este meu espaço - p.a.a

62
ESTE MEU ESPAÇO Prova de Aptidão Artística José Diogo Lajes Machado Marques Figueira Design de Produto | Especialização de Equipamento Escola Artística Soares dos Reis - Porto - 2014/15

Upload: jose-figueira

Post on 24-Jul-2016

224 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Prova de Aptidão Artística - Design de Produto Escola Artística Soares dos Reis - 2014/15

TRANSCRIPT

Page 1: Este Meu Espaço - P.A.A

EstE MEu EspaçoProva de Aptidão Artística

José Diogo Lajes Machado Marques FigueiraDesign de Produto | Especialização de Equipamento

Escola Artística Soares dos Reis - Porto - 2014/15

Page 2: Este Meu Espaço - P.A.A
Page 3: Este Meu Espaço - P.A.A

LudicidadesProva de Aptidão Artística

José Diogo Lajes Machado Marques FigueiraDesign de Produto | Especialização de Equipamento

2014/15

Page 4: Este Meu Espaço - P.A.A

3

Page 5: Este Meu Espaço - P.A.A

4Índice - Prova de Aptidão Artística

LudicidadesProva de Aptidão Artística

Introdução______________

Pesquisa Formal__________

Exploração da Temática___

Este Meu Espaço_________

Conclusão______________

introdução_6proposta_6

ludicidades_7mapa conceptual_9a criança e o espaço_11a criança e o design_15

exploração da temática_17caso de estudo - tipologia_ 21caso de estudo - frank gehry_23pesquisa de mercado_25materiais_27

anteprojeto_29dimensão pessoal_35projeto_37componentes_39o objeto e o “eu”_41

memória descritiva_49comercialização_51conclusão/desenhos técnicos_55

Índice5

7

17

29

48

Amigos a andar de baloiço num bairro de lata (Delhi, Índia)

Page 6: Este Meu Espaço - P.A.A

5

Meninas a brincar na rua ao jogo do Botão (Hradec Králové, República Checa), 1917

Page 7: Este Meu Espaço - P.A.A

6introdução - Prova de Aptidão Artística

PAA_

A Prova de Aptidão Artística do ano letivo 2014/2015 consiste na conceção ou transformação de um objeto ou ambiente, jogo ou serviço, que in-tegrasse valores lúdicos no quotidiano das pessoas, enriquecendo-o ao facilitar este aspeto. Os subtemas (livres, mas definidos de acordo com campos concep-tuais, artísticos e tecnológicos que fossem ao encon-tro desta dimensão lúdica) direcionam cada trabalho para um caminho diferente em cada caso, sendo es-colhidos num momento inicial.

Durante a conceção deste projeto, pretende-se que o aluno compreenda, e tenha em conta o papel das atividades lúdicas como motor do desenvolvimento psicológico e físico - quer em crianças ou adultos, aplicando conceitos e metodologias que, com conhe-cimentos de outras disciplinas, levassem a um melhor entendimento do papel do Design na sociedade.

Esta PAA está dividida em cinco fases, iniciando-se com uma pesquisa formal e tecnológica (a que se se-gue a conceção do subtema do projeto), e, após o seu desenvolvimento, a elaboração de um relatório final e a apresentação do trabalho a um júri.

"Ludus est necessarius ad conversationem humanae vitae" - tomás de aquino

“o brincar é necessário para (Levar uma) a vida humana”

IntroduçãoO percurso nestes três anos de ensino artístico especia-lizado na Escola Artística Soares dos Reis foi o maior influenciador recente do meu carácter, da minha me-todologia de trabalho, e da minha condição como pessoa naturalmente curiosa (tal como a generalidade dos alunos desta instituição), tendo obtido competên-cias indispensáveis, que pelo afinco extra que o pro-grama e o corpo escolar inteiro são conhecidos, me irão diferenciar no mercado de trabalho e em contexto académico.

O curso - Design de Produto - de certa forma ampliou a diversidade de conhecimentos artísticos, pois, ao contrário do que infelizmente se observa muito noutros cursos, somos encorajados a procurar mais, a sair da nossa zona académica de conforto, a ter um conheci-mento que abarque todos os campos artísticos, desde as artes plásticas, as gráficas, as audiovisuais, e por fim o design e a arquitetura, mais inseridas no âmbito do curso e da especialização.

Este percurso escolar termina com uma Prova de Ap-tidão Artística, em que aplicamos e consolidamos to-dos os conhecimentos, metodologias e criatividade que assimilamos ou formamos, num projeto de final de ano de Design, apresentado e avaliado por um juri composto por elementos do corpo escolar e elementos do ramo independentes.

Proposta

Page 8: Este Meu Espaço - P.A.A

7

Ludicidade_

O universo do "ludos" - com origem na palavra latina para "jogo" ("ludus"), que no seu conceito original se cingia ao brincar infantil sem bagagem conceptual - engloba todos os objetos, serviços ou atos que, de forma divertida, transpõem conhecimentos, incutindo no ser humano capacidades sociais, lógicas, físicas e emocionais (entre outras).

Desde tempos imemoriais, o "ludus" é indispensável à formação das pessoas, complementando a apren-dizagem formal. Quase simbiótico com a prática do lazer, a dimensão lúdica revela-se essencial para o desenvolvimento das pessoas, tornando-se então num argumento de força, não só pela educação pré-esco-lar baseada na brincadeira e na diversão, mas pela educação e pelo trabalho em que o prazer (de traba-lhar ou estudar) tem um papel indispensável.

“Sendo assim, a utilização do lúdico no ambiente escolar traz enormes vantagens para o processo de ensino-aprendizagem, porque é um impulso natural da criança e do adolescente, o que já é uma grande motivação, pois eles (crianças e adolescentes) obtêm prazer, e o seu esforço para alcançar o objetivo da aula é espontâneo e voluntário. Com isso, a aula que possui o lúdico como um dos seus métodos de apren-dizagem, é uma aula que se encontra voltada para os interesses dos alunos, sem perder o foco do ensino, sem perder o seu objetivo, pois brincando a criança explora e compreende o mundo ao seu redor. Ativan-do a curiosidade descobre coisas e situações novas.” (RAVELLI, Ana; MOTTA, Maria; 2005)

“Há muito que vem crescendo em mim a convicção de ser no jogo e pelo jogo que a civilização surge e se desenvolve” - Johan Huyzinga

Ludicidades

Homem a fumar num piquenique

no Parque de Ueno (Tóquio,

Japão), durante as festividades do hanami - a contemplação

do florescer das cerejeiras, 2015

Page 9: Este Meu Espaço - P.A.A

“Há muito que vem crescendo em mim a convicção de ser no jogo e pelo jogo que a civilização surge e se desenvolve” - Johan Huyzinga

8pesquisa FormaL - Prova de Aptidão Artística

O Lúdico e a Criança_

Fora destes ambientes formais escola-trabalho, no sentido habitual do “lazer” - derivado da palavra lati-na “licere”, sinónimo de “ser permitido” - encontra-se uma enorme variedade de atividades lúdicas, algu-mas direcionadas a grupos etários e culturais especí-ficos, outras que abrangem todos os grupos sociais existentes. Desde a conversa casual (que melhora ca-pacidades sociais) até passatempos mais específicos (como no ramo da música ou do desporto), a ludicida-de encontra a sua tipologia mais reconhecível do brin-quedo - nomeadamente, o brinquedo para criança.

As crianças experimentam e sentem o ambiente mais intensamente que os adultos. A sua idade implica um constante desenvolvimento das capacidades mentais (lógicas e sociais, por exemplo), sensoriais (auditivas, tácteis, olfativas, entre outras), físicas (flexibilidade, força, agilidade...), que são constantemente influen-ciadas pelas experiências do dia a dia.

“To enter the world of a child (or a cat) the least you must do is sit down on the ground without interrupting the child in whatever he is doing, and wait for him to notice you. It will then be the child who makes contact with you, and you (being older, and I hope not older in vain) with your higher intelligence will be able to un-derstand his needs and his interests, which are by no means confined to the bottle and the potty. He is trying to understand the world he is living in, he is groping his way ahead from one experience to the next, always curious and wanting to know everything.” (MUNARI, Bruno, 1966)

O seu ponto de vista muda à medida que é afetada por essas experiências, criando os seus gostos e mol-dando a sua personalidade mais durante esta época da sua vida do que em qualquer outra idade.

Page 10: Este Meu Espaço - P.A.A

9

Ludicidades

Mapa conceptual

“The fatal misconception behind brainstor-ming is that there is a particular script we should all follow in group interactions.... When the composition of the group is right - enough people with different perspectives running into one another in unpredictable ways - the group dynamic will take care of itself. All these errant discussions add up. In fact, they may even be the most essential part of the creative process. Although such con-versations will occasionally be unpleasant - not everyone is always in the mood for small talk or criticism - that doesn’t mean that they can be avoided. The most creative spaces are those which hurl us together. It is the hu-man friction that makes the sparks.”

-Jonah Lehrer

Direção do trabalho_

De forma a aprofundar mais o trabalho, após uma pesquisa sucinta sobre ludicidades, em conjunto, a turma - com vários pontos de vista e experiências diferentes - realizou um brainstorming, de termos e expressões que, para nós, eram relacionadas com o tema “Lu-dicidades”.Procurei, após esse brainstorming inicial,

encontrar um caminho e uma metodologia, partindo do mesmo tema, e pensando nas crianças. Prestei especial atenção ao contex-to de espaço, e a importância e influência que têm nas crianças, partindo da minha ex-periência pessoal.

Page 11: Este Meu Espaço - P.A.A

10pesquisa FormaL - Prova de Aptidão Artística

Page 12: Este Meu Espaço - P.A.A

11

Os espaços frequentados pelas, e projetados para as crianças - ironicamente pensados para elas - são muitas vezes desenhados e organizados por adultos, que ao tentarem impor uma organização espacial incompatível com a forma de experienciar o mundo das crianças, travam o seu desenvolvimento pedagógico (tal como acontece quando se direciona crianças de géneros específicos para brinquedos tipicamente masculinos ou femininos), tal como defende Piaget em 1975, afirmando que a escola não é só um espaço frequentado por crianças, mas essencialmente um espaço delas. “Muitas vezes a escola (...) parece mais um lugar para adultos pequenos que para crianças”

Os ambientes do quotidiano (casa, escola, rua) interessaram-me imediatamente, pelo im-pacto que tiveram no meu desenvolvimento pessoal na infância, e pela influência subtil que têm nas crianças, de um modo geral. A sua influência indireta é vísivel, por exemplo, na permissão de a criança usar esse espaço (o facto de um pai não deixar o seu filho brincar na rua - ou de uma criança volunta-riamente explorar mais o espaço doméstico que o público - pode, ou não, criar, ou eli-minar, problemas de responsabilidade, de socialização, de civismo, entre outros), mas a sua influencia directa é ainda mais eviden-te, quando nos apercebemos que a organi-zação de um espaço, a sua aparência, as cores utilizadas, a segurança, as regras e os costumes sociais que a ele se associam, afetam inegavelmente o dia-a-dia de uma pessoa.

A criança e o espaço

“Acredito que a dinâmica

é (o) mais importante.

A dinâmica das pessoas, da sua

interação com os espaços e das

condições ambientais”

- John Portman

Em relação a espaços pessoais - que abran-gem não só o quarto, mas também o infan-tário, a ludoteca, e divisões domésticas em geral - cada sub- faixa etária infantil (recém--nascidos, crianças até aos 2 anos, pré-es-cola, primária, e por fim adolescentes) tem necessidades específicas.

Por exemplo, crianças mais novas precisam de mobiliário robusto enquanto aprendem a andar, mas essa necessidade é apenas tem-porária. Tal como as crianças em idade pré--escolar, necessitam também de espaços e ambientes seguros - no caso dos menores de 2 anos, esta é a maior preocupação - que promovam independência e exploração. Po-rém, ao contrário destas, não é necessário ainda incuti-lhes a responsabilidade de man-ter o espaço organizado. As pré-escolares necessitam também de espaços amplos, em que possam correr, ter uma variedade de ob-jetos e encontrar uma multitude de situações que encorajem a sua capacidade de tomar (boas) decisões, sendo nesta idade que as crianças começam a tomar conta de si pró-prias, quer a nível de higiene, quer a nível de organização espacial.

Na faixa etária seguinte (5-10 anos, ou seja, 1º ciclo), necessitam de espaços apro-priados para expôr os seus trabalhos, quer sejam trabalhos escolares ou coleções. Se já na faixa anterior, o mobiliário começa a ser importante (por exemplo, mesas e cadei-ras de tamanho apropriado, que sendo de-dicadas a projetos específicos encorajam a criatividade e aumentam a capacidade de concentração), nesta a mobília começa a ter uma dimensão ainda mais relevante, já que se inicia a leitura e o estudo formal.

Importância dos espaços para a criança_

Imagination Playground

(Rockwell Group,Nova Iorque)

Page 13: Este Meu Espaço - P.A.A

12pesquisa FormaL - Prova de Aptidão Artística

Quando se chega à adolescência, a in-dependência em relação aos pais torna-se um dos maiores desejos, e necessidade. Os adolescentes precisam do seu próprio espaço e organização pessoal. Sendo esta a idade de transição entre a infância e a maioridade, o seu desejo de independência e maturidade levam também a uma relação maior com o espaço público/espaço não vigiado, quase como um adulto (não subesti-mando a necessidade dos espaços públicos estarem preparados para as outras faixas etárias). O adolescente também precisa de um lugar para estar com amigos, e/ou sozi-nho, que pode surgir quer no espaço domés-tico, quer fora do lar.

Outro aspeto importante, que se verifica a partir da idade pré-primária, é a independi-zação progressiva, que se traduz numa ne-cessidade de privacidade, privacidade para brincar, estudar, falar.

Page 14: Este Meu Espaço - P.A.A

13

O Espaço Doméstico_

“Nem tudo o que as crianças fazem precisa de ser feito no quarto delas.”

- Sheila Gains

Dispersar pela casa as atividades que se tenta normal-mente confinar ao quarto - o estudo, a leitura, passa-tempos e entretenimento em geral - pela casa fortalece relações inter familiares, melhorando as capacidades sociais. Objetos lúdicos projetados para um espaço do-méstico devem, para além de todos os fatores já habi-tuais numa metodologia de trabalho, ter em conta o lugar onde poderão ser utilizados estes objetos, e também (se forem direcionados a crianças) o seu tempo de utiliza-ção, devendo ser ou flexíveis ou pouco custosos.

O Parque Infantil_

"It is the child in man that is the source of his uniqueness and creativeness, and the playground is the optimal milieu for the unfolding of his capacities and talents."

- Eric Hoffer

Um parque infantil é um espaço, na maior parte das vezes exterior, projetado para permitir que as crianças brinquem e desenvolvam capacidades físicas como flexibilidade, força e coordenação, e capacidades sociais pela sua interação com outras crianças. Possuem normalmente equipamentos recreativos como baloiços, escorregas, gaiolas gímnicas e labirintos, que possibilitam a atividade física e a diversão, estimulando. Para além da segurança das crianças ao brincar com os equipamentos e entre si (o uso de chão de borracha, por exemplo, e a divisão entre espaços

de brincadeira mais agressiva e menos agressiva), é importante a forma como se relaciona com o ambiente (normalmente urbano) à sua volta. No entanto, estes dois fatores não devem prejudicar o desenvolvimento da criança, particularmente no que se refere à gestão de risco próprio e alheio delas.

Cena doméstica entre três familiares

Parque infantil em Amsterdão, cidade inovadora pela sua reconstrução pós-guerra (e subsquente tradição) utilizando alguns espaços livres para a construção de parques infantis e outros equipamentos para jovens.

Page 15: Este Meu Espaço - P.A.A

14pesquisa FormaL - Prova de Aptidão Artística

A Sala de Aula_

“Muitas vezes a escola (...) parece mais um lugar para adultos pequenos que para crianças”

- Jean Piaget

A sala de aula - desde a pré-escola até ao ensino supe-rior - é um lugar de aprendizagem. Nas salas dos mais jovens (Infantário, por exemplo), há, na maior parte das vezes, uma boa relação entre a parte do divertimento e a da aprendizagem, da obtenção de conhecimentos.. No entanto, ao longo da vida das crianças, a tendência é para uma formalização inútil cada vez maior. Não sendo por razões morais admitivel que alunos do secundário “brinquem” no meio da aula,certos exercícios de debate, por exemplo, são ótimas maneiras de trazer a dimensão lúdica para a sala de aula.

O uso de espaços públicos por crianças torna-se cada vez menos mediado por adultos à medida que a sua independência e autonomia aumenta. Assim, enquanto que uma criança de 3 anos só anda na rua desde que seja de mão dada com os pais, a partir da entrada para um ambiente escolar o espaço público abre-se, permitindo-lhes uma melhor compreensão de regras cívicas, do espaço urbano, e das condições de segurança. Desde descampados a praças, parques e jardins, é necessário desenhar estes espaços para que acomodem e estejam preparados para crianças

como estão para adultos. “É importante que a experiência e ponto de vista de crianças e jovens do espaço público sejam tidos em conta na organização e conceção desses espaços públicos.” (ELSEY, Susan) já que demasiadas vezes os seus modos de vida e necessidades são ignorados.

A Rua e o Espaço Público_

"There are children playing in the street who could solve some of my top problems in physics, because they have modes of sensory perception that I lost long ago.”

- Robert Oppenheimer

Escola Sakeji (Mwinilunga, Zâmbia)

Pai e filhas brincando numa fonte e esplanada urbana (Los Angeles, EUA)

Page 16: Este Meu Espaço - P.A.A

15

A criança e o design

O ambiente em que as crianças vivem afe-ta o seu crescimento cognitivo, tendo uma enorme (mas subtil) influência nelas. Conti-nuando a ideia iniciada anteriormente, o estudo e preparação destes espaços trazem benefícios inegáveis ao desenvolvimento físi-co e mental, tendo dado o exemplo de cer-tas situações sociopsicológicas relacionadas com o espaço à nossa volta. É o caso da vigilância excessiva das crianças pelos pais que pode contribuir para entorpecer as suas capacidades de avaliação de risco.

No entanto, não são apenas as condições sociológicas que as afetam. O Design - a concepção de artefatos, com três faces prin-cipais (a funcional, estética e simbólica) - tem um papel indubitável na criação e definição dos espaços. Como já havia sido menciona-do, os espaços são muitas vezes desenhados só com um tipo de ocupante estandardizado em mente (adultos), mesmo quando, no caso de escolas e infantários, são destinados a crianças. Esta falta de preocupaçãopreocu-pação cria ambientes inadequados e, mui-tas vezes, até hostis às necessidades infantis.

Desta maneira, os objetos de design para menores devem ser :

- seguros (devendo prestar-se especial aten-ção às crianças mais novas e aos bebés)

- estimulantes (cognitiva e sensorialmente, tendo a cor - com uma análise na página seguinte - e a função uma importância ine-gável)

- apropriados (quer em termos materiais quer funcionais, estando adaptados a ter várias funções à medida que as crianças crescem e as necessidade mudam, a serem reutilizáveis por outras crianças da mesma faixa etária, ou então a assumirem a sua efe-meridade de forma ecológica e plástica).

Importância do design nas crianças_

Page 17: Este Meu Espaço - P.A.A

16pesquisa FormaL - Prova de Aptidão Artística

Page 18: Este Meu Espaço - P.A.A

17

Exploração da temáticaLudoteca Ambulante_

A Ludoteca Ambulante é uma ideia - juntando conceitos mais comuns, como bibliotecas e roulottes de comida móveis, e o conceito habitual de uma ludoteca - que ex-pande as possibilidades de uma ludoteca ao poder ser móvel/modular (podendo ser adaptado a outras faixas etárias, nomeadamente idosos).

Partindo da ideia de uma carrinha (não ignorando a viabilidade da utilização de, por exemplo, contentores, para criar ludotecas semi-fixas modulares) ou pequeno camião, já usados por vários programas comerciais ou públicos (como o programa de sensibilização para a re-ciclagem da SUMA, que viaja por várias escolas primá-rias todos os anos), projetaria:

- interior/exterior adequado para guardar brinquedos, acolher computadores, entre outros

- mecanismos que compatibilizassem o veículo escolhido com a ludoteca

- brinquedos específicos adaptados a uma utilização extensa, usados no contexto desta tipologia

Este veículo poderia então atravessar, durante as férias vários bairros desfavorecidos (ou não), quer da periferia quer centrais, e durante o tempo de aulas, os infantários e jardins de infância, num serviço municipal ou intermu-nicipal (pensando, no contexto da Área Metropolitana do Porto, em serviços exclusivamente municipais, mas no contexto de, por exemplo, Trás-os-Montes, de um servi-ço cooperativo entre os vários municípios e localidades). Tornar-se-ia um ponto de encontro para crianças, um lu-gar seguro para brincar e acima de tudo, um espaço em que uma criança poderia desenvolver capacidades, independentemente da sua situação socioeconômica.

“You might be poor, your shoes might be broken, but your mind is a palace.”

-Frank McCourt

Page 19: Este Meu Espaço - P.A.A

18

Brinquedo de Arquitetura Urbano_

O brinquedo de arquitetura urbana (city-building), ou-tro estudo para o subtema, segue os princípios-base dos jogos de construção e de simulação urbana (quer digitais quer físicos), tendo como objetivo a constru-ção de uma cidade e a construção de histórias pelas crianças (ou, como irei mencionar mais à frente, por adultos), tal como acontece com outros brinquedos de construção realistas (Lego, por exemplo), e com os cé-lebres “tapetes de carrinhos”.

A criação dos espaços urbanos teria guias educati-vos (mas divertidos), que variariam conforme fosse o público alvo do objeto. Para uma criança, esses guias - e o objeto - seriam simples e de fácil compreensão, levando-a a compreender os problemas de uma ci-dade (por exemplo, como colocar certos transportes), relacionando-a com pequenos bonecos, barcos, etc, com que criaria as suas próprias histórias.

Para um adulto, e principalmente se se seguisse uma estética inspirada por elementos da cultura popular (universos ficcionais da Marvel, do Star Wars, Elders Scrolls, entre outros), esses guias iriam provavelmente refletir ou algo já existente nesse universo, ou possibi-litar a construção de algo não canónico na história, mas perfeitamente inserido.

“The axis of the earth sticks out visibly through the centre of each and every town or city” -Oliver Wendell Holmes Sr.

exppLoração da temática - Prova de Aptidão Artística

Page 20: Este Meu Espaço - P.A.A

19

Exploração da temáticaO Espaço da Criança_

O Espaço da Criança (brinquedo de arquitetura a uma escala habitável por elas) consiste na utilização de módulos simples - cubos, pirâmides, ou então ares-tas e conectores - para a construção de um espaço arquitetônico privado, realmente da criança, de brin-cadeira.

Este projeto, escolhido para ser desenvolvido no âm-bito desta PAA, passa por um processo longo até à avaliação intermédia e apresentação do anteprojeto.

Inicialmente partindo de uma forma cúbica sem fa-ces (...), que poderia ou não ser desmontada (remi-niscente do topo da Igreja na Água, de Tadao Ando, num desenho de Ji Young Lee à direita e na margem da página seguinte - a arquitetura de Tadao Ando é bastante minimalista, usando formas básicas rectas, numa mistura de luz e sombra).

Adiciono a possibilidade de se tapar as faces com placas de acrílico coloridas, inseridas em fendas, as-semelhando-se vários módulos a uma pintura de Mon-drian. Assim, as crianças, ao construirem ou juntarem estruturas, conseseguiriam manipular o ambiente ain-da mais, pelas transparências e cores das placas, no jogo de luz e sombra de Tadao Ando.

Page 21: Este Meu Espaço - P.A.A

20exppLoração da temática - Prova de Aptidão Artística

Estudou-se também esta forma, em que bases eram suportadas por colunas, que no seu interior teriam persianas em rolo, possivelmente desenhá-veis.

Igreja na Água, Tadao Ando

(Tomamu, Japão)Esta estrutura

cúbica, iluminando a entrada para o

edifício, é bastante caracterizadora

das características formais e estéticas

do autor

Page 22: Este Meu Espaço - P.A.A

21

Page 23: Este Meu Espaço - P.A.A

22

Caso de Estudo - A Tipologia

“As crianças têm uma vida mais saudável e feliz quando têm um lugar para brincar.”

A casa de cartão e o forte de lençóis são dois dos mais reconhecíveis e memoráveis espaços (e de certa forma, acontecimentos e brinquedos) da infância da maior parte das pessoas. Adaptados ao tamanho de crianças, são construções improvisadas, fei-tas quer num contexto de espaço doméstico quer num contexto de sala de aula (de infan-tário).

O primeiro, o Forte de Lençóis, é um con-ceito mais comum num ambiente familiar que num escolar, pela sua efemeridade e utiliza-ção de componentes de carácter normal-mente doméstico.

Consiste na utilização de cobertores, man-tas, lençóis e outras roupas de cama, su-portada por componentes estruturais como cadeiras, mesas, caixas, ou fios atados a outros componentes mais substânciais. Po-de-se assemelhar a uma tenda, com um es-paço interior amplo e uma aparente leveza do tecido, ou então a algo mais confinado, usando-se tecidos mais densos e quentes for-mando corredores e espaços apertados e escuros.

O Forte de LençóisA Casa de Cartão_

O segundo, a Casa de Cartão, é por sua vez mais vulgar em espaços lúdicos (salas de aula, jardins de infância), tendo uma maior longevidade.

Neste conceito, o cartão não é apenas car-tão (que é usado nas casas que se pretende que tenham menor permanência), mas tam-bém madeira (ex: Casa na Árvore), plástico (ex: Casas pré-fabricadas em tamanho pe-queno refletindo algum estilo arquitetónico, normalmente americanos suburbanos), et ce-tera. Estas casas em cartão (sobre as quais irei refletir mais aprofundadamente) habitual-mente possuem uma semelhança passante às tipologias residenciais habituais, com portas funcionais, janelas, e possivelmente diferen-tes divisões.

Ambas as tipologias são espaços de brin-cadeira, ponto de encontro de crianças (e não só) em infantários, ludotecas, e no lar. São (como o caso de estudo seguinte) um elemento de criação de narrativas, um es-paço criado pelas crianças, não necessaria-mente só “interior” ou “exterior”, que se torna o espaço privado de eleição, definindo esse ambiente como um espaço onde outros brin-quedos - bonecos, carros, brocas de fingir e

- Darell HammondexppLoração da temática - Prova de Aptidão Artística

Page 24: Este Meu Espaço - P.A.A

23

Caso de Estudo - Frank Gehry

Frank Gehry, nascido em Toronto, Cana-dá, no dia 28 de Fevereiro de 1929, é um arquiteto Norte-Americano (com dupla nacionalidade americana e canadiana), famoso pelos seus projetos pós-modernos. Criativo desde tenra idade, construía cida-des e casas imaginárias com objetos que en-contrava na loja de bricolage do avô. Mu-dou-se aos 20 anos para estudar arquitetura na University of Southern California (USC, a sua alma mater), mudando o seu apelido original (Goldberg) para o atual de forma a proteger-se de sentimentos antissemitas. Em 1956, com 27 anos, muda-se para o Mas-sachusetts com a mulher, para estudar na Harvard Graduate School of Design. Acaba por desistir do curso e divorciar-se da mu-lher, casando de novo em 1975.

Muda-se de novo para a Califórnia, atin-gindo alguma fama ao lançar a sua linha de mobília de cartão “Easy Edges”, renovando uma casa para a sua família na cidade de Santa Monica, em Los Angeles, com o di-nheiro que ganhou. Desta vez, o design ar-rojado - envolvendo a casa com ferro e cer-cas curvadas, no seu estilo habitual - captou a atenção das publicações de arquitetura, tendo esta primeira obra lançado logo a sua carreira, desenhando várias casas no sul da Califórnia a partir dos anos 80. Ao atingir o status de “starchitect”, recebeu comissões cada vez maiores, sendo o auditório Walt Disney, em LA, e o Guggenheim de Bilbao alguns exemplos. É conhecido (com uma notável excepção, o auditório Walt Disney) pelo cumprimento de prazos e orçamentos.

O Autor_

A Obra_

A obra de Gehry é marcada pela sua esco-lha de materiais e filosofia projetual e de ar-quitetura. Famoso pela sua metodologia de criar as formas das suas obras com folhas de papel, quase imediatamente estudando tri-dimensionalmente os edifícios, descons-truindo, numa estética pós-estruturalistas que discorda dos paradigmas aceites da arqui-tetura enquanto que quebra com o ideal mo-dernista da forma segue a função, os espa-ços, a fachada, coisas tão simples como a parede e a janela, torcendo-as, deforman-do-as, criando primeiro a forma e inserindo a função no seu interior. Mas o que de fora poderá parecer arbitrário, ou até abstrato e perturbador, por dentro revela-se como uma série de invulgares e convidativas relações de espaços.

“Ele constrói na “caixa” libertada que Frank Lloyd Wright abriu, e liberta os espaços que Le Corbusier levou a alturas luminosas. (“Ron-champs é uma lição de humildade para nós todos” diz ele.) Gehry continua e personali-za a tradição do século XX. Esta é um tipo de arquitetura possível e lógica apenas por novas tecnologias e estilos de vida. Ele for-ça o milagra moderno da estrutura e espaço radicalmente redefinidos em explosões ines-peradas de formas “puras” - uma surpreen-dente escada exterior, uma sala iluminada pelo céu...” (HUXTABLE, Ada Louise, 1989)

Page 25: Este Meu Espaço - P.A.A

24expLoração da temática - Prova de Aptidão Artística

8 Spruce Street, Nova Iorque

(2010). Gehry aplica as formas curvilíneas a este

arranha-céus com 265m, mantendo

no entanto o espaço funcional.

Residencia de Gehry, em Santa Monica. É visível

nestas duas imagens alguns

elementos da casa original que Gehry

desconstruiu, criando fendas na

casa, iluminando-a

Auditório Walt Disney, Los Angeles (2003)

Page 26: Este Meu Espaço - P.A.A

“L’important n’est pas d’où vous prenez les choses, mais où vous les emmenez”

“O importante não é de onde tiras as coisas. É para onde as levas.”

- Jean-Luc Goddard

Caso de Estudo:

25

Page 27: Este Meu Espaço - P.A.A

26

Caso de Estudo:

Crazy Forts_

Este brinquedo de construção, desenhado pela empresa canadiana Everest, consiste em dois elementos em polipropileno expandido - uma bola com pequenos buracos em 18 direções, e uma ligação reforçada, entrando por pressão nos buracos - em kits com 69 peças.

Kits individuais não permitem muitos designs diferentes (os autores apre-sentam cinco designs nas instruções do produto), sendo usual a compra de mais de um kit, aumentando a complexidade das construções. As 18 direções da bola são calculadas para apenas necessitarem de um componente adicional, permitindo construções angulares.

A aparente fragilidade dos componentes e uniões torna as constru-ções, em espaços amplos ou iluminadas de noite, visualmente leves, mas infelizmente demasiado constritas e de certa forma “ortogonais”.

Stocs_

Obra do designer holandês Bram van den Haspel, é uma maneira úni-ca e divertida de ensinar linhas, ângulos e estruturas a crianças, tendo obtido vários prémios e distinções internacionais (por exemplo, o “Good Toy Award” 2011 japonês, ou o selo de qualidade de brinquedos “Spiel Gut” alemão).

Apenas um tipo de peça - uma corda que no seu interior possui um tubo de polipropileno expandido - permite a construção de formas geo-métricas variadas, desde simples como cubos e pirâmides, até animais em grande porte e abrigos abstractos.

A ponta dessa corda, sem o tubo, permite unir as várias peças com nós onde a criança desejar - interiorizam assim noções de estabilidade arquitetónica, estimulando a criatividade e a lógica.

Pesquisa de Mercado

expLoração da temática - Prova de Aptidão Artística

Page 28: Este Meu Espaço - P.A.A

27

“No que diz respeito aos materiais e ao design, é a combinação dos elementos artísticos e científicos que possibilitam essa relação. Materiais não são simplesmente números numa planilha. E design não é um exercício sem propósito de estética e não é uma exploração isolada da tecnologia.” (Materials and Design: The Art and Science of Material Selection in Product Design)

Assim, durante o processo de design e ex-ploração da temática, tive sempre em conta os vários tipos de materiais usados, quer de um ponto de vista estético, quer funcional, realizando esta pesquisa formal a par da in-formal do dia a dia.

Madeiras_

A madeira poderá ser dividida em dois gru-pos gerais: a madeira maciça (sem grandes alterações em comparação com o produto natural) e os derivados da madeira. No que diz respeito à madeira maciça, no âmbito do design para crianças, destaca-se a faia, utilizada pelo grão fino, de textura suave, com uma leveza colorífica e estética, sendo uma madeira semidura (mais fácil de traba-lhar) apelativa visualmente e táctilmente. É também barata e sustentável pela sua ampla disponibilidade no continente Europeu, sen-do produzida quase integralmente em flores-tas sustentáveis, característica apelativa para produtos e designers europeus.

No caso dos derivados, destaca-se o OSB (aglomerados de partículas de madeira lon-gas e orientadas ou “Oriented Strand Board” utilizado na construção civil americana pela

sua resistência e leveza), o MDF (“Medium Density Fiberboard”, material denso, estetica-mente uniforme e facilmente trabalhado), e como material local e ecológico nas regiões em desenvolvimento o aglomerado de Bam-bu, um novo material semelhante ao OSB e aos aglomerados de partículas, extremamen-te leve, resistente, com todas as característi-cas do Bambu mas muito mais denso, sendo até usado em estudos por institutos como o ETH como o futuro material substituidor do aço na construção civil. Outra característica interessante em termos ecológicos do aglo-merado de bambu é a distribuição global dos biomas apropriado à planta, coincidin-do quase perfeitamente com a maior parte dos países em desenvolvimento.

Metais_

Na gama dos metais, o alumínio é carac-terizado pela sua leveza, inoxidabilidade, baixo preço e maleabilidade. É um metal muito utilizado em objetos pequenos infan-tis, perdendo no entanto a sua relevância em objetos de grandes dimensões, e que este-jam sujeitos a muita força. Nesta gama, o ferro e o aço inoxidável tornam-se a escolha mais segura, quer em termos de longevida-de, quer em termos de resistência (podendo o ferro tornar-se inoxidável através de méto-dos de pintura e proteção como a pintura eletrostática).

Os materiais metálicos em geral também são recicláveis, tornando-se uma escolha eco-lógica em locais que o extraem e produzem. Outros metais mais decorativos incluem, por exemplo, o cobre e o latão.

MateriaisImportância do material no Design_

Page 29: Este Meu Espaço - P.A.A

28

Polímeros_

Os polímeros, populares no design de produto pela facilidade com que são trabalhados e as inúmeras aplicações possíveis, dividem-se em três grupos essenciais:

Os termoplásticos (dos mais encontrados no mercado, ao ser aquecidos passam a um estado liquido moldável, sendo por isso recicláveis), os termo-endurecíveis (de alta dureza e resistência, não são no entanto recicláveis pois a temperatura de fusão é demasiada alta, permanecendo inalteráveis até se decomporem, podendo esta resistência térmica ser benéfica ou não) e os elastômeros (muito elásticos, não sendo fusíveis e tendo um processo de reciclagem complicado, mas possível).

Mais detalhadamente, destacam-se nos termoplásticos:

- PVC (Policloreto de Vinilo - Aplicado em telhas translúcidas, persianas e tubagens de água, ventilação e esgotos, sendo composto por cloro e etileno - derivado do petróleo - em percentagens semelhantes);

- PC (Policarbonato - incolor e resistente, é facilmente colorido);

- PS (Poliestireno - mais conhecido por esferovite, assemelha-se a espuma granular, sendo bastante utilizado em construção civil e design na armazenação de alimentos);

- PP (Polipropileno - de longe o mais utilizado no design de brinquedos, é de baixo custo, fácil moldagem e coloração, possui alta resistência química e estrutural - quer por flexão, fadiga ou impacto - ligeiramente flexível, sendo utilizado

como fibra, como sólido, como invólucro, entre outras aplicações);

- PET (Polietileno Tereftalado - utilizado frequentemente em garrafas de água, degrada-se lentamente, sendo facilmente reciclado para produzir fibras de enchimento);

- PMMA (Polimetil-metacrilato - mais conhecido por acrílico, é rigido, transparente, incolor, mas facilmente colorível, leve e resistente, sendo bastante semelhante ao vidro, mas menos denso, mais macio mas também mais facilmente riscado, não filtrando luz ultravioleta).

Em relação aos elastómeros destaca-se o Policloropreno, utilizado em roupa de desporto aquáticos, e o Silicone, utilizado em implantes corporais por ser quimicamente inerte, inodoro, insípido, incolor, elástico e resistente à decomposição.

Têxteis_

Podemos dividir os têxteis em duas categorias correspondentes aos materiais, e outras duas correspondentes à sua confecção: orgânicos vs não-orgânicos, e tecidos vs não-tecidos. (no que diz respeito aos materiais, o seu esta-tuto abrangente dos já mencionados implica uma repetição desses mesmos materiais - mas produzidos de maneira diferente - aqui).

Os têxteis, quase sempre maleáveis, possuem uma ampla diversidade táctil e visual, quer por formas de fazer quer pelos materiais de que são feitos (tweed, taidai, tecelagem, tri-cô, velcro). As suas capacidades práticas são também extensas e numerosas, como por exemplo tecidos hidrofóbicos (algodão olea-

inovação

transparências

textura

sustentabilidade

maleabilidade

resistência

expLoração da temática - Prova de Aptidão Artística

Page 30: Este Meu Espaço - P.A.A

29

Este Meu Espaço | Anteprojeto

Este Meu Espaço Subtema: Brinquedo de Arquitetura: com-

preender e organizar o espaço através de elementos modulares

(Texto retirado na íntegra da avaliação in-termédia desta PAA)

Este subtema, que levará à concepção de objetos provavelmente direcionados para crianças, pretende que se crie um brinque-do, de dimensões ainda não decididas, que permita uma manip ulação e personalização de ambientes e espaços (domésticos, urba-nos, etc).

Tendo em conta questões ecológicas, antro-pométricas, psi cológicas, e muito relaciona-da com a anterior, preocupações estéticas e funcionais, este projeto é bastante influencia-do por diversos ramos da arte, como arquite-tura (Tadao Ando, e arquitetura “pixelizada” nórdica - segunda imagem à direita), arte plástica (Mondri an, à esquerda), e design de produto (à direita, em cima, um exem-plo), que implica também uma pesquisa de mercado e dos objetos já existentes.

(This Space of Mine)_

29Construction Toy,

Land of Nod (Faia)

Page 31: Este Meu Espaço - P.A.A

30este meu espaço - Prova de Aptidão Artística

Este objeto, que permite a construção e a organização de espaços de brincadei-ra através de elementos modulares, a uma escala adaptada ao seu tamanho, ajuda a criança a compreender os espaço e as formas tridimensionais, melhorando as suas capacidades criativas e de resolver proble-mas, assim como, num espaço educativo, as suas capacidades de cooperação e sociali-zação. Destina -se a crianças em idade pré-escolar (2 6 anos), quando começa a crescer nelas um espírito construtivo de arquitetura.

Observa-se no esboço inicial à esquerda em cima, a exemplificação da proporção do brinquedo, e a sua escala, que permi-te uma criança de 6 anos estar de pé no seu interior. Na imagem inferior, observa-se a redução de tamanho das peças longas, havendo assim um maior grau de personali-zação, e uma maior consciencialização de métodos construtivos básicos.

Page 32: Este Meu Espaço - P.A.A

31

Este Meu Espaço | AnteprojetoEste brinquedo, composto por três objetos/módulos

(um conec tor, uma peça longa e uma placa), irá se-guir combinações de cores neutras (peça longa e os conectores), que servirão de base às placas de polí-mero de cores chamativas e mondrianes cas.

A peça longa (nas imagens em cima), um cilindro de 55cm de comprimento, e com 4cm de diâmetro, está projetado para ser produzido com composto de bam-bu estrutural (possuindo uma força tênsil 2 vezes maior que a do aço), que no protótipo irá ser substituído por outro derivado de madeira existente. Após con-ferência com professores, e tendo em conta o peso e densidade passível de ser usada por crianças de maneira vi olenta, irá ser utilizado outro material menos ecológico, mas mais leve e menos denso. Nas pontas desta peça, um anel metálico ou polimérico, seguido de uma forma (o negativo da forma de entrada do conector, na página seguinte) também metálica ou po-limérica, são unidos (com um espaço entre o anel e a forma que corresponde à espessura do conector, e que irá efetivamente prender as peças aos conectores) por um parafuso M10 à peça principal. Outros brin-quedos - bonecos, carros, brocas de fingir e amigos de brincar - são levados. É um espaço criado pelas crianças, não necessar iamente só “interior” ou “exte-rior” (isto é, o interior e exterior imaginados numa sala de infantário), e que se torna, para elas, o espaço privado de eleição. É mais um elemento de ludoteca, um objeto de criação de narrativas que um “jungle gym” de centro comercial.

31

Centro George Pompidou, Renzo Piano, Richard Rogers e Gianfranco Franchini (Paris, França)

Page 33: Este Meu Espaço - P.A.A

32

A placa (nas imagens em baixo), de um polímero semitransparente ou opaco, de alta resistência, servirá como revesti mento ou superfície, assentando nas pe-ças longas de forma alternada, podendo teoricamen-te cobrir completamente uma construção. As esquinas iriam coincidir com o centro das su perfícies dos co-nectores, insulando psicologicamente as con struções.

As várias cores deste objeto (baseadas em tons de vermelho, azul e amarelo) iriam tornar as construções em quadros de Mondrian tridimensionais.

Igreja na Água, Tadao Ando

(Tomamu, Japão)

este meu espaço - Prova de Aptidão Artística

Page 34: Este Meu Espaço - P.A.A

33

Conector_

O conector, reduzido de uma forma cúbica oca para uma de seis faces planas circulares, tendo sido as arestas do cubo bolea das, liga as várias peças lon-gas do brinquedo. Produzido em alumínio ou um polí-mero resistente (por método de injeção) de cor neutra, não possui arestas fortes de forma a não magoar as mãos das crianças (pelas suas entradas que iriam ser convi dativas a colocar os dedos no seu interior). No entanto, poderá criar problemas na construção sem auxílio, sendo passível de ser mudado para possuir uma ligação mais simples.

Este Meu Espaço | Anteprojeto

33

Lloyds of London, Richard Rogers (Londres, Reino Unido)

Page 35: Este Meu Espaço - P.A.A

34

Utilização prevista_

Este objeto, um brinquedo de construção/arquitetura, mas também, e subsequente-mente, um espaço de brincadeira, é remi-niscente de casas de cartão e lençol, sendo uma rein venção desses espaços, presentes quase sempre, não só em casas particulares, mas como ponto de encontro de crianças em infantários e ludotecas. Por experiência pessoal, é um ob jeto que apesar da ocasio-nal mudança num dia ou outro, de fine um espaço, e esse espaço é um espaço onde outros brinquedos, bonecos, carros, brocas de fingir e amigos de brincar são levados. É um espaço criado pelas crianças, não ne-cessariamente só “interior” ou “exterior” (isto é, o interior e exterior imaginados numa sala de infantário), e que se torna o espaço priva-do de eleição delas. É mais um elemento de ludoteca, um objeto de criação de narrativas que um “jungle gym” de centro comercial, apesar da semelhança estética e estrutural a este último.

este meu espaço - Prova de Aptidão Artística

Page 36: Este Meu Espaço - P.A.A

Carga Simbólica

Ano 2000, tinha 3 anos. Acabava de entrar no jardim de infância do Torne, rodeado por arranha--céus na avenida (nesse tempo )com mais trânsito e barulho do país. O infantário era um pequeno oá-sis low-rise, cheio de arvoredo e pequenas constru-ções, capelas e salas de aula, jardins de brincar e de jardins de conversar.

No primeiro andar da casa ocupada pelos meni-nos e meninas com mais de 2 anos, construíamos uma outra. Era uma casa de cartão, e tenho uma memória vívida desse momento, ainda mais do momento em que o flash de uma câmara me ilu-minou, a mim e à Amélia, ela com trancinhas até os ombros e pele cor de Angola, sempre com um sorriso e pronta para a brincadeira, eu de cabe-lo encaracolado e tímido de qualquer maneira. Olhando pela janela com as mãos no parapei-to imaginário, ficamos para sempre captados em duas cópias físicas da mesma fotografia.

Honestamente, não sei o que está mais gravado na minha memória: aquele momento efémero a meio da brincadeira, ou a própria fotografia em minha casa, agora perdida, que me levava sem-pre para esse momento, para a textura rugosa da tinta bordô das paredes de cartão, e o refúgio no seu interior, a maneira como nos sentíamos segu-ros e a nossa imaginação voava.

Esta dimensão (contada talvez de forma exagera-damente poética quando escrita, mas em conso-nância total com as minhas recordações) foi o que me impulsionou, nesta PAA, a explorar a tipolo-gia da casa de cartão e do forte de lençóis, por ter marcado, não só a mim, mas a todas aquelas crianças que, pelo simples ato de pendurar lençóis entre duas cadeiras, definem espaços pessoais criadores de memórias do convívio com os ami-gos, com os irmãos, com educadores e pais, e de todas as aprendizagens feitas com isso. Pretendo que o meu projeto seja um testamento à memória e à ludicidade como construtoras de caráter, de capacidades sociais e, como disse Huyzinga, da civilização.

Dimensão Pessoal_

“Sem memória, não há uma cultura. Sem memória, não haveria civilização, não haveria sociedade, não haveria futuro.”

- Elie Wiesel35

Page 37: Este Meu Espaço - P.A.A

36este meu espaço - Prova de Aptidão Artística

Page 38: Este Meu Espaço - P.A.A

Este Meu Espaço | Projetonovas perspetivas_

Após a apresentação do anteprojeto (parte da avaliação intermédia da PAA), o trabalho sofreu muitas alterações. O ritmo acelerado com que o projeto progrediu, e a absorção com questões técnicas básicas criou muitas falhas, principalmente em termos antropométricos, funcionais (o tipo de conexão impedia, por exemplo, a construção de estruturas pois ao apertar de um lado, o outro lado poderia desapertar rapidamente), materiais (as preocupações ecológicas em usar aglomerado de bambu, material com extrema força tênsil, tornavam as peças perigosas pela sua densidade, podendo ferir ao serem agitadas) e, por fim, conceptuais (o público alvo, a maneira como iriam ser montados pelas crianças por educadores não tinha sido suficientemente estudada).

O ponto de viragem do projeto ocorreu durante a participação do curso de Design de Produto no projeto SEI, uma cooperação entre várias escolas secundárias do concelho do Porto e diversas faculdades da Universidade do Porto. O diálogo com representantes da Faculdade de Arquitetura, a par de uma nova perspetiva após um hiatus de cinco meses, originou novas ideias, principalmente na definição do problema, público alvo, e necessidades desse público (as crianças).

Assim, reformulei o meu objetivo, come-çando a procurar maneiras de simplificar a conexão, conferir maior dinamismo e versa-tilidade aos objetos, e concentrar-me muito mais no conceito de forte de lençóis e casa de cartão, assim como atribuir uma estética estruturalista baseada em canalizações e na arquitetura high-tech (esboços nesta página representativos da procura de formas e cone-xões após a avaliação intermédia).

37

Page 39: Este Meu Espaço - P.A.A

38

Novo Projeto_

O projeto atual, em contraste com o anteprojeto, substitui a estrutura reta e pesada que vigorava, em prol de uma estrutura de materiais leves, (literalmente) flexível, que em vez de se tornar ecológico por usar apenas materiais locais (no caso dos países de terceiro mundo, por exemplo, o bambu), perdendo assim ergonomia e a relação pretendida com a crian-ça, se torna, pela poupança de materiais numa mistura entre materiais orgânicos (mantendo-se no conector a possibilidade de ser produzido localmente em todo o mundo com madeira ou derivados) e artificiais (principalmente polipropileno expandido e alumínio).Assim, a peça principal terá quatro componentes: um tubo gooseneck

de aproximadamente 10cm de curva; uma bucha a ligar o tubo e um macho; e um tubo com 100cm de comprimento, de polipropileno ex-pandido, que atarraxa ao tubo gooseneck. Para além desta, outra peça, com 160cm de comprimento, consistirá num tubo gooseneck ocupando a maioria do comprimento, e um macho de cada lado atarraxados.Por fim, um conector inserido num cubo de 7cm3, em forma de dado (

com vértices arredondados) , irá unir as outras peças durante a construção, à base de pressão leve.

“Fazer 20 vezes, recomeçar a obra, poli-la

constantemente, poli-la sem descanso.”

-Nicolas Boileau

este meu espaço - Prova de Aptidão Artística

Page 40: Este Meu Espaço - P.A.A

De forma a atribuir maior dinâmica às construções e liberdade às crianças, apliquei este tipo de tubagem Gooseneck, que permite dobrar (sendo altamente resistente) e fixar num certo ângulo um tubo em polipropileno expandido numa extremidade, e na outra um macho que irá, com pressão leve, entrar num orifício durante a construção dos fortes e abrigos.

Este tipo de material, normalmente de metal, tem duas variações: uma apenas flexível e outra que, para além de flexível, permanece com a forma em que a deixaram, segurando até objetos relativamente pesados sem ceder (é por isso aplicada em canalizações e aplicações luminosas e eletrônicas). O aqui usado, com um diâmetro de 2.35 cm (neste contexto consideravelmente grosso) aguentaria com certeza o peso de outras peças em cima sem curvar-se, sendo passível de diminuir o diâmetro caso isso não diminuisse a sua resistência.

Componentes

39

Page 41: Este Meu Espaço - P.A.A

40

As peças são montadas de duas maneiras. A primeira recorre a uma bucha, que liga o tubo flexível ao macho, atarraxando neste último. A segunda, entre o tubo normal e o flexível, consiste num simples atarraxamento interior. A razão de ter optado pela utilização de uma bucha apenas nesse ponto, para além das preocupações estéticas, é o facto de se tornar muito mais fácil exercer pressão (mesmo que escassa) para retirar ou inserir a peça no conector de madeira (na imagem em baixo, a mão de uma criança de 3 anos e o objeto final)

O conector manteve a sua forma geral de dado - uma esfera com 6 cortes para criar 6 circunferências tangentes umas às outras. Estas áreas planas conferem maior estabilidade às construções, e a forma curva, aliada com as dimensões gerais, permite que se agarre O que mudou foi o orifício, que se torna muito mais simples, não precisando de rotações ou atarraxamentos. A forma deste orifício proporciona área de contacto suficiente para garantir a solidez das construções, continuando a ser fácil de manusear e retirar.

2.35 cm

7 cmFaia/Derivado com proteção Abs

(materiais agradáveis ao toque e à vista)

3♂

este meu espaço - Prova de Aptidão Artística

Page 42: Este Meu Espaço - P.A.A

41

O objeto e o “Eu”Relação pessoa-objeto_

Na concepção das peças deste produto, tive sempre em conta uma certa faixa etária que usualmente usufrui dos tipos de espaços possivelmente criados por este objeto.

Assim, foram realizados estudos antropomé-tricos ao longo da PAA, quer no âmbito das peças individuais ou construções básicas (nas imagens ao lado um estudo comparati-vo das peças e três fases inseridas na faixa etária relativa à pré-escolaridade e escola-ridade primária). Estabelecendo três alturas a que teria que prestar atenção especial - 130cm, 110cm e 90cm - relacionei formas básicas com dimensões humanas (por exem-plo, a peça simples e um quadrado adapta-dos ao comprimento de uma criança de 9 anos, ou então, como se vê na página 43, um semicírculo feito com a peça mais longa adaptado às dimensões desta faixa etária a gatinhar. Na página anterior, é possível ver a relação entre a espessura das peças e a mão de uma criança de 3 anos).

3(♀♂)

6(♀♂)

9(♀♂)

130 cm

110 cm

90 cm

Page 43: Este Meu Espaço - P.A.A

42Este Meu Espaço - Prova de Aptidão Artística

Page 44: Este Meu Espaço - P.A.A

43

Page 45: Este Meu Espaço - P.A.A

44

Relação pessoa-espaço_

Adaptado às proporções infantis (na ima-gem ao lado, a relação entre algumas cons-truções e figuras humanas na escala correta) , este objeto possui uma grande versatilidade na criação dos espaços. Apesar de os espa-ços poderem ser criados apenas com peças do produto (nas duas primeiras filas de es-tudos), pretende-se que (tal como é possível ver na última fila) seja utilizado também con-textualizado no ambiente doméstico, escolar ou exterior, com mobília e outros objetos.

O produto é então uma extensão do con-ceito do “forte de lençóis”, interagindo com a mobília para criar os espaços abstratos interiores, pontos de encontro de narrativas próprias e de brincadeira, espaços de conví-vio social e de exploração da imaginação. Estes espaços tornam-se os espaços das crianças por direito próprio, podendo ser desde um castelo a uma caverna, oferecen-do à criança uma oportunidade de explorar a arquitetura e processos construtivos durante a construção.

4♀

4♂

7♀

<18♂

9♂

3♀

<18♀3♀

6♂6♂

este meu espaço - Prova de Aptidão Artística

O objeto e o “Eu”

Page 46: Este Meu Espaço - P.A.A

45

O objeto e o “Eu”Escolha de Cores_

A diferença de cores no objeto - sendo a bucha e o conector de uma cor alaranjada quente e o tubo e macho de polímero numa cor azulada fria (cores complementares) pretende que instintivamente, principalmen-te em crianças mais novas, que devido a limitações físicas são mais atraídas por tons contrastantes e vibrantes, haja uma divisão de funcionalidades do objeto. Assim, as par-tes azuis, aparentemente uma continuação debaixo do tubo gooseneck e da bucha, entram no conector (alaranjado), com a bu-cha, pela sua cor e forma, automaticamente oferecendo um ponto de pressão.

Referências_

A principal referência artística no trabalho, visível na imagem ao lado, é o descontruti-vismo de Frank Gehry - as deformações, quer físicas quer conceptuais das noções mais básicas da arquitetura, que impulsionaram a reformulação do projeto. Unindo os têxteis (parte do conceito da tipologia do “forte de lençois”, com os dois tipos de peças - pon-tas flexíveis e completamente flexíveis) a uma estrutura moldável e apropriada às dimen-sões infantis; ao criarem os seus espaços, as crianças irão (a não ser que os criem imi-tando formas geométricas básicas como o cubo) também “deformar” estas noções, as-semelhando-se o tecido pousado às paredes metálicas de Frank Gehry - o têxtil torna-se, desta maneira, uma analogia ao metal e às paredes descontruídas.

Versatilidade_

As construções, pela inclusão da tubagem flexível, tornam-se quase ilimitadas. A mistura de secções retas e outras possivelmente cur-vas permite criar desde sólidos simples - pirâ-mides, prismas, cubos - até construções abs-tratas. Por ser fléxivel, e manter-se na posição em que é deixado, as peças só de tubagem gooseneck podem até auto sustentar-se e prender-se a mobília como substituto de cor-das (imagens em baixo e ao lado), havendo então possibilidades ilimitadas das crianças exprimirem a sua criatividade. “Criatividade é a capacidade de ver relações onde ainda nenhuma existe” (DISCH, Thomas)

Page 47: Este Meu Espaço - P.A.A

46este meu espaço - Prova de Aptidão Artística

Page 48: Este Meu Espaço - P.A.A

47

Estudos de contexto

Page 49: Este Meu Espaço - P.A.A

48este meu espaço - Prova de Aptidão Artística

Page 50: Este Meu Espaço - P.A.A

49

Memória Descritiva

A presente memória descritiva e justificativa refe-re-se à Prova de Aptidão Artística do ano lectivo 2014/15, do curso de Design de Produto da Escola Artística Soares dos Reis, com o tema “Lu-dicidades”

Após uma extensa pesquisa formal e informal no âmbito do tema, procedeu-se à procura de um subtema, que neste caso, pelo forte componente espacial/de manipulação de espaços explora-dos, se desdobrou em conceitos como ludotecas ambulantes, construção de cidades em ponto pe-queno, e kits de construção num tamanho adap-tado a crianças.

Este último, apresentado como o subtema “Brin-quedos de arquitetura: compreender e organizar o espaço através de elementos modulares”, foi o escolhido, propondo-se, na esteira do conceito dos “fortes de lençóis” e das casas de cartão, produzir um kit de peças que permitisse a criação por crianças, e se necessário com ajuda adulta, de espaços semiprivados, de brincadeira, que para além de poderem demonstrar certos pro-cessos construtivos, têm o objetivo de serem um “ponto de encontro de narrativas próprias, espa-ço de convívio social e exploração da imagina-ção”. Na concepção do anteprojeto, prestou-se especial atenção à tipologia da casa de cartão, tendo como referência artística o neoplasticismo de Mondrian. A ideia, peças de madeira de 50cm ligadas a conectores, em construções or-togonais, misturando os tons pastel destas duas peças com placas de acrílico colorido, seguiu a estética neoplasticista.

Após a apresentação do anteprojeto, a ideia sofreu ainda muitas mudanças. A rigidez da for-ma e das construções, assim como a densidade dos materiais que iriam ser usados, provocou uma nova procura de formas, desta vez tendo como base conceptual os “fortes de lençóis”, e como referência artística a obra desconstrutivista de Frank Gehry. Assim, conceberam-se três pe-ças (para além de duas peças têxteis e outros produtos auxiliadores da sua comercialização), utilizando-se um tipo de tubagem gooseneck, fle-xível, leve e resistente, composto por vários anéis que permitem permanecer numa posição ao ser dobrado, de forma a conferir as curvas caracterís-ticas de Gehry - e mais importante, dar a oportu-nidade às crianças de transformarem os espaços ao colocar os lençóis, ou outros tecidos, em cima das construções (havendo uma analogia entre as paredes desconstruídas metálicas de Gehry e as curvas provocadas pelas peças e pela gravidade no têxtil).

Estas 3 peças são:

- Um conector inserido numa forma cúbica com 7cm de aresta, de madeira de faia - caracte-risticamente agradável ao toque - ou derivado - aglomerado de bambu, disponível a ser pro-duzido localmente na maior parte dos países desenvolvidos), com uma forma maximizada de dado, não tendo por isso vértices. Possui um ori-fício baseado em quatro pequenas formas cilín-dricas, extensões de uma forma cilíndrica maior (com 1.15cm de raio), que atravessa o sólido longitudinalmente a partir de cada face. Seria produzido por tornos controlados por sistemas computorizados, numa linha de série.

- A peça principal, com 128.5 cm de compri-mento total (adaptado assim à altura de uma criança de 9 anos, o limiar do público alvo), é composta por 4 elementos: um tubo de polipro-pileno expandido, com 100cm de comprimento, 2.35cm de diâmetro, e 1.7 mm de espessura, começando nas extremidades para o centro, no interior, uma rosca com 1.85cm de comprimen-to. A peça seguinte, uma tubagem gooseneck com 10 cm de comprimento dobrável, com o mesmo diâmetro do tubo de polipropileno, mas possuindo uma rosca equivalente apenas numa extremidade, adaptada à anterior. Na outra ex-tremidade deste tubo, um sistema de bucha (ten-do este elemento um diâmetro de 3.65 no seu ponto mais largo, e um comprimento de 2.35cm, tendo uma forma aproximada a um cone trunca-do, de forma a ser mais fácil exercer pressão du-rante a construção dos espaços) liga a um macho que será inserido, pelas crianças, nos conector.

Page 51: Este Meu Espaço - P.A.A

50

Este macho, oco, possui 4.25cm de comprimen-to total, 2cm desses adaptados a serem atarraxa-dos pela bucha, e 2.25cm com uma base igual ao orifício do conector.

- A peça secundária, com 158.5cm comprimen-to total, é composta por 3 elementos : substitui--se o tubo de polipropileno e o gooseneck da peça principal por um único tubo gooseneck com 150cm de comprimento dobrável, e de resto com as mesmas características do tubo goose-neck já mencionado. Haverá a possibilidade de ser usado qualquer um dos métodos de união nas extremidades com o macho (bucha ou simples atarraxamento)

Nestas peças, a razão principal de escolher o polipropileno expandido é o seu preço e leveza, quer visual quer física, assim como a facilidade de o trabalhar. O facto de facilmente ser colorido foi também tido em conta - as cores principais, o azul e o laranja, são escolhidas pela sua comple-mentaridade e contraste. O tubo gooseneck, po-dendo ser de qualquer material, seria muito pro-vavelmente de alumínio (standard na indústria), e, sendo oco, seria apenas ligeiramente menos leve que a tubagem de polipropileno, aguentando na mesma, dobrado, outras peças numa construção. As madeiras utilizadas (faia ou derivado de bam-bu) seriam quase automaticamente sustentáveis (a faia provém quase integralmente de florestas sustentáveis europeias, e o bambu é uma das plantas com mais alto rendimento e rápido cres-cimento).

concLusão - Prova de Aptidão Artística

Page 52: Este Meu Espaço - P.A.A

51

ComercializaçãoProduto Comercial_

Foram feitos vários estudos de forma a en-contrar um número específico de peças a co-locar em cada kit. Assim, defini 2 tipos de kits: um grande e um médio, com combina-ções que permitem construir um mínimo de estruturas de formas básicas (pois outras com formas mais abstrata seriam escolhas mais aleatórias).

O kit mais pequeno pemitiria construir uma pirâmide (ou quadrangular ou triângular) e um cubo, tendo algumas peças adicionais fléxiveis. Assim, ao todo, teria 19 ou 20 pe-ças principais, 2 peças secundárias, e 14 conectores. O kit grande iria ter entre 31 a 25 peças no total, para além de 18 a 27 conectores.

Marca Gráfica_

Apostei, de forma a atrair os dois grupos familiares principais (excluindo assim infan-tários e outras instituições semelhantes, pois não costuma ser pelo componente gráfico das embalagens que selecionam os brinque-dos, mas pelo componente lúdico) que po-deriam adquirir o produto: familias de classe média e superiores (pelo alto preço que os muitos componentes provavelmente teriam), e famílias cujos pais estariam interessados em design , numa marca gráfica que ao mesmo tempo fosse atraente a crianças e ao público criativo. Tentei, então, reduzir os elementos às suas cores principais, num plano bidimen-sional, de forma minimalista. O nome (“Este Meu Espaço”, ou “EME”) poderá ao mesmo tempo transmitir o conceito e simbologia do objeto, e ser um nome interessante para crianças.

Este

Meu

Esp

aço

Ficha Técnica_

Conceito:

Utilização de peças maleáveis longas, conectando-as, com o intuito de criar espaços para crianças ao colocar lençóis e outros tecidos em cima das peças e mobília; Conceito do “forte de lençóis” a par da desconstrução dos espaços habituais; Espaço de brincadeira e convívio das crianças

Público-alvo: Crianças (3 aos 10 anos)

Dimensões: Peça principal - 128.5cm x 3.65cm x 3.65cm (2.35cm no ponto menos largo); Peça secundária - 158.5cm x 3.65cm x 3.65cm (2.35cm no ponto menos largo); Conector - 7cm x 7cm x 7cm

Material: Polipropileno (azul e laranja, ou outra combinação de cores complementares), alumínio, madeira (faia ou bambu)

EME

Page 53: Este Meu Espaço - P.A.A

52concLusão - Prova de Aptidão Artística

Page 54: Este Meu Espaço - P.A.A

53

Capas-tipo_

De forma a tornar o produto mais atrativo do ponto de vista comercial, criei - apartir de duas formas básicas, a pirâmide e o prisma triângular - dois tipos de coberturas perfeita-mente adaptadas a estas duas construções.

A primeira, relativa ao prisma, cobre-o de todos os lados excepto pela frente, sendo possível fechar esses espaço com um zipper que corre ao longo dessa abertura, fechan-do-a com o tecido extra que quando aberto fica atrás da construção. Esta forma é uma forma ideal para fazer de baliza (ao ar livre ou interior), sendo então descrita como tal.

A segunda, relativa à pirâmide, retira inspi-ração das tendas americanas já milenares: é um círculo que se coloca no topo da cons-trução, deslizando até ao chão e tapando--a. Pela sua forma circular, ficará a arras-tar ligeiramente no chão em certos pontos, permitindo a criança entrar no espaço ao empurrar para cima o tecido.

Comercialização

Page 55: Este Meu Espaço - P.A.A

Embalagem_

As embalagens - semelhantes às usadas em tendas e equipamento de desporto - serão feitas de tecido, e terão duas variantes, uma para cada kit. Pretas, terão duas alças, 4 compartimentos e elementos gráficos no exterior que indiquem o que estará no inte-rior. Desses 4 compartimentos (abertos por zipper), 2 são para as peças do objeto em si (peça primária e secundária num compar-timento longo, e conectores noutro mais pe-queno), e os outros 2, pequenas bolsas nas extremidades, guardam duas capas-tipo.

54concLusão - Prova de Aptidão Artística

Page 56: Este Meu Espaço - P.A.A

ReferênciasObras digitais_

(RAVELLI, Ana; MOTTA, Maria); O lúdico e o desenvolvimento infantil, Revista Brasileira de Enfermagem, 2005

(GAINS, Sheila); Designing spaces for children; Colorado State University, 2008

(ELSEY, Susan); Children’s experience of public space; Children and Society, 18(2), April 2004, Wiley-Blackwell

Century of the Child, Museum of Modern Art, 2012 (Exposição Interativa)

Curso sobre “Future Cities” - ETH Zurich, materiais do curso, palestras, etc (Information Architecture e novos materiais construtivos

como bambu, restos de culturas agrárias, garrafas PET, como maneiras fáceis, culturalmente, ecologicamente e economicamente

lucrativas de apoiar indústrias e modos de vida de países em desenvolvimento)

Livros_

- (MUNARI, Bruno); Das Coisas Nascem Coisas

- (PIAGET, Jean); L’equilibration des structures cognitives, Presses universitaires de France 1975

- (ZINGUER, Tamar); Architecture in play: intimations of modernism in architectural toys, 1836-1952, Princeton University, 2006

- (LITTLEFIED, David); Metric Handbook: Planning and design data, Architectural Press, 1970

- (FRIEDMAN, Michael); Gehry Talks, Architecture and Process, Universe, 2002

- (ASHBY, Michael F; JOHNSON, Kara); Materials and Design: The Art and Science of Material Selection in Product Design, Butterworth-Heinemann, 2002

Fotografias_

© Pushkar Raj Sharma© Josef Novak© NDuran© Gary Burling© Jesyz Wezy© Design for Health© Brass Tacks UK© Khalid Hameed© Ji Young Lee© Katie’s Camera

© Martin Crook Photography© Phillip Rits© Shelby Gilmore© Anne Roberts© Archimedia© Jodi© David Castañon © José Figueira

55

Page 57: Este Meu Espaço - P.A.A

56Secção Selecionada - Prova de Aptidão Artística

Page 58: Este Meu Espaço - P.A.A

57

ConclusãoBalanço_

A Prova de Aptidão Artística é o culminar de 12 anos de escolaridade, escolaridade essa caracterizada por uma proteção, quer fami-liar quer no regime escolar, de atribuição sucessiva de responsabilidades e cada vez mais independência. O tema de Ludicidades provocou uma verdadeira revelação, penso que comum a todos os que procuraram tra-balhar o lado lúdico na infância, do nosso interior e da nossa condição como pessoas a passar de uma idade infantil, a uma idade adulta.

Assim, esta PAA é, mais que uma prova que, como já havia sido mencionado na in-trodução, consolida os nossos conhecimen-tos e capacidades metodológicas e criativas, um ponto de viragem, um novo começo que, a par da entrada na universidade ou no mer-cado de trabalho, simboliza a nossa maturi-dade e passagem para a vida adulta.

Em termos projetuais e escolares, é visível o melhoramento de todos os alunos no que se refere à organização do relatório, às ca-pacidades de representação gráficas, e ao próprio design de produto.

O meu projeto, especificamente, pela gran-de reformulação que ocorreu entre o ante--projeto e o projeto final, revelou (na minha opinião) uma metodologia apropriada a um trabalho que acabou por ser realizado em quase apenas 4 semanas. Mesmo assim, considero que, quer em termos conceptuais, quer projetuais, atingi todos os meus objeti-vos, respondendo correctamente aos critérios de avaliação da prova.

Page 59: Este Meu Espaço - P.A.A

58Secção Selecionada - Prova de Aptidão Artística

Page 60: Este Meu Espaço - P.A.A
Page 61: Este Meu Espaço - P.A.A

“Summer will end soon enough, and childhood as well.”

George R. R. Martin

Page 62: Este Meu Espaço - P.A.A