esposa de pastor um estudo sobre mudanças

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FACULDADES SPEI CURSO DE ACONSELHAMENTO FAMILIAR Mirian Montanari Grüdtner ESPOSA DE PASTOR: UM ESTUDO SOBRE AS MUDANÇAS DE DOMICÍLIO E SUAS IMPLICAÇÕES Curitiba 2011

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As mudanças de domicílio significam um dos maiores desafios da esposa de pastor, pois podem interferir nos seus estudos e na sua carreira profissional. Além disso, a cada mudança, a esposa de pastor precisa se adaptar a várias outras situações, como a igreja nova, e sua rotina, a cidade nova, os novos amigos, a nova casa, etc, bem como intermediar na adaptação dos filhos também. Este trabalho, através de questionários com esposas de pastores na ativa, futuras esposas de pastor, esposas de pastores jubilados, membros de igreja, entrevistas com administradores da denominação adventista e análise de pesquisas e livros a respeito do tema, propõe investigar as implicações das mudanças na vida da esposa de pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

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Page 1: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

FACULDADES SPEI

CURSO DE ACONSELHAMENTO FAMILIAR

Mirian Montanari Grüdtner

ESPOSA DE PASTOR: UM ESTUDO SOBRE AS MUDANÇAS DE DOMICÍLIO E SUAS

IMPLICAÇÕES

Curitiba

2011

Page 2: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

Mirian Montanari Grüdtner

ESPOSA DE PASTOR: UM ESTUDO SOBRE AS MUDANÇAS DE DOMICÍLIO E SUAS

IMPLICAÇÕES

Monografia apresentada como pré-requisito

para a obtenção do título de Especialista em

Aconselhamento Familiar, no Curso de

Aconselhamento Familiar, realizado pelas

Faculdades SPEI, sob orientação do

Professor Edilson Soares de Souza.

Curitiba 2011

Page 3: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

Mirian Montanari Grüdtner

ESPOSA DE PASTOR: UM ESTUDO SOBRE AS MUDANÇAS DE DOMICÍLIO E SUAS

IMPLICAÇÕES

Trabalho apresentado para a obtenção do título de Especialista em

Aconselhamento Familiar, realizado pelas Faculdades SPEI.

Aprovado em ____/____/____.

_______________________________________________________

Professor corretor - Titulação

Page 4: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

Dedico este trabalho ao meu marido e às minhas filhas Julie e Jéssica por constituírem minha família e me impulsionarem a buscar vida nova a cada dia. Meus agradecimentos por terem aceito se privar de minha companhia pelos estudos, concedendo a mim a oportunidade de me realizar ainda mais.

Page 5: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

Agradecimentos A DEUS pela oportunidade e pelo privilégio que nos foram dados em compartilhar

tamanha experiência e, ao frequentar este curso, perceber e atentar para a relevância de temas que não faziam parte, em profundidade, das nossas vidas.

Aos professores do Curso de Pós-Graduação em Aconselhamento, representados pela Profa. Meibel Guedes, pelo incentivo que motivaram a conclusão desta pós-graduação.

Ao orientador, Prof. Edilson Soares Souza, pela paciência, sabedoria e seriedade em conduzir o andamento desta pesquisa.

A todas as esposas de pastor, tanto as ativas, quanto as futuras esposas e as esposas aposentadas que participaram da pesquisa, aos membros de igreja que também responderam ao questionário e aos administradores que gentilmente cederam as entrevistas.

Aos colegas de classe pela espontaneidade e alegria na troca de informações, experiências e materiais numa demonstração de comprometimento com o outro.

Page 6: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

“O ser humano não é completamente condicionado e definido. Ele define a si próprio seja cedendo às circunstâncias, seja se insurgindo diante delas. Em outras palavras, o ser humano é, essencialmente, dotado de livre-arbítrio. Ele não existe simplesmente, mas sempre decide como será sua existência, o que ele se tornará no momento seguinte." Viktor Frankl

Page 7: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

ABSTRACT

The domicile changes mean one of the biggest challenges of the shepherd wife, therefore they can intervene with its studies and its professional career. Moreover, to each change, the necessary wife of shepherd if to adapt to several other situations, as the new church, and its routine, the new city, the new friends, the new house, etc, as well as also intermediating in the adaptation of the children. This work, through questionnaires with wives of shepherds in the active, future wives of shepherd, wives of retired shepherds, members of church, interviews with administrators of the adventist denomination and analysis of research and books regarding the subject, considers investigating the implications of the changes in the life of the shepherd wife. Word-key: wife of shepherd, changes, challenges

RESUMO

As mudanças de domicílio significam um dos maiores desafios da esposa de pastor, pois podem interferir nos seus estudos e na sua carreira profissional. Além disso, a cada mudança, a esposa de pastor precisa se adaptar a várias outras situações, como a igreja nova, e sua rotina, a cidade nova, os novos amigos, a nova casa, etc, bem como intermediar na adaptação dos filhos também. Este trabalho, através de questionários com esposas de pastores na ativa, futuras esposas de pastor, esposas de pastores jubilados, membros de igreja, entrevistas com administradores da denominação adventista e análise de pesquisas e livros a respeito do tema, propõe investigar as implicações das mudanças na vida da esposa de pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Palavras-chave: esposa de pastor, mudanças desafios

Page 8: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Número e porcentagem de esposas na ativa que responderam ao

questionário por União ...............................................................................................................11

TABELA 2 – Número e porcentagem de mulheres relacionadas ao ministério

pesquisadas, por idade ..............................................................................................................12

TABELA 3 – Porcentagens de respostas das esposas de pastor ativas e jubiladas

relacionadas aos seus desafios .................................................................................................13

TABELA 4 – Porcentagem dos desafios que os grupos das próprias esposas na ativa,

das jubiladas, das futuras esposas e dos membros de igreja percebem nas esposas ativas ...17

TABELA 5 – Média de mudanças feitas por esposas ativas e jubiladas por períodos de

anos ...........................................................................................................................................20

TABELA 6 – Porcentagem das justificativas para o desafio mudanças em cada um dos

três grupos de esposas na ativa ................................................................................................24

TABELA 7 – Porcentagem do grau de escolaridade dos grupos das esposas na ativa,

futuras esposas e esposas jubiladas .........................................................................................25

TABELA 8 - Porcentagem da atuação profissional dos grupos das esposas na ativa,

das futuras esposas e das esposas jubiladas ..........................................................................26

TABELA 9 - Porcentagem de esposas na ativa com filhos e sem filhos ......................28

TABELA 10 - Porcentagem das justificativas para o desafio solidão............................32

Page 9: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .........................................................................................................................10 1- AS MUDANÇAS DE DOMICÍLIO NO CONTEXTO DOS DESAFIOS DA ESPOSA DE PASTOR ......................................................................................................................15

2- O DESAFIO DAS MUDANÇAS DETERMINADAS PELOS REGULAMENTOS

ADMINISTRATIVOS DA IGREJA .............................................................................................20

3- COMO AS MUDANÇAS INFLUENCIAM A VIDA DA ESPOSA DE PASTOR ...................24

3. 1 A INTERFERÊNCIA NOS ESTUDOS E NA CARREIRA PROFISSIONAL COMO UMA DAS CONSEQUÊNCIAS DAS MUDANÇAS.......................................................24

3.2 AS ADAPTAÇÕES QUE AS MUDANÇAS EXIGEM...........................................27

3.3 A PERDA DOS AMIGOS E O DISTANCIAMENTO DA FAMÍLIA COMO

CONSEQUÊNCIAS DAS MUDANÇAS .................................................................31

3.4 A INTERFERÊNCIA NAS FINANÇAS COMO RESULTADO DAS MUDANÇAS...33

CONCLUSÃO ..................................................................................................................34 ANEXOS 1– QUESTIONÁRIO PARA ESPOSAS DE PASTOR NA ATIVA ...........................................40 2 - QUESTIONÁRIO PARA ESPOSAS DE PASTOR JUBILADAS ........................................40 3 - QUESTIONÁRIO PARA FUTURAS ESPOSAS DE PASTOR ..............................................41

4 - PESQUISA PARA MEMBROS . ........................................................................................42

5 - ENTREVISTA COM ADMINISTRADOR DE ASSOCIAÇÃO .................................................42

6 - ENTREVISTA COM ADMINISTRADOR DE SEMINÁRIO ADVENTISTA DE TEOLOGIA ..44

7 – ENTREVISTA COM LÍDER DE AFAM ................................................................................45

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Page 12: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

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INTRODUÇÃO

A esposa do pastor é figura marcante no contexto dos ministérios das

igrejas evangélicas, incluindo-se aí a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Em

relação a esta última, cerca de quatro mil pastores se distribuem nos diversos

níveis e áreas da Organização Adventista no Brasil, presidindo os seus

diversos segmentos, como a Divisão (sede administrativa em Brasília que se

compõe de sete Uniões), as Uniões (sedes administrativas que se compõem de

Associações), as Associações (sedes administrativas que se compõem de

vários distritos pastorais, ou, grupos de igrejas cuidadas por um pastor), e as

Missões (sedes administrativas com menor poder de decisão que uma

Associação), dirigindo departamentos nos escritórios, como Saúde, Lar e

Família, Mordomia, Secretaria, Tesouraria, Educação, Colportagem [venda de

livros denominacionais], Ação Missionária, Assistência Social, Jovens e

Música, auxiliando pastores efetivos em igrejas grandes (com mais de

quinhentos membros) ou pastores de departamentos de Associação ou Missão,

lecionando Ensino Religioso ou ainda, em sua maioria, à frente dos distritos

pastorais. Desses pastores, mais de 90% são casados.

As esposas desses pastores, em sua maioria, têm também suas

carreiras profissionais, ora interrompidas de tempos em tempos por conta das

transferências de domicílio. A cada mudança, é necessário que elas se

submetam também a uma série de adaptações: além do ajuste a novo trabalho,

se houver, há o ajuste à nova cidade, à nova casa, à nova cultura, aos novos

costumes, ao novo clima, à nova igreja e aos seus membros, aos novos

amigos; se são mães de filhos em idade escolar, e por passar mais tempo com

os filhos, devido à ausência dos pais, são elas que mais terão que lidar com as

perdas dos filhos, como a perda dos amigos, por exemplo, e suas adaptações

à escola, aos colegas, à igreja e ao novo lar.

Page 13: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

11

Em virtude das mudanças, a esposa do pastor também deixa a família,

os amigos, e uma rotina já estabelecida de atividades para, ao lado do marido,

cumprir a missão para a qual se dispôs trabalhar ou sobre a aceitação da qual

ainda se debate. Distante da família, sem amigos, muitas vezes, insatisfeita

com a falta de realização profissional e com a falta de estabilidade, a esposa

do pastor pode se sentir só. Tal sentimento pode se agravar e comprometer-lhe

a saúde.

Dentro desse contexto, este trabalho se propõe a verificar como as

mudanças interferem na vida da esposa de pastor.

Esta pesquisa foi desenvolvida a partir da interação entre a

pesquisadora e membros das situações investigadas (a pesquisadora faz parte

do grupo investigado). Do ponto de vista dos objetivos, é uma pesquisa

descritiva, a qual visa a descrever as características de determinada

população.

A metodologia empregada fundamentou-se em vários procedimentos de

coletas de dados, envolvendo primeiramente questionários, dirigidos a esposas

de pastor que se encontram na ativa, com idades entre 20 e 56 anos.

TABELA 1 – Número e porcentagem de esposas na ativa que

responderam ao questionário por União [União se refere a uma sede

administrativa, responsável por uma Região do Brasil]

União no. de esposas % de esposas

União Sul 45 41%

União Central 32 30%

União Este 08 7%

União Centro-Oeste 10 9%

União Nordeste 06 5%

União Norte 07 6%

Noroeste 02 2%

Total 110 100%

De abril a setembro de 2010 foram enviados, por correio eletrônico,

questionários para esposas de pastor que se encontram na ativa, abrangendo-

Page 14: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

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se as sete Uniões do Brasil que compõem todos os estados brasileiros: União

Sul, União Central, União Este, União Centro-Oeste, União Norte, União

Nordeste e União Noroeste. No total, 110 esposas (com representação de

todas as Uniões) responderam as questões, as quais pediam dados como

idade, grau de instrução, profissão, tempo de obra, se tinham filhos, número de

mudanças, e em seguida, inquiriam sobre seus três maiores desafios, os três

maiores desafios que elas achavam que suas colegas enfrentavam e, por

último, pedia-se que mencionassem três motivos para ser uma esposa de

pastor.

As esposas na ativa foram divididas em três grupos – 20-30 anos, 31-40

anos e 41-56 - a fim de ser averiguado se o desafio mudanças se manifesta de

modo diferente em cada um deles. A tabela abaixo mostra a porcentagem e o

número de mulheres de cada grupo, que participaram da pesquisa.

TABELA 2 – Número e porcentagem de mulheres relacionadas ao

ministério pesquisadas, por idade

Grupo Idade Número Porcentagem

Futuras esposas 18-42 anos 30 19%

Esposas na ativa I 20-30 anos 30 19%

Esposas na ativa II 31-40 anos 46 30%

Esposas na ativa III 41-56 anos 34 22%

Esposas jubiladas 61-82 anos 15 10%

De julho a setembro de 2010 também foram encaminhados

questionários para namoradas, noivas e esposas de seminaristas, ou

teologandos - expressão mais usada na denominação adventista -, os quais

foram respondidos por 30 futuras esposas de pastor com idades entre 18 e 42

anos. Nos questionários também se solicitaram dados como idade, grau de

instrução, profissão, se eram casadas, noivas ou namoradas, se tinham filhos,

e em seguida, inquiriam sobre três maiores desafios das esposas de pastor, de

acordo com a observação delas. Havia questões também sobre como elas

estavam se preparando para lidar com esses desafios, e se elas achavam que

os Seminários de Teologia estavam provendo preparo suficiente para o

Page 15: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

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enfrentamento de tais desafios e, por último, pedia-se que mencionassem três

motivos para ser uma esposa de pastor.

De junho a agosto de 2010, 15 esposas de pastores aposentados, ou,

jubilados (um termo também muito utilizado no meio adventista), de 61 a 82

anos, a maioria de Curitiba e região, foram entrevistadas. Nos questionários

também se solicitaram dados como idade, grau de instrução, profissão, tempo

de trabalho do marido, número de filhos, e em seguida foi perguntado quais

tinham sido os maiores desafios delas, quais os desafios elas achavam que as

esposas enfrentam hoje, e que elas mencionassem três motivos para ser uma

esposa de pastor.

De agosto a outubro de 2010, foram disponibilizados para membros da

Igreja Adventista do Sétimo Dia, de diversas igrejas do Brasil, com idade a

partir de 18 anos e batizados, através de correio eletrônico e através dos sites

de relacionamento Orkut e Facebook, questionários perguntando sobre a maior

qualidade, o maior defeito e os maiores desafios eles viam na esposa de

pastor. Também foi perguntado o que eles esperavam de uma esposa de

pastor. O total de membros que responderam o questionário foi de 122, dos

quais 79 eram mulheres e 43, homens.

Foram feitas entrevistas com o diretor de um dos seminários adventistas,

com um dos secretários de uma das Associações da União Sul-Brasileira, e

também com uma diretora de Afam – Área Feminina da Associação Ministerial,

segmento responsável pelas esposas de pastor.

Ainda foi feito levantamento bibliográfico de obras relacionadas à esposa

do pastor, tanto da denominação adventista quanto de outras obras que se

referem à esposa de pastor, sem denominação específica. Foram consultadas

pesquisas feitas especificamente com esposas adventistas, e também

levantadas informações documentais, a partir das Revistas da AFAM (de 2001

a 2010) e Revistas O Ministério Adventista (de 1973 a 1990).

Do ponto de vista da abordagem, é uma pesquisa qualitativa, a qual

considera que há uma relação dinâmica e indissociável entre mundo objetivo e

a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números, mesmo que

tenha sido feito algum tipo de percentual. Assim, o processo e seu significado

são os focos principais de abordagem, por isso, não apenas as mudanças

Page 16: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

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relatadas pelas esposas foram mencionadas na pesquisa, mas também todos

os demais desafios citados nas respostas foram incluídos, como dados

relevantes que também são.

Os capítulos da pesquisa foram divididos visando abordar o desafio

mudanças, bem como suas implicações na vida da esposa de pastor.

No capítulo 1, as mudanças serão mencionadas no contexto de todos os

desafios das esposas de pastor, mencionados pelas esposas na ativa, futuras

esposas, esposas jubiladas e membros de igreja.

O capítulo 2 abordará a média de mudanças de cada um dos três grupos

de esposas na ativa e também a média de mudanças dos casais cujos maridos

já estão jubilados, isto é, aposentados. Através da entrevista com um dos

administradores de uma Associação da região Sul do Brasil e de verificação

dos Regulamentos Eclesiástico-Administrativos da Igreja Adventista do Sétimo

Dia, o qual é “a voz autorizada da Igreja Adventista do Sétimo Dia em todo

território da Divisão Sul-Americana [Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador,

Paraguai, Peru, Uruguai e ilhas do Atlântico Sul], no tocante à organização e

administração da obra da Igreja” (Regulamentos Eclesiástico-Administrativos

da Igreja Adventista do Sétimo Dia, 2010, pág. 3), foi verificado que existem

alguns procedimentos referentes às mudanças dos pastores de campo de

trabalho, os quais serão apresentados neste capítulo.

O capítulo 3 tratará das justificativas pelas quais as esposas de pastor

consideram mudanças um desafio. A primeira delas é a interferência nos

estudos e na carreira profissional. Por meio de dados sobre formação

profissional e atividade exercida, será analisado se, mesmo a despeito das

mudanças, a esposa de pastor consegue terminar seus estudos e ter uma

profissão.

A adaptação das esposas e dos filhos ao novo local de trabalho, bem

como as demais adaptações exigidas da esposa de pastor a cada mudança, a

ausência de amigos e a distância da família podem desencadear nelas um

estado de solidão, apontado também pelas respostas das esposas de pastor. A

menção da solidão coincide com o resultado do estudo de KILCHER, Carole

Luke et AL, na década de 80, o primeiro estudo feito pela Igreja Adventista

envolvendo esposas de pastor. Esse estudo concluiu que mais da metade das

Page 17: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

15

esposas de pastor na América do Norte sentiam solidão e isolamento no

ministério.

Esta pesquisa pretende gerar conhecimentos a respeito de como as

mudanças afetam as esposas de pastor no Brasil, para que tais conhecimentos

sejam divulgados entre as esposas de pastor, no meio administrativo do

ministério adventista e nas igrejas, como uma ferramenta de incentivo às

próprias esposas, aos administradores e aos membros, para que iniciem e/ou

continuem discutindo ações de apoio à esposa de pastor.

CAPÍTULO 1 – AS MUDANÇAS DE DOMICÍLIO NO CONTEXTO DOS

DESAFIOS DA ESPOSA DE PASTOR

Os desafios mencionados pelas esposas de pastor que se encontram na

ativa e pelas esposas cujos maridos se encontram jubilados foram

mencionados, como se vê na tabela abaixo:

TABELA 3 – Porcentagens de respostas das esposas de pastor ativas e

jubiladas relacionadas aos seus desafios

Esposas Mudanças/Colocação Solidão Expectativas...* Conciliar...** Outros

Ativas (20-30 anos)

20% (3º. lugar) 33% 29% 10% 7%

Ativas (31-40 anos)

24% (1º. lugar) 19% 23% 16% 17%

Ativas (41-56 anos)

34% (1º. lugar) 23% 18% 7% 18%

Jubiladas 12% (5º. lugar) 31% 16% 19% 22%

*Refere-se a lidar com expectativas, invasão de privacidade, críticas, cobranças e comparações.

Page 18: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

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**Refere-se a conciliar vida pessoal, família, trabalho e igreja.

Entre as esposas na ativa, de 20 a 30 anos, mudanças é mencionado

em 3º. lugar (20% das respostas). No entanto, mudanças é precedido pelo

desafio solidão e depois por dificuldade para administrar as expectativas,

comparações, críticas, invasões de privacidade e cobranças. 1% das respostas

foi: “Não vejo dificuldades”. A menção de solidão pode se referir, mesmo que

indiretamente, ao desafio mudança, levando-se em conta que, por causa das

mudanças, as esposas precisam se distanciar dos amigos e familiares, o que

pode levá-las a sentir solidão.

Entre as esposas de 31 a 40 anos, mudanças ficou em 1º. lugar, com

24% das respostas; em seguida, respectivamente as respostas indicaram

dificuldades para administrar expectativas, comparações, críticas, invasões de

privacidade e cobranças, solidão, dificuldade em administrar ou conciliar as

atividades profissionais com o trabalho da igreja e do lar. Outros desafios

incluem educação dos filhos, busca de identidade, dificuldades para lidar com a

política e as relações de poder na igreja e administração, comunhão com Deus

e excesso de trabalho na igreja. “Não vejo dificuldades” obteve 1% das

respostas.

Entre as esposas de 41 a 56 anos o desafio que predominou no ranking

também foi mudanças, com 34% das respostas, seguido pelo desafio solidão,

23% das respostas; em seguida as respostas se referiram a dificuldades em

administrar as críticas a expectativas, comparações, invasões de privacidade e

cobranças. Outros desafios mencionados foram educação de filhos, excesso

de trabalho, problemas de saúde, crises de identidade, ao crescimento pessoal,

falta de transparência da administração e finanças e dificuldade em administrar

ou conciliar as atividades profissionais com o trabalho da igreja e do lar.

Os dois últimos grupos mencionados mostram uma tendência

significativa em relação ao desafio mudanças, tanto mencionando-a

diretamente, quanto indiretamente, ao se referirem à solidão.

Entre as esposas jubiladas, 12% das respostas foram para mudanças –

desafio que ficou em 5º. lugar. Entretanto, o 1º. lugar foi ocupado pelo desafio

solidão, com a porcentagem expressiva de 31% das respostas, seguido por

Page 19: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

17

dificuldades em administrar as críticas e expectativas, comparações, invasões

de privacidade e cobranças e outros desafios, como educação de filhos,

excesso de trabalho, problemas de saúde, crises de identidade, crescimento

pessoal, finanças e dificuldade em conciliar as atividades profissionais com o

trabalho da igreja e do lar.

Assim como as respostas dos grupos já mencionados, é possível

estabelecer relação entre mudanças e solidão, ou seja, embora mudanças não

tenha sido mencionada em 1º. lugar pelas esposas jubiladas, a solidão foi

mencionada, cuja causa pode ter sido as mudanças de domicílio com o

consequente afastamento da família de origem e do rol de amigos.

TABELA 4 – Porcentagem dos desafios que os grupos das próprias

esposas na ativa, das jubiladas, das futuras esposas e dos membros de igreja

percebem nas esposas ativas

*Refere-se a lidar com expectativas, invasão de privacidade, críticas, cobranças e comparações.

**Refere-se a conciliar vida pessoal, família, trabalho e igreja.

Solidão e mudanças ocuparam respectivamente o 1º. e o 2º. lugar, de

acordo com as observações que as esposas na ativa fazem de suas colegas.

Novamente esses dados enfatizam a relação entre os desafios mudanças e

solidão, experimentada pelas esposas na ativa e observada por elas em suas

colegas.

De acordo com as respostas das esposas de pastores aposentados

(jubilados) mudanças ficou em 3º. lugar, precedido por solidão e dificuldades

Grupos

Mudanças/Colocação Solidão Expectativas...* Conciliar...* Outros

Ativas Jubiladas Futuras esp. Membros fem. Membros mas.

23% (2º. lugar) 14% (3º. lugar) 17% (4º. lugar) 10% (5º. lugar) 3% (4º. lugar)

28% 17% 19% 14% 5%

22% 17% 39% 23% 17%

10% 7% 20% 24% 17%

17% 45% 5% 29% 58%

Page 20: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

18

para lidar com críticas a expectativas, comparações, invasões de privacidade e

cobranças e solidão, que empataram no 2º. lugar. Em seguida vêm os demais

desafios.

Como visto na TABELA 3, para as jubiladas, mudanças ocupa o 5º. lugar

e solidão o 1º., sugerindo uma relação entre os dois desafios. Essa relação

tende a se repetir quando as jubiladas se referem aos desafios que elas

percebem nas esposas ativas hoje. Nesse último caso, mudanças está em

2º.lugar e é precedido por solidão.

Entretanto, possivelmente, por terem experimentado vários desafios

durante sua vida ativa no ministério, é significativo que mais do que os desafios

já mencionados no decorrer desta análise, as esposas jubiladas tenham citado

também dois desafios que não foram destacados em nenhum outro grupo de

esposas, no ranking dos três maiores desafios: a aceitação do chamado feito a

elas para a missão de ser esposa de pastor e o envolvimento com a igreja.

Esses dois desafios incluídos no item outros desafios somaram 45% das

respostas das esposas jubiladas. É importante essa verificação no contexto

desse trabalho porque a dificuldade na aceitação de um chamado e o

envolvimento com a igreja estão intimamente ligados ao motivo pelo qual

ocorrem as mudanças. Portanto, embora as respostas das esposas jubiladas

não tenham feito essa relação, pode-se estabelecer aí o seguinte: quanto maior

a consciência do chamado e quanto maior o envolvimento com o trabalho da

igreja, menos frustrante pode ser a mudança.

Perguntado às futuras esposas de pastor, de acordo com as

observações feitas por elas, quais eram os maiores desafios elas achavam ter

as esposas de pastor, 39% responderam dificuldades para lidar com críticas a

expectativas, comparações, invasões de privacidade e cobranças e

dificuldades e 20% mencionaram dificuldades para conciliar as atividades

profissionais com o trabalho da igreja e do lar. As respostas para o desafio

mudanças somaram 17%, ocupando o 4º. lugar, não correspondendo à

tendência demonstrada pelas respostas das esposas que se encontram na

ativa, a qual ressalta mudanças, em relação aos demais desafios, como se vê

na TABELA 3. No entanto, o desafio que ocupa o 3º. lugar é solidão, ou seja,

Page 21: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

19

há tendência de haver uma relação entre mudanças e solidão nas respostas

das futuras esposas, assim como nas respostas dos demais grupos.

Quando perguntado aos membros sobre os desafios que eles achavam

ter a esposa de pastor, mudanças ficou em 5.o lugar nas respostas de

membros do sexo feminino, ou 10% das respostas e em 4º. lugar nas

respostas de membros do sexo masculino, porém com menção em apenas 3%

das respostas. Não correspondendo com as respostas das esposas ativas, as

respostas dos membros mostram que eles podem não ter a noção real do que

as mudanças significam para a esposa do pastor. Nem mesmo o desafio

solidão teve posição de destaque nas respostas dos membros. O foco desta

pesquisa é as implicações das mudanças na vida da esposas do pastor, vistas

por elas mesmas, pelas futuras esposas e pelas esposas jubiladas, no entanto,

é relevante mencionar como os membros vêem a questão das mudanças na

vida da esposa de pastor. Se os membros não têm noção do significado e das

implicações das mudanças na vida da esposa de pastor, é provável que não

demonstrarão atitudes de compreensão em relação a ela e a esse fato.

Os primeiros lugares ocupados pelos desafios que os membros acham

que as esposas têm expressam a mesma tendência demonstrada pela análise

das respostas das esposas jubiladas: a aceitação do chamado feito a elas para

a missão de ser esposa de pastor e o envolvimento com a igreja. Incluídos no

item outros desafios, esses dois desafios somam 29% nas respostas de

membros do sexo feminino e 58% nas respostas de membros do sexo

masculino. Os desafios mencionados pelos membros podem estar

relacionados ao desafio mudanças pelo fato de que a dificuldade na aceitação

de um chamado e no envolvimento com a igreja estão intimamente ligados ao

motivo pelo qual ocorrem as mudanças, como foi dito na análise feita com as

respostas das esposas jubiladas em relação às esposas na ativa. Porém, na

ênfase dada a esses dois itens pelos membros da igreja podem também estar

implícitas as cobranças e exigências maiores do que a realidade das esposas

de pastor pode corresponder. Não sendo, entretanto, esse o foco desta

pesquisa, pode este ser o tema para um novo estudo.

Na década de 80, KILCHER, Carole Luke et al, realizaram na Divisão

Norte-Americana, EUA, a primeira pesquisa de vulto efetuada pela Igreja

Page 22: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

20

Adventista do Sétimo Dia, que incluiu as esposas de pastores. O estudo versou

sobre a questão do bem-estar entre as esposas de pastores adventistas. Um

questionário denominado “A Esposa do Pastor Como Pessoa”, dividido em seis

temas, foi enviado a 238 esposas de pastor. O primeiro tema abordava

“diversos itens”, o segundo, “itens de preocupação pessoal”, o terceiro

enfocava “a alegria mais significativa ao participar do trabalho do marido”, o

quarto procurava verificar “o problema mais real para mim”, o quinto “a quem

se dirigir em busca de conselho” e o último “grau ou nível de educação”. 167

esposas devolveram o questionário. Esse estudo foi publicado em 1983, na

revista O Ministério Adventista.

De acordo com esse estudo, os problemas e conflitos mais reais para as esposas de pastores têm que ver

com as expectativas de vários grupos (membros, associação, comunidade, marido), a

respeito delas, com a sensação de ocuparem uma posição secundária, com

sentimentos pessoais de incompetência nessa função, com mudanças frequentes,

com a falta de amizades chegadas, com o tempo em geral e com pressões

financeiras.(KILCHER, Carole Luke. et AL, 1983, 7)

As conclusões desse estudo feito com esposas de pastor

norteamericanas parecem confirmar os dados analisados no estudo em

questão com esposas brasileiras, pelo fato de serem verificadas, na citação

acima, menções a mudanças frequentes e falta de amizades chegadas.

CAPÍTULO 2 – O DESAFIO DAS MUDANÇAS DETERMINADAS PELOS

REGULAMENTOS ADMINISTRATIVOS DA IGREJA

Dentre os motivos relacionados que levam a família pastoral adventista a

mudar de domicílio, há a transferência para um campo (associação, união ou

Page 23: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

21

divisão) fora do qual o pastor se encontra, em função de ajustes entre obreiros

para suprir as necessidades do campo, mas podem surgir motivos pessoais,

em função de saúde, família ou outras situações particulares. Todas essas

situações passam por parâmetros de avaliação, ou seja, não são realizadas

aleatoriamente.

TABELA 5 – Média de mudanças feitas por esposas ativas e jubiladas

por períodos de anos

Período 20 - 30 anos 31- 40 anos 41- 56 anos Jubiladas

0 – 1 ano 23% 11% 0% 0% 1,1 – 2 anos 47% 61% 47% 17% 2,1 ou mais 30% 28% 50% 68%

De acordo com o levantamento feito com as respostas das esposas na

ativa, através do qual o tempo de trabalho do casal pastoral foi dividido pelo

número de mudanças, obteve-se a seguinte média: entre as esposas na ativa

de 20 e 30 anos, 47% fez uma mudança a cada período entre 1,1 e dois anos,

23% se mudaram no intervalo de um ano ou menos e 30% fez uma mudança a

cada período de 2,1 a quatro anos.

Entre as esposas de 31 a 40 anos, 61% se mudou a cada período entre

1,1 e dois anos, 11% fez uma mudança no intervalo de um ano ou menos e

28% se mudou a cada período de 2,1 a seis anos.

Entre as esposas com idades entre 41 e 56 anos não houve nenhuma

mudança dentro do período de um ano; 47% se mudou no intervalo entre 1,1 e

dois anos; 50% fez uma mudança a cada período entre 2,1 e quatro anos. Os

dados não foram fornecidos por 3% das mulheres.

Entre as esposas jubiladas não houve nenhuma mudança dentro do

período de um ano; 17% se mudou no intervalo entre 1,1 e dois anos; 68% fez

uma mudança a cada período entre 2,1 ou mais. 17% das mulheres não

forneceram os dados.

As informações conferidas pelas esposas na ativa demonstram a

tendência de haver um pequeno aumento no espaço entre as mudanças, de

acordo com o tempo de trabalho - diminuem-se as mudanças com intervalos de

Page 24: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

22

até um ano (23%, 11%, 0%); as mudanças entre 1,1 e dois anos de intervalo se

mantêm na porcentagem de 47%, 61% e 47%, e as mudanças em períodos

acima de dois anos aumentaram, ou seja, passaram de 30% e 27% para 50%

(no caso das jubiladas, esse número ficou em 68% e, talvez fosse maior, caso

todas tivessem preenchido esse dado).

No questionário não foi solicitado que se especificassem apenas as

mudanças em função de transferência de campo de trabalho, mas foram

incluídas todas as mudanças, não importando os motivos. Assim se processou

pelo fato de que uma família pastoral também está sujeita a mudanças por

outros motivos que não sejam exclusivamente uma transferência de campo de

trabalho.

Por que os pastores adventistas mudam-se com menos de três anos de

atividades? Uma entrevista concedida por um administrador de uma das sedes

administrativas da Igreja Adventista do Sétimo Dia esclareceu que o pastor que

está iniciando sua atividade pastoral muda a cada dois anos. Entre os quatro e

seis primeiros anos ele precisa passar por dois distritos [compostos por uma

igreja ou mais, cuidadas por um pastor], pelo menos, para ser submetido ao

processo de ordenação [pelo qual o pastor aspirante recebe sua credencial e a

autorização para ministrar cerimônias as quais não podia realizar antes,

deixando de ser aspirante e passando a ser pastor ordenado]. De acordo com

ele, depois da ordenação, as transferências podem ocorrer a cada quatro anos,

chegando a seis anos ou mais, excepcionalmente.

Isso corrobora, com pequena margem de variação, o resultado da

pesquisa feita. A grande maioria dos pastores aspirantes, os quais são

transferidos com maior frequência, encontra-se na faixa de idade entre 20 e 30

anos, na qual o índice de mudanças foi mais alto.

Tal prática referida na entrevista mencionada reflete as orientações

contidas nos Regulamentos Eclesiástico-Administrativos da Igreja Adventista

do Sétimo Dia. Nele se baseiam as administrações dos Campos ao ministrarem

os deslocamentos dos pastores. Segundo esse manual de regulamentos, “o

termo chamado (...) tem dois significados:

Page 25: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

23

1. Convidar oficialmente uma pessoa a se integrar ao corpo de obreiros/missionários da IASD em uma organização ou instituição, através de um voto da Comissão Diretiva dessa organização ou instituição.

2. Convidar oficialmente um obreiro, através de um voto da Comissão Diretiva de uma organização ou instituição, a continuar servindo à igreja na organização ou instituição que o chamar.

Esse manual também esclarece que

os chamados podem ser passados à consideração do candidato ou podem não ser encaminhados. Podem ser reconsiderados, diferidos, cancelados, aceitos ou não aceitos. Podem servir em áreas intraunião [campos e instituições de uma mesma União], interunião [Uniões de

mesma Divisão] ou interdivisão [Divisões diferentes]. (Regulamentos Eclesiástico-Administrativos da Igreja Adventista do Sétimo Dia, 2010, p. 270)

Os movimentos de obreiros feitos dentro de um campo [associação] não

são propriamente chamados, mas transferências.

De acordo com a entrevista mencionada, quando o chamado é para fora

da União, ou interunião, o pastor pode aceitar ou não; quando é dentro da

União, seria sábio aceitar, pelo fato de serem orientadas de acordo com a

necessidade do campo, mas ele pode rejeitar, não sendo punido por isso;

dentro da associação, as mudanças são transferências (devendo, por isso, ser

aceitas) feitas de acordo com o perfil do pastor, sua função, compatibilidade e a

necessidade do campo. Tal determinação passa previamente por votação de

uma Comissão Diretiva. No caso de igrejas grandes (com mais de 500

membros), a Associação faz uma parceria com a igreja em questão, ou seja,

leva em consideração as informações dadas pela igreja em relação ao pastor

vigente ou ao que virá e analisa junto com ela as proposições. A igreja participa

da Comissão Diretiva para definir o novo candidato ao cargo. A Comissão

Diretiva se compõe de membros de todos os segmentos da igreja:

representantes de cada departamento, da loja [livraria que cada associação

tem uma para venda de livros denominacionais e não denominacionais], da

tesouraria, dos diretores de escola, um membro de igreja para cada quatro mil

membros e a Administração do campo. O maior desafio da Administração é

Page 26: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

24

encaixar cada obreiro, respeitando as condições da família. Por exemplo,

pastor aspirante e sem filhos, normalmente vai para o interior do estado, onde

normalmente não há escolas adventistas – não havendo necessidade de

proceder a matrículas.

Em relação ao chamado para graduandos em Teologia dos Seminários

Adventistas, o Manual de Regulamentos Eclesiástico-Administrativos (2010, p.

271) afirma que, ao receber um chamado para servir à Organização Adventista,

o aluno deverá ter razões plausíveis e sérias para justificar a negação ao

chamado. Se os motivos da negação forem interesses e preferências pessoais

em detrimento dos interesses da Igreja, ele será considerado inapto para

receber outro chamado, pois se espera que um pastor, ao se formar, esteja

disposto a servir onde quer que surja a necessidade.

Page 27: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

25

CAPÍTULO 3 – COMO AS MUDANÇAS INFLUENCIAM A VIDA DA

ESPOSA DE PASTOR

Nancy G. Dusilek, esposa de pastor também, no clássico livro

para esposas de pastor, Mulher Sem Nome, afirma que as mudanças

constantes de domicílio significam uma das dificuldades que a esposa do

pastor enfrenta pelo fato de ela e sua família não terem oportunidade de criar

raízes. Segundo ela, algumas esposas se adaptam e fazem amizade

facilmente, “porém há outras pessoas (e eu me incluo nesse segundo grupo)

que demoram muito a fazer amizades, a aceitar o novo local, a se ambientar

com a nova casa, a engrenar nas atividades.” (DUSILEK, 2000, p. 83)

Na pesquisa feita com esposas de pastor, foram mencionados os

motivos pelos quais elas consideram mudanças um desafio, conforme listados

na tabela abaixo.

TABELA 6 – Porcentagem das justificativas para o desafio mudanças em

cada um dos três grupos de esposas na ativa

Justificativas 20 – 30 anos (% de respostas)

31 – 40 anos (% de respostas)

41 – 50 anos (% de respostas)

Estudos e carreira 40% 43% 36% Adaptação dos filhos e delas

34% 37% 39%

Perda de amigos/família

11% 11% 15%

Insegurança 8% 6% 4% Reflexo nas finanças

7% 3% 6%

3.1 A INTERFERÊNCIA NOS ESTUDOS E NA CARREIRA PROFISSIONAL

COMO UMA DAS CONSEQUÊNCIAS DAS MUDANÇAS

Page 28: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

26

Uma das justificativas para as migrações significarem um dos maiores

desafios, de acordo com as respostas das esposas na ativa, é o fato de elas

interferirem na vida profissional da esposa do pastor. Essa justificativa teve

menção significativa nos três grupos. As respostas indicam que, a cada

mudança, a esposa de pastor corre o risco de sofrer a descontinuidade

profissional, pois nem sempre ela consegue vaga para exercer atividade em

sua área, ou mesmo fora dela, dentro da Organização, nas escolas ou

Associações, Missões ou Uniões.1 As respostas também indicam haver

frustração e sentimento de ser anulada pelo fato de ter-se que abrir mão do

emprego para seguir o marido, por elas não poderem ter projetos que exijam

endereço fixo e por não poderem trabalhar na área que idealizaram. Em alguns

casos é necessário um ajuste a um novo emprego que não está relacionado à

formação que tiveram.

Em entrevista feita com um administrador da IASD, ao ser perguntado

se, ao se fazer uma transferência, as características profissionais da esposa

também eram levadas em conta, ele respondeu que são levadas em conta, na

medida do possível, mas que isso não é fator determinante e acrescentou que

para algumas profissões é mais difícil o ajuste de um emprego.

Em função da justificativa de que as mudanças interferem na profissão e

também nos estudos da esposa de pastor, foi levantada a porcentagem do

grau de escolaridade e do exercício de uma profissão pelas esposas de pastor.

TABELA 7 – Porcentagem do grau de escolaridade dos grupos das

esposas na ativa, futuras esposas e esposas jubiladas

Grupos 20–30 anos 31-40 anos 41- 56 anos Jubiladas Futuras esposas

Cursando graduação

6% 8% 6% 0% 38%

Apenas EM 17% 4% 5% 19% 7% Graduadas 77% 88% 86% 63% 55%

1 O termo Associações, utilizado pelas esposas, refere-se às sedes administrativas

regionais da IASD; Missões também são sedes administrativas, porém, segundo o Manual de Regulamentos Eclesiástico-Administrativos (2010, pág. 144), “esta não possui estatutos/atos constitutivos”, e seu poder de decisão é menor que uma Associação. Uniões se referem às sedes administrativas formadas por várias Associações. (Idem, p.133)

Page 29: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

27

Pós-graduadas

10% 37% 47% 0% 16%

Têm mestrado 3% 11% 6% 13% 3% Apenas EF 0% 0% 0% 18% 0%

A porcentagem das mulheres na ativa dos três grupos que estão

cursando graduação oscila pouco, entre 6% e 8%. Mais de 75% das esposas

dos três grupos das esposas de pastor na ativa são graduadas. E os dados

mostraram que quanto maior a idade das esposas na ativa, maior é o número

de esposas pós-graduadas. O número das esposas na ativa que têm mestrado

é maior entre as esposas com idade entre 31 e 40 anos. Os dados mostram

que, a despeito das mudanças, a grande maioria das esposas na ativa

conseguiu concluir sua graduação. Comparando-se os dados das esposas na

ativa com os dados das esposas jubiladas, a porcentagem de mulheres que se

graduaram é maior, mais de 75% entre esposas ativas contra menos de 65%

entre esposas jubiladas. Os dados também mostram que há uma tendência de

aumentar o número de esposas graduadas na ativa, levando-se em conta que

a porcentagem de futuras esposas graduadas é maior de 50% e a metade das

futuras esposas têm idade até 25 anos. A insatisfação das esposas na ativa

provavelmente se refira ao fato de não conseguirem muitas vezes dar

continuidade aos estudos a partir da graduação, ou ainda por terem levado

mais tempo que o normal para a conclusão da graduação.

TABELA 8 - Porcentagem da atuação profissional dos grupos das

esposas na ativa, das futuras esposas e das esposas jubiladas

Grupos 20-30 anos 31-40 anos 41-50 anos* Jubiladas** Futuras

esposas***

Atuam na área 50% 70% 70% 84% 39%

Atuam fora da

área

14% 15% 12% 0% 11%

Mães e donas-

de-casa

23% 15% 6% 8% 11%

Desempregadas 13% 0% 6% - 36%

*6% desse grupo não mencionou dados. **8% desse grupo não mencionou dados. ***3% desse grupo não mencionou dados.

Page 30: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

28

As respostas mostraram que mais de 60% do total das esposas na ativa

atuam na área de sua formação e entre 12% e 15% das esposas na ativa estão

em área fora de sua formação. As esposas na ativa entre 20 e 30 anos são as

que mais se consideram mães e donas de casa, 23%, provavelmente pelo fato

de, nessa faixa etária terem filhos que ainda não estão em idade escolar.

Nessa faixa etária também está o maior número de esposas que se

consideram desempregadas: 13% contra 0% do segundo grupo e contra 6% do

terceiro grupo.

O perfil das esposas ativas que expressam insatisfação é de mulheres

que ainda estão tentando concluir o curso e às vezes se frustram com as

tentativas malsucedidas de transferência levando mais anos para se graduar

do que o normal; mulheres que só cursaram o ensino médio e não trabalham

fora de casa e gostariam de se profissionalizar; mulheres que gostariam de

fazer Mestrado e Doutorado, mas moram distante de Universidades que

ofereçam os cursos; mulheres que fizeram cursos como Letras e não

conseguem vaga para tal área e acabam lecionando para o ensino

fundamental, pois é o que acaba sobrando; mulheres formadas em cursos

como Publicidade e Jornalismo e não conseguiram empregos na área, estando

em outras áreas, ou desempregadas, e também esposas que se encontram

trabalhando na área de formação no momento, mas que sabem que não será

para sempre. Porém, algumas das pesquisadas se referiram às mudanças com

outras justificativas ou nem se referiram às mudanças, no entanto são esposas

que: estão trabalhando fora da área de formação, como por exemplo, a

tecnóloga em alimentos que trabalha como secretária, e a bióloga que é

telefonista; que não estudaram além do ensino médio e colocaram, sem

demonstrar insatisfação, como profissão, do lar, mãe ou ainda esposa de

pastor, e que estão apenas estudando.

Entre as futuras esposas de pastor verificou-se que 39% estão

trabalhando na área de sua formação, 11% consideram-se mães e donas de

casa, nenhuma mencionou estar desempregada, 11% trabalham em área fora

Page 31: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

29

de sua formação, 36% apenas estuda e não trabalha. Formação e profissão

não foram mencionadas por 3% dessas mulheres.

O questionário feito com as esposas jubiladas demonstrou que todas as

que tiveram formação profissional, tanto no ensino médio quanto na graduação

atuaram em suas devidas áreas de formação, 8% dedicaram-se ao lar e

serviram como obreiras bíblicas e 8% não mencionaram formação e profissão.

3.2 AS ADAPTAÇÕES QUE AS MUDANÇAS EXIGEM

Vinte e três por cento do grupo de esposas na ativa entre 20 e 30 anos,

34% de esposas entre 31 e 40 anos e 37% de esposas entre 41 e 56 anos

mencionou que as mudanças exigem muitas adaptações. Para Dusilek, esposa

de pastor e mãe, as mudanças de igrejas e ministérios não afetam apenas a

esposa do pastor, mas a família como um todo. Em relação aos filhos, ela

afirma que enquanto são pequenos, “pouco se ressentem, pois para eles, onde

estiverem os pais estará tudo bem. Mas quando se tornam adolescentes e

passam a fazer parte da turminha ou começam a namorar, a situação não será

tão simples assim.” (DUSILEK, 2000, p. 84)

As respostas das esposas coincidem com a afirmação de Dusilek. Ou

seja, para elas as mudanças se refletem diretamente nos filhos pelo fato de

terem que se separar dos amigos da escola e da igreja, deixar o(a)

namorado(a), precisarem se adaptar à nova escola, à nova igreja, e

principalmente se estão da fase de adolescência. Trabalhar com os filhos o

sentimento de perda nem sempre é tarefa fácil para essas mães. Portanto,

ajudar os filhos a passar por tantas adaptações em tão pouco tempo significa

um grande desafio.

TABELA 9 - Porcentagem de esposas na ativa com filhos e sem filhos

Maternidade 20-30 anos 31-40 anos 41-56 anos

Com filhos 50% 83% 94%

Sem filhos 50% 17% 6%

Page 32: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

30

A relação entre mudanças e reflexo nos filhos foi pouco verificada nas

respostas das esposas na ativa entre 20 e 30 anos, pois nesse primeiro grupo,

50% não são mães ainda e 50% têm filhos em idade pré-escolar ou no início do

primeiro ciclo do ensino fundamental. Porém, para as demais esposas, entre 31

e 41 anos, 83% são mães e, entre as esposas de 41 a 56 anos, 94% são mães

cujos filhos já estão em idade superior à idade dos filhos do primeiro grupo.

Portanto, os dois últimos grupos sentem mais essa dificuldade.

A adaptação à nova igreja e o recomeço do trabalho, para algumas, é

fator gerador de muita tensão. Além da porcentagem referente às adaptações,

8% das mulheres na ativa do primeiro grupo (20-30 anos), 6% das mulheres do

segundo grupo (31-40 anos) e 4% das mulheres do terceiro grupo (41-56 anos)

mencionaram que as mudanças geram estresse psicológico, o qual foi

traduzido pelas seguintes palavras: insegurança, ansiedade, instabilidade,

incerteza e sentimento de perda.

Algumas das respostas indicaram incômodo no fato de às vezes terem

que se mudar para cidades pequenas que não possuem muitos recursos, como

bons mercados, escola adventista, escola de música para os filhos, e isso sem

aviso prévio, sem consulta a respeito da disponibilidade ou da aceitação da

família.

Se, por um lado, há o fato de algumas esposas de pastor fazerem

objeções em relação ao fato de algumas mudanças serem feitas sem prévia

consulta da família pastoral, por outro lado, pode haver o desconhecimento por

parte das esposas a respeito do fato de que existem regulamentos que regem

as transferências e chamados, embora cada pastor que inicia suas atividades

nos campos de trabalho receba esse manual, bem como as atualizações que

são feitas nele.

As reações de insatisfação em relação à nova moradia ocorrem porque

às vezes os móveis ajustados para uma casa não se ajustam na seguinte. As

respostas demonstram a preocupação das mulheres em de arrumar a minha

casa, mas nem sempre os móveis cabem, ou quando elas conseguem ajeitar a

casa, surge outra mudança novamente. Para algumas mudança pode gerar

desconforto e estresse, no início, mas também significa o prazer de, de tempos

Page 33: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

31

em tempos, transformar uma casa em lar, renovação e uma motivação para

não acumular muita bagunça.

Outras tensões causadas pelas adaptações experimentadas pelas

esposas nas mudanças se referem ao rompimento com um distrito e a chegada

ao novo distrito e as adaptações gerais a novos médicos, a novos profissionais

de beleza, à nova rotina e ao novo ambiente.

As respostas das esposas também indicaram que a adaptação à cultura

do novo domicílio muitas vezes é desgastante para esposas que saem de uma

região do Brasil e vão para outras, pois há locais em que os membros da igreja

têm hábitos tradicionais e até radicais em relação à postura e à vestimenta das

mulheres. Há igrejas conservadoras, para as quais o uso de calças para

mulheres, a pintura das unhas e dos cabelos e o ato de depilar-se são sinais de

apostasia e de paganismo.

Foi mencionada a dificuldade que algumas têm de lidar com os

comentários elogiosos dos membros a respeito do pastor anterior, ao

chegarem ao novo campo de trabalho.

Uma pesquisa para avaliar a importância do estudo dos processos de

adaptação aos eventos vitais e mudanças de vida e sua relação entre mudança

e saúde em migrantes, realizado por MOTA, FRANCO E MOTTA (1999), pela

Universidade Federal da Bahia, mostrou que o estresse psicológico inerente às

mudanças de residência e ao processo de restabelecimento torna o migrante

particularmente vulnerável aos riscos de morbidade diferencial em seu novo

ambiente.

As famílias pastorais de tempos em tempos estão migrando para regiões

de culturas às vezes similares às suas ou totalmente adversas, exigindo

adaptações a novos costumes, padrões de comportamento, regime alimentar,

etc. Tais culturas se refletem nas igrejas, portanto, gerando na família pastoral

e, especificamente na esposa de pastor, níveis de estresse psicológico que

podem também alterar sua saúde física. A pesquisa de MOTA, FRANCO E

MOTTA (1999) aponta que as mudanças nos ambientes físico e cultural podem

alterar os padrões habituais de funcionamento biológico e emocional. Inclusive,

nesse processo, a população que recebe o novo hóspede pode interpor graus

variáveis de dificuldades na sua adaptação ao novo lugar, gerando reflexos

Page 34: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

32

diretos na saúde física e psíquica. ALMEIDA FILHO (1982) apud MOTA,

FRANCO E MOTTA (1999) trata da relação entre migração e estresse em um

bairro popular de Salvador, Bahia, com uma população constituída de 1.514

sujeitos, a maioria com mais de 25 anos (62,9%), sendo 60,1% migrantes. Ele

demonstrou que os escores relativos ao estresse na população migrante (5,14)

eram mais elevados que na população não migrante (3,21), com relação

estatisticamente significante.

BOEKESTITIJIN2 (1989) apud MOTA FRANCO E MOTTA

(1999) denominou migração intercultural o processo de aprendizagem de

significados e habilidades e o sentimento de ser aceito. Esse processo,

também chamado de choque cultural, pode ser medido pelo grau de incerteza

enfrentado pelo migrante após sua chegada a um novo lugar, ou o dilema do

migrante, que é a tensão entre adaptação sócio-cultural e a preservação da

identidade.

MOTA FRANCO E MOTTA (1999) mencionam aculturação como, "um

processo de contato, conflito e adaptação intergrupal", e a partir dessa

definição detalham quatro modos alternativos potenciais de aculturação:

assimilação, integração, separação e marginalização. Eles supõem que cada

modo apresente grau de estresse relativo e de risco à saúde e que “a adoção

de uma estratégia alternativa para adaptação a um novo ambiente é

reconhecidamente dependente do grau de diferença cultural entre o grupo

migrante e a população hospedeira e o grau de consciência dos migrantes em

relação a tais diferenças.”3

2 “O que Boekestitijin (1989) chamou de migração intercultural, o processo paralelo de

aprendizagem de significados e habilidades e o sentimento de ser aceito, tem sido nomeado de "choque cultural". Este pode ser avaliado pelo grau de incerteza enfrentado pelo migrante após sua chegada a um novo lugar. O autor aponta para o "dilema do migrante", que consiste na tensão entre adaptação sócio-cultural e "preservação da identidade". A revisão de Richman, Gaviria, Flaherty, Birz e Wintrob (1987) tratando dos processos de aculturação contribui para definir um quadro de referência para o entendimento do processo de estresse associado à migração.” (BOEKESTITIJIN, 1989, p. 83)

3 O modo pelo qual um dado nível de aculturação afeta o bem-estar psíquico e a

saúde física necessita ser melhor esclarecido. Contudo, a adoção de uma estratégia alternativa para adaptação a um novo ambiente é reconhecidamente dependente do grau de diferença cultural entre o grupo migrante e a população hospedeira e o grau

Page 35: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

33

Referindo-se à nova igreja como hospedeira e atentando-se ao fato de

que as mudanças realizadas pela família pastoral têm como objetivo servir à

população hospedeira, se a esposa de pastor tem definido o sentido pelo qual

está mudando, bem como a consciência das particularidades dessa população

e flexibilidade para os ajustes, há possibilidade de que sua adaptação ocorra

com menos riscos emocionais.

3.3 A PERDA DOS AMIGOS E O DISTANCIAMENTO DA FAMÍLIA COMO

CONSEQUÊNCIAS DAS MUDANÇAS

As respostas indicaram também que por causa das mudanças perdem-

se amigos e há o distanciamento da família. Onze por cento das esposas na

ativa entre 20 e 30 anos, 11% das esposas entre 31 e 40 anos e 15% das

esposas entre 41 e 56 anos se referiram a essa questão. Esses dados são

significativos e indicados também como causas para o sentimento de solidão

da esposa de pastor.

TABELA 10 - Porcentagem das justificativas para o desafio solidão

de consciência dos migrantes em relação a tais diferenças. Acrescente-se que Palinkas e Pickwell (1995) destacaram que aculturação tem sido assumida em epidemiologia como um fator de risco para doença crônica, por isso consideraram importante revisar a definição originária da antropologia para que esta se torne teórica e clinicamente pertinente. Diante disto, os autores assinalaram: a) destacar aculturação em uma perspectiva processual e em uma perspectiva estrutural; b) considerar aculturação como uma experiência individual e de grupo, de conflito e negociação entre os dois sistemas de comportamentos e crenças; c) medir aculturação longitudinalmente e a partir da narrativa e d) considerar que a aculturação mais do que um risco permanente pode promover saúde quando possibilita o acesso a alternativas de atenção, elimina comportamentos de risco e incentiva a adoção de comportamentos saudáveis. Dessa maneira, o processo de aculturação não é necessariamente negativo, podendo se resolver num "biculturalismo" sem grandes conseqüências ao bem-estar. Entretanto, se o grau de rejeição aos valores da população hospedeira for tal que interfira nos contatos sociais e no estabelecimento de novos laços, o processo de migração pode transformar-se numa tentativa mal sucedida de buscar um melhor padrão de vida.

Page 36: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

34

Justificativas 20-30 anos 31-40 anos 41-50 anos

Falta de amigos 38% 41% 30%

Ausência do marido 35% 41% 21%

Distância da família 27% 14% 32%

Isolamento 2% 2% 3%

Falta de atenção 0% 2% 5%

Ausência dos filhos 0% 2% 9%

Como se observa na TABELA 10, mais de 50% das respostas dos três

grupos de esposas na ativa se referem à falta de amigos, à distância da família

e ao isolamento como causas da solidão. Para algumas esposas, a distância

familiar é caracterizada como muito dolorosa, e as que são mães mostram

insatisfação pelo fato de os filhos crescerem sem contato com a família de

origem.

O estudo de KILCHER, Carole Luke et AL (1980?) realizaram com

esposas norteamericanas, mencionado no primeiro capítulo também encontrou

um alto índice de menção à solidão nas respostas das esposas de pastor. “A

descoberta mais alarmante é que 57% das esposas sentem solidão e

isolamento no ministério.” (KILCHER, Carole Luke et al , 1980?, p. 8)

Para MIROWSKI e ROSS (1989) apud MOTA FRANCO e MOTTA

(1999) alienação é qualquer tipo de afastamento ou separação social. Os cinco

principais tipos de alienação descritos por SEEMAN (1959) apud MIROWSKI E

ROSS (1989) são:

impotência, autoestranhamento, isolamento, ausência de sentido e vazio. O isolamento e seu oposto - existência de suporte social - referem-se aos sentimentos individuais de maior ou menor separação da rede social e à qualidade das interações pessoais. Dentro do contexto das tensões físicas e psíquicas inerentes ao processo migratório, considerar estas dimensões pode ajudar a compreender o empreendimento dos migrantes por uma adaptação rápida e eficiente. No contexto psicológico, a impotência é interpretada como um tipo de desamparo aprendido, resultante da frustração sentida após repetidas exposições a estímulos negativos (...). Fracasso na adaptação pode levar à passividade e o sucesso pode levar a uma postura mais ativa diante das dificuldades. A dinâmica da interação social determinaria eventualmente o

padrão de controle da impotência diante dos problemas. (MIROWSKI e ROSS,1989, p. 131)

Page 37: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

35

3.4 INTERFERÊNCIA NAS FINANÇAS COMO RESULTADO DAS

MUDANÇAS

A pesquisa com as esposas de pastor mostrou que 7% das esposas do

primeiro grupo, 4,5% das esposas do segundo grupo e 6% das esposas do

terceiro grupo se referiram às mudanças como fator que compromete as

finanças da família, pois trazem perdas materiais, em alguns casos a esposa

fica sem trabalho e fica difícil fazer investimentos em imóveis, por não se saber

onde estará no dia seguinte.

Levando-se em conta que as mudanças constituem um dos maiores

desafios enfrentados pela esposa de pastor, fez-se um levantamento dos

temas das revistas da Afam, uma publicação trimestral que tem como alvo as

esposas de pastor e esposas de anciãos da IASD. O periódico, de publicação

trimestral, editada em português e espanhol, surgiu em 2001 e atende aos

países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e

ilhas do Atlântico Sul.

Trinta e seis revistas foram analisadas e do total de artigos 3,6% se

referem diretamente ao desafio mudanças e suas conseqüências, 12% se

referem indiretamente a esse desafio, e 25% aborda a vida espiritual e a

missão da esposa de pastor. Diante análise das respostas das esposas,

sugere-se que o desafio enfrentado por elas seja mais abordado nas revistas

da Afam.

Page 38: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

36

CONCLUSÃO

No contexto dos desafios enfrentados pelas esposas de pastor na ativa,

o desafio mudanças ocupou o 3º. lugar entre as esposas de 20-30 anos e o 1º.

lugar nas respostas das demais esposas na ativa. Isso, por si só já é

significativo, demonstrando como as mudanças podem afetar as esposas de

pastor. Mas tal fato ainda se enfatizou na análise da porcentagem de respostas

que se referiram ao desafio solidão: 25% do total de esposas na ativa. A

relação entre mudanças e solidão pode se dar pelo fato de que, ao mudarem,

as mulheres deixam amigos, distanciam-se da família de origem e se isolam,

motivos que se destacam nas porcentagens de justificativas apresentadas

pelas mulheres para solidão. A dificuldade para lidar com a perda de amigos e

o distanciamento da família de origem, por cauda das mudanças, afeta 10% do

total das esposas na ativa. Esse dado é relevante, pois mais de 55% das

esposas na ativa citaram esses mesmos fatores como causas para a solidão.

Para as esposas jubiladas, mesmo que mudanças não tenha ocupado

lugar de destaque, solidão ocupou o 1º. lugar, ou seja, indiretamente elas

demonstraram a importância das mudanças no ranking de desafios das

esposas de pastor.

As respostas dos membros tanto de sexo feminino, quanto masculino

mostraram que as mudanças não são reconhecidas por eles como um dos

maiores desafios, sugerindo que não percebem de fato aquilo que pode ser um

grande desafio para a esposa de pastor.

Tanto as respostas das jubiladas quanto as respostas dos membros,

evidenciaram dois desafios que não estiveram em destaque nas respostas das

esposas ativas: aceitação da missão e envolvimento com a igreja. Essas

menções são significativas no contexto do desafio mudanças pelo fato de

estarem intimamente relacionados aos motivos das mudanças – uma missão a

ser aceita e uma igreja nova com a qual se envolver. Esses desafios, embora

mencionados em destaque apenas pelas esposas jubiladas e pelos membros

Page 39: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

37

podem estar no centro da realização da esposa de pastor, tendo grande

influência na reação da esposa de pastor frente às mudanças de domicílio.

A média de mudanças entre as esposas na ativa demonstrou que,

conforme aumentam os anos de trabalho, também aumenta o período entre as

mudanças. Embora haja exceções, as regras seguidas pelos administradores

para proceder as transferências pastorais dizem que o pastor iniciante precisa

passar por dois distritos pastorais entre os quatro e seis primeiros anos de

trabalho. Isso explica o maior número de mudanças entre esposas de 20 a 30

anos. Após a efetivação do pastor, as mudanças tendem a ocorrer após

períodos maiores de tempo.

As mudanças de domicílio, embora interfiram nos estudos e na carreira

profissional da esposa de pastor, não impedem que a maioria conclua seus

estudos e que exerça uma profissão dentro de sua área. A pesquisa mostrou

que mais de 75% das esposas de pastor na ativa são graduadas - número

maior que o de esposas jubiladas, 65%. Entre as esposas de 41 a 56 anos,

quase 50% são pós-graduadas. 50% das esposas ativas até 31 anos estão

inseridas no mercado de trabalho, dentro de sua formação profissional, e, a

partir dos 41 anos, essa porcentagem se eleva para 70%. É significativo levar-

se em conta que uma média de 14% das esposas ativas se consideram mães

que optaram, durante uma fase da vida, deixar as atividades profissionais para

segundo plano.

Levando em consideração que as transferências dos pastores não são

um processo realizado aleatoriamente, mas realizados de acordo com os

procedimentos recomendados pelos Regulamentos Eclesiástico-

Administrativos da Igreja Adventista do Sétimo Dia, à disposição de todos os

pastores, sugere-se que as esposas de pastor busquem maiores informações a

respeito desses procedimentos, de forma que estejam melhor preparadas para

eventuais mudanças.

Quanto à justificativa adaptações foram mencionadas as adaptações dos

filhos, pelas mulheres cujos filhos estão em idade escolar. Também citou-se a

dificuldade para deixar uma igreja e ajustar-se à outra, mudar para cidades

pequenas e sem recursos, ajustar os móveis à nova casa, adaptar-se a novos

profissionais de saúde e de beleza, à nova rotina e novo ambiente, ajustar-se a

Page 40: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

38

culturas cujos hábitos, muitas vezes são radicais em relação à postura e

vestuário da mulher, como situações capazes de gerar insegurança,

ansiedade, incerteza e sentimento de perda.

A relação entre interferência nas finanças e mudanças foi feita por mais

de 5% das esposas ativas, ou seja, com a mudança, a esposa perde o

emprego e compromete o orçamento familiar. E também, por não se manterem

em endereço fixo, algumas acham difícil definir um local onde fazer algum

investimento financeiro.

Considerando as conclusões desta pesquisa a respeito das implicações

das mudanças na vida da esposa de pastor, sugere-se que este desafio seja

abordado com maior profundidade nas revistas da Afam, como também

discutido nos encontros de esposas de pastores e outros meios relacionados

ao ministério com o objetivo de continuar promovendo a elas suporte e preparo

para o enfrentamento desse desafio.

Page 41: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

39

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Page 44: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

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ANEXOS

ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO PARA ESPOSAS DE PASTOR NA ATIVA

Este questionário faz parte de uma pesquisa, cujo tema é Os Três

Maiores Desafios da Esposa de Pastor da IASD na Primeira Década do Século XXI.

Seu objetivo é identificar as três maiores dificuldades que desafiam a esposa de

pastor. O questionário não pede que se coloque o nome, para que haja maior

liberdade e honestidade nas respostas. Porém, se você fizer questão de se identificar,

ou mesmo, se desejar incluir algumas observações que considerar pertinentes, sinta-

se livre para tanto. Responda às questões subjetivas, procurando especificar

exatamente aquilo que você pensa.

1. Preencha.

Associação atual: Idade:

Tempo de obra: No. de mudanças (mesmo que na

Page 45: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

43

mesma cidade):

Formação acadêmica: Profissão que exerce:

No. de filhos e idade: Tem netos?

Anos de casamento: Observações que queira fazer:

2. Faça uma lista dos 03 maiores desafios (dificuldades) que você encontra como esposa de pastor. Explique o que achar conveniente sobre cada um, utilizando o espaço que for necessário.

3. Faça uma lista dos 03 maiores desafios que você acha que as demais esposas de pastor enfrentam. (Não é preciso fazer comentários.).

4. Mencione 03 motivos para ser uma esposa de pastor e explique se achar

conveniente. Obrigada por responder essas questões. Mirian Montanari Grüdtner

ANEXO 2 - QUESTIONÁRIO PARA ESPOSAS DE PASTOR JUBILADAS

Este questionário faz parte de uma pesquisa, cujo tema é Os Três

Maiores Desafios da Esposa de Pastor da IASD na Primeira Década do Século XXI.

Assim, este trabalho, de cujo questionário você fará parte, tem como objetivo

identificar as três maiores dificuldades que desafiam a esposa de pastor, nesta

primeira década de século. O questionário não pede que se coloque o nome, para que

haja maior liberdade e honestidade nas respostas. Porém, se você fizer questão de se

identificar, ou mesmo, se desejar incluir algumas observações que considerar

pertinentes, sinta-se livre para tanto. Responda às questões subjetivas, procurando

especificar exatamente aquilo que você pensa.

5. Preencha a tabela.

Último campo em que trabalhou: Idade:

Tempo de obra: No. de mudanças (mesmo que na

mesma cidade):

Formação acadêmica: Profissão que exerce:

Page 46: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

44

No. de filhos e idade: Tem netos?

Anos de casamento: Observações que queira fazer:

6. Faça uma lista dos 03 maiores desafios (dificuldades) que você encontrou como esposa de pastor. Explique o que achar conveniente sobre cada um, utilizando o espaço que for necessário.

7. Faça uma lista dos 03 maiores desafios que você acha que as demais esposas de pastor enfrentam. (Não é preciso fazer comentários.).

8. Mencione 03 motivos para ser uma esposa de pastor e explique se achar conveniente. Obrigada por responder essas questões! Mirian Montanari Grüdtner

ANEXO 3 - QUESTIONÁRIO PARA FUTURAS ESPOSAS DE PASTOR

Este questionário faz parte de uma pesquisa de pós-graduação, cujo tema é Os

Três Maiores Desafios da Esposa de Pastor, como pré-requisito para obtenção do

título de Conselheira Familiar, nas Faculdades SPEI, de Curitiba, Paraná. A aluna,

Mirian Montanari Grüdtner, é filha de pastor, esposa de pastor e irmã de três esposas

de pastor e reside em Curitiba.

1. Preencha a tabela.

Escola em que estudam(a): Casada, namorada ou noiva?

Idade: Se casada, tempo de casamento:

Formação acadêmica (se ainda estuda,

especifique o ano):

Filhos? Qual a idade?

Profissão: Observações que queira fazer?

2. De acordo com o que você tem observado, atualmente, quais sãos os três maiores

desafios da esposa de pastor? Explique.

3. Como você está se preparando para enfrentar esses desafios?

4. Você acha que o SALT provê preparo suficiente para que as futuras esposas de

pastor possam enfrentar os desafios do Ministério? Se não, o que você acha que

pode ser melhorado?

Page 47: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

45

Por gentileza, assim que responder, devolva-o para que a pesquisa seja

efetivada. Obrigada.

Mirian Montanari Grüdtner ([email protected])

ANEXO 4 - QUESTIONÁRIO PARA MEMBROS DE IGREJA

As questões abaixo fazem parte de uma pesquisa sobre os desafios da esposa de

pastor na primeira década do século XXI. Você não precisa se identificar, mas é

preciso ser membro batizado da IASD. Por gentileza, responda cada uma das

perguntas e envie para Mirian Montanari Grüdtner [email protected] .

1. Indique sexo e idade:

2. Mencione a maior qualidade que você observou numa esposa de pastor.

3. Mencione o maior defeito que você observou numa esposa de pastor.

4. Como membro de igreja, o que você espera de uma esposa de pastor?

5. De acordo com suas observações, você poderia citar qual o maior desafio de

uma esposa de pastor?

Obrigada por responder às questões! Mirian Montanari Grüdtner

ANEXO 5 - ENTREVISTA COM ADMINISTRAÇÃO DE ASSOCIAÇÃO

1. O que a administração espera da esposa do pastor?

A administração não espera que a esposa do pastor tenha funções ou cargos

na igreja, mas que seja esposa e mãe que inspire a igreja na educação dos

filhos, na liderança da família e no cuidado do lar. Ela não deveria assumir

funções em determinada igreja para poder apoiar, como conselheira, todos os

departamentos das igrejas. Mas se ela preferir, que tenha função com a qual

se identifique. Não se espera que a esposa de pastor toque piano, cante, ou

que esteja sempre presente em todos os eventos, programações, etc. Sua

prioridade é ser esposa e mãe. Nem sempre ela pode acompanhar o marido,

principalmente se tem filhos pequenos, circunstância pela qual é recomendável

que ela se fixe numa igreja para manter ali os filhos. É papel da esposa estar

em sintonia com o marido, inteirando-se dos projetos nos quais está envolvido

e dos problemas que possa estar enfrentando, para compreender e ajudar. Ela,

dentro do possível, deve participar dos cultos regulares da igreja; deve falar

aos filhos de modo positivo a respeito da Igreja, pois muitas outras profissões

não dão tantos privilégios e compensações como a Igreja, portanto, ela não

deve criticar ou fazer comentários negativos, para que os filhos não tenham

Page 48: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

46

ideias amarguradas sobre a Obra. Algumas esposas acham q devem ser

líderes como os maridos, interferindo na liderança dele; a liderança é do marido

e não dela. A liderança também espera compreensão por parte das esposas

por ocasião dos chamados. Deve haver compreensão e diálogo do casal em

relação às ausências do marido aos cultos domésticos e ao processo de

educação. Mesmo ausente, o marido precisa saber administrar o lar, pois ainda

é o responsável. As regras devem ser feitas pelo casal e aplicadas pela

esposa, na ausência do marido. Se a esposa é sobrecarregada, sem o apoio

do marido, um dia os filhos cobrarão isso do pai... A igreja deveria ter essa

noção das prioridades de uma esposa de pastor e compreender o seu papel. O

marido deve ter clara consciência do papel dela, e a esposa também deve

saber quais são as suas prioridades e o seu papel.

2. Como ocorrem as transferências e chamados?

O pastor aspirante muda a cada dois anos. Entre os quatro e seis primeiros

anos ele precisa passar por dois distritos, pelo menos, para ser submetido ao

processo de ordenação (quando recebe sua credencial e a autorização para

ministrar cerimônias, as quais não podia ministrar antes). Depois da

ordenação, as transferência podem ocorrer a cada quatro anos, chegando a

seis anos ou mais, excepcionalmente.” A transferência é normalmente em

função de tempo e de chamados de outros campos. Quando o chamado é para

fora da União, o pastor pode aceitar ou não; quando é dentro da União, seria

sábio aceitar, mas ele pode rejeitar; dentro do Campo, as mudanças são feitas

de acordo com o perfil do pastor, sua função, a compatibilidade e a

necessidade do Campo. Isso passa por votação. Quando o chamado é para

fora da União, ou interunião, o pastor pode aceitar ou não; quando é dentro da

União, seria sábio aceitar, mas ele pode rejeitar; dentro do Campo, as

mudanças são transferências feitas de acordo com o perfil do pastor, sua

função, compatibilidade e a necessidade do Campo. Isso passa por votação.

No caso de igrejas grandes a Associação faz uma parceria, ou seja, leva em

consideração as informações dadas pela igreja em relação ao pastor vigente

ou ao que virá, analisa junto com a igreja, a qual participa da Comissão Diretiva

para definir o novo candidato ao cargo. A Comissão Diretiva se compõe de

membros de todos os segmentos da igreja: representantes de cada

departamento, da loja, da tesouraria, dos diretores de escola, um membro de

igreja para cada quatro mil membros e a Administração do Campo. O maior

desafio da Administração é encaixar cada obreiro, respeitando as condições da

família. Por exemplo, pastor aspirante e sem filhos, normalmente vai para o

interior, onde normalmente não há escolas adventistas.

3. Ao se fazer uma transferência, as características profissionais da esposa

também são levadas em conta?

Na medida do possível são levadas em conta, mas não são determinantes.

Algumas profissões dificultam a busca de empregos...

4. Como acontece uma transferência?

Page 49: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

47

A comissão diretiva se reúne e define a transferência. O secretário da

comissão faz a comunicação ao obreiro. Às vezes surgem reclamações.

Quando o obreiro ou a esposa não tem senso de missão, um chamado

aparentemente desagradável pode ser visto de modo negativo, tanto quanto

um chamado que favorece as conveniências do pastor ou da esposa é visto de

forma positiva.

5. Fale sobre a ordenação.

Antes da ordenação, o aspirante tem uma licença ministerial. Com a

ordenação, o pastor passa a ser pastor, recebendo a credencial. Antes da

ordenação ele pode ministrar unção, ceia, apresentação de criança, batismo,

apenas com autorização do presidente da Associação; mas não pode dar a

bênção e ministrar os votos do casamento. Após a ordenação, o pastor está

autorizado para tanto. Ele realmente se torna um pastor após a ordenação. Ele

pode ser ordenado até o sexto ano de ministério, Duas avaliações são feitas,

analisadas na Comissão Ministerial e votadas na Comissão Diretiva da

Associação ou Missão e na Comissão Diretiva da União. Ele realiza uma prova

bíblica, doutrinária e de procedimentos do manual da igreja, e então a votação

em favor da ordenação se processa. Essa avaliação é feita com todos os

oficiais do distrito contendo vinte perguntas envolvendo capacidade de

liderança, atuação na igreja, aparência, e a respeito da esposa e filhos. Ele

precisa ser aprovado em duas avaliações. Se for reprovado, deve se submeter

novamente às avaliações.

ANEXO 6 – ENTREVISTA COM LÍDER DE SEMINÁRIO TEOLÓGICO

ADVENTISTA

1. Quantos novos pastores saem do SALT e iniciam o ministério a cada ano?

Desses iniciantes, quantos são solteiros e quantos são casados, em média?

Em 2008 foram 107 formandos, sendo 71 casados. Em 2009 foram 94

formandos, sendo 64 casados. Assim, temos uma média de quase 2/3 de

casados.

3. Quais as ações do Seminário em relação ao preparo do pastor para os

desafios do Ministério, além do preparo acadêmico, doutrinário, etc?

Nossos alunos recebem preparo em teologia, mas também em outras áreas

relacionadas, tais como filosofia, sociologia, comunicação, aconselhamento,

família, música e línguas. O seminário mantém, ainda, um forte programa de

estágios na área pastoral e evangelística. Além disso, boa parcela de nossos

alunos atuam como colportores durante as férias escolares.

Page 50: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

48

4. Quais as expectativas do Seminário em relação às esposas dos pastores que

saem daqui para o campo de trabalho?

Esperamos que a esposa do pastor recém graduado seja tão apaixonada pela

igreja e o ministério quanto ele. Que seja uma força positiva junto ao esposo,

uma amiga dos irmãos, use seus dons (que variam de pessoa para pessoa)

para abençoar sua igreja, auxilie seu esposo na visitação e no aconselhamento

e que em sua aparência, vestuário e conduta, sirva de exemplo para as

mulheres com quem deve lidar.

5. O senhor acha que as ações relacionadas ao preparo das futuras esposas de

pastor para o enfrentamento dos desafios do Ministério, realizadas nas escolas

de teologia adventistas, são suficientes e eficientes? Se não, o que pode ser

melhorado?

A escola oferece muitas oportunidades: são aulas, palestras, simpósios,

semanas especiais, oficinas – com professores e palestrantes da melhor

qualidade. Todavia, não podemos obrigar as noivas ou esposas de nossos

alunos a participar. O que fazemos é oferecer e incentivar, mas cabe a cada

uma se interessar e se envolver. Portanto, dentro de nossa realidade, creio

estarmos oferecendo um bom programa de capacitação para elas. Todavia,

seria interessante que pessoas qualificadas, visitassem o campus e fizessem

uma pesquisa entre elas para termos uma compreensão mais pontual da

realidade.

6. Além das ações do SALT, quais outros procedimentos da Organização o

senhor acha que podem ser significativos para dar suporte ao pastor e à sua

esposa em campo?

Penso que aqueles que estão dando os primeiros passos no ministério pastoral

deveriam, juntamente com as esposas, ter um acompanhamento mais de perto

do ministerial do campo. Seria muito produtivo que ele pudesse se reunir com

eles de quando em quando, de preferência casal por casal, e ouvi-los e

aconselhá-los.

ANEXO 7 - ENTREVISTA COM LÍDER DE AFAM

1. Função: Coordenadora da AFAM 2. Quais são os objetivos de uma AFAM?

Ter interesse em atender as necessidades das esposas dos pastores; Encorajar a Associação/Missão a incluir cada esposa de pastor nas

atividades que eles planejam para os ministros; Promover encontros, seminários Atuar como porta voz entre os administradores da Associação /Missão

e a AFAM;

Page 51: Esposa de pastor   um estudo sobre mudanças

49

Demonstrar preocupação pela família pastoral em tempos de alegria, estresse ou crise – mudança, nascimento de um filho batismo do filho, morte, transição ou enfermidade.

Divulgar e entregar a revista trimestral da AFAM.

3. Onde as AFAMS estão presentes? Em todos os segmentos da Igreja Adventista: Conferência Geral, Divisão, União , Associações, Missões e nos cursos de Graduação de Teologia (para esposas e noivas de teologandos).

4. Como líder de AFAM, quais são os maiores desafios que você percebe entre as esposas de pastor? São muitas as peculiaridades da vida de uma esposa de pastor. Seus desafios são reais. Vou enumerar três:

Lidar com as muitas expectativas (Organização, igreja, esposo e a dela própria)

Ausência do esposo e conseqüentemente sobrecarga na educação dos filhos

Solidão (isolamento, falta de amizades) entre outros.

5. Você acha que as AFAMs em geral atendem às necessidades das esposas de pastor? Por quê? Penso que existe um longo caminho a ser percorrido para que os objetivos sejam alcançados de fato. A falta de remuneração das líderes é uma dificuldade hoje, sendo agravada por acúmulo de funções com outros departamentos.

6. A organização superior provê algum manual para as atividades da AFAM, planejamento de atividades ou cada campo faz seu próprio programa? Existe um guia com as diretrizes gerais. Dentro disso cada campo organiza seu próprio programa.

7. Como líder de AFAM, o que você espera das esposas de pastor do campo? Algumas esposas dizem que a Associação cobra delas muitas atividades na igreja. Você concorda com isso? Espero que elas sejam mulheres felizes, que se sintam filhas amadas de Deus, esposas realizadas, boas mães e que na medida do possível se envolvam em alguma área da igreja que tenha afinidade. Ela não precisa ser associada do pastor, mas é muito importante se envolver em alguma área. É bom pra ela, é bom para igreja é bom para o esposo. Aliás o nosso envolvimento segundo os nossos dons, não estar associado a ser esposa de pastor, é o dever de todo cristão. Quanto às cobranças isso pode variar de uma líder para outra. Já tive líderes com expectativas grandes quanto ao meu envolvimento nas atividades da igreja e já tive líderes que não tinham tantas expectativas. Como líder, incentivo que elas se envolvam em alguma área que tenham afinidade.

8. Você concorda que na maioria das vezes a igreja cobra demais da esposa de pastor? Em determinadas regiões ainda se cobra sim, mas tenho visto uma mudança nesse paradigma. Existem congregações muito compreensivas.