

Figura 13- Sistema de produção e elementos para estratégia de capacitação do

espaço local

VI

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Os principais elementos da teoria neoclássica do crescimento

econômico

Quadro 2- os principais elementos da teoria endógena do crescimento

econômico

Quadro 3- Fundamentos básicos do crescimento econômico

VII

LISTA DE DIGRAMAS

Diagrama 1 – uma visão geral do pensamento econômico

Diagrama 2- Os principais elementos da teoria neoclássica do crescimento

econômico

Diagrama 3- Os principais elementos da teoria endógena do crescimento

econômico

VIII

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Variações do PIB e renda per capita dos países latino-americanos

Gráfico 2- Evolução da área de lavoura temporária

Gráfico 3- Evolução do valor da produção da micro região Campos, em termos

reais, para o período de 1997 a 2001

Gráfico 4- Índice percentual de variação da produção em termos reais

IX

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Censos agropecuários do Rio de Janeiro

Tabela 2- Produção, área colhida e produtividade obtida

Tabela 3- Valor da produção, área colhida e rendimento médio na micro região

Campos

Tabela 4- Coeficientes de competitividade regional

Tabela 5- Resultados das ponderações

X

Resumo da tese apresentada

Estratégia para capacitar espaços marginais na organização de sistemas produtivos em

rede de pequenas firmas

Alcimar das Chagas Ribeiro

Considerando uma perspectiva própria de regiões periféricas com baixo índice de

crescimento econômico, baixo nível de renda per capita, altas taxas de desemprego e,

sobretudo, um processo de aprofundamento da desigualdade social, o presente

trabalho objetiva a investigação dos principais pilares incrementais da geração de

riqueza, tendo como foco a historia do pensamento econômico. Complementarmente, a

analise evolui até o sistema de acumulação fordista-taylorista e os conseqüentes

modelos de crescimento econômico, chegando aos modernos sistemas flexíveis de

organização produtiva.

Posterior ao processo de verificação geral, o trabalho desenvolve uma avaliação crítica

sobre as reais possibilidades relacionadas à importação integral desses modernos

sistemas flexíveis, ou mesmo de seus elementos mais gerais, tendo em vista as

ineficientes condições ambientais encontradas em regiões marginais.

Em sua seqüência, o trabalho verifica, empiricamente, as condições ambientais

apresentadas pela Região Norte Fluminense-RJ; desenvolvendo uma analise

comparativa em condições ideais próprias dos sistemas flexíveis de produção.

Numa visão conclusiva, o trabalho consolida a condição de inexistência de um

ambiente apropriado a implementação de sistemas de produção flexíveis nessas

regiões, o que leva, tal fato, a dirigir a análise para uma proposta de intervenção no

sistema através da indicação de elementos interdependentes que, se bem articulados,

podem contribuir na capacitação local, de forma que pequenas empresas e

trabalhadores com baixo nível de capacitação possam ser incluídos no processo de

desenvolvimento local.

XI

Abstract

Strategy to enable marginal spaces as productive systems organization of small firms

network

Alcimar das Chagas Ribeiro

Considerering the proper perspective of peripheral regions with low index of economical

growth, low level of per capita income, high levels of unemployment and, above of all, a

process of deepen social unequality, the present work aim research the developing main

pillars of wealth generation, having focus on the economical thinking history.

Additionally, the analysis evolves up to the taylorist-fordist accumulation system and

appropriate economical increasing models towards to flexible modern systems of

productive organization.

After the general verification process, the work develops a critical evaluation about the

real possibilities related to the complete import of these flexible modern systems, or their

own elements in general, having in mind the inefficient environmental conditions found

in marginal regions.

Consequently, the work verifies, in a empiric way, the environmental conditions

presented by Norte-Fluminense Region – RJ, developing a comparative with analysis

the appropriate conditions of the flexible production systems.

In a conclusive point of view, the work consolidates the absence of an appropriate

environment for implementing flexible production systems in those regions, conducting

the analysis to a system intervention through an indication of interdependents elements

that, when well articulated, can contribute to a local capacitation, in a way that small

firms and workers with low level capacitation be included in the local development

process.

XII

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

1.1 Uma visão geral sobre os pilares da geração de riqueza

Neste capítulo desenvolve-se, à luz da história do pensamento econômico, uma breve

discussão sobre os pilares incrementais da geração de riqueza e, sobretudo, a sua

passagem para o contexto de uma nova ordem econômica que surge na esteira do

processo de globalização1. Apresenta-se ainda, o significado da terminologia

“competitividade” 2 , a sua importância na economia moderna e, fundamentalmente, os

parâmetros que devem ser percorridos e absorvidos por regiões que buscam a

formação de novas riquezas visando o desenvolvimento econômico 3.

1- Segundo Wedekin e Castro (1999), em Pinazza e Alimandro (1999), “A globalização, como fenômeno sociológico de expansão dos horizontes de interesses das sociedades, não é um fenômeno novo na história. Ela tem surgido em alguns períodos como resultado de difusão cultural, ampliação de fronteiras políticas, desenvolvimento de atividades econômicas ou de propagação religiosa. A globalização atual ultrapassa todas as experiências anteriores: é mais ampla, diversificada e, sobretudo, mais profunda, pois é um produto da revolução das comunicações. As comunicações emergem do intercâmbio: de produtos, de serviços, de dados, de imagens, até de sentimentos”. Uma segunda visão apresentada por Malecki (1997), define globalização como a abrangência e profundidade das operações das firmas para produzir e vender bens e serviços em mais mercados. Para o autor, operações incluem relações comerciais além de investimentos diretos e novas formas de investimento. Assim, a característica principal da globalização é a integração funcional de atividades econômicas internacionalmente dispersas. 2- No trabalho de Porter, “A vantagem competitiva das nações” (1990), o autor afirma que o único conceito de competitividade em nível nacional é a produtividade. A principal meta de uma nação é produzir um alto e crescente padrão de vida para seus cidadãos. A capacidade de o fazer depende da produtividade com que a mão-de-obra e o capital são empregados. A produtividade é o valor do que é produzido por uma unidade de mão-de-obra ou de capital. A produtividade depende da qualidade das qualificações do produto (que determinam os preços que eles podem impor) e da eficiência com que eles são produzidos. A produtividade é o determinante básico de vida a longo prazo de uma nação; é a causa primordial da renda per capita nacional. A produtividade com a qual o capital é empregado, determina o retorno que ele aufere para seus proprietários.

Capítulo I – Introdução 2

A segunda metade do século XX, definitivamente, deu a partida para o atual processo

de transformação, responsável pelas mudanças nos paradigmas associados ao

aumento da riqueza das nações. De acordo com Drucker (1993), a cada dois ou três

séculos ocorre uma mudança sem precedente na história ocidental. Foi assim no século

XIII, com a emergência das guildas municipais como grupos dominantes, o

renascimento do comércio a grandes distâncias, com as novas ordens religiosas

urbanas, etc. A próxima grande revolução veio ocorrer duzentos anos depois, com a

invenção da imprensa, a reforma protestante e a ascensão do renascimento.

Posteriormente, no século XVIII, a Revolução Industrial se instalou para consolidar esta

trajetória histórica.

Assim, a presente transformação, cujo início se questiona se foi pela elevação do Japão

à categoria de grande potência mundial nos anos sessenta ou pelo advento do

computador, se diferencia das anteriores, cuja abrangência restringia-se à Europa. O

atual processo de transformação, ao contrário, tem seu escopo de atuação voltado para

toda a humanidade (Drucker, op. cit.).

Desta forma, a grande questão, segundo esta realidade, é saber quais são os

parâmetros capazes de conduzir um país ou uma região a um certo estágio de

desenvolvimento, cujo conceito, estabelecido por Schumpeter (1934), se baseia na

mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo, ou seja, deve caracterizar-se

por perturbações do equilíbrio que alteram e deslocam para sempre o estado presente

existente.

3- Segundo American Economic Development Council - AEDC (1984), em Malizia e Feser (1999), desenvolvimento econômico é um processo de criação de riqueza através da mobilização dos recursos humano, financeiro, capital, físico e natural para gerar bons produtos e serviços no mercado. O desenvolvimento econômico tem o papel de influenciar o processo de benefícios à comunidade, através da expansão das oportunidades de trabalho e manutenção de suas taxas.

Capítulo I – Introdução 3

Assim, torna-se vital e urgente a necessidade de se buscar respostas mais concretas

para o questionamento do que provoca o aumento da riqueza. Tais descobertas,

entretanto, exigem um esforço adicional no sentido de entender historicamente tal fato.

Drucker (1992) observa que nos últimos 450 anos os economistas deixaram de lado

essa pergunta, ou quem sabe, buscaram respostas fáceis ou rejeitaram as respostas

anteriores, apesar das mesmas terem deixado importantes lições.

Como é propósito deste trabalho também discutir o processo de geração de riqueza

numa perspectiva histórica, em alguns momentos serão utilizadas tanto as

terminologias crescimento econômicas, quanto desenvolvimento econômico. Dessa

maneira é conveniente elucidar as diferenças básicas entre esses conceitos.

O conceito de desenvolvimento econômico tem raízes teóricas e empíricas. No que diz

respeito às suas raízes teóricas destaca-se o trabalho de Schumpeter publicado em

1911. Em sua análise, o autor explica o processo de crescimento a partir do

funcionamento da economia na forma de um sistema de fluxo circular de equilíbrio,

cujas variáveis econômicas aumentam apenas em função da expansão demográfica.

Quanto ao desenvolvimento, o autor afirma que a sua ocorrência depende de inovações

tecnológicas implementadas por empresas que se financiam pelo crédito bancário.

Em relação as raízes empíricas, cujos postulados consideram crescimento como

condição indispensável para o desenvolvimento, destacam-se importantes economistas

como Nurkse (1957), Myrdal (1968), Lewis (1969) e Hirschman (1974), além dos

estudos de economistas dos países da América Latina no contexto da CEPAL4 no final

dos anos 40 e início dos anos 50, cujos trabalhos tinham como objetivo captar recursos

dos países desenvolvidos e implementar planos de desenvolvimento a partir dos

diagnósticos elaborados sobre a realidade de seus países.

4- CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina): Os economistas cepalinos partiram da crítica acirrada à Doutrina das Vantagens Comparativas do economista Inglês David Ricardo (1772 / 1823), que dava um fundamento econômico à dominação política e que prolongava o estado de “subdesenvolvimento” dos países “pobres” (Souza, 1999).

Capítulo I – Introdução 4

Para esses autores, desenvolvimento caracteriza-se pela transformação de uma

economia arcaica em uma economia moderna, eficiente, juntamente com a melhoria do

nível de vida do conjunto da população. Na América Latina, dentre outros, destacam-se

Prebisch (1949), Furtado (1961), Singer (1977) e demais autores dos chamados

economistas do desenvolvimento.

1.2 A origem da riqueza em uma perspectiva histórica

Como precursores do pensamento econômico, os mercantilistas entendiam que a

riqueza das nações dependia do afluxo de metais preciosos, os quais seriam oriundos

da expansão do comércio internacional (Souza, 1999).

Posteriormente, a escola fisiocrata, combatendo a visão mercantilista, ignorou as

atividades comerciais e industriais por serem estéreis, passando a reconhecer a

agricultura como a única atividade capaz de gerar um produto líquido, justificado por ser

a terra uma dádiva da natureza (Hugon, 1988).

Conforme Thweat (1971), os fisiocratas entendiam que somente a atividade agrícola

poderia gerar um produto líquido capaz de possibilitar o desenvolvimento econômico. A

crítica dessa corrente ao sistema mercantilista levou à conclusão de que o Estado devia

ter uma conduta liberal na economia, de forma que o cidadão pudesse decidir

livremente as suas ações.

Todavia, segundo a visão de Hugon (op. cit.), os fisiocratas entendiam que os

fenômenos econômicos processavam-se de forma livre e independente de qualquer

coação exterior, segundo uma ordem imposta pela natureza e regida por leis naturais.

Desta forma, conhecer essas leis naturais e deixá-las atuar seria o mais importante.

Assim, a concepção dos fisiocratas era de que a atenção deveria ser transferida da

órbita do comércio para a produção, enquanto que o Estado deveria induzir o

Capítulo I – Introdução 5

desenvolvimento. Nesse contexto, as principais propostas dessa corrente estariam

estabelecidas da seguinte forma: • Capitalização da agricultura, visando maior produtividade;

• Redução da carga tributária e da evasão fiscal;

• Estímulo ao comércio exterior;

• Imposto único para a atividade agrícola, determinante para o aumento da renda do

consumidor;

• Redução do excesso de regulamentação oficial;

• Eliminação de barreiras ao comércio interno;

• Promoção das exportações.

O principal economista desse movimento foi François Quesnay (1694/1774) e seus

principais seguidores foram: Anne Robert Jacques Turgot (1727/1781); Pierre Paul

Mercier de La Riviére (1720/1794) e Marquês Victor Riquetti de Mirabeau (1715/1789).

Entretanto, em contraposição aos sistemas mercantilista e fisiocrata, Adam Smith

(1723/1790), identificou no trabalho produtivo o elemento fundamental do aumento da

riqueza. Desta forma, o volume de produto obtido por trabalhador, segundo Smith, seria

função do capital, da tecnologia e da divisão do trabalho, que passou a ser um

elemento fundamental do processo de formação de riqueza das nações.

Smith (1988) entende que a divisão do trabalho permite um maior aprimoramento das

forças produtivas, maior habilidade, maior destreza e bom senso em relação ao trabalho

executado.

“Essa divisão do trabalho, da qual derivam tantas vantagens, não é, em sua origem, o

efeito de uma sabedoria humana qualquer, que preveria e visaria essa riqueza geral à

qual dá origem. Ela é a conseqüência necessária, embora muito lenta e gradual, de

uma certa tendência ou propensão existente na natureza humana que não tem em vista

essa utilidade extensa, ou seja: a propensão a intercambiar, permutar ou trocar uma

coisa pela outra” (Smith, op. cit.).

Capítulo I – Introdução 6

O autor ainda considera que no longo prazo, havendo taxa de lucro positiva em função

da ampliação dos mercados e da divisão do trabalho, os rendimentos crescentes

possibilitarão o aumento das poupanças que se transformarão em investimentos

provocando, conseqüentemente, a demanda por trabalhadores produtivos.

Entretanto, este fato não inibe a possibilidade do estado estacionário sem que a

sociedade tenha alcançado um certo nível de bem-estar. Esta situação seria

conseqüência de uma acirrada concorrência entre os produtores pelos recursos

disponíveis, culminando com a elevação dos salários e a redução dos preços e lucros.

Com relação ao Estado, Smith (op. cit.), entendia que suas funções deveriam limitar-se

à regulamentação da concorrência, à manutenção de sistemas de educação, à saúde e

à segurança pública.

No processo de evolução da história econômica, surge a abordagem Ricardiana que

passa a se preocupar tanto com a formação da riqueza, quanto com a distribuição entre

capitalistas, trabalhadores e proprietários de terra. Para ele, o grande problema do

desenvolvimento econômico é a agricultura, que apresenta incapacidade de produzir

alimentos baratos para o consumo dos trabalhadores.

De acordo com Ricardo (1982), considerando um processo organizacional de uma

região com um estoque definido de capital e trabalho, as terras mais férteis são

ocupadas e a demanda por alimento é atendida. Nesse caso os lucros são positivos e

a terra não gera renda, já que tem a mesma fertilidade. Entretanto, com o aumento

demográfico, terras menos férteis começam a ser demandadas para atender um

consumo adicional de alimentos. A busca por melhores terras dá inicio a um processo

de transferência de renda da atividade produtiva para os proprietários de terra.

Conseqüentemente, o deslocamento da margem extensiva para terras de menor

fertilidade acaba implicando no aumento dos preços, aumento dos salários e diminuição

dos lucros. Considerando os fatores fixos, o produto total cresce a taxas decrescentes.

Capítulo I – Introdução 7

A solução apontada por Ricardo (op. cit.), para o problema dos rendimentos

decrescentes compreendia o controle da natalidade, a livre importação de alimentos e a

abolição gradual da lei dos pobres (compromisso dos Estado com a alimentação dos

pobres).

Ricardo considerava que a liberdade na negociação dos contratos de trabalho entre

patrões e empregados era fundamentalmente importante para a manutenção do

equilíbrio entre a oferta e a demanda por trabalho.

Posteriormente, surge a abordagem do desenvolvimento econômico Marxista, cujo pilar

se concentra na visão de que, no longo prazo, a economia tenderia a caminhar para um

conflito distributivo com taxa de lucro declinante.

Marx (1988), estruturou o seu modelo concebendo no capital total empregado no

processo produtivo, duas diferentes parcelas conforme descritas a seguir:

• Uma parcela composta pelo capital fixo, representada pela depreciação e matérias

primas;

• Uma parcela composta pelo capital variável, representada pela força de trabalho.

Segundo o autor, como o capital fixo não dispõe de capacidade para agregar valor ao

bem, o produto líquido gerado é função da força de trabalho. Conseqüentemente, o

valor acrescido ao produto corresponde ao valor total empregado em termos de

homem-hora, dando origem a mais valia, ou seja, ao valor extraído dos trabalhadores

na forma de lucros líquidos.

Conforme reportado em Marx (op. cit.), a acirrada concorrência leva a uma seleção

natural. Formam-se grandes grupos empresariais e pequenas empresas encerram as

suas atividades dando início a um alastramento do desemprego e, sobretudo, a um

aprofundamento do processo de concentração de renda e de riqueza. A concentração

de capital no longo prazo tanto piora a situação da classe trabalhadora, que engrossa

Capítulo I – Introdução 8

as fileiras dos desempregados, quanto piora a situação dos capitalistas, pela redução

do consumo e, conseqüentemente, do lucro.

Nesta visão, Marx entendia que as contradições do capitalismo seriam o combustível

que alimentaria, no longo prazo, o processo de auto destruição do sistema, dando

origem a uma sociedade socialista.

Já no século XX, a abordagem de desenvolvimento econômico de Keynes, reportado

em Dillard (1989), passa por real repúdio aos fundamentos do leissez faire5. Sua

política econômica é prática e considera a intervenção estatal e o investimento público

como condição fundamental do desenvolvimento. O ponto de partida lógico da teoria de

Keynes é a procura efetiva (desejo maior e possibilidade de comprar). Neste caso, o

pleno emprego depende da procura agregada e o desemprego é o resultado de uma

carência de procura agregada.

Dillard (op.cit), resume as proposições da teoria keynesiana da seguinte forma:

• O rendimento agregado depende do volume do pleno emprego;

• Conforme a propensão a consumir, a quantia do gasto para o consumo depende do

nível do rendimento e, portanto do pleno emprego;

• O pleno emprego depende da procura efetiva agregada, que se compõe de duas

partes: a) gasto para consumo, b) gasto para inversão;

• Em estado de equilíbrio, a procura agregada é igual à oferta agregada. Por

conseguinte, a oferta agregada excede a procura efetiva para o consumo, de

quantia igual à procura efetiva para investimento;

• Em estado de equilíbrio, a oferta agregada é igual à procura agregada, e a procura

agregada é determinada pela propensão a consumir e pelo volume de investimento.

Por conseguinte, o volume de emprego depende:

Capítulo I – Introdução 9

a) da função da oferta agregada,

b) da propensão a consumir, e

c) do volume de investimento;

• Tanto a função da oferta agregada, que depende principalmente das condições

físicas da oferta, como a propensão a consumir, são relativamente estáveis e,

portanto, as flutuações do emprego dependem principalmente do volume do

investimento;

• O volume de investimento depende: a) da eficácia marginal do capital, e, b) da taxa

de juros;

• A eficácia marginal do capital depende: a) das previsões de lucros, e b) do custo de

reposição dos bens de capital;

• A taxa de juros depende: a) da quantidade de dinheiro, e b) do estado de

preferência à liquidez.

Segundo Hugon (op. cit.), a teoria de Keynes, pelo seu conteúdo, abre um novo período

na evolução da ciência econômica.

O diagrama a seguir demonstra uma visão geral do pensamento econômico segundo

Malisia e Feser (1999)

5 - Leissez Faire: Um dos pontos das idéias de Adam Smith, identificado como política liberal. Dada a organização espontânea da economia de uma sociedade, deve imperar a liberdade de fazer e de trocar. Segundo o autor, no liberalismo econômico não deve existir qualquer regulamentação relativa ao processo produtivo e às relações de trabalho. A defesa é pelo direito que cada homem tem de seguir seu interesse pessoal da maneira que melhor lhe convier, desde que obedeça a um mínimo fixado em lei, para garantir a estabilidade social, representada pela defesa da propriedade privada e pela manutenção da ordem pública. Desta forma, o Estado não pode ser intervencionista, abstendo-se de ingerir-se nos negócios privados. Sua atuação, portanto, deve limitar-se aos casos em que a atividade individual se fizer ou tornar impossível ou improfícua, já que o mesmo se caracteriza no pior administrador que se conhece.

Capítulo I – Introdução 10

Definições e conceitos Economia pré-clássica (cerca 1550-1750)

Mercantilismo

Pensamento Fisiocrata

Economia clássica (cerca 1750-1850)

Smith

Ricardo

Mill

Críticas à economia clássica (cerca 1850-1890)

Marx

Socialismo utópico

Marginalismo

Walras

Economia neoclássica (cerca 1890-1950)

Marshall

Economias do bem estar

Keynes

Capítulo I – Introdução 11

Críticas à economia neoclássica (cerca 1890 – presente)

Institucionalistas

Austríacos

Pós-Keynesianos

Economias Radicais

Economia moderna (neoclássica) (cerca 1950 - presente)

Microeconomia

Macroeconomia

Análise econométrica

Desenvolvimento econômico

Ciência econômica regional

Diagrama 1: uma visão geral do pensamento econômico Fonte: Malisia e Feser (1999)

1.3 À última grande transformação e a nova economia

Drucker (2000) observa que a recente transformação - que ainda não se esgotou -

altera o contexto tradicional e define que as atividades centrais de criação de riqueza

não serão mais nem a alocação de capital para usos produtivos, nem a mão-de-obra,

os dois pólos da teoria econômica dos séculos XIX e XX. Hoje, o valor é criado pela

produtividade e pela inovação, que são aplicações do conhecimento ao trabalho. A

produtividade é caracterizada pela aplicação do conhecimento às tarefas já conhecidas,

enquanto que a inovação caracteriza-se pela aplicação do conhecimento nas tarefas

novas e diferentes.

Capítulo I – Introdução 12

Esta conclusão resulta do resgate do debate sobre crescimento econômico que, após

alguns anos no ostracismo, teve os seus alicerces novamente reerguidos na década de

50 por Robert Solow e Trevor Swuan (1956), cujos modelos consistem na visão de que

o mercado é perfeito e que a cada ingresso de nova fatia de capital, dada uma oferta

fixa de mão-de-obra, produz-se um retorno ligeiramente menor que o anterior. Esta

idéia ficou caracterizada como lei dos retornos decrescentes e a teoria como

neoclássica.

Entretanto, somente na década de oitenta, Paul Romer (1986), ao ampliar o conceito de

capital, considerando o conhecimento e a especialização incorporados na força de

trabalho, pode demonstrar que os rendimentos decrescentes poderiam ser substituídos

por rendimentos crescentes, endogeneisando o processo de produção.

Esta nova dinâmica caracteriza o escopo do moderno ambiente econômico, onde o

termo competitividade passa a representar um fator chave para o desenvolvimento auto

sustentado tanto das empresas, quanto das cidades e nações. Esta realidade, pautada

por novos paradigmas, tem se estruturado à luz da evolução de um processo real e

imutável de globalização.

1.4 A competitividade numa perspectiva empresarial

Segundo Prahalad e Ramaswamy (2000), o conceito de competência como fonte de

vantagem competitiva teve origem em estudos sobre diversificação, que começaram a

conceber as organizações como uma série de competências e não mais como uma

carteira de diferentes negócios. Isso levou à identificação de novas oportunidades de

negócio e a formas inovadoras de utilizar estrategicamente, os ativos intelectuais da

empresa.

Ansoff (1990), em sua teoria dirigida para a empresa, identifica o processo sinergístico

como um fator de relevante importância para o aumento da competitividade. A sinergia

entende o autor, diz respeito às características desejadas do ajustamento entre a

Capítulo I – Introdução 13

empresa e os seus novos produtos e mercados. Conceitualmente, sinergia é a medida

de efeitos conjuntos, freqüentemente descritos como o efeito (2 + 2 = 5), o que equivale

dizer que o desempenho combinado é superior à soma de suas partes. Neste conceito,

cada combinação de produtos e mercados faz uma certa contribuição para a

rentabilidade geral da empresa.

Assim, o conceito de sinergia deve ser visualizado ao longo do processo da vantagem

de escala de produção, onde a empresa seleciona, cuidadosamente, os seus produtos

e mercados com vista a otimizar esse efeito, conseguindo, conseqüentemente, uma

maior flexibilidade na escolha de sua postura competitiva.

Os reflexos oriundos da sinergia produto / mercado permitem um maior nível de

competitividade empresarial, tendo em vista a variação nos seguintes indicadores:

• Maior parcela de mercado com redução de preço;

• Pesquisa e desenvolvimento superior aos concorrentes, com menos investimento;

• Maximização do resultado e, conseqüentemente, uma maior capacidade para atrair

capitais para o crescimento da empresa.

Olivieri (1999), apresenta o conceito de sinergia como o termo empregado para

descrever a potência das somas de esforços entre as pessoas, pela participação e

cooperação. Algo que pode significar a soma de duas partes em um total superior à

soma algébrica das partes. Segundo o autor, a sinergia é sempre aumentada em

ambientes em que se procura desenvolver a motivação, pela inovação e criatividade

dos participantes.

Castells (1996), entretanto, faz a seguinte afirmação: “a produtividade e a

competitividade dos agentes, sejam eles de empresa, de regiões, ou de países,

dependem essencialmente da sua capacidade de gerar, tratar e aplicar informações. A

sociedade informacional é também global porque as atividades-chave da produção,

consumo, e distribuição, assim como os seus componentes (capital, trabalho, matérias-

Capítulo I – Introdução 14

primas, gestão, informação, tecnologia, mercados), são organizados em escala

planetária, seja diretamente ou através de redes interconectadas”.

Segundo Ferraz (1997), competitividade é a capacidade da empresa formular e

implementar estratégias concorrenciais, que lhe permitam ampliar ou conservar, de

forma duradoura, uma posição sustentável no mercado.

Conseqüentemente, Slack (1993), desenvolvendo sua análise focada na visão

industrial, considerou que competitividade se dá em função da vantagem em

manufatura, cujos objetivos são apresentados na figura 01 a seguir:

Os cinco objetivos de desempenho da manufatura

Baixo preço, alta margem, ou ambos Baixo tempo de entrega Entrega confiável

Cust

Custo

Velocidade Confiabilidade Qualidade Flexibilidade Aspectos externos

Alta produtividade total Fluxo rápido Operação confiável Processos livres de erros Habilidade de mudar

Aspectos internos

Produtos livres de erro, Novos produtos freqüentes de acordo com as especificações Larga faixa de produtos Ajustes de volume e entrega Figura (01) Os cinco objetivos de desempenho de manufatura Fonte: Slack (1993).

Capítulo I – Introdução 15

Segundo o autor, fazer melhor significa cinco coisas:

• Fazer certo: não cometer erros, fazer produtos que realmente são o que devem ser,

produtos sem erros e sempre de acordo com as especificações de projeto,

caracterizando a vantagem de qualidade da manufatura para a empresa;

• Fazer rápido: fazer com que o intervalo de tempo entre o início do processo de

manufatura e a entrega do produto ao cliente seja menor do que o da concorrência,

o que vai proporcionar uma vantagem de velocidade à empresa;

• Fazer pontualmente: manter a promessa de prazos de entrega. Isso implica estar

apto a estimar datas de entrega com acuidade, definindo a vantagem da

confiabilidade;

• Mudar o que está sendo feito: ser capaz de variar e adaptar a operação seja porque

as necessidades dos clientes são alteradas, seja devido a mudanças no processo

de produção causadas por mudanças no suprimento dos recursos. Isto significa

estar apto para mudar com rapidez, possibilitando a vantagem da flexibilidade;

• Fazer barato: custos mais baixos do que os concorrentes conseguem administrar.

No longo prazo, a única forma de conseguir isso é através da obtenção de recursos

mais baratos e/ou transformando-os mais eficientemente do que os concorrentes,

possibilitando a vantagem de custo.

Todavia, modernamente, o conceito de competitividade tem sido utilizado no contexto

da discussão sobre o processo de desenvolvimento econômico de regiões ou mesmo

pequenos distritos. Uma nova visão, relacionando a empresa ao ambiente sócio-

cultural, vem ocupando um substancial espaço no debate sobre o tema.

Capítulo I – Introdução 16

1.5 A competitividade como fator de desenvolvimento regional

Malecki (1997), verifica que nos últimos dez anos começou a despontar um importante

e vasto material versando sobre a questão da competitividade local e regional,

especialmente em função do reconhecimento de que a política macroeconômica,

agindo dissociada de uma efetiva política microeconômica, perde efeito como

instrumento de indução ao desenvolvimento econômico. Evidente que aquela política

mantém a sua grande relevância, tradicionalmente, no que diz respeito à manutenção

de um ambiente propício à competitividade empresarial (Porter, 2000).

Segundo Porter (1999), a política econômica se preocupa com a criação de riqueza

através do oferecimento de incentivos, do estímulo à poupança e ao investimento e da

minimização governamental. A política social se concentra na educação pública e em

outras necessidades humanas, ajudando os grupos desfavorecidos, protegendo os

cidadãos através de várias formas de regulamentação e, mais recentemente,

preservando o meio ambiente.

Conforme o mesmo autor, modernamente a concepção de prosperidade de um país ou

de uma região, diz respeito a algo não herdado e que tão pouco emana de seus dotes

naturais, de sua força de trabalho, das taxas de juros ou do valor da moeda, como

afirmavam os economistas clássicos. Contrariamente, o aumento da riqueza nacional

ou regional, depende do produto do esforço criativo humano. A competitividade

depende da capacidade de inovação das indústrias locais.

A competitividade é um conceito que pode ser melhor entendido no escopo da

empresa, tendo em vista a inexistência de uma teoria que associe este termo as

questões regional e nacional. Assim, a competitividade resulta da produtividade com

que as empresas, numa determinada localidade, são capazes de utilizar os insumos

para a produção de bens e serviços valiosos.

Capítulo I – Introdução 17

Segundo Porter (op. cit.), o objetivo de um país é proporcionar um padrão de vida

elevado e crescente para os cidadãos, fato este que depende da produtividade com que

o trabalho e o capital atuam.

A produtividade é, portanto, o valor da produção de uma unidade de trabalho ou de

capital, originária da qualidade, características dos produtos e da eficiência com que

são produzidos. Logo, a produtividade é o principal determinante do padrão de vida, no

longo prazo, de um país.

Assim, torna-se fundamental compreender quais são os determinantes da produtividade

e quais são as suas taxas de crescimento, além de como e porque se criam as

habilidades e tecnologias comercialmente viáveis. Isso leva à necessidade de se

analisar setores específicos, assim como os seus segmentos, ao invés do país como

um todo.

Desta forma, pode-se concluir que o aumento da produção é função do aumento da

competitividade de cada unidade econômica e a qualidade e os custos de produção

dependem em grande escala da inovação dos produtos e dos procedimentos de

fabricação.

Conseqüentemente, as regiões precisam criar vantagens competitivas a partir da

absorção de algumas capacitações necessárias para empregar recursos,

freqüentemente combinados, por meio de processos organizacionais, em função de um

objetivo específico (Grant, 1991).

Todavia, sem elevadas taxas de investimentos em capital por trabalhador e em

treinamento, é possível que as empresas não apenas se tornem incapazes de sustentar

as vantagens competitivas, mas também que os trabalhadores menos qualificados

enfrentem problemas de falta de perspectivas e de desigualdades crescentes. (Porter

op.cit.).

Capítulo I – Introdução 18

Segundo Ferraz (op. cit.), modernamente ser competitivo é mais do que considerar uma

visão tradicional de desempenho e eficiência. Segundo o autor, esta é uma visão

estática porque representa uma análise do comportamento passado dos indicadores,

sem elucidar as relações causais que mantêm com a evolução da competitividade.

Para o autor, as capacitações estão em constante mutação. Em cada momento do

tempo, cada empresa detém um dado nível e apresenta um desempenho competitivo.

O grau de capacitação de uma firma em certo momento está determinado pelas

estratégias competitivas. Assim, a competitividade depende da competência

empresarial e das estratégias competitivas.

Conforme Porter (1989), a estratégia competitiva visa estabelecer uma posição lucrativa

e sustentável contra as forças que determinam a concorrência na indústria. A vantagem

competitiva surge, fundamentalmente, do valor que uma organização consegue criar

para seus compradores e que ultrapassa o seu custo de fabricação.

Porter (2000) enfatiza que “A riqueza é criada pela microeconomia. Ela é produzida por

empresas capazes de oferecer produtos e serviços valiosos e vendê-los nos mercados

mundiais”. Segundo o autor, as companhias de sucesso fazem proliferar as vantagens

ao longo da cadeia de valor e num ambiente competitivo.

Em recente pesquisa, Porter e Sters (2001) documentaram os padrões de inovação

utilizados por países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento

Econômico (OCDE) e por nações emergentes durante os últimos 25 anos, buscando

entender como as condições nacionais explicam as diferenças na produção de

inovação, já que a mesma tornou-se o desafio que define a competitividade no

ambiente globalizado.

As descobertas dos autores revelam a enorme influência do ambiente local no sucesso

das atividades inovadoras e mostram as grandes diferenças entre o progresso relativo

dos países membros da OCDE e dos países emergentes no que se refere à vitalidade

inovadora.

Capítulo I – Introdução 19

Segundo os autores, a localização geográfica é crucial para a inovação e as empresas

precisam expandir suas abordagens de gestão da inovação de acordo com a região, ou

seja, desenvolver e comercializar a inovação de forma mais atraente, tomar medidas

efetivas para garantir o acesso aos pontos fortes do local e aprimorar efetivamente o

ambiente de inovação e comercialização nas áreas em que operam.

A pesquisa contou com uma estrutura capaz de identificar as fontes de capacidade de

inovação que permitem a uma nação, ou mesmo a uma região, inovar globalmente. A

seguinte estrutura inclui três grandes elementos que juntos indicam como a localização

geográfica modela a capacidade de uma empresa inovar em nível global.

Elemento 1.

• Infra-estrutura da inovação pública: Combina os fatores que dão apoio à inovação

em toda a economia de um país ou região. Esses fatores incluem a totalidade dos

recursos humanos e financeiros destinados ao desenvolvimento científico e

tecnológico, as políticas públicas relevantes à atividade inovadora e o nível de

sofisticação tecnológica de sua economia. Elemento 2. • Ambiente para a inovação específica nos clusters 6 : O ambiente para inovação

específica nos clusters segue a estrutura do “diamante”, ilustrado a seguir:

6 – Segundo Porter (1999), Clusters (grupos, agrupamentos ou aglomerados) são concentrações geográficas de empresas de determinado setor de atividade e organizações correlatas, de fornecedores de insumos a instituições de ensino e clientes. No Brasil, pode-se identificar, como exemplo, o cluster dos fabricantes de cristais ao redor de Blumenau (SC).

Capítulo I – Introdução 20

A estrutura do diamante para inovar

(i) Um contexto local que estimula

o investimento e a melhoria sustentável (ii) Competição vigorosa entre concorrentes com sede local

Contexto da estratégia e concorrência entre

empresas

Condições de fornecimento

(insumos)

Condições de

demanda

Empresas relacionadas e

de apoio

*Custo e quantidade * Clientes locais sofisticados do fornecimento (insumos) e exigentes * Demanda local proveniente de segmentos especializados *Qualidade do fornecimento *Presença de fornecedores que podem ser atendidos *Especialização do capazes com sede no local em nível mundial

fornecimento e empresas em áreas relacionadas * Necessidades dos clientes que representam a * Existência de clusters antecipação das necessidades que surgirão em outros locais

Figura (02)

A estrutura do diamante para inovar Fonte: Porter (2001)

Capítulo I – Introdução 21

Elemento 3.

• Qualidade das integrações: O relacionamento entre a infra-estrutura da inovação

geral e os clusters industriais de um país ou região é a reciprocidade. Para os

autores, clusters sólidos alimentam e aproveitam a infra-estrutura da inovação geral.

As diversas organizações e redes formais e informais podem ser a ponte que une as

duas áreas. Um exemplo importante é o sistema de ensino superior de um país, que

faz a ponte entre a tecnologia e as empresas.

Uma análise mais cuidadosa dessas questões expostas, envolvendo os importantes

conceitos de produtividade, competitividade, capacitações e desenvolvimento regional

leva, fundamentalmente, a uma percepção de que países e regiões que se encontram

em um estágio inferior de desenvolvimento, ou mesmo em estágio de

subdesenvolvimento7, não dispõem das competências necessárias exigidas a quem

deseja hospedar um sólido processo de desenvolvimento econômico.

As deficiências encontradas nesses países ou regiões são cristalizadas na ocorrência

de uma precária organização dos setores econômicos e, sobretudo, na inexistência de

uma cultura facilitadora do processo de aprendizado compatível com o moderno

ambiente econômico, cujas implicações acabam por aniquilar a competitividade

doméstica.

Todas as hipóteses precedentes são representativas da direção que esta pesquisa

buscará percorrer, no sentido de entender a evolução dos processos temporais de

organização industrial como elemento vital das estruturas dos modelos de

desenvolvimento econômico formalizados, especialmente, no pós guerra.

7 – Subdesenvolvimento: Segundo Souza (1999), subdesenvolvimento define-se pela insuficiência do crescimento econômico anual, em relação ao crescimento demográfico, por sua intermitência e pela concentração da renda e da riqueza. Nesta condição, as estruturas econômicas permanecem inadequadas à adoção de inovações tecnológicas e ao crescimento econômico sistemático, podendo perdurar formas pré-capitalistas em regiões ou setores.

Capítulo I – Introdução 22

1.6 Hipóteses centrais e objetivo do trabalho Conforme verificado na discussão precedente existe um forte indício de que a dinâmica

social pode ser reproduzida por um processo de transformação em diversos campos da

ciência, o que torna necessário uma certa determinação no que diz respeito a um

grande esforço de adaptação por parte dos vários atores sociais.

Entretanto, uma observação mais geral sobre as economias denominadas periféricas 8 ,

leva a identificação de indicadores perversos e bem característicos, tais como:

Baixo nível de renda per capita;

Altas taxas de desemprego;

Avanço da pobreza; e

Ampliação da desigualdade social.

Todos esses elementos, caracteristicamente, atrofiam os países mais pobres;

entretanto, a “desigualdade social” vem se constituindo num elemento de grande

preocupação, em função do elevado contingente de pessoas que são excluídas do

sistema, cuja evolução acontece em uma escala ascensional.

Publicação do jornal dos economistas em setembro de 1999 mostra um estudo

realizado pela CEPAL em nove países latino-americanos, em que a taxa média de

crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil que era de 7% caiu para

1,3% entre 1980 e 1992 e se manteve em apenas 2% de 1991 a 1997. No período

posterior não se verifica uma mudança significativa.

O gráfico a seguir, ilustra as taxas de variações do PIB e renda per capita das

economias latino-americas, no período de 1992 a 2000.

Capítulo I – Introdução 23

variação do PIB e renda percapita das economias latino-mericanas

-2

-1

0

1

2

3

4

5

6

92 93 94 95 96 97 98 99 00

PIBRENDA PER CAPITA

3,0

3,5

5,2

1,1

3,7

5,2

2,3

4,1

1,2

1,7

3,4

-0,6

2,0

3,5

0,6

-1,1

2,5

0,4

Gráfico (01) Variações do PIB e renda per capita dos países latino-americanos

Fonte: baseado em dados da CEPAL.

Uma análise concomitante do Departamento de Desenvolvimento Humano do

Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (Pnud), indica que 20% dos mais

ricos do planeta detêm 86% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, enquanto os mais

pobres participam com apenas 1%.

8- denominação cunhada pelos economistas cepalinos para classificar os paises subdesenvolvidos na formulação de sua crítica à teoria das vantagens comparativas do economista inglês David Ricardo, segundo a qual, os países deveriam especializar-se na produção daqueles produtos que tivessem maior vantagem comparativa de custos. Assim os países pobres deveriam se dedicar à produção de produtos de baixo poder tecnológico e os países centrais os produtos de alto poder tecnológico. Segundo os economistas da CEPAL, esta situação caracterizaria a deterioração das relações de troca contra os países subdesenvolvidos.

Capítulo I – Introdução 24

Uma outra publicação, na revista Exame em 1999, indica uma população de pobres no

Brasil da ordem tinha 54 milhões em 1997, o equivalente a 34% dos habitantes do país,

ou seja, quase a população da Itália. Desse montante, 24 milhões viviam abaixo da

linha de indigência (consumo de alimento menor do que a quantidade mínima definida

pela Organização Mundial de Saúde), enquanto que 10% dos mais ricos da população

ficavam com quase a metade de tudo o que é produzido no país.

Recentemente, em matéria na mesma revista, o Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada (IPEA), baseando-se nos dados do relatório do Programa e Desenvolvimento

das Nações Unidas (Pnud), analisa o paradoxo da miséria no Brasil. Nesta análise o

Ipea indica que a taxa de miséria publicado recentemente situa-se 14,5% da população

contra uma taxa de 17% a 25 anos atrás. Segundo o Instituto, esta queda é muito

pequena diante do amadurecimento social, econômico e político registrado no período.

A base para quantificação estatística desta palavra de significado impreciso veio do

estabelecimento de duas grandes linhas desenvolvidas por estudiosos. A primeira á a

linha de pobreza que define os limites relacionados às pessoas de renda insuficiente

para cobrir os custos mínimos de manutenção da vida humana: alimentação, moradia,

transporte e vestuário, considerando que a saúde e a educação são fornecidas pelo

governo. A segunda á a linha de miséria (ou indigência), que determina quem não

consegue ganhar o bastante para garantir sequer a alimentação, a mais básica das

necessidades.

Segundo esses conceitos, no Brasil, os dados revelam a existência de 53 milhões de

pessoas abaixo da linha de pobreza. Destas, 30 milhões vivem entre a linha da pobreza

e acima da linha da miséria e, finalmente, 23 milhões de pessoas estariam na situação

de miséria ou indigência.

Como pode-se verificar, os indicadores acima indicam o alto grau de exclusão social,

especialmente nos Países as América Latina. Por outro lado, diversas correntes do

pensamento econômico reconhecem o crescente processo de globalização das

Capítulo I – Introdução 25

economias nacionais e consideram que o avanço da pobreza, nesses países, constituí

o grande complicador deste inicio de milênio.

Assim, torna-se fundamentalmente importante entender o funcionamento dessas

estruturas sócio-econômicas e, sobretudo, pensar na possibilidade de novas

formulações relacionadas a organização produtiva, de forma que melhores

contribuições possam surgir no processo de desenvolvimento econômico em

consonância com as várias diferenças econômicas, sociais, culturais e tecnológicas, tão

acentuadas regionalmente.

1.6.1 Hipóteses consideradas

Esse esforço de análise possibilitou a formulação das seguintes hipóteses relacionadas

às origens dos problemas elencados: O

s •Os 20%os mais ricos do p

O sistema de acumulação capitalista tradicional, baseado na organização produtiva

taylorista-fordista, parece não ter contribuído para o desenvolvimento econômico

dessas regiões;

Por outro lado, os elementos fundamentais dos modernos sistemas flexíveis de

organização produtiva, parecem não estar presentes nessas mesmas regiões,

especialmente pela inexistência de uma cultura voltada para o aprendizado

contínuo.

Assim, a partir das considerações relacionadas a essas hipóteses, o trabalho define um

objetivo central que, embora não tenha a pretensão de resolver o problema do

subdesenvolvimento, acredita que pode representar um poderoso instrumento de

auxílio a necessária transformação local.

Capítulo I – Introdução 26

1.6.2 Objetivo do trabalho

À luz desse contexto, o trabalho tem como objetivo central, a proposição de elementos

fundamentais para a construção de uma estratégia de capacitação em regiões

periféricas na busca de desenvolvimento econômico, cujo foco está centrado no

processo de organização de sistemas produtivos em rede de pequenas firmas.

1.7 O escopo teórico da pesquisa Apesar da questão relacionada à geração de riqueza, desenvolvimento econômico e

outras denominações muitas vezes utilizadas, poder contar com diversas linhas de

análise, este trabalho, não desqualificando as outras, ousou escolher um caminho

particular de investigação, partindo dos principais fundamentos associados aos

modelos de crescimento econômico neoclássico (exógeno e endógeno),

representativos do sistema de acumulação capitalista corrente, e a sua passagem para

os modelos alternativos de desenvolvimento local baseados na organização produtiva

flexível.

Complementarmente, o trabalho elegeu o setor econômico agropecuário da Região

Norte Fluminense no Estado do Rio de Janeiro como objeto de análise, porém visto

num contexto mais ampliado das atividades agroindustriais integradas, cuja

denominação, “agribussiness”, é creditada a Davis e Goldberg (1957). Tal escolha

prende-se às características tradicionais históricas, geográficas e culturais de um

grande grupo de regiões de perfil periférico.

Objetivando validar as hipóteses construídas e, fundamentalmente, a proposta

apresentada, este trabalho se estrutura através de uma organização baseada em seis

capítulos, distribuídos como se segue:

s 1

Capítulo I – Introdução 27

1.8 Organização do trabalho Primeiro capítulo: objetivou-se, neste capítulo, uma certa sistematização sobre a

origem e evolução de importantes postulados associados à geração de riqueza, tanto

no contexto nacional como no regional, considerando as mudanças de paradigmas ao

longo do tempo, assim como a inserção de relevantes conceitos como produtividade e

competitividade. Outros fatores emergentes como a moderna visão econômica voltada

para o desenvolvimento regional, além da identificação da importância do ambiente

econômico e da cadeia de valor na obtenção de excedentes de produtividade, são

elementos que incorporam a discussão deste capítulo. Complementarmente, espera-se

estas questões possam contribuir para uma observação sistematizada da realidade

regional e, sobretudo, auxiliar na consolidação do objeto desse trabalho, voltado para o

setor agropecuário da região norte fluminense do Estado do Rio de Janeiro.

Segundo capítulo: O segundo capítulo proporcionará uma discussão sobre os

postulados básicos associados aos modelos de crescimento econômico neoclássico

(exógeno), assim como os seus desdobramentos que culminaram nos atuais postulados

de características endógenas. Esses elementos contribuirão para um melhor

entendimento dos mecanismos intrínsecos aos mesmos modelos, permitindo uma

melhor percepção no processo de avaliação do estágio econômico em que se

encontram as regiões de perfil periféricas, incluso a região de interesse do trabalho.

Terceiro capítulo: Objetiva este capítulo evoluir na pesquisa sobre os modernos

sistemas de organização industrial e as conseqüentes experiências de desenvolvimento

econômico regional. Trata-se da investigação sobre os modernos “Distritos Industriais”,

considerados na literatura como o novo paradigma de organização industrial o qual, no

entanto, oferece algumas dificuldades de importação em sua totalidade. Desenvolve-se

ainda, ao longo da discussão, uma avaliação crítica sobre esses modelos, no que diz

respeito a sua implementação em regiões periféricas, fundamentalmente, em função de

suas características predominantes, ou seja, a ausência de uma cultura associativista e,

sobretudo, um elevado grau de desorganização econômica setorial.

Capítulo I – Introdução 28

Quarto capítulo: Neste capítulo propõe-se uma discussão voltada para analisar o

estágio econômico regional – a região norte fluminense - à luz dos postulados exógeno

e endógeno e, fundamentalmente, à luz do moderno paradigma representado pelos

“Distritos Industriais”, ocasião em que indicar-se-ão as dificuldades de implementação

de alguns postulados em seu estágio específico.

No desdobramento da análise será desenvolvida uma avaliação crítica sobre a

possibilidade de replicação do modelo “distrito industrial” em regiões marginais, como a

região norte fluminense, momento em que se identificará a necessidade de importantes

intervenções de maneira que essas regiões possam construir um ambiente sócio-

cultural mais capacitado para a formação de riqueza, com vista ao aumento e

manutenção das taxas de emprego e renda. Quinto capítulo: Este capítulo define, como proposta de trabalho, a construção de uma

estratégia de capacitação para territórios marginais que buscam o desenvolvimento

local. A identificação do quantitativo da oferta disponível de recursos voltados para

dinamizar economicamente essas regiões e, conseqüentemente, a contabilização de

resultados inconsistentes com esse contexto, fortaleceu o sentimento de que o grande

obstáculo a ser considerado é a ausência de competência demonstrada por essas

regiões para a utilização plena e eficiente desses mecanismos disponíveis em seus

ambientes. Sexto capitulo: Este capítulo trata das considerações finais. O processo evolutivo de

aprendizagem sobre o tema “desenvolvimento econômico”, as formas de organização

industrial, as dificuldades de implementação - em sua totalidade - dos sistemas

importados que guardam uma forte relação com a cultura, história e geografia regional

e, fundamentalmente, a disponibilização de algumas indicações que possam permitir

uma efetiva contribuição no processo de desenvolvimento econômico e social de

regiões mais atrasadas tecnologicamente.

Conclusivamente são apresentas as referências bibliográficas utilizadas neste trabalho.

CAPÍTULO II

UMA REVISÃO DOS MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÔMICO NEOCLÁSSICO E ENDÓGENO

2.1 Uma aproximação aos postulados da teoria de crescimento econômico neoclássica

Objetivando contribuir para um melhor entendimento sobre os pilares essenciais do

processo de geração de riqueza, este capítulo desenvolve uma investigação sobre os

pressupostos da teoria neoclássica de crescimento econômico, sua passagem para o

estágio endógeno, assim como, indica as novas leituras do desenvolvimento no

contexto atual.

Evidentemente, não desconsiderando outras importantes abordagens do

desenvolvimento econômico como a da CEPAL, as Etapas do desenvolvimento de

Rostow, a Teoria evolucionaria de Guha, dentre outras, a linha de análise escolhida por

este trabalho prioriza a teoria do crescimento econômico exógeno e endógeno, assim

como, os desdobramentos no campo do desenvolvimento econômico a partir da década

de oitenta.

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 30

No pós-guerra, as atenções voltaram-se para a identificação de fórmulas mais eficientes

que pudessem diminuir a pobreza e, conseqüentemente, as desigualdades entre os

países desenvolvidos e os subdesenvolvidos. A economia Keynesiana, de curto prazo,

já esboçava sinais de enfraquecimento, o que possibilitou o surgimento dos modelos

neoclássicos, cujo objetivo era explicar o processo de crescimento econômico. Os

economistas de orientação neoclássica apresentavam uma visão otimista sobre o

processo de produção. Segundo os mesmos, o crescimento econômico se

caracterizava por um processo gradual, cuja origem estaria nos mecanismos

automáticos do mercado perfeito. Essa visão entendia que os salários e os preços eram

flexíveis e as remunerações dos fatores distribuídas eqüitativamente, segundo a

produtividade marginal de cada agente, Solow (1956).

Desta forma, o crescimento econômico era visto como um processo contínuo e

harmonioso em função da acumulação de capital, originada pela alocação plena e

eficiente dos fatores de produção, The economist (1996).

Segundo Paz e Rodrigues (1972), a teoria neoclássica explica o processo de

crescimento econômico através de modelos que apresentam os seguintes principais

postulados:

(i) Um sistema de mercado regido pela concorrência perfeita e a existência de pleno

emprego em todos os mercados;

(ii) Uma condição de economia fechada e sem governo;

(iii) Uma função de produção que apresenta rendimentos constantes a escala e

decrescentes quando se altera apenas um dos fatores;

(iv) Uma economia simplificada que produz um único bem com apenas três fatores

(capital fixo, trabalho e terra);

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 31

(v) Uma condição em que os fatores de produção são homogêneos, divisíveis e

imperfeitamente substituíveis entre si.

Na visão de longo prazo o modelo clássico básico de Solow (1956), considerava que a

taxa de crescimento dependia essencialmente da taxa de mudança tecnológica

(variável puramente exógena), isto é, do progresso técnico. Assim, segundo o modelo,

todos os países tenderiam a convergir para a mesma taxa de crescimento e para os

mesmos níveis de renda per capita.

Todavia, um postulado importante da economia neoclássica representado pela taxa de

crescimento dependente diretamente da poupança não se verificou, já que,

posteriormente, ficaram evidenciadas as dificuldades do modelo de crescimento de

Solow-Swan. Na verdade a média de poupança não afetou a média do crescimento e,

na ausência de circunstancias exógenas, a poupança apenas diminuiu a produtividade

marginal do capital, forçando a economia em direção a um estado estacionário.

O diagrama (02) a seguir, sistematiza os principais elementos da teoria neoclássica do

crescimento econômico, segundo Solow (op. cit.)

• Principal proposição

a taxa de crescimento depende essencialmente da

taxa de mudança tecnológica.

• Progresso técnico

é uma variável puramente exógena.

• Função de produção

estruturada a partir do nível técnico;

estoque de capital;

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 32

produtividade marginal do capital;

produtividade marginal do trabalho;

taxa de mudança tecnológica (exógena).

• Hipóteses centrais

do modelo

flexibilidade de salários e preços;

mercados concorrenciais;

perfeita informação;

capital maleável;

progresso técnico como elemento exógeno,

formado de modo independente dos parâmetros

do modelo.

• Ambiente sócio econômico

fatores ambientais favoráveis.

econômicos: concentração industrial,

mercado de trabalho especializado,

infra-estrutura real.

não econômicos: aperfeiçoamento das leis,

investimento em capital humano,

mobilidade da mão-de-obra.

• Visão de longo prazo

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 33

todos os países tenderiam a convergir para a

mesma taxa de crescimento e para os mesmos

níveis de renda per capita.

• Fluxo Circular (ausência

de inovação tecnológica)

o crescimento demográfico determina o

crescimento econômico.

a produtividade do trabalho e do capital aumentam

com maiores conhecimentos, melhor educação e

saúde dos trabalhadores, uso de processos e

máquinas mais eficientes, elevando o ritmo do

crescimento econômico.

quanto maior o crescimento da taxa do progresso

técnico em relação ao trabalho, tanto maior será

a acumulação de capital e o crescimento

econômico, via aumento da produtividade do

trabalho. Diagrama (02): Os principais elementos da teoria neoclássica do crescimento econômico adaptado de Solow (1956)

Visando uma melhor visualização desses modelos, apresenta-se, a seguir, uma figura

representativa de sua estrutura.

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 34

AMBIENTE SOCIOECONÔMICO FATORES AMBIENTAIS

Econômicos: Não econômicos: * Concentração industrial * Aperfeiçoamento das leis

* Mercado de trabalho especializado * Investimento em capital humano

* Infra-estrutura real * Mobilidade de mão-de-obra

Impactos positivos ( +) impactos negativos ( - )

FAVORÁVEL NÃO FAVORÁVEL

SISTEMA ECONÔMICO

EMPREGO POUPANÇA SALÁRIOS INVEST PRODUÇÃO

Figura (03): Visão gráfica dos modelos de crescimento neoclássico Fonte: adaptado de Solow (1956).

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 35

2.2 Uma aproximação aos postulados da teoria do crescimento endógeno

Após o estado precedente de preocupação em relação ao tema, por muitos anos, os

economistas teóricos e pesquisadores empíricos negligenciaram o estudo do

crescimento, concentrando suas atenções em outros campos, notadamente, na política

macroeconômica de curto prazo. Porém, somente na década de 80, ressurge o

interesse pelas questões do crescimento econômico, depois de uma real constatação

empírica do elevado estágio de desigualdade entre os países pobres e ricos. A nova

teoria, como elemento ativo do processo de crescimento, passa então a trabalhar com a

afirmativa de que o progresso técnico exerce efeitos expansivos sobre o produto ao

elevar a produtividade dos fatores e a retransmitir esses efeitos entre as unidades

produtivas.

O primeiro estágio da teoria do crescimento endógeno tem sua origem principalmente

em trabalhos de Paul Romer (1984), que amplia o conceito de capital incluindo o capital

humano (conhecimento e especialização incorporada na força de trabalho), com

objetivo de anular a lei dos rendimentos decrescentes. Sendo assim o modelo incorpora

uma visão de longo prazo em que a taxa comum de crescimento do estoque de capital

e do consumo per capita aumenta com o esforço produtivo do resultado de “learning by

doing”.

A função de produção do modelo endógeno, nesse primeiro estágio, apresenta

rendimentos constantes à escala, ou seja, para dobrar a produção necessita-se duplicar

os insumos 9. A tecnologia permanece, conforme na teoria neoclássica básica, como

uma variável temporal e determinada independente das variáveis do modelo.

Entretanto, logo a seguir, esta hipótese foi abandonada permitindo a incorporação da

tecnologia como uma variável endógena ao modelo. Esta variável, por sua vez, passou

a apresentar uma característica de dependência da aplicação do trabalho, do capital

físico e do capital humano. Assim, estava decretado o segundo e atual estágio da nova

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 36

teoria do crescimento econômico, que passou a considerar os gastos em pesquisa e

desenvolvimento, realizado pelas firmas, como elementos da função de produção.

9- segundo Souza (1999), verifica-se essa ocorrência na hipótese de concorrência perfeita e na condição em que as empresas produzem um único bem homogêneo com custo mínimo. Neste contexto os preços são dados pelo mercado e os lucros são normais. Neste estágio a produtividade dos fatores de produção, segundo Romer (op. cit.), passa

a gerar rendimentos crescentes a escala e os investimentos beneficiam direta e

indiretamente as outras empresas. Complementarmente, a sociedade precisa investir

em saúde, educação geral e treinamento específico dos trabalhadores, bem como na

produção de novos conhecimentos técnicos, além do capital físico. Os novos

conhecimentos então passam a produzir externalidades positivas que são apropriadas

pelos agentes produtivos, elevando o nível da produção agregada.

A neutralização dos rendimentos decrescentes são determinados pelos investimentos

na ciência básica e aplicada, na descoberta de novos produtos e processos de trabalho,

bem como em educação e saúde da população. Entretanto, é importante a observação

de que em todas as teorias não existe uma discussão mais profunda sobre o papel do

governo. O vínculo entre a política e o crescimento é tênue e indireto.

Desta maneira, a teria do crescimento endógena então surge como uma tentativa de

reação a presente e sombria perspectiva teórica. Entretanto, vale notar que antes de

Romer outros autores trataram esta questão, conforme relatado em Souza (2000).

Segundo o autor, os assuntos tratados temporalmente foram os seguintes:

• Schultz (1961), Investimento em capital humano;

• Arrow (1962), Implicações econômicas do aprender fazendo;

• Nelson e Phelps (1966), Investimento humano, difusão tecnológica e crescimento

econômico;

• Schultz (1967), A taxa de retorno do investimento alocado na educação;

• Nordhaus (1969), Uma teoria econômica da mudança tecnológica.

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 37

O diagrama 03 a seguir ilustra os principais elementos concernentes ao modelo de

crescimento econômico endógeno:

1º estágio (Paul Romer, 1986)

• Origem

ao ampliar o conceito de capital para

incluir o capital humano (conhecimento e

a especialização incorporada na força de

trabalho) a lei dos rendimentos decrescentes

poderia deixar de vigorar.

• Consideração do modelo

todos os trabalhadores têm o mesmo nível

de habilidade.

• Visão de longo prazo

a taxa comum de crescimento do estoque

de capital e do consumo per capita

aumenta com o esforço produtivo com

o resultado de “learning by doing”.

• Evolução do modelo

endógena.

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 38

• Característica da nova teoria

elemento ativo do processo de crescimento

que exerce efeitos expansivos sobre o

produto ao elevar a produtividade dos

fatores e ao transmitir esses efeitos entre

as unidades produtivas.

• Função de produção

a produção apresenta rendimentos

constantes à escala.

• A tecnologia

é uma variável temporal e determinada

independente das variáveis do modelo.

• 2º estágio da teoria

a tecnologia aparece como um fator

endógeno, dependente da aplicação de

trabalho, capital físico e capital humano.

• Nova função de produção

considera os gastos em pesquisa e

desenvolvimento realizados pela firma.

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 39

a produtividade dos fatores de produção geram

rendimentos crescentes a escala.

esses investimentos beneficiam direta e

indiretamente as outras empresas.

• O aumento do produto

per capita

depende da sociedade investir em saúde,

educação geral e treinamento específico

dos trabalhadores,

bem como na produção

de novos conhecimento técnicos,

além do capital físico.

• Os novos conhecimentos

produzem externalidades positivas que

são apropriadas pelos agentes

produtivos, elevando o nível

da produção agregada.

• neutralização dos rendimentos

decrescentes

investimentos crescentes na ciência

básica e aplicada, na descoberta de novos

produtos e processos de trabalho, bem

como em educação e saúde da

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 40

população.

• O governo

o vínculo entre a política e o crescimento

é tênue e indireto. As teorias não

formulam um juízo firme a respeito do

papel do governo.

Diagrama (03): Os principais elementos da teoria endógena do crescimento econômico, Romer (1986).

2.3 Outras leituras do processo desenvolvimento econômico no contexto atual

Paralelamente ao processo de evolução das pesquisas sobre crescimento econômico

endógeno, produzido por economistas da corrente ortodoxa, surgiram novas correntes

de interesse sobre o tema. Acredita-se que tal incentivo se deu em virtude do

aprofundamento da desigualdade entre países ricos e pobres. Por exemplo, uma

importante vertente de pensamento econômico, capitaneada por Nelson e Winter e

denominada neo-schumpeteriana, resgata os fundamentos da teoria de Schumpeter

(1912), constituindo-se na nova teoria evolucionária do pensamento econômico. Esta

fundamenta-se pela aplicação da teoria da evolução da espécie, segundo a qual o meio

sócio econômico cultural exerce uma influência direta sobre os indivíduos e as

instituições. Assim, o organismo econômico e social mais bem adaptado ao meio tem

melhores condições de sobrevivência e de transmissão de suas mutações. A teoria se

explica pelo instinto de sobrevivência para ampliar seus espaços e pelas forças

motivadoras das adaptações e do crescimento, que pode ser autônomo ou induzido.

Zawislak (1994), confere que com a sistematização da teoria evolucionária a partir de

Nelson & Winter (1982) e Dosi (1991), os postulados da teoria ortodoxa (equilíbrio,

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 41

maximização e racionalidade) são substituídos pelo fator inovação. A nova vertente de

crescimento na opinião desses neo-schumpeterianos passa a consistir dos seguintes

pontos:

(i) O sistema econômico assiste à persistente emergência da inovação, isto é, a

aplicação de novas soluções técnicas em produtos, processos e organizações.

Desta forma a tecnologia é considerada como sendo uma variável parcialmente

endógena às firmas;

(ii) A busca de novas soluções é também endógena e contínua (mutação). Isto

implica, para cada firma, um empecilho para atingir um mesmo e único estado

geral de equilíbrio, pois as oportunidades de pesquisa e as soluções dificilmente

serão as mesmas de uma firma para outra, dadas as diferentes competências e

história (herança genética) de cada um.

(iii) O sistema é assim caracterizado por processos descentralizados de sucessos e

de fracassos (na busca e aplicações de novas soluções) entre as firmas: trata-se

de um conjunto de descobertas úteis e inúteis, de tentativa e erro, de

aprendizados produtivos e improdutivos e várias formas de competição que

acabam por recompensar ou punir agentes heterogêneos (seleção natural).

(iv) O sistema é caracterizado pela interação destes agentes heterogêneos. Disto

resulta uma provável regularidade de evolução do sistema, explicada pelo

conjunto dos comportamentos destes agentes heterogêneos.

Segundo Dosi (1992), o modelo explica a existência de sistemas que exibem uma

dinâmica não linear e múltiplos caminhos dinâmicos.

Freeman (1994), por sua vez, identifica alguns elementos que são representativos dos

maiores avanços da teoria neo-schumpeteriana, os quais são relatados a seguir:

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 42

(i) Descoberta de que a maior contribuição para o desempenho econômico veio de

inovações incrementais e não radicais, realizadas por firmas.

(ii) Reconhecimento da importância da produtividade transmitida por descobertas

científicas, fundamentais em firmas originárias de universidades ou institutos de

pesquisas.

(iii) Entendimento sobre o processo de centralização de inovação em firmas bem

sucedidas, em função da interação social por redes envolvendo diversos atores

de inovação.

(iv) Correção da errônea percepção do governo, indústria e academia, de que a

inovação é um processo linear, e promoção bem sucedida do novo entendimento

de que é um processo baseado numa interação sistêmica entre diversos

inovadores.

Outras vertentes de análise ganham relevância no aprofundamento desse processo

amparado, principalmente, no reconhecimento da existência de uma real

heterogeneidade entre os diversos atores econômicos, o que acaba por derivar a

análise do desenvolvimento para a esfera regional, sobretudo, pelo declínio da

economia nacional, cujo foco está na proteção às empresas com maior capacidade

competitiva.

Desta forma, toma vulto o papel da cooperação como mecanismo de política de

desenvolvimento. Conseqüentemente, o processo de inovação, guia da perspectiva

evolucionária, e o aprendizado se constituem nos fatores mais relevantes deste novo

processo.

Assim, tornam-se relevantes às contribuições sobre a identificação da necessidade do

aprendizado interativo no processo do presente estado de inovação industrial e

institucional (Cooke 1988), assim como, o reconhecimento da importância do

associativismo cooperativo e do aprendizado, representando uma troca entre

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 43

interlocutores sociais, diferente das ações isoladas dos heróicos investidores (Freeman,

1994).

Neste processo de evolução, novas contribuições surgem no contexto da discussão

sobre desenvolvimento regional. Malecki (1997), considera que a taxa de criação de

empreendimentos tem um papel fundamental no desenvolvimento local, e que

necessariamente, os atores devem se organizar produtivamente. Um conceito amplo de

empreendimento, para o autor, deve considerar pequenas firmas, inovação e uma

política de desenvolvimento regional e local. Este processo deve ser explorado

considerando tanto a qualidade, quanto a quantidade (Davidson, 1995)

Todavia, conforme Casson (1982), a sobrevivência do empreendimento no longo prazo

depende do processo de inovação de produtos. Assim, a reprodução de práticas

improdutivas normalmente inibe novos negócios, que por sua vez, desaparecem na

esteira do processo de destruição criativa introduzido por Shumpeter (1934).

Uma organização econômica setorial capaz de contribuir para um processo de

mudança encontra-se acordado no modelo de desenvolvimento centrado de

empreendimento de Coffey e Polese (1984, 1985), o qual considera que a formação de

uma nova firma, é fundamental para o pensamento corrente acerca do bem estar local

e regional.

A formação de uma nova firma, entretanto, depende de um meio ambiente favorável

estruturado em rede de empreendedores, firmas correlatas, fornecedores de capital,

meios de informação. Regiões próximas a universidades, normalmente propiciam

importante integração entre empresa e pesquisadores, de maneira que projetos

colaborativos possam ser disponibilizados. A Promoção do desenvolvimento local

possibilita a criação de um meio ambiente para empreendimentos inovativos através da

promoção de instituições, redes e uma cultura técnica.

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 44

No modelo de desenvolvimento local de Coffey e Polèse (op. cit.), o conhecimento local

acumulado, os valores locais, as experiências e os recursos são influências

significativas na formação de novas firmas.

Na concepção de Blakely (1994), o empreendimento é à base de um desenvolvimento

econômico local, porque empreendedores respondem às oportunidades incompletas de

mercado que são deixadas por grandes empresas. Conseqüentemente, a formação de

uma pequena empresa é um componente de desenvolvimento local e nacional aceito.

Conseqüentemente, Suarez Vila (1989) afirma que a inovatividade do empreendimento

está na habilidade de alguns novos negócios entenderem melhor o mercado do que

outros o fazem. Evidentemente que não meramente no curto prazo, segundo a cultura

pré-existente em regiões periféricas, mas no longo prazo como preenchedores de

nichos inovativos. As baixas barreiras de entrada em outros setores atraem

empreendedores mais imitativos do que inovativos, atraindo muitos empreendimentos

nessa categoria de imitação, Popovich (1990).

Entretanto, Maskell (1998), referindo-se ao ambiente representativo de uma economia

integrada e globalmente crescente, alerta que as regiões de alto custo, a exemplo dos

pequenos países industrializados em particular, não conseguem sustentar a

competitividade e prosperidade.

Assim, a sobrevivência e prosperidade das firmas passam a depender primariamente

dos fatores dentro da firma, e não de qualquer tamanho de mercados exógenos ou

características industriais.

A figura a seguir objetiva ilustrar os modelos endógenos de característica local

compreendidos na discussão precedente:

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 45

SOCIAIS INSTITUCIONAIS

SISTEMA LOCAL Variáveis econômicas

PRODUÇÃO

INVESTIMENTO

SALÁRIOS

POUPANÇA

EMPREGO

ECONÔMICOS

ESTRUTURAS DO

AMBIENTE SÓCIO CULTURAL

INSTITUIÇÕES INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS

Figura (04) o ambiente sócio cultural é endógeno

Fonte: adaptado de Romer (1984).

Complementarmente, as discussões sobre a teoria dos distritos industriais parece vir

ocupando um lugar de destaque no que diz respeito ao tema desenvolvimento

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 46

econômico, mais modernamente. Um fator motivador pode estar na evolução de parte

da Europa, denominada Arco Alpino (nordeste e noroeste da Itália, Franca, Alemanha e

Suíça), que adquiriu o “status” de macro região com alto poder de competitividade

internacional, apesar de contar com muitas atividades de baixa agregação tecnológica.

Assim, o fato dessa teoria ter possibilitado um grande sucesso, especialmente, em

regiões dispersas com predominância de atividades econômicas oriundas do setor

tradicional 10 , cujas semelhanças são próximas de algumas regiões do Brasil,

especialmente, a região norte fluminense, merece um maior aprofundamento de

analise, o qual desenvolver-se-á no próximo capitulo.

2.3 Uma avaliação dos fundamentos básicos das teorias neoclássica e endógena frente às estruturas econômicas com níveis de crescimento insatisfatórios O processo de avaliação dos postulados das estruturas teóricas neoclássica e

endógena permite um certo aprendizado que, naturalmente, aguça um sentimento

reflexivo em direção às economias ditas periféricas ou de crescimento econômico

insatisfatório. Assim surge uma importante indagação: Essas teorias, efetivamente,

explicam o estágio presente de ausência de desenvolvimento nessas regiões

periféricas?

Visando um melhor entendimento sobre os postulados gerais intrínsecos às teorias

acima e a sua associação ao ambiente periférico, propõem-se a seguir a sistematização

de alguns comentários preliminares sobre a questão:

10- Segundo Souza (1999), setor econômico tradicional e aquele que produz bens de consumo corrente, com baixa intensidade de capital e de tecnologia, geralmente agrícolas e de consumo interno, vendidos ou não no mercado externo.

• As teorias neoclássica e endógena tratam a questão do crescimento no contexto da

nação, não levando em consideração a condição de heterogeneidade entre países,

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 47

regiões e organizações. O tratamento do desenvolvimento econômico no contexto

local, com base nos sistemas industriais integrados do norte da Itália, regiões da

Alemanha e França, oriundas dos modelos de distritos industrias talvez possa

responder melhor ao planejamento de uma estrutura industrial nessas regiões.

• A taxa de crescimento, como dependência da taxa de mudança tecnológica, tanto

na visão exógena quanto endógena, no sentido individual, pressupõe um ambiente

sócio cultural favorável composto por fatores econômicos (concentração industrial,

mercado de trabalho especializado, infra-estrutura real) e não econômicos (leis

aperfeiçoadas, investimento em capital humano, mobilidade de mão-de-obra) além

de grandes empresas operando no processo de produção em massa.

Contrariamente, nos espaços econômicos periféricos inexiste um ambiente sócio

cultural nas condições concebidas por estas teorias. Assim, uma proposição de

ajuste estaria na ótica de construção de um novo formato de organização produtiva,

compreendendo redes de pequenas empresas em franco processo de cooperação

solidária, de maneira a permitir um maior grau de competitividade ao ambiente

mesoeconômico.

• Os parâmetros de perfeita flexibilidade de preços de fatores e salários, mercados

concorrenciais, perfeita informação e capital maleável - considerados na teoria

neoclássica – parecem não estar presentes nos espaços econômicos periféricos. Ao

contrário, o que predomina é um processo de concorrência imperfeita pela ação dos

oligopólios, além da imperfeita informação e, sobretudo, uma aguda dificuldade na

contratação de capitais com taxas compatíveis com a taxa de retorno dos

investimentos. Na verdade existe uma forte incidência de pequenas empresas que

operam isoladamente e não costumam dispor de competências básicas gerências,

nem financeiras nem tecnológicas. A proposição de ajuste, assim, deve

fundamentar-se na consolidação das redes de cooperação citada precedentemente.

• A concepção de que a produtividade do trabalho e do capital aumenta com a adição

de maiores conhecimentos, melhor educação e saúde dos trabalhadores e uso de

processos e máquinas mais eficientes não é tão mecânica como a teoria

Capitulo II – Uma revisão dos modelos de crescimento econômico neoclássico e endógeno 48

neoclássica supõe. Assim, permanece a visão de que um novo formato de

organização produtiva pode romper tal estágio de subdesenvolvimento vivenciado

por regiões periféricas.

• A produtividade dos fatores de produção gerando rendimentos crescentes e os

investimentos beneficiando direta e indiretamente as outras empresas, vislumbrados

pela teoria endógena, só poderão se efetivar em função do esforço de cooperação

entre os organismos no contexto local. Conclusivamente, percebe-se que os movimentos mecânicos da teoria neoclássica e,

fundamentalmente, as ações ativas das teorias endógenas do crescimento econômico

exigem um ambiente sócio-cultural, o qual parece não existir em regiões periféricas.

Sendo assim, aflora a percepção de que a inserção de um processo de aprendizado

contínuo é fundamentalmente importante para o planejamento de ações especificas e

regionalizadas que vá de encontro aos diferentes problemas oriundos de cada cultura,

historia, hábitos, religião, etc. Tal percepção, dessa forma, indica a impropriedade

dessas teorias para explicar a ausência de desenvolvimento nessas regiões periféricas,

as quais apresentam uma real característica de heterogeneidade que não são

capturada pelas teorias neoclássica e endógena.

CAPÍTULO III DISTRITOS INDUSTRIAIS COMO PARADIGMA DE ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL -

UMA AVALIAÇÃO CRÍTICA 3.1 Introdução Diferente do contexto verificado no capitulo anterior, algumas regiões da Europa, mais

especificamente, o nordeste da Itália, conhecida como “Terceira Itália”, composta pelas

regiões de Vêneto, Trentino, Friuli-Venezia Giulia, Emilia-Romagna, Toscana, Marche e

parte da Lombardia, juntamente com a macrorregião denominada Arco Alpino,

composta pelo noroeste italiano, Rhone-Alpes na França, Baden-Wurttenberg e Baviera

na Alemanha, Suíça e Áustria, vêm experimentando uma nova dinâmica de

desenvolvimento econômico (Gurisatti 1999). Essas experiências, provenientes de um

processo de industrialização localizada, colocaram os distritos industriais europeus em

evidência, em função de sua competitividade internacional e da alta absorção de mão-

de-obra. Conseqüentemente, essas experiências estão crescentemente ocupando

espaços entre os pesquisadores de políticas industriais do mundo inteiro (Tironi 1999).

Diante desta constatação, diversos autores tem apresentado conceitos bem próximos

para “Distrito Industrial”. Becattini (1994), conceitua “distrito industrial” como uma

entidade sócio-cultural caracterizada pela presença ativa de uma comunidade de

pessoas e de uma população de empresas num determinado espaço geográfico e

histórico. Para o autor, a originalidade de um distrito industrial qualifica-se pela simbiose

entre a atividade produtiva e a vida comunitária, o que gera possibilidades de

cooperação competitiva, potencializando a criação de externalidades positivas.

Externalidade, entendida como um efeito secundário gerado numa atividade qualquer,

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 50

podendo ser positiva quando desejada, ou negativa, quando indesejada (Humphrey e

Schmitz, 1996).

Em Brusco (1982) e Staber (1999), “distrito industrial” é definido como redes de

pequenas firmas especializadas, localizadas em proximidade fechada e integradas nas

estruturas institucionais locais que apóiam um mix dinâmico de cooperação e

competição.

Numa análise sobre a visão geral do modelo industrial italiano, Storper e Scott (1996)

entendem “distrito industrial” como um lugar onde os produtos são elaborados e postos

em circulação numa condição em que o trabalho é administrado à luz da existência de

uma regulamentação institucional capaz de garantir a estabilidade e sobrevivência do

distrito.

3.2 Estágio inicial dos “Distritos Industriais”

O conceito de “distritos industrias” , como paradigma de organização industrial

localizada, não é totalmente recente. Piore & Sabel (1984), apontam que os distritos

industriais do século dezenove apresentavam três características interdependentes

como fonte de seu dinamismo e de sua vitalidade tecnológica. São as seguintes essas

características:

• Em relação ao mercado; onde podia-se observar uma forte aptidão para produzir

uma ampla variedade de produtos para mercados regionais altamente diferenciados,

cujo perfil era marcado pela exigência de mudanças constantes nos produtos,

derivadas de mudanças nos gostos. Assim, o traço principal era de que o sistema

seria um “escravo” das tendências da moda e, conseqüentemente, “criador” da

moda quando do desenvolvimento de inovações capazes de criar novos gostos.

• Em relação à tecnologia; verificava-se o uso flexível de tecnologia de

produtividade crescente e de larga aplicação. A tecnologia tinha que ser flexível em

sentido amplo e restrito: deveria permitir, simultaneamente, a diversificação de

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 51

produtos (sem maiores gastos) dentro de uma mesma família de produtos e a

constante expansão da variedade de materiais utilizados e das operações

produtivas, de forma a facilitar a transição de uma linha de produtos para outra.

• Em relação ao aparato institucional; a atuação de instituições regionais que

pudessem garantir um balanceamento entre as necessárias cooperação e

competição seria essencial no sentido de estimular permanentemente a inovação.

As instituições deveriam, então, propiciar um ambiente no qual habilidades e bens

de capital pudessem ser constantemente recombinados, de forma a garantir a

rápida alteração de produtos. Como precondição para isso, as firmas deveriam ser

desencorajadas da competição via redução de salários e preços e incentivadas a

competir em inovação de produtos e processos.

Segundo os autores, as formas de organização que tornavam possível a flexibilidade no

uso dos recursos disponíveis nesses distritos industriais variavam de acordo com as

particularidades de cada indústria, distinguindo-se três tipos de sistema, a saber:

(i) Municipalismo: constituía a forma predominante no caso de pequenas unidades

de produção com poucas exigências de capital. Através do Municipalismo,

pequenas produções dispersas territorialmente eram centradas em uma base

urbana ou coordenadas por ela, adquirindo a forma de associações (ou

corporações) de pequenas oficinas especializadas por fase do processo

produtivo. Entre outras, a indústria de seda em Lyon constituiu um dos exemplos

bem-sucedidos mais famosos desses distritos industriais. No que tange à

operacionalização do sistema, normalmente se tornava imprescindível a

coordenação exercida ou por um “agente intermediário” (como no “putting-out”) –

que fornecia crédito e matérias-primas e assumia a comercialização do produto

final dos subcontratados – ou pela atuação de uma grande empresa que, além

de desenvolver as mesmas tarefas do “agente”, se encarregava também da

montagem dos produtos finais.

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 52

A figura a seguir, ilustra a sistematização desse processo organizacional.

Associações ou coorporações

Produções dispersas

Produções dispersas

Agente intermediário Grande

empresa

Capital - matériais primas - comercialização

Tarefas idênticas montagem dos produtos finais

Produções dispersas

Produções dispersas

Produções dispersas

Produções dispersas

Produções dispersas

Figura (05): Processo organizacional no sistema denominado Municipalismo Fonte: adaptação Piore & Sabel (1984)

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 53

(ii) Capitalismo do bem-estar ou paternalismo: Este sistema predominava no

caso de industriais que exigiam um montante de capital não acessível a

pequenos produtores (produção de aço, por exemplo). Apesar da produção

concentrada em grandes plantas, usando máquinas avançadas e empregando

grande número de pessoas, uma observação mais detalhada da forma de

organização do trabalho nessas grandes fábricas mostra que elas se

aproximavam muito mais de uma agregação de pequenas oficinas sob o mesmo

teto, produzindo grande variedade de produtos de forma flexível e mantendo as

habilidades artesanais. Não seria correto, portanto, associá-las às grandes

plantas de produção em massa, forma de organização perfeitamente articulada

que iria caracterizar o século XX.

(iii) Sistema familiar ou “sistema Motte”: Esse sistema é uma forma intermediária

de organização de produtores. Fundado na aliança informal, porém caracterizado

por total confiança entre pequenas e médias empresas especializadas, foi

inspirado na estratégia utilizada por Alfred Motte (industrial têxtil francês) nos

anos 50 do século XIX, para fazer face ao aumento da pressão competitiva

exercida pela grande produção em massa. Tal estratégia, que pressupunha a

lealdade familiar como uma vantagem, consistia na constituição de uma

confederação de firmas pertencentes a vários membros de uma família que, em

conjunto, se dedicavam à produção de tecidos de moda. Ao chegar a

determinada idade, cada membro da família era associado a um técnico de larga

experiência de uma das firmas da família. Aos novos sócios era fornecido o

capital inicial necessário para formar uma nova firma especializada em uma das

fases do processo do qual o grupo ainda estivesse carente. Os laços familiares

na origem dessa rede de empresas dotava-as de grande flexibilidade para

promover os rearranjos necessários para acompanhar as mudanças na moda,

bem como facilitava a formação de um sistema comum de reservas financeiras,

de mercado e de compras.

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 54

3.3 O estagio atual dos “Distritos Industriais”

Modernamente a literatura sobre “Distritos Industriais”, desenvolvida, inicialmente, por

Piore & Sabel (1984), num trabalho longamente citado sobre a emergência de uma

nova ordem econômica, resgata nas várias experiências empíricas, importantes

características típicas dos velhos distritos industrias do século dezenove.

O exemplo da indústria têxtil do distrito de Prato, na Itália, de baixa concentração

econômica e extremamente pulverizada, teve seu sucesso apoiado nos seguintes

fatores:

a) um movimento de longo prazo de especialização na direção dos segmentos de

moda da industria;

b) uma correspondente reorganização da produção, na qual as grandes plantas

integradas foram sendo substituídas por uma rede cada vez mais ampla de

pequenas empresas especializadas nas diversas fases de produção – uma

versão moderna do “sistema Motte”.

O excelente desempenho da industria de máquinas-ferramentas japonesa deve

integrar, segundo Piore & Sabel (op. cit.), o rol dos exemplos que evidenciam a

viabilidade do modelo de especialização flexível, cujas características são assim

definidas:

a) verticalização por sistema de empresas, onde assume papel relevante a

subcontratação;

b) empresas especializadas em poucos produtos (ou fases do processo produtivo)

e agrupadas em torno de uma empresa líder;

c) capacidade das firmas de se moverem de uma linha de produtos para outra de

forma rápida e sem muitos custos, tendo em vista a sua política de treinar seus

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 55

empregados de modo a torná-los aptos a exercerem ampla gama de atividades.

Em suma, essas características identificam claramente o “Sistema Motte”.

Outros exemplos de Distritos Industriais incluem as redes têxteis, ladrilhos cerâmicos e

máquinas de ferramentas no norte e centro da Itália (Paniccia 1998), os eletrônicos,

multimídia e aglomerações de produtos culturais na Califórnia (Scott 1996), as regiões

industriais de intensa tecnologia em Baden-Wurttemberg na Alemanha (Sabel et, al.

1989) apud Staber (1999).

Em sua análise sobre as políticas para o desenvolvimento de sistemas de produção

local intensivos em conhecimento, Belussi (1999) sistematiza um mapa sobre a

evolução dos sistemas de produção local italiano, cujas características seguem os

padrões evolucionários, ou seja:

• Uma tendência em direção ao declínio geral da produção, emprego e número de

firmas devido à perda geral da competitividade;

• Um deslocamento parcial das atividades para países de custo de mão-de-obra

reduzido, com vista à redução de custos;

• Uma forte reestruturação interna com mais hierarquização entre as empresas;

• Uma mudança do sistema local em direção a uma nova produção.

O quadro a seguir ilustra o mapa de evolução dos sistemas de produção local italianos,

numa adaptação de Belussi (1999).

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 56

Declínio da estrutura industrial devido à

perda de competitividade

• Calçado (região de Vigevano);

• Calçado (região de Casarano);

• Roupas (região de Carpi);

• Cutelaria (região de Lumezzane);

• Têxtil (região de Busto Arsizio);

• Têxtil (região de Prato)

Deslocamento parcial das atividades em

direção às áreas de baixo custo de mão-

de-obra

• Calçados (região de Barletta)

• Roupas (região de Benetton System)

• Calçados (região Riviera del Brenta)

• Bio-médica (região de Mirandola)

• Alimentos (região de Langhirano)

• Hosiery (região de Castel Goffredo)

Aumento na descentralização com

expansão do papel das médias e

pequena firmas. Mais hierarquização da

estrutura industrial

• Móveis (região de Pesaro)

• Taning (região de Arzignano)

• Mecânica (região de Citadella)

• Glass (região de Murano)

• Spectacles (região de Cadore)

• Cerâmica (região de Sassuolo)

• Têxtil (região de Biella)

• Seda (região de Como)

• Maquinaria para industria de calçados

(região Vigevano)

• Calçados (região de Montebelluna)

• Maquinaria para embalagem (região de

Bologna)

• Anti-theft alarms (região de Varese)

Diversificação da produção • Móveis (região da Cantù)

• Maquinaria para agricultura (região de

Reggio Emilia)

• Logística (região de Milanese hinterland)

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 57

Esses modernos Distritos Industriais têm sua origem na esteira do definhamento do

dinamismo do sistema de produção industrial fordista, cujo domínio foi absoluto nas seis

primeiras décadas do século XX (Courlet 1993). Esse sistema, constituído por grandes

empresas, cujos setores foram convertidos a métodos de produção em massa, contava

com um processo de regulamentação segundo os seguintes elementos (Storper 1996):

• Estrutura oligopolista da indústria, cuja atuação verifica-se no mercado de larga

escala e crescentes barreiras de entrada;

• Relações de mercado de trabalho organizadas em diversos lugares por instituições

de barganha coletiva com forte mistura funcional entre trabalhadores de diversos

níveis de capacitação diferenciada.

Sobre o primeiro elemento, relacionado à estrutura oligopolista da indústria, as

dificuldades impostas às pequenas unidades industriais foram vitais para o seu

processo de fragilização e, conseqüentemente, para a ampliação do grau de exclusão

que aprofundou o desemprego de fatores produtivos, contribuindo para a ampliação das

desigualdades sociais nas regiões periféricas. Contraditoriamente, este processo ainda

continua possibilitando benefícios às grandes organizações, as quais detém uma maior

capacidade de postular a sua participação nos diversos programas de competitividade

dispostos, exogenamente, pelo poder central.

Paralelamente, no que diz respeito ao segundo elemento, a concepção é de que a

legislação do bem estar tem o seu regimento baseado no modelo econômico

keynesiano de demanda agregada. Este modelo caracteriza-se pelo postulado básico

de garantia de altos níveis de estabilidade social referenciado no dispêndio do governo

em direção a um volume de investimento compatível com a demanda por trabalho.

Neste ponto, segundo a teoria, o problema de desemprego é sempre contornado.

Em termos regionais, essa concepção foi vista pelos teóricos como um sistema de

relações centro-periferia com tendência a crescer os custos de regiões periféricas

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 58

subdesenvolvidas, cujo papel principal se concentrava no fornecimento de matérias-

prima ou produtos agrícolas para o centro, a termo de comércio favorável.

Entretanto, mais especificamente, nos anos setenta o sistema fordista entrou em crise

nos Estados Unidos e na Europa, em função das dificuldades apresentadas na

produtividade industrial, exatamente, por razão da importação barata de baixa

qualidade e, conseqüentemente, da dificuldade de manter o crescimento dos salários.

Como conseqüência veio o fechamento de fábricas e a descentralização de filiais para

regiões periféricas de baixo custo.

Esse modelo entrou em crise em conseqüência, sobretudo, de um profundo conflito

capital/trabalho, que modificou as relações de força entre as classes sociais e que foi

acompanhado de uma crise tipo intercapitalista entre os setores hegemônicos do

processo de desenvolvimento, particularmente, entre o setor de base (intensivo em

capital) e o setor produtor de bens de grande consumo (relativamente mais intensivo

em mão-de-obra), especialmente na Itália (Secchi 1974; Graziani 1975 apud Garofoli

1993).

Na luta para combater este cenário indesejável, surgem na Europa as novas estruturas

produtivas ancoradas em territórios, mais especificamente, na França, Itália e

Alemanha, cujo cerne dessa transformação credita-se ao processo de desverticalização

de grandes empresas ocasionado, exatamente, pelo forte conflito capital/trabalho

(Brusco 1982 e Courlet 1993).

Um novo contexto de análise então surge, sob a ótica de territorialidade. Na visão de

Courlet (op. cit.), este conceito representa um espaço localizado de relações funcionais

que se instauram entre o conjunto de empresas e a comunidade de habitantes e que

delimitam um sistema territorial de trocas entre si. Uma definição de comunidade,

segundo Taylor (1982, apud Lorenz, 1996), refere-se a um pequeno e estável grupo de

indivíduos que:

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 59

(i) detêm crenças e valores em comuns;

(ii) cujas relações são diretas com cada indivíduo e opostas mediadas

pelo Estado ou alguma instituição burocrática;

(iii) cujas relações políticas e econômicas não estão claras;

(iv) praticam reciprocidade.

Segundo Courlet (op. cit.), esta nova dinâmica de sistemas industriais localizados

define-se como uma configuração de empresas concentradas em um espaço de

proximidade em torno de um ou de vários setores industriais, onde as empresas

interagem entre si e com o meio sociocultural de inserção. Essas relações não são

apenas mercantis, mas também informais e geram externalidades produtivas para o

conjunto das empresas. Os elementos que caracterizam esses sistemas são:

• A divisão do trabalho entre empresas iguais e/ou autônomas: o que significa um

processo de produções conjuntas, segundo procedimentos específicos de pacto. O

exemplo da Itália mostra o desenvolvimento tanto dos setores tradicionais no centro-

leste, quanto dos setores avançados nas grandes zonas metropolitanas. O

importante é que verifica-se realmente uma convergência em direção a resultados

satisfatórios.

• A industrialização dispersa: O modelo de industrialização dispersa baseia-se em

iniciativas predominantemente locais e em interações fortes entre a economia e a

sociedade. Becatini (1979 apud Courlet 1993), identifica, no caso da Terceira Itália,

a conjugação particular entre a cidade e o campo na origem da industrialização

dispersa. Esse processo no espaço das comunas apresenta uma antiga e rica

prática de organização social fundamentada na solidariedade familiar e no espírito

de empresa.

• A flexibilidade e as economias de aglomeração: onde a flexibilidade produtiva é

representada pela transformação contínua do processo de produção em função da

reorganização dos elementos que a compõem. A flexibilidade baseia-se na

densidade das relações entre empresas e na pequena dimensão de numerosas

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 60

pequenas e médias empresas que participam da divisão do trabalho no sistema

industrial localizado. As economias de aglomeração por sua vez, representam a

conseqüência das relações intensas entre as empresas locais; estas ampliam a

divisão do trabalho, permitindo uma especialização produtiva cada vez maior à

introdução de novas tecnologias e uma maior eficácia do sistema local.

• O jogo de mercado e da reciprocidade como mecanismo de regulação local: diferente do sistema de produção em massa, os mecanismos de regulação nos

sistemas industriais localizados de industrialização dispersa baseiam-se,

fundamentalmente, na perfeita combinação entre o mercado e a reciprocidade.

Especialmente na Itália, a intervenção da família na produção é muito freqüente. A

criação de empresas e os negócios são feitos entre membros da mesma família,

entre membros de famílias aliadas ou entre conhecidos de longa data.

A figura a seguir apresenta esquematicamente a origem e evolução desses novos

sistema industriais:

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 61

Sistema Industrial Fordista

Produção em massa

Competitividade concentrda nas

estruturas especias

Grandes Empresas

Figura (06) Do fordismo ao sistema flexível de produção Fonte: adaptação de Courlet (1993)

Exclusão das pequenas organizações

Crises e mutações em curso

Processo de desverticalização

Sistemas Industriais Localizados

Industrialização territorializada

Estruturas produtivas na Europa Itália, França e

Alemanha

Elementos

Modelo Padrão

Divisão do trabalho entre empresas

Industrialização dispersa

Jogo de mercado e reciprocidade como

mecanismo de regulação local

Flexibilidade e economia de aglomeração

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 62

Similarmente, Staber (1999) identifica quatro elementos fundamentais e conseqüentes

ressalvas no processo de organização funcional e espacial no interior dos Distritos

Industriais, a saber:

• Especialização flexível: condição onde as firmas do distrito se especializam

horizontalmente em um ou mais produtos e/ou verticalmente numa fase de produção

ao longo da cadeia de valor agregado do processo de produção, tecnicamente

divisível dentro de componentes de produtos e fases de produção. Porém, torna-se

relevante a consideração sobre as restrições de sustentação dos mesmos em

mercados complexos e voláteis, onde o risco é eminente em função do alto custo

devido a grande diferença dos competidores (Harrigam, 1985 apud Staber, op. cit.).

• Cooperação interfirmas: para o autor, estudos mostram que a natureza e padrão

da cooperação interfirmas podem diferir longamente através das indústrias das

regiões porque as habilidades tradicionais e institucionais relevantes à inovação têm

seu grande impacto no nível local. Instituições incluem organizações formais, tais

como facilidades educacionais e centros de transferência de tecnologia. Entretanto

sua presença, de forma isolada, não garante uma cooperação inter-firmas assim

como não garante que a cooperação terá conseqüências inovativas. Desta forma, o

aspecto social das instituições definidas como cognitivas e sistemas de sentido

normativo são as condições que determinam como as relações competitivas são

desempenhadas. Os sistemas de sentido institucional podem ser altamente

específicos de cada lugar porque eles refletem a história e a cultura local.

Conseqüentemente, por serem difíceis de replicar, representam uma fonte de

vantagem de competitividade sustentável (Bellandi, 1996 apud Staber, op. cit.).

• Proximidade geográfica: Para o autor, a discussão sobre proximidade geográfica

deve isolar a visão tradicional de firmas em distritos, cuja concentração define-se

com objetivos claros de redução de custos, acesso à infra-estrutura local,

maquinaria especializada e mão-de-obra especializada. Distrito industrial não deve

ser visto meramente como uma agregação territorial estática de produtores e

atividades. Assim, uma melhor representação para essa forma de organização

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 63

produtiva diz respeito a um sistema com propriedades emergentes, não

necessariamente linear e uniforme, refletidas em uma relação de poder, status e

reputação.

O distrito está em constante fluxo tendo em vista a fluidez da informação entre os

atores envolvidos. A localização territorial oferece informações externas através de

firmas capacitadas, de modo, a prontamente, ensinar sobre novas tecnologias e

oportunidades de mercado e, conseqüentemente, criar possibilidades para

indivíduos agirem como brokers e diluidores do conhecimento (Garney, 1998 apud

Staber op. cit.).

Finalmente, a dinâmica da interdependência funcional entre firmas especializadas

permite que os atores possam aprender rapidamente em função do intercâmbio da

informação diretamente. Especialmente nos distritos industriais onde a inovação e a

tomada de decisão e risco são críticas, a concentração pode ser vantajosa para

todos as firmas porque é difícil predizer qual firma desenvolverá a inovação líder.

• Envolvimento social: Neste fundamento as empresas estão envolvidas pela forte

cultura local que dá sentido e legitimidade ao conhecimento coletivo e

compartilhamento dos recursos (Dei Ottati, 1994; Harrison, 1992 apud Staber op.

cit.). A proximidade social encoraja a interação cara a cara e a circulação de novas

informações. A integração das firmas na estrutura social local ajuda a atenuar

tendências oportunistas e servem como base para a credibilidade, elemento

necessário para que as firmas possam se engajar em inovações de risco. Quando

esse tipo de envolvimento social é forte, o oportunismo, a incerteza, a dependência

de recursos e as assimetrias de poder são sentidos menos dramaticamente do que

em mercados abertos com firmas em condição de grandes desigualdades para

cooperar, mesmo que isso signifique a perda de algumas se suas autonomias (Uzzi,

1996 apud. Staber op. cit). Entretanto Lorenz (1996), compartilhando Dore (1986); Friedman (1988); Piore (1990);

Piore e Sabel (1984); Raveyre e Saglio (1984); Sabel (1989) e Sengenberger e

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 64

Loueman (1987), considera o equilíbrio particular entre cooperação e competição como

o fator chave do dinamismo tecnológico nos distritos industriais. Esse conhecimento

iniciado na Terceira Itália hoje se estendeu para a Europa, Estados Unidos e Japão.

Alguns importantes aspectos da cooperação entre produtores nos distritos industriais

são identificados pelo autor como: boas previsões coletivas; treinamento e educação;

pesquisa e desenvolvimento; cuidados médicos e seguro contra desemprego. Segundo

o autor, a produção associada normalmente provém do patrocínio de algumas

instituições locais, tais como: associações de negócios, união de comércio, governo

municipal ou regional.

Segundo Amim e Thritt (1994 apud Staber op. cit.), a literatura indica que os “distritos

industriais” foram pensados como um sistema capaz de: a) estimular a inovação; b)

apoiar a adaptabilidade de negócios e c) facilitar o desenvolvimento regional endógeno

num mercado global crescente.

Para Courault e Romani apud Storper (1996), o “distrito industrial” permite a promoção

da necessária flexibilidade ao processo industrial, devido à coordenação da estrutura

produtiva, além de suas raízes. A reconsideração sobre a possibilidade deste modelo

ser estendido para outros países vem sendo pesquisada desde Courault, Rèrat e Weisz

na França; Romani and Gettio, Brusco, Garofoli, Solinas and Vila na Itália, em trabalhos

de pesquisa envolvendo comparações entre as zonas industrias da França e Itália.

Brusco (1982), entretanto, formaliza a lógica do modelo de descentralização produtiva

identificando o sistema de produção como um todo, integrado por uma miríade de

unidades especializadas e ligadas para o mercado de uma maneira que maximiza

responsabilidades dos sistemas produtivos de acordo com as tendências de mercado.

Assim, a estrutura econômica do distrito repousa sobre uma base social distinta, parte

da qual, está no seu sistema de relações de gerenciamento da mão-de-obra. Nesse

caso as relações de proximidade e de família são importantes no apoio as redes de

intercâmbio as quais constituem a base social da produção. Têm-se então que a força

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 65

do trabalho desempenha um papel principal. A figura de linha de frente é talvez o

trabalhador independente, o autônomo, considerado pelo autor diferente do artesão

tradicional, pois representa, efetivamente, um empreendedor.

3.4 Críticas aos “Distritos Industriais” Embora possa-se verificar na vasta literatura sobre o tema “Distrito Industrial” um

número expressivo de autores indicando esse sistema como o novo paradigma do

desenvolvimento econômico local, algumas críticas são apresentadas, especialmente,

no que diz respeito, a sua replicabilidade em regiões marginais (à margem do processo

dominante de industrialização). Na pesquisa de Staber (op. cit.), visando uma melhor

sistematização dos conceitos concernentes ao assunto, algumas dessas críticas

surgem claramente.

Por exemplo, Amim (1993) e Harrison (1994) apud Staber (op. cit.), consideram o

modelo de “Distritos Industriais” muito otimista sobre as perspectivas de

desenvolvimento do sistema de produção concentrado localmente em economias

globais.

Murray (1987) e Staber e Sharma (1994 e 1999), apresentam uma visão um tanto

quanto cética sobre a capacidade desses distritos de criar alta capacitação, alto salário

e alto valor de emprego agregado. Os autores têm dúvida sobre a capacidade do

modelo em combinar eficiência econômica com equidade social.

Outrossim, Amim e Robins (1990) questionam sobre a oportunidade de aplicações

desse modelo em países de economia estagnada ou em declínio. Os autores

interrogam se não existem limitações na aplicação.

Conforme Staber (op. cit.), tais discussões sobre o potencial inovativo dos “Distritos

Industriais” são em parte teóricas e estabelecidas em debates sobre o relacionamento

entre globalização e tendências de localização. O próprio autor conclui que o tema

suscita muito mais discurso do que resultado.

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 66

Numa abordagem céptica sobre o modo de reprodução da Terceira Itália, Hadjimichalis

e Vaiou (1992), concluem que a exatidão de qualquer explicação sobre o

desenvolvimento regional depende de uma análise pormenorizada da articulação entre

os processos concretos de produção e de reprodução nas regiões intermediárias (entre

as regiões centrais e marginais). Segundo o autor, o novo padrão de desenvolvimento

não é completamente novo, pois a pequena produção mercantil e as atividades

informais sempre fizeram parte do modus operandi do capitalismo. Se no passado,

foram sempre associadas ao atraso e à estagnação, o seu restabelecimento traz um

certo dinamismo. O novo padrão de desenvolvimento proporciona no curto prazo certas

oportunidades de acumulação e/ou consumismo, embora muito instáveis e vulneráveis

a condicionantes externos, por isso, a aptidão dessa solução de satisfazer as

necessidades do desenvolvimento regional, bem como o sucesso futuro destas regiões

intermediárias, permanece uma questão em aberto.

Na análise de Cavaco (1995 apud Gerry 1999), nos distritos mais rurais de Portugal, à

exceção de certos casos pontuais, não existe uma rede industrial. O que se observa

são estabelecimentos pequenos com limitada oferta de emprego, baixo volume de

vendas, gestão do tipo familiar, uso de tecnologias pouco evoluídas, dispersos pelo

território, produzindo bens para o mercado local restrito e de fraco poder aquisitivo.

Segundo o autor estas atividades são comuns nos ramos de alimentação e bebidas, e

laboração de produtos minerais metálicos, utilizados pela construção civil.

Gerry (op. cit.) conclui que nestas circunstancias, o futuro da periferia rural parece estar

condenado à perda de sua viabilidade social, em função do envelhecimento e da

desertificação demográfica, da desumanização da paisagem e da gradual substituição

da diversidade cultural pela cultura e valores metropolitanos de denominador mais

baixo.

Bianchi (1992 apud Belussi 1999), lança um forte questionamento sobre a capacidade

do modelo de distrito frente a complexa pressão competitiva emergente da globalização

dos mercados, o que é imediatamente contrariado por Brusco (1993), que afirma haver

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 67

sustentação da hipótese de estabilidade do modelo entre os economistas italianos,

apesar das críticas.

3.5 A replicabilidade da experiência da Terceira Itália Antes de pensar na importação integral do modelo experimentado pela Terceira Itália é

importante analisar em que condições se consolidou este novo processo de

desenvolvimento local. Conforme Becatini (1979), na origem da industrialização

dispersa da Terceira Itália, há uma conjugação particular entre cidade e campo.

Segundo o recenseamento de 1901, o centro-norte-leste era considerado como uma

grande área homogênea e diferente do resto do País em razão da forte dispersão da

população no campo, no seio de propriedades familiares. No interior dessa grande

área, o desenvolvimento industrial efetua-se após a Segunda guerra mundial.

Essa industrialização dispersa realiza-se em um espaço que é o da Itália das comunas

ricas de uma prática antiga de organização social fundada na solidariedade familiar e

no espírito de empresa. O território é constelado, de forma muita densa, por cidades

médias e pequenas, com funções muito diversas e a curta distância do campo. O autor

considera essa situação um “campo urbanizado”.

Courlet (1993) observa que na terceira Itália a intervenção da família na produção é

muito freqüente. A criação de empresas e os negócios são feitos entre membros da

mesma família, entre membros de famílias aliadas ou entre conhecidos de longa data.

As relações de parentesco são extremadamente densas e estruturantes do ponto de

vista das economias. Assim, conclui-se que essas bases sociais e culturais tradicionais

dão o tom ao processo para os componentes principais dessa experiência que são a

solidariedade e a cooperação na formação das redes empresarias.

A observação de Cooke e Morgam (2000) sobre a região de Emilia-Romagna, a qual os

autores consideram como uma das mais ricas do mundo, é de que não pode ser

creditada ao Estado a condução de tal sucesso. Os autores classificam o Estado

Italiano de fraco, movido por incompetência, corrupção e escândalos.

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 68

Putnam (1992) e Leonardi (1993) apud Cooke e Morgam (2000), indicam que a

Calábria apesar de ter tido uma condição de intervenção do Estado é uma das regiões

mais pobres da Europa. Ao contrário a região de Emilia-Romagna, que segundo o

censo de 1901 apresentava uma baixa industrialização com 65% de mão-de-obra

atuando na agricultura e 25% atuando na indústria, tem registrado níveis de riqueza tão

alto quanto às localidades mais ricas da Europa, sem que houvesse intervenção do

Estado italiano.

Entretanto, considerando as reais dificuldades de transferência dos quesitos específicos

oriundos da história e cultura italiana, Cocco (1999), discute a viabilidade de

implementação de políticas públicas de desenvolvimento local, em regiões

consideradas periféricas, a partir das experiências da Terceira Itália. Segundo o autor,

existem no modelo características “universais” que efetivamente podem contribuir para

a inclusão econômica dessas regiões, especialmente no caso do Brasil que apresenta

um alto déficit social.

Segundo o autor, são três os elementos gerais associados aos “distritos industriais”,

possíveis de consideração:

(i) a afirmação do território enquanto integrador do processo produtivo e inovativo;

(ii) a afirmação de uma cidadania que se torna imediatamente produtiva;

(iii) a emergência de novas figuras cuja atuação econômica é eminentemente

política.

Na visão do autor, desta forma, adquire-se uma configuração sócio-produtiva na qual

interagem de modo particular as esferas pública e privada, implicando possibilidades

originais de intervenção dos poderes públicos locais na mobilização produtiva do tecido-

territorial e na criação de uma ambiência propícia ao desenvolvimento.

Uma discussão mais ampliada sobre esses elementos, auxilia um melhor entendimento

relacionado à questão da replicabilidade:

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 69

• Afirmação do território como integrador do processo produtivo e inovativo

Neste contexto subsiste, equilibradamente, a grande empresa, verticalmente integrada,

e uma miríade de pequenas empresas organizadas em redes de cooperação. A

diferença observada é que o local da produção passa a ser o território e não a empresa

em sua individualidade, segundo os padrões do sistema fordista dominante. Segundo

Corò (1999), as fortes relações entre a produção e o território nos distritos industriais

italianos é que define o território como integrador do processo produtivo.

• A afirmação de uma cidadania que se torna imediatamente produtiva

O modelo fordista relaciona-se com o processo de inclusão através da individualidade

do agente. No caso da empresa a inserção diz respeito a sua capacidade competitiva

de manter-se no mercado global, cuja característica é a exigência de uma forte

capacidade financeira, tecnológica, gerencial, etc., excluindo, naturalmente, as

pequenas organizações formais e informais, deficientes desses mesmos recursos. No

caso dos trabalhadores, a cidadania está relacionada ao processo formal do vínculo

empregatício que possibilita aos mesmos trabalhadores os benefícios legais do tipo

FGTS, PIS, Previdência, seguro desemprego, etc.

No modelo de distrito industrial, formalizado no significado público assumido pelas

relações sociais de produção, outras formas de relações de trabalho passam a vigorar,

tais como: o trabalho parcial, a autonomia e mesmo o trabalho informal, porém numa

condição de cidadania pelo processo de inclusão do trabalhador ao sistema produtivo.

Um fator fundamental observado é a eliminação do processo de dependência

excludente verificada no modelo fordista.

Conseqüentemente, com a consolidação do território cumprindo a função de integrador

do processo produtivo, os recursos necessários para a alimentação do sistema

começam a surgir em seu interior como fruto do esforço planejado de organização e

cooperação dos agentes. O resultado esperado é, portanto, a divisão do trabalho entre

as pequenas empresas ao longo das cadeias produtivas, permitindo a criação das

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 70

condições necessárias à produção e à reprodução de um novo tecido empresarial

dinâmico.

• A emergência de novas figuras cuja atuação econômica é eminentemente “política”

O fato da produção se deslocar do interior das fábricas para o território faz emergir a

figura de um novo tipo de empresário. Nos distritos industriais italianos a figura do

empresário “político” é fundamental. A literatura disponível sobre os distritos industriais

da Terceira Itália destaca a relevância dos brokers no sucesso dos distritos. Brokers,

são os empresários considerados de “primeira linha” que assumem a tarefa de

representar externamente a capacidade produtiva do distrito, identificando as

oportunidades disponíveis e recolhendo as demandas para o posterior atendimento.

3.5.1 Um esforço de reflexão sobre o ambiente das regiões marginais no Brasil

Num esforço de avaliação sobre as possibilidades reais de planejamento desses

elementos para o caso de pequenas regiões urbanas e rurais interioranas do Brasil,

surgem, imediatamente, algumas preocupações indicativas de problemas que podem

inviabilizar qualquer iniciativa relacionada com sistemas produtivos dessa natureza.

O exemplo da configuração do primeiro elemento geral associado ao “Distrito

Industrial”, produção e território, para o caso dessas regiões, efetivamente marginais,

torna-se um fator de preocupação em função da inexistência do que Gurisatti (1999),

chamou de DNA territorial. Segundo o autor, um território que queira hospedar a

experiência de um distrito industrial, deve dispor de alguns elementos básicos tais

como: pequenas propriedades; instituições comunitárias fortes e reconhecidas;

presença de um jogo social orientado para a divisão do trabalho, para a cooperação e

para a participação; abertura internacional; difusão de um capital cognitivo coerente

com a evolução dos mercados, etc.

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 71

Não é difícil confirmar que tradicionalmente essas regiões não se enquadram segundo

as exigências acima, a não ser por se constituir em pequenas propriedades. Uma

verificação mais cuidadosa das condições estruturais nessas regiões nos remetem a

um elenco de formulações já bastante conhecidas, tais como: (i) pequenas

propriedades; (ii) baixa capacitação dos atores; (iii) elevada restrição financeira; (iv)

elevado atraso tecnológico; (v) dificuldade de articulação administrativa e gerencial; (vi)

incapacidade de integração com os mercados de fatores e de produtos; (vii) alto grau

de dependência econômica.

Desta forma, observa-se nessas regiões grandes dificuldades relacionadas tanto aos

fatores materiais essenciais para o processo produtivo, quanto aos fatores imateriais

que são fundamentais para o mesmo processo. O forte sentimento individualista e o

descrédito desses atores em relação as políticas públicas como elemento de

transformação são pontos marcantes que impõe a continuidade deste estado de atrofia

econômica e social. Nesses ambientes, parece que a cidadania ainda não está

totalmente estabelecida.

Conseqüentemente, no segundo elemento geral do “distrito industrial”, produção e cidadania, que nos distritos italianos precede a produção, no caso das regiões

analisadas, fica materializada a idéia de que os diversos programas governamentais

ativos que disponibilizam grandes quantias de recursos financeiros visando dinamizar a

atividade econômica, acaba não atingindo os resultados esperados em função da

inexistência das condições prévias, no caso a consolidação da cidadania.

A ausência de um tecido sociocultural nos padrões adequados à dinâmica produtiva,

característica do desenvolvimento local identificado na Terceira Itália, materializa-se no

processo de desigualdade social, fruto da exclusão de pequenas empresas e

trabalhadores com um menor nível de capacitação.

Nessas regiões marginais, a informalidade alcança um elevado número de empresas,

que por sua vez, joga um número elevado de trabalhadores a uma condição de baixa

sobrevivência, exatamente, pela negação dos benefícios sociais do modelo fordista

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 72

dominante. Conseqüentemente, a baixa remuneração inibe um melhor poder de

compras desses trabalhadores, refletindo na saúde econômica das próprias

organizações que estão incorporadas a este círculo.

O enfraquecimento econômico dessas pequenas firmas e, conseqüentemente, dos

trabalhadores localmente, materializa uma condição ideal para a permanência do

processo de dependência financeira desses atores frente aos poderes institucionais.

Uma verificação real é de que essas instituições públicas tem se transformado num

potencial empregador para os trabalhadores de baixa qualificação e dispostos a aceitar

baixos salários, assim como, um especial comprador para o caso de empresas que

aceitam um certo vínculo, que em geral, apresenta uma certa dose de corrupção.

Mantida esta condição, os postulados que se constitui no novo paradigma do

desenvolvimento local (cooperação, competição, inovação, aglomeração, etc.) ficam

totalmente ausentes do ambiente local onde se entrelaça esse relacionamento

empresarial.

Um outro aspecto observado diz respeito à apropriação inadequada dos recursos por

parte dos governos locais nessas regiões, exatamente, por não conseguirem

hierarquizar os reais interesses voltados para o desenvolvimento local. Normalmente,

identifica-se, regionalmente, um forte aparato institucional com a presença física de

algumas autarquias operando de forma isolada, não produzindo os resultados

esperados pela sociedade. O mesmo acontece com a diversidade de programas

ofertados que na verdade permanecem distante das pequenas empresas, provocando

resultados incompatíveis com o esforço inicial. Esses programas acabam por se perder

na esteira do tempo, sem propiciar qualquer transformação efetiva.

Nessas regiões a competição evolui sob as vias do atraso onde a redução de salários e

preços substitui o elemento inovação do ambiente moderno dos “Distritos Industriais”.

Conseqüentemente, o relacionamento familiar de cooperação oriundo dos distritos

inexiste nessas regiões, cuja realidade se aproxima de um relacionamento conflitual,

inclusive em diversas organizações de cunho familiar.

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 73

Conclusivamente, fica a idéia de que, contrariamente aos espaços dos “Distritos

Industriais” modernos, nas regionais marginais as instituições não conseguem propiciar

um ambiente no qual as habilidades e bens de capital possam ser constantemente

recombinadas, de forma a garantir uma rápida alteração de produtos e processos.

Entretanto, apesar da constatação pessimista, no que diz respeito a organização

produtiva em regiões marginais nos padrões dos distritos industriais italianos, algumas

boas experiências sobre agrupamentos de empresas estão em evolução no Brasil.

Conseqüentemente, o Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA), vêm priorizando a

discussão sobre essa questão e, através do exame de alguns processos, criou a

seguinte tipologia para cacarterizar esses mesmos processos estudados:

Agrupamento Potencial: quando existe no local uma concentração de atividades

produtivas com alguma característica em comum, indicando a existência de tradição

técnica ou produtiva (inclusive artesanal), embora inexista (ou seja incipiente)

organização ou interação entre os agentes daquelas atividades.

Agrupamento Emergente: quando se observa no local a presença de empresas (de

qualquer porte) com característica em comum (por exemplo uma definição setorial

comum) que possibilite o desenvolvimento da interação entre seus agentes, a presença

de instituições como centros de capacitação profissional, de pesquisa tecnológica, etc.,

bem como de atividade incipiente de articulação ou organização dos agentes locais.

Agrupamento maduro: quando há no local concentração de atividades com

característica comum, a existência de uma base tecnológica significativa, e se observa

a existência de relacionamento dos agentes produtivos entre si e com os agentes

institucionais locais caracterizando a geração de externalidades positivas, mais ainda

com a presença de conflitos de interesses e/ou desequilíbrios denotando baixo grau de

coordenação.

Agrupamento Avançado: é um agrupamento maduro com alto nível de coesão e de

organização entre os agentes.

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 74

Aglomeração (cluster): apresenta características de agrupamento maduro quanto ao

grau de coesão, embora com menor organização, referindo-se porém a uma sub-região

e envolvendo um número maior de localidades ou áreas urbanas, de modo contíguo e

constituindo um espaço econômico pouco diferenciado em termos das atividades

produtivas e fatores de produção presentes.

Pólo Tecnológico: refere-se àqueles locais em que estão reunidos as empresas

intensivas em conhecimento, ou de base tecnológica, bem como universidades e/ou

instituições de pesquisa. Apresenta características de agrupamento maduro, embora as

atividades possam apresentar pouca semelhança, por exemplo em termos setoriais.

Redes de subcontratação: são situações (não necessariamente um local) em que

grande(s) empresa(s) nucleadoras formam em torno de si redes de fornecedores, e

que, embora sem se constituírem em um agrupamento, contam com elevado grau de

organização, hierarquizada pela empresa – núcleo.

Partindo dessa tipologia, estudos do IPEA definem algumas dessas experiências de

industrialização localizada, conforme o quadro a seguir:

Local Caracterização Agentes participantes

Americana

(SP)

Agrupamento maduro

de empresas do setor

têxtil

Empresas de pequeno e médio porte;

sindicatos; faculdades, escola técnica,

SENAI.

Blumenau

(SC)

Redes de

subcontratação no setor

têxtil e vestuário

Empresas; associação comercial;

SENAI; Sebrae; Universidade.

Campinas (SP) Agrupamento

emergente de

empresas de

telecomunicações e de

Empresas; Universidades; Centro de

tecnologia; secretaria de cooperação

internacional do município.

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 75

informática

Campinas (SP) Pólo tecnológico Empresas; Universidades; Instituto

agronômico; Instituto de tecnologia de

alimentos; centro de tecnologia de

informática; centro de pesquisa e

desenvolvimento.

Colatina (ES) Agrupamento

emergente de

empresas de vestuário

Empresas de pequeno e médio porte;

sindicato; centro de tecnologia; Banco

do Estado do Espírito Santo

(BANDES).

Criciúma (SC) Agrupamento avançado

de empresas de

cerâmica

Empresas de médio e grande porte;

centro de tecnologia; Universidades

SENAI; Federação das Indústrias do

Estado; sindicato; Fundação de Ciência

e Tecnologia.

Espírito Santo

(ES)

Agrupamento maduro

de empresas do setor

de siderurgia e

mineração

Empresas, Centro Capixaba de

Desenvolvimento Metalmecânico,

Centro de pesquisa, Universidade

Federal; Empresas de serviços.

Florianópolis

(SC)

Pólo Tecnológico Empresas de pequeno e médio portes

de software e hardware; Universidade

Federal; Fundação Centros de

Referencia em Tecnologias

Inovadoras; Centro Empresarial,

Condomínio Industrial SENAI;

Federação das Industrias.

Franca (SP) Agrupamento maduro

de empresas coureiro-

calçadistas

Empresas; Escritórios de exportação;

Centro de Tecnologia; SENAI.

Rio de Janeiro

(RJ)

Agrupamento

emergente de

Empresas; núcleo de desenvolvimento

de software, Conselho Nacional de

Capitulo III – Distritos Industriais como paradigma de Organização Industrial – Uma avaliação critica 76

empresas produtoras

de software

Desenvolvimento Científico (CNPq),

Prefeitura; SEBRAE Centro de

processamento de dados; Banco

Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES); etc.

CAPÍTULO IV

O PERFIL DA REGIÃO MARGINAL: A EXPERIÊNCIA DO NORTE FLUMINENSE – RJ

4.1 Considerações gerais

Como resultado das avaliações verificadas nos capítulos antecedentes, consolida-se

uma clara visão de que os modelos de crescimento econômico neoclássicos, tanto

exógeno quanto endógeno, dominante no pós-guerra, não conseguiram fazer valer as

suas principais preposições. Por sua vez, o processo de organização industrial fordista

que se consubstanciou como base desses modelos, conseqüentemente, cedeu espaço

a um novo modelo de organização mais flexível que, modernamente, vêm se

constituindo no paradigma das recentes transformações, especialmente, na Terceira

Itália e em parte da Europa, sob a denominação de “Distrito Industrial”.

Conseqüentemente, essa nova configuração produtiva dificilmente alcançaria sucesso

em sua replicabilidade integral em regiões com características equivalentes a região

norte fluminense, tendo em vista as diferenças estabelecidas. Como já verificado

anteriormente, existem dificuldades concretas na importação dos sistemas flexíveis de

produção em função de questões específicas como a história e a cultura oriunda de

cada povo. Porém, lamentavelmente, até mesmo os parâmetros mais gerais desses

sistemas encontrariam dificuldades em sua utilização como políticas publicas, já que

esses ambientes normalmente apresentam graves deficiências.

Assim, a consideração da real possibilidade de replicabilidade dos elementos gerais

associados ao modelo de Distrito Industrial: (i) produção e território; (ii) produção e

cidadania e, (iii) empresário político, identificados por Cocco (op. cit.), com vista à

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 78

implementação de políticas públicas em direção ao desenvolvimento local, depende de

um ambiente que facilite a elaboração e implementação de estratégias integradoras

desses mesmos elementos.

No caso específico da Região Norte Fluminense, um grande problema aparente parece

ser a falta de vontade política quando a questão em foco é a coletividade e,

contrariamente, observa-se muitas manifestações quando estão em jogo interesses

individualizados. Desta forma, faz-se necessário um esforço mais efetivo de

consolidação do tecido sócio-cultural na região.

Neste contexto, surge um primeiro obstáculo à evolução de qualquer programa de

ordem cooperativa, ficando uma clara visão da necessidade de implementação de

ações no sentido do restabelecimento de um ambiente que possibilite um maior grau de

mobilização dos atores sociais localmente. A justificativa principal segue um importante

balizador do mundo globalizado que é a necessidade do cumprimento eficiente, por

qualquer ator, de todas as fases da cadeia de valor, sob pena de ser “engolido” pela

competição.

Porter (2000), auxilia esse entendimento quando enfatiza que a riqueza é criada pela

microeconomia e que a mesma é produzida por empresas capazes de oferecer

produtos e serviços valiosos e de ampla aceitação nos mercados mundiais. Segundo o

autor, as companhias de sucesso fazem proliferar as vantagens ao longo da cadeia de

valor e num ambiente competitivo, como mostra a figura a seguir:

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 79

Figura 2 – cadeia de valor – Porter (2000) Figura 2 – além das competências essenciais – Porter 2000

Além das competências essenciais

Atividades de apoio

Infra-estrutura da empresa

(exemplo: financiamento, planejamento, relações com os investidores).

Gestão de recursos humanos (exemplo: recrutamento, treinamento, sistema de remuneração).

Desenvolvimento tecnológico

(exemplo: projetos de produto, testes, projetos de processo, pesquisa de materiais e de mercado).

Compras (exemplo: componentes, máquinas, publicidade e serviços).

Atividades primárias Logística Operações Logística Marketing Serviços Interna (exemplo): externa e vendas pós-venda (exemplo): montagem, (exemplo): (exemplo): (exemplo): armazenamento fabricação de processamento força de instalação, do material componentes, dos pedidos, vendas, apoio ao cliente, que chega, operações de administração promoções, atendimento e compilação dos filiais) dos depósitos, publicidade, resolução de dados, acesso preparação de exposições, queixas, aos clientes) relatórios. apresentação consertos. de propostas. Valor: O que os compradores estão dispostos a pagar

Figura (07) Além das competências essenciais Fonte: Porter (2000)

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 80

Individualmente as pequenas unidades econômicas que compreendem o ambiente da

região norte fluminense, estão longe da possibilidade de conseguir a eficiência exigida

ao longo da cadeia de valor, com vista à obtenção de competitividade. Outrossim, o

quadro atual parece indicar que dada a forte cultura individualista, as iniciativas

associativistas tendem a avançar muito pouco, o que dificulta a possibilidade de

fortalecimento regional mesmo na hipótese de implementação de políticas públicas

contempladas a partir dos elementos universais dos “Distritos Industriais”.

Objetivando um melhor conhecimento sobre a região, apresenta-se a seguir, um

panorama histórico de forma a permitir uma caracterização mais efetiva, bem como, são

apresentados alguns indicadores econômicos para uma análise posterior.

4.2 Caracterização regional: O Estado do Rio e a região norte fluminense Para uma análise mais aprofundada sobre o Estado do Rio de Janeiro e,

conseqüentemente, sobre a região norte fluminense, torna-se importante uma

visualização panorâmica da Região Sudeste do Brasil. No que diz respeito à análise do

quadro natural pode-se considerar que esta grande região apresenta um efetivo

conjunto de potencialidades para o desenvolvimento tendo em vista a concentração dos

recursos existentes. Entretanto, quanto ao processo histórico-econômico, outros

desdobramentos importantes devem ser considerados.

Segundo Cunha (1975), a relevância do sudeste e a sua importância para o País

definem-se a partir do século XVIII, quando foram descobertas as reservas auríferas de

Minas Gerais. Isso atraiu o povoamento e os interesses maiores da metrópole e a

transferência da capital da colônia para o Rio de Janeiro em 1763, atestando a

importância da região. A atividade de mineração foi a primeira na história econômica

que alargou as possibilidades de formação de mão-de-obra livre, o que contribuiu para

criar um pequeno mercado interno e, mesmo, “setores médios” na população. Estas

transformações, embora lentas e reduzidas, tiveram um papel importante nos

movimentos pré-independência. A pecuária, que sempre seguiu de perto a mineração,

ajudou a ocupação de novas áreas do espaço econômico regional.

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 81

A mineração possibilitou a fundação de inúmeros centros urbanos em Minas, São Paulo

e o Rio de Janeiro, que se tornou o principal porto e a mais ativa cidade do País.

Entretanto, encerrada a mineração, tecnicamente precária, com o esgotamento das

lavras nos primeiros anos do século XIX, a população teria que voltar-se para as

atividade agropecuárias. Os núcleos mineradores que haviam constituído um pólo de

atração formidável passaram a ser centros irradiadores. Algumas regiões foram

beneficiadas por esse refluxo, como o sul de minas que se torna importante centro

pastoril e de lavoura de fumo, e a baixada campista que teve a partir daí firmada a sua

posição canavieira.

O século XIX iria assistir a chegada de um novo “produto-rei” na economia de “ciclos”

brasileira, dependente da exportação e das flutuações de preços do mercado

internacional: o café. E mais uma vez seria o sudeste a área dinâmica, consolidando

sua vantagem sobre as demais regiões.

Na primeira metade do século XIX o café deixaria de ser um cultivo de “fundo de

quintal”, de abastecimento doméstico, e passaria a ser uma cultura comercial,

especulativa e de exportação. Surgindo no Rio de Janeiro, ele logo ocuparia vastas

áreas de baixada em torno da Baia de Guanabara e nas encostas mais próximas.

Usando a mão-de-obra abundante do escravo, a cultura incorporou novas áreas,

passando da baixada fluminense para o vale do Paraíba. A partir de 1850, à medida

que se tornava difícil à importação de escravos, o grande proprietário cafeeiro absorvia

os negros das decadentes lavouras nordestinas. O café avançava, subindo o vale do

Paraíba na direção de São Paulo, enquanto pelos afluentes da margem esquerda deste

rio penetrava em Minas Gerais, atingindo logo a zona da mata. Do vale do Paraíba,

onde os centros urbanos animavam-se com a nova cultura, desciam caminhos estreitos

e tortuosos pela Serra do Mar, buscando atingir pequenos portos, que conheceram

grande prestigio econômico: Angra dos Reis, Parati, Ubatuba, São Sebastião. Esses

portos entrariam mais tarde em decadência, quando a estrada de ferro passou a

canalizar as exportações exclusivamente para o Rio de Janeiro e Santos.

Os altos preços e o constante aumento da demanda mundial mantinham a produção,

dando origem, no segundo Império, a uma aristocracia rural que substituiu

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 82

progressivamente a aristocracia açucareira nos negócios do Estado. O Rio de Janeiro,

em 1870, detinha 60% da exportação nacional.

Monocultura, rapidamente esgotante dos solos, o café tornou-se uma agricultura

itinerante, ávida de novas terras, em permanente deslocamento. Assim marchou para o

sul do Espírito Santo, em sua expansão para o norte e, fundamentalmente, causando

uma grande transformação nos planaltos paulistas para posteriormente seguir rumo ao

sul.

Conforme Cunha (op. cit.), a contribuição do café foi extraordinária nas transformações

da economia brasileira, na criação de novas paisagens, na organização do espaço, e

mesmo no estabelecimento de rede urbana. Nenhum outro produto teve um tal caráter

de agente modificador.

Com o declínio da cultura do café, o Estado do Rio de Janeiro redireciona os seus

esforços produtivos para a monocultura da cana, cuja representatividade se mantém

até nos dias atuais.

4.3 O espaço fundiário do Estado do Rio de Janeiro

Uma avaliação mais detalhada sobre o espaço fundiário do Estado do Rio de Janeiro,

através dos quatro últimos censos agropecuários, possibilita algumas conclusões

importantes, especialmente, no que diz respeito às atividades agrícolas. O censo de

1970 identificou 77.428 estabelecimentos agropecuários (11), número que basicamente

se manteve nos dois censos seguintes, ou seja, 76.235 estabelecimentos em 1975 e

77.671 estabelecimentos em 1980. No censo de 1985, entretanto, o número de

estabelecimentos agroindustriais sobe para 91.280, representando um crescimento de

17,52% em um período de cinco anos.

A busca de explicação para esse novo quadro leva a pelo menos dois elementos,

conforme descrição a seguir: (i) um processo vigoroso de desmembramento de terras

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 83

por motivo de repartição de herança, o que naturalmente cria novos estabelecimentos;

e, (ii) o crescimento ininterrupto do efetivo bovino desde a década de 20.

O último censo agropecuário realizado em 1996, porém, apresenta um quadro

dramático para o setor, especialmente, para o segmento agrícola. O número de

estabelecimentos apresentado nesse censo é da ordem se 53.680, ou seja, 41,19%

menor do que o registrado há dez anos atrás. Esta situação leva, naturalmente, a

verificação de que o esforço governamental implementado na busca de soluções para

os desequilíbrios macroeconômicos na década de oitenta não surtiu efeito, assim como,

o aprofundamento da recessão na segunda metade dos anos oitenta e inicio dos anos

noventa, influenciou de sobremaneira o processo de migração da área rural para a área

urbana, cujo reflexo pode-se verificar presentemente no “inchaço” populacional das

cidades.

Um outro indicador importante capaz de corroborar com esta análise, diz respeito à

área total em hectare utilizada por estes estabelecimentos. No censo de 1970, a área

utilizada pelos estabelecimentos agropecuários representava 3.316.063 (há), caindo

substancialmente para 2.416.305 (há) no censo de 1996, representando uma redução

de 27,13%, cujo maior impacto foi absorvido pelas atividades agrícolas, como se pode

verificar através das variações nas áreas de lavouras permanente 12, temporário 13 e,

sobretudo, pela desocupação de pessoal. 11-Estabelecimentos agropecuários, segundo IBGE, representa todo terreno de área contínua, independente do tamanho e número de parcelas subordinado a um único produtor, no qual se processam atividades como: cultivo do solo, criação de animais, extração vegetal, silvicultura ou reflorestamento. Não se incluem as hortas domésticas. 12- Lavoura permanente, segundo o IBGE, é o plantio de culturas de longa duração que produzem por vários anos, isto é, sem que haja necessidade de novo plantio após a colheita. 13- Lavoura temporária, segundo o IBGE, é o plantio de culturas de curta duração que necessitam, geralmente de novo plantio após a colheita.

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 84

O censo de 1970 apresentou uma área de lavoura permanente no Estado do Rio

equivalente a 182.258 (há), cuja evolução é representada por um declínio de (8,87%)

no censo de 1975 e (12,62%) no censo de 1980. Assim como a evolução do número de

estabelecimentos agropecuários, o censo de 1985 contabiliza um leve crescimento de

6,10% para 10 anos depois, no censo de 1996, registrar uma queda acentuada de

48,85%, refletindo a análise realizada por ocasião da evolução nos números de

estabelecimentos.

No que diz respeito à área de lavoura temporária, o quadro não é diferente já que as

áreas ocupadas segundo os censos de 1970, 1975, 1980 e 1985, pouco se alteram, a

não ser no censo de 1996 em que os 470.725 (há) utilizados segundo censo de 1985

reduzem-se para 258.483 (há), representando uma redução equivalente a 45,08%.

Chama a atenção, entretanto, a evolução oposta entre o Estado do Rio de Janeiro e o

Brasil no item lavoura temporária, conforme indicada no gráfico a seguir:

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 85

evolução da área de lavoura temporária (ha)

0,00

5.000,00

10.000,00

15.000,00

20.000,00

25.000,00

30.000,00

35.000,00

40.000,00

1970 1975 1980 1985 1996

censos agropecuários

1000

hec

tare

s

BrasilRJ

Gráfico 2 – evolução da área de lavoura temporária

Fonte: IBGE

Conforme pode-se verificar, a área de lavoura temporária ao longo dos censos de 1970

a 1996, apresenta um crescimento ininterrupto, ou seja, crescimento de 18,65% em

1975; 25,75% em 1980; 14,74% em 1985 e 54,94% em 1996; confirmando a excelente

trajetória competitiva da produção agrícola, especialmente no segmento de grãos do

centro oeste e sul do País.

Segundo pesquisa da conjuntura econômica (2002), houve uma grande transformação

na produção de grãos no Brasil. Para sobreviver aos baixos preços de mercado e

enfrentar o desafio da competitividade, os produtores se modernizaram, encontrando

tecnologias disponíveis, além de se adaptarem as novas práticas de mercado. Segundo

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 86

o IBGE em dez anos a área plantada de grãos permaneceu a mesma, ou seja, 36

milhões de hectares, enquanto a produção de grãos saltou de 66,8 para 95,8 milhões

de toneladas, crescimento equivalente a 43,4% no período, caracterizando um robusto

aumento de produtividade. Evidente que esse desempenho ficou concentrado, mais

especificamente, no Centro Oeste do País.

Entretanto, quando olhamos esta trajetória e comparamos com a trajetória do Estado do

Rio de Janeiro, fica evidente o declínio acentuado da atividade agrícola, especialmente,

a mais tecnificada, o que corrobora com a preocupação deste trabalho no que diz

respeito à necessidade de revisão das praticas correntes de geração de riqueza.

Finalmente, dois indicadores são fundamentais para explicar a forte migração de

trabalhadores do meio rural para o meio urbano e, conseqüentemente, o

aprofundamento da pobreza no campo. O primeiro, trata-se do quantitativo de pessoal

ocupado que apresenta um leve crescimento ao longo dos censos de 1975 com base

1970; 1980 com base 1975; e 1985 com base 1985, ou seja, +7,20; +8,30 e +6,70%,

sucessivamente. Seguindo a evolução dos indicadores analisados precedentemente, o

censo de 1996 contabiliza uma queda do número de pessoal ocupado equivalente a

45,86%, ou seja, de 321.924 segundo o censo de 1985 para 174.274 segundo o censo

de 1996.

O segundo indicador materializado na relação pessoal ocupado/número de

estabelecimentos ratifica esta visão quando mantém a média de trabalhadores por

estabelecimento. O censo de 1996 indicou uma queda de 41,19% no número de

estabelecimentos e uma queda de 45,86% no quantitativo do pessoal ocupado com

uma relação pessoal ocupado/estabelecimentos bastante próximo, 3,52 e 3,24

sucessivamente. Assim, mantido a relação acima mesmo com o descarte de quase a

metade do pessoal ocupado no campo, fica evidente que o processo migratório foi a

alternativa encontrada por esse exercito de trabalhadores do setor rural.

A tabela a seguir ilustra indicadores econômicos importantes levantados pelos censos

agropecuários do 1970 a 1996.

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 87

Censos agropecuários do Estado do Rio de Janeiro

1970

1975

1980

1985

1995/1996 Estabelecimentos 77.428 76.235 77.671 91.280 53.680

Área total (há) 3.316.063 4.446.175 3.181.387 3.264.150 2.416.305

Área de lavoura permanente

182.258 166.081 145.115 153.974 78.758

Área de lavoura temporária

458.206 451.164 456.298 470.725 258.483

Pessoal ocupado

259.841 278.564 301.688 321.924 174.274

Relação pessoal Ocup. Estabelec.

3,35 3,65 3,88 3,52 3,24

Efetivos bovinos

1.207.109 1.658.534 1.745.152 1.788.180 1.813.743

Tabela 1- censos agropecuários do Rio de Janeiro

Fonte: Fundação Instituto de Geografia e Estatística – IBGE.

No período posterior ao último censo, os problemas do setor não foram minorados. Ao

contrário, as atividades essencialmente agrícolas permanecem apresentando um

quadro nada animador. A perda de importância do setor evoluiu nos últimos anos, onde

a área colhida em hectare não perdeu a tendência declinante. Segundo o censo de

1996, a área utilizada em lavoura permanente e temporária era equivalente a 337.241

hectares, passando essa mesma área, no ano de 2000, para 254.051 hectares, ou seja,

uma forte redução de 24,66% em apenas quatro anos.

Uma análise sobre alguns indicadores mais atuais de produção, área e produtividade,

ratifica a perda de importância do setor agrícola no Estado do Rio de Janeiro. O quadro

a seguir mostra uma tendência declinante da área colhida, conforme já analisado, além

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 88

da redução persistente da produção agrícola em tonelada. O Estado produziu em 2000

o equivalente a 76,37% da produção agrícola de 1992 numa área equivalente a 74,96%

da área em hectare utilizada em 1992. A análise desses indicadores mostra claramente

o desemprego de fatores de produção com impacto na migração e empobrecimento no

campo.

Um outro fator importante indicado neste quadro negativa o discurso relacionado à

diversificação agrícola. Na realidade parece existir de fato a consolidação da

monocultura da cana de açúcar, já que apesar da constatação de redução da área

colhida total e da produção total em tonelada, a cana segue aumentando a sua

participação relativa tanto na área plantada em hectare, quanto na parcela de produção

total em tonelada.

A tabela a seguir ilustra indicadores de produção e área colhida e produtividade obtida

no estado do Rio de Janeiro, no período compreendido de 1992 a 2000, segundo o

IBGE.

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 89

Produção e área colhida e produtividade obtida

anos Produção Colhida

(t)

Cana deAçúcar

(%)

Área colhida(ha)

Cana deAçúcar

(%)

ProdutividadeObtida (kg/ha)

Cana de Açúcar (kg/ha)

1992

10.247.852 69,01 338.922 51,50 30.236,60 40.517,0

1993

10.090.252 68,23 329.423 50,65 30.630,07 41.261,0

1994

7.903.126 87,19 322.744 51,58 24.487,29 41.390,9

1995

8.113.152

89,92 285.387 56,69 28.428,60 45.092,3

1996

6.754.701 84,53 237.962 57,44 28.385,6 41.771,3

1997

6.789.766 89,15 209.897 65,33 32.348,1 44.140,9

1998

7.658.191 79,80 254.107 52,25 30.137,6 46.023,8

1999

7.682.149 80,64 256.068 53,69 30.000,4 45.062,7

2000

7.826.790 80,87 254.051 56,22 30.807,9 44.315,0

Tabela 2 - Produção e área colhida e produtividade obtida Fonte: IBGE 4.4 A região norte fluminense – características locais

A região norte fluminense, como poderemos constatar mais adiante, apresenta

características próprias de regiões periféricas marginais, facilmente identificadas pelos

seguintes elementos: (i) desorganização produtiva, (ii) ambiente mesoeconômico

inadequado, (iii) baixa renda per capita, (iv) elevado grau de concentração de renda (v)

ausência de cultura técnica e, (vi) elevada cultura individualista, o que dificulta, de

sobremaneira, a organização de um sistema econômico capaz de alcançar um maior

dinamismo competitivo. A sua estrutura composta pelos municípios de Campos dos Goytacazes; Carapebus;

Cardoso Moreira; Conceição de Macabú; Macaé; Quissamã; São Fidélis; São Francisco

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 90

de Itabapoana e São João da Barra (CIDE, 2001), compreende uma parcela absoluta

importante da população rural o que justifica, plenamente, a necessária intervenção no

sentido da identificação de caminhos que possam amortecer os reflexos da estagnação

econômica e, conseqüentemente, possibilitar uma maior grau inclusão econômica e

social.

A figura a seguir ilustra a população residente, para o Estado e Municípios no ano 2000,

segundo o Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro (CIDE).

Quadro 06: População residente, segundo Estado e municípios em 2000. Total Urbana Rural Estado 14.367.083 13.798.096 568.987

Região N Fluminense 696.988 593.025 103.963

Campos dos Goytacazes 406.511 363.721 42.790

Carapebus 8.651 6.863 1.788

Cardoso Moreira 12.579 8.029 4.550

Conceição de Macabú 18.706 16.483 2.223

Macaé 131.550 125.118 6.432

Quissamã 13.668 7.699 5.969

São Fidélis 36.774 26.515 10.259

São João da Barra (1) 27.503 19.451 8.052

São Francisco Itabapoana 41.046 19.146 21.900

figura 8: População residente, segundo Estado e municípios em 2000. Fonte: CIDE – 2001

Conforme pode-se verificar, a população da Região, composta por 696.988 habitantes,

representa 4,9% da população residente em todo o Estado do Rio de Janeiro.

Entretanto, quando se relaciona a população essencialmente rural, a região aumenta a

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 91

sua participação para 18,3%, o que talvez possa expressar uma certa relevância da

região no contexto do abastecimento agropecuário para o resto do Estado.

Todavia quando se analisa a formação e a distribuição da riqueza no Estado, a região

evidencía as suas fraquezas. O Produto Interno Bruto a preços de mercado (PIBpm),

em valor absoluto, contabilizado pelo Estado em 1999, somou R$ 140,5 bilhões,

gerando uma renda per capital de R$10.196,49. A Região Norte Fluminense,

entretanto, participou neste total com um PIB da ordem de R$ 3,5 (bilhões), cuja

participação em relação ao Estado representou 2,49%. A renda per capita, por

conseguinte, chegou a R$ 5.175,45, um valor equivalente a 50,75% da renda per capita

do Estado.

O setor agropecuário no conjunto do Estado foi responsável pela geração de um PIB da

ordem de R$ 735,1 milhões, enquanto que o a Região contabilizou um PIB de R$ 169,5

milhões, representando 23,06% da riqueza gerada no setor, o que vêm confirmar a

importância da região no que diz respeito ao abastecimento agrícola para todo o

Estado.

A figura a seguir mostra indicadores importantes como valor monetário da produção,

área colhida em hectare o rendimento médio por hectare da micro região Campos,

compreendida pelos municípios de Campos dos Goytacazes, São João da Barra, São

Francisco do Itabapoana, São Fidélis e Cardoso Moreira, que evidenciam a fraqueza

econômica regional. Através da evolução desses indicadores, pode-se identificar a

existência de problemas como baixa produtividade e a ausência de investimentos que

acabam por denunciar a ineficiência de programas governamentais e recursos

disponibilizados por instituições públicas, cujos objetivos não são materializados.

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 92

Ano Valor da produção(R$)

% Área colhida (há)

% Rendimento médio (R$/ha)

%

1997

112.938.450,00

-

144.544

-

781,34

-

1998

111. 082.911,00

(1,64)

141.843

(1,86)

783,14

0,23

1999

109.178.753,00

(1,71)

142.480

0,45

766,27

(2,15)

2000

134.230.770,00

22,94

134.632

(5,50)

997,02

30,11

2001

102.295.649,00

(23,79)

134.257

(0,28)

761,94

(23,58)

Tabela 3 – valor da produção, área colhida e rendimento médio na micro região Campos - Fonte: IBGE Os gráficos a seguir evidenciam a evolução real desses indicadores.

evolução do valor da produção da micro região Campos em termos reais (1.000 R$)

0

20000000

40000000

60000000

80000000

100000000

120000000

140000000

1997 1998 1999 2000 2001

anovalor real em (R$)

Gráfico 3- Evolução do valor da produção da micro região Campos, em termos reais, para o período de 1997 a 2001. Fonte: IBGE

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 93

Valores deflacionados pelo Índice geral de preços – disponibilidade interna (IGP-DI) da Fundação Getúlio Vargas – RJ.

0

50

100

150

indice percentual de variação da produção em termos reais

1997 1998 1999 2000 2001

Gráfico 4 -Índice percentual de variação da produção em termos reais Fonte: IBGE

Valores deflacionados pelo Índice geral de preços – disponibilidade interna (IGP-DI) da Fundação Getúlio Vargas – RJ.

A evolução dos indicadores acima, no período de 1997 a 2001 para a micro região

Campos, parece confirmar as ponderações feitas anteriormente, no que diz respeito às

dificuldades de crescimento apresentadas pela região. Conforme pode-se verificar, o

valor da produção contabilizada em 2001 é menor 12% do que o mesmo valor

verificado em 1997. Efetivamente, esta situação caracteriza subdesenvolvimento já que

a demanda por esses mesmos recursos é crescente. Conseqüentemente, observa-se,

que tanto a área colhida quanto o rendimento médio (R$/ha), também declinam no

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 94

período. A área colhida em 2001 é menor 7% do que a área colhida em 1997 e o

rendimento médio (R$/ha) em 2001 são menor 2,5% do rendimento médio verificado

em 1997.

Os indicadores analisados possibilitam uma visão importante sobre a região. Entretanto,

como forma de aprofundar o conhecimento sobre a região decidiu-se por pesquisar

empiricamente a região, cujos desdobramentos são dispostos a seguir.

4.5 Uma verificação empírica sobre a competitividade regional Objetivando uma avaliação mais ampla da região, procedeu-se a uma verificação sobre

as condições ambientais para competitividade, através da aplicação de questionários e

entrevistas junto às entidades com algum tipo de relação com o setor econômico de

interesse, cuja metodologia e o resultado são apresentados a seguir:

4.5.1 metodologia da pesquisa

Considerando como hipótese que as condições verificadas na região Norte Fluminense

não se diferenciam positivamente da realidade verificada em regiões periféricas,

entendeu-se ser perfeitamente válida a iniciativa de investigação sobre as causas do

processo de subdesenvolvimento. Em consonância com o objetivo traçado, foi realizada

uma pesquisa junto ás principais entidades vinculadas á atividade agropecuária na

região, tais como: entidades de pesquisa, entidades de extensão, entidades

associativistas e entidades comerciais, que analisaram o estagio de competitividade do

setor dentro do seguinte escopo de avaliação. O setor foi analisado segundo a

concepção de sistema (Sistema Agro-industrial – SAI), representado por um conjunto

de atividades que concorrem para a produção de produtos agroindustriais, desde a

produção de insumos (sementes, adubos, máquinas agrícolas etc.), até a chegada do

produto final ao consumidor, Batalha (1997). A estrutura setorial, assim como, os

fundamentos orientadores da pesquisa estão dispostos a seguir:

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 95

Estrutura do setor agroindustrial na Região Norte Fluminense

SETOR AGROINDUSTRIAL

SEGMENTOS

PESCA

Sucro Alcooleiro

PECUÁRIA

FRUTICULTURA

OLERÍCULAS

VISÃO DE CADEIA DE PRODUÇÃO

Figura 9: Estrutura agroindustrial da região norte fluminense – RJ Fonte: adaptação de Batalha (1997)

Esta sistematização segue a visão de Batalha (op. cit.), segundo consideração de que

sistemas dessa natureza podem ser vistos pela composição de um conjunto de atores,

conforme elencados a seguir:

Agricultura, pecuária e pesca;

Industrias agroalimentares;

Distribuição agrícola e alimentar;

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 96

Comércio internacional;

Consumidor;

Indústria e serviços de apoio.

Morvan (1988), por sua vez, enumerou três séries de elementos que estariam

implicitamente ligados a uma visão em termos de cadeia de produção:

• A cadeia de produção é uma sucessão de operações de transformação dissociáveis,

capazes de ser separadas e ligadas entre si por encadeamento técnico;

• A cadeia de produção é também um conjunto de relações comerciais e financeiras

que estabelecem, entre todos os estados de transformação, um fluxo de troca,

situado de montante à jusante, entre fornecedores e clientes;

• A cadeia de produção é um conjunto de ações econômicas que residem à

valorização dos meios de produção e asseguram a articulação das operações.

Complementarmente, os fundamentos orientadores da pesquisa seguem a orientação

de Porter, conforme descrição a seguir:

“A riqueza é criada pela microeconomia. Ela é produzida pelas empresas

capazes de oferecer produtos e serviços valiosos e vendê-los nos mercados

mundiais”, Porter (2000).

“O ambiente microeconômico de um País é um quadro, freqüentemente,

chamado de “diamante” e tem três características particulares” (Porter, op. cit.).

A figura a seguir, apresenta a idéia de produtividade e ambiente microeconômico,

segundo Porter:

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 97

Característica 1 (condições de fornecimento – insumos) 1. Insumos de altíssima qualidade e crescente 2. Recursos humanos de alta qualidade 3. Infra-estrutura física de qualidade (comunicação, transporte, base científica,

capital e prazos razoáveis)

Característica 2 (condições de demanda) 1. Bons clientes (clientes exigentes) 2. Concorrência entre empresas 3. “Clusters” (agrupamento de empresas relacionadas e de apoio)

Característica 3 (fatores institucionais) 1. Regras corretas e claras 2. Proteção à propriedade intelectual 3. Incentivos para investimento 4. Estrutura fiscal necessária

Figura 10: Produtividade e ambiente microeconômico Fonte: Porter (2000) O processo de entrevista foi planejado com base nas conceituações e parâmetros de

competitividade descritos acima, sob o qual foi formulada uma única pergunta que diz

respeito ao estágio de competitividade atual do setor agroindustrial, conforme a seguir:

• Como está o setor agroindustrial da região norte fluminense, em termos de

competitividade, quando analisado sob o conceito de cadeia de produção e

segundo os parâmetros ideais (características) de Porter?

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 98

4.5.2 resultado da pesquisa Os dados resultantes dos questionários devolvidos foram ponderados segundo uma

escala de 1 a 4 (excelente, bom, regular e insuficiente), para os segmentos de cana de

açúcar, pecuária, fruticultura, olericultura e pesca. A tabela abaixo sistematiza os

resultados:

Coeficientes indicativos da competitividade regional Segmentos que compõe o setor

Condições de fornecimento

Condições de demanda

Fatores institucionais

Sucroalcooleiro 2,27 2,99 2,04

Pecuária 2,49 3,41 1,74

Fruticultura 2,82 2,32 2,12

Olericultura 1,74 2,24 1,93

Pesca 2,10 2,43 1,89

Tabela 4 – Coeficientes de competitividade regional Analisando mais detalhadamente os indicadores calculados, pode-se verificar que o

segmento sucroalcooleiro apresenta uma estrutura produtiva que permite uma melhor

integração entre o cultivo da cana-de-açúcar e a industria de processamento de açúcar

e álcool, o que representa um melhor processo de agregação de valor. Esta situação

fica caracterizada através dos coeficientes apresentados na pesquisa.

Considerando o grau máximo da escala como parâmetro relativo ideal, no que diz

respeito às condições de fornecimento (insumo de alta qualidade, recursos humanos de

qualidade e infra-estrutura física de qualidade), o setor apresenta uma performance de

aproveitamento de 56,75%, em sua contribuição para o processo de desenvolvimento

local. Na análise sobre as condições de demanda (bons clientes, concorrência entre

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 99

empresas e formas de agrupamento) o segmento apresenta uma performance de

aproveitamento de 74,75%. O último elemento, que diz respeito aos fatores

institucionais (regras corretas e claras, incentivo ao investimento e estrutura fiscal), o

segmento apresenta uma performance de 51,00%.

O segmento pecuário apresenta uma melhor performance no item condições de

fornecimento 62,25% de aproveitamento, o que pode ser explicado pela existência de

um processo concorrencial mais forte entre os pecuaristas. Nas condições de demanda

o segmento também apresenta uma performance melhor do que o segmento canavieiro

85,25% de aproveitamento, também explicado pela acirrada concorrência entre

diversas marcas de leite o que, conseqüentemente, leva o cliente a ser mais exigente.

No que diz respeito aos fatores institucionais a atividade apresenta um aproveitamento

de 43,50%, o que demonstra que a atividade detém instrumentos institucionais em um

menor nível do que o setor canavieiro, cujas raízes estão intrinsecamente inseridas na

história da região.

O segmento de fruticultura vem sendo indicado a algum tempo como uma alternativa

geradora de renda, tendo em vista a acentuada queda do setor canavieiro. Em função

disso, algumas iniciativas institucionais vêm sendo dirigidas, no sentido de incentivar a

produção de frutas. Recentemente foi implantada, na região, uma indústria de

processamento, cujos resultados ainda não são consistentes. Entretanto, o fato é que

existe um sentimento positivo em relação ao futuro desta atividade, possibilitando os

resultados apresentados na pesquisa. A performance do setor no item condições de

fornecimento atingiu um índice de 70,50% de aproveitamento, configurando-se numa

melhor condição do que a pecuária e a cana. Na verdade existem valiosos esforços no

âmbito da pesquisa, assim como uma eficiente integração com outras entidades

visando ampliar a qualidade dos frutos na região. Estas ações vêm contribuindo para o

bom desenvolvimento da atividade tanto no aumento da produção, quanto na melhoria

da qualidade dos frutos. Entretanto, é na demanda que se concentram os problemas.

Contrariamente às atividades canavieira e pecuária, atualmente não existe uma

integração fazenda / fabrica, o que leva os produtores a escoarem a sua produção na

condição in natura para mercados e fábricas fora da região. Como existe um processo

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 100

concorrencial dinâmico, apesar da boa qualidade dos frutos, outros fatores dificultam o

poder competitivo da região, implicando na performance de 58,00% de aproveitamento

no item demanda. Na análise do item fatores institucionais, o segmento situa-se em

uma condição superior aos segmentos açucareiro e pecuária, ou seja, 53,00% de

aproveitamento. Este resultado pode ser explicado em função, exatamente, da grande

importância estratégica em que a atividade foi alçada regionalmente. A atividade de

fruticultura conta com um valioso aparado institucional tanto de apoio tecnológico,

oferecido pelas instituições de pesquisa e extensão instaladas na região, quanto de

apoio financeiro disponibilizado pelo programa frutificar do governo do estado, que

oferece recursos para pequenos produtores a uma taxa de juro subsidiada.

A olericultura na região se apresenta como um segmento muito enfraquecido. A sua

performance no item condições de fornecimento é de 43,50% de aproveitamento, o que

equivale ao menor índice entre os segmentos estudados. Este fato pode ser explicado,

talvez, pela inexistência de integração local com os processos produtivos, o que pode

contribuir para o aniquilamento dos preços básicos e, conseqüentemente, para uma

grande desmotivação no que diz respeito ao investimento produtivo. No que concerne

as condições de demanda, a situação não se altera, o segmento apresenta um índice

de aproveitamento de 56,00%, também inferior aos outros segmentos. Neste caso,

observa-se uma performance um pouco melhor em função da existência concorrencial.

Entretanto a ausência de unidades de processamento contribui para pouca dinâmica

tanto no âmbito da oferta, quanto no âmbito da demanda. A análise revela que os itens

que compõem os fatores institucionais seguem a mesma trajetória de importância, com

aproveitamento de 48,25%, o que demonstra o baixo reconhecimento deste segmento

na região.

O segmento pesqueiro apresenta características diferentes, pois trata-se de uma

atividade extrativista. Conforme pode-se muito bem observar, o item condições de

fornecimento apresenta um aproveitamento de 52,50%, enquanto o item condições de

demanda apresenta um aproveitamento de 60,75%. Uma análise relevante para esta

atividade indica que a boa performance na formação da demanda está cristalizada no

grande interesse de acumulação dos distribuidores intermediários que apesar de

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 101

concorrerem entre si, mantêm um certo cooperativismo exploratório sobre os

pescadores que atuam à luz de total desorganização. Entretanto, em função da

ausência de qualquer planejamento para a atividade de captura do pescado, a oferta

apresenta uma tendência declinante, tanto no que diz respeito à quantidade, quanto na

diversidade de espécies importantes. Finalmente, a apresentação, pelo segmento, de

uma performance no item fatores institucionais de 47,25% de aproveitamento, mostra,

claramente, a inexistência que preocupação com esta atividade que é de extrema

relevância, em função da absorção de um grande quantitativo de mão-de-obra.

Assim, percebe-se que os resultados das análises implementadas acima indicam uma

premente necessidade de mudanças no modelo seguido pela região. Este contexto,

entretanto, de alguma maneira vem aguçando a criatividade de formuladores de

políticas públicas e pesquisadores, já que à luz das abordagens de desenvolvimento

econômico, discutidas anteriormente, não se verifica qualquer possibilidade para a

inclusão de ambientes com o perfil da região norte fluminense.

Conforme verificado, as análises precedentes sobre a competitividade da região norte

fluminense, considerando o modelo de competitividade de Porter, possibilitou uma

considerável visão sobre os elementos: (i) quantidades e qualidades da oferta, (ii)

quantidade e qualidade da demanda e, fundamentalmente, (iii) as características

importantes do ambiente microeconômico.

Os resultados considerados mostram a baixa capacidade competitiva da região numa

contextualização própria do modelo de acumulação capitalista corrente, ou seja,

regulação econômica keynesiana e organização industrial taylorista-fordista. Entretanto,

segundo o paradigma de organização produtiva do tipo “distrito industrial”, cujas

características estão bem mais próximas de regiões periféricas como o foco da análise

presente, observou-se a necessidade do desenvolvimento de uma outra verificação

sobre a região, agora, a luz dos elementos fundamentais dos distritos industriais

modernos.

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 102

Desta forma, visando melhor entender o ambiente sócio cultural regional

comparativamente a outras regiões que apresentam experiências de sucesso, segundo

os postulados dos distritos industriais, procedeu-se um questionário segmentado para o

setor agropecuário com indicativo dos elementos fundamentais desses distritos, para

comparação dentro de uma escala definida.

4.6 Objetivo e metodologia da pesquisa sobre a existência dos elementos fundamentais dos distritos industriais na região Norte Fluminense

4.6.1 Objetivo e metodologia da pesquisa

A pesquisa apresentou como objetivo central à necessidade de identificar a

inexistência ou a existência e, em que grau, dos elementos fundamentais dos distritos

industriais na região norte fluminense, mais especificamente, no setor agropecuário,

representado pelos segmentos: (i) sucroalcooleiro, (ii) fruticultura, (iii) pecuária, (iv)

olericultura e, (v) pesca.

A metodologia utilizada, por motivo de facilitar o entendimento, definiu-se pela

subdivisão dos elementos fundamentais dos distritos industrias: (i) divisão do trabalho

entre os atores produtivos, (ii) integração entre a sociedade local e a economia, (iii)

flexibilização e economia de aglomeração e, (iv) jogo de mercado e reciprocidade como

mecanismo de regulação local, nos subitens apresentados a seguir:

1. Divisão do trabalho entre os atores produtivos ao longo da cadeia

produtiva:

a. Cooperação para aquisição de insumos e implementos;

b. Cooperação para obtenção de créditos;

c. Cooperação para produção compartilhada;

d. Cooperação para comercialização.

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 103

2. Integração entre a sociedade local e a economia

a. Individualismo e sentido comunitário;

b. Características sócioculturais (valores e instituições) em simbiose com o

processo de desenvolvimento.

3. Flexibilização e economia de aglomeração

a) Capacidade para promover diferenciação no produto;

b) Incentivo e iniciativa para formação de elos complementares da cadeia de

produção.

4. Jogo de mercado e reciprocidade como mecanismo de regulação local

a) concorrência e reciprocidade como mecanismo de local.

Como parâmetro de medida, foi elaborada uma escala compreendendo os seguintes

elementos: (i) grau inexistente; (ii) grau baixo; (iii) grau médio; (iv) grau bom; (v) grau

pleno. A decisão por esses elementos surgiu do resultado de um consenso entre um

grupo de universitários, profissionais do sistema financeiro.

O processo de entrevistas foi realizado junto a pesquisadores de reconhecido

conhecimento técnico-científico, ligados as seguintes instituições: a) PESAGRO, b)

EMATER, c) Ministério da Agricultura, d) UFRRJ, e) UENF e, f) Sindicato Rural, cujos

questionários fundamentaram-se nos postulados básicos dos distritos industriais.

Os fundamentos principais norteadores da pesquisa de forma a auxiliar os

entrevistados foram sistematizados e estão apresentados no tópico seguinte.

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 104

4.6.2 fundamentos importantes associados aos distritos industriais

Originalmente, segundo Whitaker (1975), o conceito de distrito industrial foi

desenvolvido pelo economista Alfred Marshall. Ainda no inicio do século vinte o autor

construiu a idéia de que as vantagens, ou pelo menos algumas delas, da produção em grande escala poderiam também ser obtidas por uma grande quantidade de empresas

de pequeno porte, concentradas num território dado, especializadas nas suas fases de

produção e recorrendo a um único mercado de trabalho local. Segundo o autor, para

que esse fenômeno do distrito industrial se realize é necessário uma interpenetração

dessa miríade de pequenas empresas com a população residente nesse mesmo

território. Desse modo, os habitantes devem apresentar características sócioculturais

(valores e instituições) em simbiose com um processo de desenvolvimento próprio das

pequenas empresas.

No ressurgimento atual do conceito marshaliano, destaca-se Becattini (1999), onde

ressalta que o novo conceito de distrito industrial traz a noção de adequação perfeita

entre as condições requeridas em vistas a uma certa organização do processo

produtivo e as características sócioculturais, forjadas ao longo dos anos de uma

camada da população.

O autor reafirma a visão dos “experts” italianos (economistas, sociólogos, antropólogos,

geógrafos) de que o estado de espírito que prevalece nos distritos industriais é Neo –

Smilesien, ou seja, baseado no desabrochamento pessoal, apesar de ser movido por

um sentimento intenso de pertencimento a comunidade local.

O mesmo cita a teoria do desenvolvimento de A. O. Hirschman (1958), cuja

consideração é de que o individualismo e o sentido comunitário do desenvolvimento se

fundem harmoniosamente no distrito industrial.

Assim, a possibilidade de eficácia do distrito industrial depende dos processos

produtivos que devem apresentar as seguintes características:

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 105

Fracionamento em fases e a possibilidade de encaminhar no espaço e no tempo

os frutos dessa produção fracionada (caracterização do processo social da

produção).

Laço que une o sistema local dos pequenos produtores aos mercados externos

de escoamento de seus produtos.

Outros princípios originais dos Distritos Industriais são representados pelos seguintes

elementos:

Coexistência singular de concorrência e de solidariedade entre as empresas do

distrito com vista a reduzir custos de transações no mercado local;

Efervescência inovadora oriunda da base, favorecida pelo “clima industrial”

reinante no distrito;

Grande mobilidade, tanto horizontal quanto vertical dos postos de trabalho;

Cooperação entre os membros do distrito para alcançar os objetivos econômicos

ou melhorar o ambiente geográfico e social do distrito propriamente dito.

Conseqüentemente, Becattini (op. cit.), conceitua Distrito Industrial como um grande

complexo produtivo, onde a coordenação das diferentes fases e o controle da

regularidade ou seu funcionamento não dependem de regras preestabelecidas e de

mecanismo hierárquico (como nas grandes empresas), mas, ao contrario, são

submetidos, ao mesmo tempo, ao jogo automático do mercado e a um sistema de

sanções sociais aplicado pela comunidade.

Uma outra visão creditada a Courlet (1993), associa a nova dinâmica dos sistemas

industriai localizados aos seguintes elementos:

Divisão do trabalho entre empresas iguais e/ou autônomas;

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 106

Industrialização dispersa – característica de iniciativas predominantemente locas

e em interação forte entre a economia e a sociedade;

Flexibilidade e economia de aglomeração.

Complementarmente, Staber (1999), apresenta os seguintes fundamentos oriundos do

sucesso dos distritos industriais:

Especialização flexível (especialização horizontal em produtos ou vertical em

fase de produção);

Cooperação interfirmas;

Proximidade geográfica;

Envolvimento social (as empresas estão envolvidas pela forte cultura local que

da sentido e legitimidade ao conhecimento coletivo e compartilhamento dos

recursos).

4.6.3 Uma investigação sobre a existência dos elementos dos distritos industriais

no setor agropecuário da região norte fluminense

Objetivando avaliar vestígios da existência dos elementos essenciais intrínsecos aos

distritos industriais, foi desenvolvida uma pesquisa de campo junto a instituições

vinculadas ao setor mencionado, cuja metodologia buscou identificar os elementos

fundamentais dois distritos industriais e, em que grau, através da aplicação de

questionários para o setor agropecuário da região Norte Fluminense, distribuído nos

segmentos sucroalcooleiro, fruticultura, pecuário, olericultura e pesca.

Os elementos importantes na constituição dos distritos industriais selecionados foram

os seguintes:

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 107

• Divisão do trabalho entre os atores produtivos ao longo da cadeia produtiva;

• Interação entre a economia e a sociedade local;

• Flexibilidade e economia de aglomeração;

• Jogo de mercado e reciprocidade como mecanismo de regulação local.

A avaliação sobre a existência desses elementos na região norte fluminense exigiu o

desenvolvimento de um instrumento que pudesse medir em que grau esses elementos

estariam inseridos na região. Com essa finalidade, reuniu-se um grupo de estudante de

administração, todos funcionários de uma agência bancaria local (gerentes, secretárias,

atendentes e administrativos), com a finalidade de construir uma escala que pudesse

avaliar com maior clareza elementos tão complexos. Segundo os participantes do

debate, a escala que melhor poderia responder ao objetivo deveria ter as seguintes

características: (i) grau inexistente; (ii) grau baixo, (iii) grau médio, (iv) grau bom, (v)

grau pleno.

4.6.4 Resultado da pesquisa

Algumas observações “pinçadas” nesse processo de investigação tem um papel

singular para um bom entendimento sobre a região. Alguns pesquisadores, segundo

suas respostas, parecem querer minimizar qualquer crítica direcionada a sua entidade

pelo insucesso da atividade que depende, de alguma forma, de sua intervenção. Esta

conclusão é fruto da observação sobre algumas respostas tão diferentes em relação a

uma determinada situação em que os dois têm profundos conhecimentos, só que a

manutenção do interesse individual prevalece.

Outra constatação importante diz respeito a forte estrutura social e econômica relativa

ao segmento sucroalcooleiro criada a luz do “boom econômico” do País, hoje

totalmente esfacelada. Este importante segmento econômico da região já contou com

uma imponente cooperativa de crédito ligada diretamente ao Banco Central e apoiada

por uma eficiente equipe técnica que viabilizava os recursos necessários a atividade.

Outras cooperativas para apoiar a atividade de comercialização, compra de insumos e

serviços agrícolas, assim, como para solucionar problemas jurídicos e assistenciais

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 108

também cumpriram um papel importante, porém algumas não mais existem outras

existem precariamente. Segundo resultados das entrevistas, alguns fatores como (i)

questões administrativas internas, (ii) questões conjunturais, (iii) ausência de unidade

entre os atores, e (iv) quebra de regras estabelecidas, impactando em desconfiança

geral, deram o “tom” para o esfacelamento dessa relevante estrutura.

Observações complementares confirmam o atraso persistente do setor agropecuário na

região, mas que, entretanto, dado o aprofundamento do sofrimento do homem do

campo somado a ausência do poder institucional, algumas alternativas são tentadas

com vista à minimização dos graves problemas apresentados. No segmento pecuário,

por exemplo, já são identificadas algumas ações cooperativas entre propriedades

vizinhas que perceberam as reais dificuldades na solução dos seus problemas

individuais. Ações no sentido de compartilhar a aquisição de resfriadores vêm ajudando

esses atores tanto operacionalmente, quanto ao atendimento a determinações de

âmbito legal. Outras ações bem elementares direcionadas, especialmente, as questões

comerciais e de distribuição são tentadas para evitar grandes prejuízos.

Os resultados, segundo as respostas inseridas na escala proposta, apresentam os

seguintes indicativos:

Quanto ao primeiro elemento (divisão do trabalho entre os atores produtivos ao

longo da cadeia produtiva), os resultados são os seguintes:

a) Em relação ao segmento sucroalcooleiro: 56% por cento dos entrevistados

consideram a inexistência desse elemento, enquanto 28% consideram a

existência num grau baixo, 12% consideram a existência num grau médio e 4%

consideram a existência num grau bom.

b) Em relação segmento fruticultura: 30% por cento dos entrevistados consideram a

inexistência desse elemento, enquanto 40% consideram a existência num grau

baixo, 25% consideram a existência num grau médio, 5% consideraram a

existência num grau bom.

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 109

c) Em relação ao segmento pecuário: 42% por cento dos entrevistados consideram

a inexistência desse elemento, enquanto 11% consideram a existência num grau

baixo, 42% consideram a existência num grau médio e 5% consideram a

existência num grau bom.

d) Em relação ao segmento olericultura: 50% por cento dos entrevistados

consideram a inexistência desse elemento, enquanto 45% consideram a

existência num grau baixo, 5% consideram a existência num grau médio.

e) Em relação ao segmento pesqueiro: 30% por cento dos entrevistados

consideram a inexistência desse elemento, enquanto 40% consideram a

existência num grau baixo, 30% consideram a existência num grau médio.

Quanto ao segundo elemento (Integração entre a sociedade local e a economia),

os resultados são os seguintes:

a) Em relação ao segmento sucroalcooleiro: 60% por cento dos

entrevistados consideram a existência desse elemento num grau baixo,

enquanto 10% consideram a existência num grau médio e 20%

consideram a existência num grau bom, 10% consideram a existência

num grau pleno.

b) Em relação ao segmento fruticultura: 13% por cento dos entrevistados

consideram a inexistência desse elemento, enquanto 50% consideram a

existência num grau baixo, 25% consideram a existência num grau médio

e 12% consideram a existência num grau bom.

c) Em relação ao segmento pecuário: 13% por cento dos entrevistados

consideram a inexistência desse elemento, enquanto 62% consideram a

existência num grau baixo, 25% consideram a existência num grau médio.

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 110

d) Em relação ao segmento de olericultura: 13% por cento dos entrevistados

consideram a inexistência desse elemento, enquanto 50% consideram a

existência num grau baixo, 37% consideram a existência num grau médio.

e) Em relação ao segmento pesqueiro: 25% por cento dos entrevistados

consideram a inexistência desse elemento, enquanto 25% consideram a

existência num grau baixo, 50% consideram a existência num grau médio.

Quanto ao terceiro elemento (flexibilização e economia de aglomeração), os

resultados são os seguintes:

a) Em relação ao segmento sucroalcooleiro: 40% por cento dos

entrevistados consideram a inexistência desse elemento, enquanto 50%

consideram a existência num grau baixo e 10% consideram a existência

num grau médio.

b) Em relação ao segmento fruticultura: 13% por cento dos entrevistados

consideram a inexistência desse elemento, enquanto 12% consideram a

existência num grau baixo, 63% consideram a existência num grau médio,

12% consideram a existência com um grau bom.

c) Em relação ao segmento pecuário: 25% por cento dos entrevistados

consideram a inexistência desse elemento, enquanto 38% consideram a

existência num grau baixo, 25% consideram a existência num grau médio

e 12% consideram a existência com um grau bom.

d) Em relação ao segmento olericultura: 13% por cento dos entrevistados

consideram a inexistência desse elemento, enquanto 62% consideram a

existência num grau baixo, 13% consideram a existência num grau médio

e 12% consideram a existência com um grau bom.

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 111

e) Em relação ao segmento pesqueiro: 75% por cento dos entrevistados

consideram a inexistência desse elemento, enquanto 25% consideram a

existência num grau bom.

Quanto ao quarto elemento (jogo de mercado e reciprocidade como mecanismo

de regulação), os resultados são os seguintes:

a) Em relação ao segmento sucroalcooleiro: 40% por cento dos

entrevistados consideram a existência desse elemento num grau baixo,

enquanto 20% consideram a existência num grau médio, 20% consideram

a existência num grau bom, 20% consideram a existência num grau pleno.

b) Em relação ao segmento fruticultura: 50% por cento dos entrevistados

consideram a existência desse elemento num grau baixo, enquanto 50%

consideram a existência num grau médio.

c) Em relação ao segmento pecuário: 50% por cento dos entrevistados

consideram a existência desse elemento num grau baixo, enquanto 25%

consideram a existência num grau médio, 25% consideram a existência

num grau bom.

d) Em relação ao segmento olericultura: 25% por cento dos entrevistados

consideram a inexistência desse elemento, enquanto 25% consideram a

existência num grau baixo, 25% consideram a existência num grau médio

e 25% consideram a existência com um grau bom.

e) Em relação ao segmento pesqueiro: 50% por cento dos entrevistados

consideram a existência desse elemento num grau baixo, enquanto 50%

consideram a existência num grau médio.

Conclusivamente, por mais dificuldades que esse mecanismo utilizado possa trazer no

que diz respeito à análise sóciocultural da região, a partir da observação das relações

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 112

verificadas no setor agropecuário, algumas indicações se fazem presentes quando, por

exemplo, consideramos somente os resultados das avaliações inexistentes e grau baixo

dos elementos. Esses resultados estão sintetizados a seguir:

Elementos sucroalcooleiro fruticultura Pecuária olerículas pesca

Elemento (1) 84% 70% 53% 95% 70%

Elemento (2) 60% 63% 75% 63% 50%

Elemento (3) 50% 25% 63% 75% 75%

Elemento (4) 40% 50% 50% 50% 50%

Tabela 5 – Resultados das ponderações

O resultado alcançado da adição das respostas obtidas, considerando inexistência e

existência num grau baixo dos elementos fundamentais dos distritos industriais, na

região Norte Fluminense, representa indicativo importante para a implementação de

políticas públicas, no sentido de capacitar a região para a busca de um estagio mais

avançado do desenvolvimento econômico.

Conforme se pode observar, em relação a primeiro elemento (a nova concepção de

divisão do trabalho), a percepção dos pesquisadores sobre a inexistência ou existência

em grau baixo nos segmentos do setor agropecuário na Região, alcança índices bem

altos, ou seja, 84% no sucroalcooleiro, 70% na fruticultura, 53% na pecuária, 95% na

olericultura e 70% na pesca.

Quanto ao segundo elemento (Integração entre a sociedade local e a economia), a

percepção dos pesquisadores sobre a inexistência ou existência em grau baixo também

se caracteriza por índices altos, tais como: 60% no sucroalcooleiro, 63% na fruticultura,

75% na pecuária, 63% na olericultura e 50% na pesca.

Quanto ao terceiro elemento (Flexibilização e economia de aglomeração), os índices

são os seguintes: 50% no segmento sucroalcooleiro, 25% na fruticultura, 63% na

pecuária, 75% na olericultura e 75% na pesca.

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 113

Finalmente, o quarto elemento (Jogo de mercado e reciprocidade como mecanismo de

regulação local), apresenta os seguintes índices: 40% no segmento sucroalcooleiro,

50% na fruticultura, 50% na pecuária, 50% na olericultura e 50% na pesca.

Na verdade, esta investigação gerou um sentimento de que é extremamente necessário

o desenvolvimento de uma pesquisa mais aprofundada sobre o ambiente sócio-cultural

na região, de maneira que outros elementos possam surgir para direcionar iniciativas

tanto das organizações públicas, quanto das organizações privadas em direção a um

amplo processo de conhecimento sobre a dinâmica do mundo atual e, sobretudo, sobre

o papel desses atores no contexto sócio-econômico local.

4.7 Uma avaliação das políticas institucionais

Um grande paradoxo está presente na análise das políticas institucionais. Se de um

lado observa-se as restrições precedentes quanto ao crescimento econômico da região,

por outro lado, pode-se identificar inúmeras ações públicas materializadas em

programas de apoio a pequenas e medias empresas no País e, evidentemente, na

região. Aliás, muito bem justificado pela relevância dos números publicados pelo

SEBRAE (2001), onde as mesmas representam no país, 4,5 milhões de

estabelecimentos; 98,5% das empresas existentes; 48% da produção; 95% das

empresas do setor de industria, 99,1% das empresas de comércio; 99% das empresas

de serviço; 60% da oferta de emprego; 42% do pessoal ocupado na indústria; 80,2%

dos empregados no comércio; 63,5% da mão-de-obra do setor de serviço e 21% do

produto Interno Bruto (PIB).

Essas ações, entretanto, têm demonstrado pouca efetividade em termos de

crescimento econômico, especialmente na região norte fluminense, como justificado

nos indicadores vistos anteriormente.

De forma a ratificar as afirmações acima, pode-se identificar no elenco de programas de

cunho Federal e Estadual, alguns importantes para crescimento econômico da região,

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 114

mas que, notoriamente, não têm conseguido cumprir os seus objetivos reais. A seguir

são relacionados alguns programas da esfera federal:

• Programa de Emprego e Renda (PROGER)

• Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF)

• Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária (PROCERA)

• Programa de Promoção do Emprego e Melhoria da Qualidade de Vida do

Trabalhador (PROTRABALHO)

• Projeto Piloto de Apoio à Reforma Agrária Cédula da Terra

Sobretudo na esfera estadual, pode-se destacar importantes programas cujo objetivo

principal é, exatamente, potencializar a região. Entretanto, assim como, verificado

acima, até o momento, os resultados alcançados não reafirma o cumprimento do

objetivo final desses mesmos programas.

Os principais programas de âmbito estadual para a região são os seguintes:

• Programa moeda verde – FRUTIFICAR

• Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Novo PRONAF)

• Programa de Apoio à Fruticultura (PROFRUTA)

• Programa de Fruticultura (BNDES)

• FINAME Agrícola

• Programa especial de desenvolvimento industrial das Regiões Norte e Noroeste

Fluminense (RIO NORTE / NOROESTE), dentre outros importantes mecanismos.

Ratificando as afirmações precedentes, o fato desses programas, juntamente com

outras ações disponibilizadas, não terem conseguido mudar o perfil regional no

contexto econômico e social, credibiliza a uma necessária intervenção para

incorporação de ações complementares as já existentes, de forma a objetivar uma

efetiva geração de emprego e renda.

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 115

4.7.1 Uma avaliação sobre o programa FRUTIFICAR

Um exemplo concreto sobre a necessária intervenção em programas já existentes,

pode ser verificado no caso da experiência do programa FRUTIFICAR. Este programa

demonstra um certo equívoco na formulação de sua estratégia principal, cuja

confirmação está ratificada em sua baixa utilização operacional. Na verdade, a sua

filosofia de implementação segue a concepção dominante e responsável pela ampla

parcela de excluídos no país e na região. O seu pilar principal está centrado na

capacidade competitiva do cliente do programa, ou seja, recebe apoio quem detém as

competências necessárias (recursos hídricos de boa qualidade, solo apropriado para o

cultivo, capacidade gerencial, etc.) para pagar os recursos liberados, fato que

verdadeiramente acaba por excluir uma grande parcela de produtores, eliminando

postos de trabalho.

A organização produtiva do programa, tão elogiada por seus responsáveis, segue o

modelo tradicional, ou seja, trata-se de um sistema em rede do tipo “top down” ou

japonesa, onde a empresa mãe constitui-se, hierarquicamente, no topo da pirâmide

exercendo total supremacia sobre um grupo de pequenas organizações totalmente

dependentes. Esse processo caracterizado pela união de todas através de uma

liderança acarreta negação de divergências e impedimento de conflitos, a exemplo da

industria automobilística e das agroindústrias, Casarotto (1999).

Segundo o autor, essa rede coloca as pequenas organizações fornecedoras em uma

condição de elevada dependência em relação às estratégias da empresa mãe, além de

possibilitar pouca ou nenhuma flexibilidade ou poder de influencia desses fornecedores

na rede.

A figura a seguir ilustra um modelo de rede do tipo “top-down” ou japonesa:

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 116

EMPRESA

MÃE 1ª linha 2a linha Figura (11) modelo de rede do tipo “top-down” ou japonesa Fonte: Casarotto e Pires (1999). Contrariamente, o moderno paradigma de organização industrial do tipo “Distrito

Industrial”, concebe uma rede que elimina, principalmente, essa relação de

dependência das organizações fornecedoras, inserindo o elemento cooperação. Uma

rede de cooperação mais flexível como o exemplo da Terceira Itália, possibilita a

abrangência dos consórcios nos seguintes temas: (i) formação do produto; (ii)

valorização do produto; (iii) valorização da marca; (iv) desenvolvimento de produtos; (v)

comercialização; (vi) exportação; (vii) padrões de qualidade e, (viii) obtenção de crédito.

A figura a seguir ilustra um modelo de rede flexível de empresas do tipo consórcio

italiano específico da Terceira Itália:

empresas figura (12) modelo de rede flexível de pequenas empresas fonte: Casarotto e Pires (1999)

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 117

4.8 Uma análise final Conclusivamente, observa-se que o processo de subdesenvolvimento em que a região

está inserida representa um paradoxo, tendo em vista a concepção corrente que

relaciona o efeito quantitativo dos recursos disponíveis ao crescimento econômico. Na

verdade, financeiramente, a região está contemplada por diversos programas já

elencados anteriormente, assim como, tecnologicamente, as autarquias, teoricamente,

disponibilizam o suporte necessário ao aumento da competitividade regional.

Entretanto, o cruzamento dos indicadores mostra, claramente, que de fato a utilização

desses recursos não se verifica. Ao contrário, observa-se que o fator individualismo é

mais forte levando atores como universidades, centro de pesquisa e extensão,

instituições financeiras, parque tecnológico e outras instituições fomentadoras do

desenvolvimento a não cumprirem, efetivamente, o papel que a sociedade exige.

Como verificado nas discussões precedentes, a organização produtiva com base em

redes flexíveis de pequenas empresas tem possibilitado um certo crescimento

econômico, especialmente na Europa. Este crescimento é fruto da integração de

pequenas unidades produtivas que se cooperam para constituir as competências

necessárias oriundas das grandes corporações. Como resultado, pequenas empresas

juntas, transformam-se em uma grande organização virtual, possibilitando uma eficiente

trajetória ao longo das etapas da cadeia de valor, descrita a seguir:

• Pesquisa e desenvolvimento

1. Atualização setorial

2. Desenvolvimento de produto

3. Tecnologia de processo

• Logística de aquisição

1. Compras consorciadas

2. Estocagem de materiais

3. Transporte

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 118

• Produção

1. Produção

2. Administração de custos

3. Flexibilidade

4. Logística de produção

• Tecnologia de gestão

1. Administração de recursos humanos

2. Qualidade

3. Planejamento

4. Gestão financeira

• Logística de distribuição

1. Estocagem de produtos

2. Transporte de produtos

3. Redes de distribuição

• Marketing

1. Atualização setorial

2. Marca

3. Vendas

4. Atendimento a cliente

5. Assistência pós-venda

Assim, de forma resumida, pode-se verificar que a região apresenta-se sob um quadro

em que:

Apesar de expressivos recursos financeiros o acesso ao mesmo é bastante

reduzido;

Capitulo IV – O perfil da região marginal – A experiência do Norte Fluminense - RJ 119

Apesar do elevado conhecimento científico disponível, as organizações operam

de forma rudimentar, onde sequer o processo organizacional básico está

presente;

Instituições de pesquisa e extensão agropecuária mostram-se presentes

fisicamente, mas reduz-se a área plantada, a produtividade agrícola e a

população rural;

Multiplicam-se os orçamentos municipais e o montante de recursos financeiros

do estado alocado nas funções ciência e tecnologia e agricultura e fomento a

produção, enquanto que o resultado é uma constante queda na competitividade

e aprofundamento da pobreza no campo.

CAPÍTULO V

ESTRATÉGIA DE CAPACITAÇÃO EM REGIÕES MARGINAIS NA BUSCA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

5.1 Introdução Conforme verificado nas discussões precedentes, o sistema de acumulação capitalista

do pós-guerra, tendo em vista as suas rígidas características: (i) grandes empresas; (ii)

grandes infra-estruturas; (iii) grandes cidades e; (iv) grandes investimentos (Gurissatti

1999) e, complementarmente, a concepção do Estado como provedor do bem estar

social contribuíram para o estabelecimento da dualidade centro / periferia, isolando

numerosas regiões e entregando-as a sua própria sorte. Conseqüentemente, pequenas

unidades produtivas e trabalhadores com menor qualificação foram excluídos do

processo, cujo impacto foi o aprofundamento da pobreza e, fundamentalmente, a

ampliação da desigualdade social nessas regiões.

Definitivamente, esse modelo, de certa forma ainda dominante, tem demonstrado que é

inconsistente para provocar um processo de recuperação das economias periféricas,

tendo em vista a elevada predominância de pequenas empresas que apresentam,

quase sempre, grandes dificuldades relacionadas às questões: tecnológica, financeira,

administrativa, logística, P&D, etc.

Esse sistema, entretanto, iniciou um processo de “desmantelamento”, ainda no inicio

dos anos setenta, que possibilitou uma resposta aos seus próprios desequilíbrios, cujos

parâmetros de reestruturação industrial, passaram a contemplar os pequenos

investimentos, a produção personalizada, as pequenas unidades produtivas, enfim, um

novo contexto de flexibilidade.

Capítulo v – Estratégia de capacitação em territórios marginais 121

Desta forma, torna-se pertinente a seguinte indagação. Se este novo paradigma de

organização flexível apresenta características que contemplam as pequenas empresas,

então os problemas de desenvolvimento em regiões periféricas poderão ser

enfrentados mais adequadamente? Responder essa indagação é a grande questão.

Os distritos industriais, modelo representativo do sistema de produção flexível

experimentado por diversas regiões da Europa, têm apresentado resultados

econômicos bastante sólidos. O chamado Arco Alpino - macro região composta pelo

nordeste e noroeste italiano, parte da França, parte da Alemanha, Suíça e Áustria –

apresenta indicadores de renda per capita e emprego num nível superior a União

Européia “a Europa dos 12”, onde impera o sistema de acumulação capitalista

tradicional.

Uma outra indagação poderia se dar no seguinte sentido: “o sistema de produção

flexível dos distritos industriais poderia ser importado para qualquer região com

dificuldade de crescimento? “ A literatura indica que não, já que a base desse sistema

está arraigada na história, na geografia e na cultura dessas regiões. Isso quer dizer que

somente os princípios mais gerais (universais) desse sistema são transferíveis.

Segundo Cocco (1999), existem pelo menos três desses elementos que podem ser

utilizados na elaboração de políticas públicas em países ou regiões com baixo nível de

crescimento como é o caso do Brasil. Esses elementos gerais são: (i) produção e

território, (ii) produção e cidadania e, (iii) empresário político ou coletivo.

Na verdade, esse novo formato de organização produtiva, de alguma maneira, tem

inspirado governantes e formuladores de política econômica no Brasil. Conforme já

verificado no estágio anterior de nossa discussão, existe uma diversidade de programas

de incentivo tecnológico, financeiro, de gestão empresarial, além de outros importantes

instrumentos para concessão de créditos e incubação de negócios, tanto no contexto

nacional, quanto no contexto regional.

Na análise direcionada à região norte fluminense, por exemplo, comprova-se a

existência de todo um aparato institucional disponível com vista ao incremento

Capítulo v – Estratégia de capacitação em territórios marginais 122

econômico, porém os resultados são bastante inconsistentes. Neste momento, surge

um sentimento de que se faz necessário intervir no processo presente na busca do

desenvolvimento econômico regional. Isso quer dizer que todo o esforço institucional

implementado não tem sido suficiente para resgatar o “déficit” social da região.

Neste caso, segundo o processo de aprendizado à luz da história e, sobretudo, em

função das características muito particulares dessas regiões, acredita-se que a

definição de estratégias no sentido de contribuir para uma melhor capacitação desses

ambientes, possa facilitar a formação de um “DNA” regional ou distrital adequado para

hospedar o desenvolvimento econômico, Gurisatti (1999).

Em consonância com esta visão, este trabalho propõe um conjunto de elementos

integrados entre si, cuja finalidade é capacitar espaços territoriais14 “marginais” ,

interessados na organização produtiva equivalente aos modelos dos distritos industriais

modernos.

5.2 Composição da estratégia e suas justificativas Ratificando a necessidade de intervenção no corrente processo de planejamento das

ações econômicas implementadas em regiões marginais, este trabalho buscou na

literatura sobre o tema, os elementos associados às experiências reais que

possibilitaram algum tipo de mudança na estrutura econômica e social de países e

regiões, cujas características guardam algum tipo de semelhança com as regiões

periféricas do Brasil, como é o caso da região norte fluminense.

14 – O conceito de espaços econômicos foram estabelecidos por François Perroux na década de 60. Segundo o autor, espaços econômicos podem ser compreendidos por espaços abstratos constituídos por relações de natureza econômica, como produção; consumo; tributação; investimento; exportação; importação e migração. Perroux estabelece três diferentes conceitos de espaços econômicos: (i) espaço econômico como conteúdo de um plano – espaço de planejamento; (ii) espaço econômico como campo de forças – espaço polarizado e (iii) espaço econômico como conjunto homogêneo – espaço homogêneo.

Capítulo v – Estratégia de capacitação em territórios marginais 123

Para a formulação da estratégia de capacitação da região propõe-se o seguinte roteiro

de planejamento:

1) Identificação da infra-estrutura publica no espaço local

Este elemento diz respeito aos recursos produtivos disponíveis, localmente, e voltados

para apoio ao processo de inovação. Evidentemente tanto o volume quanto a

especificidade desses recursos são identificados segundo a condição de

heterogeneidade existente entre as regiões, o que, verdadeiramente, pode representar

um importante fator de diferenciação para o aumento da competitividade local.

Amparado em Porter (2002), esses recursos infra-estruturais podem ter a seguinte

divisão:

(i) Recursos humanos; representados pela parcela da população total

economicamente mobilizável. Conceitualmente, esta parcela é representada

na faixa etária apta para o exercício de atividades de produção, cujos limites

variam em função do estagio de desenvolvimento da economia e de um

conjunto de definições institucionais estabelecidas pela legislação social e

previdenciária.

(ii) Recursos de capital; compreendem o conjunto das riquezas acumuladas pela

sociedade, destinadas à produção de novas riquezas. Esse conjunto inclui,

além de maquinas, equipamentos, ferramentas e instrumentos de trabalho,

outros subconjuntos que se caracterizam pelo mesmo destino; a infra-

estrutura econômica e social, as construções e edificações, os equipamentos

de transporte e os agrocapitais, como plantéis de tração e reprodução e as

culturas permanentes implantadas.

(iii) Tecnológicos; representados pelo conjunto de habilidades e de conhecimento

que sustentam o processo de produção. Esse conjunto de habilidades e

conhecimento local (saber fazer e como fazer) pode representar um

Capítulo v – Estratégia de capacitação em territórios marginais 124

diferencial competitivo local, pois representa um dos mais expressivos

acervos da herança cultural das regiões.

(iv) Capacidade empresarial; a capacidade empreendedora local representa a

possibilidade de descoberta e de exploração dos recursos naturais, a

mobilização da mão-de-obra disponível e alocação do capital para

empreender os investimentos que sustentarão o processo de

desenvolvimento.

(v) Recursos institucionais; esses recursos são representados pelas políticas

públicas relevantes à atividade inovadora e ao nível de satisfação da

comunidade local. Alguns elementos importantes nesse contexto são: a

capacidade de planejamento econômico local, as políticas de incentivo a

atividade econômica e uma eficiente gestão do orçamento público.

O processo de planejamento para identificação deste primeiro elemento se constitui

num fator relevante, no que diz respeito à capacidade local para produção das

inovações pertinentes a competitividade regional.

2) Criação de uma metodologia de gestão participativa que capacite os atores privados e institucionais para o desenvolvimento local

Comprovadamente recurso não é sinônimo de riqueza. Países e regiões com uma

grande dotação de recursos podem não apresentar um estoque de riqueza compatível.

Um bom exemplo é o Brasil. Assim, conforme se verificou ao longo da discussão

anterior sobre a geração de riqueza, o ambiente deve estar preparado para as

transformações intrínsecas ao processo de crescimento. Até mesmo o mecanicista

modelo neoclássico associou a presença de crescimento econômico a um ambiente

sócio-econômico positivo tanto no contexto econômico, quanto no contexto não

econômico.

Capítulo v – Estratégia de capacitação em territórios marginais 125

A visão de capacitar ambientes periféricos vêm se transformando numa tônica,

especialmente na Europa. No Brasil podem-se identificar algumas ações do Banco do

Nordeste que conhecendo bem a fragilidade das pequenas unidades produtivas, tem

relacionado a liberação de recursos para investimentos produtivos ao processo de

capacitação. Os pólos do nordeste de fruticultura, turismo e outros segmentos

referendam bem esta necessidade.

Ações importantes nesta direção podem também ser creditas a Portugal. Estudos sócio-

economicos sobre a área metropolitana da cidade do Porto definem na matriz de

objetivos gerais de desenvolvimento, além de outros elementos, a valorização do

modelo de produção flexível, enquanto fator de competitividade, e a qualificação do

fator empresarial. Esta combinação representa a necessidade, numa visão ampliada,

de implementação de um programa de capacitação ambiental.

Segundo a avaliação desse trabalho, o desenvolvimento e aplicação de uma

metodologia de capacitação em regiões com perfil marginal, torna possível uma

mudança de comportamento nos indivíduos, de forma que as praticas correntes sobre o

entendimento das relações econômicas e sociais, possam sofrer mudanças em direção

a uma postura mais adequada e própria dos distritos industriais.

É importante que esta metodologia possa entender capacitação como um processo

educativo e construtivo de troca e produção de conhecimentos direcionados para o

trabalho induzindo a prática de cidadania. A mesma metodologia, promovendo a gestão

participativa, estará induzindo ao desenvolvimento local endógeno, integrado e auto-

sustentável.

Na visão de Toffler (1996), capacitar é provocar mudanças compartimentais no mundo

do trabalho, da empresa, da organização e uma nova prática social. Capacitar, ainda, é

potencializar os recursos humanos de um país para obter maior produtividade da

economia, dentro de um mundo que caminha por infovias e onde o conhecimento é

considerado o mais importante fator de produção e de competitividade.

Capítulo v – Estratégia de capacitação em territórios marginais 126

O autor considera, ainda, que capacitar é construir uma nova cidadania, uma nova

relação entre estado e sociedade, onde o assistencialismo e o clientelismo são

substituídos pela formação de empreendedores com crença em si mesmos, capacidade

de autogestão, visão de futuro, consciência da cidadania e espírito de participação e de

co-responsabilidade.

Assim, considerando a dificuldade de regiões marginas na questão do associativismo 15, a construção da metodologia aqui proposta, contribuirá no processo de organização

de firmas e trabalhadores tanto no setor rural, como urbano, orientando no sentido de

provocar um salto qualitativo no desenvolvimento das cooperativas e associações de

pequenos empreendedores, a partir das tensões dialéticas existentes entre a

propriedade familiar e a empresa associativa, as necessidades imediatas e o

planejamento estratégico, o crescimento econômico e a participação social, a utilidade

e a solidariedade, etc.

Espera-se, ainda, que o desenvolvimento e a aplicação dessa metodologia possa vir a

estimular a integração empresarial e alianças estratégicas, de forma a facilitar a

construção e consolidação de complexos econômicos locais, onde as pequenas firmas

possam ser inseridas nos mercados mais exigentes, ocupando seu próprio espaço no

desenvolvimento local.

15- Segundo Rodrigues (1996), em termos sistemáticos, o associativismo assume um papel fundamental nas atuais teorias do desenvolvimento endógeno, considerado em três vertentes distintas de enquadramento: por um lado, a vertente do desenvolvimento local, entendido pela premência da resolução participada dos problemas locais, num espaço de interações e de construção de identidades e de vivências específicas; por outro lado, a vertente da criação de contrapoderes e de policentralidades do debate político social, pela ocupação das zonas periféricas do poder e por uma dialética de interiorização e de pratica democráticas ao nível local; finalmente, a vertente da exclusão social e das marginalidades, não só no que diz respeito aos jovens, mas também naquilo que concerne à terceira idade e às prementes questões do emprego social.

Capítulo v – Estratégia de capacitação em territórios marginais 127

3) Criação de um ambiente de aglomeração do tipo “clusters” para a inovação local.

Este elemento cristaliza a visão de que “A prosperidade nacional é criada, e não

herdada. Ela não nasce dos pendores naturais de uma nação, de sua força de trabalho,

de suas taxas de juros, ou do valor de sua moeda, como insistem em dizer os

economistas clássicos” (Porter 2000).

No que diz respeito a regiões, verifica-se, claramente, que o estoque de trabalhadores

disponível, assim como, os recursos naturais e, sobretudo, em muitos casos, o

aumentado valor das receitas publicas orçamentárias, não garantem qualquer

incremento ao processo de crescimento econômico sustentável. Entretanto, como o

crescimento está associado à capacidade dos setores econômicos em inovar e

modernizar, a iniciativa de criar um ambiente microeconômico competitivo torna-se um

fator de substancial importância.

Desta forma, o ambiente microeconômico adequado para a produção de inovação

setorial localmente, deve incorporar a idéia estabelecida na estrutura do “diamante”

desenvolvida por Porter em 1990 e publicado em A vantagem Competitiva das Nações.

Os pilares desse modelo estão constituídos nos seguintes pontos:

1. Condições de fatores: A busca de um sistema econômico produtivo requer a

existência de insumos de alta qualidade e sua manutenção, além de um satisfatório

estoque de recursos humanos capacitados, segundo as necessidades locais. Os

esforços no desenvolvimento dessas competências são a garantia do atendimento a

esse primeiro pilar do modelo diamante.

2. Condições de demanda: A busca de novos mercados, compostos por clientes

exigentes, constitui-se num fator relevante de motivação da empresa no seu

relacionamento com os clientes. Quanto mais exigente o cliente, mais necessidade

tem a empresa de inovar para manter o seu cliente satisfeito. Portanto, essa nova

Capítulo v – Estratégia de capacitação em territórios marginais 128

condição de busca por clientes mais exigentes, representará um postulado

importante para a modernização de setores econômicos locais.

3. Setores correlatos e de apoio: No processo de planejamento econômico de um setor

industrial, devem ser identificadas as diversas atividades que estão relacionadas,

tanto na condição de industrias e entidades correlatas, como industrias e entidades

de apoio. A presença dessa diversidade de segmentos de negócios consolida uma

vantagem competitiva.

4. Contexto para estratégia da empresa e concorrência: este ponto representa a

necessidade de se criar um ambiente local que encoraja o investimento em

atividade relacionada como inovação. A comunidade empresarial deve estar

mobilizada no sentido de buscar uma maior integração com as instituições públicas

e privadas, de forma a ter em suas mãos a política econômica local. Deve

prevalecer a visão de que a prosperidade econômica não é responsabilidade de um

único protagonista. Ela é determinada por todos os segmentos da sociedade civil, ou

seja, educadores, trabalhadores, profissionais liberais, todos devem fazer parte da

solução. As estratégias individuais devem ser complementadas pelas estratégias de

cunho geral, onde cada homem de negócio deve pegar para si a responsabilidade

de um governante.

Finalmente, espera-se que a gradativa consolidação de agrupamentos em espaços

marginalizados possa fomentar importantes vantagens tais como:

a) Agilidade na tomada de decisões, em função da massa critica de informações

geradas pela concentração de um mesmo ramo de negócio;

b) Realização de compras coletivas de insumos e máquinas e de projetos

conjuntos visando ao mercado externo;

c) Geração de novos empreendimentos que venha fortalecer mais o

aglomerado;

Capítulo v – Estratégia de capacitação em territórios marginais 129

d) Barateamento dos custos dos fornecedores em função da demanda

concentrada por produtos e serviços;

e) Atração de clientes fiéis em razão da maior eficiência das empresas

instaladas no aglomerado;

f) Facilidade de atrair e manter talentos devido ao clima de oportunidades na

região.

4) Estabelecimento de um processo de integração qualitativa

O que se propõe neste ponto é uma verdadeira integração entre os elementos

precedentes, com vista a um estagio de plenitude no que diz respeito a utilização dos

recursos disponibilizados para o fomento do desenvolvimento econômico local. A

criação de qualquer elemento e o seu funcionamento de forma isolada não garante

nenhum incremento econômico sólido. A experiência observada, em função da atuação

das diversas instituições na região norte fluminense, voltada para as atividades de

pesquisa, extensão, planejamento econômico, etc., em conjunto com a diversidade de

outros elementos para o desenvolvimento local corrobora a avaliação de que inexiste

um processo de integração qualitativa.

Assim, os três primeiros elementos (infra-estrutura pública, gestão participativa e

aglomeração) devem estruturar-se de forma que a sua integração possa combinar,

eficientemente, os recursos produtivos para gerar rendimentos crescentes, com

impactos positivos na inclusão de pequenas empresas e trabalhadores.

A ilustração dos elementos que compõem a estratégia de capacitação para regiões de

baixo crescimento econômico pode ser vista na figura a seguir:

Capítulo v – Estratégia de capacitação em territórios marginais 130

Composição dos elementos essenciais para a estratégia de capacitação de ambientes marginais

SISTEMA DE PRODUÇÃO LOCAL

DISTRITO INTEGRADOR

Processo de planejamento para

integração qualitativa

Identificação da infra-estrutura pública no

espaço local

Indução a criação de

“clusters”

Metodologia de gestão participativa para capacitação de

atores locais

Figura 13: Sistema de produção e elementos para estratégia de capacitação do espaço local Fonte: Adaptação da estrutura para inovar de Porter (2001)

CAPÍTULO VI

CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROPOSTAS PARA NOVAS PESQUISAS

6.1 Considerações finais

Este trabalho desenvolveu uma observação sistemática da realidade presente em

regiões de perfil periférico e identificou alguns padrões de similaridade cristalizados nos

elementos: (i) baixo índice de crescimento; (ii) baixo nível de renda per capita; (iii) altas

taxas de desemprego; e, (iv) alto grau de desigualdade social.

Conseqüentemente, por hipótese, reconheceu a inexistência de um nível aceitável de

competitividade nos sistemas econômicos dessas regiões, fato este que conduziu a

análise a um processo de verificação geral sobre os modelos de crescimento

econômico (clássico, neoclássico, endógeno e redes de pequenas empresas), de

maneira a poder construir um melhor arcabouço de entendimento sobre os efetivos

fatores responsáveis pela criação de riqueza local.

O processo de verificação geral sobre os postulados teóricos do crescimento

econômico possibilitou um claro entendimento de que a preocupação com a geração de

riqueza não é recente. Entretanto, um sentimento bastante real é que parece estar

longe o fim da luta contra a pobreza e a desigualdade social que, modernamente,

constituem-se nos principais elementos de preocupação no mundo inteiro.

A análise dos postulados de geração de riqueza, neste trabalho, concentrou-se,

especialmente, no pós-guerra, onde se verificou o surgimento da teoria neoclássica do

Capítulo VI – Considerações finais e propostas para novas pesquisas 132

crescimento econômico, cuja visão mecanicista e otimista sobre um certo equilíbrio na

distribuição da riqueza entre países pobres e ricos, não se configurou. Contrariamente,

o que se verificou foi um aprofundamento ainda maior do processo de concentração

econômica.

Observou-se ainda, que durante pelo menos trinta anos a preocupação sobre

desenvolvimento cedeu lugar para a análise macroeconômica de curto prazo,

especialmente, em função do forte apelo do bem estar social intrínseco a Teoria

Keynesiana. Esta teoria, conseqüentemente, se transformou no sustentáculo de

regulação do novo sistema de acumulação capitalista, capitaneado por uma

organização industrial, caracterizada como fordista-taylorista, cujos princípios estavam

centrados na grande produção, na grande empresa e, fundamentalmente, nos grandes

projetos de infra-estrutura.

Este sistema de acumulação capitalista ainda se constituiu como base para o resgate

da discussão sobre desenvolvimento nos anos oitenta, onde Romer e outros

economistas ortodoxos trabalharam o postulado tecnologia numa concepção endógena,

na tentativa de explicar a produção de rendimentos crescentes como conseqüência da

inserção do conhecimento no processo produtivo. Claramente, esta análise sobre o

processo de acumulação priorizou, tão somente, as grandes empresas com pleno

domínio sobre a cadeia de valor (P&D, produção, gestão, marketing, logística, etc.).

Entretanto, apesar de pleno domínio desse sistema de acumulação mundialmente,

verificou-se no final dos anos setenta o surgimento de um novo sistema de organização

produtiva, exatamente, como alternativa ao processo corrente que, dado as suas

características, excluía as pequenas empresas e, conseqüentemente, um exército de

trabalhadores em regiões não centrais.

Esta nova sistemática restruturativa surgiu na forma de rede de pequenas empresas,

distritos industriais, etc., cuja característica principal se baseou na capacidade

associativa dos atores sociais no nível local. Na realidade, trata-se de um modelo que

integra a comunidade local aos sistemas produtivos, configurando um grupo de

Capítulo VI – Considerações finais e propostas para novas pesquisas 133

pequenas empresas associadas, cuja formatação dá vida a uma grande empresa virtual

com pleno domínio sobre a cadeia de valor.

Esse processo, caracterizado como sistema flexível de produção, substitui a lógica de

produção em massa; centralização produtiva e forte divisão do trabalho no interior de

grandes fábricas; para um processo de produção mais especializado e em menores

lotes; divisão do trabalho entre pequenas empresas; tecnologias mais flexíveis e a

definição do distrito como elemento de integração produtiva.

O aprendizado oriundo desse processo de verificação possibilitou um conjunto de

abstrações teóricas as quais permitiram algumas comparações envolvendo situações e

comportamento da realidade local, a região norte fluminense especificamente. Um

postulado particular e importante desta análise foi a identificação da ausência de

competência local, no que diz respeito a absorção dos elementos universais do distrito

industrial (produção e território, produção e cidadania e empresário político), o que

definiu a clara necessidade de intervenção sistêmica.

Conseqüentemente, a contribuição proposta pelo trabalho se definiu na sistematização

de uma estratégia para capacitar esses ambientes marginais, cuja composição dos

elementos essenciais estão assim representados: (i) em uma efetiva identificação da

infra-estrutura pública local, (ii) no desenvolvimento de um processo de gestão

participativa voltado para capacitar atores públicos e privados, (iii) na indução à criação

de aglomerados (clusters), e, fundamentalmente, (iv) no desenvolvimento de um

processo de planejamento de integração qualitativa. Esses elementos integram-se à luz

de um fluxo circular e são totalmente integrados ao sistema de produção visto na ótica

do distrito integrador.

6.2 propostas para novas pesquisas Considerando o contexto sócio-cultural como um fator relevante da análise e definição

do processo de organização produtiva local, percebe-se com este trabalho que existe

uma ampla coluna para a construção de uma metodologia de gestão participativa com

Capítulo VI – Considerações finais e propostas para novas pesquisas 134

perfil de adaptabilidade a regiões marginais. A existência de alguns modelos já

disponíveis não invalida esta proposta, já que cada região carrega suas próprias

características que, necessariamente, devem ser consideradas no ato da elaboração do

modelo.

Complementarmente, fortalece um sentimento real de que o “déficit” social nessas

regiões é muito elevado e precisa ser controlado imediatamente. Desta forma, torna-se

urgente a necessidade de implementação de ações corretivas ao modelo de

desenvolvimento corrente. Assim, uma proposta para novos trabalhos está

materializada na implementação efetiva da estratégia de capacitação local vislumbrada

por este trabalho, objetivando a inclusão de pequenas empresas e trabalhares

marginalizados.

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