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SÁBADO 16 DE MAIO DE 2015 34 x REPORTAGEM SÁBADO 16 DE MAIO DE 2015 REPORTAGEM x 35 PAULO QUENTAL n “As pessoas nem calculam o que isto é. A columbofilia é um despor- to de família e ainda há pouco tem- po só o futebol mobilizava mais pes- soas em Portugal.” Almerindo Mota não faz por menos quando descreve o fenómeno da columbofilia no nos- so país, cuja federação irá organizar as duas provas anunciadas como as maiores jamais realizadas no espaço europeu. “Diria mesmo que será a maior solta do Mundo de uma pro- va de longa distância”, prossegue o coordenador desportivo da Federa- ção Portuguesa de Columbofilia (FPC), sobre as duas corridas de fundo que terão largada de Valên- cia, em Espanha, no dia 23 deste mês e a 20 de junho. Em competição irão estar entre 65 mil a 70 mil pombos-correio em cada um dos eventos, em represen- tação do universo de columbófilos portugueses (10.000). Os “atletas” irão percorrer uma distância entre 600 km e 800 km, numa maratona aérea que se estima de 10 a 12 ho- ras de voo. Almerindo Mota, que é também columbófilo, com 250 pombos, vai enviar para Valência 20 dos seus “maratonistas”. E recorre ao ciclismo para descrever as emo- ções das provas de columbofilia, também porque os pombos têm um chip que, tal como os ciclistas, assi- nala a passagem pela meta. “Numa corrida de ciclistas sabemos quem vai em fuga, onde está o pelotão e quem ficou para trás. Aqui não sa- bemos onde eles andam e temos apenas a esperança de os ver regres- sar. E quando isso acontece é como ver um filho que volta a casa. É uma grande festa.” Os organizadores estimam que cerca de 90 por cento dos pombos irão regressar aos seus pombais, pelo menos é essa a média num dia com boas condições atmosféricas. Pelo ca- minho irão ficar os que forem apa- nhados por aves de rapina (um dos maiores perigos no espaço aéreo es- panhol), os que embaterem em ca- bos de eletricidade ou que adoece- rem porque beberam água imprópria num momento de descanso, e até aqueles que forem abatidos pelo Ho- mem, pois, apesar de ser uma espé- cie protegida por Lei, ainda assim continua a ser alvo de caçadores. 15 camiões TIR. Uma organização deste tipo envolve uma logística ím- par. As dezenas de milhares de pom- bos serão recolhidas 48 horas antes das provas, em três zonas previamen- te definidas para servir as 14 associa- ções distritais, sendo depois trans- portados para Valência, em 15 ca- miões TIR especialmente preparados para a viagem e largada dos atletas alados. A FPC garante todo o apoio e até tem um meteorologista a tem- PUBLICIDADE Percursosentre600 e800quilómetros deverãosercumpridos em 10-12 horas Federação Portuguesa de Columbofilia promove duas provas de fundo que levarão cerca de 70.000 pombos-correio a voarno espaço aéreo ibérico n A cidade húngara de Budapeste foi o palco, em janeiro deste ano, das últimas Olimpíadas de colum- bofilia, evento que voltou a colo- car Portugal no topo da hierarquia mundial. Tiago Lopes, da equipa “Os Setas”, da Associação de Lis- boa, sagrou-se campeão olímpico na categoria de sport-yearlings (pombos jovens) e Martinho Sarai- va, da formação Joaquim Saraiva & Filhos, do Porto, alcançou o tí- tulo de vice-campeão olímpico na classe de velocidade. A presença nacional na maior competição internacional desta mo- dalidade remonta aos seus primór- dios, tendo decorrido em Lisboa a 6.ª edição da prova, em 1959. O Porto já recebeu por duas vezes o evento – 1985 e 2005 – e foram vá- rias as medalhas de ouro e prata conquistadas por columbófilos por- tugueses, cujos feitos mais recentes foram alcançados em Verona (1991), Las Palmas (1993), Utrecht (1995), Basileia (1997), Cidade do Cabo (2001) e Lièvin (2003). Líderes. A Bélgica é considerada a grande potência mundial da moda- lidade, seguindo-se a nível europeu Holanda, Alemanha, Polónia e Por- tugal. De resto, o nosso país pode gabar-se de ocupar dois lugares des- tacados na cúpula da Federação Co- lumbófila Internacional (FCI), onde estão filiados mais de 60 países: Jo- sé Tereso foi reconduzido em janei- ro último como presidente, pelo sex- to mandato consecutivo; e José Luís Jacinto, atual líder da FPC, foi elei- to vice-presidente. n PORTUGAL É CONSIDERADO UMA POTÊNCIA MUNDIAL DA MODALIDADE Ouro e prata deram brilho olímpico Dois portugueses integram órgãos de cúpula da federação internacional A columbofilia como desporto começou na Bélgica em 1820. O pombo-correio, ave de porte belíssimo, é consi- derada a ave doméstica mais saudável do Mundo. O seu fan- tástico sentido de orientação ain- da não foi descodificado pelo Homem, apesar dos elevados re- cursos humanos e financeiros aplicados nesta pesquisa. É do- tado de uma grande rapidez de voo, endurance e resistência à fa- diga, devido ao equilíbrio harmo- nioso de toda a musculatura, plu- magem suave e sedosa, caracte- rísticas que minimizam a resistên- cia ao vento durante o seu voo. Estes fatores todos conjugados permitem-lhe perfazer centenas de km a velocidades médias de 90 (ou mais) km/hora. A columbofilia é a arte de criar e treinar os pombos-correio para a competição desportiva. O apu- rado instinto e o sentido de orientação que estas aves têm em voltar ao local onde nasce- ram e foram treinadas propiciam um leque muito diversificado de competições. Esta é uma moda- lidade com características so- ciais que pode contribuir para um melhor bem-estar psicosso- cial da população, com especial incidência na juventude e nos idosos, permitindo a ocupação de tempos livres, o contacto com a Natureza, o combate à solidão e a contribuição para uma sociedade melhor. Esta é uma oportunidade úni- ca para os columbófilos mostra- rem a força da modalidade, bem como a nossa capacidade de mobilização e de organização. Só os grandes desafios originam grandes campeões que ficam inelutavelmente ligados à história da columbofilia. Com o apoio e a participação de todos, podere- mos atingir o objetivo: efetuar a maior solta de pombos-correio da Europa numa prova de fundo. Arte de criar e treinar Almerindo Mota COORDENADOR DA ÁREA DESPORTIVA DA FPC ANTIGO FUTEBOLISTA JOSÉTORRES FOI CRIADOR E DIRIGENTE Um embaixadorde peso OURO. Tiago Lopes foi campeão em Budapeste ESPETÁCULO. Momento de uma solta (largada) José Torres no seupombal n José Torres é provavelmente o nome mais mediático que esteve li- gado à columbofilia. O antigo inter- nacional do Benfica, que ainda jogou no V. Setúbal e Estoril, antes de abra- çar a carreira de treinador que o le- vou a orientar a Seleção Nacional, teve na columbofilia a sua grande paixão. Desportista amador desta ati- vidade, Torres foi dirigente do Gru- po Columbófilo da Amadora, da As- sociação de Lisboa e da Federação Portuguesa de Columbofilia, assu- mindo funções de vice-presidente do congresso. Nomeado sócio honorá- rio da FPC, o “Bom Gigante” rece- beu ainda a medalha por serviços re- levantes prestados à columbofilia. José Torres faleceu em setembro de 2010, com 71 anos, após prolongada doença, e o seu nome perdurou na modalidade, batizando durante vários anos um dos torneios promovidos pela Associação de Lisboa. No meio futebolístico, Torres não foi o único a apaixonar-se pela columbofilia. Cha- lana e José Peseiro são também aficio- nados desta atividade. n NÚMEROS 4.500.000 O universo de pombos em territó- rio nacional, que torna o nosso país numa das potências da modalidade a nível europeu e até mundial 20.00 0 Os quiló- metros que um pombo- correio de competição pode fazer durante uma época, entre janeiro e setembro 10.00 0 Os associa- dos filiados na Federa- ção Portuguesa de Columbofilia, inscritos em 400 clubes, por sua vez divididos em 14 associações distri- tais 40 0 O número de provas organizadas anual- mente pelas associa- ções distritais num calendário apro- vado pela FPC po inteiro que todas as semanas in- forma os associados do estado do tempo, orientação e velocidade dos ventos, etc. “A columbofilia é como a agricultura. Basta vir um dia mau para se estragar tudo”, adianta o coordenador desportivo da FPC, jus- tificando: “Num dia com mau tem- po pode-se perder 60 a 70 por cen- to dos pombos.” Alta competição. “Hoje podemos dizer que um pombo-correio é qua- se um atleta de alta competição”, acrescenta Almerindo Mota, referin- do que há dois anos na Bélgica foi vendido um exemplar para a China por 320 mil euros. Os treinos são diários, quer seja em corridas à vol- ta dos pombais ou em trajetos em li- nha reta de distâncias de várias de- Federação fundada há 70 anos Fundada em 1945, a Federação Portuguesa de Columbofilia (FPC) é membro do Comité Olímpico de Portugal e possui Estatuto de Utilidade Pública desde setembro de 1994. Atualmente presidida por José Luís Jacinto, o orga- nismo congrega cerca de 10 mil associados, um número que já foi quase o do- bro, mas que também sofreu os efeitos da crise, bem como a re- formulação da legislação que obriga hoje a exigentes pres- supostos para a atribuição de licenças para a ativi- dade. Com tradição na modalidade – Lisboa organizou a 6.ª edição das Olimpíadas em 1959 –, Portugal tem sido o palco tradicional do Campeonato da Europa, mais uma vez agendado para Mira, em setembro. zenas de quilómetros. “Veja que até se fazem banhos de imersão para os pombos, como acontece com os atle- tas”, adianta entre sorrisos. “A Bélgica é uma potência mun- dial e tem cerca de quatro mil profis- sionais que vivem da columbofilia. Mas este fenómeno estende-se pelo Mundo... Tailândia, China, Japão, México, Brasil”, prossegue o nosso interlocutor, sublinhando as elevadas somas proporcionadas pelas corridas com apostas na Ásia e até o facto de o exército chinês estar a recolher pombos para ludibriar no futuro so- fisticados sistemas de vigilância. Em Portugal, o impacto financei- ro também é assinalável, se bem que ainda não tenha sido feito um estu- do concreto, mas Almerindo Mota revela, por exemplo, que já lhe ofe- receram 20 mil euros por um pom- bo campeão. “Afeiçoei-me a ele e já era da família. Não o quis vender e acabei por o perder numa prova em Espanha. Nunca mais o vi.” n PORMENOR A dobrar. A cidade espanhola de Valência será o ponto de partida para as corridas que se realizam no próximo sábado e a 20 de junho MUNDO COLUMBÓFILO DR RECORD PUBLICIDADE

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SÁBADO16 DE MAIO DE 201534 �REPORTAGEM SÁBADO

16 DE MAIO DE 2015 REPORTAGEM � 35

PAULO QUENTAL

� “As pessoas nem calculam o queisto é. A columbofilia é um despor-to de família e ainda há pouco tem-po só o futebol mobilizava mais pes-soas em Portugal.” Almerindo Motanão faz por menos quando descreveo fenómeno da columbofilia no nos-so país, cuja federação irá organizaras duas provas anunciadas como asmaiores jamais realizadas no espaçoeuropeu. “Diria mesmo que será amaior solta do Mundo de uma pro-va de longa distância”, prossegue ocoordenador desportivo da Federa-ção Portuguesa de Columbofilia(FPC), sobre as duas corridas defundo que terão largada de Valên-cia, em Espanha, no dia 23 destemês e a 20 de junho.

Em competição irão estar entre65 mil a 70 mil pombos-correio emcada um dos eventos, em represen-tação do universo de columbófilosportugueses (10.000). Os “atletas”irão percorrer uma distância entre

600 km e 800 km, numa maratonaaérea que se estima de 10 a 12 ho-ras de voo. Almerindo Mota, que étambém columbófilo, com 250pombos, vai enviar para Valência 20dos seus “maratonistas”. E recorreao ciclismo para descrever as emo-ções das provas de columbofilia,também porque os pombos têm umchip que, tal como os ciclistas, assi-nala a passagem pela meta. “Numacorrida de ciclistas sabemos quemvai em fuga, onde está o pelotão equem ficou para trás. Aqui não sa-bemos onde eles andam e temosapenas a esperança de os ver regres-sar. E quando isso acontece é comover um filho que volta a casa. É umagrande festa.”

Os organizadores estimam quecerca de 90 por cento dos pombosirão regressar aos seus pombais, pelo

menos é essa a média num dia comboas condições atmosféricas. Pelo ca-minho irão ficar os que forem apa-nhados por aves de rapina (um dosmaiores perigos no espaço aéreo es-panhol), os que embaterem em ca-bos de eletricidade ou que adoece-rem porque beberam água impróprianum momento de descanso, e atéaqueles que forem abatidos pelo Ho-mem, pois, apesar de ser uma espé-cie protegida por Lei, ainda assimcontinua a ser alvo de caçadores.

15 camiõesTIR.Uma organizaçãodeste tipo envolve uma logística ím-par. As dezenas de milhares de pom-bos serão recolhidas 48 horas antesdas provas, em três zonas previamen-te definidas para servir as 14 associa-ções distritais, sendo depois trans-portados para Valência, em 15 ca-miões TIRespecialmente preparadospara a viagem e largada dos atletasalados. A FPC garante todo o apoioe até tem um meteorologista a tem-

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Percursosentre600e800quilómetros

deverãosercumpridosem10-12horas

FederaçãoPortuguesadeColumbofiliapromoveduasprovasdefundoquelevarãocercade70.000pombos-correioavoarnoespaçoaéreoibérico

�A cidade húngara de Budapestefoi o palco, em janeiro deste ano,das últimas Olimpíadas de colum-bofilia, evento que voltou a colo-car Portugal no topo da hierarquiamundial. Tiago Lopes, da equipa“Os Setas”, da Associação de Lis-boa, sagrou-se campeão olímpicona categoria de sport-yearlings(pombos jovens) e Martinho Sarai-va, da formação Joaquim Saraiva& Filhos, do Porto, alcançou o tí-

tulo de vice-campeão olímpico naclasse de velocidade.

A presença nacional na maiorcompetição internacional desta mo-dalidade remonta aos seus primór-dios, tendo decorrido em Lisboa a6.ª edição da prova, em 1959. OPorto já recebeu por duas vezes oevento –1985 e 2005 –e foram vá-

rias as medalhas de ouro e prataconquistadas por columbófilos por-tugueses, cujos feitos mais recentesforam alcançados em Verona(1991), Las Palmas (1993), Utrecht(1995), Basileia (1997), Cidade doCabo (2001) e Lièvin (2003).

Líderes.A Bélgica é considerada agrande potência mundial da moda-lidade, seguindo-se a nível europeu

Holanda, Alemanha, Polónia e Por-tugal. De resto, o nosso país podegabar-se de ocupar dois lugares des-tacados na cúpula da Federação Co-lumbófila Internacional (FCI), ondeestão filiados mais de 60 países: Jo-sé Tereso foi reconduzido em janei-ro último como presidente, pelo sex-to mandato consecutivo; e José LuísJacinto, atual líder da FPC, foi elei-to vice-presidente. �

PORTUGALÉCONSIDERADOUMAPOTÊNCIAMUNDIALDAMODALIDADE

Ouroeprataderambrilhoolímpico

Doisportuguesesintegramórgãosdecúpuladafederação

internacional

Acolumbofiliacomo desportocomeçou naBélgicaem1820. O pombo-correio,

avedeportebelíssimo, éconsi-deradaaavedomésticamaissaudável do Mundo. O seu fan-tástico sentido deorientação ain-danão foi descodificado peloHomem, apesardoselevadosre-cursoshumanose financeirosaplicadosnestapesquisa. Édo-tado deumagranderapidezdevoo, enduranceeresistênciaàfa-diga, devido ao equilíbrio harmo-nioso de todaamusculatura, plu-magem suaveesedosa, caracte-rísticasqueminimizam aresistên-ciaao vento duranteo seu voo.Estes fatores todosconjugadospermitem-lheperfazercentenasdekm avelocidadesmédiasde90 (ou mais)km/hora.

Acolumbofiliaé aarte de criare treinaros pombos-correio paraacompetição desportiva. O apu-rado instinto e o sentido deorientação que estas aves têmem voltarao local onde nasce-ram e foram treinadas propiciamum leque muito diversificado decompetições. Estaé umamoda-lidade com características so-ciais que pode contribuirparaum melhorbem-estarpsicosso-cial dapopulação, com especialincidênciana juventude e nosidosos, permitindo aocupaçãode tempos livres, o contactocom aNatureza, o combate àsolidão e acontribuição paraumasociedade melhor.

Estaé umaoportunidade úni-caparaos columbófilos mostra-rem aforçadamodalidade, bemcomo anossacapacidade demobilização e de organização.Só os grandes desafios originamgrandes campeões que ficaminelutavelmente ligados àhistóriadacolumbofilia. Com o apoio e aparticipação de todos, podere-mos atingiro objetivo: efetuaramaiorsoltade pombos-correiodaEuropanumaprovade fundo.

Artedecriaretreinar

Almerindo MotaCOORDENADORDAÁREADESPORTIVADAFPC

ANTIGOFUTEBOLISTAJOSÉTORRESFOI CRIADOREDIRIGENTE

Umembaixadordepeso

OURO. TiagoLopes foi campeão

em Budapeste

ESPETÁCULO.Momento de uma

solta (largada)

José Torres no seu pombal

� José Torres é provavelmente onome mais mediático que esteve li-gado à columbofilia. O antigo inter-nacional do Benfica, que ainda jogouno V. Setúbal e Estoril, antes de abra-çar a carreira de treinador que o le-vou a orientar a Seleção Nacional,teve na columbofilia a sua grandepaixão. Desportista amadordesta ati-vidade, Torres foi dirigente do Gru-po Columbófilo da Amadora, da As-sociação de Lisboa e da FederaçãoPortuguesa de Columbofilia, assu-mindo funções de vice-presidente do

congresso. Nomeado sócio honorá-rio da FPC, o “Bom Gigante” rece-beu ainda a medalha por serviços re-levantes prestados à columbofilia.

JoséTorres faleceuemsetembrode2010, com71anos, apósprolongadadoença, e o seu nome perdurou namodalidade,batizandoduranteváriosanos um dos torneios promovidospela Associação de Lisboa. No meiofutebolístico, Torres não foi o único aapaixonar-se pela columbofilia. Cha-lanae JoséPeseirosão tambémaficio-nados desta atividade. �

NÚMEROS

4.500.000O universo de pombos em territó-rio nacional, que torna o nosso paísnuma das potências da modalidadea nível europeu e até mundial

20.000Os quiló-metros queum pombo-

correio de competição pode fazerdurante uma época, entre janeiro esetembro

10.000Os associa-dos filiadosna Federa-

ção Portuguesa de Columbofilia,inscritos em 400 clubes, por sua vezdivididos em 14 associações distri-tais

400O número de provasorganizadas anual-mente pelas associa-

ções distritais num calendário apro-vado pela FPC

po inteiro que todas as semanas in-forma os associados do estado dotempo, orientação e velocidade dosventos, etc. “A columbofilia é comoa agricultura. Basta vir um dia maupara se estragar tudo”, adianta ocoordenador desportivo da FPC, jus-

tificando: “Num dia com mau tem-po pode-se perder 60 a 70 por cen-to dos pombos.”

Alta competição. “Hoje podemosdizer que um pombo-correio é qua-se um atleta de alta competição”,

acrescenta Almerindo Mota, referin-do que há dois anos na Bélgica foivendido um exemplar para a Chinapor 320 mil euros. Os treinos sãodiários, quer seja em corridas à vol-ta dos pombais ou em trajetos em li-nha reta de distâncias de várias de-

Federação fundada há 70 anos• Fundadaem 1945, aFederação

Portuguesade Columbofilia(FPC) é membro do ComitéOlímpico de Portugal epossui Estatuto deUtilidade Públicadesde setembro de1994. Atualmentepresididapor JoséLuís Jacinto, o orga-nismo congregacercade 10 mil associados, umnúmero que já foi quase o do-bro, mas que também sofreu os

efeitos dacrise, bem como are-formulação da legislação que

obrigahoje aexigentes pres-supostos paraaatribuição

de licenças paraaativi-dade. Com tradição namodalidade – Lisboaorganizou a6.ªediçãodas Olimpíadas em

1959 –, Portugal temsido o palco tradicional

do Campeonato daEuropa,mais umavez agendado paraMira, em setembro.

zenas de quilómetros. “Veja que atése fazem banhos de imersão para ospombos, como acontece com os atle-tas”, adianta entre sorrisos.

“A Bélgica é uma potência mun-dial e tem cerca de quatro mil profis-sionais que vivem da columbofilia.Mas este fenómeno estende-se peloMundo... Tailândia, China, Japão,México, Brasil”, prossegue o nossointerlocutor, sublinhando as elevadassomas proporcionadas pelas corridascom apostas na Ásia e até o facto deo exército chinês estar a recolherpombos para ludibriar no futuro so-fisticados sistemas de vigilância.

Em Portugal, o impacto financei-ro também é assinalável, se bem queainda não tenha sido feito um estu-do concreto, mas Almerindo Motarevela, por exemplo, que já lhe ofe-receram 20 mil euros por um pom-bo campeão. “Afeiçoei-me a ele e jáera da família. Não o quis vender eacabei por o perder numa prova emEspanha. Nunca mais o vi.” �

PORMENORAdobrar. Acidade espanhola deValência será o ponto de partidapara as corridas que se realizamno próximo sábado e a 20 de junho

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