estado nutricional do zinco na doença renal crônica: dificuldades no diagnóstico de deficiência...

2
Estado Nutricional do Zinco na Doença Renal Crônica: Dificuldades no diagnóstico de deficiência do mineral A Doença Renal Crônica (DRC) é uma condição clínica que se caracteriza pela perda progressiva e irreversível da função renal, resultando na dependência de suporte dialítico e ou transplante renal. 1 De acordo com o senso realizado anualmente pela Sociedade Brasileira de Nefrologia, o total de pacientes em tratamento Nome: Amanda de Castro Amorim Ponto Focal: Teresina - Piauí dialítico vem crescendo. Em 2002, estimava-se em 54.523 a população de pacientes em diálise no Brasil, cerca de 19% desse total (10.285) encontrava-se na Região Nordeste. 2 Já em 2006, o total de pacientes em diálise foi de 70.872, tendo a região Nordeste 14.041 (20%). O tratamento por hemodiálise, é o que mais vem crescendo durante esses anos. 3 Apesar dos avanços no tratamento da DRC, a morbi-mortalidade continua elevada, tendo como principal causa a doença cardiovascular (DCV) de natureza inflamatória. Por conseguinte, a sobrevida no primeiro ano não ultrapassa 79%, e estes índices caem de forma expressiva atingindo 41% no quinto ano de tratamento. 2 Esse processo inflamatório acarreta também distúrbio no metabolismo de micronutrientes. Segundo Mafra (1999), trabalhos realizados em pacientes renais crônicos em hemodiálise indicam que o estado nutricional relativo ao zinco está inadequado, estando o organismo depletado deste mineral, ocorrendo, em alguns casos, os sintomas associados à deficiência deste micronutriente 4 . Dentro desse contexto, a literatura tem demonstrado que pacientes em hemodiálise (HD) apresentam concentrações plasmáticas de zinco variando da normalidade à hipozincemia. 5,6 Pacientes portadores de DRC podem frequentemente manifestar deficiência de zinco, seja pelo aumento da excreção de zinco fecal seja pelo decréscimo na sua absorção. 7 Estudos com pacientes em programa de hemodiálise demonstram a alta prevalência de hipozincemia plasmática de até 82%. 7,8 Porém, revelam altos índices de zinco eritrocitário, dificultando o diagnóstico de deficiência nesses pacientes, deixando os pesquisadores em dúvida se o paciente realmente está

Upload: ufpe

Post on 29-Jul-2015

1.738 views

Category:

Education


11 download

TRANSCRIPT

Page 1: Estado Nutricional do Zinco na Doença Renal Crônica: Dificuldades no diagnóstico de deficiência do mineral

Estado Nutricional do Zinco na Doença Renal Crônica: Dificuldades no

diagnóstico de deficiência do mineral

A Doença Renal Crônica (DRC) é

uma condição clínica que se caracteriza pela

perda progressiva e irreversível da função renal,

resultando na dependência de suporte dialítico e

ou transplante renal.1

De acordo com o senso realizado

anualmente pela Sociedade Brasileira de

Nefrologia, o total de pacientes em tratamento

Nome: Amanda de Castro AmorimPonto Focal: Teresina - Piauí

dialítico vem crescendo. Em 2002, estimava-se em 54.523 a população de pacientes em diálise no

Brasil, cerca de 19% desse total (10.285) encontrava-se na Região Nordeste.2 Já em 2006, o total

de pacientes em diálise foi de 70.872, tendo a região Nordeste 14.041 (20%). O tratamento por

hemodiálise, é o que mais vem crescendo durante esses anos. 3

Apesar dos avanços no tratamento da DRC, a morbi-mortalidade continua elevada,

tendo como principal causa a doença cardiovascular (DCV) de natureza inflamatória. Por

conseguinte, a sobrevida no primeiro ano não ultrapassa 79%, e estes índices caem de forma

expressiva atingindo 41% no quinto ano de tratamento. 2

Esse processo inflamatório acarreta também distúrbio no metabolismo de

micronutrientes. Segundo Mafra (1999), trabalhos realizados em pacientes renais crônicos em

hemodiálise indicam que o estado nutricional relativo ao zinco está inadequado, estando o

organismo depletado deste mineral, ocorrendo, em alguns casos, os sintomas associados à

deficiência deste micronutriente 4.

Dentro desse contexto, a literatura tem demonstrado que pacientes em hemodiálise

(HD) apresentam concentrações plasmáticas de zinco variando da normalidade à hipozincemia. 5,6

Pacientes portadores de DRC podem frequentemente manifestar deficiência de zinco, seja pelo

aumento da excreção de zinco fecal seja pelo decréscimo na sua absorção. 7 Estudos com pacientes

em programa de hemodiálise demonstram a alta prevalência de hipozincemia plasmática de até

82%. 7,8 Porém, revelam altos índices de zinco eritrocitário, dificultando o diagnóstico de

deficiência nesses pacientes, deixando os pesquisadores em dúvida se o paciente realmente está

Page 2: Estado Nutricional do Zinco na Doença Renal Crônica: Dificuldades no diagnóstico de deficiência do mineral

ou não com deficiencia de zinco. Portanto, o conhecimento do metabolismo do zinco nesta

enfermidade deve ser cada vez mais explorado, visto ser este mineral essencial para muitas

atividades metabólicas do organismo, podendo ser responsável por complicações da doença em

questão. deficiência do mineral.

A falta de biomarcadores sensíveis para a detecção do real estado nutricional

relativo ao zinco, aliado ao fato dos estudos avaliarem apenas as concentrações plasmáticas do

mineral para definir a deficiência ou normalidade do mineral no organismo levou ao estudo e

emprego de técnicas moleculares na tentativa de auxiliar o entendimento acerca do assunto.

Palmiter & Findley em 1995 descreveram o primeiro gene relacionado com o

transporte de zinco. 9 Desde então, várias proteínas transportadoras deste elemento vêm sendo

descobertas e estudadas, com ênfase quanto à sua expressão e ao seu papel na homeostase do

zinco. 10

Estudos têm demonstrado que as proteínas transportadoras de zinco são

componentes essenciais do sistema que influencia a captação de zinco em situações de ingestão

dietética reduzida do mineral ou em excesso, e também durante o estresse fisiológico agudo e

crônico. 11 E, estão auxiliando os pesquisadores na elucidação da homeostase do mineral, bem

como no diagnóstico de deficiência do mineral, apesar de a maioria das pesquisas ainda estarem

sendo realizadas em modelos animais.

Referências Bibliográficas1. BRENNER, B.M.; LAZARUS, J.M. Insuficiência renal crônica. In: WILSON, J.D.; BRAUNWALD, E. et al, eds.

Medicina interna. 12 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, v. 8, p. 20-26, 1992.2. CABRAL, P.C.; DINIZ, A.S.; ARRUDA, I.K.G. Avaliação nutricional de pacientes em hemodiálise. Rev. Nutr.,

Campinas, v. 18, n. 1, p. 29-40, 2005.3. SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA. Resultados do censo 2006. Disponível em:

http://www.sbn.org.br/censos.htm. Acesso em 16/06/2010.4. MAFRA, D.; COZZOLINO, S.M.F. Avaliação do estado nutricional relative ao zinco em pacientes com

insuficiência renal crônica [Dissertação]. São Paulo: Faculdade de Ciências Farmacêuticas, 1999.6. MARUMO, F., TSUKAMOTO, Y., et al. Trace element concentrations in hair, fingernails and plasma of patients

with chronic renal failure on hemodialysis and hemofiltration. Nephron, v.38, n.4, p.267-72. 1984.7. KIMMEL, P. L., WATKINS, D. W., et al. Zinc balance in combined zinc deficiency and uremia. Kidney Int, v.33,

n.6, Jun, p.1091-9. 1988.8. ERTEN, Y., KAYATAS, M., et al. Zinc deficiency: prevalence and causes in hemodialysis patients and effect on

cellular immune response. Transplant Proc, v.30, n.3, May, p.850-1. 1998.9. TSUKAMOTO, Y., IWANAMI, S., et al. Disturbances of trace element concentrations in plasma of patients with

chronic renal failure. Nephron, v.26, n.4, p.174-9. 1980.10. PALMITER, R. D. e FINDLEY, S. D. Cloning and functional characterization of a mammalian zinc transporter

that confers resistance to zinc. Embo J, v.14, n.4, Feb 15, p.639-49. 1995.11. COUSINS, R. J. e MCMAHON, R. J. Integrative aspects of zinc transporters. J Nutr, v.130, n.5S Suppl, May,

p.1384S-7S. 2000.12. LIUZZI, J. P., BOBO, J. A., et al. Responsive transporter genes within the murine intestinal-pancreatic axis form

a basis of zinc homeostasis. Proc Natl Acad Sci U S A, v.101, n.40, Oct 5, p.14355-60. 2004.