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Instituto de Pesquisa e P lanejamento Urbano e Reg ional Un iversidade Federa l do R io de Jane iro UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL DINTER IPPUR / UFRJ - UEPB DÓRIS NÓBREGA DE ANDRADE LAURENTINO Esporte e Lazer nas políticas urbanas: proposições para sua valorização em Campina Grande - PB RIO DE JANEIRO - RJ 2017

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Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional

Universidade Federal do Rio de Janeiro

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO URBANO

E REGIONAL – DINTER IPPUR / UFRJ - UEPB

DÓRIS NÓBREGA DE ANDRADE LAURENTINO

Esporte e Lazer nas políticas urbanas: proposições para sua

valorização em Campina Grande - PB

RIO DE JANEIRO - RJ

2017

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DÓRIS NÓBREGA DE ANDRADE LAURENTINO

Esporte e Lazer nas políticas urbanas: proposições para sua

valorização em Campina Grande - PB

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro como requisito para obtenção do título de Doutora em Planejamento Urbano e Regional junto ao Programa de Doutorado em Planejamento Urbano e Regional, DINTER IPPUR/UFRJ – UEPB.

Orientadora: Profa. Dra. Cláudia Ribeiro Pfeiffer – IPPUR / UFRJ

RIO DE JANEIRO – RJ

2017

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16/05/2017

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Ao meu pai, Leonardo Honório de Andrade Melo (in memoriam), pela sua desenvoltura e reverência face às questões políticas e sociais, que viveu na esperança de um mundo mais justo e igualitário; à minha mãe, Maria das Dores Nóbrega de Andrade Mélo, pela sua capacidade de entender o “humano” em suas diferentes dimensões. Aos meus pais, DEDICO.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por fazer-me sentir eternamente grata pela força que conduz em

todo o nosso caminhar.

Ao meu esposo, Edilson, aos meus filhos, Otávio e Ricardo, pelo amor

compartilhado que traduz a célula máter - FAMÍLIA e pela paciência, incentivo,

compreensão e por acreditarem em mim.

À minha mãe, aos meus irmãos, Leonardo e Diana, por me fazerem

entender a importância do ontem, do hoje e do amanhã.

Aos demais familiares e amigos que engradecem o viver com alegria,

entusiasmo, partilha e torcidas.

À minha ORIENTADORA, Profa. Dra. Cláudia Ribeiro Pheiffer, pelas

orientações, pelo tempo dispendido nas leituras e pelo SER HUMANO que é. Meu

obrigada.

A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Planejamento

Urbano e Regional – IPPUR/UFRJ que colaboraram diretamente e indiretamente

para a implementação do DINTER em Planejamento Urbano e Regional -

IPPUR/UFRJ/UEPB; e, em especial, ao entusiasta e grande mestre, professor e

amigo Dr. Mauro Kleiman.

Agradeço à UEPB, a todos que contribuíram e contribuem para o

fortalecimento da política de pesquisa institucional, e, de forma específica, para a

qualificação de seu corpo docente.

A todos os meus amigos de sala e, em especial, Cristianne, Alexandre,

Austerliano, Arthur, Larissa e Fabiano, pelas trocas de conhecimentos e

experiências compartilhadas, companheirismo e pela presteza com jeito singular de

ser de cada um. Serei sempre grata.

Ao Prof. Dr. Cidoval Morais de Sousa, pelo incentivo, apoio e pela dedicação

ao se debruçar sobre a proposta de estudo, ainda em seus primeiros passos.

Ao amigo e colaborador Prof. Dr. Marconi do Ó Catão, no diálogo com a

tese, sempre no processo de estímulo.

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À Coordenação Técnico-Operacional do programa junto à UEPB. Agradeço

ao Prof. Dr. Luciano Albino, por não medir esforços para o desenrolar da nossa

jornada acadêmica.

A todos os meus companheiros de trabalho, pela compreensão quando das

limitações, em virtude das minhas condições exíguas temporais.

A todos os participantes da pesquisa, pela compreensão, colaboração com a

tese e atenção.

A todos que contribuíram para o desencadear da tese, nas suas diferentes

fases, e, de forma específica, a Roseane Barros, aluna do Departamento de

Educação Física/UEPB, por não medir esforços para ajudar.

De forma muita carinhosa, agradeço a Edilson (meu esposo), Otávio e

Ricardo (meus filhos), e também a Vigny, por compartilharem minhas angústias,

estarem sempre presentes, tecendo fios e socializando conhecimentos no caminhar

do processo de construção desta tese.

Aos professores da Banca Examinadora, pela contribuição e qualificação do

trabalho. Minhas congratulações.

Agradeço a todos que se preocupam com o lugar do esporte e lazer, com

vistas à melhoria da qualidade de vida das pessoas e da vida em sociedade, que

compreendem sua relevância e sua relação com a política urbana.

Meus agradecimentos aos profissionais que contribuíram com a revisão

linguística da tese. A Roberto Santos, pela diagramação do texto, pela paciência,

compromisso e dedicação, meu muitíssimo obrigada.

A todos, e a cada um em particular, meus mais sinceros agradecimentos.

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Não deixa o samba morrer Não deixa o samba acabar O morro foi feito de samba De samba para gente sambar Quando eu não puder pisar mais na avenida Quando as minhas pernas não puderem aguentar Levar meu corpo, junto com meu samba O meu anel de bamba, entrego a quem mereça usar E quando eu não puder pisar mais na avenida Quando as minhas pernas não puderem aguentar Levar meu corpo, junto com meu samba O meu anel de bamba, entrego a quem mereça usar Eu Vou ficar No meio do povo Espiando Minha escola perdendo ou ganhando Mais um carnaval Antes de me despedir Deixo ao sambista mais novo O meu pedido final Antes de me despedir Deixo ao sambista mais novo O meu pedido final...

Compositores: Edson Gomes da Conceição e Aloísio Silva

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RESUMO

O trabalho partiu da premissa de que o esporte e o lazer devem ser valorizados nas políticas urbanas porque contribuem para a qualidade de vida dos cidadãos e para a vida em sociedade. Seus objetivos consistiam em: identificar como o esporte e o lazer vêm sendo definidos nas políticas públicas brasileiras e qual o lugar e como o esporte e o lazer vêm sendo promovidos nas políticas urbanas brasileiras; analisar as políticas urbanas adotadas nos municípios, sobretudo quanto às políticas voltadas para o esporte e lazer; avaliar as políticas de esporte e lazer adotadas em Campina Grande – PB e suas relações com as políticas urbanas brasileiras. Pretende-se apresentar proposições para a adoção de políticas urbanas que potencializem o acesso ao esporte e lazer. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, sendo adotados como procedimentos metodológicos: a pesquisa bibliográfica, documental e de campo. A pesquisa bibliográfica tratou do esporte e lazer, bem como seu entendimento como políticas públicas e urbanas. Com a pesquisa documental, buscaram-se elementos para a construção do marco teórico e elucidar como o esporte e o lazer estão explicitados no aparato legal Brasileiro e Campinense. Na pesquisa de campo, foram utilizados: observação e registro fotográfico dos espaços de esporte e lazer da cidade e entrevistas com diferentes atores. Evidenciou-se que as políticas públicas de esporte e lazer começaram a ser intensificadas na década de 1990, sendo ampliadas a partir da criação do Ministério do Esporte; na política urbana brasileira, as ações do esporte e lazer estão relacionadas principalmente à urbanização e infraestrutura; há necessidade de uma maior articulação com a questão habitacional, a mobilidade urbana, a segurança, as condições sanitárias, ambientais e econômicas, com os equipamentos sociais, dentre eles, os voltados para o esporte e lazer. No Plano Diretor da cidade, o esporte e lazer, ainda que de forma tímida, estão valorizados. O Programa “Mexe Campina”, as corridas de rua e as praças com academias foram destacados nas entrevistas. Segundo os gestores, há necessidade de melhorias nas políticas públicas de esporte e lazer e revisão no seu planejamento. Para os usuários e os não-usuários, o lugar do esporte e lazer se justifica, principalmente, no campo da saúde. Os jornalistas destacaram a importância do planejamento urbano e a avaliação das políticas públicas. Os presidentes de SABs enfatizaram a necessidade de uma política de investimento nesta área. Os profissionais de esporte e lazer destacaram a sua preocupação com a gestão da área. As conclusões apontam: o esporte e lazer, considerando sua importância e abrangência, vêm sendo fortalecidos ao longo do tempo. Porém, no Brasil, precisam de maior valorização; merecem ocupar um lugar de grande envergadura na política urbana, porquanto contribuem para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos e para a vida em sociedade; necessitam ser repensados a partir de um planejamento urbano efetivo, com definição de políticas públicas, em que o poder público exerça o seu papel, com maior participação e controle social visando à democratização do acesso ao esporte e lazer.

Palavras chave: Esporte e lazer. Políticas públicas. Políticas urbanas.

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ABSTRACT

This work started from the premise that the sports and leisure must be valued in the urban policies as they contribute to the citizens‟ quality of life and life in society. Its objectives were: identify how sports and leisure have been defined in Brazilian public policies and the its place and how sports and leisure have been promoted in Brazilian urban policies; analyze the urban policies adopted in the municipalities, mainly regarding the policies dedicated to sports and leisure adopted in Campina Grande – PB and its relations with Brazilian urban policies. It was intended to present propositions for the adoption of urban policies that potentiate the access to sports and leisure. It is a study based on a qualitative approach and we adopted the following methodological procedures: the bibliographical, documental and field research. The bibliographical research was about the sports and leisure; its understanding as urban and public policies. With the documental research we sought for elements to build the theoretical principle and clarify how sports and leisure are highlighted in the Brazilian and Campinense legal apparatus. In the field research we used: sports observation and photographical register on the spaces of sports and leisure in the city and interviews with different subjects. It was highlighted that: the sports and leisure public policies started to be intensified in the 1990s, being enlarged from the creation of the Sports Ministry; in the Brazilian urban policy, the actions about sports and leisure are related mainly to urbanization and infrastructure; there is the necessity of a bigger articulation regarding the housing issue, the urban mobility, the security, the sanitary, environmental and economic conditions about the social equipment, among them the ones dedicated to sports and leisure. In the city Director Plan, the sports and leisure, even if in a timid way, are valued. The Program “Move Campina”, the street races and the squares with gym equipment were highlighted in the interviews. According to the managers there is the necessity to make the sports and leisure public policies better and the revision on its planning. In the users and non-users opinion the place of sports and leisure are justified, mainly, on the health field. The journalists highlighted the importance of urban planning and the public policies evaluation. The presidents of Neighborhood Associations highlighted the necessity of a policy to invest on such area. The sports and leisure professionals highlighted their concern about this area management. The conclusions showed that: the sports and leisure, considering their importance and comprehensiveness, have been strengthened along the decades, but in Brazil they need a greater appreciation; they need to occupy a place of great importance in urban policies as they contribute to make the citizens‟ life better and to the life in society; they need to be rethought from an effective urban planning, with the definition of public policies where the public power plays its role with a more significant participation and social control aiming the democratization of access to sports and leisure.

Key words: Sports and leisure. Public policies. Urban policies.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Escolas públicas municipais existentes com instalações esportivas,

por tipo e localização............................................................................................ 32

Quadro 02 - Eixos temáticos da pesquisa “Gestão da Informação sobre o Esporte Recreativo e de Lazer: balanço da Rede CEDES”(2010).................... 163

Quadro 03 - Levantamento da amostra pesquisada......................................... 240

Quadro 04 - Localização dos espaços, serviços e equipamentos públicos de atividades físicas, esportivas e de lazer de Campina Grande – PB, de iniciativa municipal, pesquisados....................................................................... 242

Quadro 05 – Síntese das categorias no campo do esporte e lazer, a partir das falas dos participantes da pesquisa ........................................................... 357

Quadro 06 - Perfil das atividades físicas, esportivas e de lazer organizadas / promovidas pela iniciativa privada, segundo amostra pesquisada.................... 361

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Primeiro balanço do PAC na área de esporte e lazer ................... 221

Tabela 02 – Equipamentos esportivos conforme o 4º balanço do PAC ............ 221

Tabela 03 – Mapeamento do uso dos espaços pesquisados ........................... 249

Tabela 04 – Distribuição de frequência das academias segundo as condições dos aparelhos .................................................................................................... 250

Tabela 05 – Distribuição de frequência de acordo com a existência de cercas em volta da academia. ...................................................................................... 251

Tabela 06 – Distribuição de frequência de acordo com a condição de mobilidade de cadeirantes ................................................................................. 272

Tabela 07 - Distribuição de frequência segundo as condições de calçadas e pisos observados ............................................................................................... 273

Tabela 08 – Distribuição de frequência segundo a disponibilização de coletores de lixo ................................................................................................. 281

Tabela 09 - Opinião dos gestores pesquisados sobre a existência de Políticas Públicas de Esporte e Lazer ............................................................... 302

Tabela 10 – Presença do Esporte e Lazer nas Políticas Urbanas, a partir das justificativas, segundo gestores entrevistados .................................................. 309

Tabela 11 – Distribuição de frequência dos tipos de atividades de esporte e lazer praticados de acordo com os usuários pesquisados ................................ 311

Tabela 12 – Distribuição de frequência dos locais de práticas de esporte e lazer de acordo com os usuários pesquisados ................................................. 312

Tabela 13 – Distribuição de frequência da adesão ao esporte e lazer de acordo com os usuários pesquisados .............................................................

312 Tabela 14 – Distribuição de frequência sobre a avaliação dos equipamentos e serviços de esporte e lazer de acordo com os usuários pesquisados. .......... 313 Tabela 15 – Distribuição de frequência da oferta de Atividades Físicas, Esportivas e de Lazer pelo poder público de acordo com os usuários pesquisados........................................................................................................

315 Tabela 16 – Distribuição de frequência dos tipos de atividades de esporte e lazer praticados de acordo com os não-usuários pesquisados......................... 322 Tabela 17 – Distribuição de frequência dos locais de práticas de esporte e lazer de acordo com os não-usuários pesquisados......................................... 323

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Tabela 18 – Distribuição de frequência da adesão ao esporte e lazer de acordo com os não-usuários pesquisados......................................................... 323

Tabela 19 – Distribuição de frequência sobre a avaliação dos equipamentos e serviços de esporte e lazer de acordo com os não-usuários pesquisados..... 324

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Praça e Academia ao ar livre .......................................................... 243

Figura 02: Praça, Academia ao ar livre, área para caminhada e playground .. 244

Figura 03: Praça, Academia ao ar livre cercada e Playground ........................ 244

Figura 04: Academia ao ar livre ........................................................................ 245

Figura 05: Praça, Academia ao ar livre, Playground, área coberta e quiosque 245

Figura 06: Praça, Academia ao ar livre, Playground e Quiosque .................... 246

Figura 07: Praça, Academia ao ar livre, Playground e Quiosque (parte 1) ...... 246

Figura 08: Praça, Academia ao ar livre, Playground e Quiosque (parte 2) ...... 246

Figura 09: Praça, Academia Ao ar Livre, Área coberta e Playground ............. 247

Figura 10: Praça, Academia ao ar livre com Aparelhos de Ginástica .............. 247

Figura 11: Praça ............................................................................................... 248

Figura 12: Equipamento da academia necessitando de pintura/manutenção.. 250

Figura 13: Equipamento da academia em ótimas condições .......................... 250

Figura 14: Complexo Esportivo “O Meninão” – Cobertura do Ginásio ............. 253

Figura 15: Complexo Esportivo “O Meninão” – Entrada .................................. 253

Figura 16: Complexo Esportivo “O Meninão” – Banheiro masculino ............... 254

Figura 17: Complexo Esportivo “O Meninão” – Ginásio ................................... 254

Figura 18: Vila Olímpica das Malvinas – parte de sua extensão ..................... 255

Figura 19: Vila Olímpica das Malvinas – Academia ao ar livre ........................ 255

Figura 20: Vila Olímpica das Malvinas – visão em dois lados ......................... 256

Figura 21: Parque da Criança – Pista de caminhada e corrida ....................... 256

Figura 22: Parque da Criança – Placa de proibições........................................ 257

Figura 23: Parque da Criança – Pista de Skate ............................................... 257

Figura 24: Parque da Criança – Campo de areia ............................................ 258

Figura 25: Parque da Criança – Mini quadra 01 .............................................. 258

Figura 26: Parque da Criança – Mini quadra 02 .............................................. 259

Figura 27: Parque da Criança – Pista de BMX ................................................ 259

Figura 28: Parque da Criança – playground .................................................... 260

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Figura 29: Complexo Esportivo do Catolé – Visão interna .............................. 260

Figura 30: Complexo Esportivo do Catolé – Playground ................................. 261

Figura 31: Complexo Esportivo do Catolé – Academia ao ar livre .................. 261

Figura 32: Complexo Esportivo do Catolé – área coberta ............................... 262

Figura 33: Parque da Liberdade – ciclovia / caminhada / corrida .................... 263

Figura 34: Parque da Liberdade – placas de proibições ................................. 263

Figura 35: Parque da Liberdade – quadra de areia ......................................... 264

Figura 36: Parque da Liberdade – parte da academia ao ar livre .................... 264

Figura 37: Complexo Esportivo Plínio Lemos – arquibancada ........................ 265

Figura 38: Complexo Esportivo Plínio Lemos – piscina ................................... 266

Figura 39: Complexo Esportivo Plínio Lemos – uma das entradas ................. 266

Figura 40: Complexo Esportivo Plínio Lemos – ginásio ................................... 267

Figura 41: Complexo Esportivo Plínio Lemos – campo de futebol com pista de atletismo ....................................................................................................... 267

Figura 42: Bancos da praça ............................................................................. 268

Figura 43: Rampas de acessibilidade bem sinalizadas, mas fora da norma padrão ............................................................................................................... 270

Figura 44: Rampas de acessibilidade com sinalização apagada .................... 270

Figura 45: Rampas de acessibilidade sem sinalização ................................... 271

Figura 46: Rampas de acessibilidade totalmente fora da norma padrão ......... 271

Figura 47: Sinalização faixa de pedestre ......................................................... 274

Figura 48: Espaço com condição de mobilidade ............................................. 274

Figura 49: Espaço inadequado para mobilidade de cadeirante ....................... 275

Figura 50: Espaço inadequado para mobilidade de cadeirante ....................... 275

Figura 51: Espaço com acessibilidade que favorece a mobilidade de cadeirante .......................................................................................................... 276

Figura 52: Drenagem com uso de grelha ......................................................... 277

Figura 53: Parque do Povo - Drenagem com uso de grelha ........................... 278

Figura 54: Escassez da iluminação da Academia da Saúde no Açude Velho.. 279

Figura 55: Praça com academia com proximidade de parada de ônibus ........ 280

Figura 56: Academia de Saúde sem nenhum coletor de lixo ........................... 282

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Figura 57: Academia de Saúde com coletor de lixo e saco plástico ................ 282

Figura 58: Coletor do tipo “Tira entulhos” ........................................................ 283

Figura 59: Praça com coletor de lixo ................................................................ 283

Figura 60: Praça com coletores de lixo alternativos ........................................ 284

Figura 61: Estacionamento bem sinalizado, localizado no Parque da Criança 286

Figura 62: Predominância de Algarobas ........................................................ 287

Figura 63: Espaço bem arborizado .................................................................. 287

Figura 64: Área não arborizada ........................................................................ 288

Figura 65: Arborização localizada .................................................................... 288

Figura 66: Plantas estilo jardineira ................................................................... 289

Figura 67: Plantas novas em fase de crescimento .......................................... 289

Figura 68: Academia com placa de explicação de uso dos equipamentos ..... 292

Figura 69: Praça com proximidade com Unidade Básica de Saúde................. 292

Figura 70: Praça com aproximação da Associação de Amigos de Bairro – SAB ............................................................................................................ ....... 293

Figura 71: Praça com aproximação de uma Escola Pública ............................ 293

Figura 72: Praça com aproximação de Escola Pública e Igreja ....................... 294

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 19

CAPÍTULO 1 – CORPO E SOCIEDADE .......................................................... 37

1.1 Dimensões sobre o corpo ....................................................................... 37

1.2 Sociedade e dimensões sobre o corpo na contemporaneidade ......... 49

1.3 Atividade física e seus benefícios .......................................................... 58

CAPÍTULO 2 - ESPORTE E LAZER NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE ........ 67

2.1 Historicizando o esporte no mundo ....................................................... 67

2.2 Dimensão lúdica do esporte e lazer.............................................................. 75

2.3 Esporte e suas categorias conceituais ................................................... 79

2.4 Contextualizando o lazer .......................................................................... 83

2.5 Trabalho, lazer e tempo livre: para além de uma visão funcionalista

do lazer ..................................................................................................... . 95

CAPÍTULO 3 – ESPORTE E LAZER NO BRASIL ........................................... 110

3.1 O esporte na sociedade brasileira ........................................................... 110

3.2 O lazer no Brasil ........................................................................................ 114

3.3 Aparato legal do esporte e lazer .............................................................. 121

CAPÍTULO 4 - POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ESPORTE E LAZER NO

BRASIL .................................................................................. 135 4.1 O papel do Estado e a participação social: a formalização de

políticas públicas ......................................................................................

....................................................................................................... 135

4.2 O esporte e o desencadear de suas políticas públicas .......................

............................. 149

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4.3 Conferências nacionais de esporte em busca da implementação de

políticas públicas de esporte e lazer ......................................................

.................. 165

4.4 Políticas públicas de esporte e lazer: a perspectiva institucional

brasileira .................................................................................................... 166

CAPÍTULO 5 - O ESPORTE E LAZER NAS POLÍTICAS URBANAS

BRASILEIRAS ................................................................... 183

5.1 Dinâmica espacial e a questão urbana ................................................... 183

5.2 Planejamento urbano em debate ............................................................. 188

5.3 O urbano e instrumentos de intervenção: o caso brasileiro ................ 194

5.3.1 Primeiras iniciativas para a formalização de políticas urbanas ............. 199

5.3.2 Instrumentos de planejamento e gestão urbanos .................................. 216

5.4 O Programa de aceleração de crescimento e as políticas urbanas

para o esporte e lazer ............................................................................... 218

CAPÍTULO 6 - ESPORTE E LAZER EM CAMPINA GRANDE – PB .............. 225

6.1 O esporte e lazer na política urbana, a partir da Lei Orgânica e Plano

Diretor ........................................................................................................ 225

6.2 Espaços, serviços e equipamentos de atividade física, esporte e

lazer de Campina Grande-PB, de iniciativa municipal, e seus

elementos constitutivos: localização, acessibilidade e rede de

infraestrutura ............................................................................................ 239

6.3 O esporte e lazer na política urbana sob múltiplos olhares ................. 296

CONCLUSÕES ................................................................................................ 364

REFERÊNCIAS ................................................................................................. 383

APÊNDICE ....................................................................................................... 410

APÊNDICE A – Ficha de Observação ............................................................ 411

ANEXOS ............................................................................................... ............ 412

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ANEXO A – Escolas públicas estaduais existentes em 31.12 e com

instalações esportivas, segundo a Região Nordeste e suas Unidades da

Federação – 2003 ......................................................................................... .... 413

ANEXO B – Número de equipamentos esportivos existentes em 31.12, por

tipo de equipamento e localização, segundo a Região Nordeste e suas

Unidades da Federação – 2003 ........................................................................ 414

ANEXO C – Número de equipamentos esportivos existentes em 31.12, por

tipo de equipamento e condições de funcionamento, segundo a Região

Nordeste e suas Unidades da Federação – 2003 ............................................. 415

ANEXO D – Número de instalações esportivas existentes e em construção

em 31.12, por tipo de instalação esportiva, segundo a Região Nordeste e

suas Unidades da Federação – 2003 ............................................................... 416

ANEXO E – Número de instalações esportivas existentes em 31.12, por tipo

e características das instalações, segundo a Região Nordeste e suas

Unidades da Federação – 2003 ........................................................................ 417

ANEXO F – Número de campos de futebol localizados isoladamente

existentes em 31.12, por tipo de infraestrutura e funcionamento, segundo a

Região Nordeste e suas Unidades da Federação – 2003 ................................ 418

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho considera que o esporte e o lazer devem ser valorizados

e precisam ocupar um lugar relevante no contexto das políticas urbanas, pois se

entende que o lazer e o esporte contribuem para o desenvolvimento pessoal e

social, bem como oportunizam a vivência e a valorização de diferentes práticas e

manifestações socioculturais lúdicas e esportivas. Além disso, estão ligados às

questões de direito, cidadania, educação e inclusão, além de melhorar a qualidade

de vida das pessoas e a vida em sociedade.

Essa premissa foi formulada com base em estudos e experiências da autora,

profissional da área de Educação Física, e tem sua origem em observações

realizadas em projetos com idosos, em escola pública municipal, em experiência na

Universidade Aberta à Maturidade - UAMA/UEPB e na Associação de Pais e Amigos

de Excepcionais - APAE. Esses projetos e observações serão apresentados a

seguir.

Projeto com idosos

O projeto de extensão coordenado pela autora para idosos do município de

Campina Grande – PB (UEPB, 2010), intitulado Atividade Física, Saúde e Qualidade

de Vida do Idoso, foi realizado em torno do Centro de Cultura e Artes da UEPB. O

projeto desencadeou-se a partir de uma atividade extensionista já anteriormente

consolidada, coordenada pelo Dr. Cheng Hsin Nery Chao. Verificou-se que se

conseguiu alcançar bons resultados no sentido da melhoria da qualidade da saúde

dos idosos, havendo relatos de cura de patologias - como exemplo: a bursite

(inflamação na articulação dos ombros); amenização de várias dores de coluna;

melhoria da constipação e dores estomacais, de capacidades físicas e motoras,

pressão arterial e frequência cardíaca, conforme relatório elaborado (UEPB, 2011).

O projeto também contribuiu em outros aspectos, ou seja, otimizou um maior

convívio social, pois normalmente os idosos sentiam-se abandonados e

discriminados por parentes e vizinhos; contribuiu para mudanças de hábitos, atitudes

e valores dos idosos (volta ao mercado de trabalho, retorno de forma efetiva às

ações da família, aceitação de que a velhice é uma fase para ser vivida com

expectativas e novos desafios, minimização da ociosidade, descoberta de novas

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potencialidades, maior valorização pessoal, interesse em aumentar o convívio social,

entre outros). A compreensão sobre saúde foi ampliada, com práticas educativas de

orientação à saúde, atividades e ações realizadas, através de práticas corporais,

manifestações socioculturais, lúdico-esportivas e dinâmicas foram reconhecidas

como significativas para a melhoria da qualidade de vida; os idosos ficavam

entusiasmados por sentirem-se capazes e felizes ao realizar o que era proposto,

buscando praticar o aprendizado em seu cotidiano.

Foram adquiridos conhecimentos a partir de palestras e oficinas realizadas

sobre temáticas emergentes e escolhidas pelos envolvidos no projeto, favorecendo,

assim, a sua participação ativa no decorrer do projeto.

O conjunto de atividades proposto possibilitou o resgate e o reconhecimento

das potencialidades físicas e motoras, bem como o prazer de dominar e usar o

corpo em situações de desafio.

Nas comemorações festivas, contava-se com a ajuda de todos os

participantes para a confecção de adereços e tematização do ambiente, tendo sido

possível favorecer a sociabilidade, o espírito cooperativo, a criatividade, a inclusão,

sendo visto como ativo, participativo no âmbito do grupo, elevando-se a autoestima,

como observou-se nas suas expressões em diferentes linguagens.

Projeto na escola pública municipal

Em relação a uma experiência desenvolvida pela autora no espaço da

escola, como colaboradora de um projeto extensionista, denominado “Jogos e

Brincadeiras Populares na Escola: uma Possibilidade Socioeducativa”, sob a

coordenação da professora Dra. Lívia Tenorio Brasileiro, desenvolvido na Escola

Municipal Almira de Oliveira, Campina Grande - PB. O citado projeto teve como base

que a Educação Física, como uma área de conhecimento, trata no interior das

escolas, de conhecimentos que foram produzidos culturalmente e que tem nas suas

práticas corporais, sua materialidade. Dentre eles, estão: o esporte, o jogo, a dança,

a ginástica, a luta, entre outras, os quais integram a vida cotidiana, vem sendo

pouco inseridas como conteúdos de ensino nas aulas da Educação Física.

Os jogos e brincadeiras populares na escola, reconhecidos como

construções socioculturais, vêm sendo marcadamente substituídas na vida cotidiana

de uma parcela significativa de crianças e adolescentes, devido à sua limitação de

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espaço, casas e apartamentos. Por sua restrição de acesso às ruas por riscos

urbanos, e, ainda, com a concepção de que os referidos conteúdos possibilitam o

resgate da cultura e da memória lúdica das crianças, adolescentes, jovens, de suas

famílias, de suas comunidades e das escolas, foram pilares para o desenvolvimento

do projeto, com o foco nessas experiências.

Essa vivência, com os diversos jogos e brincadeiras populares, ajudou cada

vez mais ao trabalho em grupo, pois os que já conheciam mostravam ao colega

como eram as formas de usufruir dos mesmos e a questão de gênero foi percebida

muito fortemente. Ademais, observou-se que há necessidade de ampliar as

discussões sobre o papel socioeducativo da escola e da Educação Física escolar,

com a inserção dos citados conteúdos, como também dos esportes, na busca da

transformação, não apenas do cotidiano escolar, mas na convivência com os

colegas, nas ruas, em sua casa, com a família, entre outros espaços socioculturais.

Experiência na Universidade Aberta à Maturidade

Como professora da disciplina Lazer e Turismo para a Terceira Idade, junto

à Universidade Aberta à Maturidade – UEPB, constatou-se que no início da

disciplina, de acordo com os relatos, as produções, as histórias de vida dos idosos e

dinâmicas realizadas, que a compreensão do lazer era vista apenas numa visão

funcionalista, de forma restrita, e que os conteúdos culturais do lazer eram pouco

explorados/vivenciados pelos idosos, pela não oportunidade de conhecê-los, pela

falta de incentivo, por ordem sociocultural ou por outras questões.

A disciplina oportunizou maior integração entre a turma uma melhor

comunicação para aqueles mais tímidos, descobertas de talentos; oportunizou e

incentivou as diversas práticas e manifestações socioculturais lúdicas e esportivas;

despertou o espírito de coletividade; propiciou visitas culturais, excursões, passeios,

gincana, como forma de lazer crítico e criativo; estimulou a participação em eventos

científicos voltados ao envelhecimento saudável; e possibilitou a socialização de

saberes. Além disso, foi possível conhecer e despertar o interesse e a valorização

por diferentes formas de lazer, favorecendo a sua cidadania, a favor de um

envelhecimento ativo, com vistas a maiores e melhores expectativas de vida, de

uma forma bem-sucedida; visto como pessoa valorizada por si mesma e pela

sociedade.

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Experiência na Associação de Pais e Amigos de Excepcionais

Com a experiência com os alunos da APAE - Associação de Pais e Amigos

de Excepcionais de Campina Grande - PB nos eventos esportivos e de lazer,

constatou-se que os alunos, independente de idade, gênero, e condições

socioeconômicas, bem como sua família, sentiam-se felizes em ter acesso ao

esporte e lazer nas suas diferentes práticas e manifestações, pois eram vistos como

cidadãos participativos e incluídos na sociedade; capazes de realizar o que era

proposto, ultrapassar seus limites e preconceitos.

Outras atuações no campo do esporte e lazer

A trajetória acadêmico-profissional relacionada ao objeto de investigação

está atrelada à atuação como professora universitária no Curso de Educação Física,

na linha de pesquisa e extensão Políticas Públicas de Esporte e Lazer. Aumentou

esse interesse, após a participação na III Conferência de Esporte e Lazer nas

esferas municipal e regional realizadas em 2010. Por ter pesquisado no Mestrado

Concepções e Significados do Lazer, por estar preocupada com a política

universitária de esporte e lazer e por atuar no setor de Educação da rede pública

municipal. Isto causou inquietação em saber como o esporte e lazer são tratados na

escola, nas políticas públicas, como estão presentes no cotidiano das pessoas e por

considerar o efetivo acesso do esporte e lazer por meio de políticas públicas

urbanas como imprescindíveis funções sociais da cidade.

Diante destes exemplos e situações ora apresentados, e com intuito de

trazer para o debate o lugar do esporte e lazer na política urbana é que se

desenvolveu esta tese. A premissa na qual se fundamentou é a seguinte: o esporte

e o lazer devem ser valorizados nas políticas urbanas porque contribuem para a

qualidade de vida dos cidadãos e para a vida em sociedade.

Seus objetivos consistiam em, através de procedimentos metodológicos:

identificar como o esporte e o lazer vêm sendo definidos em suas especificidades

nas políticas públicas brasileiras;

identificar qual o lugar e como o esporte e o lazer vêm sendo promovidos nas

políticas urbanas brasileiras;

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analisar as políticas urbanas que vêm sendo adotadas nos municípios brasileiros,

sobretudo no que tange às políticas voltadas para o esporte e lazer. E, à luz do

anterior:

avaliar as políticas de esporte e lazer adotadas em Campina Grande – PB e suas

relações com as políticas urbanas brasileiras, bem como:

estabelecer proposições para a adoção de políticas urbanas que possibilitem o

acesso ao esporte e lazer.

Metodologia

Para a realização do trabalho, tomou-se como base uma metodologia

qualitativa. Numa metodologia qualitativa, segundo Minayo et al. (2002, p. 24), “a

preocupação está voltada em compreender e explicar a dinâmica das relações

sociais, que por sua vez são depositárias de crenças, valores e atitudes”. Nesse

sentido, foram adotados os seguintes procedimentos metodológicos: Pesquisa

Bibliográfica, Pesquisa Documental e de Campo.

A Pesquisa Bibliográfica A Pesquisa Bibliográfica foi realizada com base em material já publicado,

como caracteriza Gil (2010). As fontes utilizadas neste estudo foram: material

impresso como livros, trabalhos acadêmicos científicos, anais de eventos científicos,

além de material em formato digital eletrônico.

A pesquisa bibliográfica foi focada nos seguintes assuntos: considerações

acerca do corpo na sociedade contemporânea; benefícios da atividade física;

aspectos históricos e teórico-conceituais sobre o esporte e lazer, suas diferentes

dimensões e vistos como direitos; o papel do Estado e participação social nas

políticas públicas; políticas públicas de esporte e lazer; questões ligadas ao urbano,

planejamento e instrumentos de intervenção do espaço urbano e sobre o esporte e

lazer na política urbana. Com a pesquisa bibliográfica, pretendia-se fundamentar

teoricamente o esporte e lazer; seu entendimento como políticas públicas e no

campo das políticas urbanas.

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A Pesquisa Documental Para Marconi e Lakatos (2010), na pesquisa documental, a fonte de coleta

de dados está restrita a documentos, escritos ou não, denominada de fontes

primárias. Quanto à Pesquisa Documental, foi adotada com o propósito de contribuir

na construção do marco teórico e elucidar de que forma o esporte e o lazer estão

explicitados no aparato legal brasileiro e campinense. Para tanto, tomou-se como

referência a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a LDB – Lei de

Diretrizes e Bases da Educação (1996), a Constituição da República Federativa do

Brasil (1988), o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a Lei N. 7853 (1989),

que trata sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, a Lei N. 9.615/1998,

que institui normas gerais sobre o desporto, o Decreto N. 3.298 (1999), que

regulamenta a Lei N. 7853, que trata da Política Nacional para Integração da Pessoa

Portadora de Deficiência, o Estatuto do Idoso (2003), a Lei N. 11. 438/ 2006 e Lei N.

11. 472/2007, que tratam sobre incentivos e benefícios para fomentar as atividades

de caráter desportivo, a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas

com Deficiência (2007), o Estatuto da Juventude (2013), a Lei Orgânica do Município

de Campina Grande – PB (1990), a Constituição do Estado da Paraíba (2009) e o

Plano Diretor (2006) da referida cidade.

A Pesquisa de Campo A Pesquisa de Campo, entendida como a técnica de pesquisa “utilizada com

o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema,

para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar,

ou, ainda, de descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles”, conforme

assevera Marconi e Lakatos (2010, p. 169). A pesquisa de campo foi realizada a

partir dos seguintes instrumentos: Observação sistemática, Registro Fotográfico,

Entrevista e Entrevista semiestruturada.

Tratando-se da Observação, recorreu-se a Marconi e Lakatos (2010, p. 171),

pois, para os autores, “a observação é uma técnica de coleta de dados para

conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos

da realidade”. A observação sistemática contribuiu para avaliar as políticas de

esporte e lazer adotadas em Campina Grande – PB e suas relações com as políticas

urbanas brasileiras.

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Assim sendo, a partir de uma observação sistemática, com uso de diário de

campo e registro fotográfico, buscou-se mapear os espaços, as áreas, os serviços e

os equipamentos de esporte e lazer de interesses físico – esportivos ofertados em

Campina Grande – PB, de iniciativas públicas os quais fizeram parte de um estudo

exploratório, com base em uma amostra intencional, organizada por zonas, a saber:

norte, sul, leste e oeste, com objetivo de caracterizar a oferta e o público nas

diversas áreas e também observar os seus elementos constitutivos, como:

localização, acessibilidade e rede de infraestrutura. As observações serviram ainda

para estabelecer o possível elo de ligação entre as diferentes fontes de dados e

estabelecer categorias de análise.

Participantes de entrevistas das seguintes categorias: Profissionais de

Educação Física que atuam em Projetos/Programas públicos de iniciativa municipal

na área de Atividade Física, Esporte e Lazer; Jornalistas e colunistas esportistas e

Presidente de Associação de Amigos de Bairro.

Profissionais de Educação Física que atuam em Projetos/Programas públicos de

iniciativa municipal na área de Atividade Física, Esporte e Lazer; sendo o lazer

voltado preponderantemente para os interesses físico-esportivos. Esta escolha se

deu por reconhecer a diversidade das possiblidades no campo dos interesses

culturais do lazer. Considerou-se a sua natureza subjetiva e abrangência, e ainda

com intuito de minimizar os possíveis “equívocos” de pesquisa, pois o campo do

esporte e lazer pode favorecer interfaces com o prisma social, artístico, cultural,

turístico, entre outros, dificultando assim o desenho da pesquisa. Desta forma,

esses foram pontos de partidas que levaram a pesquisadora delimitar nestes

interesses, mesmo levando em conta que não é a intenção de uma classificação

dicotômica entre os interesses culturais do lazer. Justifica-se este grupo por ser

tratado no presente estudo como categoria de intervenção, inseridos nos espaços

e serviços de esporte e lazer.

Jornalistas e colunistas esportistas. A formação deste grupo se deu por fazer

parte do campo midiático, entendendo-se como uma categoria que seja

considerada antenada ao campo do esporte e lazer, numa visão contemporânea e

crítico-reflexiva.

Presidentes de Associação de Amigos de Bairro. A escolha se deu por serem

considerados representantes da comunidade, vistos como recurso social

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diretamente relacionado com as demandas do bairro, com vistas à realidade e

suas necessidades.

A entrevista semiestruturada com a finalidade de avaliar as políticas de

esporte e lazer adotadas em Campina Grande – PB e suas relações com as políticas

urbanas brasileiras foi realizada com os gestores do poder público municipal de

Campina Grande – PB, da área de esporte e lazer e de planejamento urbano, que

estiveram durante as gestões do período de 2005 – 2012 e 2013 – 2016. A escolha

desses períodos se deu pelo fato da mudança de gestão de governo municipal, um

primeiro passou oito anos e o segundo encontrava-se durante o período de coleta de

dados na gestão. A escolha do referido instrumento se deu porque, caso se fizesse

necessário, seriam acrescentadas no roteiro da entrevista outras questões. Foi

entrevistada também a população usuária e não usuária dos equipamentos públicos

de esporte e lazer da cidade de iniciativa municipal, uma vez que os dados foram

coletados sob o prisma de quem é a ponta receptora, podendo assim o esporte e

lazer serem tratados como bens coletivos. Do ponto de vista dos não usuários, essa

categoria foi definida pela população que não fizesse uso dos equipamentos

anteriormente citados, sendo recrutados a partir da sua devida autorização.

O interesse pela entrevista se deu por contribuir numa análise qualitativa do

estudo e ainda com vistas a identificar como o esporte e o lazer vêm sendo definidos

em suas especificidades nas políticas públicas brasileiras; identificar qual o lugar e

como e esporte e o lazer vêm sendo promovidos nas políticas urbanas brasileiras;

analisar as políticas urbanas que vêm sendo adotadas nos municípios brasileiros,

com ênfases especiais às políticas voltadas para o esporte e lazer, e avaliar as

políticas de esporte e lazer adotadas em Campina Grande – PB e suas relações

com as políticas urbanas brasileiras.

Para Gaskell (2002), a entrevista tem como objetivo compreender

detalhadamente crenças, atitudes, valores e motivações em relação aos

comportamentos das pessoas em contexto sociais específicos. Para tanto, foi

utilizada a entrevista de natureza semiestruturada, que foi transcrita (incluindo

hesitações, risos, silêncios, bem como estímulo do entrevistador), conforme

preceitua Bardin (2009).

Quanto às fotografias foram utilizadas como o produto do registro, a partir

dos espaços, serviços, equipamentos de esporte e lazer de iniciativa pública

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municipal, como fonte documental da pesquisa. De acordo com Loizos (2002), a foto

é um registro importante das ações temporais e dos acontecimentos reais.

Foi realizada também uma entrevista com os organizadores/promotores na

área de esporte e lazer de interesses físico – esportivos, no cenário campinense,

com o intuito de favorecer elementos que possibilitassem a elaboração de

proposituras de políticas urbanas que potencializem o esporte e lazer na cidade.

Para análise dos dados, pautou-se na análise temática de conteúdo,

conforme proposta por Bardin (2011), uma vez que com os dados qualitativos,

considerou-se que no processo de análises das entrevistas procurou-se apreender

categorias, interpelações de silêncios, lacunas, contradições e conflitos

potencialmente manifestos no discurso falado livre, objetivando a apropriação e a

compreensão.

A Análise de Conteúdo A Análise de Conteúdo é uma das técnicas de tratamento de dados em

pesquisa qualitativa. Segundo Bardin (2009), a análise de conteúdo como método

torna-se um conjunto de técnicas de análises das comunicações, que utilizam

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição dos conteúdos das mensagens.

Análise de Conteúdo é definida por Bardin (2011) como:

Um conjunto de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção / recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2011, p. 47).

A definição de análise de conteúdo surge, no entanto, no final dos anos 1940

– 1950. Porém, só em 1977, há a sua publicação, conforme Bardin (2011) ressalta.

De acordo com Godoy (1995), a análise de conteúdo consiste em uma

técnica metodológica que se pode aplicar em diferentes discursos e a todos as

formas de comunicação, seja qual for a natureza do suporte. Para tanto, o

pesquisador busca compreender as características, estruturas ou modelos que estão

por trás dos fragmentos de mensagens. Deste modo, deve-se entender o sentido da

comunicação como se fosse receptor normal, e, principalmente, desviar o olhar,

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buscando outra significação, outra mensagem, possível de enxergar por meio ou do

outro lado da primeira.

Para Ander – Egg (1978), a análise de conteúdo pode ser quantitativa e

qualitativa; a análise qualitativa não rejeita qualquer forma de quantificação. Apenas

os índices é que são retidos de maneira não frequencial, podendo o pesquisador

recorrer a testes quantitativos. O que caracteriza a análise quantitativa é o fato da

inferência sempre que é realizada, ser baseada, na presença do índice (tema,

palavra, personagem, etc.), e não sobre a frequência de sua parição, em cada

comunicação individual.

A análise de conteúdo deve ter como ponto de partida uma organização.

Sendo assim, Bardin (2009, p. 121) apresenta as seguintes fases: a pré–análise, a

exploração do material e por fim, o tratamento dos resultados, ou seja, a inferência e

a interpretação. A pré-análise objetiva a sistematização para que o pesquisador

possa conduzir as operações sucessivas de análise. Portanto, num plano inicial, há

a escolha dos documentos a serem submetidos à análise, formulação de hipóteses

para elaboração de indicadores para a interpretação final.

As fases de análise de conteúdo, segundo Bardin (2011) estão

caracterizadas da seguinte maneira:

Pré–análise (fase de organização) – envolve a leitura “flutuante”, ou seja, o primeiro

contato com os documentos que serão submetidos à análise, a escolha deles, a

formulação das hipóteses e objetivos, a elaboração de indicadores que orientarão as

interpretações e a preparação formal do material. No presente estudo, as entrevistas

constituíram o corpus da pesquisa, com algumas questões que tiveram o tratamento,

a partir da referida técnica.

Após a leitura flutuante, passou-se à escolha de índices ou categorias, que

surgiram das questões norteadoras ou das hipóteses, e a organização destes em

indicadores ou temas. “Os temas que se repetem com muita frequência são

recortados do texto em unidades comparáveis de categorização para análise

temática e de modalidade de codificação para o registro dos dados” (BARDIN, 2011,

p. 100).

Fase de exploração do material – São escolhidas as unidades de codificação, ou

seja, compreende-se a escolha de unidades de registro – recorte; a seleção de

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regras de contagem – enumeração e a escolha de categorias – classificação e

agregação – rubricas ou classes, que reúnem em grupo de elementos (unidades de

registro) em razão de características comuns; classificação – semântico (estudo do

significado), sintático (função que a palavra exerce), léxico (acervo das palavras em

determinado idioma) – agrupar pelo sentido das palavras; expressivo – agrupar as

perturbações da linguagem tais como: perplexidade, hesitação, embaraço, outras da

escrita etc.; e categorização - permite reunir maior número de informações por

intermédio de uma esquematização e assim correlacionar classes de

acontecimentos para ordená-los. Com a unidade de codificação escolhida,

classificam-se em blocos que expressem determinadas categorias.

As categorias devem possuir certas qualidades, como: exclusão mútua –

cada elemento só pode existir em uma categoria; homogeneização – para definir

uma categoria, é preciso haver só uma dimensão na análise. Se existem diferentes

níveis de análise, eles devem ser separados em diferentes categorias; pertinência –

as categorias devem dizer respeito às intenções do pesquisador, aos objetivos da

pesquisa, às questões norteadoras, às características da mensagem etc.;

objetividade e fidelidade – se as categorias forem bem definidas, se os temas e

indicadores que determinam a entrada de elemento numa categoria forem bem

claras, não haverá distorções devido à subjetividade dos investigadores;

produtividade – as categorias serão produtivas se os resultados forem férteis em

inferências, em hipóteses novas, em dados exatos.

Fase de Inferência e Interpretação – A interpretação deverá ir além do conteúdo

manifesto do documento, pois interessa ao pesquisador o conteúdo latente, o

sentido que se encontra por trás do imediatamente apreendido.

Segundo Bardin (2011, p. 137), a inferência é “um instrumento de indução

(roteiro de entrevistas) para investigar as causas (variáveis inferidas), a partir dos

efeitos (variáveis de inferências ou indicadores, referências)”.

Durante a interpretação dos dados, é preciso retornar atentamente ao marco

teórico, pois ele dá embasamento e as perspectivas significativas para o estudo. A

relação entre os dados obtidos e a fundamentação teórica é que darão sentido à

interpretação.

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Para Godoy (1995) e Bardin (2011), as unidades de análise podem variar:

alguns pesquisadores escolherão a palavra, outras optarão pelas sentenças,

parágrafos e até mesmo o texto. A forma de tratar tais unidades também se

diferencia. Enquanto alguns contam as palavras e expressões, outros procuram

desenvolver a análise da estrutura lógica do texto ou de suas partes, e outros, ainda,

centram sua atenção em temáticas determinadas.

Em atendimento às exigências éticas de pesquisas na área de Ciências

Sociais, o estudo foi apreciado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual da

Paraíba, sendo o projeto de pesquisa aprovado sob o número de registro CAEE

59892116.1.0000.5187. As entrevistas foram realizadas, após o processo eleitoral

da esfera municipal, para que pudessem ser evitados ao máximo vieses, em virtude

da espontânea condição do cotidiano da cidade na época.

Para reconhecimento do campo de estudo, apresentam-se, a seguir,

algumas considerações sobre o Município de Campina Grande - PB.

O Objeto Geográfico do estudo O munícipio de Campina Grande – PB está localizado no Agreste paraibano,

na parte oriental do Planalto da Borborema, situado entre o litoral e o sertão. Fica a

120 km da capital do estado, João Pessoa. Foi fundada em 1º de dezembro de

1697, tendo sido elevada à categoria de município em 11 de outubro de 1864. Assim

sendo, no ano de 2014, celebrou o seu Sesquicentenário. A referida cidade exerce

grande influência política e econômica sobre o “Compartimento da Borborema”. Este

engloba cinco microrregiões, conhecidas como: Agreste da Borborema, Brejo

Paraibano, Cariri, Seridó Paraibano e Curimataú. Seu clima é equatorial semiárido.

De acordo com o IBGE (2010), a população estimada em 2015 é de 405.072

habitantes. Sua área de abrangência é de 594 km² e sua densidade demográfica de

648,31 hab/km2. O município destaca-se nas áreas de tecnologia, na informática, na

educação, no comércio e na indústria, principalmente, no setor calçadista e têxtil. É

vista como polo educacional, atendendo a uma demanda estudantil das cidades

circunvizinhas, e de maneira geral, de todas as regiões brasileiras, e com maior

evidência do Nordeste. A cidade vem cada vez mais sendo reconhecida pelo seu

desenvolvimento tecnológico e turístico no cenário mundial.

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A Região Metropolitana de Campina Grande (RMCG) foi a segunda criada

na Paraíba, através da Lei Complementar Estadual n. 92 de 2009. A matéria foi

aprovada pela Assembleia Legislativa da Paraíba no dia 17 de novembro de 2009 e

sancionada no dia 11 de dezembro 2009 pelo governo do estado. No início, a RMCG

foi formada por 27 municípios, em seguida, esse número se reduziu para 17, pois

seis municípios foram desagregados e agregados para formar uma nova região

metropolitana, a de Esperança. E após, outras mudanças, a partir do ano 2013 a

RMCG passou a ser formada por 19 municípios.

A Prefeitura Municipal de Campina Grande conta com a Secretaria de

Esporte, Juventude e Lazer – SEJEL, que tem como objetivo formular, planejar e

implementar a Política Municipal de Esporte e Lazer, coordenando as ações dela

decorrentes, além de gerir e articular as políticas direcionadas aos jovens dentro do

governo e junto à sociedade. A SEJEL tem também a responsabilidade de gerir os

espaços de Esporte e Lazer da Prefeitura Municipal de Campina Grande, como:

- Parque da Criança;

- Complexo Esportivo “O MENINÃO”;

- Vila Olímpica Plínio Lemos;

- Parque da Liberdade (em construção);

- Praça do Esporte e da Cultura (Malvinas, em construção) e

- Complexo Esportivo do Catolé, entre outros.

No tocante aos equipamentos de esporte e lazer existentes nas escolas

públicas municipais, de acordo com os dados da Secretaria de Educação do

município de Campina Grande – PB, e de forma específica pela Coordenação de

Educação Física Escolar, das 120 (cento e vinte) escolas públicas municipais, há 17

(dezessete) escolas com quadras cobertas, 04 (quatro) com quadras descobertas e

06 (seis) encontram-se em processo de construção; com previsão de aumento

desse número. A sua localização está distribuída da seguinte maneira:

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Quadro 01 – Escolas públicas municipais existentes com instalações esportivas, por tipo e

localização.

Escola Municipal Tipo Bairro/Distrito Zona

Alice Gaudêncio Quadra descoberta Castelo Branco Leste

Dr. Chateaubriand Quadra coberta José Pinheiro Leste

Dr. José Tavares Quadra coberta Santo Antônio Leste

Maria Cândida Quadra coberta Monte Castelo Leste

Ana Azevedo Quadra de areia Bairro das Nações Norte

Fernando Cunha Lima Quadra coberta Jeremias Norte

Luzia Dantas Quadra coberta Alto Branco Norte

Santo Afonso Quadra coberta Monte Santo Norte

Adalgisa Amorim Quadra coberta Jardim Verdejante Oeste

Advogado Otávio Amorim Quadra coberta Malvinas Oeste

Ageu Genuíno e Marechal Candido Rondon

Quadra de areia Ramadinha I Oeste

CEAI Elpídio de Almeida Quadra descoberta Ramadinha Oeste

Cristina Procópio Quadra de areia Santa Rosa Oeste

Lafayete Cavalcante Quadra coberta Malvinas Oeste

Leonardo Vitorino Guimarães Quadra descoberta Pedregal Oeste

Maria Salomé Quadra coberta Distrito de São José da

Mata Oeste

Padre Antonino Quadra descoberta Bodocongó Oeste

Paulo Freire Quadra coberta Serrotão Oeste

Anis Timani Quadra coberta Acácio de Figueiredo Sul

CEAI Antônio Mariz Quadra coberta Conjunto Ressurreição II Sul

CEAI Dr. João Pereira de Assis

Quadra coberta Catolé Sul

Félix Araújo Quadra descoberta Catolé Sul

Lions Prata Quadra descoberta Catolé Sul

Maria das Vitórias Quadra coberta Bairro das Cidades Sul

Melo Leitão Quadra coberta Quarenta Sul

Roberto Simosen Quadra coberta São José Sul

Selma Agra Vilarim Quadra coberta Cruzeiro Sul

Fonte: Elaboração própria – Dados da Coordenação de Educação Física Escolar (PMCG, 2016).

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O município de Campina Grande – PB conta também com escolas estaduais

e outros espaços ligados ao esporte e lazer. A cidade conta também com um estádio

com gestão estadual denominado Estádio Ginásio Ernani Sátiro, construído em

1975, conhecido como “O Amigão”, que se encontra em processo de revitalização,

sob acompanhamento de Secretaria Estadual Juventude, Esporte e Lazer.

Estrutura da tese

Os procedimentos metodológicos descritos resultaram, como estrutura da

tese, em seis capítulos.

O primeiro capítulo está intitulado – Corpo e Sociedade. Neste capítulo,

aborda-se o corpo, reconhecendo que a necessidade da sua compreensão esteja

arraigada às diferentes dimensões, sejam elas, biológica, fisiológica, física, social,

psíquica, econômica, religiosa, espiritual, simbólica e cultural, porém inter-

relacionadas, que marcam a condição do indivíduo, acompanhando-a ao contexto

das características societais, ligadas ao processo civilizatório, e, ainda, de

urbanização; onde o SER, o cuidado com o corpo, sejam concebidos para além de

uma ideologia de um “corpo perfeito” e uma perspectiva dual de indivíduo, mas

como um ser que pensa, que age, tem desejos, tem necessidades, tem limites,

expressa-se de diferentes formas, que mantém relações sociais com o mundo, com

ideais de indivíduo/de pessoa, que tem valores que ultrapassem o entendimento do

SER em função do TER e do APARECER; o entendimento do ser na coletividade

que ultrapasse paradigmas de uma sociedade de consumo, de espetáculo, de uma

lógica mercadológica e de um mundo globalizado, com consequências decorrentes

ainda do processo de industrialização e urbanização, e, assim possa ver na

atividade física, no esporte e lazer, oportunidades para a melhoria da saúde, numa

visão mais ampla, considerando a possibilidade de benefícios de diversas naturezas,

independente de idade, gênero, etnia, classe social, entre outras condições, como

também a melhoria da qualidade de vida e a vida em sociedade, assim concebendo

o esporte e o lazer como bens de consumo coletivo sob a égide democrática.

O Capítulo 2 apresenta-se com a denominação – Esporte e Lazer na História

da Humanidade. Evidencia o esporte sob seus aspectos históricos de maneira geral.

Logo após, enfoca-se a dimensão lúdica do esporte e lazer, bem como suas

categorias conceituais. Neste capítulo, tem-se a finalidade de trazer o esporte no

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panorama em que seja entendido como fenômeno que se expressa, através de

diferentes dimensões, seja como esporte educacional, de participação ou de

rendimento, refletidos em que condições e mecanismos devam ser levados em

consideração para que ampliem a sua importância na vida das pessoas e no

cotidiano das cidades, como também de que forma se consolidam e o que precisam

para ser enaltecidos, num panorama de diferentes práticas esportivas, sejam para

fins de lazer, saúde, entre outras perspectivas. Quanto ao lazer, estão apresentadas

suas várias abordagens, compreendendo-se como fenômeno que tem múltiplos

significados, diante da sua subjetividade e de uma visão histórica conflituosa, e, por

conseguinte, complexa.

Outro aspecto evidenciado é a relação entre esporte e lazer, uma vez que

ambos são campos de estudo, com possibilidades de imbricações. Entretanto, na

presente pesquisa, o esporte é entendido de natureza ampla e o lazer terá o

mergulho principalmente nos interesses físico-esportivos, embora tendo-se o

cuidado de não dicotomizar e não ter uma ideia rígida dos conteúdos culturais do

lazer. Ademais, o lazer não é concebido apenas como um conjunto de práticas, com

vistas meramente à satisfação pessoal, com ocupação de tempo liberado

individualmente, mas que seja entendido para além de um olhar meramente

funcionalista; entende-se o esporte e o lazer não como simples objetos de consumo

alienado, mas como valores diversos, acompanhando os valores pós-modernos

agregados à contemporaneidade, e, ainda, atrelados a uma dimensão lúdica, com

reflexos no processo de industrialização e urbanização e na divisão social do

trabalho. Valores esses que sejam fortalecidos e que ultrapassem a lógica

capitalista, mercadológica e do mundo globalizado.

O Capítulo 3 trata, especificamente, do Esporte e do Lazer no Brasil. E, em

seguida, identifica-se como o lazer e o esporte são entendidos nos aparatos legais

que os vêm normatizando. Desse modo, partiu-se da Declaração Universal dos

Direitos Humanos, logo após, para os diferentes documentos regidos nacionalmente.

O Capítulo 4 está intitulado: Políticas Públicas para o Esporte e Lazer no

Brasil. Aborda-se o papel do Estado e a importância da participação social para

implementação das políticas públicas. Posteriormente, enfatiza-se o esporte e seu

desencadeamento no contexto das políticas públicas; como também as conferências

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nacionais de esporte e lazer. O capítulo finaliza enfocando as políticas públicas

brasileiras de esporte e lazer.

O Capítulo 5 denomina-se O Esporte e Lazer nas Políticas Urbanas

Brasileiras. O texto discorre inicialmente sobre a dinâmica espacial e a questão

urbana, posteriormente acerca do planejamento urbano, questões ligadas aos

instrumentos de intervenção, planejamento e gestão urbanos, de forma específica no

cenário brasileiro; ressalta-se as suas primeiras iniciativas para formalização das

políticas urbanas, bem como o Programa de Aceleração de Crescimento e as

políticas urbanas para o esporte e lazer.

Este capítulo busca enfatizar de que maneira o esporte e lazer podem ser

pensados, a partir da questão urbana, baseada no contexto histórico, político,

ideológico, econômico e social do país. Por conseguinte, sob o ponto de vista de

política urbana, planejamento urbano, seus instrumentos de intervenção e gestão

urbanos, consideram-se diferentes desafios e possibilidades que venham a atender

às necessidades da população e, em especial, dos menos favorecidos, que estão à

margem social, econômica e cultural.

Assim sendo, faz-se necessário refletir sobre a importância do papel do

poder público em suas diferentes esferas, mas também da participação da

sociedade de forma efetiva, com vistas à consolidação de políticas públicas

consistentes, inclusivas, democráticas, em que a cidade possa ser entendida como

lugar que reúne a vida em suas diferentes dimensões, ou seja, econômica, política,

cultural; e ainda que o esporte e o lazer sejam vistos e tratados como direitos sociais

e que venham qualificar a vida das pessoas e da população, não negados e não

afastados das demais questões que atrelam à política urbana de forma articulada,

como: a questão habitacional, a mobilidade urbana, a segurança, as condições

sanitárias, saneamento, ambientais e econômicas, com os equipamentos sociais,

que ultrapassem os limites financeiros, bem como interesses das classes altas,

tomando como base o Estado Democrático de Direitos, mesmo reconhecendo as

desigualdades sociais e regionais que historicamente assolam o país.

Quanto ao Capítulo 6, intitulado: Esporte e Lazer em Campina Grande – PB,

inicialmente, trata-se como o esporte e o lazer se apresentam na Lei Orgânica do

Município (1990) e sobre questões ligadas ao Plano Diretor da cidade (2006). Neste

sentido, à luz do referido plano, de forma específica, tem-se o lazer no contexto da

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discussão na função social da cidade; do esporte e lazer na temática de

sustentabilidade; no conteúdo ordenamento da ocupação do solo; no Sistema de

Mobilidade Urbana; na Política Municipal de Meio Ambiente; na questão voltada para

as atividades econômicas e de serviços públicos; na Política Municipal de

Desenvolvimento, Econômico, Científico e Tecnológico; e na Política Municipal de

Turismo. Essas temáticas mencionadas anteriormente foram exploradas no Plano

Diretor de Campina Grande (2006), identificadas através das unidades de registro,

as palavras: esporte (desporto) e lazer.

Posteriormente, estão elucidados os resultados e a discussão da pesquisa

de campo, sendo apresentado inicialmente o mapeamento dos espaços, serviços e

equipamentos de interesses físico-esportivos de Campina Grande – PB. Em

seguida, discorre-se sobre o esporte e lazer e sua relação com a política urbana na

visão dos usuários e não-usuários dos espaços, serviços e equipamentos de esporte

e lazer públicos de iniciativa municipal, e, ainda, na concepção dos gestores,

profissionais de Educação Física, Presidentes de SABs, Jornalistas na área de

esporte, bem como é apresentado um perfil de atividades física, esportivas e de

lazer da cidade, que estão sendo executadas pela iniciativa privada que vem se

destacando em Campina Grande - PB, segundo indicação das pessoas da área,

ações desenvolvidas e, a partir da sua propagação na cidade. Ao término do estudo,

encontram-se as conclusões da tese e por último as referências utilizadas.

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CAPÍTULO 1 – CORPO E SOCIEDADE

1.1 Dimensões sobre o corpo

Para tratar do esporte e lazer na vida em sociedade, tem-se como ponto de

partida algumas considerações sobre o corpo, as quais buscam apontar panoramas

que permeiam a sua discussão sob diferentes aspectos, seja numa condição que

defenda o corpo não isolado à pessoa, não concebido de forma fragmentada. O

corpo é visto como condição humana e que está presente nas sociedades humanas,

mantendo-o em relação com o mundo; reconhecendo que as sociedades dão ao

corpo diferentes sentidos e os estudiosos elucidam diferentes representações do

corpo. Partindo do pensamento de um filósofo grego, o corpo humano tem suas

simbologias que marcam a existência humana. “Platão considerava o corpo humano

como o túmulo da alma, imperfeição radical de uma humanidade cujas raízes não

estão mais no Céu, mas na Terra” (LE BETRON, 2003, p. 13).

O corpo, nas sociedades tradicionais, de característica comunitária e

holística, segundo Le Breton (2011), numa visão antropológica, não é um objeto de

separação, e o ser humano está imbricado ao cosmos, à natureza e à comunidade;

sendo as representações do corpo, as representações do ser humano e da pessoa.

As representações das tradições populares, a exemplo do curandeirismo, ilustram

esse sentimento. O africano tradicional está mergulhado no cerne do cosmos, de

sua comunidade, permeando a linhagem de seus ancestrais, mantendo uma espécie

de intensidade, conectada a diferentes níveis de relações, representando o princípio

de sua existência.

O corpo, entendido como elemento separável do ser humano, é encontrado

nas estruturas sociais de tipo individualista, nas quais os seres humanos estão

separados uns dos outros, onde o corpo funciona como um marco de fronteira para

demarcar perante os outros a presença do sujeito. Para Le Breton (2011, p. 32), o

corpo é “fator de individuação”. Numa estrutura do tipo individualista, o corpo

funciona como limite de fronteira, “fator de individuação”, como defende Durkheim

(2003), lugar e tempo de distinção, ou seja, uma espécie de marco de fronteira que

encerra a realidade do sujeito e o distingue dos outros. Trata-se de pensar a relação

indivíduo e sociedade e, nessa relação, sobre a construção social dos sentimentos e

sua relação com o corpo.

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Em contrapartida, nas sociedades do tipo comunitário, não existe elemento

de individuação, pois o sentido da existência do ser humano caracteriza uma

submissão ao grupo, ao cosmos, à natureza, pois o próprio indivíduo não se

diferencia do grupo. Para o autor, nas sociedades ocidentais, o ser humano é

separado do cosmos, dos outros e de si mesmo. O corpo é dissociado do sujeito e

percebido como um de seus atributos, uma vez que fizeram do corpo um ter, mais

do que uma origem identificadora. Nas sociedades ocidentais do tipo individualista,

de acordo com Le Breton (2011, p. 37), o corpo funciona como “interruptor da

energia social” e nas sociedades tradicionais, o corpo é a “conexão da energia

comunitária”, pois é através do corpo que o ser humano comunica-se com os

diferentes campos simbólicos, dando sentido à existência coletiva.

O corpo na Modernidade é resultado do recuo das tradições populares e do

advento do individualismo ocidental, demarcando a fronteira entre um indivíduo e

outro. Nas relações entre corpo e modernidade, instala-se uma concepção de corpo

paradoxal, de um lado, visto como suporte do indivíduo, fronteira de sua relação com

o mundo; e de outro modo, o corpo dissociado do ser humano ao qual confere a sua

presença, desta feita, através do modelo privilegiado da máquina.

Le Breton (2011) afirma que o recuo progressivo do riso e das tradições da

praça pública demarcam o advento do corpo moderno como instância separada,

como sinal de diferenciação de um ser humano em relação ao outro, ao contrário do

corpo na sociedade medieval, a exemplo das tradições carnavalescas, em que o

corpo não é distinguido do ser humano.

No século XVI, nas camadas eruditas da sociedade, surge o corpo racional,

marcando a fronteira de um indivíduo em relação ao outro, a clausura do sujeito.

Para Le Breton (2011, p. 48), “um corpo liso, moral, sem aspereza, limitado, reticente

a toda transformação eventual”. A partir das representações do corpo humano, nas

tradições populares, ele é considerado como vetor de inclusão e não é

independente, haja vista que está imbricado com o campo de força e poder de ação

sobre o mundo e sendo influenciado por ele. Assim sendo, o corpo é um vinculador

do ser humano a todas as relações e energias que percorrem o mundo, pois ele não

é universo independente, fechado em si mesmo, à imagem do modelo anatômico,

dos códigos de saber – viver ou do modelo mecanicista.

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Com o entendimento de ser indivíduo, de ser si mesmo, antes de fazer parte

de um membro de uma comunidade, o corpo se torna os limítrofes que precisam

marcar a diferença de um ser humano em relação ao outro. O tecido comunitário,

que reunia há séculos, apesar das diferenças sociais, as distintas ordens da

sociedade, sob o olhar da teologia cristã e das tradições populares, começa a se

expandir. A estruturação individualista atravessa pouco a pouco no seio do universo

das práticas e compreensões no Renascimento, e de forma limitada em princípio.

Por vários séculos, a certas camadas sociais privilegiadas, a certas zonas

geográficas, o indivíduo se diferencia de seus semelhantes. Ao mesmo tempo, o

recuo, em seguida, o abandono da visão teológica da natureza, leva-o a considerar

o mundo que o cerca, que apenas o ser humano tem o poder de fabricar. Essa

mudança do lugar do ser humano no seio do cosmos particulariza as camadas

burguesas. No Renascimento, há um retorno aos ideais gregos, com a

predominância de uma formação moral da humanidade, com liberdade e

solidariedade.

No universo de valores medievais e renascentistas, o ser humano está

tomado pelo universo, ele condensa o cosmos. O corpo não é separável do ser

humano e do mundo, pois o ser humano é o cosmos. Os anatomistas, antes de

Descartes e da Filosofia mecanicista, fundam um dualismo que é central na

modernidade e não somente na Medicina, um dualismo que distingue por um lado o

ser humano e de outro, seu corpo. Deste modo, com os anatomistas surge o

dualismo contemporâneo que considera o corpo isoladamente; eles distinguem o ser

humano de seu corpo. De acordo com Le Breton (2011, p. 72), “o corpo está

associado ao ter e não ao ser”. E, por consequência de uma participação social, o

indivíduo encontra-se dividido ontologicamente em corpo e espírito. Para os filósofos

mecanicistas, o corpo não é um instrumento da razão, distinguido da presença

humana, torna-se insignificante.

No pensamento de Descartes (1996), numa filosofia mecanicista do século

XVII, o corpo, senão, o ser humano todo inteiro é comparado a uma máquina, ou

seja, o modelo do corpo é uma máquina, o corpo humano é uma mecânica

discernível das outras apenas pela singularidade de suas engrenagens. O ser

humano para ele é uma condensação de um espírito que só encontra sentido em

pensar, e um corpo, ou antes, uma máquina corporal, que se reduz à sua extensão.

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Friedmann (1973) afirma que o fato dos movimentos técnicos supérfluos serem

movimentos biológicos necessários foi o primeiro obstáculo encontrado por essa

assimilação meramente tecnicista do ser humano à máquina. “Não se compara a

máquina ao corpo, compara-se o corpo à máquina” (LE BRETON, 2003, p. 19; LE

BETRON, 2011, p. 395). Le Breton (2011) diz que a metáfora de comparação do

corpo à máquina leva a uma reparação para dar ao corpo uma dignidade que não

seria capaz de ter permanecido somente um organismo, porém para o mesmo se o

corpo fosse realmente uma máquina, não envelheceria, escaparia da precariedade e

da morte.

O saber biomédico é, de certa forma, a representação marcadamente do

corpo humano na contemporaneidade, seja no âmbito universitário, pesquisas,

laboratórios, fundando a medicina moderna. Porém, os saberes sobre o corpo

apresentados nas tradições populares são vários, os quais repousam antes no saber

– fazer ou no saber – ser; não isolam o corpo do cosmos. Desta forma, “o corpo é

sempre uma presa do mundo, uma parcela não destacada do universo” (LE

BRETON, 2011, p. 131). Mesmo esse saber hoje sendo fragmentado, não

desapareceu nos campos. Para Terra (2007), será a natureza biológica o maior

palco de explicação do corpo na sociedade ocidental, por meio principalmente da

Medicina, na qual desmembrar o corpo, conhecer suas funções, suas inervações,

seus líquidos constituintes vem sendo seu constante desafio.

Nas sociedades ocidentais encontram-se várias imagens do corpo, de certo

modo, organizadas em rivalidade uma em relação às outras. Tem-se excessiva

tendência a acreditar que o modelo biomédico suscita unanimidade. Reconhece-se

que os diferentes saberes sobre o corpo são admitidos. A saúde tem sua

importância, pois nas condições habituais da vida, o corpo não para de produzir e de

registrar sentido, encontra-se de uma tarefa a outra, relacionando-se com o

ambiente em um tecido contínuo de sensações. Porém, o ser humano ocidental é

estimulado pelo sentimento de que seu corpo, de certa maneira, é outro que não ele,

uma vez que sua identidade de substância entre o ser humano e estabelecimento

corporal encontra-se abstratamente rompida pela ideia de ter um corpo. Neste

panorama, como o ser humano não poderia ser diferenciado do corpo que lhe dá

forma e rosto, sendo este último presente na fonte de todas as ações humanas.

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Segundo Rago (2007, p. 53), “como forma de sujeição e de renúncia a si

mesmo, o culto contemporâneo do corpo está nos antípodas do „cuidado de si‟ do

mundo greco-romano”. A autora ainda completa afirmando sobre a importância do

retorno a si mesmo, a partir de todo trabalho ético – estético de elaboração pessoal.

Tomando como base o ideal da beleza desde as suas origens, no século XVIII, que

preconizava harmonia, proporção nas formas corporais, virilidade e moderação

adquiridas com atividade física, esporte e ginástica. No século XIX, a beleza torna-

se moda como forma de escultura do corpo, tendo por função criar homens

saudáveis e fortes para a nação. O cuidado de si para a mesma pode ser uma forma

de facilitar a relação com o outro. Ademais, o interesse em conhecer-se, dar maior

atenção à saúde e os melhores cuidados com o próprio corpo, hoje é visto de forma

mais esclarecida. Para Sennet (1997), o cuidado de si, da aparência e a higiene

pessoal fazem parte da civilidade.

Os estudos do corpo ganham cada vez mais relevância, frente à

impossibilidade de estudar o ser humano em sociedade sem fazê-lo, tomando a

história de sua vida; assim sendo, realizar a história do ser humano é realizar a

história do que o constitui, entendendo o corpo como materialidade humana, uma

vez que nesse lugar de materialidade humana, o corpo, passou e passa por várias

tentativas de sair do desconhecimento. Todavia, na concepção de Durkheim (2003),

a sociedade e os fenômenos sociais não podem ser explicados em termos

biológicos ou psicológicos meramente, uma vez que os fatos sociais não podem ser

reduzidos à forma material, como no materialismo histórico.

Na visão de Mauss (1974, p. 14), “para definir o social como realidade,

considera-se que o social só é real quando integrado a um sistema”. Desta forma,

ressalta como primeiro aspecto o entendimento de fato social total, só pela simples

integração das questões descontínuas: familiar, técnico, econômico, jurídico,

religioso. Além disso, é necessário, em uma experiência individual, de forma integral

e que ao mesmo tempo considerem-se os aspectos físico, fisiológico, psíquico e

sociológico de todas as condutas. Desta forma, o fato social total apresenta-se nas

dimensões propriamente sociológica, na dimensão histórica e a físico-psicológica. O

estudioso ainda completa que só nos indivíduos esta tríplice abordagem pode ser

feita. Mauss (2003) para interpretar as relações entre o indivíduo e o grupo,

mantinha a relação entre o fisiológico e o social, desde os anos 1926. Ademais, para

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ele, através da educação das necessidades e das atividades corporais é que a

estrutura social imprime sua marca nos indivíduos.

A tríade dar – receber – retribuir são três momentos distintos cuja diferença

é fundamental para a constituição e manutenção das relações sociais. Mauss (2003)

ainda demonstrou que o valor das coisas não pode ser superior ao valor da relação

e que o simbolismo é fundamental para a vida social. Ele chegou a esta

compreensão a partir da constatação de que as modalidades de trocas nas

sociedades arcaicas não são apenas coisas do passado, tendo importância

fundamental para se compreender a sociedade moderna. Semelhantes modalidades

de trocas aparecem para ele, como um fato social total que se revela, com base em

duas compreensões do total: totalidade no sentido de que a sociedade inclui todos

os fenômenos humanos de natureza econômica, cultural, política, religiosa, entre

outros, sem haver nenhuma hierarquia prévia que justifique uma economia natural

que precederia os demais fenômenos sociais. Totalidade, também no sentido de que

a natureza desses bens produzidos pelos membros das comunidades não é apenas

material, mas também simbólica.

A Teoria da Dádiva vem sendo resgatada como um modelo interpretativo

para se pensar os fundamentos da solidariedade e da aliança nas sociedades

contemporâneas. A dádiva está presente em todas as partes e não diz respeito

apenas em momentos isolados e descontínuos da realidade. O que circula tem

várias denominações: chama-se dinheiro, carro, móveis, roupas, mas também

sorrisos, gentilezas, palavras, hospitalidades, presentes, serviços gratuitos, dentre

muitos outros. Para Mauss (2003), aquilo que circula influi diretamente sobre como

se formam os atores e como se definem seus lugares em sociedades. Além disso,

diferentemente dos outros animais, para o autor, o ser humano se caracteriza pela

presença da vontade, da posição da consciência de uns sobre os outros, das

comunicações e ideias, da linguagem, das artes plásticas e estéticas, dos

agrupamentos e religiões, e ainda, “das instituições que são os traços da nossa vida

em comum” (MAUSS, 2003, p. 319 - 320). Deste modo, rompe com uma concepção

positivista de sociedade, que privilegia um recorte empirista e materialista da

realidade social; para inserir as dimensões gestuais, afetivas e ritualísticas.

Desde a antiguidade, entender esse corpo que sofre com as doenças, que é

depositório do pecado, teve na Religião suas pioneiras explicações e na Medicina

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seus primeiros estudos. Contudo, dentre as variadas possibilidades de estudo do

corpo, pode-se conhecer como se modificaram os cuidados de si, os hábitos de

higiene, as preocupações com a beleza, o tratamento de doenças, os seus hábitos

de civilidade. Como ressalta Sennet (1997), a história da cidade tem na experiência

corporal suas marcas, sendo mencionados os poderes da voz e dos olhos, o papel

da nudez, o calor dos corpos, os banhos e os batismos, o corpo religioso, a pulsação

do sangue no corpo, a higienização dos corpos, as suas posturas, vestimentas etc.

Para Garcia (2005), cidade é o espaço político de uma existência que inicia, decorre

e termina localmente, porém é ainda, a dimensão subjetiva, individual e pessoal.

Deste modo, não se concebe cidade sem seus habitantes.

Segundo Le Breton (2011), Simmel foi o pioneiro a conferir uma descrição

importante do corpo na vida cotidiana e observou o quanto o contexto social exercia

influência sobre as orientações sensoriais; sua compreensão da sociedade como

fenômeno ao mesmo tempo é material e simbólico. Para Le Breton (2011), as

estruturas urbanas facilitam um constante emprego do olhar, porém a socialidade

ocidental mostra-se um tanto quanto distante por intermédio dos imperativos

arquiteturais das cidades. O autor diz que, nas cidades funcionais, racionalmente

concebidas, parecem rejeitar o ser humano e sua experiência sensorial. Acrescenta

que, além do barulho, dos odores desagradáveis, a experiência do ser humano na

cidade resume-se só na visão, como veículo da apropriação pelo ser humano de seu

meio ambiente. Desta feita, o ser humano da cidade mantendo uma relação física

com os lugares, estaria vivendo numa maior intimidade com seu corpo, propiciando

o desenvolvimento sensorial diferenciado, seja nos terrenos do esporte, nos

ginásios, entre outros.

Para o ser humano em deslocamento, conforme o referido autor importa

apenas o olhar, é seu próprio corpo que faz obstáculo ao seu avanço. As sociedades

ocidentais trocaram a raridade dos bens de consumo pela escassez do tempo,

configurando-se o mundo do ser humano que tem pressa. Nesse contexto, a

vontade de exercitar fisicamente é reduzida pelos diferentes obstáculos que

delimitam o espaço, sejam dentro da própria habitação ou fora dela, sendo o corpo

reduzido a uma gama de necessidades arbitrariamente definidas; os tecidos urbanos

inteiramente dominados pela circulação de automóveis parecem um simulacro:

corpo funcionalizado, racionalizado, despedaçado; com base numa ideologia das

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necessidades que o fragmenta e o priva da natureza simbólica que o envolve. De

outro modo, na casa tradicional, a totalidade da experiência corporal na visão de Le

Breton (2011) é evidenciada.

Na dimensão sensorial, o barulho é considerado na vida contemporânea,

como um elemento que mais perturba o ser humano ao longo do cotidiano, sendo

apontado como o som elevado à posição de estresse. No tocante aos odores, do

contrário das outras sociedades, as sociedades ocidentais não os colocam em uma

posição estética. O seu lugar é mais aquele de um sentimento do belo.

Diante desse contexto, o corpo, em quaisquer que sejam as sociedades

humanas, está significativamente presente. No entanto, as sociedades podem optar

em colocá-lo de forma obscura ou à luz da sociabilidade e, ainda, a todo momento o

sujeito simboliza por meio do seu corpo a tonalidade de sua relação com o mundo e

toda sociedade implica a ritualização das atividades corporais. Conforme Le Betron

(2003, p. 20), “a relação com o mundo era uma relação pelo corpo”.

De acordo com Le Breton (2011), a exploração sensorial, as práticas

corporais, a busca de uma melhora, por meio do melhor uso físico de si,

marcadamente no engajamento energético com o mundo, incorporada por um

conjunto de signos, ou seja, saúde, a forma, a juventude, entre outros, responde

ainda à necessidade de restaurar um enraizamento antropológico tornado precário

pelas condições sociais de existência da Modernidade. Mas o autor ainda diz que, a

aliança ontológica do ser humano com o seu corpo não é reconsiderada senão de

forma voluntária e provisória por exercícios ou por engajamento que se impõem,

mas não solucionam o problema das funções corporais no desencadear da vida

cotidiana. A antropologia diz que o corpo é a condição do ser humano, o lugar de

sua identidade. A versão moderna do dualismo opõe o ser humano ao seu corpo, e

não mais, como tempos atrás, a alma ou espírito a um corpo. Para Le Betron (2003),

no discurso científico contemporâneo, o corpo é concebido como uma matéria

indiferente, simples suporte da pessoa.

A progressão social do esporte impõe um modelo de juventude, de

vitalidade, de sedução, ou de saúde, ideia fortalecida pela publicidade, na qual o

corpo é visto como limpo, claro, jovem, sedutor, sadio, flexível, esportivo, ou seja,

não é o corpo do cotidiano. A esportivização da vida cotidiana atenuou a diferença

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entre os aparatos da cidade e do esporte, e assim, na modernidade, surgem novas

maneiras de falar do corpo.

A mudança atual de status do corpo, no campo do discurso social, gera o

prazer de ser quem se é sem que interfiram na ideia de si os padrões estéticos em

vigor. Le Breton (2011) assevera que os indicadores sociais mais significativos de

uma “liberação” medida a partir do corpo seriam a integração como parceira integral

no campo da comunicação.

O corpo impõe-se hoje como tema de preferência do discurso social, lugar

geométrico da reconquista de si; lugar de combate desejado com o ambiente graças

ao esforço, ou à habilidade; lugar privilegiado de bem-estar ou do bem aparecer. De

um lado, o corpo desprezado, destituído, da tecnociência, e de outro, o corpo

referenciado, da sociedade de consumo.

O corpo do ser humano nos anos de 1950, ou mesmo de 1960, estava

infinitamente mais presente à sua consciência, seus recursos musculares estavam

mais no coração da vida cotidiana. A caminhada, a bicicleta, o banho, as atividades

físicas ligadas ao trabalho ou à vida doméstica ou pessoal, favoreciam a base

corporal da existência. As práticas corporais situam-se em um cruzamento entre a

necessidade antropológica da luta contra a fragmentação sentida em si e o jogo dos

signos que acrescenta à escolha de uma atividade física um complemento social

decisivo. A preocupação crescente com a saúde e prevenção levam também ao

desenvolvimento de práticas físicas, à uma atenção mais consciente ao seu corpo, à

sua alimentação, ao seu ritmo de vida; induzindo à busca de uma atividade física

regular.

Boltanski (2004), em seus estudos, ressalta que as classes populares que

não prestam atenção ao seu corpo, que o usam principalmente como um

instrumento e que lhe pedem, antes de mais nada, que funcione, a doença se

manifestará fortemente, porque não se aperceberam dos sinais ou se recusaram a

percebê-los, ao contrário das classes superiores. O pesquisador ainda afirma que o

corpo é igual a todos os outros objetos técnicos, cuja posse marca o lugar do

indivíduo na hierarquia das classes, demarcado pela cor, textura, volume, amplidão,

forma ou velocidade de seus deslocamentos no espaço, é um sinal de status.

Uma nova dimensão da realidade se oferece, através da universalidade do

espetáculo, e o ser humano se faz essencialmente pela visão, em detrimento de

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outros sentidos, cujas imagens tornam-se o mundo, ou seja, a mídia, tecnologia de

ponta, fotografia, vídeo etc. Além disso, floresceu um novo mercado que privilegia o

corpo, desenvolveu-se nesses últimos anos em torno dos cosméticos, dos cuidados

estéticos, das salas de ginásticas, dos tratamentos de emagrecimento, da

manutenção da forma, da busca do bem estar ou do desenvolvimento das terapias

corporais. A partir dos anos de 1970, com o grande crescimento e diversificação das

indústrias da moda, do vestuário e dos cosméticos, entre outros, há também uma

expansão das academias de ginástica.

Para Le Betron (2003), o corpo é um desafio político importante, é um ponto

crucial nas sociedades contemporâneas. É um desafio nos estudos do corpo lidar

com a visão do modelo de corpo perfeito que vem instaurado: corpos magros, fortes,

esguios, lépidos, musculosos, desenhados, assexuados, que dão as mulheres e

homens novas perspectivas frente ao desejo de ser - ter esses novos padrões. O

corpo vem sendo estudado intensamente, não só pelas áreas médicas, na busca de

sua melhor depuração, distante das doenças, má formação, mas também pela

mídia, turismo, tecnologia, entre outras. Esse modelo de corpo passa a viver a

ordem das “anatomias” emergentes e o “bug muscular” que segundo Fraga (2001)

configura-se como inerente ao mundo condenado a aparência e ao consumo, sem

ter noção de que corpo se pode ter-ser hoje.

Na cultura americana, os anos 1980 conheceram um importante

desenvolvimento do mercado do músculo e do consumo de bens e serviços voltados

para a manutenção do corpo. As práticas e as representações do corpo na

sociedade de consumo de massa são enveredadas por mecanismos da regulação

dos fluxos, das matérias, das energias a incorporar, cada indivíduo passa a gerir o

seu próprio corpo. As primeiras preocupações voltadas para as práticas de saúde

continuam próximas de uma visão puritana de controle negativo do corpo. Os

regimes e as estâncias de água eram concebidos para evitar qualquer estimulação

do organismo, vistos mais como práticas de cura. No entanto, a partir de estratégias

preventivas, cotidianas, regulando as atividades corporais, começou a se buscar

mais a produção de energias do que restringi-la.

Sant‟Anna (1995) assevera que as modificações das maneiras de controle

do corpo inscrevem-se na secularização progressiva das práticas religiosas, no

contexto de urbanização e de uma industrialização que modificaram marcadamente

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os modos de vida. No decorrer da primeira metade do século XIX, o interesse

suscitado pelo desenvolvimento corporal vai alterar sensivelmente as imagens do

corpo masculino. A partir de 1840, o modelo de homem musculoso influenciará a

imagem ideal do corpo do homem americano. A popularidade dos esportes e das

“curas” dos movimentos suecos cresce paralelamente ao gosto pelo boxe e pelo

espetáculo dos exercícios de força, que enaltecem a anatomia dos primeiros

homens fortes. Por conseguinte, depois de 1850, as atividades físicas organizadas

adentram à escola e na vida adulta nos Estados Unidos. No final do século XIX, o

tipo atlético, o corpo forte do esportista constitui-se a norma – padrão, e, ainda se

tomou consciência da necessidade de lutar contra os males de uma vida sedentária,

ligada aos empregos em escritório, estresse urbano. A partir de 1860, foram

construídas várias academias nas cidades.

O discurso médico e as condições próprias da era industrial contribuíram

para uma consciência mecânica do corpo, importante para o pensamento esportivo.

Entre 1870 - 1880, a cultura física tornou-se parte constituinte da cultura americana,

com ênfase ao esporte. Por conseguinte, a imagem de homens fortes, aliados a

publicidade, expande no mercado a aparelhagem muscular e aos poucos, ultrapassa

os limites das academias, penetram no cotidiano das pessoas, ocupando o tempo do

lazer, em busca do cuidado muscular da forma corporal. Sant‟Anna (1995) diz que, a

partir dos anos de 1920, modifica-se o sentido pelo gosto do americano pela

atividade física. A ética puritana do trabalho havia se incorporado nas práticas

esportivas, como se a utilidade social destas práticas devesse ser julgada só de

acordo com seu critério. Porém, no final do século XIX, esta ideia de organização

racional e de ordem moral já estava em decadência. Durante as primeiras décadas

deste século, esta lógica foi sendo substituída por uma concepção um pouco

diferente das finalidades da cultura física. O espírito de competição, a vontade de

vencer, tinham, mais ainda que no passado, sido investidos pelo esporte, e invadiam

os domínios da vida social.

Desde 1930, a atividade corporal é destacada no cerne da felicidade, e em

particular, a partir de 1960, a busca hedonista que o espetáculo esportivo sucede foi

enaltecida pelos estudos na área de Psicologia. Sant‟ Anna (1995) assinala que nos

Estados Unidos, a cultura do corpo é uma das maneiras essenciais de compromisso

estabelecido pela ética puritana com as necessidades de uma sociedade de

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consumo de massa. E, ao longo dos anos, novas tendências esportivas surgem, o

prazer pela prática esportiva cresce, por consequência surge a produção de novos

tipos de gestos esportivos, novos espaços de exercícios. Por conseguinte, o

investimento vigoroso e quase artesanal do corpo, que os esportistas tradicionais

exercem, dando à prova suas qualidades de força e de resistência, segundo a

autora, parece dar lugar a outros tipos de investimentos lúdicos do corpo.

De acordo com Gleyse (2007), a partir dos anos 1980, o esporte é entendido

como um sistema complexo, mas não homogêneo, pois é um conjunto de práticas

esportivas ligadas notadamente àquelas do habitus corporais. O esporte para Elias e

Dunning (1992) é uma continuação do processo de civilização dos costumes. Os

campeonatos internacionais substituíram a guerra real, gerando para um grande

número de pessoas no mundo globalizado guerras eufemizadas e sem mortes.

Portanto, o esporte imbricado com a qualidade de vida e na vida em

sociedade, imbuído pela importância nos diferentes olhares sobre o corpo, de

acordo com a realidade cultural e social, remete na contemporaneidade uma relação

com as características com a sociedade globalizada, de consumo e de espetáculo.

O contexto social e cultural interfere no corpo em suas diversas maneiras de falar, andar, pular, soltar, dançar, sentar, ir, ficar de pé, dormir, tocar, ver, viver e morrer, ou seja, o indivíduo “inventa” seu corpo no diálogo com a sociedade. As convenções sociais revelam a relação do indivíduo com o seu meio social através de ritos, etiquetas, características gestuais, formas de percepção, expressão de sentimentos, distinção de classe, códigos culturais e sociais, jogos de aparência e sedução, erotização, adornos, moda, técnicas corporais, marcas de distinção, entretenimento físico, lazer, prazer, sexo, relação com o sofrimento, com a dor, etc (FERREIRA et al, 2013, p. 88).

A vida do homem primitivo, do homem do campo, com contato com a

natureza, diferentemente do homem urbano, viveria de acordo com as necessidades

naturais, sob o ponto de vista de Carvalho e Sabino (2013, p. 17-18), ao dizerem

que:

A vida do homem primitivo, ou no mínimo a vida do homem do campo próximo à natureza e ao contrário da existência do homem urbano, seria verdadeiramente feliz e harmônica, justa e sem desigualdade posto que o homem do campo, da selva ou mesmo da roça viveria de acordo com suas necessidades “naturais”, não corrompidas pela vida das chamadas sociedades civilizadas.

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De outro modo, Giddens (2002) compreende que na possibilidade da

reflexão sobre o fluxo de informações sociais e psicológicas, o indivíduo busca

práticas com o intuito de suprir suas necessidades e ocupar suas carências de

acordo com sua autoidentidade. Essa expansão de códigos, signos e influências

sociais e culturais nas cidades grandes espelha no corpo o que o cotidiano urbano

impõe nos grupos. Conforme o referido autor, para os indivíduos não submergirem

na desordem e no estresse do dia a dia, buscam viver com saúde, envolvidos em

relações sociais e ampliando a percepção, seus afetos e sentidos. Assim sendo,

volta-se o olhar para os cuidados com o corpo, desde a alimentação saudável até as

diversas práticas e atividades físicas. De acordo com Carvalho e Sabino (2013),

surge, nos anos 2000, uma utopia da saúde perfeita. Porém, não mergulhado nessa

guisa, muito embora, reconhecendo os possíveis caminhos enveredados para o

entendimento da saúde e, ainda, não negando a importância das diversas áreas de

conhecimento, para uma melhor compreensão sobre o corpo, também sob a ótica

dos benefícios do esporte e lazer num contexto complexo da sociedade

contemporânea, antenados às políticas urbanas.

1.2 Sociedade e dimensões sobre o corpo na Contemporaneidade

As necessidades podem ser consideradas naturais e evidentes por si

mesmas, ou então vistas como subjetivas, como carências, predileções, desejos,

que dependem dos interesses individuais e coletivos. Em termos de senso comum,

ser um consumidor é ter conhecimento de quais necessidades e as formas de

satisfazê-las, desta maneira, não vistas como um conceito social. A cultura de

consumo é uma maneira de organização de sociedade, cotidianamente. Para Slater

(2002), o consumo de bens e serviços exige mobilização de recursos sociais,

realizado segundo acordos específicos relativos à organização produtiva,

capacidades tecnológicas, relações de trabalho, propriedade e distribuição. Esses

acordos alcançados, a forma pela qual as relações de produção e de consumo

interpõem-se, colocam o consumo no centro das questões acerca do tipo de

sociedade que somos. Segundo este sociólogo, a cultura de consumo surgiu no

Ocidente, a partir do século XVIII, entendida como uma cultura moderna,

progressiva, livre, racional; que se seguiu à industrialização. Ao tratar de sociedade

moderna como uma cultura de consumo, não se refere apenas a um determinado

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tipo de necessidades e objetos, considerando os valores dominantes de uma

sociedade como valores que não só são organizados pelas práticas de consumo,

mas também, de uma certa maneira, derivados destas práticas; desta feita,

considerando a sociedade contemporânea como materialista, como uma cultura

baseada no dinheiro, preocupada em “ter” em detrimento de “ser”. De outro modo, a

redefinição das horas de folga como horas de consumo, o lazer visto como

mercadoria, tem sido preponderante na manutenção do sistema capitalista.

O consumo, para Lipovetsky (1989), não é uma atividade regrada pela busca

do reconhecimento social; manifestando-se em vista do bem-estar, da

funcionalidade, do prazer para si mesmo. O consumo deixou de ser uma lógica

estatutária, passando a perspectiva do utilitarismo e do privatismo individualista.

Durkheim (2010), como um dos estudiosos contra o individualismo

utilitarista, de forma mais veemente, afirma que o utilitarismo, como modo de vida,

não tinha condições de criar a solidariedade. A divisão de trabalho moderno, para

ele, produziu relações muito densas de interpendência funcional entre os indivíduos.

Contudo, embora o utilitarismo tenha pressuposto que dessa forma produziria uma

coordenação social, com base na busca da satisfação de interesse individual, levado

a diante por todas as pessoas (como a “mão invisível” do mercado de que fala

Smith), ele diz que é necessário haver compromissos morais aglutinadores até para

que os contratos firmados com base no interesse individual sejam devidamente

cumpridos.

A sociedade pré-moderna consolidou-se através da coerência cultural

permitida por uma consciência coletiva, conforme o autor citado anteriormente. A

modernidade também vai acabar com o “culto ao indivíduo” que compreende não

apenas a busca de satisfação do interesse individual, mas também uma

preocupação moral substantiva com o valor, a dignidade e os direitos dos seres

humanos individuais. Desta maneira, tanto a solidariedade quanto a coordenação

social dependem de vínculos substantivos, e não meramente de vínculos formais,

que possam ser entendidos como de caráter cultural, ou que traduzam a coesão

cultural do mundo pré-moderno para as condições socioeconômicas do mundo

moderno. Embora a ideia de Durkheim (2010) aponte a solidariedade moderna no

plano do indivíduo, pressupõe também o reconhecimento, por parte do indivíduo, da

ideia da sociedade como ideal moral regulamentador. De acordo com o autor, a

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patologia da modernidade contemporânea é atribuída a seu estado de transição, à

existência de uma “divisão de trabalho imposta” que por intermédio das

desigualdades de poder e riqueza nega o valor humano. Para o referido autor, a

consciência coletiva tem diminuído pouco a pouco, devido as consequências da

divisão do trabalho social, pois à medida que este aumenta, os elementos da

sociedade tornam-se, cada vez mais, dependentes uns dos outros, porque cada

elemento fornece bens e serviços.

Por outro lado, a teoria da dádiva, segundo Mauss (2003), possibilita que os

fenômenos comuns à realidade Ocidental, em especial o Estado e o mercado, assim

como a concepção de ser humano como Homo Economicus, podem ser

relativizados, pois perdem seu status universal e dão lugar à presença de um

sistema de reciprocidades de caráter interpessoal, observável em todas as

sociedades, independentemente de serem tradicionais ou modernas. Na lógica da

dádiva, a contemporaneidade poderia ser interpretada como a possiblidade do

desdobramento em alternativas que visam o surgimento de uma sociedade civil em

novas bases, de caráter mundial, porém regionalmente diferenciadas, que se

expande para fora dos domínios do mercado, e que valorize a multiplicação de

perspectivas para a compreensão do conjunto social. Além disso, a existência e a

indissociabilidade entre particular e coletivo abre um espaço para crítica econômica

ao individualismo calculista que funda a moral econômica dominante, e possibilita

reavivar as ideias de caráter associacionista, as organizações sociais autônomas em

relação às instituições políticas e a consolidação da participação direta na sociedade

com o desenvolvimento do exercício da cidadania e o consequente aprimoramento

do espírito democrático.

Para Lipovetsky (2004a), inicialmente, pensava-se a modernidade segundo

os valores de liberdade e igualdade e numa figura inédita, o indivíduo com

autonomia, em ruptura com o mundo da tradição. Porém, na era clássica, o

aparecimento do individualismo se deu no mesmo período com a expansão do poder

do Estado, o que fez essa autonomização dos indivíduos permanecer mais na teoria.

A pós-modernidade representa o período histórico em que os freios institucionais

que se opunham à emancipação individual desaparecem, passando o lugar para à

manifestação dos desejos subjetivos, da realização do indivíduo. A autora entende

que o futuro de nossas democracias está aberto e a responsabilidade individual e

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coletiva é plena e total; que o papel do mercado tem limites, que a “mão invisível”

providencialista precisa estar atenta para precaver-se de seus próprios excessos. Na

sua visão, já faz tempo que a sociedade de consumo se apresenta sob o signo do

excesso, da abundância de mercadorias; e até os comportamentos individuais

apresentam-se de forma contrária, como observa-se na seguinte afirmativa:

Até os comportamentos individuais são pegos na engrenagem do extremo, do que são prova o frenesi consumista, o doping, os esportes radicais, os assassinatos em série, as bulimias e anorexias, a obesidade, as compulsões e vícios. Delineiam-se duas tendências contraditórias. De um lado, os indivíduos mais do que nunca, cuidam do corpo, são fanáticos por higiene e saúde, obedecem às determinações médicas e sanitárias. De outro lado, proliferam as patologias individuais, o consumo anômico, a anarquia comportamental (LIPOVETSKY, 2004a, p. 55).

Segundo Lipovetsky (2004b, p. 12), “a busca do prazer individual, do

sucesso pessoal e a recusa de engajamentos coletivos limitadores caracterizam a

pós-modernidade”. Acrescenta que a sociedade pós-moderna, no cenário dos

valores morais, não exige sacrifícios, mas a adesão pela própria vontade; e a

culpabilização dos indivíduos deu lugar à mobilização deles, papel que a mídia

assume amplamente. Contudo, assim como a globalização parece ser hoje

responsável pelos danos do planeta, para a autora, a mídia aparece como a causa

da decadência em nossas sociedades liberais, mesmo reconhecendo-a que

favoreceu a uniformização e o conformismo, o refúgio da esfera privada e o

abandono do espaço público, tem o papel de servir ao individualismo pós-moderno

sem o submeter, como também apresenta-se como um fator de liberação, permitindo

que o indivíduo questione os discursos ideológicos e emancipe-se dos esquemas

preconcebidos. Além disso, “a mídia é uma das forças subentendidas na formidável

dinâmica de individualização dos modos de vida e dos comportamentos da nossa

época” (LIPOVETSKY, 2004b, p. 70). A mídia, de certo modo, vem contribuindo para

a superlotação das academias de ginástica, pois são várias as revistas, jornais e

televisão que divulgam “corpos perfeitos” e modelados, os típicos “malhados”.

Segundo Saba (2001), a estética corporal é um dos principais objetivos dos

indivíduos ao procurarem uma academia de ginástica, ressaltando assim, o

interesse e a preocupação pela aceitação social no grupo ou, também, por fazer

parte de um grupo já consagrado de culto ao corpo.

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A saúde passa a ser vista no campo social, torna-se preocupação

onipresente para um número crescente de indivíduos independente de idade. Os

ideais hedonistas foram suplantados pela ideologia da saúde e da longevidade, bem

como a saúde passa a ter preocupação com o monitoramento e prevenção, entre

outras preocupações, com o enaltecimento da atividade física. Lipovestsky (2004b)

assevera que o culto da saúde e da forma, a busca da beleza de qualquer maneira,

entre outros, são novas modalidades de consumo relacionadas às tecnologias da

comunicação e da informação. Reforça ainda que surge o Homo Consumans, que

triunfa anexando um novo território.

Visto sob outros aspectos, Lipovestsky (2004a) atenta para que a volta ao

passado constitui uma das facetas do cosmo do hiperconsumo experiencial, em que

se evocam lembranças voltadas ao passado, nas condições de venda e comprar

recordações, emoções, que evoquem o passado, reminiscências de tempos

considerados mais esplendorosos. Para a referida autora, dá-se um fenômeno pós –

hipermoderno; pós porque se volta ao antigo e hiper, pois, de agora em diante, há

consumo comercial da relação com o tempo, uma vez que a lógica mercantil

ultrapassa o território da memória. Porém, já a vida cotidiana, apesar de expressar o

gosto pelo passado, mais do que nunca está sob a égide do presente; na higiene, na

saúde, no lazer, no consumo, na educação.

Slater (2002) trata da sua preocupação com a identidade, na modernidade,

pois para ele, na ausência de uma identidade coerente e de valores culturais que

gozem de autoridade, na falta de caráter e profundidade, o indivíduo é determinado

pela sociedade, uma vez que os indivíduos se conformam às expectativas de seus

ambientes sociais imediatos, aceitam a autoridade passageira da opinião pública, da

mídia, da propaganda, dos grupos, de seus pares, os vizinhos. Além disso, diz que,

em geral, as transformações pós-modernas da cidade são ligadas à passagem da

cidade industrial para a cidade como local de consumo, diversão e serviços. As

transformações espaciais implicam novas maneiras de sociabilidade e experiências

urbanas. Ademais, esses espaços são projetados de uma forma clara para setores

sociais (mercado) específicos. As cidades são transformadas para, através de boas

oportunidades de consumo, diversões e lazer que oferecem atrair turistas e outros

movimentos internacionais de pessoas, consumidores de classe média que se

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deslocaram para a periferia no fim da modernidade e os que estão se tornando

profissionais liberais e do setor de serviços financeiros.

O lugar de consumo, conforme assevera Baudrillard (2008), é a vida

cotidiana. Enquanto para ele, a máquina foi o símbolo da sociedade industrial, o

gadget é o da sociedade pós-industrial. Ao se aceitar a definição do objeto de

consumo pelo desaparecimento relativo da sua função objetiva (utensílio) em

proveito da função de signos, e caso contrário o objeto de consumo se caracterizar

por uma espécie de inutilidade funcional, passa a ser verdadeiramente um objeto de

consumo. Além disso, ele diz que o gadget define-se pela prática que dele se tem,

nem do tipo utilitária e nem simbólica, e sim lúdica. As relações com os objetos, com

as pessoas, com a cultura, com o lazer, trabalho, política são cada vez mais

reguladas pelo lúdico. De outro modo, o corpo é visto como objeto de consumo,

precioso. Sua redescoberta após uma era milenária de puritanismo, sob o signo da

libertação física e sexual, a sua omnipresença, seja na publicidade, na moda e na

cultura das massas, como o culto higiênico, dietético e terapêutico ao redor; a

obsessão pela juventude, elegância, virilidade – feminidade, cuidados, regimes,

entre outras, traduzem como se o corpo fosse o objeto de salvação.

De acordo com Lipovetsky (1989), a Teoria de Veblen coloca,

inegavelmente, o foco numa dimensão essencial da moda: o dispêndio

demonstrativo como meio para significar uma posição, para estimular a admiração e

expor um estatuto social. Nessa teoria, a ideia de consumo ostentatório como

instituição social encarregada de significar a posição social, torna-se uma referência

importante, adquire um valor de exemplo interpretativo insuperável para apreender

no consumo uma estrutura social de segregação e de estratificação.

O corpo, da forma como o estabelece a mitologia moderna, constitui um

objeto parcial hipostasiado, tornou-se como a alma no seu tempo, o suporte

privilegiado da objetivação, e, ainda, segundo Baudrillard (2008), um mito da ética

do consumo; vinculado às finalidades da produção como suporte (econômico), como

princípio de integração (psicológica) dirigida ao indivíduo de forma estratégica

(política) de controle social. Para o referido autor, o consumo constitui um mito, pois

revela-se como termo da sociedade contemporânea sobre si mesma; é a forma que

a nossa sociedade se expressa, ou seja, pensa-se e fala-se como sociedade de

consumo. Pois, na medida em que a sociedade consome, consome-se enquanto

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sociedade de consumo em ideia. De acordo com Baudrillard (2008, p. 264), “a

publicidade é o hino triunfal desta ideia”. Segundo Castro (2006), no século XX, nas

décadas de 20 e 30 foi que despontou a sociedade de consumo de massa,

começando nos Estados Unidos, e, posteriormente, nos países desenvolvidos na

Europa e Ásia.

As características empíricas da sociedade de consumo, conforme Lipovetsky

(1989), são vistas sob diferentes aspectos: elevação do nível de vida, abundância

das mercadorias e dos serviços, culto dos objetos e dos lazeres, moral hedonista e

materialista, entre outros. No entanto, do ponto de vista estrutural, é a generalização

do processo de moda que a define propriamente. Na sociedade de consumo atual,

com forte influência dos meios de comunicação de massa, há uma verdadeira

veneração pelo corpo esculpido, belo e sedutor. Esse padrão corporal valoriza a

aparência, a sedução, o fascínio. “A imagem corporal resulta tanto da experiência

motora, quanto, e talvez, sobretudo, da sensibilidade sexual motivada pelos desejos,

prazeres e sonhos” (PALMA, 2001, p. 26).

Na cultura de consumo contemporânea, o estilo de vida agrega alguns

elementos presentes na individualidade do proprietário ou consumidor, como diz

Featherstone (1995, p.223). Além disso, menciona a influência da publicidade em

convencionar um estilo de vida e uma consciência de si estilizada,

independentemente de idade e classe social.

Na cultura de consumo contemporânea, a expressão estilo de vida nos remete a individualidade, a auto – expressão e a uma consciência de si estilizada. Para ele, o corpo, as roupas, o discurso, os entretenimentos de lazer, as preferências de comida e bebida, a casa, o carro, a opção de férias, entre outras coisas de uma pessoa, indicam a individualidade do gosto e o senso de estilo do proprietário ou consumidor (FEATHERSTONE, 1995).

Com intuito de compreender as características da sociedade capitalista, uma

das marcas da contemporaneidade, apresenta-se como o conceito de sociedade de

espetáculo, que foi elaborado pelo pensador francês Debord e seus companheiros

da Internacional Situacionista, nos anos 60, do século XX. Na sociedade de

espetáculo, estabelece-se um predomínio da imagem sobre a coisa, da cópia sobre

o original, da representação sobre a realidade, da aparência sobre o ser. Numa

dimensão histórico-crítica do conceito de sociedade de espetáculo, Debord (1991,

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p.9) afirma que: “Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições

modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos.

Tudo o que era diretamente vivido se afastou numa representação”.

Deste modo, para Debord (1991), o espetáculo é uma relação entre

pessoas, mediatizada por imagens, e, ainda, sob todas as suas formas particulares,

informação ou propaganda, publicidade ou consumo direto de divertimentos,

constitui o modelo presente da vida socialmente dominante. Ademais, a sociedade

de espetáculo pode ser vista na forma difusa, que corresponde aos países

capitalistas desenvolvidos e na forma concentrada, aos países socialistas. O ponto

inicial para a sociedade de espetáculo é o mercado (produção), acompanhado do

espetáculo. As relações humanas passam pelo intercâmbio mercantil e a mercadoria

ocupa totalmente a vida social. Com sua vida e experiências moldadas pelos

espetáculos da cultura e da mídia, o ser humano deixa de ser sujeito ativo da sua

própria história, submisso aos espetáculos consumistas. A produção de espetáculo

pode se apresentar em várias dimensões, ou seja, quando se publica ideia, notícias,

produtos, imagens. Desta feita, a sociedade capitalista, chamada neoliberal, chega a

um estágio em que o consumo, instigado pela publicidade, exerce fortemente

influência sobre a vida das pessoas.

Patias (2006) afirma que a primeira etapa do domínio da economia sobre a

vida caracteriza-se pelo desgaste do “ser” em “ter”, no espetáculo chegou-se ao

reinado poderoso do “aparecer”. As relações entre os homens já não são mediadas

só pelas coisas, como no fetichismo da mercadoria como entende Marx, mas de

maneira direta pelas imagens. O autor ainda ressalta que a sociedade de espetáculo

se expandiu em todas as áreas da vida, e, o surgimento da economia do espetáculo

se deu numa fusão entre negócios e diversão, e assim o entretenimento, de uma

forma rápida, se torna um dos mais importantes aspectos geradores de negócios.

Para Castro (2006), tudo que está relacionado ao lazer torna-se ideologia do

espetáculo.

Conforme Ezequiel (2006), a predominância do sistema capitalista sob a

perspectiva neoliberal do mundo contemporâneo, além de confirmar a inversão do

“ser” pelo “ter”, reafirma a teoria de Debord e transforma em “aparecer”, numa

imagem falsa, construída com base no próprio “ter”, como viu-se anteriormente.

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Os indivíduos são obrigados a contemplar, desejar e consumir as imagens de tudo o que lhes falta em sua empobrecida existência real. O neoliberalismo multiplica os modelos a serem seguidos, estimula a superficialidade e a fragmentação da realidade e fomenta a mistura da auto- imagem formada com base nos diversos modelos com os próprios modelos (EZEQUIEL, 2006, p. 143).

O corpo é o nosso primeiro e mais natural instrumento, e, a partir dos

gestos, movimentos, técnica corporal, incluindo o esporte, carregam significados que

transmitem valores e expressões de cada sociedade, seja de forma individual ou

coletiva. Sendo assim, o esporte é considerado como espaço de representação,

comunicação e expressão e, por conseguinte, considerado como manifestação da

cultura corporal; tendo vários sentidos e funções. É um patrimônio cultural da

humanidade, e utiliza-se do corpo como forma de linguagem.

De acordo com a BNCC (2017, p. 171), “as práticas corporais são textos

culturais passíveis de leituras e produção”, não devendo ser limitada à mera

reprodução. Desse modo, a Educação Física, no trato com o conhecimento,

permitirá ampliar as possibilidades de uso das práticas de linguagem; conhecer a

organização interna dessas manifestações; compreender o enraizamento

sociocultural das práticas de linguagens e o modo como elas estruturam as relações

humanas. As práticas corporais apresentam-se como elemento essencial o

movimento corporal, são produtos culturais vinculados com o lazer e/ou o cuidado

com o corpo e a saúde (BNCC, 2017).

Diante das questões ora levantadas e considerando que o culto ao corpo na

contemporaneidade agrega algumas reflexões sobre a cultura de consumo

exacerbada, a influência da mídia, a dinâmica da indústria cultural, a lógica

capitalista, as relações advindas do mundo globalizado, entre outros aspectos, bem

como as diferentes denominações para a sociedade atual, levando em consideração

as realidades, tendências e questões da atualidade, tratadas como sociedade

industrial, sociedade pós-industrial, sociedade de consumo, sociedade de

espetáculo etc., nosso estudo busca elucidar que o esporte e o lazer devem ser

valorizados nas políticas urbanas, porque contribuem para a qualidade de vida e

para a vida em sociedade. Considerando, ainda, que o efetivo acesso ao esporte e

ao lazer se dá por meio de políticas públicas urbanas, como imprescindíveis funções

sociais das cidades, a partir da dialogicidade do corpo na sua amplitude, do ser, do

ser na sociedade, das transformações e consequentes aspectos inerentes à vida em

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e na sociedade, bem como no cotidiano, se reconhece as contribuições do esporte e

lazer para as pessoas e a coletividade, vistos como direitos sociais e tratados nas

políticas públicas de forma efetiva.

1.3 Atividade física e seus benefícios

Embora tradicionalmente a exercitação física moderada esteja presente em

nossas vidas, foi apenas a partir da segunda metade do século XX, mais

especificamente durante o período de Wellfare State, que se consolidaram as

condições históricas preliminares para a democratização das atividades físicas.

Muito embora essas condições ainda não consolidadas, sendo enfraquecidas pelo

processo globalizador desigualmente articulado, associado a diferentes

consequências, a exemplo das oriundas do mundo do trabalho, que venham a

ameaçar a exercitação física regular, numa perspectiva inclusiva e como resultado

do amplo entendimento da diversidade de práticas corporais, da saúde e do lazer.

A temática voltada para o esporte, com ênfase na adesão às atividades

físicas, relacionando-as à saúde; o discurso da saúde sob a visão medicalizada e de

viés econômico, bem como a ótica do fitness remete a interesses em despender

recursos para incentivo dessas práticas. Contudo, na discussão sobre a construção

das condições históricas, é importante levar em conta a sua democratização, e,

ainda, fortalecendo-a como hábito ou atitude comportamental que possa contribuir

para a promoção da saúde e bem-estar dos indivíduos e da sociedade.

Desde a Antiguidade, a prática de atividades físicas tem sido relacionada à

possível melhoria da saúde ou agrupando abordagens de desenvolvimento humano.

Os gregos acreditavam na exercitação moderada como um dos fatores constituintes

da vida saudável. McArdle et al. (1998) ressaltam nos seus estudos que Platão dizia

que o cidadão educado era aquela pessoa que sabia ler e nadar e que Galeno

chamava a atenção para os efeitos positivos do exercício, ante as consequências

deletérias da vida sedentária.

No século XIX, na Europa e nos Estados Unidos, com base em pesquisas na

área de fisiologia do exercício, despontou a separação entre individual e coletivo,

público e privado, biológico e social, curativo e preventivo. Ademais, no final do

referido século, o advento dos Jogos Olímpicos da Era Moderna recolou em

destaque o esporte, considerado uma forma especial de exercitação, caracterizada

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pela natureza agonística, mas também possível de promover lazer. Portanto,

reconhece-se, tradicionalmente, a atividade física como fator de promoção de saúde

e lazer.

A Organização Mundial da Saúde (2009) adota o seguinte conceito de

saúde:

A condição em que o indivíduo, ou grupo de indivíduos, é capaz de realizar suas aspirações, satisfazer suas necessidades e mudar ou enfrentar o ambiente. A saúde é um recurso para a vida diária, e não um objetivo de vida (WHO, 2009, p. 29).

O conceito de saúde atribuído pela Organização Mundial da Saúde de 1946

avança em 1984, como resultados das críticas feitas aos termos “estado” e

“completo”, quando se definia como “um estado de completo bem-estar físico,

mental e social, e não meramente a ausência de doença ou enfermidade”. Desta

feita, a saúde passa ser entendida não como estado, mas como uma condição.

Segundo Caspersen et al. (1985), a atividade física é qualquer movimento

corporal, produzido pela contração dos músculos esqueléticos que resulta em gasto

energético maior do que os níveis de repouso. A atividade física compreende uma

gama de dimensões que incluem todas as atividades voluntárias, como as

ocupacionais, de lazer, domésticas e de deslocamento. Para Pitanga (2002), a

atividade física tem componentes e determinantes de ordem biopsicossocial, cultural

e comportamental, podendo ser exemplificada por jogos, danças, esportes,

exercícios físicos, atividades laborais e deslocamentos. Enquanto que exercício

físico se refere a toda atividade física planejada, estruturada e repetitiva, que visa à

melhoria e à manutenção de um ou mais componentes da aptidão física

(CASPERSEN et al., 1985). Diante desta perspectiva, o exercício físico é

considerado uma subcategoria de atividade física. Já a aptidão física é considerada

como uma característica que o indivíduo possui ou atinge, como a potência

aeróbica, endurance muscular, força muscular, composição corporal e flexibilidade

(MATSUDO et al., 2001).

Para Bricëno – Léon (2000, p.15), a saúde é entendida como:

Síntese de multiplicidade de processos, do que acontece com a biologia do corpo, com o ambiente que nos rodeia, com as relações sociais, com a política e a economia internacional. A saúde é um índice de bem-estar, talvez o mais importante a ser alcançado por uma população. É uma

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amostra palpável do desenvolvimento social alcançado por uma sociedade e uma condição essencial para a continuidade desse mesmo desenvolvimento.

De acordo com Paim e Almeida Filho (2000), no relatório acerca do

movimento de promoção de saúde, no Canadá em 1974, estabeleceu-se um modelo

que reúne a biologia humana; o sistema de organização dos serviços; o ambiente, o

qual agrupa o social, o psicológico e o físico; o estilo de vida, que comporta os riscos

ocupacionais, padrões de consumo, atividades de lazer, entre outros. A Carta de

Otawa, um importante documento de referência à promoção de saúde, entre outros

documentos foram significativos nesse campo.

A associação entre a prática de atividade física e melhores padrões de

saúde são amplamente difundidos, no entanto, somente nos últimos 30 a 40 anos,

confirmou-se que o baixo nível de atividade física é fator de risco para o

desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (MATSUDO; MATSUDO,

2000).

Principalmente após a Segunda Guerra Mundial, aconteceram mudanças no

perfil epidemiológico com o aumento da prevalência de doenças crônicas não-

transmissíveis, tais como: as doenças cardiovasculares, diversos tipos de câncer,

diabetes e obesidade. De acordo com Mondini e Monteiro (2000), nos países do

hemisfério norte propiciou o aumento das correlações causais com a alimentação,

redução de atividade física e outros aspectos vinculados à vida urbana e nos dias

atuais entendidas como problema de saúde pública nos países do hemisfério sul.

Nos últimos 50 anos, o Brasil vem sofrendo forte processo de urbanização, e

consequentemente, percebe-se o aumento de problemas sociais, culturais,

econômicos e ambientais. Para Castells (1994, p. 15), estes problemas ampliam por

causa dessa transformação acelerada e do “impacto de uma revolução tecnológica

baseada em tecnologias de informações/comunicação, formação de uma economia

global e um processo de trocas culturais”.

A associação entre o estilo de vida saudável ao hábito da prática de

atividade física e, consequentemente, a melhoria dos padrões de saúde e qualidade

de vida, traduzem um paradigma na medida em que constitui o modelo

contemporâneo que fundamenta a maioria dos estudos, envolvendo a relação

positiva entre atividade física, saúde, estilo de vida e qualidade de vida.

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Muitas pesquisas têm evidenciado que o estilo de vida ativo como um fator

de proteção contra várias doenças e agravos não-transmissíveis - DANTs, sendo

excelente mecanismo de promoção de saúde. A partir da segunda metade do século

XX, as sociedades sofreram inúmeras transformações de morbi mortalidade,

desencadeando um processo de transição epidemiológica, no qual diminuíram as

doenças infectocontagiosas à medida que aumentaram as DANTs (PRATA, 1992).

Diferentes instituições e organizações, tais como: International Federation of

Sports Medicine (1990), a American Heart Association (FLETCHER et al., 1992), a

Organização Mundial de Saúde (BIJNEN et al, 1994) e o Colégio Americano de

Medicina Desportiva (PATE et al., 1995) têm ressaltado a importância da adoção de

atividade física regular para a melhoria dos níveis de saúde individual e coletiva,

especialmente para a prevenção e reabilitação da doença cardiovascular.

A prática de exercícios físicos regularmente, de acordo com Knowler et al.

(2002) é fundamental para prevenir doenças crônicas, entre elas o Diabetes Mellitus

– DM. Além disso, a prática de atividade física regular melhora o metabolismo da

glicose e o perfil lipídico e diminui a pressão arterial, reduzindo o risco de pacientes

com DM tipo 2 desenvolverem doenças cardiovasculares (ORGANIZAÇÃO

PANAMERICANA DE SAÚDE, 2003). Conforme Guedes e Guedes (1995), e Powers

e Holey (2000), a melhora da sensibilidade insulínica e a redução da hiperglicemia,

resultantes da prática do exercício físico, poderiam retardar a progressão das

complicações, a longo prazo, do DM, como a arteriosclerose e a microangiopatias.

São inúmeros benefícios do exercício físico na qualidade de vida dos diabéticos,

como: melhora da aptidão cardiovascular, flexibilidade e tonicidade muscular, melhor

controle do peso e da composição corporal, melhoria da autoestima, controle do

estresse e oportunidade de socialização (CANABAL, 1992; MARTINS, 1998).

Santarém (2016) afirma que estudos estabelecem relações entre causa e

efeito entre atividade física e doenças, destacando-se a doença coronariana, a

hipertensão arterial, diabetes tipo II, obesidade, osteoporose, neoplasias do cólon,

ansiedade, depressão. Dentre alguns efeitos salutares da atividade física,

encontram-se: aumento do HDL – colesterol, a redução dos triglicerídeos, redução

da pressão arterial e da tendência às arritmias pela diminuição da sensibilidade à

adrenalina, redução da agregação plaquetária e estímulo à fibrinolise, aumento da

sensibilidade das células à insulina, estímulo ao metabolismo dos carboidratos,

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estímulo hormonal e imunológico, redução da gordura corporal devido ao maior

gasto calórico e tendência à elevação da taxa metabólica pelo aumento de massa

muscular.

O impacto do esporte e da atividade física de uma maneira geral, sobre o

autoconceito também tem sido abordado em diferentes pesquisas. Entretanto,

estudos afirmam que a influência desta variável pode depender não meramente da

ação benéfica da atividade física sobre o funcionamento fisiológico do organismo,

mas também da dimensão social presente nesta variável.

O sedentarismo é um fator de risco para várias doenças. No entanto, o

esporte traz benefícios, sendo reconhecido como promotor da saúde, educação e do

desenvolvimento humano. O esporte ainda tem a capacidade de desenvolver as

habilidades motoras; promover competências pessoais, como a autoestima,

autocuidado e autoconhecimento; as competências sociais, como a cooperação e a

solidariedade, e as competências cognitivas, a exemplo da resolução de problemas,

atenção; além das competências produtivas, como a criatividade.

Segundo Niedenthal e Beike (1997), o autoconceito é definido como as

representações mentais das características pessoais utilizadas pelo indivíduo para a

definição de si mesmo e regulação do seu comportamento. Ademais, consideram-se

três componentes do autoconceito, a saber: o avaliativo, o cognitivo e o

comportamental, os quais estão relacionados entre si (SCHLENDER et al., 1994). O

primeiro componente é autoestima e consiste na avaliação global que a pessoa faz

do seu próprio valor. O componente cognitivo está constituído pelas percepções que

o indivíduo tem dos traços, das características e das habilidades que possui ou que

deseja ter. O comportamental consiste nas estratégias de auto apresentação

utilizadas pelo indivíduo, como o objetivo de transmitir aos outros uma imagem

positiva de si mesmo. De acordo com Santarém (2016), do ponto de vista

psicológico a atividade física pode contribuir no combate à depressão, atuando como

um catalisador de relacionamento interpessoal, produzindo agradável sensação de

bem-estar e estimulando a autoestima pela superação de pequenos desafios.

De acordo com vários autores, dentre eles, McArdle et al. (1998), o exercício

físico pode retardar ou atenuar o processo de declínio das funções orgânicas que

são observadas com o envelhecimento, uma vez que promove melhorias na

capacidade respiratória, na reserva cardíaca, no tempo de reação, na força

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muscular, na memória recente, na cognição e nas habilidades sociais. Além disso,

leva a uma participação social, resultando em um bom nível de bem-estar

biopsicofísico, fatores esses que contribuem para a melhoria da qualidade de vida.

Para entendimento sobre qualidade de vida, recorre-se a Nahas (2006),

quando trata que no estudo de qualidade de vida devem ser levados em conta: a

vida social e familiar e a realidade do trabalho. O estudioso também diz que o

sucesso no trabalho, no setor social, na saúde e na vida afetiva faz com as que as

pessoas se sintam felizes, e que o esporte e lazer são determinantes positivos para

a vida do ser humano. Para Nahas (2010, p. 16): “Qualidade de vida é a percepção

de bem-estar resultante de um conjunto de parâmetros individuais e

socioambientais, modificáveis ou não, que caracterizam as condições em que vive o

ser humano”.

Para o autor, os fatores ou parâmetros individuais e socioambientais que

podem influenciar a qualidade de vida de indivíduos ou grupos populacionais são:

Parâmetros socioambientais: moradia, transporte, segurança, assistência médica, condições de trabalho e remuneração; educação; opções de lazer, meio ambiente e cultura. Parâmetros individuais: hereditariedade e estilo de vida (NAHAS, 2010, p. 16).

De acordo com Ogata e Simurro (2009), o Centro de Promoção da Saúde de

Toronto conceitua qualidade de vida envolvendo três domínios: Ser (físico,

psicológico e espiritual), Pertencer (físico, social e comunitário) e Transformar

(prático, lazer e crescimento). Para avaliar a qualidade de vida, toma-se por base o

grau em que uma pessoa aprecia (a sensação de satisfação ou percepção de

alcance de algumas expectativas), as possibilidades (resultantes das oportunidades

e limitações de cada um) em sua vida (OGATA; SIMURRO, 2009, p. 6).

O instrumento de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde

(WHOQOL) apresenta o conceito de qualidade de vida em 06 (seis) “domínios” e 24

(vinte e quatro) facetas, a saber:

- Domínio físico: dor e desconforto; energia e fadiga; sono e repouso;

- Domínio psicológico: sentimentos positivos; pensar, aprender, memória e concentração; autoestima; imagem corporal e aparência; sentimentos negativos;

- Nível de independência: mobilidade, atividades da vida cotidiana; dependência de medicação ou de tratamentos; capacidade de trabalho;

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- Relações sociais: relações pessoais; apoio social; atividade sexual; - Ambiente: segurança física e proteção; ambiente no lar; recursos

financeiros; cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade; oportunidades de adquirir informações e habilidades; participação em, e oportunidades de recreação/lazer; ambiente físico (poluição / ruído / trânsito / clima); e

- Aspectos espirituais: espiritualidade / religião / crenças pessoais (MENDES, 2016, p. 33)

Para ilustrar a relação entre lazer e qualidade de vida, recorre-se a alguns

resultados do Projeto intitulado: “Lazer Ativo e Qualidade de Vida para a Terceira

Idade, coordenado por Fernandes et al. (2002). Dentre os dados obtidos junto ao

projeto foram observados que os idosos reconheceram que as atividades

desenvolvidas faziam parte de um momento de bem-estar, lazer, desinibição e

interação social, e as atividades propostas trouxeram melhorias de qualidade de vida

e melhor aproveitamento do tempo livre.

Castells (1983, p. 62), ao tratar de qualidade de vida diz “a melhoria da

qualidade de vida corresponde à crescente satisfação das necessidades – tanto

básicas quanto não básicas, tanto materiais quanto imateriais, de uma parcela cada

vez maior da população”. Deste modo, a qualidade de vida nesta visão, está tanto

para o alcance das questões físicas e essenciais, como também às outras questões

ligadas ao material, como também ao subjetivo, valorativo, que podem atender às

necessidades das pessoas, mesmo que não sejam consideradas básicas.

No entendimento de Matsudo e Matsudo (2000), os principais benefícios à

saúde advindos da prática de atividade física referem-se aos aspectos

antropométricos, neuromusculares, metabólicos e psicológicos. Ademais, para

Matsudo et al. (2001), a atividade física e o estilo de vida ativo têm um papel muito

importante na prevenção e controle de doenças crônicas não transmissíveis; como

também está associada a uma melhor mobilidade, capacidade funcional e qualidade

de vida durante o envelhecimento.

Reconhece-se que os hábitos de atividade física adquiridos durante a

infância e adolescência, tendem a se manter durante toda a vida. Todavia, estudos

demonstram que a atividade física sofre redução no final da adolescência

(GORDON-LARSEN et al., 2004). Portanto, nesse período é importante o

fortalecimento da orientação e estímulo para a prática da atividade física. Por

conseguinte, é importante que políticas que incentivem as atividades esportivas e de

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lazer sejam desenvolvidas, pois elas podem contribuir para a proteção, manutenção,

prevenção, promoção e reabilitação da saúde, como também para melhorias do

ponto de vista psicossocial.

Para Saba (2001), a atividade física é benéfica tanto no aspecto biológico,

bem como no nível psicológico. O referido autor ressalta melhorias da capacidade

cardiorrespiratória, aumento na expectativa de vida, entre outros, como benefícios

que o exercício físico proporciona às pessoas. E, no tocante ao aspecto psicológico,

estão relacionados ao aprimoramento dos níveis de autoestima, da autoimagem,

diminuição dos níveis de estresse e tantos outros. Segundo Matsudo e Matsudo

(2000), na dimensão psicológica, a atividade física atua na melhoria da autoimagem,

do autoconceito, da imagem corporal, das funções cognitivas e de socialização, na

diminuição do estresse e da ansiedade e na diminuição do consumo de

medicamentos.

O modo de viver dos seres humanos na Política Nacional de Promoção de

Saúde - PNPS é entendido como produto e produtor de transformações econômicas,

políticas, sociais e culturais que alteram a vida em sociedade a uma velocidade cada

vez maior. A PNPS constitui um instrumento de fortalecimento e implantação de

ações transversais, integradas e intersetoriais visando ao diálogo entre as várias

áreas do setor sanitário, outros setores do Governo, setor privado e não

governamental e sociedade em geral, compondo redes de compromisso e

corresponsabilidade sobre a qualidade de vida, em que todos sejam partícipes na

proteção e cuidado com a vida (BRASIL, MS, 2006). Neste sentido, o incentivo às

práticas corporais, deve privilegiar estratégias que garantam a existência de espaços

prazerosos e adequados, segurança, arborização, transporte público e outras. Desta

feita, deve-se investir no debate sobre o planejamento urbano, a mobilidade urbana

e as desigualdades e iniquidades no acesso a espaços públicos saudáveis (pistas

de caminhadas, ciclovias, praças públicas, espaços para a prática de esporte e

lazer, entre outros).

As academias tornaram-se uma opção para a população urbana, que adere

ao exercício físico, com o intuito de obter melhorias em seu bem-estar, como afirma

Saba (2001). O autor ainda menciona que nossa sociedade continua a realizar

atividade física em qualquer local apropriado à prática, todavia, o entendimento do

ser humano moderno modificou muito, no sentido da importância de centros

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especializados como locais adequados ao exercício físico. O surgimento das

academias, segundo Novaes (1991), decorreu do fato delas terem a finalidade de

atender às pessoas que buscavam aulas de ginástica fora dos clubes.

Para Minayo et al. (2000), qualidade de vida é uma noção humana e relativa

de vida, pelo menos, ao contexto histórico, cultural e de classes sociais, interligada

ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental.

Desta maneira, pressupõe um apanhado cultural de todos os elementos que

determinada sociedade considera com seu padrão de conforto e bem-estar.

O ano de 2007 marca a elaboração do Plano Nacional de Práticas Corporais

e Atividade Física, visando à indução de políticas públicas no nível municipal e a

operacionalização das ações contidas no Programa de Aceleração do Crescimento

da Saúde 2007 - 2010 e no Plano Plurianual do Ministério da Saúde. Desta forma,

com a articulação de diversos setores e Ministérios e do Governo com ONGs,

entidades científicas e setor privado, o “Sistema S”, entre outros, com o objetivo de

difundir o tema atividade física e promover a construção e implementação de

projetos nas escolas, ambientes de trabalho e áreas públicas de lazer, facilita o

investimento em espaços urbanos mais saudáveis e a ampliação do acesso à

informação para a produção de modos de vida mais saudáveis no cotidiano das

pessoas. Entende-se que o ambiente tem grande influência no estilo de vida das

pessoas e no poder de escolha por hábitos saudáveis.

A promoção de saúde remete às articulações intersetoriais, visando à

reorganização dos espaços urbanos, contribuindo para a mobilidade urbana e a

prática do lazer ativo, entre outras questões, e diante desta perspectiva é importante

apoiar políticas públicas que promovam ações as quais possibilitem à melhoria da

qualidade da vida da população. Assim sendo, este estudo tem a preocupação de

debruçar-se sobre o esporte e lazer nas políticas urbanas de Campina Grande – PB.

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CAPÍTULO 2 – ESPORTE E LAZER NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE

2.1 Historicizando o esporte no mundo

Nas antigas civilizações1 já existiam atividades físicas pré-esportivas em

suas culturas, sendo a maioria com perspectiva utilitarista. Muitas dessas práticas

pré-esportivas do Esporte Antigo desapareceram com o passar do tempo. Contudo,

outras se modificaram em Esportes Autótonos, chamados de “esportes puros”, ou

seja, que continuavam a ser praticados ao longo do tempo sem ser recebida

influência de outras culturas. Os esportes autótonos que permaneceram com

práticas, porém com modificações de outras culturas, principalmente de reações

colonizadoras, passam a ser denominadas de Esporte ou Jogos Tradicionais.

Tubino (2010) ressalta que na Antiguidade, as práticas esportivas eram

classificadas de Práticas Pré-esportivas, com diferença acentuada com as práticas

atuais, mantendo uma perspectiva utilitária, com fins de sobrevivência das pessoas

(natação, corrida, caça, entre outros) e também para preparação para a guerra

(marchas, esgrimas, lutas etc.).

Na Antiguidade, as mulheres eram proibidas de participar de jogos, sejam

como atletas, sejam como espectadoras. No entanto, a partir do século XIX que a

mulher ganha espaços, ou seja, deixa sua participação do campo doméstico e

amplia sua participação social, até mesmo no esporte. Essas mudanças se deram

em decorrência da prosperidade econômica e tecnológica, como também dos

avanços na medicina e na qualidade de vida.

Conforme Gaya e Torres (2008), os gregos foram os inventores do esporte,

à luz de princípios, valores e finalidades de divinização do ser humano e da

humanização da vida, com vistas a uma filosofia da harmonia do corpo e da alma.

Foi na Grécia Antiga que o esporte se desenvolveu. Os gregos2

desenvolveram o esporte como uma forma de valorizar o corpo e harmonizar o

1 Dentre as civilizações antigas, conforme Tubino (2010) são citadas: Chinesa – lutas chinesas, tiro ao

arco chinês, esgrima de sabre, T‟su Chu e artes marciais chinesas; registros indicam que os chineses praticavam atividades esportivas por volta de 2000 anos aC; Egípcia – arco e flecha, corrida, saltos, arremessos, equitação, esgrima, luta, boxe, natação, remo, corridas de carros e jogos de pelota; Etrusca – duelos armados; Hitíta – equitação, natação, remo, esgrima, tiro e luta; e Japonesa – artes marciais. 2 Os jogos gregos eram festas populares, religiosas, verdadeiras cerimônias pan-helênicas, cujos

participantes eram as cidades gregas. De acordo com Marrou (1950), esses jogos, no início, eram apenas nas cidades da Grécia Continental, e, posteriormente, expandiu-se para os demais povos. Os

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corpo e a alma. Para eles, os deuses eram como nós, portanto, valorizar o corpo era

uma forma de nos aproximarmos do ideal divino, e, ainda, era uma maneira de

celebrar a vida e a liberdade.

Para o historiador francês, Vanoyeke (1992), os gregos antigos3 analisaram

o exercício físico como um elemento na conservação da saúde e/ou de sua

cooperação.

Apaixonados pelos jogos e pelos concursos, eles inventaram os enfrentamentos competitivos do estádio para satisfazer seus gostos de luta e de rivalidade. Na época clássica, o esporte se tornou um meio para adquirir a beleza e a força (VANOYEKE, 1992, p. 15).

Na Idade Média e na Renascença, as práticas esportivas foram escassas e,

às vezes, muito violentas, tais como: o Torneio Medieval, o Soule, o “Jeu de Palme”,

o Gioco Del Calcio, os Justas, entre outras4.

Jogos Fúnebres, os Jogos Píticos, os Jogos Ístmicos, as Panateneias, outros Jogos e os Jogos Olímpicos da Antiguidade são exemplos dos Jogos Gregos. Os Jogos Gregos representaram os primeiros fatos esportivos, pois anteriormente se davam as práticas pré-esportivas. Os Jogos Fúnebres, de acordo com os escritos de Homero, eram uma homenagem às figuras de destaque (Pátroclo, Tleopolino e as vítimas das batalhas da Maratona - 490 a.C. e Salamina - 480 a. C. etc.) que haviam morrido nas cidades gregas. Os Jogos Píticos celebravam Apolo e foram criados em 528 a.C., em Delfos. Já os Jogos Ístmicos apresentavam as mesmas competições dos Jogos Olímpicos e eram patrocinados em Corinto, a cada dois anos. Os Jogos Nemeus eram disputados em homenagem a Zeus de Kleonae, sendo os últimos jogos a desaparecerem. 3 Os Jogos Olímpicos da Antiguidade, para Tubino (2010), são a principal manifestação esportiva de

toda a Antiguidade. Eram celebrados em Olímpia, Élida, num bosque sagrado denominado do “Altis”, em homenagem a Zeus Horquios, de quatro em quatro anos. Esses jogos eram anunciados pelos Arantos e desenvolvidos pelos helenoices. Suas principais provam eram: corrida de estádio, corrida de duplo estádio, corrida de fundo, luta, pentatlo, corrida das quadrigas, pancrários, corrida de cavalos montados, corrida com armas, corridas de brigas, pugilato e outras. De acordo com o autor citado anteriormente, a civilização romana diminuiu o movimento esportivo grego e somente foram criados espaços especializados para a higiene corporal, como as termas, e otimizaram jogos públicos denominados de jogos circenses, que, inclusive modificaram o sentido anterior ao adaptar os preceitos helênicos para os combates aos gladiadores. 4 Torneio Medieval – consistia numa batalha corporal, com duas equipes contrárias usando cavalos,

espadas e até lanças. Os vencedores eram premiados e os perdedores, muitas vezes, morriam na disputa; O Soule – um esporte medieval popular, de grau de violência, praticado na Europa Ocidental, sendo modificado em cada local, com número ilimitado de jogadores, que tentavam conduzir uma pelota (bexiga animal com ar) até um limite pré-estabelecido em cada lado. Essa modalidade teve início no século XI e chegou até o século XIX; O ”Jeu de Palme” – era um jogo de bola de origem francesa, que consistia em bater numa pelota com a palma das mãos. Era disputado em salas fechadas e teve o seu auge no século XVI e ainda é praticado; O “Giogo Del Cálcio”, também chamado de Calcio Florentino – jogo medieval codificado no Renascimento, com 27 (vinte e sete) jogadores por equipe. Seu objetivo era: conduzir a pelota com os pés ou mãos até o final da área adversária. Essa modalidade teve início no século XVI em Florença (Itália), permanece sendo exibida no “Carnaval Florentino. Muitos afirmam que esse esporte é um dos precursores do Futebol; e as Justas – eram disputadas entre dois cavaleiros com armaduras e lanças de ferro. Em 1959, as Justas desapareceram.

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Nos séculos XVIII e XIX, as práticas esportivas passaram a compreender

apostas, consideradas como forte motivação para as disputas, com as corridas

curtas, lutas e provas de remo.

Com a modificação dos jogos existentes com regras e competições, é criado

o Esporte Moderno. Rapidamente a ideia de Thomas Arnold se expande por toda a

Europa. Daí então, surgem os clubes esportivos, originados no Associacionismo

inglês. Esse Associacionismo tornou-se a primeira base ética esportiva.

Tubino (1987) afirma que Thomas Arnold identificou dois aspectos distintos,

mas inseparáveis no entendimento e utilização do esporte, tais como: o

fornecimento do prazer para os jogadores e espectadores e a oportunidade de

formação moral, e que o esporte moderno apresentava as características de um

jogo, de uma competição e de uma formação.

O esporte moderno surgiu após o desenvolvimento da sociedade industrial,

e, por conseguinte, trazendo os princípios, valores e conceitos que a caracterizam.

Desse modo, presentes a hierarquia, a razão, a produção, a organização, a

individualidade e a concorrência.

O esporte moderno tem origem por volta do século XVIII e, segundo Bracht

(2005), refere-se a uma atividade corporal de movimento com caráter competitivo,

surgido no âmbito da cultura europeia, expandindo-se para o resto do mundo. De

acordo com Goellner (2004), o esporte que vivenciamos hoje é o esporte que se

consolida no final do século XIX e início do século XX.

Tubino (2010) diz que o esporte moderno foi estimulado, a partir da

restauração dos Jogos Olímpicos em 1896, em Atenas. O reinício do movimento

olímpico consolidou o esporte e ainda trouxe um segundo balizador da ética

esportiva – o “Fair Play” (jogo limpo).

A chegada do Olimpismo fixou o amadorismo como uma das referências. No

contexto do século XIX, o esporte, principalmente na Inglaterra, era praticado pela

aristocracia e alta burguesia, que tinham suas práticas esportivas voluntárias e seu

profissionalismo. O amadorismo era uma defesa contra o ingresso popular na prática

do esporte.

O esporte moderno pode ser tratado com foco na tradição do espetáculo

representante das diferentes formas com foco nas emoções, desejos e vontades,

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mobilizando cada vez mais a sociedade atual. Para Goellner (2004), os eventos

esportivos são percebidos pelas expressões públicas de emoções.

Neles podemos visualizar uma espécie de expressão pública de emoção socialmente consentida: o frenesi, o congraçamento, a rivalidade, o êxtase, a violência, a justiça, a expressão de aplausos e lágrimas de sentimento que fazem vibrar a alma dos sujeitos e das cidades no exato momento que viviam a tensão entre a liderança e o controle de emoções individuais (GOELLNER, 2004, p. 2).

Para Bracht (2005), o esporte moderno é um resultado de um processo de

mudança, ou seja, de esportivização de elementos da cultura corporal de movimento

das classes populares inglesas, como os jogos populares, a exemplo dos jogos com

bola, bem como de elementos da cultura corporal de movimento dos nobres

ingleses.

Os jogos populares, aproximadamente em 1800, entram em decadência,

haja vista que o processo de industrialização e urbanização modifica as condições

de vida, como afirma Dunning (1979). Sendo assim, os jogos tradicionais foram

perdendo as funções iniciais que estavam ligadas às festas (religiosas, em

comemoração às colheitas etc.), ou seja, os jogos vão apresentando ressignificação.

Os jogos populares passam por repressão pelo poder público, inclusive no Brasil.

Por volta de 1910 a 1930, aconteceu a repressão contra a prática corporal, a

Capoeira, pelas autoridades. Já na Inglaterra, especialmente nas escolas públicas,

os jogos populares permaneceram, por não serem considerados uma ameaça à

propriedade e à ordem pública. Sendo assim, nas escolas públicas esses jogos vão

ser regulamentados e paulatinamente vão ganhando formas do esporte moderno.

Os ideais do Olimpismo são: a participação em massa; a educação por

intermédio do esporte; a promoção do espírito coletivo, do intercâmbio cultural e da

compreensão internacional; e a busca pela excelência. O Olimpismo trouxe ao

esporte um impulso muito grande, além de inserir a necessidade do amadorismo nos

esportes olímpicos. O amadorismo era a base do ideário olímpico e com a elite e o

associacionismo formava-se a própria ética esportiva. O Ideário Olímpico estende-se

até a metade da década de 1930, tendo o início de seu rompimento nos Jogos

Olímpicos de Berlim, em 1936, quando Hitler tentou usar os Jogos para demonstrar

uma ”suposta” supremacia ariana. Ademais, os principais símbolos, emblemas e

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marcas olímpicas e os Jogos Olímpicos de Inverno (I) (Chamonise / 1824) surgiram

durante o período do Ideário Olímpico.

Para Tubino (2010), o esporte tornou-se mais um „palco‟ da chamada Guerra

Fria entre capitalismo e socialismo, como se observa a seguir:

Os países capitalistas fraudavam o amadorismo como o chamado amadorismo marrom, que consistia em facilidades, bolsas e ajudas de custo aos atletas. Enquanto isso os países socialistas também fraudavam o conceito de amadorismo, ao colocar seus atletas numa carreira esportiva estatal, que começava na detecção de talentos e seguia em escolas esportivas até as altas performances (TUBINO, 2010, p. 25).

No período de uso político-ideológico do Esporte Moderno aconteceram

várias manifestações políticas e graves em jogos Olímpicos, a exemplo de

manifestações dos negros norte-americanos, sequestros, assassinatos e boicotes.

Foi um período de enfraquecimento do Comitê Olímpico Internacional, haja vista o

contexto internacional, inseridos em conflitos, principalmente a “Guerra Fria”. A

decadência do Olimpismo foi tão grande que foram criados os “Goodwill Games”, os

quais, de alguma maneira, equilibravam os interesses de competições de alto nível

para os grandes atletas. Ademais, a ética esportiva, vítima constante dos ilícitos,

inclusive, como o “Doping”, foi se desmoronando, sem força para enfrentar o

“Chauvinismo da Vitória”, ou seja, a vitória a qualquer custo.

O cenário esportivo negativo do período histórico do uso político-ideológico

do esporte gerou reações importantes, as quais foram paulatinamente criando as

bases do Esporte Contemporâneo. Dentre as reações, pode-se identificar: o

Movimento “Esporte para Todos” – EPT, os Manifestos das Organizações

Internacionais e a adesão da intelectualidade internacional ligada às questões do

esporte.

O Movimento “Esporte para Todos” – EPT é considerado como um

movimento esportivo que defende e promove o acesso às atividades físicas para

todas as pessoas. Deste modo, o esporte não é um privilégio para aqueles que se

apresentam com talento esportivo ou biótipos adequados para as práticas

esportivas. O EPT tentava democratizar a atividade esportiva. Este movimento

nasceu na Noruega, chamado de “TRIMM”. Foi bastante aceito na então Alemanha

Ocidental, Noruega, Bélgica, Suécia e Holanda.

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A TAFISA - Trim and Fitness Internacioal Sport for All Association, e a

Fédération Internacional deu Sport pour Tous são as instituições internacionais que

mais promoveram o EPT.

Em junho de 1987, em Oslo, a Conferência conjunta do “Trimm and Fitness” e do Comitê de Esporte e Lazer do “Internacional Council of Sport Science and Physical Education”, foi mais um passo dado para classificar as novas tendências do esporte – “Esporte para todos” (COSTA, 1992, p. 117).

A origem desse movimento remonta às criticas ao esporte de rendimento,

iniciadas na década de 1960, que deram origem ao Manifesto Mundial do Esporte,

de 1968, consolidando-se a Carta Internacional da Educação Física e Esporte, da

UNESCO, de 1978. Desta forma, apesar das reações, o quadro negativo do esporte

perdura até o final da década de 1970.

Em 1976, na cidade de Paris, durante a I Reunião de Ministros de Esporte,

ficou definido que até o final da década, a UNESCO publicaria e divulgaria um

documento com diretrizes estabelecidas para governos e populações em geral,

tomando-se como base as questões relacionadas ao esporte, com vistas a um

mundo melhor. Esse documento resultou na referida Carta. O esporte passa a ser

visto de envergadura social, com a ideia de ser compreendido para todas as

pessoas, independente de idade e situação física. A partir deste documento, todos

os documentos ligados ao esporte passaram a reconhecer o direito de todas as

práticas esportivas, respaldando-se na inclusão social. Assim sendo, a Organização

das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – (UNESCO) preconizou

desde 1978 que a prática de esporte é fundamental para todas as idades como

contribuinte para uma vida saudável, melhorias da saúde e também é um elemento

que pode influenciar na economia (UNESCO, 2003).

Foi a partir dessa carta que o esporte como um direito de todos passou a

receber expressão política internacional. Um novo conceito surge desse movimento,

partindo do pressuposto de que o esporte é “um direito universal”, implicando o

reconhecimento do esporte-educação e do esporte-lazer como discussões sociais

legítimas ao lado do esporte de desempenho. Com a Carta Internacional de

Educação Física e Esporte, rompe-se com a ideia de que o esporte é prerrogativa

única de talentos e com biótipos indicados como condições necessárias para o

rendimento que preconizou no Esporte Moderno, passando para o direito de todos.

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Identifica-se, portanto, que no contexto internacional, na década de 1960, já havia

movimentos que contestavam o esporte na perspectiva única do rendimento, a

exemplo do Manifesto do Esporte (1968), o Movimento EPT e os depoimentos dos

intelectuais, pois criaram clima de expansão de abrangência social do esporte. A

moderna concepção do EPT, de acordo com DaCosta e Miragaya (2002), está

associada à organização de programas de participação popular, com finalidade de

recreação, desenvolvimento esportivo, oportunidade de lazer e promoção de saúde

para seus praticantes.

Os Manifestos dos organismos internacionais, de maneira geral, reagiram à

supremacia do esporte de alto rendimento e foram relevantes nas reflexões sobre o

sentido que as competições esportivas estavam tomando. Os principais documentos

de reação foram:

Manifesto do Esporte – (1968), do Conscil Internacionale de Education Physique da

Paz Noel Baker, no qual, pela primeira vez, foi difundido que o esporte não era

apenas rendimento, mas que existia um esporte na escola e um esporte do ser

humano comum.

Manifesto Mundial da Educação Física – da Fédération Internationale d’Education

Physique – FIEP (1970), no qual esse organismo internacional tentou reforçar as

articulações da Educação Física com o esporte.

Carta Europeia de Esporte para Todos – basicamente fundamentou-se teoricamente

do Movimento EPT.

Movimento do Fair Play – editado em 1975, apresentou a importância do “Fair Play”,

nas competições, com vistas à ética e à convivência humana. De acordo com Tubino

(1987), “Fair Play” compreende o cavalheirismo, o respeito ao adversário, a

aceitação da derrota, a colaboração em equipe e muitas outras virtudes.

O respeito, a amizade, o espírito de equipe, a concorrência leal, o respeito

pelas regras escritas e não escritas, a igualdade, a integridade, a solidariedade, a

tolerância, o cuidado são valores que formam a base do fair play, que podem estar

presentes na vida cotidiana, manifestando-se no comportamento social diário;

contribuindo para a construção de um mundo pacífico e melhor. De outro modo, se

faz necessário concebê-lo não mero comportamento, mas também, representa um

modo de pensar.

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Carta de Paris – A partir desta Carta, o esporte foi considerado uma efetiva

manifestação de educação permanente. A Carta de Paris resultou do I Encontro de

Ministros de Esporte e Responsáveis pela Educação Física (1976).

Surgiram também os intelectuais, como sociólogos, filósofos e cientistas

políticos, principalmente aqueles preocupados com as problemáticas voltadas aos

vícios, deformações e ilícitos ligados às práticas esportivas, e, por conseguinte,

apareceram as publicações em torno do esporte.

À medida que as cidades norte americanas foram crescendo o esporte do

final da década de 1980 foi se expandindo, sendo considerado como uma

possibilidade de desvincular-se das preocupações da vida urbana.

Numa perspectiva histórica, ao tratar do esporte, é importante fazer uma

relação com os Jogos Olímpicos da Grécia clássica, porém hoje se convive com a

espetacularização do esporte agregando diferentes valores. Pois, mesmo que se

ressalte o “espírito olímpico”, com a ideia de confraternização, respeito às regras,

referenciando a identidade nacional, a busca da paz, existe uma ressignificação do

esporte que vem apresentando-se ao longo dos tempos. Goellner (2004, p.3) afirma

que “o esporte é plural e manifesta-se de diferentes maneiras em diferentes culturas

e tempos, e essas manifestações agregam-se múltiplos valores”.

O esporte-espetáculo se fortaleceu na segunda metade do século XX,

principalmente, pela popularização da televisão e o crescimento da indústria do

entretenimento. Após a Segunda Guerra Mundial, e, por conseguinte, com o

crescimento econômico, o esporte foi enaltecido pela necessidade de

entretenimento da população, sendo considerado como um dos grandes produtos da

indústria do entretenimento. Ademais, como resultado dos interesses econômicos, a

necessidade da espetacularização do esporte vem sendo fortalecido.

Em síntese, recorre-se a Tubino, G.; Garrido e Tubino, F. (2006), ao dizer

que o esporte é classificado como: Esporte Antigo, Esporte Moderno e Esporte

Contemporâneo. Segundo Tubino (2010), o Esporte Antigo se deu no período da

Antiguidade até a primeira metade do Século XX. O Esporte Moderno foi concebido

pelo inglês Thomas Arnold a partir de 1820, sendo instituídas as regras e entidades,

tendo em vista a institucionalização das práticas esportivas e tem como base a Carta

Internacional de Educação Física e Esporte (UNESCO, 1978). No final da década de

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1980, a partir do entendimento do direito de todos ao esporte, inicia-se o Esporte

Contemporâneo.

O esporte é considerado um dos fenômenos socioculturais e políticos

importantes nas passagens dos séculos, com articulação cultural e contextos

históricos. Para Tubino (2010), o esporte carrega diferentes sentidos das civilizações

antigas das primeiras manifestações esportivas pelos gregos, na civilização romana,

Idade Média e Renascença, chegando ao Esporte Moderno e depois ao Esporte

Contemporâneo. Segundo o referido autor, o esporte é uma das maiores

manifestações culturais desde a Antiguidade, e que a história cultural do mundo

passa pela história do esporte (TUBINO, 2010, p. 32).

De acordo com a abordagem teórica de Melo (2010), há duas grandes

vertentes para a compreensão histórica do esporte, são elas:

a) Propugna-se que a manifestação esportiva já existia na Antiguidade, sendo perceptível em jogos que eram praticados por chineses, egípcios, gregos, romanos, entre outros;

b) Procura-se entendê-lo como um fenômeno moderno, que mesmo apresentando similaridades técnicas com antigas manifestações culturais, possui sentidos e significados bastante diferenciados daqueles jogos “pré-desportivos” (MELO, 2010, p. 51).

2.2 Dimensão lúdica do esporte e lazer

É comum fazer-se referência aos jogos gregos antigos, entre eles os

Olímpios, como práticas esportivas. Assim sendo, haveria a continuidade entre

aquelas práticas corporais antigas e as que hoje se chamam de esporte. E, por

conseguinte, estariam presentes características que definem a identidade do

esporte. Outra perspectiva teórica está na propensão do homem ao jogo (Homo

Ludens) como a característica essencial e definidora das práticas corporais

esportivas. Deste modo, o esporte é uma manifestação do jogo e esse como um

comportamento básico do ser humano.

Por outro lado, há o entendimento da descontinuidade, a ruptura que

representa essa forma cultural do movimento humano (o esporte). De acordo com

Bracht (2005), é necessário enfatizar com maiores aproximações as características

das práticas corporais presentes na sociedade tradicional (inclusive as chamadas

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primitivas) e a própria gênese das modalidades esportivas modernas, com base nos

respectivos contextos econômicos, políticos e culturais.

De acordo com Santos (2000), o homem contemporâneo é caracterizado

como Homo Ludens, como evolução e contraposição ao Homo Sapiens e ao Homo

Faber. Desta forma, entende-se o esporte e o lazer como fenômenos historicamente

constituídos e inerentes à condição humana. O vocábulo lúdico se origina do latim

ludus, que significa brincar, sendo neste contexto que Sant„Anna (2011) afirma que o

brincar esteve presente em todas as épocas da humanidade, mantendo-se até os

dias atuais. Em cada período histórico vivido pelos povos, o brincar está presente,

sendo considerado como algo espontâneo, natural. Para a história antiga, o brincar

era desenvolvido por toda a família, até mesmo quando os pais ensinavam os ofícios

para seus filhos.

O ser humano da Idade Média brinca, a partir de sua associação da

sabedoria divina à obra da Criação, conforme a sentença bíblica: “Quando Deus

criou o mundo e fez brotar as águas das fontes, assentou os montes, fez a terra e os

campos, traçou o horizonte, firmou as nuvens no alto, impôs regras no mar e

assentou os fundamentos da terra “ali estava eu, (a Sabedoria) com Ele como

artífice, brincando (ludens) diante dele todo o tempo; brincando sobre o globo

terrestre, e minhas delícias são estar com os filhos dos homens” (Prov. 8, 30 – 31).

Lauand (1999) enfatiza que a Idade Média valoriza e fomenta a cultura

popular e, por conseguinte, o lúdico. De maneira que os mestres da época se

dirigiam aos seus alunos de modo informal e lúdico, por conseguinte, o lúdico tem

um papel importante na Idade Média, inclusive para crítica dos documentos dessa

época, havendo toda uma relação no processo de transmissão de ensinamentos.

Nos escritos de Tomás de Aquino (II – II ano, p 168, 2), o lúdico é visto como

atitude, entendendo este autor que no ludus observa-se que:

No brincar do adulto, se aplica às crianças, mas com adaptação; bem como na graça, o bom humor, a jovialidade e leveza no falar e no agir que tornam a convivência humana descontraída, acolhedora, divertida e agradável; e, ainda, que o lúdico é uma virtude de convivência, do relacionamento humano. Desse modo, para esse autor o ludens refere-se ao brincar não verbal, mas por ação, ou seja, quando as palavras ou ações buscam diversão, chamam-se de lúdicas.

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Portanto, nessa concepção, o brincar é necessário para a vida humana, pois

o ser humano precisa de repouso corporal para restabelecer-se, haja vista que suas

forças físicas são limitadas, não podendo trabalhar continuamente. Logo, precisa de

repouso para a alma, sendo isto possibilitado por meio da brincadeira. Desta forma,

o sentido do lúdico, por intermédio do brincar, oferece benefícios do ponto de vista

físico e emocional. De modo que o lúdico deixou de ser visto como uma

característica inerente à criança, passando a ser considerado em todas as fases do

desenvolvimento humano. Assim, a terminologia Homo Ludens faz parte do nosso

cotidiano, em que o homem passa a dar um novo sentido a sua existência pela via

da ludicidade, recuperando a sensibilidade estética e enriquecendo o seu interior

como bem assevera Santos (2001).

De fato, o comportamento lúdico é fruto do desenvolvimento de uma cultura

lúdica que, ao longo da história, foi defendida por uns e combatidas por outros. Para

Negrine (2001), o comportamento lúdico está vinculado a uma atividade, individual

ou coletiva, sendo necessário, para uma adequada compreensão desse

comportamento fazer uma relação com a variável tempo.

Por sua vez, Santos (2001), tomando como base a pesquisa do

mapeamento cultural, ressalta que o brincar está situado no quadrante superior do

hemisfério direito do cérebro. Nesse sentido, pesquisas ainda revelam que a mente

humana tem um potencial ilimitado, sendo que o ser humano usa pouquíssimo

desse potencial, tendo esta utilização uma variação de 1% a 10%; destes 10%,

verifica-se que a racionalidade ocupa grande parte deste percentual, entendendo-se

o quanto o ser humano não se utiliza da ludicidade como um mecanismo de

desenvolvimento. Ademais, Santos (2001, p. 12-13) apresenta características que

determinam o predomínio da emoção e contribuem para a ludicidade, ao afirmar

que:

Quando o homem potencializa o hemisfério direito no trabalho, ele inova, integra, tem facilidade para estabelecer conceitos, interessa-se por novas tecnologias, compartilha e expressa-se. No processo criativo ele brinca, experimenta, intui, vê o todo, interage com as pessoas, aciona o cinestésico, o espiritual, o sensorial e o tátil. Quando está aprendendo ele separa, vivencia, descobre, qualifica, elabora conceitos, aciona o emocional, sente, internaliza e compartilha.

Com a intenção de trazer para a discussão a dimensão lúdica atribuída ao

lazer por alguns autores, enfatiza-se Pinto (2007), ao afirmar que o lazer é

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compreendido como tempo / espaço / oportunidade para vivências culturais lúdicas,

preconizando-se o prazer pela vivência da liberdade / autonomia. E ainda, para

Gomes (2008), o lazer é uma dimensão da cultura, com características da ludicidade

das diferentes manifestações culturais, inclusive no ócio. A autora ainda diz que o

lazer é vivenciado no tempo / espaço resultados das conquistas das pessoas e

grupos sociais. Contudo, a primeira autora anuncia a ideia de liberdade e autonomia

e Gomes (2008) referenda – o como ponto de vista de conquista. Mas, ampliando-se

esse entendimento, com intuito de focalizar o lazer e sua compreensão numa

natureza de diversão, sua relação com tempo, espaço, atitude, dimensão cultural,

qualidade de vida e desenvolvimento, apresenta-se a definição de lazer conforme

Rodrigues et al. (2011, p. 19):

Cultura vivida com alegria e liberdade no tempo disponível, fora das obrigações sociais. Tempo, espaço e oportunidades privilegiados para vivências lúdicas, para divertir-se de diferentes modos, participar de diferentes formas (assistindo, praticando, conhecendo) em diferentes momentos e espaços. Como fator de qualidade de vida, o lazer é compreendido como meio e fim educativo para a formação de valores voltados à humanização das relações, podendo contribuir para o desenvolvimento social, cultural e humano.

Porém, com realce ao lazer como prática social, com a inserção da

perspectiva lúdica, volta-se para Gomes e Elizalde (2012), quando diz que o lazer é:

Uma prática social complexa que pode ser concebida como uma necessidade humana e como uma dimensão da cultura caracterizada pela vivencia lúdica de manifestações culturais no tempo / espaço social. Essa compreensão embasa nossas reflexões, análises e interpretações (GOMES; ELIZALDE, 2012, p. 30).

Observa-se que o tempo, espaço / lugar, ações / atitude e manifestações

culturais são características do lazer no entendimento de Gomes (2004). A autora

ressalta ainda que estes elementos são interligados, sendo considerado o lúdico

como balizador, no qual os sujeitos se envolvem a partir dos seus desejos.

Schlee (2001), tomando por base o pensamento de Le Corbusier, na tríade

espaço / função / emoção, substitui o espaço lúdico por espaço qualificado; pois no

espaço qualificado, o lúdico será visto de forma criativa e inventiva e ainda que

neste espaço sempre há lugar para o lúdico, pois ele é entendido como um agente

de ludicidade. Para Schlee (2001), o espaço lúdico é qualquer extensão limitada em

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três dimensões para as atividades lúdicas, ou seja, os jogos, os brinquedos e as

brincadeiras. Assim sendo, os estádios, os ginásios, os parques, as praças, os

jardins, entre outros, são destinados para o desenvolvimento das atividades

esportistas e/ou recreativas. O autor complementa que todo espaço pode ser

classificado como lúdico.

2.3 Esporte e suas categorias conceituais

Recorrendo à história conceitual do esporte, é possível descobrir a

exacerbação do agon (jogos de competição) ou em detrimento e atrofia do ludens,

ou lúdico, enquanto perdurou a perspectiva única do rendimento, tornou-o muito

mais competição do que jogo (TUBINO, 2002a, p. 31). Por outro lado, a aceitação

pública de novas dimensões à prática esportiva teria reconduzido o esporte a um

cenário não elitista, próximo às fontes lúdicas. Essa mudança de concepção foi

liderada por um movimento intelectual que reuniu pensadores, pesquisadores e

profissionais do esporte em escala internacional.

Conforme Grifi (1989), a palavra “esporte” é fruto de uma evolução que se

realizou entre os séculos XII e XIV. Na França já no século XIII, era usada a antiga

palavra desport, a qual se relacionava com os meios para transcorrer

agradavelmente o tempo. Na Inglaterra do século XIV, este termo manteve o mesmo

significado, sendo traduzido como sport. Segundo Melo (2001a, p. 56), antes mesmo

da organização do campo esportivo (primeira metade do século XIX), o termo sport

já era correntemente utilizado no Rio de Janeiro, destacadamente veiculado nos

jornais e revistas. Em uma cidade, de um país recém independente que pretendia se

modernizar buscava-se estabelecer vínculos de diversas ordens como Paris e

Londres, modelos do mundo “civilizado” europeu. No âmbito dessas conexões, o

esporte, uma prática já existente naquelas cidades, chega ao Brasil.

Lucena (2001) fala sobre os cronistas e as crônicas que tratavam das

crescentes práticas desportistas na cidade do Rio de Janeiro e seu reflexo no

tratamento dispensado pelos jornais do final do século XIX e início do século XX.

Surgira, na oportunidade, que, pelas crônicas, poderiam perceber o quanto de força

e representação o esporte já se instalava na sociedade do Rio de Janeiro, na época.

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Não há dúvidas de que as práticas corporais e esportivas configuram hoje, um fenômeno cultural como grande abrangência e visibilidade no cenário mundial. As diferentes modalidades esportivas, a dança, as lutas e as práticas corporais envolvem sujeitos em diferentes contextos culturais, sejam como praticantes, sejam como espectadores. São práticas regulares que se desenvolvem no cotidiano das cidades modernas despertando interesse, mobilizando paixões, evocando sentimentos, criando representações de corpo, saúde e lazer, enfim, convocando nossa imediata participação (LUCENA, 2001, p. 200).

O esporte é um fenômeno cultural, tem caráter universal, multirracial,

praticado em todos os lugares, carregando particularidades como normas, regras e

valores, sendo entendido para além das necessidades imediatas da vida.

Habitualmente define-se esporte como uma prática que envolve prazer,

bem-estar, aventura, desejo, natureza, diversão. No entanto, a Sociologia do

Esporte vem buscando desconstruir e ampliar o significado da palavra “esporte”.

O italiano Antonelli (1963) conceitua o esporte, a partir dos seguintes

elementos: o jogo, o movimento e o agonismo (competição). O esporte para ele tem

as seguintes características: o ético-social; psicopedagógico, o psicoprofilático e o

psicoterapêutico. Neste sentido, o que caracterizava o esporte era o competir,

estabelecer uma relação com os princípios éticos, com o desenvolvimento

socioemocional, podendo ter uma função profilática ou terapêutica.

Para o sociólogo francês, Magnane (1969), o esporte é uma atividade de

prazer em que o dominante é o esforço físico, que participa o lugar do jogo e do

trabalho, praticado de maneira esportiva, englobando regulamentos e instituições

próprias, sendo possível de transformar-se em atividade profissional. Verifica-se que

a condição nesta concepção de esporte é inerente à perspectiva funcional e de

rendimento.

Eppensteiner (1973) trata da motivação da ação esportiva; uma deriva da

natureza e outra da cultura. E, ainda se refere à origem do esporte como um

fenômeno biológico e não histórico. Para ele, em todas as épocas, as causas

culturais e biológicas do esporte coexistem, criando um instinto esportivo, resultante

da combinação dos instintos, do lúdico, do movimento e da luta.

Feio (1978) diz que o esporte é o lugar onde se desenvolve o

comportamento do ser humano, seja sozinho, em pequenos grupos ou multidão,

numa situação agonística – recreativa. O autor ainda diz que para entender melhor o

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fenômeno esportivo, há uma necessidade de separar-se do jogo. Desta forma, com

o esporte reflete-se o competir, mas com carácter recreativo.

Cazorla Prieto (1979) estabelece duas vertentes para o esporte. Do ponto de

vista individual, o esporte é entendido com uma atividade humana essencialmente

física, que se pratica sozinho ou coletivamente, podendo-se obter autorrealização ou

como meio de atingir os seus anseios, na outra visão o esporte é concebido numa

perspectiva social, considerado como fenômeno relevante na sociedade, que tem

relação econômica e política.

De acordo com Cagigal (1979) o esporte segue duas vertentes, sendo uma

entendida como esporte – espetáculo, ou seja, pela sua oportunidade de

espetacularidade e organização progressiva, e a outra como esporte – práxis, pois

está relacionado às características mais higiênicas, educativas, ociosas, lúdicas, e

automaticamente de relação social.

Cabe-se referenciar que os autores, a exemplo de Antonelli (1963),

Eppenstener (1973), Feio (1978), Cazorla Prieto (1979) e Cagigal (1979) estão

presentes na teoria clássica de base geral de esporte de Tubino (1987).

O esporte para Rial (1998, p. 242), segue um raciocínio de descargas de

energia, dá ideia de homens fortes e combatentes, que ele traz satisfação, tem um

poder disciplinador e com relações com as identidades, ao afirmar que:

O esporte constitui-se numa prática que proporciona a descarga de energia libidinal constrangida pelo processo civilizatório; é uma atividade substitutiva para a guerra, diverte, dá prazer, ensina obediência às regras, fortalece-se e disciplina o corpo, serve para construir identidades pessoais, locais ou nacionais, etc.

Esporte é “um fenômeno estruturado historicamente dentro da cultura

motora da sociedade, como forma de expressão e comparação das possibilidades

do ser humano” (GOBBI, 1992, p. 92). A expressão e comparação citadas implicam

performance motora, e sua melhoria se dá a partir do treinamento esportivo. Neste

sentido, percebe-se o foco dado aos resultados, como se apresenta na perspectiva

de esporte de rendimento.

O esporte é compreendido para Guedes e Guedes (1995) como um sistema

ordenado de práticas corporais de relativa complexidade que inclui atividades de

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competições institucionalmente regulamentadas, que se baseia na superação de

competidores ou de resultados lúdicos pré-estabelecidos pelo próprio esportista.

Os pesquisadores Melo et al. (2009) discutem as diferentes modificações

sobre o esporte quando dizem que:

Os povos da Antiguidade tinham um conjunto de práticas corporais, com algum grau de institucionalização (ainda que bem discutido, distintas das práticas modernas), por eles não denominadas de esporte [...] em determinado momento se sistematiza uma palavra Sport, que passou a expressar um determinado conceito. A palavra se manteve, os conceitos foram se alterando, até que se conformou o que chamamos de esporte moderno. Os conceitos seguiram se modificando, surgiram mesmo neologismos (ou adendos, como esportes de quadra, esportes náuticos, esporte de natureza, esportes radicais) (MELO, 2009, p. 62).

O esporte na visão de González (2005) é entendido como uma prática

motora / corporal, pois é:

a) orientado a comparar um determinado desempenho entre indivíduos ou grupos;

c) regido por um conjunto de regras que procuram dar aos adversários

iguais condições de oportunidades para vencer a contento e, dessa forma manter a incerteza do resultado, e

c) com essas regras institucionalizadas por organizações que assumem (exigem) a responsabilidade de definir e homogeneizar as normas de disputas e promover o desenvolvimento da modalidade com o intuito de comparar o desempenho entre diferentes atores esportivos (GONZÁLEZ, 2005, p. 170).

Para enfatizar as discussões acerca da dimensão do esporte para além do

ponto de vista de rendimento, como viu-se anteriormente, reitera-se a importância

atribuída a documentos, a exemplo dos “Documentos Esportivos Filosóficos

Internacionais” e o Manifesto Mundial de Esporte, de 1964 e o Movimento “Esporte

para Todos”, verifica-se que o conceito do esporte voltado para o rendimento é

revisto, em especial, a partir do referido Manifesto para o Esporte, sendo

reconhecida a existência do esporte na escola e no tempo livre; além da Carta

Internacional de Educação Física e Desporto, de 1978 que ressaltou a importância

do fenômeno esportivo e sua referência à introdução do direito à prática esportiva

(TUBINO, 2002b).

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Henquet (1995) afirma que apesar da Carta Internacional da Educação

Física e Esporte (1979), o acesso à Educação Física e ao Esporte, como um direito

de todos, está longe de ser um fato, ao dizer que:

O mapa do subdesenvolvimento esportivo coincide, excetuados pequenos detalhes, com o mapa do simples subdesenvolvimento. Em vários países da América do Sul, em cada grupo de cinco jovens, quatro não têm condições de praticar atividades físicas e esportivas (HENQUET, 1995, p. 06).

2.4 Contextualizando o lazer

Nas línguas portuguesa e inglesa é utilizada a palavra recreação como

termo lazer, por conseguinte, seus significados influenciaram consideravelmente o

seu entendimento no Brasil, principalmente na primeira metade do século XX. Já no

idioma francês, esse campo é compreendido apenas por um vocábulo loisir, com a

ideia de descanso, divertimento e desenvolvimento social. Seja no francês loisir, no

inglês leisure e lazer no português, o vocábulo lazer tem origem etimológica do

termo latino licere, que significa ser lícito, ser permitido, poder, ter o direito. Em

espanhol, o termo lazer é utilizado como sinônimo de ócio. Recreação, lazer, ócio e

tempo livre na América Latina são termos muitos utilizados indistintamente, gerando

conflitos e problemas de compreensão. A princípio, o lazer foi associado ao termo

grego skholé, tempo ocupado por atividades ideais e nobres para o ser, por

atividades livres como a contemplação teórica, a especulação filosófica e o ócio; e,

ao vocábulo romano otium. Segundo De Grazia (1966), implicava as condições de

paz, reflexão, prosperidade e liberdade, tendo em vista as atividades servis e as

necessidades da vida produtiva.

Werneck (2000) focaliza a ótica epistemológica do lazer quando associa o

seu sentido à antiguidade clássica analisando os seus significados, associando o

lazer à sociedade grega para traçar o início de uma linha histórica deste fenômeno.

Várias atividades culturais greco-romanas foram entendidas como referenciais de

entretenimento e lazer. Em Roma tinham as Olimpíadas: combate à gladiadores,

banquetes, festas etc. e na Grécia, o lazer era caracterizado pelas competições

olímpicas, peças teatrais, recitais poéticos, apresentações de dança e canto, entre

outras.

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Conforme Saura (2014), o lazer como fenômeno presente em todas as

sociedades humanas, atua ou pode atuar não se reduzindo a atividades recreativas

ou pedagogizadas, manifestando-se no lúdico. Logo, para essa autora o lazer não

deve ser entendido apenas como sinônimo de recreação5. Considerando o

entrelaçamento dos termos recreação e lazer e, ainda, havendo possíveis equívocos

quanto ao entendimento de cada um, optou-se neste estudo apresentar, de forma

sucinta, os conceitos e significados da recreação para que seja entendido o lazer e

seu possível relacionamento com a recreação. Contudo, contrariamente ao

pensamento de Saura (2014), o lazer como fenômeno não se apresenta nos

diferentes tipos de sociedades, uma vez que, há autores que o compreende, a partir

da sociedade urbano-industrial, enquanto outros o consideram, numa dimensão

mais ampla, como base nos valores pós-modernos.

A recreação se amplia e vem se consolidando como saber que foi

apropriado pela escola, pela família, pela igreja, pelo hospital, pelo centro de

convivência, pelo presídio, pelo esporte, pelo lazer, e pelas diferentes instituições

sociais que fazem dela uma manifestação com conteúdos, com formas e valores

adaptáveis aos diferentes contextos e situações, na medida em que sejam

construídas experiências educativas e culturais ricas, a partir de um fazer consciente

e coerente. Todavia, segundo Gomes e Elizalde (2012) há problemas no

desenvolvimento de conceitos de recreação e lazer embora haja esforço dos

estudiosos latino-americanos no trato com esta questão. Esse fato se dá por

algumas razões, tais como:

concepção de que a recreação, historicamente, com a passagem do século XIX

para o século XX esteja atrelada ao uso social e moral positivo do tempo. Sendo

assim, a recreação funcionou como controle social em toda América e não

5 Etimologicamente, a palavra recreação aparece em duas vertentes, uma posição é de Marinho et al.

(1952) ao apresentarem que recreação vem do latim recreatio, significando recreio, divertimento, sendo derivado do vocábulo recreare, com a ideia de reproduzir, estabelecer, recuperar. Segundo o dicionário de Ferreira (1988) e alguns pesquisadores da temática, etimologicamente a palavra recreação vem do termo (verbo latino) recreare, significando recreio, divertimento. Para Guerra (1988), recreação compreende todas atividades espontâneas, prazerosas e criadoras, de acordo com os seus interesses. Para Brêtas (1997) e Marcellino (1990) recreação significa recreio e divertimento, numa perspectiva de recriação, criação do novo, revigorar. Os conceitos de recreação vêm sendo ampliados ao longo dos anos dentro de uma visão crítica, sendo reconfigurada para além de atividades, produto de reprodução de jogos e brincadeiras. Nas décadas de 1970 e 1980, um entendimento da recreação teve uma ampliação influenciada pelo sociólogo Dumazedier (1975), ao entender a recreação como uma das funções do lazer.

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correspondendo ao direito articulado com a redução da jornada de trabalho, fruto

das reivindicações dos trabalhadores europeus do século XIX;

pelo entendimento do lazer ser útil quando não ameaça a lógica do capitalismo;

a possibilidade de estimular as pessoas a refletirem sobre as realidades e

vivências, contribuindo para valorização das diferentes manifestações

socioculturais lúdicas de forma crítica;

lazer entendido como necessidade humana fundamental e que é mais amplo que

a recreação, embora seja um dos meios de satisfazer a necessidade de lazer.

Para situar o lazer historicamente recorre-se às considerações acerca da

sua produção teórica e sistematização. Deste modo, iniciam-se as ponderações do

sociólogo francês Dumazedier (1979) ao afirmar que a sociologia do lazer foi

fundada nos Estados Unidos, porém segundo o referido autor, nas décadas de 1920

e 1930 e que os estudos pioneiros da sociologia empírica do lazer surgem nos

Estados Unidos e na França, com o intuito de relacionar o fenômeno do lazer aos

outros campos da realidade social. Porém, a partir da segunda guerra mundial é que

a sociologia do lazer e outras pesquisas sobre a temática se expandem em outros

países e com uma relação mais frequente com outras áreas, tais como: política,

urbanismo, planejamento econômico, saúde e assistência social. Segundo

Dumazedier (1978), dentre os precursores no campo do lazer como fenômeno social

se tem: Inezil Marinho, que em 1957 publicou – “Educação Física, Recreação e

Jogos”; Ethel Bauzer Medeiros elaborou o projeto de Recreação no Aterro do

Flamengo – Rio de Janeiro/ RJ. Arnaldo Sussekind aplicou um questionário sobre o

lazer para a classe de operários e dirigiu o Serviço de Recreação Operária do

Ministério do Trabalho.

No Brasil, a obra de José Acácio Ferreira (1959), intitulada “Lazer operário:

um estudo da organização social das cidades” é um marco inicial da preocupação

inerente às questões do lazer, ao realizar um estudo com trabalhadores assalariados

da cidade de Salvador (BA), com foco na importância e a contribuição das atividades

de lazer para a vida das pessoas, tendo assim uma visão compensatória do lazer,

ou seja, uso do tempo livre com o lazer, com atividades condizentes com os

preceitos sociais. Este pensamento é comungado por diferentes autores, como

Requixa (1977), Marcellino (1997) e Bramante (1998).

O SESC – Serviço Social do Comércio teve um papel preponderante nas

primeiras iniciativas de sistematização do conhecimento sobre o lazer, com fins de

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contribuir para o bem-estar e a paz social (MARCELLINO et al., 2007). Porém, na

perspectiva de Marcellino et al. (2007), a discussão era enveredada para um caráter

assistencialista e funcionalista. Sendo assim, o lazer visto como forma restrita,

compreendido como atividade e possibilidades práticas. É importante ressaltar que o

SESC foi o pioneiro no Brasil, tanto nos estudos quanto na oferta de programas de

lazer para os trabalhadores e familiares do setor de serviços. O lazer é incentivado

como parte contribuinte de um conjunto de medidas para a melhoria da qualidade de

vida, dos trabalhadores e de sua família. No final da década de 1970, o SESC

realiza em São Paulo, um Seminário voltado para o lazer, como focaliza Dumazedier

(1999).

Em relação aos trabalhadores da indústria, o SESI – Serviço Social da

Indústria oferece programas de lazer e, ainda, é o pioneiro em atividades de lazer no

ambiente de trabalho, otimizando atividades esportivas e socioculturais. O SESI

compreende o lazer como fenômeno que contribui para o desenvolvimento pessoal e

social, bem como se preocupa com as mudanças de estilo de vida dos seus

trabalhadores.

Apesar da discussão sobre o tema lazer ter sido iniciada aproximadamente

na década de 1970, advindas da produção do conhecimento relacionados ao campo

da “sociologia do lazer”, segundo Souza e Isayama (2006) foi apenas no decorrer

das décadas posteriores que este assunto foi disseminado.

A obra de Lênea Gaelzer da década de 1980 tem como foco o tempo livre

como forma de recuperação de forças físicas, psíquicas e espirituais. De acordo com

Gaelzer (1985, p. 30), “era necessário um processo de educação para esse tempo

livre”. A preocupação da autora versava da forma como ocupar o tempo livre com o

lazer. Sendo o lazer visto para a autora, como um elemento essencial para o bom

funcionamento da sociedade. Todavia, essa abordagem foi revista na produção

acadêmica brasileira, a exemplo do sociólogo Nelson Carvalho Marcellino. Este

autor, como outros estudiosos trazem para o cenário da discussão o entendimento

do lazer na sociedade urbano-industrial. Na sua concepção, a educação e, por

conseguinte, o campo da cultura, devem estar articulados para um maior

entendimento sobre o lazer.

As produções de Hasse (2003), Marcellino (2003) e Magnani (1984)

abordam o lazer como fenômeno social, com enfoque nos seus significados e

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valores que podem assumir para os diferentes sujeitos. Sendo assim, o lazer é

concebido não somente no descanso e divertimento, mas como forma de

desenvolvimento pessoal e social. Desta feita, seu enfoque valorativo e subjetivo do

lazer, ultrapassa o olhar puramente de repouso e diversão e passa a ser visto

também como desenvolvimento.

A partir da década de 1980, o lazer passa a ser abordado sob outros

aspectos, visto o surgimento no cenário nacional de autores, sendo que alguns deles

participaram do grupo constituído pelo SESC (Serviço Social do Comércio) e, ainda,

com influências do pensamento de Dumazedier (1979, 1999). No Brasil, o

reconhecimento da importância do lazer ocorre em grande parte, em virtude das

políticas e atividades recreativas difundidas nas esferas estatal e corporativa,

destacando-se as iniciativas ligadas aos setores públicos federais, estaduais e

municipais; como também, aos sindicatos e instituições sociais como o SESC e

SESI.

Dentre os estudiosos da área, destacou-se a contribuição de Marcellino

(1983, 1987, 1990) no tocante aos avanços nas discussões do lazer, a partir de uma

abordagem crítica, fundamentando um grande número de trabalhos que vêm sendo

publicados, inclusive com nova edição. Com base em sua corrente teórica, enfatiza-

se a crítica à visão do funcionalista do lazer. Para Marcellino (1987), essa visão

aponta o lazer como algo altamente conservador, que busca a “paz social” e a

manutenção da “ordem”, considerando-o, também, como instrumento para enfatizar

a disciplina e as imposições de nossa vida em sociedade.

Isayama (2010) afirma que o lazer está sendo vivenciado sob a ótica

funcionalista/assistencialista e ainda, há um privilégio das atividades físicas e

esportivas em detrimento de outras práticas culturais que podem ser vivenciadas no

âmbito do lazer. O lazer não está restrito à dimensão físico-esportiva, pois abrange

distintos interesses, sejam sociais, turísticos, virtuais, artísticos, intelectuais e

manuais.

A Rede CEDES6 – Centro de Desenvolvimento do Esporte Recreativo e do

Lazer – é um importante meio de produção e difusão de conhecimento na área de

esportes recreativos e de lazer.

6 Foi implantado um Projeto, sob a coordenação de pesquisadores da Universidade Estadual da

Paraíba, do Departamento de Educação Física, em parceria com a Universidade Federal da Paraíba, Campus João Pessoa e a Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Sumé – PB, em

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Em relação, ainda, ao campo de pesquisa sobre o lazer, faz-se referência ao

CELAR. Para Melo e Werneck (2003), esse foi o primeiro grupo de pesquisa com

ênfase nos estudos de lazer no Brasil / Minas Gerais, sendo vinculado ao CNPq

(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). O CELAR editou

a revista cientifica Licere específica da área do lazer, no Brasil.

Com o propósito para trazer para discussão compreensões teóricas sobre o

lazer, inicia-se com o entendimento atrelado aos valores de descanso e diversão.

Conforme Silva et al. (2011, p. 28 a), “descansar, recuperar as energias, distrair-se,

entreter-se, recrear-se, enfim o descanso e o divertimento são valores comumente

associados ao lazer”. Nessa perspectiva, a noção de recuperação e diversão tem

um significado à dimensão inerente ao lazer.

Segundo Dumazedier (1979, 2001) o lazer tem o seguinte entendimento:

O lazer é o conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se e entreter-se ou ainda desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais (DUMAZEDIER, 2001, p. 34).

O autor ainda afirma que o caráter libertário, o caráter desinteressado, o

caráter hedonístico e o caráter pessoal são características do lazer (DUMAZEDEIR,

1979). No tocante ao caráter libertário, percebe-se que o lazer é compreendido

como a liberação das obrigações profissionais, familiares, socioespirituais e

sociopolíticas, resultado da escolha por opção pessoal. O caráter desinteressado, na

sua concepção, diz que o lazer não precisa estar interligado a uma determinada

finalidade, ou seja, do ponto de vista profissional, utilitário, lucrativo, material, social

ou político. Em relação ao caráter hedonístico, Dumazedier (1979) concebe que a

vivência do lazer está ligada à busca do prazer, satisfação; e o caráter pessoal do

lazer está voltado para as funções de descanso, divertimento e desenvolvimento

pessoal e social, com vistas às necessidades do indivíduo perante as rígidas

obrigações impostas pela sociedade. A abordagem do referido autor é bastante

defendida nos estudos existentes. Por outro lado, é importante ressaltar que

2016. Esse projeto foi submetido a edital, com a aprovação do Ministério do Esporte, atrelado à REDE CEDES, o qual contribuirá com a qualificação de políticas de esporte e lazer para a região.

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Marcellino (1987) quando trata do lazer, apresenta a discussão de cultura para o

entendimento do lazer numa visão mais ampla.

O autor afirma que o lazer é:

a cultura compreendida no sentido mais amplo, vivenciada no tempo disponível. Não se busca, pelo menos fundamentalmente, outra recompensa além da satisfação provocada pela situação. A disponibilidade de tempo significa a possibilidade de opção pela atividade prática ou contemplativa (MARCELLINO, 1987, p. 31).

De acordo com Marcellino (1997), os aspectos que caracterizam o lazer são:

- cultura vivenciada no tempo disponível das obrigações profissionais, escolares, familiares e sociais, combinando os aspectos tempo e atitude;

- fenômeno gerado historicamente e do qual emergem valores questionadores da sociedade como um todo e sobre o qual são exercidas influências da estrutura social vigente;

- tempo privilegiado para a vivência de valores que contribuem para mudanças de ordem moral e cultural.

- portador de um duplo aspecto educativo, veículo e objeto de educação (MARCELLINO, 1997, p. 157-158).

Marcellino (1995b, 1998) faz referência da tendência voltada para a

educação para o lazer, concebe como fenômeno social e competente da cultura

historicamente situada, vivenciada em tempo e espaços disponíveis para vivência

lúdica.

Ainda do ponto de vista de educação para o lazer, Pinto (2001) afirma que:

A tendência de educação para o lazer volta-se ao entendimento de lazer como mercadoria, aliando-se ao sentido de recreação como recreatonem (entretenimento) e recreatio (recreio). O lazer é carregado do sentido de atividade, cumprindo com as funções de descanso, divertimento e desenvolvimento social com fins moralista (canalização das tensões e redução dos problemas sociais, atuando como válvula de escape e segurança da sociedade), compensatório (manutenção do status quo) de descanso (voltado à recuperação da força de trabalho) e utilitarista (instrumento de paz social e de mercadoria) – entretenimento que demanda o consumo de atividades, bens e serviços (PINTO, 2001, p. 55).

A cultura como elemento central do lazer também é vista na concepção de

Gomes (2004), ao tratar de lazer como:

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Uma dimensão da cultura constituída por meio da vivência lúdica de manifestações culturais em um tempo / espaço conquistado pelo sujeito ou grupo social, estabelecendo relações dialéticas com as necessidades, os deveres e as obrigações, especialmente com o trabalho produtivo (GOMES, 2004, p. 125).

Neste sentido, na visão de Marcellino (1995), Pinto (2001), Gomes (2004),

entre outros autores, o campo da cultura tem um significado importante para uma

abordagem interligada à discussão do lazer. Nessa perspectiva, percebe-se que o

conceito de lazer, de certa maneira, é abrangente e associado às produções

científicas na área, vem sendo entendido de uma forma crítico-reflexiva, diante de

uma diversidade de compreensões. Todavia, verifica-se a preocupação de

estudiosos do lazer discutindo-o frente aos aspectos tempo e atitude. Além disso,

muitas pessoas associam o lazer às atividades recreativas, ou a eventos de massa,

ao ar livre e de conteúdo recreativo, sendo esta tendência reforçada pelos meios de

comunicação de massa.

Esta situação contribui para um entendimento restrito do lazer, pois os seus

conteúdos podem ser diversos. Para Dumazedier (1980), os conteúdos culturais do

lazer são classificados em: artísticos, intelectuais, físico-esportivos, manuais e

sociais. E ainda Camargo (1989) acrescenta os interesses turísticos. Ademais,

Schwartz e Silva (2000) fazem referências aos interesses virtuais. No entanto, os

conteúdos dessa classificação se interligam, havendo esta separação apenas para

facilitar o planejamento das atividades e a execução de pesquisas; mas como diz

Marcellino (1999), a classificação está baseada na predominância, sem considerar

de forma rígida, pois os interesses humanos não são fixos. Neste sentido, os

conteúdos culturais do lazer estão aqui entendidos como:

Interesses físicos: estão relacionados às práticas esportivas, com ênfase nas

atividades físicas, sendo o esporte uma das manifestações culturais com maior

adesão e maior difusão nos veículos de comunicação. Segundo Silva et al. (2011, p.

37 d) “os interesses físicos do lazer são as atividades que prevalecem o movimento,

o exercício físico”.

Interesses artísticos - podem estar relacionados com os museus, bibliotecas,

cinemas, teatro, centros culturais, na cultura popular, na cultura de massa, nas

escolas de samba, nas tradições folclóricas. Para Silva et al. (2011d, p. 37), “o

campo de domínio dos interesses artísticos é o imaginário, as imagens, as emoções

e os sentimentos; seu conteúdo é estético e configura a beleza do encantamento”.

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Interesses manuais: estão presentes na manipulação de objetos e produtos, na

jardinagem, carpintaria, a marcenaria, costura, culinária, artesanato, bricolage.

Interesses Intelectuais: envolvem todos os jogos intelectuais, tais como: xadrez,

dama, gamão, bridge, dominó, baralho, entre outros, como também, leitura, palestra,

cursos, excetuando-se a relação como trabalho / obrigações. De acordo com Silva et

al. (2011 d, p. 37) “o que se busca é o contato com o real, as informações objetivas

e explicações racionais”.

Interesses sociais: estão associadas à ideia de grupos, sociabilidade, ou seja, que

promovam encontros, a exemplo de: festas, bailes, bares, cafés, restaurantes, entre

outros.

Interesses turísticos: Segundo Silva et al. (2011 d) os interesses turísticos estão

relacionados à saída da rotina temporal e espacial, como também o contato com a

natureza, paisagens, culturas.

Interesses virtuais: os conteúdos culturais do lazer voltados para os interesses

virtuais podem ser a navegação em internet, ou seja, em ambientes virtuais;

participação de grupos virtuais, bate-papo virtual, chats, blogs, e-mails; participação

em jogos eletrônicos, entre outras participações em redes sociais (em redes de

comunicação interativa), despertando os interesses também para a linguagem da

cibercultura.

A sociedade contemporânea é fortemente influenciada pelos meios de

comunicação e pelas novas tecnologias, como também, a dimensão das novas

tecnologias de informação e comunicação vêm sendo cada mais atreladas e

ampliadas ao cotidiano das pessoas. Neste panorama, seja talvez uma das razões

pelas quais a televisão e a Internet tenham sido elencadas como atividades que

configuram o lazer no Brasil. Para Gomes (2005), a televisão é a opção mais

frequente no cotidiano dos brasileiros, independente de faixa etária e classe social.

De acordo com a pesquisa descritiva de abordagem quantiqualitativa de

Laurentino (2001) realizada com estudantes universitários, com objetivo central de

compreender as concepções e significados do lazer, os interesses sociais de lazer

foram os mais evidenciados, e, em segundo lugar, os interesses turísticos, e em

último lugar os interesses físico-esportivos. Ao perguntar sobre a primeira palavra

que se associa ao lazer, as categorias mais citadas foram: lazer associado às

funções (diversão, descanso, relaxamento, divertimento, descontração, entre

outros); em seguida, lazer ligado aos interesses artísticos, e a terceira categoria

mais evidenciada foi o lazer ligado aos interesses físicos-esportivos. Tratando-se

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das dificuldades dos universitários pesquisados na realização do lazer, verificou-se

na seguinte prioridade: baixa remuneração, falta de tempo, falta de segurança, falta

de opções, falta de motivação, entre outros fatores (LAURENTINO, 2001).

Desta forma, os vários interesses que podem suscitar a prática do lazer

pelas pessoas, representam a possibilidade de livre escolha, ou seja, opção

individual. Embora os interesses estejam interligados para essa classificação, leva-

se em consideração a sua predominância das características dos interesses

culturais, como se ressaltou anteriormente. Porém, pelo fato de desconhecimento, a

falta de incentivo para escolha de outros conteúdos culturais do lazer, falta de

acesso, entre outras questões é possível que as pessoas geralmente restrinjam

apenas a um conteúdo cultural do lazer.

De acordo com Gomes et al. (2009, p. 98), há uma tendência de o lazer ser

compreendido como uma dimensão da cultura, tendo um caráter desinteressado, no

qual da vivência do lazer o que se espera é a satisfação. Além disso, o fato de haver

disponibilidade de tempo significa que há possibilidade de escolher a atividade,

prática ou contemplativa em um tempo disponível, ou seja, livre das obrigações de

diversas naturezas. Na abordagem de Gomes e Elizalde (2012), o lazer é entendido

de forma que seja visto não como mera relação com trabalho industrial, urbanização

e capitalismo, embora se saiba que há uma relação historicamente constituída.

Na compreensão de Gomes e Elizalde (2012), faz-se necessário conceituar

e ressignificar o lazer sob diferentes prismas e numa visão da cultura possibilitando

caminhos para mudanças. De acordo com Elizalde e Gomes (2010), ao ser

enfocado o campo teórico conceitual do lazer na América Latina, é importante

considerar que os conceitos são representações da realidade material/imaterial;

sempre será uma representação de uma realidade, precisam ser contextualizados,

pois não são universais, são dinâmicos, ou seja, adequados a explicar a realidade

em determinado tempo / espaço histórico / social; podem ser modificados ou

ampliados; não são neutros nem totalmente objetivos e podem gerar diferentes

interpretações.

De outro modo, a necessidade do lazer pode ser satisfeita de diferentes

maneiras, conforme os valores, crenças e interesses das pessoas, grupos e

instituições em cada contexto histórico, social e cultural. Desta forma,

compreendendo-se o lazer como fenômeno sócio-histórico que se apresenta numa

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rede de significados, símbolos e significações, como enfatiza Gomes (2004). Tratar

o lazer como uma necessidade humana e dimensão da cultura caracterizada pela

vivência lúdica de manifestações culturais no tempo / espaço social, os quais se

configuram de forma material e simbólica, subjetiva e objetiva, pode ou não fazer

parte de mudanças na sociedade, do ponto de vista de humanização e inclusão,

como afirma Gomes (2010).

Diante deste contexto, verifica-se que o lazer é visto de diferentes sentidos e

significados reconhecendo-se que há necessidade de ampliar os olhares numa

perspectiva crítica e criativa. Porém, segundo Gomes e Elizalde (2009), o lazer não

pode ser visto como um remédio para os problemas sociais, com intuito de aliviar as

tensões ou de forma compensatória dos conflitos diante da nossa realidade, mas

como um dos aspectos que promovam a construção de sociedades solidárias e

sustentáveis.

Com o intuito de trazer para a discussão o lazer no contexto das

necessidades humanas, tem-se a visão de Max – Neef (1998), com a preocupação

política de desenvolvimento da escala humana, num sentido que transcenda a

perspectiva econômica convencional, apenas restrita à subsistência, com base em

indicadores agregados e homogêneos; mas sim, numa teoria das necessidades

humanas para o desenvolvimento, tendo em vista o mundo, as pessoas e seus

processos.

Max-Neef, Elizalde e Hopenhayn (1986) afirmam que a necessidade não

deve ser entendida apenas com a ideia de “falta de algo”, pois para eles à medida

que as necessidades comprometem, motivam e mobilizam as pessoas, são também

potencialidades. Desta forma, a necessidade do lazer não é meramente uma

carência, mas também uma potência para vivenciá-lo.

Max-Neef (1998) complementa afirmando que o fundamento básico do

desenvolvimento da escala humana refere-se às pessoas e não aos objetos. O autor

aponta que tradicionalmente as necessidades humanas tendem a ser infinitas,

variam de cultura para cultura e acompanham e são historicamente situadas, porém

para ele é um conceito equivocado, pois se faz necessário diferenciar necessidade

das “satisfações” das necessidades. Sendo que a pessoa é um ser de necessidades

múltiplas e independentes, as quais devem ser consideradas como um sistema que

se inter-relaciona e interage. As necessidades não são somente carências, mas

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também e ao mesmo tempo potencialidades humanas individuais e coletivas. O

autor ainda diz que as necessidades humanas podem desagregar mediante diversos

critérios, os quais são classificados em categorias, ou seja, categorias axiológicas,

que incluem as necessidades de ser, ter, fazer e estar; e as categorias que incluem

as necessidades de subsistência, proteção, afeto, conhecimento, participação, lazer,

identidade, criação e liberdade (grifo meu).

Na sua concepção um “satisfator” pode contribuir ao mesmo tempo para a

satisfação de diversas necessidades ou uma necessidade pode demandar diversos

satisfatores para ser efetivada. Para Max – Neef (1998), os satisfatores são formas

de ser, ter, fazer e estar, de natureza individual e coletiva, conduzentes com a

atualização das necessidades. Max - Neef (1998) ao tratar dos conceitos de

necessidade e de “satisfator”, apresenta as seguintes premissas:

As necessidades humanas fundamentais são finitas, poucas e classificadas;

As necessidades humanas fundamentais são as mesmas em todas as culturas e em todos os períodos históricos (MAX-NEEF, 1998, p. 42).

Para o autor o que está culturalmente determinado não são as necessidades

humanas fundamentais e os satisfatores dessas necessidades que podem satisfazer

em níveis e intensidades diferentes. A satisfação pode se apresentar na relação

consigo mesmo, em relação com o grupo social e em relação com o meio ambiente.

A qualidade e intensidade tanto dos níveis como dos contextos dependerão do

tempo, lugar e circunstância. Ao elucidar sobre as necessidades, “satisfatores” e

bens econômicos, Max – Neef (1998) afirma que os bens econômicos são objetos e

artefatos que influenciam a eficiência de um “satisfator”, modificando o limiar da

atualização de uma necessidade de forma positiva ou negativa.

Mas, trazendo-se para uma visão crítica do lazer sob a ótica da objetividade

e da subjetividade humana, como ponto de vista de satisfação e como oposição ao

trabalho e como consumo, entre outros elementos, é que se enfatiza a necessidade

para ampliar o seu conceito.

De acordo como Melo e Alves Júnior (2003), o lazer pode ser visto numa

natureza objetiva, de caráter social, ou seja, o tempo e de natureza subjetiva, haja

vista o seu caráter individual, ou seja, o prazer. Numa visão crítica do lazer como

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caráter individual e de prazer; e como consumo de práticas sociais opostas ao

trabalho, Brasileiro (2013, p. 107) enfatiza que:

O lazer visto como um conceito que se concretiza de um conjunto de práticas que estão inseridas na lógica do prazer, da realização pessoal em um tempo liberado para si mesmo, que são vivências opostas ao trabalho ou como práticas sociais associadas ao consumo alienado é simplificar um conceito complexo e amplo.

Neste estudo, não se tem a intenção de trazer para o cenário da discussão

todos os olhares do lazer, pois se reconhece sua abrangência, complexidade e que

está em constante discussão, porém como possibilidade de entendê-lo nas suas

interfaces e associados ao esporte voltados para a discussão ligada à política

urbana e, por conseguinte, numa perspectiva de melhorias das cidades, melhoria da

qualidade de vida e para a vida em sociedade, com anseios da minimização das

desigualdades sociais, atendendo à demanda pública, de forma igualitária e

democrática.

Ao tratar do esporte e lazer do ponto de vista teórico-conceitual,

compreendidos como fenômenos socioculturais e historicamente constituídos,

recorreu-se, no texto ora apresentado, às diferentes abordagens. Para tanto, foi

necessário ser concebido numa perspectiva crítica, pois o lazer é entendido de uma

forma mais ampla, numa dimensão da cultura, com relação com o tempo, espaço e

atitude, visto como uma necessidade humana, considerado como prática social que

se amplia com a pós–modernidade. Entendido, também, para além de uma visão

funcionalista, o esporte é visto como uma construção humana, historicamente criado

e socialmente desenvolvido, fazendo parte do acervo cultural da humanidade e

compreendido não somente com vistas à obtenção de resultados, mas também

como manifestação e prática corporal, numa dimensão inclusiva, numa perspectiva

de saúde e de lazer.

2.5 Trabalho, lazer e tempo livre: para além de uma visão funcionalista do lazer

Com a intenção de apontar historicamente as relações com o trabalho, lazer

e tempo livre, optou-se por iniciar com a definição de trabalho, para corroborar com

a reflexão do lazer para além de uma visão funcionalista. De acordo com Ferreira

(1986, p. 1695), trabalho é “aplicação das forças e faculdades humanas para

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alcançar um determinado fim: o trabalho permite ao ser humano certo domínio sobre

a natureza; divide bem o tempo entre trabalho e o lazer”. Nessa conceituação, são

elucidadas as questões do trabalho, do ponto de vista de certa dominação frente à

dimensão da natureza, com a separação de tempo destinado para o trabalho e lazer,

e algo que esteja ligado com o agir com vistas a uma determinada finalidade.

Segundo Oliveira (2004, p. 26), “trabalhar tem o significado de garantir as

condições objetivas e subjetivas para a manutenção e o desenvolvimento da

existência do homem, o que só poderia trazer satisfação e prazer”. Para Oliveira

(2004), o trabalho é pensado com um significado de dar condições, de forma

objetiva e subjetiva, com fins da existência humana, contudo, complementa que

deve ser visto como algo que lhe traga um sentimento de satisfação e prazer.

Trazendo o significado da palavra trabalho, de acordo com a sua etimologia,

constatou-se que é de origem latina, “tripalium”, que significa “torturar por meio de

tripalium, instrumento constituído por três paus, para atar os condenados ou para

manter presos os animais difíceis de ferrar” (ARANHA, 1997, p. 21). A origem da

palavra traz à tona o entendimento de que trabalhar esteja fadado a ser concebido

como algo de forma negativa, que causa o sentimento de tortura, como algo

extremamente danoso.

Em tempos remotos, não havia separação entre trabalho e lazer. Na Idade

Média, o trabalho resgata sua dura imagem, devido à valorização feita pela

Revolução Religiosa, que considera o tempo livre, por não serem as horas livres

rentáveis, sendo consideradas inúteis e perniciosas por não produzirem riquezas.

Nesse período, existia estreita relação entre tempo e religião, sendo o lazer

resultante do não trabalho. Observa-se que nesse período, devia-se ponderar a

preocupação com o tempo livre, pois não geraria lucratividade, dando um sentido de

inutilidade e como algo negativo, ruim, como se o tempo livre fosse sinônimo de

vagabundagem, com possibilidade de práticas que ferissem a moral e a ética.

Quando se faz referência à sociedade tradicional, marcadamente rural, e

mesmo nos setores pré-industriais, percebe-se que não havia uma separação nítida

entre as diferentes esferas da vida do ser humano. O trabalho das pessoas era

próximo das moradias, e ainda, em algumas situações, o trabalho era na sua própria

moradia e o que era produzido partia do próprio núcleo familiar, na maioria das

vezes, sob o contexto natural do tempo. O trabalho era marcado pelo controle do

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ritmo do ser humano, e assim, as conversas, o canto, relação produção/festa se

dava de forma espontânea nessas sociedades tradicionais, não havendo separação

entre o binômio trabalho e lazer, embora houvesse uma dominação entre classes.

No século XVIII, os grupos que viviam do trabalho manual exerciam suas obrigações

em suas casas e terras, não havendo uma separação entre tempo, local de trabalho

e de lazer. Neste contexto, para o sociólogo Marcellino (1995a), o conceito de lazer

não existia.

Com a passagem de uma sociedade agrícola para a sociedade industrial,

existiram algumas mudanças frente à organização do trabalho, ou seja, a

substituição, aos poucos, dos homens pelas máquinas, preocupação com mais

produção em menor tempo possível, a especialização da mão de obra, entre outros

e, consequentemente, uma distribuição de jornada de trabalho semanal. Surge,

então, a separação do tempo voltado para as atividades produtivas consideradas

como referência para a sobrevivência e, por outro lado, o tempo livre das

obrigações.

Na sociedade moderna marcadamente urbana, a industrialização alavanca a

divisão do trabalho, com vistas para uma mão de obra, cada vez mais especializada,

fragmentada. O ritmo do trabalho passou a ser definido pelo ritmo das máquinas,

mecanizado, reprodutivo, em que as pessoas, cada vez mais, se afastam da

convivência no ambiente de trabalho, fragmentando as relações sociais. E, por

conseguinte, as pessoas passam a fazer parte de grupos diversos, sem ligação uns

com os outros. Nesta sociedade caracteriza-se o binômio trabalho/lazer.

Segundo Silva et al. (2011a), a industrialização vem se fortalecendo ao

longo dos anos. Por conseguinte, vem provocando uma série de mudanças no

comportamento das pessoas, sendo considerado como o marco na divisão da

passagem da sociedade tradicional para a sociedade moderna. E, ainda, acelerando

o processo de urbanização de novas áreas e contribuindo para o crescimento

populacional em torno dessas áreas urbanizadas.

Com as transformações ocorridas na sociedade, principalmente com o

advento da Revolução Industrial, com a passagem do modo de produção feudal para

o modo de produção capitalista, estabelecem-se novas relações de trabalho com o

aparecimento de uma série de inovações técnicas que modificaram as condições de

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diversos setores industriais e as relações entre empregados e empregadores em

que a mão de obra humana foi substituída pela máquina.

Do ponto de vista teórico, acreditava-se que com as novas tecnologias

facilitariam as atividades, seja por intermédio da globalização ou robotização,

visando ao aumento da produtividade. Porém, na prática, a realidade é diferente,

pois, as pessoas vivem em função do trabalho, não apenas para sanar suas

necessidades básicas, mas também para não serem excluídas socialmente.

O trabalho, para as pessoas, é tido como obrigação, em função das suas

necessidades fisiológicas ou segurança, como condição humana. Além disso,

parafraseando Chauí (1999, p. 33), o significado do trabalho está no modo de

produção capitalista, ou seja, na divisão social do trabalho e na luta de classes.

Porém, Lafargue (1999) não considera a culpa da divisão de classes, apenas da

burguesia, mas de todos, pois os trabalhadores se sujeitam a trabalhar, cada vez

mais, para ampliar a riqueza social, e, em contrapartida, ficam mais pobres.

Por outro lado, o mercado de trabalho exige ainda mais dos trabalhadores,

até mesmo no seu tempo livre, pois precisam muitas vezes de estar se qualificando

para que tenham condições de obter resultados condizentes com os seus anseios.

Segundo Chauí (1999, p. 49), “[...] os trabalhadores ainda precisam lutar pelo direito

à preguiça, sobretudo se considerarmos, ao lado do Estado de Bem-Estar Social”.

Para Lafargue (1999), o proletariado deveria lutar não para exigir os Direitos do

Homem ou o Direito ao trabalho, mas por um trabalho digno não mais de três horas

por dia. Para o autor a preguiça é um direito do trabalhador.

No tocante ao lazer do operário, é importante destacar que a primeira voz

crítica em defesa do lazer operário surge em 1883, no continente europeu, com o

Manifesto O Direito à Preguiça, do socialista Paul Lafargue. De acordo com Chauí

(1999), esse manifesto versa sobre o elogio à preguiça, como condição para o

desenvolvimento físico, psíquico e político do proletariado. Sendo assim, é feita a

crítica ao trabalho, num sentido de exploração, pois deve ser entendido o trabalho

como condição humana com vistas à dignidade.

Cavalcanti (1981) diz que o fenômeno lazer tomou outra dimensão, a partir

da Revolução Industrial. Muito embora a preocupação fosse uma maior produção,

consequência dos avanços tecnológicos; dessa forma estabelece-se o período

moderno e com ele a reivindicação pela melhoria das condições de trabalho, busca

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pela humanização nas indústrias do trabalho das crianças, mulheres e homens e

ainda, luta por maior tempo livre.

Com o advento da Revolução Industrial, também houve uma migração das

pessoas da área rural para a urbana, aparecendo uma nova classe social dos ricos,

ou seja, banqueiros, financistas, comerciantes. De acordo com a publicação do SESI

- Serviço Social da Indústria (2008, p. 183), no contexto brasileiro, “estas pessoas

foram as primeiras a pensarem numa atividade recreativa para fazer nos seus

momentos de não trabalho e começaram a viajar intensamente”.

Aos poucos, com base nas reivindicações surgidas lentamente, o

trabalhador conquista alguns direitos, como: redução da jornada de trabalho,

repouso em finais de semana e feriados, férias remuneradas, entre outros. Surgindo

assim, o tempo disponível das horas de trabalho, com este tempo livre o trabalhador

tem “liberdade” para escolher atividades à sua escolha, podendo ser estas ligadas

ao lazer.

Por outro lado, com a Revolução Industrial apareceu a produção de bens de

consumo em série. A preocupação então passa em relação de como criar a

economia, sendo assim, a questão volta-se para a necessidade de ter um mercado

de consumo para estes bens, e, por conseguinte de tempo para o consumo. Desta

maneira, de acordo com Marcellino (1995b), foi estabelecido um tempo maior para o

descanso entre uma jornada de trabalho; sendo, também, instituídos os domingos e

depois as férias. Segundo Gomes (2003), essa delimitação da jornada de trabalho

acabou distinguindo nitidamente o tempo de trabalho do tempo de não trabalho, ou

seja, distinguindo o tempo de trabalho do tempo livre (inserindo-se então o lazer).

Lefebvre (1999b) ressalta a concepção marxista do tempo revolucionário.

Esse tempo compreende em um calendário das finalidades, a saber: da religião, da

filosofia, da ideologia, do Estado, da política, entre outros. Além disso, o fim do

trabalho, o fim da cidade. O autor diz que, “o trabalho não acaba no lazer, mas no

não trabalho” (LEFEBVRE, 1999, p. 72-73). “A cidade não acaba no campo, mas na

superação simultânea do campo e cidade” (LEFEBVRE, 1999, p. 72-73).

Lefebvre (1999b) mencionou o trabalho produtivo, fazendo um paralelo entre

Adam Smith e Marx, questiona sobre o que é produzir e o que é sociedade. A

divisão do trabalho como fator de desenvolvimento econômico foi conhecida por

Adam Smith. “Produzir é produzir conhecimento, obras, alegria, prazer, e não

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somente coisas, objetos, bem materiais trocáveis” (LEFEBVRE, 1999b, p. 151). O

autor cita Marx, quando diz que a grande indústria faz uma classe operária, mas não

faz uma sociedade, pois para a formação da sociedade se faz necessário definir

tipos de pessoas e de atividades, inclusive artistas, profissionais do divertimento.

De acordo com Lefebvre (1999b), o lazer é visto como um dos setores de

produção, de exploração e denominação, como se observa na reprodução das

relações de produção, ao dizer que:

A reprodução das relações de produção implica tanto a extensão quanto a ampliação do modo de produção e de sua base material. Por um lado, portanto, o capitalismo se estendeu no mundo inteiro, subordinando a si, como Marx o havia concebido, as forças produtivas antecedentes e transformando-as para seu uso. Por outro lado, o capitalismo constitui novos setores de produção e consequentemente de exploração e de dominação; entre esses setores, citamos: o lazer, a vida cotidiana, o conhecimento e a arte e a urbanização enfim (LEFEBVRE, 1999b, p. 176).

Após a Revolução Industrial o entendimento era de que, por consequências

das categorias de tempo e trabalho, o lazer chegasse às classes populares. Tal fato

relacionava-se à conquista trabalhista frente à carga horária diária de trabalho e à

importância do descanso. Assim sendo, o entendimento do tempo livre entre os dias

de trabalho e os dias de descanso possibilitaria ao lazer uma relação entre a

qualidade de vida das pessoas.

A sociedade contemporânea apresenta-se com um resultado de espaço de

tempo que comportaria em atividades de lazer, em consonância a um “aumento” do

tempo livre. Embora, para Lafargue (1999), o modo de produção capitalista tenha

controvérsias com o despender do tempo livre, tendo em vista, a concepção de que

“tempo é dinheiro”, haja vista os interesses na maior produtividade e maior

lucratividade de forma eficiente e eficaz.

Sabe-se que a relação de trabalho e lazer não está totalmente fundada em

elementos econômicos produtivos, mas também, em elementos sociais pautados em

identidades diferentes. Dessa maneira, o social permeia todo o conjunto do universo

produtivo, que além de se caracterizar como local de produção é também espaço de

lutas e reivindicações nos discursos, nas atitudes, nos símbolos individuais e

coletivos, nos diferentes códigos de linguagens e manifestações, bem como nas

ações dos operários trabalhadores, nas lutas de classes, no cotidiano das pessoas,

inclusive no trabalho.

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Segundo Friedmann (1973; p. 35), deve-se levar em consideração a

necessidade do trabalhador, ao dizer que “é preciso que o trabalhador faça parte de

um meio que, longe de sufocá-lo, suscite nele a necessidade de escolha, de cultura,

de pensamentos livres”. O autor ainda ressalta que “a redução do trabalho não cria

liberdade, apenas a supõe” (FRIEDMANN, 1973; p. 35). Ademais, verifica-se que a

diminuição do tempo de trabalho não garante a experiência do lazer. E, ainda, que o

tempo livre não deve ser concebido, apenas, do ponto de vista da

complementariedade ao tempo do trabalho.

Contudo, sobre a ótica do lazer numa visão de recuperação das energias,

apresenta-se Marcuse (1978) ao afirmar que:

Há um controle básico do tempo livre que é realizado pela própria direção do trabalhador, pela rotina fatigante e mecânica, exigindo que o tempo livre proporcione um relaxamento passivo e recuperação de energias para o trabalho (MARCUSE, 1978, p. 60).

Considerando algumas concepções de que o tempo livre por si só não

garante o lazer; enunciando-se não como o complemento ao tempo do trabalho e,

ainda, trazendo a discussão do lazer não apenas como possibilidade de

recuperação das energias para o trabalho, focaliza-se possibilidades de

entendimento sobre tempo livre. Porém, com o interesse de trazer à tona a

discussão da relação do trabalho e lazer, com vistas uma sociedade pós-industrial,

reporta-se à concepção de De Masi (2000), ao afirmar a importância atribuída ao

ócio criativo, numa sociedade capitalista.

A natureza do trabalho, em sua primeira etapa é a do trabalho artesanal;

como destacou-se anteriormente, por conseguinte, o trabalho e a vida coincidiam

totalmente, não havendo separação entre casa e oficina. As oficinas segundo De

Masi (2000) eram separadas, não havendo interação. O ciclo produtivo, ou seja, do

projeto de execução e venda do objeto completava-se na própria oficina. O mercado

era pequeno e praticava-se a troca. No mesmo bairro se vivia, trabalhava-se,

aconteciam as suas atividades cotidianas, inclusive as diversões. Portanto, havia

uma grande mistura entre criatividade, execução e manualidade. A comunidade

fundava-se em necessidades elementares, a economia era do tipo local.

Consideravam-se valores patriarcais e matriarcais e a grande massa era constituída

por analfabetos.

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Passados vários anos do século XIX, esse mundo se transformou em

sociedade industrial. A produção das novas indústrias ocorreu numa unidade de

espaço de tempo, ou seja, na fábrica. Por consequência, o ambiente da vida não

mais coincide com o local de trabalho. De acordo com De Masi (2000), o trabalhador

torna-se com frequência, um estranho tanto no trabalho, como em casa.

Na maioria dos casos, a figura do empresário não coincide mais com a figura

do trabalhador, nem a do chefe da família com a do chefe da empresa. Surge, então,

a luta de classes. Aumenta-se a produção, as atividades ligadas ao trabalho se

separam das atividades domésticas, as quais são delegadas às mulheres. O

mercado se nacionaliza e internacionaliza. A cidade se torna “funcional”, ou seja,

cada bairro passa a ter uma função. Diante dessa realidade, a produção é vista

como uma cadeia de montagem. As necessidades das pessoas são fortes, pois

cada um concentra-se em poucas necessidades essenciais, dedicando-se a vida

inteira com árduos anos de trabalho. Em contrapartida, para De Masi (2000, p. 241)

“a sociedade pós-industrial privilegia a produção de ideias, o que por sua vez exige

um corpo quieto e uma mente irrequieta”. Para ele, isso é o “ócio criativo”. Portanto,

para o corpo referenda a natureza de descanso e que a mente venha carregada de

pensamentos, porém os caracteriza com o potencial criador. Diante disso, De Masi

(2000, p. 285) afirma que “o ócio é necessário à produção de ideais e as ideias são

necessárias ao desenvolvimento da sociedade. Do mesmo modo que dedicamos

tanto tempo e tanta atenção para educar os jovens para trabalhar, precisamos

dedicar as mesmas coisas e em igual medida para educá-los ao ócio”.

Na sua teoria, no que diz respeito ao ócio, complementa:

existe um ócio dissipador, alienante, que faz com que nos sintamos vazios, inúteis, nos faz afundar no tédio e nos subestimar; existe um ócio criativo, no qual a mente é muito ativa, que faz com que nos sintamos livres, fecundos, felizes e em crescimento; existe um ócio que nos depaupera e outro que nos enriquece. O ócio que enriquece é o que é alimentado por estímulos ideativos e pela interdisciplinaridade (DE MASI, 2000, p. 285-286).

Assim sendo, concorda-se com o entendimento atribuído pelo autor em

relação ao significado do trabalho no cotidiano das pessoas, bem como o tempo de

não-trabalho, muito embora, afirma que com a tecnologia e com a difusão da cultura

é possível dicotomizar a antiga vida rural com o do período industrial. Segundo De

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Masi (2000, p. 286), “graças ao progresso tecnológico e a difusão cultural, é

finalmente possível eliminar tanto o cansaço pesado da época rural como o estresse

aflitivo da época industrial”.

Ao tratar o “saber viver” no mundo pós-industrial, De Masi (2000) afirma que

no mundo industrial, adora-se o trabalho como dever de uma ética utilitarista, com

base para o comportamento. No entanto, segundo o autor, hoje a necessidade de

oferecer aos jovens uma formação ética permanece inalterada. Porém, o princípio

utilitarista de uma competitividade destrutiva deve substituir a um princípio baseado

na solidariedade de estímulos criativos. Desta forma, o trabalhador também deve ser

ensinado, não como uma obrigação opressora, mas sobretudo com um prazer

estimulante. Ademais, deve-se somar a necessidade de ensinar o não-trabalho, ou

seja, as atividades ligadas ao tempo livre, aos cuidados e às atenções. Conforme De

Masi (2000, p. 346), deve-se dar “maior atenção ao saber, ao convívio social, ao

jogo, ao amor, à amizade e à introspecção”. Desta maneira, valoriza mais o diálogo,

o estudo, a solidariedade e a criatividade.

Em analogia ao século XXI com os anteriores, ele evidencia que o tempo

livre deve ser utilizado com o lazer, pois para ele é possível uma relação de trabalho

e lazer, inclusive um fortalecendo o outro. Como observa-se na seguinte afirmativa:

“a pedagogia da idade industrial ensinava a separar as duas coisas: trabalho era

trabalho, diversão era diversão”. No século XXI, o trabalho e o lazer se misturam e

se potencializam, considerando o tempo livre propício ao lazer. Segundo o referido

autor, o trabalho perdeu o papel central que ocupou durante séculos e que a família,

a escola e a mídia devem colocar ao lado da atual educação profissional dos jovens

uma educação para as atividades lúdicas e culturais. Neste sentido, observa-se para

o autor a importância da educação para as atividades lúdicas e culturais.

De Masi (2000) acrescenta ainda que juntamente com os indivíduos, é

necessário que as cidades, as nações, as igrejas e as empresas se adéquem em

função de uma vida coletiva na qual predominam o lazer e um número crescente de

atribuições que devem ser realizadas não pelos que trabalham, mas em função de

quem repousa ou se diverte. Deste modo, verifica-se a envergadura do lazer nas

vidas das pessoas, porém ver no potencial da criatividade uma maneira de ter

sabedoria para viver a vida sem grandes estresses. Contudo, com os laços vivos

para o seu eu e o social. Para De Masi (2000), o trabalho já não representa mais a

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categoria que explica o papel dos indivíduos e da coletividade, e ainda que o tempo

livre e a capacidade de valorizá-lo que determinam o nosso destino cultural e

econômico. Assim sendo, o autor tem defendido a diminuição drástica na jornada de

trabalho, a fim de que a experiência laboral seja criativa e objetiva, permitindo ao

trabalhador o aproveitamento de horas livres para revitalizarem seus

relacionamentos com família, o bairro e a cultura, contribuindo assim para a própria

criatividade.

Tratando-se de tempo livre Lefebvre (1991), classifica-o em três categorias,

ou seja, o tempo obrigatório (do trabalho profissional), o tempo livre (dos afazeres) e

o tempo imposto (das exigências do trabalho, transporte, trajetos, formalidades,

entre outros.). Para Elias e Dunning (1992, p.107), “tempo livre é todo tempo liberto

das ocupações de trabalho”. Para os autores, o tempo livre é dividido em cinco

categorias, a saber: ”trabalho privado e administração familiar; repouso; provimento

das necessidades fisiológicas; sociabilidade e as atividades miméticas ou jogo”

(ELIAS; DUNNING, 1992, p. 145).

Essas atividades para eles foram classificadas conforme o “grau de rotina”.

Deste modo, foram divididas nos seguintes grupos:

Atividades Rotineiras – cuidados com higiene e alimentação; tarefas domésticas e

atenção aos familiares.

Atividades de Formação e Autodesenvolvimento – trabalho social voluntário; estudo

não escolar; hobbies; atividades religiosas; participação em associações; e

atualização de conhecimentos.

Atividades de Lazer – encontros sociais formais ou informais; jogos e atividades

miméticas, como participante ou expectador; miscelânea de atividades esporádicas

prazerosas e multifuncionais, como: viagens, jantares ou restaurantes, caminhadas.

Para Elias (1992, p. 108-110), o tempo pode ser dividido entre tempo de

trabalho e tempo livre. Estando o tempo livre classificado em:

Trabalho privado e administração familiar: a esta categoria, pertence a maioria das atividades da família, incluindo a própria provisão da casa. Repouso: a esta categoria de atividades, pertencem o estar sentado e o estar a fumar ou a tricotar, os devaneios, as futilidades sobre a casa, o não fazer nada em particular e, acima de tudo, o dormir. Provimento das necessidades biológicas: todas as necessidades biológicas às quais há que entender, no nosso tempo livre e noutras circunstâncias, estão socialmente padronizadas – comer e beber, bem como defecar, fazer amor, tal como dormir. Sociabilidade: a esta categoria, pertencem atividades que se relacionam com o trabalho, tais como visitar colegas ou superiores hierárquicos, sair

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numa excursão da firma, assim com outras que não estão relacionadas com o trabalho, tais como ir a um bar, um clube, a um restaurante, ou a uma festa, falar de futilidades com os vizinhos, estar com outras pessoas sem fazer nada de mais, com um fim em si mesmo. Atividades miméticas ou jogo: a esta categoria, pertencem atividades de lazer, tais como a ida ao teatro ou a um concerto, às corridas ou ao cinema, à caça, à pesca, jogar bridge, fazer montanhismo, apostar, dançar ou ver televisão.

O lazer como fenômeno que surgiu a partir do aumento do tempo livre, do

lazer como condição recuperadora dos desgastes biopsicossociais, ou seja, numa

visão meramente funcionalista é possível acreditar que seja uma perspectiva restrita

do seu entendimento. Entende-se que tratar do lazer do ponto de vista histórico é

algo conflituoso, pois para alguns autores, se os homens sempre trabalharam.

Também existiu tempo do não trabalho, o qual seria por vivências de lazer, mesmo

nas sociedades tradicionais. Para outros autores, o lazer é fruto da sociedade

moderna - urbana – industrial, conforme afirma o clássico pesquisador da área,

Marcellino (1998). Contudo, ressalta-se que a visão funcionalista do lazer não amplia

a possibilidade de compreender de forma crítica as suas mudanças e ampliações e

venham acompanhadas com o mundo pós-moderno.

As primeiras abordagens não são contrárias, no entanto a primeira refere-se

à necessidade do lazer, sempre presente, e no segundo enfoque se detém nas

características que essa necessidade se apresenta na sociedade moderna. Para

Silva et al. (2011b), na passagem do estágio tradicional para o moderno no Brasil é

que se identifica uma ruptura entre a vida como um todo e o lazer, passando a ter

seu próprio significado.

Conforme Marcellino (1998), existem quatro visões7 que são responsáveis

pela ideologia do lazer numa perspectiva funcionalista: romântica, moralista,

compensatória e utilitarista. Na visão moralista, o autor afirma que a preocupação

perpassa pela questão de como utilizar as horas de folga com o lazer. Na visão

utilitarista, o lazer é concebido como um benefício social; como uma forma de

recuperação do trabalho, contribuindo para o bem-estar individual,

consequentemente, uma maior produção. Numa visão romântica, faz-se necessário

orientar moralmente e espiritualmente os jovens antes de utilizarem o tempo livre

como lazer. Na perspectiva compensatória, a ênfase é de como utilizar o tempo livre

7 Sugere-se a leitura de Medeiros (1975), Requixa (1977), Gaelzer (1979) e Marinho (1981).

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com o lazer, de acordo com as atividades de lazer, aceitas pela sociedade.

Marcellino (1998) ainda trata que a prática do lazer na sociedade moderna é

marcada pela função de produzir algo.

Na visão de Requixa (1980), o trabalho e o lazer deviam estar interligados,

fazendo parte da vida do ser humano de forma racional, atribuindo o significado de

ambos para a arte de viver. Requixa (1980, p. 56) enfatiza a “importância de ser

homem educado para racionalmente preparar para si mesmo uma arte de viver, em

que não se perca o equilíbrio necessário entre o trabalho e o lazer, e em que se

antecipe a vida de lazer”. Para o autor, o lazer e trabalho estão interligados.

Ademais, outra discussão sobre o surgimento do lazer pode ser ponderada,

a partir de duas vertentes, uma que remonta à sociedade greco-romana e uma que

afirma que o lazer é uma consequência das manifestações sociais dos séculos XIX e

XX. Para Melo (2001b), apesar da contínua busca de formas de diversão, não

significa ter sempre existido o que se denomina hoje de lazer. Portanto, para o autor,

apesar da diversão acompanhar a existência humana, esta condição não caracteriza

que o lazer sempre existiu.

Elias e Dunning (1992, p. 120) afirmam que, “de acordo com a estrutura

diferente da sociedade grega, o conceito de lazer não possuía exatamente o mesmo

sentido nosso”. Deste modo, fazendo a relação do lazer com a antiga sociedade

grega, havia um entendimento diferente para o lazer. Contudo, o lazer, a partir do

século XX, ganha maior destaque, sendo considerado como um fenômeno

característico, em especial, das sociedades pós-modernas. Diante dessa

enunciação, apresenta-se uma abordagem do que como pode ser entendido o pós-

moderno.

Entende-se por pós-moderno o estado da cultura posterior às transformações que, nas sociedades desenvolvidas do século XX estavam os critérios de verdade ou as regras do jogo que regularam o fazer científico, filosófico e artístico da modernidade (GARSCHAGEN, 1998, p. 270).

Comungando com a concepção de Brasileiro (2013) que o lazer é um

fenômeno que vem ganhando modificações com a pós-modernidade e, ainda,

ressaltando as transformações ocorridas na contemporaneidade nas diferentes

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sociedades, tendo como base seu entendimento mencionado em Brasileiro (2013, p.

94) no tocante aos valores pós-modernos, afirma-se que:

As transformações vividas na contemporaneidade abarcam todas as sociedades, em diferentes contextos do mundo. Portanto, o incremento dos valores pós-modernos é um dos elementos mais destacados no cotidiano das pessoas, constituindo também um fator determinante para se compreender as transformações no mundo do lazer (BRASILEIRO, 2013, on-line).

Trazendo o esporte para o campo do lazer, atrelado à discussão do tempo-

trabalho, recorre-se inicialmente à Teoria do Materialismo Histórico. Essa teoria

aborda o esporte como reprodutor da força de trabalho, ou seja, o esporte visto

como um dos componentes do tempo livre ou do lazer, abrangendo a relação

trabalho – lazer. Dentre os autores dessa concepção, identifica-se: Güldenpfenning

et al. (1974), Volpert (1974) e Maier (1975). Nessa concepção de esporte parece ser

considerado um produto do processo histórico, e assim, uma conquista dos homens.

No entanto, coloca a serviço da maioria, ou seja, dos trabalhadores. Esta

abordagem exerceu influência sobremaneira na Alemanha. A tese de

Güldenpfenning et al. (1974) é de que o esporte teria se desenvolvido em estreita

ligação com as necessidades da reprodução da força de trabalho para o sistema de

produção capitalista. Para eles, há dois tipos de reprodução: a reprodução simples

(física) e a reprodução ampliada da força de trabalho (qualificação para o

trabalhador). Desta maneira, se o esporte de lazer colaborar para a reprodução

ampliada da força de trabalho, contribuindo para a qualificação do trabalhador, este

estaria em condição de melhor resistir à exploração.

Porém, Maier (1975, p. 62) tem uma posição contrária frente a esta

condição, pois assevera que:

É indiscutível que a qualificação é necessária e que, assim, a exigência de uma qualificação ampliada é também correta, porque ela representa uma condição para uma melhor venda da mercadoria força de trabalho. É também indiscutível que, sob determinadas condições (planejamento científico, incentivo político, etc.), a aprendizagem sensomotora e o esporte podem assumir um significado importante na reprodução da força de trabalho. É, no entanto, necessário analisar quais são, concretamente, as funções da aprendizagem sensomotora e do esporte na qualificação da mercadoria força de trabalho. Politicamente e cientificamente problemático é, em qualquer caso a conclusão pura e simples de que qualificação para o trabalho leve a uma qualificação política. Pois, a relação causal entre

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“melhor educação” e “maior consciência política”, defendidas no interior da educação política, mostram-se, nas pesquisas um equívoco.

Com a possiblidade de repensar o esporte para uma dimensão mais ampla e

ser visto em diferentes nuances, evidencia-se a sua relação com a pós-

modernidade. Porém, pode-se discutir até que ponto a sua expansão, como

evidenciado por Bento (2007), além de documentos e legislação, realmente o

esporte atende aos interesses e necessidades da população. O autor evidencia que,

numa sociedade que se projeta como pós-industrial ou pós-moderna, na qual os

seres humanos convivem com a diversidade de motivos, sentidos, finalidades,

ideologias e concepções, cabe ao esporte também assumir uma nova configuração.

Além disso, Bento (2007, p. 21) assevera que:

Se antes (o esporte) era uma atividade quase que exclusivamente orientada e estruturada para o alto rendimento e a competição organizada, para a afirmação dos estereótipos da juventude forte e saudável, da virilidade e masculinidade, o esporte passou progressivamente a ser uma prática aberta a todas as pessoas e idades e a todos os estados de condição física e sócio – cultural. Expandiu-se e conquistou novas terras, ou seja, à vocação original da excelência e de alto – rendimento adicionou a instrumentalização ao serviço das mais distintas finalidades: saúde, recreação e lazer, aptidão, estética, reabilitação e inclusão.

Todas as pessoas podem praticar esporte, reforçando assim a compreensão

do esporte numa perspectiva inclusiva. Independentemente de ser magro, gordo;

alto e baixo; forte e fraco; “com ou sem habilidades”; os ditos “normais” ou

“deficientes”, entre outras condições. Ademais, o esporte deve ser bem empregado

e bem explorado; e, ainda, concebido para além do alto rendimento.

O esporte atual, focado no alto rendimento, profissionalizado, bastante

competitivo, com ênfase em resultados, se coaduna com os valores de uma

sociedade cujos princípios morais são baseados especialmente, na competição e no

acúmulo de bens materiais. Sendo assim, não só os jogos, mas os atletas

transformam-se em mercadorias, negociados em escala mundial, com fins de

geração de lucros. Por outro lado, o esporte na atualidade assume um caráter social

abrangente, no campo da promoção de saúde, lazer, qualidade de vida, estética,

reabilitação e inclusão.

A prática esportiva contemporânea está mergulhada nos valores capitalistas,

como o rendimento e o lucro; com a visão de se vencer a qualquer custo. Dentre os

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fatores, destacam-se: a grande utilização de substâncias proibidas, com o intuito de

alcançar alta performance, a mídia, a política, a agressividade, a competitividade, a

estética, a esportivização da cultura. No entanto, debruçar-se com a sociedade

esportivizada, em que prevalecem a lógica do mercado, a tecnologização e o

profissionalismo, requer um olhar crítico sobre os valores que o esporte tem

difundido.

Diante do exposto, percebe-se que o esporte e o lazer são vistos como

fenômenos que apresentam diferentes condições e nuances, num entendimento de

que são de grande relevância na vida do ser humano, seja uma criança,

adolescente, jovem, idoso, trabalhador ou não trabalhador, como também para a

vida em sociedade. Ademais, o esporte e lazer mantêm uma relação com as

diferentes áreas de conhecimento e devem ser entendidos numa visão crítica,

superando a mera perspectiva funcionalista, além de romper com a ideia apenas de

mercadoria, como se fosse apenas o seu consumo, atendendo somente aos anseios

da mídia, a lógica mercadológica, e a indústria cultural; uma vez que a lógica do

mercado determina o estilo de vida considerado “saudável”, como também padrões

de comportamento e modelos de corpo que devem ser vendidos e consumidos pelas

diferentes classes sociais.

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CAPÍTULO 3 - ESPORTE E LAZER NO BRASIL

3.1 O esporte na sociedade brasileira

Conforme Marques et al. (2006), a primeira manifestação esportiva no

âmbito interno do Brasil foi em 1901, numa fábrica de tecidos em Bangu, Rio de

Janeiro. A prática foi o futebol, sendo executada no terreno da fábrica. A partir de

1930, empresas começaram a oferecer opções de lazer e esporte aos empregados,

através de clubes subvencionados.

Nos primeiros anos do século XX, já estavam lançadas as bases e

estabelecidos os sentidos básicos do que Nicolau Sevcenko chama de “febre

esportiva”, observável principalmente nas décadas de 1920 e 1930, uma febre que

veio crescendo desde meados do século XIX, mas somente na virada do século

encontra condições completas para se desenvolver ainda mais, podendo-se assim

considerar que surgem os sentidos fundamentais de uma “civilização esportiva”.

Para Sevcenko (1998), na transição dos séculos XIX para o século XX, na cidade do

Rio de Janeiro deu-se uma “febre esportiva”, pois a Reforma Pereira Passos

(Reforma Urbanística), a partir de 1903, manteve forte relação simbólica com a

prática esportiva, em especial o remo. O pesquisador Melo (2001a) ressalta que o

Rio de Janeiro foi pioneiro em práticas esportivas no Brasil.

Mais do que identificar a ocorrência dessa “febre”, é importante perceber que

ela começa, quando são estabelecidos novos sentidos para a prática esportiva,

sendo vista não mais como um simples jogo. Para Melo (2001a), o esporte cada vez

mais seria encarado como uma escola de virtudes e relacionado com a saúde,

determinando profundamente a atuação e os discursos de muitos que o fenômeno

esportivo se envolve nos mais diferentes âmbitos e funções.

No presente estudo, não há um intuito de identificar as diferentes práticas

esportivas numa linha de tempo. No entanto, reconhece-se uma pluralidade de

formas e trajetos para a sua disseminação no Brasil, haja vista as suas

especificidades e singularidade nos diferentes contextos e, por conseguinte, com a

possibilidade da história de cada prática esportiva ter influências de manifestações

esportivas, que acompanham o esporte no mundo. Neste patamar, nosso interesse

não é buscar as origens específicas de cada modalidade esportiva e/ou diferentes

práticas esportivas, mas sim reconhecer que os conceitos do esporte carregam

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marcas de continuidade e de rupturas considerando as condições históricas situadas

e também considerando-o como fenômeno social, historicamente e culturalmente

construído em suas diferentes dimensões; fazendo ainda, referências de que as

primeiras manifestações esportivas no Brasil, de certo modo, estiveram atreladas ao

seu processo de urbanização, bem como à sua expansão. Recorrendo-se também à

discussão do lazer, existe a corrente que toma como base os aspectos ligados à

urbanização e à industrialização para seu entendimento.

Para Dias (2013), no Brasil com as cidades pouco ou nada urbanizadas,

ocorreu o florescimento do esporte; por outro lado, em algumas cidades a

urbanização teria fortalecido o esporte e ainda assevera que no Brasil as cidades

foram marcadas por mudanças rápidas e dinâmicas.

Entre as décadas finais do século XIX, mais especificamente a partir dos anos iniciais do século XX, populações de algumas cidades brasileiras vivenciaram uma nova experiência urbana, marcadas por ideais de velocidade, dinamismo e inovação (DIAS, 2013, p. 35).

O lazer, de acordo Silva e Silva (2012), acompanha o processo de

construção das grandes cidades. “O lazer era o discurso de segurança do homem

na vida urbana” (SILVA; SILVA, 2012, p. 20). Discurso este com a preocupação na

saúde da população. A preocupação com os movimentos de lazer e a sua

contribuição se expandiu após a Revolução Industrial. Segundo Marcellino (2002),

no Brasil o interesse para a problemática do lazer se deu, a partir da urbanização da

cidade.

Para Miranda (s.d.), a urbanização e a industrialização alteram o panorama

da cidade e a vida das crianças. Miranda (s.d. p. 10-14) afirma que:

Em dado momento da vida das cidades, os urbanistas têm os olhos voltados para este fato: as crianças não tendo jardins, quintais, parques onde brincar e jogar, vão brincar no único espaço que lhes restam a rua! [...] A rua é o meio nocivo por excelência. [...] contato de companheiros viciosos, adquirindo maus hábitos, perturbando vizinhos, intranquilizando os adultos, a rua é a criadora de tendências anti-sociais, a geradora de criminalidade infantil.

Deste modo, a rua é considerada como espaço perigoso, degenerador da

criança, não vista como um local ideal para a criança permanecer. Na concepção

das autoridades, brincadeiras de rua eram consideradas universo das crianças de

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rua, filhos de classes operárias, vistos como miseráveis, maltrapilhas, promíscuas,

desordeiras e imorais, desta feita, os filhos de famílias mais abastadas eram

proibidos de sair às ruas e suas brincadeiras voltam-se para o ambiente doméstico,

nos quintais e clubes. Essa perspectiva contraria a visão de Jacobs (2011), ao tratar

de algumas vertentes na discussão do urbano.

Segundo Lefebvre (2001), o processo de industrialização é indutor da

problemática urbana. Dentre os induzidos, estão: os problemas relacionados ao

crescimento e à planificação, as questões ligadas à cidade e ao desenvolvimento da

realidade urbana, sem omitir a crescente importância dos lazeres e dos aspectos

relacionados à cultura. Na sua concepção, a cidade é uma obra, e esta

característica diferencia com a orientação irreversível na direção do dinheiro, do

comércio, das trocas, dos produtos. O uso principal da cidade, ou seja, das ruas,

praças, edifícios e dos monumentos, para Lefebvre (2001), é a festa. Contrariando

ao que Miranda (s.d.) diz em relação ao entendimento das crianças na rua.

Observou-se que o processo de industrialização para Lefevre (2001) relaciona-se

diretamente com a questão urbana, e, por conseguinte com o planejamento e o

desenvolvimento da cidade. Desta maneira, com base no referido autor, na dinâmica

da cidade estão presentes o esporte, o lazer e a cultura, carregados de significados

objetivos e subjetivos.

Em se tratando do conceito do esporte, no Brasil, em 1985, foi instituída pelo

presidente José Sarney uma comissão presidida por Manoel Tubino. Este sugeriu a

ampliação do conceito de esporte, passando a ter um entendimento não somente de

rendimento, e assim, compreendido também como perspectiva da educação e da

participação (lazer). A Carta Internacional de Educação Física e Esporte da

UNESCO (1978) é considerada o marco nessa questão.

Embora a Constituição Federal do Brasil de 1988 já fizesse referência a um

novo conceito de esporte, o Brasil permanecera, até 1993, sem lei específica do

esporte que acompanhasse o texto constitucional. Contudo, a partir da Lei N. 8672 /

1993 (Lei Zico), se determinou conceitos e princípios para o esporte brasileiro,

reconhecendo as manifestações esportivas: o Esporte - Educação, Esporte -

Participação (lazer) e Esporte - Performance (desempenho). Estas manifestações

estão inseridas na Política Nacional do Esporte nos dias atuais.

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O esporte, para Tubino (1999), pode ser entendido como fenômeno

sociocultural ou manifestação da cultura física, as quais têm atuação interdisciplinar.

O autor ainda enfatiza que as dimensões sociais na prática do esporte são: Esporte

– Educação, Esporte – Participação e Esporte – Performance (TUBINO, 2002a).

Porém, segundo Tani (1998), a depender da ênfase em determinados aspectos, o

esporte pode assumir características bem diferentes, como por exemplo: esporte-

rendimento e esporte como conteúdo da Educação Física8. Tomando como

norteadora a terceira versão da Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017),

os esportes reúnem as manifestações mais “formais” e práticas corporais deles

derivados, e ainda podendo ser classificados em: esportes de campo – e – taco,

rede / parede, de invasão ou territorial, esporte técnico-combinatório, de marca, de

precisão e esportes de combate. Ademais, um dos objetivos de aprendizagem para

os esportes é a problematização das principais manifestações esportivas do esporte

contemporâneo, seja de participação ou rendimento; seu significado no tempo livre,

as relações entre esporte e saúde, e entre esporte e aprendizagem de valores

sociais.

Para Tani (1988), o Esporte – rendimento está assim definido:

Objetiva o máximo em termos de rendimento, pois visa a competição; ocupa-se com o talento e portanto preocupa-se essencialmente com o potencial das pessoas; submete pessoas, a treinamento com orientação para a especificidade, ou seja, uma modalidade específica; enfatiza o produto e resulta em constante inovação. O interesse principal do esporte-rendimento [...] é a perpetuação do sistema ou a sua auto-preservação e o sistema só se perpetua com recordes. Os motivos desse interesse podem ser culturais, econômicos, políticos e ideológicos (TANI, 1998, p. 116).

Com a ideia de simbolismo, com ênfase no princípio educativo, com o trato

nos valores humanos, com foco no desenvolvimento pessoal, com vistas ao

desenvolvimento social, apresenta-se Paes (1998), entendendo o esporte como:

8 Esporte como conteúdo da Educação Física objetiva o ótimo em termos de rendimento, respeitando

as características individuais, as expectativas e as aspirações das pessoas; ocupa-se com a pessoa comum, preocupando-se não apenas com o seu potencial, mas também com a sua limitação; visa à aprendizagem e, portanto, submete pessoas à prática vista como um processo de solução de problemas motores; orienta-se para a generalidade, dando oportunidades de acesso a diferentes modalidades; enfatiza o processo e não o produto em forma de rendimentos ou recordes, e essa orientação resulta na difusão do esporte como um patrimônio cultural (TANI, 1998, p. 117).

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uma representação simbólica da vida, de natureza educacional, podendo promover no praticante, modificações tanto na compreensão de valores como de costumes e modo de comportamento, interferindo no desenvolvimento individual, aproximando pessoas que têm, neste fenômeno, um meio para estabelecer e manter um melhor relacionamento social (PAES, 1998, p. 112).

3.2 O lazer no Brasil

Para situar o esporte e lazer como fenômenos e de forma mais específica,

no tocante ao lazer, ressaltam-se algumas considerações acerca de

desenvolvimento econômico de uma maneira sucinta para melhor compreensão

frente ao contexto político – econômico vivido, a partir da década de 1930.

Os estudos dos precursores da escola clássica no campo do

desenvolvimento econômico estiveram historicamente relacionados com o

surgimento de uma nova ordem social, ou seja, o capitalismo. David Ricardo

formulou uma teoria do desenvolvimento econômico. De acordo com a sua teoria, a

utilização de uma parte do produto social para a acumulação e as transações

produtivas é a fonte de desenvolvimento econômico. Na economia política

neoclássica, continua considerando-se a acumulação, que procede da renda de

capital como motor do desenvolvimento econômico.

Tomando como referência de que a referida década é considerada um

marco divisor das águas na história brasileira, pois de um lado tem-se a queda da

classe social formada até o momento por uma elite agrária rural, denominada, os

Senhores do Café e de outro lado, a ascensão da burguesia industrial e o

crescimento da classe proletária urbana; e, ainda, mergulhado num contexto, onde o

Estado tinha a intenção de se afirmar e definir seu papel na sociedade, é que se

começa a buscar situar o lazer no Brasil.

A década de 1930 é o período em que o proletariado urbano começa sua

luta de reivindicações, em conjunto com os trabalhadores rurais. Além disso, a partir

desse período, com a ascensão do governo populista, o operariado brasileiro

recebeu um conjunto de benefícios sociais. Era necessário também dar espaços ao

capital estrangeiro e avançar o período rural para a industrialização.

Para introduzir características econômicas e sociais numa perspectiva macro

conjuntural, é importante enfatizar que nos Estados Unidos, o presidente Franklin

Roosevelt dá início ao New Deal (Novo acordo), com o plano de recuperação

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econômica depois da quebra da bolsa de New York, em 1929 e, por conseguinte,

surge uma crise no capitalismo. Período que deu início a grande depressão e

terminou com a guerra. Foram adotados pelo referido presidente, a partir de 1932,

políticas de ampliação do gasto público, reforçando o citado New Deal.

Dentro do escopo do presente estudo, alguns aspectos são levantados em

consequência ao período vivido, a saber: foram nos anos 1930 que se descobriu o

esporte, a vida ao ar livre e os banhos de sol. Em consequência, novos modelos de

roupa surgiram, uma vez que a prática de esportes se popularizou.

No tocante ao cenário brasileiro, ocorre a Revolução de 1930, movimento

liderado por Getúlio Vargas. A Revolução de 1930 significa um fim de um ciclo, o

agrário-exportador e o início de outro que, pouco a pouco, elaborou as bases para a

acumulação industrial no Brasil. A Revolução de 1930 pôs fim à Primeira República

e se tornou um dos movimentos mais importantes no Brasil.

A Revolução de 1930, para Lamounier (1992), foi um momento de forte

inclinação no aparelho estatal, corrigindo o regionalismo excessivo da República

Velha e na política econômica, que se orientava cada vez mais no sentido do

nacionalismo e da industrialização.

Furtado (1987) refere-se à Revolução de 1930 como um produto da ação

organizada das camadas médias urbanas e dos grupos industriais contra os

cafeeiros, ao dizer que:

O movimento revolucionário de 1930, culminante de uma série de levantes militares abortivos iniciados em 1922, tem sua base nas populações urbanas, particularmente a burocracia militar e civil e os grupos industriais e constitui uma reação coletiva contra o excessivo predomínio dos grupos cafeeiros, [...]. Contudo, em face da reação armada desde 1932, o governo provisório tomou, a partir de 1933, uma série de medidas destinadas a ajudar financeiramente os produtores de café, inclusive uma redução de cinquenta por cento nas dívidas bancárias desses últimos (FURTADO, 1987, p. 201).

Em 1932 começa a Revolução Constitucionalista, organizada em São Paulo,

que exige, entre outros aspectos, a constitucionalização do novo regime. O

movimento é derrotado, contudo, exige a convocação da Assembleia Constituinte

em 1933. Em 1934, seria promulgada a nova Constituição. Em 1937, acaba-se a

“Política do Café com Leite” e inicia-se o Estado Novo. As eleições no país só

voltariam, com término do Estado Novo, em 1945. Ademais, o período de 1930 a

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1937 foi de incertezas para o povo brasileiro e de instabilidade social e política, no

que tange à legitimação do novo regime implantado.

O capitalismo industrial brasileiro surgiu do desdobramento do capital

cafeeiro, utilizando tanto do núcleo produtivo do complexo exportador (produção e

beneficiamento do café) quanto do seu segmento urbano, ou seja, atividades

comerciais, inclusive as de exportações, serviços financeiros e de transportes.

As mudanças que surgem com a República, principalmente, a partir dos

anos de 1920, com a modernização e a industrialização, fazem com que o

capitalismo industrial se torne o modo de produção preponderante no Brasil. A

estrutura social se torna mais moderna e mais complexa. Muito embora haja

repressão às manifestações das novas classes sociais, que criticam o poder

oligárquico da Primeira República, as classes trabalhadoras se organizam,

inicialmente, com vistas às suas necessidades imediatas, enquanto que as camadas

urbanas emergentes exigiam mais participação política.

O período compreendido entre 1920 e 1943, de forma mais específica, na

segunda metade dos anos 1930, constitui a fase que se estruturou a

constitucionalização dos direitos sociais do nosso país. Período este que

corresponde ao surgimento dos pilares que sustentam, ao longo dos anos, o sentido

da cidadania social no Brasil, através do protagonismo do Estado, que se faz

acompanhar de uma legislação social reguladora das relações de trabalho, como

possibilidade de concentração dos problemas sociais e na perspectiva de sujeitos

sociais como conquistas para condições básicas de vida e dignidade humana, como

destaca Mendonça (2005).

Portanto, o movimento político militar de 1930 provoca mudanças

importantes no sistema produtivo voltado para o mercado interno, desenvolvimento

industrial e para a regulação das relações de trabalho. O Estado, por sua vez, a

partir de 1930, articula o processo de transição de uma economia agroexportadora a

uma economia urbano-industrial. Sendo assim, no Brasil nos anos 1930, as

mudanças no rumo econômico e político dão-se na disputa entre as frações da

classe dominante pela disputa da proteção ao Estado.

O Estado pós 1930, sobretudo a partir de 1935, exerce um papel

desarticulador dos movimentos sociais urbanos que, historicamente, vinham sendo

construídos desde 1920, contribuindo com as conquistas das primeiras leis sociais

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da República brasileira, sob forte imposição do liberalismo oligárquico, como

também a Constituição de 1934 consagrou a competência ao governo para regular

as relações de trabalho entre eles, a jornada de trabalho para oito horas, definição

do descanso semanal e férias.

a) O lazer no Período Nacional Desenvolvimentista (1946 - 1964)

O Projeto Nacional-Desenvolvimentista foi baseado na substituição de

importações e marcado pelo populismo político. Nesse período, surge a indústria de

automóvel, a construção de estradas pelo Brasil, a inauguração da capital federal

Brasília. Foram adotadas políticas trabalhistas e criada uma indústria de base:

mineração; extração de petróleo e siderúrgica. Do ponto de vista do lazer, Corbin

(1995) enfoca que o mesmo se consolida na luta entre operários e detentores do

capital, como conquista de espaços de lazer nas empresas, o envolvimento dos

operários nos campeonatos nacionais e o desenvolvimento esportivo de algumas

empresas-clube; como também o desenvolvimento do esporte de elite e a criação de

teatros e musicais.

Segundo Almeida e Gutierrez (2005), as transformações advindas do

desenvolvimento econômico e industrial do país oportunizaram um maior acesso ao

lazer por meio das artes e espetáculos, através dos clubes-empresa. Os referidos

autores destacam que a classe no setor urbano cresce, e também a massa

estudantil adentra as universidades públicas das grandes cidades, fato que se

desenvolve rapidamente a prática de esporte nos clubes; é enaltecida a casa de

campo ou de praia, como também se expandem os passeios de carro. Com o Golpe

Militar, principalmente devido o “Milagre Econômico”, há uma expansão do lazer de

final de semana. Além disso, são investidos em parques e espaços para práticas

esportivas

Ramos (1983) afirma que, na passagem da década de 1960, a busca dos

valores nacionais e a “cara” do Brasil e a incorporação das influências estrangeiras

são consequências do cenário político do Brasil e do processo de elite por uma

procura de bens culturais nacionais. De acordo com Almeida e Gutierrez (2005),

nesse período, os espetáculos de lazer atingiam principalmente os setores urbanos

das classes média e alta, que traduziam, através das apresentações as

características do povo brasileiro e o subdesenvolvimento. A classe operária podia

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ter contato com peças relativas a exploração e mais valia (base do lucro do sistema

capitalista). Além disso, o lazer popular mantinha a tradição de rua, o circo e as

festas típicas católicas. As práticas esportivas eram desenvolvidas na rua, empresas

e campos improvisados. A classe de baixa renda, na cidade, utiliza-se dos espaços

livres para as suas atividades lúdicas e as classes mais abastadas tinham os clubes

esportivos e os parques públicos localizados, na maioria, em regiões mais

valorizadas.

b) O lazer no Período Militar (1964 - 1985)

Entre as décadas de 1960 e 1970, há no Brasil um período de grande

transformação no perfil da política social no âmbito institucional-financeiro. Para

Draibe (1989), nesse período, o “núcleo duro” da intervenção social do Estado

define-se, completando o Estado de Bem-Estar Social, fundamentado nos princípios

do mérito, ou seja, posição ocupacional e de renda adquirida no nível da estrutura

produtiva e da seletividade. Deste modo, abrem-se espaços para a organização dos

sistemas públicos, ou estatalmente regulados, no setor de bens e serviços sociais

básicos. Foi instituída, em 1958, a Campanha de Ruas de Recreio, que possibilitou

atividades esportivas-recreativas em ruas e praças. Ademais, alia-se às políticas de

esporte e lazer, alicerçada pelo Decreto Lei N. 69. 450, de 1971, em vigor até 1996.

Conforme asseveram Almeida e Gutierrez (2005), depois do Golpe Militar de

1964, as manifestações do lazer transformam-se pelo fato do crescimento urbano,

da censura e da repressão policial às práticas de ruas. O desenvolvimento dos

meios de comunicação e da indústria cultural, destacando-se a popularização da

televisão, contribui com a desintegração das manifestações artísticas voltadas para

a classe popular. Pós 1968, com o acirramento das repressões a qualquer oposição

ao regime militar, aconteceram o esgotamento do interesse pelas questões políticas,

o refluxo dos movimentos de massa, a censura e a falta de canais para a discussão

e divulgação de qualquer proposta contestadora, o aparecimento de uma resistência

de esquerda armada e a diminuição das expressões artísticas.

Desta maneira, estes fatos marcaram o fim de um florescimento cultural e do

movimento popular, favorecendo a indústria cultural, especialmente, a televisão.

Contudo, apesar do “Milagre Econômico” da década de 1970, caracterizado pelo

desenvolvimento acelerado, aumentou-se a desigualdade social. Muito embora, para

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Almeida e Gutierrez (2005), houvesse uma expansão do número de famílias de

classe média que adquiriram televisões, automóveis, pudessem ir ao cinema,

tivessem acesso nos finais de semana ao lazer do campo ou de praia, substituíssem

aos poucos, o comércio de rua pelo do Shopping Center.

Para Corbin (1995), o lazer da classe média, após o desenvolvimento

industrial e das cidades, acompanha aos poucos com as peculiaridades, como: a

censura, o desenvolvimento do lazer dos países industrializados, a exemplo de

viagens a outros países, a criação de espaços turísticos e hotéis. Porém, para os

menos favorecidos, o espaço de lazer, como a rua e as manifestações populares,

diminuiu, restando, assim, as telenovelas, em suas casas, que também serviam

como propagandas políticas do regime militar.

De acordo com Ramos (1983), o Estado simultaneamente continua com o

projeto desenvolvimentista, busca retirar o caráter político contestatório das artes e

do lazer, com investimento na televisão e cinema para formação ideológica, com

base nas artes audiovisuais. Com a censura, as práticas do lazer ficam restritas aos

eventos do regime militar e com o “Movimento Esporte para Todos” – EPT, como

afirma Sant‟anna (1994), às apresentações de circos populares e parques de

diversões (Magnani, 1998) e às atividades do SESC e SESI.

c) O lazer nos anos 1985 – 1990

As características políticas e econômicas desse período, segundo Almeida e

Gutierrez (2005), foram: garantias democráticas, período de estagnação econômica,

principalmente no setor secundário, desenvolvimento da indústria cultural e a

internacionalização da cultura e uma sociedade dual, e, por conseguinte, a exclusão

social. Em relação ao lazer, os referidos autores mencionaram mudanças nas

práticas do lazer, como desenvolvimento de um mercado de lazer de alto padrão,

pouco investimento em lazer popular, desenvolvimento das artes, teatro, cinema,

com incentivos governamentais, estruturação de centros e museus para as práticas

de lazer urbano, com recursos públicos e privados, como também surgem as

políticas públicas relativas ao lazer “pedagógico” e iniciativas isoladas.

Nesse período de redemocratização, e com a globalização, surge uma

reflexão sobre o lazer no Brasil. As reflexões teóricas sobre o lazer voltam-se para o

contato e intercâmbio com as diversas correntes estrangeiras sobre a superação da

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dicotomia trabalho / tempo livre e estudos dos clássicos, pós-modernos, sociólogos

contemporâneos e relativos às políticas públicas.

d) O lazer no Brasil pós década de 1990

Sabe-se que, em 1995, iniciam-se reformas políticas e nos aparelhos do

Estado brasileiro com a busca de solucionar crises econômicas e garantir as

condições de inserção do país na economia globalizada, como afirma Cardoso

(1998). Dentre as medidas, destacam-se: desregulação da economia e a

flexibilização da legislação do trabalho, a diminuição de gastos púbicos, a

privatização das empresas estatais, a abertura do mercado dos investimentos

transnacionais, dentre outras.

Desde o início do século XXI, adotou-se um conjunto de políticas

energéticas e industrial de crédito para a produção e para o consumo, e políticas

sociais em ampliação e consolidação do sistema de produção social definido na

Constituição de 1988. No período de 2003 a 2006, as exportações abrem o

crescimento econômico do país e no período de 2007 – 2010 foi fortemente

impactado pela expansão do mercado interno. Ao longo dos últimos anos,

apresentam-se tentativas estratégicas por parte dos diferentes governos em apontar

reformas de ordem econômica, tributária, previdenciária, político-administrativa,

dentre outras, que possibilitem ao Brasil manter-se no cenário capitalista, e nossa

busca constante de acreditar nas melhorias das condições de vida do povo

brasileiro, estando presente no debate o lazer, como direito social, no campo das

políticas públicas intersetoriais, mesmo frente aos desafios e escândalos

econômicos e políticos que assolam o país nos últimos anos e, ainda, a crise

instalada em diversas ordens, com reflexos no mundo e, mais especificamente, de

forma assustadora, impactando a vida do brasileiro e os rumos macropolíticos,

econômicos e sociais do Brasil.

A criação do Ministério das Cidades representou uma maior integração de

políticas públicas municipais na medida em que agrega na sua pasta os projetos e

ações relacionados à habitação, transporte e revitalização de áreas centrais

urbanas, por outro lado, é um desafio garantir condições à população o lazer, entre

outros direitos.

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Em relação à questão do lazer no século XXI no Brasil, segundo Marcellino

(2010), há um caminho, com a esperança de novos recursos e possibilidades, num

conjunto de ações, sejam elas profissionais, de organização comunitária e de ações

governamentais articuladas, pois mesmo reconhecendo as manipulações

ideológicas é possível que o lazer venha contribuir para a vivência de diversos

valores que podem mudar a ordem moral e cultural da sociedade. Além disso, num

contexto do tempo da virtualidade, da simultaneidade do espaço / tempo, do rápido

fluxo das informações, da informalidade e da precariedade das relações de trabalho,

da fragmentação social, de novas identidades, do individualismo, do mundo da

competividade, da lógica do consumo, do acirramento da pobreza e das altas taxas

de desigualdades sociais, bem como, uma gama de descompassos oriundos da

natureza do crescimento das nossas cidades, num mundo plural, e ainda,

considerando o Brasil com grandes desigualdades regionais, com uma grande

parcela de excluídos, tem-se o lazer, buscando-se sua ressignificação. Pois se

acredita que o lazer está revestido de um potencial significativo, a partir de suas

diferentes linguagens, estando em diferentes campos como: na família, no trabalho,

na escola, nos meios de comunicação, nas ruas, nas praças, entre outros.

3.3 Aparato legal do esporte e lazer

Com o intuito de discorrer sobre como é tratado o esporte e o lazer quanto

aos aspectos legais no contexto brasileiro, vistos como direito, reconhecendo que há

uma gama de possibilidades de elucidar o assunto, optou-se por apresentar a

temática ora destacada a partir da Declaração Universal de Direitos Humanos

(1948), LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996), Constituição da

República Federativa do Brasil (1988), Estatuto da Criança e do Adolescente (1990),

Lei N. 7853 (1989), que dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência,

Lei N. 9.615/1998, que institui normas gerais sobre desporto, o Decreto N. 3.298

(1999), que regulamenta a Lei N. 7853, que trata da Política Nacional para

Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, Estatuto do Idoso (2003), Lei N.

11.438/2006 e Lei N. 11.472/2007, que tratam sobre incentivos e benefícios para

fomentar as atividades de caráter desportivo, Convenção Internacional sobre os

Direitos das Pessoas com Deficiência (2007) e o Estatuto da Juventude (2013). O

olhar, a partir destes documentos, surgiu da necessidade de apresentar um

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panorama do ponto de vista do direito e da legislação que pudesse situar o leitor,

partindo da Carta Magna do cidadão brasileiro, como também dos demais

documentos que abordam o esporte e o lazer para a criança e o adolescente, a

juventude, o idoso e pessoas com deficiências, de forma específica.

O lazer é um fenômeno sócio-histórico que se frutificou na Era Moderna, a

partir da Revolução Industrial, emergindo como conquista de reivindicações sociais

oriundas da necessidade de qualidade de vida para os trabalhadores. Lutas que

geraram a redução da jornada de trabalho e a remuneração de fins de semana,

férias e feriados. Dessa forma, o direito ao lazer é considerado como uma conquista

de lutas coletivas por espaços de tempo que pudessem se contrapor às obrigações

cotidianas, especialmente às do mundo do trabalho.

Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada em

1948, pela Assembleia Geral das Nações Unidas – ONU (1977), no seu artigo 24,

“todo homem tem direito a repouso e lazer, inclusive à limitação razoável das horas

de trabalho e a férias periódicas remuneradas” (ONU, 1977, art. 24). Desta forma, o

lazer passara a ser visto como direito de todos. Nesse documento, o lazer tem uma

relação com a variável tempo, levando-se a acreditar que o mesmo está visto numa

perspectiva compensatória, considerando sua relação com o surgimento do repouso

mencionado a partir da diminuição das horas de trabalho e surgimento de férias.

Tratar a questão sob o ponto de vista do esporte e lazer como direito não é

tarefa simples, pois é reconhecer que a legislação passe do nível de documentação

e que tenha o verdadeiro sentido da concretude e de significado para o cidadão

brasileiro, independente de idade, gênero, etnia, religião, nível socioeconômico,

cultural, entre outros aspectos.

Na Constituição Federativa Brasileira (1988), o lazer está previsto como

direito, expresso no Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais, no seu

Capítulo II – Dos Direitos Sociais, em seu Artigo 6º, ao afirmar que:

São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma da Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64 de 2010) (BRASIL, 1988, art. 6).

Nesse documento, o Lazer é visto como direito, ao lado de outros direitos

assegurados ao brasileiro. Percebe-se, assim, a importância conferida ao lazer,

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considerando os demais direitos humanos. Está expresso ainda, no Título III – Da

Organização do Estado, no Capítulo II – Da União, no seu artigo 24 que: “compete à

União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre a

educação, cultura, ensino e desporto”. No seu Título VIII – Da Ordem Social, no seu

Capítulo III – Da Educação, Da Cultura e do Desporto – Seção III – Do Desporto,

observa-se que é dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-

formais, como direito. Para isto são observados os seguintes aspectos:

I- A autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento;

II- A destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional, e, em casos específicos, para ao do desporto de alto rendimento;

III- O tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não-profissional;

IV- A proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional (BRASIL, 1988).

Ademais, na Seção III do inciso IV referido anteriormente, no parágrafo 3º,

trata-se que: “o poder público incentivará o lazer, como forma de promoção social”.

Pautando-se no Título VIII – Da Ordem Social, Capítulo VII – Da Família, da

Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso, o artigo 227 assevera que:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65 de 2010) (BRASIL, 1988).

O lazer é tratado como direito constitucional, o qual será incentivado pelo

poder público, como forma de promoção social; está previsto que o desporto seja

legislado pela União, Estados e Distrito Federal. Quanto aos recursos públicos,

serão destinados prioritariamente para o desporto educacional. No entanto, está

expresso que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao

adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, direitos sociais, tais como: à vida,

à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, dentre outros.

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Camargo (2010) afirma que, no direito ao lazer, está presente uma nova

maneira de se reivindicar a dignidade humana. Todavia, o autor percebe que a

sociedade brasileira vê o lazer com um pouco de indiferença e desconfiança,

embora reconheça o lazer como uma necessidade e um direito, mas uma

necessidade e um direito, que estão em segundo plano, pois alguns setores da

sociedade civil ainda não adquiriram consciência de que o lazer é um direito tão

necessário e legítimo como a saúde, a habitação, a segurança, o transporte e a

educação.

É importante destacar que na Constituição Federal de 1934 foi contemplado

pela primeira vez o “tempo de não trabalho”, pois se previa que o tempo diário de

trabalho não poderia exceder de 08 (oito) horas, e, ainda anunciou as férias

remuneradas. Já na Constituição de 1937, foi contemplado ao trabalhador o direito

de descansar semanalmente, aos domingos, e após um ano de trabalho em uma

determinada empresa, o trabalhador teria direito a uma licença remunerada. Desta

maneira, havia a possibilidade de desfrutar desse tempo com o lazer.

De acordo com a Lei N. 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o

Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, o esporte e o lazer são vistos como

direitos assegurados no seu Artigo 4º ao dizer que:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito à liberdade, e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 1990, art. 4).

O Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA trata do apoio e destino de

recursos para o esporte e lazer, em seu Artigo 59, ao dizer que: “os municípios, com

apoio dos estados e da União estimularão e facilitarão a destinação de recursos e

espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância

e juventude” (BRASIL, 1990, art. 59).

No Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), em seu Artigo 71, está

expresso o direito ao lazer e esportes, da seguinte forma: “A criança e o adolescente

têm direito à informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos

e serviços que respeitem sua condição peculiar em desenvolvimento” (BRASIL,

1990, art. 71).

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Neste trecho, inicialmente, verifica-se que o esporte vem com entendimento

de diferentes esportes. O caráter lúdico pode estar intrínseco e/ou reforçado, talvez,

nas expressões de diversão e espetáculos.

Neste documento, o Título III – Da Prevenção, em seu Capítulo II,

denominado – “Da Prevenção Especial”, trata da regulação das diversões.

Espetáculos públicos são tratados no Artigo 74:

O poder público, através do órgão competente, regulará as diversões e espetáculos públicos, informando sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada (BRASIL, 1990, art. 74).

Ainda no Artigo 75, a preocupação está voltada para adequação da faixa

etária às diversões e espetáculos públicos, ao afirmar que: “toda criança ou

adolescente terá acesso às diversões e espetáculos públicos classificados com

adequação à sua faixa etária” (BRASIL, 1990, art. 75). Ao falar da Política de

Atendimento, o ECA (1990), em seu Artigo 94, trata que as entidades que

desenvolvem programas de internação dentre outras obrigações, propiciarão

atividades culturais, esportivas e de lazer.

Em 24 de outubro de 1989, foi criada a Lei N. 7.853, que dispõe sobre o

apoio às pessoas portadoras de deficiência e sua integração social, em seu Artigo

2º, expressa que caberá ao poder público e seus órgãos assegurar os direitos

básicos às pessoas portadoras de deficiência. O lazer nesta lei é tratado como

direito básico atrelado aos demais direitos sociais.

Ao poder público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade e de outros que decorrentes da Constituição e das leis propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico (BRASIL, 1989, art. 2).

A partir do Decreto N. 3.298, de 20 de dezembro de 1999, é regulamentada

a Lei N. 7.853, que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa

Portadora de Deficiência, no Capítulo I – “Das Disposições Gerais”, traz a seguinte

redação:

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Caberá aos órgãos e às entidades do Poder Público assegurar à pessoa portadora de deficiência, o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à previdência social, à assistência social, ao transporte, à edificação pública, à habitação, à cultura, ao amparo à infância e à maternidade e de outros que decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico (BRASIL, 1999).

Assim sendo, percebe-se que o desporto de forma específica e outros

direitos não estavam explícitos, antes da regulamentação da Política Nacional para

Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Em uma das diretrizes

apresentadas na referida legislação, o esporte vem enunciado conforme está

expresso no Capítulo III, Artigo 6º, inciso III:

Incluir a pessoa portadora de deficiência, respeitadas as suas peculiaridades, em todas as iniciativas governamentais relacionadas à educação, à saúde, ao trabalho, à edificação pública, à previdência social, à assistência social, ao transporte, à habitação, à cultura, ao esporte e ao lazer (BRASIL, 1999, art. 6).

Outro aspecto importante a ser considerado é que no Capítulo VI – “Dos

Aspectos Institucionais”, caberá ao Ministério da Justiça, através do CONADE

(Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência), como órgão superior

de deliberação colegiada acompanhar as políticas setoriais, inclusive ao do

desporto, lazer e política urbana, entre outras. De acordo com o Artigo 11, inciso II,

ao CONADE compete:

Acompanhar o planejamento e avaliar a execução das políticas setoriais de educação, saúde, trabalho, assistência social, transporte, cultura, turismo, desporto, lazer, política urbana e outros relativos à pessoa portadora de deficiência (BRASIL, 1999, art. 11).

Este artigo faz menção ao desporto e lazer num contexto de políticas

setoriais, como também à política urbana. Assim sendo, o trato sob a forma de

políticas setoriais aparece na Lei promulgada frente à Política Nacional para a

Pessoa Portadora de Deficiência.

A Lei N. 7853 (1999), que aborda a Política Nacional para Integração da

Pessoa Portadora de Deficiência, no Capítulo VII, denominado – “Da Equiparação

de Oportunidades”, Seção V – “Da Cultura, do Desporto, do Turismo e do Lazer,

dispõe que as questões de acessibilidade e de incentivo à cultura, desporto, turismo

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e lazer são de responsabilidade dos órgãos e das entidades da Administração

Pública Federal direta e indireta e criar incentivos para o exercício de atividades

criativas, tendo como base algumas medidas, tais como:

Incentivar a prática desportiva formal e não formal como direito de cada um e o lazer como forma de promoção social; estimular meios que facilitem o exercício de atividades desportivas entre a pessoa portadora de deficiência e suas entidades representativas; assegurar a acessibilidade às instalações desportivas dos estabelecimentos de ensino [...] (BRASIL, 1999, art. 46).

De acordo com o Artigo 48, para que os órgãos e as entidades da

Administração Pública Federal direta e indireta sejam promotores ou financiadores

de atividades desportivas e de lazer deverão concorrer técnica e financeiramente a

editais para alcançar os objetivos previstos no Decreto N. 3298 que regulamenta a

Lei N. 7.853 (1999). Porém, a prioridade do apoio será a manifestação desportiva de

rendimento e educacional. O apoio será concernente à especialização de recursos

humanos, competições em diferentes esferas, pesquisa, e com construção,

ampliação, recuperação e adaptação de instalações desportivas e de lazer.

A LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996), no Título V – “Dos

Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino”, no seu Capítulo II – “Educação

Básica”, Seção I – “Das Disposições Gerais”, no Artigo 27, Inciso IV, estabelece que

“a promoção do desporto educacional e o apoio às práticas desportivas não

formais”, como uma das Diretrizes dos Conteúdos Curriculares da Educação Básica.

Segundo a LDB (1996) no Título VII – “Dos Recursos Financeiros”, em seu

Artigo 71, “não constituirão despesas de manutenção e desenvolvimento de ensino

aquelas realizadas com:

I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade ou à sua expansão; II - subvenção a instituições públicas ou privadas de caráter assistencial, desportivo ou cultural; III - formação de quadros especiais para a administração pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos; IV - programas suplementares de alimentação, assistência médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras formas de assistência social; V - obras de infra-estrutura, ainda que realizadas para beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;

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VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educação, quando em desvio de função ou em atividade alheia à manutenção e desenvolvimento do ensino (BRASIL, 1996, art. 71).

A despeito desta legislação, observa-se que as questões ligadas às obras de

infraestrutura e de subsídios a instituições públicas ou privadas de natureza

assistencial, desportiva ou cultural não serão consideradas despesas de

manutenção e desenvolvimento do ensino.

Tomando como base a Lei N. 9.615 – Lei Pelé, de 24 de março de 1998, que

institui normas gerais sobre desporto, em seu Capítulo I, no Artigo 1º: “O desporto

brasileiro abrange práticas formais e não-formais e obedece às normas gerais desta

Lei, inspirado nos fundamentos constitucionais do Estado Democrático de Direito”

(BRASIL, 1998, art. 1). Nesta Lei, no Capítulo II – “Dos Princípios Fundamentais”, no

Artigo 2º, o desporto é tratado como direito individual, baseado nos seguintes

princípios:

I - da soberania, caracterizado pela supremacia nacional na organização da prática desportiva; II - da autonomia, definido pela faculdade e liberdade de pessoas físicas e jurídicas organizarem-se para a prática desportiva; III - da democratização, garantido em condições de acesso às atividades desportivas sem quaisquer distinções ou formas de discriminação; IV - da liberdade, expresso pela livre prática do desporto, de acordo com a capacidade e interesse de cada um, associando-se ou não a entidade do setor; V - do direito social, caracterizado pelo dever do Estado em fomentar as práticas desportivas formais e não-formais; VI - da diferenciação, consubstanciado no tratamento específico dado ao desporto profissional e não-profissional; VII - da identidade nacional, refletido na proteção e incentivo às manifestações desportivas de criação nacional; VIII - da educação, voltado para o desenvolvimento integral do homem como ser autônomo e participante, e fomentado por meio da prioridade dos recursos públicos ao desporto educacional; IX - da qualidade, assegurado pela valorização dos resultados desportivos, educativos e dos relacionados à cidadania e ao desenvolvimento físico e moral; X - da descentralização, consubstanciado na organização e funcionamento harmônicos de sistemas desportivos diferenciados e autônomos para os níveis federal, estadual, distrital e municipal; XI - da segurança, propiciado ao praticante de qualquer modalidade desportiva, quanto a sua integridade física, mental ou sensorial; XII - da eficiência, obtido por meio do estímulo à competência desportiva e administrativa (BRASIL 1998, art. 2).

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Segundo a Lei N. 9.615/Brasil (1998), o desporto é reconhecido com

manifestação, e classificado em desporto educacional, de participação e de

rendimento, conforme se apresenta, no Capítulo III, no seu Artigo 3º:

I - desporto educacional, praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer; II - desporto de participação, de modo voluntário, compreendendo as modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde e educação e na preservação do meio ambiente; III - desporto de rendimento, praticado segundo normas gerais desta Lei e regras de prática desportiva, nacionais e internacionais, com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do País e estas com as de outras nações (BRASIL, 1998, art. 3).

Quando a Lei N. 9.615 trata da regulamentação da prática desportiva, em

relação à prática formal, dispõe que é submetida às normas nacionais e

internacionais e regras específicas a cada modalidade desportiva enquanto que a

prática desportiva não-formal é caracterizada pela “liberdade lúdica” dos

desportistas. Verifica-se que referenciar a natureza da informalidade há uma

indicação de livre escolha para a criação de regras pelos praticantes. Observa-se

que os princípios da soberania, autonomia, democratização, liberdade, do direito

social, da identidade, da educação, da qualidade, da descentralização, da segurança

e da eficiência são elencados na referida Lei, tratando o desporto como direito

individual. Sendo o dever do Estado fomentar as práticas desportivas formais e não-

formais, no entanto, a prioridade dos recursos públicos é para o desporto

educacional. Ao se considerar o princípio da qualidade do desporto, percebe-se a

referência no sentido do exercício da cidadania e o desenvolvimento físico e moral.

Em relação ao princípio da descentralização, ressalta-se a organização e

funcionamento harmônico entre as diferentes esferas, ou seja, federal, estadual,

distrital e municipal.

O desporto educacional é preconizado para fins de desenvolvimento integral

do indivíduo e a sua formação para a sua cidadania e a prática do lazer. Assim

sendo, o lazer vem enveredado pela ótica da “prática” nos sistemas de ensino e em

formas assistemáticas de educação. O desporto participação vem apresentado com

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a finalidade de contribuir com as questões de socialização, promoção de saúde e

educação e preservação ambiental.

Considerando a Lei N. 10.741, de 01 de outubro de 2003, que dispõe sobre

o Estatuto do Idoso, está assegurado o direito ao esporte e lazer ao idoso ao

expressar, no Título I, no Artigo 3º, que:

É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 2003, art. 3).

Tomando como base o Estatuto do Idoso (2003), caberá ao Estado e à

sociedade assegurar o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, assim definido:

É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis (BRASIL, 2003, art. 10).

Contudo, a prática de esporte e de diversões de acordo com o Estatuto do

Idoso (2003) é um dos aspectos que compreende o direito à liberdade. Verifica-se

que a ideia de liberdade como forma de livre escolha merece destaque neste trecho,

possibilitando desencadear uma perspectiva de discussão de uma natureza do lazer.

O sentido atribuído ao esporte é dado como prática e não é elucidado o vocábulo

lazer, mas levando-se a pensar na ideia da expressão apresentada, ou seja,

diversão, talvez numa perspectiva restrita do lazer.

Porém, no Título II – “Dos Direitos Fundamentais”, no Capítulo V – Da

Educação, Cultura, Esporte e Lazer, apresenta-se o direito ao esporte e lazer e

diversões em conjunto com outros direitos, quando em seu Artigo 20º dispõe que: “O

idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos,

produtos e serviços que respeitam sua peculiar condição de idade” (BRASIL, 2003,

art. 20).

Como se pode perceber, a condição apresentada no referido artigo, ao tratar

dos citados direitos, reporta-se à idade em detrimento de outras condições, levando

a acreditar que merece uma visão mais ampliada do processo de envelhecimento e

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sua relação holística da condição e qualidade de vida pessoal e social, bem como

outros fatores intrínsecos e extrínsecos que merecem uma visão mais ampliada.

É importante evidenciar que está previsto neste Estatuto que o idoso tem

desconto para participação de atividades culturais e de lazer, como assegura o

Artigo 23º, quando estabelece que:

A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer será proporcionada mediante descontos de pelo menos 50% (cinquenta por cento) nos ingressos para eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respectivos locais (BRASIL, 2003, art. 23).

Tratando-se do referido desconto, inicialmente, o enfoque é dado em

atividades culturais e de lazer e quando a identificação passa para os ingressos

estão relacionados com eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer,

passando, assim, de atividades para eventos de uma forma mais ampla. A

promoção de atividades educacionais, esportivas, culturais e de lazer está prevista

no Estatuto do Idoso (2003), em seu Título IV – “Da Política de Atendimento do

Idoso”, Capítulo II, quando ressalta “Das Entidades de Atendimento ao Idoso”.

Um dos aspectos que se apresentou como justificativa pelo governo Lula

para a criação do Ministério do Esporte foi o financiamento restrito para o setor

esportivo. De acordo com a análise governamental, essa limitação orçamentária era

advinda da ausência de uma política de financiamento que garantisse a

diversificação de recursos, até mesmo aqueles oriundos de isenção fiscal.

Em 29 de dezembro de 2006, foi aprovada a Lei N. 11.438 – Lei de Incentivo

ao Esporte, que dispõe sobre incentivos e benefícios para fomentar as atividades de

caráter desportivo. Porém, os Artigos 1º e 2º, a partir da Lei N. 11472, de 2007,

tiveram a redação alterada. Portanto, para as questões ligadas ao imposto de renda,

como incentivos e benefícios para atividades com vigência até o ano-calendário de

2015, está previsto que:

Poderão ser deduzidos do imposto de renda devido, apurado na Declaração de Ajuste Anual pelas pessoas físicas ou em cada período de apuração, trimestral ou anual, pela pessoa jurídica tributada com base no lucro real os valores despendidos a títulos de patrocínio ou doação, o apoio direto a projetos desportivos e paradesportivos previamente aprovados pelo Ministério do Esporte (BRASIL, 2007, art. 1).

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Segundo o Artigo 2º desta Lei, os recursos oriundos desta natureza serão

para uma das seguintes manifestações: “desporto educacional; desporto de

participação e desporto de rendimento”, e ainda, que os recursos advindos destes

incentivos sejam preferencialmente para comunidades de vulnerabilidade social

(BRASIL, 2007).

No período de 2007 a 2015, de acordo com essa legislação serão deduzidos

do Imposto de Renda valores despendidos por pessoas físicas (até 6%) e pessoas

jurídicas (até 1%), a título de patrocínios, ou doações a projetos esportivos e

paradesportivos.

A partir do Decreto N. 6949, de 25 de agosto de 2009, foi promulgada a

Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu

Protocolo Facultativo assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Com base

na referida Carta, observa-se que a expressão Portadora de Deficiência passa a ser

identificada como Pessoa com Deficiência. Em seu Artigo 30º, intitulado –

“Participação na vida cultural e em recreação, lazer e esporte”, os Estados Partes

reconhecem o direito das pessoas com deficiência de participar na vida cultural, em

igualdade de oportunidades com as demais pessoas, apresentando medidas como:

a) Ter acesso a bens culturais em formatos acessíveis; b) Ter acesso a programas de televisão, cinema, teatro e outras atividades

culturais em formato acessíveis; e c) Ter acesso a locais que ofereçam serviços ou eventos culturais, tais

como: teatros, museus, cinemas, bibliotecas e serviços turísticos, bem como, tanto quanto possível, ter acesso a monumentos e locais de importância cultural nacional (NEW YORK, 2007, art. 30).

Sob o ponto de vista de acessibilidade, encontra-se uma gama de opções de

atividades, eventos e serviços expressos na Convenção Internacional sobre os

Direitos das Pessoas com Deficiência (2007) que coadunarão com o enriquecimento

cultural dos participantes, como pode ser visto no tocante à cultura, esporte e lazer.

De acordo com este documento, para que essas pessoas com deficiência tenham

igualdade de oportunidades com as demais pessoas em relação às atividades

recreativas, esportivas e de lazer, os Estados Partes tomarão as seguintes medidas:

a) Incentivar, promover a maior participação possível das pessoas com deficiência nas atividades esportivas comuns em todos os níveis;

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b) Assegurar que as pessoas com deficiência tenham a oportunidade de

organizar, desenvolver e participar de atividades esportivas e recreativas específicas às deficiências;

c) Assegurar que as pessoas com deficiência tenham acesso a locais de eventos esportivos, recreativos e turísticos;

d) Assegurar que as crianças com deficiência possam, em igualdade de condições com as demais crianças, participar de jogos e atividades recreativas, esportivas e de lazer, inclusive no sistema escolar;

e) Assegurar que as pessoas com deficiência tenham acesso aos serviços prestados por pessoas ou entidades envolvidas na organização de atividades recreativas, turísticas, esportivas e de lazer (NEW YORK, 2007, art. 9).

Com estas medidas, alguns aspectos podem ser levantados, como: maior

participação das pessoas com deficiências em termos quantitativos de acesso às

referidas atividades; a informação, treinamento e recursos para otimizar a

organização, desenvolvimento e participação das mesmas; questão de

acessibilidade a locais de eventos, e, por consequência, leva-se a acreditar que

surge a necessidade de calendários previstos para a sistematização desta condição.

Além disso, há um destaque para a criança com deficiência, fazendo referências nos

jogos e atividades recreativas, esportivas e de lazer, com a preocupação voltada

para a escola. É notório que os jogos se apresentam com forma específica e as

atividades estão assim discriminadas: recreativas, esportivas e de lazer. Do ponto de

vista de organização de atividades recreativas, turísticas, esportivas e de lazer, ou

seja, o turismo é enunciado.

A Lei N. 12852, de 05 de agosto de 2013, que institui o Estatuto da

Juventude e trata dos direitos dos jovens, dos princípios e diretrizes das políticas

públicas de juventude e o Sistema Nacional da Juventude – SINAJUVE, no seu

Capítulo II, denominado – “Dos Direitos dos Jovens”, na Seção VIII – “Do Direito ao

Desporto e ao Lazer”, no seu Artigo 28 dispõe que é assegurado prioritariamente ao

jovem o desporto de participação.

A política pública do desporto e lazer neste Estatuto deverá considerar:

I- A realização de diagnóstico e estudos estatísticos oficiais acerca da Educação Física e dos desportos e dos equipamentos de lazer no Brasil;

II- a adoção de lei de incentivo fiscal para o esporte, com critérios que priorizem a juventude e promovam a equidade;

III- a valorização do desporto e do paradesporto educacional; IV- a oferta de equipamentos comunitários que permitam a prática

desportiva, cultural e de lazer (BRASIL, 2013, art. 28).

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Identifica-se o registro na condição, a partir de coleta de dados quantitativos,

de traçar políticas públicas de desporto e lazer para a juventude. É importante

ressaltar também que tomando por base os diagnósticos, tenha-se o panorama dos

equipamentos de lazer. A lei de incentivo fiscal para o esporte, com a preocupação

da igualdade de direitos, embora a prioridade esteja para o desporto de participação,

reconhece-se o princípio de valorização do desporto e paradesporto educacional,

tratando-se ainda dos equipamentos para a prática desportiva, cultural e de lazer de

natureza comunitária.

É importante ressaltar que, de acordo com o Artigo 30: “todas as escolas

deverão buscar pelo menos um local apropriado para a prática de atividades

polidesportivas” (BRASIL, 2013, art. 30). Desta maneira, percebe-se que o Estatuto

encarrega à escola a responsabilidade de buscar um local adequado para a prática

de atividades poliesportivas. Observa-se que a relação quantitativa para a

identificação do local está estabelecida numa ótica de “local”, que será oferecido

para diferentes atividades esportivas.

Pelo exposto, observa-se que o esporte e o lazer constituem direitos de todo

cidadão brasileiro, seja ele criança, adolescente, jovem, adulto, idoso, independente

de etnia, religião, classe social, escolaridade, entre outros. Apesar da existência de

uma expressiva legislação que assegura a esse cidadão direitos à vida, à saúde, à

alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à cultura, à dignidade, entre outros, a

sociedade brasileira não apresenta, ainda, uma consciência efetiva sobre esporte e

lazer, como necessidades e direitos de cada um e de todos os brasileiros, embora

seja dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público

assegurar tais direitos. Ressalta-se também que o lazer e o esporte, educacional, de

participação e/ou de rendimento, necessitam de grandes incentivos mediante

políticas efetivas que assegurem como direitos sociais integrados à política urbana,

garantindo ao indivíduo e à coletividade o direito à cidade.

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CAPÍTULO 4 – POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ESPORTE E LAZER NO BRASIL

4.1 O papel do Estado e a participação social: a formalização de políticas

públicas

Poulantzas (2000, p. 130) compreende o Estado “[...] como uma relação,

mais exatamente com a condensação material de uma relação de forças entre

classes e frações de classe”. Para o autor, o Estado não é monopolítico e se

apresenta como um campo de disputas, com ações determinadas pelas correlações

de forças.

Durante o século XX, a atuação do Estado refletiu a correlação de forças

existentes nas distintas nações. No pós Segunda Guerra Mundial até meados da

década de 1970, como consequência da luta dos trabalhadores e diante da queda

da cumulação do capital, observou-se Welfare State em diferentes nações.

Com o Welfare State, os membros da burguesia passaram a pagar

impostos, especialmente com o mecanismo de progressividade sobre a renda e as

posses; os trabalhadores e os pobres em situação de miséria se beneficiariam com

os serviços públicos e com o programa de transferência de renda (SALVADOR,

2010). Contudo, com um olhar crítico-reflexivo, questiona-se até que ponto essa

condição realmente chegou de forma igualitária, contrariando o pensamento anterior.

Castells (1983) instrui-se na teoria do Estado de Poulantzas, que vê no

Estado uma condensação dos interesses de classe. O Estado atua como um

regulador do conflito de classes e suas decisões e políticas se inserem nos

interesses a longo prazo do capital monopolista, mas seu status é relativamente

independente das necessidades capitalistas imediatas. Para o referido autor, o

conflito político é basicamente uma forma de conflito de classes que se desloca para

a comunidade e envolve preocupações com as necessidades ligadas à reprodução

do poder de trabalho. Além disso, quando os capitalistas demonstram incapacidade

de trabalhar independentemente ou em conjunto para regular esse conflito, o Estado

precisa intervir.

Offe et al. (1984) entendem o Estado com dupla função contraditória –

acumulação (ocorrendo desigualdade de classes em função do mercado) e

legitimação (garantindo a igualdade das classes, como por exemplo, na vida social),

e utiliza como estratégia a contemplação passiva, a intervenção do estado na

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economia (mercado) e a intervenção na seguridade social. Assim, o Estado é visto

como um condensador e modelador de lutas de classes.

Do ponto de vista de Lefebvre (1999a), o Estado é uma estrutura para o

exercício de poder, que no sentido urberiano não pode ser reduzido apenas a

interesses econômicos. Ele ainda afirma que, o Estado está aliado não só contra a

classe trabalhadora ou mesmo contra frações do capital, ele é o inimigo da própria

vida cotidiana e a reprodução de suas relações sociais. Ademais, Lefebvre (1991)

entende a problemática concernente aos usuários do espaço como alguma

articulação complexa entre forças econômicas, políticas e culturais, mais do que

como algo que emerge unicamente do domínio político. Os usuários do espaço para

ele são os usuários da vida cotidiana. Muito embora, considerando a visão de

Lefebvre (1999, b) sobre o papel do Estado na produção do espaço abstrato, com a

ideia simbólica, é que ele questiona todo o planejamento urbano e, em especial, o

reformista.

Contudo, com o interesse de relacionar cidade e Estado, apresenta-se o

termo política derivado da palavra polis, que significa cidade. A política não é uma

forma de comportamento do cidadão apenas no espaço público, mas também de

natureza privada. Sendo assim, realizada não só pelos agentes políticos, pois se

traduz em um conjunto de práticas da própria sociedade, do cidadão, constituindo-se

a vida coletiva. De acordo com Castells (1983, p. 52), “a cidade é um fenômeno

gerado pela interação complexa, jamais plenamente previsível e manipulável, de um

grande número de agentes modeladores do espaço, interesses, significações e

fatores estruturais, sendo o Estado apenas um dos condicionantes em jogo”. No

cenário brasileiro, para Sposito (2008), o que é considerado uma cidade é a sede do

município, tendo em vista o critério político – administrativo, a partir do decreto no

Governo Vargas, no Estado Novo.

Com a visão de que todo ser humano é um político, que de forma natural,

interage socialmente, remete-se a Dallari (2004) ao apresentar o pensamento grego

e de forma específica de Aristóteles sobre política, ao elucidar que:

Os gregos davam o nome de polis à cidade, isto é, ao lugar onde as pessoas viviam juntas. E Aristóteles diz que o homem é um animal político, porque nenhum ser humano vive sozinho e todos precisam da companhia dos outros. A própria natureza dos seres humanos é que exige que ninguém viva sozinho. Assim sendo, “política” se refere à vida na polis, ou seja, à

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vida em comum, às regras de organização dessa vida, aos objetivos da comunidade e às decisões sobre todos esses pontos (DALLARI, 2004, p. 8).

Neste sentido, na Grécia Antiga, a cidade denominada polis, como se viu,

anteriormente, a sociedade política, entendida por Aristóteles (2009, p. 1252), com a

seguinte finalidade:

Sabemos que toda cidade é uma espécie de associação, e que toda associação se forma tendo por alvo algum bem; porque o homem só trabalha pelo que tem em conta de um bem. Todas as sociedades, pois, se propõem a qualquer bem – sobretudo a mais importante delas, pois que visa a um bem maior, envolvendo todas as demais: a cidade ou sociedade política.

Para Catão (2015), a polis para os gregos era o lugar onde o ser humano se

realizava, enquanto no contexto atual, a vida na cidade é traduzida por elevada

densidade demográfica, formando os grandes centros urbanos, com a população

transitando as amplas avenidas à busca pela sobrevivência.

Trazendo a discussão para o contexto da política, reporta-se Maar (1982)

quando faz referência à política nos países de civilização antiga, como a Grécia, a

Pérsia e o Egito. Verifica-se sua preocupação com a política institucional, ao

enfatizar o espaço onde esta política se realiza, as pessoas e atividades ligadas a

ela. O autor ainda entende política como a possibilidade de ações organizadas por

pessoas da sociedade em contrapartida às ações de governo, ao afirmar que:

Através dela se forma um espaço de presença política no cotidiano e se abre a um terreno à participação política fora do âmbito restrito de exercício do governo. Esta forma de entender a atividade política como uma experiência que se reflete na vida pessoal, harmonizando-a com o coletivo (MAAR, 1982, p. 32).

De acordo com Souza (2006), políticas públicas constituem um conjunto de

ações governamentais específicas voltadas para uma determinada população. Além

disso, o autor assevera que políticas públicas são diretrizes instituídas que buscam

resolver problemas relacionados à sociedade como um todo, podendo ser ações

voltadas para garantia dos direitos sociais, traduzidos num compromisso público que

vise determinada situação em diferentes áreas. Para Mead (1995), política pública é

um campo de estudo dentro da política que analisa os governos, tendo em vista os

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gestores públicos relevantes. Souza (2003, p. 3-4) afirma que a política pública é um

“campo de conhecimento que busca, ao mesmo tempo, colocar o governo em ação

e/ou analisar essa ação e quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso

dessas ações”.

A política pública, segundo Azevedo (2011, p.18), é definida como: “tudo que

o governo faz e deixa de fazer, com todos os impactos de suas ações e de suas

omissões”. Neste sentido, faz-se necessário evidenciar a política pública em

diferentes escalas. Pereira (2000) acredita que a política pública pressupõe uma

linha de ação coletiva que concretiza direitos sociais declarados e garantidos em lei.

Diante desse contexto, trazendo para o debate o esporte e sua relação com

o Estado, identificou-se que este se organizou, num primeiro momento, na

Inglaterra, no âmbito da sociedade civil, sem maiores intervenções do Estado. No

Brasil, segundo os estudos de Bracht (2005), o Estado intervém fortemente no

esporte, pelos seguintes motivos: “integração nacional”, “educação cívica”,

“preservação da saúde da população”, “melhoria da qualidade de vida“,

“oferecimento de oportunidades de lazer”, entre outros. O autor afirma que a função

principal do Estado nas sociedades capitalistas é garantir a reprodução do capital.

Assim sendo, o esporte será objeto de atenção do Estado, seja pela via da

reprodução da força de trabalho; seja como atenuante das tensões sociais.

Bracht (2005) ainda ressalta que os motivos que dirigirão as ações

governamentais para o setor esportivo são: a ideia de que o fomento da prática

esportiva pela grande massa da população é fator relevante para o bem-estar (via

promoção de saúde) e é fator compensador importante dos problemas de vida

urbana crescentemente tecnologizada, e ainda o interesse econômico ou a

dimensão econômica do fenômeno esportivo. O autor trata que o esporte como

atividade de lazer deve ser prioridade nas intervenções do poder público, pois deve

ser entendido como um elemento de cultura / lazer e ser inserido no plano das

políticas culturais de lazer e integrado às outras políticas sociais. Nosso

entendimento é o de que é importante a ampliação dos valores do esporte e lazer e

que sejam refletidas as efetivas ações do poder público, com a participação da

sociedade civil e parcerias que se fizerem necessárias para o enaltecimento destas

áreas.

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Os sistemas nacionais do esporte, não apenas no Brasil, mas em

praticamente todos os países que participam do sistema esportivo internacional

(Comitê Olímpico Internacional ou federações mundiais), foram construídas a partir

de relações corporativas ou neocorporatistas como Estado e, principalmente, em

função dos interesses do Estado nos serviços do sistema esportivo.

Offe (1971), estudando os tipos de organizações com os quais o Estado

interage ou é levado a interagir, classificou-as como organizações que têm alto grau

conflitivo. Para ele, a organização esportiva apresenta-se com pouco poder

conflitivo, pois quase não possui poder de intervenção do Estado em favor de seus

interesses, a partir de uma ameaça de suspensão de serviços.

A Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 2002, ressalta a

sistematização do esporte e sua articulação com o desenvolvimento e a paz. De

acordo com o relatório da UNESCO (2003), o esporte é considerado uma ferramenta

para apoiar as metas do milênio, ao identificar no seu relatório que:

O esporte oferece um fórum para o aprendizado de habilidades tais como a disciplina, a confiança e a liderança e ensina princípios fundamentais, tais como a tolerância, a cooperação e o respeito. O esporte ensina o valor do esforço e como lidar com a vitória e com a derrota. Quando estes aspectos positivos do esporte são enfatizados, o esporte se torna um poderoso veículo através do qual as Nações Unidas podem trabalhar para a realização de suas metas (UNESCO, 2003, p. 3).

Entende-se o quanto é importante a participação da população, a partir do

reconhecimento das suas necessidades e problemas na construção dessas

políticas. Para inserir a participação popular nesta construção, verifica-se a

contribuição da criação de conselhos que consolidem a democracia e qualifiquem a

representatividade da sociedade. Neste panorama, várias Instâncias, como fóruns,

conselhos, colegiados, conferências foram criados pela Constituição Federal

Brasileira para favorecer a participação popular, contribuindo, assim, para a

participação direta da sociedade nas tomadas de decisões.

O Estatuto da Cidade, de acordo com a Lei N. 10.257/2001, regulamenta a

política urbana prevista na Constituição (1988), no seu capítulo IX - Da Gestão

Democrática da Cidade, estabelece que:

Se deve construir e desenvolver a participação popular na criação de conselhos, colegiados, fóruns, conferências municipais e na materialização

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dos instrumentos de democracia direta para as questões urbanísticas de interesse social, o que contempla a descentralização político-administrativa como forma de viabilizar a interferência popular nos rumos da gestão pública (BRASIL, 2001, art.182).

Ao longo dos últimos anos, o trato com as políticas públicas de esporte e

lazer vêm ganhando espaço por serem entendidos como fenômenos sociais e

políticos que fortalecem a nossa identidade cultural e vistos como direitos sociais,

garantidos constitucionalmente sob a responsabilidade da gestão pública, embora

com a participação popular.

Com a finalidade de concentrar esforços na importância da participação da

sociedade na discussão de políticas públicas, volta-se para a compreensão de

democracia, com vistas a fortalecer o Estado democrático. E, ainda ao se entender

que a política é um conjunto que transcende a ação governamental, apontam-se

algumas vertentes para sua melhor compreensão.

De acordo com Bobbio (1986, p. 44), há dois modelos de democracia:

democracia representativa e democracia direta. A democracia representativa dá

significado de modo genérico às deliberações coletivas, isto é, às deliberações que

dizem respeito à coletividade inteira, são tomadas não diretamente por aqueles que

dela fazem parte, mas por pessoas eleitas para esta finalidade.

No tocante à democracia direta, Bobbio (1986, p. 51) define que:

Para que exista democracia direta no sentindo próprio da palavra, isto é, no sentido em que direta quer dizer que o indivíduo participa ele mesmo nas deliberações que lhes dizem respeito, é preciso que entre os indivíduos deliberantes e a deliberação que lhes diz respeito não exista nenhum intermediário (BOBBIO, 1986, p. 51).

Porém, na visão de Schumpeter (1943), a democracia participativa

apresenta-se de maneira diferente, pois considera a democracia como método que

tolhe a participação dos sujeitos à escolha de líderes e à discussão, sem poder de

deliberação. A autora ainda preconiza a participação dos sujeitos na tomada de

decisões no campo político-social.

Macpherson (1979) apresenta dois modelos de democracia participativa que

são, ao mesmo tempo, direta e representativa. Um caracterizado pela existência de

um modelo piramidal com democracia direta na base e democracia por delegação

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em cada nível depois dessa base e o outro modelo combinando a estrutura piramidal

com um sistema multipartidário.

Para Oliveira (2011), a democracia participativa possui funções bem mais

abrangentes e decisivas, ou seja, não se resume à escolha de representantes e à

regulação da forma de eleição, mas sim, no sentido de promover uma educação

política, com intuito de fortalecer os processos e mecanismos participativos para a

efetivação de um Estado democrático.

Portanto, à medida que se amplia a participação do cidadão, possibilita-se a

sua atuação como protagonista nos espaços decisórios e na conscientização de

ações participativas na esfera do governo e do Estado. Ressalta-se ainda a

relevância da abertura de canais de participação pelo Estado, com vistas à

consolidação de uma democracia participativa.

Teixeira (2002, p. 32) defende a concepção de “participação cidadã que não

faz uso somente de mecanismos institucionais disponíveis ou a serem construídos,

mas propicia a articulação destes com outros mecanismos e canais que se

legitimam”. Muito embora, faz-se necessária a responsabilização política e jurídica

dos mandatários, o controle social e a transparência das decisões, para que os

instrumentos de participação se tornem mais frequentes e eficazes. Deste modo, a

participação cidadã permite a participação ativa de diversos segmentos sociais com

interesses múltiplos e diferentes, que atuam em um espaço amplo e abrangente,

cabendo ao cidadão exercer, reivindicar e desfrutar de seus direitos, como também

ser protagonista de suas responsabilidades e deveres.

Quanto à participação no controle social, a participação monitora a ação do

Estado em relação às problemáticas sociais e políticas, com a finalidade de garantir

o cumprimento da agenda governamental no que diz respeito às demandas por

direitos, possibilitando ao cidadão definir critérios e parâmetros de orientação

política, haja vista que esta participação se configura como um instrumento de

controle do Estado pela sociedade nas dimensões social e política.

Ao tratar de políticas públicas de esporte e lazer neste estudo, as quais são

direitos sociais, compreende-se que o cidadão brasileiro precisa despertar o

interesse pela coparticipação nas discussões e ações que qualifiquem a área,

representar e ser representado e contribuir nas tomadas de decisões, passando a

ser sujeito das ações e de tomadas de decisões inerentes ao coletivo. Segundo

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Demo (1995), a cidadania tem seu âmago na ação humana, na capacidade de o

sujeito constituir-se como sujeito social e histórico. Assim, num contexto de um

Estado democrático de direitos, compreendendo o seu exercício da cidadania,

reconhecendo-se a pessoa humana numa perspectiva civil, política e social e com

representação efetiva nas diferentes questões e instâncias é que se entende a

importância da sua participação na construção e definição de políticas públicas.

Ainda neste cenário, reconhecendo-se os princípios de uma gestão democrática e

popular que sinaliza para auto-organização social e a articulação entre Estado e

sociedade. E, também, o reconhecimento constitucional de autonomia dos

municípios, como lócus de democratização das políticas públicas, possibilita a

participação da sociedade nas tomadas de decisões políticas e enaltecimento do

controle social.

Segundo Stoppa (2011), o debate sobre participação popular surge com o

desenvolvimento das políticas públicas, pois uma das obrigações do poder público

seria a de otimizar à população condições adequadas de infraestrutura e

oportunidades com vistas à melhoria da qualidade de vida da população. O autor

ressalta a importância da organização política, como canal de participação na forma

de grupos de interesses e nível das comunidades. Chauí (1989) faz referência de

que sem a participação não há democracia, e ainda afirma que “a participação seria

o direito de tomar as decisões políticas, de definir diretrizes políticas e torná-las

práticas sociais efetivas [...]” (CHAUÍ, 1989, p. 56).

A partir do final da década de 1970, estabelecendo-se a democratização do

Estado, a sociedade civil passa a ter um lugar na construção das políticas,

concernente à sua dimensão coletiva. Desta feita, as políticas participativas se

constituem em orientações políticas, contextualizadas, que influenciam a tomada de

decisões dos agentes políticos, com vistas à superação das desigualdades sociais.

De acordo com Silva et al. (2011c, p. 17), as políticas participativas devem garantir

os seguintes princípios: “A universalidade de acesso às oportunidades e aos direitos

sociais; a inclusão com equidade; ou seja, garantindo a participação cidadã ativa”.

O princípio da participação cidadã ativa tem ganhado um espaço,

principalmente nas conferências de diferentes esferas, haja vista que vem se

constituindo como espaço democrático de discussão e deliberação, capaz de

orientar as macropolíticas do país.

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Para Silva et al. (2011c), o desafio da gestão do esporte e do lazer no Brasil

ultrapassa a garantia desse direito, superando o caráter assistencialista, utilitarista e

descomprometido. Neste sentido, devem ser observadas as seguintes questões:

Elementos que orientam a política e gestão das políticas públicas: ampliação dos agentes que participam da elaboração das políticas; aproximação com a realidade local, a partir de um diagnóstico; democratização das informações através da tecnologia da informação; sistematizar uma avaliação; descentralizar os recursos; ações intersetoriais; estabelecimento de parcerias público – privadas.

Elementos para o desenvolvimento de programas e projetos: acessibilidade à diversidade de experiências; entendimento do potencial educativo das ações na área do esporte e lazer; referência à dimensão lúdica e da diversidade (SILVA et al., 2011c, p. 21).

O Estado democrático necessita manter uma relação com a sociedade civil

nos fóruns de discussão e nas tomadas de decisões, cabendo ao poder público

buscar a integração entre planejamento exercido pelo Estado e controle

democrático, exercido pela sociedade com a participação vista como gestão coletiva

das políticas, desde o planejamento, monitoramento e avaliação.

Segundo Silva et al. (2011c), instituições como associações, ligas e clubes

devem ser parceiras na luta pelo controle social das políticas públicas de esporte e

lazer, com o intuito de elaborar mecanismos que contribuam com o objetivo de

representar os processos de participação nas deliberações dessas políticas.

Por possibilitar um Estado participativo, algumas estratégias são

apresentadas para o campo das políticas de esporte e lazer, tais como: a

democratização das informações sobre as políticas públicas; realização de

encontros, reuniões, orçamento participativo, pré-conferências, conferências,

plenárias, audiências públicas, congressos, criação de conselhos paritários e/ou

fóruns de políticas públicas para a participação nos conselhos; elaboração de planos

com a participação dos sujeitos sociais; garantia de articulação entre conselhos e

população; capacitação dos conselheiros, gestão descentralizada (SILVA et al.,

2011c, p. 32).

Conforme Souza (2004), o orçamento participativo consiste em uma abertura

do aparelho de Estado à possibilidade da população participar diretamente das

tomadas de decisão em relação aos objetivos dos investimentos públicos.

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O orçamento participativo é um dos instrumentos mais importantes na

gestão da vida econômica das coletividades politicamente organizadas. De acordo

com Giacomoni (1997), o surgimento do orçamento participativo se deu na

Inglaterra, no começo do século XIX, com o advento da fase monopolista do

capitalismo e, logo após, na virada do século XX, com início do Welfare State em

diversos países centrais, tanto a economia, quanto o significado social das despesas

públicas se expande. O Estado passou a intervir mais diretamente na economia,

responsabilizando-se em realizar investimentos e com as áreas de imediato

interesse público. O orçamento participativo consiste em uma abertura do aparelho

do Estado à possibilidade da população participar, diretamente, das decisões,

acerca dos objetivos dos investimentos públicos. Todavia, é dever do Estado

assegurar o direito constitucional de acesso às atividades esportivas e de lazer a

toda população, independente de situação socioeconômica, de necessidade

especial de qualquer natureza e do estágio de ciclo de vida de seus segmentos

distintos.

A Resolução do Conselho Nacional do Esporte instituiu a Política Nacional

do Esporte (2005), sendo considerada como um dos documentos que orientou a (re)

construção de um Sistema Nacional do Esporte e Lazer. Este Sistema foi criado

através de resolução e aprovado na I Conferência Nacional de Esporte, realizado em

junho de 2004.

Os objetivos da Política Nacional do Esporte (2005) são:

Democratizar e universalizar o acesso ao esporte e lazer;

Melhorar a qualidade de vida da população brasileira;

Promover a construção e o fortalecimento da cidadania;

Assegurar o acesso às práticas esportivas e ao conhecimento científico-tecnológico;

Descentralizar a gestão das políticas públicas de esporte e lazer;

Fomentar a prática esportiva de caráter educativo e participativo para toda a população;

Fortalecer a identidade cultural esportiva com ações integradas a outros segmentos;

Incentivar o desenvolvimento de talentos esportivos e aprimorar o desempenho de atletas e paraatletas de alto rendimento promovendo a democratização dessa manifestação esportiva (BRASIL, 2009, p. 20).

A partir dos diálogos obtidos, resultantes das conferências nacionais de

esporte, de planejamentos estratégicos setoriais para a elaboração do Plano

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Plurianual – PPA e dos direcionamentos políticos, estabeleceu-se o Plano Nacional

de Desenvolvimento do Esporte para o período de 2007 – 2010 (BRASIL, 2009, p.

20). Este Plano Nacional de Desenvolvimento do Esporte apresentava os seguintes

eixos:

- Inclusão social pelo esporte e lazer: Programa Segundo Tempo, Pintando

à Liberdade, Pintando à Cidadania e Programa Esporte e Lazer na Cidade.

- Desenvolvimento do Esporte de Alto Rendimento: Programa Brasil no Esporte de Alto Rendimento; Futebol: Patrimônio do Brasil e Programação de Grandes Eventos Esportivos.

- Infraestrutura: Definição de Equipamentos esportivos e de lazer nas escolas e universidades e Praça da Juventude.

- Desenvolvimento Institucional – Desenvolvimento do Sistema Nacional do Esporte e Lazer, Financiamento e Indústria do Esporte no Brasil (BRASIL, 2009, p. 20).

O Sistema Nacional de Esporte e lazer é um arranjo político institucional que

organiza a oferta de bens e serviços, gestão e financiamento de política pública de

esporte e lazer, com vistas à garantia do direito (SOUSA et al., 2010). Para tanto,

caberá à União, aos Estados e aos municípios assumirem o papel na garantia desse

direito, como também, à medida que há mobilização de setores organizados e não

organizados da sociedade em torno da agenda do esporte e lazer, possibilitam a

ampliação das perspectivas da implantação e da cobertura dessas políticas públicas.

Segundo o Ministério do Esporte (2004), o Sistema de Esporte e Lazer

busca a universalização do acesso ao esporte e ao lazer em múltiplas dimensões e

desenvolvimento dos diferentes potenciais do fazer esportivo, sendo constituído por

várias instituições, entidades e organizações esportivas, públicas e privadas, com

vistas a um sistema aberto e descentralizado.

As diretrizes da Resolução do Sistema Nacional do Esporte foram advindas

da I Conferência Nacional do Esporte, como também discutidas no I Fórum do

Sistema Nacional do Esporte e Lazer realizado em 2005. A gestão compreendida, a

partir de mecanismos democráticos e de participação popular, possibilitando a

transparência e o controle social.

De acordo com o I Fórum, o novo sistema deve ter meios de participação

social na elaboração de políticas públicas que aumentem o número de interlocutores

do Estado com segmentos da sociedade civil organizada, com abertura para as

políticas intersetoriais.

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Com relação ao controle social, o fórum reconheceu a importância da sua

realização de forma permanente nas esferas municipal e estadual. Além disso, para

os mecanismos de controle do Sistema seriam mediante os Conselhos de Esporte e

Lazer, como órgão consultivo e as conferências nos diferentes níveis (BRASIL,

2009).

Tendo como referência o aspecto da urbanização e sua relação com

espaços e equipamentos de esporte e lazer, reporta-se às ponderações de

Saldanha Filho (2003) ao afirmar que:

[...] a urbanização toma conta dos espaços das cidades, as poucas opções para o esporte e lazer estão sob a responsabilidade da iniciativa privada, tais como: clubes, associações, sindicados, conjuntos residenciais fechados e academias que para sua utilização devem ser pagas, enquanto os espaços e serviços públicos têm sido desqualificados, sucateados, tratados como algo não necessário [...] (SALDANHA FILHO, 2003, p. 4).

O controle social é uma forma de estabelecer uma ação de cooperação. A

partir desta ação, estabelece-se um compromisso entre o poder público e a

população, capaz de garantir possibilidades para o desenvolvimento econômico e

social da cidade, como também o monitoramento / fiscalização das políticas públicas

de esporte e lazer faz-se necessário com o intuito de discutir os interesses,

demandas sociais, elaborar propostas e estabelecer prioridades, tomando como

base os princípios democráticos. Ademais, deve-se entender que não somente o

fato de votar de que forma serão aplicados os recursos financeiros não caracterizará

uma interlocução igualitária entre sociedade civil e o poder executivo.

De acordo com o Artigo 2º do Estatuto da Cidade, ao tratar do pleno

desenvolvimento das funções sociais da cidade explicita-se como uma das diretrizes

gerais: “a gestão democrática por meio da participação da população e de

associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação,

execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento

urbano” (BRASIL, 2001, art. 2).

Conforme Souza (2004, p. 359), “os conselhos de desenvolvimento urbano e

os conselhos de orçamento participativo são as instituições-símbolo de um esforço

da democratização da cidade”. Os conselhos de orçamento participativo vinculam-se

à gestão urbana e os conselhos de desenvolvimento urbano são as instâncias

participativas referentes ao planejamento da cidade.

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Dentre as principais instâncias participativas, destacam-se: o orçamento

participativo, plenárias temáticas, congressos da cidade, conferências e conselhos

gestores. Não obstante, ao identificar as conferências de esporte e lazer realizadas

no Brasil, entende-se que o debate oportunizou a participação popular. Porém,

podem-se destacar algumas inquietações enfatizadas por estudiosos na área, a

exemplo de Melo (2008). O autor afirma que embora essas conferências

oportunizassem o debate nas diferentes instâncias, sejam, regionais, municipais,

estaduais, a possibilidade de que todos os segmentos fossem ouvidos e

representados não aconteceram de fato.

Segundo Castellani Filho (2008), as ações do Governo Federal acerca do

esporte e lazer numa perspectiva “emancipatória” apresentam-se na realização das

Conferências Nacionais, tendo em vista a discussão sobre a criação do Sistema

Nacional do Esporte e Lazer.

Os conselhos de esporte e lazer podem se constituir um canal de articulação

e interação entre governo e sociedade na busca da participação efetiva da

população no processo de democratização do Estado. Neste sentido, possibilitando

uma maior intervenção na elaboração, implementação e fiscalização do processo

democrático das políticas públicas de esporte e lazer. Ademais, a participação

popular por intermédio do controle social tem nos conselhos um de seus dispositivos

de atuação. Os conselhos possuem como especificidade o poder de controle social

sobre as ações públicas, pois orientam, fiscalizam e formulam as políticas públicas.

Para uma efetiva atuação dos cidadãos na construção de uma política de

esporte e lazer, há necessidade de que os mecanismos de participação e controle

social sejam implementados e fortalecidos para que este setor seja tratado como

política de Estado e não como política de governo.

Uma das correntes para discutir as políticas de esporte e lazer reporta-se à

condição de ser vista não somente para uma relação de atividades, em ações

baseadas numa lista de eventos, com a intenção de diversão e às vezes com vistas

ao desvio da atenção das pessoas para outras questões, mas também concatená-

las com o processo de formação e desenvolvimento de quadros de recursos

humanos, a problemática voltada para construção, manutenção e gestão de espaços

e equipamentos de esporte e lazer, entre outros aspectos que devem permear o

entendimento das políticas públicas de esporte e lazer.

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Para Rodrigues (2010), as políticas públicas são o processo em que

diferentes grupos sociais tornam as decisões coletivas, cujos interesses, valores e

objetivos são divergentes. Entretanto, condicionam o conjunto da sociedade.

Segundo Muller e Surel (1998), para que uma política pública exista, é necessário

que as decisões sejam reunidas em um quadro geral de ação, funcionando como

uma estrutura de sentido, mobilizando elementos de valor, de conhecimento e de

ação especifica, com vistas a alcançar os objetivos traçados pela relação entre o

poder público e a comunidade. No entanto, deve ser discutida a posição do Estado

em seu papel e a sua especificidade na ação, como mediador das relações entre o

espaço público e o privado.

Para Muller e Surel (1998), a política pública é dividida em fases, tais como:

a inscrição na agenda mediante a identificação ou definição do problema, a

produção de soluções ou alternativas, a decisão, a implementação das decisões, a

avaliação, a finalização ou a continuidade de uma política. Os autores ainda afirmam

que as políticas públicas não podem ser desenvolvidas para resolver problemas,

pois:

[...] os problemas são resolvidos pelos próprios atores sociais através da implementação de suas estratégias, a gestão de seus conflitos e, sobretudo, através dos processos de aprendizagem que marcam todo processo de ação pública. Dentro desse quadro, as políticas públicas têm principalmente como característica o construir e transformar os espaços de sentido dos quais os atores vão colocar e (re) definir os “seus” problemas, e “testar” em definitivo as soluções que eles apoiam. Fazer uma política pública não é, pois “resolver” um problema, mas sim construir uma representação dos problemas que implementa as condições sociopolíticas de seu tratamento pela sociedade e estrutura dessa maneira a ação do Estado (MULLER; SUREL, 1998, p. 15).

Segundo Marcellino (2001), as políticas públicas de esporte e lazer devem

ser avaliadas tendo em vista a concepção de lazer dos gestores, a formação dos

agentes e a intersetorialidade das ações. Desta forma, o lazer deve ser entendido

não apenas como descanso e divertimento, ou seja, numa concepção de superação

da sua visão funcionalista. Para Marcellino (2002), um dos maiores entraves para a

implementação das políticas públicas é a formação do quadro de profissionais. No

tocante à intersetorialidade, o autor afirma que as políticas devem se constituir como

ações planejadas e executadas de forma coletiva, com diferentes setores da

administração pública, com a participação das instituições da sociedade. Para que

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sejam desenvolvidas ações e programas que tenham continuidade, é necessário a

implementação de políticas de Estado, a partir de um planejamento sistemático,

como também a adoção de um planejamento numa perspectiva da

intersetorialidade, ou seja, que contemple vários setores, distinguindo-se das

políticas focais. Além disso, observa-se a importância da participação social para a

discussão e efetivo acompanhamento, como foi destacado anteriormente.

4.2 O esporte e o desencadear de suas políticas públicas

Com base nos estudos de Bueno (2008), no período da República Velha

(1889 a 1930), a política brasileira de esporte visava à aprovação de regulamentos e

direitos que instituíam e tratavam a gestão da implantação de modalidades

esportivas em escolas e cursos.

No período do Estado Novo, o Estado tinha o papel de disciplinar e fiscalizar

a organização e a prática esportiva no Brasil (MANHÃES, 2002). Ademais, foi a

partir do Estado Novo (1937 – 1945) que o esporte teve seu conhecimento dado à

importância atribuída pela população, e especialmente ao futebol, fazendo com que

o governo assumisse de forma mais efetiva o controle e a normatização do campo

esportivo. Para Bueno (2008), o Estado passa a ter o seguinte papel:

O Estado chamou a si a responsabilidade de normatizar, controlar e utilizar as entidades esportivas de acordo com sua orientação ideológica nacionalista. Na nova ordem política, o esporte é alçado à categoria de importante instrumento do Estado para seu processo de legitimação do projeto de desenvolvimento econômico e social do país (BUENO, 2008, p. 106).

Tratando-se do termo específico desporto ou esporte, de acordo com

Lucena (2003, p. 163), ele aparece apenas “no edifício legislativo criado para dar

sustentação ao Estado Novo, e com maior visibilidade com a criação da Escola

Nacional de Educação Física e Desportos, no Rio de Janeiro”, através de Decreto –

Lei N. 1.212, de abril de 1939.

O Plano de Educação Física e Desportos, de 1971, entende a atividade

física como direito de todos, mediante justificativas voltadas para a falta de aptidão

física da população, a má qualidade da Educação Física escolar e com vistas a um

ideal de um país ativo, saudável e em crescimento. A partir daí, tem-se uma

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referência para o Estado reconhecer a necessidade de políticas públicas que tragam

o esporte como direitos dos cidadãos.

Dentre seus projetos, a Campanha Nacional de Desenvolvimento Esportivo

– CNDE, considerado um mecanismo para agregar valor e boa imagem ao governo

do período, entre outras ações. Porém, foi extinta em 1974, por disputas internas

pelo poder, sendo o esporte regulamentado como direito apenas na Constituição de

1988, garantindo a autonomia de organização e funcionamento às atividades de

administração e prática esportiva e com foco especialmente no esporte educacional.

Com a abertura política em 1980, iniciou-se o debate voltado para a

mudança no sistema a partir das demandas das entidades esportivas, dos agentes

esportivos e do lazer e da sociedade em geral, como também com mudanças

relacionadas ao conceito do esporte e inserção do lazer na pauta das prioridades.

Por outro lado, acompanhando as tendências mundiais, o Brasil abre os seus

mercados à concorrência estrangeira. Do nacional-desenvolvimentismo, volta-se

para uma concepção liberal da economia e sem a intervenção direta do Estado nas

políticas sociais e impulso à autogestão da sociedade civil, os governos que

sucederam iniciaram uma espécie de desmonte das estruturas do Estado. Além

disso, o governo Vargas, aliando a política de industrialização à ideologia trabalhista,

reforçou os ideais de patriotismo na tentativa de resolução do problema social no

Brasil, pautando-se num governo interventor, assim o foco na industrialização e no

trabalhismo como fonte de moralização da população.

Nesse contexto, a escola concentrava a difusão do esporte no Brasil pela

Educação Física, com ênfase no pensamento higienista e moralista. Desta feita, o

esporte entendido como disciplina corporal e o lazer como recuperação das energias

para a reprodução da força de trabalho. A partir da Constituição Federal (1988), o

esporte passa a se configurar como um direito social, porém, sua relação com o

Estado vem desde o período do Estado Novo, com o Decreto – Lei N. 3.199/1941.

Durante a vigência dessa Lei, foi criado o Conselho Nacional de Desporto – CND,

que também fiscalizava e orientava as atividades esportivas através da escolha da

pessoa de confiança do governo. Com a CND, foi implantado o Sistema Desportivo

Nacional que tem o papel de coordenar as atividades das entidades esportivas.

De acordo com o Artigo 3o da lei que definia o Conselho Nacional de

Desporto, considerando-o responsável por disciplinar, financiar e organizar

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associações esportivas, promover a Educação Física, afirmar a cultura nacional,

garantir a moralidade no esporte profissional, apoiar o esporte amador e promover a

participação do Brasil nos eventos internacionais. As ações do Estado para o

esporte foram separadas: uma divisão para Educação Física e o Conselho Nacional

do Desporto coordenava o sistema desportivo. As concepções políticas do governo

desse período mantinham a sociedade brasileira sob o controle do Estado, tendo em

vista os ideais de nacionalismo e patriotismo presentes na formação das políticas de

esporte.

O Sistema Desportivo Nacional estimulou as confederações, federações,

ligas e associações esportivas. O esporte foi dividido em esporte militar, esporte

universitário e esporte escolar (esporte da juventude), cabendo ao poder público, ou

seja, União, estados e municípios responsáveis pela construção das instalações

esportivas.

O futebol, visto como esporte mais difundido e de interesse popular, começa

a receber atributos constitutivos da identidade nacional, potencializado nos

momentos das disputas dos jogos da Copa do Mundo. Sendo assim, vistos pelos

dirigentes públicos como meio de negação e substituição dos conflitos sociais,

saindo da condição de um esporte de elite e difundido no seio da modernização

brasileira pelos ingleses no início do século XX, passando a receber um maior

montante de recursos e visibilidade. Os segmentos do esporte que não faziam parte

da normatização eram excluídos do sistema esportivo oficial, não tendo

financiamento do Estado. Contudo, apesar do processo de divulgação do esporte,

não havia uma política de acesso ao esporte.

Nas décadas de 1950 e 1960, ainda havia uma forte intervenção do Estado

no desenvolvimento do esporte e lazer. Porém, começam a surgir aos poucos os

Departamentos de Esporte e Recreação nos estados e municípios. A gestão pública

centralizadora preconizava no esporte, especialmente no futebol, um grande

mecanismo de estabelecer intervenção na área, com vistas às vantagens políticas

com essas ações.

No período da ditadura militar, o esporte foi submetido a um controle

burocrático e tecnocrático do Estado e sua visibilidade estava voltada para os

interesses de uma unidade construída da identidade nacional. Entre a década de

1960 e meados dos anos 1980, a base da gestão pública continuava com a

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centralização do poder e no autoritarismo. Aos governantes, cabia definir as

prioridades para a demanda social e continuava a intervenção dos governos nas

esferas municipais, estaduais e federal na construção dos estádios de futebol, no

financiamento e no fortalecimento das equipes esportivas e da organização do

Sistema Desportivo Nacional.

A tecnocracia que ocupava o setor esportivo estava relacionada à

centralização que caracterizou o Estado Ditatorial e diferenciou o período dos

anteriores pelo desenvolvimento de projetos, planos e diretrizes promovidos pelo

poder executivo com ações de regulamentação e legislação. Como exemplo, pode-

se identificar a criação do Departamento de Educação Física e Desportos do

Ministério da Educação e Cultura, que com os recursos oriundos da Loteria

Esportiva, criada em 27/05/1969, através de Decreto-Lei com o intuito de prover

Programas de Educação Física e Esportes, creditava em conta do Fundo Nacional

de Desenvolvimento da Educação e sediava apoio financeiro a órgãos públicos e

entidades que fizessem parte do sistema.

A prática esportiva voltava-se para a seletividade e para o rendimento e o

desporto passa a ser organizado como: comunitário, estudantil, militar e classista.

Mesmo dividido, no Sistema Esportivo em sua estrutura primordial, na qual o vértice

era o esporte de rendimento, E ainda, mesmo que a prática esportiva não fosse para

atletas, tinha como finalidade a manutenção e o controle da força produtiva dos

trabalhadores (BRASIL, 2009).

A ditadura militar com entendimento que promoveu o crescimento

econômico do país numa perspectiva desenvolvimentista, com as características do

período do Milagre Econômico, com o estabelecimento de uma versão do Estado do

Bem-Estar Social, e a representação jurídico-militar levaram a população a manter-

se submetida ao poder do Estado. Porém, à medida que a economia do país se

degradava, as lutas sociais iam ganhando força, e, em especial, a partir dos

movimentos sindicais e estudantil, com apoio da Igreja Católica, promoveram um

avanço à abertura política do Brasil.

O Estado, pela primeira vez, por intermédio de Decreto-Lei datado de

14/01/1991, passou a intervir nas entidades chamadas “desportivas”, limitando a

autonomia e impondo um sistema de organização das entidades de esporte no país

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de maneira verticalizada. As indicações dos responsáveis pelo esporte eram feitas

pelo governo.

Os agentes do poder público iniciam o debate sobre o papel do Estado

frente aos novos desafios do esporte e lazer e as entidades esportivas reivindicam

autonomia frente às intervenções do Estado e às mudanças e legislações

esportivas. Em 1993, foi criada a Lei Federal N. 8672 - “Lei Zico”, que apresentava a

necessidade de redefinição dos papéis dos diferentes segmentos da sociedade e do

Estado em relação ao esporte e ao futebol no tocante às mudanças jurídico-

desportivo-institucionais. A referida Lei dava ênfase ao esporte de alto rendimento, à

autonomia das entidades esportivas e futebol.

No governo Fernando Henrique Cardoso, a partir de 1994, foi criado o

Ministério de Estado Extraordinário do Esporte. A Secretaria de Desportos foi

transformada no Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto – INDESP

desvinculado do MEC – Ministério de Educação e Cultura - e subordinado ao

Ministério Extraordinário do Esporte. Contudo, no segundo mandato do presidente

Fernando Henrique Cardoso, a pasta do esporte foi vinculada à de turismo, através

da Medida Provisória de no 1794-8, passando a ser criado o Ministério do Esporte e

Turismo. O INDESP vinculado a este Ministério tem como responsabilidade deliberar

sobre a política e programas de desenvolvimento do Esporte, estabelecer

intercâmbio com órgãos públicos e privados e captar recursos financeiros para

financiar projetos na área esportiva.

Logo após a implementação da “Lei Zico”, ocorreu uma modificação da

legislação brasileira, surge a Lei N. 9515 – “Lei Pelé” aprovada em 25 de março de

1998 com vistas a aperfeiçoar a lei anterior. Em ambas as leis, é dada a atenção

para o futebol. Uma das consequências da “Lei Pelé” foi o fim do passe livre, embora

sem regulamentar ou assegurar os direitos dos jogadores.

O Conselho de Desenvolvimento do Desporto Brasileiro passou a ser o

Conselho Nacional do Esporte e os Sistemas Federal, Estaduais, Distrital e

Municipais Desportivos com autonomia para estabelecer seus próprios sistemas. O

Comitê Olímpico Brasileiro constitui-se como subsistema do Sistema Nacional do

Desporto. Este Sistema recebe uma posição central, uma vez que a “Lei Pelé” deu

ênfase ao esporte de alto rendimento e vinculou o repasse dos recursos financeiros

destinados ao esporte. As maiores modificações foram no âmbito do esporte

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profissional, com a previsão do fim da lei do passe na profissionalização dos clubes,

a autonomia das empresas e a fiscalização do Ministério Público.

A Lei Zico e a Lei Pelé não modificaram o padrão de financiamento do

esporte no país, mas permitiram a exploração do jogo do bingo pelos clubes de

futebol. Porém, o governo Lula, através de Medida Provisória N. 168/2004, depois

do escândalo dos bingos, proibiu o jogo de bingo no país. As modificações oriundas

dos ordenamentos legais não contribuíram para a garantia do esporte como direito,

mas, sim, legitimaram a hegemonia dos interesses econômicos e corporativos no

âmbito esportivo.

No governo de Fernando Henrique Cardoso, foi sancionada a Lei N. 10.264,

chamada Lei Agnelo - Piva, que alterou parte do Art. 56 da Lei Pelé, que trata dos

recursos para o esporte. No inciso VI, que tratava de “outras fontes”, para “dois por

cento e arrecadação bruta dos concursos de prognósticos e loterias federais e

similares cuja realização estiver sujeita a autorização federal, deduzindo-se este

valor do montante destinado ao COB – Comitê Olímpico Brasileiro”. No entanto, do

total repassado para as duas entidades, 10% deverão ser investidos no desporto

escolar e 5% no desporto universitário.

Observa-se que, historicamente, o esporte de rendimento era a prioridade do

Estado, que tinha como objetivo moldar o comportamento dos jovens para o

trabalho, aprimorar a eugenia do povo, descobrir talentos esportivos que

representassem o Brasil internacionalmente, que elevasse a autoestima da

população e reforçasse sentimentos nacionalistas, como assevera Veronez (2005).

O autor ainda afirma que o formato da intervenção e do controle do Estado nesse

período era autoritário.

O padrão de intervenção e de controle estatal no setor esportivo brasileiro, inaugurado em 1941 durante o regime autoritário do Estado Novo e que permaneceu praticamente inalterado nos 50 anos que se seguiram, configurava-se como centralizado, burocrático, autoritário, corporativo e clientelista (VERONEZ, 2005, p. 49-50).

A partir da década de 1990, as políticas públicas no âmbito do Governo

Federal são apresentadas sob a forma de programas. De uma forma sucinta,

aponta-se que durante o governo Fernando Henrique Cardoso os programas

implementados no setor esportivo tinham o objetivo de promover a inclusão social e

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o combate aos problemas sociais, como exemplo: drogas, desvios de

comportamentos etc. (VERONEZ, 2005).

O Ministério do Esporte surge com a missão de “formular e implementar

políticas públicas inclusivas e de afirmação do esporte e do lazer como direitos

sociais dos cidadãos, contribuindo para o desenvolvimento nacional e humano”

(BRASIL, 2003, p. 7).

Matias (2013) assevera que, apesar de sinalizações nos primeiros anos do

governo Lula em relação à implementação de políticas esportivas, sob o princípio do

direito universal ao esporte, tal condição não se materializou do ponto de vista legal

e no financiamento. Contudo, verificou-se o estreitamento e consolidação dos laços

entre o Governo Federal, as entidades esportivas e o setor privado, a partir da

sanção do Estatuto e Defesa do Torcedor (Lei N. 10.671/2003), da criação do

Programa Bolsa Atleta (Lei N. 10.891/2004), da criação da Timemania (Lei N.

11.345/2006) e com a Lei de Incentivo ao Esporte – Lei N. 11.438/2006), e se

acentuou com a entrada do Brasil no cenário de megaeventos esportivos.

De acordo com os dados do Ministério do Esporte, no governo Luís Inácio

Lula da Silva, a partir do ano de 2003, foram implementados programas na área de

esporte e lazer, tais como: “Inserção Social pela Produção de Material Esportivo”;

“Brasil Escolarizado”; “Brasil no Esporte de Alto Rendimento”; “Esporte e Lazer da

Cidade”; “Segundo Tempo”; “Gestão das Políticas de Esporte e Lazer”; “Rumo ao

Pan 2007”; “Educação para Diversidade e Cidadania” (BRASIL, 2009).

No Brasil, a nossa Constituição reconhece o esporte e lazer como direitos

sociais. No entanto, uma grande parcela da população não tem condições

financeiras para subsidiar a sua participação no esporte e no lazer, devendo essa

demanda social ser atendida pelo Estado, por intermédio de suas políticas públicas,

oportunizando assim a sua democratização. Todavia, essas políticas públicas

podem ser implementadas nas diferentes esferas de governo, ou seja, União,

estados e municípios, porém considerando a realidade financeira da maioria dos

estados e municípios esta situação passa a ser atrelada ao financiamento da esfera

federal, e assim assumindo a coordenação das políticas.

O esporte de rendimento continuou recebendo um olhar diferenciado, ou

seja, maior parte dos recursos financeiros, comparado com outras manifestações

esportivas, apresentando-se como a prioridade do governo federal ao longo da

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história do nosso país, e que embora a Constituição de 1988 tenha a intenção de

garantir o esporte como direito social, ao esporte de participação, é destinada

apenas uma pequena parcela dos recursos ao financiamento do esporte.

De outro modo, o Ministério do Esporte foi criado com a preocupação na

elaboração de políticas públicas e sociais voltadas para novos rumos para o esporte

e lazer, com a visão de que a participação popular, o controle social, a

descentralização dos mecanismos de gestão, o envolvimento dos movimentos

organizados da sociedade, o foco no diagnóstico, na orientação, responsabilidade e

compromisso sejam balizadores para a efetivação dessas políticas.

Para o Ministério do Esporte (2009), no esporte educacional há uma efetiva

participação voluntária e responsável pela população em que a realização das

práticas esportivas não comprometam a natureza nacional e popular (BRASIL,

2009).

De acordo com a Lei N. 9615/98, que normatiza o desporto no Brasil, o

esporte educacional é

[...] praticado nos sistemas de ensino e em forma assistemática de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer (BRASIL, 1998, art. 2).

O “Esporte de lazer ou recreativo” também chamado de “Esporte

Participação” na perspectiva da legislação vigente, ou seja, Lei N. 9615/98,

enunciada anteriormente, é compreendido como predominância do caráter lúdico,

caracterizado pela livre escolha, busca da satisfação, construção e formação de

valores. Na compreensão de Rodrigues et al. (2011), a prática do esporte recreativo

se dá da seguinte forma:

A prática do esporte recreativo é de maneira redimensionada, recriada e reinventada, não restrita às delimitações das regras oficiais, o que permite aos praticantes usufruírem de atividades lúdicas, prazerosas, solidárias e de enriquecimento cultural, favorecendo o desenvolvimento do senso crítico, da autonomia e da sensibilidade frente às questões sociais. Não tem caráter competitivo nem seletivo (RODRIGUES et al., 2011, p. 19).

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No Brasil, o “Esporte de alto rendimento” ou “Esporte performance”, de

acordo com o Ministério do Esporte, compreende como sendo a prática esportiva

que busca a máxima performance do atleta, visando à obtenção de resultados.

Sendo uma produção histórico-cultural, para Rodrigues et al. (2011), o

esporte subordina-se aos códigos e significados que lhe imprime a sociedade

capitalista e, por isso, não pode ser afastado das condições a ela inerentes,

especialmente no momento em que se lhe atribuem valores educativos para

justificá-lo no currículo escolar. No entanto, as características com que se reveste:

exigência de um máximo rendimento atlético, norma de comparação do rendimento

que idealiza o princípio de sobrepujar (ultrapassar); a regulamentação rígida (aceita

no nível da competência máxima, as olimpíadas); e a racionalização dos meios

técnicos - revelam que o processo educativo por ele provocado reproduz

inevitavelmente as desigualdades sociais. Por essa razão, pode ser considerado

uma forma de controle social, pela adaptação do praticante aos valores e normas

dominantes defendidos para a “funcionalidade” e desenvolvimento da sociedade.

Desta forma, pode-se ter uma visão crítica de que o esporte ainda não atende à

demanda dos menos favorecidos, principalmente o esporte de alto rendimento.

O esporte de alto rendimento ou espetáculo, aquele imediatamente

transformado em mercadoria, tende a assumir as características dos

empreendimentos do setor produtivo ou de prestação de serviços capitalistas, ou

seja, empreendimentos com fins lucrativos, com proprietários e vendedores de força

de trabalho, submetidos às leis do mercado. Isso se reflete nos apelos cada vez

mais frequentes à profissionalização dos dirigentes esportivos e na administração

empresarial dos clubes (empresas) esportivos. Desta forma, Castellani Filho (1994,

p.109) reporta-se ao esporte como “local da ordem da produtividade, eficiência e

eficácia”. O autor chama a atenção de que, para compreender o esporte se faz

necessária uma leitura do modelo político-econômico operado socialmente em

determinado período histórico.

O esporte entra no cenário de espetáculo. Porém, observa-se também que,

nos últimos anos, o espetáculo desportivo nos estádios brasileiros está gerando

conflitos, em meio à violência entre torcidas / torcidas e / ou atletas / atletas,

causando polêmicas e, às vezes, sendo alvo de discussões e penalidades. Nesse

contexto, afloram também outros cenários de questionamentos.

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Segundo Kunz (1994), é uma forma restrita e tradicional de conceituar o

esporte ao relacioná-lo às modalidades institucionalizadas, ao movimento olímpico,

às federações e confederações, enfatizando o caráter competitivo com a ideia de

luta contra o tempo, o espaço, o adversário, entre outros aspectos. De uma forma

ampla, Kunz (1994) conceitua esporte ligado à noção de direito, educação, lazer,

cidadania, inclusão e qualidade de vida do participante.

Para Rozsentraub (2010), a partir dos anos 1990, a dimensão política e

econômica do esporte e lazer no Brasil amplia-se pelo fato das influências dos

megaeventos. Essa nuance vem se reforçando com os Jogos Pan-Americanos, da

Copa do Mundo de Futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, entre outros.

Além disso, é comum o discurso entre autoridades políticas, esportivas e a mídia em

geral, que os megaeventos podem ser potencializadores de transformações

significativas tanto em termos de infraestrutura, a exemplo da melhoria da rede de

transportes públicos e desenvolvimento na rede de turismo, como também no

tocante ao reconhecimento mundial sobre a capacidade de o Brasil organizar os

megaeventos. Porém, muitas discussões afloram acerca dos megaeventos no Brasil,

quanto à forma de utilização dos recursos, ou seja, direcionamento dos gastos, entre

outras questões.

O megaevento esportivo é considerado uma competição que necessita de

grande aporte financeiro, logístico e recursos humanos, e, ainda, conta com uma

grande atração da mídia. Para Matias (2013), como resultado da chegada dos

megaeventos, há o aumento dos repasses diretos do governo para as entidades

esportivas e o crescimento das verbas de patrocínio das empresas estatais. Por

outro lado, segundo Da Costa et al. (2008), a problemática no sentido do que é

considerado legado em megaeventos se destaca, especialmente sobre a

participação do poder público, com a totalidade dos recursos financeiros e da

justificativa do seu uso para a melhoria da qualidade de vida da população.

Gnecco (2008, p. 268) classifica os legados nos seguintes tipos: legado

esportivo, legado de transporte, de tráfego, de telecomunicações, social, de

segurança, de habitação, de conhecimentos, de imagem, de emoções e legado da

cultura.

Contudo, convém ressaltar a nossa preocupação com a análise crítica diante

dos megaeventos, no tocante aos seus pontos positivos e negativos. Dentre os

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pontos nefrálgicos, como exemplo: as violações dos direitos na cidade, ou seja, o

direito à moradia, à informação, à mobilidade urbana, acesso aos serviços públicos,

ao trabalho e à participação popular9. Desse modo, os megaeventos podem trazer

impactos em todos os aspectos da vida urbana, causando desigualdade

socioespacial, desigualdade de investimento e aumento da pobreza urbana.

Outro aspecto a ser considerado que para chegar ao esporte de rendimento

e adentrar-se num megaevento, como cidadão, faz-se um trabalho de base anterior,

vê-se a escola, como uma das possiblidades de inserção das pessoas ao gosto e ao

conhecimento pelo esporte. O esporte de rendimento que era reproduzido nas

escolas e fora do âmbito institucionalizado, em que as pessoas reconheciam as

práticas físicas ligadas a qualquer tipo de jogo, esporte como recreação, cada vez

mais ser repensado e reestruturado. Contudo, de acordo com Bracht (2005), o

esporte praticado no âmbito das instituições educacionais pode inserir-se em uma

das duas perspectivas, de esporte, ou seja, esporte de alto rendimento ou

espetáculo e esporte como atividade de lazer. Embora para o autor apareça nas

escolas a predominância das características do esporte de rendimento. Em relação

às duas vertentes do esporte, o autor pondera que elas se assemelham e que a

expressão atribuída ao “esporte-espetáculo”, complementando a expressão de “alto

rendimento”, dá-se em virtude da transformação do esporte em mercadoria

vinculada pelos meios de comunicação de massa. Desta maneira, Bracht (2005, p.

19) acrescenta:

O sentido interno das ações do interior das instituições do esporte – espetáculo é pautado pelos códigos (e semântica) da vitória – derrota, da maximização do rendimento e da racionalização dos meios e por outro lado, no esporte enquanto atividade de lazer, outros códigos apresentam-se como relevantes e capazes de orientar a ação.

Dentre as instituições de referência no Brasil na área de esporte, destacam-

se o SESC e o SESI. O objetivo da atuação do SESC na prática física é: 9 Nesta perspectiva, foi elaborado documento – dossiê, em sua terceira edição pela equipe de

pesquisadores do Laboratório “Observatório das Metrópoles” - Instituto de Planejamento Urbano e Regional - IPPUR, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com a “Articulação Nacional dos Comitês dos Direitos Humanos no Brasil”, com o objetivo central de denunciar as violações dos direitos humanos e avaliar, até que ponto o Brasil avançou ou não na qualificação das cidades, na discriminação das desigualdades sociais e no respeito às diferenças num contexto de megaeventos esportivos. O documento relata as problemáticas frente às violações dos direitos nas cidades-sede da Copa do Mundo.

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[...] despertar a consciência dos indivíduos para uma vida ativa e salutar, a partir de sua prática regular e permanente, visando a potencialização e à preservação das capacidades físicas, funcional e psicossocial do indivíduo na perspectiva de qualidade de vida (SESC, 2007, p. 2).

O SESI preconiza a ideia dos valores do esporte dentro do ambiente do

trabalho. O programa SESI Esporte (2007) tem o seguinte objetivo:

Melhorar as relações de ambiente de trabalho nas empresas por meio de valores do esporte, fortalecendo igualmente relações do trabalhador-atleta em seus vários ambientes, ou seja: familiar, comunitário, da empresa e do exercício da cidadania (SESI, 2007, p. 110).

Verifica-se que o SESC faz referência à relação entre o esporte e a vida

ativa e saúde do ponto de vista físico, fisiológico e psicossocial, com vistas à

qualidade de vida. Considera-se, ainda, que o Programa SESI Esporte tem uma

preocupação com os valores do esporte, contribuindo para as relações do trabalho

em diferentes contextos, e, também, faz referência com o exercício da cidadania.

A sistematização dos estudos sobre a história do esporte numa visão da

História Cultural inicia-se nos anos de 1970, a partir dos diálogos com as Ciências

Sociais e Humanas. Burke (2005) e Melo (2008) afirmam que surgem sociedades

nacionais e internacionais, periódicos e eventos científicos e departamentos que

demonstram uma tendência ao fortalecimento da história do esporte.

Para Melo (1999), o Brasil, apesar de não ficar fora do contexto, sua

produção ainda se dava de forma incipiente. A partir da década de 1990, é possível

constatar um grande aumento dos estudos históricos voltados para as práticas

corporais institucionalizadas. Os estudos no formato de artigos, livros e trabalhos

apresentados foram resultados das discussões em eventos científicos, pelo

reconhecimento da importância do assunto pelos pesquisadores das mais variadas

áreas e aumento do número de grupos de pesquisa (MELO, 2008, p. 4-5).

Melo (2008) destaca o crescimento da produção de livros de informações

para o público não acadêmico na sua maioria, escritos por jornalistas, os quais eram

lançados por ocasião de efemérides ou para homenagem a algum ídolo esportivo.

Tratando-se do meio acadêmico, a preocupação com as questões teóricas e

metodológicas se expande com a contribuição das Ciências Humanas e Sociais.

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Para Tubino (1998), a diversidade de práticas esportivas vem aumentando o

número de praticantes, eventos esportivos, como também os estudos na área e as

manifestações, através da mídia no tocante a esta área. Essa expansão, de acordo

com Tubino (1998), deve-se ao:

I – Crescimento demográfico do país; II – Desenvolvimento socioeconômico; III – Proliferação da mídia específica; IV – Busca por entretenimento e qualidade de vida; V – Maior consciência e conhecimento do valor do esporte (TUBINO, 1998, p. 6).

O esporte e o lazer no Brasil, durante os últimos anos, por intermédio de

algumas ações políticas, vêm ampliando as suas perspectivas, embora venham

sofrendo conflitos nas diferentes ideologias presentes na construção das políticas

vigentes, as quais vêm redimensionando os valores culturais sobre o esporte e o

lazer (AZEVEDO, 2008; LINHARES, ASSBU, 2001; FERREIRA, 1999).

Um aspecto a ser enfocado é a importância da política de parcerias entre o

poder público e as universidades que vêm corroborando com redimensionamento e

aplicações de estratégias para o fortalecimento no campo do esporte e lazer.

Percebe-se também a entrada da discussão a partir de diversas áreas de

conhecimento.

No ano de 2003, as pastas de Turismo e Esportes foram separadas, sendo

criado o Ministério de Esporte, com intuito de alcançar os objetivos propostos,

manter iniciativas tais como: Centro de Conhecimento do Esporte Recreativo e do

Lazer (CEDES) e o Centro de Documentação e Informação do Ministério do Esporte

(CEDIME) (BRASIL, 2005).

De acordo com Nazário (2010), houve mudanças significativas que

envolveram o esporte e lazer na esfera brasileira, a exemplo da criação do Ministério

do Esporte. Porém, não se pode negar que as questões esportivas e “físicas”, com

participação do Estado, vêm com as contribuições de Rui Barbosa, no período Brasil

- Colônia e no início da República Velha, com vistas à implantação e efetivação de

programas de atividades físicas, como afirma Tubino (1996). Com a criação do

Ministério, o esporte passa a fazer parte da estrutura do Estado e constituir-se como

política governamental.

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De acordo com um trecho do documento para elaboração da III Conferência

Nacional de Esporte e Lazer (2009), o esporte e o lazer têm o seguinte

entendimento:

O esporte, construção humana historicamente criada e socialmente desenvolvida, é abordado como integrante do acervo da cultura da humanidade, e o lazer como uma prática social contemporânea resultante das tensões entre capital e trabalho, que se materializa como um tempo e espaço de vivências lúdicas, lugar de organização da cultura e que perpassa pelas relações de hegemonia (BRASIL, 2009, p. 35).

De acordo com Filgueira (2008), as ações do Ministério constituem-se num

Plano de Desenvolvimento do Esporte, tomando por base algumas diretrizes, tais

como:

- Democratizar o acesso ao esporte e ao lazer; - Promover o desenvolvimento humano e a inclusão social por meio do

esporte e lazer; - Fomentar a produção e difusão do conhecimento científico e tecnológico

do esporte e do lazer; - Fortalecer o esporte de alto rendimento; - Articular e implementar políticas intersetoriais que possibilitem a formação

da cidadania, a promoção da saúde e a qualidade de vida; - Implementar e desenvolver o Sistema Nacional de Esporte e Lazer; - Fomentar a indústria nacional e a cadeia produtiva do esporte e lazer; - Potencializar o desenvolvimento do esporte escolar para crianças,

adolescentes e jovens, contribuindo com a melhoria da qualidade de ensino;

- Ampliar e qualificar a infraestrutura de esporte e lazer no país (FILGUEIRA, 2008; p. 67).

A Rede do Centro de Desenvolvimento do Esporte Brasileiro e de Lazer –

Rede CEDES, foi criada em 2004, a partir do interesse da Secretaria Nacional de

Desenvolvimento do Esporte e Lazer (SNDEL) do Ministério do Esporte / Brasil, vem

somando esforços em todo território nacional com bases no apoio a projetos de ação

e pesquisas, com vistas à ampliação de possibilidades de qualificação das políticas

públicas, como também na sistematização das informações sobre esporte

participativo e lazer; e por conseguinte, proporcionar a melhoria no aparato técnico-

científico na área.

Ao longo dos anos, a produção na área de esporte e lazer vem se

expandindo, a exemplo do projeto de pesquisa denominado “Gestão da Informação

sobre o Esporte Recreativo e de Lazer: balanço da Rede CEDES” através do LEL

(Laboratório de Estudos de Lazer), do Departamento de Educação Física do Instituto

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Biociências da UNESP (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –

Campus Rio Claro/SP), tendo como objetivo central sistematizar as informações

acerca das produções da Rede CEDES, durante o período de 2003 a 2010.

Para Kawaguti (2010), a referida pesquisa apresenta os seguintes eixos

temáticos, com respectivos dados:

Quadro 02 - Eixos temáticos da pesquisa “Gestão da Informação sobre o Esporte Recreativo e de Lazer: balanço da Rede CEDES” (2010).

Distribuição das pesquisas nos nove eixos temáticos, representados em porcentagem

EIXO TEMÁTICO %

Memória do esporte e lazer 19,58

Perfil do esporte e lazer 8,47

Programas integrados do esporte e lazer 15,34

Desenvolvimento de programas sociais de esporte e lazer 8,99

Observatório do esporte 10,58

Gestão do esporte e de lazer 13,23

Avaliação de políticas e programas de esporte e lazer 6,35

Infraestrutura de esporte e de lazer 16,10

Sistema Nacional de Esporte e Lazer 1,06

TOTAL 100

Fonte: Dados da Pesquisa – “Gestão da informação sobre o esporte recreativo e de lazer: balanço da Rede CEDES” (2010).

Observa-se que os eixos temáticos memória, infraestrutura e programas

integrados de esporte e lazer obtiveram maior número de pesquisas desenvolvidas

pela Rede CEDES, entre 2003 e 2010. E ainda, fazendo uma relação com o nosso

estudo, ao se considerar algumas características dos eixos temáticos apresentados,

verifica-se que haverá uma aproximação com as mais diversas categorias temáticas,

tendo em vista os nossos objetivos, distanciando-se dos eixos memória do esporte e

lazer, perfil do esporte e lazer e o observatório do esporte, do ponto de vista dos

aspectos levantados nas discussões apresentadas no citado estudo.

Com base em pesquisa realizada pelo IBGE (2003) no campo do esporte,

nas grandes Regiões e Unidades da Federação do país, ao fazer um recorte na

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Região Nordeste, e, de forma específica, no estado da Paraíba (vide anexos),

ressalta-se que:

Das 1266 escolas públicas estaduais em 31/12/2003, 310 apresentam

instalações esportivas, sendo que 01 somente com piscina, 125 apenas com

quadra coberta, 168 só com quadra não-coberta, somente 01 com piscina e

quadra coberta, 03 apenas com piscina e quadra não-coberta e 12 possuem

quadra coberta e não-coberta, porém há 956 unidades escolares estaduais sem

instalações esportivas.

Em relação ao número de equipamentos esportivos, de acordo com o tipo de

equipamento e localização, dos 05 ginásios, 04 estão em regiões metropolitanas

e 01 em município; há 02 estádios de futebol sendo 01 localizado na região

metropolitana e o outro num município; há apenas 01 complexo aquático situado

na região metropolitana; e dos 03 complexos esportivos, 02 estão na região

metropolitana.

No tocante ao número de instalações esportivas existentes e em construção com

base em 31/12/2003, de acordo com o tipo de instalação, identificou-se que há

05 quadras, 01 campo de futebol, 03 piscinas e 01 pista de atletismo.

Das quadras cobertas, 05 são iluminadas; dos campos de futebol sem cobertura,

03 são iluminados, há uma pista de atletismo não coberta que não é iluminada,

como também 03 piscinas não cobertas iluminadas.

De acordo com o número de quadras e campos de futebol em relação ao tipo de

infraestrutura de funcionamento, com relação à existência de arquibancada e

vestiário/banheiro, constatou-se que 05 quadras não têm arquibancadas e 05

não apresentam vestiário/banheiro; e 01 campo de futebol não possui

arquibancada e 01 não possui vestiário.

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165

4.3 Conferências nacionais de esporte em busca da implementação de

políticas públicas de esporte e lazer

Uma ação significativa no âmbito do governo federal sob a configuração do

Ministério do Esporte, com articulação dos diferentes segmentos sociais e políticos

do campo do esporte no Brasil, foram as realizações das conferências nacionais.

Em 2004, foi realizada a I Conferência Nacional do Esporte, com o tema

“Esporte, Lazer e Desenvolvimento Humano”, no ano de 2006, a II Conferência

Nacional de Esporte, tendo a temática “Construindo um Sistema Nacional de

Esporte e Lazer” e em 2010, tendo como tema “Plano Decenal de Esporte e Lazer –

10 pontos em 10 anos para projetar o Brasil entre os 10 mais”.

De acordo com a I Conferência Nacional de Esporte (2004), o Ministério do

Esporte tem a finalidade de “formular e implementar políticas públicas inclusivas e

de afirmação do esporte e lazer como direitos sociais dos cidadãos, colaborando

para o desenvolvimento nacional e humano” (Documento Final da I CONFERÊNCIA

DO ESPORTE, 2004, p. 7).

A I Conferência Nacional do Esporte e Lazer foi um marco nas Políticas

Públicas de Esporte e Lazer e aponta para a construção do Sistema Nacional de

Esporte e Lazer. As diretrizes do Sistema Nacional de Esporte e Lazer são: política

esportiva e de lazer descentralizada; gestão participativa; acesso universal; controle

social de gestão pública; desenvolvimento da nação; intervenção étnica, racial,

socioeconômica, religiosa, de gênero e de pessoas com deficiência e com

necessidade especial de qualquer natureza; desenvolvimento humano e promoção

de inclusão social (BRASIL, 2009, p. 15). Esta conferência como instância

deliberativa e consultiva para formulação de Políticas Públicas de Esporte e Lazer

teve como objetivo promover ampla mobilização, articulação e participação popular

acerca das questões de Esporte e Lazer, contribuir para o Diagnóstico Situacional

da área e apresentar propostas para elaboração de programas e projetos.

Segundo o texto final da I Conferência Nacional do Esporte, a democracia é

um valor fundamental na Política Nacional do Esporte. Além disso, numa gestão

democrática contribui para o acesso às práticas esportivas e aos espaços

apropriados, que estimula à participação popular nas tomadas de decisões, que

promove a organização de instâncias administrativas, a formação de conselhos, a

descentralização da estrutura, da organização e da gestão, com vistas ao acesso às

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informações, o planejamento participativo, a avaliação, o respeito às instâncias

coletivas e defesa da transparência na gestão. Contudo, de acordo com o relatório

desta conferência, é necessário “[...] unificar a ação conjunta dos atores

compreendidos no segmento do esporte e lazer em todo território nacional”

(BRASIL, 2009, p. 42).

A II Conferência Nacional do Esporte, realizada em maio de 2006, teve por

objetivos:

consolidar o espaço de diálogo entre o Estado e a sociedade, mobilizar estados e municípios para aperfeiçoar a estruturação institucional e a política de esporte e lazer; promover ampla mobilização, articulação e participação popular, avançar na construção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer e consolidar a Política Nacional de Esporte (2005) (BRASIL, 2009, p. 43).

A III Conferência Nacional do Esporte contou com 10 linhas de discussão, a

saber: “Sistema Nacional de Esporte e Lazer”, “Formação e Valorização

Profissional”, “Esporte, Lazer e Educação”, “Esporte, Saúde e Qualidade de Vida”,

“Ciência e Tecnologia”, “Esporte de Alto Rendimento”, “Futebol”, “Financiamento do

Esporte”, “Infraestrutura Esportiva” e “Esporte e Economia”.

Desta forma, compreende-se o quão é importante o espaço das

conferências, nas suas diferentes etapas, ou seja, livre, preparatória, municipal /

regional, estadual e federal, de forma que a sociedade civil e os representantes do

governo nas suas distintas esferas tenham uma efetiva participação na discussão da

política de esporte e lazer. Ademais, outras instâncias e espaços também são

relevantes e podem otimizar uma participação dos diferentes atores nessa

discussão, a exemplo dos Conselhos, Orçamento Participativo - OP, Fóruns, entre

outros. De acordo com Mezzadri et al. (2006), o Conselho tem o objetivo de

fiscalizar, propor projetos e a política da democracia direta, podendo ser de natureza

consultiva e deliberativa.

4.4 Políticas públicas de esporte e lazer: a perspectiva institucional brasileira

Através da Medida Provisória N. 103, de 01 de janeiro de 2003, foi criado o

Ministério do Esporte como foi elucidado anteriormente, com a missão de “formular e

implementar políticas públicas inclusivas e de afirmação do esporte e do lazer como

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direitos sociais dos cidadãos, colaborando para o desenvolvimento nacional e

humano” (BRASIL, 2003, p. 7).

A criação da pasta ministerial específica para o esporte foi considerada

como avanço na participação política nas políticas sociais notadamente na área

Esporte e Lazer. Assim sendo, o Ministério do Esporte é responsável pela

construção de uma Política Nacional de Esporte, em desenvolver o esporte de alto

rendimento, e, ainda, trabalhar nas ações de inclusão social por meio do esporte,

garantindo o acesso gratuito da prática esportiva à população brasileira, qualidade

de vida e desenvolvimento humano10.

No Ministério do Esporte, foram criadas a Secretaria Nacional do Esporte

Educacional, a Secretaria de Desenvolvimento do Esporte e Lazer e a Secretaria de

Alto Rendimento, propondo otimizar a ampliação de mecanismos de materialização

da democracia participativa, com vistas à Política Nacional do Esporte. A Secretaria

Nacional de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer do Ministério do Esporte foi

criada no ano de 2003, considerada como um espaço político institucional

importante no trato das políticas públicas sociais de esporte recreativo e de lazer.

Dentre as suas ações está o desenvolvimento de programas e projetos, com o

intuito de democratizar o acesso às políticas públicas de esporte e lazer às

diferentes regiões e numa perspectiva de inclusão social.

Do ponto de vista de organização de macroestrutura, o Ministério do Esporte

está organizado da seguinte forma: Ministro do Esporte (gabinete), Secretaria

Executiva, Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social,

Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor, Departamento de

Infraestrutura de Esporte e Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento

(BRASIL, 2014).

À Secretaria Executiva compete:

- Auxiliar o Ministro do Esporte na supervisão e coordenação das atividades das secretarias nacionais integradas à estrutura do ministério e na definição das diretrizes e políticas no âmbito da Política Nacional do Esporte. - Supervisionar e coordenar as atividades relacionadas aos sistemas federais de planejamento e orçamento, organização e modernização administrativa, recursos humanos e de serviços gerais. - Responsabilizar-se pelo gerenciamento de recursos para construção, modernização de quadras, ginásios, espaços esportivos e aquisição de

10

Cf. <www.esporte.gov.br>.

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equipamentos para instituições de ensino e comunidades (BRASIL, 2014, on-line).

À Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social,

compete:

- Fazer proposições sobre assuntos da sua área para compor a política e o

Plano Nacional de Esporte; - Coordenar, formular e implementar políticas relativas ao esporte

educacional, desenvolvendo gestão de planejamento, avaliação e controle de programas, projetos e ações;

- Implantar as diretrizes relativas ao Plano Nacional de Esporte e aos Programas Educacionais, de Lazer e de Inclusão Social;

- Planejar, supervisionar, coordenar e realizar estudos compreendendo o desenvolvimento das políticas, programas e projetos esportivo-educacionais, de lazer e de inclusão social; a execução das ações de produção de materiais esportivos em âmbito nacional; e a execução das ações de promoção de eventos;

- Zelar pelo cumprimento da legislação esportiva, relativa à sua área de atuação;

- Prestar cooperação técnica e assistência financeira supletiva a outros órgãos da administração pública federal, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e às entidades não governamentais sem fins lucrativos, nas ações ligadas aos programas e projetos sociais esportivos e de lazer;

- Manter intercâmbio com organismos públicos e privados, nacionais, internacionais e com governos estrangeiros, em prol do desenvolvimento dos programas sociais esportivos e de lazer;

- Articular-se com os demais segmentos da administração pública federal, tendo em vista a execução de ações integradas na área dos programas sociais, esportivos e de lazer;

- Planejar, coordenar e acompanhar estudos e pesquisas com as universidades e outras instituições correlatas com vistas à obtenção de novas tecnologias voltadas ao desenvolvimento do esporte educacional, recreativo e de lazer para a inclusão social; e

- Articular-se com os demais entes da federação para implementar política de esporte nas escolas (BRASIL, 2014, on-line).

É de competência da Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento:

- Fazer proposições sobre assuntos da sua área para compor o Plano Nacional de Esporte;

- Implantar as decisões relativas ao Plano Nacional do Esporte e aos programas de desenvolvimento do esporte de alto rendimento;

- Realizar estudos, planejar, coordenar e supervisionar o desenvolvimento do esporte e a execução das ações de promoção de eventos;

- Zelar pelo cumprimento da legislação esportiva, relativa a sua área de atuação;

- Prestar cooperação técnica e assistência financeira supletiva a outros órgãos da Administração Pública Federal, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e às entidades não-governamentais sem fins lucrativos, em empreendimentos ligados ao esporte de alto rendimento;

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- Manter intercâmbio com organismos públicos e privados, nacionais,

internacionais e governos estrangeiros, em prol do desenvolvimento do esporte de alto rendimento;

- Articular-se com os demais segmentos da Administração Pública Federal, tendo em vista a execução de ações integradas nas áreas do esporte de alto rendimento;

- Prestar apoio técnico e administrativo ao Conselho Nacional do Esporte; - Coordenar, formular e implementar a política relativa aos esportes voltados

para competição, desenvolvendo gestões de planejamento, avaliação e controle de programas, projetos e ações (BRASIL, 2014, on-line).

O Conselho Nacional do Esporte - CNE é órgão colegiado de deliberação,

normatização e assessoramento diretamente vinculado ao Ministério do Esporte e é

parte integrante do Sistema Brasileiro de Desporto. O CNE tem como objetivo

buscar o desenvolvimento de programas que promovam a massificação planejada

da atividade física para a população e a melhoria do padrão de organização, gestão,

qualidade e transparência do desporto nacional.

A partir de informações obtidas no site oficial do Ministério do Esporte

(2016), apresentam-se a seguir programas e projetos de esporte e lazer atrelados ao

referido Ministério.

Programas e Projetos - Secretaria Executiva:

Conferência Nacional do Esporte - instituída pelo Decreto Presidencial

de 21 de janeiro de 2004 configura-se como um espaço de debate,

formulação e deliberação das Políticas Públicas de Esporte e Lazer para

o Brasil.

A Lei 11.438/2006 – Lei de Incentivo ao Esporte permite que empresas e

pessoas físicas invistam parte do que pagariam ao Imposto de Renda

em projetos esportivos aprovados pelo Ministério do Esporte. Podendo o

investimento da empresa ser de até 1% do valor e as pessoas físicas,

até 6%.

Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem – tem como missão:

consolidar a consciência antidopagem e defender no âmbito nacional, o

direito fundamental dos atletas de participarem de competições

esportivas livres de quaisquer formas de dopagem.

Praça da Juventude - este projeto foi criado em 2007 com o intuito de

levar um equipamento esportivo público e qualificado para a população

que pudesse, ao mesmo tempo, tornar-se um ponto de encontro para a

juventude. Contudo, entendida não como mero espaço físico para a

prática de esportes, mas uma área de convivência comunitária

agregando atividades culturais, de inclusão digital e de lazer para a

população de todas as faixas etárias (BRASIL, 2016, on-line).

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A gestão da Praça da Juventude será de forma compartilhada e sua

responsabilidade é do ente comunidade, cabendo à prefeitura ou ao governo do

estado administrar os espaços a partir de suas competências. Nesta forma de

gestão, além da intervenção do Estado, o desenvolvimento humano, social ou

sustentável exige protagonismo local, ou seja, atuação das pessoas que vivem em

comunidades e que conhecem suas particularidades e necessidades. Com o

compromisso e a adesão da comunidade local, as políticas de indução e/ou

promoção do desenvolvimento têm maior chance de obter resultados positivos.

Praças do PAC – Programa de Aceleração de Crescimento

CEUS – Centro de Artes e Esportes Unificados – consiste na integração num

mesmo espaço, de programas e ações culturais, práticas esportivas e de lazer,

formação e qualificação para o mercado de trabalho, serviços socioassistenciais,

políticas de prevenção à violência e de inclusão digital, para promover a cidadania

em territórios de alta vulnerabilidade social das cidades brasileiras. É um programa

em parceria entre a União e municípios. Sua gestão também se dá de forma

compartilhada entre as prefeituras e a comunidade, com a forma de um grupo

gestor, com a responsabilidade de elaborar um plano de gestão e conceber o uso e

programação dos equipamentos.

Os seus projetos arquitetônicos padrão foram desenvolvidos por uma equipe

multidisciplinar e interministerial. Os centros contam com biblioteca, cineteatro,

laboratório de multimídia, salas de oficinas, espaços multiuso, Centro de Referência

em Assistência Social (CRAS) e pista de skate. Os CEUs maiores também contam

com quadra de eventos coberta, playground e pista de caminhada.

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Acordos de

Cooperação Técnica Internacional.

Projeto – BRA/11/006 - Por uma Agenda Nacional de Esporte – Período de

maio/2011 a dezembro de 2016. Este projeto tem como objetivo contribuir para a

democratização e a universalização do acesso ao esporte e lazer de toda a

população brasileira, promovendo a inclusão social e o exercício da cidadania

por meio do desenvolvimento sustentável setorial e da implementação do Plano

Decenal de Esporte e Lazer.

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O projeto está organizado em eixos estratégicos, a saber:

Fortalecer a capacidade institucional do Ministério do Esporte para elaborar,

coordenar, monitorar e implementar políticas públicas, consolidando o diálogo

social para a promoção do esporte nacional e maior visibilidade internacional –

com foco na estruturação do Setor Esporte – baseado na necessidade de

implantar um novo modelo de planejamento de políticas públicas e de gestão

setorial descentralizada, coordenadora e participativa, capaz de integrar as

visões de parceiros relevantes e de atuação federativa; função das dimensões

do país, das diferenças regionais e da necessidade de participação direta e

indireta dos diversos atores governamentais, não governamentais e privados nas

atividades ligadas ao esporte e lazer.

Promover a estruturação do Sistema Nacional de Esporte e Lazer - SNEL, com a

descentralização da gestão das políticas públicas de esporte e lazer e modelo de

gestão setorial sustentável – relacionado ao desenvolvimento de Programas,

Projetos e estudos com a finalidade de fornecer subsídios à formulação de

propostas detalhadas indicadas nos planos e política setorial, como também

prover insumos para o desenvolvimento setorial, do Ministério do Esporte e dos

parceiros envolvidos no Sistema Nacional de Esporte e Lazer. Toma-se como

base a implementação e articulação de programas e projetos efetivos e para a

pesquisa o desenvolvimento, para fins de ampliação do conhecimento

tecnológico, soluções e possibilidades esportivas e instâncias político-

administrativas.

Consolidar o esporte e o lazer, como política de Estado, promovendo o Plano

Decenal de Esporte e Lazer e a agenda setorial na Agenda Nacional Social –

com ênfase na implementação, proposição e/ou modernização das Ferramentas

de Gestão e Gerenciamento, que permitam reforçar a qualidade e efetividade

das ações e melhorar os níveis de coordenação intra e extra-setorial no esporte

e lazer. Deverá incluir iniciativas de qualificação profissional nos diferentes

espaços político-administrativos, com a participação de relevantes parceiros

governamentais, não governamentais e do setor privado.

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Promover iniciativas nacionais e internacionais para a operacionalização da

Copa 2014 e Olimpíadas 2016 - visa à promoção de iniciativas de

operacionalização de compromissos internacionais assumidos pelo governo

brasileiro nas vertentes de cooperação esportiva internacional com os demais

países, reforçando a cooperação sul-sul; e ainda, apoiar a implementação de

ações relacionadas à Copa 2014 e Olimpíadas 2016.

Programas e projetos da Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social:

Programa Segundo Tempo – O Programa Segundo Tempo também criado em

2003, ligado à Secretaria Nacional de Esporte Educacional, ancorado na Política

Nacional de Esporte e Lazer, dirigido às crianças (a partir dos 06 anos de idade),

aos adolescentes e aos jovens expostos a riscos sociais. O Programa tem como

foco central a democratização do acesso à prática e à cultura do esporte de

modo a promover o desenvolvimento integral, com vistas à formação da

cidadania e melhoria da qualidade de vida, especialmente em áreas de

vulnerabilidade social (BRASIL, 2010, 2016).

Esse Programa tem como princípios: da reversão do quadro de injustiça,

exclusão e vulnerabilidade social; do esporte e lazer como direito de cada um e

dever do Estado; da universalização e inclusão social; da democratização da gestão

e da participação (BRASIL, 2016). De forma específica, apresenta os seguintes

objetivos: oferecer práticas esportivas educacionais, estimulando crianças e

adolescentes a manter uma interação efetiva que contribua para o desenvolvimento

integral; oferecer condições adequadas para a prática esportiva educacional de

qualidade; desenvolver valores sociais; contribuir para a melhoria das capacidades

físicas e habilidades motoras; contribuir para a melhoria da qualidade de vida (auto -

estima, convívio, integração social e saúde); contribuir para a diminuição da

exposição aos riscos sociais, drogas, prostituição, gravidez precoce, criminalidade,

trabalho infantil e a conscientização da prática esportiva, assegurando o exercício da

cidadania.

Esporte na Escola - Com o fortalecimento da ação intersetorial do Governo

Federal, integrando Esporte e Educação, foi possível duplicar o atendimento do

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Programa Segundo Tempo, que oferece várias vivências esportivas no

contraturno escolar, através do Programa Mais Educação do Ministério da

Educação, com a inserção de uma proposta de esporte na escola, integrada ao

seu projeto pedagógico. Assim sendo, denomina-se Esporte na Escola, a

integração do Programa Segundo Tempo e do Programa Mais Educação. O

Esporte na Escola tem como objetivo geral oportunizar o acesso à prática

esportiva a todos os alunos das escolas públicas da Educação Básica, iniciando

o atendimento às escolas que participam do Programa Mais Educação.

Projeto Recreio nas Férias – sua edição piloto foi em janeiro de 2009 – é

integrante do Programa Segundo Tempo. Na sua última versão o projeto teve

como propósito oferecer aos participantes uma gama de atividades esportivas,

recreativas, de lazer e culturais, buscando a valorização do respeito, do

companheirismo e estimular a participação das famílias e do voluntariado na

comunidade. A partir do tema gerador “PST 10 anos – Celebrar com

Sustentabilidade”

Programa Esporte e Lazer da Cidade – PELC

O Programa Esporte e Lazer da Cidade – PELC foi criado em 2003,

executado pela União sob responsabilidade do Ministério do Esporte - ME, com

vistas parcerias. Essas parcerias se configuram entre o Ministério do Esporte,

Municípios, Governos do Estado, Distrito Federal, Universidades Estaduais e termos

de execução descentralizados entre ME e Universidades Públicas Federais ou

Institutos Federais de Educação (BRASIL, 2016). O PELC visa proporcionar a

prática de atividades físicas, culturais e de lazer para todas as faixas etárias,

pessoas com deficiência; estimula a convivência social, a formação de gestores e

lideranças comunitárias, fomento à pesquisa e a socialização de conhecimentos,

contribuindo para que o esporte e lazer sejam tratados como políticas públicas e

direito de todos. Tendo como finalidade suprir as necessidades de políticas públicas

e sociais para atender à demanda da população em relação ao esporte recreativo e

de lazer, principalmente para aqueles em situações de vulnerabilidade social e

econômica.

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De acordo com o Ministério do Esporte (2014), o PELC tem objetivos

focalizados no funcionamento de núcleos de esportes recreativo e de lazer,

funcionamento da Rede CEDES – Centro de Desenvolvimento de Esporte

Recreativo e de Lazer nas Instituições de Ensino Superior e a implantação e a

modernização de infraestrutura para esporte recreativo e de lazer (BRASIL, 2014).

Segundo Castellani Filho (2007, p. 6), o Programa Esporte e Lazer da

Cidade surgiu com o objetivo de responder a questões amplamente detectadas no

quadro social brasileiro, indicativos de que uma parcela significativa da população

brasileira não tem acesso ao lazer.

Conforme o site oficial do Ministério do Esporte o Programa Esporte e Lazer

na Cidade tem como objetivos:

Democratizar o acesso a políticas públicas de esporte e lazer;

Reconhecer e tratar o esporte e lazer como direitos sociais;

Articular ações voltadas para públicos diferenciados nos núcleos de esporte e lazer, de forma a privilegiar a unidade conceitual do programa;

Difundir a cultura do lazer por meio do fomento e eventos de lazer construído e realizado de forma participativa com a comunidade;

Formar permanentemente os agentes sociais de esporte e lazer (professores, estudantes, educadores/comunitários, gestores e demais profissionais de áreas afins);

Fomentar e implementar instrumentos e mecanismos de controle social;

Aplicar metodologias de avaliação institucional processual às políticas públicas de esporte e lazer;

Fomentar a ressignificação de espaços esportivos e de lazer que atendam às características das políticas sociais de Esporte e Lazer implementadas e que respeitem a identidade esportiva e cultural local / regional.

Orientar a estruturação e condução de suas políticas públicas de esporte e lazer nos poderes públicos municipais e estaduais (BRASIL, 2014, on-line).

O programa tem como objetivo central ampliar, democratizar e universalizar

o acesso à prática e ao conhecimento do esporte recreativo e lazer, integrando suas

ações às demais políticas públicas, de modo a contribuir com o desenvolvimento

humano e a inclusão social. Apresenta as seguintes diretrizes: garantir o acesso às

práticas e aos conhecimentos sobre esporte e lazer; desenvolver ações educativas

na perspectiva da emancipação humana, do desenvolvimento comunitário e da

transformação de políticas de governo em políticas de Estado; valorizar a

diversidade cultural; desenvolver ações estratégicas que articulem pesquisas com

ações educativas, informação e práticas de gestão de políticas públicas;

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implementar ações intersetoriais; articular redes de cooperação nacional e

internacional. As diretrizes de 2016 do PELC apresentam os objetivos, processos

pedagógicos, núcleos, metas de atendimento por núcleo, público-alvo, atividades

sistemáticas – oficinas, grade horária, atividades assistemáticas – eventos, dos

recursos humanos, sobre a entidade de controle social, conselho gestor, divulgação,

identidade visual, formação, Ead, sistema de acompanhamento, monitoramento e

avaliação, municipalização/institucionalização das políticas de esporte e lazer, como

também, documentos orientadores e Projeto Pedagógico do PELC.

De maneira específica, de acordo com os dados do Ministério do Esporte

(2016), o PELC apresenta os seguintes objetivos:

- Promover a inclusão, minimizando as desigualdades e qualquer tipo de

discriminação por condições físicas, sociais, de raça, de cor ou qualquer natureza que limitem o acesso à prática esportiva;

- Oferecer aos alunos conhecimentos e vivências de práticas esportivas nas dimensões lúdica e inclusiva;

- Ampliar o tempo de permanência dos alunos na escola; - Fortalecer hábitos e valores que incrementam a formação da cidadania

dos alunos; - Ampliar o conhecimento dos alunos sobre a prática esportiva e suas

relações com a cultura, educação, saúde e vida ativa; - Contribuir para a melhoria da qualidade da Educação Básica (BRASIL,

2016, on-line).

Para assegurar sua estrutura nacional, têm sido multiplicadas experiências

de parceiros com outros programas estruturantes da Política Social do Governo

Federal, buscando melhorar o controle social e a intersetorialidade.

O programa possui dois núcleos - Núcleos Urbanos (voltados aos centros

Urbanos) e os Núcleos para Povos e Comunidades Tradicionais (voltados para

grupos culturalmente diferenciados como povos indígenas, quilombolas, populações

ribeirinhas, dentre outras). Os núcleos do PELC são espaços de convivência social,

onde as manifestações esportivas e de lazer são planejadas e desenvolvidas, sendo

tratadas como locais de referência, porém suas ações / atividades podem ser

descentralizadas para outros espaços configurados de acordo a realidade social.

Em 2012, o Ministério do Esporte reconheceu o núcleo Vida Saudável do

PELC como um importante Programa Social. Este núcleo é voltado

preferencialmente para os idosos e as pessoas com deficiência (BRASIL, 2016).

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Programa Vida Saudável – De acordo com o Ministério do Esporte (2016) o

Programa Vida Saudável se desenvolve visando oportunizar a prática de

atividades físicas, atividades culturais e de lazer para o cidadão e cidadã idoso,

estimulando a convivência social, a formação de gestores e lideranças

comunitárias, a pesquisa e a socialização do conhecimento, contribuindo para

que o esporte e o lazer sejam tratados como políticas públicas e direitos de

todos.

Este Programa tem como objetivo central: democratizar o acesso ao lazer e

ao esporte recreativo para pessoa idosa na perspectiva de promoção de saúde, e de

forma específica:

- Nortear ações voltadas para pessoas predominantemente a partir de 60

anos nos núcleos de esporte e lazer; - Estimular a gestão participativa entre os atores locais, direta e

indiretamente envolvidos; - Orientar entidades conveniadas para estruturar e conduzir políticas

públicas de lazer e de esporte para idosos; - Promover a formação continuada de agentes sociais de lazer e esporte

recreativo, preparados para atender o público idoso; - Incentivar a organização coletiva de eventos de lazer e esporte recreativo

para envolver a população local para além dos núcleos; e - Reconhecer as qualidades da cultura local na apropriação do direito ao

lazer e ao esporte recreativo (BRASIL, 2016, on-line).

Tomando como base uma pesquisa realizada sobre o perfil dos praticantes

de atividades físicas no Brasil, dados estes atrelados ao IBGE (2013), que se

encontram divulgados no site do Ministério do Esporte (2015), 28,5 % da população

entre 14 a 75 anos praticam atividades físicas, 45,9 % são sedentários e apenas

25,6 % praticam esportes.

O Programa Segundo Tempo e o Programa Esporte e Lazer na Cidade

podem ser considerados como de esporte numa dimensão lúdica, também

denominados de participação e lazer.

Competições e eventos de esporte e lazer

A realização e apoio a competições e eventos de esporte e lazer tem a

finalidade de desenvolver atividades que contribuam para ampliar o acesso ao

esporte e lazer a todas as faixas etárias, estruturar toda a política de esporte

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estudantil articulando as ações voltadas à iniciação e formação esportiva e

competições esportivas, ações essas ligadas ao estudo e prática de esporte e lazer.

Jogos dos Povos Indígenas – sua primeira edição foi no ano de 1996, em

Goiana e sua XII edição foi em Cuiabá / 2013, patrocinado pelo Ministério do

Esporte, contando com o envolvimento dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário,

da Cultura, da Justiça e da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade

Racial, Infraero e Universidade Federal do Mato Grosso, governo do Mato Grosso e

prefeitura de Cuiabá.

Rede CEDES – Centro de Desenvolvimento de Esporte Recreativo e de Lazer,

implantado em 2003, tem como objetivos: produzir pesquisas induzidas e semi-

induzidas, visando maximizar o acesso ao conhecimento científico e tecnológico

nas áreas da gestão do esporte recreativo e do lazer; e difundir os resultados

dos estudos e pesquisas desenvolvidas pela referida Rede.

Prêmio Brasil de Esporte e Lazer de Inclusão Social - destinado ao

reconhecimento de iniciativas científicas, tecnológicas, pedagógicas e

jornalísticas que contribuem e subsidiem a qualificação das políticas públicas de

esporte e lazer de inclusão social. Objetivando incentivar, apoiar e valorizar

estas iniciativas, contribuindo para inserir o Ministério do Esporte na agenda da

Ciência e Tecnologia Brasileira, em parceria com outros setores sociais.

Programa Pintando a Liberdade – tem como objetivo promover a ressocialização

de internos do Sistema Penitenciário através da fabricação de materiais

esportivos. Participando do referido Programa o detento se profissionalizará e

reduzirá um dia de pena para cada três dias trabalhados e serão remunerados

de acordo com a sua produção. Os convênios são firmados entre Governo

Federal por intermédio do Ministério do Esporte e os órgãos que administram os

presídios.

Pintando a Cidadania - A ação envolve pessoas em situação de risco social

em fábricas de material esportivo. O programa tem como objetivo a inclusão social

de pessoas residentes em comunidades carentes e o ingresso dos mesmos no

mercado de trabalho. Os rendimentos são divididos conforme a produção. Parte do

pagamento é repassado imediatamente aos detentos e outra parte é depositada

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para ser retirada após o pagamento da pena. Foi desenvolvido inicialmente como

uma linha do Programa Pintando a Liberdade. Nele, são produzidos bolas, bolsas,

redes, camisetas, bonés e bandeiras. O material fabricado nas fábricas dos dois

programas é utilizado pelo Ministério do Esporte para a distribuição em núcleos dos

programas Segundo Tempo e Esporte e Lazer na Cidade e em escolas e entidades

sociais do Brasil e do exterior.

Bolas com Guizo possibilitam a prática do futebol a jogadores com deficiência

visual - na unidade de Feira de Santana (BA), com apoio do Ministério do

Esporte, foram produzidas bolas de futebol para cegos. Este material é

distribuído para entidades do Brasil e do exterior.

Pintando no Exterior – A partir da ação cooperativa internacional, parceiros do

governo brasileiro, são distribuídos equipamentos esportivos produzidos pelos

detentos do Programa Pintando a Liberdade.

Fábrica de xadrez do Pintando a Cidadania – fabricação de tabuleiro e peças de

xadrez do Governo Federal. A unidade funciona no município de Conceição de

Jacuípe (BA) em parceria com a prefeitura municipal. O material é fabricado com

uso de material reciclado por pessoas em situação de risco social. Os kits são

repassados para escolas públicas de todo o Brasil e para programas sociais do

Ministério do Esporte.

Programas e projetos da Secretaria Nacional de Alto Rendimento

Centro de Iniciação ao Esporte – CIE – tem como objetivo ampliar a oferta de

infraestrutura de equipamento público esportivo qualificado, incentivando a

iniciação esportiva em territórios de vulnerabilidade social das grandes cidades

brasileiras. Este centro faz parte da segunda etapa do Programa de Aceleração

do Crescimento - PAC 2.

Programa Bolsa Atleta - Desde o ano de 2005, o governo brasileiro beneficia

atletas de alto rendimento que obtêm bons resultados em competições nacionais

e internacionais. O programa Bolsa Atleta patrocina de forma individual

independente de sua situação econômica e sem necessidade de intermediários.

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A partir de 2012 com a Lei N. 12.395/11, é permitido que o candidato ao bolsa

atleta tenha outros patrocínios.

O Programa conta com as seguintes categorias de bolsa: Atleta de Base,

Estudantil, Nacional, Internacional e Olímpico/Paralímpico. No entanto, para os

atletas com reais possibilidades de medalhas nos Jogos Rio 2016, o Ministério do

Esporte estabeleceu a categoria Atleta Pódio, conforme a legislação mencionada

anteriormente.

Plano Brasil de Medalhas – foi lançado em setembro de 2012, com o objetivo de

colocar o Brasil entre os 10 primeiros países nos Jogos Olímpicos e entre os

cinco primeiros nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. O plano

também tem como objetivo formar novas gerações de atletas das modalidades e

estruturar centros de treinamentos que atendam às equipes principais do alto

rendimento como também os atletas de categorias de base. O financiamento

abrange desde o apoio a seleções, contratação de técnicos e equipes

multidisciplinares, aquisição de equipamentos e materiais para viagens de

treinamentos e competições; construção, reforma e equipagem de centros de

treinamento de diferentes modalidades e complexos multiesportivos.

Programa Brasil Voluntário - foi criado para atender à Copa das Confederações

da FIFA Brasil 2013 e a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014.

A atuação dos voluntários é integrada com o programa de voluntariado da

FIFA e funciona como uma ampla rede de mobilização, que atua em pontos de

mobilidade, aeroportos, eventos de exibição pública, áreas de fluxo, entorno dos

estádios e centros abertos de mídia, nas cidades-sede.

O calendário e ações esportivas de esfera nacional estavam assim definidos:

Rio 2016, Nanquim 2014, Jogos dos Povos Indígenas, Jogos Escolares e Futebol

Feminino. O calendário tem a finalidade de não ocorrer superposição de eventos

importantes em datas e locais coincidentes. Esse calendário apresenta um conjunto

de informações sobre eventos nacionais e internacionais de diferentes modalidades.

Os jogos militares estiveram no calendário de eventos no ano de 2011.

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Quanto ao evento Rio 2016, há um Plano de Políticas Públicas, elaborado

em conjunto com o governo federal, estadual e municipal sob a coordenação do

Comitê Organizador dos Jogos, que define as obrigações dos seus signatários para

organização e realização do evento, de acordo com as obrigações assumidas frente

ao Comitê Olímpico Internacional.

Os Jogos Escolares foram criados em 1969, passando ao longo do tempo

por mudanças, inclusive de nomenclatura. O evento integra atletas escolares da

rede pública e privada do país. Para participar do evento é necessário passar por

seletivas municipais, estaduais e posteriormente nacionais.

A Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor é

responsável por várias ações que irão contribuir para o melhoramento do futebol

como um todo no Brasil. Nesta secretaria, estão vinculados os programas e projetos

voltados para a Copa 2014, Futebol Feminino, Timemania (Loteria criada pelo

Governo Federal com objetivo de injetar na receita dos clubes de futebol, na qual

serão utilizados os brasões dos clubes no lugar dos números. Em troca de cedência

de suas marcas, os clubes receberão 22% da arrecadação da loteria e destinarão os

valores para quitarem dívidas com a União em FGTS – Fundo de Garantia por

Tempo de Serviço, INSS – Instituto Nacional do Seguro Social e Receita Federal.

O Programa Torcida Legal (para a prevenção da violência nos estádios

esportivos), com vistas à melhoria das condições de segurança e o conforto do

público nos estádios de futebol brasileiros. Este programa surgiu com o diálogo entre

o Ministério do Esporte, Ministério da Justiça, Confederação Brasileira de Futebol

(CBF), Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Conselho Nacional dos Procuradores

Gerais do Ministério Público dos Estados e da União (CNPG).

Tomando como referência a relação de uma política pública intersetorial um

dos programas que se constata nas cidades, atualmente, é a academia pública. De

acordo com o site oficial do Ministério da Saúde, o Programa “Academia da Saúde”

foi lançado em 2011. Busca estimular a criação de espaços públicos adequados

para a prática de atividades físicas e de lazer. O objetivo deste Programa é contribuir

para a promoção da saúde da população11.

À medida que se discute sobre o aumento da expectativa de vida e sua

relação com a melhoria da qualidade de vida da população. Além disso, com o

11

Cf. Portal da Saúde. Disponível em: <www.saude.gov.br>.

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entendimento de uma dimensão ampla da saúde e também com a preocupação para

um melhor aproveitamento do tempo livre, atrelada às compreensões do esporte, as

quais são importantes por serem consideradas numa dimensão mais ampla,

inclusive com a preocupação voltada para o esporte como forma de lazer para a

população e com condições que concatenam com a promoção da saúde e, portanto,

com o interesse nas políticas públicas voltadas para o esporte e lazer é que neste

estudo, se tem a preocupação de compreender o lugar do esporte e lazer na política

urbana.

O esporte e o lazer como práticas sociais estão também vinculadas à saúde,

traduzidas em políticas / ações conjuntas entre o Ministério do Esporte e da Saúde,

desenvolvidas desde o ano de 2003, focadas para a saúde da população. Nesta

perspectiva, o debate com o esporte e o lazer está incorporado e articulado a outros

Ministérios e outras Instituições.

A Política Nacional de Esporte incorporando as questões ligadas ao lazer é

um resultado das Conferências Nacionais de Esporte e Lazer com significativos

reflexos no contexto brasileiro, com vistas a sua universalização. Contudo, as

políticas públicas de lazer estão baseadas no princípio da intersetorialidade,

abrangendo diferentes áreas sociais, com ênfase no bem-estar do cidadão. Nessa

perspectiva, na formulação de políticas públicas na área do lazer, são aqui

entendidas para além de uma visão funcionalista, não sendo mantenedora da

situação social vigente, nem servindo como válvula de escape das tensões

vivenciadas no cotidiano, como também, não transformando os bens culturais da

sociedade em mercadorias.

Numa dimensão crítica, e reconhecendo a abrangência para o

desenvolvimento de políticas de lazer, Marcellino (2008, p. 24) propõe:

[...] entendimento amplo do lazer, em termos de conteúdo, pela consideração do seu duplo aspecto educativo, suas possibilidades enquanto instrumento de mobilização e participação cultural, as barreiras socioculturais verificadas, e, por outro lado, pelos limites da administração municipal e a necessidade de fixação de prioridades, a partir da análise da situação.

Na concepção de Bramante (2006), o lazer é tratado de forma insipiente nas

políticas públicas em esfera federal, no âmbito das questões de moradia, habitação

e revitalização de áreas centrais urbanas. Para o autor, o lugar do lazer na vida

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humana e nas políticas públicas municipais é entendido na sua transversalidade,

com diferentes áreas, ou seja, não só com a educação e a cultura, de forma

sustentável e no campo da política de Estado, porém ainda a ser implementada.

Sendo assim, através de políticas intersetoriais, é possível que se atenda um maior

número de demandas sociais, como também, a adoção da intersetorialidade

possibilitará a articulação de políticas de saúde, educação, esporte, meio ambiente e

lazer de maneira mais veemente.

Várias questões podem ser destacadas sob o ponto de vista sobre a

importância da democratização do acesso ao esporte e lazer, mesmo reconhecendo

as condições de desigualdades sociais do Brasil, contudo entendê-los e qualificá-los

de forma que devam ser valorizados nas políticas urbanas porque contribuem para a

qualidade de vida e para a vida em sociedade. Segundo Motta e Terra (2011), o

esporte, no contexto do lazer deve ser compreendido como fenômeno social de

características universais, como forma de cultura, uma vez que reflete para um

entendimento de valores sociais.

Entretanto, constatou-se uma gama de ações, programas e projetos criados

pelo Ministério do Esporte, com o foco no esporte e lazer. Porém, a nossa

preocupação não se dá apenas nas suas existências, mas com a sua transposição

do nível documental para a sua implementação, com o seu fortalecimento e

continuidade, com a consolidação de metas e objetivos, sua execução nas

diferentes esferas, seu acompanhamento técnico-operacional e financeiro, sua

compreensão em relação a seus aportes teórico-práticos, além de ser entendido

como Política de Estado e não de Governo, entre outros aspectos que comprovam

que o efetivo acesso às políticas públicas urbanas é uma imprescindível função

social das cidades.

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CAPÍTULO 5 – O ESPORTE E LAZER NAS POLÍTICAS URBANAS BRASILEIRAS

5.1 Dinâmica espacial e a questão urbana

No início da década de 1970, Lefebvre afirmava que definir-se espaço

vinculando como uma condição ou instrumento para a produção, a troca e o

consumo e/ou como um objeto ou conjunto de objetos era entendê-los de forma

restrita, e ainda que o modo de produção capitalista muda a relação entre o espaço

e a cidade tradicional.

A cidade tradicional tinha, entre outras, essa função de consumo, complementar à produção. Mas a situação mudou: o modo de produção capitalista deve se defender num front muito mais amplo, mais diversificado e mais complexo, a saber: a reprodução das relações de produção que não coincide mais com a reprodução dos meios de produção; ela se efetua através da cotidianidade, através dos lazeres e da cultura, através da escola e da universidade, através das extensões e proliferações da cidade antiga, ou seja, através do espaço inteiro (LEFEBVRE, 2008, p. 7).

Ao falar de espaço, Lefebvre (2008) também o relaciona ao tempo, pois,

para o autor, no mundo das mercadorias, o consumidor não compra somente um

espaço mais ou menos povoado com signos de prestígios e hierarquia social, pois o

consumidor adquire uma distância, a que inclui sua habitação aos lugares, que

denomina centros, sejam de comércio, de lazer, de cultura, de trabalho, de decisão.

Além disso, Lefebvre (2008) assevera que o tempo é fragmentado, considerando o

tempo de trabalho, de consumo, de lazer, de percurso, entre outros. Ele defende que

“o direito à cidade é um movimento em direção à constituição de uma democracia

concreta, que implica a constituição ou reconstituição de uma unidade espaço-

temporal” (LEFEBVRE, 1999, p. 126, b). O autor complementa que esse direito, não

se dá de forma natural, nem contratual. O direito à cidade se apresenta como forma

superior dos direitos: direito à liberdade, à individualização na socialização, ao

habitat e ao habitar (LEFEBVRE, 2001).

Lefebvre (2008) afirma que, numa visão positivista, é o direito dos cidadãos

e dos grupos aos quais pertencem figurar sobre todas as redes e circuitos de

comunicação, de informação, de trocas, dependendo de uma qualidade ou

propriedade essencial do espaço urbano, chamada de centralidade. Entretanto, a

crise dos centros se estabeleceu com a segregação. “O direito à cidade legítima,

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recusa de se deixar afastar da realidade urbana por uma organização

discriminatória, segregadora” (LEFEBVRE, 2008, p. 32). De acordo com o autor, o

direito à cidade remete ao direito de encontro e de reunião. Lugares e objetos devem

estar relacionados às necessidades, que, de forma geral, são pouco conhecidas e

há certas funções que são menosprezadas. Para ele, as necessidades

transfuncionais são: a necessidade de vida social e de um centro, a necessidade e a

função lúdicas, a função simbólica do espaço.

Ao tratar das necessidades sociais do ponto de vista antropológico, opostos,

mas complementares, Lefebvre (2001, p.103) elucida que:

Compreendem a necessidade de segurança, a de abertura, a necessidade de certeza e a necessidade de aventura, a necessidade da organização do trabalho e a do jogo, as necessidades de previsibilidade e do imprevisto, de unidade e de diferença, de isolamento e de encontro, de trocas e de investimentos, de independência (e mesmo de solidão) e de comunicação, de imediaticidade e de perspectiva a longo prazo. O ser humano tem, também, necessidade de acumular energias e a necessidade de gastá-las, e mesmo de desperdiçá-la no jogo. Tem necessidade de ver, de ouvir, de tocar, de degustar, e a necessidade de reunir essas percepções num “mundo”.

Ademais, para o autor, há necessidades especificas que não satisfazem os

equipamentos comerciais e culturais. Trata-se da necessidade de uma atividade

criadora, de obra (e não somente de produtos e de bens materiais de consumo),

necessidades e informação, de simbolismo, de imaginário, de atividades lúdicas.

Neste sentido, para Lefebvre (2001), através dessas necessidades há um desejo

fundamental, do qual o jogo, a sexualidade, os atos corporais, como esporte, a

atividade criadora, a arte e o conhecimento podem superar a divisão, em parte, dos

trabalhadores.

“O direito à cidade é a constituição ou reconstituição de uma unidade

espaço-temporal, de uma reunião, no lugar de uma fragmentação” (LEFEBVRE,

2008, p. 32). Para ele, o mental e o social se reencontram na prática: no espaço

concebido e vivido. Quanto aos espaços de lazeres, para o autor são dissociados da

produção, parecendo independentes do trabalho e do tempo livre, como nas cidades

novas. Porém, esses espaços estão ligados aos setores de trabalho no consumo

organizado. Por outro lado, a problemática urbana, para Lefebvre (2008), dá-se a

partir do crescimento quantitativo da produção econômica. A cidade ocupa um

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espaço bem diferente do espaço rural e a ligação entre esses espaços depende do

modo de produção e, através dele, da divisão do trabalho na sociedade. O espaço

da cidade não é apenas organizado e instituído; é modelado, adequado por

determinado grupo.

Para Catão (2015, p. 103), “a cidade é lugar de concentração da vida social,

econômica, política e cultural”. Ademais, “a falta de planejamento acarreta sérias

repercussões nos campos sanitário, ambiental, econômico e, especialmente, social“

(CATÃO, 2015, p. 1). O autor ressalta que há diversificadas formas de apropriação

dos espaços para diferentes atividades e usos, inserindo a divisão social e territorial

do trabalho, que possibilita entender a cidade e o campo. Segundo Marx (1987, p.

3), faz-se necessário enfocar os elementos que expressam a realidade material da

sociedade, a exemplo, da divisão de trabalho, a partir de uma perspectiva de

“processos de produção, circulação, troca e consumo”.

Lefebvre (2008), ao tratar de desenvolvimento social qualitativo, esclarece

que o desenvolvimento e o crescimento não coincidem, pois o crescimento não leva

automaticamente ao desenvolvimento. Em relação ao desenvolvimento, afirma que

“não há criação de formas sociais e de relações sociais sem criação de um espaço

apropriado” (LEFEBVRE, 2008, p. 161). Todavia, para Lefebvre (2001), a

experiência prática mostra que pode haver crescimento sem desenvolvimento social,

e que o desenvolvimento da sociedade só pode ser entendido na vida urbana pela

realização da sociedade urbana. Contudo, a realização da sociedade urbana exige

uma planificação com vistas às necessidades sociais, mas é preciso uma força

social e política.

De outro modo, em relação ao ponto de vista sobre espaço e o processo

social, Bernardes (1986, p. 83) afirma que “a ação do poder público, por se realizar,

necessariamente sobre uma porção do território, contribui, de modo decisivo, para

alterar a estruturação do espaço”. Esta intervenção no processo de urbanização

ocorre em todas as escalas e tem implicações espaciais que podem ser intensivas

ou pontuais, gerando mudanças na estruturação espacial, tanto em escala regional

como nacional. O espaço é a expressão dos processos econômico e sociais que

atuam sobre determinado território e as políticas públicas integram esses processos;

exercendo importante papel na organização social resultante desse processo, como

também integra a dinâmica do processo social, da qual resultam a organização do

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território e configurações espaciais específicas. Configurações espaciais que

correspondem às diferentes formas de organização social no decorrer desse

processo e são, ao longo do tempo, modificadas, tanto pelos vários agentes que

nelas interferem quanto por seu próprio dinamismo interno, como afirma Bernardes

(1986).

Segundo Castells (1983), o espaço urbano é estruturado, pois ele não está

organizado aleatoriamente, e os processos sociais que se ligam ao espaço

exprimem, ao especificá-los, os determinismos de cada tipo e de cada período de

organização social. Todavia, reconhece-se que a dimensão espacial é inerente a

qualquer política pública e que não pode ser ignorada, sejam quais forem os

objetivos de um governo, por se considerar que a sociedade e espaço são

indissociáveis e que a política pública se consolida, além de outras condições,

independentemente de um governo no poder. Contudo, destaca-se o papel

desempenhado pelo governo central como indutor da urbanização, a partir da

Revolução de 1930 e sua acentuação nas décadas seguintes, em especial, como o

apoio à expansão do setor industrial e à modernização da agricultura, sendo

assinaladas nas análises sobre o impacto crescente da urbanização, no processo de

configuração do espaço brasileiro. Na economia brasileira, embora o processo de

industrialização tenha sido iniciado desde a década de 30 do século XX, e tenha tido

um marcante desenvolvimento a partir dos anos 1950, iniciando inclusive a produção

de alguns bens de consumo duráveis, em meados de 1970 é que se constatou

crescimento expressivo da indústria de bens duráveis, em conjunto com o

progressivo processo de industrialização da produção do setor primário e expansão,

em diversidade e volume, na produção de bens de consumo não duráveis, como

explica Oliveira (1979).

Orientadas pelas prioridades políticas, pelos objetivos econômicos e

interesses do novo aparelho estatal, as políticas setoriais multiplicaram-se na

segunda metade de 1960. Entretanto, não eram pensadas levando em conta o seu

impacto na configuração do espaço, em termos nacionais e locais, e permaneceram

desvinculadas entre si. Além disso, a centralização das decisões do Governo

Federal não significaria que todas as políticas emanariam de um único centro de

decisões.

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Para desencadear as discussões sobre o panorama da questão urbana no

cenário brasileiro, e, de forma específica, o lugar do esporte e lazer na política

urbana de Campina Grande – PB, com base na Lei Orgânica, Plano Diretor, bem

como na pesquisa de campo, reconhecendo que os indivíduos, as pessoas, são os

habitantes das cidades, iniciou-se o estudo com a discussão sobre o corpo, e ainda

por considerar que as complexidades da problemática urbana convergem ao

elemento social, o ser humano. Diante desta perspectiva, apresenta-se uma breve

discussão da questão urbana brasileira, a partir da Primeira República e no período

Vargas. Além disso, trata-se de diferentes padrões e tipologias de planejamento

urbano.

Castells (1983) afirma que o campo da política urbana remete ao político, à

política, ao urbano. O político determina a instância pela qual uma sociedade trata

as contradições e defasagens das diferentes instâncias que a compõem, e reproduz

as leis estruturais estendendo-se e garantindo a realização dos interesses da classe

social dominante. A política designa o sistema de relação de poder. O campo teórico

do conceito de poder é o das relações de classes. Segundo Castells (1983), o

estudo da política urbana se decompõe na planificação urbana e os movimentos

sociais urbanos. Para o autor a planificação é:

intervenção do político sobre a articulação específica das diferentes instâncias de uma formação social no âmago de uma unidade coletiva de reprodução da força de trabalho, com a finalidade de assegurar sua reprodução ampliada, de regular as contradições não antagônicas, assegurando assim os interesses da classe social no conjunto da formação social e a reorganização do sistema urbano, de forma a garantir a reprodução estrutural do modo de produção dominante (CASTELLS, 1983, p. 376-377).

Assim sendo, Castells (1983), ao levantar a problemática da política urbana,

refere-se ao eixo da política, do político e do urbano, para que, através do

planejamento e da mobilização social, expressa sob a forma de movimentos sociais,

possam intervir no sistema urbano, através da reprodução da força do trabalho, de

modo a garantir os interesses da classe social e o modo de produção dominante.

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5.2 Planejamento urbano em debate

Souza (2004) enfoca algumas tipologias de planejamento urbano, tais como:

planejamento físico-territorial, planejamento sistêmico, mercadófilo, novo urbanismo,

ecológico, colaborativo, Rawbsiano, reformista e autonomista.

Planejamento físico-territorial – seu objetivo central é a modernização da cidade,

como também está ligado à ordem e à racionalidade. É um planejamento voltado

para a organização do espaço.

O planejamento físico-territorial é visto como a atividade de elaboração de

planos de ordenamento espacial para a “cidade ideal”. “Trata-se de planos nos quais

se projeta a imagem desejada em um futuro menos ou mais remoto” (SOUZA, 2004,

p. 123). O plano funciona como um conjunto de diretrizes a serem seguidas e metas

a serem alcançadas.

O planejamento territorial desenvolveu-se nos chamados “trinta anos

gloriosos”, tendo repercussões na América Latina, com as atividades da CEPAL –

Comissão Econômica para América Latina. No Brasil, Celso Furtado buscou colocar

em prática sua proposta técnica de planejamento para o desenvolvimento do

Nordeste durante os governos de Juscelino, Jânio e Jango, posteriormente, ainda

sobre a égide do Estado interventor, durante o regime militar, iniciou-se a elaboração

da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU), integrante do II PND -

Plano de Desenvolvimento de 1973, período em que o planejamento urbano

conheceu sua fase de maior desenvolvimento.

A partir dos meados dos anos 1940, tendo em vista a garantia do direito à

moradia, fruto de reivindicação através das lutas sociais e efetivamente perseguida

pelas políticas públicas, exigia a mudança da base fundiária, entre outras medidas.

De acordo com Massiah (1996), para assegurá-la, os países capitalistas centrais

realizaram uma “reforma urbana” embasada na reforma fundiária, extensão das

infraestruturas urbanas para atender às necessidades de produção em massa, de

moradias e financiamento subsidiado.

Para Marcuse (1997), com as mudanças urbanas e urbanísticas, há menos

mobilidade social, maior concentração de poder privado e maior segregação. O

autor ainda busca desmistificar a questão do avanço tecnológico que, ao invés de

prejudicar os trabalhadores com o desemprego ou a precarização do trabalho,

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poderia lhes trazer benefícios, ampliando o tempo de lazer e qualidade de vida,

através do barateamento dos produtos.

O referencial político-filosófico na maioria dos casos baseado no

planejamento regulatório identifica-se com o Welfare State Keynesiano ou com o

Estado forte e intervencionista. O planejamento regulatório clássico, entre os anos

1950 e 1960, denominados de anos gloriosos, situa-se entre o fim da Segunda

Guerra Mundial e os anos 1970, tendo bases intelectuais desde os anos 1940.

O planejamento regulatório clássico compreende:

o planejamento físico territorial;

planejamento sistêmico (surge nos anos 1960) com foco central na modernização

da cidade. É considerado um pressuposto implícito e essencial, tendo também

uma identificação com o Estado forte e intervencionista.

O ideário do urbanismo desponta já antes mesmo dos anos 1920, cujo

expoente foi Le Corbusier. O modernismo foi o resultado de uma tentativa de melhor

adaptar as cidades à era industrial, e, por conseguinte, às necessidades do

capitalismo. A difusão do ordenamento de uso de terra foi pautada na separação

funcional, com toda a influência do ideário do movimento moderno, especialment, a

partir da Carta de Atenas. A Carta de Atenas (1933) surgiu como proposta de

recuperar os espaços urbanos, indicando um sentido mais humano dentro da

relação espaços-pessoas, relação esta que se apoiou em atividades relativas aos

conteúdos de lazer, considerando o espaço público e o espaço privado, renovando

valores e significados de muita importância (STUCCHI, 2001, p. 106).

O documento final elaborado por Le Corbusier, fruto das discussões,

estabelece o conceito de urbanismo moderno, traçando diretrizes e princípios

internacionais. A Carta considerava a cidade como um organismo a ser concebido

de modo funcional, com vistas às necessidades do ser humano. Dessa maneira,

preconiza a separação das áreas residenciais, de lazer e de trabalho, propondo, em

lugar do caráter e da densidade das cidades tradicionais, uma cidade, na qual os

edifícios se desenvolvem em altura e investido em áreas verdes, por esse motivo,

pouco densas. A Carta de Atenas (1933) exige construções altas, distantes uma das

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outras, isoladas no verde e na luz, sendo as torres e as marquises símbolos da

perspectiva higienista.

De acordo com Le Corbusier, o homem é a soma das constantes de

natureza psíquica, social e fisiológica sendo reconhecidas por pessoas de áreas

diferentes, sejam da Biologia, Medicina, Física, Química, Sociologia e também por

poetas. Para ele, os homens têm o mesmo organismo, mesmas funções e, por

conseguinte, mesmas necessidades. Sendo assim, define o “homem-tipo”. Esta

imagem é que inspira a Carta de Atenas, atribuindo as funções de trabalhar,

locomover-se, cultivar o corpo e o espírito, bem como atender às necessidades

humanas, como assevera Choay (1979).

Conforme Choay (1979), a cidade, para Le Corbusier, deve ser colocada a

serviço da eficácia e da estética, manifestando-se importância com a saúde e a

higiene. As zonas de trabalho são separadas das zonas de habitações e estas dos

centros administrativos ou dos locais de lazer, e ainda ressalta que ele defendia uma

cidade vertical, com as áreas divididas de acordo com sua funcionalidade, com o

solo livre, mas que a cidade inteira fosse vista como um parque.

Contrariando o pensamento de Le Corbusier (1989), Lefebvre (1999b)

ressalta que a rua não é só um lugar de passagem e circulação, mas um lugar de

encontro, de movimento, de mistura. O autor ainda afirma que, quando se suprimiu a

rua, consequentemente, houve a extinção da vida, redução da cidade à cidade

dormitório. “A rua contém as funções negligenciadas por Le Corbusier: a função

informativa, a função simbólica, a função lúdica” (LEFEBVRE, 1999b, p. 30). O autor

ainda afirma que a rua perdeu o sentido de encontro, sendo “[...] uma transição

obrigatória entre o trabalho forçado, os lazeres programados e a habitação como

lugar de consumo” (LEFEBVRE, 1999b, p. 31). Desta forma, a rua transformou-se

em rede organizada pelo / para o consumo. Para Lefebvre (1999b, p. 93), “não

existem lugares de lazer, de festa, de saber, de transmissão oral ou escrita, de

invenção, de criação, sem centralidade”.

Le Corbusier planejou, nos anos 1920, uma cidade imaginária composta

principalmente de arranha-céus dentro de um parque. Desta maneira, 95% do solo

ficariam livres e 5% ocupados pelos arranha-céus. As pessoas de alta renda ficariam

na moradia mais baixas e de luxo, ao redor de pátios, com 85% de área livre e, de

forma esparsa, ficariam restaurantes e teatros. Neste contexto, os espaços podem

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ser os prolongamentos diretos ou indiretos da moradia. Diretos se cercam a própria

habitação, indiretos se estão concentrados em algumas grandes superfícies menos

imediatamente próximas. Em ambos os casos, sua destinação será a mesma:

acolher as atividades coletivas da população, propiciar um espaço favorável às

distrações, aos passeios e aos jogos nas horas de lazer (LE CORBUSIER, 1989b, p.

30). Porém, a intenção deste estudo, não pretende reforçar a ideia de que o esporte

e o lazer concretizem-se apenas numa cidade que se configure segundo a

concepção de Le Corbusier.

Para Jacobs (2011), Le Corbusier planejava não apenas um ambiente físico,

mas também uma utopia social. Ademais, segundo a autora, a cidade dos sonhos de

Le Corbusier exerceu grande influência em nossas cidades. É importante destacar

que, conforme Jacobs (2011), ele manteve os pedestres fora das ruas e dentro dos

parques. Em contrapartida, a referida socióloga ressalta os prejuízos do urbanismo e

da renovação urbana nos Estados Unidos, uma vez que explica que o abandono da

rua causa o desaparecimento das principais vantagens da vida urbana: segurança,

contato, formação das crianças, diversidade das relações etc.

O Planejamento Sistêmico - o debate gira em torno da natureza da realidade, das

prioridades do planejamento ou dos problemas concretos a serem superados, mas

com a preocupação voltada em torno dos procedimentos.

O Planejamento Mercadófilo - caracteriza-se por lidar com os interesses

empresariais, trazendo crescimento econômico, com vistas que a cidade se

sobressaia em relação às outras cidades. Para Souza (2004), caracteriza-se a

“competição interurbana”, e, por conseguinte, trazendo melhorias coletivas como a

geração de empregos e maior circulação de riquezas. Esse tipo de planejamento,

segundo o referido autor, não é voltado para a realização de intervenção propagada

em uma análise profunda da realidade social e espacial, mas à captação e

decodificação de sinais emitidos pelo mercado, a partir de uma demanda existente,

relativas aos interesses do capital imobiliário e outros segmentos dominantes.

Privilegia-se o setor empresarial e suas necessidades, tornando a cidade

economicamente mais competitiva, e seu objetivo central é a modernização da

cidade.

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O New Urbanismo - O new urbanismo surgiu nos Estados Unidos no final da década

de 1980 – tem o intuito de reintegrar os componentes da vida moderna, como:

habitação, local de trabalho, fazer compras e recreação em bairros de uso misto,

compostos, adaptados aos pedestres, unidos por sistema de tráfego. O autor ainda

ressalta que não se desconsidera totalmente a modernização da cidade como valor

básico da cidade de forma implícita, muito embora se abandone a estética

modernista e se rompa com a grande parte do ideário do movimento moderno. O

New Urbanismo tem como objetivo principal a compatibilização do crescimento e da

modernização da cidade com a preservação de valores comunitários e da escala

humana.

Desenvolvimento urbano sustentável e planejamento ecológico – pauta-se na

modernização com sustentabilidade ecológica das cidades. Ademais, a filiação

estética não desempenha qualquer papel e seu escopo não é restrito ao

planejamento físico-territorial.

Planejamento comunicativo / colaborativo - está baseado na corrente filosófica de

Jürgen Habermas. Procura da razão e do agir comunicativos. Sua ideia principal

está pautada no consenso entre grupos sociais distintos. Seu referencial político-

filosófico está baseado na defesa do Estado de Bem-Estar nas marcas de um

ideário social democrático ou “liberal de esquerda”.

Planejamento Rawbsiano – defendido por Mc Connel (1995), tendo como

pressuposto filosófico Rawels (1972), a partir da teoria da justiça. Segundo Mc

Connel (1995), levam-se em conta as necessidades dos grupos sociais

desprivilegiados e deveria ser a prioridade para os planejamentos urbanos, do ponto

de vista ético. Seu modelo está baseado na prática, como uma espécie de Estado

de Bem-Estar aprimorado nos marcos econômicos do capitalismo e nos marcos

políticos de uma variante sociodemocrática.

Planejamento e Gestão Urbana Social Reformista - Entre os meados do fim da

década de 1980 é que amadureceu a concepção progressista da reforma urbana,

sendo caracterizada como um conjunto articulado de políticas públicas, de caráter

redistributivista e universalista, voltado para reduzir os níveis de injustiça social no

meio urbano e promover uma maior democratização do planejamento e gestão das

cidades. Seu objetivo central é a justiça social.

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Planejamento e Gestão Urbana Autonomista - o seu foco é a autonomia individual e

coletiva. A legitimidade do planejamento e da gestão é atrelada à participação dos

envolvidos nos marcos de uma igualdade efetiva de oportunidades de participação

nos processos decisórios, exemplo: parceria, delegação de poder e autogestão. O

seu referencial político-filosófico está baseado numa sociedade autônoma.

De acordo com Villaça (1999), no Brasil, entre 1875 e 1906, os planos de

obras urbanas estavam voltados especialmente para o melhoramento e

embelezamento das cidades. O autor afirma ainda que, nas décadas de 1930 e

1940, foi possível ver a implantação de planos de embelezamento, com a

preocupação com a infraestrutura urbana, principalmente circulação e saneamento.

Com inspiração europeia e mais fortemente francesa, com foco no embelezamento,

nasceu o planejamento urbano no Brasil (VILLAÇA, 1999). Segundo Maricato

(2000), a partir de 1930, os conceitos de melhoramento e embelezamento começam

a se modificar e que a cidade de produção precisa ser eficaz. Porém, os planos

passam a não ser mais cumpridos e os problemas urbanos ganham novas

dimensões. A autora assevera que, para desvencilhar dos desprestígios dos planos

não implantados, as denominações variavam: Plano Diretor, Planejamento

Integrado, Plano Urbanístico Básico, Plano Municipal de Desenvolvimento, entre

outros. Nos anos 1960, foram produzidos alguns superplanos, contendo diretrizes e

recomendações para diversos níveis de governo.

O planejamento modernista tem suas raízes no Iluminismo, ganhou

especificidades nos anos do Welfare State – 1945 a 1975. O Estado voltado para a

legislação do trabalho, com políticas que asseguram a elevação do padrão de vida.

O período foi marcado por um grande crescimento econômico e por uma significativa

distribuição de renda e nas políticas sociais. Da influência Keysiana e fordista, o

planejamento incorporou o Estado como a figura central para garantir o equilíbrio

econômico e social e um mercado de massa.

A importância do planejamento urbano, nos anos 1970, provocou a

ampliação de órgãos públicos municipais de planejamento e ainda foi foco de muitos

intelectuais. Durante os anos 1970 e 1980, de acordo com Maricato (2000), até a

mesma produção acadêmica que fazia oposição ao regime militar, voltava-se mais

para a realidade dos Estados Unidos e da Europa do que no Brasil urbano que

crescia, comprometendo-se com o meio ambiente e condições de vida da maior

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parte da população. Ademais, o Fórum Nacional de Reforma Urbana foi um dos

responsáveis pela inclusão na Constituição de 1988 de algumas conquistas voltadas

à ampliação do direito à cidade. No entanto, segundo a referida autora, foi um

equívoco focar nas propostas formais legislativas, como se a principal causa da

exclusão social urbana decorresse da falta de novas leis ou novos instrumentos

urbanísticos para controlar o mercado, pois a maior parte da população ainda ficaria

fora do mercado ou sem segurança e sem um padrão mínimo de qualidade.

5.3 O urbano e instrumentos de intervenção: o caso brasileiro

O Urbano na Primeira República (1880 - 1930)

A herança escravista parece deixar marcas profundas no pensamento social,

ao longo da República Velha. Conforme Carvalho (1988), a herança escravista

determinava a tendência “racista” presente nas concepções que apontavam para a

inferioridade natural de nossa gente e para o “branqueamento” como tarefa

civilizatória, atendendo às necessidades geradas pela expansão do setor cafeeiro

que empreendem as práticas migratórias, principalmente voltadas para o

melhoramento da raça. Entretanto, outras correntes políticas buscavam novas

alternativas de pensar a formação do povo brasileiro.

Todos os discursos tendem, mais ou menos, a apresentar um país sem

“povo” ou melhor, uma sociedade organizada, organicamente constituída, capaz de,

por si, estabelecer dinâmicas constituidoras da nacionalidade. De acordo com

Pécaut (1990), na busca de alternativas para esta construção, os intelectuais

chamam para si a tarefa de organizadores da sociedade e de construtores da

nacionalidade. Todavia, para Lamounier (1985), essa condição só poderia se

materializar através da ação do Estado, constituindo-se, assim, uma ideologia de

Estado cuja principal marca é o “objetivismo tecnocrático”. Em contrapartida, o

ruralismo busca constituir a nação, por meio da essência rural, ou seja, projetando

no campo as bases fundamentais para a constituição da nação: a natureza e o ser

humano.

Tanto do ponto de vista das concepções de caráter racista quanto pela

perspectiva ruralista, no Brasil na Primeira República, as elites olham a população

das cidades como “classes perigosas” e a cidade como o lócus da desordem social

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e política e da improdutividade econômica. Neste sentido, o padrão de intervenções

urbanas nesse período se dá por intermédio dos denominados “planos de

melhoramento, embelezamento e expansão”, que não configuram exatamente o

modelo do plano urbanístico. Apenas, na década de 1920 tem início as discussões

sobre a necessidade de introdução do urbanismo no Brasil, a exemplo da reforma

urbana do Rio de Janeiro – Reforma Pereira Passos, que tinha o objetivo de produzir

uma nova imagem da cidade que, ao mesmo tempo, significasse uma nova imagem

de nação das novas elites, como Sevcenko (1983) afirma.

O Urbanismo no Período Vargas (1930 – 1950)

De acordo com Gomes (1982), durante o período populista, há uma nova

caracterização da sociedade. A pobreza deixa de ser concebida como inevitável e

útil, para ser formulada como obstáculo à modernização e à constituição da

nacionalidade. Por outro lado, o Estado Liberal é concebido como retrógrado, pois a

nação a ser produzida necessita da intervenção racional do poder, o que reforça a

ideia no objetivismo tecnocrático e, ainda, que o enfrentamento da pobreza deve ser

efetuado pelo Estado, através de uma política de valorização do trabalho como

forma de ascensão social e obrigação da cidadania.

No subperíodo do Estado Novo, ocorre a formulação de uma nova

concepção de Estado, como consequência da tematização da questão social. A

política social decorrente desta concepção tinha como orientação “[...] promover

modificações substanciais na capacidade produtiva dos trabalhadores” (GOMES,

1982, p. 156). Deste modo, a política social se traduzia nos anos seguintes em

campos de intervenção: no da previdência e assistência social, voltado para a

recuperação / manutenção da capacidade de trabalho, e no campo das condições

de vida dos trabalhadores. Nas representações das elites do Estado Novo, o

desenvolvimento de políticas sociais no campo do consumo habitacional tinha

sentido estratégico, pois aumentaria a capacidade de trabalho e produzia a paz

social pela preservação da família.

Para Kowarick (1988), parece estranho que nesse momento a cidade não

seja tematizada como objeto de uma intervenção modeladora de comportamentos,

pois, para ele, esta característica é uma decorrência do próprio pacto populista, na

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medida em que a não aplicação de normas urbanistas teria permitido a solução da

questão da moradia pelos próprios trabalhadores.

Para Ribeiro e Cardoso (1994), apesar da mudança de concepção da

questão social, referida anteriormente, o antiurbanismo continua presente nos meios

intelectuais e técnicos que elaboram as novas ideias das políticas sociais. Estes

autores afirmam que “o peso do antiurbanismo pode também ser explicado pelo fato

de, durante um largo período ainda, o regime se compor de um pacto entre setores

das classes dominantes onde as oligarquias regionais tinham um peso acentuado”

(RIBEIRO; CARDOSO, 1994, p. 83).

O pensamento em torno de Plano Diretor no Brasil versa a partir de 1930.

Nesse ano, foi publicado o Plano Agache, elaborado por um urbanista francês para o

Rio de Janeiro.

Planejamento Urbano no Período Vargas: o Padrão Higiênico-Funcional

Para Ribeiro e Cardoso (1994), o padrão higiênico-funcional reproduz o

discurso higienista e urbanístico dos países centrais desde o final do século XIX.

Contudo, desde o início do século, no Brasil, a nacionalidade e a modernização

impõem-se à reflexão sobre o social, pois o discurso de higiene e de funcionalidade

guarda muito mais um caráter modernizador e afinador da nacionalidade emergente

que propriamente de controle social. Deste modo, a possibilidade da modernização

se expressa nos planos de forma inclusiva. Ao considerar a cidade como um objeto

de sua intervenção, os planos expressam mecanismos de regulação que deveriam

influir decisivamente sobre as condições de vida das camadas populares, mesmo

considerando a ênfase nos aspectos relativos às reformas nos centros urbanos.

Entretanto, durante esse período, o padrão higiênico-funcional é desenvolvido,

principalmente, com o Plano Diretor do Rio de Janeiro, que exerce influência para

iniciativas por um espaço mais amplo.

O Urbano como Questão de Desenvolvimento

O objetivismo tecnocrático agora predomina na formulação da questão

urbana, a serviço do nacional-desenvolvimentismo. Assim sendo, o projeto de

constituição da nação desloca-se para o eixo econômico.

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Segundo as teorias sociológicas do desenvolvimento e as teorias da

marginalidade, cristaliza-se como concepção dualista da sociedade, ou seja,

oposição campo-cidade, e a posição no interior das cidades entre os integrados e os

marginais. Em contrapartida, assume-se que a constituição da nacionalidade deixa

de ser baseada numa essência rural para ser valorizada uma perspectiva

industrializante e modernizadora.

A partir do final dos anos 1970, há uma certa decadência do nacional-

desenvolvimentismo, oriunda da queda da modernização conservadora

empreendida, a partir de 1964, em implantar um modelo de desenvolvimento

inclusivo, nos moldes do fordismo europeu ou americano, onde ganhos de

produtividade crescentes permitem a extensão, a parcelas significativas da

população, das benesses do crescimento econômico, seja através do aumento dos

salários, seja através das garantias e suportes oferecidos pelo Estado do Bem-Estar.

Por outro lado, a modernização efetuada gerou um quadro significativo de tensões

sociais no campo da organização sindical e da mobilização em torno das condições

de vida, criando uma persistente disputa acerca dos benefícios gerados pela ação

do Estado.

Sob a ótica do pensamento social, a crítica ao ideário do nacional

desenvolvimentismo se afirma, tendo como eixo a emergência da questão social, no

campo da produção, como questão operária e no campo do consumo coletivo, como

questão urbana. Nesse período, a cidade foi tematizada, inicialmente, como um

problema econômico. Os reformadores colocam a problemática urbana como

questão de desenvolvimento. Contudo, a partir dos movimentos sociais na cidade, a

dimensão social passa a predominar na tematização da questão urbana. Além disso,

na medida em que o processo de urbanização passa a ser um dos elementos

fundamentais da modernização, o urbanismo é acionado como instrumento

importante na formulação de diagnóstico sobre os problemas urbanos.

O Padrão Tecnoburocrático Desenvolvimentista

Este padrão se constitui a partir das propostas de racionalização

administrativa desenvolvidas principalmente pelo plano americano e das ideias da

geografia humana, especialmente em sua vertente francesa. O padrão

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tecnoburocrático desenvolvimentista é caracterizado por assumir um problema

econômico, a ser objeto de um tratamento racionalizador e administrativo.

O conceito de cidade é ultrapassado pela ideia de “urbano” e de

urbanização, quando se pensa sobre os “problemas urbanos” em uma escala

regional ou nacional. Sendo assim, são formulados os conceitos de rede urbana,

hierarquias urbanas, sistemas de cidades. Outra característica desse padrão é que o

objeto da intervenção passa a ser o próprio poder, na medida em que as causas dos

problemas urbanos, segundo Ribeiro e Cardoso (1994), são: os entraves políticos da

gestão política da cidade e as insuficiências do desenvolvimento econômico. Nesse

padrão, a modernização e a centralização administrativas são os objetivos principais

da ação das políticas urbanas e o plano e o processo de planejamento cumprem um

papel de ordenadores e racionalizadores da ação pública sobre as cidades. Deste

modo, a política urbana é centralizada e constrói-se a ideia de um sistema nacional

de planejamento.

O Humanismo Lebretiano

Este padrão foi desenvolvido a partir da influência significativa exercida no

Brasil pelo padre Lebret, principalmente nos círculos católicos progressistas que

tentavam articular um movimento pela “democracia cristã”, nos anos 1950.

O padrão Humanismo Lebretiano caracteriza-se pela concepção humana na

formulação do diagnóstico e pela melhoria das condições de vida e tem como objeto

de intervenção a conscientização e a humanização da sociedade. A ênfase é

atribuída à questão social.

A Reforma Urbana Modernizadora

Este padrão trata de um abrangente diagnóstico sobre os problemas

urbanos e habitacionais. Caracteriza-se pela politização do diagnóstico

desenvolvimentista e seu objeto de intervenção é o espaço nacional, mediante as

políticas públicas centralizadas, racionalizadoras e redistributivistas, com ênfase na

problemática habitacional.

O tema do planejamento aparece como forma privilegiada de enfrentamento

dos problemas sociais, caracterizados como fruto da dependência do país em

relação ao imperialismo. Além disso, a adoção de um padrão planejado de

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intervenção pública sobre a questão social aparece associada a uma ampla visão

redistributivista.

A Reforma Urbana Redistributivista

Este padrão surge a partir do desenvolvimento de mobilização em torno da

apropriação dos benefícios da urbanização e da ação do Estado. O seu diagnóstico

está centrado nas desigualdades e nos direitos sociais e o seu objeto de

investigação é a propriedade privada da terra, o uso do solo urbano e a participação

direta das camadas populares na gestão da cidade. Este padrão traz para o centro

da discussão a questão social e suas repercussões não devem ser limitadas no

âmbito jurídico.

Aparentemente, o paradigma do planejamento que havia fundado os

padrões que buscavam constituir a sociedade como objeto da ação racional e que

tinha na razão as bases da sua legitimidade entra em declínio com a crise dos anos

1970. Segundo Topalov (1992), por outro lado, estaria em emergência o paradigma

ecológico. No entanto, para Ribeiro e Cardoso (1994), a questão ambiental significa

não um novo paradigma, mas novo padrão que se possa articular ao paradigma do

planejamento.

5.3.1 Primeiras iniciativas para a formalização de políticas urbanas

Na década de 1960, as questões urbanas e metropolitanas passaram a ser

objeto de atenção de vários setores do governo e, apesar de um governo centralista,

não havia um centro de decisões únicas, e muitas ações ocorriam de maneira

desencontrada. Além disso, não havia qualquer ênfase na coordenação das

intervenções federais no campo urbano e os órgãos voltados especialmente para

esses problemas atuavam de forma desordenada: o BNH – Banco Nacional de

Habitação, crescendo como agente financeiro coordenador de uma política de

poupança e empréstimo, e o SERFHAU – Serviço Federal de Habitação e

Urbanismo, assumindo iniciativas principalmente para a difusão do planejamento em

nível municipal. Na segunda metade da década de 1960, não se organizou uma

proposta explícita de política urbana nacional, mas, pela primeira vez, em nível do

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discurso oficial, foi reconhecida a necessidade de o governo central atuar

diretamente nas cidades, não apenas voltada para a questão de habitação.

O enfoque atribuído ao desenvolvimento urbano nesse período, no entanto,

em nível documental acerca de planejamento, em especial, no Plano Decenal

(BRASIL, 1967a), mostrou-se a necessidade de uma política específica que

transcendesse ao plano puramente local, e se constituiria da mesma forma, por

intermédio da inclusão, na Constituição de 1967, de um Artigo prevendo a instituição

de regiões metropolitanas. Entretanto, não havia da parte dos setores que

concentravam o poder de decisão o reconhecimento da necessidade de serem

coordenadas e ampliadas as ações em prol das cidades e regiões metropolitanas.

O BNH – Banco Nacional da Habitação e o SERFHAU – Serviço Federal de

Habitação e Urbanismo foram os primeiros instrumentos criados pós-64 visando ao

desenvolvimento urbano. Mas, apesar disso, algumas considerações devem ser

alinhadas, em especial, quanto à atuação do SERFHAU, uma vez que o BNH em

pouco tempo se tornou um órgão essencialmente setorial, indutor da produção de

habitações. O BNH, originado da necessidade de se promover o atendimento à

demanda habitacional, ao estruturar os mecanismos que iriam instrumentalizar sua

ação, consolidou-se, antes de tudo, como um banco, e sua atuação não se afastaria

de uma programação setorial.

Mas, com o desdobramento e ampliação do SFH - Sistema Financeiro da

Habitação, a partir da expansão da poupança popular, o BNH passou a

responsabilizar-se, já na década de 1970, das mais diversas formas de construção

imobiliária, além de incorporar novos programas, de saneamento básico, transportes

urbanos e outros. Tais programas formariam um banco de desenvolvimento urbano,

mas sua condição de órgão financeiro gestor de programas setoriais sempre

prevaleceria no comando de suas ações. A possibilidade de o BNH vir a se constituir

em um forte instrumento financeiro, liderando todo um sistema de poupança e

empréstimo, afastou o órgão de sua diretriz inicial. Desta forma, caberiam ao

SERFHAU as atribuições de órgãos preexistentes voltados para o problema

habitacional e o apoio aos municípios, e deveria orientar a programação habitacional

do governo e apoiar estados e municípios na gestão urbana.

O SERFHAU sofreu mudanças em dezembro de 1966, em relação aos seus

objetivos, através do Decreto N. 59.917, e passou a ter competência mais específica

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na elaboração e coordenação de políticas de planejamento local integrado.

Reduziram-se (ou extinguiram-se) as competências relativas à programação

habitacional que configuravam na lei de sua criação, mas fortaleceu-se o órgão com

a criação do Fundo de Desenvolvimento Local Integrado - FIPLAN. Esse novo

instrumento iria apoiar a expansão das ações do SERFHAU junto aos municípios,

através de financiamento da elaboração de planos e outros instrumentos formais do

planejamento municipal. Muito embora terem havido esforços para implantar o

sistema, o SERFHAU não teve como assumir a proposição e a implantação da

política de desenvolvimento local, sendo uma agência de financiamento voltada

principalmente para a elaboração de planos municipais. Porém, ressalta-se ainda

que o governo era eminentemente centralista.

Ao ser focalizado o problema urbano quando da elaboração do Plano

Decenal e, a seguir, do Programa Estratégico de Desenvolvimento (BRASIL, 1967b),

foi reconhecido que a formação de uma política de desenvolvimento urbano não

podia prescindir de uma ótica regional e de uma compreensão mais abrangente.

Todavia, já se preconizava a substituição do SERFHAU e do Serviço Nacional de

Assistência aos Municípios - SENAM por um órgão com maior poder de decisão, o

denominado “Instituto Nacional de Desenvolvimento Urbano e Local”, ao qual

caberia estudar e propor as bases para a formulação da política nacional de

desenvolvimento urbano e desenvolvimento local e coordenar a aplicação dessa

mesma política, com apoio em um fundo que financiaria, além da elaboração de

planos e projetos, a implementação de tais projetos. Estava explícita a necessidade

de um órgão que cuidasse do desenvolvimento urbano em geral, tendo como

instrumento básico um fundo de financiamento para a implementação de projetos

específicos.

Ao longo desse período, em que o SERFHAU se estruturou como órgão de

financiamento do desenvolvimento local, a necessidade de se definir uma “política

de desenvolvimento local integrado”, ou mesmo uma política de desenvolvimento

urbano, foi amplamente reconhecida, pela própria direção do órgão e por técnicos,

relacionados à questão, que atuavam em outras áreas do próprio governo na esfera

federal, como também na estadual.

Com atribuições específicas no tocante à problemática regional e às

migrações internas, fixadas pelo Decreto-Lei N. 200, o Ministério do Interior, ao qual

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se vinculavam o BNH e o SERFHAU, além das superintendências regionais,

procurou reformular sua ação no plano macrorregional e expandi-la na escala local e

microrregional para dar resolutividade aos problemas diagnosticados.

O Programa de Ação Concentrada - PAC, lançado pelo MINTER em 1969,

visava, essencialmente, a ordenar e sistematizar a atividade do SERFHAU como

agente financiador de planos, dando-lhe objetivos mais amplos, mas não propôs

qualquer esquema global que servisse de ponto de referência para os esforços

isolados de planejamento local. Contudo, como forma de mais facilmente

institucionalizar o planejamento local em todo o país, ou grande parte dele, destaca-

se a tentativa de difusão do planejamento integrado em nível microrregional, quando

a década de 1960 era uma das linhas de ação rejeitadas pelo SERFHAU.

No sentido de romper as limitações do órgão como agente financeiro e de

tornar mais efetiva a difusão do planejamento urbano, o SERFHAU se apoiou na

mobilização dos quadros técnicos do Brasil com a finalidade de promover o

planejamento urbano e de assegurar qualificação de recursos humanos para essa

tarefa. Desta feita, a linha de ação desenvolvida com vistas à institucionalização de

um Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano foi considerada destaque.

Expandiram-se as ações e tanto as superintendências regionais, subordinadas ao

mesmo Ministério, quanto os governos estaduais e as universidades foram

mobilizados, objetivando a elaboração de estudos e propostas de políticas estaduais

de desenvolvimento urbano. Cabia ao governo estadual institucionalizar o seu

Sistema Estadual de Desenvolvimento Urbano e Local, que deveria ser considerado

um subsistema da política de desenvolvimento do próprio estado e ao qual se

vinculariam o planejamento microrregional e o municipal.

Manipulava-se, a partir dessas mudanças, uma visão da necessidade de se

implantar uma política urbana nacional à qual se inseriam as políticas

macrorregionais e estaduais. Contudo, não foi firmada em nível do aparelho

governamental. Se era relativamente fácil indicar proposições para políticas

estaduais e prever a vinculação destas à política estadual de desenvolvimento, o

mesmo não ocorreria quanto à nacional. Neste sentido, a Política Nacional de

Desenvolvimento Urbano (PNDU) deveria focalizar o problema urbano em um outro

plano ou escala, que deveria ser inter-regional, ou não viria a ser uma política

nacional. A segunda questão deixada em aberto era em decorrência ao fato de que,

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203

se as políticas estaduais de planejamento urbano e local se integravam às políticas

estaduais de desenvolvimento, a formulação da PNDU e a criação do Sistema

Nacional de Desenvolvimento Local não poderiam estar desvinculadas do Sistema

Nacional de Planejamento e do modelo de desenvolvimento.

Paralelamente às ações do SERFHAU e das superintendências regionais

referentes ao desenvolvimento local ou microrregional, expandiu-se, no início dos

anos 1970, o interesse do Ministério do Planejamento (MINIPLAN) pela questão

urbana. Neste patamar, o foco de interesse do MINIPLAN pela problemática urbana

criaria uma acentuada disputa com o MINTER por esse campo de atuação que,

similarmente ao desenvolvimento regional, implicaria coordenação intersetorial e não

poderia prescindir de recursos especiais, de forma específica, para a solução de

problemas metropolitanos. Porém, a falta de uma proposta de política de

desenvolvimento urbano pelo MINTER deixou espaço para ação do MINIPLAN,

tendo em vista a evidência da necessidade de se vincularem os investimentos em

desenvolvimento urbano a uma diretriz de política pré-estabelecida. A diretriz que

viria a enquadrar a política urbana no modelo de desenvolvimento brasileiro foi

esquematizada em 1971 pelo I Plano Nacional de Desenvolvimento (PDN), que iria

propor a instituição das primeiras regiões metropolitanas no país, ou seja, a Grande

Rio e a Grande São Paulo, ao tratar da Política de Integração Nacional à qual se

vinculava ao desenvolvimento regional.

A criação de instrumento para a Política Nacional de Desenvolvimento

Urbano viria a se concretizar, posteriormente, por meio do próprio MINIPLAN, que,

com o apoio de sua Secretaria de Articulação, com os estados e municípios, iria

assumir de forma efetiva o campo de desenvolvimento urbano. Além disso, o

MINIPLAN, com o intuito de fortalecer o Sistema Nacional de Planejamento,

buscaria alternativa para assumir a gestão das ações de desenvolvimento urbano,

integrando-as como órgão de coordenação geral, com as ações setoriais.

O SERFHAU ainda insistia no planejamento municipal e microrregional e o

MINTER tinha adotado o princípio de organização do país em microrregiões

homogêneas, considerando que uma das ações mais importantes do planejamento

seria “a geração de componentes em um todo nacional, e admitindo que o

formalismo provém da insistência em partir-se da unidade nacional como um todo

para as partes” (CAVALCANTI, 1972, p. 240).

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204

Em relação à questão da intervenção do Estado na estruturação do espaço,

através de instrumentos específicos destinados a planejar o urbano, verificou-se que

muito pouco resultou do esforço despendido para, partindo do plano local-municipal,

microrregional ou metropolitano, obter mudanças efetivas na configuração espacial,

tanto em nível local quanto na escala regional e nacional.

O desenvolvimento urbano apenas em 1973-1974 seria efetivamente

pautado no modelo de desenvolvimento brasileiro. A incorporação do

desenvolvimento urbano ao desenvolvimento regional e a diretriz de integração

nacional, como se constataram no I PND, daria espaço ao aparelho estatal para a

consideração do problema, mas não suficiente para que a questão fosse vista em

toda a sua complexidade e amplitude.

A concorrência do MINTER e do MINIPLAN quanto à gestão dos assuntos

urbanos, disputando essa nova área de poder, não identificada quando da edição do

Decreto-Lei N. 200, demonstra, por sua vez, o reconhecimento da importância que

poderiam adquirir os instrumentos a serem criados. Isto porque a implementação de

uma política urbana implicaria algum tempo a estruturação de mecanismos de

coordenação em nível da União e a sua difusão e coordenação de suas

intervenções em nível dos estados e municípios, em particular nos grandes polos

metropolitanos. A instituição das regiões metropolitanas não só poderia ser

considerada como mais um instrumento da infiltração do poder da União, mas

também representaria a criação de instrumentos financeiros que viriam substanciá-

lo.

Desde o final dos anos 1960, multiplicaram-se, em nível técnico, as

recomendações a favor da definição de uma política de desenvolvimento urbano que

viesse substituir o sistema de planejamento local integrado do SERPHAU. Só em

meados de 1973, a partir da Lei Complementar N. 14, que instituiu as regiões

metropolitanas, a necessidade de uma política urbana mais abrangente ficou

evidente para os níveis de decisões superiores. A idealização, que já florescia nos

níveis superiores do MINTER, foi adotada pouco a pouco pelo MINIPLAN, que, em

1973, passou a disputar claramente com o MINTER essa nova área de decisão e de

poder institucional, que se configurava promissor, pois a ele iriam vincular-se

grandes programas de investimento.

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Em um momento político que exprimia o fortalecimento do MINIPLAN no

quadro institucional, foram definidas as novas orientações para o problema urbano.

O momento coincidiu com a incorporação, pelo aparelho estatal, que do ponto de

vista espacial já estava envolvido com a diretriz da integração nacional, pois uma

nova postura, ou seja, o reconhecimento da seriedade dos problemas sociais em

situações extremas, porquanto os bolsões de pobreza absoluta focalizavam-se no

interior da região Nordeste e na periferia dos grandes centros urbanos.

O documento de Francisconi e Souza (1976) foi a primeira formulação de

política urbana nacional, pois, anteriormente, o SERFHAU e o MINTER apenas

haviam proposto o Sistema – SNDUL, que deveria fazer a gestão de tal política.

Esse estudo surgiu da necessidade de se definir uma política urbana, e, por

conseguinte, orientá-lo por um modelo de ocupação do território compatível com o

modelo de desenvolvimento e a grande diretriz de integração nacional que baseou

uma grande parcela da ação do governo no início da década. O desenvolvimento

urbano proposto preconizava uma “política de organização das cidades” e uma

“política de organização territorial” (FRANCISCONI; SOUZA, 1976).

O II PND iria formalizar, em 1974, uma “Política de Desenvolvimento

Urbano”, com diretrizes e proposições emanadas do estudo citado, e incorporaria as

bases da “Política de Organização do Território”. No entanto, verifica-se que o

reconhecimento da intensidade dos problemas urbanos, em particular, quanto aos

bolsões de pobreza, percorre o que está expresso no II PND, mas as propostas

voltadas para a política urbana, especificamente, encontram-se à parte, como que

marginalmente. A Comissão Nacional de Regiões Metropolitanas e Política Urbana

(CNPU) é o instrumento referencial que o citado plano indica, destacando suas

finalidades e atribuições, algumas das quais funcionavam ao contrário dos demais

níveis de poder.

Abandonando a postura adotada pelo SERFHAU, que partiu do

planejamento local, em uma segunda etapa, buscou integrar os estados em um

Sistema de Desenvolvimento Urbano e Local no qual cada governo estadual

formularia sua própria política. O II PND, ao tratar da CNPU, opta explicitamente

pelo centralismo e autoritarismo, para criar condições de implantação para um

modelo nacional de organização do território. Não faz referência à criação de

mecanismos de indução à modernização e ao fortalecimento dos municípios para

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melhorar a gestão urbana nem aos instrumentos legais e institucionais destinados à

regulamentação do uso do solo urbano. Outros instrumentos da política urbana são

indicados no II PND: os fundos de desenvolvimento urbano já existentes para o

Centro-Sul, Nordeste e Norte e os demais mecanismos financeiros (Fundo de

Desenvolvimento de Programas Integrados – FDPI, Recursos do Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico – BNDE, entre outros), assim como a realização de um

Programa de Investimentos em Desenvolvimento Social Urbano. Basicamente,

exceto a implementação da CNPU, a estratégia indicada pelo II PND é mais voltada

para uma concentração de investimentos, em especial, em infraestrutura urbana.

A política urbana tratada pelo II PND representou uma ruptura com o modelo

implantado originalmente pelo SERFHAU no trato dos assuntos urbanos, ao formular

um modelo de organização do território, como também não instituiu mecanismos que

fizessem desse modelo um marco de referência para os esforços separados do

planejamento local. Ao contrário, abandonou a opção que vinha sendo proposta pelo

SERFHAU, no sentido de cada estado expandir sua ação na coordenação do

desenvolvimento local e favorecer maior centralismo. Como não foi compatibilizado

o modelo formulado em nível dos estados, o que também não ocorreu com as

políticas setoriais federais, boa parte da proposta de desenvolvimento urbano do II

PND veio a fracassar. Por outro lado, nenhuma solução inovadora foi indicada para

o maior problema frente à organização interna das cidades, o controle do uso do

solo e para o fortalecimento dos organismos metropolitanos já instituídos.

Na política urbana formulada pelo II PND (BRASIL, s.d.) figuravam-se como

principais instrumentos a Comissão Nacional de Regiões Metropolitanas e a Política

Urbana (CNPU), instituídas pelo Decreto N. 74.156, de 06.06.74. A essa Comissão

caberia basicamente fixar as diretrizes, estratégias e instrumentos da Política

Nacional de Desenvolvimento Urbano: acompanhar e avaliar a implantação do

sistema de regiões metropolitanas e da política urbana como um todo, e articular-se

com os órgãos federais, ou seja, ministérios, superintendências regionais e outros,

envolvidos com a execução dessa política, para assegurar sua coordenação.

A criação da CNPU como uma comissão interministerial, mas sem poderes

claros para coordenar a ação dos órgãos executivos envolvidos com o

desenvolvimento urbano, demarcou, desde o início, sua capacidade como órgão

gestor da política urbana. Apesar de haver sido estabelecida para atuar junto à

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Secretaria de Planejamento (SEPLAN) da Presidência da República, que, a partir de

1974, iria constituir-se no grande foco de concentração do poder, em nível da União

e, dado ao centralismo e autoritarismo do regime, com intervenção nos demais

níveis de poder.

A CNPU tinha as seguintes competências: articulação e acompanhamento

de diretrizes e estratégias, bem como de normas e instrumentos de ação. Seus

primeiros percursos, ainda em 1974, seriam orientar sua ação pelo desdobramento

das diretrizes do II PND.

Um sistema financeiro de cunho metropolitano seria criado, e recursos

federais seriam alocados para a implantação de sistemas de planejamento

integrado, tendo em vista a implantação das nove regiões metropolitanas já criadas

e das que estavam em formação, apoiando a elaboração de planos, criando

mecanismos novos e apoiando projetos específicos. Ademais, uma linha de ação

orientada às cidades de porte médio alcançaria os núcleos com mais de 50 mil

habitantes. A Região Sudeste teria a finalidade de possibilitar o crescimento desses

centros e minimizar os das grandes metrópoles. No Nordeste, Amazônia e Centro-

Oeste, integrar-se-ia à programação de desenvolvimento regional. A ação da União

seria mais efetiva e os projetos específicos se destinariam aos núcleos de apoio a

programas especiais da política econômica. Além disso, seria dada ao lazer e ao

turismo uma atenção especial.

Ao expor as suas linhas de ação, a CNPU tomou como base as orientações

do II PND, referindo, em cada caso, a natureza da ação do governo (se de controle,

contenção, dinamização, promoção, disciplinamento). Sendo assim, foram

discriminadas as fontes de recursos a serem alocadas, dos quais mais de 40%

proviriam do BNH. Entre as fontes citadas, indicava a CNPU 15% das transferências

envolvendo Fundo de Participação dos Estados (FPE), Fundo de Participação dos

Municípios (FPM), Fundo Especial e fundos vinculados, o que exigiria, para sua

viabilização, veemente mecanismo de coordenação em nível do Governo Federal e

em relação a estados e municípios.

No entanto, havendo inexistência de imposição da parte da CNPU, os

recursos referidos foram quase todos geridos independentemente das diretrizes

fixadas pelo órgão, devido à impossibilidade de coordenar sua aplicação, pois não

possuía poder de decisão para tal. Entretanto, a instituição do Fundo Nacional de

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Apoio ao Desenvolvimento Urbano - FNDU, pela Lei N. 6.256, de 22 de outubro de

1975, não bastaria para viabilizar a ação programada, embora previsse o

fornecimento de recursos orçamentários da União e abrisse a possibilidade para

operações de crédito e para a captação de outros recursos de fontes internas e

externas.

A CNPU permaneceu naquela condição que tivera o SERFHAU, de

promover o planejamento local, acrescido do metropolitano, somente com a

competência fortalecida com a criação do FNDU, que lhe permitia alocar recursos

para a elaboração de planos e a execução de alguns projetos. Mas, os recursos

eram poucos na presença da dimensão que assumiam os problemas a serem

enfrentados e nenhuma ampliação urbana resultou dos esforços despendidos.

A centralização promovida, a partir de 1974, no trato ao desenvolvimento

urbano não veio a se efetivar como pretendido, já que, a rigor, não se

implementaram as diretrizes de organização do território do II PND. Não obstante,

como havia recursos a alocar, ficou nas mãos da tecnoburocracia do órgão central

definir as prioridades, que nem sempre se atrelavam àquelas dos governos

estaduais e que, por vezes, orientaram-se pelos interesses dos grupos mais

poderosos.

Apesar das formulações contidas no II PND e da instituição do FNDU, a

política urbana definida pelo CNPU continuou em segundo plano, em nível do poder

decisório federal. De fato, o governo, ao definir ações efetivas na área do

desenvolvimento urbano, escolheu apenas aquelas áreas de interesse específico

como a dos transportes e outras obras públicas e a da construção civil, enquanto

foram sendo postergadas outras decisões que contrariavam ou poderiam vir a

contrariar interesses poderosos, em particular, do capital imobiliário e das empresas

que atuavam nesse mercado.

A atitude de não decisão quanto ao controle do uso do solo, cujas

proposições poderiam representar ameaça do direito de propriedade, reflete o

posicionamento da cúpula do governo, mas não da área técnica da CNPU. Desde

1975, era amplamente aceito pelas áreas técnicas que o controle do uso do solo era

o mais grave problema do desenvolvimento urbano brasileiro, embora reconhecido

como extremamente complexo e de difícil solução, pois envolvia questões como as

do direito de propriedade e da autonomia municipal.

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209

Novo posicionamento foi assumido pelo Governo Federal em 1979 na

condução da política econômico-financeira e na sua concepção do processo de

planejamento. Quanto à destinação e ao controle do uso dos recursos financeiros,

acentuou-se a centralização, mas o governo abandonou o planejamento de médio e

longo prazos. Ademais, a política governamental por um modelo global seria

revisada a cada quatro anos.

Em 1979, foi instituído o Conselho Nacional do Desenvolvimento Urbano

(CNDU), em substituição a CNPU (Decreto N. 83.355 de 20.04.79), e criada a

Subsecretaria de Desenvolvimento Urbano no Ministério do Interior. O CNDU é

apoiado pela Subsecretaria de Desenvolvimento Urbano, órgão técnico que

compreendia, além da Secretaria Executiva do Conselho, de quatro coordenadorias

– de Política e Legislação Urbana, de Planejamento Setorial, de Regiões

Metropolitanas e de cidades de médio e pequeno porte. Esse Conselho era formado

por representantes de oito Ministérios e duas empresas governamentais (o BNH e a

EBTU – Empresa Brasileira de Transportes Urbanos), além de cinco membros

nomeados pelo presidente da República, sendo presidido pelo Ministro do Interior. O

CNDU pretendia obter uma integração maior do comando da política urbana, em

nível do próprio Ministério, ao qual se vinculam os grandes investimentos urbanos do

BNH, uma vez que o FNDU era insuficiente para viabilizar os investimentos

necessários ao desenvolvimento urbano.

Ao fortalecer o Ministério do Interior, como responsável pela proposição e

gestão da política urbana nacional, o governo parecia reconhecer a necessidade de

maior integração do urbano e do regional, com vistas àqueles aspectos da política

urbana referentes ao ordenamento do território. Embora tenha sido desenvolvida,

em paralelo, uma ação executiva, por intermédio dos programas a cargo da

Subsecretaria de Desenvolvimento Urbano e da aplicação dos recursos, tanto do

FNDU como externos, para eles captados, o Conselho, nos assuntos mais amplos

da política urbana, não recebeu competência senão para elaborar e encaminhar

proposições. Essas propostas não se apoiavam em uma associação de forças

expressivas, no caso da coordenação dos investimentos setoriais – da União,

estados ou municípios, referentes à habitação, saneamento, transporte urbano,

áreas industriais e administração metropolitana e municipal. Também não

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alcançaram os resultados almejados em termos de legislação básica e instrumentos

normativos.

Esses dois campos de atividade interessaram diretamente aos dois grandes

rumos da política urbana, de um lado, os investimentos em desenvolvimento urbano

e de outro lado, a ação reguladora sobre o uso do solo e as próprias atividades

governamentais nas áreas urbanas. Em contrapartida, surgiam obstáculos

imediatos, dificultando a consecução dos objetivos traçados pelo CNDU e pela

Subsecretaria de Desenvolvimento Urbano: o distanciamento do órgão em relação

ao foco de decisão político-econômico-financeira, cada vez mais centralizado, que

passou a controlar mais diretamente todas as liberações de recursos e sua

fragilidade como órgão coordenador e normativo, vinculado a um ministério

eminentemente executivo, sem poder de coerção sobre os órgãos setoriais

envolvidos com o desenvolvimento urbano. A incapacidade ou dificuldade de exercer

as pressões cabíveis, em nível dos poderes constituídos - tanto o Executivo quanto

o próprio Legislativo, e o isolamento do órgão em relação à sociedade civil, que, por

efeito da pressão dos interesses contrários, não se mobilizou em favor das

propostas do CNDU.

Evidenciaram as dificuldades para efetiva compatibilização, em nível do

urbano, das intervenções econômicas e sociais, e limitaram-se mais ainda as

possibilidades de intervenção direta, em termos de ordenamento do território e da

efetivação do planejamento em nível metropolitano e municipal.

A primeira Resolução do CNDU (Conselho Nacional de Desenvolvimento

Urbano, 1982), definiu as diretrizes da Política Urbana para 1980 – 1985, partindo

das seguintes colocações:

- da distribuição da população e das atividades no território nacional;

- da exigência de diretrizes que orientem o desenvolvimento urbano buscando a

melhoria da qualidade de vida da população urbana;

- da necessidade de articular as ações setoriais nas cidades.

Na introdução do referido documento, está prevista a participação efetiva de

estados e municípios por terem estas instâncias administrativas melhores condições

para adequar as diretrizes emanadas do nível federal às peculiaridades regionais e

locais (CNDU, 1982). A descentralização das ações federais preconizadas

pressupunha que estados e municípios seriam dotados de condições técnicas e

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financeiras, o que implicaria transferência de recursos pela União, e também é

reconhecida como de fundamental importância sobre a formulação de políticas

estaduais de desenvolvimento urbano, do aperfeiçoamento da legislação urbana e

preocupação com as disparidades intra-urbanas, assim como a ênfase na

coordenação intersetorial e na descentralização da ação do Governo Federal, com

participação efetiva dos estados e municípios.

Desse modo, para o desenvolvimento intra-urbano, com base em

instrumentos econômicos e normativos, o acesso das populações de baixa renda

aos serviços essenciais estaria previsto nessa resolução, bem como o alinhamento

das diretrizes referentes à utilização do espaço urbano, à habitação, ao transporte

urbano, ao abastecimento de água e saneamento ambiental, ao meio ambiente e ao

patrimônio histórico e ambiental. Tais diretrizes explicitam as orientações adotadas

pela Política Urbana com relação ao uso do solo e à atuação setorial no espaço

urbano e no campo da infraestrutura, cuja compatibilização é preconizada.

Como instrumento da política urbana, podem-se incluir “os programas

estratégicos”. Os demais instrumentos presentes no documento seriam: o próprio

CNDU, o FNDU e outros instrumentos financeiros, o sistema tributário, instrumentos

jurídicos a serem criados e programas de assistência técnica. Os programas

estratégicos referem-se a quatro categorias de cidades básicas: Região

Metropolitanas, Cidades de Porte Médio, Cidades Pequeno Porte e Núcleos de

Apoio.

De acordo com o referido documento, apesar da transferência dos assuntos

urbanos para o MINTER e da criação do CNDU com sua Secretaria Executiva

vinculada a uma das subsecretarias do Ministério, e ainda dos objetivos da política

urbana enunciados e dos esforços despendidos para sua consecução, não há como

negar que foram muito restritos os resultados alcançados. O tratamento da questão

urbana passou à competência do MINTER, mas o órgão permaneceu em posição

secundária, sem obter, em nível do próprio Ministério, a compatibilização das ações

visando a reverter a tendência e ao agravamento das questões das desigualdades

inter e intra-regionais, além do crescimento das regiões metropolitanas.

Os recursos alcançados para o desenvolvimento urbano e geridos pelo novo

órgão foram extremamente reduzidos e, por outro lado, pouca ou nenhuma

interferência teriam na alocação dos grandes investimentos urbanos do governo,

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tanto em habitação e saneamento básico quanto em transportes urbanos. O

conteúdo da política urbana enunciada refletiu a manutenção das posturas

anteriormente assumidas e praticamente não incorporou inovações ou mudanças de

posicionamento do governo central quanto à gestão dos assuntos urbanos, a não

ser na maior ênfase conferida aos instrumentos jurídicos e a necessidade de

coordenação entre os órgãos setoriais do governo.

Os aspectos relativos à escala local, intra-urbana, mereceram maior

atenção, mas os mais gerais da política urbana não foram totalmente esquecidos e

as diretrizes de organização do território permaneceram como se estivessem

acopladas às atividades desenvolvidas. A política formulada foi bem mais explícita

que a da CNPU e abordou com maior ênfase a necessidade de uma legislação

sobre o uso do solo urbano, a exigência de maior coordenação e compatibilização

das ações do poder público nas cidades, a necessidade de diferenciação das ações

em função das categorias de cidades, das categorias espaciais e a importância da

assistência técnica aos municípios. Entretanto, a referência à descentralização da

política e à efetiva participação dos estados e municípios apenas encontra-se na

introdução do documento e no detalhamento das diretrizes do programa de cidades

de porte médio, quando se afirma que este deverá ser apoiado sobretudo pela ação

dos estados.

A política preconizada anteriormente pelo CNPU difundiu a ação dos novos

órgãos de coordenação e implementação da política urbana, e a tendência à

centralização das decisões persistiu no período de 1979 – 1984.

Consequentemente, prevaleceram, mais uma vez, a visão macro da questão urbana

e a tendência a seu tratamento proporcional. Paralelamente, a ênfase no aparato

jurídico decorreu em grande parte do reconhecimento da necessidade de se definir

claramente o papel da União no desenvolvimento urbano.

Nas tentativas de implementação da política urbana que assim explicitava o

papel a ser desempenhado pelos estados e municípios, a autonomia do poder local

seria preservada, mas aos governos estaduais foram destinadas competências

complementares, contidas, de um lado, pelas atribuições executivas da União e, de

outro, pela preservação da autonomia municipal.

Segundo Francisconi e Souza (1976), a política urbana brasileira não

alcançou a interação à política global de desenvolvimento, que seria necessária à

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sua efetiva implementação, haja vista que no início a política urbana dava ênfase ao

planejamento urbano sob a ótica eminentemente local, e que, em seguida, embora

esteja explícita nos planos e documentos oficiais, as diretrizes da política urbana não

foram perseguidas com a ênfase devida, tendo em vista que a prioridade atribuída

às ações setoriais estavam voltadas para o crescimento econômico ou para o

atendimento de outros objetivos do governo.

Para o Ministério das Cidades, ao longo dos anos, as cidades brasileiras e

sua população cresceram, mas, por vários anos, esse crescimento ocorreu sem a

existência de uma política urbana em nível nacional e sem um órgão específico que

de forma efetiva voltasse para as questões da cidade12.

Desse modo, viu-se que não faltaram tentativas de implantar uma política

urbana nacional. A tentativa de maior resultado se deu durante o regime militar e

consistiu na criação do SERFHAU, do BNH, do SFH e do CNDU. No II PND, o

desenvolvimento urbano foi ressaltado, resultando na expansão dos Planos

Diretores.

A inexistência de uma política nacional eficiente para tratar da questão

urbana, ou seja, da habitação, do transporte, do saneamento etc., sobretudo entre

os anos 1980 e 1990, bem como a falta de articulação e estímulo à participação dos

diferentes setores sociais nas tomadas de decisão e ações no âmbito das cidades

estimularam o surgimento de um movimento de luta por melhores condições de vida

nas cidades, o movimento social pela Reforma urbana, que foi constituído por

organizações não governamentais, sindicatos, movimentos populares, universitários,

intelectuais, entre outros.

O Projeto Moradia, instituído pelo governo Lula, adotou o conceito de

habitação, ou seja, não se restringe à casa e exige, especialmente em meio urbano,

serviços e obras complementares indispensáveis à vida coletiva, a saber: água,

esgoto, drenagem, coleta de lixo, transporte, trânsito, saúde, educação,

abastecimento, lazer etc. (BRASIL, 2016, on-line. Grifo meu).

No período de 2004 a 2005, as três grandes áreas de atuação do Ministério

das Cidades foram: habitação, transporte e mobilidade e planejamento urbano.

Conforme o relatório do Plano Plurianual 2004-2007, os principais resultados

estavam voltados para a melhoria da estrutura da moradia e da infraestrutura de

12

Disponível em: <http://www.cidades.gov.br>. Acesso em: 01 fev. 2016.

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água, esgoto e saneamento urbano em geral, contemplando a questão de transporte

numa visão, principalmente de estruturação e manutenção de rodovias e ferrovias,

como também de educação e prevenção de acidentes de trânsito. De forma

explícita, não se encontrou menção feita ao lazer.

Como as formas de apropriação das cidades expressam o modo das

relações de produção, desenvolvimento desigual, concentração, exclusão etc., tudo

isso está presente no modo de vida urbano. Por conseguinte, o poder aquisitivo e de

especulação que traçam o desenho das cidades. Com seus shoppings, parques,

restaurantes, paisagens mercantilizadas, clubes, condomínios, entre outros,

expande fronteiras, cria fluxos, estabelece migrações, privatiza espaços públicos,

delimita zonas de exclusão e flexibiliza territórios. Diante desse contexto, há

necessidade de políticas de planejamento urbano voltadas à questão da distribuição

dos espaços e equipamentos de esporte e lazer, possibilitando o acesso a toda a

população, bem como a necessidade de aumento do número desses equipamentos,

com a possibilidade de parcerias como clubes, entidades recreativas, agremiações

etc.

De outro modo, para Vainer (2000), se a questão urbana durante muito

tempo estava ligada a outros temas com o crescimento desordenado, reprodução da

força de trabalho, equipamentos de consumo coletivo, movimentos sociais urbanos,

racionalização do uso do solo, a questão urbana passa a remeter-se à

competitividade urbana.

Tomando como base o planejamento urbano estratégico, apresentam-se

analogias à cidade, ou seja, vista como uma mercadoria, como uma empresa ou

como pátria. A cidade como mercadoria, de acordo com Vainer (2000), é uma das

ideias mais populares entre os neoplanejadores urbanos, haja vista o mercado

altamente competitivo. Desta feita, o marketing urbano é considerado como um

determinante do processo de planejamento e gestão das cidades. O pesquisador

acrescenta que a cidade não é meramente uma mercadoria, mas uma mercadoria

de luxo, destinada a um grupo de elite de potenciais compradores.

A cidade-empresa, para Vainer (2000, p. 86), significa “concebê-la e

instaurá-la como agente econômico que atua no contexto de um mercado e que

encontra neste mercado a regra e o modelo do planejamento e execução de suas

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215

ações”. E a cidade-pátria, no plano estratégico, busca delinear-se através da

promoção do patriotismo.

Segundo Drucker (1984), considerado o pai da administração moderna,

Planejamento Estratégico é um processo contínuo de, sistematicamente, e com

maior conhecimento possível do futuro, tomar decisões que envolvam riscos,

organizar sistematicamente as atividades necessárias à execução destas decisões

e, através de uma retroalimentação organizada e sistemática, medir os resultados

dessas decisões em confronto com as expectativas.

Para Fischmann et al. (1990), o Planejamento Estratégico otimiza o

processo de tornar a organização capaz de integrar decisões administrativas e

operacionais com as estratégias13, procurando conferir, ao mesmo tempo, maior

eficiência e eficácia à organização. O Planejamento Estratégico toma como ponto de

partida a situação inicial e a meta é a situação – objetivo a que se pode chegar,

através de diversos caminhos, que implicam diversas situações intermediárias. Ele é

considerado um planejamento instrumental. Surge nos militares e está ancorado na

Teoria do Estado Liberal, com influências do neoliberalismo.

Para os referidos autores, as principais características do Planejamento

Estratégico são:

Meio de estabelecer o propósito da organização em termos de missão,

objetivos, programas de ações e prioridades de alocação de recursos;

Instrumento para definição dos âmbitos de atuação de organização;

Respostas para otimizar oportunidades e forças; minimizar e eliminar

ameaças e fraquezas, com a finalidade de alcançar um desenvolvimento

competitivo; e

Critério para diferenciar as tarefas gerenciais dos vários níveis hierárquicos da

organização.

Ao passo que se tratou de algumas tentativas de como foi instituída a

política urbana aliada ao contexto brasileiro, verificou-se que esse processo vem

marcado com a realidade social, econômica e política de cada período, com

diferentes características, modelos e paradigmas de planejamento e seus

instrumentos.

13 O vocábulo estratégia se origina do termo strategos (grego), que combina stratos (exército) e ag

(liderar), ou seja, strategos significa literalmente liderar o exército (SILVA, 2002).

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216

5.3.2 Instrumentos de planejamento e gestão urbanos

Conforme Souza (2004, p. 219), “os instrumentos de planejamento e gestão

urbanos podem ser classificados em: informativos, estimuladores, inibidores,

coercitivos e outros”. Os instrumentos informativos compreendem os sistemas e

meios de divulgação de informações para um ou vários grupos de agentes

modeladores. Os instrumentos estimuladores vão desde os tradicionais incentivos

fiscais e outras vantagens oferecidas a empreendedores privados, com o objetivo de

atrair investimentos para um determinado espaço. Os inibidores são aqueles que

limitam a margem de manobra dos agentes modeladores do espaço urbano, a

exemplo do parcelamento e a edificação compulsórios, o IPTU (Imposto Predial e

Territorial Urbano) progressivo e a desapropriação, a restrição de oferta de

moradias, entre outros. Os instrumentos coercitivos são aqueles que expressam

uma proibição e estabelecem limites legais para as atividades dos modeladores.

Para Souza (2004), o zoneamento é instrumento de planejamento urbano e

divisão do espaço sob jurisdição de um governo local em zonas que serão objeto de

diferentes regulações no tocante ao uso da terra, à altura e ao tamanho permitidos

para as construções. Conforme o referido autor, existem vários tipos de

zoneamento, como: zoneamento de uso de solo, de prioridade, tipo alternativo e de

densidade.

Zoneamento de uso de solo - a concepção de separação dos diferentes usos de

terra, principalmente as diferentes funções básicas do viver urbano, como produzir,

circular, morar e recrear-se, foi abraçado pelo urbanismo modernista, com a

liderança especialmente por Le Corbusier. Porém, a ideia de separação funcional,

que se consolida no urbanismo modernista, já estava presente bem antes, com a

preocupação voltada para a questão da insalubridade dos espaços urbanos e do

perigo de difusão de doenças. O urbanismo modernista entendia separação

funcional como a principal forma de ordenamento da cidade. Esta corrente higienista

também estava presente no Brasil, sendo a Reforma Pereira Passos, no Rio de

Janeiro, entre 1902 e 1906, o marco.

A técnica convencional de zoneamento, ou seja, zoneamento de uso de solo

(funcionalista), apresenta-se em torno da separação de usos e diversidades. Porém,

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conforme Souza (2004, p. 261), nem todo zoneamento do uso do solo precisa ser

funcionalista e conservador.

Zoneamento de prioridade – identificação dos espaços residenciais dos pobres

urbanos e a sua classificação de acordo com a natureza do assentamento e com o

grau de carência de infraestrutura. Esses espaços são chamados de Áreas de

Especial Interesse Social (AEIS) ou Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), tais

como: favelas, loteamentos irregulares e os vazios urbanos.

Zoneamento tipo alternativo – completa-se por intermédio das zonas de Preservação

Ambiental (ZPAS), que devem ser contempladas ao lado das zonas de Especial

Interesse Social.

Zoneamento de densidade – espaços adensáveis, que são classificados de acordo

com o seu estoque de área edificável, variam de acordo com a densidade e o grau

de utilização da infraestrutura. Para tanto, disporá sobre a variação, no interior da

cidade, dos valores dos diferentes parâmetros urbanísticos inerentes ao regime

volumétrico, ou seja, ao conjunto das especificações que regem a altura e os

afastamentos da edificação e os limites da ocupação do terreno.

Operação urbana ou urbanização consociada - de acordo com a Lei N. 10.257, de

10/07/2001, do Estatuto da Cidade, em seu Artigo 32, trata que a Lei municipal

específica baseada no Plano Diretor poderá delimitar área para aplicação de

operação consorciada.

No Estatuto da Cidade, no seu parágrafo 1o, a operação urbana consorciada

é considerada como:

o conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo poder público municipal, com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados, com o objetivo de alcançar em uma área transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização ambiental (BRASIL, 2001, art. 32).

Consórcio imobiliário - de acordo com o Estatuto da Cidade (2001), o consórcio

imobiliário é a forma de viabilização de planos de urbanização ou edificação por

meio da qual o proprietário transfere ao Poder Público municipal seu imóvel e, após

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a realização das obras, recebe, como pagamento, unidades imobiliárias

devidamente urbanizadas ou edificadas.

Operação interligada – é um instrumento que poderia possibilitar maior flexibilidade

às regulações do uso do solo urbano, permitindo ao Estado fazer concessões à

iniciativa privada, sempre que as concessões não levem o interesse público e

sempre por intermédio do oferecimento de contrapartidas que revertam em

benefícios da população da cidade (SOUZA, 2004).

Transferência do direito de construir ou transferência do potencial construtivo - é

considerado um instrumento que permite que o proprietário que, por razões

específicas de força maior, impostas pelo zoneamento ou medidas de preservação

do patrimônio histórico-arquitetônico, não possa vir a utilizar plenamente o

coeficiente de aproveitamento, aliene ou transfira potencial construtivo a terceiros ou

realize, ele mesmo, esse potencial construtivo em outro imóvel de sua propriedade.

Compra do direito de construir - de acordo com Souza (2004, p. 291), “é um

instrumento que consiste na compra, por parte do Estado, do direito do proprietário

da terra nela construir; com isso, objetiva-se congelar, por um tempo mais ou menos

longo, o emprego do espaço em questão com fins agrícolas ou como área verde”.

Essas possiblidades de formas de planejamento e gestão do urbano são

elementos que podem favorecer a uma reflexão sobre a forma que o esporte e lazer

encontram-se pautados na Lei Orgânica e no Plano Diretor na cidade de Campina

Grande-PB.

5.4 O Programa de Aceleração de Crescimento e as políticas urbanas para o esporte e lazer

Segundo os dados obtidos através do site oficial do Ministério de

Planejamento, o PAC – Programa de Aceleração de Crescimento foi criado em

2007, com a intenção de promover a retomada do planejamento e execução de

grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética do Brasil,

contribuindo para o seu desenvolvimento acelerado e sustentável. Diante dessa

perspectiva, com base num Plano Estratégico, o PAC apresenta sua justificativa,

tendo em vista o resgate do planejamento e retomada dos investimentos em setores

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estruturantes do país. De acordo com o discurso oriundo no referido Ministério, o

PAC contribuiu de maneira decisiva para o aumento da oferta de empregos e na

geração de rendas e elevou o investimento público e privado em obras

fundamentais, e, ainda, no período de crise mundial entre 2008 e 2009, teve

importância fundamental, garantindo emprego e renda aos brasileiros, e, por

conseguinte, oportunizando a continuidade do consumo de bens e serviços,

mantendo ativa a economia e aliviando os efeitos da crise sobre as empresas

nacionais.

Em 2011, o PAC entrou na sua segunda fase, ainda fundamentado na teoria

do Planejamento Estratégico, e que, segundo os dados do governo, seria

aperfeiçoado em virtude da experiência já adquirida anteriormente, como também

com mais recursos e mais parcerias com estados e municípios para a execução de

obras estruturantes que pudessem melhorar a qualidade de vida nas cidades

brasileiras. O governo complementa, numa ótica de satisfação nesse plano,

apresentando o seguinte cenário:

Nesse novo período, se destaca como um programa consolidado, com uma carteira de cerca de 37 mil empreendimentos e volume de investimentos expressivo. Essa é a essência de um programa sequenciado de obras que gera o desenvolvimento e oferece qualidade de vida aos brasileiros. Continuar apostando na conclusão de projetos e obras de infraestrutura em todos os setores nos próximos anos é o grande desafio do PAC, só assim será possível entregar a cada cidadão um país melhor para se viver

14.

Conforme o 4° Balanço do PAC (2015-2018), apesar da grande crise

econômica que assola o país, a execução do programa segue dentro do previsto.

O PAC está dividido nos seguintes eixos:

Infraestrutura Logística (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrovias);

Infraestrutura Energética (geração de energia, transmissão de energia e petróleo

e gás);

Infraestrutura Social e Urbana (habitação, mobilidade urbana, saneamento,

prevenção de riscos, recursos hídricos, equipamentos sociais, cidades históricas

e luz para todos).

No eixo Infraestrutura Social e Urbana, estão os Equipamentos Sociais.

Esse eixo abrange os investimentos do PAC om ênfase na melhoria das condições

14

Disponível em: <www.pac.gov.br>. Acesso em: 01 fev. 2016.

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de vida da população nas cidades brasileiras, abrangendo, além dos benefícios

alcançados com a disponibilização da estrutura física, as dimensões urbanas e

culturais.

De acordo com o 1° Balanço do PAC (2015), as ações do referido eixo

impactam a vida cotidiana das pessoas, famílias, comunidades, cidades e regiões,

com reflexos no desenvolvimento econômico, na promoção do bem-estar social e na

garantia dos direitos, e estão estruturados nas seguintes áreas: habitação,

mobilidade urbana, saneamento, prevenção e áreas de risco, recursos hídricos,

equipamentos urbanos, cidades históricas e luz para todos; as quais abrangem esse

eixo, como foi destacado anteriormente. São investimentos realizados pela própria

União e também em parceria com governos estaduais e municipais e setor privado,

que atendem ao conjunto dos municípios brasileiros.

Para a oferta de equipamentos sociais, o Governo Federal também dispõe

de recursos para a construção de equipamentos sociais nas áreas da saúde,

educação, cultura, lazer e esporte, que garantam mais qualidade de vida à

população dos centros urbanos. Conforme os executores, em todas as áreas, além

de recursos, são disponibilizados aos municípios, estados e Distrito Federal projeto-

padrão ou projetos de referência, o que facilita o acesso a equipamentos com boa a

qualidade técnica e a otimização das etapas anteriores às obras.

Dentre os Equipamentos Sociais, estão: Creches, Quadras, UBS - Unidade

Básica da Saúde, UPA – Unidade de Pronto Atendimento, CEU – Centro de Artes e

Esportes Unificados e Cidades Digitais.

Os CEUs integram no mesmo espaço físico programas e ações culturais,

práticas esportivas e culturais de lazer, formação e qualificação para o mercado de

trabalho, serviço socioassistenciais, políticas de prevenção à violência e a inclusão

digital.

Além das Quadras Esportivas Escolares e dos Centros de Artes e Esportes

Unificados, o PAC também incentiva a prática esportiva por meio do apoio a

municípios na construção dos Centros de Iniciação ao Esporte – CIE. Todavia,

diferentemente dos demais, esse equipamento é qualificado para a iniciação de

crianças e jovens ao esporte de alto rendimento, e sua estrutura tem o objetivo de

estimular a formação de atletas em áreas de vulnerabilidade social das grandes

cidades brasileiras. Os municípios beneficiados poderão optar, na especialização

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dos espaços, entre 13 modalidades olímpicas, 06 paralímpicas e uma não-

olímpica15.

Conforme o 1° Balanço do PAC (2015), na área de esporte e lazer

apresentam-se:

Tabela 01 – Primeiro balanço do PAC na área de esporte e lazer.

Equipamentos Contratados Concluídos

Quadras (escolas com

mais de 500 alunos)

10124 – R$ 3,9 bilhões 1655 – R$ 650,7 milhões

CEUs 342 – R$ 755,1 milhões 80 – R$ 169 milhões

Fonte: 1º Balanço do PAC.

De acordo com o 4º Balanço do Programa de Aceleração de Crescimento –

PAC (2015-2018), o programa abrangeu políticas de lazer e esporte, com recursos

designados a Quadras Esportivas, em escolas, Centro de Artes e Esportes

Unificados (CEUs) e Centros de Iniciação ao Esporte (CIEs). Segundo o programa,

esses equipamentos beneficiam lazer e atendimento de demandas sociais diversas,

garantem espaços qualificados para a prática esportiva. Desse modo, foram

concluídos os seguintes equipamentos:

Tabela 02 – Equipamentos esportivos conforme o 4º balanço do PAC.

Equipamentos Concluídos Contemplados

Quadras 3.562 – 1,4 bilhão 10.040 – 3,9 bilhões

CEUs 138 – 296,6 milhões 338 – 746,9 milhões

CIE 01 – 3,4 milhões 229 – 820 milhões

Fonte: 4º Balanço do PAC.

No tocante às obras com fins de mobilidade urbana, foram contempladas,

principalmente, nos empreendimentos do Rio de Janeiro, em virtude da realização

dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, como VLT Rio, a Linha 4 do Metrô e BRT

Transolímpica.

15

Disponível em: <www.pac.gov.br>. Acesso em: 01 fev. 2016.

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- CEUs

Foram entregues 138 unidades de CEUs em todo o país como resultado da

parceria entre União e Municípios, e encontram-se 200 em fase de construção.

Esses centros contam com biblioteca, cineteatro, laboratório multimídia,

salas para oficinas, espaço multiuso, Centro de Referência em Assistência Social

(CRAS) e pista de skate. Só as unidades maiores possuem também quadra de

eventos coberta, playground e pista de caminhada.

- Quadras esportivas nas escolas

Esses equipamentos visam à melhoria de infraestrutura física para a

realização de atividades esportivas, pedagógicas, recreativas e culturais em escolas

públicas de ensino fundamental e médio que atendem a mais de 500 alunos. O

Governo Federal repassa recursos para a construção de novas quadras e também

para a cobertura de outras já existentes vinculadas à rede pública da Educação

Básica. Até dezembro de 2016, foram concluídas 3.562 obras, perfazendo um total

de R$ 1,4 milhão, sendo 2.339, a partir de janeiro de 2015.

- CIE

O Centro de Iniciação ao Esporte – CIE é um equipamento multiuso, que

tem como objetivo incentivar a iniciação da prática esportiva em áreas consideradas

socialmente vulneráveis em cidades brasileiras de maior porte. A primeira unidade

foi concluída no município de Franco da Rocha (SP), em junho de 2016.

- Praças dos esportes e de cultura

Segundo os dados do Ministério da Cultura, em março de 2010, o Governo

Federal lançou a segunda etapa do Programa Aceleração do Crescimento – PAC2.

A ação das Praças dos Esportes e Cultura (PEC) integra o programa de aceleração

do crescimento – PAC2, no eixo Comunidade Cidadã, bem como outros

equipamentos sociais de saúde, educação e segurança pública.

Na primeira seleção para o programa, no ano de 2010, foram contempladas

401 propostas de instalação desses equipamentos. Em Campina Grande – PB, foi

contemplada uma no modelo de CEU 3.000m2, estando em processo de construção.

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O objetivo é integrar num mesmo espaço físico programas e ações culturais,

práticas esportivas e de lazer, formação e qualificação para o mercado de trabalho,

serviços socioassistenciais, políticas de prevenção à violência e de inclusão digital,

de modo a promover a cidadania em territórios de alta vulnerabilidade social das

cidades brasileiras.

Segundo os dados do Ministério da Cultura (2017), a concepção, objetivos e

projetos arquitetônicos de referências das Praças foram desenvolvidos por equipe

multidisciplinar e interministerial. Foram desenvolvidos três modelos de praças,

previstos para terrenos com dimensões mínimas de 700m2, 3000m2 e 7000m 2.

Tratando-se dos projetos de arquitetura e engenharia das praças

disponibilizados pelo programa, de acordo com o referido Ministério, são de

referência e podem ser adotados ou não pelos municípios e o Distrito Federal, cuja

responsabilidade deverá se conservar o programa básico proposto para cada um

dos modelos. Sendo assim, seguindo os parâmetros de um planejamento

estratégico.

- Modelo de CEU – 700m2

Edificação multiuso com cinco pavimentos: praça coberta, pista de skate,

equipamentos de ginástica, CRAS, salas de aula, salas de oficina, telecentro, sala

de reunião, biblioteca, cineteatro/auditório com 48 lugares e terraço. O valor de

investimento é de R$ 2,71 milhões.

- Modelo de CEU – 3000m2

Formado por dois edifícios multiuso, dispostos numa praça de esportes e

lazer: CRAS, salas multiuso, biblioteca, telecentro, cineteatro/auditório com 60

lugares, quadra poliesportiva coberta, pista de skate, equipamentos de ginástica,

playground e pista de caminhada. O valor de investimento desse modelo é de R$

2,02 milhões.

- Modelo de CEU – 7000m2

Edificação multiuso de um pavimento, disposto numa praça de esporte e

lazer: CRAS, salas multiuso, biblioteca com telecentro, cineteatro com 125 lugares,

pista de skate, equipamentos de ginástica, playground, quadra poliesportiva coberta,

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quadra de areia, jogos de mesas e pista de caminhada. O valor de investimento para

esse modelo é de R$ 3,50 milhões.

Segundo informações no site do Ministério da Cultura (2017), há um

instrumento utilizado já em algumas cidades brasileiras, ou seja, “Mapeamento

Território de Vivência”, considerado uma ferramenta inicial para avaliar até que

ponto se apresenta a promoção da consolidação e da sustentabilidade do CEU, por

meio de articulação dos agentes socioculturais. Esse instrumento foi desenvolvido

para acompanhar essa política urbana. Ademais, o mapa é compreendido como

representações concretas do espaço vivido e pensado, contribuindo também para

entender a identidade de um território.

Com relação às políticas públicas consistentes voltadas à construção e

manutenção de equipamentos específicos para esporte e lazer e sua relação com o

espaço urbano, verificam-se inúmeros descompassos, oriundos da natureza do

crescimento das nossas cidades. Destacam-se o esvaziamento dos centros urbanos

e, por conseguinte, a instalação da periferização da cidade. Dessa forma, gera-se

um hiato entre aqueles que podem morar em regiões mais centrais e usufruir de

bens culturais já estabelecidos nelas, e aqueles que não podem. O aumento da

população urbana, para Marcellino (2006), não foi acompanhado pelo

desenvolvimento de infraestrutura adequado, gerando desníveis na ocupação do

solo, pois, de um lado, as áreas centrais ou os denominados polos nobres,

concentradores de benefícios, e, de outro, a periferia, com seus bolsões de pobreza,

ou seja, depósitos de habitações.

O Ministério das Cidades apresenta três principais focos de atuação

relacionados com o lazer, a saber: transporte, moradia e revitalização de áreas

centrais urbanas.

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CAPÍTULO 6 - ESPORTE E LAZER EM CAMPINA GRANDE – PB

6.1 O esporte e lazer na política urbana, a partir da Lei Orgânica e Plano Diretor

A criação do Ministério das Cidades, no ano de 2003, é resultado de um

longo processo de movimentos sociais, como ressaltado anteriormente. O Ministério

das Cidades foi originado com objetivo de assegurar o “direito à cidade”. Dessa

forma, garantindo que cada moradia receba água tratada, coleta de esgoto e de lixo,

que cada habitante tenha em seu entorno escolas, comércio, praças e acesso ao

transporte público (BRASIL, 2006).

Neste panorama, com a criação do referido ministério, surge uma definição

de uma Política Nacional de Desenvolvimento Urbano em sistema com os demais

entes federativos (município e estado), demais poderes do Estado (legislativo e

judiciário), como também a participação da sociedade visando à coordenação e à

integração dos investimentos e ações nas cidades brasileiras com vistas à

diminuição da desigualdade social e à sustentabilidade ambiental. No entanto,

caberá ao Governo Federal definir as diretrizes gerais da Política Nacional de

Desenvolvimento Urbano e ao município ou aos gestores metropolitanos o

planejamento e a gestão urbana e metropolitana.

Tomando como base a Constituição Brasileira (1988), a Política de

Desenvolvimento Urbano, executada pelo poder público municipal, tem como

objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o

bem-estar de seus habitantes. Ademais, de acordo com o Estatuto da Cidade,

através da Lei Federal N. 102.57/2001, as cidades acima de 20 mil habitantes ou

integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas precisam elaborar o

Plano Diretor. Dentre as funções do Plano Diretor, uma é definir qual a melhor

função social de cada espaço da cidade de acordo com suas necessidades e

especificidades econômicas, culturais, ambientais e sociais.

O objetivo principal do Plano Diretor é de definir a função social da cidade e da propriedade urbana, de forma a garantir o acesso à terra urbanizada e regularizada a todos os segmentos sociais, de garantir o direito à moradia e aos serviços urbanos a todos os cidadãos, bem como de implementar uma gestão democrática e participativa [...] (SANTOS JUNIOR et al., 2011, p. 14).

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Tomando como base a Constituição Federal, o Estatuto da Cidade, no

tocante à Política Urbana, busca-se apoiar os municípios na execução da Política

Nacional de Desenvolvimento Urbano, pautada em princípios que incentivam

processos participativos de gestão territorial e ampliam o acesso à terra urbanizada

e regularizada, em especial, os grupos sociais tradicionalmente excluídos.

Na concepção de Santos Junior et al. (2011), no campo da política urbana,

reconhece-se a importância da dimensão dos direitos sociais previstos na

Constituição Brasileira de 1988 e no Estatuto da Cidade, com a participação de

diferentes atores sociais no planejamento e na gestão da cidade. Contudo,

reconhece-se também a necessidade de que os Planos Diretores ultrapassem a

ideia meramente de documento burocrático e técnico, contribuindo para o melhor

aproveitamento dos recursos públicos, para a maximização dos seus efeitos na

cidade e para a redução dos problemas sociais e de infraestrutura urbana.

O Plano Diretor é reforçado pelo Estatuto da Cidade, considerado como a

figura principal e decisiva na política urbana, como assevera Maricato (2001). A

autora ainda afirma que há um travamento em torno dele na implementação dos

principais instrumentos urbanísticos, especificamente aqueles relacionados à função

social da propriedade.

Imbuindo-se com a questão de planejamento e gestão das cidades atreladas

a um processo de participação, remete-se a Lefebvre (2001) ao afirmar que essas

experiências envolvem processos participativos de práticas urbanas empreendidos

por distintos agentes sociais. O autor reforça sua visão, afirmando que o

aprendizado que conforma a práxis poderá criar uma nova utopia do direito à cidade,

desenvolvendo novos processos de reapropriação do espaço e de sua

temporalidade.

No ano de 2004, foi criado o Conselho da Cidade. O Conselho da Cidade é

um órgão colegiado de natureza deliberativa e consultiva, fazendo parte da estrutura

do Ministério das Cidades, que tem por finalidade estudar e propor diretrizes para a

formulação e implementação da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano e

acompanhá-la. Este Conselho otimiza o debate acerca da política urbana, levando

em consideração a autonomia e as especificidades dos segmentos que o

constituem, tais como o setor produtivo; organizações sociais; ONG‟s; entidades

profissionais, acadêmicas e de pesquisa; entidades sindicais e órgãos

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governamentais, sendo, portanto, um espaço de diálogo e tomada de decisões das

políticas executadas pelo Ministério das Cidades, no setor de habitação,

saneamento ambiental, transporte e mobilidade urbana e planejamento territorial.

O Conselho Estadual das Cidades do Estado da Paraíba foi criado através

do Decreto N. 33.768, de 14 de março de 2013, que visa a promover a cooperação

entre os governos Federal, Estadual, Municipal e sociedade civil com a formulação e

execução da Política Estadual de Desenvolvimento Urbano, no tocante à habitação,

saneamento básico, mobilidade urbana e planejamento territorial, e compõe a

estrutura do Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano – SNDU.

Pautando-se na Lei Orgânica do Município de Campina Grande – PB e no

seu Plano Diretor, que fazem parte da pesquisa documental, é que se aborda de que

forma o esporte e o lazer encontram-se inseridos na política urbana deste município.

Lei Orgânica de um município é entendida como uma lei genérica, elaborada

no âmbito do município pautada pelas constituições federal e do respectivo estado e,

ainda, a Lei Orgânica não pode contrariar as leis federais e municipais. O prefeito é

quem se encarregará de fazer cumprir a Lei Orgânica, sempre observada e

fiscalizada pela Câmara de Vereadores.

De acordo com a Lei Orgânica do Município de Campina Grande – PB, em

seu Capítulo I, Artigo 4: “O município concorrerá, no limite de sua competência para

a consecução dos objetivos prioritários do estado da Paraíba” (CAMPINA GRANDE,

1990, art. 4). E ainda, o município terá as seguintes prioridades:

I - Estruturação, organização e preservação dos espaços e serviços municipais, orientando-os para o livre e efetivo exercício da cidadania, para o desenvolvimento dos valores democráticos e afirmação das vocações históricas, tendo em vista propiciar à população condições de vida em padrões compatíveis com a dignidade humana, a justiça social e a promoção do bem comum; II - Preservação de sua identidade, adequando às exigências do desenvolvimento econômico e social, à memória histórica, à sua tradição cultural e peculiaridades locais; III - Atendimento das demandas sociais de educação, saúde, transporte, moradia, abastecimento, lazer e assistência social (grifo meu); IV - Atendimento integral das necessidades nutricionais, de educação, de capacitação profissional, de saúde, de habitação e de lazer das crianças de famílias carentes e, em especial, das abandonadas (grifo meu) (CAMPINA GRANDE, 1990, art. 4).

As prioridades do estado da Paraíba, conforme a Constituição Estadual

(2009), de acordo com o seu Artigo 2º, são:

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I - Garantia da efetividade dos direitos subjetivos públicos do indivíduo e dos interesses da coletividade; II - Garantia da efetividade dos mecanismos de controle, pelo cidadão e segmentos da comunidade estadual, da legalidade e da legitimidade dos atos do Poder Público e da eficácia dos serviços públicos; III - Preservação dos valores éticos; IV - Regionalização das ações administrativas, em busca do equilíbrio no desenvolvimento das coletividades; V - Segurança pública; VI - Fixação do homem no campo; VII - Garantia da educação, do ensino, da saúde e da assistência à maternidade e à infância, à velhice, à habitação, ao transporte, ao lazer e à alimentação (grifo meu); VIII - Assistência aos municípios; IX - Preservação dos interesses gerais, coletivos ou difusos; X - Respeito à vontade popular, de onde emana todo o poder; XI - Respeito aos direitos humanos e sua defesa; XII - Atendimento aos interesses da maioria da população; XIII - Respeito aos direitos das minorias; XIV - Primazia do interesse público, objetivo e subjetivo; XV - Desenvolvimento econômico e social, harmônico e integrado; XVI - Autonomia político - administrativa; XVII - Descentralização político - administrativa; XVIII - Racionalidade na organização administrativa e no uso dos recursos públicos, humanos e materiais; XIX - Proteção ao meio ambiente e ao patrimônio histórico, cultural e urbanístico; XX - Planejamento e controle da qualidade do desenvolvimento urbano e rural (PARAÍBA, 2009, art. 2).

Dentre as prioridades definidas segundo a Lei Orgânica do Município de

Campina Grande – PB, verifica-se que o lazer se encontra como um dos

atendimentos da demanda social, como também considerado um dos atendimentos

das necessidades integrais do indivíduo. Porém, o foco está para as crianças de

famílias carentes e, de forma especial, as abandonadas.

Constatou-se que é de competência municipal, de acordo com a Lei

Orgânica, normatizar e fiscalizar os jogos esportivos, os espetáculos e divertimentos

públicos no âmbito da sua competência. Desta forma, subtende-se que os jogos

esportivos, entre outras formas que possibilitam à diversão e formas contemplativas

públicas, serão acompanhadas e monitoradas pela esfera municipal.

Segundo o Titulo I – “Da Organização do Município, em seu Capítulo III –

“Do Município” – Seção II - “Das Competências Municipais”, em seu Artigo 10, Inciso

IV, determina que: “compete ao município difundir a seguridade social, a educação,

a cultura, o desporto, a ciência e a tecnologia”; e ainda no Inciso XX – “regulamentar

e fiscalizar, na área de sua competência, os jogos esportivos, os espetáculos e os

divertimentos públicos” (grifo meu).

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Na seção IV – “„Do Domínio Público‟ – Artigo 18 – “São inalienáveis os bens

públicos municipais não edificados, salvo nos casos de implantação de programa de

habitação popular e de projetos sociais economicamente relevantes, mediante

autorização legislativa.

A ideia se completa com a seguinte questão: “São, também, inalienáveis os

bens imóveis públicos, utilizados pela população, em atividades de lazer, esporte e

cultura, os quais somente poderão ser destinados a outros fins se o interesse

público o justificar e mediante autorização legislativa” (grifo meu).

No Título III – “Da Soberania e Participação Popular”, Capítulo I – “Das

Disposições Gerais” – Seção IV – “Do Conselho Popular”, no seu Artigo 92,

determina que: “O Conselho Popular é instância de discussão e consulta para

elaboração de políticas municipais, principalmente daquelas voltadas para os

interesses dos habitantes representados”.

No Título IV – “Da Administração Municipal, das Finanças e do Orçamento”,

Capítulo I – “Da Organização da Administração Municipal”, Seção I – “Planejamento

Municipal”, trata-se no seu Artigo 95 que o Município deverá organizar a

administração, exercer suas atividades e promover políticas de desenvolvimento

urbano e rural, atendendo aos objetivos e diretrizes estabelecidos no Plano Diretor,

mediante sistema de planejamento.

O Plano Diretor na Lei Orgânica do Município de Campina Grande-PB está

definido de acordo com o Artigo 95 como: “um instrumento orientador e básico dos

processos de transformação do espaço municipal e de sua estrutura territorial,

servindo de referência para todos agentes públicos e privados que atuam na cidade”

(CAMPINA GRANDE, 1990, art. 95). E o Sistema de Planejamento é definido como

“um conjunto de órgãos, normas, recursos humanos e técnicos voltados à

coordenação de ação planejada da administração municipal” (CAMPINA GRANDE,

1990, art. 95).

Na Lei Orgânica do Município de Campina Grande – PB, está prevista uma

abertura para o fomento de diferentes modalidades desportivas, sejam por parte do

município diretamente ou mediante órgãos específicos. De acordo com o Artigo 218,

“o município fomentará a prática desportiva em todas as suas modalidades, quer

diretamente, quer através de órgãos especialmente criados com essa finalidade”

(CAMPINA GRANDE, 1990, art. 218).

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Observa-se que esta lei preconiza uma articulação entre os serviços

municipais de esporte com as atividades culturais, ao dizer que: “os serviços

municipais de esportes articular-se-ão entre si com as atividades culturais”

(CAMPINA GRANDE, 1990, art. 218).

Tratando-se dos recursos financeiros, a referida Lei prevê orçamento

municipal para o incentivo ao esporte, além do mais, o lazer é concebido como

forma de promoção social, o qual terá apoio e incentivo pelo poder municipal,

inclusive ampliará espaço para o lazer. Como pode ser constatado nos seguintes

artigos:

- Artigo 219 – “O orçamento municipal destinará recursos para o incentivo ao

esporte”.

- Artigo 222 – “O Município apoiará e incentivará o lazer e o reconhecerá como

forma de promoção social”.

Parágrafo único – “O Poder Público poderá ampliar as áreas reservadas aos

pedestres e privilegiará parques, jardins, praças e quarteirões fechados com

espaços para lazer”.

Está expresso na Lei Orgânica do Município de Campina Grande – PB, que

o lazer visto como forma de promoção social terá uma atenção especial, mediante

programas de educação, cultura e saúde, para a população, como se verifica no

Artigo 223: “o lazer, como forma de promoção social, merecerá do Município

atenção especial através da implementação de programas voltados à educação, à

cultura e à saúde, acessíveis à população” (CAMPINA GRANDE, 1990, art. 223).

Quanto aos espaços destinados para o lazer no âmbito municipal,

apresentam-se com especificidades de dotações relacionadas a diferentes

condições, locais apropriados, com sanitários, vestiários, arborizados e iluminados

para esse coletivo, conforme o Artigo 224.

Os bairros, distritos e localidades do Município serão dotados de praças esportivas, compostas de campo de futebol, circundado com pista de atletismo, quadra polivalente e caixas de salto, sanitários e vestiários, área de lazer, em forma de praça-jardim e o parque infantil, devidamente arborizados e iluminados, para utilização coletiva (CAMPINA GRANDE, 1990, art. 224).

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Dentre outras ações que serão asseguradas às crianças e adolescentes pelo

município em conjunto com a sociedade civil e a família, está o direito ao lazer. E,

em relação ao idoso, sob ponto de vista de integração, está prevista a criação de

centros de lazer, entre outras ações e programas.

O Município conjuntamente com a sociedade e a família, promoverá ações que visem a assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, saúde, alimentação, educação, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade, convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (CAMPINA GRANDE, 1990, art. 226. Grifo meu).

O Artigo 229 da Lei Orgânica da cidade de Campina Grande - PB afirma que

“para assegurar a integração do idoso na comunidade e na família, serão criados

centros diversos de lazer e amparo à velhice e programas de preparação para a

aposentadoria, com participação de instituições dedicadas a esta finalidade”

(CAMPINA GRANDE, 1990, art. 229).

Segundo a Lei Orgânica do Município de Campina Grande, em seu Artigo

239:

O Plano Diretor estabelecerá normas referentes ao desenvolvimento urbano inclusive ao lazer ao dizer que considera as políticas setoriais de transportes públicos, habitação, meio ambiente, lazer, equipamentos comunitários e infraestrutura sanitária voltados ao interesse público, entre outras questões (CAMPINA GRANDE, 1990, art. 229. Grifo meu).

Ao tratar da questão habitacional a Lei Orgânica do Município de Campina

Grande - PB estabelece que será destinada área especifica para implantação de

praças esportivas nos conjuntos habitacionais, com número igual ou superior a 500

unidades residenciais, como se pode identificar no seu Artigo 249, ao dizer que: “A

Prefeitura Municipal condicionará a aprovação de construção de conjuntos

habitacionais, com número igual ou superior a quinhentas unidades residenciais, à

destinação de área específica para implantação de praça esportiva” (CAMPINA

GRANDE, 1990, art. 229).

Quanto ao desenvolvimento urbano, a Lei Orgânica do Município de

Campina Grande – PB remete ao Plano Diretor, sendo o lazer considerado como

uma política setorial.

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O Plano Diretor do Município de Campina Grande (2006) é entendido como

um instrumento básico que orienta a atuação da administração pública e da iniciativa

privada, de forma a assegurar o pleno desenvolvimento das funções sociais da

cidade e da propriedade, a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar da

população, segundo os princípios da democracia participativa e da justiça social.

Assim sendo, no Plano Diretor de Campina Grande – PB, o lazer, fazendo

parte do contexto da função social da cidade, é visto como direito de todos. Ao tratar

de sustentabilidade urbana e rural, um dos aspectos previstos para a melhoria da

qualidade de vida das pessoas, inclusive das gerações futuras, é o desenvolvimento

do lazer e dos esportes.

Em seu Artigo 6o, trata-se que a função social da cidade corresponde ao

direito de todos ao acesso:

à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, ao transporte, à saúde, à educação, à assistência social, ao lazer, ao trabalho e à renda, bem como espaços públicos, equipamentos, infraestrutura e serviços urbanos e ao patrimônio ambiental e cultural da cidade (CAMPINA GRANDE, 2006, art. 6. Grifo meu).

A sustentabilidade urbana e rural, no Artigo 8º, é entendida como:

O desenvolvimento local equilibrado, nas dimensões social, econômica e ambiental, embasado nos valores culturais e no fortalecimento político-institucional, orientado para a melhoria contínua da qualidade de vida das gerações presentes e futuras, apoiando-se em questões, a exemplo da potencialização da criatividade e do empreendedorismo para o desenvolvimento da economia, da cultura, do turismo, do lazer e dos esportes (CAMPINA GRANDE, 2006, art. 8. Grifo meu).

O Plano Diretor da cidade de Campina Grande – PB (2006) prevê uma

gestão democrática, sendo entendida como “Processo decisório no qual será

assegurada a participação direta dos cidadãos, individualmente ou através das suas

organizações representativas, na formulação, execução e controle da política

urbana” (CAMPINA GRANDE, 2006, art. 8).

Desta forma, está prevista a garantia de:

I – A transparência, a solidariedade, a justiça social e o apoio à participação popular;

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II – A ampliação e a consolidação do poder dos munícipes e de suas organizações representativas na formulação das políticas e no controle das ações, através de conselhos e fóruns; III – A consolidação e o aperfeiçoamento dos instrumentos de planejamento e gestão das políticas públicas e descentralização das ações do governo municipal; IV – A capacitação em conjunto da sociedade civil; V – O estímulo aos conselhos e outras entidades do movimento popular; VI – A instituição de espaços para discussão, avaliação e monitoramento sobre a execução do Plano Diretor (CAMPINA GRANDE, 2006, art. 9).

E ainda, os conselhos e fóruns serão integrados por representantes da

sociedade civil e do poder público, com caráter deliberativo e controlador das

políticas públicas municipais, inclusive no tocante à elaboração do Plano Plurianual,

da Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO e do Orçamento Anual, em observância

às competências constitucionais dos Poderes Executivo e Legislativo.

Em relação ao ordenamento da ocupação do solo, o território municipal de

Campina Grande – PB, em conformidade ao seu Plano Diretor, está dividido na

Macrozona Urbana e Rural. A Macrozona Urbana, de acordo com o Plano Diretor, é

aquela fundamentalmente para as atividades urbanas, a saber: residenciais,

industriais, comerciais, de serviços, turismo e lazer. Ela compreende: a Zona de

Qualificação Urbana, a Zona de Ocupação Dirigida, a Zona de Recuperação Urbana

e a Zona de Expansão Urbana.

Dentre os objetivos da Zona de Qualificação Urbana, identifica-se: ampliar a

disponibilidade de equipamentos públicos, os espaços verdes e de lazer. Em relação

à Zona de Recuperação Urbana, um dos objetivos será implantar equipamentos

públicos, espaços verdes e de lazer.

Nesta perspectiva, o lazer apresenta-se no conteúdo Ordenamento da

Ocupação do Solo, no território municipal e encontra-se definido na Macrozona

Urbana, como atividade urbana. E de forma específica na Zona de Qualificação

Urbana, observa-se que um dos objetivos é aumentar os equipamentos públicos, os

espaços verdes e de lazer e ainda na Zona de Recuperação Urbana volta-se para o

foco de implantação, como um dos objetivos da referida zona.

Kleiman (s.d.), ao discutir o planejamento urbano, enfatiza a necessidade de

repensar o planejamento que se utiliza de zoneamento, por considerar que o espaço

urbano do ponto de vista técnico, é um dado da natureza, pois o zoneamento tem

como base a possibilidade de dividir a cidade em setores homogêneos. Sendo

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assim, possibilitaria um melhor controle da cidade, em que o Estado estabelece em

qual local e com qual intensidade podem se instalar, e, por conseguinte, um maior

aproveitamento e uso racional das infraestruturas, haja vista a criação de zonas e

áreas de uso especializado, com a setorização da cidade. O pesquisador Kleiman

(s.d., p. 03), diante de um olhar investigativo e reflexivo, aponta a planificação pelas

redes em lugar do zoneamento, pois, para ele, o “zoneamento é basicamente

técnica de controle do uso da terra urbana para impedir a inviabilidade e os

bloqueios no desenvolvimento do capitalismo no lócus urbano”. Desta forma,

considerando-o como produto da lógica econômica.

De acordo com Maricato (2001), várias críticas são feitas às leis de

zoneamento e sua aplicação leva a conclusões como: a lei de zoneamento está

muito descaracterizada com grande parte das edificações e seu uso fora da lei; ela

dificulta a expansão do mercado privado para as camadas de baixa renda;

desconsidera a problemática ambiental, é de difícil compreensão e aplicabilidade;

ignora as potencialidades dadas pelos arranjos locais ou informais; e favorece a

segregação e a ilegalidade. A autora ainda afirma que se faz necessário ponderar o

zoneamento no uso da ocupação do solo, não como um instrumento de segregação

e aumento do preço da terra, mas, sim, como de ampliação do direito à cidade.

Segundo Maricato (2001, p. 115), o zoneamento deve “respeitar o que existe na

esfera da natureza, da sociedade e do ambiente construído para organizar, a partir

da realidade existente, seus problemas e potencialidades, com a participação da

população”.

O Plano Diretor, ao tratar das atividades econômicas e de serviços públicos

com vistas ao acompanhamento do progresso da cidade que caberão aos diferentes

poderes, sejam eles municipal, estadual e federal, de acordo com as suas

competências, otimiza condições de infraestrutura, inclusive para o lazer. No Artigo

22º, do Plano Diretor, trata-se das competências das diferentes esferas em relação

às atividades econômicas e dos serviços públicos da seguinte forma:

Acompanhando o progresso da cidade, os Poderes Públicos municipal, estadual e federal, cada um em sua esfera de competência, proverão as citadas áreas de infraestrutura necessária ao desenvolvimento das atividades econômicas e dos serviços públicos, através da implantação de saneamento ambiental, energia elétrica, equipamentos públicos de educação, saúde, lazer, cultura, transporte público, assistência social e segurança (CAMPINA GRANDE, 2006, art. 22. Grifo meu).

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As Zonas Especiais são áreas do município que possuem destinação

específica e/ou exigem tratamento diferenciado na definição dos padrões de

urbanização, parcelamento da terra e uso e ocupação do solo. Desta forma, as

Zonas Especiais de Interesse Social - ZEIS. As ZEIS 1 são consideradas as áreas

públicas, ou particulares ocupadas por assentamentos precários da população de

baixa renda na Macrozona Urbana, podendo o poder público promover a

regularização fundiária e urbanística, com implantação de equipamentos públicos,

inclusive de recreação e lazer, comércio e serviços de caráter social.

As Zonas Especiais de Interesse Ambiental – ZEIA são consideradas as

áreas públicas ou privadas destinadas à proteção e recuperação da paisagem e do

meio ambiente, divididas em ZEIA 1 e ZEIA 2. As ZEIA 1 são as áreas verdes

públicas, cujas funções são de proteger as características ambientais existentes e

oferecer espaços públicos adequados e qualificados ao lazer da população, bem

como às áreas públicas ou privadas em situação de degradação ambiental que

devam ser recuperadas e destinadas, preferencialmente, ao lazer da população, de

forma a contribuir com o equilíbrio ambiental.

Constatou-se que as Zonas Especiais, como forma de parcelamento e uso e

ocupação do solo e padrões de urbanização, tais como: as Zonas Especiais de

Interesse Social, preveem a implantação de equipamentos públicos; o texto utiliza-se

da expressão “inclusive” destinada à recreação e ao lazer. Quando apresenta as

Zonas Especiais de Interesse Ambiental, o lazer da população vem atrelado à busca

de proteção, recuperação das áreas verdes públicas, como também de degradação

ambiental desta maneira, com vistas à adequação e qualificação dos espaços para o

lazer. Ademais, de acordo com o Plano Diretor, ao tratar da Política Municipal do

Meio Ambiente, determina que um dos objetivos é de recuperar e ampliar as áreas

verdes, a exemplo das praças, parques de diversão, entre outras.

Promover a ocupação adequada e ordenada do território e possibilitar aos

indivíduos o acesso, com segurança, ao processo produtivo de serviços, bens e

lazer estão previstos como um dos objetivos do Sistema de Mobilidade Urbana.

Dentre os objetivos apresentados na Política Municipal do Meio Ambiente,

está o de promover a recuperação e ampliação das áreas verdes do Município,

incluindo os logradouros públicos, praças, avenidas, parques de diversão, pátios

escolares, entre outros.

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Um dos objetivos da Política Municipal de Desenvolvimento Econômico,

Científico e Tecnológico é incentivar ações voltadas para o desenvolvimento local,

articulados com programas de geração de emprego e renda, a saber: o estímulo e o

fomento ao cooperativismo e associativismo, o incentivo à criação de centros

poliesportivos para a formação de atletas e o estímulo e o fomento ao artesanato,

valorizando os diversos aspectos da arte e cultura popular regional.

Percebe-se que, na matéria atinente à Política Municipal de

Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico, as ações estão voltadas para

o desenvolvimento local. Dentre as ações, apresenta-se a criação de centros

poliesportivos para a formação de atletas. Desta maneira, volta-se para o esporte

rendimento / performance. Observa-se a ênfase dada ao esporte com a finalidade de

resultados, bem como ligado à política de desenvolvimento do ponto de vista

econômico, científico e tecnológico.

Dentre os objetivos apresentados pela Política Municipal de Turismo, inclui-

se o de promover programas, projetos e ações turísticas integradas com a dinâmica

das atividades sociais, econômicas, culturais e de lazer realizadas pelo Município.

Ademais, uma das diretrizes desta política é o incentivo ao setor turístico, mediante

a promoção de eventos que valorizem os diversos aspectos da cultura popular

regional e ainda a promoção de eventos de natureza científica, tecnológica,

comercial, esportiva e cultural.

Desta forma, na Política Municipal de Turismo, como um dos objetivos,

identifica-se a relação atribuída ao turismo e ao lazer quando se aborda a promoção

de programas, projetos e ações turísticas integradas com outras atividades

realizadas em Campina Grande-PB, como o lazer. Ao apresentar as suas diretrizes,

dentre elas está o incentivo ao setor turístico, através da promoção de eventos, com

vistas à valorização da cultura popular e regional, bem como a promoção de eventos

de distintas naturezas, sendo mencionados dentre eles os eventos de caráter

esportivo.

O Título VII – “Da Gestão da Política Urbana”, no Capítulo I – “Do Sistema

Municipal de Planejamento e Gestão”, em seu Artigo 127, determina que:

O Sistema Municipal de Planejamento e Gestão – SMPG compõe-se da Secretaria de Planejamento - SEPLAN, dos agentes setoriais de planejamento da administração direta e indireta e estruturas e processos democráticos e participativos, dentre eles o Orçamento Participativo – OP,

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que visem o desenvolvimento contínuo, dinâmico e flexível de planejamento e gestão da política urbana (CAMPINA GRANDE, 2006, art. 127).

Diante desta perspectiva, entende-se que o Plano Diretor seja parte

constituinte do processo de planejamento municipal, que inclui também o plano

plurianual, diretrizes orçamentárias e orçamento anual participativo.

De acordo com o Artigo 132, a responsabilidade institucional pela

implementação da política municipal de planejamento e gestão do território fica a

cargo: “I – Em nível de execução: da Secretaria do Planejamento- SEPLAN; II – Em

nível de proposição, acompanhamento e fiscalização: do Conselho Municipal da

Cidade” (CAMPINA GRANDE, 2006, art. 132).

De acordo com o site oficial da Prefeitura Municipal de Campina Grande-PB,

a Secretaria de Planejamento – SEPLAN é responsável pela articulação das demais

secretarias e órgãos municipais para a implementação integrada de políticas,

programas, planos e projetos da Prefeitura buscando promover o desenvolvimento

sustentável do município e a melhoria da qualidade de vida da população, tendo

como referências as vocações econômicas da cidade e as suas características

históricas, geográficas, ambientais, demográficas e sociais. Deste modo, a SEPLAN

tem como competências:

- Promover a Política de Desenvolvimento Urbano, integrada às demais políticas setoriais, sob o controle do Conselho da Cidade; - Promover a Política de Habitação de Interesse Social, integrada à Política de Desenvolvimento Urbano e demais políticas setoriais, mediante a elaboração, gerenciamento e acompanhamento de programas, planos e projetos de Habitação de Interesse Social e de Regularização Fundiária; - Coordenar a elaboração de Projetos de Leis Orçamentárias (PPA, LDO e LOA) e de Leis Urbanísticas (Plano Diretor, zoneamento, parcelamento, uso e ocupação do solo, códigos de posturas e obras, entre outras), e, ainda, orientar, assessorar e fiscalizar essa legislação

16.

A referida Secretaria tem sob sua jurisdição a definição de diretrizes, a

análise, o licenciamento e a fiscalização de projetos de parcelamento (loteamentos e

desmembramentos); a fusão, a manutenção e o controle das informações cadastrais

relativas às obras urbanas; a coordenação da base cartográfica do município; a

atualização dos dados estatísticos municipais; a preparação de indicadores voltados

às necessidades básicas das zonas rural e urbana da cidade, bem como a

16

Disponível em: <www.pmcg.gov.br>. Acesso em: 01 fev. 2016.

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elaboração de projetos de ordenamento da paisagem urbana e projetos

arquitetônicos e de engenharia de infraestrutura urbana e equipamentos públicos.

Ademais, a SEPLAN é responsável pela promoção da Política de Desenvolvimento

Urbano e Regional, através da elaboração e coordenação de planos urbanísticos e

por ações de governo com vistas ao futuro de Campina Grande – PB. Nesse

sentido, segundo os dados do citado site, essa Secretaria vem desenvolvendo

estudos, diagnósticos e projetos com o intuito de acompanhar os diferentes usos da

cidade, relacionando-os a um planejamento e gestão do urbano com foco na

inclusão territorial, na redução das desigualdades e a melhoria do ambiente urbano,

de maneira a ampliar o processo de planejamento por uma visão sistêmica que

considere a diversidade de territórios no espaço da cidade.

Segundo a Constituição do Estado da Paraíba (2009), em seu Capítulo II,

denominado “Da Política Urbana”, em seu Artigo 184, assevera que:

A política de desenvolvimento urbano será fixada em lei municipal e obedecerá às diretrizes gerais, com o objetivo de ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes (PARAÍBA, 2009, art. 184).

O turismo na Constituição Estadual é visto como atividade econômica,

reconhecendo-o como forma de promoção e de desenvolvimento social e cultural. O

documento afirma que o estado, juntamente com os segmentos envolvidos no setor

turístico, definirá a política estadual de turismo tomando como base as diretrizes e

ações. Dentre elas, está o apoio à iniciativa privada, no desenvolvimento de

programas de lazer e entretenimento para a população. Diante disso, verificou-se

que o lazer neste documento vem atrelado ao turismo.

O Desporto é instituído como dever do estado, através do fomento da prática

desportiva em todas as suas modalidades, de forma direta ou através da criação de

órgão específico. No Artigo 222, tem-se que o “orçamento estadual destinará

recursos para o incentivo ao esporte” (PARAÍBA, 2009, art. 222). No entanto, a Lei

estabelecerá a criação de incentivos fiscais à iniciativa privada para o desporto

amador. Quanto ao lazer, afirma-se que é considerado uma forma de promoção

social que merecerá atenção especial, conforme o Artigo 223.

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De acordo com o Capítulo VII – “Da Família, da Criança, do Adolescente, do

Idoso, dos Índios e da Pessoa Portadora de Deficiência”, o Artigo 247 estabelece

que:

É dever da família, da sociedade e do Estado promover ações que visem assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (PARAÍBA, 2009, art. 247).

O esporte e lazer vêm ganhando destaque nas discussões, estudos e

pesquisas pautados nas políticas públicas, considerando diferentes contribuições.

Dentre elas, a melhoria da qualidade de vida da população, sem negar a sua

historicidade e diferentes manifestações, bem como reconhecendo as questões de

acesso, seu efetivo direito e seu lugar na política urbana no mundo contemporâneo.

6.2 Espaços, serviços e equipamentos de atividade física, esporte e lazer de Campina Grande – PB, de iniciativa municipal, e seus elementos constitutivos: localização, acessibilidade e rede de infraestrutura

Na visão de Catão (2015), a dinâmica interna da cidade pode ser

consequência da implantação de equipamentos coletivos, como também de

aspectos que apenas podem ser explicados socialmente, a exemplo da exclusão e

segregação espacial oriundas da localização de determinados grupos populacionais

identificados pelas diferenças de poder.

Há indicadores que podem ser levados em consideração para uma melhor

compreensão sobre o esporte e lazer nas cidades, tais como a natureza e a

densidade das infraestruturas, ou seja, abastecimento de água, vias com e sem

pavimentação, redes de iluminação, telefonia e coleta de esgoto, os equipamentos

de consumo coletivo, ou seja, campos, ginásios, quadras, parques, praças, pistas de

atletismo, ciclovias, academias, entre outros e os serviços urbanos, como coleta de

lixo, segurança, limpeza de vias, como também outros serviços.

Quanto à pesquisa de campo, a nossa amostra totalizou os dados numéricos

conforme o Quadro 03. Porém, tendo em vista que o presente estudo tem uma

metodologia qualitativa, ressalta-se que as entrevistas foram finalizadas quando se

chegou em um nível de saturação nas respostas, em consonância com os princípios

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científicos, métodos e técnicas de pesquisa ora preconizados. Enfim, a coleta de

dados se deu durante os meses de setembro a dezembro de 2016, perfazendo um

total de 36 campos observados, um acervo fotográfico composto por 576 fotos, 07

entrevistas semiestruturadas e 73 entrevistas conforme o quadro a seguir:

Quadro 03 – Levantamento da amostra pesquisada.

Observações Fotografias Entrevistas

semiestruturadas Entrevistas

36 576 - 72 07 gestores Profissionais de Educação Física 12 Jornalistas/colunistas esportivos 06 Presidentes de SABs 10 Usuários 20 Não – usuários 20 Promotores/organizadores 05

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Foram apresentadas no texto 72 imagens, contribuindo para a análise e

discussão dos dados da pesquisa, associadas às observações realizadas. Com a

preocupação voltada para os aspectos éticos, optou-se por imagens que não

identificassem as pessoas.

A amostra de gestores totalizou em 07, sendo assim constituída: gestão

2005 – 2012 – 01 (um) coordenador de esporte, pois não havia secretaria municipal

de esporte. Quanto aos gestores do período 2013 – 2016, foram entrevistados o

Secretário Executivo de Esporte, o Secretário de Planejamento, as Coordenações

de Juventude, de Esporte, da Educação Física Escolar e a Coordenação do

Programa “Mexe Campina”.

Apesar de as observações terem contemplado 36 espaços / áreas de

esporte e lazer, dentre eles, 29 estão localizados em diferentes bairros, conforme

pode-se verificar adiante. No entanto, apenas foram entrevistados 10 presidentes de

SAB, em virtude de que há bairros que não têm SAB em funcionamento e ainda

outros que estão sub judice ou que não estavam presentes na coleta de dados.

No tocante ao tratamento e análise dos dados, os resultados descritivos

estão visualizados em quadros e tabelas, com uso de frequência simples. Em

relação à análise qualitativa, baseou-se na Análise de Conteúdo, com base em

Bardin (1977, 2011) e na categorização de respostas.

Nesse estudo, o levantamento, embora não apresente um interesse técnico

profundo na área específica de conhecimento, mas como um suporte. Fez-se uso de

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observações e, quando possível, associadas ao registro fotográfico e/ou oral, sendo

este posteriormente transcrito. Pautou-se nos seguintes aspectos: localização, tipo e

usos dos espaços voltados para o esporte e lazer de iniciativa municipal; tipos e

condições dos equipamentos; questões ligadas à acessibilidade e mobilidade; rede

de infraestrutura, como também outros possíveis aparatos observados.

Os espaços, serviços e equipamentos públicos voltados para o campo da

atividade física, esportiva e de lazer na cidade de Campina Grande - PB, de

iniciativa municipal, perfizeram um total de 36 cadastrados, número identificado, com

base na relação oficializada pela Prefeitura Municipal de Campina Grande – PB,

através do setor de Gestão de Esporte e Lazer, e observados in loco, os quais estão

assim distribuídos: 02 na Zona Norte, 05 na Zona Leste, 12 na Zona Sul e 10 na

Zona Oeste, bem como 03 em áreas mais centrais. O município conta ainda com 04

localizados em Distritos, a saber: Catolé de Boa Vista, Galante, Santa Terezinha e

São José da Mata. Constatou-se que a maior parte dos equipamentos de esporte e

lazer pesquisados encontra-se em bairros periféricos.

De acordo com os dados abaixo, ressalta-se que, em Campina Grande - PB,

segundo as informações da Secretaria Municipal de Planejamento, estão

catalogados 51 bairros. Porém, já há estudo para uma futura ampliação, inclusive

com audiências públicas. Segue a localização dos espaços, serviços e

equipamentos públicos de atividade física, esporte e lazer do município, tendo como

referência as praças, academias ao ar livre e complexos esportivos.

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Quadro 04 – Localização dos espaços, serviços e equipamentos públicos de

atividades físicas, esportivas e de lazer de Campina Grande – PB, de iniciativa municipal, pesquisados.

Zonas

Norte f Leste f Sul f Oeste f

Bairro

Palmeira 02 Castelo

Branco 01

Presidente

Médici 01 Santa Rosa 03

José

Pinheiro 03

Jardim

Paulistano 02 Chico Mendes 01

Belo

Monte 01 Liberdade 02 Malvinas 02

Rocha

Cavalcante 01 Bodocongó I 01

Tambor III 01 Mutirão 01

Sandra

Cavalcante 01 Pedregal 01

Catolé 03 Bela Vista 01

Novo Horizonte 01

Centro 03

Distritos 04

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Em relação às características principais dos tipos de espaços, serviços e

equipamentos voltados para atividades físicas, esportivas e de lazer pesquisados,

percebeu-se uma variação em torno de 21, destacando-se espaços que contêm

praça com academia ao ar livre - 08; praça com academia ao ar livre, área de

caminhada em playground - 02; apenas academia ao ar livre – 02; praça com

academia ao ar livre, com área coberta, playground e quiosques – 02; praça com

academia ao ar livre, playground e aparelhos de ginástica – 02; e apenas praça –

02.

Segundo as informações prestadas na presente pesquisa pela gestão do

esporte e lazer em Campina Grande – PB, os critérios para a implementação de

espaços/serviços e equipamentos públicos nos determinados locais, o foco é para o

aproveitamento de espaço já existente ao firmar que: “Primeiro utilizar o espaço já

existente, ninguém inventa, deixa de ser lixão, passa a ser um luxão. Aproveitar o

existente que estava totalmente ocioso” (informação verbal)17.

17

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G5 à pesquisadora.

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Recorre-se a uma das funções do Plano Diretor, fazendo referência a Santos

Júnior et al. (2011), ao afirmarem que é um instrumento que traduz a função social

da cidade e da propriedade urbana, garantindo o direito à moradia e aos serviços

urbanos, e ainda favorecendo a otimização de recursos públicos, ao ampliar seus

efeitos na cidade, bem como a diminuição dos problemas sociais e de infraestrutura.

A Secretaria de Planejamento do referido município informou que o Plano

Diretor (2006) está passado por processo de estudo, discussão e com previsão de

mudanças. Porém, tomando como base o Plano Diretor/2006, encontra-se a

inserção do esporte e lazer na política urbana. Ao tratar do ordenamento e ocupação

do solo, na Zona de Qualificação Urbana prevê a ampliação e o oferecimento dos

equipamentos públicos, e os espaços verdes e de lazer; como também na Zona de

Recuperação Urbana, com um dos enfoques a implantação dos mesmos.

Figura 01 – Praça e academia ao ar livre.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Figura 02 – Praça, academia ao ar livre, área para caminhada e playground.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 03 - Praça, academia ao ar livre cercada e playground.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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245

Figura 04 - Academia ao ar livre.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 05 - Praça, academia ao ar livre, playground, área coberta e

quiosque.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Figura 06 - Praça, academia ao ar livre, playground e quiosque.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 07 - Praça, academia ao ar livre,

playground e quiosque (parte 1).

Figura 08 - Praça, Academia ao ar livre,

Playground e Quiosque (parte 2).

Fonte: Elaboração própria, 2016. Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Figura 09 - Praça, academia ao ar livre, área coberta e playground.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 10 - Praça, academia ao ar livre com aparelhos de ginástica.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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248

Figura 11 - Praça.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Num panorama com maiores detalhes dos espaços mapeados, reconheceu-

se que a evidência foi para utilização da academia, espaços que podem

proporcionar uma convivência (bate-papos, conversas e encontros), parque infantil e

ainda os que possibilitam apresentações diversas e práticas corporais.

A Política Nacional de Promoção de Saúde (2006) é um instrumento que

dimensiona e busca implantar ações transversais, integradas e intersetoriais com

foco na qualidade de vida, ressaltando que todos sejam agentes com vistas à

proteção e cuidado com a vida. Deste modo, é de suma importância o incentivo às

práticas corporais em diferentes espaços públicos. Dentre eles, estão as academias,

as quais vêm contribuindo para a adesão da população à prática dos exercícios

físicos. Nesse contexto, a implementação de políticas públicas remete ao

fortalecimento do campo da atividade física, esporte e lazer. Sendo assim, as ações

do poder público contribuem para a estruturação espacial, conforme afirma

Bernades (1986), com as políticas públicas exercendo um importante papel. De

acordo com Castells (1983), o espaço urbano é estruturado, ainda acrescenta que a

política urbana está contida na planificação urbana e nos movimentos sociais.

Um dos objetivos da Política Nacional do Esporte (2005) é democratizar e

universalizar o acesso ao esporte e lazer. E ainda, no Plano Nacional de

Desenvolvimento do Esporte (2005), para o período 2007 – 2010, estava previsto o

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eixo ligado à infraestrutura, que expressa a definição de equipamentos esportivos e

de lazer nas escolas, nas universidades e Praça da Juventude.

Verificou-se que o esporte e lazer como práticas sociais podem estar

atrelados à saúde, expressas em políticas/ações em conjunto com os Ministérios do

Esporte e o da Saúde, conforme as Academias da Saúde encontradas no nosso

mapeamento. O Programa “Academia da Saúde” (BRASIL, 2011) é uma política

intersetorial que tem o intuito de incentivar a criação de espaços públicos adequados

para as atividades físicas e de lazer. Assim sendo, os espaços pesquisados

possibilitam condições para a transversalidade do esporte com o lazer, com a saúde,

com a educação, com a cultura, com o meio ambiente, dentre outros.

Tabela 03 – Mapeamento do uso dos espaços pesquisados.

Uso dos Espaços f

Academia 30

Praça de convivência 17

Parque Infantil 11

Apresentações diversas e práticas

corporais

10

Esportes 07

Caminhada 05

Quiosques 04

Aparelhos de ginástica (Ferro e/ou

alvenaria)

02

Ciclovia 02

Corrida 01

* Múltiplas respostas

Fonte: Elaboração própria, 2016.

No tocante aos aparelhos das academias ao ar livre, constataram-se 09

realidades diferentes quanto ao número, ou seja, de 30 pesquisadas, 22 contém

menos de 10 aparelhos; 04 dispunham de 10 e 04 tinham mais de 10 aparelhos. Em

relação às suas condições, obtiveram-se os dados a seguir:

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Tabela 04 – Distribuição de frequência das academias segundo as condições dos

aparelhos.

Condições dos aparelhos da academia f

Ótima 13 Boa 06 Regular (pintura e manutenção) 11

Total 30

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 12 - Equipamento da academia necessitando de pintura/manutenção.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 13 - Equipamento da academia em ótimas condições.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Identificou-se que 13 academias estão em ótimas condições em relação ao

estado do equipamento, ou seja, aparelhos novos; 11 estão em um estado que

precisa de manutenção (umas em pintura e outras em reparos e pinturas), e 06

estão em condições favoráveis ao uso. Quanto à questão de estar ou não cercada,

embora com uma pequena diferença, a maior parte não apresenta cerca em seu

entorno. Ademais, apenas duas cercas ao redor da academia ao ar livre encontram-

se sem portão. Outra também necessita de pintura e capinação em seu interior e

uma outra encontrava-se fechada com cadeado.

Considerando a Lei Orgânica de Campina Grande – PB (1990), é uma das

prioridades de competência municipal a estruturação, organização e preservação

dos espaços e serviços municipais. Sendo assim, caberá ao poder público não

apenas implantar e implementar os serviços e equipamentos, mas elaborar um

Plano de Manutenção/Recuperação dos mesmos, com setor/equipe voltados para o

acompanhamento. Entretanto, sabe-se da importância da consciência e participação

da população em prol do uso adequado do espaço.

Segundo a gestão executiva do esporte e lazer do município, há uma equipe

de 05 pessoas ligadas à Secretaria do Esporte, Juventude e Lazer que faz o serviço

de manutenção/lubrificação do maquinário. Acrescenta ainda que: “Toda semana é

retirado equipamento para manutenção. Leva, solda, pinta e devolve. São 400

equipamentos” (informação verbal)18.

Tabela 05 – Distribuição de frequência de acordo com a existência de cercas em

volta da academia.

Cercada f

Sim 13

Não 17

Total 30

Fonte: Elaboração própria, 2016.

18

Entrevista semiestruturada concedida pelo gestor do esporte e lazer do município de Campina Grande – PB à pesquisadora.

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Em relação aos playgrounds, 02 estavam em ótimas condições, 04

precisavam de serviços de pintura, 03 necessitavam de consertos e 02 de consertos

e pintura.

Quanto às condições de higiene e capinação, nos espaços observados,

constatou-se que 03 encontravam-se em condições precárias de limpeza e 02

necessitavam de serviços de capinação.

Em relação aos espaços de maior extensão territorial e também com maior

diversidade de possibilidades de serviços e equipamentos de atividade física,

esportiva e de lazer pesquisado no estudo, observou-se 06, a saber: Complexo

Esportivo “O Meninão”, “Vila Olímpica das Malvinas”, “Parque da Liberdade”,

“Complexo Esportivo do Catolé”, “Parque da Criança” e o “Complexo Plínio Lemos”,

os quais se encontram nas seguintes condições:

Complexo Esportivo “O Meninão” – localizado na Zona Oeste de Campina

Grande – PB, inaugurado em 25/09/1992, encontra-se desativado, segundo

informações da gerência, em processo de reforma. Porém, não existiam serviços

em obras, haja vista que, também por informações, a Caixa Econômica Federal

havia interrompido a obra por questões de período eleitoral. O espaço necessita

de grande reforma e serviços diversos de manutenção, além de manutenção nos

aparelhos e equipamentos, bem como na sua rede de infraestrutura. Conta com

um ginásio poliesportivo com capacidade para 8.000 pessoas sentadas,

alojamentos, salas para aula, e atualmente é sede da Secretaria de Esporte,

Juventude e Lazer.

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Figura 14 - Complexo Esportivo “O Meninão” – Cobertura do Ginásio.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 15 - Complexo Esportivo “O Meninão” - Entrada.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Figura 16 - Complexo Esportivo “O Meninão” – Banheiro masculino.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 17 - Complexo Esportivo “O Meninão” – Ginásio.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

“Vila Olímpica das Malvinas” – Localiza-se na Zona Oeste da cidade. Encontra-

se em fase de construção, apresentando espaço amplo e com possibilidades de

otimização de diferentes práticas esportivas, culturais e de lazer, com academia

ao ar livre já em funcionamento.

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Figura 18 - Vila Olímpica das Malvinas – parte de sua extensão.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 19 - Vila Olímpica das Malvinas – Academia ao ar livre.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Figura 20 - Vila Olímpica das Malvinas – visão em dois lados.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

“Parque da Criança” – Localizado na Zona Sul, contendo pista de corrida e de

caminhada, área coberta para diferentes práticas corporais e outras atividades,

academia ao ar livre, área de skate, espaços com diferentes aparelhos de

ginástica, playground, parque infantil rústico, três mini quadras poliesportiva,

pista de BMX, área de convivência coberta, duas quadras de futebol de areia,

uma quadra para vôlei de praia e futevôlei, entre outros espaços livres, como

também área de lanchonete, banheiros e local para estacionamento.

Figura 21 - Parque da Criança – Pista de caminhada e corrida.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Figura 22 - Parque da Criança – Placa de proibições.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 23 - Parque da Criança – Pista de Skate.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Figura 24 - Parque da Criança – Campo de areia.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 25 - Parque da Criança – Mini quadra 01.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Figura 26 - Parque da Criança – Mini quadra 02.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 27: Parque da Criança – Pista de BMX.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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260

Figura 28 - Parque da Criança – playground.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

“Complexo Esportivo do Catolé” – situado na Zona Sul do município pesquisado.

Espaço recém-urbanizado em excelente condição de uso, contendo academia,

playground, quadra esportiva com alambrado, quiosques, área coberta, área

para skate, entre outras áreas livres para convivência.

Figura 29 - Complexo Esportivo do Catolé – Visão interna.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Figura 30 - Complexo Esportivo do Catolé – Playground.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 31 - Complexo Esportivo do Catolé – Academia ao ar livre.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Figura 32 - Complexo Esportivo do Catolé – área coberta.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

“Parque da Liberdade” – encontra-se na Zona Sul campinense. Embora o

espaço tenha sido inaugurado antes das eleições de 2016, encontra-se ainda

em fase de continuidade da obra. Nessa área, foi possível verificar os seguintes

benefícios: local para caminhada e corrida, 06 playgrounds, um labirinto de

madeira, academia ao ar livre, 02 áreas cobertas, parque infantil de alvenaria,

quadra de areia com alambrado e área de convivência, com mesas e bancos de

alvenaria. A academia conta com 22 aparelhos com capacidade para atender

em média a 50 pessoas ao mesmo tempo. Porém, como está ainda em processo

de construção, tem em vista outros aparatos.

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Figura 33 - Parque da Liberdade – ciclovia / caminhada / corrida.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 34: Parque da Liberdade – placas de proibições.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Figura 35 - Parque da Liberdade – quadra de areia.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 36 - Parque da Liberdade – parte da academia ao ar livre.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

“Complexo Esportivo Plínio Lemos” – localizado no Bairro José Pinheiro, Zona

Leste de Campina Grande – PB, foi inaugurado em 2008, contendo ginásio

poliesportivo, piscina (desativada), dois playgrounds, academia ao ar livre

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(nova), 03 pistas de skates, pista de atletismo com arquibancada, museu

histórico esportivo, 02 quadras para voleibol de areia e futevôlei, campo de

futebol e minicampo, entre outros espaços. O equipamento poderia oportunizar

diversas práticas esportivas, diferentes práticas corporais e outras atividades da

área, inclusive esportes de rendimento. No entanto, o local encontra-se em

estado de abandono, em péssimas condições de uso, ou seja, todo o complexo

precisa de obras e serviços de construção, reformas e manutenção, inclusive

alguns equipamentos estão necessitando de substituição por questões de falta

de manutenção e monitoramento. As janelas, grades e portas estão depredadas,

com cobertura com sérios problemas, pisos esburacados, rede de esgoto

precisando de reparos; enfim, o espaço precisa de reformas de diferentes

naturezas. Contudo, ainda o ginásio coberto está realizando alguns jogos,

conforme foi observado.

Figura 37 - Complexo Esportivo Plínio Lemos – arquibancada.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Figura 38 - Complexo Esportivo Plínio Lemos – piscina.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 39 - Complexo Esportivo Plínio Lemos – uma das entradas.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Figura 40 - Complexo Esportivo Plínio Lemos – ginásio.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 41 - Complexo Esportivo Plínio Lemos – campo de futebol com pista de atletismo.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

O esporte e o lazer são garantidos como direitos sociais, como se viu em

vários documentos previstos, inclusive em leis. Porém, uma das problemáticas

destacadas pelos participantes da pesquisa foi a precariedade da política de

esporte, no tocante à prática formal e ao incentivo do esporte nas escolas, ferindo

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assim a Lei N. 9615/Brasil (1998), muito embora não seja o recorte deste estudo,

mas em virtude de algumas inquietações por parte dos mesmos, como também

fazendo-se necessário cultivar o gosto e uma formação humana, a partir dos valores

e relevância da atividade física, do esporte e lazer na vida das pessoas e em

sociedade é que pode ser umas das justificativas desse contexto.

Tomando como referência o Estatuto da Juventude (2013), a política pública

do desporto e lazer, entre outros aspectos, destaca a lei de incentivo fiscal para o

esporte, com prioridade para a juventude, e que possibilite a prática desportiva,

cultural e de lazer, através da oferta de equipamentos comunitários. Além disso,

ressalta-se que hábitos de atividade física adquiridos na infância e adolescência

podem se manter durante a vida (GORDON-LARSEN et al., 2004).

Diante dessa perspectiva, remete-se a Bento (2007), quando afirma que o

esporte passou progressivamente a ser uma prática aberta a todas as pessoas,

independentemente de idade, condição física e sociocultural. Além disso, cada vez

mais as pessoas vêm procurando aderir a uma vida ativa. A atividade física faz parte

de seu estilo de vida (PRATA, 1992; NAHAS, 2010).

- Condições dos bancos das praças

Quanto aos bancos que estão expostos nas praças de convivência, 06 locais

precisam de reparos e pinturas.

Figura 42: Bancos da praça.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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As praças, nas quais estavam localizadas as academias ao ar livre, em sua

maioria tinham apenas bancos de madeira e ferro, e outros reuniam um maior

número de bancos, inclusive de alvenaria, apesar de alguns deles precisarem de

manutenção. A organização dos bancos se dava de diversas formas: ao redor da

praça, ao redor e dentro da academia ao ar livre, ao longo de todo o espaço ou

distribuídos de acordo com as condições do espaço. Entretanto, levou-se a acreditar

na necessidade de definição de certos padrões.

- Público-alvo

Nos serviços e equipamentos de atividades física, esportiva e de lazer, o uso

em sua maioria é feito por adultos e idosos, embora muitos deles agreguem a

possibilidade de crianças e jovens participarem. Entretanto, constatou-se que o

acesso ao adolescente diante das condições, características, funcionalidades e

tipologias de uso é insuficiente para atender à demanda, e ainda por terem espaço

que se encontram desativados.

Lefebvre (1991), ao tratar dos usuários dos espaços, os quais denominam

usuários da vida cotidiana, entende com uma complexa articulação de força, no

contexto econômico, político e cultural. Desta maneira, mesmo reconhecendo os

padrões, instrumentos de planejamento e gestão do urbano, acredita-se, pelo fato de

alguns espaços/serviços/equipamentos seguirem um “certo padrão” em sua forma

de disposição, que talvez por questão de segurança, controle da população ou

algumas formas de relações de poder estabelecidas na / pela comunidade podem

ter ligação com o referido cenário ou com a condição ora apresentada.

- Presença de sinalização (visual, sonora, vertical e tátil) nos locais pesquisados

Dentre os locais pesquisados, apenas em 05 existe sinalização visual para

cadeirantes, no solo e nas entradas de acesso.

- Presença de rampa (inclinação, corrimão e patamar)

Havia colocação de rampa em 20 locais, em diferentes modalidades. Porém,

muitas delas sem sinalização.

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270

Figura 43 - Rampas de acessibilidade bem sinalizadas, mas fora da

norma padrão.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 44 - Rampas de acessibilidade com sinalização apagada.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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271

Figura 45 - Rampas de acessibilidade sem sinalização.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 46: Rampas de acessibilidade totalmente fora da norma

padrão.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Em relação à mobilidade dos cadeirantes na área observada, apesar de que

em 20 locais as condições eram boas, ainda em 14 não atendiam às necessidades

dos cadeirantes do ponto vista de mobilidade. Tratando-se das condições de

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272

mobilidade para os deficientes visuais, não se enquadram às normas técnicas

exigidas, segundo os dados coletados.

Tabela 06 – Distribuição de frequência de acordo com a condição de mobilidade de cadeirantes.

Condições f

Satisfatória 20

Apenas ao redor do espaço 02

Inapropriada por causa da calçada 01

Só após suspender/levantar dá diferença da rua/calçada 05

Sem acesso 08

Total 36

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Entre as medidas da Convenção Internacional sobre os Direitos das

Pessoas com Deficiência (2007), constam ter acesso a bens culturais acessíveis;

aos locais de eventos esportivos, recreativos e turísticos; e aos serviços ligados à

organização de atividades recreativas, turísticas, esportivas e de lazer.

A ABNT NBR – Associação Brasileira de Normas Técnicas 9050, de

31/05/2004, trata da acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e

equipamentos urbanos. Com base na referida norma, acessibilidade é a

possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização

com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano

e elementos. Quanto ao termo acessível, este é compreendido como espaço,

edificação, mobiliário, equipamento urbano ou elemento que possa ser alcançado,

acionado, utilizado e vivenciado por qualquer pessoa, inclusive aquelas com

mobilidade reduzida. O termo acessível implica tanto acessibilidade física como de

comunicação (ABNT NBR 9050, 2004).

- Condições de calçadas e pisos

A maior parte dos serviços e equipamentos de atividades físicas, esportivas

e de lazer pesquisada encontra-se com suas calçadas e pisos de forma adequada

do ponto de vista de manutenção, embora necessite que sejam observadas as

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273

melhorias e a existência de adequação aos parâmetros de acessibilidade para as

pessoas com deficiências. Além disso, identificou-se espaço inadequado para

mobilidade não só de cadeirantes, como também para os idosos, considerando os

desníveis apresentados de um tipo de piso para outro. Constatou-se também uma

divergência de tipos de calçamento e piso, pois uns seguem em formatos de pisos

alternados retangulares; outros pisos são intercalados hexagonais; outros também

alternam areia com cimento; outros são de granito; outros alternam brita com areia;

outros alternam paralelepípedos com areia; outros de cerâmica; outros de cimento e

outros com brita e paralelepípedos. Ademais, observou-se que alguns espaços

contavam com a rampa com sinalização para cadeirante, mas a rua era calçada com

paralelepípedos, dificultando, assim, a sua mobilidade.

Tabela 07 - Distribuição de frequência segundo as condições de calçadas e pisos observados.

Condições de calçadas e pisos f

Ótimas 15

Boas 09

Necessitando de reparos 05

Necessitando de limpeza 03

Necessitando de capinação e limpeza 01

Péssimas 03

Total 36

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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274

Figura 47 - Sinalização faixa de pedestre.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 48 - Espaço com condição de mobilidade.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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275

Figura 49 - Espaço inadequado para mobilidade de cadeirante.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 50: Espaço inadequado para mobilidade de cadeirante.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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276

Figura 51 - Espaço com acessibilidade que favorece a mobilidade de

cadeirante.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

O Plano Diretor de Campina Grande - PB (2006) aborda, dentre outros

objetivos, o de possibilitar às pessoas o acesso, com segurança, ao processo

produtivo de serviços, bens e lazer quando faz referência ao Sistema de Mobilidade

Urbana. Está prevista também na Constituição Estadual da Paraíba (2009) como

uma das prioridades a segurança pública.

- Banheiros

Tratando-se de banheiros e banheiros adaptados, verificou-se na maioria

dos locais a inexistência deles. O Parque da Criança tem banheiros e também

banheiros adaptados, necessitando de manutenção, bem como na Vila Olímpica das

Malvinas, ainda em fase de construção. No Parque da Liberdade, ainda não foi

possível reconhecer as referidas dependências por se encontrarem em obras, e sem

o contato anterior com a planta da obra. No Complexo Plínio Lemos, os banheiros

estão sem condições de uso. No Complexo Esportivo “O Meninão”, necessitam de

manutenção de forma geral. Ademais, como uma academia ao ar livre está

localizada dentro de Unidade Básica de Saúde – UBS, seus usuários poderão

utilizar o banheiro da instituição, e por uma outra academia ficar em frente a uma

UBS, facilita o acesso dos usuários ao banheiro do referido equipamento social.

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277

- Rede de esgoto

Considerando o serviço de esgoto, do ponto de vista de visualização

externa, apresentaram-se as seguintes situações: canal aberto nas proximidades

(em três locais), galerias com mau cheiro, caixa de esgoto faltando a tampa, um

serviço de esgoto com vários problemas estruturais, galerias precisando de

reposição de ralos/grelhas e “boca de lobo”. Constatou-se ainda em alguns locais a

presença de drenagem, com uso de grelhas. Dos 36 existentes, em 24 não se

observou rede de esgoto externamente. Quanto ao “Açude Velho”, este recebe

esgoto proveniente de um canal.

Figura 52 - Drenagem com uso de grelha.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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278

Figura 53 - Parque do Povo - Drenagem com uso de grelha.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

- Abastecimento de água

Quanto ao abastecimento de água nos locais pesquisados, ele existe em

apenas 04, nas condições que se seguem: caixa d‟água desativada (em 02 locais);

uso apenas internamente através da UBS (01 local), bebedouros no Parque da

Criança. No período de festas juninas, a partir de 2016, no Parque do Povo, o uso

da água foi otimizado por poço artesiano. Em relação aos espaços em que há

quiosques, não foi possível identificar de forma mais precisa por estarem fechados.

Outros estavam em fase de acabamento e outros ainda estavam com um grande

fluxo de atendimento comercial.

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279

- Iluminação

A iluminação se dá em alguns locais com postes e lâmpadas; outros com

postes e refletores; outros com postes com lâmpadas e refletores; outros apenas

com refletores, os quais modificavam sua disposição, ou seja, ora ao redor, ora ao

redor e meio, ora na lateral ou laterais. A quantidade de lâmpadas variava bastante.

Constatou-se também que havia uma relação na sua maioria com o tamanho da

ocupação do solo.

Contudo, há ressalvas em alguns setores, pelos motivos citados: a falta de

poda nas plantas, acarretando a precariedade na iluminação no playground e na

praça de convivência; uso e instalação de brinquedos privados no ambiente público,

sem os devidos cuidados de segurança; iluminação necessitando de manutenção;

falta de uma iluminação adequada, focada para academia ao ar livre; uma área

extensa com iluminação muito deficitária e uma academia ao ar livre, que em virtude

das árvores precisaria ampliar a sua iluminação. Muito embora tenham sido

observados que os horários de maior adesão às academias ao ar livre davam-se no

início da manhã e ao final da tarde. Foi constatada a presença de usuários nos

espaços à noite, inclusive em locais de iluminação precária, os quais relataram que

era uma das dificuldades encontradas pelas questões atreladas principalmente à

insegurança.

Figura 54 - Escassez da iluminação da Academia da Saúde no Açude

Velho.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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280

- Transporte público

O acesso ao local com transporte público em 25 locais é favorável, e ainda

em 02 locais há interligação com a parada de ônibus. Apenas em 09 há dificuldades

de acesso ao transporte público, embora não se encontrem muito distantes.

Figura 55 - Praça com academia com proximidade de parada de

ônibus.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Segundo Jacobs (2011), a importância atribuída ao trânsito, circulação das

pessoas, ao comércio e à questão das ruas e calçadas são aspectos necessários

para a segurança no planejamento urbano.

Para a autora, o correto disciplinamento do trânsito é mais importante do que

o policiamento, com vias à garantia da segurança em determinada rua, bairro ou

distrito. Se há trânsito ininterrupto de usuários, a rua e o bairro terão um movimento,

um fluxo, há circulação de pessoas, há vida. Outra condição é sobre a circulação de

pessoas, pois, caso haja fluxo de pessoas, considerando o tipo de aparatos

identificados no local, ou seja, padarias, mercearias, lojas, pequenos serviços, entre

outros, para pesquisadores são mais eficazes que a iluminação pública. Aliada a

essa situação, pode estar o comércio, que é considerado pela autora um fator de

grande relevância no que diz respeito à segurança de uma rua. Jacobs (2011) afirma

que o que torna uma região violenta é a falta de circulação de pessoas, e acrescenta

que algumas ruas oferecem oportunidade à violência.

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281

Ao tratar de ruas e calçadas, o autor esclarece que elas são os espaços

fundamentais para a diversidade e intensidades dos usos. Mediante os contatos nas

ruas é que há o florescimento da vida pública exuberante na cidade. Ademais, as

calçadas, que devem ser largas, podem ser mais importantes do que os playgrounds

para as atividades das crianças, porque esses espaços e equipamentos “não

cuidam” de crianças. Justifica que nem sempre os referidos espaços dispõem da

vigilância necessária. Na contramão desta concepção, Miranda (s.d., p. 10-14), ao

tratar do contexto da urbanização atrelada ao processo de industrialização, diz que

os urbanistas, com a preocupação voltada para os espaços de as crianças

brincarem, na ausência destes, elas vão para a rua. Para o autor, a rua é um local

nocivo, pois lá se facilitará o contato com os maus hábitos.

Entretanto, há uma preocupação que aflige o nosso país, ou seja, a falta de

segurança. Sendo assim, como olhar sob o ângulo da subjetividade, do campo

simbólico, dos sentidos e significados da rua no âmbito valorativo, considerando a

realidade do cotidiano contemporâneo?

Gradativamente, as cidades vêm se modificando, os centros urbanos estão

perdendo suas funções anteriores, esvaziamento das áreas centrais, novos bairros

estão surgindo, as zonas periféricas cada vez mais vêm se ampliando. Dessa forma,

há necessidade de implementação de políticas públicas e políticas urbanas que

atendam à otimização de espaços públicos, com infraestrutura e equipamentos

adequados destinados ao esporte e lazer à comunidade em geral, de modo a

superar a segregação e a exclusão social.

- Disponibilidade de coletor de lixo

A maior parte dos espaços observados disponibilizam coletores de lixo. No

entanto, um conjunto precisa de manutenção; um local contém um número

insuficiente de coletores e em 02 locais o coletor é grande, do tipo “tira entulho”. Em

outro local, encontravam-se também coletores alternativos.

Tabela 08 – Distribuição de frequência segundo a disponibilização de coletores de lixo.

Coletor de Lixo f

Sim 28

Não 08

Total 36

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Figura 56 - Academia de saúde sem nenhum coletor de lixo.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 57 - Academia de saúde com coletor de lixo e saco plástico.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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283

Figura 58 - Coletor do tipo “Tira entulhos”.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 59 - Praça com coletor de lixo.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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284

Figura 60 - Praça com coletores de lixo alternativos.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

A partir do mapeamento, entrevistas, registro fotográfico e o debruçar sobre

documentos neste estudo, tem-se um cenário de situações adversas, avanços,

fragilidades, mas também uma gama de possibilidades de discutir as relações de

políticas urbanas, planejamento e gestão da cidade e a dimensão da atividade física,

esportiva e de lazer não apenas do ponto de vista quantitativo, mas, sobretudo,

qualitativo e novos desafios, expectativas e perspectivas a serem percorridos.

Uma vertente a ser repensada sobre os padrões de discutir o urbano e

também os paradigmas e instrumentos de planejamento, e como exemplo rever o

planejamento que se baseia no zoneamento, haja vista a possibilidade de melhor

controle da cidade e, por conseguinte, uma maior intervenção do Estado, como

também aproveitamento e uso racional das infraestruturas, como destaca Kleiman

(s.d.), além de ser principalmente uma técnica de controle do uso do solo da terra

urbana e, consequentemente, o enaltecimento de uma lógica capitalista. Sendo

assim, propõe a planificação pelas redes.

As redes de infraestrutura de Campina Grande – PB dos espaços, as áreas,

serviços e equipamentos de esporte e lazer de interesses físico-esportivos, de

iniciativa pública municipal, foi um dos elementos constitutivos da pesquisa.

Observou-se que, a partir dos dados ora apresentados, compreende-se que o olhar

da população em relação ao esgoto, água, energia, transporte, lixo e drenagem são

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285

possibilidades de discussões com ela, e de forma mais específica com os seus

usuários, para que se repense e analise a rede de infraestrutura, como também para

que se discuta futuras modificações no modo de vida e cotidiano dos moradores,

suas articulações com os diferentes bens e serviços da comunidade na busca de um

bem coletivo com os aparatos necessários para a melhoria da qualidade de vida da

população e da vida em sociedade. Todavia, conforme Lefebvre (2001) numa

concepção de Direito à Cidade, as necessidades sociais estão para além de

produtos e bens materiais de consumo, mas uma atividade criadora, necessidades e

informação, de simbolismo, de imaginário, ou atividades lúdicas, ou seja, traz para o

debate a função simbólica do espaço. Além do mais, para ele, a sociedade urbana

exige uma planificação voltada para as necessidades sociais, sendo resultante de

uma força social e política (LEFEBVRE, 2008).

Diante do contexto de redes de infraestrutura, baseando-se nos estudos de

Kleiman (s.d.), faz-se necessário tomar como base as propriedades de conexidade,

ubiquidade, homogeneidade, conectividade, modalidade e adaptabilidade para que

seja possível entender e repensar a planificação.

- Estacionamento (vagas e recursos garantidos)

Apenas um local mapeado (“Parque da Criança”) apresenta estacionamento

interno, com demarcação de vagas para idosos, mas ressalva-se que o local de

estacionamento não atende às demandas. No geral, apresentam-se 13 locais em

que há espaço que facilita o estacionamento de veículo, mas nos logradouros

públicos e sem garantia de espaço demarcado para deficientes e idosos. Existem

alguns locais onde o estacionamento de veículos pode ser feito em algumas ruas

laterais, sendo que há uma parte que só deve ser utilizado por um lado, devido ao

grande fluxo de veículo. Percebeu-se também uma enorme variação de condições

quanto às larguras das ruas que estão no entorno, sendo uma maior parcela

estreita. Quanto ao “Complexo Plínio Lemos”, considerando a sua extensão, viu-se

que o estacionamento interno é muito pequeno. No tocante ao “Parque do Povo”,

quando ocorrem ações/eventos de médio e grande porte, o estacionamento no

logradouro público não atende à realidade, fazendo com que a população procure

estacionamento privado.

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Figura 61 - Estacionamento bem sinalizado, localizado no Parque da

Criança.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

- Área verde

No tocante à área verde, destaca-se a presença da Algaroba e, em

segundo lugar, a Palmeira Imperial. Há 07 locais com uma área verde bem

diversificada, com plantas da região, e apenas em 02 não há plantas. Observou-se

também em alguns equipamentos a presença de plantas mais antigas, que não se

encontraram em outros locais, a exemplo de Castanhola, Eucalipto, entre outras. Em

alguns locais, verificou-se o plantio de novas espécies, embora algumas delas

necessitassem de manutenção. A Prefeitura Municipal de Campina Grande – PB

vem desenvolvendo e fortalecendo o Programa “Minha Árvore”, com um dos

objetivos de plantar uma árvore nos espaços públicos, a exemplo da ação realizada

em maio de 2017 no Parque da Liberdade, através da Secretaria de Meio Ambiente

e Serviços Urbanos, em parceria com uma emissora de TV local.

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Figura 62 - Predominância de Algarobas.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 63 - Espaço bem arborizado.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Figura 64 - Área não arborizada.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 65 - Arborização localizada.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Figura 66 - Plantas estilo jardineira.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 67 - Plantas novas em fase de crescimento.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Ao tratar, de forma específica, da questão ligada às condições de

infraestrutura voltada para a presença ou não de área verde nos espaços

pesquisados, evidenciou-se que o município de Campina Grande – PB está incluído

na área geográfica de abrangência do clima semiárido brasileiro, por situar-se no

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agreste paraibano, entre a Zona da Mata e o sertão. Situada em uma altitude de 500

metros acima do nível do mar, possui um clima com temperaturas mais moderadas,

considerado tropical com estação seca, com chuvas concentradas nas estações de

outono e inverno. Entretanto, no ano de 2016 e já no início de 2017, conta com um

problema avassalador: a crise hídrica. Com longos períodos de seca na região, não

houve a chegada de água no Açude Epitácio Pessoa (Boqueirão/PB), que abastece

a cidade, entre vários outros municípios. Sendo assim, diversos municípios

paraibanos encontram-se no sistema de racionamento de água, trazendo muitas

mudanças nos modos de vida e no cotidiano das pessoas e da cidade.

As mudanças nas condições atmosféricas na cidade vêm tornando os dias

mais quentes e na espera de noites mais frias. Porém, essa condição em

determinados períodos leva os nativos a um estranhamento, ou seja, em algumas

noites não ocorre a queda da temperatura.

As áreas verdes influenciam de forma positiva, ou seja, há melhoria nas

condições climáticas, embelezamento, fortalecimento aos princípios de

sustentabilidade e, aliados a estes, a educação ambiental. Ademais, o pensamento

relacionado ao retorno à vida do campo, mais próximo à natureza, conforme

Carvalho e Sabino (2013), é também um caminho para discussão. É importante

ressaltar que a visão de embelezamento no contexto da política urbana vem sendo

modificada a partir de paradigmas e padrão de planejamento do urbano.

A história da disseminação da Algaroba na região se deu pelo processo de

importação da prática do seu plantio, que aconteceu a partir de um programa, e foi

acentuado ao longo dos anos, de maneira que apresenta de forma quantitativa na

região. Porém, de acordo com a mídia nacional e programas temáticos veiculados

pela televisão, a planta, de origem peruana, vem sendo pesquisada, e os resultados

mostram que ela tem um poder de sucção de água por suas raízes. É uma planta de

fácil sobrevivência, com seus benefícios, mas traz grandes preocupações,

principalmente pela nossa condição geográfica.

Foi identificado que, em algumas praças onde existem árvores mais antigas,

passou-se a acreditar que anteriormente elas tinham mais as características de

sítios, e quando da sua implantação, talvez tenham sido aproveitadas.

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- Aparatos outros

Ao mergulhar no campo de forma mais apurada, foram registradas

condições e características outras do local, as quais foram denominadas de

aparatos. Desta maneira, viu-se que algumas agregavam ao serviço e equipamento

público municipal da área da atividade física, esporte e lazer de Campina Grande –

PB, em maior evidência os seguintes aspectos: proximidade com a Unidade Básica

de Saúde – UBS do Bairro, às escolas / creches, igreja e base da Polícia Militar;

existência de telefones públicos e placas de explicação do uso dos equipamentos de

exercícios da academia ao ar livre. Esses equipamentos, em sua maioria, estavam

localizados em uma praça.

Para os críticos na área de planejamento urbano, como Jacobs (2011) e

Souza (2004), o tempo é um fator importante na formação de redes e, por

conseguinte, favorece as relações com as proximidades de áreas residenciais,

comércio, lazer, postos de saúde, escolas, entre outros espaços e serviços; como

também o adensamento, ou seja, a utilização mista do solo, para usos sociais

diferentes, promoveria uma maior interação. Tais condições são importantes para a

discussão e realização do planejamento urbano.

Nessa perspectiva, a presença dos espaços, serviços e equipamentos de

esporte e lazer no próprio bairro pode corroborar o fortalecimento da identidade do

lugar, com a ideia de pertencimento, de centralidade, a possibilidade de articulação,

conexões, pois há uma possibilidade de muitos “nós” e, desta forma, mobilidade e

deslocamento, ou seja, uma circulação integrada.

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292

Figura 68 - Academia com placa de explicação de uso dos

equipamentos.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 69 - Praça com proximidade com Unidade Básica de Saúde.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Figura 70 - Praça com aproximação da Associação de Amigos de

Bairro - SAB.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Figura 71 - Praça com aproximação de uma Escola Pública.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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Figura 72 - Praça com aproximação de Escola Pública e Igreja.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Nas placas de identificação das obras construção/reurbanização ou

recuperação das praças observadas estão atreladas à Prefeitura Municipal de

Campina Grande, e de forma específica à Secretaria de Serviços Urbanos e Meio

Ambiente, um dado que chama a atenção é que a maioria dos locais de fixação das

placas está pixada. De acordo com a fala do Secretário do Esporte, em cada praça,

há um ou dois funcionários para manutenção e vigilância.

Através da informação durante a entrevista ao gestor executivo do esporte,

este afirmou que a administração dos espaços, equipamentos de esporte e lazer

pesquisados está atrelada à Secretaria Municipal de Esporte, Juventude e Lazer e

acrescentou que à noite é invadida por vendedores. Nas observações realizadas,

também foi identificada a presença de comércio durante o dia, à noite e aos finais de

semana, não só naquelas em que há quiosques, mas também são colocadas

barracas, carrinhos, entre outros, para a venda de alimentação e até bebidas. É uma

verdadeira “festa”. Além disso, o privado invade o público, talvez com a presença do

trabalho informal.

Quanto aos quiosques, de forma específica, obteve-se a informação da

contrapartida dos comerciantes, que seria com os “cuidados” com a própria praça, a

higiene e quanto à água e à luz, pagas por eles.

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295

Observou-se que, à noite e aos finais de semana, alguns espaços e

equipamentos públicos urbanos pesquisados misturavam os seus usos, com os

encontros, a música, a conversa, a “festa” e o lazer no fluxo de um comércio que

movimentava o ambiente diferentemente. O ambiente se expressa numa lógica de

consumo, com relação de compra e venda, que muitas vezes se dá sem

planejamento e até de forma precária e irregular.

De acordo com Arendt (2007), o espaço público, a esfera da política tem os

seguintes aspectos: é o mundo da visibilidade e da aparência; o mundo comum na

medida em que se trata de um produto ou artefato dos seres humanos; e ainda o

espaço da ação e da palavra, lugar da pluralidade e, portanto, da manifestação da

liberdade. Dessa maneira, para a autora, a esfera pública é o espaço da política. Na

esfera pública, os seres humanos se reconhecem como sujeitos coletivos e não

como indivíduos isolados, atomizados, privados. Sendo assim, a ação e a palavra

são as experiências que constituem a dimensão política da esfera pública.

Logo, a esfera pública para a autora é o espaço da confluência das falas e

do agir humano, condição de possiblidade para a formação de opiniões contrárias,

da interrelação, do entendimento e do consentimento. Contudo, a diversidade não

significa necessariamente a geração de conflitos, embora seja uma possibilidade de

dialogicidade. É nesse entendimento sobre a política que Arendt (2007) analisa a

inversão de valores advindos da modernidade que faz com que a lógica privada das

necessidades da vida, em que a política seja relegada à esfera administrativa e

burocrática, transformando a vida associativa em um tipo de sociedade

despolitizada, com ênfase na lógica da manutenção da vida, voltada exclusivamente

para a esfera da economia, ao âmbito doméstico. Neste sentido, é estabelecida a

perda da fronteira entre o público e o privado.

A população cada vez mais é atendida a partir do que está sendo oferecido.

Questionamentos diversos podem ser feitos, tais como: Até que ponto a comunidade

tem outras opções de lazer? O que fazer para essa forma de ocupação e de

comércio existir? Como se dá a contrapartida desses comerciantes e moradores?

Quais os pontos positivos e negativos nessa situação? Quem perde e quem ganha?

Qual o papel do público? De que forma esses moradores estão pensando sobre as

necessidades e melhoria para o bairro e para a cidade?

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296

Muito se tem debatido sobre a importância do esporte. Há programas e

projetos vinculados à Secretaria Nacional do Esporte, Educação, Lazer e Inclusão

Social (BRASIL, 2016), que têm como objetivos específicos contribuir para a

diminuição da exposição aos riscos sociais, drogas, prostituição, gravidez precoce,

criminalidade, trabalho infantil, dentre outros. Ademais, há programas que têm como

finalidade atender à demanda populacional voltada para o esporte recreativo e de

lazer, sobretudo para os que se encontram em situações de vulnerabilidade social e

econômica.

Há algumas correntes de debate que refletem e analisam criticamente o

esporte e o lazer na vida das pessoas e na cidade para além de uma perspectiva

unilateral, como se fosse apenas a resposta dos males sociais, como as

consequências da ociosidade, não como controle social, não como algo que ameaça

o capitalismo etc. Desta feita, entende-se que o esporte e o lazer têm sua

importância e ainda não devem ser entendidos numa dimensão meramente

funcionalista.

Os aparatos sob o prisma dos valores que agregam e qualifiquem os

espaços/serviços/equipamentos públicos urbanos de atividade física, esporte e lazer

são importantes na discussão. Além disso, deve-se ainda pensar o campo não

apenas sob os aspectos de padronização, sem vida ou sem usuários, mas que

sejam acolhedores, valorizem a cultura e o cotidiano nas cidades, reconheçam o

conhecimento e os anseios da população e que sejam definidas as competências do

poder público nas suas diferentes instâncias, tendo em vista o seu fortalecimento na

política pública urbana.

6.3 O esporte e lazer na política urbana sob múltiplos olhares

VISÃO DOS GESTORES

Políticas públicas brasileiras voltadas/relacionadas ao esporte/lazer

Os gestores, quando inquiridos sobre quais políticas públicas brasileiras

estão voltadas/relacionadas ao esporte e lazer, suas respostas focaram na

explicitação de programas, tais como: Programa Esporte e Lazer na Cidade – PELC,

Programa Bolsa Atleta e Programa “Mexe Campina”. Foram mencionadas a Lei de

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Incentivo ao Esporte, a Lei Pelé, além do incentivo ao esporte amador. Foram

também citadas a Praça da Juventude, a Praça da Cultura e criação de Centros de

Referência. Além disso, foram anunciados a temática do esporte na escola, as

políticas de inclusão, o esporte paralímpico e o esporte de alto rendimento, a serem

incentivados e apoiados.

Em duas falas, estão relacionados o esporte e lazer com a saúde. Inclusive,

em uma está explícita a ligação com o Ministério da Saúde. Outra fala, por sua vez,

anuncia tanto o Ministério do Esporte quanto o da Educação.

Estão presentes nos discursos algumas preocupações na temática em tela,

como se pode observar nos seguintes trechos:

[...] esporte e lazer décimo plano na conjuntura (informação verbal)19

. [...] vejo muito pouco, a prática esportiva em Campina Grande deixa a desejar, até os eventos não têm mais, muitos projetos deixaram de dar continuidade, a exemplo do Segundo Tempo. É tão pouco que a gente nem visualiza, vem se perdendo ao longo dos anos, não sei se é problema de gestão, ou se de outros governos, se é de outras instâncias, federal [...] (informação verbal)

20.

[...] são muitas políticas públicas, federal, estadual, municipal, sendo esta menor. [...]. Tudo tem, a partir de lá, Ministério do Esporte [...]. O calendário é muito abrangente, até para o índio. Campina Grande tem um calendário esportivo, não é muito abrangente, mas tem (informação verbal)

21.

Para que o esporte e lazer sejam fortalecidos, espera-se a elaboração de um plano

de desenvolvimento, que venha contemplar, por exemplo: ações, programas e projetos,

sendo oriundos em uma das esferas, seja federal, estadual e/ou municipal, como

encontram-se na pasta ministerial do esporte, como afirma Filgueira (2008).

De acordo com Silva (2002, p. 21), projeto “é aquele instrumento do planejamento

que mais se aproxima da ação”, enquanto o programa é um aprofundamento do plano, que

será composto pelos seguintes elementos:

a síntese de informações sobre a situação; a formulação explícita das funções efetivamente consignadas aos órgãos e/ou serviços; a formulação de objetivos gerais e específicos; estratégica e dinâmica de trabalho; as atividades e projetos que comporão o programa; os recursos humanos, físicos e materiais necessários; e a execução das medidas administrativas (SILVA, 2002, p. 20-21).

19

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G1 à pesquisadora. 20

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G2 à pesquisadora. 21

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G5 à pesquisadora.

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A autora complementa que o projeto “sistematiza e estabelece o traçado

prévio da operação de uma unidade de ação e que um programa está constituído

por um conjunto de projetos” (SILVA, 2002, p. 46).

Sendo assim, os programas citados remetem a uma abrangência federal.

Quanto ao programa mencionado “Mexe Campina”, este vem sendo implementado

pela iniciativa municipal, sendo fortalecido ao longo dos anos. A parte citada

referente às leis que tratam do esporte. Do ponto de vista de financiamento,

reforçam a preocupação dessa natureza e, por conseguinte, o campo de incentivo

ao esporte. Contudo, muitas mudanças ao longo do tempo surgiram, haja vista a

necessidade de fortalecimento, fruto também de uma conjuntura política,

governamental e, por que não dizer, também econômica e social de esferas mundial,

nacional e, ainda, local, com o panorama voltado para o trato da questão do papel

do Estado, as concepções políticas do governo, como também a participação da

sociedade civil, que venha coadunar com as políticas públicas.

Ultrapassando o plano de identificação da legislação em vigor, a exemplo da

Lei Pelé (1998), Lei Agnelo-Piva (2001), Lei de Incentivo ao Esporte (2006),

conforme explicitadas anteriormente, entre outras, que fazem parte da legislação

brasileira nas suas diferentes instâncias, seja na forma de lei, resoluções, decretos,

etc. É importante discutir a sua abrangência, materialização, avanços e entraves.

Formas que o esporte e lazer de interesses físico-esportivos se apresentam em

Campina Grande – PB

Para as formas que o esporte e o lazer de interesses físico-esportivos

apresentam em Campina Grande – PB, segundo a opinião dos gestores

pesquisados, elaboraram-se três categorias, a saber: locais de práticas, calendário e

políticas de gestão.

Categoria: Espaços de práticas

Tema Verbalizações

Espaços

“Academias populares instaladas em algumas praças [...]” G1

“Campina Grande era Parque da Criança, foram crescendo as

demandas em vários locais e foram se constituindo. No Parque da

Liberdade – Centro de iniciação ao Esporte; na Juscelino Kubistchek

e no Canal de Bodocongó, bem utilizados os espaços; no Parque do

Açude Novo Tai Chi Chuan e Parkour; Final da Floriano Peixoto todo;

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299

no Complexo Plínio Lemos há quadra; campos de pelada...” G2

f 02

Categoria: Calendário

Tema Verbalizações

Atividades, Ações e

Programas

“[...] através da corrida de rua, pois há adesão da população –

acessível, barato [...]” G3

“[...] pelos eventos, pelas corridas, pelo esporte, Taça Itararé [...]” G4

“Através de um calendário esportivo com várias modalidades e

através do Programa Mexe Campina [...], quadrilhas, Capoeira na

escola, com a parceria do Instituto Alpargatas; programa de

escolinhas de futebol (mais de 40 escolinhas no município);

caminhadas, trilhas ecológicas e corridas de ruas (leve, moderada,

vigorosa) realizadas mensalmente” G5

f 03

Categoria: Políticas de gestão

Tema Verbalização

Política

“A gente mudou o conceito, quis trabalhar, descentralizar

equipamentos e praças nos locais sem se deslocar, tendo o esporte

e lazer no seu próprio ambiente. Associar à política de ocupação ao

esporte e lazer; diminuir os custos com a saúde. A cidade que pratica

esporte relaciona com a saúde. A política voltada para a saúde,

esporte e educação, porque melhora-se o custo com a saúde.

Exemplo: o Programa Mexe Campina é uma poupança para

economizar o custo. Temos a política de descentralizar. Estimular a

prática de skate. Exonerar custos de saúde. Melhoria da qualidade

de vida nos bairros, exemplo: ambientes vulneráveis passam a ser

importantes, exemplo: Parque da Liberdade é uma questão de

gênero – mulheres com ampla jornada, o esporte e lazer é uma

válvula de escape”. G6

f 01

Tomando como referência o pensamento de Lucena (2001), as diferentes

modalidades esportivas, as danças, as lutas e as práticas corporais vêm

desenvolvendo no cotidiano das cidades e, por conseguinte, atraindo a adesão da

população. Identificaram-se vários locais de prática voltados para o esporte e lazer

de interesses físico-esportivos em Campina Grande – PB de ação municipal, como

pode-se observar em falas como: academias populares, Parque da Criança, Parque

Açude Novo, Complexo Plínio Lemos, os quais foram mapeados no presente estudo.

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300

Quanto às possibilidades de discussão de algumas formas de como se

constituem locais para o campo das atividades físicas, esportivas e de lazer, para a

temática de instrumentos de planejamento e gestão urbanos, à luz de Souza (2004),

classificam-se de diferentes maneiras: informativos, estimuladores, inibidores,

coercitivos e outros. Além disso, faz referência aos diferentes tipos de zoneamento,

seja de uso de solo, de prioridade, tipo alternativo ou de densidade. Muito embora,

percebe-se, a partir de entrevistas obtidas no nosso estudo, que alguns locais

surgiram de forma espontânea, com a presença/uso dos moradores, e que

posteriormente constituíram áreas que receberam intervenção do poder público, a

exemplo da Avenida Juscelino Kubistchek e do Canal de Bodocongó.

A definição de um calendário para a pasta de Secretaria do Esporte,

Juventude e Lazer é de suma importância, com o intuito de apresentar um

cronograma não apenas de evento, mas ações que venham fortalecer as políticas

de esporte e lazer na cidade, e que, dentre outras questões, que se evite

superposição e passem pelo processo de reflexão, decisão, ação e feedback,

conforme o entendimento de Silva (2002). Ademais, que o calendário seja

considerado também o equacionamento temporal e disposição de recursos. Logo,

para sua sistematização, devem ser considerados os requisitos técnicos, humanos,

materiais, administrativos, orçamentários, fontes de recursos, entre outros.

A categoria política de gestão traz uma discussão que expressa mudança de

concepção, sob a ótica de descentralização. Trata de ações efetivas sobre

equipamentos, espaços, a relação entre a política de esporte e lazer e a saúde,

sendo esta voltada para indicadores que articulem a visão de custo-benefício, dentre

outros aspectos, como o estímulo de práticas, melhoria da qualidade de vida etc.

Segundo os dados do Ministério de Esporte (BRASIL, 2016) em sua política para o

esporte e lazer, há um dos projetos – BRA/11/006 em que um dos seus eixos busca

consolidá-los tendo em vista a necessidade de implantar um modelo de gestão

descentralizada, coordenadora e participativa, bem como apresenta programas que

se baseiam nesses princípios.

Em paralelo com a verbalização no que tange à prática de esporte

relacionada à saúde, viu-se que a UNESCO desde 1978 preconizava essa relação

como um elemento que pode exercer influências na economia (UNESCO, 2003).

Sendo assim, a resposta pelo gestor anteriormente citada pode exemplificar essa

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301

situação, pois afirma que as ações voltadas para o esporte e lazer no município

favorecerão a melhoria dos indicadores de saúde e qualidade de vida, e, por

conseguinte, possibilitarão a minimização das despesas relacionadas à saúde.

Algumas falas a seguir exemplificadas expressam algumas restrições ou

ponderações que podem justificar certos problemas, na maioria, que o esporte e

lazer de interesse físico-esportivo se apresentam na cidade pesquisada. Do ponto

de vista de iniciativa municipal, destacam-se os trechos:

[...] os campos de pelada – infelizmente, com o avanço imobiliário, estão sumindo [...] (informação verbal)

22.

[...] o esporte em si, a gente está pecando, deixamos morrer as escolinhas, não tem mais, pecamos com as práticas com os adolescentes. Apoiamos, mas não demos continuidade [...], não há política de acompanhamento (informação verbal)

23.

“Onde vejo jogos no município é nas e escolas, de modo que todos participam dos jogos. Temos 19 ginásios concluídos, sendo 02 oficiais” (informação verbal)

24.

Uma questão levantada sobre a forma que o esporte e o lazer se

apresentam está voltada para a problemática da política imobiliária e sua relação

com os espaços para implantação e oferta nessas práticas. O planejamento

mercadófilo, segundo Souza (2004), está focado nos interesses empresarias, à

captação e decodificação de sinais emitidos pelo mercado, oriundos de uma

demanda existente, relacionados aos interesses do capital imobiliário e outros

setores dominantes.

A questão habitacional vem arraigada ao processo histórico da política

urbana, como foi ressaltado por Francisconi e Souza (1976), e a discussão do

desenvolvimento intraurbano, como também sua interação com a política global de

desenvolvimento, permitem relacionar com as diretrizes que orientam a política

urbana quanto ao uso do solo, à atuação no espaço urbano, dentre outros aspectos

e instrumentos. Por outro lado, Vainer (2000) acrescenta que a gestão urbana se

volta para a competitividade urbana. Desta feita, Campina Grande – PB, não longe

da realizada em outras cidades com potencial e em desenvolvimento, e não apenas

22

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G2 à pesquisadora. 23

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G3 à pesquisadora. 24

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G7 à pesquisadora.

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302

sob a influência de mecanismos do “Programa Minha Casa Minha Vida” (2009),

apresenta-se com um despontar de grandes investimentos da classe empresarial

imobiliária, e ainda considerando a expansão da cidade. Nesse contexto, percebe-se

que o esporte e lazer são também preocupações no tocante à política urbana, em

diferentes nuances, como segregação urbana, uso dos espaços, urbanização, falta

de espaços, infraestrutura, entre outros.

Existência de políticas públicas de esporte e lazer em Campina Grande –

PB

Tabela 09 - Opinião dos gestores pesquisados sobre a existência de Políticas Públicas de Esporte e Lazer.

Políticas Públicas de Esporte e Lazer f

Sim 05

Não 02

Total 07

Fonte: Elaboração própria, 2016.

As políticas de esporte e lazer da cidade, segundo os aspectos dos

participantes pesquisados de forma afirmativa, foram múltiplas respostas. Contudo,

a presença do Programa “Mexe Campina” teve o seu destaque. Por outro lado, os

gestores que afirmaram de forma negativa justificaram que não há incentivo ao

esporte, exceto à caminhada, mas de forma pontual. O esporte e lazer são

abrangentes e não se restringem à corrida de rua; não há mais a “Rainha da

Borborema”, os prêmios esportivos foram extintos e a gestão não está voltada para

o esporte. Além disso, um participante apesar de achar que a cidade tem políticas

nessa área, sugere que houvesse um órgão gestor que fiscalizasse o esporte em

Campina Grande – PB.

Ao serem mencionadas as academias, o participante entrevistado

acrescentou: “Sempre existe essa união entre Secretaria de Esporte e Saúde25”.

No que diz respeito à fiscalização no campo do esporte, de acordo com

Manhães (2002), no Estado Novo, ela exercia o papel de disciplinar e fiscalizar a

organização e a prática esportiva no Brasil; porém, numa perspectiva nacional-

desenvolvimentista, uma concepção liberal da economia vem impulsionando a

25

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G4 à pesquisadora.

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303

autogestão da sociedade civil, que processualmente vem à busca de seu

fortalecimento. Atrelada a essa conjuntura, ressalta-se a importância do

reconhecimento do processo histórico que faz referência às diferentes passagens do

papel do Estado, suas formas de intervenção e mecanismos que foram criados para

romper com o Estado ditatorial, interventor e centralizador nas diversas situações,

inclusive na área do esporte, e tendo em vista um Estado Democrático de Direitos,

como também avanços nesse campo, e ainda, recorrendo Castellani Filho (2008),

no tocante aos conselhos de esporte e lazer, estes podem formar o veículo de

articulação entre governo e sociedade, com vistas à participação efetiva da

população, corroborando a democratização do Estado. Além disso, o autor afirma

que aos conselhos cabem orientar, fiscalizar e formular as políticas públicas.

Definição e avaliação das políticas de esporte e lazer na cidade

Foram focalizadas a definição e avaliação dessas políticas sob várias

nuances, tais como: apoiar com material esportivo as escolas para incentivar os

alunos; resgatar os jogos internos nas escolas públicas; resgatar os jogos e

brincadeiras populares; resgatar e apoiar os eventos esportivos, como as olímpiadas

estudantis, a “Rainha da Borborema”, as Olimpíadas do Exército; revitalizar os

campos de pelada; construir quadras poliesportivas oficiais; incentivar o esporte

amador; apoiar os atletas; priorizar o esporte de base; dispor de profissionais para

orientações das atividades físicas, nos equipamentos; dispor de uma equipe técnica

qualificada na gestão que cobrasse do poder público nas instâncias federal e

municipal; existir um órgão gestor fiscalizador; ampliar o calendário esportivo e as

parcerias; criar mais espaços esportivos; ampliar para outros bairros e oferecer

campos de estágio para universitários. Deste modo, constatou-se que foram

enfatizados muitos anseios voltados para seu fortalecimento. Entretanto, surgem

inquietudes ou um certo sentido de insatisfação nas suas afirmativas, como pode-se

perceber nos seguintes trechos:

[...] Não existe nada, apesar da criação da Secretaria de Esporte na segunda gestão de Veneziano, que na minha opinião é cabide de emprego [...]

26.

26

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G1 à pesquisadora.

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Está mais na visão do gestor – secretário – futebol e no secretário executivo – corrida de ruas [...]. Mudança em como vê o esporte e o lazer como ferramenta [...]

27.

[...] acredito estar sem gerência, estar voltada para um esporte [...]

28.

[...] acho que a política pública só é vista para lazer, e as outras coordenações não existem nada [...]

29.

[...] Muita gente faz isoladamente [...]

30.

No discurso abaixo, talvez se busque fortalecer a ideia de que as políticas

públicas de esporte e lazer campinenses precisam melhorar, trazendo à tona o

planejamento, ao dizer que:

A gente começou planejamento e execução anteriormente ao mesmo tempo, agora vamos fazer antes o planejamento. Estamos com revisão do plano diretor, o que faltou foi o diagnóstico da tipologia dos usos de solo para identificar e planejar os equipamentos e espaços, como estamos fazendo no Complexo Aluísio Campos (informação verbal)

31.

Quanto à resposta que enfoca o planejamento, destaca-se a sua importância

em linhas gerais que se deu paralelamente com a entrada da nova gestão e com as

implementações de ações. Desta feita, talvez sua visão remeta a uma experiência

adquirida anteriormente e, por conseguinte, com a busca de minorias nos futuros

processos. Catão (2015) afirma que a falta de planejamento da cidade traz

marcantes repercussões no setor sanitário, ambiental e social. Neste panorama,

adentra-se, por conseguinte, no campo do esporte e lazer.

Forma de planejamento de esporte e lazer na cidade pesquisada

A questão forma de planejamento gerou uma certa expressão de sentimento

de insatisfação, pois dos 04 gestores que responderam “SIM”, um deles respondeu

de forma lacônica e os demais fizeram algumas observações, como: fazer-se

calendário anualmente, mas que só se baseia em corrida; Copa da Itararé – Taça de

Pelada; não há articulação com as ligas, ações são esporádicas e a Prefeitura só

27

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G2 à pesquisadora. 28

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G3 à pesquisadora. 29

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G4 à pesquisadora. 30

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G5 à pesquisadora. 31

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G6 à pesquisadora.

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disponibiliza o local, não oferece mais outro apoio; falta de corpo qualificado na

Secretaria de Esporte; falta de continuidade de programas; ingerência das políticas

públicas e ainda que não há nos planejamentos a participação das comunidades,

das entidades, das universidades, dos cursos de diferentes áreas, pois não são

chamados para planejar.

Uma fala traduz a necessidade de melhorar o referido planejamento sob

outros prismas, a saber:

Precisa intensificar, atrair os jovens para o esporte e o problema do ensino médio. Na questão digital, criar uma forma de atrair os esportes. Esporte como mecanismo social e como retirar do consumo de drogas. É promoção social (informação verbal)

32.

Um dos entrevistados que respondeu “NÃO” afirmou que, se há

planejamento, não é divulgado.

O esporte nas políticas urbanas de Campina Grande - PB

As maneiras citadas que o esporte aparece nas políticas urbanas em

Campina Grande – PB foram assim definidas: o esporte não se resume em corrida

de rua e times de futebol; o esporte existe de forma solitária, ou seja, o grupo que

gosta e quer fazer um esporte faz, mas são práticas isoladas, que se resumem a

grupos isolados; não há articulação com as universidades; há a Taça de Futebol de

Peladas, com a parceria da TV Itararé e Duraplast Indústria, e a Prefeitura entra

apenas com a premiação em determinada fase; há homenagens aos ex-apoiadores

do esporte, e ainda que o esporte aparece nas escolas, mas de forma amadora.

Também foi evidenciado que o esporte em Campina Grande só aparece nas

praças, com cunho eleitoreiro, apesar de ser considerado uma forma de inclusão

social. Outro entrevistado enfatiza que é contra o campeonato de peladas, ao dizer

que: “[...]. Em Campina Grande está evoluindo o campeonato de peladas, transforma

a bola no álcool. Sou contra” (informação verbal)33. Um deles afirmou que vê o

esporte nas políticas urbanas e explicitou que a TV Itararé, uma entidade privada,

fazendo o esporte amador, pois deveria partir dos órgãos públicos.

32

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G6 à pesquisadora. 33

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G5 à pesquisadora.

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306

A ênfase atribuída às corridas e futebol deve ser também entendida, talvez,

pela influência da mídia, considerando que cada vez na cidade vêm sendo

promovidas, incentivadas e divulgadas diversas corridas, ora promovidas pelos

órgãos públicos, ora pela rede empresarial ou não, sendo estas com a parceria do

poder público. Quanto ao futebol, isso ocorre talvez pelo fato de ser culturalmente

valorizado pela população brasileira.

Desta feita, na cidade de Campina Grande – PB, vêm sendo promovidas

diferentes corridas de rua, a exemplo da Corrida da UNIMED (Sociedade

Coorporativa de Trabalho Médico), Corrida da “Farmácia Dias”, Corrida da

Redepharma (sendo essas propostas pela área de convênios de saúde e de

comércio de medicamentos), Corrida da “Pretinha” (ícone do atletismo na cidade),

Corrida do Corpo de Bombeiros, Corrida dos Namorados, Corrida da Fogueira,

Corrida do Bem (sendo esta proposta por um hospital de cunho filantrópico), corridas

organizadas pelas universidades, entre outras, como também há Cãominhada.

Porém, constatou-se que, para participar, cada corredor efetua o pagamento da sua

inscrição. Sendo assim, analisando por esse prisma, entende-se que o acesso não

se dá a todos de forma igualitária, como destacou-se anteriormente, necessitando,

desta forma, do investimento de cada cidadão.

É dever do Estado fomentar práticas desportivas, asseguradas na

Constituição Brasileira (1988). Contudo, conforme a Lei N. 9.615 (1988), a prioridade

dos recursos é para o desporto educacional. Como também, com base na legislação

brasileira de incentivo fiscal para pessoas físicas e jurídicas, são aspectos que

podem trazer para a reflexão o que está sendo planejado, implantado e

implementado na área, a partir da iniciativa do poder público municipal, da parceria

e/ou de convênios firmados, bem como quando o interesse parte da iniciativa

privada. Assim, em que medida o Campeonato de Peladas, por exemplo, fortalece

e/ou fragiliza a política de esporte e lazer campinense?

Associada a essa realidade, percebeu-se a insatisfação dos participantes da

pesquisa com o enaltecimento dado à corrida. Sendo assim, sob múltiplos olhares,

se reconhece a importância da parceria público x privado, embora com

competências bem definidas. A privatização dos espaços, serviços e equipamentos

de lazer nem suas políticas devem ser mergulhadas no pensamento neoliberalista,

e, por conseguinte, a sua privatização, uma vez que são bens de acesso coletivo da

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307

cidade e que venham sendo devidamente planejados, incluídos no plano, diretrizes

orçamentárias e orçamento anual participativo, como está definido no Plano Diretor

do Município (2006).

O uso político do esporte deve ser analisado criticamente para que o seu

lugar não represente apenas ideologias e práticas de interesses políticos que

neguem o Estado Democrático de Direitos e contrarie os princípios públicos

governamentais. Identificou-se também no campo de discussão do esporte, nas

políticas públicas e nas políticas urbanas, que a dimensão da relação do público e

do privado merece maior amadurecimento e profundidade nas ações.

Avaliação sobre as políticas urbanas que incluem o esporte e lazer

A avaliação das políticas urbanas que inclui o esporte e lazer pelos gestores

anunciou, na sua maioria, uma ideia negativa, por exemplo:

Só o Mexe Campina atualmente [...] (informação verbal)

34.

É preocupante [...] (informação verbal)35

.

A gente está muito aquém de outros centros, de outras cidades sobre o esporte e lazer [...] (informação verbal)

36.

Os campos estão se acabando e não tem uma política para fazer espaço [...] (informação verbal)

37.

Os órgãos públicos deveriam partir com a iniciativa [...] (informação verbal)

38.

Foram levantados alguns aspectos para avaliar a questão, ou seja,

conseguiram-se espaços, mas difícil é o equipamento. As políticas públicas estão

paradas, mesmo com eventos acontecendo, mas as ações são isoladas. Os

gestores não veem o esporte como ferramenta da ressocialização. Apesar de

Campina Grande ter um potencial, é pouco explorado. Falta incentivo, em relação ao

financeiro, material e espaços. Além disso, há falta de continuidade das políticas

34

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G1 à pesquisadora. 35

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G2 à pesquisadora. 36

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G3 à pesquisadora. 37

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G4 à pesquisadora. 38

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G7 à pesquisadora.

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públicas, desconhecimento da Lei de Incentivo ao Esporte, falta de manutenção dos

campos de futebol e falta de incentivo ao esporte amador.

Apenas uma resposta explicitou como “BOA” avaliação, e com justificativa,

mas afirmou que poderia ser melhor, de acordo com as suas palavras:

É boa porque a gente interage com muitas políticas, exemplo: quando estamos fazendo uma ação, temos várias ações. Mas está voltada para o futebol de salão, luta, corrida de rua e passeios ciclistas. As políticas poderiam ser melhor, as pessoas fazem muito individualizado, [...] (informação verbal)

39.

Trazendo para a discussão o que foi citado, “o esporte como ferramenta da

ressocialização”, ao adentrar na perspectiva como lazer, pode-se aludir a um lado

preocupante, ao buscar entendê-lo numa visão funcionalista, do ponto de vista

compensatório, como define Marcellino (1998). Assim, no entendimento restrito do

esporte na vida das pessoas, na vida em sociedade, seja na vida no campo ou na

cidade.

Em relação à enunciação da individualização das ações, como identificado

numa fala anteriormente citada, chama-se a atenção para o fato da importância de

efetivas práticas democráticas, sejam de forma representativa e direta, como afirma

Bobbio (1986), ou tendo em vista a visão de democracia participativa nos seus

diferentes modelos, ou seja, Shumpeter (1943), ou Macpheson (1979), entre outros.

Por outro lado, segundo Oliveira (2011), é necessário otimizar uma educação

política que possibilite o fortalecimento dos processos e mecanismos participativos,

com vistas a um Estado democrático. Ademais, do ponto de vista da gestão

municipal dos processos e mecanismos que traduzem essa realidade, cabe

entender como se dá em Campina Grande – PB, para que o esporte, sua

problemática e suas políticas não sejam pensados isoladamente entre os membros

da própria equipe de gestão principalmente.

Esporte e lazer nas políticas urbanas

Por unanimidade, os entrevistados responderam que o esporte e lazer

devem fazer parte das políticas urbanas. E para justificar suas respostas, pautaram-

nas em múltiplas formas, conforme os dados a seguir:

39

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G5 à pesquisadora.

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Tabela 10 – Presença do Esporte e Lazer nas Políticas Urbanas, a partir das

justificativas, segundo gestores entrevistados.

Justificativas f

Melhoria da qualidade de vida 03

Saúde, desenvolvimento e expectativa de vida 02

Importância no campo social, educacional e saúde 02

Ferramentas para mudar o mundo, tirar os jovens das drogas 02

Trabalham com criança até idoso 02

Motiva os bairros e acesso a todos 01

Melhoria da concentração, cooperação e respeito 01

Melhoria no campo físico, psicológico e fisiológico 01

Inclusão social 01

Possibilidade de sair da ociosidade 01

Localização geográfica do ambiente e do esporte 01

* Múltiplas respostas.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

De forma mais evidenciada, aparecem a aproximação do esporte e lazer aos

campos da saúde, educação, questões sociais e do direito. Além disso, o esporte e

lazer fazem parte das políticas urbanas, uma vez que possibilitam a melhoria da

qualidade de vida como uma das mais referenciadas.

A primeira resolução do Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano de

1982 já definia como uma das diretrizes da política urbana para o período de 1980-

1985 a busca da melhoria da qualidade de vida da população urbana. Entretanto, ao

longo dos anos, foram sendo implementados instrumentos da política urbana, e, por

conseguinte, definido o papel da União, Estados e Municípios no campo da política

urbana. Assim sendo, o esporte e lazer na política urbana nesse estudo possibilitam

uma discussão sob diferentes ângulos.

Portanto, a questão urbana e instrumentos de intervenção, e sua relação

com as respostas obtidas expostas anteriormente, podem levar a acreditar ainda em

uma certa inferência no padrão higiênico-funcional, que, segundo Ribeiro e Cardoso

(1994), deveria influenciar as condições de vida das camadas populares. Além

disso, sabe-se que o esporte sofreu influência da visão médico-higienista muito

fortemente. Com a definição de qualidade de vida, a exemplo de um expoente na

área, Nahas (2006, 2010), há fatores ou parâmetros que a influenciam, como opções

de lazer e estilo de vida, entre outros, como moradia, transporte, segurança,

assistência médica etc. Quanto à saúde referenciada, associada às demais

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310

explicações verificou-se que há possibilidade de estar sendo entendida numa

dimensão social.

Ações para a adoção de políticas urbanas que possibilitem o acesso ao esporte e lazer

As sugestões apresentadas pelos entrevistados quanto ao que poderia ser

feito para a adoção de políticas urbanas que possibilitassem o acesso ao esporte e

lazer foram: compromisso do gestor com a atividade física, como meio de inclusão e

para a educação, em todos os níveis; criação de leis que garantam o acesso ao

esporte e lazer; escutar a população; construir mais ginásios/quadras nos bairros,

campos de futebol; manter os espaços e equipamentos; melhorar a iluminação

deles; expandir as academias para outros bairros; pessoal qualificado para

orientação das práticas nesses espaços; construir ginásios nas escolas; interagir

com Associações de Amigos de Bairros – SABs; resolver a problemática do esporte

amador / futebol de pelada; abrir um elo de discussão com o mercado imobiliário;

implementar políticas públicas em parceria público versus privado e divulgar as

ações.

Ações para melhorar/fortalecer o esporte e lazer nas políticas urbanas

As repostas obtidas referem-se à gestão, equipe técnica, calendário,

espaços físicos, recursos financeiros, parcerias e convênios. Desta feita, foram

sugeridos que o responsável pela pasta do esporte e lazer e demais membros da

equipe fossem da área e que fossem qualificados. Foi mencionado que tivesse

rubrica específica para o campo e também entrasse na pauta do Orçamento

Participativo, que fosse estimulada a Lei de Incentivo Fiscal às empresas, dentre

outras ações, tais como elaborar um calendário esportivo e construção de ginásios

em cada bairro, estimular parcerias público-privadas e firmar convênios com

entidades, universidades e clubes.

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311

VISÃO DOS USUÁRIOS Tipo de atividade física

A caminhada e o uso da academia foram as atividades físicas mais

realizadas pelos usuários pesquisados. Eram feitas principalmente nas próprias

praças que tinham academias ao ar livre, conforme dados apresentados nas

Tabelas 09 e 10. Neste panorama, percebe-se que a implementação das referidas

academias pode ter facilitado e/ou incentivado essa prática. Em relação à

caminhada, é uma modalidade de maior adesão, por ser uma forma de atividade

física com menor custo e amplamente acessível, conforme pesquisas realizadas e

comprovação científica de seus benefícios (TURI et al., 2015).

O Programa Academia da Saúde (BRASIL, 2011) vem contribuindo com as

instalações nas praças de Campina Grande – PB para que a população pratique

atividade física com maior acesso. Nessa perspectiva, o planejamento urbano é de

grande relevância para discutir a política urbana articulada ao esporte e lazer, não

só na definição dos espaços e seu ordenamento, mas em toda a estrutura,

infraestrutura, os princípios, diretrizes e medidas que nortearão, desencadearão e

fortalecerão a atividade física, o esporte e lazer na cidade, sendo pensada na

democratização do seu acesso à toda a população.

Tabela 11 – Distribuição de frequência dos tipos de atividades de esporte e lazer praticados de acordo com os usuários pesquisados.

Tipos de Atividade f

Caminhada e atividades em academia pública 07

Caminhada 04

Atividades em academia pública 03

Caminhada e corrida 02

Ciclismo 01

Ciclismo e atividades em academia pública 01

Atividades na academia pública e dança 01

Futebol 01

Total 20

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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312

Local da prática

Tabela 12 – Distribuição de frequência dos locais de práticas de esporte e lazer de acordo com os usuários pesquisados.

Locais f

Academia pública 04

Praça e academia pública 03

Parque da Criança e Açude Velho 02

Praça 02

Vários espaços da cidade 02

Ruas, logradouros públicos 02

Própria rua e praça do bairro 01

Academia pública e campo de futebol 01

Academia pública e vários lugares da cidade 01

Campo de futebol de pelada 01

Academia pública e centro da cidade 01

Total 20

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Motivos da adesão ao esporte e lazer

Tabela 13 – Distribuição de frequência da adesão ao esporte e lazer de acordo com os usuários pesquisados.

Motivos da Adesão f

Problemas cardiovasculares e indicação médica 02

Saúde, prevenção e envelhecimento 02

Problemas cardiovasculares 02

Saúde 02

Saúde e indicação médica 01

Questões osteomusculares e indicação médica 01

Saúde e descontração 01

Saúde, questões endócrinas e indicação médica 01

Gosto pessoal e bom para tudo 01

Gratuidade e não gostar de ambientes fechados 01

Necessidade e questões osteomusculares 01

Melhoria de vida e orientação médica 01

Saúde e fortalecimento 01

Gosto e questões endócrinas 01

Problemas cardiovasculares e saúde 01

Não respondeu 01

Total 20

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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313

A palavra “Saúde” encontra-se literalmente em 08 respostas. A temática

“indicação médica” está apresentada em 06 respostas. O tema ligado às patologias

encontra-se em 09 respostas. As questões de ordem cardiovascular foram as mais

ressaltadas, apresentadas em 05 respostas. A preocupação elucidada com a

questão de saúde, de natureza preventiva, atrelada ao processo de envelhecimento

foi encontrada em 02 respostas.

De um modo geral, os principais leques de motivos de adesão à prática de

atividades são: estética corporal, como analisam Saba (2001), Fraga (2001), Le

Betron (2003), entre outros, como prevenção de doenças, conforme se pode analisar

à luz de Boltanski (2004); por necessidades (GIDDENS, 2002), noutra perspectiva,

Max-Neef (1998); por moda. Como exemplo, cita-se Lipovetsky (1989); melhoria da

saúde sob vários aspectos (SANTARÉM, 2016; OGATA; SIMURRO, 2009; MC

ARDLE et al., 1998), entre outros; melhoria da qualidade de vida (NAHAS, 2006)

etc.; como forma de lazer e, de uma forma mais ampla, recorre-se à concepção de

Brasileiro (2013).

Portanto, nessa questão, a saúde, como se afirmou anteriormente, foi o

motivo que teve maior ênfase. Porém, marcadamente encontra-se presente um

discurso da saúde numa perspectiva fisiológica/funcional. Isto deixa uma nuance de

discussão, o entendimento da saúde tratada nos 1920-1930, segundo a

Organização da Saúde, que preconiza a saúde como estado de bem-estar e não

mera ausência de doença, conceito que vem sendo ampliado, ao se considerar que

a saúde ultrapassa a condição apenas física, biológica, mas, de uma maneira global,

o corpo, nas suas diferentes dimensões, ou seja, biológica, psicológica e social,

entre outras. Ademais, essa questão deve ser compreendida para além de um

estado individual, mas numa dimensão social e coletiva.

Avaliação dos equipamentos e serviços

Tabela 14 – Distribuição de frequência sobre a avaliação dos equipamentos e serviços de esporte e lazer de acordo com os usuários pesquisados.

Avaliação dos equipamentos e serviços f

Positiva 18

Negativa 02

Total 20

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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314

Oito usuários que disseram estar satisfeitos com os equipamentos e serviços

que utilizam para a prática de atividade física e esportiva apresentaram algumas

considerações que merecem destaque, pois afirmaram que os serviços e

equipamentos não são completos. Embora tenham ocorrido melhoras no “Açude

Velho”, quanto à iluminação e calçamento, ainda há partes escuras; as crianças não

têm com o que brincar e utilizam os aparelhos da academia como diversão;

aparelhos sem grandes sofisticações; a necessidade de consciência para que a

população não acabe e, de forma específica, que as crianças não brinquem com os

equipamentos; não há todos os aparelhos; os aparelhos diferentes do uso nas

academias regulares e ainda um participante justificou sua resposta de satisfação no

tocante apenas ao espaço.

Dentre àquelas que se expressaram insatisfeitas, completaram justificando

que os equipamentos precisam ser modernizados, mais diversificados e que

houvesse equipamentos e serviços para as crianças.

Ao deparar-se com a situação levantada de que as crianças estão utilizando

os aparelhos da academia inadequadamente, podem-se elaborar algumas

hipóteses. Dentre elas, na ausência de opção para as crianças, elas fazem o uso do

referido equipamento. Faz-se necessário um trabalho de educação para o lazer. De

uma forma crítico-reflexiva, recorre-se a Pinto (2001); ou precisam ser traçadas

políticas e implantar ou ampliar programas de esporte e lazer para as crianças pelo

poder público, entre outras propostas. Essa questão reforça o que foi observado

durante a pesquisa: viram-se crianças em vários espaços/serviços e equipamentos

de atividade física, esporte e lazer brincando, nos equipamentos da academia, com

uso inadequado; jogando bola na área coberta, onde estavam sendo promovidas

aulas de ginástica, de zumba, entre outras; andando de bicicleta, às vezes em

praças de menores extensões, trazendo riscos aos adultos e idosos que estavam

fazendo exercício físico, entre outras condições. Sob o ponto de vista do aparato

legal, estão previstos em diferentes documentos, mas, no que tange apenas à Lei

Orgânica do Município (1990), verifica-se a fragilidade, tendo em vista este cenário.

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Oferta de atividades físicas, esportivas e de lazer pelo poder público

Tabela 15 – Distribuição de frequência da oferta de Atividades Físicas, Esportivas e de Lazer pelo poder público de acordo com os usuários pesquisados.

Ofertas de Atividades Físicas, Esportivas e de Lazer f

Sim 15

Não 05

Total 20

Fonte: Elaboração própria, 2016.

A maioria dos usuários pesquisados afirmou que no seu bairro o poder

público oferece atividades físicas, esportivas e de lazer. Todavia, algumas falas

foram citadas, da seguinte forma:

No meu bairro não, na cidade sim, mas de forma pontual, ainda são concentrados (informação verbal)

40.

Acho que não, deveria ter nos bairros. Para chegar no Parque da Criança eu ando muito, pego um engarrafamento [...] (informação verbal)

41.

Tem os equipamentos [...] precisamos de orientação. Antes da eleição, o prefeito disse que seria feito um parque de diversão para as crianças (informação verbal)

42.

Independente dos gestores, o esporte é minimamente observado, o ministério é contrapartida, é muito pequeno, poucos equipamentos, pouco espaço para atividades esportivas. Aqui não tem quadra para praticar esportes (informação verbal)

43.

Oferecia. Agora que estão organizando, não sei se vão terminar. O mesmo que começou ganhou, acho que vai continuar (informação verbal)

44.

Nem todo lugar, tem bairro que não tem, vem copiando de outras cidades (informação verbal)

45.

No meu bairro não, nos outros bairros têm espaço de lazer, academia. Quem sabe Deus toque no coração, quem sabe eles não fazem (informação verbal)

46.

40

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador U1 à pesquisadora. 41

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador U2 à pesquisadora. 42

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador U3 à pesquisadora. 43

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador U5 à pesquisadora. 44

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador U9 à pesquisadora. 45

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador U14 à pesquisadora. 46

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador U15 à pesquisadora.

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316

Opiniões sobre ofertas pelo poder público dos equipamentos para a prática

de atividades físicas, esportivas e de lazer

Categoria: Qualificação dos equipamentos e serviços

Tema Verbalizações

Valorizado e diversificado

“Deveria ser mais valorizado e mais diversificado. Campina

Grande tem o potencial de ter outros”. U1

“Acho que deveria ter mais opções, pois contamos

praticamente com o Parque da Criança e Açude Velho, poderia

ter mais e com uma pista de Cooper”. U2

f 02

Categoria: Plano de governo

Tema Verbalização

Eleição “Eu acho que deixa a desejar, é um bairro só lembrado na

época de eleição, só é lembrado na época de política”. U3

f 01

Categoria: Acesso aos equipamentos e serviços

Tema Verbalizações

Não pode pagar

“Achei uma providência muito boa, porque muita gente que

não tinha oportunidade de fazer academia, dança, Pilates.

Oportunidade para quem não pode pagar, muito bom, não sei

lá se governo, município, estado, mas muito bom”. U4

“Muito bom para quem não pode pagar e vem na hora que está

disponível, por conta das condições das pessoas, além da

comodidade”. U13

f 02

Categoria: Política pública

Tema Verbalizações

Falha do poder público

“Acho que é uma falha do poder público. É uma falha do poder

público, esporte é lazer, esporte é vida, equipamento dessa

natureza poderia tirar os jovens das drogas, alcoolismo.

Deveria colocar em prioridade e ter atenção maior”. U5

“É esquecimento do governo, sei lá o bairro da gente é

esquecido”. U15

f 02

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Categoria: Benefícios da atividade física, esporte e lazer

Tema Exemplos de Verbalizações

Saúde e Lazer

“É bom, é para saúde, o lazer é para saúde. As pessoas têm

que se cuidar”. U7

“Muito bom, porque é um exercício que a gente faz”. U8

“Acho ótimo, faz bem para a gente, para quem tem hipertensão

e ganha peso, mesmo tendo alimentação correta”. U12

“Pessoa descansar e para a mente, se quiserem trazer as

crianças, elas ficam também no parque”. U19

f 05

Categoria: Participação e controle social

Tema Verbalizações

Consciência Política

“Nossa clientela, uns fazem e os outros deterioram. Quanto

mais manter melhor. As crianças têm onde brincar, a gente

conversa. O povo poderia melhorar”. U9

“Deveriam as pessoas se mobilizar mais, os representantes

trazerem algo para um bairro público, porque nem todos

pagam uma academia. Ainda nem se sabe qual o

representante do bairro para trazer melhorias para a

população”. U11

f 02

Categoria: Implantação e implementação

Tema Exemplos de Verbalizações

Benefícios para o bairro

“O que o prefeito tem feito é bom”. U16

“Acho bom que dá oportunidade aqui, para correr,

pedalar, jogar mais, mas só no Açude!!! Mas venho com

a mão no cru. Peço mais segurança”. U18

f 05

Ressalta-se que apenas uma pessoa não respondeu à questão. Contudo, ao

serem questionados sobre a oferta pelo poder público dos equipamentos e serviços

para as práticas das atividades físicas, esportivas e de lazer, classificaram-se suas

respostas nas seguintes categorias: qualificação dos equipamentos e serviços; plano

de governo; acesso aos equipamentos e serviços; política pública; benefícios das

atividades físicas, esportiva e de lazer; participação e controle social e implantação e

implementação. As categorias benefícios das atividades físicas, esportivas e de

lazer, como também a categoria denominada implantação e implementação, foram

as mais evidenciadas.

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A categoria benefícios das atividades físicas, esportivas e de lazer vem

reforçar a preocupação voltada para a saúde já elucidada. De forma específica, as

suas respostas mencionavam a saúde e lazer e cuidado das pessoas. Outra

preocupação é ligada à natureza física; outra relacionada aos benefícios funcionais,

com foco na pressão arterial e metabolismo, e outra menciona que apresenta os

benefícios de ordem de recuperação, como também mental. Conforme a

Organização Pan-Americana de Saúde (2003), Santarém (2016), entre outros

autores, há uma relação positiva e de natureza preventiva entre a prática regular de

exercícios físicos e doenças crônicas, como também diversos estudos comprovam

os benefícios psicológicos da atividade física, como afirmam Matsudo e Matsudo

(2000).

A categoria intitulada implantação e implementação caracteriza-se pela

possibilidade de os espaços, serviços e equipamentos de lazer serem ampliados

para todos os bairros de forma efetiva e eficaz, sendo proporcionadas a prática de

atividades físicas, esportivas e de lazer, e que sejam tratados como Políticas

Públicas e direito de todos, em todos os bairros, principalmente para aqueles em

situações de vulnerabilidade social e econômica; que respeitem a identidade

esportiva e cultura local/regional, a exemplo da consolidação de programas, como a

efetivação de núcleos urbanos (BRASIL, 2016). Porém, sua concretização deve ser

fruto de ações/atividades descentralizadas para outros espaços configurados, tendo

em vista a realidade social.

A Lei Orgânica de Campina Grande – PB (1990) estabelece que, nos

conjuntos habitacionais, com número igual ou superior a 500 unidades residenciais,

haja implantação de praças esportivas. Além disso, no seu Plano Diretor (2006), o

lazer e os esportes estão apontados com questões que favorecem o

desenvolvimento local, do ponto de vista da sustentabilidade. O incentivo à criação

de centros poliesportivos para a formação de atletas é um dos objetivos da Política

Municipal de Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico previsto nesse

plano, dentre outros aspectos que possibilitam justificar a implementação de

políticas urbanas que venham fortalecer esses espaços/serviços e equipamentos, e,

por conseguinte, consolidar a política municipal de esporte.

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Expectativas em relação à prática de atividade física, esporte e lazer

Categoria: Planejamento urbano

Tema Verbalização

Planejamento de espaços

“Que pelo menos os novos bairros [...] pelos menos nestes

bairros sejam estruturados, planejados os espaços e os outros

que tenham espaço que possam ser melhorados”. U1

f 05

Categoria: Atividade física, esporte e lazer e relação com a segurança

Tema Exemplos de Verbalizações

Ofertas de outros serviços e

equipamentos com segurança

“Acho que não só de espaço para caminhada, mas ter mais

academias, um acesso melhor para a população carente”. U2

“Melhorar mais, o povo acreditar, melhorar na saúde, tentar

ajudar, saúde e segurança, muito assalto”. U12

“Já tá bom, poderia melhorar, alguém para proteger, para não

estragar, tipo: vigia, não sei se fechar...”. U13

“Meu ciclismo, ciclovias e segurança, andar à vontade, meu

país Israel, quem rouba é cortada a mão”. U18

“Melhorar mais, oferecer outras opções”. U19

f 07

Categoria: Benefícios de atividades físicas e do esporte

Tema Exemplos de Verbalizações

Saúde e Lazer

“Que as pessoas se conscientizem e procurem fazer atividade

física porque é bom para a saúde, porque não é para corpo,

estética, para ficar com o corpo perfeito, mas para a saúde”. U4

“Espero mais porque é prevenção. Precisa mais nas

comunidades carentes. Este bairro tem muitas crianças

carentes”. U7

“Esperança que dê mais qualidade, todo mundo deixar de ser

preguiçoso. Conheço pessoas que estavam estressadas, a

maioria deveria fazer”. U14

“Melhora, muitas pessoas estão depressivas, o esporte vai

melhorando a questão mental e física, aqui encontramos

amigos, conhecemos pessoas, dialogamos”. U16

f 05

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320

Categoria: Políticas públicas

Tema Exemplos de Verbalizações

Ações governamentais

“Sinceramente, não acredito muito não, a gente vê uma

prioridade na marcação de consultas, a UBS sem atender. Se

não dá à saúde não acredito. Espero que façam o que

prometeram e já faz mais de ano que não tem profissional”. U3

“São boas, porque na própria Olimpíada vemos os jovens.

Favorecem pensar em políticas de esporte, políticas de

investimento, alguns atletas poderiam ser favorecidos. No

futuro poderia ser uma das prioridades do governo”. U5

“Seja bem melhor para futuro, cada governante olhar mais, nós

pagamos impostos, merecemos conforto”. U9

“Na realidade de investir, mas não sabemos se investem”. U20

f 05

Categoria: Consciência cidadã

Tema Verbalizações

Participação popular

“Na área de esporte, as pessoas sejam conscientes e

organizarem o bairro que é mal visto”. U11

“Coisa boa, não ter violência, eles ajeitam e o povo

desmantela”. U17

f 02

Quanto às expectativas face às práticas de atividades físicas, esporte e lazer

na cidade, as respostas foram categorizadas voltadas para: planejamento urbano;

atividade física, esporte e lazer em relação com a saúde e segurança; benefícios da

atividade física e do esporte; políticas públicas e consciência cidadã.

Com a análise de conteúdo realizada, observou-se que as categorias

atividade física, esporte e lazer em relação à saúde e segurança; benefícios da

atividade física e do esporte e políticas públicas foram as que apresentaram maior

número de ocorrência.

Identificou-se que, ao tratarem de esporte e lazer, algumas respostas tinham

um desencadear com as questões ligadas à segurança. A segurança vem justificada

nas seguintes formas: áreas apropriadas para os ciclistas, com a presença de

ciclovias, no ponto de vista de combate a assaltos, e, por conseguinte, proteção.

Os benefícios da atividade física e do esporte foram apresentados num

contexto da saúde e lazer de forma abrangente, com vistas a rupturas do corpo

perfeito, saúde preventiva, suas contribuições de ordem emocional, fisiológica e

também social. Tais dados podem ser considerados como consequência da

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influência da mídia, bem como pelo seu reconhecimento à importância na sociedade

contemporânea.

A categoria políticas públicas traduz as expectativas frente às políticas de

investimento para a área, analisam as metas prioritárias do poder público, a

criticidade da aplicação dos impostos arrecadados, como também para cumprimento

do plano de governo e promessas de campanha.

Por outro lado, é importante enfatizar que, embora as categorias:

planejamento urbano e consciência cidadã tenham tido apenas uma ocorrência, é de

suma importância destacá-las. Um usuário pesquisado anuncia a importância de um

planejamento, pelo menos para novos bairros, e que os demais possam ter

melhorias.

De acordo com a Lei Orgânica do Município (1990), através de um sistema

de planejamento tomando como base os objetivos e diretrizes previstos no Plano

Diretor, deverá organizar a administração, exercer suas atividades e promover

políticas de desenvolvimento urbano e rural. Nesse panorama, o planejamento

urbano e seus instrumentos de intervenção são entendidos para além de

documentos fadados à gaveta, como destaca Villaça (1999) e como acrescenta

Santos Júnior et al. (2011), ou seja, que sejam compreendidos para além de objetos

técnico-burocráticos.

Em relação à categoria – consciência cidadã, o foco da afirmativa se dá na

preocupação de que a população compreenda e reconheça a sua importância e

papel. Para Teixeira (2002), com a participação ativa de diversos segmentos sociais

com diferentes interesses, nos quais o cidadão exerce, reivindica e desfruta de seus

direitos, e, por conseguinte, torna-se protagonista de suas responsabilidades e

deveres. Deste modo, a consciência de cada habitante, cada cidadão e sua efetiva

participação em diferentes canais de articulação e interação entre governo e

sociedade são importantes na construção, implementação e avaliação das políticas

públicas, bem como para o cotidiano do bairro, da cidade, e, de forma específica,

suas expectativas para a área do esporte e lazer.

Sugestões para o poder público

Ao perguntar aos usuários sugestões para o poder público na área de

atividades física, esporte e lazer, a sua maioria respondeu com mais de uma

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322

alternativa. As respostas mais citadas estavam relacionadas à construção de mais

espaços para as referidas práticas, melhorias no setor de segurança nesses locais,

a necessidade da presença de um profissional qualificado para a orientação dessas

atividades e ainda a manutenção dos espaços, serviços e equipamentos dessa

natureza. Dentre todos os pesquisados, apenas 02 não apresentaram sugestão,

como verifica-se nas seguintes falas:

“Não, no momento. Um dia já tive” (informação verbal)

47.

“O que não tinha chegou, não sei dizer” (informação verbal)

48.

VISÃO DOS NÃO-USUÁRIOS

Tipo de atividade física

Constatou-se que os não-usuários dos locais/serviços e equipamentos

pesquisados, dentre aqueles que participavam de alguma prática, ou seja, 09,

realizam a musculação e caminhada. Além disso, as academias privadas e os

projetos desenvolvidos na UEPB eram os locais mais utilizados para as referidas

práticas. Neste sentido, percebeu-se a importância da função social das

universidades, com ações, programas e projetos extra-muros, a partir da tríade

ensino, pesquisa e extensão, trazendo, por conseguinte, impactos positivos à

população.

Tabela 16 – Distribuição de frequência dos tipos de atividades de esporte e lazer praticados de acordo com os não-usuários pesquisados.

Tipos de Atividade f

Musculação 02

Academia e Hidroginástica 01

Dança 01

Corrida 01

Caminhada e alongamento 01

Caminhada 01

Futebol de Campo 01

Ginástica laboral 01

Nenhuma prática 11

Total 20

Fonte: Elaboração própria, 2016.

47

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador U13 à pesquisadora. 48

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador U17 à pesquisadora.

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323

Local da prática

Tabela 17 – Distribuição de frequência dos locais de práticas de esporte e lazer de acordo com os não-usuários pesquisados.

Locais f

Academia privada 03

Projetos de extensão UEPB 02

Ruas da cidade 01

Residência 01

Proximidades da residência 01

Campo de futebol 01

Nenhum local 11

Total 20

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Motivos da adesão ao esporte e lazer

No que tange aos motivos da adesão às referidas práticas, na sua maioria

estão relacionados à melhoria da saúde. Verificou-se que houve coincidência nas

modalidades práticas de maior procura tanto pelos usuários como não-usuários,

como também quanto aos motivos da prática, ou seja, benefícios para a saúde.

Tabela 18 – Distribuição de frequência da adesão ao esporte e lazer de acordo com os não-usuários pesquisados.

Motivos da Adesão f

Saúde e controle de peso 02

Manter o corpo e gostar 01

Saúde e sedentarismo 01

Saúde e melhoria da circulação e da flexibilidade 01

Saúde, melhoria do sono, melhoria da qualidade de vida,

desenvolvimento e bem-estar 01

Condicionamento físico 01

Gosto e tirar o stress 01

Gosto 01

N/R 11

Total 20

Fonte: Elaboração própria, 2016.

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324

Avaliação dos equipamentos e serviços

Identificou-se que, dos 20 não-usuários entrevistados, 17 estão satisfeitos

com os equipamentos e serviços dos quais se utilizam. Diante dessa perspectiva,

constatou-se a ênfase na falta de uma orientação de um profissional para as

atividades físicas, esportivas e de lazer nos locais públicos municipais, segundo os

não-usuários, como uma das justificativas. A formação dos profissionais, para

Marcellino (2002), é uma das maiores dificuldades para a implementação de

políticas públicas de esporte e lazer. A cidade de Campina Grande – PB conta com

uma universidade pública, ou seja, a Universidade Estadual da Paraíba; três

entidades particulares, que oferecem a formação de profissionais para a citada área,

bem como diversas instituições na Paraíba, a exemplo do Instituto de Educação,

Ciência e Tecnologia – Campus de Sousa, Faculdade Integrada de Patos - FIP,

Universidade Federal da Paraíba – UFPB, Centro Universitário de João Pessoa –

UNIPÊ, entre outras. Todavia, alguns questionamentos podem ser feitos quanto aos

profissionais que atuam, tais como: nível de escolaridade, forma de ingresso, tempo

de serviço, carga horária, entre outros.

Tabela 19 – Distribuição de frequência sobre a avaliação dos equipamentos e serviços de esporte e lazer de acordo com os não-usuários pesquisados.

Avaliação dos equipamentos e serviços f

Positiva 17

Negativa 03

Total 20

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Aqueles que avaliaram de forma negativa os equipamentos e serviços

públicos na área da atividade física, esporte e lazer justificaram que faltava

profissional para orientação, segurança e uma quadra oficial.

Quanto às considerações apresentadas que justificavam uma avaliação

positiva, estas foram: a participação da população nas atividades; oferecimento no

“Parque da Criança” e algumas opções diferentes; maior envolvimento dos idosos;

para as pessoas que não podem pagar; para o entretenimento da população; é um

ambiente natural; oportunidade para as pessoas que precisam fazer essas

atividades e utilização de área desocupada.

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Contudo, mesmo perante o sentimento de satisfação, algumas ressalvas

foram apresentadas em 05 falas, a saber: falta de acompanhamento de profissional

para a orientação dessas práticas; precisa-se ampliar o número dos aparelhos,

equipamentos e serviços; deveria ter em todos os bairros; necessitam de

manutenção e resolver o problema do vandalismo.

Oferta de atividade física, esportiva e de lazer pelo poder público

Das pessoas que não são usuários dos serviços e equipamentos voltados

para a atividade física, esportiva e de lazer públicos e que não oferecem tais

atividades no seu bairro, acrescentaram às suas falas que fizeram um abaixo-

assinado e tem espaço, mas não oferecem; estão voltados para o Parque da

Criança e as pessoas que têm academias ao ar livre; deveriam ser ampliados para

todos os bairros; o crescimento dos bairros e edifícios dificulta; é importante para as

pessoas que não podem pagar; ainda deixa muito a desejar e se faz necessário

diversificar as práticas. No tocante à resposta que explicita a oferta para aqueles que

não podem pagar, leva-se ao entendimento que talvez não haja consciência crítica

sobre essa condição, ou seja, ausência de entendimento frente a impostos pagos

por cada cidadão brasileiro.

Nas respostas afirmativas, alguns acrescentaram à sua fala algumas

colocações, como se pode constatar a seguir:

Aqui tudo tem, aeróbica, karatê, algum movimento; evento de Hip Hop e pintura

49.

Oferece academia, quadra esportiva e outras coisas, também os aparelhos que constam nela

50.

No bairro onde moro, o único espaço público é o Canal de Bodocongó, para caminhada e corrida de bicicleta, e tem campos de pelada. Na cidade, hoje se vê mais academias populares, Parque da Criança, Praça da Liberdade, Açude Velho. A cidade oferece diversos locais para atividade física

51.

Oferece “Mexe Campina” e investimentos em academias populares. Bom ou ruim, já se investe em alguma coisa

52.

49

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador NU13 à pesquisadora. 50

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador NU14 à pesquisadora. 51

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador NU16 à pesquisadora. 52

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador NU17 à pesquisadora.

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Na minha opinião, oferece muito pouco, é fraco; não comporta a população. Hoje o mundo é fitness

53.

Agora sim, com as praças públicas, sim

54.

Foi identificado que 50% afirmaram que o poder público oferece atividade

física de esporte e de lazer, e, em contrapartida, 50% responderam que não há

oferecimento dessas atividades. Através da a assertiva “[...] oferece muito pouco, é

fraco; não comporta a população. Hoje o mundo é fitness” NU19, pode-se elencar

olhares multifacetados acerca desta colocação. Assim sendo, como exemplo,

segundo Saba (2001), a procura por uma academia de ginástica tem como principal

objetivo a estética corporal, tendo em vista os anseios e a preocupação pela

aceitação social no grupo e/ou por integrar-se a um grupo de culto ao corpo.

Lipovestsky (2004b) complementa que o culto da saúde e da forma busca pela

beleza, entre outros. São novas tendências de consumo, ou seja, o contexto pode

estar caracterizado na sociedade de consumo, de espetáculo, da

contemporaneidade. Entretanto, conforme foi constatado anteriormente, o foco

central está voltado para fins de saúde.

Opinião sobre a oferta do poder público dos equipamentos para a prática de atividades físicas, esportivas e de lazer

Categoria: Acesso aos equipamentos e serviços

Tema Verbalizações

Não pode pagar

“A aeróbica que tem no Parque da Criança, acho interessante

para as pessoas que não podem pagar e acho de qualidade”.

NU5

“A cidade está muito evoluída, passo num bairro e vejo as

pessoas fazendo; para as pessoas que não podem pagar

academia”. NU7

“Se é ruim para mim é ruim para toda comunidade, porque não

temos espaços públicos ou pagar uma academia”. NU9

“Ótimo principalmente para as pessoas que não tem como

pagar academia”. NU20

f 04

53

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador NU19 à pesquisadora. 54

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador NU20 à pesquisadora.

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Categoria: Benefício da atividade física

Tema Verbalizações

Saúde

“Ótimo porque a gente está num período que as pessoas se

preocupam mais com a saúde, com a alimentação e quanto

mais incentivo melhor”. NU4

“Muito bom porque quem tem tempo vai manter a forma, a

saúde, para não ficar sedentário”. NU8

“Bom, outros bairros que incentivam a sair do sedentarismo,

tem também a academia comunitária”. NU10

“É importante porque hoje em dia a atividade física é bom para

a saúde, a atividade leva à saúde”. NU16

f 04

Categoria: Ações do poder público Tema Verbalizações

Poder público

“É uma forma de urbanizar um espaço social que vai gerar um

bem coletivo e individual, todo mundo preservar e todo local

uma praça”. NU11

“Creio que além da falta de consideração com a periferia

deveria ter mais um olhar do poder público”. NU13

“Falta de planejamento do poder público. Como os interesses

econômicos, quem prevalece para o poder público? O

problema do esporte e lazer é um problema cultural, precisa

ser incentivado para convencer as pessoas para ter uma

melhor qualidade de vida”. NU15

f 03

Categoria: Ampliação e diversificação dos serviços e equipamentos de atividade

física, esporte e lazer

Tema Verbalizações

Opções

“Regular, porque eram mais programações, mais locais,

porque diz “Parque da Criança”, deveria ter um pelo menos em

cada região: Norte / Sul / Leste e Oeste. Oferecer mais

opções, pois no Parque da Criança só oferece mais caminhada

e dança”. NU1

“Que o poder público deva oferecer mais opções de esporte e

lazer”. NU2

f 02

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Categoria: Acompanhamento de um profissional

Tema Verbalização

Orientação “Acho que o que falta é a orientação”. NU17

f 01

Categoria: Bem coletivo

Tema Verbalizações

População

“Interessante para a população, é interessante principalmente

para os idosos e para aqueles que estão no bairro. Acho

ótimo”. NU3

“Bom para as pessoas que moram no bairro, é bom para a

comunidade, tem os esportes, tem a diversão para as

crianças...”. NU6

“É uma boa para o coletivo, a comunidade”. NU14

f 03

Categoria: Atenção às crianças, adolescentes e jovens

Tema Verbalizações

Suscetibilidade das crianças,

adolescentes e jovens às drogas

nas ruas.

“Para quem está participando numa ação social é mais para

melhorar, é para terceira idade. Muito suscetível as drogas aos

adolescentes, a polícia passa e não pode fazer nada, mas eles

não mexem com ninguém”. NU12

“Ruim, porque se tivesse interessava mais as crianças; tiravam

mais da rua, não tem o que oferecer às crianças, ficam

jogadas”. NU18

“Acho em relação principalmente para os jovens tirar das ruas;

tirar das drogas”. NU19

f 03

No tocante à opinião acerca da oferta pelo poder público municipal dos

equipamentos para a prática de atividades físicas, esportivas e lazer, classificou-se

nas seguintes categorias: acesso aos equipamentos e serviços; benefícios para a

atividade física; ações do poder público; ampliação e diversificação dos serviços e

equipamentos de atividade física, esporte e lazer; acompanhamento de um

profissional; bem coletivo e atenção às crianças, adolescentes e jovens. As

categorias que se destacaram quantitativamente foram: acesso aos equipamentos e

serviços e benefícios da atividade física.

No Brasil, apesar do esporte e lazer serem reconhecidos como direitos,

expressos na Constituição Brasileira (BRASIL, 1988), uma grande parte da

população não tem condições financeiras para pagar o seu acesso, ficando, assim,

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essa demanda social a ser atendida através de políticas públicas.

Consequentemente, contribuem para a melhoria da saúde dessas pessoas e para a

vida em sociedade, sendo considerados como bem coletivo. Porém, foi enfatizada a

necessidade de ampliar, diversificar esses espaços, serviços e equipamentos. Além

do mais, deve ser repensado e fortalecido esse campo para as crianças,

adolescentes e jovens que estão em situação de vulnerabilidade social.

Expectativas em relação à prática de atividade física, esporte e lazer

Categoria: Ampliação da oferta dos serviços e equipamentos para as práticas nos

bairros

Tema Verbalizações

Expansão para os bairros

“Fique melhor, ficar em todos os bairros e não só em uns e

outros não”. NU7

“Espero que o prefeito tenha um olhar também para o nosso

bairro, quanto ao geral da cidade, não sei; as demais sei o

Parque da Criança, já para a terceira idade deve ser ruim para

se deslocar. O bairro Monte Santo é desprivilegiado pelo poder

público, não tem nada”. NU9

“Espero que essa ideia das academias e espaços para

atividades deviam estar não só nos espaços centrais, mas em

todos os bairros, que estejam cada vez mais presentes na

nossa comunidade”. NU16

f 03

Categoria: Benefícios das práticas de atividades físicas, esportivas e de lazer

Tema Exemplos de Verbalizações

Saúde

“Espero que cresça, que traga mais coisas inovadas para a

população que está envolvida. O pessoal está muito voltado

para isso, o pessoal não está pensando mais em estética, e

sim na saúde”. NU3

“Que as pessoas pratiquem mais o esporte, se movimentem

para não ficarem sedentários, pois é bom para a saúde, evita

certas doenças, controla, o coração agradece”. NU8

“Espero que seja bom para a saúde da população”. NU20

f 04

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Categoria: Acompanhamento de um profissional

Tema Verbalizações

Profissional para orientação

“Haja mais adeptos, mais envolvimento, que o povo se

conscientize e que o poder público disponha de mais

profissionais orientando”. NU10

“Melhorar a orientação, pois as pessoas criam um

alongamento”. NU17

f 02

Categoria: Ampliação e melhorias no setor da atividade física, esporte e lazer pelo

poder público

Tema Exemplos de Verbalizações

Poder público e a população

“Mais interesse público para a atividade física, para o povo

começar a se mexer, para termos mais consciência que

precisamos de atividade. A sociedade, a população do meu

bairro está muito parada”. NU1

“Que surjam mais atividades físicas, mais locais e que a

população não deprede esses locais”. NU5

“Mais opções, o foco hoje é na aeróbica, uma administração

mais forte. Foi tirado um carrossel quebrado e não voltou mais.

Não tem ninguém para tomar conta, só vigia segunda e quarta-

feira à noite”. NU12

“Tivessem mais projetos; a respeito de futebol, voleibol,

corridas, entre outros, para a população não se acomodar

muito e não ficar presa à tecnologia em casa”. NU13

“Como o esporte é uma atividade atual, do mundo globalizado,

tem que melhorar, tudo tem que ser planejado”. NU15

f 09

Categoria: Negação

Tema Verbalização

Não melhorias “Vontade é uma coisa, mas expectativas, acho que não vão

melhorar nos próximos anos”. NU2

f 01

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Categoria: Atividade física

Tema Verbalização

Incentivo e adesão à atividade

física

“O município tem grande adesão e aceitação das academias

implantadas, se vê incentivo de atividade física tanto nas

escolas como em projetos das universidades; nos centros de

saúde implantados se vê os incentivos para os jovens,

diminuição da violência e da valorização do patrimônio público

da comunidade”. NU11

f 01

No que diz respeito às expectativas dos não-usuários entrevistados sobre a

prática de atividades físicas, esportivas e de lazer, a partir da análise de conteúdo,

chegou-se às seguintes categorias: ampliação da oferta dos serviços e

equipamentos para as práticas nos bairros; benefícios das práticas de atividades

físicas, esportivas e de lazer; acompanhamento de um profissional; ampliação e

melhorias no setor da atividade física, esporte e lazer pelo poder público; negação e

atividade física.

A categoria que teve maior evidência foi ampliação e melhoria no setor da

atividade física, esporte e lazer pelo poder público. Nesta categoria, as explicativas

foram dadas considerando os seguintes aspectos: maior incentivo e orientação do

poder público à população, para que haja uma maior adesão à atividade física e de

esporte, com vistas à diminuição do sedentarismo; que a atividade física seja uma

prática regular, oferecida noutros locais, com uma maior diversidade de

modalidades; que a população colaborasse com a preservação do patrimônio

público; espera-se ainda vigilância nesses locais; uma gestão dinâmica; que haja

planejamento das ações e a efetivação de projetos de diferentes esportes.

Sugestões para o poder público

Apenas uma pessoa não apresentou sugestão, respondendo da seguinte

maneira: “Não sugiro, não participo, para mim tanto faz” (informação verbal)55.

As sugestões para o poder público mais evidenciadas foram: disponibilidade

de um profissional para orientação; ampliação do número de academias populares;

construção de ginásios, campos de futebol, quadras, pistas para caminhada,

55

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador NU6 à pesquisadora.

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ciclovias e parque de natação; oferta de outras práticas corporais e diferentes

esportes e realização de campanhas educativas para a população.

VISÃO DOS JORNALISTAS

Esporte e lazer na sociedade atual

Quanto às categorias: importância do esporte e lazer na vida das pessoas;

avanços no esporte e lazer e esporte e lazer na política urbana definiram a temática

– esporte e lazer na sociedade atual, dos 06 jornalistas pesquisados, 50% deram

suas respostas voltadas para a preocupação com os espaços, suas relações e

condições para a prática/vivência do esporte e lazer na sociedade nos dias de hoje.

Para eles, falta apoio do poder público. Foram mencionadas as condições precárias

do Complexo Plínio Lemos, situação identificada durante as observações de campo;

a problemática face à falta de espaço para práticas esportivas, e ainda que há uma

centralização das atividades no “Parque da Criança” e no “Açude Velho”, embora

seja justificada por questões de falta de segurança. Outros aspectos ora levantados

foram que o esporte e lazer estão fortalecidos, relacionados à melhoria da qualidade

de vida, saúde e bem-estar. Mas, em contrapartida, nas aulas de Educação Física

na escola, não são tratados com a devida importância.

Constatou-se também que a preocupação com os campos de futebol,

denominados campos de pelada, é um outro problema, pois justifica por ser a

“paixão nacional do brasileiro”. Por outro lado, o Sistema Desportivo Nacional, a

gestão pública, entre outros fatores, vem difundindo o lugar do futebol nesse

contexto. De outro modo, de acordo com a Secretaria Nacional de Futebol e Defesa

dos Direitos do Torcedor (BRASIL, 2016), estão previstos várias ações e programas

para a melhoria do futebol brasileiro.

Categoria: Importância do esporte e lazer na vida das pessoas.

Tema Verbalização

Vida

“Positiva porque hoje o Brasil vive de esporte e lazer. O

esporte e lazer são importantes na vida do ser humano. Ele

não vive sem esporte e lazer”. J4

f 01

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Categoria: Avanços no esporte e lazer

Tema Verbalizações

Mudança

“Melhorou um pouco, deveria ser mais observado. Existia

muito tabu, mas aos poucos vem mudando essa concepção”.

J2

“Acho muito mal explorado, não é visto pelos poderes públicos;

pela força, pelos fatores que trazem consigo na saúde, por

exemplo: o esporte é explorado na educação e saúde. A

internet tem prejudicado. E no Brasil a questão de segurança

também tem prejudicado. O esporte era uma atividade

espontânea, hoje é forçado, tem se mostrado uma mudança”.

J5

f 02

Categoria: Realidade e necessidades

Tema Verbalizações

Espaço, Relações e Condições

“Falta muito apoio do poder público em geral. Em Campina

Grande, ainda há no bairro José Pinheiro, o Complexo Plínio

Lemos – local abandonado, que poderia ser mais aproveitado.

Falta de local em Campina Grande, como campos de pelada,

já que o futebol é a paixão nacional do brasileiro. O único local,

o Parque da Criança ou caminhada às margens do Açude

Velho. Por questão de segurança, as pessoas não fazem”. J1

“Vejo muita necessidade da população, mas acho pouco

espaço. Parque da Criança, Liberdade, academias... Mas, é

uma necessidade muito grande”. J3

“Acho que hoje está muito fortalecido, muito ligado à qualidade

de vida, saúde e bem-estar. Pena que temos ainda

dificuldades: entendimento das pessoas, do poder público e a

falta de espaços. E nas escolas, as aulas de Educação Física

são relegadas ao segundo plano”. J6

f 03

Esporte e lazer na política urbana

Quanto à questão Esporte e lazer na política urbana, foram sistematizadas,

a partir das respostas dos jornalistas, as categorias que se seguem, na ordem de

maior frequência: avaliações das ações e atuações do poder público e indicadores

para o planejamento.

Com relação a como são avaliados e de que forma o poder público intervém

no esporte e lazer na política urbana, foram apresentados os seguintes aspectos: o

poder público o faz pouquíssimo, embora outro jornalista tenha dito que houve uma

mudança importante. Outro olhar destaca para que fossem colocadas em prática as

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ações. Dentre as explicativas dadas, estão: a aproximação do esporte e educação;

para que os jovens não caiam na marginalidade; que o esporte é saúde; que a

estrutura de uma maneira geral precisa ser revista. Outro elemento que se

configurou foi o enaltecimento atribuído às corridas, do ponto de vista positivo, ao

associar, talvez, os pontos fortes da cidade, do ponto de vista cultural e turístico.

Categoria: Avaliação das ações e atuação do poder público

Tema Verbalizações

Críticas e recomendações ao

poder público

“Os políticos pouco fazem, o poder público faz muito pouco.

Esporte e educação juntos para que os jovens não caiam na

marginalidade. Os políticos falam que esporte é saúde, mas

não fazem quase nada”. J1

“Na minha opinião, já tem uma mudança muito significativa,

mas deveria ser ampliada, se refere a uma condição no

tocante a toda estrutura”. J2

“Seria interessante que saísse da teoria e que se fosse feito,

fossem dadas condições”. J3

“Aqui em Campina Grande, o lazer no mês de junho com a

Corrida de Jegue, corrida da fogueira... É extraordinário. O

secretário de esporte é muito envolvido com essa atividade”. J4

f 04

Categoria: Indicadores para o planejamento

Tema Verbalizações

Problemática

“A gente tem visto a preocupação em criar novos esportes [...],

o espaço por questões de segurança inviabiliza; falta de

educação da própria população atrapalha. Em Campina

Grande surgem pessoas de grandes referências [...]”. J5

“Hoje por exemplo: quadra se constrói, as praças se

aproveitou; com as praças temos o lazer unindo atividade

física e prática de esporte. Com a urbanização e construção de

edifícios não se pratica futebol de pelada, exemplo: ciclismo –

ciclovias, hoje outras opções de esportes, como: vôlei de areia,

apesar de tudo isso precisa melhoria, não é ideal, isso precisa

melhorar”. J6

f 02

Gestão do esporte e lazer

Dois jornalistas da área de esporte que fizeram parte da pesquisa

enalteceram a gestão do esporte e lazer na cidade, muito embora com condições de

perspectivas de melhorias, como se pode verificar nas seguintes colocações:

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Hoje melhorou muito com Romero Rodrigues, mas ainda há muito a alcançar na área esportiva [...] (informação verbal)

56 J3

O secretário de esporte se envolveu muito com o esporte. A diferença de Campina Grande e João Pessoa é tremenda porque a PMCG se envolveu muito com eventos, campeonatos patrocinados [...] (informação verbal)

57.

Duas falas mencionaram a questão do planejamento entre outras

problemáticas que refletem preocupações com a gestão da referida pasta, quando

afirmam que:

A criação da Secretaria de Esporte não foi planejada, porque acompanhamos pouco, não tem orçamento, mas tem pessoas que se esforçam, mas tem questões políticas. Tem locais, talvez, pela falta de verba, preocupações novas e antigas, deixam a desejar; faltam pessoas qualificadas, pasta não para qualquer um, mas para os preparados (informação verbal)

58.

Deixa muito a desejar, não é tratado como prioridade, apesar de ter algumas praças/academias públicas. Mas o poder público no planejamento, a Secretaria de Esporte e Lazer deixa muito a desejar, não tem dependência, parece ter finanças, vemos uma lacuna sobre isso (informação verbal)

59.

Outras preocupações em relação à gestão do esporte e lazer em Campina

Grande – PB surgiram com:

A gestão de esporte em Campina Grande vem com a preocupação voltada com a corrida [...]. Tem também o Programa Mexe Campina no Parque da Criança [...]. O complexo olímpico ou em algumas zonas norte, sul, leste e oeste, estas para atender os bairros. Sabe-se que, o Complexo Plínio Lemos está sucateado (informação verbal)

60.

Deveria ter maior, é uma coisa de muito fachada. Na verdade, não tem o apoio, aquele apoio necessário [...] (informação verbal)

61.

Esporte e lazer na cidade

Quanto à pergunta realizada acerca do esporte e lazer na cidade, aos

jornalistas foram formadas duas categorias, a saber: planejamento urbano e políticas

públicas; e necessidades. A primeira categoria trata sobre a questão do crescimento

56

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J3 à pesquisadora. 57

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J4 à pesquisadora. 58

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J5 à pesquisadora. 59

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J6 à pesquisadora. 60

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J1 à pesquisadora. 61

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J2 à pesquisadora.

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336

da cidade, o papel do poder público, a forma da participação da sociedade na

discussão do esporte e lazer na cidade e na definição de políticas públicas.

Dentre vários aspectos apresentados nas verbalizações aqui transcritas,

destaca-se uma preocupação sobre a discussão entre desenvolvimento e

crescimento.

Para Piquet e Ribeiro (2008), as sociedades capitalistas, após a Segunda

Guerra Mundial, ao longo do período de crescimento econômico e de modernização

das estruturas sociais, desencadearam teorias sobre o desenvolvimento, em que as

políticas públicas compensatórias de bases Keynesianas são concebidas como

capazes de fazer frente às fases recessivas dos ciclos econômicos e de minimizar

desequilíbrios sociais e setoriais derivados da lógica do mercado.

Brandão (2011, p. 34) entende desenvolvimento como:

Um processo de exercitar opções alternativas frente a uma temporalidade construída e não-imediata, apta a sustentar escolhas, apresentando trajetórias abertas, sujeitas a decisões estratégicas e embates em contexto de incontornável diferenciação de poder.

Lefebvre (1999a) afirma que pode haver crescimento sem desenvolvimento

e às vezes, desenvolvimento sem crescimento. Mello e Vogel (1989) ressaltam a

necessidade de repensar que a ideia do desenvolvimento seja desvinculada de

critérios exclusivamente econômicos, subordinando-a a valores não centrados no

mercado. Isto exige a formulação e a implementação de novas propostas políticas

para o processo de desenvolvimento. Por outro lado, de acordo com Porto et al.

(2012, p. 03), “a relação entre investimento e desenvolvimento constitui uma questão

essencial para o entendimento do papel de políticas públicas”. Para eles, há uma

associação entre investimento em infraestrutura e crescimento econômico, mas nem

sempre ocorre da mesma forma no que se refere à relação entre investimento com

infraestrutura e desenvolvimento socioeconômico.

Outro aspecto a ser enfatizado é Orçamento Participativo. Com base em

Souza (2004), os conselhos de orçamento participativo vinculam-se à gestão urbana

e aos conselhos de desenvolvimento urbano, os quais são instâncias participativas

com vistas ao planejamento da cidade.

Com uma visão crítica, Bracht (2005) afirma que os motivos que levam as

ações governamentais para o ramo esportivo são: que o seu acesso à massa da

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população trará o bem-estar, a partir da promoção de saúde; de forma

compensatória para as questões emblemáticas de vida urbana, marcadamente

tecnologizada e pelos interesses econômicos do fenômeno esportivo. O autor ainda

acrescenta que o esporte como atividade de lazer deve ser priorizado.

Mas, diante desse contexto, algumas reflexões surgem: Quais são os

interesses e as necessidades dos moradores? Qual a realidade conjuntural onde

estão inseridos? Quais instâncias representativas, deliberativas marcam o

protagonismo do esporte e lazer no cenário do planejamento urbano e de políticas

públicas, levando em consideração que devem ser vistos de uma forma ampla e

devidamente valorizados?

Categoria: Planejamento urbano e políticas públicas

Tema Verbalizações

O crescimento da cidade, o poder

público, a participação social e

políticas públicas

“Eu acho que precisa ser visto com bons olhos pela

autoridade, a cidade vem crescendo, mas estão esquecendo

desse contexto urbano. A opção é muito pouca para o

tamanho da cidade”. J2

“Como a gente aqui, pessoas que se dedicam ao voluntariado;

falta de conhecimento e valorização dos que existem. Não

valorizado pelo público e nem privado [...]. Saúde – Educação

– Segurança, são projetos isolados, questões políticas,

questões de eventos, não de propagandas de conceitos e

ideias, mas questões por falta de políticas públicas”. J5

“De um modo geral, acho que faltou uma valorização do poder

público; a população cobrar. Os espaços cada vez menores e

a cidade cresce. Quando fala-se, lembra-se Parque da

Criança, Açude velho. Não existem, não há planejamento. A

sociedade tem condições de discutir as políticas públicas. No

orçamento participativo não é colocado como prioridade; as

escolas não desenvolvem o esporte [...]”. J6

f 03

Categoria: Necessidades

Tema Exemplos de Verbalizações

Espaço restrito

“Faltam mais eventos em Campina Grande, eventos para além

das corridas de rua, maior apoio do poder público no esporte

amador”. J1

“Em junho uma participação muito grande pela população,

embora que o espaço é muito restrito [...]”. J3

f 03

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Acesso ao esporte e lazer de interesses físico-esportivos

No tocante ao acesso de esporte e lazer, dois participantes fizeram

referências a instituições que atendam às pessoas com deficiência, muito embora de

forma tímida, como O “Instituto dos Cegos”, a Equipe de Futebol de Cinco, APAE e

EDAC (Escola de Deficientes de Áudio Comunicação). Além disso, apresentaram

observações quanto à falta de incentivo. São poucas as ações voltadas para o

paradesporto e, ainda, quando há acessibilidade, é de forma improvisada. Deveria

haver mais cobrança.

Aspectos direcionados para a ótica de melhorias foram reportados, como se

constatou nas seguintes respostas:

Na gestão de Romero Rodrigues, vemos o Mexe Campina, a atividade física nas academias urbanas, melhorou muito, mas continua melhorando [...] (informação verbal)

62.

Chega através dos rádios, principalmente depois que as rádios comunitárias chegaram. A população participa muito [...] (informação verbal)

63.

Por outro lado, encontraram-se também inquietações do ponto de vista da

citada temática, pois responderam da seguinte maneira:

Falta muita coisa mesmo [...]. Falta mais incentivo para que a população se aproxime mais; incentivo por parte de todos, além de oferecer mais espaços físicos para a população, aproveitar um programa de divulgação maior, incentivando o povo ao esporte; infelizmente aqui não se tem (informação verbal)

64. J4

[...] falta acompanhamento do profissional para as pessoas fazerem atividades. Não temos ciclovias [...]. Como política pública, não tem. É uma dificuldade bem clara (informação verbal)

65.

VISÃO DOS PRESIDENTES DE SABs

Esporte e lazer na sociedade atual

Tratando-se da temática central, Esporte e lazer na sociedade atual,

organizaram-se as falas dos Presidentes de SABs entrevistados nas seguintes

categorias: serviços, equipamentos e condições; esporte e lazer como prioridade e

62

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J1 à pesquisadora. 63

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J2 à pesquisadora. 64

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J4 à pesquisadora. 65

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J6 à pesquisadora.

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benefícios para a saúde e demandas para o poder público na área do esporte. Esta

última categoria mencionada foi a que apresentou um maior número de respostas.

Tais respostas remetem às necessidades e outras justificativas que se voltam para

demandas do poder público na área de esporte e lazer. As colocações estão

focalizadas da seguinte forma: seu aparato legal; na visão de que se parta das

necessidades da população; a relação da retirada das crianças da rua e do mundo

das drogas através do esporte; o reconhecimento de que fazem parte da educação e

as fragilidades e dificuldades por falta de espaços para o esporte.

Categoria: Serviços, equipamentos e condições

Tema Verbalizações

Espaço, Segurança e Manutenção

“O esporte e o lazer existem em academias e praças, mas

acho que deveria haver mais segurança; são um pouco

deterioradas, precisa reforma, mas queríamos a guarda

municipal, pois os “desocupados” quebram os equipamentos

[...]”. PS1

“No Jardim Paulistano tem uma praça que a atual gestão

colocou uma academia popular, campos de “pelada” [...]”. PS8

f 02

Categoria: Esporte e lazer como prioridades e benefícios para a saúde

Tema Verbalizações

Saúde

“Esporte e lazer são prioritários desde a criança e no adulto,

enfim trabalhando para as crianças da rua. Esporte e lazer

também é saúde”. PS4

“Na minha visão esporte e lazer significam uma coisa mais

importante na comunidade, o esporte e lazer para quem

participa são muito importantes na vida. Esporte para sua

saúde e lazer para sua saúde”. PS5

f 02

Categoria: Demandas para o poder público na área do esporte e lazer

Tema Exemplos de Verbalizações

Necessidades e Justificativas

“Quando temos é difícil, o esporte e lazer não temos em lei, o

governo tem que saber o que a população quer. Tem pouco

esporte e lazer, falta muita coisa, deveria ter a escolinha nos

bairros para as crianças e os adolescentes saírem da rua [...].

Falta incentivo e ajuda do poder público, fica muito difícil

[...]”.PS2

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“É importante porque no mundo em que vivemos, é muito

importante, porque vivemos no mundo da violência, tirávamos

da rua e também o esporte e o lazer já faz parte da educação”.

PS3

“Já temos o Centro da Liberdade, o Parque da Criança, mas

nos bairros faltam por serem na periferia. Faltam os campos de

peladas, onde saem pessoas cidadãos, porque no esporte tira

do mundo das drogas. Faltam quadras, espaços para

esportes”. PS9

f 06

Esporte a lazer na política urbana

A atuação do poder público; a política de investimento; atuação da SAB;

participação política dos vereadores; apoio e incentivos foram as categorias

sistematizadas para a questão Esporte e Lazer na Política urbana. A categoria

Atuação do poder público foi formada por um maior número de verbalizações. Assim

sendo, pode levar a entender que os Presidentes de SABs estão cobrando,

querendo uma atuação/intervenção do poder público de uma maneira mais

consistente, eficaz. Alguns pontos foram identificados, como: implementação de

ciclovias; as questões habitacionais e a relação com os empresários da área devem

ser discutidas de forma mais efetiva; e ainda, elaborar um diagnóstico nos bairros e

reconhecer suas demandas.

Além disso, embora tivessem sido despertadas apenas em duas

verbalizações, é importante trazer para a discussão a preocupação dos presidentes

no que diz respeito à definição do papel do poder público e de forma mais

específica, discutir o papel e qual a avaliação do poder legislativo municipal, tendo

em vista a problemática-esporte e lazer na política urbana.

Categoria: Atuação do poder público

Tema Exemplos de Verbalizações

Poder público

“Acho uma vergonha desde 1992 o conjunto não tem área de

esporte e lazer, lá não tem essa política”. PS1

“[...]. A Prefeitura poderia fazer mais para aproveitar o

esporte, não só futebol, basquete, voleibol .... Com o decorrer

dos tempos os construtores vão ocupando espaço. [...], o

poder público não entrou, foi sendo ocupado e o poder

público não viu aqui, poderia ser aqui...”. PS5

f 04

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341

Categoria: Política de investimento

Tema Verbalização

Investimento

“Vejo de forma carente de uma parte, porque se tem uma

pessoa para trabalhar com o esporte, deveriam as autoridades

competentes investirem mais, porque ainda tem muita criança

e adolescentes soltos, porque podem ser no futuro um drogado

[...]”. PS10

f 01

Categoria: Atuação da SAB

Tema Verbalização

Ação da representação do bairro

“Tem espaço. Tem incentivo da Prefeitura. Apesar de estarem

extinguindo. Lazer, eles incentivam, Domingo no Parque que

era bom. Estou pensando em realizar isso no bairro, tirar o

entulho para a área ficar plana e realizar essas atividades”.

PS4

f 01

Categoria: Participação política dos vereadores

Tema Verbalização

Vereadores

“Acho que o poder público, as autoridades deveriam ter mais

espaços. Os vereadores têm pequena participação. Muitos

meninos soltos, carentes, sem ter campinho, sem ter nada”.

PS7

f 01

Categoria: Apoio e incentivos Tema Verbalizações

Disponibilizar e incentivar

“Incentivos aos jovens e adultos à prática dos exercícios

saindo do sedentarismo”. PS3

“Lá na questão esporte, temos duas quadras, disponibilizando

à comunidade, [...]”. PS6

“Sim, porque é mais uma atividade que a gente dá mais uma

força para a região que a gente convive”. PS8

f 03

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342

Gestão do esporte e lazer

Ao serem questionados sobre a gestão do esporte e lazer de uma maneira

geral responderam com interesse de melhora, como também se ressalta nos trechos

das falas citadas:

Falta organização, precisa chamar o povo. Quando marcamos uma reunião, ninguém vem. Quanto à corrida, trabalha-se. Fraquíssimos, porque os dirigentes, quando chamamos o poder público, só fazem prometer. O que vemos é criançada na rua [...] (informação verbal)

66.

Não conheço quase nada, uma gestão muito fechada, única coisa que a gente percebe o “Mexe Campina”, temos a Vila Olímpica, praticamente sem atividade para a comunidade (informação verbal

67).

Houve avanços, exemplo: Programa “Mexe Campina”, mas acho muito restrito, deveria ser ampliado para todos os bairros [...] (informação verbal)

68.

Falho, por falta de investimento. Devia ter uma programação definitiva de esporte e lazer no bairro e evento que passa. Queria que tivesse quadra nas escolas municipais (informação verbal)

69.

Acho muito a desejar. Eles veem com poucos olhos, as autoridades dizem que vão fazer e as drogas vêm aumentando [...] (informação verbal)

70.

Com mais investimentos, com mais segurança, uma coisa puxa a outra, porque se tiver esporte e lazer e não tiver segurança, desmancha. Em termo de Paraíba, o prefeito daqui tem feito muitas academias e praças, se preocupa muito, mas não sei por quê [...] (informação verbal)

71.

Entretanto, algumas respostas representam um pouco de envolvimento com

a temática, por parte dos pesquisados. Ora encontram-se satisfeitos, ao afirmarem

que:

Não tenho palavras, porque eu tenho a dizer que colocou uma pessoa que entende do esporte (informação verbal)

72.

Em si não tem como falar do bairro, como, por exemplo, o professor de karatê, que faz trabalho voluntário. A prefeitura ajuda, tem a Secretaria de Esporte e Lazer com o Mexe Campina, no Parque da Criança com idosos. Existem a parte pública e a privada [...] (informação verbal)

73.

66

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS1 à pesquisadora. 67

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS3 à pesquisadora. 68

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS4 à pesquisadora. 69

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS7 à pesquisadora. 70

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS9 à pesquisadora. 71

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS10 à pesquisadora. 72

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS2 à pesquisadora. 73

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS5 à pesquisadora.

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Tem-se preocupado em realizar em área carente o desenvolvimento da prática desportiva, com a construção de praças e academias populares [...] (informação verbal)

74.

Questão que não me envolvo muito, porque cuido mais da comunidade, apesar de não ter sede própria [...] (informação verbal)

75.

Esporte e lazer na cidade

Ao ser tratado o assunto Esporte e lazer na cidade, junto aos representantes

das SABs, organizou-se, nas categorias que se seguem: condições de acesso;

ampliação e diversificação das atividades, ações e projetos; serviços e

equipamentos; e política de apoio e incentivo. Sendo que a primeira citada foi a que

obteve maior evidência.

O que ficou na categoria Condições de acesso foi a compreensão de que as

pessoas carentes, que não têm condições financeiras, não têm acesso ao esporte e

lazer em Campina Grande – PB.

Observou-se também que o SESC e o SESI foram citados. Acompanhou-se

historicamente que esses sistemas tiveram e têm sua importância no cenário

nacional do esporte e lazer, conforme Dumazedier (1999), Marcellino et al. (2007),

entre outros, como também que as formas e critérios de utilização vêm sendo

modificados e/ou ampliados.

Categoria: Política de apoio e incentivo

Tema Verbalização

Incentivo e valorização

“Tem demonstrado uma atenção especial em todos os

aspectos, procurando várias formas de incentivar e valorizar a

prática esportiva. No ciclismo com a ciclovia, Mexe Campina,

ações no Parque da Criança e no Complexo da Liberdade”.

PS4

f 01

74

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS6 à pesquisadora. 75

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS8 à pesquisadora.

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344

Categoria: Condições de acesso

Tema Exemplos de Verbalizações

Acesso

“No esporte, temos dois times grandes (Treze e Campinense)

e o esporte de pelada que a prefeitura ajuda. O lazer tem o

Parque da Criança e os clubes privados como o SESC e SESI.

O pessoal carente não tem acesso. No geral, a secretaria

ajuda”. PS5

“Acho que tem alguns bairros que estão carentes nessa parte,

mas ele está entrando no segundo mandato...”. PS10

f 04

Categoria: Serviços e equipamentos

Tema Verbalizações

Espaço

“Acho que falta muita coisa, porque os administradores não

dão oportunidades. Exemplo: era pra ter espaço para terceira

idade [...]”. PS3

“Fraco, porque não tem incentivo. Se o Secretário de Esporte e

Lazer chegasse no bairro, fizesse quadra, espaço para a

população praticar algum esporte [...]”. PS9

f 02

Categoria: Ampliação e diversificação das atividades, ações e projetos

Tema Verbalizações

Diversificar

“Calendário de eventos é muito pouco. As autoridades

poderiam fazer o seguinte: procurar os presidentes de SABs,

para ouvir com as SABs, Clube de Mães [...]”. PS1

“Ampliar os projetos para todos os bairros, porque atingiria

mais bairros e também, diversificar nas atividades ou juntar

os bairros e fazer mais atividades diversificadas”. PS6

“Não vejo quase nada. O lazer, vejo no Parque da Criança,

só com os eventos. A gente não vê quase nada que envolve

a comunidade. Vejo esporte e lazer em quase nada”. PS7

f 03

Acesso ao esporte e lazer de interesse físico-esportivo

Quanto à questão do acesso ao esporte e lazer, apenas dois Presidentes de

SAB pesquisados demonstraram satisfação, conforme se identificou nas seguintes

transcrições:

Existem o esporte e o lazer para o povão, como Domingo no Parque, tem as academias populares [...] (informação verbal)

76.

76

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS5 à pesquisadora.

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As atuais construções estão demonstrando uma atenção especial aos cadeirantes, fazendo com que todos tenham acesso ao esporte e lazer. Acesso segundo o Código de Mobilidade Urbana (informação verbal)

77.

Todavia, a maioria destacou alguns aspectos que estão voltados para

melhorias do referido acesso, tais como: melhoria dos campos de pelada, com o

trabalho socioeducativo; ouvir a população para reconhecer as suas necessidades e

interesses; investir mais na área; otimizar espaços nas escolas para esporte;

promoção, por parte do poder público, de ações esportivas e de lazer nos bairros;

melhorar a segurança e realizar serviços de reparos e manutenção dos espaços e

equipamentos de esporte e lazer.

VISÃO DOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Esporte e lazer de interesse físico-esportivo na sociedade atual

Aos serem questionados sobre a opinião do esporte e lazer de interesses

físico-esportivos na sociedade atual, os profissionais da área responderam

centrados nas seguintes categorias construídas: atividade física na vida das

pessoas, carências no esporte, nuances que justificam a prática e preservação do

patrimônio público.

Ultimamente, várias são as pesquisas e programas que estão sendo

veiculados na mídia em nível nacional, comparando como o esporte é visto nos

outros países, a exemplo da Inglaterra, de que forma é tratado, como está presente

no cotidiano de todos e de forma veemente ele é concebido nas práticas escolares e

no cotidiano das crianças, adolescentes e jovens. E, por conseguinte, quão ricos são

os benefícios do esporte e lazer sob múltiplos olhares na vida das pessoas, na vida

de cada cidadão e na vida em sociedade.

Mediante outro prisma, e levando-se em consideração as questões sociais e

suas repercussões, enfatiza-se o padrão da reforma urbana redistributivista de

acordo com Ribeiro e Cardoso (1994), cujo diagnóstico foca nas desigualdades e

direitos sociais, tendo como objeto de estudo a propriedade privada da terra, o uso

do solo urbano e a participação das camadas menos favorecidas na gestão da

cidade. Porém, esse padrão entrou em crise nos anos 1970. Por outro lado, emerge

77

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS6 à pesquisadora.

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346

a problemática ambiental, surge o padrão ecológico, com a intenção de relacionar-se

com o paradigma do planejamento.

De outro modo, o mapa da desigualdade está presente no país: enquanto

uns vivem em residências com grandes e diferentes aparatos, há um grande número

de habitantes morando em condições precárias, vivendo em favelas, intituladas

pelos seus moradores de “comunidades”, quartinhos, cortiços. A proliferação de

enclaves vem criando um novo modelo de segregação espacial, ora considerados

como espaços privatizados, fechados e monitorados para residência, consumo,

trabalho ou lazer. O quadro de violência urbana avassaladora vem dificultando

manter-se na livre circulação e abertura dos espaços públicos.

Nos últimos tempos, vêm se expandindo os condomínios fechados, os quais

tentam ser independentes e completos tanto quanto possível, oferecendo diversos

equipamentos para uso coletivo. Estes concentram a maioria da classe alta e média.

Aliada a essa situação, também há o problema do déficit habitacional. Assim sendo,

cabe discutir o papel do Estado no planejamento urbano em relação aos padrões

competitivos empresariais, bem como trazer o planejamento urbano para a política

nacional e para outras esferas. Além disso, discutir o esporte e lazer nessa realidade

aqui enfocada, e também com olhar crítico acerca da segregação.

Quanto aos espaços e equipamentos de esporte e lazer relacionados à

urbanização, recorre-se a Saldanha Filho (2003, p. 4), quando afirma que:

[...] a urbanização toma conta dos espaços das cidades, as poucas opções para o esporte e lazer estão sob a responsabilidade da iniciativa privada [...] enquanto os espaços e serviços públicos têm sido desqualificados, sucateados, tratados como algo não necessário [...].

Categoria: Atividade física na vida das pessoas Tema Verbalizações

Participação da população

“A sociedade hoje está mais participativa, atividade física está

abrangendo muito; a população está tendo mais acesso

através das atividades oferecidas nas praças, na própria

comunidade”. P3

“Aqui em Campina Grande que é proporcionado à

comunidade. Em Campina Grande vemos programa Mexe

Campina – práticas esportivas, danças, ginástica e NASF,

práticas corporais e também com orientações com grupos de

riscos. Hoje é mais fácil para disseminar a prática para os mais

carentes estamos quebrando e entrando no ritmo”. P5

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“Cresceu, melhorou, valorizou-se muito porque a questão das

pessoas estarem mais cientes da importância da atividade

física e a melhoria da qualidade de vida”. P6

“É frequente na vida das pessoas, não é difícil de se vê tanto

na escola quanto nas praças, diariamente procuram, é

presente na vida das pessoas”. P7

f 04

Categoria: Carências no esporte

Tema Verbalizações

Esporte

“O esporte na minha visão está adormecido, os adolescentes

estão adormecidos, sedentários, por causa dos jogos

eletrônicos. Em Campina Grande, praticamente não vemos o

esporte [...]”. P4

“Espaço tem tanto para o esporte e lazer também, o que falta é

incentivo. Nos bairros tem quadras e praças, mas não tem

nada voltado para o esporte, não se ouve falar [...]”. P8

“Carências nas estruturas físicas de forma a impossibilitar a

população e aos alunos, ou seja, o esporte fica segregado,

marginalizado, aquele jogo no meio da rua [...]”. P10

f 03

Categoria: Nuances que justificam a prática

Tema Verbalizações

Objetivos, finalidades e condições

“Eu acredito que ultimamente este tema está mais falado,

porque há cinco anos ainda não era muito falado. O esporte

vem ganhando espaço e o lazer também, sendo tratado,

mesmo ainda no sentido restrito, sendo visto como

necessidade”. P1

“Vejo como fins de saúde, para buscar saúde, melhoria da

qualidade de vida, não como lazer”. P2

“Vejo uma carência enorme de espaços públicos, como:

praças, parques e demais espaços que promovam um bem-

estar físico e mental para a coletividade”. P11

“Acho que hoje em dia as pessoas estão procurando

ambientes abertos e atividades em grupo, fugindo um pouco

dos ambientes de academia particulares. Tendo assim como

ponto positivo a liberdade de escolha, de dias, locais e grupos,

os quais querem participar. Os benefícios que o esporte traz à

vida das pessoas vem sendo determinados através dos meios

de comunicação, contribuindo para que a população procure

hábitos de vida saudáveis”. P12

f 04

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Categoria: Preservação do patrimônio público

Tema Verbalização

Público X Privado

“Acho que ainda é pouco valorizado pela sociedade, os

espaços públicos diferentes dos espaços privados, onde a

sociedade preserva, sendo esta uma questão cultural [...]”. P9

f 01

Esporte e lazer na política urbana

Quanto às respostas atribuídas à opinião sobre o esporte e lazer na política

urbana, os Profissionais de Educação Física se colocaram, de uma maneira geral,

da seguinte forma: são tratados como produto político e com fins de visibilidade

política. Foi enaltecido o Programa “Mexe Campina”. Para esses profissionais, há

um problema de gestão. É necessário um acompanhamento dos

programas/projetos, além de políticas públicas. Ademais, eles advogaram pela

importância do esporte e lazer.

Categoria: Sentido e significado da política

Tema Verbalizações

Inversão da política

“Eu acho que estão buscando, deixa brecha de qualidade de

vida, vejo como um produto político, não como qualidade e não

como formação humana”. P2

“Ainda vejo como insuficiente, desqualificado. Não se vê com a

devida seriedade, porque o que temos neste é que o esporte e

lazer estão na plataforma de visibilidade política e não de

interesse de qualidade de vida”. P10

f 02

Categoria: Efetivação de programas

Tema Verbalizações

Programa “Mexe Campina”

“Vejo que não estamos atrelados à política urbana. Acho que o

Mexe Campina, institucionaliza; é pequeno, deveria ser maior.

A construção das academias fica só o espaço. Acredito não

ser uma política. Existe uma política na teoria, mas não há

uma prática efetiva dessa política”. P1

“Eu acredito que estão tendo um novo olhar, exemplo:

escolinhas, corridas de rua; incentivo e novo olhar. Atualmente

está oferecendo mais. E também a política, a partir do

Programa Mexe Campina – programas de atividade física,

relação com a política urbana e exercício; incentivo das

ciclovias na política urbana”. P4

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“Mexe Campina atuando em vários polos da cidade. A prática

de esporte como basquete... estão inseridos aos poucos e a

prática das atividades físicas estão mais disseminadas [...]”. P5

f 03

Categoria: Política de gestão Tema Verbalização

Gestão

“Vejo muita política e pouco investimento porque existem

vários programas e políticas com incentivos para criação do

esporte na política urbana, mas esses investimentos não

chegam de fato a serem aplicados, pois parecem que não falta

consciência para tal aplicação dessa política, e, sim, uma

questão de gestão”. P11

f 01

Categoria: Implementação e monitoramento

Tema Verbalização

Manutenção

“Deixa a desejar na manutenção, pois cria-se os programas ou

local, mas não há manutenção preventiva dos programas ou

projetos”. P9

f 01

Categoria: Esporte e lazer como políticas públicas

Tema Verbalizações

Política Pública

“Acho que ainda o lazer é mais trabalhado do que o esporte.

Tem bairros que tem bons trabalhos, mas tem bairros que não

tem em relação às políticas públicas. Deveria todo bairro ter

projetos de incentivos ao esporte. Nos bairros a gente vê mais

incentivo para corridas de rua”. P8

“Hoje em dia as políticas vêm invertidas, cada vez mais em

políticas públicas, principalmente nos finais de semana, sendo

concorridas, trilhas e semanalmente oferecendo atividades em

academias populares e investindo na organização de forma

que se beneficiam ciclistas e corredores de rua”. P12

f 02

Categoria: Cenário de justificativas

Tema Verbalizações

Importância

“Acho que é de fundamental importância para a população,

porque as pessoas estão tendo acesso, para uma qualidade

de vida, onde muitos não tinham e que na maior parte da

população é sedentária, e, hoje conseguimos um número

maior por pessoas; com pessoas exercendo essa prática

através das academias populares, com orientação de

profissionais e eles estão também com acesso às aulas de

aeróbicas e outras atividades”. P3

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“Eu entendo que por ser valorizado é que vale a pena se

investir no esporte e às vezes, alguns atletas não saem por

falta de patrocínio”. P6

“Faz parte da política urbana porque é a necessidade da

população está à procura para a melhora de saúde, ficar ativa”.

P7

f 03

Conhecendo o Programa “Mexe Campina”

Tendo em vista que o Programa “Mexe Campina” é um programa no campo

do esporte e lazer oficializado pela Prefeitura Municipal de Campina Grande – PB,

que vem sendo implementado e difundido ao longo dos anos, apresentam-se a

seguir informações sobre ele para sua melhor compreensão, e ainda por ter sido

explicitado nas entrevistas. Segundo os dados obtidos junto à Secretaria de Esporte,

Juventude e Lazer de Campina Grande – PB, o Programa “Mexe Campina” foi criado

em 1997 e reformulado em 2013, tendo como objetivos:

Objetivo Geral:

- Promover a prática de atividades físicas diárias para a população campinense nos

espaços públicos de lazer, sejam em avenidas, praças, Unidades Básicas de

Saúde, academias ao ar livre, entre outros.

Objetivos Específicos:

- Desenvolver na população campinense a importância de um estilo de vida

saudável, através da prática de atividades físicas;

- Mostrar que pelo menos 30 minutos de atividade física diária, que seja leve ou

moderada, pode melhorar a qualidade de vida do indivíduo e reduzir os riscos de

desenvolverem Doenças Crônicas não Transmissíveis – DCNT;

- Reformar, adequar, ampliar e construir mais espaços para a prática de atividade

física;

- Auxiliar as equipes do Programa de Saúde na Família na promoção de saúde dos

usuários do SUS – Sistema Único de Saúde.

O Programa apresenta a justificativa baseada na perspectiva voltada para a

promoção de saúde da população, com o intuito de minimizar os efeitos causados

pelo sedentarismo e pelas DCNTs decorrentes da inatividade física. Por reduzir o

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risco populacional de surgimento dessas doenças, melhora a qualidade de vida

desses portadores. Por conseguinte, reduz a necessidade de internação e menor

uso de medicamentos, resultando em ganhos significativos à saúde, bem como gera

economia financeira com tratamentos médicos. Dessa forma, o Ministério da Saúde,

em conjunto com a Prefeitura Municipal de Campina Grande, por intermédio da

Secretaria de Saúde, da Secretaria de Juventude, Esporte e Lazer e da Secretaria

de Educação, efetiva o Programa “Mexe Campina”. Sendo assim, de acordo com a

documentação obtida, o referido programa surgiu por meio de políticas públicas para

a saúde. Seu aporte teórico enfatiza a recomendação da atividade física como

promoção de saúde, de forma leve ou moderada, por pelo menos 30 minutos

diariamente, de forma contínua ou acumulada, trazendo benefícios de natureza

física (controle do peso corporal, melhora da mobilidade, do perfil dos lipídios, da

resistência física, força muscular, resistência à insulina, aumento da densidade e o

controle da pressão arterial); e benefícios psicológicos (diminuição da depressão,

manutenção da autonomia, redução do isolamento social, aumento da autoestima,

melhora da autoimagem, alívio do stress).

O Programa, através das referidas secretarias e com parcerias privadas,

engloba as seguintes ações:

- Cadastramento dos participantes do programa;

- Aferição diária da pressão arterial;

- Verificação de peso e altura (ação disponível aos frequentadores do programa);

- Avaliação física semestral;

- Orientação aos praticantes;

- Aulas de ginástica aeróbica;

- Alongamentos, relaxamentos e atividades complementares;

- Aulas de Tai Chi Chuan;

- Organização de eventos esportivos e não esportivos;

- Ginástica laboral nas secretarias e dependências da prefeitura;

- Palestras educativas;

- Treinamento e reciclagem multidisciplinar;

- Jornada Pedagógica para capacitar os profissionais da Equipe de Saúde da

Família – ESF, sobre a importância do encaminhamento dos usuários do SUS

para a prática de atividades físicas;

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- Referenciar usuários para tratamento nas Unidades Básicas de Saúde – UBSs.

Gestão de esporte e lazer

Ao serem questionados sobre a gestão de esporte e lazer, apenas três

respostas estão direcionadas a pontos negativos, como se pode observar nas falas

que se seguem:

[...] a gestão não apresenta peculiaridades dessa área para gerenciar tal gestão, pois isso advém de questões políticas internas de nossa região, atrapalhando assim todo o processo (informação verbal)

78.

É bem complicado porque a gestão não vê o esporte e o lazer como algo de fundamental importância social na formação do indivíduo [...] (informação verbal)

79.

Não existe em Campina Grande. É inexistente ou totalmente falho, porque os gestores não estão voltados a isso (informação verbal)

80.

Outras respostas estão relacionadas a sugestões, ao afirmarem que:

A gestão poderia melhorar e incluir mais pessoas; incentivando mais as pessoas, incentivando mais a inclusão do jovem no esporte (informação verbal)

81.

É necessário buscar e inovar cada vez mais em ideias que façam com que os clientes e alunos se fidelizem [...] (informação verbal)

82.

No entanto, há uma maior parcela que está satisfeita com a gestão de

esporte e lazer, como verificou-se nas suas assertivas, embora com algumas

ressalvas:

Acho bom, apesar de não ver incentivo ao esporte, mas quando tem, eles sempre apoiam. Incentivo bom, principalmente ao lazer, porque muitas praças, com o Programa “Mexe Campina”, que incentiva a promoção de saúde, levando mais qualidade de vida para a população (informação verbal)

83.

78

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P1 à pesquisadora. 79

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P2 à pesquisadora. 80

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P3 à pesquisadora. 81

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P5 à pesquisadora. 82

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P12 à pesquisadora. 83

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P4 à pesquisadora.

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Pessoas do ramo, agora eles liberam mais recursos. Mas é muito envolvido com Corridas, [...]. O Parque da Liberdade – local ótimo; o NASF tem espaços [...] (informação verbal)

84.

Hoje, no meu ponto de vista, está bem administrada, está mais abrangente e participativa com a comunidade (informação verbal)

85.

Valorizados em toda a cidade, hoje pelas praças, as pessoas estão fazendo mais atividades. O espaço está sendo benéfico para a população, de forma coerente [...] (informação verbal)

86.

Dentre todas as respostas, apenas duas possibilitam o entendimento de não

envolvimento com a temática em tela, quando responderam da seguinte maneira:

Eu era do “Mexe Campina”. Como vim para o PSF, trabalho na prevenção de idosos, cuidados deles, hipertensos e diabéticos (informação verbal)

87.

Voltada totalmente para o esporte e lazer, não estou muito envolvida. Eu estou ligada à orientação da atividade física e incentivo nas corridas. Nos demais campos, não estou muito envolvida, minha vivência é promoção, prevenção e ajuda no tratamento (informação verbal)

88.

Percebeu-se também que uma resposta foi associada a questionamentos

que se pautavam na concentração do esporte e lazer na cidade, no Parque da

Criança. Praças foram ampliadas, mas com atividade física sem orientação todos os

dias. Os espaços não têm segurança. Há uma maior cobertura aos idosos. Contudo,

não há feedback para a sociedade, que não vê a gestão do esporte e lazer.

Esporte e lazer na cidade

As categorias identificadas no tocante ao esporte e lazer na cidade foram:

politicas não efetivadas; organização e atuação; atividade física, esporte e lazer na

vida das pessoas; iniciativas do poder público no campo da atividade física, esporte

e lazer; e fragilidades do esporte e lazer na cidade. A categoria que apresentou o

maior número de verbalizações foi organização e atuação.

As respostas dessa categoria demarcam a atividade física, o esporte e o

lazer com pontos de vista dicotomizados em termos de modalidade, campo de

atuação, locais, eventos e atividade física com foco nos adultos e idosos. Desta

84

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P7 à pesquisadora. 85

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P9 à pesquisadora. 86

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P10 à pesquisadora. 87

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P6 à pesquisadora. 88

Entrevista semiestruturada concedida pela colaboradora P8 à pesquisadora.

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forma, estão entendidos separadamente, como pastas diferentes e com seus

próprios campos de intervenção.

Considerando seu contexto histórico e teórico-conceitual de cada termo, ou

seja, atividade física, esporte e lazer, e no presente estudo, este último teve um

recorte nos interesses predominantemente físico-esportivos, compreende-se que

carregam concepções e significados complexos, porém não desassociados; com

valores próprios, embora imbricados, que ganham espaços com a definição de

políticas.

Categoria: Políticas não efetivas

Tema Verbalizações

Fragilidade nas políticas de

esporte e lazer

“Carente demais! Apesar de um grande incentivo nas políticas

de esporte e lazer na mídia nacional. Nossa cidade apresenta

um déficit de esporte e lazer, porque não há investimento que

efetive a criação, e mais ainda, a manutenção desses espaços,

já que nossos gestores estão preocupados mais com os

cargos que irão preencher nos órgãos do que com a política

propriamente dita ao esporte e lazer”. P1

“A nossa política de esporte e lazer é muito defasada, é fraca,

pelo menos sobre as informações. O investimento em

Campina Grande é para o futebol, mas não temos

contrapartida, mas é o mais valorizado; bem como, são

comuns estes eventos no Parque da Criança e nas praças não

entram, não é uma política efetiva. Existe a política, mas não é

efetiva, é como tivesse solta [...]”. P11

f 02

Categoria: Organização e atuação

Tema Exemplos de Verbalizações

A Atividade física, o esporte e o

lazer

“O esporte em si está voltado para o futebol e o futsal, não

abrangendo outras modalidades. E a gestão do lazer na

cidade está voltada para o tratamento e não como prevenção

[...]”. P2

“Na área de esporte ainda existem locais adequados ou

adaptados às práticas esportivas, deixando a desejar o lazer,

por falta de segurança e qualidade”. P3

“O esporte não está incentivado não, é incentivada a prática de

atividades físicas, a parte de esporte, como na educação, com

os adolescentes está carente, só está tendo-se cuidado com

adultos e idosos”. P10

f 04

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355

Categoria: Atividade física, esporte e lazer na vida das pessoas

Tema Verbalizações

Adesão e benefícios

“A própria população está interagindo bem e estão tendo mais

consciência que através dessas atividades terão mais

qualidade de vida. Quanto ao esporte está abrangendo através

da promoção de saúde, estão acontecendo eventos, como as

corridas em finais de semana [...]. As pessoas estão

aprendendo que esporte é vida, é saúde. Eu vejo que as

pessoas chegam ao final de semana, saindo da rotina. O

esporte, como lazer, as pessoas estão trocando a bebida por

ele”. P9

“É o que predomina na cidade é o esporte e o lazer. As

pessoas deixam de ir para bares e festas noturnas por terem

mais opções saudáveis, com as trilhas, as corridas, atividades

funcionais em grupos oferecidos pelo município; contribuindo

não só para os benefícios físicos, mas também contribuindo

para a saúde mental [...]”. P12

f 02

Categoria: Iniciativa do poder público no campo da atividade física, esporte e lazer

Tema Verbalizações

Ações da Prefeitura

“A parte da prefeitura investiu bastante, existem várias praças,

caminhadas, as trilhas, as corridas de ruas. A cidade é muito

convidativa”. P5

“Eu acho interessante o Programa “Mexe Campina” em vários

polos. No Parque da Criança, exemplo: a Capoeira, Yoga,

trabalho funcional. Está sendo muito divulgado pela

importância”. P6

f 02

Categoria: Fragilidade do esporte e lazer na cidade

Tema Verbalizações

Falta

“Está crescendo o Programa; falta muita orientação; falta

atingir a camada mais pobre; faltam recursos; e muitas vezes

salários atrasados [...]”. P7

“Poderia ter incentivo do esporte nas escolas [...]”. P8

f 02

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356

Acesso ao esporte e lazer de interesses físico-esportivos

Com relação ao tema acesso ao esporte e ao lazer de interesses físico-

esportivos, quatro profissionais da área mencionaram a insatisfação, justificando que

as pessoas, por falta de conhecimento de serem assegurados como direitos

constitucionais, não os cobram, mesmo que a mídia esteja incentivando as práticas

do esporte e lazer e relação com a saúde do indivíduo nos campos fisiológico, social

e psicológico; pela centralização e poucas áreas de qualidade na cidade para as

referidas práticas; pelo acesso ao esporte ser falho em Campina Grande – PB,

devido à escassa oferta para os adolescentes, e ainda por não haver um foco na

questão da acessibilidade para as pessoas com deficiências.

A visão de se apresentar de forma positiva foi elucidada pela maior parte,

com destaque para as seguintes ponderações: há, nos NASFs e nos PSFs,

orientação de atividade física e a população não precisa pagar. Há praças e locais

em vários bairros que oportunizam essas práticas; colocação de ciclovias; equipe

multiprofissional para orientação; orientação e promoção de atividades físicas nas

UBSs.

Apesar de um profissional pesquisado achar bom o acesso, ressaltou que

falta acessibilidade para as pessoas com deficiência. Já no contexto da discussão

público e privado, observaram-se as opiniões aqui apresentadas:

Tanto tem a parte fácil, tem a parte pública porque tem a academia, a questão da caminhada, o Programa “Mexe Campina”... Quanto ao esporte não é de fácil acesso porque tem custos (informação verbal)

89.

[...] existem alguns clubes que são mais acessíveis. Se você quiser, o acesso é privado. Temos “O Meninão” e “Complexo Plínio Lemos”, num ano de megaeventos, não funciona. Em Campina Grande, não existe. O acesso é privado, se quiser qualidade (informação verbal)

90.

Considerando a abrangência desse acesso, duas outras colocações podem

ser destacadas:

Em algumas partes da cidade, o acesso está mais diversificado, onde há praças, campos e até mesmo os equipamentos sociais (SABs, Clube de Mães) vêm favorecendo. Nestes locais, o trabalho é diferenciado, onde podemos colocar o material [...] (informação verbal)

91.

89

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P5 à pesquisadora. 90

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P11 à pesquisadora. 91

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P9 à pesquisadora.

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[...] as atividades físicas são oferecidas em diversos bairros e em locais que comportam grande número de pessoas, oferecendo modalidades diversificadas. Hoje a maioria das pessoas busca muito mais que um corpo perfeito, elas almejam qualidade de vida e saúde [...] (informação verbal)

92.

Quadro 05 – Síntese das categorias no campo do esporte e lazer, a partir das falas dos participantes da pesquisa.

Categoria f Exemplos de Verbalizações

Diagnóstico 28 “Vejo uma carência enorme de espaços públicos, como: praças,

parques e demais espaços que promovam um bem-estar físico e

mental para a coletividade”. P11

Benefícios 23 “Espero que cresça, que traga mais coisas inovadas para a

população que está envolvida. O pessoal está muito voltado

para isso, o pessoal não está pensando mais em estética e sim

na saúde”. NU3

Plano 18 “Falta de planejamento do poder público. Como os interesses

econômicos, quem prevalece para o poder público? O problema

do esporte e lazer é um problema cultural, precisa ser

incentivado para convencer as pessoas para ter uma melhor

qualidade de vida”. NU15

Ampliação e melhoria no campo do

esporte e lazer

15 “Acho muito mal explorado, não é visto pelos poderes públicos;

pela força, pelos fatores que trazem consigo na saúde, por

exemplo: o esporte é explorado na educação e saúde. A internet

tem prejudicado. E no Brasil a questão de segurança também

tem prejudicado. O esporte era uma atividade espontânea, hoje

é forçado, tem se mostrado uma mudança”. J5

Política pública 11 “Acho que ainda o lazer é mais trabalhado do que o esporte.

Tem bairros que tem bons trabalhos, mas tem bairros que não

tem em relação às políticas públicas. Deveria todo bairro ter

projetos de incentivos ao esporte. Nos bairros a gente vê mais

incentivo para corridas de rua”. P8

Acesso aos serviços e equipamentos 10 “Achei uma providência muito boa, porque muita gente que não

tinha oportunidade de fazer academia, dança, Pilates.

Oportunidade para quem não pode pagar, muito bom, não sei lá

se governo, município, estado, mas muito bom”. U4

Melhorias nos serviços e

equipamentos

08 “Deveria ser mais valorizado e mais diversificado. Campina

Grande tem o potencial de ter outros”. U1

Planejamento urbano 08 “Eu acho que precisa ser visto com bons olhos pela autoridade,

a cidade vem crescendo, mas estão esquecendo desse contexto

urbano. A opção é muito pouca para o tamanho da cidade”. J2

Segurança 07 “Melhorar mais, o povo acreditar, melhorar na saúde, tentar

ajudar, saúde e segurança, muito assalto”. U12

Apoio e incentivo 06 “Tem demonstrado uma atenção especial em todos os aspectos,

procurando várias formas de incentivar e valorizar a prática

esportiva. No ciclismo com a ciclovia, Mexe Campina, ações no

Parque da Criança e no Complexo da Liberdade”. PS4

Participação de diferentes segmentos 06 “Acho que o poder público, as autoridades deveriam ter mais

espaços. Os vereadores têm pequena participação. Muitos

meninos soltos, carentes, sem ter campinho, sem ter nada”. PS7

92

Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P12 à pesquisadora.

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358

- CONTINUAÇÃO -

Categoria f Exemplos de Verbalizações

Atividade física, esporte e lazer na vida

das pessoas

06 “É o que predomina na cidade é o esporte e o lazer. As pessoas

deixam de ir para bares e festas noturnas por terem mais

opções saudáveis, com as trilhas, as corridas, atividades

funcionais em grupos oferecidos pelo município; contribuindo

não só para os benefícios físicos, mas também contribuindo

para a saúde mental [...]”. P12

Avaliação 05 “Seria interessante que saísse da teoria e que se fosse feito,

fossem dadas condições”. J3

Implementação 05 “Vejo que não estamos atrelados à política urbana. Acho que o

Mexe Campina, institucionaliza; é pequeno, deveria ser maior. A

construção das academias fica só o espaço. Acredito não ser

uma política. Existe uma política na teoria, mas não há uma

prática efetiva dessa política”. P1

Política de gestão 04 “A gente mudou o conceito, quis trabalhar, descentralizar

equipamentos e praças nos locais sem se deslocar, tendo o

esporte e lazer no seu próprio ambiente. Associar à política de

ocupação ao esporte e lazer; diminuir os custos com a saúde. A

cidade que pratica esporte relaciona com a saúde. A política

voltada para a saúde, esporte e educação, porque melhora-se o

custo com a saúde. Exemplo: o Programa Mexe Campina é uma

poupança para economizar o custo. Temos a política de

descentralizar. Estimular a prática de skate. Exonerar custos de

saúde. Melhoria da qualidade de vida nos bairros, exemplo:

ambientes vulneráveis passam a ser importantes, exemplo:

Parque da Liberdade é uma questão de gênero – mulheres com

ampla jornada, o esporte e lazer é uma válvula de escape”. G6

Atenção às crianças, adolescentes e

jovens

03 “Ruim, porque se tivesse interessava mais as crianças; tiravam

mais da rua, não tem o que oferecer às crianças, ficam jogadas”.

NU18

Espaços 02 “Campina Grande era Parque da Criança, foram crescendo as

demandas em vários locais e foram se constituindo. No Parque

da Liberdade – Centro de iniciação ao esporte; na Juscelino

Kubistchek e no Canal de Bodocongó, bem utilizados os

espaços; no Parque do Açude Novo Tai Chi Chuan e Parkour;

Final da Floriano Peixoto todo; no Complexo Plínio Lemos há

quadra; campos de pelada...” G2

Patrimônio público 01 “Acho que ainda é pouco valorizado pela sociedade, os espaços

públicos diferentes dos espaços privados, onde a sociedade

preserva, sendo esta uma questão cultural [...]”. P9

Política de investimento 01 “Vejo de forma carente de uma parte, porque se tem uma

pessoa para trabalhar com o esporte, deveriam as autoridades

competentes investirem mais, porque ainda tem muita criança e

adolescentes soltos, porque podem ser no futuro um drogado

[...]”. PS10

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Em síntese, à luz das categorias, tendo como base a opinião dos

participantes da pesquisa, apresentam-se as seguintes considerações:

A situação do esporte e lazer na cidade de Campina Grande – PB requer a

promoção de mais espaços de bem-estar para a coletividade.

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359

A categoria denominada Diagnóstico tratou das questões elencadas que

orientam a importância de se fazer um levantamento da realidade desse campo,

traçando interesses, motivos, necessidades, os quais estarão presentes para

justificá-los. Essa categoria foi uma das mais enaltecidas.

Há benefícios, principalmente na área de saúde, oriundos do envolvimento da

população com o esporte e lazer, embora com carência de inovação, indicando,

dessa forma, os benefícios do ponto de vista individual, embora com a intenção

de ampliar o leque de opções na cidade.

Falta de planejamento urbano por parte do poder público quanto à ampliação e

melhoria no campo do esporte e lazer, bem como incentivo para as pessoas

terem melhor qualidade de vida. Percebeu-se que se estabeleceu uma relação

entre planejamento urbano e qualidade de vida das pessoas.

As corridas de rua são a maior representação do esporte na cidade.

O acesso aos serviços e equipamentos de esporte e lazer constitui uma

oportunidade de atendimento às pessoas menos favorecidas, que não têm

condições de frequentar o setor privado, na opinião dos entrevistados.

No planejamento urbano, deve constar uma política que dimensione a

necessidade de melhoramento, diversificação e ampliação dos serviços e

equipamentos em outros bairros, baseado no crescimento da cidade. Ressalta-

se que o fator expansão de Campina Grande foi elucidado. Nessa perspectiva,

reforça-se a importância de ser discutido o desenvolvimento da cidade de uma

forma ampla.

A falta de segurança nesses locais foi outro aspecto apontado, face aos

frequentes assaltos.

A prática esportiva vem sendo incentivada e valorizada, a exemplo da difusão do

ciclismo na cidade, do Programa “Mexe Campina” e através das ações

promovidas.

Outras categorias foram norteadas pela necessidade de demais segmentos

participantes da discussão do esporte e lazer na cidade em conjunto com o

poder público. Apontou-se a necessidade de acompanhamento desse setor,

para que fosse concebido como política pública, e, consequentemente, fosse

implementada uma política de gestão do esporte e lazer. Nesse contexto, foi

enunciada a diminuição de gastos com a saúde e melhoria na qualidade de vida

nos bairros quanto aos problemas de vulnerabilidade social. Ademais,

constatou-se nas falas uma evidência a uma perspectiva funcionalista do

esporte e lazer.

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360

A constituição dos espaços para o esporte e lazer se deu principalmente pela

ocupação espontânea da população em determinados locais, e, posteriormente,

foram se constituindo, como também com o reaproveitamento de espaços

existentes.

A preocupação volta-se para o patrimônio público, como também quanto à

política de investimento do esporte e lazer, sendo este último, de forma

específica, voltado para os interesses físico-esportivos, os quais foram

timidamente enfocados.

Assim, de uma forma geral, o esporte e lazer em Campina Grande - PB,

como política e relacionados às políticas urbanas, apresentaram inquietações

quanto à necessidade de maior envolvimento dos gestores públicos. Foram

elencadas necessidades como a elaboração de um planejamento urbano que atenda

de modo efetivo à conservação, inovação e implementação dos serviços e

equipamentos do esporte e lazer como política pública. Nesse contexto, ressalta-se,

ainda, a importância de que o esporte e lazer na cidade sejam tratados numa

dimensão crítica com vistas à diminuição da exclusão social e desigualdade

socioespacial.

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361

Dos organizadores/promotores de atividades físicas, esportivas e de lazer de iniciativa privada

Quadro 06 - Perfil das atividades físicas, esportivas e de lazer organizadas / promovidas pela iniciativa privada, segundo amostra pesquisada.

Tipo de

Atividade Local Objetivo

Público-

Alvo Cronograma

Recursos

Humanos Financiamentos Parcerias

Ciclismo Cidade Alavancar o uso da bicicleta, como

mobilidade urbana, esporte e aquecimento

do movimento da loja.

Independente

de idade

Quintas-feiras à noite Pessoal da loja Recursos próprios STTP

(Superintendência de

Trânsito e

Transportes Urbanos)

Campeonatos de

futsal

Ginásios públicos Promover, fomentar e expandir o futsal. Crianças e

adolescentes

Dois campeonatos

por semestre

Organizador,

mais de 30

professores,

assistentes de

goleiros e

equipe de

arbitragem

Equipe custeia o

evento, as

despesas são

rateadas por equipe

Universidade

Projeto voltado para

o judô

Academia privada

(proprietário é o

coordenador do

projeto)

Aumentar a média escolar em busca do

desenvolvimento do esporte; da

oportunidade à prática esportiva às

crianças e jovens de baixo poder

aquisitivo; viabilizar o desenvolvimento

desportivo de atletas que apresentem

perspectiva em termos de performance

em nível regional e nacional; conseguir o

desenvolvimento acadêmico dos atletas

nas suas escolas; auxiliar o aluno através

de ferramentas de coach, o alcance de

seus objetivos no esporte e na educação.

6 a 12 anos 08 horas semanais Professores de

judô

Será via patrocínio

por faixa

Ainda em fase de

implementação

Projeto Yoga,

massagem Reiki e

meditação e outro

com palestras e

Yoga

Parque da Criança Promover o bem-estar ao máximo de

pessoas possível.

Independente

de idade

1º domingo de cada

mês (Yoga,

massagem e

meditação) e yoga

com palestras

educativas ao 3º

sábado de cada mês

Instrutores Caixa do próprio

Studio e gratuidade

para as pessoas

Associação

Paraibana de Yoga,

PMCG, SESI e

Instituto Jáhá buta

Hare Krishina

Corrida de

Orientação

Espaços não

urbanos

Promover a atividade/esporte entre os

atletas; preservar a natureza e promover

saúde.

Independente

de idade

Segue o calendário

do campeonato,

geralmente a cada 02

meses antes do

campeonato.

Diretoria com

gestão bienal

Os próprios atletas,

com as inscrições e

valor mensal para

manutenção

Patrocinadores

(pessoa física e

jurídica)

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Sugestões para melhoria/fortalecimento do esporte e lazer nas políticas

urbanas

Investir em ciclovias; investimento e apoio do poder público em eventos

voltados para atividades físicas, jogos escolares, no tocante ao material e espaços

físicos; uma gestão do esporte, com a pessoa voltada para o esporte; maior

envolvimento das universidades; tornar a prática da Yoga integrante das políticas

públicas, tornando-a regular nas escolas, e ainda do currículo; estimular as

competições; retomar com os eventos esportivos na cidade; estabelecer parcerias

entre o público e privado e levar o esporte para as escolas, como a Corrida de

Orientação.

Em Campina Grande – PB, vem despontando e sendo fortalecidos

práticas/projetos de atividades físicas e esportivas, como: os passeios ciclísticos,

corridas de orientação, projetos voltados para as práticas corporais ligadas às lutas,

sejam elas o judô, a capoeira, o karatê, dentre outras; atividades como a Yoga e

outras práticas orientais. Essas atividades, ações, projetos, indicados para se

constituírem parte da amostra do estudo, deram-se principalmente porque vêm

aumentando seus adeptos, vêm ganhando espaço midiático pelos seus objetivos,

porque vêm corroborando uma mudança no estilo de vida das pessoas. São

alternativas de práticas corporais que buscam disseminar o prazer pelas

práticas/vivências; oportunizam um conhecimento da diversidade e riqueza na área

da atividade física, esportiva e de lazer; podem favorecer o contato com a natureza e

desenvolver diferentes habilidades, dentre tantos outros horizontes.

Todavia, o que chamou a atenção é o que pode influenciar, intervir e

envolver uma lógica atrelada aos serviços, espaços e infraestrutura de um sistema

público; que possam ser ponderados os benefícios para a cidade, para a população,

para o setor público, para o setor privado. De que forma o privado está chegando ao

público? Quais são as contrapartidas? Quais os envolvimentos de ambas as partes?

Até que ponto há uma inclusão social? Em que medida, o mercado, o capitalismo

está sendo fortalecido? O que está sendo pensado para além de ações pontuais,

que sejam concebidas numa política urbana que não seja em benefício de uma

minoria?

O que pode ser feito para que as escolas sejam loci para formação em que o

esporte e lazer, com o seu leque de opções e com trabalhos já consolidados nas

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cidades, possam fazer a diferença nas vidas das pessoas e no cotidiano das

cidades? E ainda, qual a percepção que os moradores têm sobre o que é público e

privado? Quais são seus direitos e deveres? O que é frágil no entendimento das

pessoas no que diz respeito ao público? São reflexões, dentre tantas outras. Por

outro lado, é importante também considerar que, de pequenas sementes, iniciativas

preliminares, em conjunto com interesses coletivos, em busca de melhorias,

parcerias, de forma planejada, pensada, refletida é que poderão vir a se tornar uma

política que seja descentralizada, que contribua para o acesso da população e com

melhorias também para a cidade. Como, por exemplo, viu-se que a dinamização e

expansão do ciclismo na cidade estão levando o poder público a tomar iniciativas e

rever quais medidas e ações são necessárias para a otimização dessa prática na

cidade.

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CONCLUSÕES

A discussão sobre o corpo e seus diferentes caminhos para a sua

compreensão e a importância a ele atribuída, pois sem as pessoas não se constitui

uma cidade, como também com a intenção de ter uma visão interdisciplinar, embora

reconhecendo a importância e seu lugar nas ciências médicas, recorrendo-se à

importância das ciências sociais para o debate, com a compreensão de que a vida

do ser humano e sua vida em sociedade são entendidas não somente na condição

do estado natural e evolutivo da história da humanidade e dos tempos sociais,

políticos e ideológicos; mas numa visão mais ampla de pensar o indivíduo, com sua

história, suas características, suas necessidades, seus interesses, seus desafios e

perspectivas como aspectos importantes para entender os benefícios da atividade

física. Porém, no presente estudo, com o olhar voltado para o campo do esporte e

lazer. Muito embora, numa dimensão mais ampla, refletir sobre o desencadear e o

entrelaçamento com vistas também à coletividade, pois a vida de cada cidadão e a

vida em sociedade é marcante para pensar o que pode ser feito para melhorar a sua

qualidade de vida, bem como qualificar a cidade.

Desta feita, numa relação entre esse contexto e o campo do esporte e lazer,

viu-se que a atividade física, vista tanto pela ótica de saúde como de lazer, é

contemplada por uma vasta literatura, que apresenta seus benefícios, e não são

voltados apenas ao ponto de vista fisiológico, mas a diferentes aspectos. Logo, a

saúde é compreendida de forma mais ampla, ou seja, numa dimensão social.

Quanto ao lazer, embora seja um dos determinantes positivos também para a

melhoria da qualidade de vida, ainda é entendido por muitos de forma restrita, sendo

necessário ser compreendido que pode articular-se com a saúde e visto para além

de uma visão funcionalista.

Embora haja campanhas e ações educativas que incentivam a prática de

atividades físicas, esportivas e de lazer, de outro modo são inúmeros indicadores

que apresentam os problemas de diferentes ordens, que trazem consequências

avassaladoras à vida das pessoas e de forma veemente, como as patologias de

ordem psíquico-emocionais, que vêm se expandindo a cada dia, advindas seja por

questões de diversas ordens, pessoal e/ou social. Porém, o lugar que o esporte e

lazer na discussão apresentada percorreu, desde a compreensão sobre o corpo, das

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questões ligadas à contemporaneidade acerca da sociedade de consumo,

sociedade do espetáculo, preocupações com a supervalorização do ter e do

aparecer, é que o esporte e lazer precisam ser cada vez mais valorizados numa

perspectiva crítica e holística, para que, a partir das contribuições, sejam cada vez

fortalecidos.

Deve haver o acesso de todos. O esporte e o lazer precisam ser

considerados como um bem individual e coletivo, e não como produtos de um

sistema capitalista, mercadológico, competitivo e não apenas como objeto de

consumo. Ambos não devem ser divulgados com a visão de desconforto,

inquietudes, no sentido de descrédito, arraigados apenas na mídia pela problemática

vivida pelo país atualmente, fruto de fraudes, de mecanismos ilícitos, oriundos de

desvios de verbas, superfaturação de obras e obras mal planejadas e mal

executadas pelo poder hegemônico dos diferentes órgãos, nacionais e

internacionais, com forte influência no campo do esporte. Ademais, que tenham o

seu lugar marcado não apenas nos anos e calendários e fruto de megaeventos, mas

que sejam a pauta do dia para as pessoas e para as agendas sistemáticas e

contínuas do poder governamental, independentemente de planos de governo

isolados.

Identificou-se também que o lugar do esporte e lazer ao longo dos tempos

foi marcado e acompanhado pela história societária e pela realidade de cada país

sob diferentes influências. Na contemporaneidade, embora ganhassem espaço no

meio acadêmico, científico e tecnológico, ainda são considerados num campo de

disputas, onde há relação de poder. Do ponto de vista cultural, social e político,

ainda tem-se muito a avançar, e não apenas concebidos por cada ser humano, mas

como uma questão intra-urbana, que possibilite cada vez mais qualificá-los, e que a

consciência crítica, participativa e democrática de todos, enfrentando questões

emblemáticas no campo de lutas, sejam abstraídos e compreendidos num nível de

importância na nossa vida, como participantes, proativos, críticos, idealizadores, com

vistas a um mundo melhor e que tenham a educação como um dos principais

balizadores para o caminhar da população e o futuro de cada cidade, da região, do

país.

Para entender o lugar do esporte e lazer na vida das pessoas, é necessário

um reconhecimento no campo lúdico, em que os espaços, tempos e oportunidades

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vão contribuir para aproximar a nossa condição de ser humano e qualificação do

lúdico, de modo que o esporte seja visto não como mera competição.

Com relação ao conceito de esporte, ele foi se alterando ao longo dos

tempos, até que se consolida ao chegar no esporte moderno. Contudo, no Brasil, em

1985, teve-se a intenção de ampliar o seu conceito, classificando-o de esporte-

educação, esporte-participação e esporte-performance, fruto das manifestações de

documentos, a exemplo da Carta Internacional de Educação Física e Esporte

(1978). Quanto ao arcabouço teórico do esporte e lazer, verificou-se que o lazer se

apresenta de forma mais detalhada e de mais fácil acesso do que o esporte.

O lazer esteve fortemente voltado para a categoria ligada à busca do prazer,

ao caráter pessoal, com funções de descanso, divertimento e desenvolvimento

pessoal e social. No tocante ao desenvolvimento social com fins moralistas, ou seja,

canalização das tensões e minimização dos problemas sociais; do ponto de vista

compensatório, tendo em vista a manutenção do status quo; como função de

descanso, pois lazer é voltado para a recuperação da força de trabalho e utilitarista,

ou seja, como instrumento de paz social e de mercadoria; e ainda com função de

entretenimento, com vistas ao consumo de atividades, bens e serviços. Por

conseguinte, algumas correntes teóricas pautaram-se na educação para o lazer; nas

discussões frente às questões ligadas ao tempo e atitude. Por outro lado, o lazer

numa abordagem teórica, voltada para o desenvolvimento da escala humana, tem

um lugar incluso na categoria de necessidade e subsistência.

O lazer ganha espaço nas discussões e numa visão crítica, buscando ser

visto para além de um caráter individual e de prazer, como também de consumo de

práticas sociais opostas ao trabalho. Ademais, o lazer vem acompanhando as

características políticas e econômicas do país. Nos anos 1985 - 1990, as práticas do

lazer sofreram mudanças, a exemplo do desenvolvimento de um mercado de lazer

de alto padrão, pouco investimento no lazer popular, estruturação de centros e

museus para o lazer urbano com recursos públicos e privados, bem como surgiram

as políticas públicas de lazer de caráter “pedagógico” e iniciativas isoladas. Um dos

fatores que contribuem para a discussão de lazer e sua relação com a qualidade de

vida foram as consequências advindas da Revolução Industrial, possibilitando que o

lazer chegasse até às camadas menos favorecidas. Por outro lado, reconhecendo-

se que o tempo por si só não garante o lazer, e ainda no contexto de uma sociedade

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capitalista, ganham espaço os valores pós-modernos, com importância atribuída ao

ócio criativo.

O esporte e o lazer como direitos sociais, apesar de explicitados em

diferentes documentos, sejam eles em nível mundial, nacional ou em outras esferas,

não fica garantido o acesso a todos, independentemente de idade, nível

socioeconômico e cultural e demais variáveis sociodemográficas. Contudo, esses

documentos buscam conduzir o entendimento do esporte e lazer numa perspectiva

de inclusão social.

O começo da intervenção do Estado no campo do esporte e lazer no Brasil

se deu no período do Estado Novo, baseada numa lógica de Estado interventor, de

característica conservadora, que se estendeu até os anos de 1970, em que se

priorizava o esporte de rendimento. No final de 1970, a sociedade civil passa a ter

um lugar na construção das políticas públicas, do ponto de vista coletivo. Entretanto,

somente durante o processo de redemocratização do país é que o esporte e lazer

tornam-se parte de reivindicações populares que resultaram do reconhecimento pela

Constituição Federal de 1988, entendendo o lazer como direito social. Sendo assim,

para a garantia do princípio da universalidade desse direito, foi necessária a

interferência estatal efetiva, através de políticas públicas setoriais. As políticas

setoriais expandiram-se nos anos 1970, eram desvinculadas entre si e não focadas

nas questões ligadas ao espaço, seja do ponto vista nacional ou local.

Em meados dos anos de 1980, como consequência de lutas pela área,

rompeu-se com a relação paradigmática da Educação Física como foco na aptidão

física. Volta-se para uma outra configuração paradigmática, ou seja, uma natureza

histórico-social e, por conseguinte, com destaque para as questões de políticas de

esporte e lazer.

A produção acadêmica acerca de políticas públicas de esporte e lazer

ganhou importância, a partir de meados da década de 1990. Só na década de 1990

o Governo Federal apresenta as políticas públicas sob forma de programas,

inclusive as do setor esportivo, as quais estão voltadas para a promoção de inclusão

social e o combate aos problemas sociais. Vários estudos comprovam que o esporte

e lazer no Brasil vêm sendo fortalecidos através de algumas ações, embora as

divergências ideológicas presentes na construção das suas políticas venham

redimensionado os seus valores culturais.

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Com base nesse estudo, viu-se que o Estado passou a intervir no esporte,

principalmente pela ideia de integração nacional, educação cívica, preservação da

saúde da população, melhoria da qualidade de vida, como opções de lazer, para o

bem-estar da população, através da promoção de saúde, por ser o esporte fator

compensador dos problemas da vida urbana, como também pela dimensão

econômica do fator esportivo. Nessa concepção, ainda o Estado deve dar prioridade

ao Esporte como lazer, uma vez que é elemento da cultura/lazer e está atrelado ao

plano das políticas culturais de lazer e integrado às outras políticas sociais.

A criação do Ministério específico para o esporte é considerada um avanço

para o esporte e lazer como políticas sociais. De acordo com as publicações do

Ministério do Esporte (2009) resultantes da I Conferência Nacional do Esporte e

Lazer (2006), as políticas públicas de esporte e lazer foram fortalecidas a partir da

sua realização, sendo considerado um marco para esse campo.

O Plano Nacional de Desenvolvimento do Esporte (2007-2010) estava

organizado nos seguintes eixos: inclusão social pelo esporte e lazer;

desenvolvimento do esporte de alto rendimento; infraestrutura (voltada para a

definição de equipamentos esportivos e de lazer nas escolas e universidades, como

também a Praça da Juventude) e o desenvolvimento institucional. Todavia, a política

de financiamento do esporte está voltada para o alto rendimento em detrimento da

compreensão do direito de acesso ao esporte e lazer por parte da sociedade

brasileira. No entanto, são de suma importância a criação e atuação dos Conselhos

do Esporte e Lazer, pois possibilitam a qualificação das políticas públicas do esporte

e lazer, com fins de avaliação e fiscalização na perspectiva de uma gestão

democrática e participativa. Do ponto de vista legal, foi a partir do Estatuto da

Cidade, promulgado em 2001, que a população brasileira passa a interferir

explicitamente nos destinos da gestão pública. Porém, no setor de esporte e lazer no

Brasil, a participação popular e o controle social nas políticas públicas ainda não

constituem essa tradição democrática.

Na década de 1970, foi explícita pela primeira vez oficialmente a

necessidade de o governo central intervir diretamente nas cidades, não só para a

questão habitacional. Desse modo, o BNH e SERFHAU foram os primeiros

instrumentos criados pós 1964, com vistas ao desenvolvimento urbano.

Somente em meados de 1973, a partir da instituição de regiões

metropolitanas, em decorrência de Lei Complementar é que se evidenciou a

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necessidade de uma política urbana mais abrangente. Contudo, o documento de

Francisconi e Souza (1976) é considerado a primeira formulação de política urbana

nacional. Esse documento baseava-se numa política de organização das cidades e

do território.

Em 1974, o segundo Plano Nacional de Desenvolvimento – PND iria instituir

a Política de Desenvolvimento Urbano, reconhecendo a intensidade dos problemas

urbanos. No entanto, as propostas apresentadas para a política urbana

encontravam-se à parte, instituindo a Comissão Nacional de Regiões Metropolitanas

e Política Urbana – CNPU como instrumento de referência.

As diretrizes da política urbana para o período de 1980 a 1985 foram

baseadas na distribuição da população nas atividades no território nacional, na

orientação do desenvolvimento urbano com vistas à melhoria da qualidade de vida e

na necessidade de articular as ações setoriais nas cidades. Dessa maneira, foi

preconizada a descentralização das ações federais. Por conseguinte, o repasse de

recursos seria considerado de grande relevância para a formulação de políticas

estaduais de desenvolvimento urbano, para o melhoramento da legislação urbana e

atenção voltada para as desigualdades intra-urbanas, para coordenação intersetorial

e participação efetiva dos estados e municípios.

Sendo assim, seriam revistas as diretrizes referentes ao espaço urbano, à

habitação, ao transporte urbano, ao abastecimento de água e saneamento

ambiental, ao meio ambiente, bem como ao patrimônio histórico e ambiental. Nesse

documento, estão presentes as orientações adotadas pela política urbana com

relação ao uso do solo e à atuação setorial do espaço urbano e no âmbito da

infraestrutura. O foco da atuação do Ministério das Cidades entre 2004-2007 estava

voltado para a habitação, transporte e mobilidade urbana, e planejamento urbano.

Contudo, não houve ênfase ao lazer no relatório desse período.

No ano de 2010, foi criado o Plano de Aceleração de Crescimento do Brasil,

com a finalidade de possibilitar a retomada do planejamento e execução de grandes

obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética, contribuindo para o

desenvolvimento acelerado e sustentável. O esporte e o lazer têm o lugar no eixo da

infraestrutura social e urbana, com as ações no setor dos equipamentos sociais. Em

relação aos investimentos realizados, o plano prevê a realização através da União,

em parceria com os governos estaduais e municipais, como também com o setor

privado.

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A melhoria da qualidade de vida é preconizada pelo Governo Federal,

destinando recursos para equipamentos sociais nas áreas de saúde, educação,

cultura, lazer e esporte. Contudo, além de recursos, são disponibilizados aos

municípios, estados e Distrito Federal o projeto-padrão com a intenção de facilitar o

acesso de forma tecnicamente otimizada. Esse plano na área de esporte e lazer

concentra as ações voltadas para as quadras esportivas escolares, CEUs – Centro

de Artes e Esportes Unificados e nos Centros de Iniciação ao Esporte – CIEs,

conforme os dados apresentados nos seus relatórios. Ao se recorrer a esses

documentos, verificou-se uma crescente mudança em relação ao número de

equipamentos nas cidades brasileiras.

De acordo com o PAC 2, instituído em 2010, o Governo Federal institui a

ação das Praças dos Esportes e Cultura, com o objetivo de integrar num mesmo

espaço programas e ações culturais, práticas esportivas e de lazer, entre outras

atividades, tendo em vista a promoção da cidadania em territórios de alta

vulnerabilidade social das cidades brasileiras. Essas praças foram desenvolvidas de

forma multidisciplinar e interministerial; sendo classificadas em três modelos, com

características próprias.

O esporte e o lazer ao longo dos tempos, de forma crescente, vêm sendo

valorizados pela justificativa atribuída, a partir de uma relação com o urbano e o

processo de urbanização e questões inerentes ao urbanismo, pelo discurso

nacionalista, pelas consequências da revolução industrial, da globalização, pela

ótica do crescimento econômico e desenvolvimento das cidades. Como

consequência do capitalismo, ocorre o desenvolvimento da política urbana e seus

instrumentos de planejamento de gestão urbanos.

O esporte e lazer ocupam um lugar importante na vida de cada cidadão e na

vida em sociedade, e vem sendo valorizado ao longo dos tempos. Todavia,

constatou-se que, no Brasil, o esporte de rendimento foi o mais evidenciado. O

Estado vem intervindo principalmente no âmbito da infraestrutura ao longo dos

tempos, e as políticas públicas de esporte e lazer começaram a ser intensificadas a

partir da década de 1990, apesar de serem marcadas por programas. Além disso,

observou-se que as políticas intersetoriais e interministeriais, principalmente

atreladas ao Ministério da Saúde, Ministério da Cultura e ao Ministério das Cidades,

em conjunto com o Ministério do Esporte, estão se expandindo nas cidades

brasileiras, a exemplo das praças com academia ao ar livre. Em relação ao esporte

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e lazer na política urbana brasileira, verificou-se que as ações voltadas para a

urbanização, à infraestrutura de uma maneira geral, são as que principalmente

dimensionam e buscam qualificá-los. Além disso, verificou-se que se faz necessária

a qualificação de recursos humanos no campo das políticas de esporte e lazer

atreladas ao desenvolvimento.

Com a pesquisa documental realizada nesse estudo, concluiu-se que o

esporte e lazer se apresentam de forma explícita em diferentes documentos,

concebidos como direitos sociais assegurados em legislação. Sendo assim, precisa

ser identificada e analisada a sua concretude, e que todos tenham consciência de

seu papel, seja como cidadão, sociedade, poder governamental e não

governamental. Além disso, constatou-se que a forma como se constituem no

aparato legal, vistos no campo dos direitos sociais, políticas sociais ou políticas

intersetoriais, foi importante, pois representam a sua valorização, contribuindo com a

discussão e avaliação de políticas para o setor, nas formas de gestão, na

consolidação de um sistema de esporte e lazer e na busca por definição de

diferentes ações efetivas, fruto de um planejamento que considere os princípios da

universalidade, integralidade, equidade, entre outros.

Em relação ao esporte e lazer tratados no Plano Diretor e Lei Orgânica ora

analisados, em suma, o esporte e lazer apresentam-se da seguinte maneira: na Lei

Orgânica, identificou-se a unidade de registro apenas do lazer como uma das

necessidades do indivíduo, e, em especial, em situações de risco pessoal e social. O

esporte, nesse documento, enquanto unidade de registro, aparece quando se trata

do assunto ligado às normas e fiscalizações dos jogos, espetáculos e divertimentos

públicos, sob a competência do poder público.

As atividades de lazer e esporte, nesse documento, também aparecem

quando se trata da questão dos bens públicos inalienáveis. A referida lei dispõe que

o município fomentará a prática desportiva em todas as suas modalidades, seja de

forma direta ou através de órgãos especificamente criados para este fim. Os

serviços municipais de esporte estarão articulados entre si e com as atividades

culturais. No orçamento municipal, serão destinados recursos para o incentivo ao

esporte, que apoiarão e incentivarão o lazer, o qual é visto como forma de promoção

social.

Na referida Lei Orgânica, o lazer está previsto com atenção através da

implementação de programas voltados à educação, à cultura e à saúde, e que seja

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garantido o acesso à população. Quanto aos espaços para o lazer, está prevista

uma ampla qualificação não só nos bairros, mas em seus Distritos e no município

como um todo. Destacam-se as ações voltadas para crianças, adolescentes e

idosos em seus artigos, mas pelo município, em conjunto com a família e a

sociedade civil. Faz ainda referência à implantação de praças esportivas para os

conjuntos habitacionais, com número igual ou superior a 500 unidades habitacionais.

Dentre os instrumentos de planejamento e gestão urbanos, tem-se o

zoneamento do uso do solo. Na política urbana do município de Campina Grande –

PB, tomando-se como base o seu Plano Diretor vigente, identificou-se o lugar do

esporte e, de forma mais explícita, o lazer nos seguintes tipos de zoneamentos:

zoneamento de prioridade e de zoneamento alternativo. Sendo assim, a unidade de

registro - lazer numa perspectiva de zoneamento encontrou-se apontada na Zona de

Qualificação Urbana e na Zona de Recuperação Urbana. Ao serem consideradas as

Zonas Especiais de Interesse Social e as Zonas Especiais de Interesse Ambiental,

constataram-se as unidades de registro, recreação e lazer. Atribuíram ao lugar do

lazer no conteúdo relacionado às formas de parcelamento, uso e ocupação do solo,

padrões de urbanização, bem como forma de proteção, recuperação e ampliação

das áreas, oferecendo, dessa forma, espaços públicos adequados e qualificados ao

lazer da população, contribuindo para o equilíbrio ambiental.

No Plano Diretor pesquisado, o lazer no cenário da função social da cidade é

entendido como direito de todos, e ao se tratar de sustentabilidade urbana e rural, o

desenvolvimento do lazer e dos esportes está previsto, tendo em vista a melhoria da

qualidade de vida das pessoas, inclusive das gerações futuras. Ademais, o lazer foi

identificado quando se tratou da atividade econômica e de serviços públicos, com a

finalidade de acompanhamento de progresso da cidade, com foco na infraestrutura,

sob a competência das diferentes esferas.

Tomando-se como base esse Plano Diretor, o lazer está explícito ao tratar

dos objetivos do Sistema de Mobilidade Urbana, na Política Municipal do Meio

Ambiente e da Política Municipal de Desenvolvimento Econômico, Científico e

Tecnológico, foi mencionada a criação de centros poliesportivos para a formação de

atletas, verificando-se, dessa forma, a ênfase ao esporte de rendimento.

O esporte, enquanto unidade de registro, apareceu de forma incipiente e

restrita, enquanto o lazer teve um lugar de maior valorização em relação à sua

explicitação do ponto de vista textual. No entanto, o esporte e lazer, ainda que de

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forma tímida, são valorizados. Estão ligados à melhoria da qualidade de vida das

pessoas. A função social da cidade corresponde ao direito de todos para o acesso

ao lazer, em conjunto com a terra urbana, a moradia, o saneamento ambiental, o

transporte, a saúde, a educação, a assistência social, o trabalho, a renda, como

também o espaço público, entre outros direitos.

Em relação à pesquisa de Campo, conclui-se que as Zonas da cidade de

Campina Grande – PB que têm maior número de espaços, serviços e equipamentos

de atividades físicas-esporte e lazer são: Zona Sul e Zona Leste. Os espaços

públicos pesquisados que tiveram maior destaque quantitativo foram os das

academias ao ar livre e encontram-se de uma maneira geral em condições

satisfatórias para o uso e de acordo com o padrão de outras cidades brasileiras. Os

espaços com características de complexos esportivos, “Complexo Plínio Lemos” e o

“Meninão” encontram-se impossibilitados de uso esportivo. A população campinense

conta, atualmente, apenas com o “Complexo Esportivo do Catolé” em

funcionamento, mas não com características de grandes centros, e o “Parque da

Liberdade” (em construção), que contribuem para a prática do esporte e lazer. O

“Parque da Criança” ainda é considerado umas das principais referências de

atividade física, esporte e lazer da cidade.

A arte de grafite vem embelezando muros e paredes de algumas praças e

parques da cidade pesquisada. As praças revitalizadas ou novos espaços são

considerados o palco para o incentivo à população para a adesão à atividade física e

ao incentivo à interação social da população.

Um elemento que está fazendo a diferença é o espaço planejado da área

para os ciclistas e corredores no “Parque da Liberdade”.

Em todos os espaços observados, não se viu a existência de local

apropriado para a prática de atividade física na companhia de animais domésticos, a

exemplo mais comum do cão, como há e já apresenta de forma planejada, e já em

uso e com experiências exitosas. As áreas, espaços de lazer apropriados com a

infraestrutura para que, de maneira prazerosa e saudável, ocorra a inclusão do

animal adequadamente, contribuindo para uma maior adesão das pessoas, melhoria

da qualidade de vida, com vistas à sustentabilidade ambiental, de forma segura e

com a garantia de direitos, e ainda possibilitando aos criadores, amantes dos

animais, terem a sua companhia nas caminhadas, passeios, trilhas, e ainda

otimizando momentos ao ar livre, na presença de uma educação ambiental

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compartilhada. Isto também seria benéfico para o animal, que teria diversão e/ou

treino, como já existe em algumas cidades, a exemplo de Fortaleza – CE.

Quanto ao “Complexo Plínio Lemos”, um fato importante merece destaque,

no sentido da necessidade de repensar a gestão compartilhada de forma mais

sistematizada entre o poder público e a comunidade, com o intuito de que o local

não seja visto como obra apenas de governo, e sejam tratados os seus pontos

positivos e negativos, seus desafios e as medidas a serem tomadas em curto e

médio prazos, por ser um espaço que poderá atender ao esporte-educação, esporte-

participação e ao esporte-rendimento. Ademais, quando da sua instalação foi

pensado como Centro de Referência para o esporte de rendimento.

Campina Grande – PB mostrou-se com um leque de possibilidades para a

prática do exercício físico gratuito. Porém, em muitos bairros, ainda não chegou a

academia ao ar livre ou Programa Academia da Saúde. No entanto, o atual esporte

apresenta-se ainda com fragilidades, como falta de locais apropriados, necessitando

de apoio, incentivo e uma gestão articulada com a política urbana, para que esta,

sendo promovida, possibilite repensar e debater como são tratados o esporte e o

lazer na escola, e em que condições se encontram os espaços públicos e privados.

Quanto aos eventos esportivos da cidade, no que é planejado e realizado, suas

potencialidades e suas principais dificuldades relativas ao esporte educacional,

esporte de lazer e esporte de rendimento na cidade; e o paradesporto, como

também devem ser discutidos os caminhos a serem tomados, que atendam aos

interesses da população e à realidade da cidade.

A consciência cidadã de cada morador, de cada usuário precisa constante e

continuadamente constar na agenda do dia. É um trabalho de educação política

numa perspectiva crítica, para que reconheçam esses espaços/serviços/

equipamentos como um bem coletivo, e que necessitam de cuidado, preservação e

de participação de todos.

Ao acompanhar o cenário nacional, os espaços públicos ainda deixam muito

a desejar quanto ao atendimento aos princípios e normas de acessibilidade, bem

como às demais normas técnicas de segurança previstas em lei, muito embora

viram-se realidades totalmente diferentes, não sendo possível, na presente

pesquisa, trazer uma explicativa coerente. Essa realidade também se amplia às

condições de ruas, calçadas e pisos, os quais também levam às considerações

sobre algumas características na compreensão de mobilidade urbana.

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O debate do esporte e lazer na cidade mostrou-se de forma clara, inter-

relacionados, associados, atrelados a uma rede de infraestrutura, aos diversos

serviços públicos, dentre outros serviços, para que sejam previstos e planejados,

amparados em legislação e concretizados; e que tenham políticas efetivas que

contribuam para o desenvolvimento da cidade e melhoria da qualidade de vida das

pessoas. Em relação ao aparato legal, constatou-se que há vasta documentação

que legitima o esporte e lazer como direitos sociais. No entanto, ela precisa ser vista

pelo poder público nas suas diferentes esferas quanto ao seu cumprimento. Pode-

se, ainda, buscar medidas/ações, aparatos legais outros que fortaleçam a questão

de financiamentos e incentivos ao esporte.

Os equipamentos públicos de atividade física, esporte e lazer não podem ser

concebidos como objeto de consumo, aplicação de recursos, execução de “pacotes”

para o esporte e lazer de forma centralizada, e para fins de interesse de uma

minoria, mas que sejam compreendidos e tenham significados para a consolidação

de políticas, que, quando necessário, haja a prática da intersetorialidade, parcerias,

convênios; tenham uma gestão compartilhada, com a participação social; que haja

controle social, em suas várias formas; que façam parte do planejamento

orçamentário, como também podendo partir de projetos submetidos a editais.

Abrindo as cortinas de um cenário, em que as atividades físicas, esportivas e

de lazer sejam conteúdos somados ao ambiente, à natureza, como possibilidades do

verde estar presente, configurando-se não como espaço/equipamento estático, mas

que contribuam para a melhoria da cidade e cotidiano das pessoas, comungando

com valores sustentáveis.

Quanto mais equipamentos sociais e quanto maiores articulações entre eles,

fortalece-se, enriquece-se e potencializa-se o bairro. Contudo, para isso, faz-se

necessária, também, a participação ativa de seus representantes, através de SABs,

Clubes de Mães, Associações, entre outros, bem como da comunidade, além da

articulação com universidades, realizações de pesquisas, entre outros.

A escola é um dos palcos muito importante nos bairros, nos distritos, na

cidade como um todo. Porém, é necessário que tenha uma gestão democrática e

participativa, que esteja aberta para a comunidade; que realmente a conheça e

possibilite parcerias diversas, e que o setor esportivo possa favorecer, estabelecer-

se e ser fortalecido com elas, e ainda ser repensado como melhor utilizar os seus

espaços esportivos e dinamizá-los. Porém, são poucas escolas públicas municipais

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que oferecem o espaço adequado, como ginásios ou quadras poliesportivas, para

acesso até mesmo aos finais de semana.

O Programa “Mexe Campina” foi a ênfase na política de esporte pela

Secretaria Municipal de Esporte, Juventude e Lazer, como também por vários

participantes da pesquisa. É, também, reconhecida a importância da parceria com a

Secretaria Municipal de Saúde para a execução do referido programa, que é ainda

implementado em sistema de polo.

Os gestores entrevistados compreendem a necessidade de melhorias para o

campo das políticas públicas de esporte e lazer em Campina Grande – PB e os

resultados encontrados traduzem que a temática planejamento, precisa ser revista.

A prática esportiva e os eventos no município estão muito focados na

modalidade corrida, em especial, a corrida de rua. Todavia, apesar de fatores

positivos, muitos entrevistados transpuseram esta ideia para uma repercussão

negativa, pois, de uma certa forma, pode de um lado desfavorecer a expansão e

melhorias para o esporte, e, por conseguinte, dificultar o acesso público do cenário

esportivo nacional, na forma de esporte de base, noutras modalidades e de forma

mais grave ao acesso aos esportes com vistas ao rendimento. Um outro problema

que pode ser demarcado foi a falta de campos de futebol na cidade, consequência,

por exemplo, da expansão habitacional ou áreas ainda não urbanizadas, política

imobiliária empresarial e a privatização dos espaços, falta de instrumentos de

planejamento urbano efetivos e eficazes, entre outros.

Foram várias justificativas dadas pelos gestores do esporte e lazer como

parte da política urbana, mas, principalmente, pela melhoria da qualidade de vida,

benefícios de diversas ordens para o ser humano.

Na visão tanto dos usuários como dos não-usuários dos espaços, serviços e

equipamentos de esporte e lazer públicos municipais, a adesão às atividades físicas,

esportivas e de lazer se dá principalmente por questões de benefícios para a saúde.

A academia ao ar livre, para eles, de uma maneira geral, favorece o acesso às

pessoas que não podem pagar. Desse modo, reconhece-se que esse pensamento é

frágil e carece de análise crítica. Ademais, há o interesse de que seja expandida

para os bairros que não possuem esse benefício e que haja orientação de um

profissional, de forma sistemática, pois a placa autoexplicativa de orientação de uso

dos equipamentos não substitui o profissional.

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Com as entrevistas aos organizadores/promotores participantes da pesquisa,

verificou-se a sua importância, o nível de consolidação e consistência nas

experiências apresentadas, embora uma ainda em fase inicial. Entretanto, uma das

maiores preocupações talvez seja no que tange às possíveis ilegalidades, o mau

uso do público, o enaltecimento do privado às custas do serviço público ou até

mesmo o aumento da exclusão social das práticas esportivas, bem como talvez levar

à precarização do esporte pelo poder público.

Para os jornalistas pesquisados, ao tratar do esporte e lazer na política

urbana, é necessário avaliar o que e como está sendo desenvolvida a área pelo

poder público, e ainda que o planejamento faça parte desse contexto. No debate

sobre esporte e lazer na cidade, os jornalistas consideram a importância do

planejamento urbano e de políticas públicas. Nessa questão, os presidentes de

SABs, com foco também na atuação do poder público e dos representantes das

SABs, além da preocupação voltada para a política de investimento. No ponto de

vista do esporte e lazer na cidade, esses representantes fizeram considerações

acerca das condições de acesso, ampliação e diversificação das atividades, ações e

projetos, serviços e equipamentos e quanto à política de apoio e incentivo ao

esporte e lazer.

Embora a segurança pública seja de competência estadual, em muitas falas

dos entrevistados foram destacados problemas com o serviço citado. Contudo,

nesse tema, foi mencionada a necessidade de fortalecimento e a criação de

condições para expansão da guarda municipal nos setores.

Quanto à avaliação do esporte e lazer na política urbana, os profissionais de

Educação Física, em linhas gerais, tratam que devem ser repensados o político e a

política, que se apresentam na política urbana, a partir do Programa “Mexe

Campina”. Há necessidade de avaliar a política de gestão do esporte e lazer. Além

disso, devem ser definidas e tratadas como políticas públicas e serem consideradas

num contexto de importância. Ademais, esses profissionais também percebem o

esporte e lazer em Campina Grande principalmente na dimensão de organização e

atuação do poder público nas diferentes ações no campo da atividade física, esporte

e lazer.

Verificou-se, através da realização dos diferentes procedimentos de coleta

de dados, como também por meio de variados grupos de participantes durante a

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pesquisa de campo, mesmo em maneiras divergentes de se expressar, foi possível

reforçar o que foi constatado nas observações realizadas.

Mediante o exposto, identificaram-se os seguintes avanços no campo do

esporte lazer: o interesse em conhecer-se e dar maior atenção à saúde e melhores

cuidados com o corpo são vistos de forma mais esclarecida; existência expressiva

da legislação, que assegura os direitos da sociedade ao esporte e lazer; Plano

Nacional de Práticas Corporais e Atividade Física visando às políticas públicas

municipais e Planos Interministeriais e do governo com ONGs, entidades científicas,

setor privado, o Sistema “S”, entre outros com vistas à difusão do tema;

reorganização dos espaços urbanos, implementação de projetos; ampliação do

acesso à informação; maior consciência e conhecimento dos valores do esporte e

lazer; ampliação de interesses em pesquisa na área e presença do esporte e lazer

no cenário das políticas urbanas para o fortalecimento das funções sociais da

cidade.

Por outro lado, revelaram-se alguns desafios a serem enfrentados, tais

como: discussão sobre Política de Estado versus Política de governo; desconstrução

da ideia de que a política de esporte e lazer seja baseada apenas numa lista de

eventos; ênfase atribuída ao esporte de rendimento; análise criteriosa quanto aos

megaeventos; ampliação e qualificação da infraestrutura do esporte e lazer no país,

bem como analisar os seus grandes gargalos contemporâneos; maior participação

social e fragilidades no controle social; políticas consistentes que aliem o esporte ao

direito, educação, lazer, cidadania, inclusão e qualidade de vida; intensificação da

acessibilidade; com a realidade financeira da maioria dos estados e municípios, as

políticas públicas passam a ser atreladas ao financiamento da esfera federal; os

instrumentos de planejamento e gestão do urbano não sejam meros documentos

tecnoburocráticos.

Diante desse contexto, e com base na proposta apresentada em relação ao

esporte e lazer nas políticas urbanas brasileiras, a realidade de Campina Grande –

PB, ora objeto de recorte da pesquisa, com os resultados obtidos, conclui-se que o

esporte e lazer vêm sendo fortalecidos ao longo do tempo. Porém, no Brasil,

precisam de maior valorização. Merecem ocupar um lugar de grande envergadura

na política urbana, porquanto contribuem para a melhoria da qualidade de vida dos

cidadãos e para a vida em sociedade. Necessitam de ser repensados, a partir de um

planejamento urbano efetivo, com definição de políticas públicas em que o poder

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público exerça o seu papel, com maior participação social e controle social, e

visando à democratização do acesso ao esporte e lazer. Sendo assim, apresentam-

se algumas proposições para a adoção de políticas urbanas que possibilitem o

acesso ao esporte e lazer. Não se tem a intenção de trazer em ordem de prioridade

e também não se sabe em que medida passos já foram dados nesse caminho.

Desse modo, tais sugestões estão agrupadas em três dimensões, ou seja, política,

de gestão e técnica, muito embora se reconheça que estão inter-relacionadas,

traduzidas nos princípios de uma gestão democrática e participativa, bem como sob

a égide da equidade, da justiça socioespacial, isto é, minimização da desigualdade

social e da segregação urbana. Nesse cenário, propõem-se:

Dimensão política

Discutir e traçar uma política articulada entre as Secretarias de Esporte, de

Educação, de Saúde, de Cultura, entre outras, para que se fortaleça o uso dos

espaços esportivos (quadras, ginásios) das escolas aos finais de semana;

Haver no Plano Diretor de cada município um item para discorrer sobre a política

municipal de esporte e lazer, de modo que esta não seja disposta apenas como

unidades de registro em alguns locais no texto;

Pensar a cidade e seus problemas para além dos planejamentos estratégicos,

de caráter emergencial, que diagnosticam para selecionar / priorizar as ações;

Promover discussões para rever as dimensões do esporte ora vigentes, visando

a ampliar o espaço escolar não somente com uma valorização no esporte

educacional;

Discutir as políticas de esporte e lazer existentes em diferentes instâncias;

Ampliar espaços de debate democrático para a organização da gestão e

desenvolvimento do esporte e lazer nas diferentes instâncias, com definição de

competências;

Possibilitar uma reflexão-ação-reflexão no entendimento de que a política não

esteja atrelada e parta da ação governamental apenas, mas que, com a

participação política, fruto de ações coletivas, avance-se no campo das políticas

de esporte e lazer;

Incentivar a atuação do cidadão nos espaços decisórios e na reflexão/discussão

de ações participativas na esfera do governo e do Estado, bem como o incentivo

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e apoio à reabertura de canais de participação da população, e exemplo de

SABs, Clubes de Mães, Associações, entre outros;

Analisar criticamente a gestão do esporte e lazer no Brasil, de modo a romper

com o caráter assistencialista, utilitarista e descomprometido social e

politicamente;

Implementar políticas urbanas municipais, como também aquelas com convênios

e parcerias com a esfera nacional, estadual, com autarquias ou com o setor

privado que contribuam para o acesso do esporte e lazer à população.

Dimensão de gestão

Elaborar e divulgar o calendário esportivo ações e eventos nesse campo, com a

participação social, representantes de diversas entidades ligados à área e à

gestão pública;

Incentivar a atuação do Conselho do Esporte;

Criar mecanismos de fiscalização e avaliação dos conselhos, para que cada

conselheiro acompanhe e seja acompanhado por seus pares;

Possibilitar a formação / capacitação dos conselheiros com o intuito de combater

os entraves causados pela tecnoburocratização, ou seja, de forma que deixem

de ser meros instrumentos técnicos para a gestão, como também contribuir para

a qualificação do debate, e ainda pela busca de mudança cultural;

Estabelecer regras claras para uso do espaço público com os brinquedos e

parques privados;

Criar instrumentos de planejamento e gestão do urbano que traduzam as

definições que favoreçam o acesso da população ao esporte e ao paradesporto;

Implementar instrumentos para avaliar a existência de políticas de esporte e

lazer efetivas nas diferentes esferas, como também as razões da sua

descontinuidade;

Ampliar as chamadas públicas voltadas para as políticas de esporte e lazer, nas

diferentes esferas governamentais;

Criar condições para a realização de atividades físicas, esportivas e de lazer em

companhia com o cão, de forma e ambientes adequados e com medidas

sustentáveis;

Elaborar projetos/programas e implementá-los no campo da atividade física,

esporte e lazer que articulem a zona urbana e a vida rural;

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Incentivar pesquisas na área e estabelecer parcerias com as universidades e

demais instituições de ensino superior;

Fortalecer grupos de pesquisa na área de políticas de esporte e lazer, como

também sua relação com o desenvolvimento urbano e regional;

Ampliar as pesquisas para avaliar quem perde e quem ganha com a realização

dos megaeventos esportivos e identificar alternativas para minimizar os

problemas e traçar novas ações sustentáveis;

Criar espaços em nível estadual e regional para a socialização das políticas

públicas de esporte e lazer implementadas pelos estados, municípios e Distrito

Federal;

Reconhecer e ampliar os atores/agentes para elaboração, implantação e

implementação de políticas de esporte e lazer;

Descentralizar os recursos para o esporte e lazer;

Avaliar as diferentes etapas de discussão do Orçamento Participativo;

Avaliar ações, programas intersetoriais no tocante ao lugar do esporte e lazer e

os valores a eles atribuídos;

Estabelecer parcerias público-privadas, com objetivos e competências

claramente definidos;

Desenvolver planos, programas e projetos que qualifiquem o potencial educativo

do esporte e lazer, bem como a dimensão lúdica e sua ampla abrangência;

Criar mecanismos de efetivação da gestão compartilhada do esporte, com vistas

à autogestão do esporte e lazer em médio prazo dos bairros a serem

planejados.

Dimensão Técnica

Criar um mapeamento geográfico com uso de recursos tecnológicos dos

espaços e equipamentos de esporte e lazer na cidade;

Elaborar um diagnóstico situacional sobre esses espaços e equipamentos;

Construir em meio impresso e de formato digital a apresentação das políticas

públicas de esporte e lazer definidas para a cidade com intuito de divulgar à

população;

Colocar placas identificadoras e layout para os espaços, serviços e

equipamentos de atividade física, esporte e lazer de iniciativa municipal;

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Divulgar os Conselhos de Esporte e Lazer amplamente, inclusive por meio

eletrônico, com a normatização de sua criação, caráter (consultivo, deliberativo,

normativo, propositivo, fiscalizador, controlador, orientador, gestor e formulador

de políticas públicas de esporte e lazer) e seu regimento;

Promover ações diversas e sistemáticas nos bairros para avaliar e levantar os

interesses e prioridades para a área;

Mapear os campos de futebol já utilizados na cidade e aqueles cujo uso poderá

ser otimizado, além de sistematizar o apoio público para manutenção;

Fazer levantamento de atletas e paratletas da cidade para efetivação da política

de apoio e incentivo aos atletas em articulação com a política de

desenvolvimento urbano;

Diagnosticar quais esportes e paradesportos podem ser potencializados na

cidade;

Elaborar balanços contábeis financeiros da área separadamente, ou seja, fontes

de recursos e despesas para atividade física, esporte e lazer com fins de obras,

reformas, manutenção, recursos humanos, material de custeio e despesas

outras divididas por pastas, a saber: Secretaria de Saúde, Secretaria de

Educação, Secretaria de Esporte, Secretaria de Obras, Secretaria de

Planejamento, entre outras;

Por fim, entende-se que a política urbana e sua relação com o esporte e

lazer contribuam para a consolidação das funções sociais da cidade, favorecendo o

direito à cidade na busca de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária.

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410

APÊNDICE

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411

APÊNDICE A - FICHA DE OBSERVAÇÃO

Dados Gerais:

1- Bairro de localização:

2- Tipo de espaço / tipologia das edificações:

3- Serviços e espaços destinados e usos:

4- Tipos de Equipamentos e suas condições:

5- Quem os utiliza?

Questões de acessibilidade:

6- Sinalização (visual, sonora, vertical e tátil):

7- Rampa (inclinação, corrimão e patamar):

8- Banheiros, banheiros adaptados:

9- Mobilidade de cadeirantes:

10- Condições de calçadas e piso:

11- Condições de estacionamento (vagas e recursos garantidos)

Questões ligadas à rede de infraestrutura:

12- Esgoto

13- Água

14- Iluminação

15- Transporte

16- Lixo

17- Área verde

18- Aparatos outros

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ANEXOS

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413

ANEXO A - Escolas públicas estaduais existentes em 31.12 e com instalações esportivas,

por tipo de instalações esportivas, segundo a Região Nordeste e suas Unidades da Federação - 2003

Região Nordeste e suas Unidades da Federação

Escolas públicas estaduais existentes em 31.12

Total

Instalações esportivas

Total com instalações esportivas

Com instalações esportivas, por tipo de instalações esportivas

Sem instalações esportivas

Total

Somente piscina

Somente quadra coberta

Somente quadra

não-coberta

Somente piscina e quadra coberta

Somente piscina e quadra

não-coberta

Somente quadra coberta e

quadra não-coberta

Piscina, quadra coberta e

quadra não-coberta

Nordeste 8 968 2 832 19 491 2 212 7 14 81 8 6 136

Maranhão 1 078 318 1 36 266 - 2 13 - 760

Piauí 946 246 4 17 219 - - 5 1 700

Ceará 782 433 3 150 253 1 5 19 2 349

Rio Grande do Norte 919 173 8 52 105 1 1 6 - 746

Paraíba 1 266 310 1 125 168 1 3 12 - 956

Pernambuco 1 093 449 1 29 410 1 1 5 2 644

Alagoas 365 62 - 13 43 - 1 5 - 303

Sergipe 403 124 1 37 81 2 - 3 - 279

Bahia 2 116 717 - 32 667 1 1 13 3 1 399

Fontes: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Esporte 2003 - Governo do Estado; Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

Anísio Teixeira - INEP.

Nota: Exclusive instalações esportivas em construção.

Tabela adaptada.

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414

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Esporte 2003 - Governo do Estado. Nota: Inclusive os equipamentos esportivos localizados em complexos esportivos e exclusive os ginásios localizados em universidades/faculdades públicas estaduais e os equipamentos esportivos em construção. Tabela adaptada. (1) Nas Unidades da Federação que não possuíam regiões metropolitanas foram considerados os equipamentos esportivos existentes nas respectivas capitais. Por sua vez, quando uma unidade da federação possuía mais de uma região metropolitana, os equipamentos esportivos foram considerados somente na região metropolitana onde se localizava a capital.

ANEXO B - Número de equipamentos esportivos existentes em 31.12, por tipo de equipamento e localização,

segundo a Região Nordeste e suas Unidades da Federação – 2003

Região Nordeste e suas Unidades da

Federação

Número de equipamentos esportivos existentes em 31.12

Tipo de equipamento e localização

Ginásio Estádio de futebol Complexo aquático Complexo esportivo Autódromo Kartódromo

Total Região

metropolitana (1)

Demais municípios

Total Região

metropolitana (1)

Demais municípios

Total Região

metropolitana (1)

Demais municípios

Total Região

metropolitana (1)

Demais municípios

Total Região

metropolitana (1)

Demais municípios

Total Região

metropolitana (1)

Demais municípios

Nordeste 34 18 16 15 8 7 3 3 - 16 13 3 1 1 - 1 1 -

Maranhão 4 4 - 1 1 - 1 1 - 2 2 - - - - 1 1 -

Piauí 2 2 - 2 1 1 - - - - - - - - - - - -

Ceará - - - 1 1 - - - - 4 4 - 1 1 - - - -

Rio Grande do Norte 4 4 - - - - - - - 1 1 - - - - - - -

Paraíba 5 4 1 2 1 1 1 1 - 3 2 1 - - - - - -

Pernambuco 2 1 1 - - - - - - 4 2 2 - - - - - -

Alagoas - - - 1 1 - - - - - - - - - - - - -

Sergipe 2 2 - 6 1 5 1 1 - 1 1 - - - - - - -

Bahia 15 1 14 2 2 - - - - 1 1 - - - - - - -

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ANEXO C - Número de equipamentos esportivos existentes em 31.12, por tipo de equipamento e

condição de funcionamento, segundo a Região Nordeste e suas Unidades da Federação - 2003

Região Nordeste e suas Unidades da Federação

Número de equipamentos esportivos existentes em 31.12

Tipo de equipamento e condição de funcionamento

Ginásio Estádio de futebol Complexo aquático Complexo esportivo Autódromo Kartódromo

Em

funcio

na

mento

(1)

Obra

s

conclu

ídas

e n

ão-

inaugura

das

Para

lisados

(2)

Em

funcio

na

mento

(1)

Obra

s

conclu

ídas

e n

ão-

inaugura

das

Para

lisados

(2)

Em

funcio

na

mento

(1)

Obra

s

conclu

ídas

e n

ão-

inaugura

das

Para

lisados

(2)

Em

funcio

na

mento

(1)

Obra

s

conclu

ídas

e n

ão-

inaugura

das

Para

lisados

(2)

Em

funcio

na

mento

(1)

Obra

s

conclu

ídas

e n

ão-

inaugura

das

Para

lisados

(2)

Em

funcio

na

mento

(1)

Obra

s

conclu

ídas

e n

ão-

inaugura

das

Para

lisados

(2)

Nordeste 32 - 2 12 - 3 3 - - 16 - - 1 1 - 1 - -

Maranhão 4 - - 1 - - 1 - - 2 - - - - - 1 - -

Piauí 2 - - 2 - - - - - - - - - - - - - -

Ceará - - - 1 - - - - - 4 - - 1 - - - - -

Rio Grande do Norte 3 - 1 - - - - - - 1 - - - - - - - -

Paraíba 5 - - 2 - - 1 - - 3 - - - - - - - -

Pernambuco 2 - - - - - - - - 4 - - - - - - - -

Alagoas - - - 1 - - - - - - - - - - - - - -

Sergipe 2 - - 3 - 3 1 - - 1 - - - - - - - -

Bahia 14 - 1 2 - - - - - 1 - - - - - - - -

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Esporte 2003 - Governo do Estado. Nota: Inclusive os equipamentos esportivos localizados em complexos esportivos e exclusive os ginásios localizados em universidades/faculdades públicas estaduais e os equipamentos esportivos em construção. Tabela adaptada. (1) Em funcionamento pleno ou parcial. (2) Paralisados por ampliação ou reforma ou por outros motivos.

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ANEXO D - Número de instalações esportivas existentes e em construção em 31.12, por tipo de instalação

esportiva, segundo Região Nordeste e suas Unidades da Federação - 2003

Região Nordeste e suas Unidades da Federação

Número de instalações esportivas existentes e em construção em 31.12

Tipo de instalação esportiva

Quadra (1) Campo de futebol Piscina Recreativa Piscinas semi-

olímpica e olímpica Pista de atletismo (2) Quadra de tênis

Existente Em construção Existente Em construção Existente Em

construção Existente

Em construção

Existente Em

construção Existente

Em construção

Nordeste 61 11 36 2 5 2 10 7 15 2 4 -

Maranhão - - 2 - - - 1 - 1 - 2 -

Piauí 3 - 2 - - 2 1 4 1 - - -

Ceará 12 5 9 2 - - - 3 4 2 - -

Rio Grande do Norte 2 - 1 - - - 1 - 1 - - -

Paraíba 5 - 1 - - - 3 - 1 - - -

Pernambuco 18 - 8 - - - 2 - 2 - 2 -

Alagoas - - - - - - - - 1 - - -

Sergipe 21 6 2 - 1 - 1 - - - - -

Bahia - - 11 - 4 - 1 - 4 - - -

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Esporte 2003 - Governo do Estado. Notas: 1. Instalações esportivas que apresentaram maior frequência. 2. Exclusive as quadras e piscinas localizadas nas escolas públicas estaduais, as instalações esportivas localizadas nas universidades/faculdades públicas estaduais, as quadras localizadas nos ginásios e os campos localizados nos estádios de futebol. 3 Tabela adaptada. (1) Quadras cobertas e não-cobertas. (2) Inclusive as localizadas nos estádios de futebol.

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417

ANEXO E - Número de instalações esportivas existentes em 31.12, por tipo e características das instalações,

segundo Região Nordeste e suas Unidades da Federação - 2003

Região Nordeste e suas Unidades da

Federação

Número de instalações esportivas existentes em 31.12

Tipo e características das instalações

Coberta Não-coberta

Quadra Pista de atletismo Piscina (1) Quadra Campo de futebol Pista de atletismo Piscina (1)

Iluminada Não-

iluminada Iluminada

Não-iluminada

Iluminada Não-

iluminada Aquecida Iluminada

Não-iluminada

Iluminada Não-

iluminada Iluminada

Não-iluminada

Iluminada Não-

iluminada Aquecida

Nordeste 21 - - - - - - 23 17 30 21 10 5 10 5 -

Maranhão - - - - - - - - - 2 1 1 - 1 - -

Piauí - - - - - - - 3 - 4 - 1 - 1 - -

Ceará 4 - - - - - - 4 4 6 4 4 - - - -

Rio Grande do Norte - - - - - - - - 2 - 1 1 - 1 - -

Paraíba 5 - - - - - - - - 3 - - 1 3 - -

Pernambuco 1 - - - - - - 11 6 4 4 1 1 2 - -

Alagoas - - - - - - - - - 1 - 1 - - - -

Sergipe 11 - - - - - - 5 5 8 - - - 1 1 -

Bahia - - - - - - - - - 2 11 1 3 1 4 -

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Esporte 2003 - Governo do Estado. Nota: Inclusive as instalações esportivas localizadas em complexos esportivos, os campos de futebol e pistas de atletismo localizados em estádios de futebol e as piscinas localizadas em complexos aquáticos; e exclusive as quadras e piscinas localizadas em escolas públicas estaduais, as instalações esportivas localizadas nas universidades/faculdades públicas estaduais, as quadras localizadas em ginásios, e as instalações esportivas em construção. Tabela adaptada. (1) Piscinas recreativas, semiolímpicas e olímpicas.

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ANEXO F - Número de quadras e campos de futebol localizados isoladamente existentes

em 31.12, por tipo de infraestrutura de funcionamento, segundo a

Região Nordeste e suas Unidades da Federação - 2003

Região Nordeste e suas Unidades da

Federação

Número de quadras e campos de futebol localizados isoladamente existentes em 31.12

Tipo de infraestrutura de funcionamento

Quadra (1) Campo de futebol

Arquibancada Vestiário/banheiro Arquibancada Vestiário/banheiro

Possuem Não-possuem Possuem Não-possuem Possuem Não-possuem Possuem Não-possuem

Nordeste 18 43 16 45 10 26 6 30

Maranhão - - - - 1 1 1 1

Piauí - 3 - 3 2 - 2 -

Ceará 4 8 4 8 1 8 3 6

Rio Grande do Norte - 2 - 2 - 1 - 1

Paraíba - 5 - 5 - 1 - 1

Pernambuco 3 15 1 17 2 6 - 8

Alagoas - - - - - - - -

Sergipe 11 10 11 10 - 2 - 2

Bahia - - - - 4 7 - 11

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Esporte 2003 - Governo do Estado. Nota: Exclusive as quadras localizadas em escolas públicas estaduais e ginásios, as quadras e campos de futebol localizados nas universidades/faculdades públicas estaduais, os campos de futebol localizados em estádios, e as quadras e campos de futebol em construção. Tabela adaptada. (1) Quadras cobertas e não-cobertas.