estadao

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A2 Espaço aberto TERÇA-FEIRA, 5 DE MAIO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO A caba de ser im- plantado um par- lamentarismoim- provisado,incom- pleto e apressa- do. A presidente da República entregou o cargo de chefe de governo a um pri- meiro-ministro. A um, não, dois. Levy e Temer são alheios ao seu partido e não foram elei- tos para tais cargos. Dilma dei- xou de governar e recolheu-se à função de chefe de Estado. Trata-se de um parlamenta- rismo incompleto porque falta uma reforma política para insti- tuí-lo, porque faltam partidos preparadosparagovernarepor- que falta um Poder Legislativo capaz de representar as várias correntes da opinião pública. É um parlamentarismo disfarça- do ao qual se recorre mais uma vez para remendar a ineficiên- cia do presidencialismo vigen- te.Comissoademocraciabrasi- leira continua demonstrando sua incapacidade de se ajustar às inevitáveis crises do mundo contemporâneo. A recente eleição mascarou osgravesproblemassurgidoslo- go depois do pleito. O chamado “marketing eleitoral” ofereceu uma imagem maquiada da can- didata vencedora, encobrindo sua incapacidade para gover- nar. Propaganda eleitoral é atualmente uma demagogia ca- ra que estimula a corrupção, de- turpando um dos princípios bá- sicos do sistema democrático, queégovernarcombasenavon- tade da maioria. Se o atual caso da Petrobrás tivesse vindo à to- na antes da eleição, Dilma não teria sido reeleita. A maioria de outubro de 2014 não é mais a maioriade2015,oqueretiralegi- timidade ao atual governo e aos seus “primeiros-ministros”. Aineficiência do presidencia- lismo brasileiro continua pon- do em risco o próprio regime democrático. A insatisfação po- pular com a presidente recém- reeleita desperta o desejo de um golpe militar ou, pelo me- nos,deumadeposição constitu- cional. Acontece que os milita- res não existem para governar, mas para defender a Nação con- tra inimigos externos. A deposi- çãoconstitucionaltorna-se difí- cil porque a presidente, a exem- plo de seu antecessor, se refu- gia sob a máscara de falsa ino- cência, dizendo que “não sabia denada”.Erroseatosdecorrup- ção ocorrem emtodos os gover- nos. O que não se pode permitir éapermanêncianopoderdego- vernantes incapazes de impedi- los. Os inevitáveis erros dos go- vernantes não podem ser julga- dos pela opinião pública ape- nas de quatro em quatro anos: precisam serjulgados imediata- mente, isto é, logo que ocor- rem. Uma democracia viva exi- ge canais pelos quais a popula- ção possa manifestar a sua von- tade, sem ter de aguardar a data em que o calendário eleitoral a convocará. Para agravar a atual crise polí- tica os partidos presentes no Poder Legislativo não represen- tam, de fato, a vontade popu- lar. São partidos sem conteú- dos programáticos definidos e sem capacidade de oferecer so- luções alternativas para a atual crise política. São, em sua maio- ria, partidos criados por inte- resses pessoais de indivíduos sem efetivo conhecimento dos grandes problemas nacionais e sem ligação com seus even- tuais eleitores. O presidencialismo brasilei- ro apoia-se sobre a falsa ideia de que uma única pessoa é capaz de governar. É impossível. Em- bora seja necessário um chefe deEstadopararepresentaraNa- ção dentro e fora do território nacional, não se lhe pode atri- buir aresponsabilidade de exer- cer também a função de gover- nar.Asfunçõesdeumgovernan- te são complexas. Exigem uma equipe homogênea com amplo conhecimento dos problemas e agilidade para solucionar os conflitos de cada do momento. No atual presidencialismo, quem ocupa a Presidência da Republica fica distante dos pro- blemas, com ministros nomea- dos para conciliar interesses, mas sem diretrizes harmônicas e sem uma visão de conjunto dos problemas do momento. Há um abismo entre o atual governo e o povo. A insatisfação que tomou conta do País gera manifestações nas ruas, porque o regime atual não oferece ca- naisparaqueapopulaçãosepos- sa expressar. O País ingressou numa fase de paralisia sob a qual há frustração, desânimo e uma inquietação latente. Enquanto não for feita uma verdadeira reforma política, as crises estarão sempre rondan- do o exercício do poder, a cor- rupção estará sempre aberta aos aventureiros, a população estará cada vez mais descrente de seus governantes e a demo- cracia estará sempre ameaça- da. O voto distrital e o fim da reeleição são insuficientes para asseguraragovernabilidade. So- mente um regime capaz de con- ciliar as circunstâncias oscilan- tesdavidapolíticacomoprincí- pio da rotatividade do exercício do poder será capaz de amorti- zar as inevitáveis crises ineren- tes à democracia e à política em geral.Esse regime, como tem si- docomprovadoemtodaaEuro- pa, é o parlamentarismo. Além de ser mais adequado às socie- dades de massa, tem maior ca- pacidade de se ajustar às rápi- das mudanças políticas dos tempos atuais. O parlamentarismo exige partidos políticos com efetiva representatividade popular, com conteúdos programáticos definidos e com soluções alter- nativas para cada momento da vida política do País. Os parti- dos, para se manterem, preci- sam tornar-se canais de comu- nicação entre a opinião pública e os governantes. E os gover- nantes devem ser demitidos ao perder o apoio da opinião públi- ca. No parlamentarismo isso é possível. Essareformapolíticaterápas- sar inevitavelmente pela deci- são popular. Um novo plebisci- toprecisaserconvocadoparain- formar aos brasileiros sobre as diferenças entre o presidencia- lismo atual e um futuro parla- mentarismo. É preciso mostrar aosbrasileirosquenoparlamen- tarismo a troca de governo é fei- ta em função dos resultados, e não de quatro em quatro anos nempormeiodegolpesdeEsta- do. É preciso mostrar aos brasi- leiros que no parlamentarismo quem governa é uma equipe ho- mogênea dirigida por um único primeiro-ministro(nãodois co- mo atualmente). Chegou a hora de mudar: mudar de regime, pa- ra superar as futuras crises e pa- ra preservar a democracia. EX-DIRETOR DO INSTITUTO GALLUP, FOI PROFESSOR TITULAR DE ÉTICA E FILOSOFIA POLÍTICA DA PUC-SP. E-MAIL: [email protected] CARLOS MATHEUS F az dois meses, ou pouco mais, escre- viaqui queidentifi- cava uma melhora no humor dos in- vestidoresemrela- ção ao Brasil. Não era uma con- fiançanarecuperaçãodaecono- mia ou em novas reformas, mas apenasse começava-se aacredi- tar que o País ia conseguir evitar a crise: os ajustes econômicos erampravalere,surpreendente- mente, rompiam com práticas recentes. Foi o suficiente para a bolsa reagir e subir cerca de 20%, o câmbio apreciar-se de R$3,29paraR$2,92pordólareo risco Brasil (medido pelo CDS de cinco anos) cair de 309 para 221. Esse renovado otimismo é justificado? Podemos esperar melhora adicional no mercado? Identificamos cinco grandes ajustes atualmente em curso na economiabrasileira:fiscal,para- fiscal,contas externas,realismo tarifárioemetadeinflação.Éim- portante ressaltar que esses ajustessão consertos de proble- mas macroeconômicos criados no passado, e não reformas, en- tendidas como as que focam no longoprazo,namelhoriadapro- dutividade e no crescimento sustentável. Cabe uma reflexão sobre como evoluíram esses ajustes econômicos até agora. Fiscal – É o ajuste mais im- portante: determina a dinâmica da dívida e permite afastar o ris- co de rebaixamento da nota do Brasil, que levaria a uma crise. Nos primeiros três meses do ano houve, de fato, contenção nos gastos. E não foi pouca. O gasto federal recuou 2% em ter- mos reais no primeiro trimes- tre. A reversão da gastança está em curso, o que é essencial. Acreditamos que o ajuste deva continuar e avançar para uma queda de 6% em termos reais em 2015 (comparada a um au- mento de 5,2% em 2014, de 6,4% em 2013, de 4,8% em 2012 e de 3,5% em 2011). Mas há desafios. A herança de gastos a reconhe- cer do passado é um deles. E o grande desafio atual para o ajus- te fiscal é a queda da arrecada- ção,queocorreadespeitodoau- mento de alíquotas de impos- tos e eliminação de subsídios, em razão da fraca atividade eco- nômica. No final, os desafios não permitirão alcançar a meta plena, embora acreditemos que o esforço leve ao cumprimento de boa parte do objetivo (0,8% do PIB, de 1,2% proposto). E não haverá rebaixamento do Brasil para grau especulativo. Mas o ajuste terá de continuar e se aprofundar no ano que vem. Parafiscal –Refere-seaoses- tímulosesubsídiosforadodeba- te direto da meta de superávit primário. Houve uma mudança relevante nesse âmbito tam- bém. Parece que os recursos se esvaíram em todas as esferas. Os desembolsos do BNDES es- tão diminuindo de forma consi- derávelemrelaçãoaoanopassa- do. O mesmo ocorre em outras áreas,comonoFundodeFinan- ciamento Estudantil (Fies). As condiçõesparareceberemprés- timos tornaram-se mais rígidas e os juros, maiores. A Taxa de Jurosde LongoPrazo, usada pe- lo BNDES, está subindo, assim como as taxas ainda mais subsi- diadas,como as do Programa de Sustentação do Investimento (PIS).ACaixa EconômicaFede- ral começoua emprestar um va- lor menor nas hipotecas conce- didas no programa Minha Casa, Minha Vida. Parece que o di- nheiro acabou mesmo, sem si- nais de volta. Contas externas – É necessá- rio reduzir o déficit em conta corrente, que se encontra em torno de 4,4% (já na nova meto- dologia de cálculo). Para isso a forma mais eficaz é permitir que a taxa de câmbio flutue e se deprecie, se necessário. Os pre- ços de commodities mais bai- xos ou a menor disponibilidade de financiamento externo ten- dem a depreciar o real e ajudar no ajuste da conta corrente (en- carece importações e barateia exportações). A decisão do go- verno de interromper a inter- venção cambial a partir de mar- ço e a indicação nos últimos dias de redução do estoque de proteção cambial oferecida às empresasvão nessadireção. Va- le lembrar que, na ausência de um parada brusca de financia- mento, o ajuste em conta cor- rente deverá ser lento. Certa- mente, mais lentodo que o tem- po dos mercados. Realismo tarifário –Oproble- ma de reprimir preços é que so- bra sua descompressão para o futuro.Ainflaçãodeadministra- dos foi de apenas 1,5% em 2013. Este ano a população pagará com uma inflação de adminis- trados de 13,5%. O aumento mé- dio de quase 50% na energia elé- trica é o exemplo mais claro. A vantagem do ajuste é acabar com as distorções de preço no futuro. Não acredito na volta da repressão de preços. O erro re- cente está ainda fresco na me- mória. Na verdade, surpreen- dente foi a volta à repressão de preçosno paísdos congelamen- tos fracassados. Meta de inflação – O Banco Central (BC) está se esforçan- do para trazer a inflação de vol- ta ao centro da meta, depois de anos acima. O problema é que os ajustes tarifários e das con- tas externas (câmbio mais de- preciado) levarão a inflação pa- ra cerca de 8,5% este ano, o que dificultará a convergência no ano que vem. A subida dos juros da Selic para 13,25% na semana passada faz parte desse esforço do BC. A expectativa de infla- ção para o ano que vem se en- contra em 5,6%. Acredito que estejamos próximos do fim do ciclo de elevação de juros. Houve avanço nos ajustes, o que justifica o ânimo dos mer- cados nos últimos tempos. À medida que os ajustes se sus- tentarem, o cenário mais adver- so (de crise) ficará menos pro- vável e os mercados continua- rão melhorando, principalmen- te se as condições internacio- nais assim o permitirem. Mas há limitações para o que os sim- ples ajustes (consertos) conse- guem, na ausência de medidas estruturais. Enquanto os ajustes nos afas- tam do abismo, os desajustes do passado ainda pesam sobre a economia.Arecessãoéumarea- lidadeeodesempregodevecon- tinuar em alta por um tempo. Houve um momento em que ti- vemos a ilusão de que os ajustes pró-cíclicos tinham ficado para trás. Mas, não: o Brasil continua com o hábito de se desajustar até a crise chegar perigosamen- te perto para, então, se ajustar em condições adversas. Daqui para diante será necessário apoio político para a travessia, que apenas começa no lado real da economia. Os mercados fo- ram na frente e, por sua nature- za, serão novamente os primei- ros a reagir em caso de fracasso. ECONOMISTA-CHEFE E SÓCIO DO ITAÚ UNIBANCO Publicado desde 1875 Américo de Campos (1875-1884) Francisco Rangel Pestana (1875-1890) Julio Mesquita (1885-1927) Julio de Mesquita Filho (1915-1969) Francisco Mesquita (1915-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1947-1988) Julio de Mesquita Neto (1948-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1947-1997) Ruy Mesquita (1947-2013) De desajustes a ajustes – e agora? Fórum dos Leitores Por um novo plebiscito LULOPETISMO PF x marqueteiro do PT Desde que o PT assumiu o po- der e é acusado de algo, seus mandatários saem a campo para alegar que é tudo mentira, tudo está dentro da lei, etc. Mas a rea- lidade nos mostra que, toda vez que há fumaça, há fogo com mui- ta labareda. Portanto, basta apro- fundar a investigação sobre os US$ 16 milhões trazidos de An- gola para as empresas do sr. João Santana que teremos mais um foco de corrupção petista. LUIZ ROBERTO SAVOLDELLI [email protected] São Bernardo do Campo João Santana O metido a esperto marqueteiro da Dilma, o da enganação, foi também apanhado pela PF em falcatruas de recebimento de di- nheiro de Angola, onde atuam empreiteiras contratadas pelo PT, digo, Petrobrás. Ele ainda vai ter muito a contar. Afinal, todo esperto tem seu dia de otário. ZUREIA BARUCH JR. [email protected] São Paulo Terceirização Uma vez mais assistimos à deci- são da presidente da República pendendo para seu interesse pes- soal e de seu partido em detri- mento do Brasil. Na lamentável suposição de que vai atrair vo- tos, adotou a bandeira contra a terceirização. Já que deu pode- res a Temer e Levy, por que não larga de uma vez o osso e deixa que toquem a economia e a polí- tica da forma adequada? MARIO ANTONIO ROSSI [email protected] São Paulo Alto lá! “Mexeu com Dilma, mexeu com todos nós”, gritou Lula, mais rou- co ainda, no palanque de 1.º de Maio, andando de um lado para o outro como fera ameaçada. Pa- tético! Finge esquecer que Dil- ma virou um fantasma acuado, com medo de panelaços, buzina- ços e manifestantes, esteja onde estiver. Cheio de si, prefere nem lembrar que a única pessoa res- peitada e digna de confiança no governo federal é Joaquim Levy, egresso das hostes tucanas e ti- do como salvador da Pátria após a herança maldita deixada por es- tes 12 últimos anos de desgover- no lulopetista, que culminou com as barbeiragens inominá- veis do mandato anterior da pu- pila, sem mencionar o mar de la- ma em que mergulharam o País. Portando, Lula que tenha cuida- do com sua verborragia, porque se foi o tempo em que suas pala- vras eram recebidas com creduli- dade. Hoje, pelo que se vê, para o escutarem são necessários shows para atrair “trabalhado- res”, pagar lanches e diárias, pro- videnciar transporte, camisetas e bonés. Portanto, alto lá! Lula da Silva acha que ainda tem caci- fe para ameaçar quem quer que seja? Seria mais prudente reco- lher-se à sua atual situação, a de ex-tudo, sinto dizer! ELIANA FRANÇA LEME [email protected] São Paulo Festa do vazio Em 2 de maio, centenas de mora- dores de rua do centro de São Paulo amanheceram vestidos com camisetas da CUT. Teria a central sindical recorrido aos mendigos para garantir público para Lula falar? Vale lembrar que mais de 15 mil pessoas mo- ram nas ruas da capital. DEVANIR AMÂNCIO [email protected] São Paulo Brasileiros sem paciência Lula, no palanque, pediu “paciên- cia com a Dilma”. Deveria é pe- dir desculpas à Nação! Porque convenceu os eleitores a eleger a pior candidata possível para o Planalto – e por dois mandatos! –, a Dilma soberba, surda, autori- tária, que nos obriga a conviver com uma economia em franga- lhos, recessiva, com insuportá- vel inflação. Na reportagem No- va classe média faz malabarismo financeiro e seleciona conquistas (3/5), pesquisa traduz bem a pe- núria das famílias brasileiras. Pa- ra 44% dos entrevistados, o que “mais preocupa hoje” é não con- seguir pagar as contas; para 33%, ficar sem emprego. Na questão “o que passou a pesar no bolso”, 61% cravaram conta de luz; 58%, alimentação; e 32%, transporte. Em outros itens consta que o tra- balhador vai cortar de seu orça- mento comer fora de casa, lazer, vestuário, etc. Enfim, o Lula – que hoje tem um belo patrimô- nio e aposentadorias robustas – pedir paciência com a Dilma ao eleitor, que vem sendo engana- do há mais de 12 anos pelo PT, é afrontar a dignidade humana. PAULO PANOSSIAN [email protected] São Carlos Figura materna? Ora, sr. Luiz Inácio, sua marione- te está mais para madrasta. Em- bora a pior madrasta não consi- ga fazer o diabo que estamos vendo ser feito pela ex-presiden- te do conselho da Petrobrás, ex- mãe do PAC. O Brasil ficará feliz quando ex-presidente ela for. MANUEL JOSÉ FALCÃO PIRES [email protected] São Paulo Conto do vigário Lula é um homem corajoso. Se eu fizesse parte da cúpula do PT, caso dele, depois de todos esses escândalos que vieram à tona, te- ria procurado um bom cirurgião plástico para mudar o meu rosto e evitar que as pessoas me reco- ILAN GOLDFAJN Chegou a hora de mudar de regime, para superar futuras crises e preservar a democracia A recessão é realidade e o desemprego deve continuar em alta por um tempo

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JORNAL ESTADAO DE JUNHO

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    A2 Espao aberto TERA-FEIRA, 5 DE MAIO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

    A caba de ser im-plantado umpar-lamentarismoim-provisado,incom-pleto e apressa-do. A presidenteda Repblica entregou o cargode chefe de governo a um pri-meiro-ministro. A um, no,dois. Levy e Temer so alheiosao seupartidoeno foramelei-tos para tais cargos. Dilma dei-xoudegovernare recolheu-sefunode chefedeEstado.Trata-se de um parlamenta-

    rismo incompleto porque faltaumareformapolticaparainsti-tu-lo, porque faltam partidospreparadosparagovernarepor-que falta um Poder Legislativocapaz de representar as vriascorrentes da opinio pblica. um parlamentarismo disfara-do ao qual se recorremais umavez para remendar a ineficin-cia do presidencialismo vigen-te.Comissoademocraciabrasi-leira continua demonstrandosua incapacidade de se ajustars inevitveis crises do mundocontemporneo.A recente eleio mascarou

    osgravesproblemassurgidoslo-godepoisdopleito.Ochamadomarketing eleitoral ofereceuuma imagemmaquiada da can-didata vencedora, encobrindosua incapacidade para gover-nar. Propaganda eleitoral atualmenteumademagogia ca-raqueestimulaacorrupo,de-turpandoumdosprincpiosb-sicos do sistema democrtico,quegovernarcombasenavon-tade damaioria. Se o atual casodaPetrobrs tivesse vindo to-na antes da eleio, Dilma noteria sido reeleita. Amaioria deoutubro de 2014 no mais amaioriade2015,oqueretiralegi-timidadeaoatual governoeaosseus primeiros-ministros.Aineficinciadopresidencia-

    lismo brasileiro continua pon-do em risco o prprio regimedemocrtico.Ainsatisfaopo-pular com a presidente recm-reeleita desperta o desejo deum golpe militar ou, pelo me-nos,deumadeposioconstitu-cional. Acontece que osmilita-res no existem para governar,masparadefenderaNaocon-trainimigosexternos.Adeposi-oconstitucionaltorna-sedif-cilporqueapresidente,aexem-plo de seu antecessor, se refu-gia sob a mscara de falsa ino-cncia, dizendo que no sabiadenada.Erroseatosdecorrup-oocorrememtodososgover-

    nos.Oquenosepodepermitirapermanncianopoderdego-vernantesincapazesdeimpedi-los.Os inevitveiserrosdosgo-vernantesnopodemser julga-dos pela opinio pblica ape-nas de quatro em quatro anos:precisamserjulgadosimediata-mente, isto , logo que ocor-rem.Umademocracia viva exi-ge canais pelos quais a popula-opossamanifestarasuavon-tade,semterdeaguardaradataem que o calendrio eleitoral aconvocar.Paraagravaraatualcrisepol-

    tica os partidos presentes noPoderLegislativonorepresen-tam, de fato, a vontade popu-lar. So partidos sem conte-dos programticos definidos esemcapacidadedeoferecerso-lues alternativas para a atualcrisepoltica.So,emsuamaio-

    ria, partidos criados por inte-resses pessoais de indivduossemefetivo conhecimentodosgrandesproblemasnacionais esem ligao com seus even-tuais eleitores.O presidencialismo brasilei-

    roapoia-sesobreafalsaideiadeque uma nica pessoa capazde governar. impossvel. Em-bora seja necessrio um chefedeEstadopararepresentaraNa-o dentro e fora do territrionacional, no se lhe pode atri-buiraresponsabilidadedeexer-cer tambm a funo de gover-nar.Asfunesdeumgovernan-te so complexas. Exigem umaequipe homognea com amploconhecimentodosproblemaseagilidade para solucionar osconflitos de cada domomento.No atual presidencialismo,quem ocupa a Presidncia daRepublicaficadistantedospro-blemas, comministros nomea-dos para conciliar interesses,mas semdiretrizesharmnicase sem uma viso de conjuntodosproblemas domomento.H um abismo entre o atual

    governoeopovo.Ainsatisfaoque tomou conta do Pas geramanifestaesnasruas, porqueo regime atual no oferece ca-naisparaqueapopulaosepos-sa expressar. O Pas ingressounuma fase de paralisia sob aqual h frustrao, desnimo euma inquietao latente.

    Enquanto no for feita umaverdadeira reforma poltica, ascrises estaro sempre rondan-do o exerccio do poder, a cor-rupo estar sempre abertaaos aventureiros, a populaoestar cada vezmais descrentede seus governantes e a demo-cracia estar sempre ameaa-da. O voto distrital e o fim dareeleioso insuficientesparaasseguraragovernabilidade.So-menteumregimecapazdecon-ciliar as circunstnciasoscilan-tesdavidapolticacomoprinc-piodarotatividadedoexercciodo poder ser capaz de amorti-zar as inevitveis crises ineren-tesdemocraciaepolticaemgeral.Esseregime,comotemsi-docomprovadoemtodaaEuro-pa, o parlamentarismo. Almde ser mais adequado s socie-dades de massa, temmaior ca-pacidade de se ajustar s rpi-das mudanas polticas dostempos atuais.O parlamentarismo exige

    partidos polticos com efetivarepresentatividade popular,comcontedosprogramticosdefinidosecomsoluesalter-nativas para cadamomento davida poltica do Pas. Os parti-dos, para se manterem, preci-sam tornar-se canais de comu-nicaoentreaopiniopblicae os governantes. E os gover-nantesdevemserdemitidosaoperderoapoiodaopiniopbli-ca. No parlamentarismo isso possvel.Essareformapolticaterpas-

    sar inevitavelmente pela deci-so popular. Umnovo plebisci-toprecisaserconvocadoparain-formar aos brasileiros sobre asdiferenas entre o presidencia-lismo atual e um futuro parla-mentarismo.precisomostraraosbrasileirosquenoparlamen-tarismoatrocadegovernofei-ta em funo dos resultados, eno de quatro em quatro anosnempormeiodegolpesdeEsta-do.precisomostrar aosbrasi-leiros que no parlamentarismoquemgovernaumaequipeho-mogneadirigidaporumnicoprimeiro-ministro(nodoisco-moatualmente).Chegouahorademudar:mudarderegime,pa-rasuperarasfuturascrisesepa-rapreservar ademocracia.

    EX-DIRETOR DO INSTITUTO

    GALLUP, FOI PROFESSOR TITULAR

    DE TICA E FILOSOFIA

    POLTICA DA PUC-SP. E-MAIL:

    [email protected]

    CARLOSMATHEUS

    F az dois meses, oupoucomais, escre-viaquiqueidentifi-cava umamelhorano humor dos in-vestidoresemrela-o aoBrasil.No eraumacon-fiananarecuperaodaecono-miaouemnovasreformas,masapenassecomeava-seaacredi-tarqueoPasiaconseguirevitara crise: os ajustes econmicoserampravalere,surpreendente-mente, rompiam com prticasrecentes.Foio suficientepara abolsa reagir e subir cerca de20%, o cmbio apreciar-se deR$3,29paraR$2,92pordlareorisco Brasil (medido pelo CDSde cinco anos) cair de 309 para221. Esse renovado otimismo justificado? Podemos esperarmelhoraadicionalnomercado?Identificamos cinco grandes

    ajustesatualmenteemcursonaeconomiabrasileira:fiscal,para-fiscal,contasexternas,realismotarifrioemetadeinflao.im-portante ressaltar que essesajustessoconsertosdeproble-masmacroeconmicos criadosnopassado, eno reformas, en-tendidascomoasque focamnolongoprazo,namelhoriadapro-dutividade e no crescimentosustentvel. Cabeuma reflexosobre como evoluram essesajustes econmicos at agora. Fiscal o ajuste mais im-

    portante:determinaadinmicadadvidaepermiteafastaroris-co de rebaixamento da nota doBrasil, que levaria a uma crise.Nos primeiros trs meses doano houve, de fato, contenonos gastos. E no foi pouca. Ogasto federal recuou2%emter-mos reais no primeiro trimes-tre. A reverso da gastana estem curso, o que essencial.Acreditamos que o ajuste devacontinuar e avanar para umaqueda de 6% em termos reaisem 2015 (comparada a um au-mentode5,2%em2014,de6,4%em 2013, de 4,8% em 2012 e de3,5%em2011).Mas hdesafios.A herana de gastos a reconhe-cer do passado um deles. E ograndedesafioatualparaoajus-te fiscal a queda da arrecada-o,queocorreadespeitodoau-mento de alquotas de impos-tos e eliminao de subsdios,emrazodafracaatividadeeco-nmica. No final, os desafiosno permitiro alcanar ametaplena,emboraacreditemosqueo esforo leve ao cumprimentode boa parte do objetivo (0,8%do PIB, de 1,2% proposto). E

    no haver rebaixamento doBrasil para grau especulativo.Masoajuste terdecontinuarese aprofundar noanoquevem.ParafiscalRefere-seaoses-

    tmulosesubsdiosforadodeba-te direto da meta de supervitprimrio.Houveumamudanarelevante nesse mbito tam-bm. Parece que os recursos seesvaram em todas as esferas.Os desembolsos do BNDES es-todiminuindodeformaconsi-dervelemrelaoaoanopassa-do.Omesmoocorre emoutrasreas,comonoFundodeFinan-ciamento Estudantil (Fies). Ascondiesparareceberemprs-timos tornaram-semais rgidase os juros, maiores. A Taxa deJurosdeLongoPrazo,usadape-lo BNDES, est subindo, assimcomoastaxasaindamaissubsi-diadas,comoasdoProgramadeSustentao do Investimento(PIS).ACaixaEconmicaFede-ralcomeouaemprestarumva-lormenornashipotecas conce-didasnoprogramaMinhaCasa,Minha Vida. Parece que o di-nheiro acabou mesmo, sem si-nais devolta.Contas externasnecess-

    rio reduzir o dficit em contacorrente, que se encontra emtornode4,4%(jnanovameto-dologia de clculo). Para isso aforma mais eficaz permitirque a taxade cmbio flutuee sedeprecie, senecessrio.Ospre-os de commodities mais bai-

    xosouamenordisponibilidadede financiamento externo ten-dem a depreciar o real e ajudarnoajustedacontacorrente(en-carece importaes e barateiaexportaes). A deciso do go-verno de interromper a inter-venocambial apartirdemar-o e a indicao nos ltimosdias de reduo do estoque deproteo cambial oferecida sempresasvonessadireo.Va-le lembrar que, na ausncia deum parada brusca de financia-mento, o ajuste em conta cor-rente dever ser lento. Certa-mente,maislentodoqueotem-podosmercados.RealismotarifrioOproble-

    made reprimirpreosqueso-bra sua descompresso para ofuturo.Ainflaodeadministra-dos foi de apenas 1,5% em2013.

    Este ano a populao pagarcom uma inflao de adminis-tradosde13,5%.Oaumentom-diodequase50%naenergiael-trica o exemplo mais claro. Avantagem do ajuste acabarcom as distores de preo nofuturo.Noacreditonavoltadarepresso de preos. O erro re-cente est ainda fresco na me-mria. Na verdade, surpreen-dente foi a volta represso depreosnopasdoscongelamen-tos fracassados. Meta de inflao O Banco

    Central (BC) est se esforan-dopara trazer a inflaodevol-ta ao centro dameta, depois deanos acima. O problema queos ajustes tarifrios e das con-tas externas (cmbio mais de-preciado) levaroa inflaopa-ra cercade 8,5%este ano, oquedificultar a convergncia noanoquevem.Asubidadosjurosda Selic para 13,25% na semanapassada fazpartedesse esforodo BC. A expectativa de infla-o para o ano que vem se en-contra em 5,6%. Acredito queestejamos prximos do fim dociclo de elevao de juros.Houve avano nos ajustes, o

    que justifica o nimo dosmer-cados nos ltimos tempos. medida que os ajustes se sus-tentarem,ocenriomaisadver-so (de crise) ficarmenos pro-vvel e os mercados continua-romelhorando,principalmen-te se as condies internacio-nais assim o permitirem. Mashlimitaesparaoqueossim-plesajustes(consertos)conse-guem, na ausncia de medidasestruturais.Enquantoosajustesnosafas-

    tamdoabismo,osdesajustesdopassado ainda pesam sobre aeconomia.Arecessoumarea-lidadeeodesempregodevecon-tinuar em alta por um tempo.Houveummomentoemqueti-vemosa ilusodequeosajustespr-cclicos tinham ficado paratrs.Mas,no:oBrasilcontinuacom o hbito de se desajustarat acrise chegar perigosamen-te perto para, ento, se ajustarem condies adversas. Daquipara diante ser necessrioapoio poltico para a travessia,queapenascomeano ladorealda economia. Os mercados fo-ramna frentee, por suanature-za, sero novamente os primei-rosareagiremcasodefracasso.

    ECONOMISTA-CHEFE

    E SCIO DO ITA UNIBANCO

    Publicado desde 1875Amrico de Campos (1875-1884)Francisco Rangel Pestana (1875-1890)

    Julio Mesquita (1885-1927)Julio de Mesquita Filho (1915-1969)Francisco Mesquita (1915-1969)Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

    Jos Vieira de Carvalho Mesquita (1947-1988)Julio de Mesquita Neto (1948-1996)Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1947-1997)Ruy Mesquita (1947-2013)

    Dedesajustesaajustes eagora?

    FrumdosLeitores

    Porumnovoplebiscito

    LULOPETISMOPF x marqueteiro do PT

    Desde que o PT assumiu o po-der e acusado de algo, seusmandatrios saem a campo paraalegar que tudo mentira, tudoest dentro da lei, etc.Mas a rea-lidade nos mostra que, toda vezqueh fumaa, h fogocommui-ta labareda. Portanto, basta apro-fundar a investigao sobre osUS$ 16 milhes trazidos de An-gola para as empresas do sr.Joo Santana que teremos maisum foco de corrupo petista.LUIZ ROBERTO [email protected] Bernardo do Campo

    Joo Santana

    Ometido a espertomarqueteiroda Dilma, o da enganao, foitambm apanhado pela PF emfalcatruas de recebimento de di-nheiro de Angola, onde atuamempreiteiras contratadas pelo

    PT, digo, Petrobrs. Ele ainda vaiter muito a contar. Afinal, todoesperto tem seu dia de otrio.ZUREIA BARUCH [email protected] Paulo

    Terceirizao

    Uma vez mais assistimos deci-so da presidente da Repblicapendendopara seu interessepes-soal e de seu partido em detri-mento do Brasil. Na lamentvelsuposio de que vai atrair vo-tos, adotou a bandeira contra aterceirizao. J que deu pode-res a Temer e Levy, por que nolarga de uma vez o osso e deixaque toquema economia e a pol-tica da forma adequada?MARIO ANTONIO [email protected] Paulo

    Alto l!

    Mexeu comDilma, mexeu com

    todosns, gritouLula,mais rou-co ainda, no palanque de 1. deMaio, andando de um lado paraooutro como fera ameaada. Pa-ttico! Finge esquecer que Dil-ma virou um fantasma acuado,commedodepanelaos, buzina-os e manifestantes, esteja ondeestiver. Cheio de si, prefere nemlembrar que a nica pessoa res-peitada e digna de confiana nogoverno federal Joaquim Levy,egresso das hostes tucanas e ti-do como salvador da Ptria apsaheranamalditadeixadapor es-tes 12 ltimos anos de desgover-no lulopetista, que culminoucom as barbeiragens inomin-veis do mandato anterior da pu-pila, semmencionar omar de la-ma em quemergulharam o Pas.Portando, Lula que tenha cuida-do com sua verborragia, porquese foi o tempo emque suas pala-vras eramrecebidas comcreduli-dade. Hoje, pelo que se v, parao escutarem so necessriosshows para atrair trabalhado-res, pagar lanches edirias, pro-videnciar transporte, camisetas

    e bons. Portanto, alto l! Lulada Silva acha que ainda temcaci-fe para ameaar quem quer queseja? Seria mais prudente reco-lher-se sua atual situao, a deex-tudo, sinto dizer!ELIANA FRANA [email protected] Paulo

    Festa do vazio

    Em2demaio, centenasdemora-dores de rua do centro de SoPaulo amanheceram vestidoscom camisetas da CUT. Teria acentral sindical recorrido aosmendigos para garantir pblicopara Lula falar? Vale lembrarque mais de 15 mil pessoas mo-ram nas ruas da capital.DEVANIR [email protected] Paulo

    Brasileiros sem pacincia

    Lula,nopalanque, pediu pacin-

    cia com a Dilma. Deveria pe-dir desculpas Nao! Porqueconvenceu os eleitores a eleger apior candidata possvel para oPlanalto e por dois mandatos!, aDilma soberba, surda, autori-tria, que nos obriga a convivercom uma economia em franga-lhos, recessiva, com insuport-vel inflao. Na reportagem No-va classe mdia faz malabarismofinanceiro e seleciona conquistas(3/5), pesquisa traduz bem a pe-nria das famlias brasileiras. Pa-ra 44% dos entrevistados, o quemais preocupa hoje no con-seguir pagar as contas; para 33%,ficar sem emprego. Na questoo que passou a pesar no bolso,61% cravaram conta de luz; 58%,alimentao; e 32%, transporte.Emoutros itens consta queo tra-balhador vai cortar de seu ora-mento comer fora de casa, lazer,vesturio, etc. Enfim, o Lula que hoje tem um belo patrim-nio e aposentadorias robustas pedir pacincia com a Dilma aoeleitor, que vem sendo engana-do h mais de 12 anos pelo PT,

    afrontar a dignidade humana.PAULO [email protected] Carlos

    Figura materna?

    Ora, sr. Luiz Incio, suamarione-te est mais para madrasta. Em-bora a pior madrasta no consi-ga fazer o diabo que estamosvendo ser feito pela ex-presiden-te do conselho da Petrobrs, ex-me do PAC.O Brasil ficar felizquando ex-presidente ela for.MANUEL JOS FALCO [email protected] Paulo

    Conto do vigrio

    Lula um homem corajoso. Seeu fizesse parte da cpula doPT,caso dele, depois de todos essesescndalosque vieram tona, te-ria procurado um bom cirurgioplstico paramudar omeu rostoe evitar que as pessoas me reco-

    ILANGOLDFAJN

    Chegou a hora demudar de regime, parasuperar futuras crises epreservar a democracia

    A recesso realidadee o desempregodeve continuar em altapor um tempo