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Mesa temática: Epistemologías coloniales/des/poscoloniales ESTADOS PLURINACIONAIS, DESCOLONIZAÇÃO DO PODER E NOVAS EPISTEMOLOGIAS NA AMÉRICA LATINA GRAZIANO, Valéria Teixeira (autora) Mestra em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional pela Universidade de Brasília. Mestranda em Estudos Culturais pela Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected] RESUMO O artigo tem como objetivo refletir acerca das contribuições dos processos de refundação do Estado no Equador e na Bolívia para a descolonização do poder e do pensamento nas sociedades latino- americanas e, assim, para o desenvolvimento de uma nova epistemologia. Tal reflexão é realizada a partir de revisão bibliográfica da teoria social latino-americana e das perspectivas pós-coloniais e descoloniais, centrando-se na análise de três paradigmas fundamentais para tais processos de refundação do Estado: (i) a criação de novo tipo de constitucionalismo; (ii) a adoção das noções de plurinacionalidade e interculturalidade; e (iii) o buen vivir/vivir bien como projeto de país e modelo civilizatório. A reflexão proposta insere-se no contexto do atual debate acerca das possibilidades e limites inerentes à criação de Estados Plurinacionais neste início de século, bem como sobre as contribuições e paradoxos de tais processos no que se referem às lutas anticoloniais, à superação da situação de dominação e ao pensamento pós-colonial. Desse modo, pretende-se contribuir para o incipiente debate acerca da construção de novos instrumentos conceituais, teóricos e metodológicos, fundamentais não só para a compreensão de novas e emergentes realidades, mas também como projeto político para a emancipação dos povos na América Latina.

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Mesa temática: Epistemologías coloniales/des/poscoloniales

ESTADOS PLURINACIONAIS, DESCOLONIZAÇÃO DO PODER E

NOVAS EPISTEMOLOGIAS NA AMÉRICA LATINA

GRAZIANO, Valéria Teixeira (autora)

Mestra em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação

Internacional pela Universidade de Brasília.

Mestranda em Estudos Culturais pela Universidade de São Paulo.

E-mail: [email protected]

RESUMO

O artigo tem como objetivo refletir acerca das contribuições dos

processos de refundação do Estado no Equador e na Bolívia para a

descolonização do poder e do pensamento nas sociedades latino-

americanas e, assim, para o desenvolvimento de uma nova epistemologia.

Tal reflexão é realizada a partir de revisão bibliográfica da teoria social

latino-americana e das perspectivas pós-coloniais e descoloniais,

centrando-se na análise de três paradigmas fundamentais para tais

processos de refundação do Estado: (i) a criação de novo tipo de

constitucionalismo; (ii) a adoção das noções de plurinacionalidade e

interculturalidade; e (iii) o buen vivir/vivir bien como projeto de país e

modelo civilizatório. A reflexão proposta insere-se no contexto do atual

debate acerca das possibilidades e limites inerentes à criação de Estados

Plurinacionais neste início de século, bem como sobre as contribuições e

paradoxos de tais processos no que se referem às lutas anticoloniais, à

superação da situação de dominação e ao pensamento pós-colonial. Desse

modo, pretende-se contribuir para o incipiente debate acerca da

construção de novos instrumentos conceituais, teóricos e metodológicos,

fundamentais não só para a compreensão de novas e emergentes

realidades, mas também como projeto político para a emancipação dos

povos na América Latina.

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Palavras-chave: América Latina; Estado Plurinacional; descolonização do

poder; epistemologias do Sul.

1. Introdução

Os impactos dos processos coloniais na América Latina são ainda hoje

evidentes em questões fundamentais como a estrutura de poder

dominante, a imposição da lógica capitalista de exploração e a

predominância de valores e paradigmas eurocêntricos. Com a

rearticulação desse sistema de poder a partir da colonialidade global, e o

consequente aprofundamento da desigualdade e da exclusão econômica,

social e cultural, os países latino-americanos viram emergir neste início de

século diversos movimentosliderados por grupos historicamente

marginalizados, os quaispassaram a questionar a legitimidade do Estado-

Nação e a reivindicar transformações políticas e sociais baseadas em

outras realidades,valores, práticas e saberes.

Assim, pode-se afirmar que a América Latina protagoniza hoje uma

das mais avançadas lutas anticapitalistas e anticoloniaisno cenário da

chamada globalização contra-hegemônica (SANTOS, 2010). E, neste

contexto, inserem-se os processos de refundação do Estado no Equador e

na Bolívia, os quais, a partir das noções de plurinacionalidade e

interculturalidade, visam romper com o sistema de dominação de matriz

coloniale propor um novo padrão civilizatório.

Neste sentido, este artigo tem como objetivorefletir acerca das

contribuições desses processosde refundação do Estado para a

descolonização do poder e do pensamento nas sociedades latino-

americanose, assim, para o desenvolvimento de uma nova epistemologia,

construída desde abaixo e a partir da realidade regional. Tal reflexão é

realizada apartir derevisão bibliográfica da teoria social latino-americana e

das perspectivas pós-coloniais e descoloniais, centrando-se na análise de

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três paradigmas fundamentaispara os processos de refundação do Estado

no Equador e na Bolívia: (i) a criação de novo tipo de constitucionalismo;

(ii) a adoção das noções de plurinacionalidade e interculturalidade; e (iii)

o buen vivir/vivir bien como projeto de país e modelo civilizatório.

Desse modo, a reflexão proposta insere-se no contexto do atual

debate acerca das possibilidades e limites inerentes à superação da

situação de dominação colonial, bem como das limitações das teorias

eurocêntricas para analisar tais processos. Assim, pretende-secontribuir

para o incipiente debate acerca da construção de novos instrumentos

conceituais, teóricos e metodológicos, fundamentais não só para a

compreensão de novas e emergentes realidades, mas também como

projeto político essencial para a superação do colonialismo e do

capitalismo na América Latina.

2. Globalização, contra-hegemonia e novas epistemologias

Considerando que a colonialidade do poder, conforme proposto por

Quijano (2005)1, continua a definir as relações de exploração e dominação

na América Latina no contexto do sistema mundo moderno colonial, é

preciso primeiramente enfatizar a necessidade de tomar distância do

pensamento eurocêntrico convencional sob o qual tais relações foram

estabelecidas, consolidadas e legitimadas, para que seja possível

compreender de maneira abrangente as complexas lutas e processos de

transformações radicais pelos quais passam a região, marcada por

contextos culturais bastante diversos e por processos políticos

heterodoxos.

É neste sentido que pretendem contribuiras perspectivas pós-

coloniais e descoloniais, as quais visam, a partir do testemunho de países

colonizados e dos grupos silenciados e subalternizados, reconstruir

1 Para o autor, o novo padrão de poder mundial, que começou com a constituição da América e do capitalismo

colonial/moderno e culminou na globalização, tem como um de seus eixos fundamentais a classificação social da população mundial a partir da ideia de raça, construção mental que expressa a experiência básica da dominação colonial e que continua a permear as relações de poder. Implica, desse modo, num elemento de colonialidade no padrão de poder atualmente hegemônico.

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histórias plurais e intervir nos discursos dominantes da racionalidade

monocultural eurocêntrica, que historicamente buscaram naturalizar as

forças hegemônicas e as histórias de exploração dos diferentes povos e

nações. Walsh (2008, p.135) ressalta que a perspectiva descolonial tem

sido, “desde a colonização e escravidão, eixos de luta dos povos sujeitos a

essa violência estrutural” e, por isso, tem importância e utilidade

tantocomo projeto e posicionamento político quanto do ponto de vista

teórico-analítico.

Ademais, Santos (2010) lembra que não é fácil analisar processos

sociais, políticos e culturais novos, já que existe sempre o risco de utilizar-

se de quadros analíticos e conceituais antigos, o que pode levar à

desvalorização ou até mesmo à satanização do novo, ignorando seu

potencial transformador e emancipador.Por isso, considerando as

dificuldades e limitações da imaginação política e sociológica construída a

partir das teorias eurocêntricas dominantes para dar conta das realidades

emergentes no Sul e, mais especificamente, na América Latina, o autor

defende a construção de uma nova epistemologia, a qual ele denomina

Epistemologias do Sul.

De acordo com o autor, a construção de uma nova epistemologia

desde o Sul tem como objetivo dar conta das experiências e saberes

complexos, bem como das distintas formas de conhecimento e

aprendizagem desenvolvidas nessa parte do mundo, aproximando-se das

versões subalternas e marginalizadas de modernidade e racionalidade.

Assim, uma epistemologia do Sul deve dar conta dos novos processos de

produção de conhecimento e das novas relações entre diferentes tipos de

conhecimento, a partir das experiências de grupos que tenham sofrido as

desigualdades e discriminações geradas pelo capitalismo e pelo

colonialismo.

Desse modo, para analisar de maneira adequada as complexas lutas

que emergem na América Latina, torna-se imprescindívelcompreender

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como a região foi inserida no atual projeto de modernidade e de

globalidade, o qual, segundo Quijano (2005), estrutura-se a partir da

articulação de três elementos centrais: a colonialidade do poder, o

capitalismo mundial e o eurocentrismo.Embora a globalização seja um

fenômeno bastante antigo, é preciso lembrar que atualmente caracteriza-

se por ser um fenômeno muito mais amplo, cujos impactos econômicos,

políticos e sociais atingiram patamares até então desconhecidos. As

assimetrias entre o centro e a periferia do sistema mundo moderno

colonial geradas por esse novo padrão de poder global são muito mais

dramáticas que qualquer outro período histórico. Escobar (2005) acredita

que é possível afirmar que tem surgido uma nova forma de globalidade, a

qual ele denomina globalidade imperial.

Tendo em conta que o atual processo da globalização dominante é

articulado a partir de um espaço eurocêntrico de discursos,

representações e práticas, e com o objetivo de apontar a dimensão

cultural e epistemológica do eurocentrismo, Escobar (2005) sugere

também a adoção da noção de colonialidade global, formulada por Walter

Mignolo a partir do conceito de colonialidade do poder, para acompanhar o

conceito de globalidade imperial. Assim, o autor propõe como categoria de

análise a dupla colonialidade global/globalidade imperial.

Pode-se concluir então que a matriz colonial não apenas estruturou,

mas continua estruturando as sociedades na América Latina, a partir de

um marco capitalista global moderno, o qual está presente em

praticamente todos os âmbitos da vida. Esse sistema estruturou-se a

partir de quatro eixos centrais: a colonialidade do poder, a qual se refere

ao estabelecimento de um sistema de classificação social e identitária

baseada em uma hierarquia racial e sexual; a colonialidade do saber, a

partir do eurocentrismo como perspectiva única de conhecimento; a

colonialidade do ser, pro meio da inferiorização, subalternização e

desumanização;e a colonialidadeda natureza e da vida (SANTOS, 2010;

WALSH, 2008).

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Como lembra Quijano (2005b, p. 24),

a colonialidade do poder implicava então, e ainda

hoje no fundamental, a invisibilidade sociológica dos

não europeus, “índios”, “negros” e seus “mestiços”, ou

seja, da esmagadora maioria da população da América

e sobretudo da América Latina, com relação à produção

de subjetividade, de memória histórica, de imaginário,

de conhecimento “racional”. Logo, de identidade.

Dessa maneira, a partir da adoção de tais perspectivas teóricas e

analíticas para analisar os novos paradigmas que emergem no contexto

dos processos de refundação do Estado no Equador e na Bolívia, espera-

se contribuir na busca denovos caminhos para uma radical

reconceitualização da teoria e da política na América do Sul, a partir da

criação de novas categorias e paradigmas teóricos.

3. O Estado-nação e a refundação do Estado na América Latina

Em primeiro lugar, é preciso sublinhar que, com a reconfiguração de

poderes no sistema mundo colonial moderno e o aprofundamento do

processo de globalização nas últimas décadas, o modelo de Estado-nação

tal como imposto pelo mundo europeu ocidental vem sendo alvo de

intensos questionamentos. Énecessário lembrar também que a

consolidação dos Estados modernos a partir desse modelo eurocêntrico

dependeu, em muitos casos – e na América Latina, em especial –, da

construção de identidades nacionais baseadas em homogeneização

cultural, as quais resultaram de longos processos de conquistas violentas,

negações e exclusões de grupos étnicos e culturais (QUIJANO, 2005b) e

que tem permitido manter a dominação econômica, política, social e

cultural.

Desse modo, considerando que os Estados nacionais na América

Latina refletem a colonialidade do poder e as dinâmicas de exploração

impostas pelo capitalismo global, pode-se concluir que os mesmos

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dificilmente se alterarão sem que suas estruturas passem por

transformações radicais, ou seja, sem a sua descolonização. Como afirma

Quijano (2005, p. 135), “o processo de independência dos Estados da

América Latina sem a descolonização da sociedade não pôde ser, não foi,

um processo em direção ao desenvolvimento dos Estados-nação

modernos, mas uma rearticulação da colonialidade do poder sobre novas

bases institucionais”.

Ressalta-se, ainda, que os modelos de desenvolvimento

historicamente impostos à América Latina baseados no liberalismo

econômico contribuíram para a continuidade do colonialismo e da

dependência e para o aumento da desigualdade e da exclusão. Para

Santos (2010), o neoliberalismo acabou paradoxalmente reforçando o

componente colonial da equação capitalismo-colonialismo ao tentar liberar

o capitalismo de todas as mediações políticas nacionais, fazendo com que

os Estados nacionais perdessem sua soberania a ponto de voltarem a ser

semi-colônias.

É a partir desse contexto de imposição histórica de modelos de

Estado e paradigmas de pensamento eurocêntricos que emergem as lutas

e os processos de transformação mais recentes na América Latina, os

quais culminaram, nas últimas décadas, no fortalecimento dos

movimentos sociais, bem como na ascensão de governos ditos de

esquerda ou pós-neoliberais em diversos países.Esses novos atores, que

se organizaram especialmente a partir de movimentos político-culturais

indígenas e afrodescendentes, ganharam força com um discurso de luta

contra a continuidade da situação colonial e do rompimento com a versão

eurocêntrica de modernidade/racionalidade, negando a legitimidade

política do Estado-Naçãoe teórica e social da classificação “racial” e

“étnica” imposta.

A partir do questionamento acerca das reais possibilidades de saída

para o subdesenvolvimento no marco do capitalismo e da modernidade,

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tais processos têm resultado em projetos políticos alternativos

einovadores que apontam para a construção de um novo padrão

civilizatório, tal como a criação de Estados Plurinacionais no Equador e na

Bolívia.Santos (2010, p. 59) chega a afirmar que o continente latino-

americano “tem conseguido, mais que qualquer outro, fazer com êxito um

uso contra-hegemônico de instrumentos políticos hegemônicos, tais como

a democracia representativa, o direito, os direitos humanos e o

constitucionalismo”.

Para o autor,esse debate é muito promissor, pois significa que “os

movimentos sociais adquiram a consciência de que os sistemas de

dominação – capitalismo e colonialismo – são simultaneamente distintos e

inseparáveis, e que sem entender a articulação entre eles não poderá ter

êxito” (SANTOS, 2010, p. 60). E é neste mesmo sentido que Walsh (2008)

afirma que tais transformações políticas e sociais representam esforços

históricos, insurgentes e transcendentais.

Dessa maneira, pode-se afirmar que os processos que culminaram na

criação de Estados Plurinacionais no Equador e na Bolívia inserem-se num

contexto histórico de exploração e dominação colonial e de crise do

modelo capitalista neoliberal; de fortalecimento e protagonismo de

movimentos sociaise culturais historicamente marginalizados nas agendas

políticas latino-americanas; e de reformas constitucionais em diversos

países nas últimas três décadas.

E, dessa forma, as alternativas políticas que emergem na América

Latina neste início de século têm impactado diretamente a compreensão

teórica de noções como modernidade,Estado-nação, desenvolvimento e

identidade, impondo a necessidade de repensar as sociedades a partir de

concepções renovadoras, que possibilitem a emancipação dos grupos

sociais excluídos, o reconhecimento de seus direitos e identidades e o fim

da situação de dominação colonial e capitalista. E, por isso, representam

também a abertura de novas possibilidades e horizontes para a

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construção de novas epistemologias, que se distanciem do pensamento

eurocêntrico e se aproximem da realidade do Sul global, como propõe

Santos (2010; 2010b).

4. Novos paradigmas para arefundação do Estado

4.1 Novo constitucionalismo

Os processos de refundação do Estado no Equador e na Bolívia

exigiram o desenvolvimento de um novo tipo de constitucionalismo, muito

diferente daquele concebido pelas elites políticas e que tem caracterizado

os Estados modernos, constituídos a partir do modelo “um Estado, uma

nação”,e baseados em uma concepção monolítica e centralizadora do

poder e da violência.Construído desde abaixo e protagonizado por

movimentos de excluídos e aliados, esse novo constitucionalismo baseia-

se em relações interculturais igualitárias e caracteriza-se por uma ampla

mobilização social e política, tendo como objetivo a construção de novas

institucionalidades, territorialidades, legislações, regimes políticos e

subjetividades. Visa, dessa forma, romper com o modelo político e

epistêmico eurocêntrico e propor um novo padrão civilizatório.

Neste sentido, em seu artigo 1º, a Constituição boliviana aprovada

em 2009 define o novo Estado como um “Estado Unitário Social de Direito

Plurinacional Comunitário, livre, independente, soberano, democrático,

intercultural, descentralizado e com autonomias”. E, em seu artigo 1º, a

nova Constituição equatoriana,de 2008,define que o “Equador é um

Estado constitucional de direitos e justiça, social, democrático, soberano,

independente, unitário, intercultural, plurinacional e laico”.

Além de estabelecer novos tipos de Estado, os dois textos

constitucionais preveem novas formas de participação política. Em seu

artigo 11, a Constituição boliviana reconhece, ademais da democracia

representativa, as formas democráticas participativa e comunitária,

apresentando-se como uma das mais avançadas formulações sobre

democracia do mundo. A Constituição equatoriana, em seu artigo 95,

10

define como mecanismos a democracia representativa, direta e

comunitária. Assim, para Santos (2010), tais textos constitucionais

consagram a ideia de democracia intercultural, um novo tipo de

democracia que reconhece e valoriza a pluralidade de formas de

deliberação e representação e de diferentes tipos de direitos.

Entende-se, portanto, que a partir desse novo constitucionalismo,

foram abertos processos de participação muito ricos nesses países, não

isentos de conflitos e contradições, em torno da articulação de novas

formas de gestão coletiva. Para Thwaites Rey (2010), os processos de

reforma constitucional encarados pelo Equador e pela Bolívia, bem como

as discussões sobre a conformação de Estados Plurinacionais superadores

das formas tradicionais de Estado-nação, marcam uma mudança

fundamental na práxis emancipadora do continente.

Entretanto, é preciso lembrar que, durante os processos

constituintes, muitas das propostas formuladas por movimentos sociais

não foram incluídas nos textos constitucionais, as interferências do

Executivo e do Congresso geraram tensões diversas eas relações de força

foram se alterando em favor de posições mais conservadoras, resultando,

muitas vezes, na marginalização de movimentos indígenas e outros

historicamente excluídos.Diante das dificuldades de negociação, muitas

propostas foram ignoradas ou se tornaram meros textos declaratórios, tal

como a transformação da estrutura do próprio Estado em plurinacional,

permanecendo assim uma estrutura baseada no Estado republicano

anterior. Muitas outras questões permaneceram abertas e, por isso, tais

constituições podem ser consideradas como instrumentos ainda bastante

frágeis.Santos (2010) denomina esse novo constitucionalismo como

transformador e experimental. Para o autor,

apesar de suas diferenças, os dois processos

constituintes [na Bolívia e no Equador] revelam com

igual nitidez as dificuldades de realizar, dentro do

11

marco democrático, transformações políticas profundas

e inovações institucionais que rompam com o horizonte

capitalista, colonialista, liberal e patriarcal da

modernidade ocidental (SANTOS, 2010, p. 79).

Ele lembra ainda que a refundação do Estado moderno capitalista

colonial a partir de princípios como plurinacionalidade, interculturalidade e

participação democrática é um processo histórico e político complexo e de

longo prazo. Ressalta, ademais, que o que está em jogo não são apenas

um conjunto de políticas públicas mais ou menos inovadoras, e sim um

novo pacto político, que contém inclusive uma dimensão de mudança no

padrão civilizatório. Trata-se, portanto, de um processo intrinsecamente

marcado por intensas disputadas entre os diversos grupos culturais,

étnicos e de poder, os quais possuem diferentes valores e interesses em

mudanças radicais ou permanências nas estruturas de poder que

compõem o Estado.

Além disso, considerando que as constituições representam apenas

mecanismos de transição, ou seja, o ponto de partida para a construção

de um novo projeto de país,o diálogo constante entre os diversos atores

será fundamental para a efetiva implementação dos Estados

Plurinacionais. A grande disputa que se seguirá refere-se à interpretação e

aplicação dos artigos constitucionais. É por isso que Santos (2010) alerta

que, apesar de esse tipo de constitucionalismo transformador representar

um processo de caráter contra-hegemônico de ampla mobilização popular,

qualquer quebra nessa mobilização pode representar retrocessos em seu

conteúdo ou vazio de sua eficácia prática, o que pode resultar na

desconstitucionalização da Constituição.

Para Walsh (2008), esse processo dá espaço, pela primeira vez, para

a consideração do Estado como lugar possível para a descolonialidade.A

novidade de ambas os processos constitucionais reside justamente na

possibilidade de construir novas lógicas, novas formas de conhecer,

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pensar, ser e viver, a partir do rompimento com o Estado de matriz

colonial e da descolonização de suas estruturas de poder. Permitem,

dessa maneira, transformar o modelo de Estado baseado na

homogeneização, exclusão e dominação, num modelo de Estado

construído a partir da pluralidade, inclusão e participação.E é neste

sentido que esse constitucionalismo transformador que emerge no

Equador e na Bolívia pode contribuir para a construção de uma nova

epistemologia.

4.2 Plurinacionalidade einterculturalidade

De acordo com Santos (2010), a refundação do Estado no Equador e

na Bolívia a partir das noções de plurinacionalidade e interculturalidade

representam as experiências mais avanças no continente em termos de

refundação do Estadomoderno capitalista colonial, já que sintetizam as

possibilidades e também os limites da imaginação política do fim do

capitalismo e do fim do colonialismo como sistemas de dominação e

exploração.

Primeiramente, destaca-se que o reconhecimento da

plurinacionalidade no processo de refundação do Estado representa um

radical desafio ao conceito de Estado-nação moderno ao reivindicar o

reconhecimento do conceito de nação a partir da perspectiva de

pertencimento comum a uma etnia, cultura ou religião. A

plurinacionalidade implica, assim, no reconhecimento de direitos coletivos,

na possibilidade de convivência de uma nação cívica com diversas nações

culturais dentro de um mesmo Estado, bem como em noções como

autogoverno e autodeterminação, dentre outros. Desse modo, constitui

uma tentativa de construção de um sistema político que, ao invés de

excluir e homogeneizar, seja capaz de articular a diferença e que

reconheça outros sujeitos e visões de mundo.

Para Santos (2010), a plurinacionalidade não representa a negação

da nação, mas o reconhecimento de que está inconclusa e que novos

13

conceitos de nação devem emergir para superar a polarização entre nação

cívica e nação étnico-cultural. Neste mesmo sentido, Walsh (2008, p.143)

afirma que “a importância da plurinacionalidade é permitir o re-pensar e

re-fundar do uni-nacional, colonial e excludente, dentro de um projeto de

Estado e sociedade que se constrói desde a pluralidade e desde as

diferenças ancestrais”.

No que se refere ao conceito de interculturalidade, é preciso

esclarecer que, diferentemente de países onde essa noção é proposta e

definida a partir do Estado e de uma perspectiva mais restrita de

reconhecimento e tolerância com relação à diversidade, no Equador e na

Bolívia foi inicialmente reivindicado pelos movimentos indígenas e outros

grupos subalternizados como formas de lutas contra a hegemonia colonial

e imperial dominante.É neste sentido que Walsh (2008)propõe a noção de

interculturalidade crítica de caráter descolonial, ou seja, uma

interculturalidade que vise transformar radicalmente as estruturas e

relações sociais e construir novas e distintas formas de vida. Para ela,

apesar das limitações em termos da aplicação deste princípio e de

consensos de como promovê-la concretamente, o caráter político e social

da interculturalidade é necessário e evidente.

Walsh (2008) acredita que a plurinacionalidade e a interculturalidade

são complementares enquanto ferramentas e projetos para a

transformação e a descolonização do Estado e da sociedade. Neste mesmo

sentido, Santos (2010) afirma que o reconhecimento da plurinacionalidade

é um mandato político para a promoção da interculturalidade, e que sua

prática ao longo do tempo deverá dar origem a um novo tipo de

mestiçagem, uma mestiçagem pós-colonial dialógica e plural.

Para Santos (2010), a comparação entre as duas constituições

mostra que a plurinacionalidade é muito mais vinculante no caso da

Bolívia do que no Equador, não só porque a plurinacionalidade atravessa

toda a constituição boliviana, mas também porque no Equador a noção

14

republicana de cidadania individual e igualitária parece ser ainda bastante

forte, chegando a neutralizar a eficácia dos direitos coletivos dos povos

indígenas estabelecidos pela Constituição. Considerando que a

Constituição boliviana centra-se mais no esforço da plurinacionalização,

enquanto a equatoriana dedica maior espaço à interculturalização, Walsh

(2008, p.150) afirma que

Essa é, sem dúvida, uma das debilidades da

equatoriana e eixo de futura luta que o movimento

indígena recentemente apontou. (...) sem o

estabelecimento e desenvolvimento estrutural do

plurinacional, o intercultural facilmente ficará no campo

relacional, sem a transformação social e política que

aponte o conceito em sua significação pelo movimento

indígena.

Todavia, é preciso ressaltar que tais paradigmas não representam um

fim em si, mas instrumentos de luta contra o colonialismo, o capitalismo e

o racismo, cujos fins de longo prazo devem dar origem a um novo marco

civilizatório, a partir da construção de instituições e processos

democráticos mais inclusivos, do desenvolvimento de economias baseadas

em outros valores tal como a solidariedade, do reconhecimento e da

valorização da pluralidade de práticas e saberes, do respeito de direitos

individuais e coletivos, da proteção dos recursos naturais, dentre outros.

Lembrando que a Constituição de um Estado não é um texto fechado,

fixo e estático, mas um processo dinâmico de diálogo e interpretação, o

maior risco para estes novos Estados é sua redução, junto com outros

princípios constitucionais, à retórica declaratória e legitimadora de suas

instituições. Neste sentido, Grijalva (2008) ressalta que as limitações ao

desenvolvimento da plurinacionalidade e da interculturalidade vêm mais

da dinâmica de forças políticas e econômicas do que de particularidades

das normas vigentes. Assim, durante um longo período transicional é de

se esperar conflitos e intensas disputas em torno da construção desses

15

novos paradigmas, que representam novos e alternativos projetos

políticos, sociais e epistemológicos.

4.3 Buen vivir/vivir bien como projeto de país e modelo

civilizatório

O buen vivir(Equador) ou vivir bien(Bolívia) – ressaltando a

necessidade de reconhecer as diferenças em termos de significações e

apropriações, próprias de cada contexto e cultura – está consagrado nas

constituições de ambos os países como paradigma central do

ordenamento social e econômico, distanciando-se da noção de

desenvolvimento pregado pelo modelo ocidental capitalista, e resgatando

a cosmovisão dos povos e nacionalidades autóctones, baseada em outros

valores, outras formas de produção e outros modos de vida, bem como na

harmonia entre a sociedade e a natureza.O texto constitucional

equatoriano reconhece inclusive a natureza como sujeito de direito,

representando uma proposta bastante avançada e inovadora em relação

às constituições de outros países.

Para a chamada corrente pós-desenvolvimentista, o desenvolvimento

tal como pregado pelo pensamento eurocêntrico representa um conjunto

de ideias que moldam a realidade e as relações de poder, baseado em

noções etnocêntricas, construído no Norte como “modernidade” e imposto

ao Sul. Neste sentido, esses autores ressaltam a dificuldade que

representa esse paradigma para outras formas de organizações sociais

sobreviver às margens do sistema ocidental dominante. Ademais, seria

esse modelo uma forma de justificar a continuidade do colonialismo por

outros meios, mantendo nas sociedades colonizadas a lógica capitalista e

o sistema dominante de poder.

Para Sachs (2010), relacionar o desejo por igualdade ao crescimento

econômico tem sido a base conceitual da era do desenvolvimento.

Desfazer essa relação e refazê-la a partir de noções de bem-estar deve

ser a prioridade para a “era pós-desenvolvimento”. Neste sentido, Sotillo

16

(2011) sugere que o pós-desenvolvimento possibilite não apenas a criação

de diferentes discursos e representações, não mediados pela construção

do desenvolvimento, mas também indique

a necessidade de mudar as práticas de saber e

fazer, ou seja, a necessidade de multiplicar centros e

agentes de produção de conhecimentos, fazendo

visíveis as formas de conhecimento produzidas por

quem supostamente são os „objetos‟ do

desenvolvimento para que possam transformar-se em

sujeitos e agentes. (SOTILLO, 2011, p. 247).

Dessa forma, mais do que propor “desenvolvimentos alternativos”, os

pós-desenvolvimentistas propõem superar a base conceitual e o

paradigma do desenvolvimento e pensar em “alternativas ao

desenvolvimento”, criando sistemas baseados em outros valores, que

garantam alto valor e reconhecimento aos bens culturais e espirituais

(RIST, 2004; e SUMNER e TRIBE, 2008). Assim, tais autores entendem

que o buen vivir/vivir bien representa justamente esse esforço de

construção de alternativas ao paradigma do desenvolvimento e de

sistemas alternativos de valores.

Para Acosta (2012), o buen vivir representa uma oportunidade de

construção coletiva de novas formas de vida, forjadas no calor das lutas

por emancipação e cujas propostas emergem de grupos tradicionalmente

marginalizados.Ele entende que obuen vivirnão sintetiza nenhuma

proposta completamente desenvolvida e também não pretende assumir o

papel de um mandato global: sua tarefa principal é romper com a ideia de

desenvolvimento como objetivo universal de todas as sociedades e propor

novas maneiras de viver e pensar, diversas e complexas. Neste sentido,

Acosta (2012, p. 202) acredita que a tarefa de reconstrução do buen vivir

é descolonizadora e despatriarcalizadora, e “estabelece definitivamente

17

uma cosmovisão diferente da ocidental ao surgir de raízes comunitárias

não capitalistas”.

Todavia, é preciso ressaltar a distância entre o paradigma do buen

vivir/vivir biene as políticas construídas a partir dele no âmbito do

processo de refundação dos Estados no Equador e na Bolívia. Embora seja

um dos eixos centrais dos novos textos constitucionais e esteja presente

nos discursos governamentais, muitas das práticas e dinâmicas levadas a

cabo pelos governos nacionais em nada remetem às propostas do buen

vivir/vivir bien. O extrativismo, por exemplo, apesar de estar ancorado na

lógica colonial e desenvolvimentista, continua tendo um papel central para

a economia desses países. Segundo Acosta (2012, p. 211),

A lista de inconsistências nos governos

progressistas, tanto em nível nacional como de

territórios descentralizados, chama a atenção para

intenções distintas entre os mandatos constitucionais e

a “real politik” de formas continuísticas de consumismo,

refletindo também o uso propagandístico do termo

Buen Vivir. Basta ver a quantidade de documentos e

programas oficiais que anunciam o fim do Buen Vivir

como pauta publicitária.

Apesar disso, e considerando que o período transicional deve ser

longo e marcado por intensas disputas, a refundação do Estado a partir de

um novo projeto de país, baseado no buen vivir/vivir bien,aponta para

uma mudança no padrão civilizatório. Para Acosta (2010), o maior mérito

desse novo tipo de Constituição está justamente nessa abertura de

possibilidades para disputar o sentido histórico do desenvolvimento.Assim,

uma das tarefas fundamentais consiste na construção de diálogos plurais

e permanentes entre os saberes e conhecimentos ancestrais e o

pensamento moderno universal, levando à construção do que Santos

(2010)denomina“diálogos interculturais” e de uma “ecologia de saberes”.

18

Essas tarefas serão fundamentais para romper com o pensamento

eurocêntrico e para a construção deum outro Estado.

5. Conclusão

Aoabordar as experiências de refundação do Estado no Equador e na

Bolívia, buscou-se identificar como tais alternativas políticas que emergem

atualmente na América Latina podem contribuir para o rompimento com a

colonialidade do poder e com o eurocentrismo como pensamento

dominante e, assim, para o desenvolvimento de sociedades baseadas em

outros valores e modo de pensar e para a construção de uma nova

epistemologia, que dê conta das realidades emergentes no contexto

latino-americano.Embora não tenha analisado osprocessos de

implementação em si de cada um desses paradigmas nas políticas e

instituições nacionais – o que mereceria um estudo à parte –, é

importante ressaltar que,muitos desses novos paradigmas e normas que

compõem as novas constituições, na prática estão longe de estarem

totalmente incorporados na gestão governamental dos dois países.

Os processos constitucionais não se encerraram com a adoção das

novas constituições nacionais, mas apenas deram início ao que deve ser

um longo e conflituoso período transicional rumo à construção de Estados

efetivamente plurinacionais e interculturais. Considerando que os textos

constitucionais não lograram resolver questões relevantes,deixando

muitas delas em aberto, é preciso reconhecer que representam

instrumentos ainda bastante frágeis, suscetíveis às disputas que se

seguirão em torno de sua interpretação.Intensas batalhas emergirão

continuamente durante a construção desses novos projetos políticos,

sociais e epistemológicos.Dessa forma, a consolidação dosnovos Estados

dependerá da maneira como as sociedades e as instituições darão vida às

suas constituições, ou seja, dependerá dos avanços futuros no processo

de implementação de seus artigos e normas e da capacidade que terão

para construir diálogos plurais, abertos e democráticos.

19

Apesar das limitações e dificuldades, tais processos constituintes

abriram espaços para diálogos muito criativos, possibilitando a

emergência de novos conceitos e formas institucionais e revelando novos

caminhos para pensar muitas das crises que marcam o mundo

contemporâneo, tal como o paradigma da modernidade; a ideia de nação;

o Estado moderno; e as formas de organização política e social. Ou seja,

contribuem para a construção de formas de pensar para além dos

paradigmas eurocêntricos que até agora determinaram as condições

políticas, sociais e econômicas da América Latina. Neste sentido,

representam não apenas a possibilidade de superação do colonialismo e

do capitalismo, mas apontam para a construção de um novo padrão

civilizatório, que poderálevar à emancipação das sociedades latino-

americanas e, quiçá, de outras populações do Sul global. Por isso,os

processos por que passam Equador e Bolívia são reconhecidos como

avançadas lutas anticapitalistas e anticoloniais no contexto da chamada

globalização contra-hegemônica.

Dessa maneira, pode-se concluir que os processos de refundação do

Estado na América Latina a partir da plurinacionalidade revelam não

apenas a possibilidade de romper com o sistema colonial de exploração,

mas de propor novos caminhos para a construção de diálogos

verdadeiramente interculturais e pós-coloniais, de onde poderão emergir,

como sugere Santos (2010), “criativas mestiçagens conceituais, teóricas e

políticas”, as quais servirão de base para a construção de um novo padrão

civilizatório e de novas epistemologias. Revelam, assim, as possibilidades

de imaginar outras sociedades e outros mundos, mais justos e humanos

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