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Esquadrilha da Fumaça e Portugal Motta: uma ligação eterna

Q uem conhece o trabalho do Esquadrão de Demonstração Aérea da Força Aérea Brasileira, a nossa queridaEsquadrilha da Fumaça, sabe que o sucesso e a perfeição de cada manobra conseguida hoje é fruto de um

trabalho calcado no amor, na dedicação e no profissionalismo que começou há mais de meio século. Assim, ao voltarmos para a década de 50,-época em que surgia esse que é um dos mais antigos Esqua­

drões de Demonstração Aérea em atividade nó mundo, verificamos a figura destacada de um de seus precur-sores_: Q Capitão·RRJo_i,é Fernando Portugal Motta. �

ó Cap. RR-Portugal Mõtta pertenceu a essa eqüipe de 1955 a 1957 e de 1960 a 1965. Considerado um excelente óficiálde Relações Públicas, requisito ess�ncial para um piloto de demonstração aérea, trabalhou ativamente nà: cljvulgação da Força Aéreà-Brasiléira, promovendo 1;1m bom relacionamento e a aproximaçãocom a sociedade ciyil'.-brasi).eira. - - · '. .

- ' -

Pilotando a â�tonav� isolada T�6, arrancava suspir�s e aplausos do_ público, enquanto as .outras aerona­ves fumateirat ��,rratejral:I)-énte gai1hava� .altura e se 'preparavam para' à' pr�xima seqüência-de �anobras.

A ligação' de, Portugal Mo.tta com a Esquadrilha da Fumaça não terminou com a sua saída;. �m 19(í5, nefu · mesmo.co� súa idapàra·a réserviL Ela continuou ativa até mesmo no_momento de ,sua, despedida dos foma-�eiros de' hoje, herdei;tos de todo o seu am9r e dedicação por um ideal:

No dia 17de--m�d de 2003, data esc;olliida para as comemorações-do _51 ° aniversário da Esquadrilha da Fumaça, Portuga�_Mottà embarcou,para seu· último vô� a bordo de um avião T-6, o ·mesmo que no passado protagonizqu a alegria e a admiração de milhões de brasileiros. Escoltado por sete Tucanos fumaceiras, o T-6 :carregando· as _"cinzas do. Cap. RR Pórtugal_ Motta, falecido no dia 1 O de abril, realizou um vôo rasante sobre o Carripo Fontenelle, na Academia da Força Aérea, deixando suas cinzas caírem sobre· o palco onde aconteceria

, a: apresentação aérea d� númeró 2.665 da Esquadrilha da Fumaça. · Ao ete:i:no fumacçiro Portugal Motta, nossa gratidão pelo exemplo de profissionalismo e dedicação a essatradicional Instituição· da Força, Aérea ·Brasileira chamada Esquadrilha <la Fumaça: �

Ronaldo Venâncio

Cap.Av.

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VAIDADEPor volta das quatro horas da manhã, em meioa uma neblina, desembarcavam na pacata cidadede Barbacena, mais uma leva de jovens queiriam constituir uma nova turma de supostosBichos da EPCAR.

Ao envergarem, pela primeira vez, o garbosouniforme azul baratéia, desfilariam perante ascamofas da cidade, acreditando que seriam os me-lhores pilotos do mundo, pertencentes à melhor tur-ma que já passara por aquele educandário militar.Pura Vaidade.

Galgando-se os primeiros anos, seguiriam parao Ninho das Águias, o lendário Campo dos Afonsos,onde aprenderiam as inesquecíveis noções de vôo,no saudoso T-21. Após o espadim e o brevê Cometa,eles desfilariam dentro de suas fatuidades, pelas ruasda Cidade Maravilhosa, mostrando a todos queseriam verdadeiros Super-Homens. Pura Vaidade.

Em seguida iriam para Pirassununga parasolarem a cobiçada máquina a jato T-37C. “Pilotosde Jato”. Primeira turma a voar jato puro, em ins-trução, no Brasil. Acreditariam ser os melhorespilotos de caça na face da Terra. Pura Vaidade.

Ao serem declarados Aspirantes a OficialAviador, regrediriam no tempo, voando os fa-migerados T-6, acreditando, também, por teremvoado jatos, tudo seria mais fácil. Ledo engano.Pura Vaidade.

Dali em diante, cada qual seguiria seu destino,em busca dos respectivos sonhos, galgando degrausna carreira, estreitando novos conhecimentos, es-pecializando-se nas mais diferentes aviações, desco-brindo a Força, seus meandros e particularidades.Continuariam a acreditar que tudo modificariam,implementando novas teorias, novos conceitos,com perfil moderno, informatizado, com contro-le da qualidade, afinal de contas, era uma turma

Paulo LobatoCel. Av. RR

Segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, VAIDADE tem origemno Latim Vanitate, que é “qualidade do que é vão, ilusório ou pouco duradouro.

Desejo imoderado de atrair admiração ou homenagens. Vanglória. Presunção,fatuidade. Coisa fútil ou insignificante; frivolidade, futilidade, tolice”.

coesa, brilhante, era do jato e de novas tecnologias.Pura Vaidade.

Aos poucos, foram chegando ao final decarreira, uns como coronéis, outros como oficiaisgenerais. Uns por mera casualidade, outros ungidos,pré-destinados pelos Deuses, autoridades supremas,esquecendo-se, no entanto, que teriam o mesmofinal de todos, uma fétida herança de sete palmos.Pura Vaidade.

Outros, já no mundo civil, assistiriam estupe-fatos os Destinos-Manifestos dos comandantes e ge-neralistas, observando os critérios das Políticas eEstratégias, aceitando decisões e determinações donovo Comandante Supremo, um humilde torneiromecânico que, cancelando a compra de novas plata-formas de emprego, e adiando a aquisição denovas tecnologias, empenharia o seu listel noparadigma da Fome Zero, para um país socialista edemocrático, recordando o seu passado, reafirmandoo seu refrão: “Quem sabe faz a hora, não esperaacontecer...”. Pura Vaidade.

Nessa sístole e diástole do percorrer do cami-nho, verifica-se, agora, que nada mudara. Da embaça-da estação ferroviária de Barbacena aos suntuosossalões dos gabinetes da Esplanada dos Ministérios(Ministérios?), espraiando-se com seus novos unifor-mes, esbanjando otimismo e atraindo homenagens,os mesmos da Redentora, consolidam a ForçaAérea e seguem a orientação determinada do seuLíder: “Estamos trabalhando com o Governo epelo Governo”. Pura Vaidade? Bem, no caso espe-cífico não se poderia AFIRMAR e nem ARGÜIR,tão-somente, QUESTIONAR. A análise dessequestionamento ficaria por conta daqueles que,vivenciando tudo o que se estabeleceu ao longo docaminho, concordarão ou não com a qualidade da-quilo que é vão, ilusório ou pouco duradouro.

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Revista aeronáutica nº 239 • Maio - Junho / 20032

Presidente:Brig.-do-Ar R/R Danilo Paiva Álvares1º Vice-Presidente:Brig.-Med.R/R José Américo de Albuquerque Montenegro2º Vice-Presidente:Cel. Int. R/R Ricardo José Clemente

DEPARTAMENTOSAdministrativo:Cel. Int. R/R Haroldo Prado de AzevedoPatrimonial:Cel. Av. R/R Fernando Moura CorreiaSocial:Ten.-Cel. Int. R/R José Pinto CabralCultural:Cel. Av. R/R Mário F. Pontes FilhoFinanças:Ten.-Cel. Int. R/R Irajá Domingues da SilvaBeneficente:Cel. Int. R/R Haroldo Prado de AzevedoSecretaria Geral:Cap. Adm. R/R Ivan Alves MoreiraAssessoria Jurídica:Dr. Francisco Rodrigues da Fonseca

SUPERINTENDÊNCIASSede Aerodesportiva:Maj. R/R Josias de Freitas DuarteDivisão de Ultraleves Motorizados:Ten. Av. Ref. José Menezes FilhoSede Social:Ten.-Cel. Av. R/R Cleber Cirilo dos SantosSede Lacustre:Márcio Ganem Álvares

CHICAER:Brig.-do-Ar R/R Danilo Paiva Álvares

Endereço:Pça. Marechal Âncora, 15 - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20021-200

Tel.: (21) 2210-3212 Fax: (21) 2220-8444Expediente do CAER:

Dias: de 3ª a 6ª feira - Horário: 9 às 12h e13 às17hSede Aerodesportiva: (21) 3325-2681

Sede Lacustre: (24) 2662-1049

Revista do Clube de AeronáuticaTel./Fax: (21) 2220-3691

DiretorMario F. Pontes Filho

Jornalista ResponsávelJ. Marcos Montebello

Produção GráficaLuiz Ludgerio P. SilvaMárcia Regina I. H. Galhardo

RevisãoDirce Brízida

Conselho EditorialPresidente1º Vice-Presidente2º Vice-PresidenteChefe do Departº CulturalDiretor Revista aeronáutica e Jornal arauto

Órgão Oficial doClube de Aeronáutica

Consultoria, ProduçãoGráfica e Fotolito

Rua do Rezende, 80 – Centro – RJ

Tels.: (21) 2263 3892, 2221 [email protected]

aeronáuticaaeronáuticaRevista

2003 E-mail:[email protected] Número 239

As opiniões emitidas em entrevistas e em matériasassinadas estarão sujeitas a cortes, no todo ou em par-te, a critério do Conselho Editorial, não representandocom isto ponto de vista do Clube de Aeronáutica e,sim, dos seus autores. As matérias não serão devolvi-das, mesmo que não publicadas.

ÍndiceEDITORIAL0404040404

1818181818

0808080808 A Previdência dos MilitaresJayme Moreira Crespo Filho - Cel. R/1

O Processo de Criação na PinturaAraken Hipólito da Costa - Cel. Av. RR

PREVIDÊNCIA

ARTE

ENTREVISTA Presidente da INFRAERO

Sr. Carlos Wilson Rocha de Queiroz CamposA Redação

0505050505

1111111111 Liberdade não tem Preço!Luís Mauro Ferreira Gomes - Cel. Av. RR

ALERTA

1515151515 O Sentido da VidaRenata Magalhães

REFLEXÃO

2626262626 Como Combater na Guerra RevolucionáriaVISÃO DOS FATOSCarlos Ilich Santos Azambuja

2121212121 Aviação, Cidadania e Desenvolvimento SocialRocindes José Correa - Ten.-Cel. Av. RR

SOLIDARIEDADE

1717171717No tear:

palavras em busca de um sentidoMaria Veronica Aguilera

CRÔNICA

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Revista aeronáutica nº 239 • Maio - Junho / 2003 3

4141414141

4242424242

4444444444

Drummond do PovoMaria Célia Barbosa Reis da Silva

Terrorismo Pós-Guerra

Bin Laden – Após o Iraque

Manuel Cambeses Júnior - Cel. Av. RR

PERSONALIDADE

CENÁRIO INTERNACIONAL

CONJUNTURAPasqual Antonio Mendonça - Cel. Av. RR

4545454545 Falta Pau-Brasil no MercadoClarindo dos Santos

SÁTIRA

4646464646 Brasileiros são mais Ricos do que os Norte-americanosINTERNETInternet - Adaptação

4848484848 Os Presidentes Pioneiros na AviaçãoCURIOSIDADEAlfredo Muradas Dapena - Cel. Av. RR

3131313131 Interatividade Educativa: uma nova proposta para o MUSALMUSALSahara Burity Fernandez Cyrino - Cap. QFO Mus.

3232323232 Os Militares e a NOMMaj.-Brig.-do-Ar Ref. Lauro Ney Menezes

CONTEXTO

3434343434Francisco da Costa e Silva Júnior – Cel. Av. RR

Walace Monteiro

Programa de Condicionamento Físico Aeróbico:pré-requisito para uma vida saudávelSAÚDE

3939393939 Jung, Pichon – Rivière e Paulo Freire: identidade de teoriasTESENeyde Lúcia de Freitas Souza – Maj. QFO Psi.

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Revista aeronáutica nº 239 • Maio - Junho/20034

EDITORIAL

Caros amigos,Ser o Presidente do Clube é uma tarefa gratificante e ao mesmo tempo desgastante.

Gratificante, quando tudo vai bem, dá certo, o cardápio do restaurante agrada, enfim,quando recebo elogios pelas ações da Diretoria. Desgastante, quando alguma coisa incomodaao sócio; umas pueris, outras nem tanto, porém constituem-se sempre em uma açãoa ser tomada, um detalhe a ser observado, um ato a ser praticado, além da rotina normalde preservar e conservar o Clube de Aeronáutica para as gerações futuras.

Sabemos ser impossível agradar a todos os sócios, porém a meta é agradar, pelo menos,a grande maioria dos que o freqüentam.

Em que pese a situação atual de nosso Clube, já do conhecimento de todos, acredito,firmemente, que vamos ultrapassar os problemas advindos do Empreendimento de Jacarepaguá.Esta convicção, esta chama que me anima, esta vontade férrea que me impulsiona podeparecer aos menos avisados que, mantendo o Clube vivo com novos eventos e atividades,como a Coca Cola Vibezone, com novos espaços e atrações culturais e desportivas e, finalmente,com a admissão de nova categoria de sócios, estes sejam atos temerários, arriscados einconseqüentes. Porém, meus amigos, o Presidente do Clube, pelo exercício dos conhecimentos deChefia e Liderança, próprios da cultura militar, por obrigação funcional, responsabilidadepessoal e perante o quadro social, tem que ser o último a desacreditar na esperança dedias melhores para a nossa instituição. Os momentos difíceis não comportam o medo, aomissão, a incompetência nem a covardia da Direção.Há que se ter coragem, demonstrá-la e não esmorecer! É preciso que, principalmente, oPresidente do Clube dissemine confiança! Muitos descrentes já entregaram moralmenteos pontos, o seu Presidente jamais o fará, mesmo nas maiores dificuldades.

Aguardem, caros amigos otimistas e derrotistas, esperançosos e desiludidos, confiantes eincrédulos, pois num período relativamente curto começaremos, com fatos concretos, ademonstrar que estamos resolvendo, definitivamente, os problemas jurídicos que vêm afligindo oClube nos últimos dez anos. A conseqüência natural para todos da Aeronáutica, sócios enão sócios, da reserva e da ativa, será o resgate do orgulho de ser sócio do nosso Clube.Quando isso acontecer, teremos alguns momentos extremamente gratificantes não só para oPresidente, mas, também, para todos aqueles que amam o Clube de Aeronáutica.

Brig.-do-Ar Danilo Paiva ÁlvaresPresidente

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Revista aeronáutica nº 239 • Maio - Junho/2003 5

ENTREVISTA

R A – Aeroportos, pessoas chegando e indo, ou-tras levando e buscando, outras simplesmente visitan-do: uma grande vitrine deste país. Quatro meses deINFRAERO, como o senhor se sente nessa vitrine?

C W – Muito honrado pela distinção que me deu oPresidente Lula ao designar-me Presidente da INFRAERO.

A INFRAERO é uma empresa muito madura, or-ganizada, enxuta na sua estrutura organizacional, e eficien-te no desempenho de suas atribuições estatutárias e naadministração de seus recursos financeiros.

Desde que assumi a Presidência da INFRAERO te-nho procurado aprofundar o conhecimento sobre o seuenorme domínio de atuação territorial. Tenho me desdo-brado visitando os mais diferentes sítios aeroportuários,aproveitando a oportunidade do contato pessoal comtodos os nossos empregados, desde os nossos superin-tendentes regionais até o mais humilde servidor, aumen-tando o conhecimento e a admiração pela empresa e pelovalor de seus homens.

Comandar esse maravilhoso acervo, de um lado muitome envaidece, por outro lado me faz ter a consciênciaconstantemente voltada para a responsabilidade de ter quemanter a nossa infra-estrutura permanentemente em mui-to bom funcionamento, por ela passando dezenas de mi-lhões de passageiros, brasileiros e estrangeiros, a passeioou a negócios, mas, invariavelmente, com algum compro-misso de prazo.

Em torno do aeroporto aglutinam-se os serviçosde vários parceiros nossos, de modo que o produto glo-bal depende de um funcionamento semelhante a uma

engrenagem derelógio, sendoque, via de regra,

INFRAERO - 30 ANOSPresidente: Sr. Carlos Wilson

a qualquer deficiência é associado o nome do dono dacasa: a INFRAERO.

Essa é a nossa delicada vitrine. Sobre esse particular,estou dando a melhor atenção à importância do trabalhode equipe com nossos parceiros e aproveito a oportuni-dade para ressaltar o apoio e a compreensão que tenhodeles recebido.

Temo-nos engajado com nossos parceiros, de quemtemos recebido uma especial atenção, para em conjunto“azeitarmos” o fluxo de passageiros no interior dos nossosaeroportos, reduzindo-lhes o tempo de espera e dando-lhes mais conforto.

R A – Uma idéia da política da INFRAERO comrelação aos aeroportos compartilhados.

C W – Ao abordar a questão dos aeroportos com-partilhados, rendo de partida a minha homenagem a to-dos aqueles que participaram da decisão a respeito.

Estudando a História do desenvolvimento da Avia-ção no Brasil, levando em conta a grandiosidade do terri-tório nacional, percebo o acerto da iniciativa do compar-tilhamento dos aeródromos militares e civis.

Na década de 30, havia os campos de aviação comos seus humildes guarda-campos. Hoje, 60 a 70 anos pas-sados, nós dispomos de aeroportos que podemos, semufanismo, considerar magníficos, mesmo sem dispormosde uma economia nacional forte.

De norte a sul e de leste a oeste, o território nacionalconta com aeroportos de muito boa qualidade, boas pis-tas de pouso e de táxi, estações terminais de passageirosmodernas, modernos equipamentos de apoio à navega-ção aérea e às operações de pouso e decolagem.

Entre esses extremos de tempo, foi fundamental a

Treze de janeiro deste ano: assume a Presidência da INFRAERO,aos 52 anos, o pernambucano Carlos Wilson Campos.

Trazendo como formação acadêmica o Direito e a Economia; como co-nhecimento administrativo, suas experiências marcantes no Executivo Esta-dual e Federal; e como cultura política, suas significativas atuações no Legis-lativo Federal, pode-se inferir que a consciência da responsabilidade é parteintegrante de sua personalidade e que o sucesso não será um mero acaso.

A Revista aeronáutica sente-se honrada em poder levar aos nossossócios as palavras do atual Presidente da empresa, que nasceu comeles e que ora completa 30 anos.

“...percebo o acerto dainiciativa do

compartilhamento dosaeródromos militares e civis.”

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Revista aeronáutica nº 239 • Maio - Junho/20036

ENTREVISTA

de 17.000.000 depassageiros porano. Em 2001, pelo AISP passaram 13.100.000, em 2002foram 11.900.000 passageiros.

A margem de folga na capacidade disponível noAeroporto de Guarulhos, considerado o movimento depassageiros verificado no ano de 2002, é de pouco maisde 5.000.000 de passageiros.

Com a construção da nova pista e do terceiro TPS,o AISP (Guarulhos) passará a ter capacidade para atendera aproximadamente 40.000.000 passageiros por ano.As obras do novo terminal estão estimadas emR$ 600.000.000,00, com início provável previsto para ofinal deste ano ou início de 2004, dependendo ainda,dentre outras análises técnicas, de aprovação de estudosambientais. A conclusão dar-se-á num prazo de 48 mesesapós o início da obra.

Em relação à terceira pista, estimamos dar início àsobras em 2005, com término previsto para 2006. Neladeverão ser investidos em torno de R$ 90.000.000,00.

R A – Alguns comentários sobre a política desegurança dos aeroportos, principalmente nos Inter-nacionais.

C W – Na primeira mensagem que dirigi a todos osempregados da INFRAERO, deixei claramente estabele-cida a minha primeira prioridade: a segurança nos nossosaeroportos.

A nossa responsabilidade, nesse campo, é muito gran-de, e o assunto é muito complexo.

No campo da conjuntura internacional, pelo fato dea Constituição do Brasil impor à Nação uma postura nãointervencionista e de respeito à autodeterminação dospovos, a nossa geopolítica deixa o país menos exposto àação de atos de terrorismo presentes na atualidade mun-dial, de modo que temos levado em conta esse tipo deameaça sem, entretanto, permitir que este tema nos impo-nha atitudes paranóicas.

Entretanto, no que diz respeito à prática de atos ilíci-tos, notadamente aqueles relacionados com o tráfico dedrogas, contrabando e furtos no interior dos sítios aero-portuários, temos concentrado nossos esforços, objetivan-do aumentar a eficiência, tanto na melhor capacitação dosnossos empregados, quanto na adoção de equipamentosmais modernos e capazes de propiciar melhores meios devigilância e detecção, investindo recursos financeiros na con-cepção e implantação de sistemas de ampla cobertura, so-fisticados e inteligentes.

Cabe ressaltar o importante papel desempenhado por

“Tenho procurado externar omeu grande reconhecimento

pelo valor da FAB e daimportância dessa parceria.”

doação da parte militar, abrindo espaço em suas basesaéreas para abrigar as salas de embarque que foram, passoa passo, se transformando até chegar ao nível atual dosnossos terminais de passageiros.

Na minha visão, os sítios aeroportuários dos aero-portos compartilhados são suficientemente grandes paracomportar, ainda, por muitos anos, o crescimento da Avi-ação Militar e Civil, de modo que possamos continuardividindo com a Força Aérea Brasileira a mesma infra-estrutura.

Tenho procurado externar o meu grande reconheci-mento pelo valor da FAB e da importância dessa parceria.

Quanto ao excelente relacionamento entre as nossasinstituições, tenho muito a agradecer ao seu Comandante,na pessoa do Ten.-Brig. Bueno, bem como ao Coman-dante do DECEA, Ten.-Brig. Lencastre, ao Chefe do Es-tado-Maior da Aeronáutica, Ten.-Brig. Astor, e ao Diretordo DAC, Maj.-Brig. Washington.

Em contrapartida, as aeronaves da FAB utilizam pis-tas de pouso e de táxi muito bem pavimentadas, mantidaspela INFRAERO, garantindo-lhes macias aterrissagens.

O zoneamento militar/civil dos sítios aeroportuári-os tem sido definido entre a FAB e a INFRAERO sem-pre com a compreensão recíproca, no sentido de evitardecisões que venham impedir o futuro crescimento de cadasetor – militar e civil.

R A – Alguns comentários sobre a expansão da in-fra-estrutura aeroportuária no Aeroporto de Guarulhos.

C W – O Aeroporto Internacional de São Paulo (AISP)compartilha o sítio com a Base Aérea de São Paulo.

Desde a gestão do então Ministro da Aeronáutica,Ten.-Brig. Délio Jardim de Mattos, a contribuição da Aero-náutica para com esse aeroporto tem sido muito grande.

É, hoje, o nosso maior e principal aeroporto. Apesarde todas as dificuldades apresentadas pela conjuntura mun-dial e nacional, consideramos urgente a construção daterceira pista e do terceiro terminal de passageiros.

A satura-ção do Aero-porto de Con-gonhas implicaem providên-cias imediatas aserem imple-

mentadas no Aeroporto de Guarulhos, de modo que oexcesso de demanda verificado naquele aeroporto possaser absorvido por este último.

A capacidade atual do AISP (Guarulhos) é em torno

“...deixei claramenteestabelecida a minha primeira

prioridade: a segurançanos nossos aeroportos.”

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Revista aeronáutica nº 239 • Maio - Junho/2003 7

ENTREVISTA

nossos parceiros no campo da segurança, como o da Po-lícia Federal, da Receita Federal, da Aeronáutica e dos ór-gãos de segurança pública, nos diferentes Estados.

R A – Todos, no Governo, de um modo geral,reclamam da política dos cofres vazios. É essa, tam-bém, a situação da INFRAERO?

C W – Não. A INFRAERO tem buscado, ao longodos últimos anos, atuar de forma proativa na geração deresultados operacionais cada vez melhores. Aliado a issotem conduzido uma política bem sucedida de administra-ção de seu fluxo de caixa, que tem permitido a geração denovos recursos para fazer frente ao seu programa de in-vestimentos. Entretanto é importante ressaltar que as difi-culdades por que passa o mercado de Aviação Civil brasi-leiro sinalizam para uma atitude de precaução e de ações,já em implantação, de priorização de custos e de investi-mentos, de modo a maximizar os recursos atuais.

R A – Com o projeto governamental Fome Zero,em que a INFRAERO poderia ajudar?

C W – A Empresa pretende manter, nos próximosquatro anos, em apoio ao Programa Fome Zero do GovernoFederal – o qual, sem dúvida, é o maior movimento emprol da erradicação da fome em nosso país – o seu Progra-ma Social Aeroportos Solidários, presentemente contemplan-do 34 Projetos em desenvolvimento por todo o país, be-neficiando, por ano, 5.643 pessoas, entre crianças, adoles-centes e adultos residentes nas comunidades do entornodos aeroportos.

Ressalto que o Programa Aeroportos Solidários é uma dasdiretrizes do Planejamento Estratégico da Empresa, e temcomo meta empresarial implantar um Projeto Social emcada um dos 65 aeroportos da rede, até o final de 2004.Em 2003 e 2004 está prevista a implantação de 32 novosProjetos, além da ampliação e do fortalecimento dos 33 jáexistentes, na medida em que as necessidades sociais seapresentem.

Além dos projetos delineados no âmbito do seu Pro-grama Social Aeroportos Solidários, cujo escopo está em sinto-nia com as políticas estruturais do Fome Zero, a INFRAEROvem mantendo entendimentos diretamente com o Minis-tério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate àFome, na pessoa do Ministro José Graziano da Silva, comoforma de definir os meios mais adequados de participa-

ção nas políticasespecíficas e lo-cais, tendo pre-sente a atuação

da INFRAERO em todo o território nacional.Em termos amplos, esta participação se refere à dis-

ponibilização de toda a infra-estrutura dos aeroportos paraa consecução dos objetivos do Fome Zero e, neste senti-do, foram priorizadas determinadas linhas de ação – aexemplo da participação da INFRAERO na erradicaçãodo analfabetismo, em parceria com o Ministério da Edu-cação, e em outras iniciativas em estudo, como doação, aoPrograma, do valor devido à INFRAERO, relativo ao re-sultado dos leilões das mercadorias e bens, em processode “perdimento”, realizados pela Receita Federal nos Termi-nais de Carga dos Aeroportos.

Além do mais, a INFRAERO, na comemoração dosseus 30 anos, promoveu um evento cultural, no qual arre-cadou uma quantia considerável para o Programa Fome Zero,como também instalou, em três grandes aeroportos, to-tens que possibilitam aos usuários e passageiros doarem,via eletrônica, cestas básicas para o Programa.

A dívida social existente em nosso país exige umesforço de mobilização e de participação coletiva, e rea-firmo a disposição da INFRAERO em estar sempre aten-ta para identificar novas formas de atuação no âmbitodo Programa.

R A – Uma mensagem aos nossos sócios, dosquais a maioria viu nascer essa Empresa, alguns par-ticiparam dela, e todos torcem por ela.

C W – Aos sócios do Clube da Aeronáutica, gostariade manifestar o meu maior reconhecimento pela impor-tante contribuição que a Aeronáutica tem dado para odesenvolvimento e integração nacionais.

Os seus grandes projetos, implantados com perse-verança e grande visão desenvolvimentista, constituem fa-tos relevantes e de amplo conhecimento do povo brasilei-ro. Entre eles podemos citar o Instituto Tecnológico deAeronáutica, os Centros Integrados de Defesa Aérea eControle do Tráfego Aéreo, com completa cobertura ra-dar sobre o imenso território nacional, a EMBRAER, hojeprivatizada, e a nossa empresa, a INFRAERO, cuja distri-buição geográfica conforma o mapa do Brasil.

Deste modo, gostaria de me congratular com todosos integrantes dessa tradicional Instituição, que congrega aoficialidade da Aeronáutica, fazendo votos a Deus que eupossa, à frente da INFRAERO, continuar conduzindo essaimportante empresa pública no cumprimento da sua mis-são estatutária, gerando e garantindo milhares de empregos,distribuindo riqueza em todo o território nacional, manten-do em grande eficiência a nossa malha aeroportuária, con-tribuindo para o engrandecimento da nação brasileira.

“Ressalto que o ProgramaAeroportos Solidários éuma das diretrizes do

Planejamento Estratégicoda Empresa...”

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Revista aeronáutica nº 239 • Maio - Junho/20038

PREVIDÊNCIA

uito se tem ouvido sobre um assustadordéficit da Previdência pública no Brasil. Osnúmeros apresentados são conflitantes, oque demonstra claramente não haver umlevantamento preciso sobre os valores en-

volvidos. Uma hora falam em R$ 70 bilhões, de-pois em R$ 53, mais tarde em R$ 94, e ninguémprocura investigar onde realmente está a verda-de. No bojo das inúmeras e infundadas declara-ções a respeito, está sempre presente o chamadoprivilégio dos militares como o principal respon-sável por essa situação, mas cujo objetivo princi-pal é nos indispor com a nação brasileira. Jorna-listas desinformados ou mal intencionados, semuma análise mais técnica do assunto, vêm noscolocando como um dos principais responsáveispor essa situação, sem procurar levantar, de for-ma séria e técnica, a veracidade desse déficit e osprincipais responsáveis por ele. O ministro daFazenda chegou a afirmar, recentemente, que,para receber aposentadorias iguais aos saláriosna atividade, os servidores públicos teriam quecontribuir para a Previdência com 60% do seusalário. Essa assertiva do ilustre médico demons-tra uma preocupante ignorância sobre o assunto,como veremos neste trabalho. O ministro daPrevidência, por sua vez, afirmou que os fun-cionários públicos só passaram a descontar parao Estado a partir de 1993. Tenho parentes quecomprovam, por meio de contracheques, quedescontam desde a década de 1940.

Não pretendo abordar aspectos essenciaisdesse privilégio dos militares, por já terem sidoexaustivamente explorados por brilhantes com-panheiros. Desejo ater-me exclusivamente aolado financeiro do problema, com base em

PREVIDÊNCIA rudimentares conhecimentos de MatemáticaFinanceira, para provar que as aposentadorias in-tegrais pagas aos servidores públicos, aos milita-res e aos membros do Poder Judiciário não são asmaiores responsáveis por esse propalado déficit.

Para efetuar esses cálculos, realizados como auxílio da planilha eletrônica Excel, imagine-mos a criação de um Fundo de Previdência e acontribuição dos militares para o mesmo, segun-do os seguintes parâmetros:

A“...um vantajosomercado para asinstituições financeirasque operam comprevidência privada.”

M

“Desejo ater-meexclusivamente aolado financeiro doproblema, combase emrudimentaresconhecimentos deMatemáticaFinanceira...”

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PREVIDÊNCIA

a) Salário médio: R$ 3.200,00; b) Tempomínimo de contribuição para o Fundo: 30 anos;c) Número de contribuições efetuadas: 30 x 13= 390; d) Contribuição do militar: 7,5%; e) Valorinicial da aposentadoria: R$ 5.000,00; f) Taxa deremuneração dos recursos capitalizados mensal-mente no Fundo, até a passagem para a reser-va: 0,95% ao mês; g) Taxa de remuneração dosrecursos capitalizados, após a passagem para areserva: 0,5% ao mês; h) Inflação média consi-derada no período após a passagem para a re-serva: 5% ao ano; i) Intervalo de tempo entre osreajustes nos valores dos proventos e pensões:dois anos.

Incluindo esses dados no programa, foipossível calcular o Valor Futuro de duas anuida-des diferentes: uma considerando exclusivamen-te a contribuição do militar; e outra consideran-do a participação do Governo na mesma propor-ção que o militar, isto é, 7,5% sobre o saláriomédio, como fazem todos os empregadores noBrasil (o Estado é o maior deles). Obtivemosentão os seguintes valores:

a) Per Capita acumulado, apenas com acontribuição do militar, e após 30 anos:R$1.286.097,95;

b) Capital acumulado, contando com a con-tribuição do militar e do Estado em partes iguais,e após 30 anos: R$ 2.572.195,96.

A partir daí, passamos a realizar retiradasmensais de R$ 5.000,00 sobre esses capitaisacumulados, como se fosse o pagamento deum provento ou de uma pensão, aplicando, emseguida, o cálculo dos juros de 0,5% a. m. Alémdisso, aplicamos a cada dois anos uma correçãono valor das mesmas, com base numa inflação

DOS MILITARESmédia de 5% ao ano. Isto nos permitiu chegaraos seguintes dados:

a) se a contribuição exclusiva do militar paraa Pensão Militar fosse aplicada num Fundo dePrevidência, o valor capitalizado, após 30 anos eaplicado à taxa de 0,95% ao mês, possibilitaria opagamento, durante 17 anos e 8 meses, deproventos ou pensões reajustados de acordo coma inflação média de 5% ao ano;

b) se o Estado e o militar contribuíssem compartes iguais para o mesmo Fundo, a capitaliza-ção individual permitiria pagar os mesmos pro-ventos e pensões por 39 anos e 11 meses.

É importante ressaltar que, em ambos oscasos, está previsto o pagamento do 13º proventotodos os anos.

Os dados acima mostram clara e irrefuta-velmente que, na atual conjuntura do sistemaprevidenciário:

a) o déficit provocado pelos proventos epelas pensões militares é mínimo, pois, de ummodo geral, o Estado somente está desembol-sando recursos a partir de 17 anos e 8 meses apósos 30 anos de contribuição. Se considerarmosque a carreira do militar começa no mínimo aos18 anos, ele contribuiria até os 48 anos de idadee, a partir daí até os 66 poderia viver exclusiva-mente às custas do Fundo de Previdência;

b) se o Estado contribuísse, como é de suaobrigação como empregador, para esse Fundo,o limite de 66 anos seria estendido, pasmem, para88 anos, idade atingida apenas por um pequenopercentual de militares e pensionistas;

c) se o militar ou a pensionista morrem an-tes de serem atingidos esses limites, o Estadofica com o saldo acumulado.

Jayme Moreira Crespo FilhoCel. R/1

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PREVIDÊNCIA

Reparem que, para não tornar este trabalhomuito extenso, eu não considerei o fato de os mili-tares da reserva continuarem contribuindo para aPensão Militar, o que estenderia de muito os limi-tes de idade citados acima. Essa contribuição dosinativos militares é mais um dos nossos privilégios.

Nos cálculos acima, tomamos por referên-cia um militar passando para a reserva com 30anos de serviço, ou melhor, de contribuições paraa Pensão Militar. Não sei que percentual perma-nece na ativa após esse prazo. A realidade é queesses militares pesam ainda menos ao Estado.

Alguns estados e municípios brasileirosconstituíram fundos de previdência participan-do com contribuições bem maiores por parte doGoverno, do que dos funcionários. O exemplomais marcante é o do município do Rio de Janei-ro, que tem um Fundo altamente rentável e emexcelente situação financeira.

Não devemos ter ilusões quanto às pressõesa que seremos submetidos para a nossa inclu-são num injusto sistema comum de Previdênciapara todos os trabalhadores brasileiros. As duasmaiores centrais sindicais prometem fazer pres-são junto ao Congresso para que sejamos atingi-dos por esse plano. Penso que toda esta celeu-ma tem, como objetivo maior, abrir um vantajo-so mercado para as instituições financeiras queoperam com previdência privada. Insere-se tam-bém na última e decidida cartada revanchistade grupos ainda não satisfeitos com o que já foiperpetrado contra as FFAA e contra os milita-res. No que tange aos fundos de previdência pri-vada, é preciso lembrar os inúmeros escândalos

envolvendo instituições financeiras que deixarammilhares de brasileiros amargando perdas enor-mes. Imagine-se alguém contribuindo para umadelas por mais de 30 anos, na esperança de re-ceber um complemento de aposentadoria e, derepente, verificar que tudo se evaporou. Já viviuma experiência semelhante a esta. Quando se-gundo-tenente, comecei a contribuir para umadessas associações de pecúlio e pensão para mi-litares que prometia, ao final dos 25 anos de par-ticipação, pagar uma boa pensão durante algunsanos. Quando atingi o prazo estipulado, decidirequerer essa pensão e, para minha surpresa,verifiquei que a quantia que iria receber era irri-sória. Além disso, corremos o risco das falênciase falcatruas tão comuns no nosso Brasil, pois asnossas autoridades e, em particular o Banco Cen-tral, não fiscalizam adequadamente.

Neste grave momento, é importante estar-mos mobilizados na defesa dos nossos justos di-reitos, que, de forma alguma, se constituem emprivilégios. Não podemos ficar parados, como fi-camos por ocasião da elaboração e aprovação daúltima LRM, que nos prejudicou em vários arti-gos. É preciso também, por meio de publicaçõespagas em jornais, revistas e emissoras de rádioe TV (ninguém vai abrir espaço graciosamentepara nós), dar ciência ao povo brasileiro da reali-dade dos fatos que os dados apresentados nestetrabalho podem ajudar a esclarecer.

Não podemos ficar parados esperando servítimas de mais uma vingança de ex-guerrilhei-ros, assaltantes de bancos e seqüestradores,prontos a desfechar o golpe de misericórdia nasFFAA e nos militares. Temos que aprender a atu-ar de forma inteligente junto aos chefes milita-res, à imprensa, aos congressistas e a setoresimportantes da sociedade brasileira.

“Neste grave momento, éimportante estarmos

mobilizados na defesa dosnossos justos direitos...”

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ALERTA

emos, recentemente, um interessante arti-go da escritora Meredith F. Small, Professo-

ra de Antropologia na Universidade de Cornell, pu-blicado no New Scientist, intitulado Duração Ex-cessiva da Infância Intriga Pesquisadores. Nele, aautora chama a atenção para os seguintes fatos:“Os chimpanzés estão preparados para se repro-duzir aos oito anos. Os gorilas são adultos aos seis.Mas a infância humana dura duas vezes mais doque duraria no caso de um símio de nosso tama-nho e com o nosso ritmo de crescimento”.

Logo após a leitura, percebemos que houveum possível motivo para essa infância prolongadaque nem a Professora Meridith abordou nem o feznenhum pesquisador que ela tenha citado. Trata-se de que os seres humanos têm uma capacidademuito grande de intervir nos processos da Natu-reza, havendo, portanto, a necessidade de um pe-ríodo de tempo grande para que pos-sam amadurecer intelectualmente, an-tes que atinjam a maturidade físicaque lhes permita o uso de todo o seupoder de interferência. Com isso, tal-vez, fosse evitado maior risco para aHumanidade e para a vida na Terra,de um modo geral. Infelizmente, pa-rece que as defesas naturais não foramsuficientes para impedir que um homi-nídeo mentalmente na Idade da Pedra,ainda não amadurecido aos 56 anos, seutilizasse da melhor tecnologia do séculoXXI para ameaçar 2000 anos de civiliza-ção cristã ocidental e, talvez, a própria pre-valência do Homem no Planeta.

Luís Mauro Ferreira GomesCel. Av. RR

L É verdade que muito tem sido dito sobre ainvasão do Iraque, e que a esmagadora maioriadas manifestações, em todos os rincões do mun-do, tem condenado essa barbárie covarde e irra-cional. Mas aqui, também, alguns aspectos rele-vantes não têm sido abordados pelos formado-res de opinião e pelos analistas políticos e milita-res da agressão. Uns poucos são extremamentesimples e tão óbvios que custa crer que não te-nham sido, até agora, completamente disseca-dos. Desconhecemos as razões dessas omissões,mas é, indiscutivelmente, imprescindível que asmais importantes sejam trazidas à luz.

Vamos, de início, acabar com essa bobagemde chamar de terrorismo ao emprego dos únicosmeios disponíveis para uso militar pelas naçõesmenos desenvolvidas. Ouvimos, há pouco, comgrande preocupação, um repórter chamar de ata-

que terrorista à ação de supostos ira-

“...é bom lembrar que hávalores inegociáveis sem osquais não vale a pena viver.”

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quianos que teriam lançado granadas contra umabarraca em que dormiam soldados americanosinvasores de seu país (depois de escrito o artigo,foi noticiado que o atentado terrorista não seriaobra de iraquianos, mas de um soldado das pró-prias forças de ocupação americanas insatisfeito,o que não alterou a validade da citação, já que oimportante para a argumentação é o que o repór-ter disse, e não a veracidade da afirmação). Comoterrorismo? Devemos ter muito claro que é abso-lutamente legítimo qualquer tipo de ação contrauma invasão militar, no interior do próprio territó-rio. E, quando o agressor está em guerra de con-quista e tomou a iniciativa das ações, passa a ser

um dever o uso dosmeios mais devas-tadores disponíveis,sejam quais forem.

Da mesma for-ma que não foi im-posta nenhuma res-trição aos despro-

porcionais meios americanos, aceitemos que oIraque se defenda como puder e com tudo o quetiver. Não existe terrorismo contra invasor. Essapalavra, tantas vezes generalizada e, outras tan-tas, restringida no seu significado, segundo a con-veniência de quem a emprega, somente se apli-ca a ações contra populações civis inocentes. Nomais é negar aos mais fracos o direito de auto-defesa que as grandes potências tanto prezam.

Mas, voltando ao terrorismo, não seria o pa-vor, no nome dado à operação Choque e Pavor,eufemismo cínico e mal disfarçado para terror?E as armas usadas pelos Estados Unidos, peloseu poder de fogo, e, sobretudo, pelo desmedidonúmero das bombas e dos mísseis que estão sen-do empregados, não poderiam ser consideradasarmas de destruição em massa?

Em momento de grande inspiração, Wernervon Braun comparou, certa vez, a Terra a umanave perdida no espaço, cujos astronautas enfu-recidos jogavam fora todos os seus suprimentos.Ninguém desempenha melhor o papel de astro-nauta furioso do que os Estados Unidos. Essepaís, faz tempo, vem destruindo, com intensida-de crescente que, hoje, atinge proporções devas-tadoras, os recursos naturais do nosso Planeta,

indispensáveis à sobrevivência das gerações fu-turas de todas as demais nações.

Como esses recursos estão a esgotar-se ra-pidamente, parece claro, depois dessa despro-porcional demonstração de força, materializadacom o massacre no Iraque, que os Estados Uni-dos pretendem tomar tudo aquilo de que neces-sitem, como, aliás, já vêm fazendo desde as suasorigens. Essa voracidade por petróleo não é nova.Todos ainda se lembram do ditado atribuído aoPresidente mexicano Lázaro Cárdenas (1934-1940): “Pobre México! Tão longe de Deus e tãoperto dos Estados Unidos”. Os tempos fizeramo mundo ameaçadoramente pequeno e, assim,nos colocaram, a todos, perigosamente próximosdaquele país. A melhor imagem que encontra-mos para caracterizar os Estados Unidos é a deum câncer que consome toda a energia vital doPlaneta para o seu próprio crescimento, em de-trimento de toda a Humanidade.

Está na hora de dar um basta! A experiênciahistórica mostra que a excessiva prudência não é amelhor forma de lidar com as ditaduras imperiais,que só se limitam com oposição por forças que lhescausem ou possam causar danos, sejam políticos,econômicos ou militares. No caso em questão, osEstados Unidos aceitaram o enorme desgaste po-

“Não existeterrorismo

contrainvasor.”

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lítico decorrente dailegitimidade dassuas ações, e é evi-dente que pressõespolíticas não maisproduzirão quais-quer efeitos. Com aUnião Européia divi-dida, tornam-se vir-tualmente imprati-cáveis as sançõeseconômicas. Res-tam as militares.

É um erro imaginar que ceder às pressõese aderir às posições da potência hegemônica vátrazer qualquer vantagem. Passado o conflito,aqueles que o tenham feito serão tratadoscom o desprezo que os fracos e os covardesmerecem dos poderosos. Foi assim no Im-pério Romano, foi assim na Alemanha, quan-do foram tolerantes com Hitler, que adotarapostura semelhante à dos Estados Unidosde hoje, e será assim na aventura em que seenvolveram os ditos aliados. Com exceçãoda Inglaterra e, talvez, da Austrália, todosos outros que participaram da formação dequadrilha serão descartados quando deixa-rem de ser necessários. O Brasil foi aliadona Segunda Guerra Mundial e não conse-guiu ficar, sequer, com as migalhas que so-braram da ajuda aos derrotados.

O problema é realmente muito difícil. Derammuita liberdade de ação aos Estados Unidos, eagora está quase impossível contê-lo. De qualquermodo, quanto mais o mundo demorar a perceberque é inevitável o confronto, piores serão as con-seqüências. Em verdade, nós nunca pensamos

que fôssemos ter saudade do equilíbrio propor-cionado pela União Soviética. Mas não adianta

chorar o leite derrama-do. É indispensável res-tabelecer-se a bipolari-dade, já que a tentativacom a União Européiafoi implodida pelos Es-tados Unidos, com assuas últimas ações sui-cidas. Suicidas, por-

quanto eles precisam da bipolaridade, tanto quan-to nós (o resto do mundo).

Sem nada que os limite, eles prosseguirão,de desatino em desatino, a aumentar a área deinfluência imperial, até que, por fim, desmoro-nem, ou por perda de controle, ou por incapaci-dade de arcar com os custos do aparelho militar,hipertrofiado pela necessidade de impor a força,simultaneamente, em todos os cantos do Globo,como aconteceu em todos os outros preceden-tes históricos. Já vemos sinais disso.

Mas não é aceitável esperar todo esse tempo pararecuperar a liberdade por gravidade. Alguma outra so-lução deve ser pensada. E, talvez já se esteja esboçan-do uma alternativa. Recentemente, foi noticiado queAlemanha, França e Bélgica poderiam assinar um

acordo de defe-sa mútua. Issopoderia ser oembrião do ou-tro pólo, que seconcretizariacom a adesãode todos aque-les que se opu-sessem ao pro-jeto de poderhegemônicodos EstadosUnidos.

É mais do que evidente que a superpotênciatudo fará para impedir essa e qualquer outra açãocontra suas pretensões. Mas, ironicamente, o ma-níaco Presidente Bush talvez tenha trazido a solu-ção com a sua Doutrina de Guerra Preventiva.Como já vimos, mais cedo ou mais tarde, os Esta-dos Unidos poderão atacar qualquer país que a elesse oponha ou que possua algum recurso de quenecessitem. Assim, seria absolutamente legítimoàqueles países, que disponham de armamento nu-clear, realizar um ataque preventivo contra o refe-rido possível futuro agressor.

Se um grande número de nações aderisseao acordo de defesa, entre as quais França, Rús-sia e China, os signatários do acordo reuniriamuma grande quantidade de ogivas nucleares e,também, disporiam dos mísseis para empregá-las. Esse poder de fogo, capaz de devastar os Es-

“...nuncapensamos quefôssemos tersaudade doequilíbrio

proporcionadopela UniãoSoviética.”

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tados Unidos, enquanto elesnão possuírem o Escudo Anti-mísseis, talvez fosse suficien-te para dissuadi-los de algu-mas de suas pretensões, im-pondo-lhes os limites para quese comportem como uma na-ção civilizada. Entre os fatores favoráveis pode-mos citar um possível insucesso na campanhacontra o Iraque, cujo prolongamento teria saborde derrota; a aceleração da crise que se vem de-lineando na economia americana; e uma possí-vel derrota do governo Bush nas próximas elei-ções. São cenários possíveis que, talvez, levas-sem os Estados Unidos a aceitarem, com maisfacilidade, a nova bipolaridade como um fato po-lítico bom para todos, facilitando, completamen-te, o equilíbrio nas relações internacionais.

Há, porém, um ingrediente indispensável paraque tudo isso funcione. É a determinação inabalá-vel de empregar o armamento atômico, se isso forabsolutamente necessário. Caso contrário, não ha-veria credibilidade, e os resultados seriam desas-trosos. Mas seria possível conseguir-se essa dispo-sição para o emprego de armamento nuclear? Atéagora é impossível saber, embora o que se temobservado dos diversos atores sugira que não.

A outra opção é pavorosa: viver, por períodoimprevisível de tempo, como escravos da potên-cia hegemônica fora de controle.

Há ainda outra boa motivação para o empregoda Doutrina de Guerra preventiva: também os Es-tados Unidos sabem, perfeitamente, que poderão ser,um dia, atacados por qualquer das potências nucle-ares. Assim, pela mesma Doutrina Bush, mais cedoou mais tarde eles farão o ataque preventivo. Issoreforça a ameaça, ao dar mais um motivo para o ata-que ianque. Por que não se haveriam de antecipar

os países que sesentissem pos-síveis futurasbolas da vez?

E se o cân-cer americanose tornasse in-tratável, e fossenecessário ex-tirpá-lo, isto é,

se fosse indispensável o ataqueatômico aos Estados Unidos?Bem, nesse caso, eles sairiam tãodestruídos que perderiam a capa-cidade de operar como potência,mas, sem dúvida, retaliariam, fa-zendo o mesmo com os agresso-

res preventivos. Desse modo, não haveria mais po-tências, e a desorganização política, econômica e so-cial seria completa. O paciente estaria morto. A civi-lização, tal como a conhecemos, teria desaparecido.

Mas, muito provavelmente, haveria herdei-ros. Logo, os sobreviventes iniciariam a penosatarefa da reconstrução e, apesar das dificulda-des e da escassez de recursos, dilapidados queforam pelos genitores, outra civilização ressurgi-ria das cinzas, restando-nos, apenas, esperar queela fosse melhor do que esta que os Estados Uni-dos vêm modelando, injusta e violentamente, hápouco mais de meio século e que, agora, procu-ram destruir. Se não houvesse sobreviventes? Pa-ciência. Nós seríamos mais uma espécie extin-ta. Uma entre as muitas outras que a nossa im-becilidade original já extinguiu.

Parece terrível. Mas mais terrível seria viversubjugados por um povo, cujo ditador não temcompaixão e não sabe o que é piedade. A suasede de sangue já se manifestava quando, gover-nador do Texas, trocava a vida de condenadospor votos, para satisfazer um eleitorado, ávido desangue, em um ritual macabro, ainda hoje usa-do em vários Estados americanos, que mais lem-bra os sacrifícios humanos praticados por socie-dades primitivas.

Felizmente, seria pouco provável que terminás-semos em um holocausto nuclear. Parece mais ve-rossímil, aceitas as premissas iniciais de uma novabipolaridade, que voltássemos a uma condição deequilíbrio que, embora não fosse ideal nem absolu-tamente segura, seria sem dúvida muito mais está-vel e, talvez, menos injusta do que a atual.

Em qualquer dos casos, é bom lembrar quehá valores inegociáveis sem os quais não vale apena viver.

Conseguimos sobreviver à ameaça soviética.Ajude-nos, Deus, a escapar do jugo americano.

E nunca é demais lembrar: a liberdade nãotem preço!

“Por que nãose haveriam de

antecipar os paísesque se sentissempossíveis futuras

bolas da vez?”

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REFLEXÃO

em que umas crêem em santos e outras não?Quem pode falar em nome de Deus, se Ele sim-plesmente não disse nada? Padre, pastor, pes-soas comuns fazem comércio com a palavra deDeus. Mas como uma palavra pode ser vendi-da, gerar lucros, se não é um bem material? Qualo verdadeiro poder da palavra, que leva inúme-ras pessoas a se reunirem e contemplá-la?

A Bíblia conta a história da passagemde Deus no mundo. Sacrifícios, amor, guer-ra e igualdade são relatados de forma tão

complementar que não há como distingui-las. As-sim, fica a dúvida: Jesus morreu para nos salvar, eEle é sacrificado perante milhares de pessoas emprol daqueles que O humilharam? Amor e ódio an-dam juntos, mesmo que por caminhos opostos?Essas perguntas ainda não foram analisadas comclareza, pois os dias de hoje retratam exatamenteo que ocorreu no passado. Maridos que matamsuas mulheres por amor; drogas que geram umasensação de êxtase, de felicidade e, em seguida,levam à depressão, à revolta, ao suicídio.

A vida, nesses momentos, é questionada. Temseus prós e contras. A flor é um belo exemplo pararetratar as diferentes faces de nossa existência. Sim-boliza a morte, e exalta a vida. É um consolo e, ao

mesmo tempo, “parabenização”.

Esse texto tem muitas perguntas que, em vezde respostas, retornam a si próprias. Essas ques-tões têm um ponto de referência: a reflexão. Separarmos para pensar no sentido da vida, tere-mos que resgatar sua origem para, então, che-garmos a uma conclusão. Nada mais justo querelembrar o passado para justificar o presente, eprever o futuro.

Nos dias atuais, o equilíbrio iria ser a ponteque separa o tudo do nada. O segredo é saber do-sar a quantidade de problemas com as soluções

O Sentido daVida

O Sentido daVida

Renata MagalhãesJornalista

ascer, crescer, reproduzir e morrer,diriam alguns. Outros, simplesmente ser

feliz, ou morrer: “você nasce para morrer”.Mas onde estará o sentido real de estar

vivo? A razão de estarmos neste Universo dediversos planetas e seres, e de natureza incon-testável, faz sentido a partir do momento emque buscamos Deus em nossa vida. Quem éEle? Por que tanto poder destinado a uma pes-soa, de onde Ele surgiu? Tanto quanto as res-postas, as perguntas são infinitas, e implicamna busca do desconhecido.

Complexo esse assunto: como pode algoser desconhecido, se existem tantas explicaçõesmísticas para tal fato? Por que as pessoas sedividem por religiões,

N

“...quando tudo começoua dar sentido e,paralelamente,

nada foi esclarecido.”

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REFLEXÃO

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realmente viáveis. No entanto o exagerotem transformado o mundo em umaguerra, onde somos bombardeados portodos os lados, sendo escudos e vítimasa um só tempo, gerando um ciclo vicio-so, onde o alvo está concentrado exata-mente no meio. Justamente aí é quemora o perigo: o Planeta é redondo, euma ação em qualquer ponto estra-tégico influencia os demais, pois omundo gira e, infelizmente, a flecha ati-rada acertará todos seqüencialmente.

Devido a esses acontecimentos, a individua-lidade começou a dar o ar de sua presença atra-vés de atos cruéis e crimes hediondos. Pessoassuperam as barreiras e ultrapassam o limite tole-rável. Desemprego, uso de drogas, desigualdade

social e falta de comunicação(que injusti-ça, mesmo estando a tecnologia cada vezmais avançada...) foram o estopim pararevivermos o início dos tempos, quandotudo começou a dar sentido e, paralela-mente, nada foi esclarecido.

...amor/ódio, paz/guerra, tudo/nada...precisam ter significado emnossa existência, senão vida e morteserão sinônimos, quando, na verdade,são apenas partes de uma seqüênciade princípio e fim.

Parece-nos, então, que o sentido da vida éjustamente não ter sentido em seu aspecto ge-ral, mas, sim, ser sentido no seu particular, comonos lembra Mário Quintana: “... porque são ospassos que fazem o caminho”.

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CRÔNICA

“ Autor e leitor são cúmplices

nesse processo de descobertas...”

piloto eescritor Antoine

de Saint-Exupéry buscava noscéus, nos homens e nos livros um sen-tido para a vida. Essa busca o enriqueceucomo um poço escondido enriquecia o deserto quetanto amou, e dela nasceram as experiências com-partilhadas com os companheiros e as páginas de queaté hoje tantos de nós se nutrem.

Escrever é, de alguma maneira, procurar o sen-tido das coisas. Ler é, de alguma forma, recriar essabusca. Autor e leitor são cúmplices nesse processode descobertas, tentativas, recuos e avanços rumo àcompreensão de um texto. Mais que tudo, porém,são companheiros de viagem.

Juntos eles sobrevoam um universo em perma-nente mutação, somatório de séculos incontáveis davivência humana sobre a terra ainda que algumas gí-rias ou modismos vocabulares pareçam ter nascidoontem, no apertar de um botão do controle da TV.

Algumas palavras são assim como poços escon-didos no deserto; outras têm o poder maligno dasserpentes. Em linhas ou entrelinhas, formam um te-cido a um tempo delicado e complexo, facilmentedesdobrável e não menos facilmente esgarçável.

Qual as luzes da cidade onde o piloto-escritordivisava a consciência de cada homem, as palavrasrevelam sonhos, desejos, temores, pecados e glórias:linguagem em sua humana e cotidiana forma que,vez por outra, deixa entrever uma centelha do divinoque a legitimou como bem exclusivo da espécie.

Se, entretanto, a literatura e a poesia, em parti-cular, alçaram a palavra a uma condição peculiar dearte, não menos fascinante é a linguagem nossa decada dia, reescrita e reinventada a cada momento, doprosaico ao inusitado. Na banca de jornal, no bar, naoficina, na hora do amor, na briga da esquina, nocomício, na despedida...nos gabinetes, nos quartéis,nas fábricas, nas escolas, nas ruas...

Sempre em estado permanente de diálogo, nasimbiótica relação autor-leitor, mesmo quando nãose trata de escrita propriamente dita, mas apenas doque um diz para o outro, ainda que esse outro seja o

Maria Veronica AguileraJornalista

próprio, nessaespécie de bloco do eusozinho que é o monólogo.

E assim vamos, cada qual a seumodo, construindo o sentido de nossos textos.

Texto vem do latim: textu – tecido. A lingua-gem é assim, tal como a vida, uma espécie de trama.Trama em seu significado positivo de teia, abrigo,suporte ou, negativo, de conluio, intriga, negociata.Depende muito do tecelão.

É certo que a qualidade do fio faz diferença,mas com capricho e empenho qualquer tecido podevirar uma veste real. Quantos dos que me lêem nãose recordam, por exemplo, de um simples pijama deflanela maternalmente dobrado no fundo da mala, acaminho da estação que os conduziria a um mundonovo de possibilidades infinitas? Coisas assim dememórias e sentidos...

Palavras podem edificar ou destruir. “No prin-cípio era o Verbo”, diz a passagem bíblica do Gêne-sis. Mistério e poder na conjugação dos tempos.

Soltas, elas têm lá seu significado que, a de-pender da situação, pode ser o bastante. Socorro! Éo exemplo perfeito. Precisa dizer algo mais? OuMÃE!, como no comercial da televisão. Mas elasgostam mesmo, como dizia Monteiro Lobato emEmília no País da Gramática, é de andar aos mago-tes, em bando. (Por falar nisso, dia 18 de abril foianiversário de Lobato; a ele, nossos eternos agra-decimentos). Reunidas e organizadas conforme oque se quer dizer, e, sobretudo o que se pensa, vãotramando o sentido de nossa fala, nosso discurso,nosso texto. Urdidura (salta mais uma do baú!) quese estende sobre o forro de sensações e sentimentosde que somos feitos.

O

“ Autor e leitor são cúmplices

nesse processo de descobertas...”

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Revista aeronáutica nº 239 • Maio - Junho/200318

ARTE

O processo de Este assunto sempre desperta interesse em to-dos aqueles que desejam iniciar-se na pintura. Emse tratando de um tema complexo, procurei apre-sentar o processo de criação na pintura em quatrotópicos distintos, mas interligados: o artis-ta, o objeto da pintura, as faculdades dasensibilidade e a obra. Acredito que estavisão do processo criativo serve tam-bém, de maneira análoga, aos nossosatos do cotidiano.

1. O artistaTodo homem tem um

potencial a ser atualizado.Listaremos algumas destasperfeições necessárias, cujaobtenção propiciam o criar:

Vontade – sabemos quenossos atos dependem da inte-ligência e da vontade. Assim,o desejo de tornar-se um pin-tor precisa de uma avaliaçãodeste universo plástico e do atode mover-se nesta direção comfirme vontade.

Conhecimentos técnicos –a ferramenta básica do artista vir-tuoso é o contínuo aprendizado dodesenho, luz e sombras, perspectiva,uso das cores, transparências, dentreoutros. Essas habilidades são como afundação de uma casa, sem as quaisnada será erguido.

Conhecimentos históricos – a tradiçãooral e pictórica permite aos artistas de hoje a

compreensão dos contextos históricos que per-mearam a evolução da sensibilidade humana e ar-tística, tornando-os, assim, capazes de reconhecerquais são suas fronteiras de atuação. Negá-lo oupermanecer no passado é contrariar o movimen-to do caminho da perfeição.

Prática – as artes plásticas não estão noconceito, nem na palavra; é preciso a materiali-zação da imagem. Esta constante prática con-

duz a uma adequação entre o pensamento criati-vo e a imagem reproduzida, concretizando o ato

criativo.Atelier e material de pintura – a infra-estru-

tura condizente com a pintura requer um local, sepossível, amplo, claro e arejado. Os materiais, comoa tinta, o pincel etc, devem ser de boa qualidade paraguardar fielmente as impressões no transcorrer dotempo. O atelier é um local sagrado, onde o artistafaz do seu trabalho o dispensário da sua Fé.

Maturidade – constata-se na História da pintura

Araken Hipólito da CostaCel. Av. RR

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Revista aeronáutica nº 239 • Maio - Junho/2003 19

ARTE

criação na pinturaa inexistência de precocidade em artistas. Portanto, apintura exige maturidade para expressar o conteúdo e aforça que sustenta a arte. Entendemos maturidade nohomem, quando ele deixa de brincar com sua própriavida. Logo, podemos dizer que pintura é coisa para adulto,assim como o amor, a vida...

Tempo de fazer – o mundo contemporâneoinduz ao imediatismo, aprender em dez lições, enfim,reduz todo aprendizado à rapidez de uma produçãoindustrial. A pintura não tem uma utilidade prática,imediata, ela transita no transcendente. Desta for-ma, a sua prática requer tempo proporcional ao tem-po de ver.

Tempo de ver – o olhar da propaganda, da TV,do mercado é rápido para vender bem. Por isso, oolhar do artista tem que ser calmo, sereno, sair dasaparências, do superficial e aprender a ver a essênciadas coisas. Isso exige tempo. Diante da execução deuma obra é preciso dar um tempo para ver cada passo aser feito.

Croqui mental – é impor-tante o hábito de elaborar

mentalmente aquilo que sepretende expor no supor-

te. Neste processo men-tal há uma adequação

do motivo captado auma ordenação esté-tica. Tal adequação

junto àsfaculda-des inte-

lectivas per-

mite que a sensibilidade produza arte, assim como oconhecimento.

Juízo de valor da pintura – quando avalia-mos uma situação, fundamentamos através dejuízos de valores a questão. Nos dias de hoje,existe uma tendência à banalização das coisas,fruto do pensamento débil, desprovido de uma aná-lise acurada e de um juízo de valor adequado, ge-rando o relativismo, no qual tudo vale, tudo é possí-vel. O artista precisa conhecer profundamente qualé o valor de seu ofício, para que possa exercê-lo cons-ciente da sua representação perante a sociedade.

Aprofundamento – a um pintor não basta sercurioso, ele tem que ir além, ser um estudioso. Comodiz Paul Klee: “O artista não pode ser apenas umamáquina fotográfica mais sensível”. Isto significaque não basta um olhar contemplativo perante ascoisas do mundo, mas um olhar interativo e investi-gativo, cuja ação se inicia no plano mental para de-pois viabilizá-lo na prática.

Determinação – tanto na vida como na arte,encontramos obstáculos notranscorrer do caminho. Para

superá-los, precisamos de umaforte determinação em nossavontade. O artista deve ter ple-na consciência de sua missãopara que, nos momentos de tur-bulência, mantenha impertur-bável o rumo de seu destino.

Dignidade – o artistadeve distinguir bem o que éarte do que é mercado. O mer-

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Revista aeronáutica nº 239 • Maio - Junho/200320

ARTE

cado apresenta facetas às vezes não tão nobres, insti-gando o artista à perda da ética profissional. Cabe aoartista reagir, pautando-se na reta ordenação de seusatos. O homem de reto agir é exemplo de conduta parao próximo e, portanto, transformador da sociedade.

Amor – o homem conduz o seu pensar e seu agirem diversas direções, procurando compreender e mo-bilizar suas potencialidades para sua vida. No entanto,só o amor é capaz de aglutinar todos os pensamentose manifestações da sua vida e da sua relação com ooutro. Só na vivência do amor a arte e a vida têmsentido. O artista deve lembrar que a criação domundo, das coisas e de todos os seres é um atodo amor de Deus, gerando toda beleza e todaperfeição. Cabe ao artista, despido de qualquerpresunção, mover-se no amor, a fim de permitir ver

para além dos sentidos da visão,através dos olhos do coraçãoe da razão e, assim, aproxi-mar-se gradativamente da be-leza, da perfeição, da verda-

de e de Deus.

2. Objeto da pinturaO único ser capaz de

criar é o homem. Verifica-seque o homem intervém noambiente natural que o cerca,criando assim o progresso, acultura e a arte.

Neste contexto, surgea pintura como uma dasmanifestações mais antigas

da arte, a qual, ao longo daHistória da Humanidade,

mostra a expressão profundada espiritualidade da alma huma-na. A capacidade de concebernoções abstratas, universais, oessencial, permite ao homem en-tender através dos transcenden-tais os aspectos do ser. Sua dedu-

ção metafísicaapresenta-sedesta forma:todo ser é uno,verdade i ro,bom e belo.

O artista, por meio de sua sensibilidade, captaa beleza transcendente nas coisas criadas e faz,então, do belo o objeto da sua pintura. Assim, abeleza torna presente a força contundente da graçae do mistério da vida na pintura.

3. As faculdades da sensibilidadeA beleza foi impregnada em todos os seres no

momento de sua criação por Deus. O artista procura,então, interpretar a realidade através das suas facul-dades. Diz Aristóteles, filósofo do séc. IV a.C.: “Nadaestá no intelecto que não tenha passado pelos senti-dos”. Deste modo, o objeto da pintura é percebidopelos sentidos, captado pelo intelecto e, por meio daabstração, torna-se uma das faculdades cognitivasfundamentais da alma humana; para o processode conhecimento e criação, o artista elabora o seucroqui mental (conceito). Entendemos abstraçãocomo sendo o ato pelo qual o intelecto agente fixa-seem um determinado aspecto da coisa (essência),deixando de lado outros aspectos.

Em seu processo criador, o artista utiliza os trêsgraus de abstração: Física, Matemática e Metafísica.Na abstração física, são consideradas as qualidadessensíveis das coisas, como: cor, luz e sombra, trans-parência etc. Na abstração matemática, considera-sea quantidade, como comprimento, largura, superfí-cie, volume e perspectiva. Já na abstração metafísi-ca, o ser do objeto é considerado, prescindindo-sede toda quantidade e de toda qualidade. Tal é amagnitude da beleza, que ela torna visível o espíritoe o esplendor da graça. Em verdade, a beleza é ocorpo do espírito.

4. A obraAs mãos do artista, por mais modesta que seja

a tarefa a ser executada, são parte essencial do pro-cesso criativo. O manuseio das tintas sobre a telabranca é sempre uma experiência rica, por se tra-tar da adequação da imagem mental à imagem im-pressa. Esta adequação reflete o trabalho do pin-tor em expor a beleza percebida e dar forma dentrodo espaço limitado da tela. Diz Santo Agostinho:“Não se pode conter o infinito no finito”. Porém,cabe ao pintor iluminar o belo que permanece emtodo ser criado. Com efeito, quando o artista, pelouso do belo, materializa a imagem e o espírito, tor-na a obra viva para sempre.

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SOLIDARIEDADE

Aviação, Cidadania eDesenvolvimento Social

Aviação, Cidadania eDesenvolvimento Social

“...há um Brasildesconhecido daqueles

que trafegam pelaspontes aéreas...”

Rocindes José CorreaTen.-Cel. Av. RR

esfrutar dos be-nefícios da Avi-

ação tem sido umprivilégio de poucos.Está limitado à Avi-ação Militar, comsofisticados aviõesde combate e basesaéreas de tecnologiaavançada, ou aos re-finados aeroportos,com pessoas apres-sadas que buscamrealizar, de formamais eficiente seusnegócios ou lazer.

Entretanto háum Brasil desconhe-cido daqueles quetrafegam pelas pontes aéreas ou pousam em pis-tas rastreadas por radares de última geração.Um país repleto de necessidades sociais quepoderiam ser minoradas com o uso do avião.Comunidades estão isoladas pelas grandes dis-tâncias: pela Selva Amazônica; pelas águas, noPantanal; e pela seca, no Nordeste. Os inúme-ros recursos só podem chegar a eles por umtransporte aéreo solidário e filantrópico.

A idéia de utilizar o avião com objetivospacíficos e humanitários fazia parte do sonho

de Santos-Dumont.O Pai da Aviação fezvários apelos públi-cos e, em 1926, che-gou a apresentaruma solicitação for-mal a Sociedade dasNações, organiza-ção precursora daONU, pedindo a in-terdição das máqui-nas aéreas como ar-mas de guerra.

Aluízo Napo-leão, na biografiaSantos-Dumont e aConquista do Ar,comenta que o qua-dro depressivo do

nosso inventor, nos últimos dias de sua vida,estaria relacionado à decepção por ver sua in-venção largamente empregada como meio dedestruição, durante a Primeira Guerra Mun-dial e na Revolução Constitucionalista de 1932,em São Paulo.

A História da Aviação brasileira possuioutros marcos de significativa contribuição so-cial. As asas do Correio Aéreo Nacional, du-rante décadas, serviram à integração nacionalvisionada por Montenegro e Eduardo Gomes,

DDDDD

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SOLIDARIEDADE

deixando um rastro de assistência a inúmerascomunidades que de outra maneira jamais se-riam lembradas.

Por muitos anos, o Projeto Rondon levoujovens universitários e seus professores dasprincipais cidades do país às mais remotas re-giões, conduzidos pelas asas da Força AéreaBrasileira, permitindo-lhes, não apenas servi-rem estas comunidades, mas principalmente,desenvolverem o senso de nacionalismo, conhe-cendo as diversas realidades brasileiras, expe-riências que por outras vias dificilmente che-gariam aos bancos das faculdades.

Infelizmente, o sonho de Santos-Dumontficou para trás, as imagens mais comuns quevemos nos noticiários, não são de aviões trans-portando médicos, remédios ou alimentos, sãocenas de desembarque de tropas e de lançamen-to de bombas e mísseis de alta tecnologia, ape-sar de ainda existirem no globo tantas áreas depobreza, miséria e fome.

Também ficaram para trásoutros sonhos. Por razões políticas e

econômicas, o Projeto Rondon e o CANforam praticamente extintos. É certo que os

orçamentos militares precisavam dar priorida-des para a missão constitucional das Forças Ar-madas. O que lamentamos é não ter, até agora,surgido nenhuma proposta viável capaz de darcontinuidade a estes projetos, que tantos servi-ços prestaram à nação, em suas áreas mais ca-rentes e isoladas do Norte e Nordeste.

Uma coisa é certa, alternativas precisamsurgir, por iniciativa de qualquer segmento da

sociedade e mesmo tendo a participação oucoordenação de órgãos governamentais, teráobrigatoriamente que contar com a AVIAÇÃO,devido às características geográficas de nos-so país, suas grandes distâncias e barreiras na-turais. A Amazônia Legal ocupa 52% do terri-tório nacional, com mais de 85.000 km de riose milhares de comunidades ribeirinhas.

Recentemente o Jornal Nacional mostrouum grupo de voluntários que se desloca regu-

larmente, de caminhão, de São Paulo àBahia prestando assistência em comu-nidades no Polígono da Seca. Como che-gariam ao Oiapoque ou Tabatinga?Quanto tempo eles gastariam?

O momento é propício a esta re-flexão. O Presidente Luís Inácio Lulada Silva convoca a nação para umamobilização social, e ainda temos namente a imagem do Sociólogo Herbert

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Revista aeronáutica nº 239 • Maio - Junho/2003 23

SOLIDARIEDADE

de Souza, o Betinho, com sua men-sagem de conscientização da Açãoda Cidadania.

No meio empresarial vem au-mentando gradativamente a questãoda responsabilidade social. A conhe-cida revista EXAME já considera esteitem no estabelecimento do rankingdas maiores empresas do país.

Hoje a sigla ONG (organizaçãonão governamental) já não está, obri-gatoriamente, vinculada às institui-ções externas, que muitas vezes re-presentam ou estão ligadas a interes-ses internacionais.

O campo das atividades filantrópicas estáconquistando seu espaço no Brasil e já é cha-mado de Terceiro Setor, estando cada vez maisestruturado e profissionalizado. O Governotem observado a tendência e a legislação vemsendo modernizada.

A instituição Asas de Socorro é um exem-plo de profissionalismo/voluntariado na apli-cação de tecnologia de aviação em serviço so-cial no país.

Voando na Amazônia há mais de 47 anos,opera em frota de dez aeronaves, com mais detrinta técnicos de aviação, entre pilotos e me-cânicos. Possui uma oficina de manutençãoaeronáutica e uma escola de Aviação, voltadapara a formação de pilotos com orientação fi-lantrópica. Atua com cinco bases de operaçõesnas regiões Norte e Centro-Oeste.

Voando mais de 2.000 horas por ano, mo-biliza profissionais de saúde de todo o país quechegam, de avião, às comunidades isoladas,dando cerca de 20.000 atendimentos médicose odontológicos. Além de projetos de desen-volvimento comunitário.

Pelos serviços prestados, possui o títulode Utilidade Pública Federal e Registro noConselho Nacional de Assistência Social, sen-do assim a única organização aeronáutica doTerceiro Setor.

Em recente convênio, uma empresa de Li-nha Aérea doa passagens para profissionais quese deslocam às regiões Norte e Nordeste e láembarcam nas pequenas aeronaves de Asas deSocorro, acessando as localidades remotas, emalguns casos de hidroavião.

São exemplos como esses que mostram queos sonhos de brasileiros como Santos-Dumont,

Eduardo Gomes e Rondon ainda estão vivos.No momento em que outros segmentos

estão se mobilizando, é preciso que Aviaçãobrasileira: aeronautas, aeroviários, empresá-rios, aeroclubes e DAC e FAB levantem vôopara, uma vez mais, cumprirem seu históri-co papel.

Alguém, em algum lugar deste país, aguar-da o nosso pouso, levando a bordo a preciosacarga da solidariedade.

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Revista aeronáutica nº 239 • Maio - Junho/200326

VISÃO DOS FATOS

amais, nenhum jogador de xadrez descobriu um meioseguro de ganhar a partida no primeiro lance, pois o

jogo encerra um sem número de variáveis.A guerra, embora não seja um jogo de xadrez e sim um

fenômeno social, possui um número de variáveis infinitamentemaior. Algumas fogem a quaisquer análises, como, por exem-plo, a sorte. Não obstante, o acúmulo de experiências e osestudos geraram livros e documentos que podem ser defini-dos como as Leis da Guerra, embora não possuam, como énatural, o mesmo valor das Leis da Física.

Uma dessas leis diz que o contingente mais forte ge-ralmente é vitorioso. Se os contendores têm forças seme-lhantes, ganha o mais resoluto. Sendo igual a resoluçãodos dois lados, a vitória pertencerá àquele que assume emantém a iniciativa.

Essas são as chamadas Leis da Guerra. Elas podemvariar de época em época, na medida em que mudam atecnologia, os armamentos e outros fatores, mas, de modogeral, conservam seu valor.

A Guerra Revolucionária, todavia, constitui uma ex-ceção, pois tem normas especiais, diferentes daquelas rela-tivas às guerras convencionais e também porque a maiorparte das regras aplicáveis para um lado não é válida parao outro, pois numa luta entre uma mosca e um elefante, amosca não pode aplicar um golpe fulminante e nem oelefante pode voar. Na Guerra Revolucionária, em que

um dos lados é o rebelde e o outro o contra-rebelde, nãosão válidas as Leis da Guerra. Nesse tipo de guerra, a Inte-ligência e o Apoio da População são fundamentais.

A Guerra Revolucionária poderá ser definida, então,como um conflito interno, desafiando um poder local,embora quase sempre afetado por influências externas.

Mais: uma rebelião pode ter início muito antes dorebelde recorrer à força.

Foi assim na chamada Guerrilha do Araguaia(1972-1974). A rebelião começou a ser gestada nos idosde março de 1964, ainda no Governo de João Goulart,quando o primeiro grupo de militantes do Partido Comu-nista do Brasil foi mandado à China, a fim de receber trei-namento militar. Ou mesmo, talvez, antes, quando foi cons-tituído o partido, em fevereiro de 1962, definindo comoopção a luta armada através da Guerra Popular Prolongada.Portanto, o início de uma Guerra Revolucionária é tão vagoque buscar determinar exatamente quando ela teve iníciotransforma-se em um problema legal, político e histórico.

No decorrer desse tipo deconflito, o rebelde tem que setransformar de pequenoem grande, de fraco emforte, pois senão fracassa-rá. Na razão direta do re-belde, a tendência é a do

Carlos Ilich Santos AzambujaHistoriador“A Guerra Popular é prolongada, visto que no início o inimigo é

forte e as forças populares débeis. Porém, a cada dia quepassa, os papéis vão se invertendo. Essa inversão acarretaráo controle de amplas zonas rurais e, em conseqüência, ocerco da cidade pelo campo, compreendendo-se como cidadeos locais onde a repressão é taticamente forte, pois aí selocalizam suas bases e quartéis”.

(Mao Tsé-tung)

“... nenhuma academiamilitar ensina aos

cadetes como ganharuma populaçãopoliticamente.”

J

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Revista aeronáutica nº 239 • Maio - Junho/2003 27

VISÃO DOS FATOS

contra-rebelde, no decorrer do conflito, passar de grande apequeno e de forte a fraco. Essa é a principal assimetria quedistingue a Guerra Convencional da Guerra Revolucioná-ria. Esta tem as seguintes características:

OBJETIVO: A POPULAÇÃOO rebelde busca levar a luta para um terreno dife-

rente daquele em que é travada a guerra convencional, ondeele terá melhores possibilidades de equilibrar suas desvan-tagens físicas. Esse terreno é a população. Se o rebeldeconsegue dissociar a população do contra-rebelde, con-trolá-la fisicamente, obter seu apoio ativo, vencerá a guer-ra, porque, em última análise, o exercício do poder políti-co depende da aquiescência tácita ou explícita da popula-ção ou, na pior das hipóteses, de sua passividade. Issotorna a batalha pela população uma das principais caracte-rísticas da Guerra Revolucionária

A GUERRA REVOLUCIONÁRIA É UMAGUERRA POLÍTICA

Na Guerra Convencional, a ação militar, a diploma-cia, a propaganda e a pressão econômica são os principaismeios de atingir a meta visada. Em conseqüência, torna-serelativamente fácil a distribuição de tarefas entre o gover-no, que dirige as operações; a população, que proporcionaos meios; e os militares, que os utilizam.

N a Guerra Revolu-cionária, con- tudo, a situação é di-ferente, pois o ob- jetivo principal é a po-pulação e as operações destinadas a conquistá-la ou, pelomenos, mantê-la passiva. Essas ações são essencialmente po-líticas. Daí que as ações políticas conservam a preponderân-cia durante todo o transcurso da guerra. No entanto, é tãocomplexa a interação das ações políticas com as ações mili-tares que elas não podem ser claramente separadas entre si.Pelo contrário, todos os lances militares têm que ser consi-derados com relação aos efeitos políticos, e vice-versa.

Os rebeldes, conduzidos por um partido e cujas for-ças armadas são os militantes do partido, desfrutam deuma óbvia vantagem sobre seu oponente, o governo, quepode ou não ser apoiado por um partido ou um grupode partidos, muitas vezes com tendências centrífugas, ecujo exército é o Exército da Nação, nele refletindo-se oconsenso ou a falta dele. Mais ainda: nenhuma academiamilitar ensina aos cadetes como ganhar uma populaçãopoliticamente.

A TRANSIÇÃO GRADUAL DAPAZ PARA A GUERRA

Na guerra convencional a transição da paz para a guerraé brusca e o primeiro impacto poderá ser o decisivo.

Na Guerra Revolucionária isso é dificílimo, por-

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VISÃO DOS FATOS

que o agressor – o rebelde – carece, no início, de forçasuficiente. Podem passar anos, como ocorreu na Guer-rilha do Araguaia, antes do rebelde sentir-se em condi-ções de obter um poder político significativo e, muitomais, de obter um poder militar. Nessa situação, o re-belde não tem qualquer interesse em causar um impac-to até sentir-se plenamente capaz de suportar a reaçãodas forças governamentais. No Araguaia, os rebeldesdispuseram de um escasso poder militar, mas nuncaobtiveram poder político e a aquiescência da popula-ção. Retardando o mais possível o momento do im-pacto, o rebelde protela a reação. O retardo, ainda mais,pode ser prolongado pelo fato de a população não tersido, ainda, ganha politicamente.

A GUERRA REVOLUCIONÁRIA É UMAGUERRA PROLONGADA

A natureza prolongada de uma Guerra Revolucio-nária não resulta do desejo de nenhum dos lados. Ela éimposta ao rebelde por sua debilidade inicial. Ela só serácurta se o governo desmoronar prematuramente – comoocorreu em Cuba, em 1959, onde o regime de FulgêncioBatista desintegrou-se e, ele próprio, abandonou o país –ou se um acordo político for alcançado, como ocorreu naTunísia, no Marrocos e em Chipre.

Recorde-se que na China a Guerra Revolucionária du-rou 22 anos, 12 na Malásia, nove na Indochina, oito na Ar-gélia, cinco na Grécia, quatro no Marrocos e três na Tunísia.

A REBELIÃO NÃO É DISPENDIOSA, AOCONTRÁRIO DA CON-

TRA-REBELIÃOA promoção da desor-

dem é o objetivo do rebelde,pois desagrega a economia,causa insatisfação e serve parasolapar a força e a autoridadedo governo. A criação da de-

sordem não é dispendiosa, masde custosa prevenção. O rebelde,

ao explodir uma ponte ou uma torre detransmissão de energia, obriga a que todas as demais se-jam vigiadas; ao fazer explodir uma bomba em um ci-nema, obriga a que todos os freqüentadores de todos oscinemas passem a ser submetidos a uma revista; quandoo rebelde queima uma fazenda, todos os fazendeiros pas-sam a clamar por proteção e, se não a recebem, podemser tentados a organizar milícias de defesa armada. Tam-

bém através de simples telefonemas anônimos, avisandosobre supostos artefatos colocados em terminais rodo-viários, ferroviários ou aeroviários, os rebeldes podemcausar anarquia nos horários do sistema de transportes eafugentar turistas.

O governo, ou seja, o contra-rebelde, não pode fu-gir à responsabilidade de manter a ordem, o que causauma desproporção elevada de despesas entre ele e o re-belde. Todavia, mais cedo ou mais tarde, é alcançado umponto de saturação, um ponto em que o princípio da pro-dutividade regressiva funciona para ambos os lados, poisuma vez que o rebelde consiga o domínio de bases geo-gráficas estáveis, ele se tornará um forte promotor da or-dem dentro de sua área.

Nesse sentido, o rebelde, em virtude da disparidadeem custo e esforço, pode aceitar uma guerra prolongada,mas o contra-rebelde não deve fazê-lo, pois o custo seriamuito alto para o país.

A FLUIDEZ DO REBELDE E A RIGIDEZDO CONTRA-REBELDE

Por não ter responsabilidades e nem valores concre-tos, o rebelde é fluido. O contra-rebelde, por sua vez, porter ambos, é rígido. Se o contra-rebelde quisesse ver-selivre de sua rigidez teria que renunciar ao governo legal dopaís e abandonar seus bens concretos, deixando tudo àmercê dos rebeldes. Todavia, nenhum governo jamais seatreveu a lançar mão desse recurso extremo.

O rebelde é obrigado a permanecer fluido, pelomenos até chegar a um equilíbrio de forças com o go-verno. Por mais desejável que seja para o rebelde possuirterritórios, forças regulares, equipamentos e armas po-derosas, possuí-las prematuramente poderá sentenciá-loà morte. Historicamente, o fracasso dos rebeldes comu-nistas na Grécia pode ser atribuído, em parte, ao riscoque passaram a correr ao organizar suas forças em bata-lhões, regimentos e divisões e aceitaram a guerra con-vencional.

Na Guerra Revolucionária, portanto, e até ser alcança-do o equilíbrio de forças, somente o rebelde pode realizaroperações de bater-e-correr, porque o contra-rebeldeoferece alvos fixos. E somente ele, o rebelde, estará livrepara aceitar ou recusar uma batalha.

A rigidez para um lado e a fluidez para o outro sãotambém determinadas pela natureza das operações. Parao rebelde, elas são relativamente simples: promover de-sordens sob todas as formas, no sentido de desintegrar edesacreditar o governo. Já o governo tem que levar em

“A promoção dadesordem é o

objetivo do rebelde,pois desagrega a

economia...”

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VISÃO DOS FATOS

conta a necessidade de proteger as populações, a econo-mia e defender-se contra os ataques inesperados dos re-beldes, além de ter que coordenar todos os componentesdas forças da ordem: os governantes, os policiais, os sol-dados, os assistentes sociais etc.

O PODER DA IDEOLOGIAA menos que tenha uma causa bem fundamentada

capaz de atrair a população, o rebelde não terá condiçõesde empenhar-se vitoriosamente em uma rebelião. No co-meço das hostilidades, essa causa é tudo o que ele possui ea força da ideologia trabalha em seu favor. Um governo,desde que confrontado por uma ideologia rebelde dinâ-mica estará fadado à derrota uma vez que não existemtáticas e nem técnicas que se possam contrapor a uma des-vantagem ideológica, embora a atitude da população sejaditada não tanto pela relativa popularidade da causa dosrebeldes, mas pelas preocupações com sua própria segu-rança. Qual dos lados proporciona a melhor proteção,qual o mais ameaçador, qual vencerá provavelmente? Es-ses são os critérios que determinam, em última análise, aposição da população.

A PROPAGANDA, UMAARMA UNILATERAL

Não tendo responsabilidades, o rebelde está livrepara lançar mão de quaisquer truques. Pode mentir, en-ganar e exagerar, pois não está obrigado a oferecer pro-vas. O rebelde é julgado pelo que promete e não peloque realiza. Dessa forma, a propaganda é, para ele, umaarma poderosa.

Os governos, por sua vez, estão presos às suasresponsabilidades e ao seu passado e, para eles, os fatosfalam mais alto que palavras. Eles são julgados pelo quefazem, ou fizeram, e não pelo que dizem. Caso mintam,enganem, exagerem e não provem, poderão alcançaralguns êxitos efêmeros, mas ao preço de cair para sempreno descrédito, pois a oposição política legítima logodesvendaria e denunciaria suas manobras psicológicas. Ra-ramente os governos podem, através da propaganda, en-cobrir uma política má ou inexistente.

A GUERRA REVOLUCIONÁRIAPERMANECE NÃO-CONVENCIONAL

ATÉ O FIMCom o rebelde, no decorrer das hostilidades, ganhan-

do força e passando a possuir forças regulares significativas,seria de supor que a guerra passasse a ser convencional, ou

seja, uma guerra em que cadaum dos contendores detém uma

parte do território nacional. Mas, se o rebelde bem compre-ende seus problemas estratégicos, não deixará jamais que aGuerra Revolucionária assuma uma forma convencional.

Uma das razões é que desde o início da GuerraRevolucionária, obrigatoriamente o rebelde terá envolvi-do a população no conflito, pois a ativa participação dapopulação é, como já vimos, uma condição sine qua nonpara o êxito da guerrilha. Uma vez tendo obtido a van-tagem decisiva de ter a população a seu lado, por quehaveria o rebelde de abandonar esse fator, que lhe con-feriu a fluidez e a liberdade de ação que o contra-rebeldenão pode alcançar?

A DOUTRINA DE FRONTEIRATodos os países são divididos, para fins administrati-

vos, em Estados, Municípios, Distritos, Zonas etc. Asáreas fronteiriças são um constante fator de fraqueza parao contra-rebelde, quaisquer que sejam as estruturasadministrativas. Essa vantagem é, quase sempre, explo-rada pelos rebeldes, principalmente nos estágios iniciais darebelião. Passando de um para o outro lado das frontei-ras, o rebelde pode, com freqüência, escapar à pressão e,pelo menos, complicar as operações para o seu adversá-rio. Operar nos limites das fronteiras seja entre países ouEstados, é, para o rebelde, uma questão de doutrina.

AS CONDIÇÕES GEOGRÁFICASO papel da Geografia, importante numa Guerra

Convencional, pode tornar-se decisivo numa Guerra Re-volucionária. Se o rebelde, com sua debilidade inicial, nãoconseguir tirar partido da geografia, é bem possível queseja logo eliminado.

Alguns efeitos de fatores geográficos são fatores de-cisivos, como a localização do país, sua extensão e confi-guração, as fronteiras internacionais, o terreno, o clima, otamanho da população e o grau de desenvolvimento esofisticação da economia.

APOIO EXTERIORO apoio exterior a uma Guerra Revolucionária pode

tomar as seguintes formas:* Apoio Moral – desse apoio o rebelde se beneficiará

sem qualquer esforço de sua parte, desde que sua causa secoadune com os ventos da História. Por exemplo: na lutapela libertação de Angola e pelo fim do apartheid na Áfricado Sul, os rebeldes se beneficiaram de um considerável

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VISÃO DOS FATOS

apoio moral, que se expressou, fundamentalmente, pelopeso da opinião pública internacional e dos meios de co-municação. A propaganda é o principal instrumento deapoio moral. É usada para fermentar a opinião públicaquando esta se mostra adversa, ou para reforçar a simpa-tia do povo, se existente;

* Apoio Político – representa uma aplicação dire-ta de pressão sobre o contra-rebelde, ou indireta, medi-ante ações diplomáticas nos fóruns internacionais. Nessesentido, recorde-se que no caso de Angola muitos paísesromperam relações diplomáticas com Portugal que, tam-bém, foi excluído de várias organizações internacionais,como a Organização Internacional do Trabalho, porexemplo;

* Apoio Técnico – pode consumar-se na forma deassessoria ao rebelde para a organização do movimento epara a condução de suas operações políticas e militares,ou pode ser simples treinamento militar, como ocorreucom o núcleo que a partir de 1966 se instalou no Araguaia,que recebeu treinamento militar em Pequim;

* Apoio Financeiro – pode ser aberto ou encober-to. A Intentona Comunista, por exemplo, recebeu decisi-vo apoio financeiro do Komintern, sendo que até LuizCarlos Prestes era um assalariado da 3ª Internacional,conforme está documentado no livro Camaradas escritopor William Waak.

* Apoio Militar – seja através de uma intervençãodireta, ao lado dos rebeldes, seja pelo fornecimento deequipamento e meios de treinamento. Um número consi-derável de guerrilheiros urbanos brasileiros, por exemplo– cerca de 250 – nas décadas de 60 e 70, recebeu treina-mento militar e apoio financeiro do Estado cubano.

Todavia, nenhum apoio exterior é de absoluta neces-sidade no início de uma rebelião, embora sua utilidade seja

inegável, pois a fase militar inicial de uma rebelião, seja elaguerrilha urbana ou rural, pouco exige em matéria de equi-pamentos, armas, munições e explosivos, já que esses pro-dutos são encontrados localmente, podem ser expropria-dos ou contrabandeados.

Entretanto quando o rebelde vislumbra o momentode passar para uma forma mais complexa de operações,a necessidade de suprimentos maiores e mais variados torna-se aguda. Ou ele os captura do contra-rebelde ou essessuprimentos terão que ser obtidos no exterior. Sem eles, odesenvolvimento do poderio militar rebelde torna-se im-possível. Todavia, por outro lado, se o auxílio exteriorpuder ser obtido com excessiva facilidade, isso poderáintroduzir um excesso de confiança nas fileiras rebeldes, oque se tornaria um fator de debilidade tão logo esse auxí-lio, por qualquer motivo, fosse interrompido.

Concluindo, a SITUAÇÃO IDEAL PARA O RE-BELDE será: uma causa; uma fraqueza política ou admi-nistrativa do governo; um ambiente geográfico não muitohostil; apoio externo nos estágios médio e final da rebe-lião. As duas primeiras situações são indispensáveis e a úl-tima poderá tornar-se uma necessidade.

Essas características gerais da Guerra Revolucionáriaconstituem um produto inelutável desse tipo de guerra.Um rebelde ou um governo (contra-rebelde) que condu-za a guerra de forma oposta a quaisquer das característicasacima enunciadas, certamente será derrotado ou, pelomenos, diminuirá em muito suas possibilidades de êxito.

Num Estado Democrático de Direito, a teoria pre-valecente é a de que os atos terroristas de uma GuerraIrregular sejam qualitativamente idênticos às violações diá-rias normais das leis. Esse é o principal problema que oEstado de Direito enfrenta ao combater o inimigo naGuerra Irregular. No Estado de Direito existem dois ti-pos de pessoas: o cidadão correto e o criminoso. O ter-ceiro tipo de pessoa, aquele que conduz uma Guerra Irre-gular, não existe.

Aqueles que promovem uma Guerra Irregular nãoconhecem quaisquer obrigações, pois nada os submete àobediência da lei civil e nada há que os submeta às leis daguerra. Em contraposição, o Estado de Direito é subme-tido em todos esses aspectos. E mais: aqueles que promo-vem a Guerra Irregular podem explorar totalmente aspossibilidades jurídicas que lhes são proporcionadas peloEstado Democrático de Direito.

Em suma, a Guerra Revolucionária é uma guerrasuja e nela são empregados todos os meios. Até mesmoos legais.

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MUSAL

o mundo contemporâneo, há uma situação queprovoca algumas reflexões: enquanto a globa-

lização e a informática são realidades que nos cer-cam, observa-se, como uma das questões nacionais,a falta de oportunidades educativas.

O Museu Aeroespacial, sendo instituição de ca-ráter educativo, volta-se para esta questão, visandoser cooperador com todo esforço que objetive a re-versão deste fato social.

Dentre as Unidades do COMAER, o MUSALdestaca-se por permitir um contato direto com o maisabrangente e diversificado público.

Como difusor de cultura, o MUSAL tem a hon-rosa atribuição de transmitir às gerações futuras osfeitos vitoriosos de nomes da Aviação brasileira, co-locando em relevo o patrimônio histórico e culturalda Aeronáutica.

Nos dias de hoje, torna-se inegável que os mu-seus devem utilizar-se de processos, equipamentos emecanismos que propiciem a transmissão de conhe-cimentos, fazendo uma ponte entre o passado e opresente vinculados à cultura e ao lazer.

No ano de 1998, a Gazeta Mercantil divulgouuma matéria intitulada “O Museu do Século XXI”,que profetizava que os museus, impulsionados pelomarketing, pela tecnologia e pela mídia, seriam obriga-dos a rever suas formas de apresenta-ção, devendo multiplicar suas atraçõesantes que houvesse uma crise.

Interatividade Educativa:Sahara Burity Fernandez CyrinoCap. QFO Mus.

Um museu que ilustra bem esse novo conceitomuseológico é o Museu de Ciência e Tecnologia daPUC-RS. Ocupando uma área de 12.500 m2, oferececerca de 600 experimentos interativos, dentre eles o Gi-roscópio. Nesse aparelho, o visitante é fixado e gira 360ºpara entender como o organismo se adapta à baixa forçade gravidade, à semelhança dos astronautas no espaço.

Com base nessa concepção e nos grandes nomesdo Ensino como Piaget e Vigostsky, que postularamem suas teses que o homem não é apenas ativo, masacima de tudo interativo, nasce uma nova propostapara o MUSAL: a Interatividade Educativa, com a fi-nalidade de transformar seus espaços expositivos emambientes revitalizados, fascinantes, motivadores edinâmicos. A partir do acervo do MUSAL podem serdesenvolvidos os mais variados temas, como Inven-tando com Santos-Dumont (recriação de inventos),Ligando as Turbinas (acionamento de motores),Combatendo na Segunda Guerra Mundial (jogoscom superação de obstáculos).

Dentre as inúmeras vantagens advindas da im-plantação deste projeto, destacam-se a promoção daeducação informal e o incentivo de uma mentalida-de que valorize a carreira militar despertando voca-ções, principalmente nos jovens.

A construção da imagem positiva de uma insti-tuição depende do que ela represen-ta na vida de cada integrante da so-ciedade. Enriquecer vivências edespertar um reconhecimentoquanto ao legado dos heróis da Ae-ronáutica brasileira, através de es-tratégias educativas, é um caminho.

Essa nova proposta está sendoconsiderada numa futura remodela-ção do MUSAL, quem sabe integran-do-a às comemorações do Centená-rio do vôo do 14-Bis, em 2006.

Numa nova proposta para o MUSAL

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CONTEXTO

eliminação da bipolaridade mundial (conflitoEste/Oeste) desencadeou um processo de al-

teração da rationale que geria as doutrinas e estratégi-as militares em todo o mundo civilizado. E o Brasilnão ficou imune a tais mudanças.

A suposta aparente inexistência de um inimigo criouuma crise de identidade nas sociedades de todo o mun-do, que conduziu à formulação de questões do tipo:

– para quê existem as Forças Armadas?– quanto custa (e vale a pena) mantê-las?– o quê os países recebem de volta pelo dispên-

dio que fazem com as Forças Armadas?O pressuposto central desse pensamento é que,

eliminada a Guerra Fria seria possível reduzir os or-çamentos militares em geral. Como conseqüência,os corolários dessa tese (e que vem sendo patrocina-da pelos membros do G7) seriam:

– os arsenais militares do Terceiro Mundo (so-mente) deveriam ser congelados no ponto em que es-tão, e auditados através de uma inspeção e decisãodo Conselho de Segurança da ONU;

– o Conselho de Segurança da ONU proibiria odesenvolvimento, a fabricação e/ou aquisição de ar-mas nucleares, químicas ou biológicas, assim comoartefatos balísticos, por parte das Nações que aindanão as possuem (leia-se Terceiro Mundo);

– os países que violassem as resoluções da ONUficariam submetidos a sanções importantes por parteda comunidade internacional, não só de caráter eco-nômico como (e principalmente) militar;

– caso as sanções não alterassem o comporta-mento dos transgressores, uma Força Militar da ONU

Os Militares e a

receberia mandato para eliminar a capacidade pro-dutiva e quaisquer estoques de artefatos mi -litares que tivessem sido produzidos e/ou adquiri-dos por esses infratores.

Em contrapartida à sua desmilitarização, os pa-íses do Terceiro Mundo receberiam garantias da ONUpara a preservação de suas fronteiras, seja atravésde ações econômicas como militares, impostas pordecisões políticas desse organismo internacional oupela utilização de Forças Multinacionais, contra uminimigo que viesse a existir e que viesse a colocar emrisco o país garantido.

Em assim sendo, novas atribuições vêm de seratribuídas ao Clube dos Ricos (G7), liderado pelosEUA, e que pretende dar às Forças Armadas do Ter-ceiro Mundo (América Latina) uma atuação de cará-ter policial, com ênfase no combate ao narcotráfico.Inserido nesse conceito, estaria o chamado nível óti-mo para despesas militares: no máximo 2% do PNBde cada país do grupo assistido.

Esse nível fixado não afetaria o Brasil, já que nos-so (ridículo) dispêndiomilitar está abaixo de0,7% do PNB. Entre-tanto o que mais nos afe-

NovaOrdemMMaj.-Brig.-do-Ar Ref.Lauro Ney Menezes

“...eliminada aGuerra Fria seriapossível reduziros orçamentos

militares em geral.”

A

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CONTEXTO

ta é a proibição de prosseguir nas pesquisas científicas(incluindo nucleares e missilísticas-balísticas).

Existem, portanto, duas alternativas para a fu-tura estratégia das Forças Armadas sul-americanasno cenário mundial atual (nisto incluído o Brasil):

– aceitar o papel que lhes é atribuído e se trans-formarem em superpolícia, sob a direção da DrugsEnforcement Agency americana (DEA);

– rejeitar essa opção e continuar no desenvolvi-mento de pesquisas que lhes dêem um potencial paraadquirir capacidade profissional (inclusive nuclear emissilística), incorrendo no risco de sofrer as possí-veis sanções da ONU.

Essa tem sido a tônica adotada no discurso fei-to pelas autoridades (principalmente americanas) quenos têm visitado recentemente. Os militares brasilei-ros execraram e rejeitaram, fortemente, essa tese.Entretanto o Governo brasileiro ainda não manifes-tou, em termos práticos, sua vontade política quantoao assunto; só o fez, indiretamente, reduzindo dras-ticamente os orçamentos militares, sinalizando suapostura a respeito do tema.

Cabe notar que a posição dos Grandes não mudoucom o tempo e, até evoluiu. E, sempre que possível,volta ao cenário, pois encontra guarida nas teses deatuação militar de legalidade, apoiada pela comunidadeinternacional através do Conselho de Segurança daONU. É a tese da invasão consentida, e os melhores exem-plos foram a Operação NORIEGA (Panamá) e a Guerrado Golfo e, recentemente, a Guerra contra o Iraque e apermissão(?) de uso dos territórios dos países vizinhos,ou seja, com o consentimento(?) e a conivência de

qualquer Nação, com ou sem a ONU e com ForçasAliadas sob seu comando, os Estados Unidos e sobsua decisão única...agirão militarmente em qualquerparte do mundo que venha a lhe convir...

Em aceitando a tese (o que parece inevitável), oquestionamento do porquê das Forças Armadas Nacio-nais tem voltado, com o máximo de peso, à mesa dasdiscussões de todos os Parlamentos e Estados-Maio-res. E das próprias sociedades...

No Brasil, por exemplo, mercê do sucateamentoe empobrecimento das Forças Armadas, o próprioGoverno – em busca de justificativas – oferece a elascapacidade de atuação no campo social, em troca de apoiopolítico-financeiro. Embora não possa ser tão con-denável, vis-à-vis à situação nacional, não deixa deser deturpação da destinação constitucional das For-ças Armadas. E para a qual elas não estão (nem fo-ram) preparadas, estruturadas ou equipadas. E mui-to menos desejosas em só isso executar...

Nesse panorama de superfluidez, seria conveni-ente um alerta aos ideólogos e pensadores repentistas e aca-dêmicos: atenção à tradicional tendência brasileira aorápido estabelecimento de novas doutrinas, critérios ereorganização para as Forças Armadas, com base em umaNOM: nova ordem mundial.

Essa nova ordem não conseguiu, até hoje, se sus-tentar em suas próprias pernas! Quanto mais pôr acabeça para funcionar!!!

M undial

“...um alertaaos ideólogose pensadoresrepentistas e

acadêmicos...”

“...os Estados Unidos e sob suadecisão única...agirão militarmenteem qualquer parte do mundo que

venha a lhe convir...”

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SAÚDE

muito comum nos depararmos, algumasvezes, com companheiros que nos ques-

tionam sobre a validade de nos exercitarmos fi-sicamente com regularidade, com argumenta-ções muitas das vezes engraçadas, tais como “atartaruga vai além dos 100 anos e não anda poraí correndo”, ou “a minha avó passou dos 80 enunca colocou um maiô”!

O fato é que, na realidade, não podemos es-tabelecer nenhum paralelo com animais anato-micamente diferentes e, muito menos, compa-rar padrões de vida atuais com os de 50 ou 60anos atrás. Inquestionavelmente, exercícios físi-

cos aeróbicos regulares, comprovadamente, con-duzem a uma condição de vida melhor e segura-mente muito mais repleta de saúde.

Mas o que melhora e por que melhora? Aresposta é simples. Quando passamos a nos mo-vimentar, seja lá qual for o exercício – correr, ca-minhar, nadar ou andar de bicicleta – e o faze-mos regularmente e com certa intensidade, dis-paramos, no nosso organismo, mecanismos deadaptação àqueles esforços a que nos lançamos,tais como, o desenvolvimento de determinadosgrupos musculares, a melhora na ventilação, odesenvolvimento do coração e de sua irrigação

pré-requisito para

Programa de Condicion a

É

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SAÚDE

colateral, a melhora da vascularização cerebrale tantos outros efeitos benéficos ao organismo,que poderíamos escrever laudas inteiras sobrecada um deles e suas correspondentes vanta-gens. Mas, o principal benefício advindo da prá-tica de exercícios físicos regulares é, sobretudo,a melhora da qualidade de vida que o praticanteadquire através deles, sem contar também queeles são a melhor forma de aumentarmos a ca-pacidade de resistência ao stress e aos malefíci-os dele advindos.

Ora, mas como começarmos, quando e deque maneira fazê-lo? É simples. E as pequenas

regras que passamos a descrever, são básicaspara um correto início. É preciso que, antes detudo, estejamos saudáveis. Para a sua inteira tran-qüilidade, se preciso for, submeta-se a um exa-me médico acompanhado por um teste de esfor-ço, ou seja, o tradicional check-up. Caso não con-siga, previna-se de futuros problemas responden-do ao questionário PAR-Q. Essa sigla é a sigla docorrespondente em inglês, traduzido comoQuestionário de Prontidão para Atividade Físi-ca. É um instrumento de saúde pública, que temcomo objetivo identificar as pessoas que devemprocurar um médico, antes de se submeter a um

uma vida saudável

amento Físico Aeróbico:Francisco da Costa e Silva Júnior – Cel. Av. RRWalace Monteiro – Professor MS

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SAÚDE

programa regular de exercícios, bem como aque-les que não necessitam de tal conduta.

O PAR-Q pode se constituir em instrumen-to útil na identificação daqueles que realmentenecessitam de orientação ou supervisão médicapara se manterem fisicamente ativos, o que oti-miza o aproveitamento de pessoal médico e deinstrumental de exame. Por constituir-se em uminstrumento de baixo custo e grande aplicabili-dade, o questionário pode e deve ser utilizadoquando não for possível realizar exames clínicosantes da prática da atividade física. É importan-te lembrar que o questionário PAR-Q foi valida-do no Comando da Aeronáutica pelo Laborató-rio de Fisiologia do Exercício do NUICAF e refe-rendado pela DIRSA.

A avaliação das respostas ao questionário érealizada da seguinte forma:

a) PAR-Q Positivo: uma ou mais respostaspositivas. Nesse caso, o avaliado deve consultarum médico antes de aderir a um programa re-gular de atividades físicas.

b) PAR-Q Negativo: todas as respostas ne-gativas. O avaliado tem uma razoável garantiade apresentar condições adequadas para a par-

ticipação em um programa regular de ativida-des físicas. Nesse caso, não há obrigatoriedadede passar por um exame clínico antes da práticade exercícios.

Se tudo estiver bem, vá em frente, inicietão logo puder um programa de condiciona-mento físico.

E agora, de que maneira começar? É sim-ples, escolha o exercício que mais lhe agrade edeseje praticar: andar, correr, nadar, pedalar, depreferência o que lhe pareça mais natural.

Com que intensidade? Tenha em menteque se exercitar não é se auto flagelar! Sair dainércia não é fácil e requer sempre uma doseconsiderável de esforço. É preciso, no entanto,começar. Comece lentamente, aumentando pro-gressivamente a intensidade e a duração com opassar do tempo e a melhora de sua performan-ce! Um auto não sai de 0 a 100 no primeiro ins-tante! O corpo humano, à semelhança da má-quina, não começa a 100 por hora! Comece len-tamente, para não ter que parar no dia seguin-te cheio de dores! Dê um tempo ao seu organis-mo para que ele se adapte. O processo de adap-tação é paulatino e requer um certo tempo!

1 1 1 1 1 - Alguma vez um médico lhe disse quevocê possui um problema do coração e re-comendou que só fizesse atividade físicasob supervisão médica?

( ) SIM ( ) NÃO

2 2 2 2 2 - Você sente dor no peito causada pelaprática de atividade física?

( ) SIM ( ) NÃO

3 3 3 3 3 - Você sentiu dor no peito no último mês?( ) SIM ( ) NÃO

4 4 4 4 4 - Você tende a perder a consciência oucair como resultado de tonteira?

( ) SIM ( ) NÃO

5 5 5 5 5 - Você tem algum problema ósseo oumuscular que poderia ser agravado com aprática de atividade física?

( ) SIM ( ) NÃO

6 6 6 6 6 - Algum médico já recomendou o uso demedicamentos para a sua pressão arterialou condição cardiovascular?

( ) SIM ( ) NÃO

7 7 7 7 7 - Você tem consciência, através da suaprópria experiência ou aconselhamentomédico, de alguma outra razão física queimpeça sua prática de atividade física semsupervisão médica?

( ) SIM ( ) NÃO

Questionário PAR-Q

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SAÚDE

Lembre-se que o descanso entre assessões de treinamento é fundamen-tal. É aí que a maravilhosa máquina

humana promove as adaptações orgâ-nicas necessárias. Proceda como numa

escalada de uma escada, saia do 1º para o2º degrau e assim por diante, nunca do 1º para

o 5º, pois senão você terá problemas.Para provocarmos as adaptações aeróbicas

desejadas e que vão levar à melhora de nossa con-dição geral, é preciso que aprendamos a conhe-cer o nosso corpo e a interpretar as suas sensa-ções! E a melhor forma de fazê-lo, sem nenhumaparelho de monitoração, é aprendendo a con-trolar o nosso coração (pulso), de tal maneira queo exercício nos conduza a uma freqüência cardí-aca estável em uma faixa de esforço adequada,convencionalmente chamada zona alvo, e queserá mantida durante a maior parte da duraçãodo exercício. Para isto existem equações simplesque podem ser utilizadas por qualquer um denós para estabelecermos o limite inferior e o su-perior da faixa em que devemos nos manter, ouseja, a chamada zona alvo, que também deter-mina os limites de segurança na prática do exer-cício. Tais limites geralmente são estabelecidoscom base nas respostas da máxima (FCmáx) ouda reserva de freqüência cardíaca (RFC), cujoscálculos serão apresentados a seguir.

1. PERCENTUAL DA FCMÁXEste procedimento parte da premissa de que

60 a 85% da FCmáx correspondem à zona detreinamento em que devemos nos exercitar paramelhorar nossa aptidão cardiorrespiratória (ae-róbica). É importante ressaltar que percentuaisda FCmáx estimada a partir da idade podem di-ferir em relação aos valores obtidos a partir daFCmáx real alcançada em teste de esforço. Istoimplica, por vezes, na necessidade de ajustarmosa intensidade do treinamento quando utilizamos

a FC prevista com base na idade.As equações mais conhecidas para calcular

a FCmáx são apresentadas a seguir. A partir docálculo do valor equivalente à sua idade é esta-belecida uma faixa de treinamento compreendi-da entre 60 e 85% do valor obtido nas equações:

220 – idade ou 210 – (0,65 x idade)

Utilizando a primeira equação, por exem-plo, o indivíduo de 20 anos teria uma FC máxi-ma de 200 bpm. Logo, se ele deseja trabalhar a70% de sua FCmáx, o trabalho deverá ser sus-tentado em 140 bpm.

2. RFCA RFC é uma outra forma de calcularmos

nossa zona alvo. Foi determinado pelos fisiolo-gistas do exercício que 50 a 85% da RFC corres-pondem a aproximadamente 50 a 85% da capa-cidade funcional. A percentagem da RFC repre-senta a diferença percentual entre a FC de re-pouso (corresponde à FC medida em um indiví-duo que se encontra confortavelmente sentado,em repouso, por um período de 5 a 10 minutos) ea FC na qual o exercício será realizado. O cálcu-lo da intensidade do esforço pela RFC leva emconsideração a FC de repouso, o que proporcio-na um controle mais adequado do treinamentoem função da variabilidade diária verificada nocomportamento da FC, o que já não ocorre quan-do trabalhamos com um determinado percentu-al da FCmáx A RFC pode ser calculada pela se-guinte equação:

RFC = (FCmáx – FC repouso) x intensidadede esforço + FC repouso

Exemplificando a aplicação da equação emum indivíduo de 25 anos, que apresenta uma FCde repouso de 60 bpm e deseja exercitar-se entre

“Tenha em mente que seexercitar não é se auto flagelar!”

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SAÚDE

60 e 80% da RFC, teríamos o seguinte cálculo:

RFC = (195 – 60) x 0,60 + 60RFC = 135 x 0,60 +60RFC = 81 + 60RFC = 141 bpm RFC =

(195 – 60) x 0,80 + 60RFC = 135 x 0,80+ 60RFC = 108 + 60RFC = 168 bpm

Isto posto, implica em dizerque o exercício deverá ser susten-

tado numa faixa de esforço que variade 141 a 168 bpm.

Independentemente da forma para cal-cular nossa zona de treinamento, por vezes, os

indivíduos que participam de um programa deexercícios, liberados pelos seus médicos, fazemuso de medicação para o tratamento de doençascardiovasculares e/ou outros problemas de saú-de. Muitos medicamentos podem exercer efei-tos nas respostas da FC em repouso e esforço,principalmente aqueles utilizados no controle daangina, da hipertensão arterial, da insuficiênciacardíaca crônica, das arritmias, do bronco-espas-mo e dos lipídios séricos elevados. Entre as dro-gas cardíacas, os betabloqueadores possuem omaior efeito na prescrição de exercícios. Destaforma, é importante saber se uma pessoa estáusando alguma medicação com ação cardiovas-cular, para que os ajustes no treinamento pos-sam ser realizados em função do tipo e dosagemda medicação utilizada. Nesse caso, é recomen-dada a realização de exercícios supervisionadospor um especialista no assunto.

O espaço compreendido entre o limite supe-rior e o inferior de sua zona alvo será a faixa debatimento cardíaco médio a ser trabalhada du-rante a sua sessão de exercícios, para provocar asalterações que desejamos e que nos propiciarão amelhora física almejada. Nesta condição, a suasensação será de sentir-se levemente ofegante!

Comece com sessões de 10 a 15 minutos, pelomenos três vezes por semana e, com o progresso,aumente moderadamente o tempo do exercícioaté atingir algo em torno de 30 a 40 minutos. Como passar do tempo, você notará que a sua pulsa-ção em repouso aos poucos diminuirá. Isto querdizer que os benefícios propiciados pelos exercí-cios continuados começam a aparecer, que o seucoração está mais forte e começou a adaptar-seao esforço, aumentando em conseqüência o seuvolume e massa, passando a bombear quantida-des maiores de sangue com menos batidas e maiseficiência. É o começo de uma vida mais saudá-vel e com menos problemas!

Ao parar de se exercitar, pare também lenta-mente para promover uma adequada recupera-ção. Se você parar repentinamente poderá sentirdesconfortos e/ou sensação de desmaio, entreoutras. No início e no final de cada sessão de exer-cícios, faça como faz o gato ao despertar, alonguea musculatura, espreguiçando-se. O alongamen-to no início da sessão ajuda a preparar a muscula-tura para o esforço seguinte. O alongamento nofinal tem efeito relaxante e deve ser feito sem muitaamplitude, movimentando a articulação até o seulimite natural, sem forçá-la.

Aí está! Começar é apenas uma questão deoptar entre melhorar a qualidade de vida ou não.Optar é também, e sobretudo, uma disposiçãode nos darmos um tempo na nossa agenda diá-ria, para cuidarmos daquilo que temos de maisprecioso, o nosso corpo! Se ele for bem tratado ebem cuidado, certamente estará em condiçõesde enfrentar melhor as dificuldades do cotidianoe a retribuição advinda disto será certamenteuma vida mais repleta de saúde e alegria.

Como vêem é muito simples, e começar in-depende da idade ou do grau de condicionamen-to; basta para isso vontade de querer fazê-lo!

“Começar é apenas uma questãode optar entre melhorar aqualidade de vida ou não.”

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TESE

Neyde Lúcia de Freitas SouzaMaj. QFO Psi.

Jung, Pichon–Rivière e Paulo Freire:Identidade de Teorias

“Os três pensaramcoisas muitosemelhantes,

em tempose espaços

diferentes...”

arl Gustav Jung nasceu na Suíça, em 26 dejulho de 1875, e morreu em 6 de junho de1961, aos 85 anos. Estudou Medicina e Psi-

quiatria, e deixou idéias e ideais que foram sinte-tizados na Psicologia Analítica, entre eles as no-ções de inconsciente coletivo e individuação.

Enrique Pichon-Rivière, médico psiquiatrae psicanalista, também nasceu na Suíça, em 25de junho de 1907, imigrou para a Argentina quan-do tinha apenas três anos. Faleceu aos 70 anos,em 16 de julho de 1977. Vínculo e interação gru-pal são conceitos básicos em sua teoria.

Paulo Freire nasceu em Recife, no dia 19 desetembro de 1921. Exilado em 1965, retornou aopaís em 1980, segundo ele para reaprender seupaís. Morreu em 2 de maio de 1997, em SãoPaulo. Conscientização e diálogo são funda-mentais em suas idéias.

E o que une esses três grandes teóricos, cu-jas contribuições não têm fronteiras? Este artigoabordará as contribuições no campo educacio-nal, destacando as idéias de cada um e fazendoum paralelo entre elas, ressaltando a existênciade inúmeros pontos de interseção. Os três pen-saram coisas muito semelhantes, em tempos eespaços diferentes, sem se conhecerem.

Pichon-Rivière ressalta a necessidade de o

professor e de a escola valorizarem outros aspec-tos, além dos intelectuais, de modo a provocar odesenvolvimento integral do aluno. Jung corro-bora com essa idéia, ao considerar que é precisodesenvolver a totalidade do indivíduo. Ele indicaque a escola deve possuir dois papéis: ensinar econtribuir com a verdadeira educação psíquicada criança. E isso é feito por intermédio da per-sonalidade do professor.

Jung considera o ser humano total, estabe-lece estreita relação entre razão e emoção, e afir-ma que a tarefa maior da existência humana édesenvolver uma personalidade própria, distin-guindo-se da coletividade. Denominou esta ta-refa de individuação, processo que exige umrelacionamento construtivo entre o conscien-te e o inconsciente. Individuar-se é, portanto,centrar-se em seu próprio eixo.

Pichon também considera que a ação deaprender envolve razão e emoção, que aprendi-zagem e adaptação ativa à realidade estão inti-mamente ligadas: o indivíduo apreende o objetoe o transforma, ao mesmo tempo em que ele tam-bém modifica a si mesmo, em um interjogo dia-lético, em um contínuo processo em espiral.

Para Jung, o processo de individuação é, porsi, um processo pedagógico; a relação professor-

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TESE

cações, além de comunicar saberes: é impulsionara reflexão, promover a interrogação e o pensamen-to. É o aluno quem promove o pensamento, inter-roga-se, mobiliza a aprendizagem do professor.

Pichon chega à Pedagogia por meio da aná-lise psicológica. Freire trabalha a dialética entreeducador e educando, fala em leitura do mundo,e parte da cotidianidade do sujeito.

Para Pichon e Paulo Freire a aprendizagemé um jogo de equilíbrios e desequilíbrios emque o novo, o não-conhecido, se manifesta. Aaprendizagem é uma minicrise, pois gera cer-to grau de desestruturação e a conseqüentenecessidade de se reorganizar. Jung diz queninguém está com sua educação terminada aodeixar a escola, seja em que nível de ensinoestiver; e sugere ser necessário educar a crian-ça e o adulto – a criança que está presente noadulto e que se encontra em formação a vida toda.

A idéia de crítica da cotidianidade está pre-sente em Pichon e em Freire: a consciência crí-tica é uma forma de relação sujeito-mundo, tra-ta-se de uma atitude aberta ao conhecimento darealidade e de si mesmo nessa realidade, envol-ve a leitura da realidade.

Para Pichon e Freire, a consciência crítica nãoconsiste somente em um conhecimento da reali-dade social, mas abarca também nossas relaçõesinterpessoais e distintos aspectos de nós mesmos:tem a ver com saúde mental. De acordo com Jung,o professor deve despertar o aluno para o conteú-do e para a vontade de aprender, deve participarda ampliação da consciência do aluno.

A coragem é compartilhada por Pichon eFreire, assim como a esperança, e os dois tiveramconsciência da dimensão política de seu fazer.Para Jung, formar a personalidade não deixa deser um risco, e a voz interior tanto é o perigo má-ximo quanto o auxílio indispensável nesta tarefa.

Em síntese, Jung, Pichon-Rivière e PauloFreire enfatizam a presença da emoção naeducação, além da razão; atribuem importân-cia às trocas entre professor e aluno, em umarelação dialética; e assinalam a similaridadeexistente entre aprendizagem e apropriação darealidade. Contribuem com idéias semelhantes

geradas em contextos eocasiões diferentes.

“Para Pichon e Paulo Freire aaprendizagem é

um jogo de equilíbrios edesequilíbrios...”

aluno é uma relação produtiva: o professor sem-pre se descobre no aluno, aprendendo; e o alunoencontra em si mesmo seu mestre interior.

Pichon e Paulo Freire consideram a apren-dizagem uma unidade de contrários: ensinar eaprender são aspectos de um movimento queconstitui uma unidade. Pichon nomeou esse pro-cesso de “ensinagem”. Nele, o papel de quemensina e de quem aprende são alternantes, cir-culam em um vínculo.

Jung também acredita que os papéis de pro-fessor e aluno sãopolaridades de umarelação dialética, eque há uma conver-sa entre conscien-

tes e inconscientes do professor e do aluno.Pichon, igualmente, ressalta que o ensinar

e o aprender caminham juntos; constituem-se emuma unidade contínua e dialética, de plena inte-ração. Não se ensina se não se aprende durantea tarefa de ensinar.

Para Pichon, toda a aprendizagem – e toda aeducação – bem-realizada é sempre terapêutica.Toda distorção da aprendizagem é ao mesmotempo distorção da personalidade e vice-versa.

Para Jung, a personalidade do professor, tan-to ou mais que sua competência profissional, é aresponsável pelos bons resultados do trabalho do-cente. Ele sugere que o educador dê especial aten-ção ao seu próprio estado psíquico, aos seus pon-tos de vista e às suas falhas para, então, poder com-preender seus alunos. A personalidade do profes-sor, para ele, é seu principal instrumento de tra-balho: se o professor estiver em processo de auto-conhecimento, encontra-se mais adequado paraconduzir seus alunos ao mesmo processo.

Pichon ressalta que as várias dimensões do ho-mem – cognitiva, afetiva, social e corporal-motora– vão se desenvolvendo na medida em que ele trans-forma e é transformado pelo meio, em um movi-mento dialético. O processo de apropriação da re-alidade é sinônimo de aprendizagem, segundo ele.

Paulo Freire fala em leitura do mundo; Pichon,em leitura da realidade; Jung, em desenvolvimen-to da personalidade por meio do processo de indi-viduação, tarefa para a vida inteira. ParaFreire e Pichon, ensinar adquire signifi- “A coragem é compartilhada

por Pichon e Freire, assim comoa esperança, e os dois tiveram

consciência da dimensãopolítica de seu fazer.”

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PERSONALIDADE

“Eu nunca tive pretensões a nada na vida, nunca pre-tendi ser rico ou poderoso e nem mesmo feliz. Na medida dopossível, acho que vivi uma vida tranqüila. Posso ter erradomuitas vezes, mas valeu a pena. Foi bom”.

Carlos Drummond de Andrade, aos 80 anos.

arlos Drummond de Andrade, nos últimos me-ses, vive na boca do povo: da Academia ao banco deCopacabana onde, de costa para o mar, se deixa con-templar. Não há enigma; está tudo claro. As amendo-eiras falam. A rosa do povo vem desabrochando, e osentimento do mundo aflora de alguma poesia do ita-birano, que, em confidências, confessa que seus om-bros suportam o mundo e ele não pesa mais que amão de uma criança. Mundo, mundo, vasto mundo, maisvasto e eterno é o coração do poeta. E como é chatoser moderno, Carlito torna-se eterno.

De mãos dadas, em versiprosa, acorda-se certapalavra que dorme na sombra de livro raro. É a palavramágica, a senha da vida, a senha do mundo revelada

pelo fazendeiro do ar. Poeta de setefaces, poeta de Minas, do Brasile do mundo. Poeta tão nacionalque se torna universal.

E agora, José? Drum-mond é centenário no es-

paço mágico da litera-tura. A festa começa;a luz acende; o povochega; o bonde volta acircular nas linhas daspáginas de seus livros.E agora, José? Há umapedra no meio do cami-nho, mas ela não é em-

Drummond do Povopecilho, ela é marca poética, é signo drummondiano.

Este poeta é nosso, do povo. Dele, de suascomposições poéticas, vêm as palavras que tecemeste texto. Palavras, que não nascem amarradas,saltam dos dicionários, das linhas, das páginas,dissolvem-se no céu livre por vezes um desenho.

Poeta, este é o seu tempo: o tempo presente, oshomens presentes, a vida presente. Instigue a todos,que agora o homenageiam, a fazer a dificílima, dan-gerosíssima viagem de si a si mesmo.

INFÂNCIAMeu pai montava a cavalo, ia para o campo.Minha mãe ficava sentada cosendo.Meu irmão pequeno dormiaEu sozinho, menino entre mangueiras,lia história de Robinson Crusoé,comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeua ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceuchamava para o café.Café preto que nem a preta velhacafé gostosocafé bom.

Minha mãe ficava sentada cosendoolhando para mim:Psiu...não acorde o menino.Para o berço onde pousou um mosquito.E dava um suspiro...que fundo!

Lá longe meu pai campeavano mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha históriaera mais bonita que a de Robinson Crusoé.

C

Maria Célia Barbosa Reis da SilvaProfessora Adjunta da UNIFA

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CENÁRIO INTERNACIONAL

efetivo controle, nos âmbitos políticos e militares.Atuaram, exclusivamente, em defesa de seus interes-ses como superpotência mundial, e faziam sentir suapresença em qualquer rincão do planeta; entretanto,esqueceram que essa “mundialização” poderia rever-ter no momento em que qualquer movimento rebel-de apelasse, como hoje, ao terrorismo como prolon-gamento de seu movimento de libertação. Porém, os alia-dos do passado, são os fanáticos e encarniçados ini-migos de hoje. O povo estadunidense está sentindona pele as conseqüências de decisões políticas erra-das, tomadas quando, descurando das projeções fu-turas de seus atos, cooptaram grupos fundamentalis-tas que agora escapam a qualquer controle, atuando,inclusive, à revelia de seus líderes históricos.

Como tem sido fartamente assinalado pelos mei-os de comunicação, a esses caudilhos religiosos foiobsequiada farta provisão de armas e de recursos fi-nanceiros, além de conferir-lhes poder e presença jun-to à imprensa internacional e amamentá-los em seusprojetos calcados na intolerância, na violência e na irafundamentalista. Hoje, constituem-se em um perigopara todo o mundo e, não raro, têm ferido e causado amorte de milhares de pessoas inocentes que nada têma ver com as causas que advogam e os seus conflitos.

A responsabilidade ética que implica numa açãode governo muito além de suas fronteiras não podeser produto de um jogo estratégico decidido em umconciliábulo de supostos peritos do Pentágono, que

s norte-americanos e ingleses devem estar se per-guntando se após a invasão do Iraque, pelas tro-

pas da Coalizão, o Estado será capaz de protegê-los,realmente, contra as ameaças do terrorismo internaci-onal, que certamente advirão. Até a realização dos atosinsanos perpetrados por terroristas muçulmanos tali-bãs, do grupo Al-Qaeda, às cidades de Nova York eWashington, as ameaças prognosticadas pelos agentesda inteligência e pelos analistas em fricções geopolíti-cas e hipóteses de conflito, enfocavam, prioritariamente,e de modo contumaz, as instalações dos Estados Uni-dos situadas no exterior, onde os inimigos atuavamcom a cumplicidade dos agentes regionais, geralmentepromovidos por algum revolucionário que pretendia for-talecer-se desafiando uma grande potência mundial.Era, portanto, um esquema básico e relativamente fá-cil de prevenir – ainda que nem sempre com êxito –porque o adversário estava obrigado a atuar em cená-rios preestabelecidos, apelando a recursos técnicos emilitares muito limitados, submetidos a interesses po-líticos superiores à sua própria organização sectária.Desta maneira, os enfrentamentos ditavam suas re-gras primitivas e a única forma de superá-los era sen-do tecnologicamente hegemônicos na prevenção. Asconseqüências desta visão equivocada ficaram eviden-ciadas, com tremenda estupefação, após os atentadosde 11 de setembro de 2001.

As autoridades estadunidenses imaginavam quepoderiam regionalizar os conflitos e imprimir-lhes um

“... os aliados do passado, porém, são os fanáticos eencarniçados inimigos de hoje.”

Manuel Cambeses JúniorCel. Av. RR

“... os enfrentamentos ditavam suasregras primitivas e a única forma de

superá-los era sendo tecnologicamentehegemônicos na prevenção.”

O

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CENÁRIO INTERNACIONAL

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produzem mais danos do que bens ao país. Esta liçãotem que ser aprendida de uma vez por todas. Não é aprimeira vez em que este tipo de política tem se con-vertido em uma grave ameaça.

Independente do que se faça agora, porque ogoverno dos Estados Unidos deve continuar reagin-do, com firmeza, toda vez que surgirem indícios defocos terroristas, dando uma resposta concreta a es-sas preocupações e temores.

É importante enfatizar que, em nossas reflexões,jamais imaginemos a possibilidade de que este lamen-tável ato de horror ocorrido, simultaneamente, emWashington e Nova York, constituiu-se em episódiofinal nesta escalada de terror que assola a Humani-dade. Tenhamos plena convicção de que, após estaedição da segunda Guerra do Golfo, sempre haveráimaginação e criatividade suficientes – entre os ex-tremistas e fundamentalistas islâmicos – para açularmentes doentias e voltadas para o mal, no sentido deinfligir sofrimento e terror ao gênero humano, e cal-cadas em alegações e crenças de matizes variados,invocando razões políticas e religiosas.

Os recentes ataques terroristas ocorridos em Riad(Arábia Saudita) e Casablanca (Marrocos) são exem-plos incontestes desta afirmativa. Daí resulta a com-plexidade de dar respostas concretas ao que virtual-mente escapa à realidade. Combate-se contra umaimagem e um inimigo invisível, encarnado por suasduas faces: a crença e o terror. Cada uma está satani-zada pela outra e, imbricam-se de tal maneira, que for-mam um conjunto coeso e indissolúvel. Certamenteque as grandes potências acudirão, sincronicamente,

em busca de acordos para deter esta terrível ameaçaque, fora de seus controles, as afetará de algum modo,cedo ou tarde. George W. Bush e Tony Blair, amado-res neste assunto; Vladimir Putin, frio veterano emquestões dessa natureza; o prócer chinês Hu Jintao eos líderes da União Européia saberão colocar as coi-sas em seu devido lugar porque, a qualquer momento,poderão ser alvo deste tresloucado fanatismo. Porém,a responsabilidade de buscaruma saída definitiva a esteassunto corresponde a todosos governos do mundo porque,em realidade, somos todosco-partícipes neste muti-rão antiterrorismo em quedeve engajar-se, com odevido empenho, aHumanidade.

“...a responsabilidade de buscaruma saída definitiva a este

assunto corresponde a todos osgovernos do mundo...”

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CONJUNTURA

que brindamos a passagem do milênionão imaginávamos que tão cedo o mundo esta-ria novamente conflagrado. Tudo começou noOnze de Setembro.

Osama Bin Laden é um exímio jogador dexadrez e, com seus atentados terroristas, não veioem socorro de Saddan por muitas razões.

Após o atentado, Bin Laden sabia-se alvo doscaçadores americanos. Preparou os próximos lan-ces da partida e deu a seus comandos terroris-tas ordens de missão com objetivos principais,secundários e de oportunidade; transferiu recur-sos e instruções para aguardarem o Dia D decada evento. Fez um lance defensivo, um roque,ocultando-se nas cavernas do Afeganistão.

Acontece que fortes ventos sopram a favorde Bin Laden. Seu lance de profundidade, os avi-ões carregados de combustível deveriam provo-car incêndios nas Torres. Os danos foram alémde suas expectativas, e estas ruíram com a CNNtransmitindo ao vivo para o mundo.

No lance seguinte, Bin perdeu uma peça devalor, o regime Talibã foi desalojado de sua basee ele seguiu com os Talibãs para o Paquistão (al-guns dizem que para Foz do Iguaçu...?)

Do outro lado do tabuleiro está o texano-petroleiro Presidente Bush. No tempo dosfar-west as questões em sua região de origem,eram resolvidas num memorável duelo a balae, diferentemente dos Presidentes Carter eClinton, Bush segue os ditames de Roosevelt Big

Pasqual Antonio MendonçaCel. Av. RR

Stick: fale manso e tenha um grande porrete.Na ânsia de punir alguém, ou por outras ra-

zões, o Presidente Bush completa o trabalho dopai e liquida o Iraque, com recados para a Síria ea Coréia do Norte.

O poderio militar assusta. No inconscientecoletivo surge a dúvida: Meu país será um dia abola da vez?

O Papa ameaça: “Os responsáveis pela guer-ra deverão prestar contas a Deus”. Bush retru-ca: God Bless America Para o Islã: “Alá puniráos infiéis!”

Diante de tantos pedidos, torna-se difícil opapel de Deus.

França, Alemanha, Rússia, China e outrosse juntam e condenam seus tradicionais salva-dores do século XX: A ONU está agonizante.

Um grande atentado terrorista seria água frianas inúmeras manifestações contra a coalizão.

Bin Laden atacou as Torres de Nova Iorquee estas estão derrubando o grande edifício daONU às margens do Hudson.

Sem as Torres, o descontrolado Rei Bush pas-seia pelo tabuleiro, ameaçando todos em seu en-torno. Não se trata de bravatas, outro Presiden-te, Truman, no passado, lançou duas bombas A.

TERRIVELMENTE, após a volta da ordem,Bin Laden pode ressurgir com os Dias D.

Os

Bin LadenAPÓS O IRAQUE

Bin LadenAPÓS O IRAQUE

Os

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SÁTIRA

a primeira metade dos anos sessenta, resi-dir em Brasília era para alguns brasileiros

um suplício. A nata do funcionalismo público fe-deral, que morava no Rio de Janeiro, com suaspraias, montanhas, o Maracanã e outras delíciasmais, via na mudança pura e simples para o Pla-nalto Central um complicador. O Governo Fede-ral, por meio de incentivos financeiros, isto é, do-brando ou triplicando os salários, tentou resolvero problema. A emenda ficou pior do que o sone-to. Hoje, um ascensorista em início de carreira,lotado no Senado Federal ou na Câmara dos De-putados, ganha mais do que um tenente-coronelaviador, piloto de caça, por exemplo, com seteanos de Escolas e quinze de carreira.

À época da inauguração da Capital, jornaisde grande circulação, a título de blague, instituí-am concursos sobre vários assuntos e invertiam,a propósito, a ordem de premiação da seguintemaneira: o primeiro colocado ganharia como prê-mio o direito de passar um dia em Brasília, comdespesas pagas; o segundo colocado, uma sema-na, e o terceiro ou último, um mês.

Foram feitas muitas concessões pelo governopara povoar a cidade e azeitar a máquina adminis-trativa. Os funcionários públicos passaram a ter direi-tos a residência, condução, salário especial e outrasvantagens. Os privilégios citados passaram a fazerparte permanente da vida dos parlamentares.

Os militares da ativa viviam em quadraspré-concebidas e passavam a privar, em seusníveis, uns das intimidades dos outros. Os oficiaissuperiores, por pouco viajarem, passavam a teruma vida social limitadíssima e, para darem umaescapulidazinha, eram obrigados a se deslocarempara a outra asa do avião. Os useiros e vezeirosdeste procedimento davam cambalhotas.

Em encontro informal no Clube de Aeronáu-tica, estive com uns velhos companheiros da

Falta Pau-Brasil no Mercadoreserva. Um deles nossegredou que, naquelaépoca, viu-se em situa-ção complicada e, porter-se recidivado, passou a sair, duas ou três ve-zes por semana, de casa, após o expediente,apresentando as mais estapafúrdias desculpas.

Sua esposa, entretanto, por ser dessas se-nhoras que se programaram para acompanharo marido até o generalato, acreditava piamentenas histórias que ele contava.

Até que um dia, ou melhor, uma madruga-da, ele, chegando pé ante pé em casa, e ao aden-trar a sala-de-visita, viu sua roupa toda espalha-da pelas poltronas e tapetes, inclusive as fardas.Ficou sem ação. A grande interrogação que pas-sava por sua cabeça era saber como ela desco-brira e, por já passar das três horas da madruga-da, resolveu se acomodar por ali, até o dia ama-nhecer, para resolver o problema. E assim fez,principalmente, por estar hospedando uma filhacom duas netas.

Foi um resto de noite horrível – confessava-me sério. Recordou-se de quando a conheceuainda aspirante, em Recife, da festa do casamen-to na igreja em Olinda, do túnel de espadas, dosacrifício que fizeram para comprar o primeiroapartamento, carro etc. Na realidade, nãoconseguiu dormir e, quando o dia amanheceu,para se livrar daquela angústia, entrou quartoadentro, como só os grandes comandantessabem fazer, e deparou-se com uma cena me-morável: sua esposa dormia o sono dos anjos,o clássico pijama sobre o seu travesseiro; elaocupava, na cama, o lugar de sempre; tudo den-tro da maior normalidade. Parou, pensou milcoisas, mas resolveu dar uma de machão e, debraços cruzados na beira da cama, esbravejou:

– Pô! O quê que houve?Ela então, com toda doçura do mundo,

respondeu-lhe:– O pau do armário, por não ser de madeira

de lei, quebrou-se, querido!

Clarindo dos SantosHistoriador

NNNNN

“Foram feitas muitasconcessões pelo governo...”

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INTERNET

Um amigo acaba de me mandar o resultado deuma comparação entre nós e os americanos.

Uma discussão em que um ianque prova, pelaciência exata da matemática, que os brasileiros sãomais ricos do que os americanos.

Caros amigos brasileiros e ricaços!Vocês brasileiros pagam o dobro do que os america-

nos pagam pela água que consomem. Embora tenhammais água doce disponível. (Aproximadamente 25% dareserva mundial de água doce está no Brasil). Vocês brasi-leiros pagam 60% a mais nas tarifas de telefo-nes e eletricidade. Embora 95% da produçãode energia em seu país seja hidroelétrica (maisbarata e não poluente) enquanto nós

pobres americanos somente podemos pagar pela energiaaltamente poluente produzida por termelétricas à base decarvão e petróleo e as perigosas usinas nucleares.

Vocês brasileiros pagam o dobro pela gasolina, queainda por cima é de má qualidade que acaba com os mo-tores dos carros, pois cerca de 21% da gasolina é compos-ta de álcool anidro e ainda querem aumentar este percen-tual para beneficiar os usineiros de álcool. Não dá paraentender, seu país é quase auto-suficiente em produção depetróleo (75% é produzido aí) e ainda assim têm preços

tão elevados. Aqui nos EUA nós defendemos com unhase dentes o preço do combustível que está estabilizado hávários anos (US$ 0,30 trinta centavos de Dólar = R$ 0,80– oitenta centavos de Real. Obs.: gasolina pura, sem mistu-ra). Por falar em carro, vocês brasileiros pagam R$ 40 milpor um carro que nós nos Estados Unidos pagamosR$ 20 mil. Vocês dão de presente para seu governo R$ 20mil para gastar não sabe com que e nem onde, já que osserviços públicos no Brasil são um lixo perto dos serviçosprestados pelo setor público nos Estados Unidos. Na Fló-rida, caros brasileiros, nós somos muito pobres; o gover-no estadual cobra apenas 2% de imposto sobre o valoragregado equivalente ao ICMs no Brasil, e mais 4% deimposto federal, o que dá um total de 6%. No Brasil, vo-cês são muito ricos, afinal concordam em pagar 18% sóde ICMs. E já que falamos em impostos, eu não entendopor que vocês alegam ser pobres, afinal vocês não se im-portam em pagar além desse absurdo ICMs mais PIS,

COFINS, CPMF, ISS, INSS, IPTU, IPVA, IR, ITRe outras dezenas de impostos, taxas de contribui-

ções, em geral com efeito cascata, de imposto so-bre imposto, e ainda fazem festa nos estádios de fu-

tebol e nas passarelas de carnaval. Sinal de que não seincomodam com esse confisco maligno que o go-

verno promove lhes tirando quatro meses por anode seu suado trabalho (de acordo com estudos

realizados, um brasileiro trabalha quatro meses porano somente para pagar a carga tributária de im-postos diretos e indiretos).

Nós americanos, lembramos que somos ex-tremamente pobres, tanto que o governo isenta depagar imposto de renda todos que ganham me-nos de US$ 3 mil dólares por mês (equivalente aR$ 9.300,00 Reais) enquanto aí no Brasil os assala-

riados devem viver muito bem, pois pagam im-posto de renda todos que ganham a partir de R$ 1.200,00.Além disso, vocês têm desconto retido na fonte, ainda an-tecipam o imposto para o governo, sem saber se vão terrenda até o final do ano; aqui nos Estados Unidos nósdeclaramos o imposto de renda apenas no final do ano, ecaso tenhamos tido renda aí sim recolhemos o valor devi-do aos cofres públicos.

Essa certeza nos bons resultados futuros torna o Brasilum país insuperável. Voltando a falar de serviços públicoscaro amigo brasileiro, vocês são riquíssimos, afinal pagam

Brasileiros são mais Ricos Texto adaptado da Internet

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INTERNET

do que os Norte-Americanossua própria segurança; os pobres americanos dependemosda segurança pública. Aí no Brasil vocês pagam escola elivros para seus filhos porque, afinal, devem nadar em di-nheiro; aqui nos Estados Unidos, nós pobres pais america-nos, como não temos toda essa fortuna, mandamos nossosfilhos para as excelentes escolas públicas com livros gratui-tos. Vocês ricaços do Brasil, quando tomam no banco umempréstimo pessoal, pagam por mês o que nós pobresamericanos pagamos por ANO. Caro amigo brasileiro,quando você me contou que pagou R$ 2.500,00 pelo segu-ro de seu carro, aí sim eu confirmei a minha tese: vocês sãopodres de rico!!!!! Nós nunca poderíamos pagar tudo issopor um simples seguro de automóvel. Por meu carro gran-de e luxuoso, eu pago US$ 345,00 dólares. Quando vocême disse que também paga R$ 1.700,00 de IPVA pelo seucarro não tive mais dúvidas. Nós pagamos apenas US$ 15,00de licenciamento anual não importando qual tipo de veículoseja. Afinal, quem é rico e quem é pobre? Aí no Brasil, 20%da população economicamente ativa não trabalha. Aqui, nãopodemos nos dar ao luxo de sustentar além de 4% da po-

pulação que está desempregada. Não é mais rico quem podesustentar mais gente que não trabalha?

Caro leitor: estou sem argumentos para contestar esteianque. Afinal, a moda nacional brasileira é a aparência.Cada vez mais vamos nos convencendo de que não é pre-ciso ser, basta parecer ser. E, afinal, gastando muito a gen-te aparenta ser rico.

Realmente é difícil comparar esta grande nação chama-da Estados Unidos que desde seu descobrimento teve umacolonização de povoamento, com nosso país que foi colôniade exploração por mais de 300 anos, com nossas riquezassendo enviadas para Portugal. Até hoje ainda sofremos comuma exploração, só que dos próprios governantes que pi-lham e enviam nossas riquezas para suas contas bancárias emparaísos fiscais. E não fazemos nada para promover umamudança radical de atitudes, conceitos e afirmação de nossadignidade. Precisamos sair deste comodismo que estamosvivendo ou o sonho do país do futuro será apenas um idealna boca dos demagogos que estão no poder.

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Revista aeronáutica nº 239 • Maio - Junho/200348

CURIOSIDADE

Primeiro Presidente a voar:HERMES DA FONSECA – voou em 8 de julhode 1910, num Farman, em Mourmelon (França),pilotado pelo Ten. Albert Fequant.

Primeiro Presidente a voar no Brasil:HERMES DA FONSECA – voou em 15 de abrilde 1913, da Praça Mauá até a Praia do Galeão,na Ilha do Governador, num Hidroaeroplano Curtisspilotado pelo norte-americano David H. McCiullogh, em demonstração no Brasil.

Primeiro Presidente a voar numa aeronave dematrícula brasileira:

WENCESLAU BRAZ – fez um vôo de curtíssi-ma duração, em 24 de fevereiro de 1917, com oTen. Delamare, num Hidro C 2. Oficialmente, po-rém, é considerado o vôo de 2 de abril, quando elechegou à Escola de Aviação Naval a bordo do HidroC 2 pilotado pelo Ten Schorcht.

Primeiro Presidente a voar num avião projetadopor um brasileiro:

GETÚLIO DORNELLES VARGAS – em 19 dejulho de 1931 voou no Muniz M-5 pilotado peloCap. Adherbal da Costa Oliveira. Após fazer oCurso de Engenharia Aeronáutica, na França,Guedes Muniz fez o projeto.Ele voou em quase todos os tipos de aviões cons-truídos no Brasil. Criou o Ministério da Aeronáu-tica e a Aviação Civil.

Primeiro Presidente a ter um avião presidencial:GETÚLIO DORNELLES VARGAS – a aerona-ve era o Loockheed Lodestar C-66 2008.

OS PRESIDENTES PIONEIROS NA AVIAÇÃO

Alfredo Muradas DapenaCel. Av. RR

Primeiro Presidente a ir ao exterior de avião:GETÚLIO DORNELLES VARGAS – visitou oParaguai em agosto de 1941 no Lodestar C-66 2008,escoltado por três Lodestar C-60.

Primeiro e único Presidente a viajar de dirigível:GETÚLIO DORNELLES VARGAS – viajou deRecife ao Rio a bordo do Graf Zepelim de 4 a 5 deoutubro de 1933.

Primeiro Presidente a voar de jato:GETÚLIO DORNELLES VARGAS – voou numGloster Meteor pilotado pelo Coronel Oswaldo Pam-plona Pinto, em 23 de outubro de 1953.

Primeiro Presidente a fazer uma viagem trans-continental em avião presidencial:

José Sarney, no Boeing KC-707 2401, em 6 de ju-lho de 1986 para Roma (Lira).

Primeiro Presidente a ir além da barreira do som:FERNANDO COLLOR DE MELLO rompeu abarreira do som num Northorop F-5 Tiger, em22 de abril de 1990.

Primeiro Presidente a ir ao exterior em aeronaveconstruída no Brasil:

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO foi aoChile em 9 de novembro de 1996 na aeronaveEMBRAER ERJ-145 de prefixo PTZJD.

Primeiro Presidente a voar em um avião cons-truído no Brasil fora do continente:

LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA, em sua viagemà Europa, voou no Legacy da EMBRAER.

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Um Adeus ao Walden1ar Kischinhevsky Brig. Méd. RR

*RJ = 5/10/1925 Edson Brandão Guimarães

· Caro Waldemar,

Discorrer um pouço s()bre a'vid� �o árnig;-�incero éj)arlrnio/'Utp p;ivilégicf:tes!e,1:11unha �uelci cle tuas realizações .na carreira militar e' ác�cj.êinirn.; ·. · .. ,'.:. . ·· .. .,.::,· . ,-; ..•....•. ; . . . e, • .

Por duas vize� dirigist<:: º· HCA)ixRpulefip�{ite ;dem�nei�� e:itr�bt�ária �.:'idminfatrativo, con(�omJ?ét:ência; clináiuismcfé/erit�si�sb;}b.:,/ '

. MÜito deve.a ti o .Serviço de.Saúcle!. _ .- : . . 1

_ .. ,, it . _. . .· .. _ .. · Q\lÍs º c!tsrino qtie, i:ieis�: m�smo Hôspitar;}sgotis�es tua\íich eip 3ü·d�.ª�� de 290s:Lembro dé tüa·_pósse na :Acá<Íerruª''N aciop.�Làe M�dicinà, quâ�do tomàhe;por.

êrripréstim'o, • .de Gut:ria Juriqueirq,, aq:uel� ;r�flexão·:� . . . . . .

__ . . A vida e" o sol qiie i:h�ga. ao éúmulo .quando ca�fqJtt em mfs essas canções :celestes, .A sua aurora é o berço .:

. . . . .

. E o' seµo.caso é O· T úmulô: . . . ·. ,

--� �·�-� � �-� � ��--�-� � �-� � � � � �-�

E continu�ste discorrendo ·enq�anto\çidos 'fbsorviarh o,qü� dizias . . 1Comb jndeu surpreendeste: foste, dentro. déssa etnia, o priineÍro Otidal General

na· História da Aeronautica. Létnbra da Radiologia? Não existiam essas máquinas fabulosas e ja enxergavas

o, qu� ninguém via. Consideravam-te um dos melhores! · _ . · �-E o CEMAL? 1'.[irthi lémbrança é de ti na Direção qu�ndo do Cinqüenten:áfio. Qu'e ,comern:o�ação! Quân-. ,

tá gente de. todo o Brasff - da comunidade mfdica·; acadêmica· <;; da Aeronáutica,' aparéceu! Que prestígío! ... · e quanto tnerécimentoL.;

· · · . ·

Titularid;des · é . honrarias, medalhas e conien4as,. nisso poclias faz;r eipo�ição. Màs,. acredite; - t�Elos sàbi�; a111 quy. teu sucêsso · n�êi foi um mero acàs(). . .• . . _ _ ..

.

_ ·

. _ _ ·.

_

_ _

. . ... __ . ... _ _ _. Não podia deixar em bi:àgco .ª Saga da Farrúli.a,_c9m laps9s,.é ye_rdade;· porql;le· �memória já m�. falha: :teu•·.

pai,: Adolfo, t<isdiinhevsky,: n�scido: 'na; Mold*'71a·:em 1890; :em, tempbs conturbado:'· naqµde. cal�eirãp' êtt)ico da. tersia Iw1t1a, e tua mãe: �erta .M�q9védowsky;. po�cô mais jovem;

. da cid�dê .. de Rllss,enie Guberhe, ,�mbqs,

·. :b�scararr/guiricla:_eµ1 .BueÂos Aires,,?n,4e·i�_e,;sasa�at11 ;ej1is.\eu .Ssth�r; ern.:19lf}:hli partirmn p;Í;a· 6 Rio,:��,Janeiro, "tiascéiido )acob�que; qit,Ii a rjiorte dê teú pai,' :f�:li: o amigo,de tPc;las as horas.:-Não. podemos .. e�quecer�

também, o pxlmp .. Be�r{àrd9,' quf: te, irítro.d�ziu'. ib Pfof.· Nifola �amiriha, t�ú ·mexitór ptofissional,'fe a:quêrú ... virias a 'SUb�iituir na Cideira'.riº _90 da -A-�:adbrµiã,Nacionai';<le''.Medicina, e cujo Patrono se orgalhaíia do

discípulo que ">tztre ª plebe 'não se c;�rompewe éhtr(:ircis não·perde�:a· nqtitralid1de:_ ... ·, . · ·., . .

E; card amigo, que vida· rica! ' · ' · · ,. · , · .Onde estás, terás que te �costum;1iao,çlescanso.<Mas,'.também, por aqui;' fiieste muito 'por muita-:gente

durante todo o teu tempo. · -

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Foste sábio, justo e batalhador. Portanto não morrerás de todo. AVE Waldemar! ... �

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