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Ah, meu caro velhinho de barbas brancas...

Acreditei em ti quando criança.

Desiludi-me quando me apareceste no seio familiar.

Agora, adulto, posso compreender-te no simbolismo de teusignificado.

Qual a um piloto explorando a magia do universo, vejo-te navegarsereno, preenchendo lacunas, com tuas renas a impulsionar o trenónessa imensidão de espaço entre a imaginação e o simbólico.

Ah, meu caro velhinho de barbas brancas...

Quando criança, sempre te pedi bens materiais. Como toda criança o faz.

Adulto...Como é difícil!...

Sei daqueles que precisam de um prato de comida; poderias mandar,junto, trabalho, para que possam transformá-lo em alimento.

Sei daqueles que precisam de trabalho; poderias mandar, junto,educação e cultura, para transformá-los em labor.

Sei daqueles que precisam de educação e cultura; poderias mandar,junto, discernimento, para transformá-lo em voto consciente.

Sei daqueles que precisam do poder; poderias mandar, junto,sabedoria, coragem e sensatez para te ajudar nessas tarefas.

Enfim, meu caro velhinho de barbas brancas, existem sonhos que, seos ousarmos sonhar, poderão se tornar realidade e modificar ofuturo. Poderias trazê-los contigo para esta família aeronáutica ejuntar a eles Paz, Alegria e Esperança.

Feliz Natal!

Papai Noel

Mario Ferreira Pontes FilhoEditor

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Revista aeronáutica nº 242 • Novembro - Dezembro / 20032

Presidente:Brig.-do-Ar R/R Danilo Paiva Álvares1º Vice-Presidente:Brig.-Med.R/R José Américo de Albuquerque Montenegro2º Vice-Presidente:Cel. Int. R/R Ricardo José Clemente

DEPARTAMENTOSAdministrativo:Cel. Int. R/R Haroldo Prado de AzevedoPatrimonial:Cel. Av. R/R Fernando Moura CorreiaSocial:Ten.-Cel. Int. R/R José Pinto CabralCultural:Cel. Av. R/R Mário F. Pontes FilhoFinanças:Ten.-Cel. Int. R/R Irajá Domingues da SilvaBeneficente:Cel. Int. R/R Haroldo Prado de AzevedoSecretaria Geral:Cap. Adm. R/R Ivan Alves MoreiraAssessoria Jurídica:Dr. Francisco Rodrigues da Fonseca

SUPERINTENDÊNCIASSede Aerodesportiva:Ten. Av. Ref. José Menezes FilhoDivisão de Ultraleves Motorizados:Ten. Av. Ref. José Menezes FilhoSede Social:Ten.-Cel. Av. R/R Cleber Cirilo dos SantosSede Lacustre:Márcio Ganem Álvares

CHICAER:Brig.-do-Ar R/R Danilo Paiva Álvares

Endereço:Pça. Marechal Âncora, 15 - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20021-200

Tel.: (21) 2210-3212 Fax: (21) 2220-8444Expediente do CAER:

Dias: de 3ª a 6ª feira - Horário: 9 às 12h e13 às17hSede Aerodesportiva: (21) 3325-2681

Sede Lacustre: (24) 2662-1049

Revista do Clube de AeronáuticaTel./Fax: (21) 2220-3691

Diretor-EditorMario F. Pontes Filho

Jornalista ResponsávelJ. Marcos Montebello

Produção GráficaLuiz Ludgerio P. SilvaMárcia Regina I. H. Galhardo

RevisãoDirce Brízida

Conselho EditorialPresidente1º Vice-Presidente2º Vice-PresidenteChefe do Departº CulturalDiretor Revista aeronáutica e Jornal arauto

Órgão Oficial doClube de Aeronáutica

Consultoria, ProduçãoGráfica e Fotolito

Rua do Rezende, 80 – Centro – RJ

Tels.: (21) 2263 3892, 2221 [email protected]

aeronáuticaaeronáuticaRevista

2003 E-mail: [email protected] Número 242

As opiniões emitidas em entrevistas e em matériasassinadas estarão sujeitas a cortes, no todo ou em par-te, a critério do Conselho Editorial, não representandocom isto ponto de vista do Clube de Aeronáutica e,sim, dos seus autores. As matérias não serão devolvi-das, mesmo que não publicadas.

Índice

EDITORIAL0404040404

0606060606 Pró-MenorA Redação

ENTREVISTA

1010101010Ten.-Brig.-do-Ar Luiz Carlos da Silva Bueno

FORÇA AÉREA Força Aérea - Passado, Presente e Futuro

1212121212 HCA - Um Saudável Jovem de 61 AnosCarlos Eduardo Bellizzi - Ten.-Cel. Méd.

ANIVERSÁRIO

1515151515

1818181818 O Outro Lado do Espaço-Utilidade...Maj.-Brig.-do-Ar Ref. Lauro Ney Menezes

TECNOLOGIA

2020202020 Acesso Ferroviário aos AeroportosEdmilton Menezes da Silva

DAC

2424242424 Dá no mesmo ...POLÊMICATen.-Brig.-do-Ar José Carlos Pereira

NOSSA CAPA

Caros AmigosBrig.-do-Ar RR Danilo Paiva Álvares

A Sobrevivência da Utopia SocialistaCarlos Ilich Santos Azambuja

VISÃO DOS FATOS

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Revista aeronáutica nº 242 • Novembro - Dezembro / 2003 3

2626262626 O Apoio ao Homem no SISCEABDECEAReginaldo dos Santos Guimarães - Cel. Av. RR

2828282828 Fundação Previdenciária Militar - Uma NecessidadePREVIDÊNCIARenato Paiva Lamounier - Cel. Av. RR

3636363636Lauro Roque

NOSSA HISTÓRIAA Aviação Comercial e o Patrulhamento da Costa

Brasileira na Segunda Guerra Mundial

4040404040 De Economia e Política para CriançasPOLÍTICALuis Mauro Ferreira Gomes - Cel. Av. RR

O Renascimento3232323232Araken Hipólito da Costa - Cel. Av. RR

3939393939 Reminiscências de um AviadorRECORDAÇÃOPaulo Esteves - Cel. Av. RR

ARTE

Manuel Cambeses Júnior - Cel. Av. RR3434343434 CENÁRIO INTERNACIONAL O Impossível Mundo Unipolar

4444444444Maria Veronica AguileraMeu Brasil BrejeiroCRÔNICA

4848484848 Lembrai-vos ... Dos PioneirosEvaldo Pereira Portela

MUSAL

Ivan Von Trompowsky Douat Taulois - Cel. Av. RR4646464646 FATO REAL A Neném nos pregou uma peça

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Revista aeronáutica nº 242 • Novembro - Dezembro/20034

EDITORIAL

EDITORIAL

Caros amigos,

EDITORIALEDITORIALEDITORIALEDITORIALÚltima Revista aeronáutica de 2003, último Edi-

torial do ano.Normalmente, nessa época, desejamos um Fe-

liz Natal e Próspero Ano Novo para todos os nossosassociados e seus familiares, o que fazemos agora.

Quanto ao nosso Clube não é diferente! Apósanos de luta pela sua sobrevivência, todos nós lhedesejamos muita saúde e felicidades neste 2004 quese aproxima.

Será que fizemos tudo o que era necessárioem 2003 para que tenhamos um ano novo feliz?Honestamente, penso que a atual Diretoria o te-nha feito. O CAer continua com sua programaçãosocial cada vez mais intensa, todas as suas contase salários em dia, vários melhoramentos foram de-senvolvidos nas nossas três sedes em benefício dosseus freqüentadores, tendo sido, inclusive, inau-gurado o Setor Náutico, do Departamento Despor-tivo, com diversas programações marítimas, anti-ga aspiração de um sem-número de sócios. Temoshoje, nas três Sedes, salas de estar com TV; na SedeCentral, temos um computador com Internet parauso dos sócios e hóspedes do Hotel. Vocês já fo-ram à Sede da Barra ultimamente? Vale a pena vi-sitá-la! E a piscina da Sede Lacustre? Cara nova,novos jardins e outro visual na entrada da SedeSocial, com um controle efetivo de entrada de só-cios e convidados, é o que os espera ao adentrar oClube no início do ano.

E os problemas, ainda persistem? Claro quesim! Não existem milagres, porém com soluções acurto prazo em se tratando do tempo da vida denosso Clube. Atualmente, temos alguns problemastrabalhistas menores, outros de manutenção dasinstalações, sempre custosas, uma idade média dossócios muito elevada e, as já conhecidas, ações judi-ciais CHICAER, que levaram o Clube à situação

de insolvência. Os dois primeiros fazem parte darotina de qualquer Clube, quanto ao terceiro, oConselho Deliberativo criou uma Comissão paraestudar e equacionar o problema a médio prazo,porém o último constitui, realmente, a nossa gran-de dor de cabeça, passando atualmente por umafase de transição bastante grave, delicada e com-plexa. Acreditamos que dentro de três a quatromeses, lá por meados de abril, a situação econô-mica/financeira do Clube já estará normalizada,dentro de uma nova rotina, e assim permanecerádurante o ano de 2004, quando, provavelmente,antes do final do ano o Clube reassumirá a sua au-tonomia plena em virtude da extinção prevista detodas as ações judiciais CHICAER na 2ª Vara Em-presarial, e conseqüentemente, o Processo de In-solvência em curso no STJ será também extintopor ter o Clube pago a todos os seus credores. Oprovavelmente acima deve-se ao fato de que a Justi-ça tem um ritual, velocidade e processos adminis-trativos próprios.

Esta é a estratégia adotada para que o Clubepossa voltar à normalidade, ainda em 2004. A ou-tra linha de ação seria aguardar a decisão do STJ,talvez daqui a uns cinco anos, sabendo-se de ante-mão que fatalmente seria confirmada a sua Insol-vência, já que a CHICAER tomou o dinheiro dosmutuários, não honrou seus compromissos contra-tuais e, por incrível que pareça, não devolveu osreferidos recursos aos seus legítimos donos.

A vantagem da estratégia adotada é a de que a2ª Vara Empresarial pagará, por Lei, a todos os credo-res da CHICAER, a dívida inicial corrigida pelos índi-ces oficiais do Governo e não a dívida das sentenças exis-tentes nos processos, hoje, no STJ em Brasília. Esta se-ria impagável! O Clube possui, atualmente, cercade R$ 2.500.000,00 (a CHICAER tem ainda mais

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EDITORIAL

Brig.-do-Ar RR Danilo Paiva ÁlvaresPresidente

R$ 1.000.000,00) – valores históricos – deposita-dos no Banco do Brasil, judicialmente, fruto dearrestos, bloqueios e penhoras nos últimos oitoanos. A dívida corrigida a ser paga aos credores doClube pela 2ª Vara Empresarial monta, aproxima-damente, a R$ 1.400.000,00. Conforme explana-do e de acordo com os dados contábeis, temos re-cursos mais do que suficientes para que a Justiça –e só ela poderá fazê-lo após a sentença de Insol-vência – pague a todos os credores da CHICAER.

Em termos financeiros, políticos, administra-tivos e de técnica jurídica acreditamos que a Dire-ção do Clube tenha encontrado uma solução ade-quada, prática e exeqüível, coroando todos os es-forços feitos pelos nossos ex-Presidentes, os Bri-gadeiros J. J. Carvalho, Fiúza, Araújo, CarvalhoNeto e Braga, cada um na sua época, em diversassituações, pressões e realidades, porém sempre com

uma mesma meta: a de honrar os compromissos daCHICAER com os adquirentes do Empreendimen-to de Jacarepaguá.

Graças a Deus, estamos chegando ao fim deum ciclo na história do Clube de Aeronáutica, esomente uma catástrofe administrativa ou judicialinesperada poderá inverter o processo de saneamen-to financeiro/econômico de nossa instituição.

Aproveitemos o Natal que se aproxima pararepensarmos o nosso Clube com um espírito con-ciliador de Paz, serenidade e bom senso, conscien-temente longe das paixões eleitorais e divergênci-as pessoais, pois somente unidos, como sempre ofomos, chegaremos ao final de 2004 completamen-te livres de todas as nossas dores de cabeça.

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ENTREVISTA

RA - Primeiro, um panorama da sua vida.CA - Nasci em Minas Gerais, numa cidadezinha dointerior, Cataguases. Tinha seis meses quando meuspais vieram para o Rio de Janeiro. Fomos morar naFavela da Maré, em Bonsucesso, que, na época, cha-mava-se Baixa do Sapateiro. Naquela comunidade,moramos numa palafita no meio do mangue. Com ofalecimento de minha mãe, o meu pai, Alberto dosSantos, entregou-nos, eu e meu irmão Ricardo, aoscuidados de uma senhora vizinha nossa, por um pa-gamento estipulado. Posteriormente, foi-se embora enão voltou até hoje. Mesmo assim, ela ficou conos-co. Nós ficávamos num internato, durante o dia e, ànoite, ela ia nos buscar. Eu já devia estar com unsdois ou três anos de idade, quando ela, já sem nenhu-ma condição financeira, entregou-me à FUNABEM,no Rio de Janeiro, onde eu passei mais de quinze anosda minha vida, sendo doze em Escolas Agrícolas:Escola Agrícola Sabóia Lima, em Valença; EscolaRodolfo Cook, em Miguel Pereira; no Patronato deMenores, em Morro Azul; e na Escola Agrícola deBemposta, em Três Rios. Ali, num regime de traba-lho de semi-escravidão, eu capinava, plantava...

Diretor – Sr. Carlos Roberto dos Santos

RA - Quem, ou que fato, o levou a abraçar a car-reira militar?CA - Foi um fato inusitado e a participação de duaspessoas a quem sou grato: uma Assistente Social emeu irmão Jorge. Tendo passado por todo aqueleprocesso de segregação dentro das Escolas, algo debom eu aproveitei. Eu costumo dizer, hoje, parameus alunos, que existia um local dentro do Inter-nato onde o Carlinhos se sentia muito bem. Era nasala de aula. Fui aluno aplicado, aprendia rápido.Daquele ambiente eu gostava. Depois de vir da la-voura e almoçar rapidamente, eu queria era ver aminha professora, o meu professor, queria ler...Eugosto de ler. Foi aí que, naquela época, com quator-ze para quinze anos de idade, eu pude perceber odestino que a sociedade dava, e ainda dá até hoje,aos jovens que estão dentro da FUNABEM, ouFEBEM. Qual seria o destino final deles ao com-pletarem dezoito anos de idade. Eu não queria aquilopara mim. Naquele momento, eu comecei a repen-sar o meu futuro. Já estava com quase dezesseteanos de idade, quando conheci as pessoas às quaisme referi. Por intermédio de uma Assistente Social,

Grupo PRÓ-MENOR do Rio de Janeiro

Carlinhos Pró-Menor, mais do que um militar da reserva, é um sociólogo e umhumanista. Durante 21 anos tem dedicado sua vida aos menores carentes.Natural de Cataguases (MG), ainda na ativa criou o Pró-Menor, em12 de dezembro de 1985 e, como bom mineiro, em silêncio.Hoje, reconhecido e respeitado no Brasil e por essemundo afora, continua o mesmo Carlinhos, recatado e gentil,mostrando com simplicidade que suas ações continuamsendo seu cartão de visita.Por ocasião da comemoração da maioridade doPRÓ-MENOR – 18 anos – a Revista aeronáutica sente-sehonrada com a oportunidade de divulgar aquilo que seum pouco fizéssemos quão grande nos tornaríamos.Parabéns, Carlinhos!

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ENTREVISTA

que foi uma das pessoas, descobri que eu não erasozinho no mundo, como sempre pensara: soube queeu tinha familiares por parte de minha mãe e de meupai e que alguns mais jovens estavam, também, in-ternados na FUNABEM, no Rio de Janeiro. Eramduas irmãs e dois irmãos. E não foi só isso! Naque-la oportunidade, fui apresentado a alguém que euconheci pela primeira vez, ao meu irmão Jorge. Essa

foi a segundapessoa. Elehavia feitoconcurso paraa Aeronáutica:era sargentoe s p e c i a l i s t acontrolador deTráfego Aéreo.Me espelhandoem meu irmãofoi que defini omeu futuro.Meu irmão Jor-

ge, que hoje é suboficial da Aeronáutica indo para areserva, me deu a oportunidade, pagando dois me-ses de estudos para que eu fizesse o concurso. Euprovei não só a ele, como também a mim mesmo,ser capaz de, mesmo na FUNABEM, estudando odobro do que uma pessoa normal estuda, varandonoites em estudo para concorrer com vinte e cincomil candidatos, em concurso público, de ser apro-vado, como fui entre os quinhentos. Peguei a Infan-taria, na qual fiquei durante 24 anos. Durante essetempo, fiz curso de educador. Isso me faz bem. Sem-pre me fascinou.

RA - Sabemos de um fato marcante nesse tem-po, poderia abordá-lo?CA - Quando me vi formado como sargento da Ae-ronáutica, com muito orgulho, eu fui à FUNABEMvisitar meus amigos que lá estavam, e mais de vintedesses amigos me rodearam, porque eu fui lá osten-tando a farda azul baratéia da Força Aérea Brasileira.Não fui lá por uma questão de exibição. Fui comoexemplo; tanto serviu, esse exemplo, que diversosqueriam saber como eu conseguira chegar lá...Naquelemomento, chorando, eu jurei para mim mesmo queiria ensinar-lhes o caminho...como o Carlinhos saiuda rua e conseguiu ostentar a farda azul baratéia.

RA - Na ativa ou na reserva, você sempre teveessa inclinação para essa atividade a que se de-dicou?CA - Aluno da EEAR, segui toda a carreira do Qua-dro e fui para a reserva como suboficial. Dediquei-me a apenas uma atividade: o PRÓ-MENOR. Eraum projeto ao qual já me dedicava há 18 anos, mes-mo na ativa, em paralelo ao meu serviço na Aero-náutica. Lidava com assuntos referentes aos meno-res. O Grupo PRÓ-MENOR foi uma extensão am-pliada do que eu já fazia. Hoje é a ONG que noBrasil ampara, protege, profissionaliza e encaminha,para o mercado de trabalho, os jovens carentes derua. Como ONG, só começou, realmente, em 1982.Eu ainda estava na ativa, quando tive o auxílio deum grupo de oficiais da Aeronáutica.

RA - Vamos falar sobre o PRÓ-MENOR.CA - O embrião do Projeto começou naquele ins-tante em que, chorando, fui rodeado pelos jovensda FUNABEM. Depois que voltei ao meu quartel,tive o primeiro contato com um oficial de grandevisão, o então Ten.-Cel. Bueno, subchefe de avalia-ção da ECEMAR. Da antiga ECEMAR, que funci-onava no Galeão. Conversei, também, com o Cel.Lamounier e com o Comandante daquela Escola,Brig. Fish. O Comandante autorizou uma visita àECEMAR, daqueles companheiros que haviam merodeado na FUNABEM. Esse grupo de jovens foivisitar, pela primeira vez, um quartel por dentro.Algum tempo depois, acho que em 84, eu fui servirna Base Aérea do Galeão, quando o Comandanteque havia assumido era o já então Cel. Bueno, queeu conhecera na ECEMAR. O Cel. Bueno foi o ver-dadeiro idealizador do Grupo PRÓ-MENOR, jun-tamente comigo. Ele permitiu que eu trouxesse osjovens para receberem educação profissional, edu-cacional dentro de um quartel da Força Aérea. Isso

“...já com uma visãosocial mais ampla doBrasil e de diversos

países do mundo, vejoque, dentro do meupaís, a minha ForçaAérea entendeu a

mensagem.”

“A idéia inicial do nossoprojeto sempre foi a de

atender jovens da periferiados quartéis.”

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ENTREVISTA

foi um fato inédito, porque os jovens que ali forameram da periferia do quartel, eram da rua, eram daFUNABEM. Nós começamos este projeto com vin-te e cinco jovens. De minha parte, para não falharem termos educacionais, me cerquei de pessoas com-petentes. Houve uma adequação em palestras paraos militares, para que eles soubessem quem seriamaqueles jovens que a Força Aérea iria receber. Euera o primeiro a chegar e o último a sair, porque oprojeto teria que dar certo. Hoje, quando vejo a con-tinuidade que o atual Comandante da Aeronáuticadeu a um trabalho que começamos embrionariamen-te na Base Aérea do Galeão, sinto-me orgulhoso por-que, já na reserva, e já com uma visão social maisampla do Brasil e de diversospaíses do mundo, vejo que,dentro do meu país, a minhaForça Aérea entendeu a men-sagem. Parabenizo o Brigadei-ro Bueno quando assisto, ostrabalhos sociais que estãosendo desenvolvidos em to-dos os COMAR. Conseguiu-se colocar no mercado de tra-balho e dentro da Aeronáuti-ca, ao longo dos anos, centenas de jovens. Muitostrabalhando em diversos lugares... Outros tantos sãosargentos, cabos e soldados. A idéia inicial do nos-so projeto sempre foi a de atender jovens da perife-ria dos quartéis. Ela serviu de exemplo. Vemos, hoje,no Exército Brasileiro, desde 87, na Marinha do Bra-sil, na idéia do Bombeiro Mirim, na Polícia Militar,projetos semelhantes ao nosso. Eu vejo, hoje, queainda há salvação, através das instituições, para oscarentes. Nós, militares, sempre fizemos e vamoscontinuar fazendo muito mais.

RA - E da área militar para a civil?CA - Ao sentir que o projeto social estava dandocerto na área militar, eu tive a idéia de que poderiatrazer conscientização da realidade social à socie-dade. Comecei uma série de palestras em Univer-sidades, Rotary, Lions, mostrando o outro lado daFUNABEM, não o lado que era publicado nos jor-nais antigamente, que ali era um antro de bandidos emarginais, não dando chance nenhuma a quem esta-va ali de ser introduzido de novo na sociedade. Nãotinham chance de provar nada, porque a sociedade,

já confundida pelo que publicavam os jornais, nãoacreditava que eles eram pessoas que poderiam es-tar entre eles. Eu queria mudar esse quadro, mos-trando que não era bem assim, porque eu viera daFUNABEM e chegara a militar. Eu criei o PRÓ-MENOR por esse motivo, porque, com o meuexemplo, eu sou o avalista daqueles jovens juntoaos empregadores

RA - Soubemos que houve convite político parafiliação em partido. Você achou que isso seriabom para o PRÓ-MENOR ou teve dúvidas?CA - Em 88/89, eu vim transferido para o TerceiroComando Aéreo Regional e conheci, tive a honra, o

privilégio de conhecer um se-gundo homem dentro da Ae-ronáutica com uma visão so-cial também inalcançável,que é o Brigadeiro Danilo.Esse homem me deu a opor-tunidade de mostrar ao país,com o apoio do Bamerindus,a vida do Carlinhos, desde aFUNABEM, passando pelonosso Serviço Social (da Ae-

ronáutica) até o Grupo PRÓ-MENOR. Uma das mi-nhas funções dentro do COMAR III era de Assis-tente Social, e um dos nossos trabalhos era atenderaos familiares de nossos militares e seus dependen-tes em caso de falecimento. Devo repetir que nuncadeixei de realizar, nas horas vagas, depois do térmi-no do expediente militar, minhas tarefas sociais. Ànoite eu estava na Faculdade ou, nas horas de folga,dando palestras, atendendo e incentivando menores,ou tudo o mais. Como de rotina, no COMAR III,fui chamado para atender uma família que passoupor dificuldades diante da notícia da morte de seuente querido, e procedi ao atendimento normal deremoção do corpo, Santa Casa, sepultamento ou cre-mação, e eu dei toda a assessoria possível àquelafamília, retornando ao Batalhão de Infantaria. Umasemana depois, fui chamado pelo Brigadeiro Dani-lo, até então eu não conhecia o Brigadeiro, que que-ria me transmitir um recado e um elogio daquelafamília que eu tinha atendido. – “ A família do Briga-deiro que faleceu veio, em bloco, agradecer a preste-za com que o militar que a atendeu tinha se conduzi-do durante o momento difícil pelo qual ela tinha

“...nunca deixei derealizar, nas horas vagas,depois do término do

expediente militar,minhas tarefas sociais.”

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ENTREVISTA

passado.” Disse-lhe eu que os elogios ficavam parao COMAR, porque eu cumprira somente a minhaobrigação, eu não sabia que a família era de briga-deiro, e que se fosse de um soldado ou de um meni-no de rua eu agiria da mesma forma. Ao ouvir aminha colocação ele quis saber mais da minha vida.Quando lhe disse que eu era o Carlinhos PRÓ-MENOR,ele se espantou: – “Carlinhos! Eu te conheço já háanos, de nome! Olha! O seu perfil é de gente quefaz. Amanhã eu vou almoçar com o Aldo do Bame-rindus e vou te indicar.”

RA - E ele cumpriu?CA - Quinze dias depois eu já estava no Hotel Gló-ria, viajava por esse país inteiro gravando Gente QueFaz do Bamerindus. Foi então que o país inteiro co-nheceu a história do Carlinhos PRÓ-MENOR; o pro-grama ficou muito bonito na televisão, foi o únicoque foi reprisado na Globo. Hoje, eu tenho a honrade ter o Brig. Danilo como um dos Conselheiros doPRÓ-MENOR. Fiquei conten-te ao vê-lo receber a MedalhaPedro Ernesto, numa audiênciana Câmara dos Vereadores,pelo seu trabalho no PRÓ-ME-NOR. Vieram, então, os con-vites políticos mais fortes e in-sistentes. Desde quando eu co-mecei, havia esses convites,embora esporádicos, mas eununca os aceitara. Não seriaagora que o faria. Eu estava naárea social e entendia que qualquer associação mi-nha à política poderia prejudicar, de alguma forma,o projeto social. Com o PRÓ-MENOR, tenho mui-to mais coisas para falar, para poder brigar, reivin-dicar, do que se eu estivesse como candidato, oucom um cargo de deputado ou de vereador na mão.Estaria agregado a uma legenda e hoje estou agre-gado a todas as legendas; sou recebido por Minis-tros, Governadores, Prefeitos, Conselhos Tutelaresde qualquer linha política. Tenho um trabalho soci-al muito forte, que não pode sofrer discriminação.Tampouco quero ouvir: – “Ah! Ele fez aquilo paraser político!”

RA - Você escreveu um livro?CA - Depois do que me proporcionou o Brig. Danilo,

resolvi contar minha história para todo mundo nopapel, tipo uma autobiografia, incentivando essesjovens, mostrando que existem exemplos iguais aeles, que eles não precisam parar de sonhar, porqueo Carlinhos sonhou a vida inteira e conseguiu che-gar até aqui. Não só eles, mas também a jovens ca-rentes de salas de aula do supletivo, mesmo os quetêm ocupação mal remunerada e que aquele esfor-ço dele, à noite, depois de um dia inteiro de traba-lho, pegar uma marmita, comer rapidinho e conti-nuar estudando mais e mais, um dia será recompen-sado. Escrevi o livro O Menor que se Fez Maior,que foi exposto na Bienal do Livro, no Rio de Janei-ro, foi destaque no Fantástico da Rede Globo, na Ban-deirantes, na Rede TV. Editoras do Brasil e de forado país se interessaram. Hoje tenho contrato com aEditora Scipione. Tinha sido um livro de fundo dequintal, no qual eu aplicara todo o meu 13º salário,mas que o Governo do Estado comprou 150 milexemplares, depois de uma palestra minha na Cân-

dido Mendes, para um grupode educadores; a compra esta-va vinculada a uma série depalestras nas escolas da redeestadual. Hoje tenho tido mui-tos convites para palestras,aqui e no exterior. Agora mes-mo estou viajando para Foz doIguaçu, Uruguai e Argentina.Fui chamado para ajudar naMissão Criança, uma ONG fun-dada pelo Ministro da Educa-

ção Cristóvão Buarque e que dá apoio complemen-tar de bolsa escola e material escolar. Ela já se es-tendeu por mais de vinte países, inclusive da Áfricae da América Latina.

RA - A entrevista está terminando. Você gosta-ria de deixar uma mensagem?CA - Assim como eu ficava esperando, no passado,ficava sonhando que Papai Noel iria colocar naFUNABEM, no meu pezinho, um presente, todasas crianças esperam. Eu quero mandar uma mensa-gem para todos esses jovens do Brasil, para queeles continuem sonhando e fazendo, que eu tenhoa certeza que Papai Noel, este ano, vai ser generosocom vocês, dando a vocês tudo o que vocês preci-sam, que é uma oportunidade.

“...entendia quequalquer associação

minha à políticapoderia prejudicar, de

alguma forma, oprojeto social.”

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FORÇA AÉREA

OOOOO que queres sonhar hoje? O que podes sonhar?

Eu continuo sonhando e caminhando..., pisando firme, em terreno seguro, estável, orientado em precisosprojetos e corajosas realizações.

A nebulosidade de meu sonho se dissipa e já posso ver uma Força Aérea ágil, atenta, eficaz..., fruto dotrabalho de muitos dos que nos antecederam e de milhares que ora labutam em prol de sua grandeza; vejo o queconstruímos, do abstrato desejo ao perfeito realizar.

Vejo uma Força Aérea inovadora no preparo de seus componentes; complexa em seus equipamentos;simples em sua operacionalidade.

Vejo uma Força Aérea disciplinada, aguerrida e consciente de suas potencialidades. Adequada ao nossogrande Brasil, digna de sua representatividade, pronta para a missão delegada pelo povo brasileiro.

Não há como não se realizar o meu sonho, pois trabalhamos diuturnamente, há 62 anos, em prol do seucrescimento, adestramento e aparelhamento. Ela leva a presença do Brasil às distantes fronteiras; conduz omédico, o remédio, o alimento e a esperança – conduz a Pátria aos filhos dispersos.

Não há como não se realizar o meu sonho, pois as aeronaves de Sensoriamento Remoto estão prontas paraa sua sutil e sofisticada missão. As de Alarme Aéreo Antecipado nos dotam de poder acima dos olhos e do intangível.

Não há como não se realizar o meu sonho, pois os radares e outros equipamentos conhecem cadapalmo destes céus, tecendo uma rede de dimensões continentais, orientando, informando e controlando ospássaros de aço que cruzam os ares desta terra – protegendo nossa gente, permitindo a circulação de riquezas ea ligação com outros povos, através de uma Aviação Civil flexível e apta a contornar as turbulências.

Não há como não se realizar o meu sonho, pois os velozes vetores de policiamento do espaço aéreoestarão brevemente sendo produzidos e recebidos para cumprirem a sua nobre missão. Foram escolhidos pormeio de um trabalho árduo, balizado em estudos técnicos e operacionais profundos e adequados. Serão a agudalâmina a defender a Nação brasileira.

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FORÇA AÉREA

Não há como não se realizar o meu sonho, pois a conquista do espaço sideral, por nossas própriasmãos e por aquelas que virão nos ajudar, é questão de tempo, em conseqüência dos ensinamentos adquiridos àcusta de muito sacrifício, muita dedicação e entusiasmo, abrindo aos brasileiros a fronteira da exploração comer-cial e científica do espaço.

Não há como não se realizar o meu sonho, pois os currículos escolares – de formação e de aperfeiçoa-mento – foram cuidadosamente aprimorados, resultado de nossas experiências ao longo de décadas e do inexo-rável desafio de um futuro que não espera para chegar.

Não há como não se realizar o meu sonho, pois, nos hangares e nas oficinas, existem profissionais quevivem suas vidas para que as aeronaves sob seus cuidados operem com segurança – para isso, recebendo rigoro-sa formação técnica e, acima de tudo, exercendo a abnegação de bem apoiar.

Não há como não se realizar o meu sonho, pois o pronto apoio ao homem, a permanente assistência àsfamílias e o bem-estar de nosso contingente têm sido o ideal diário de seus responsáveis.

Não há como não se realizar o meu sonho, pois, a despeito de toda sorte de dificuldades e dos proble-mas conjunturais enfrentados pelo Brasil, estamos conseguindo superar os impedimentos naturais, por força dacriatividade e da busca de soluções para esses impasses.

Não há como não se realizar o meu sonho, pois os primeiros passos foram dados por gigantes, homensque o tempo e a morte não conseguiram frear. É Santos-Dumont, é Eduardo Gomes, é Nero Moura, é Montene-gro. É Lavenère, é Fontenelle, é Araripe. É Deoclécio, é Camarão, é Protásio. Eles renascem a cada 10 de julho,quando jovens mãos empunham espadins e bradam o juramento que marcará suas vidas.

OOOOO meu sonho será realizado, porque ele vem de longe, e ganha força a cada dia, e apura o passo nacaminhada para o destino de nossa Aeronáutica. O meu sonho virá, pois se você crê neste País e ama a ForçaAérea, ele também é o seu sonho...

Ten.-Brig.-do-Ar LUIZ CARLOS DA SILVA BUENOComandante da Aeronáutica

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ANIVERSÁRIO

m 18 de agosto de 1934 era entregue à Socieda-de Beneficente Itapagipe, o Hospital Alemão do

Rio de Janeiro, cuja pedra fundamental havia sido lan-çada em 1932.

Foram oito anos de relativa tranqüilidade, até queo clima de instabilidade na Europa culminou na Se-gunda Guerra Mundial. Pelo fato de o Brasil e a Ale-manha terem posições opostas no conflito, o Gover-no brasileiro transferiu para seu domínio o hospital,em 17 de agosto de 1942. Dez dias após, pela Porta-ria Ministerial nº 100, era criado o Hospital Central daAeronáutica.

Pleno de história, esse tradicional hospital, des-de os seus primórdios, sempre objetivou oferecer umatendimento diferenciado aos seus usuários. Não foisem motivo, já que na época da inauguração, o noso-cômio do bairro do Rio Comprido constituía razão deorgulho para a cidade, passando a representar um pa-radigma de excelência em saúde que transcendia asesferas municipal e estadual.

Ao longo destas décadas, o HCA vem experimen-tando uma evolução contínua, orquestrada pelo ta-lento, pela ousadia e determinação daqueles que odirigiram.

Desde o então Coronel Médico, Dr. Ângelo Go-dinho dos Santos, seu primeiro Diretor, cada um dos

seus sucessores, com seu estilo, contribuiu, inegavel-mente, para forjar a personalidade do mais antigo hos-pital da Aeronáutica brasileira.

Pertencer ao elenco profissional deste elegante se-xagenário, ícone da Saúde Aeronáutica representa, para oefetivo, uma honra, uma distinção como poucas –afinal considera-se o HCA mais do que paredes, piso,estrutura sólida: sente-se como um verdadeiro organismovivo, com um coração capaz de alojar sentimentos desolidariedade, de respeito pelo próximo, com umamente voltada à busca incessante de soluções que tra-gam alento aos pacientes e, porque não dizer, comuma alma que permite a geração de uma atmosfera,quase que mágica, tão positiva, que confere uma sen-sação de bem-estar geral.

Imbuídos do senso de responsabilidade para comas gerações do passado, presente e futuro a adminis-tração, o corpo clínico, o pessoal de logística e asautoridades vêm envidando esforços no sentido depossibilitar que o HCA preste cada vez mais efetivaatenção à saúde, de modo que se mantenha firme aoencontro da definição mais ampla do que é saúde: aausência de doença e o bem-estar físico e mental.

Para proporcionar um atendimento de qualida-de, nos dias atuais, não basta oferecer somente umaconsulta com um bom profissional. Há que existir

Carlos Eduardo BellizziTen.- Cel. Méd.

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ANIVERSÁRIO

um conjunto de situações que colaborem para a sa-tisfação do usuário. Portanto, é importante ter emmente que assim como o ambiente – mesmo sob o pontode vista físico – influencia o homem, a urbanidade de-senvolve as relações humanas, assim como a valori-zação do homem acaba por incutir-lhe o senso deque seu papel na organização determina o nível dequalidade almejado pela administração. O somatórioexitoso destas três condições propicia a geração deuma atmosfera de harmonia fundamental para asse-gurar um clima de camaradagem entre profissionais;uma elevada auto estima do pessoal de apoio; e umarelação médico-paciente fortemente construtiva.

Complementando os pré-requi-sitos anteriores, constata-se que oconforto, o aspecto das instalações,a sobriedade do ambiente, a ofertade informações adequadas e úteis,a cortesia de quem estabelece o pri-meiro contato, a boa vontade emdissolver os problemas que angusti-am os usuários, e a certeza de quetodos são realmente importantes nassuas funções, são alguns ingredien-tes que compõem a possível fórmulapara o sucesso.

No encalço da qualidade ematendimento, a administração vempriorizando duas vertentes: a quecorresponde às relações humanas e aquela que interes-sa ao campo material.

Prestigiou-se a Comunicação Social como ins-trumento essencial para estabelecer um elo entre aDireção e os Usuários através do emprego, dentre asatribuições previstas, das chamadas caixas Fale como Diretor.

Foi criada a Ouvidoria, com o objetivo de ofe-recer um apoio adicional aos pacientes que desejemexternar verbalmente suas sugestões, elogios e recla-mações.

Se hoje o HCA detém uma aparência mais jo-vem, tal fato deve-se às autoridades que disponibiliza-ram recursos para esta finalidade: ampliar, redimensionar erevitalizar instalações, com o fito de proporcionar aousuário melhores condições de atendimento, conso-ante seus anseios, sugestões e reivindicações.

Aperfeiçoou-se o sistema de marcações de con-sultas com o Call Center.

A atenção à infância foi materializada pela cria-ção da Unidade de Tratamento In-tensivo Pediátrica (UTI-PED), emcontigüidade à já existente Unida-de de Terapia Intensiva Neonatal(UTI-NEO).

Outra conquista importante foia inauguração da Enfermaria dePsiquiatria, sob a égide da chamadaReforma Psiquiátrica, que confereuma nova abordagem às doençastratadas pela especialidade.

O redimensionamento da an-tiga Seção de Radiologia – que pas-sou a ser denominada de Seção deDiagnóstico por Imagens (SEDIM)– constituiu um ganho significativo

para os pacientes pois, concentrando todos os equi-pamentos de imagens num único centro, os usuáriosnão precisam se deslocar para diversos locais a fimde realizarem seus exames.

A Unidade de Emergência (UEM) foi contem-plada com uma sala de atendimento ao grande trau-ma, desvinculada das dependências nas quais a equi-

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ANIVERSÁRIO

pe da sala do Médico-de-Dia proce-de ao atendimento de natureza clíni-ca e cirúrgica de pequeno porte.

A revitalização e expansão daUnidade de Centro Cirúrgico (UCC),no sexto andar, credenciam o HCAcomo o hospital militar de maior di-mensão neste segmento da atividade. O acréscimode uma sala cirúrgica, de uma ampla RPA (Recupera-ção Pós-Anestésica) e de dependências adequadaspara plantonistas brindaram o hospital com uma con-quista há muito almejada. O bloco operatório reno-vado recebeu um piso especial – isolante – do mes-mo tipo empregado nos melhores hospitais da cida-de. Foram adquiridos focos cirúrgicos (focos de luz)de última geração, que não permitem a formação desombras. Os sistemas elétrico e hidráulico foram re-cuperados, representando um fator de segurança im-portante. As salas passaram a dispor de terminais queviabilizam a realização de videoconferências, recur-so importante para o desenvolvimento do ensino.

A reboque da ampliação da Unidade de CentroCirúrgico foi delimitada a área destinada ao CentroObstétrico, no quinto andar, cuja instalação dar-se-áaté o final deste ano.

O investimento na Terceira Idade está simboli-zado pela inauguração das dependências da Unidadede Geriatria e Gerontologia (UGG), com o aprovei-tamento das antigas instalações da Seção de ArquivoMédico e Estatísticas (SAME) e cantina. Na UGG, oidoso tem à sua disposição um programa de ativida-des altamente motivadoras, incluindo aquelas de cu-nho artístico-cultural, como o Coral da UGG do HCA.

O Serviço de Atendimento Domiciliar (SAD),popularmente conhecido como homecare, teve suasede de controle instalada nas dependências da UGG.O SAD é mais um serviço de assistência aos pacien-tes que não podem sair do domicílio. Eles são avali-ados e tratados em casa pela equipe de saúde do HCA.

Outro avanço importante foi a finalização daEstação de Tratamento de Esgoto Hospitalar, umaexigência ambiental de importância capital, que vem

ao encontro dos pré-requisitos, apon-tados pela Vigilância Sanitária, comofundamentais para inserir o HCA noPrograma Rio-Transplantes. A rea-lização desta obra possibilitou, de for-ma oportuna e econômica, a constru-ção do novo muro do hospital, que me-

lhorou a condição de segurança das instalações; a cri-ação do portão lateral para o ingresso de carga, sempromover retenções de trânsito; e a reconfiguraçãodo portão principal de acesso, o que oferece mais con-forto à Guarda, facilitando a identificação noturna.

Diversos projetos de interesse direto do usuá-rio estão em andamento. Dentre eles pode-se des-tacar a conclusão do Centro Obstétrico, já menci-onado; o estabelecimento da nova Divisão Odon-tológica; a ampliação da Psiquiatria; as novas ins-talações da Psicologia; a revitalização do Labora-tório; e a nova dinamização da Seção de ArquivoMédico e Estatísticas (SAME), com a otimizaçãoda área física. Existem ainda vários outros proje-tos que giram em torno da aquisição de equipa-mentos, e também no segmento logístico, os quaistraduzirão amplos benefícios para os pacientes deforma indireta.

Este é o Hospital Central da Aeronáutica, umaorganização que conta com uma equipe que procurasempre atingir a eficiência, a eficácia e a efetividade emtodas as suas áreas de atuação.

Deve-se enfatizar que o ponto fundamental é oentendimento de que equipe é mais do que um grupode pessoas; é a soma de muitas energias. Mais do quea divisão de tarefas é a união em torno de um objeti-vo. A parceria cria a confiança, a habilidade cria orespeito e o sincronismo de todos produz resultadosnotáveis. Talvez esta interpretação semântica seja ooutro ingrediente para o êxito.

Finalmente, prezado leitor, fica para reflexão opensamento de Joseph Juran:

“Os membros de uma equipe vencedora lutamcontra seus concorrentes. Os membros de uma equi-pe perdedora lutam entre si.”

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VISÃO DOS FATOS

m seu último livro, A Grande Parada, Jean-Fran-çois Revel, membro da Academia Francesa, jor-

nalista e escritor francês, estudou o escândalo dasobrevivência da utopia socialista após a queda doMuro de Berlim, comprovando que uma ideologiapode terminar no domínio dos fatos mas persistirnas mentes e no domínio dos espíritos. É precisotempo para que essas imposturas desapareçam.

Como escreveu o sociólogo José Arthur Rios,na apresentação do livro, “a utopia é, assim, per-

manentemente adiada. Nunca se realizou; mas ama-nhã, quem sabe (...) com um pouco mais de boavontade, mais algumas voltas no parafuso, mais al-guns milhares de vozes silenciadas, de presos reco-lhidos a masmorras. De opositores executados – ejá chegamos lá.”

O texto abaixo é um pequeno resumo de um

A Sobrevivência daUtopia Socialista

dos capítulos de A Grande Parada. Destina-se àsnovas gerações que não acompanharam o apogeue o derradeiro espasmo da doutrina científica, umaaberração criminosa derrubada não por seus opo-sitores, mas pelos povos que viveram sob ela.

Atualmente, a reabilitação do marxismo-leninis-mo está em alta. Ela prolifera em livros e artigos quenos aconselham – não, essa não é a palavra correta –que nos intimam a voltar ao verdadeiro Marx, ouseja, ao século passado. A legião de combatentes mar-xistas redobrou em ferocidade exatamente a partirdo ano em que a História acabava de destruir seuobjeto de adoração, passando, então, a arrastar no-vamente a bola de ferro da utopia socialista.

Livres da importuna realidade, à qual passa-ram a negar qualquer valor de prova, os leais se-guidores recuperaram sua intransigência. Sentiram-se finalmente livres para novamente passar a san-tificar um socialismo devolvido à sua condição pri-mitiva: a utopia. O socialismo praticado dava mar-gem a críticas. A utopia, ao contrário, é por defi-nição inatingível. O comunismo, como utopia, nãotem obrigação de apresentar resultados. Sua úni-ca função é permitir aos seus adeptos a condena-ção do que existe em nome daquilo que não exis-te. Eles querem ser julgados pelo que dizem, quan-do na oposição, e não pelo que fizeram, quandogoverno.

Nos artigos da imprensa ocidental do início

“Ouvi dizer que na América do Sul ainda existem comunistas,o que eu acho um charme! Como se nada tivesse acontecido.”

(Doris Lessing, 82 anos, no livro The Sweetest Dream)

Carlos Ilich Santos AzambujaHistoriador

“Eles querem ser

julgados pelo que

dizem, quando na

oposição, e não pelo

que fizeram,

quando governo.”

E

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VISÃO DOS FATOS

da década de 90 proliferavam duas noções que apa-reciam com grande assiduidade. A primeira é queseria necessário, de uma vez por todas, colocar umapedra sobre o comunismo e tudo aquilo que a elese relacionasse. A segunda era que a solução liberalsurgia, então, após o desastre marxista, não comoo melhor caminho, mas como o único possível.

Ao final da década de 90, todavia, a virada foivertiginosa. Essas duas noções voltaram a ser es-

pezinhadas quase universalmente. Tendo sido aban-donado na prática, o comunismo passou a ser cadavez menos condenado. E sendo quase mundialmen-te condenado, o liberalismo é cada vez mais prati-cado, especialmente pela Esquerda marxista, umaespécie de museu de História Natural do pensamen-to científico mumificado. A defesa póstuma do co-munismo tem, como complemento, a colocação doliberalismo no banco dos réus, uma vez que reabili-tar o comunismo seria uma tarefa muito difícil, qua-se impossível. Decidiu-se, então, defendê-lo indi-retamente, mostrando que seu oposto, o liberalis-mo, seria ainda pior.

Na verdade, na Europa, assim como na Amé-rica Latina, a certeza de pertencer à esquerda re-pousa sobre um critério bem simples, de fácil en-tendimento para qualquer deficiente mental: ser, emqualquer circunstância, aconteça o que acontecer,venha o que vier, antiamericano e condenar o im-perialismo ianque.

Na França, por exemplo, o antiamericanismochegou às raias do delírio, na década de 1990-2000,quando os franceses descobriram que os EUA ha-viam emergido da Guerra Fria como uma super-potência isolada.

Sob o impacto do naufrágio, foram admiti-dos, se bem que a contragosto, a falência e atémesmo os crimes do comunismo. Depois de vári-os adiamentos, era chegada a hora do juízo finalpara o comunismo como doutrina. Tudo o maisera arqueologia.

Assim, o comunismo havia produzido nadamais do que a miséria, injustiças e massacres. Nãopor conta de traições fortuitas, ou má sorte, maspela própria lógica de suas verdades mais profun-das. Essa foi a revelação de 1990. Mais do que osocialismo real, a História condenou a própria idéiado comunismo. Não podendo apoiar-se em fatos,ele se reduziu a uma crença supersticiosa de que,em alguma galáxia longínqua, encontraríamos umasociedade perfeita, próspera, justa, feliz e, eviden-temente, comunista.

Os socialistas, embora confessando de temposem tempos, em suas manobras táticas, os maus re-sultados e as atrocidades do comunismo, rechaça-vam categoricamente a noção de que esses incon-venientes representassem a essência do socialismo.Essa permanece intacta, imaculada e destinada a umanova e próxima encarnação.

O comunismo não pode ser condenado pelosseus atos, por mais reacionários. Reacionárias sãoas pessoas que o julgam pelos seus atos, pois nãosão os atos que devem servir de critério e sim asintenções. Como o comunismo, no fundo, não per-tence a este mundo, o seu fracasso, aqui embaixo, éculpa do mundo e não do conceito comunista. Apartir dessa lógica, os que o recusam, alegando oque ele fez, são motivados, na verdade, por um se-creto ódio contra o que precisava ser feito: alcan-çar a justiça universal. O anticomunismo é, portan-to, condenável, por mais negativo que seja o balan-ço do comunismo.

Os homens e mulheres que durante os últimos150 anos tentaram empregar sua inteligência a ser-viço da Verdade, “caluniando” e buscando estabe-lecer um relato preciso da impostura comunista, sãomuito menos generosos que aqueles que serviramao comunismo, mesmo à custa de uma vida inteirapassada na mentira e na imbecilidade.

Qualquer pessoa que tenha aberto os olhos comlucidez sobre o comunismo, tal como ele era real-

“O remédio comunista

transformou em

ruínas as sociedades,

as quais foram

obrigadas a tomá-lo...”

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VISÃO DOS FATOS

mente, ou tal como sua queda o revelou, essa pes-soa estaria ou ainda está abraçando uma crença ego-ísta e mesquinha. Tal atitude foi e continua sendo,ainda hoje de Direita, reacionária, pois esse hipó-crita estaria escondendo sua aversão não pelo co-munismo em si, mas pela sociedade justa que ocomunismo iria criar.

A partir desse complexo amontoado de argú-cias, torna-se possível dar o passo seguinte, alegan-do que os mais infelizes, aqueles pelos quais se deveter compaixão, nesse período em que se extinguiua grande luz a Leste, não são as vítimas passadas epresentes do comunismo, mas seus antigos adep-tos, hoje cruelmente postos à prova por sua morte.

Esse passo foi dado por Danièle Sallenave emseu artigo Fim do Comunismo: o Inverno das Al-mas, no qual ela confessa que o comunismo era “umatirania odiosa e um modelo econômico nefasto”.Mas, ao mesmo tempo, era o único sistema quepoderia nos salvar do “aprisionamento pelo con-sumo”, do liberalismo desenfreado, do império dodinheiro, da dominação e do desprezo.

Com suas lágrimas, em seu artigo que pode sercomparado a um salmo, ela tenta apagar um séculoe meio de História no qual o socialismo teve inú-meras oportunidades de demonstrar seu valor.

O remédio comunista transformou em ruínasas sociedades, as quais foram obrigadas a tomá-lo;ele subjugou, imbecilizou e matou homens e mu-lheres, destruiu a cultura, mas continua sendo oúnico remédio. E o liberalismo continua sendo apior doença, da qual estamos impedidos para sem-pre de nos curar devido à queda do comunismo.

Assim sendo, o postulado básico permaneceinalterado. Embora o comunismo tenha contribuí-do para agravar as injustiças, ser contra ele é sercontra a justiça, pois o perigo maior continua sen-do o capitalismo.

Nesse sentido, toda tentativa de avaliar sere-namente o passado do comunismo, agora que elejá não é mais um elemento político do presente,toda obra consagrada ao pós-comunismo, às soci-edades gravemente mutiladas por décadas de es-cravidão totalitária, todo balanço, toda pesquisapassaram a ser considerados “nostalgia da guerra-fria” disfarçada de curiosidade científica. Por que

remexer nessas velharias?Assim, em diversos países, inclusive no Brasil,

no momento em que o comunismo acabou de serdesmantelado e quando o horror do seu passadosurgiu definitivamente com todas as cores, são osanticomunistas que o combateram que estão nobanco dos réus. Afinal de contas, eles não se enga-naram? Por que esses obcecados haviam qualifica-do o comunismo como irreversível? Ora, ele nãodesapareceu? Isso comprova que eles estavam er-rados!

Deve ser dito que a longevidade do comunis-mo foi uma anomalia, que dependeu da excelênciade seu sistema repressivo associado à complacên-cia paradoxal das democracias que, por diversasvezes, socorreram sua economia e aquiesceram àsua diplomacia.

No mais, é importante que fique claro que oque marcou a falência do comunismo não foi a que-da do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989,mas sua construção, em 1961. Ela foi a prova de

que o socialismo real havia atingido um tal pontode decomposição que se viu obrigado a aprisionarseus cidadãos para impedi-los de fugir.

Finalmente, uma das razões pela qual sedeve continuar lutando contra ocultação da na-tureza intrinsecamente totalitária e criminosa docomunismo é que, embora ele tenha recuadoconsideravelmente desde a derrocada da União So-viética, continua sendo uma esperança para os ini-migos da liberdade, sempre ávidos por instalarum regime de opressão em nome de uma supostadefesa dos oprimidos.

“...que fique claro

que o que marcou a

falência do comunismo

não foi a queda do

Muro de Berlim,

...mas sua construção...”

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DAC

as últimas décadas, os principais modos detransporte tornaram-se intensamente conges-

tionados, notadamente nas regiões metropolitanascom grande densidade populacional e distribuição es-pacial espraiada. Este fato atinge diretamente o trans-porte aéreo que necessita de acessibilidade rápida eeficiente a partir dos diferentes pólos geradores deuma cidade até seus aeroportos.

Em muitas situações, a duração da jornada deuma viagem porta a porta (por carro ou avião) tendea ser imprevisível, já que os congestionamentos dotráfego em ambos os modais (tanto na superfíciequanto no espaço aéreo) fazem com que os viajantespercam tempo excessivo e passem a optar por siste-mas que estão em transformação e se tornando maiseficientes como, por exemplo, o sistema ferroviário.Este sistema vem se apresentando como o modo maisfácil, menos estressante, mais econômico e o modeloambientalmente mais compatível e politicamente cor-reto para transportar pessoas que embarcam ou de-sembarcam nos aeroportos.

Por que oferecer Ligações Ferroviárias nosAcessos aos Aeroportos?

A importância fundamental em oferecer ligaçõesferroviárias (metrô ou suas diversas alternativas exis-tentes) entre o aeroporto e seus pólos geradores detráfego reside em estabelecer um sistema de alta ca-pacidade, rápido e eficiente, compatível com o cres-

cimento da deman-da aérea em todo omundo. Não é poroutro motivo queeste princípio vemnorteando a imple-mentação deste ser-

viço nos aeroportos localizados em cidades que têmsido sede de jogos olímpicos ou de grandes eventos.

Aspectos como velocidade, economia, conforto esegurança tendem a ser melhores neste sistema; váriosexemplos desta eficiência estão presentes em todo omundo. O Aeroporto de Heathrow em Londres dispõede excelentes serviços ferroviários incluindo o HeathrowExpress, que consome apenas 15 minutos para chegarao centro, com a vantagem de retirar diariamente cercade 3.000 veículos de suas congestionadas vias de aces-so. Este fato representou uma melhoria ambiental emLondres, com benefícios para os residentes, funcionári-os e usuários do aeroporto.

Para exemplificar, a Tabela 1, a seguir, apresen-ta alguns aeroportos internacionais com elevadasdemandas anuais e população diária flutuante que jádispõem da oferta do sistema ferroviário para acessoaos principais pólos geradores de tráfego.

Edmilton Menezes da SilvaTécnico do IAC

“Aspectos comovelocidade, economia,conforto e segurança

tendem a ser melhoresneste sistema”...

Figura 1: Proposta de ligação ferroviária para os aeroportos do Rio de Janeiro

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O número de pes-soas circulando diaria-mente nas dependênciasdesses complexos aero-portuários é muitas ve-zes superior à populaçãode cidades de porte mé-dio. Também em muitoscasos o desenvolvimen-

to do aeroporto fica comprometido quando a ofertados transportes de superfície não está bem equacio-nada e inibe sua ampliação. Este fato exigiu a oferta

de sistemas de alta capacidade nos acessos de super-fície que vêm sendo implementados, em sua maio-ria, quando da efetivação de grandes eventos, comoa realização de jogos olímpicos.

Transformação e Renascimento daFerrovia

No decorrer do século XX, com o advento daindústria automobilística; da ênfase dada ao trans-porte rodoviário; e de uma política equivocadapara o setor de transportes, ocorreu uma acentua-da deterioração do sistema ferroviário.

Entretanto, cem anos mais tarde, as dificul-dades resultantes do crescimento acelerado domodo rodoviário, que tem conduzido as grandescidades a um amplo caos urbano, associadas àstransformações ocorridas no setor ferroviário, cul-minaram com o renascimento deste modal, tendocomo implicação o redirecionamento do planeja-mento dos transportes.

Neste sentido, a atual tecnologia que permi-tiu a existência de trens mais rápidos e seguros estáem consonância com as modernas estações ferro-viárias, peças fundamentais para realizar mudan-ças e permitir uma adequada integração modal. Poroutro lado, as possibilidades de se realizarem obrassubterrâneas nos aeroportos existentes ampliaram

Tabela 1: Aeroportos Internacionais com Acesso FerroviárioAeroporto Demanda Anual Pessoas/Dia Distância ao Ano da Implantação

X (1.000.000) X (1.000) Centro do Transporte de Massa(km) (Sistema Ferroviário)

Atlanta (Hartsfield 78. 131. 14 1998Atlanta Int.)Londres 62. 109. 24 1997(Heathrow)Paris (Charles 48. 110. 23 1978de Gaulle)

Fonte: Columbus World Airport Guide

Figura 2: Exemplo de integração modal em plataforma de gare de trens

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as chances da implementação deste serviço.Este conceito permite o fácil acesso de grandes

contingentes da população aos aeroportos, que cadavez mais movimentam a economia com a geração denovas demandas, geração de empregos e o desenvol-vimento da atividade comercial ao adicionar áreasde shopping que oferecem grande vitalidade, com-plementadas com a conveniência de novas edifica-ções em seus limites patrimoniais e área de entorno.

Apesar de longo atraso, as regiões metropoli-tanas brasileiras cada vez mais constróem novaslinhas ou ampliam suas redes de metrô. No casoespecífico do Rio de Janeiro, encontra-se em lici-tação a implementação de novas linhas de metrôque deverão ligar os Aeroportos: Internacional An-

tonio Carlos Jobim(Galeão) e Santos-Dumont à rede exis-tente. Também emSão Paulo os estudosjá estão avançadoscom o objetivo de li-gar o Aeroporto Inter-nacional de Guaru-lhos ao atual sistemade metrô.

Competição Modal nos Acessos aosAeroportos

A partir da segunda metade do século XX ocor-reu o pleno desenvolvimento do transporte aéreoassim como do sistema rodoviário, inclusive comoforma de acesso aos aeroportos. Nas grandes áreasurbanas, a utilização deste modal, principalmenteo automóvel (ou até mesmo o ônibus), por sua fle-xibilidade para curtas distâncias, tornou-se cadavez mais intenso e conveniente nos acessos aosaeroportos. Mais recentemente, a partir dos anosde 1980, com a saturação das vias de acesso aosaeroportos, os viajantes desejavam outras opçõespara este particular deslocamento. Com a imple-mentação do metrô (subterrâneo) em algumas dasgrandes cidades surgiu uma certa competição. Ain-da assim, pelos elevados custos, menor diversida-de de destinos e dificuldades em se realizaremobras, esse sistema atendia somente pequena par-cela da população.

Apenas recentemente, com o desenvolvimentoe a introdução dos trens de alta velocidade (conheci-dos popularmente como trem bala) na França, Ale-manha, Japão e outros países, foi possível reverteresta situação, reduzir o atraso tecnológico e suspen-der a deterioração.

Estas inovações técnicas, em conjunto com pro-jetos futurísticos (Figuras 2 e 3), foram capazes detrazer novos atrativos para os viajantes dos trens,(como fácil acesso às plataformas de embarque e ma-nuseio de bagagem) ao mesmo tempo em que ocor-reram promoções desses serviços e uma renovaçãogeral sobre o interesse pela viagem ferroviária, inclu-sive como forma de acesso aos aeroportos.

Atual Processo de Desenvolvimento doSistema

A Tabela 2, a seguir, mostra um panorama dasligações ferroviárias com aeroportos/pólos gerado-res existentes no começo de 1998, para todos os con-tinentes. Alguns dos links planejados são mais espe-culativos que outros. Muitos dos aeroportos destarelação possuem mais de uma ligação ferroviária (redede metrô urbano, trens rápidos suburbanos ou liga-ções de alta velocidade entre cidades), outros envol-vem conexões com ônibus. Neste contexto apresen-tam-se uma discussão e um debate sobre o que real-mente são links aéreo-ferroviários.

“Estas inovaçõestécnicas, em

conjunto comprojetos futurísticos

foram capazes detrazer novos

atrativos para osviajantes dos trens”...

Figura 3: Facilidades de acesso às plataformas nas gares

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Revista aeronáutica nº 242 • Novembro - Dezembro/2003 23

DAC

Rede de Alta VelocidadeEncontram-se em pleno desenvolvimento várias

estações para trens de alta velocidade em aeroportoscomo, por exemplo, na Alemanha, nos aeroportos deFrankfurt, Dusseldorf, Colonia, Bonne Leipzig/Halle,que estarão brevemente conectados com a rede de altavelocidade. Os Aeroportos de Frankfurt, Zurique,Amsterdã (Schiphol), Paris (Charles de Gaulle) e LyonSatolas já dispõem de rede de trem de alta velocidade.

Alguns links ferroviários de alta velocidade podemmelhorar o desempenho e a capacidade de alguns aero-portos para os vôos de longa distância, por intermédioda substituição dos vôos de curta duração que possamcompetir com os trens de alta velocidade. Em particu-lar, as ligações Frankfurt-Dusseldorf, Colônia-Bonn eAmsterdã-Bruxelas começam a trazer benefícios, já quea existência deste serviço se apresenta como vantajosaquando a capacidade do aeroporto é limitada.

Esta divisão de forças, entretanto, necessita deconsiderações comerciais, conhecimento do perfil dosusuários e outras características locais. A rede de trensde alta velocidade provavelmente pode oferecer o me-nor tempo na viagem centro a centro entre as cidadespor ela servida, assim como melhores opções na esco-lha de destino e freqüências, ou no caso em que o modoaéreo apresente um hub saturado, particularmente parajornadas abaixo de 500 km. Como exemplo, observa-seque atualmente 40 % do tráfego de passageiros entreParis e Bruxelas são realizados por via férrea.

As Vantagens da IntermodalidadeA intermodalidade aérea/ferroviária pode ofere-

cer vantagens para estes dois modos de transportes ti-dos como os mais civilizados dos até então inventados,por oferecer rapidez, conforto, segurança e elevada ca-pacidade, requisitos indispensáveis e esperados para asviagens neste inicio de século.

Apesar de as redes ferroviá-rias da maioria dos países euro-peus terem sido implantadas noséculo XIX, próximas aos centrospopulacionais, as mesmas vêmsendo melhoradas e moderniza-das, proporcionando links até osmaiores aeroportos e alcançandograndes benefícios, como porexemplo:– redução nos congestionamentos

das rodovias que se dirigem aos aeroportos;– melhorias das condições ambientais no entorno dosaeroportos;– transferência das viagens de curta distância dos pas-sageiros aéreos para a rede ferroviária, permitindo mai-or liberdade da capacidade dos aeroportos;– melhorias na acessibilidade aos aeroportos a partir dasregiões circunvizinhas;– oportunidade de investimentos do capital privado nosistema de transportes;– promoção do crescimento da economia, do aeroportoe da vizinhança.

Algumas conclusões permitem afirmar que linksde trens ligando aeroportos às redes existentes e a seusprincipais pólos geradores se constituem na solução paratodos. Consagrados sistemas ferrovia/aeroporto, realizan-do ligações entre os complexos aeroportuários e os cen-tros das cidades, como é o caso do Expresso Heathrowem Londres, poderão servir de exemplo para muitas re-giões metropolitanas eaeroportos com grandesdemandas.

Apesar das dificul-dades e dos custos deimplantação do sistemaferroviário, as vantagensadvindas em implemen-tar um modelo como estena ligação cidade/aeroporto são consideráveis e, emalguns casos, representa a única saída para o desenvol-vimento dos aeroportos a serem atendidos.

Finalmente, como é finita a capacidade do sistemarodoviário em atender aos grandes aeroportos, e sãomínimas as chances de incrementar novos acessos ro-doviários para eles, a implementação do sistema me-trô/ferroviário é altamente recomendável e uma ques-tão de tempo.

Tabela 2: Número de Ligações Ferrovias/Aeroportos

CONTINENTE SISTEMA EXISTENTE SISTEMA PLANEJADOÁfrica 1 2Ásia 7 22Austrália 0 6Europa 40 49América do Norte 14 32América do Sul 0 5Total 62 116

Fonte: International Air Rail Links. ACI Airports Council International

“...links ferroviáriosde alta velocidadepodem melhorar o

desempenho e acapacidade de alguns

aeroportos”...

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Revista aeronáutica nº 242 • Novembro - Dezembro/200324

POLÊMICA

ltimamente ando me questionando sobrequais seriam os elementos responsáveis ouirresponsáveis por certos desmandos e safa-

dagens que devastam a minha santa paciência coti-diana. A maioria de meus amigos considera estasminhas inquietações uma grande bobagem. Dizemeles: – Adianta alguma coisa conhecer as origens? Vocêpode mudar alguma coisa? Então fica quieto que dá tudono mesmo...

Pois é. Estava me sentindo como um samuraidesempregado quando tive uma conversa interes-santíssima com um conhecido dinossauro conge-lado. O cérebro de tainha levou quase vinte minu-tos para me demonstrar o perigo de um governo deEsquerda levar o Brasil a ser um satélite de Cuba.Quando argumentei que existia uma certa diferen-ça entre a Cuba de hoje e a extinta União Soviéti-ca, o paranormal contra-argumentou: – Dá no mes-mo. É tudo comunista.

Velhos adoram conversar sobre velhice,ou seja, as respectivas doenças, os últimosóbitos da turma, os novos remédios e,com mórbido masoquismo, as perspec-tivas para a própria morte. Outro dia, emum almoço festivo, me vi em uma mesa develhos ortodoxos. Entre carnes brancas, mon-tanhas de folhas que levantariam suspeitas noI B A M A , nenhuma manteiguinha e muito

menos açúcar, iniciou-se calo-roso debate sobre as vanta-

gens e desvantagens en-tre o câncer de prós-tata e o infarto fulmi-

nante, cada opçãocom ferrenhos especialis-

tas. Quando concluí minha

Ten.-Brig.-do-Ar José Carlos PereiraComandante-Geral do Ar

sobremesa de abacaxi azedo, a mesa também con-cluiu que: – Dá no mesmo.

Acho que foi logo depois desse almoço queencontrei um antigo guru, aindauma mente respeitável; desses rarosmestres capazes de recuar a bateriasem bagunçar o desfile. Pois foiaí que, cheio dos cuidados nofalar, perguntei ao mestrequal era a explicação paraque elevadas posições da es-cala social pudessem ser ocupa-das por carreiristas corruptos e in-competentes. O velho guru contraiu o rosto, comose tivesse sido atingido no âmago de sua alma, eproferiu a seguinte sapiência: – Jota, fica frio, não

faz diferença. Do jeito que as coisas vão, dátudo no mesmo...No desespero, pergun-

tei o que é que dá no mesmo. A res-posta foi arrasadora: – Tudo.

Não sei bem onde foi, mas umjornalista conseguiu me interceptar para

a mais cacete das conversas de minha atua-lidade: o bendito Projeto FX. Aliás, acho que

chegarei ao túmulo sem descobrir a razão do su-cesso de mídia desse projeto. Várias nações estãocomprando centenas de aeronaves por dezenas debilhões e ninguém fala nada. Nós não estamos com-prando nem uma esquadrilha, eu diria que é o casode uma pequena ninhada, e lá vêm reportagens,páginas e páginas do melhor besteirol, especialistaem nada dando opinião sobre tudo, gigolôs da es-tratégia assassinando de Clausewitz a JoãozinhoTrinta. Meu jornalista, depois de longuíssima dis-sertação sobre equilíbrio comercial, compensaçõestecnológicas, profundos e obscuros interesses po-

U

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Revista aeronáutica nº 242 • Novembro - Dezembro/2003 25

POLÊMICA

líticos e mais uma considerável sucessão de asnei-ras, formulou a questão definitiva: – Qual o melhoravião para o Brasil?. O tom solene da pergunta le-vou-me a considerar o outro dilema entre a prós-tata e o miocárdio. No meu melhor esforço facialde pompa e austeridade, respondi: – Qualquer um.Dá tudo no mesmo...

E o meu amigo Marinho, sempre preocupadocom a nossa Revista do Clube, telefonou pergun-

tando sobre a edição na qual deveria sair isto, queeu não sei se é crônica, narrativa ou lá o quê. Tantofaz. Vocês pensam que minha resposta ao Marinhofoi dá no mesmo? Errado. Vinguei-me com extensobesteirol sobre aspectos fundamentais da oportuni-dade na mídia, senso crítico aplicado aos conceitosessenciais da conjuntura e variáveis sócio-psíqui-cas na comunicação de massas. Depois fui à praia,quero dizer, ao shopping. Dá no mesmo.

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DECEA

ovas tecnologias, novos conceitos e o aumentodo volume do tráfego aéreo têm imposto mu-

danças de atitude, de comportamento, bem como ainteriorização de equipamentos e de profissionaisdo Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro(SISCEAB), em apoio à Navegação Aérea.

No alvorecer deste século, para atendimento aesses desafios, foi criado o Sistema de Vigilância daAmazônia (SIVAM), concomitantemente à implan-tação gradativa do Sistema de Navegação do Futuro,com suporte de tecnologia satelital – Sistema de Co-municação, Navegação, Vigilância e Gerenciamentode Tráfego (CNS/ATM).

Ao Departamento de Controledo Espaço Aéreo (DECEA) – ÓrgãoCentral do SISCEAB – e suas organi-zações subordinadas, compete im-plantar, operar e manter os meios deapoio necessários à circulação segura

e eficiente do tráfego aéreo civil e militar, no espaçoaéreo sob jurisdição e responsabilidade do Brasil.

Espaço Aéreo sob Jurisdição eResponsabilidade do Brasil

O SISCEAB dispõe atualmente de efetivo supe-rior a doze mil profissionais, lotados nas Organizaçõessubordinadas e respectivos Destacamentos, cobrindotodo o território nacional, lamentavelmente em locali-dades nem sempre providas da necessária infra-estru-tura de apoio ao pessoal e a seus dependentes, a pardas questões de Segurança e Defesa.

Divisão de Apoioao Homem

Objetivando potencializar oapoio e a valorização do ser huma-no, e resgatar a tradição originada naextinta Diretoria de Rotas Aéreas, o

DECEA criou a Divisão deApoio ao Homem (D-APH).

O Apoio e a Valorização doser humano têm como propósi-tos obter maior eficácia e efici-ência do SISCEAB, mediante abusca contínua da melhoria daqualidade de vida dos seus inte-grantes, atuando nas áreas de as-sistência social, saúde, psicologia,higiene e segurança do trabalho,gestão da qualidade, segurança edefesa, entre outras.

A Divisão de Apoio ao Ho-mem (D-APH), subordinada aoSubdepartamento de Administra-ção do DECEA, atua como elodivulgador e facilitador dos siste-mas voltados para o apoio e a va-

O Apoio ao Homem no SISCEAB

Reginaldo dos Santos GuimarãesCel. Av. RR

“...busca contínua da melhoria daqualidade de vida dos seus integrantes...”

“...resgatar a tradiçãooriginada na

extinta Diretoria deRotas Aéreas...”

N

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DECEA

lorização do ser humano e já instituídos no Coman-do da Aeronáutica, quais sejam:

– Sistema de Assistência Social (ÓrgãoCentral – Diretoria de Intendência);

– Sistema de Saúde (Órgão Central –Diretoria de Saúde);

– Sistema de Psicologia (ÓrgãoCentral – Instituto de Psicologia);

– Segurança e Defesa (Assun-to não organizado em Sistema, con-duzido pelo Comando-Geral do Ar).

A D-APH proporciona, também, suporte ad-ministrativo, técnico, operacional, além da norma-lização e fiscalização de outras atividades, igualmen-te importantes, relativas ao Apoio ao Homem, comopor exemplo:

– Higiene e Segurança do Trabalho;– Gestão da Qualidade;

– Prevenção ao Uso Abusivo de SubstânciasQuímicas.

Ao instituir, em seu Regimento, um se-tor dedicado exclusivamente às questões de

apoio e valorização do ser humano, oDECEA deu mais um passo reconhe-

cidamente modesto, em face das ne-cessidades, mas que, somado a to-das os demais esforços, contribuirá

para tornar gradativamente real, palpável e visível a me-lhoria na qualidade de vida das pessoas que integram oSistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro.

Para obtenção de melhores detalhes ou infor-mações: www.decea.intraer/sdad/daph.index

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Revista aeronáutica nº 242 • Novembro - Dezembro/200328

PREVIDÊNCIA

om relação à reforma da Previdência, e noque diz respeito aos militares, passado o mo-mento inicial dos debates e quando se arrefe-cem as emoções, pode e deve o assunto virsempre à baila (para que dele não se esque-çam), com serenidade e firmeza de argumen-

tos e de atitudes, porque ele não estará esgotado mes-mo depois da aprovação final pelo Congresso. É, por-tanto, oportuno e necessário voltar à carga independen-temente de terem os militares sido ou não atirados àvala comum das vítimas de tão infundado movimento.Movimento tendencioso, por trazer em si uma variadagama de motivos, desde os mais puros e justos usadosapenas como fachada, aos mais torpes, ocultos no claroprocedimento demagógico do populismo e nos imensosinteresses do bilionário filão securitário. Tudo isto agra-vado pela deliberada intenção da Administração Públi-ca em esconder a sua culpa por ter, histórica, contumaze voluntariamente mal gerido a incalculável soma a elaconfiada pelos contribuintes, sejam eles empregados pú-blicos ou privados.

Não se deve esquecer, entretanto, além da culpapela incompetência e pelo descaso com os bens de ou-

trem, ter ainda o governo, como ente intemporal e im-pessoal, o dolo de, ao longo do tempo, desviar os recur-sos de terceiros para finalidades bem diversas daquelasa que se destinavam. Partindo do geral para o particu-lar, faz-se necessário lembrar que este costume nefastoestá em plena atividade quando o governo retém os per-tences alheios. Refiro-me ao contingenciamento dos re-cursos dos fundos de saúde das três Forças Singulares,formados exclusivamente pela contribuição dos milita-res e nos quais o poder público não coloca um centavosequer.

A exemplo de empresários – como freqüentemen-te noticiado que não repassam aos cofres públicos osimpostos e tributos por eles recolhidos, assim como osdescontos previdenciários e fiscais de seus empregados– têm adotado os sucessivos governos, e o atual princi-palmente, igual prática, a qual só não se afigura como odelito da apropriação indébita por não ser em proveitode pessoa física ou jurídica.

No momento, ao falar de privilégios, omitem os for-muladores da atual política – à frente deles o Ministro da

CPrevidência como beneficiário, no passado e/ou no pre-sente, ele e sua esposa, das poderosas PREVI e CASSIdo Banco do Brasil onde eram funcionários – muitas dasinimagináveis vantagens desfrutadas pelos participantesdos fundos de pensão e das caixas de assistência das esta-tais, para as quais, ao contrário dos fundos de saúde dosmilitares, contribuíram e contribuem generosamente osinstituidores deles (entenda-se o Tesouro Nacional) atra-vés de vultosos aportes financeiros regulares e extraordi-nários, além da transferência de valioso patrimônio. Mes-mo assim, jamais se atreveu a fazer com eles o que estãoa fazer conosco, pois que, também ao contrário do nossosubmisso comportamento, parariam eles o Brasil, como,por muito menos, já o fizeram várias vezes.

Este comportamento merece uma breve análise,calcado que é na espontânea convicção da disciplina,na livre aceitação da hierarquia e na orgulhosa disposi-ção para o sacrifício. Numa síntese do poema de Gabri-ela Mistral, constitui este modo de vida a alegria de ser-vir. Contudo, há uma tênue barreira em servir sem serservil, em obedecer sem ser covarde, em ser leal sempassividade e em ser paciente sem ser acomodado. Estabarreira, ainda que tênue, tem mantido a autoridade dos

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Revista aeronáutica nº 242 • Novembro - Dezembro/2003 29

PREVIDÊNCIA

chefes militares, sejam eles os de carreira ou os investi-dos do poder constitucional para a condução política eestratégica das Forças Armadas. Esta barreira não podeser rompida e não o será enquanto a lealdade, a confian-ça e o respeito forem uma via de duas mãos. Por esta viatransitam outros valores como o da Justiça e o do Direi-to. Recorrer a estes valores é fortalecer a instituição e,como nos ensina Rudolf von Jhering, “a Justiça susten-ta numa das mãos a balança com que pesa o Direito,enquanto na outra segura a espada por meio da qual odefende. A espada sem a balança é a força bruta; a ba-lança sem a espada, a impotência do Direito”.

Com este espírito há dois caminhos a seguir : o pri-meiro é ajuizar de imediato uma ação contra a União com

o fim de cessar pronta e completamente o contingencia-mento (belo eufemismo para confisco!) e a devoluçãototal e incontinenti dos valores pertencentes aos fundosde saúde da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Asegunda é organizarem, os integrantes de cada Força, fun-dações próprias para administrar os seus respectivos fun-dos. Inicialmente fazendo com a União, como transição,a co-gestão dos recursos da Pensão Militar (se o poderpúblico, como nosso empregador, não coloca nela ne-nhum dinheiro, por que teria ele exclusividade e total in-dependência para administrá-la? Vale lembrar que na Pre-vidência Social o empregador participa com a maior par-te, além do FGTS para o qual o empregado não contri-bui). Quanto ao Fundo de Saúde, a autogestão seria dire-

Renato Paiva LamounierCel. Av. RR

“...um confiávelinstrumento de

independência ebem-estar para os

militares e suasfamílias...”

“...um confiávelinstrumento de

independência ebem-estar para os

militares e suasfamílias...”

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PREVIDÊNCIA

ta e já, independente e soberana, de acordo com legisla-ção específica e regulamentos próprios, de forma a per-mitir a sua organização nos moldes de muitas instituiçõesexitosas já funcionando, e onde seria buscada a experiên-cia necessária. Para tanto não faltam recursos humanosdisponíveis em uma imensa legião de militares da reser-va, onde seriam selecionados os que estiverem dispostosa colocar sua comprovada experiência, capacidade e ho-nestidade à disposição desta causa, cuja importância dis-pensa acrescentar mais comentários.

Ao contratar diretamente os serviços dos profis-sionais e dos estabelecimentos de saúde, a Fundaçãonão pagará a intermediação e os altos ganhos auferi-dos pelas empresas que exploram os planos de saúde,podendo, assim, melhor do que elas, remunerar os seuscontratados. Esta prática, aliada à rapidez dos paga-mentos, constituirá um vigoroso estímulo e proporci-

onará negociações vantajosasjunto aos melhores prestado-res de serviço. Aí incluem-sepreferencialmente os Hospi-tais Militares, que poderão, ounão, ser por ela credenciados,dependendo do interesse re-cíproco em função da quali-dade e da presteza de atendi-mento por eles oferecida,além de outros possíveis be-

nefícios mútuos. Não visando lucro, mas tão-somenteo custeio das despesas e a formação de uma sólidareserva técnica, poderá a Fundação significar, de mé-dio a longo prazo, um confiável instrumento de inde-pendência e bem-estar para os militares e suas famíli-as, livrando-os da omissão e dos abusos por eles con-sentidos, e é forçoso reconhecer, feitos com o seu pró-prio dinheiro e como se lhes fosse prestado um favor.

Um ponto capital nestas considerações é o corretoentendimento de que os nossos fundos de saúde não exis-tem para custear o funcionamento dos hospitais militares.Isto deve ser feito pela sua proprietária, a União, atravésdas dotações orçamentárias, a cada dia mais minguadas,calculadas à base do fator de custo como determina a lei.

Em brevíssimo resumo, os fundos de saúde – éimportante dizer e repetir à exaustão, sob pena de cairno esquecimento e de ver os seus recursos usurpadospela autoridade fazendária auto-designada como suaúnica gestora – foram criados pelo Decreto-Lei 728 deagosto de 1969. O Fundo de Saúde da Aeronáutica(FUNSA) passou a vigorar logo, dois meses após, emoutubro do mesmo ano, procedendo os descontos em

folha sem, contudo, ofere-cer os seus benefícios. Foiadministrado pela Comis-são de Gerenciamento dosFundos Especiais (COGE-FE) junto com outros fundos como, por exemplo, oFundo Aeronáutico, custeando atividades bem diferen-tes da sua finalidade, entre elas a hoje pujante EMBRA-ER, orgulho de todos os brasileiros, dos homens da Avi-ação em particular e, de forma muito especial, dos quelá viram aplicada a fundo perdido aquela parcela des-contada dos seus vencimentos.

Devem os fundos de saúde cumprir com a finalida-de para a qual foram sabiamente criados. Honra e glóriaaos seus mentores! Nós, os seus sucessores, não soube-mos dar-lhes continuidade e permitimos fossem eles des-viados da Assistência Médica Hospitalar Complementar(AMHC), sigla sob a qual eram feitos os descontos nosnossos contracheques, e sabe-se bem porque não vêmmais rotulados desta forma, desaparecendo assim, inten-cionalmente, a evidência do seu uso, fim e propriedade.

Numa ampla prospecção abrangendo o conjunto for-mado pela Marinha, Exército e Aeronáutica este universoalcança, numa estimativa bastante tímida, pelo menos500 mil participantes efetivos, aí compreendidos ape-nas os militares da ativa, os inativos e as pensionistas.Levando-se em conta também os dependentes e outrosfamiliares a serem qualificados em regulamentação daprópria fundação e denominados de agregados para finsdeste exercício, chega-se à casa de, também numa pro-jeção bem modesta, dois milhões de associados. Umcoronel paga hoje ao FUNSA R$207,91 (duzentos e setereais e noventa e um centavos) para ele e sua esposa.Para dois filhos na faixa etária dos 30 anos paga maisR$146,65 (cento e quarenta e seis reais e sessenta e cincocentavos) para cada um, se optar pelo Plano de Saúde daUNIMED (ambulatorial e hospitalar Delta) conveniadocom a Diretoria de Intendência da Aeronáutica. Se de-sejar a cobertura deste mesmo plano também para ocasal, pagará ainda R$1.215,50 (mil duzentos e quinzereais e cinqüenta centavos), totalizando, pois,R$1.716,71 (mil setecentos e de-zesseis reais e setenta e um cen-tavos). Imaginando-se, exagera-damente, uma mensalidade deR$200,00 (duzentos reais) percapita, somando R$800,00 (oito-centos reais) para a família doexemplo, a metade portanto docusto estimado fora da fundação

“...nossos fundosde saúde não existem

para custear ofuncionamento dos

hospitais militares.”

“Estamos entãofalando de umpotencial de

R$4,8 bilhões/ano.”

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Revista aeronáutica nº 242 • Novembro - Dezembro/2003 31

PREVIDÊNCIA

(os estudos atuariais determinarão o valor adequado aospropósitos e às necessidades da Fundação), chegamos àcifra de R$400 milhões mensais. Estamos então falan-do de um potencial de R$4,8 bilhões/ano. Este poten-cial, se devidamente explorado, transforma-se em po-der, como bem nos ensina a geopolítica. Poder este a serusado, então, em benefício dos militares e suas famílias.

A autogestão na Assistência Médico Hospitalar eOdontológica é o ponto de partida para começar o de-bate, em que os Serviços de Saúde das três Forças po-dem ter relevante participação e devem ser chamadoscomo possíveis parceiros deste novo sistema, onde po-derá ser repensado o seu papel e aprimorado o excelen-te atendimento que vêm prestandodesde tempos muito remotos. Porém,é necessário rever o modelo que os ins-pirou e que hoje poderá ser fortaleci-do pela utilização de ferramentas mo-dernas, livres das amarras da Adminis-tração Pública, dos abusos autoritári-os e do favorecimento discricionário.Estas ferramentas, como a flexibilida-de, a agilidade e o controle eficaz emtodos os sentidos podem ser proporcionadas pelas pre-tendidas fundações, como já acontece em muitas insti-tuições que as adotam. Aliar as vantagens e explorar asqualidades de ambos os sistemas pode ser a chave dosucesso.

Ademais, a adoção de práticas modernas e saudá-veis, além das consagradas prestações de contas e audi-torias externas, propiciarão difundir por meios eletrôni-cos um vasto rol de informações, essencialmente aque-las referentes às receitas, às despesas, inclusive quantoà sua natureza e à aplicação dos saldos, dados estes hojerestritos e de difícil, se não impossível, obtenção.

Non ducor, duco! Conduzir para não ser conduzido.Sob este lema os romanos dominaram o seu vasto im-pério por 1.500 anos. Portanto, reagir e agir é preciso. Sea esta dignificante e justa tarefa não for dedicado o me-lhor dos nossos esforços, restar-nos-á tão-somente re-conhecer a nossa incompetência e baixa auto estima,

lamentar a ausência de vonta-de e de liderança e passar dasimples admiração à inveja dosmovimentos que sabem se fa-zer ouvidos e têm conquistadoo seu espaço, ainda que ferin-do pétreos princípios da socie-dade organizada e do estado dedireito, coisa esta totalmente di-

versa dos nossos objetivos de ontem, de hoje, de sem-pre. Se nada for feito, em breve nada nos restará a nãoser as madrugadas nas filas, não dos nossos hospitais epagadorias, mas, certamente, do SUS e do INSS. Nadanos restará a não ser as estéreis lamúrias dos que nãoousam mudar e, por isso, não transpõem aquela citadatênue barreira onde as atitudes fazem a diferença entreo conduzir e ser conduzido.

À GUISA DE COMPARAÇÃO : Mencionamos no texto acima a CASSI do Banco

do Brasil. Temos com ela muito a aprender, sem falarna sua irmã gêmea, a PREVI, esta como o maior fundo

de pensão do país. Ambas constitu-em o resultado de uma efetiva e efi-caz liderança, poder de negociação eexemplar eficiência gerencial. Poisbem, a CASSI disponibiliza na suapágina http://www.cassi.com.br osseguintes dados:

Possuem 600 mil associados efaturam R$216 milhões por trimes-tre, ou seja R$72 milhões/mês. De

acordo com o seu Estatuto a contribuição do emprega-dor é de 1,5 vezes a do funcionário. Num raciocíniosimples, a aritmética nos mostra que a contribuição doBanco equivale à de 900mil associados, dando um totalde, para fins do nosso cálculo, 1,5 milhão de contribuin-tes. Dividindo-se o arrecadado (R$28.800.000 dos fun-cionários mais R$43.200.000 do Banco) pelo númerode contribuintes chega-se ao valor de R$48,00 para cadaum. Este valor não fica longe das estimativas apresen-tadas por estudiosos do assunto quando se trata de pla-nos próprios que contratam diretamente os prestadoresde serviço. Fica muito abaixo da hipótese dos R$200,00per capita na fundação proposta, hipótese esta que podeser pensada em torno de R$100,00 em média, de formaa favorecer os participantes de menor renda. Ainda as-sim o montante da nossa arrecadação ficaria na apreci-ável cifra de R$200 milhões/mês.

Enquanto isto nós militares, defensores da pá-tria, continuamos no auto-atribuído papel de seus sal-vadores e cuja conduta não deve permitir tomadasde posição em defesa do elementar direito de co-nhecer e reaver o que legítimamente nos pertence,abdicando assim do que o Novo Código Civil Brasi-leiro assegura a todo cidadão no seu “Art.1228: Oproprietário tem a faculdade de usar, gozar e disporda coisa e o direito de reavê-la do poder de quemquer que injustamente a possua ou a detenha.”

“Nada nos restaráa não ser as estéreis

lamúrias dos quenão ousam mudar...”

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Revista aeronáutica nº 242 • Novembro - Dezembro/200334

CENÁRIO INTERNACIONAL

o desencadear a guerra contra o Iraque,o Presidente George Bush mostrou-se

convencido de ter encontrado a receita capazde apagar o vulcão existente no Oriente Médio,o qual, em sua concepção, tornava a região umadas mais explosivas do planeta.

William Kristol, um dos neoconservadoresque mais advogaram pela guerra, explicou oporquê do conflito com os iraquianos: “Trata-sede uma guerra que pretende mudar a culturapolítica de todo o Oriente Médio. Depois do 11de setembro de 2001, os norte-americanos olha-ram ao seu redor e o que vislumbraram foi ummundo que não se assemelha ao que haviam ide-alizado. O planeta converteu-se em lugar peri-goso, e, como tal, encontramos a razão pela qualos estadunidenses buscam uma doutrina quelhes proporcione maior segurança, daí envere-darem pelo tortuoso caminho do unilateralismo”.

Entretanto, constatamos no atual cenáriopós-Guerra do Golfo que é inteiramente impos-sível obter êxito em uma empreitada dessa na-tureza, sem o devido respaldo da Organizaçãodas Nações Unidas. Essa guerra, que deveria sera prova flagrante de que nada pode deter os nor-te-americanos – uma vez tomada uma decisão –tem demonstrado justamente o contrário. OsEstados Unidos têm sido incapazes de impor osseus pontos de vista à comunidade mundial. Anteesse fracasso, têm atuado somente com o apoioda Grã-Bretanha, sem obter a adesão do Conse-lho de Segurança da ONU. Uma vez concluída aguerra, sistematicamente têm demonstrado in-capacidade de controlar um país de 23 milhõesde habitantes, arruinado por três guerras, sofren-do doze anos consecutivos de embargo e 34 anosde uma ditadura incoerente e implacável.

Indubitavelmente, os EUA são uma super-potência sem paralelo na História, porém em

nenhum momento vimos uma potência mundialfrente a uma situação semelhante. A explicaçãoé simples e reside na modificação da próprianoção do que seja potência. O mundo está glo-balizado e os atores diversificados. O poder é maisdo que nunca uma noção multiforme e difusa.Fundamentalmente, um único país não podecontrolar, sozinho, o conjunto dos demais esta-dos e a totalidade dos agentes internacionais.

O poder duro (poder militar, poder de coer-ção) por vezes é necessário, porém

não suficiente. Senão for acompa-nhado do poderbrando (capacidadede influência para convencer os demais estadosde que compartilham os mesmos interesses),passa a constituir uma via de mão única e os re-sultados daí advindos, certamente, serão infrutí-feros. O princípio da guerra assimétrica – queinvariavelmente favorece o estado mais débil –contribui decisivamente para diminuir sua per-tinência.

O Impossível

A

“...manter a hegemonia em todos os rincões do planeta

é tarefa totalmente impossível.”

“...um único país não

pode controlar,

sozinho, o conjunto

dos demais estados...”

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CENÁRIO INTERNACIONAL

Sistematicamente, constata-se que os EUAcostumam fazer prevalecer o poder militar, emdetrimento de privilegiar as outras formas e ins-trumentos de poder. Embriagados pela sensa-ção de poder que nasce de seu portentoso arse-nal bélico – incomparável na História – preferemimpor sua vontade, ao invés de convencer os seusparceiros. Confiam mais na propaganda – nosentido estrito da palavra – do que na consultaao concerto de nações. Ao reforçar a sua capa-cidade militar são induzidos a pensar, cada vezmais, em termos de relações de força, de impo-sição brutal de sua vontade e da exibição domúsculo militar, descurando-se das negocia-ções e da livre adesão de outrospaíses ao seu projeto. Relegam asegundo plano o papel dos novosatores no cenário internacional,como as ONG e, ainda menos, aopinião pública mundial, o que pode parecercontraditório em um país que coloca o fomentoà Democracia na primeira linha de suas priori-dades internacionais.

A História demonstra que manter a hege-monia em todos os rincões do planeta é tarefatotalmente impossível. O sistema internacionalproduz, como antídoto, resistências para equili-brar a balança do poder mundial. O queocorre,em realidade, é que os falcões republica-nos estadunidenses enxergam o mundo por umaótica deformada. Seguros de seu poder militar,lamentavelmente não vêem o mundo como elerealmente é, e sim como crêem que ele seja.

Quem está exercendo uma posição hegemô-nica, por vezes, vê-se impulsionado, internamen-te, ao orgulho e ao excesso, submetido, externa-mente, à inveja, ao ressentimento e às ameaças.A hegemonia é completamente destoante de um

mundo interdependente. Quan-to tempo levará os EUA a admitir a rea-lidade de que não são imprescindíveis para oequilíbrio do poder mundial? Que, necessariamen-te, não são mais virtuosos do que os outros?

Como é possível um país, que possui tantoslaboratórios de idéias dedicados a questões in-ternacionais, mostrar-se incapaz de compreen-der o mundo exterior em suas diversas nuancesculturais? Se, por acaso, desejam implementarmudanças, que pelo menos o façam partindo do

estudo das realidades e caracterís-ticas de cada povo, e não de visõesideológicas estapafúrdias e ana-crônicas! A percepção que os es-tadunidenses têm de seu próprio

poder, após a queda do Muro de Berlim, os con-duz a uma incrível arrogância, a uma cegueiramanifesta e, o que é muito lamentável, a um pro-fundo isolamento, gerando, como corolário, a suaprópria debilidade.

Na atualidade, o respeito já não se obtémcom o medo que atitudes bélicas possam susci-tar. Observa-se que, com a sua malfadada polí-tica externa, a nação hegemônica está cada vezmais temida e, conseqüentemente, menos que-rida no concerto das nações.

A idéia vigente de que poderão utilizar, demodo contumaz, a manu militari para resolver osproblemas políticos que a todo instante surgemno cenário internacional, faz com que os EstadosUnidos percam, lamentavelmente, uma grandeparte de sua contumaz capacidade de atração epassem a ser temidos, rejeitados e odiados porsignificativa parcela da Humanidade.

MundoUnip lar

Manuel Cambeses JúniorCel. Av. RR

“Quanto tempo levará

os EUA a admitir a

realidade de que não

são imprescindíveis...”

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NOSSA HISTÓRIA

deterioração das relações do Brasil com as po-tências do Eixo, iniciada com o torpedeamen-

to de seis navios mercantes brasileiros em costasnorte-americanas, entre fevereiro e maio de 1942,culminou com a declaração doEstado de Guerra, após o afunda-mento de mais cinco navios depassageiros e de carga em nossascostas, em apenas três dias, de 15a 17 de agosto daquele mesmoano. O torpedeamento dos nossosnavios, alguns à vista do litoral, e a perda de 610vidas provocaram intensa reação popular, commanifestações violentas em diversas partes do Bra-sil, forçando o Governo, até então indeciso, a umadeclaração formal.

Logo que o Brasil entrou em Estado de Guer-ra, um inflamado espírito patriótico se apoderou

da população. Sentia-se no ar um chamamento ge-ral. Todos queriam participar, lutar pelo Brasil tãodolorosamente ofendido! É incrível como as recor-dações do tempo de escola afloram, nessas horas,

quando o apelo contido noshinos pátrios nos despertapara a defesa da Pátria Ama-da. Só quem viveu essa expe-riência pode avaliar a intensi-dade da sua emoção.

“Verás que um filho teunão foge à luuuta...Terra adorada...”

Empolgados, os jovens, eu entre eles, compa-reciam em massa aos quartéis das Forças Armadaspara se alistarem e partir para a guerra! Mas...Quantadecepção! As Forças Armadas já estavam com seusquadros completos – os da ativa e dos convocados–e não podiam aceitar mais ninguém. Não compre-endíamos que a FABnão se interessasse porpilotos, como eu, comuma larga experiênciade mais de 50 horas devôo...

Passou o tempo,e já na Aviação Co-mercial, tive o meumomento de glória,juntamente com os outros pilotos e aeronautas quea ela também se dedicavam, quando fomos convo-cados a colaborar no patrulhamento da costa,

Lauro RoqueComandante da PANAIR do Brasil “Chegara, finalmente, a tão desejada

oportunidade de servir à Pátria...”

“Só quem viveu essa experiênciapode avaliar

a intensidade dasua emoção.”

A

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Revista aeronáutica nº 242 • Novembro - Dezembro/2003 37

NOSSA HISTÓRIA

“Zona de Guerra, participando efetivamente de operaçõesbélicas, considerados como integrantes da Força AéreaBrasileira!” Isso porque, com data de 8 de setem-bro de 1942, chegava à direçãode cada uma das Empresas deAviação Comercial do Brasilo ofício A/G-3 PESSOAL-SECRETO, do Gabinetedo Ministro da Aeronáu-tica, determinando, “emnome do interesse comume super ior da Defesa Nacional”, recomenda-ção aos pilotos de empresa, em serviço nas rotaslitorâneas, no sentido de voarem a umas cinco mi-lhas para dentro do mar, a fim de colaborar na pa-trulha contra submarinos, devendo comunicar, pelorádio, com urgência, ao Comando da Força AéreaBrasileira mais próximo, o aparecimento de qual-quer submersível inimigo, indicando sua posição.Junto, acompanhavam o Código de Informações doEstado-Maior da Aeronáutica – edição de 1942, edemais instruções para o cumprimento das missões.

Chegara, finalmente, a tãodesejada oportunidade de servirà Pátria de maneira mais engaja-da. Com o maior entusiasmo, a nos-sa missão foi encarada com muita se-riedade.

O arquipélago de Fernando de No-ronha, sentinela avançada doBrasil no Oceano Atlântico,era um ponto altamente estra-tégico, tanto para o Brasil comopara os Estados Unidos, que te-miam uma operação militar do Eixousando aquele arquipélago como trampolim para

uma invasão do nosso país. Entretanto, para usomilitar, suas instalações eram praticamente inexis-tentes; o recém-criado Ministério da Aeronáutica

ainda não tinha estrutura para construire equipar o apoio necessário à guerra.

Por acordo entre as Forças Arma-das do Brasil e dos Estados Unidos, cou-be ao Ministério da Guerra – denomina-

ção do Exército Brasileiro à época – e aoamericano Air Development Program – ADP, a

missão de construir a pista e as demais instalaçõespara o uso bélico de Fernando de Noronha. O Exér-cito contratouo serviço dosJU-52/3 (tri-m o t o r e sJunkers de fa-bricação ale-mã) da Cruzei-ro do Sul parao transportede pessoal – militares, engenheiros e demais auto-ridades supervisoras dos dois países – e carga, prin-cipalmente, correio, alimentos e munição. Esseavião, na época, era o mais adequado, na Aviação

Comercial, graças à sua grande cubagem, ca-pacidade de carga, autonomia e velocidade.

Com destino a Fernando de Noronha,os JU-52 decolavam de Recife ou de Na-tal, onde estava situada a maior base aé-

rea americana fora dos Estados Unidos.A distância de 530 quilômetros sobre

o mar, coberta em cerca de duas ho-ras e trinta minutos de vôo, era um

prato cheio para o nosso patrulhamento.Para dar uma idéia da empolgação gerada em

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Revista aeronáutica nº 242 • Novembro - Dezembro/200338

NOSSA HISTÓRIA

todos nós, transcrevo a seguir, umahistória que me foi contada pelo Co-mandante Aldo Pereira, da Cruzeirodo Sul, historiador e autor do livroPequena História da Aviação Brasileira:

“Em janeiro de 1943, um JU-52da Cruzeiro do Sul, a serviço do então Ministérioda Guerra e do ´Air Development Program´, voa-va entre Natal e Fernando de Noronha e, além detransportar militares e material bélico, tinha a mis-são de patrulhar aquela vasta área do Atlântico Sul,quando alguém da tripulação deu o alarme:

– Acho que estou vendo um submarino ale-mão, lá adiante, no nosso lado direito!

O que se seguiu a bordo foi um Deus nosacuda. Faltou janela para tanta gente, o alvo-roço era enorme e uma crescen-te excitação tomou conta de to-dos. Ninguém se deu conta doperigo que estava correndo.Nesse clima, o Comandantedesceu o avião para cerca de 300metros de altura e – supremaimprudência, fez um círculo em torno do sub-marino! Não havia dúvida, era alemão mesmo!Navegava calmamente na superfície, commarinheiros em posição de combate nas pe-ças de artilharia, mas não houve ordem deabater aquele avião desarmado, lento, voandobaixo e tão perto. O alvo era fácil demais. OComandante do submarino sabia muito bemque a sua posição já estava sendo passada paraa FAB. Mesmo assim, os alemães se limitarama olhar o avião até vê-lo desaparecer.”

Só recentemente, encontrei no livro Céu deNinguém, do Comandante Abel Pereira Leite, apo-sentado da VASP, uma explicação aceitável paraaquela surpreendente postura do Comandante dosubmarino alemão. As Forças Armadas da Ale-manha tinham uma particular admiração pelo JU-

52, um avião que era pau para toda obranas atividades civis e militares daque-le país. Quando posto à prova, era umavião que sempre correspondia. Assimcomo nós chamávamos o Catalina dePata Choca, os alemães carinhosamen-

te apelidaram o JU de Tia Júlia, aquela tia muitoamiga e acolhedora que sempre quebrava todosos nossos galhos. Começa-se, assim, a compreen-der por que os alemães do submarino não tive-ram coragem de abater aquela Tia Júlia a serviçodos brasileiros.

Ainda existia algo do cavalheirismo praticadona Primeira Grande Guerra quando, nos combatesaéreos, a metralhadora de um dos participantes en-gasgava ou se esgotava a sua munição, o inimigo se

emparelhava, fazia um aceno desaudação e voltavam, cada um, paraa sua base. Alguns Comandantes desubmarinos alemães e ingleses agi-am, também, com cavalheirismopara com os sobreviventes dos na-vios que torpedeavam. Foi o que

aconteceu no torpedeamento do Cayrú, um dos pri-meiros navios mercantes brasileiros afundados emáguas da América do Norte, quando o Comandantede um U-94 que o atingiu aguardou a descida e oafastamento das baleeiras antes de disparar o torpe-do de misericórdia. Pelo jeito, o Comandante daqueleU-Boat era um desses remanescentes.

A ordem à Aviação Comercial para o patru-lhamento durou até o fim da guerra. Pelas infor-mações disponíveis, uns três ou quatro submari-nos foram avistados e tiveram suas posições infor-madas para a FAB.

Anos depois, de acordo com a Lei pertinente,os aeronautas que, comprovadamente, participa-ram desse patrulhamento foram reconhecidos peloentão Ministério da Aeronáutica com a expediçãode Certidões de Serviço de Guerra.

“Ninguém se deuconta do perigo queestava correndo.”

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RECORDAÇÃO

odos os anos a data me remeteàs mesmas emoções, afinal, este é omeu dia.

Muito embora já não desfrutemais do prazer de pilotar um avião,é como se as antigas recordaçõesvoltassem a fazer morada em meucoração e, ao rondarem meus pen-samentos, estivessem tão presentes quanto o dia domeu primeiro vôo solo.

Nada se compara àquela emoção, nem mesmo aprimeira namorada.

Acho mesmo que a gente já nasce com isto, com oespírito da aventura entranhado em nossas almas.

Menino ainda fui seduzido por esta profissão, em-balado pelo sonho romântico de ser aviador, motivadopelos filmes de guerra da década de 50. Quantas vezesnão sonhei em estar descendo de uma B-25 , voltandode uma missão de blusão de couro com gola de pele eencontrar à minha espera a enfermeira da Base comquem estaria vivendo um romance. Um romance des-ses fugazes, bem ao sabor de uma guerra em que a gentese aferra ao momento, porque ele pode jamais se repetir.A aventura do imponderável, a angústia das incertezas,o desejo brotando de cada poro, a sofreguidão pela vidaquando esta estava sempre ameaçada, tudo isto mexiacomigo e acelerava meu coração de menino.

Sonhava então com a minha vez, quando chegas-se a minha hora.

Queria ter aquela profissão, que no meu enten-dimento era invejada pelos homens e amada pelasmulheres.

Fui buscar meu sonho e ingressei na Força Aérea.Já não havia mais guerra e as B-25 tinham sido

aposentadas. Tampouco havia enfer-meiras na Base, pelo menos que va-lessem a pena me apaixonar.

Fui então descobrir outros valo-res. A camaradagem, o companheiris-mo, as amizades sinceras e eternas e oprazer de voar, fundamentalmente esteúltimo, incomparável.

Tudo evoluiu tão rapidamente que antes mesmode me formar, muitos dos aviões que eu voara já esta-vam sendo recolhidos ao Museu.

Passei então a pertencer a uma profissão que tinhaum compromisso eterno com o futuro, que convivia comtecnologias de ponta, que absorvia evoluções extraor-dinárias a cada minúscula porção de tempo, e passei ater orgulho de fazer parte dela.

No entanto, a cada decolagem manejando um avião,por mais sofisticado que fosse, o meu velho sonho e asmesmas sensações se apresentavam como se tivessemparado no tempo. Naqueles instantes eu era o piloto daB-25 e meu coração guardava as mesmas emoções queacalentaram meus sonhos de criança, e foi aí que me deiconta que nossos primeiros sonhos são como uma ma-triz de amor que carregamos para sempre e que o temponão modifica nem destrói.

Hoje é o Dia do Aviador. Meus sonhos se revivem.Sinto-me feliz e agradecido a Deus por ter me permiti-do chegar até aqui, apesar dos perigos e, principalmen-te, por ter conservado em mim o amor pela minha pro-fissão, mesmo quando na prática já não mais a exerço.

Parabéns a todos os Aviadores neste dia e muitoobrigado, Força Aérea Brasileira, por ter sido o berço dasminhas realizações profissionais e servido como colo ge-neroso à realização do meu sonho de ser aviador!

Paullo EstevesCel. Av. RR

T

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POLÍTICA

De Economia e Política para Crianças

ransformaram o mundo em umgrande cassino. Que uma

meia dúzia de algumas centenas depessoas que se escondem noanonimato de um coletivoconhecido como Mercadoarrisquem seu rico dinhei-rinho nos antros de jogati-na em que se transforma-ram as bolsas que proli-feram por todos os ladosparece aceitável. Que le-vem, à bancarrota, as em-presas e os Países vítimasde suas especulações irres-ponsáveis é absolutamenteinadmissível e somente ocorredevido à conivência dos Estadosonde essas atividades se desenvol-vem, que se deixam dobrar diante da ex-torsão praticada por outros Estados ou, mesmo,por banqueiros nacionais ou internacionais, paraficar, apenas, nas motivações mais evidentes.

O atual Presidente do Brasil foi eleito por ex-pressiva maioria de um eleitorado que o fez, nafalta de outras opções (destruídas que foram pormétodos muito pouco ortodo-xos), mais por insatisfaçãocom as Políticas do anteces-sor do que por preferência ide-ológica, já que acreditou naspromessas de campanha queincluíam a mudança do mo-delo econômico que vem sendo adotado, com re-sultados nefastos, nos últimos doze anos.

É bem verdade que o Presidente, quandocandidato, afirmou que respeitaria os direitos doscredores, mas qualquer pessoa bem intencionada

sabe que emprestar dinheiro é umaatividade de risco. Quando não se

podem pagar as importânciastomadas, renegociam-se asdívidas. Se, ainda assim,não for possível saldá-las,simplesmente deixa-se deas pagar, situação em quesão executadas as garan-tias contratuais. No casode Países, as ações jurí-dicas terminam quandoesbarram em decisões so-beranas dos Governos.

Assim sendo, há mui-tas outras maneiras, funda-

das no Direito, de um Esta-do lidar com dívidas ilegíti-

mas como essas, que nos su-focam e que, a médio ou longo

prazo, são, reconhecidamente, nãoadministráveis. Quanto mais cedo o Governo agirnesse sentido, menores serão os danos. Mas, paraimplementar ações como essas, é necessária gran-de coesão interna. Lamentavelmente, as Políticasem curso levam-nos a um estado próximo da con-

vulsão social, o que nos en-fraquece e inviabiliza qualquermedida contra as ameaças eco-nômicas que nos têm manti-do como reféns, faz tempo.

Aos intransigentes defen-sores dos interesses alieníge-

nas, lembro que quase todos os Países ditos de-senvolvidos, inclusive os Estados Unidos (Ah, osEstados Unidos!) praticaram, em alguma fase desuas Histórias, o que, pejorativamente, os credo-res, com o aplauso da mídia engajada e dos econo-

De Economia e Política para Crianças“Parece que os vencedores optarampor ficar com os eleitores errados.”“Parece que os vencedores optarampor ficar com os eleitores errados.”

TT

“Lamentavelmente, asPolíticas em curso levam-nos

a um estado próximo daconvulsão social”...

Luís Mauro Ferreira GomesCel. Av. RR

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POLÍTICA

mistas de plantão, convenci-onaram chamar de calote .Lembro-os, também, dos sa-ques que sofremos, como de-corrência das várias formasde colonialismo de que fo-mos vítimas e ainda continuamos a ser.

Infelizmente, os atuais governantes optarampelo que, talvez, julguem ser o caminho mais fácil:

– no relacionamento com o capital, apro-priarem-se das políticas neoliberaiscruéis, impiedosas, desumanas doGoverno anterior, para satisfaçãodo Mercado, dos credores e do FMI;

– no trato com o povo, implan-tarem uma selvagem ditadura de es-querda, oprimindo-o e expropriando-o dos poucos recursos que lhe restam,indispensáveis para o pagamento de dívi-das públicas injustas, tanto externas quantointernas.

Quanto sacrifício, para manter um statusque, mais cedo ou mais tarde, se tornará insus-tentável!

Afinal, essa dívida foi, cuidadosamente,concebida para controlar Países como o Bra-sil, subtraindo-lhes a soberania e, mesmo, apouca independência que lhes resta – de-sarmados que estão – com o claro objetivode eliminar, na origem, qualquer possível con-corrência futura. E, como subproduto, continua-remos, com o trabalho escravo dos nossos cida-dãos, a sustentar a mesa farta e as mordomias des-cabidas dos nossos opressores.

Como aceitar que, para manter esses descala-bros, aqueles que elegemos para defender os nos-sos interesses despojem, saqueiem,devastem as poucas posses dos queainda têm o que comer, para daràqueles que já não o têm mais? Va-mos pensar, primeiro, na nossa fome,depois, nos nossos credores!

Reconheço que nada se deveriacobrar do Governo nos dois primeiros anos, já queviveríamos, ainda, as conseqüências das Políticasantigas. Não estou, portanto, a manifestar-me con-tra as dificuldades pelas quais passa o Brasil, ou,ainda, contra inércias ou falhas no encaminhamen-

to das soluções. Apenas ex-presso a minha apreensão como discurso tão ultrapassadoquanto pretensioso e arrogan-te dos que definem os cami-nhos, ou melhor, os descami-

nhos da Administração Pública brasileira.Além do mais, era necessário que alguém dis-

sesse aos economistas da vez que o dinheiro quecompra carro não é o mesmo que

compra comida. Pode parecer toli-ce, mas os encarregados da Políti-

ca Econômica sabem muito bemou, pelo menos, deveriam saber

que, de uma forma bastante sim-ples, o total do dinheiro represen-

ta o somatório dos bens e serviçosdisponíveis para consumo. Não

serve, portanto, para comprar o quenão existe.

Se alguém se vê expropriado docapital que usaria para trocar o auto-móvel por um modelo novo – que exis-te e está estocado no pátio de umamontadora – e esse dinheiro é distribu-ído entre aqueles que estão com fome, oque se consegue é o aumento da procurapor alimentos – que não estão disponí-

veis para consumo – já que foram expor-tados para que se obtivesse o superávit nas

contas externas, exigido pelas falsas prioridades,para o sagrado pagamento dos juros aos credoresinternacionais.

E mais ainda, aquele cidadão que ansiava porcomprar o carro novo, provavelmente iria comermais, para compensar-se da frustração decorrente

da violência estatal sofrida. O resul-tado é este:

– de um lado, aumento galo-pante da demanda por gêneros ali-mentícios, já escassos (desabasteci-mento) com a volta do terrível fan-tasma da inflação, que, há muito, con-

ta com a generosa ajuda dos preços administradospelo Governo;

– de outro, o desmantelamento final das nos-sas indústrias (desemprego), que não teriam paraquem vender os seus produtos, porquanto aqueles

“Quanto sacrifício, paramanter um status que, mais

cedo ou mais tarde, setornará insustentável!”

“...o dinheiro quecompra carro não é

o mesmo quecompra comida.”

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POLÍTICA

que os comprariam teriam sido aliviados dos par-cos recursos que conseguiram amealhar.

O carro novo continua no pátio, e o dinhei-ro, que pagaria por ele, nãocomprou comida, mas foi de-vorado pela inf lação ou,quem sabe, foi transformadoem mais superávit pelo Go-verno que o confiscou.

Políticas como essa vêmpromovendo, há anos, uma formidável transferên-cia de patrimônio dos novos pobres para os semprericos. É o que se dá quando uma família, levadapela necessidade de sobrevivência, não conseguemanter aquele segundo imóvel, herdado ou com-prado com grande sacrifício, e o vende. Depois,serão o carro, a casa própria e, por fim, a dignida-de que se irão. E o comprador beneficiário não é omiserável, em nome do qual o Governo diz agir,mas aquele que concentra o capital, que dele dis-põe para adquirir, a preço vil, os bens que o deses-pero pôs à venda. O rico se torna cada vez maisrico, enquanto o número de pobres cada vez au-menta mais. Vai-se a classe média, empobrecida,sofrida, neutralizada. Sobrarão os ricos intocadose uma nomenclatura política ostentosa, sustenta-da, como sempre, pelos sem-comida. Quanto tempolevará, ainda, até que se dê um fim a isso?

Escrevo, também, porque, como muitos, acre-ditei na vitória da esperança sobre o medo. Havia for-tes indícios de que o próprio candidato a Presi-dente, depois eleito, teria ligações antigas com or-ganizações não governamentais defensoras dos in-teresses dos Países ricos e do capital internacio-nal, mas era impossível a certeza. Por outro lado,eram bem conhecidos os compromissos do Gover-no passado e, conseqüentemente, do seu candida-to. Quanto ao novo, havia, ainda, a esperança.Esperança de que não desperdiçasse o voto deconfiança que lhe deram os eleitores.

Infelizmente, não é o que vem acontecendo.Parece que os vencedores optaram por ficar comos eleitores errados. Senão, vejamos: cerca de trin-ta por cento do eleitorado eram cativos do pró-prio PT; mais ou menos outros trinta por cento,tradicionalmente, simpatizavam com as idéias ne-oliberais do adversário; finalmente, foram osaproximadamente quarenta por cento restantes

que, por quererem a mudança do modelo econô-mico, somaram-se aos votos que eram ideologi-camente seus e deram a acaçapante vitória ao

Partido dos Trabalhadores.Agora, vemos, no Governo,

o Partido defender, despudora-damente, todas as Políticas exe-cráveis que antes repudiava. Seas suas lideranças pensam queirão incorporar os votos do can-

didato derrotado, sem dúvida não o farão. Mas éigualmente certo que perderão aqueles quarentapor cento que lhe deram a vitória, como tambémperderão muitos dos seus próprios votos, pela di-ficuldade de os seus eleitores as acompanharemnessa aventura suicida.

Será que o PT não quer mais ser Governo e jáestá preparando a própria derrota para voltar à opo-sição e culpar os seus inimigos de sempre, como nosvelhos tempos? Ou será que pretende levar o Paísa uma crise institucional para tentar obter os po-deres discricionários que permitam arrombar, devez, as garantias constitucionais que ainda prote-gem o Cidadão?

Mais uma vez, há fortes indícios, entre eles,a volta de assombrações há tempos banidas commuito sacrifício e, até mesmo, com sangue. Es-tão aí o ressurgimento das lutas de classes, coma eleição dos novos inimigos do povo e a presençados coligados movimentos dos sem-terra e dossem-teto, que, sem muito esforço, podem ser vis-tos como embriões de guerrilhas rural e urbana.Identificam-se, ainda, nesse caldo de cultura, dis-cursos e ações que visam a desmoralizar o PoderJudiciário e a neutralizar o Legislativo, desesta-bilizando-se o regime e deixando os brasileirosórfãos de quaisquer garantias.

O Governo se diz democrático, mas tambémconsidera Cuba um exemplo de democracia. Ade-mais, não conheço uma ditadura, sequer, que sereconheça como tal. Democracia, para que to-dos entendam, é uma forma de Governo em que,sempre que um cidadão tem um direito ilegiti-mamente violado, encontra uma instância a querecorrer e o vê restabelecido. Quando assim nãoé, vivemos em uma ditadura, tornando-se irrele-vantes os meios usados para a imposição da von-tade arbitrária:

...”como muitos,acreditei na vitóriada esperança sobre

o medo.”

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POLÍTICA

– seja a força das armas, com a ameaça deviolência física;

– seja a violência psicológica, decorrentedo suborno, da corrupção, da coação ou dachantagem.

Nessas ditaduras mal disfarçadas, a violên-cia física acaba por ser, também, usada, medi-ante o emprego das forças legalmente constituí-das para esmagar a resistência dos cidadãos, emvez de defendê-los dos que, verdadeiramente, osameaçam.

Mas tenho, ainda, muita esperança de que oCongresso resista às pressões e não vote leis ouemendas constitucionais que violentem o Estado deDireito e em que, se isso ocorrer, o Poder Judiciário,geralmente muito mais equilibrado do que os ou-tros, consiga preservar a independência e evite queos pobres cidadãos brasileiros sejam, mais uma vez,vítimas da violência estatal. Pelo menos, sem quecaiam, definitivamente, essas máscaras de democratadas faces dos déspotas que as usam e que, em suamiopia política, não percebem que a única fonte doPoder que exercem com tanto arbítrio é, justamen-te, esta Constituição que, uma vez violada nas suascláusulas pétreas, os tornará tão ilegítimos e usur-padores quanto quem toma o poder por meio de umgolpe de Estado.

Também não perdi, ainda, toda a esperançano Presidente, que, um dia, disse que governariao País para todos os brasileiros. Espero, sim, queele compreenda que seus maus assessores o con-venceram de que está governando para os pobres,quando, em verdade, governa para os banqueirose que essa opção, se mantida, o levará ao suicídiopolítico. As eleições municipais vêm aí e, depen-dendo de como votarmos,elas poderão servir de aler-ta, favorecendo as mudan-ças de rumo por que tantoansiamos.

Quem sabe, ele aindapossa desvencilhar-se dolixo político que o cerca e mostrar que pode serum verdadeiro Estadista, que una o País, no lu-gar de dividi-lo; que defenda a economia, em vezde beneficiar o capital improdutivo; que seja durocom os credores e não dê calote em aposentadose pensionistas. Que acabe com o desvio e o des-

perdício dos dinheiros públicos, aí incluída a cri-ação de um sem-número de ministérios para abri-gar companheiros sem-emprego. Que promova as po-líticas sociais, sem massacrar os Funcionários Pú-blicos, tão indispensáveis à sobrevivência do pró-prio Estado. Que pare de falar em dar esmola aospobres e lhes dê os empregos que prometeu, cri-ando, para isso, sob o império da Lei, as condi-ções para que a economia cresça. Que use, final-mente, o capital eleitoral que nós os brasileiroslhe conferimos, para exercer a soberania nas nos-sas relações econômicas internacionais, como,aparentemente, o vem fazendo na esfera da açãopolítica.

Se falharem, porém, todos os que poderiamimpedi-lo, e o terror vencer a esperança, queroque fique bem claro que nada tenho a ver comesses políticos que procuram destruir tudo aqui-lo que os nossos antepassados nos legaram e quedeveria ser a base da herança para as geraçõesfuturas. Não votei neles, votei na esperança – elesprosperaram apesar de mim.

E se assim for, com muita tristeza, deixareiesta mensagem, na esperança de que, um dia, che-gue aos seus destinatários.

Dirijo-me a vocês, crianças do meu País, paralhes dizer que foram políticos vaidosos, sober-bos, egoístas, insensíveis, cruéis e violentos que,incapazes de construir qualquer coisa em suasvidas, deixaram, atrás de si, um rastro de destrui-ção e, agora, acabam de frustrar a última espe-rança de lhes deixarmos um mundo melhor, trans-ferindo-lhes, desse modo, a responsabilidade porcomeçar tudo de novo.

Esses poucos homens maus, ajudados pelacovardia de uma maioriaomissa, aliaram-se aos der-rotados, tão maus quantoeles, para perpetrar o maiorestelionato eleitoral da nossaHistória. Mentiram, traírame mataram, pelo menos, a

esperança. Tudo isso, com a conivência dos quese deixaram subornar, corromper, chantagear, massob o protesto impotente daqueles que tentaram,mas não o conseguiram impedir.

Deus os ajude a realizar o que não fomos ca-pazes de fazer.

“O Governo se dizdemocrático, mas tambémconsidera Cuba um exemplo

de democracia.”

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CRÔNICA

inconfundível compasso de Aquarela doBrasil toma meu espaço de trabalho.Tonalizam-se memórias e redescober-tas e os versos de Ary Barroso recri-

am na tela do computador a figura centenáriado grande mestre (1903-2003). Na paleta do sam-ba consagrado, dentro e fora do país, misturam-se histórias de um homem e seu piano. Verda-des e mitos.

“Pra mim...”, o que importa é esse legadosestroso de suas músicas, em que a língua seenrosca em palavras morenas: Brasil, meu Brasilbrasileiro,/meu mulato inzoneiro,/vou cantar-te nosmeus versos.

Palavras sedutoras, nem sempre fáceis, nemsempre simples. Boa demonstração de que valea pena remar contra a maré da simplificaçãoexcessiva, da prepotência intelectual de acharque ninguém entende nada, que não seja estú-pido e imbecil. Às vezes, não é preciso entender,de pronto, na acepção plena do termo; bastaapreender. O entendimento pode vir depois.

Palavras sem pejo nem medo de, por difí-ceis, parecerem “bestas”. Até porque, com acategoria das verdadeiras damas, nunca tiverampreconceitos sociais. Brasil que dá inzoneiro, tam-bém dá um coloquialíssimo pra, não alçado, na-queles idos, à categoria de palavra dicionariza-da.

Menina ainda, já me submetia sem pensarao fascínio da linguagem poética, assim de ouvi-do. Isto somado a um coração verde-amarelo denascença e cultivo, imagine só no que dava ima-ginar essa dona caminhando/pelos salões arrastan-do/o seu vestido rendado.

Alguns chegaram a acusar Ary Barroso deempregar palavras muito herméticas em suascomposições. Mas, aqui entre nós, desdequando onomatopéias precisam de tradu-ção? Há palavras que trazem na forma oseu significado. Umas de maneira maisevidente, na reprodução dos sons repre-sentados, a exemplo de tique-taque; ou-

Maria Veronica AguileraJornalista

tras, porque, de algum jeito, lembram a coisa re-ferida, como bisbilhotar.

Mulato inzoneiro é que nem goiabada comqueijo: combinação perfeita. Historiadores e antro-pólogos sabem disso. Em livro lançado nos 500 anosdo Descobrimento (O Português que nos Pariu, his-tória do Brasil e de Portugal, contada com muitohumor), Angela Dutra de Menezes encontra naformação do povo português as raízes de nosso fa-moso jeitinho: “Nós brasileiros, refletimos este povoque, de tanto se misturar, aprendeu o amável jeitode olhar além da pele, dos caracteres físicos. Mas,na contramão, descobriu a hipocrisia, excelentealiada se a maior necessidade é tentar sobreviver.Lá e aqui somos céticos, sonsamentementirosos”...Afinal, “quando a Igreja Católica ofi-cializou as fogueiras, o português já se graduaradoutor nas artes da malandra-gem”.

Esse inzoneiro do Aryjá deu muito o quefalar. A maioria nun-ca soube oq u e

O

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CRÔNICA

significava; entre os que vieram a saber, tevequem criticasse o autor também pelo que seriauma agressão aos brios nacionais: onde já se viuchamar-nos de sonsos, mentirosos?

Bem, os dicionários abrem verbetes para in-zonar significando armar intrigas, enredar, mexe-ricar e para o substantivo inzona: embuste, intri-ga, além do verbo zonar, em versão chula, com osentido de fazer a zona (precisa explicar?).

Tal como o fazem escritores do porte de Ma-chado de Assis, Guimarães Rosa e Carlos Drum-mond de Andrade, o compositor seguiu os pas-sos da formação natural de palavras em línguaportuguesa, pelo acréscimo de prefixos e/ou de

sufixos, elementos que se colocamantes ou depois de uma outra pa-

lavra primitiva. Eiro é o que faz,o que é, o que dá.

Assim, como em Prova umbocadinho, oi (Na Baixa do Sapa-

teiro), o sufixo inho é formador dediminutivo – veneno certo, em se

tratando de iaiás eioiôs baia-

nos – em Irei cada vez mais me Esmolambando (NaBatucada da Vida, parceria com Luiz Peixoto), overbo esmolambar vem cheio de agregados. Umdeles é o prefixo es (por sua vez, vindo da formalatina ex), usado sobretudo para formar verbosque denotam ações demoradas ou movimentosfreqüentemente repetidos, ou seja, infinitamen-te e desavergonhadamente mulambu, palavraafricana que significa pano esfarrapado e que ge-rou molambo, em sentido figurado, indivíduo fra-co, sem caráter.

Danada de bonita mesmo é merencória, todacheia de curvas, cara de lua mesmo, dessa tristezamansa de fim de tarde, descrita por José de Alen-car em Iracema: A surdina merencória da tarde.

O fato é que o autor de versos lapidares comoDeixa cantar de novo o trovador/à merencória luzda lua, também sabia escrever um moreno cantaas mágoa (No rancho fundo), transgredindo a con-cordância, se a intenção da música assim o pe-dia, e o falar da gente registrava.

E o que dizer de Risque? Creia,/toda quimerase esfuma/como a brancura da espuma/que se desman-cha na areia. Quase dá para ouvir o marulho dasondas, através do som surdo e fechado da tríplicerepetição da vogal u, e sentir a textura da areia norastro do mar que reflui; aqueles buraquinhos quea água vai fazendo e sumindo, fazendo e sumindo,desaparecendo pouco a pouco...

As mais modernas teorias da lingüística (ci-ência da linguagem) falam de um fenômeno com-plexo de nome bonito, o efeito de sentido, algoassim como uma flutuação ou deslizamento dosentido, ou aquilo que não é significação plena-mente desenvolvida, espécie, portanto, de senti-do em construção/desconstrução. Não sei por-que, mas toda vez que leio ou escuto falar nis-so, me lembro de Risque e do verbo esfumar-se.Os franceses, que formularam esse conceito,no bojo da análise do discurso, precisam ou-vir Ary Barroso.

Ou melhor, precisamos todos ouvir,cada vez mais e sempre, Ary Barroso.

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FATO REAL

Cidade de Anápolis. Vila dos Oficiais.Sexta-feira. Ano 1975. Quase na hora doJornal Nacional.O telefone toca. Era Villaça.– Trompowsky, tem um EVAM para Brasília.(1) É umaneném que está muito mal. O médico quer trasladá-la paraBrasília. É uma tentativa para salvá-la.– Tudo bem. E o avião?– Já acionei.O mecânico e o radiotelegrafista estavam jantando.Eu não sabia que o Villaça era tão macho. Eudesliguei e um raio explodiu em cima da Vila dosOficiais. BUM!! Um baita estrondo. Um CB (2)estava passando por Anápolis em direção ao Centro-Oeste. Chovia muito. Coloquei o macacão de vôo.A Kombi chegou. Entrei. Acostumei a vista.Villaça também estava com o seu macacão.Admirei-o. Estivemos juntos em Fortaleza, naUnidade formadora de pilotos de caça; estivemosjuntos em Dijon/França. Estávamos juntos criandoa Defesa Aérea em nossa Força. É um piloto calmo.Bom piloto. Muito bom piloto.No percurso, falamos pouco. O motorista tinhadificuldade na estrada. Chovia muito.Chegamos ao pátio. O velho Dakota estavaestacionado ao lado da linha dos Mirage.Muita chuva. Subimos. Era um C-47 com bancoslaterais. A maca, no meio do corredor.Sentados, os pais, o médico e o enfermeiro.Engraçado, os pilotos tentam não se envolver como problema. Fomos direto para a cabine.Partida. Durante o táxi, o radiotelegrafista informa:– Goiânia está fechada(ao lado de Anápolis).– Brasília está Cavok. Chuva forte tempo passado. (3)Ótimo, o nosso destino estava aberto.Decolagem. Com 500 pés, se tanto, entramos numinferno de água, granizo, turbulência.– A temperatura da cabeça do cilindro está caindo.– À direita, mais à direita. (Fugíamos dos clarões. Oescuro é mais seguro).De repente, saímos em um céu lindo, cheio deestrelas. O velho Dakota havia vencido mais umabatalha. Ajustamos as rotações dos motores. Eraum senhor avião.

Alguém vem à cabine, o mecânico escuta e diz:– Major, a neném morreu.O que eu senti naquele momento, e sinto até hoje,é que a neném não deveria ter morrido.O céu tinha muitas estrelas, os motores do Dakotafuncionavam bem, a tripulação era excelente, euestava vendo o clarão das luzes de Brasília.– Foi uma baita sacanagem da neném.Eu até hoje não sei se o Villaça pensou assim.Retornamos. Em silêncio. Deixamos somente asluzes do painel de instrumentos acesas. Lá fora,uma noite linda. A chuva já havia passado porAnápolis. A morte nos vencera.O mecânico recolhia os guardanapos de papel queele colocara nas gretas das janelas laterais, paraevitar a entrada de água na cabine dos pilotos.Inútil, estávamos com as pernas encharcadas.Villaça me traz para a vida:– Amanhã é o aniversário de Marli (mulher deBlower).

Ivan Von Trompowsky Douat TauloisCel. Av. RR

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FATO REAL

– Às oito horas?– É.– Eu vou.Na perna com o vento, o mecânico me diz:– Major, a mãe pede que a neném seja enterrada nasua cidade natal (interior do Maranhão).Enquanto pousava, imaginei a longa viagem.Anápolis, Bom Jesus da Lapa, Salvador, Recife,Fortaleza, São Luiz e a cidadezinha.Após uma noite triste. Uma longa viagem.Cortei os motores. Sentei-me ao seu lado. A nenémnos seus braços.Pedi-lhe que a neném fosse enterrada em Anápolis.Falei um monte de besteiras, tipo a neném agora vaidescansar.Jovem, mãe, fragilizada, concordou.Descemos.A Kombi que nos levaria à Vila viria a qualquermomento. Ficamos observando, Villaça e eu, oritual sistemático, treinado. A vida segue.

O caminhão tanque estacionado ao lado daaeronave. O operador, armando sua pequeninaescada de alumínio, para ter acesso às asas do C-47.As mangueiras estendidas. O mecânico colocandoas travas nas superfícies de comando. Os soldadoscolocando os pesados calços de ferro nas rodasprincipais.A ambulância cumprindo sua triste rotina.O meu sentimento foi de orgulho.O mecânico nos traz à realidade:– Major, eu tenho uma garrafa de conhaque naminha mala. O senhor aceita um pouco?– Lógico.Serviu-nos em copos de plástico.Perguntei-lhe se poderia oferecer um pouco aosoldadinho que nos apoiara na saída. Estava com afarda encharcada. Concordou.A Kombi chegou. No regresso à Vila dos Oficiais,Villaça comenta:– Ainda dá para pegar a novela.Dava. É bom ter um companheiro que nem o Villaça.

PS: Essa estória aconteceu. É pena que eunão me recorde dos nomes do sargentomecânico, do sargento radiotelegrafista edo soldadinho.São heróis anônimos. Esquecidos. A ForçaAérea Brasileira tem milhares deles.Eu comecei a escrever essa estória à noite.Em um local muito distante. La Paz. Bolívia.Pela manhã, nascera minha neta, Sofia.Quando a vi, linda, eu que acredito tãopouco nas coisas, tive uma certeza: aneném voltara.A neném da baita sacanagem.Um quarto de século, e a tripulação voltariaa sorrir: Villaça, o mecânico de vôo, oradiotelegrafista, o soldadinho e eu.

(1) EVAM: Nome técnico: Evacuação Aeromédica. No popular : milhares– põe milhares nisso – de vidas foram salvas, outras, quase, pela Força Aérea.(2) CB: Cumulus Nimbus. No solo, chuva, trovoada, barulho.No ar, muito problema.(3) CAVOK: Chuva forte, tempo passado. Bom tempo.Os boletins meteorológicos eram expedidos de hora em hora. Havia chovidoem Brasília na hora anterior.

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Eva/do Pereira Portela

Museólogo �

B oa parte da população brasileira desconhece quenosso País cedeu ao mundo homens e mulheres que marcaram com seus feitos, muitas vezes

pioneiros, a História da Aviação. O nome mais conhecido é sem dúvida o do grande

gênio-inventor Alberto Santos-Dumont, mas foi com Bartolomeu Lourenço de Gusmão, no ano de 1709, em Portugal, e na presença do Rei D. João V, que foi dado o primeiro passo para a conquista dos céus. Naquela opor­tunidade Bartolomeu de Gusmão exibiu sua invenção A Passarola e provou a sua viabilidade com diminutos balões. Com esta apresentação pública ganhou o privilé­gio de invenção de uma máquina aerostática, oitenta anos antes do vôo dos irmãos Montgolfier na França.

Seguindo a cronologia histórica, temos ainda Augus­to Severo, político, natural do estado do Rio Grande do Norte, que nos dias 4 e 7 de maio de 1902, com seu diri­givel PAX realizou ascensões nos céus de Paris. Entretan­to, um acidente durante o vôo pôs um fim precoce aos experimentos deste aeronauta, abrindo a lista daqueles que deram suas vidas em prol de dotar a Nação brasileira de conhecimentos aeronáuticos. Com idêntico destino, o Te­nente de Cavalaria Juventino Fernandes da Fonseca, pri­meiro aeronauta das "Força� Armadas, faleceu em 1908, na Serra do Barata, perto de Realengo (Rio de Janeiro), em acidente com o balão no qual fez. sua única ascensão no Brasil.

Bem mais feliz em seus empreendimentos, Eduardo Pacheco Chaves ( Edu Chaves ) conquistou seu brevê pela FederacíónAeronautiqueinternationale (França) e tornou-se o pri­meiro brasileiro a pilotar nos céus do nosso país, em 1912.

O Tenente Ricardo I<irk, primeiro oficial do Exérci�

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to Brasileiro a se brevetar como piloto, em 1912, na Fran­ça, tornou-se também o primeiro a empregar o avião em missões militares no país, perdendo a vida em acidente durante a Guerra do Contestado.

O Tenente Aroldo Borges Leitão, em 1927, foi pre­cursor dos vôos noturnos no Brasil.

Em 1931 os então tenentes Casimiro Montenegro e Lavenêre-Wanderley realizaram o primeiro vôo do Cor� reio Aéreo Militar (CAM), partindo do Campo dos Afon­sos para São Paulo na lendária aeronave Curtiss Fledgling­

K -263, cujo modelo está no Museu Aeroespacial. Entre as brasileiras destacam-se Anesia Pinheiro Ma­

chado, que executou seu primeiro vôo solo aos 17 anos; e Ada Rogato, primeira mulher a brevetar-se no Brasil, con"' quistando 31 (trinta e uma) condecorações e mais de 100 medalhas em seus feitos aéreos, além de ter sido a primei­ra mulher pára-quedista.

Mas o pioneirismo brasileiro na Aeronáutica esten­de-se para além dos pilotos.

Os nomes de J. Alvear, Villela Júnior, Henrique Lage e Guedes Muniz perpetuaram-se na História da Indústria Aeronáutica. como projetistas e construtores de aeropla­nos. Coube inclusive a Guedes Muniz, oficial do Exército, a glória de haver proj.etado o primeiro avião construído em série no país.

Existem ainda muitos outros nomes em nossa His­tória da Aviação, em uma extensa lista de pioneiros da Aviação Militar, das Companhias Aéreas, dos Aeroclubes e do Aerodesporto.

Por tudo isto é chegada a. hora de se promover pales­tras e debates sobre essas conquistas, mostrando e compro­vando aos brasileiros e ao mundo o valor da nossa gente. �

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