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Estilos de Respiração David Boadella CENTRO DE PSICOTERAPIA SOMÁTICA EM BIOSSÍNTESE Sede: Av. 5 de Outubro, Nº 122 5º Esq ∙ 1050-061 Lisboa ∙ Portugal ∙ Tel. (00351) 21 793 5326 Sociedade por quotas ∙ Capital Social €5 000 ∙ Registo Comercial Nº 507827325 ∙ Contribuinte Nº 507827325 e-mail: [email protected] ∙ Blog: http://blogdabiossintese.blogspot.com/ Site: www.schoolbiosynthesis.com

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Estilos de Respiração

David Boadella

CENTRO DE PSICOTERAPIA SOMÁTICA EM BIOSSÍNTESE

Sede: Av. 5 de Outubro, Nº 122 5º Esq ∙ 1050-061 Lisboa ∙ Portugal ∙ Tel. (00351) 21 793 5326

Sociedade por quotas ∙ Capital Social €5 000 ∙ Registo Comercial Nº 507827325 ∙ Contribuinte Nº 507827325

e-mail: [email protected] ∙ Blog: http://blogdabiossintese.blogspot.com/ Site: www.schoolbiosynthesis.com

• W. Reich desenvolveu a sua vegetoterapia caratero-analitica na

Dinamarca e na Noruega entre 1934 e 1936.

• Os colegas psicanalistas trabalhavam com pacientes,

essencialmente, com análise dos conteúdos das suas comunicações.

• Reich interessou-se por analisar também a forma de comunicação

dos pacientes além do conteúdo, que o levou ao estudo detalhado do

tónus muscular, postura e padrões de respiração e verificou que:

– Todos os pacientes tinham padrão de respiração perturbado.

• Concluiu que :

– Inspiração ou Expiração Reduzida são o mecanismo de repressão

neurótica.

• Em 1934, experimentou um estilo especial de massagem e de

manipulação perante a respiração disfuncional. Resultados: os

pacientes libertavam uma série de emoções reprimidas e seguindo-se

uma respiração mais rítmica.

O sistema nervoso autónomo tem forte influência nos

ritmos respiratórios e no equilíbrio emocional de

uma pessoa.

• Na Alemanha este sistema é chamado de sistema vegetativo e o termo

de Reich ”Vegetoterapia” derivou daí.

• Reich influenciou muitas abordagens de psicoterapia envolvendo o

corpo, como a Gestalt terapia, a Bioenergética e a Terapia Primal.

• Emoções fortes como o choro, a raiva, o medo e o prazer envolvem

aumento de respiração.

• Quando se quer reprimir estas emoções, a redução da respiração

torna-se uma dinâmica central.

• No trabalho Reichiano, o terapeuta procura aprofundar a respiração do

paciente além do limite da repressão. Mas tem que estar sensível aos

ritmos naturais do ciclo respiratório, e aos limiares de ansiedade.

• Segundo Reich, alterar os padrões respiratórios de uma pessoa é

semelhante a uma cirurgia emocional, e só deve ser executado por

experientes no método Reichiano.

Deve estabelecer-se a mudança respiratória por

etapas ou levando o paciente a ser mais expressivo

muscular ou emocionalmente.

• Tensões dos músculos respiratórios

Peitorais, intercostais, músculos do alto peito e costas

• Tensão do diafragma

Ligada à coluna

Podem aplicar-se métodos de mobilização da coluna

Um ritmo respiratório saudável corresponde a um

tronco que se expande na inspiração e reduz na

expiração.

As Variedades de Respiração de Nic Vaal

• Respiração torácica, onde a respiração está principalmente no

peito, e os movimentos abdominais são mantidos no mínimo.

• Respiração abdominal, onde a respiração é diafragmática. Pode

ver-se a parede abdominal subir e descer, mas os movimentos

do peito são mantidos no mínimo.

• Respiração paradoxal, onde o peito e o abdómen se movem,

mas sem sincronização e em ritmos diferentes.

• Flutter-breathing – respiração rápida e superficial como o voar

de uma borboleta. Total falta de ritmo com movimentos

respiratórios irregulares e desiguais.

OS 4 PADRÕES MAIS COMUNS DE DISTÚRBIO

Segundo Reich

1. Respiração Presa por Couraça Muscular

(rígida)

2. Respiração Intestinal (masoquismo)

3. Respiração como “ato de sugar”

4. Respiração do Nascido e do Não Nascido

(esquizo)

1. Respiração Presa por Couraça

Muscular (rígida)

Enrijecimento dos músculos do peito e contração das costelas com

redução da mobilidade do diafragma.

• Músculos intercostais

• Músculos do peito Encouraçamento do Peito

• Músculos dos ombros (deltóides)

• Músculos sobre e entre escápulas

Autocontrolo e contenção/ restrição

Ombros puxados para trás significam “holding back”.

Encouraçamento pescoço e peito “spite” e “Stiff-neckedness”

A expressão é de “imobilidade” ou “nada me pode atingir”

• Reich não distingue os variados estilos de respiração apresentados

por pessoas com diferentes tipos de couraça muscular, e diferentes

tipo de experiência e background.

• O tipo de padrão defensivo escrito acima é bastante especifico dos

padrões de encouraçamento rígidos, onde a característica mais

evidente é um endurecimento e tensão crónica das grandes capas

musculares do corpo. A respiração dessas pessoas é um respirar

sem sentimentos. A respiração é reduzida pelas tensões e nem

expressa emoções fortes, nem responde facilmente às emoções dos

outros.

• A respiração tem uma regularidade mecânica, a inspiração e

expiração ocorrem de uma forma previsível, a respiração expande e

contrai dentro dos limites fixos impostos pela pressão da caixa

torácica e da parede abdominal.

1. Respiração Presa por Couraça

Muscular (rígida)

• A expansão crónica do tórax cria uma série de problemas aos quais

ficam sujeitas as pessoas com tendência a encouraçamento

muscular do tipo rígido (no sentido de Lowen). Reich menciona a

pressão alta, palpitações e ansiedade e, em estados mais severos

de longa duração, também aumento tamanho do coração.

• Vários tipos de doenças cardíacas resultam diretamente da

expansão crónica ou indiretamente como resultado de síndrome de

ansiedade. Enfisema pulmonar é um resultado diretamente

relacionado com a expansão crónica do tórax.

• Mathias Alexander, mostrou como o militarismo, nos seus métodos

de educação física e postura associados, têm incorporado este tipo

de encouraçamento.

• “Barriga para dentro, peito para trás e peito para fora”

1. Respiração Presa por Couraça

Muscular (rígida)

• Segundo Reich, é uma forma de encouraçamento centrada na

pressão abdominal.

• Queixas comuns: intolerável pressão na barriga, cinta que o

“restringe”, têm um certo ponto que o abdómen é mais sensível,

medo de levar um soco na barriga, sensação de que há algo na

barriga que não pode sair, têm que segurar na barriga.

• A maioria das fantasias de crianças pequenas sobre gravidez e

parto centram-se nas sensações vegetativas dos seus abdómens.

• Como se podem usar os intestinos como forma de suprimir

sentimentos:

– Os intestinos podem ser constritos por pressão abdominal;

– Por contração do esfíncter anal;

– Por engolir os sentimentos e por tensão do diafragma.

2. Respiração Intestinal

Reich discute isto em relação à energética do vomitar:

• Com bloqueio diafragmático e incapacidade para vomitar, ocorrem

náuseas mais ou menos constantes.

• Encouraçamento abdominal »»» desordens do estômago “nervoso”.

• O vómito é um movimento que expressa “expulsão convulsiva do

conteúdo do corpo”.

• É um movimento peristáltico entre estômago e esófago oposto à

sua função normal, e em direção à boca.

• O vómito infantil é acompanhado de diarreia.

• Do ponto vista energético, fortes ondas de excitação partem do

meio do corpo, correm para cima em direção à boca, e para baixo

em direção ao ânus.

• Estas convulsões desaparecem com respiração profunda.

2. Respiração Intestinal

• A criança submetida a sentimentos de vergonha ou culpa pela

expulsão do conteúdo corporal, aprende a engolir o que não gosta,

em vez de os cuspir, e a inibir os movimentos peristálticos do cólon.

• Esta criança desenvolve frequentemente um padrão de respiração

que suporta o seu movimento peristáltico - respiração intestinal.

• Exemplo de Reich: o paciente quando expira, enche o abdómen, e

enquanto o peito relaxa e move-se para baixo.

• Nic Vaal chama-a de respiração paradoxal: “As direções da

movimentação do tórax e no abdómen ocorrem em oposição uma à

outra”.

• Lowen fala também em respiração paradoxal: “… a expansão do

peito é acompanhada por um estreitamento da cavidade abdominal.

Observa-se que o abdómen é sugado e recolhido durante a

inspiração e solto para fora na expiração”.

2. Respiração Intestinal

• Lowen descreve um padrão semelhante num paciente masoquista:

“…quando tentava fazer uma expiração profunda, o peito relaxava,

mas a onda descendente ia acumulando no meio do abdómen…

como alguém que se esforça para defecar. Parecia esforçar-se

para empurrar algo para fora, esforçando-se contra algo que

resistia.”

• Temos então uma forma de respiração transferida do sistema

intestinal para o sistema respiratório, uma forma que seria de

esperar particularmente de pessoas expostas a situações

nauseantes que as façam sentir vontade de vomitar (“o veneno da

paranóia”) ou de pessoas expostas a situações de nojo e de

humilhação anal relativos aos conteúdos abdominais (“o pântano”

do masoquista).

2. Respiração Intestinal

• No caráter oral, Lowen descreve o oposto do peito inflado do caráter

rígido.

• A tensão muscular marcante do rígido parece ausente na parte frontal

do corpo, mas isto ocorre apenas devido à condição desinflada do peito

e do abdómen”: nestes casos, o reflexo de engasgar é bastante fácil de

aliciar.

• Isto pode ser devido a distúrbios à alimentação no período inicial de

vida com tendências persistentes ao vómito. É como se a defesa oral

fosse uma atenuação da sensação de vazio. O peito é geralmente

desinflado e a barriga, quando apalpada, mostra-se vazia.

• Diz Lowen, que podemos reconhecer um tipo especifico de respiração

oral, pelo medo e relutância em expressar voracidade.

• Nestes casos, o gesto de colocar as mãos em concha de cada lado do

pescoço da pessoa constitui um auxilio.

3. A Respiração como Acto de Sugar

(Oral)

• A criança aprende que o que deseja, não traz o que ela precisa.

• Quando isto é transferido para a respiração, a pessoa parece

esfomeada de ar, mas tem receio de respirá-lo em grandes golos, de

o sugar.

• Nestes casos, o gesto de colocar as mãos em concha de cada lado

do pescoço da pessoa constitui um auxilio.

• As atitudes orais de sugar a alimentação dos outros ou de

substitutos proporcionados por várias adições, têm origem na recusa

de deixar a nutrição que vem do ar, invadir rapidamente o

organismo, e da incapacidade de se tornar um viciado em oxigénio.

“Qualquer distúrbio na função do sugar, terá imediata percussão

sobre a função da respiração”.

Lowen

3. A Respiração como Acto de Sugar

(Oral)

• Reich descreve um padrão de respiração muito diferente, usando um

caso de esquizofrenia que ele tratou. Embora pareça relutante em

respirar, as origens e dinâmica são muito diferentes.

• “…na respiração, o problema não era quebrar a couraça do peito. O

problema era como fazê-la expirar e inspirar através da laringe. Ela

começou a lutar fortemente sempre que eu tentava provocar a respiração

total. ….Tive a impressão que a respiração era inibida como um forte

esforço consciente.”

• Uma das funções desta inibição de respiração é suprimir as correntes

vegetativas que se movem no corpo, é a minimização dos movimentos

da respiração.

• A entrada e expulsão do ar é feita de uma maneira quase imperceptível.

A respiração imperceptível é uma negação não do ar, mas do próprio

processo da respiração em si, pré-requisito para a vida fora do útero.

• Quanto mais inativo o aparelho respiratório, mais “dentro do útero.”

4. A Respiração do Nascido e do Não

Nascido

• Lowen descreve um ataque de despersonalização em relação à

respiração de um paciente seu;

• “ …Tinha a sensação estranha de que não tinha controle sobre a minha

respiração. Pensava que se parasse de respirar, não conseguia

começar novamente. Parecia estar fora do meu corpo como se não

fosse meu. Sentia fraqueza e tonturas como se fosse morrer. Então eu,

gritava e desmaiava e as sensações desapareciam vagarosamente.”

• O grito de medo que afastou a sensação de despersonalização e na

realidade o grito do nascimento. De certa forma, este grito traz a pessoa

despersonalizada de volta ao seu corpo.

• O medo de que se pare de respirar provoca uma entrada de ar súbita,

como a 1ª respiração, enquanto que este estado de despersonalização

é identificado com um atitude emocional de não respiração, de estar

não-nascido. (“unborn”).

4. A Respiração do Nascido e do Não

Nascido

• A respiração vigorosa, para uma pessoa esquizóide, pode despertar

sensações de morte por afogamento.

• Entre muitas explicações, esta sensação de afogamento faz-nos pensar

numa possível associação com a existência intra-uterina, onde o feto

flutua num “mar de fluido”.

• Sabe-se agora que o feto faz movimentos respiratórios dentro do útero,

a partir do sétimo mês. Embora não sejam movimentos significativos, se

um espasmo uterino cortasse o fluxo de sangue oxigenado para a

placenta durante um tempo significativo, julga-se que estes movimentos

experimentais poderiam tornar-se em tentativas reais de respirar.

• Nesta situação, a sensação de afogamento resultaria no fluxo de fluido

amniótico para dentro da garganta do feto.

• Isto é pura especulação, mas é uma possibilidade que não deve ser

descartada.

4. A Respiração do Nascido e do Não

Nascido

• Outro exemplo dado por Lowen;

• A situação na qual a pessoa imobiliza a respiração durante a fase da

inspiração, este tipo de respiração esquizofrénica tem um sinal

emocional;

• “Se insuflarmos o peito e encolhermos o abdómen, vamos ouvir um

ofego quando entra ar nos pulmões. Não é difícil reconhecer isto

como uma expressão do medo. O esquizofrénico respira como se

estivesse num estado de terror.”

• Se este fôlego, uma vez inspirado, é expirado imperceptivelmente,

então a expressão do medo é congelada e retorna para dentro.

• O esquizofrénico respira como um homem que se finge de morto

num campo de batalha, que não pode mostrar que respira, para não

levar um tiro.

4. A Respiração do Nascido e do Não

Nascido

• A respiração pelo menos prova que ele está vivo e fora do útero,

mas é uma respiração ansiosa e que mostra pânico, que apenas

está a conseguir sobreviver.

• Ansiedade significa constrição e a respiração histérica é uma

respiração constrita no qual o processo respiratório luta por se

afirmar.

• “Imaginemos como quando se está amedrontado, ou na expectativa

de um grande perigo, a pessoa sustém a respiração e mantém essa

atitude. Como não pode continuar a fazer isso, logo terá que expirar

de novo. Mas a expiração será incompleta e pouco profunda.

• Qual é a função desta atitude de “ respiração superficial”?

• É quase comparável com a da respiração no afogamento, quando a

própria inspiração conduz à morte.

4. A Respiração do Nascido e do Não

Nascido

• Reich descreve como as crianças aprendem a lutar contra estados de

ansiedade, restringindo a sua respiração e suprimindo os sentimentos

de ansiedade. Se são bem sucedidas, o padrão resultante do afeto e da

postura, conduz ao bloqueio torácico.

• O padrão do corpo histérico enfrenta o “stress” expressando alguns dos

sintomas de ansiedade, aprendendo a manipular o ambiente através

destes.

• O padrão de respiração aproxima-se do descrito por Nic Vaal como

“respiração tremulante” e conduz a uma sensação de estar sem fôlego.

• Este tipo de sensação é descrita no exemplo da conversa de Freud com

uma paciente sua, Katerina, onde se mostra também a transição entre

padrões de respiração histérica e esquizóide.

• Quando Katerina se sente sufocar e não pode respirar, a pressão na

cabeça aumenta.

4. A Respiração do Nascido e do Não

Nascido

• Reich descreve: Se a atitude de antecipação ansiosa for mantida por

algum tempo, aparece uma pressão na cabeça. Esta pressão, segundo

Reich, não lhe foi possível eliminar até descobrir as atitudes de

antecipação ansiosa na musculatura do peito.

• Este tipo de sensação é descrita no exemplo da conversa de Freud com

uma paciente sua, Katerina, onde se mostra também a transição entre

padrões de respiração histérica e esquizóide.

• Quando Katerina se sente sufocar e não pode respirar, a pressão na

cabeça aumenta.

• A tendência histérica, no entanto é abreagir (“abreact”) um pouco do

pânico, escapar da sensação de sufocamento para a respiração

tremulante (“flutter breathing”) “flirtando” com a ideia de morrer mas

mostrando sempre uma vivacidade vigorosa.

• O histérico respira da forma hesitante e cheia de pânico do bebé que

passou por uma luta difícil ao nascer.

4. A Respiração do Nascido e do Não

Nascido

• Não se está a sugerir que se possam classificar

rigidamente os estilos de respiração e remetê-los

mecanicamente a padrões de caráter específicos.

• Estilos de respiração misturam-se e mesmo os

extremos polares podem existir na mesma pessoa

quando elas ultrapassam a margem de “stress”, sob

condições flutuantes de ansiedade e tensão.

Por fim….