espaÇosocialistaespacosocialista.org/portal/wp-content/uploads/2015/12/jornal-85.pdf ·...

12
ESPAÇO SOCIALISTA Organização Marxista Revolucionária Edição eletrônica - A LUTA CONTRA O FECHAMENTO DE ESCOLAS SECUNDARITAS EM SÃO PAULO MADURO, MORALES E BOLIVARIANISMO NÃO SÃO SOCIALISTAS DE UM LADO, DISPOSIÇÃO DE LUTA; DE OUTRO, TRAIÇÃO DA FUP (CUT) GREVE NACIONAL PETROLEIROS FORMAÇÃO EDUCAÇÃO INTERNACIONAL UM DEBATE SOBRE A CLASSE MÉDIA Dezembro de 2015 ENFRENTAR A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES NA PRÁTICA INFLAÇÃO, DESEMPREGO: OS EFEITOS DA CRISE SOBRE OS TRABALHADORES CONJUNTURA NACIONAL MULHER INFLAÇÃO E DESEMPREGO MALTRATAM OS TRABALHADORES

Upload: others

Post on 24-Aug-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ESPAÇOSOCIALISTAespacosocialista.org/portal/wp-content/uploads/2015/12/jornal-85.pdf · “esquerda”, os setores menos conservadores como o PT aplicam também a agenda dos patrões

ESPAÇOSOCIALISTAOrganização Marxista Revolucionária

Edição eletrônica -

A LUTA CONTRA O FECHAMENTO DE ESCOLAS

SECUNDARITAS EM SÃO PAULO

MADURO, MORALES E BOLIVARIANISMO NÃO

SÃO SOCIALISTAS

DE UM LADO, DISPOSIÇÃO DE LUTA; DE

OUTRO, TRAIÇÃO DA FUP (CUT)

GREVE NACIONAL PETROLEIROS

FORMAÇÃO

EDUCAÇÃO

INTERNACIONAL

UM DEBATE SOBRE A CLASSE MÉDIA

Dezembro de 2015

ENFRENTAR A VIOLÊNCIA CONTRA AS

MULHERES NA PRÁTICA

INFLAÇÃO, DESEMPREGO: OS EFEITOS DA

CRISE SOBRE OS TRABALHADORES

CONJUNTURA NACIONAL MULHER

INFLAÇÃO E DESEMPREGO

MALTRATAM OS TRABALHADORES

Page 2: ESPAÇOSOCIALISTAespacosocialista.org/portal/wp-content/uploads/2015/12/jornal-85.pdf · “esquerda”, os setores menos conservadores como o PT aplicam também a agenda dos patrões

ALTA DA INFLAÇÃO E ESCALADA DAS DEMISSÕES AMEÇAM ANOSSA CLASSE

Assistimos diariamente aosrepresentantes dos patrões (PT, PSDB,PMDB, DEM) se engalfinham na política,com novas denúncias de corrupção. Asameaças de cassação de mandatos chegamaté a se tornar banais e não sobra umsequer que possa ser defendido. Mas nosbastidores é possível ver queindependente do partido a que respondemseguem em unidade permanente atacandonossos direitos. Após passar o facão nasaúde e na educação, o último corteanunciado foi na área social, de R$ 25 bi,já previsto no orçamento de 2016, afetandoo Pronatec, o Proinfância e o programade construção de cisternas do governo.A crise econômica se aprofunda e nóstrabalhadores sofremos com a eternaameaça de pagar a fatura de uma criseque não é nossa.

Enquanto precisávamos de umprograma dos trabalhadores, os governosseguem um programa dos patrões, quetem sua expressão material na AgendaBrasil, grande acordo fechado entre osdiversos setores do governo, e tem suacaricatura ideológica no atual Congressoe em suas medidas conservadoras eretrógradas. Esse processo de disputaspolíticas que a primeira vista parececontraditório nada mais é portanto doque a expressão de duas faces de umamesma moeda. Basta observar quemesmo com uma roupagem de“esquerda”, os setores menosconservadores como o PT aplicamtambém a agenda dos patrões e nãoencampam uma luta real contra asinvestidas conservadoras dos demaissetores. No fim, o programa burguêsacaba prevalecendo sob um programados trabalhadores.

Um dos maiores reflexos de quenossos interesses são opostos aos dospatrões e de seus partidos é a escaladadas demissões. Para garantir seus lucrosmilhares de trabalhadores têm sidojogados nas ruas. Segundo a própriaFIESP, 31mil trabalhadores da indústriapaulistana já foram demitidos desde oinício do ano. A Fenabrave divulgou quesomente no setor de concessionarias deveículos se acumularam até a primeiraquizena de novembro 26 miltrabalhadores demitidos. No geral, a

população desocupada está estimada em1,9 milhão e cresceu 56,6% em relação a2014 (dados de setembro), representandomais 670 mil em busca de trabalho,segundo dados do IBGE.

Os trabalhadores da principal obrado Complexo Petroquímico do Rio deJaneiro (Comperj) já enfrentam uma longatemporada de demissões em crescente,que se agravou em janeiro de 2015, commilhares de demitidos e com o atraso nopagamento dos salários, que motivarama construção de uma forte greve noinício do ano, duramente reprimida eretaliada inclusive com a demissão degrevistas. A esse cenário de oportunismoda patronal frente a crise se soma o calotedos patrões. A Alumini, que empregavatrabalhadores do complexo, por exemplo,só começou o pagamento dostrabalhadores demitidos agora emoutubro e será feito em parcelas.

Na indústria, somente em outubro, aFord, no Polo Industrial de Camaçari(BA)anunciou a demissão de 1400trabalhadores. A metalúrgica Usiminasdesativou parte de sua usina de Cubatão(SP) e anuncia cerca de 4000 demissõesnos próximos 3 meses. Multinacionaistambém anunciam cortes que impactarãoem suas plantas no Brasil, como aMicrosoft, a 3M. A ConfederaçãoNacional do Comércio de Bens, Serviçoe Turismo (CNC) estima o fechamentode 181, 3 mil postos de trabalho comcarteira assinada neste ano. A Santa Casade São Paulo iniciou a demissão de 1397funcionários, que impactará também emum maior déficit de um atendimento desaúde do qual dependiam os trabalhadoresda região para cobrir os buracos do parcoSistema Único de Saúde (SUS).

A alternativa às demissões oferecidapelos movimentos governistas (comdestaque para a CUT e a Força Sindical)é chamar de vitória chamado Plano deProteção ao Emprego (PPE), um planode proteção aos patrões, que permite quereduzam nossa jornada e salário em até30% e mete as mãos no Fundo deAmparo ao Trabalhador (FAT) parabeneficiar as empresas. O PPE foilargamente implementado nos últimosmeses em vários locais de trabalho coma ajuda das centrais sindicais pelegas.

Além disso, a medida tem suaconsolidação legal agora no mês deOutubro com a aprovação de seu texto-base na câmara dos deputados.

CONDIÇÕES DE VIDA REBAIXADAS,LUCRO GARANTIDO

Infelizmente a crise mal começou.Os economistas dos patrões pensam arealidade em números e estãopreocupados com a redução do consumoe o aumento da inadimplência. Mas ostrabalhadores são seres humanos e estãosofrendo com o rebaixamento das suascondições de vida e trabalho.

Pela primeira vez os economistas aserviço dos patrões preveem que ainflação (IPCA) irá superar este ano os10% (Relatório de mercado Focus,BACEN), o que representaria a maiorinflação nos últimos 13 anos. O aumentodos preços está sob controle doempresariado, mas afeta diretamente aclasse trabalhadora e os setores maispauperizados sofrem com a alta dospreços dos alimentos e itens denecessidades básicas. É urgente ocongelamento dos preços e que ostrabalhadores tenham acesso ao queproduzem.

As demissões abrem espaço paramais uma onda das chamadasreestruturações no campo do trabalho,com novas contratações por salários maisbaixos e a intensificação da terceirização.As demissões este ano são imensuráveis.Soma-se a isso a lógica do arrochosalarial, que se agrava. Até agosto, foram111 acordos coletivos assinados comredução nominal de salários. Ascategorias que conseguiram melhoresacordos conseguiram no máximo repora inf lação, já defasada e grandescategorias nacionais tiveram reajustesabaixo da inflação. Não podemos assistirnossas vidas serem corroídas pelosinteresses dos patrões.

Page 3: ESPAÇOSOCIALISTAespacosocialista.org/portal/wp-content/uploads/2015/12/jornal-85.pdf · “esquerda”, os setores menos conservadores como o PT aplicam também a agenda dos patrões

3

POR UMA ORGANIZAÇÃOPERMANENTE DOS EXPLORADOS

CONTRA O AJUSTE!As direções sindicais e dos

movimentos populares sãomajoritariamente controlados pelosgovernos por meio do PT. Em vez delutar contra o ajuste fiscal têm auxiliadosua implementação, freando as lutas. Ostrabalhadores fizeram sua experiênciacom o PT. Já não se trata mais dedenunciar uma traição, mas de reconhecerque há muito tempo já estão do outrolado e de nenhuma ilusão neles nutrir.Entender o papel de conciliação de classes

que a burocracia petista cumpre no paísé o ponto de partida para o movimentodos trabalhadores superar o estágio dedependência dessa velha burocracia e sedesatrelar de vez dos setores estranhos àclasse trabalhadora.

Será preciso que os trabalhadores seorganizem e reajam contra cada ataque dospatrões e seus governos, contra cada setoroportunista que se colocar a frente dosnossos interesses. As promessas dereformar o capitalismo não têm maisespaço e se provaram meras ilusões. Cadavez mais é preciso entender que umasociedade voltada para os interesseshumanos não pode ser construída dentrode um sistema que prioriza o lucro.Somente a organização e luta permanentee independente dos trabalhadores podeconstruir uma sociedade sem nenhumaforma de exploração e opressão.

Levantemos bem alto a bandeira dosocialismo ou nos restará apenas abarbárie!

CONTRA A INFLAÇÃO:Reajuste automático dos salários

mensalmente acompanhando a inflação!Salário mínimo do Dieese!

CONTRA AS DEMISSÕES:Redução da jornada de trabalho sem

redução dos salários, emprego para todos! Estatização sob controle dos

trabalhadores das empresas quedemitirem em massa, ameaçarem fecharou se mudar!Fim da terceirização! Efetivação de

todos os temporários com os mesmosdireitos!Formar comitês populares em defesa

do emprego!

No dia 13 de novembro, iniciou-seo desmonte da greve dos petroleiros, nãoporque a categoria não tinha maisdisposição de luta ou porque asreivindicações tenham sido atendidas,mas porque a Federação Única dosPetroleiros (FUP filiada à CUT com 12sindicatos) deliberou que a greve tinhaque acabar. E foi em uma reunião deportas fechadas entre a direção da FUPe os representantes da empresa.

A PAUTA DA GREVEA greve tinha como pauta a luta

contra a privatização (venda de ativos edesinvestimento) e a manutenção dedireitos que a empresa insistia em retirar(alguns retroagindo à 2007). Após 2semanas de greve a empresa apresentanova proposta que era revalidar o Acordode 2013 (ou seja, recuando da retirada dedireitos), reajustar 9,53% e jogar a questãodo desinvestimento para um Grupo deTrabalho para estudos por 60 dias e enviode relatório para direção da empresa (maisenrolação do que coisa concreta...).

Os petroleiros nas diversasassembleias de base pelo país já haviaminformado aos representantes da FUPque era uma questão moral. Areivindicação era de abonar os diasparados e de constar no acordo que nãohaveria punições aos grevistas, dado quefoi a intransigência da empresa – jogarnas costas dos trabalhadores a conta da

corrupção e a retirada de direito “ quelevou os trabalhadores à greve. Mesmoassim a FUP manteve seu indicativode aceitar o acordo do RH e do governo.

Várias bases foram sendo levadaspelas diretorias dos sindicatos àsuspensão da greve, com diversasmanobras. Na Bahia e no Unificado deSão Paulo, antes mesmo de receberemo acordo na íntegra, assembleiasrelâmpago suspenderam a greve nomesmo dia do indicativo, sem esperar asassembleias do restante do país ou mesmodiscutir com os trabalhadores de outrasbases, aceitaram a proposta da empresa evoltaram a trabalhar.

COMEÇA A REBELIÃO DE BASENo dia 14, grevistas de base de

sindicatos ligados à FUP, organizados (viaWhatsApp, Facebook e piquetes) deramuma resposta contundente a burocraciagovernista. Os petroleiros de MinasGerais por 89% dos votos na primeiraassembleia, no Norte Fluminense “ aprincipal base, responsável por mais de60% da produção de petróleo “ por 76%dos votos e em Duque de Caxias com64% mantiveram a greve contra oindicativo da FUP e contra a diretoriadesses sindicatos.

Pressionadas pela base, diretorias dossindicatos do Ceará e do Espírito Santose dividiram, e parte passou a defender arejeição da indicação da FUP/RH. Nesses

estados a greve também é mantida, contraa vontade da FUP. No ES o percentualchegou a 92% pela greve. O recado foidado tanto à FUP “ os trabalhadores nãoqueriam sair desta greve de cabeça baixa“ quanto à direção da empresa: estavamdispostos a continuar a greve.

FUP E EMPRESA INICIAM AOPERAÇÃO DESMONTE

A direção da empresa e a FUPiniciam a operação para acabar com agreve. Passam a refazer assembleias eenchê-las de fura greve e realizamassembleias em setores de não grevistas.Manobras que bem lembram as de Cunhana Câmara. Mais uma vez, contra asdiretorias dos sindicatos e suas manobras,parte da categoria resiste.

Nas bases onde empresa e FUPforam derrotadas, inicia-se umacampanha de desmoralização dosgrevistas. Alguns dos diretores dosindicato começam a enviar mensagensassediando os grevistas, amedrontando

GREVE DOS PETROLEIROS: A DISPOSIÇÃO DE LUTA E ATRAIÇÃO DA FUP

Page 4: ESPAÇOSOCIALISTAespacosocialista.org/portal/wp-content/uploads/2015/12/jornal-85.pdf · “esquerda”, os setores menos conservadores como o PT aplicam também a agenda dos patrões

4

A ASSIM DITA “CLASSE MÉDIA” SÉRGIO LESSA

os mais fracos com ameaças de demissão,falsas estatísticas de misteriosas previsõesde “perdas futuras”.

O esforço das direções sindicaisligadas a FUP para desmontar a greve foitanto que em muitos lugaressimplesmente sumiram, abandonando ostrabalhadores nos piquetes.

Sem conseguirem acabar de vezcom a greve após dias da ameaças e, comuma proposta da empresa de “formar umacomissão e discutir” (das quais participamos sindicatos), os dias parados e a nãopunição em janeiro, a greve termina emMG, depois no Norte Fluminense.Espírito Santo resiste, mas terá desuspender também já que a principalbase havia recuado.

O SENTIMENTO DOS TRABALHADORESÉ DE QUE NÃO FORAM DERROTADOS,

FORAM TRAÍDOSNas bases da Federação Nacional

dos Petroleiros (-FNP – 5 sindicatos comfiliação a CSP”Conlutas/CUT/independentes) a greve se iniciou antesdos demais com muita força dostrabalhadores e se sustentou até odesmonte da greve no Norte Fluminense.

São muitas as lições desta que foi amaior greve dos últimos 20 anos. Aprimeira é a falência da FUP comoorganização capaz de liderar ostrabalhadores contra o capital, devido suainsistência em colocar os interesses dogoverno acima dos interesses da categoria.

A FUP não está à altura das tarefasque se desenham. Construir umaalternativa de classe e antigovenista éfundamental para a classe operária seorganizar e defender os direitosameaçados e a privatização (venda deativos) que ainda está em andamento.

O desmonte da greve foi a maiortraição da história da FUP até hoje e

deixou evidente para a vanguarda a farsado seu discurso. Como acreditar que umagreve “histórica” com reinvindicaçõespolíticas e econômicas termina com umapromessa de um estudo num Grupo deTrabalho (sem garantir que não serãovendidos ativos e sem recuperar os quejá tiveram a venda aprovada)?

A defesa do inimigo feita pela FUP,sua insistência em defender governo queé quem privatiza e tenta tirar direitos, amando do capital, tornaram a FUPobsoleta.

É verdade que se mantiveramdireitos do Acordo Coletivo de Trabalho(ACT), porém o acordo é inferior à dediversas categorias, os dias parados nãoforam abonados, penalizando os grevistase também não está garantido que nãohaverá futuras retaliações.

CONSTRUIR A ALTERNATIVA PELA BASEOutra lição é a força demonstrada

pela auto-organização dos petroleiros. Ouso das “novas” mídias, permitiu o contatode trabalhadores pelo país e o debateintenso na base. O uso dos piquetes ajudoua envolver mais a vanguarda. Em MG,no NF e no ES foram os própriostrabalhadores de base organizados quederrubaram o indicativo da FUP.

Também ficou evidente os limites daFNP. Ainda que com um bom trabalhoem suas bases, ela não conseguiu se tornaralternativa nacional neste momento. Nãotirou política em tempo de aproveitar arebelião de base, não organizou asoposições para o combate e vacilou nadenúncia política do governo Dilma.

Os desafios dos próximos rounds sãomuitos. A venda de ativos não se deteve,a terceirização, e com ela o rebaixamentode direitos, segue e a possibilidade derepressão e perseguição aos lutadorestambém não pode ser descartada.

Sabemos bem os efeitos daprivatização. Os resultados podem sersentidos por toda população como nocaso da Samarco (Vale – estatal quefoi privatizada por FHC), estreitandoligações com a Petrobrás. “A Vale écomandada por Murilo Ferreira,presidente licenciado do CA [Conselhode Administração] da Petrobrás que,estranhamente, afastou-se da estatal,alguns dias antes de ser anunciada umasuspeita negociação para venda de 49%da Gaspetro à Mitsui. A multinacionaljaponesa é uma das controladoras daVale e, portanto, tinha relaçãohierárquica direta com Murilo.”(FUP).

A busca pela expansão do lucronão se detém nem mesmo com adestruição de vidas e do meioambiente, como ocorreu com orompimento da barragem que estavasob responsabilidade da Samarco emMariana (MG) causando diversosprejuízos ambientais em Minas Gerais,Espírito Santo. O desenvolvimentosob o domínio do capital é destruidore ele não precisa passar por essecontrole. No socialismo será possívelaliar desenvolvimento com apreservação de todas as formas de vidaporque ele visará a satisfação dasnecessidades humanas e não lucro.

Pela reestatização integral daPetrobrás (100%), sob controle dostrabalhadores e pela retomada domonopólio estatal do petróleo.Nenhum direito a menos!

Por isso, umas das principais tarefasque temos é buscar formas deorganização da base, para se colocar emalternativa a burocracia sindical etambém preparar para as próximas lutas.

A LUTA CONTRA A PRIVATIZAÇÃO

O conceito de classe média éincompatível com o pensamento de Marxe Engels. Por várias razões. É umconceito vazio de significado: o que é“médio” tira o seu conteúdo dosextremos dos quais é médio. É umconceito de classe social desvinculadodo trabalho, como categoria fundante dahumanidade e, da economia, comomomento predominante da reproduçãodas sociedades. Por isso, em suacaracterização, entram critérios que se

originam do poder aquisitivo, ou dopadrão de consumo, ou de alguns traçosculturais, ou do nível de formaçãoprofissional, ou de algumascaracterísticas políticas – mas, jamais, dolugar que ocupam na estruturaprodutiva. É um conceito típico dasociologia, a ciência da sociedadeessencialmente burguesa, quase semprecom um conteúdo idealista ou politicista.

Contudo, se o conceito de classemédia é radicalmente recusado pelo

marxismo, o problema a que ele se refereé real e um dos mais complexos naanálise das classes sociais.

Todas as sociedades de classeconheceram duas classes fundamentais(senhores de escravos e escravos,senhores feudais e servos, burgueses eproletários). Em todas as sociedades declasse, a classe dominante necessitou deauxiliares para a manutenção daexploração dos trabalhadores.Dependendo do momento histórico e do

Page 5: ESPAÇOSOCIALISTAespacosocialista.org/portal/wp-content/uploads/2015/12/jornal-85.pdf · “esquerda”, os setores menos conservadores como o PT aplicam também a agenda dos patrões

5

modo de produção, esses auxiliarespodem ser mais ou menos numerosos,podem ter uma maior ou menorparticipação na riqueza que a classedominante expropria dos trabalhadores,podem ter uma formação cultural maisou menos elevada e assimsucessivamente. Os funcionários estatais(soldados, magistrados, religiosos,burocratas ou carcereiros etc.) são osauxiliares mais típicos das classesdominantes ao longo da história e, naquase maioria dos casos, são assalariados.

Mas há, também, outros setores dasociedade que não são nem da classedominante nem da classe trabalhadora.Um bom exemplo são os camponesesna Grécia antiga, na República romanae, também, na França do século 19; outroexemplo são os artesão que subsistiramem várias cidades durante a Idade Média.

Em poucas palavras, se é possívelenglobar todas as classes que vivem daexploração dos que produzem a riquezasocial em um único conceito, o de classedominante; se se é possível colocarescravos, servos e proletários noconceito de classe explorada, não épossível colocar juntos, em um únicoconceito, os camponeses da RepúblicaRomana, os artesãos urbanos da Florençamedieval e os assalariados não proletáriosdo capitalismo desenvolvido. Em cadamodo de produção e em cada sociedade,as classes que não pertencem nem aosdominantes nem aos explorados possuemuma composição e uma formaçãodistintas —, sempre decorrentes, claro,do lugar que ocupam na estruturaprodutiva das sociedades.

Estamos, portanto, diante tanto deum falso conceito de classe médiaquanto de um problema real. E umproblema que se altera ao longo dotempo; em cada modo de produção e,no interior de cada um suas distintasetapas evolutivas, apresenta diferençasimportantes em como essas classes seconstituem e, portanto, em comoparticipam das lutas de classe.

Por essa razão nos concentraremosno modo de produção capitalistadesenvolvido e, mesmo assim, pegandoapenas o seu caso mais típico, o daEuropa Ocidental.

MARX E O 18 DE BRUMÁRIOHá dois textos muito especiais em

que Marx analisa eventos concretos daluta de classe. O primeiro deles é o 18

Brumário de Luis Bonaparte e, o segundo,As lutas de classe na França. São especiais,primeiro, pelos objetos que estudam. Asrevoluções de 1848, em especial a daFrança e, no segundo texto, a Comunade Paris de 1871. Em segundo lugar,porque são redigidos em um momentoda evolução teórica de Marx em que ascategorias mais importantes de seupensamento já estão, no essencial,consolidadas. Não são textos como AIdeologia Alemã ou A sagrada família, emque questões decisivas receberiam, nofuturo, soluções e formulações maisavançadas.

No 18 Brumário... Marx analisa osprocessos ideológico e político pelo qualos setores e classes sociais se aproximamou se afastam do proletariado ou daburguesia conforme a luta de classes sedesdobra. Expõe a constituição social eo lugar que ocupam na estruturaprodutiva os que não são nem proletáriosnem burgueses. Ele identifica, emprimeiro lugar, os pequenos proprietáriosagrícolas que, por terem recebido deNapoleão o título de propriedade dasterras que haviam tomado da nobrezadurante a Revolução Francesa, vãoseguir Luis Napoleão, sobrinho dogrande Napoleão, mesmo que issoprejudique seus interesses de classe nolongo prazo. Ele compara essescamponeses a um saco de batatas: estãolado a lado, contudo não compõem umaclasse social capaz de entrar nas lutascom um projeto político próprio. Apenetração do capital no campo tende aeliminar esse campesinato e a o substituirpor um muito menos numerosoproletariado rural.

Além desses camponeses, Marxidentifica uma grande quantidade depequenos burgueses. Isto é, burgueses,mas com pequeno capital. Desde osdonos de pequenas vendas e negócios,pequenas oficinas, até os profissionaisliberais (como eram, então, os médicos,farmacêuticos, alfaiates, costureiras eassim por diante). Ao lado deles, temosainda uma vasta gama de funcionáriospúblicos empregados pelo Estado e, porfim, outros profissionais assalariados,como os jornalistas, teatrólogos, chefs decozinha etc.

Quando Marx quer se referir aoconjunto dessas classes e agrupamentossociais, muito heterogêneo internamentee com participação política muito

diversificada mas, predominantemente,contrarrevolucionária, ele emprega oconceito de “classes de transição”.Vamos, pois, segui-lo também nesseparticular. Deixemos de lado o conceitosociológico-burguês de classe média eadotemos o conceito marxiano de classesde transição.

AS CLASSES DE TRANSIÇÃOA sociedade capitalista

desenvolvida, industrializada, apresentaduas diferenças importantes secomparada com a da época de Marx. Aprimeira é o desaparecimento quasecompleto do campesinato, pequenoproprietário rural. A França é umaaparente exceção, porque lá o grandecapital penetrou no campo também pelamediação da pequena propriedadeagrícola. Em países como a Inglaterra eos Estados Unidos, esse pequenoproprietário rural praticamentedesapareceu frente ao agrobussiness, umdesaparecimento que estamos assistindoem nossos dias no Brasil.

A segunda diferença importante éque o desenvolvimento das forçasprodutivas liberou uma vasta quantidadede trabalhadores das atividades quetransformam a natureza (do trabalho) eos deslocou para o setor de serviços oupara o comércio. Cresceu assim,enormemente se comparado ao século19, os assalariados que não transformama natureza, isto é, que não são proletários.

Hoje em dia, nas economias maisdesenvolvidas do planeta, entre aburguesia e o proletariado há umaenorme massa de assalariados com umpoder aquisitivo que vai desde a linhada miséria, até aos executivos querecebem salários milionários. Ao ladodeles, compondo também as classes detransição, uma vasta e heterogênea gamade pequenos burgueses, em geralcomerciantes, donos de pequenasoficinas, de taxis e de vans de transportepúblico. Temos, ainda, a dita economiainformal, desde o contrabandista tipoParaguai ou o revendedor de roupas degrife que saíram com defeito dasconfecções, como ainda toda a cadeia detráfico de drogas e de armas. No Brasil,hoje, dados indicam que cerca de 60%da força de trabalho se localiza nessesetor informal. Numericamente é,portanto, muitíssimo significativo.

O último setor importante dasclasses de transição, hoje, são os

Page 6: ESPAÇOSOCIALISTAespacosocialista.org/portal/wp-content/uploads/2015/12/jornal-85.pdf · “esquerda”, os setores menos conservadores como o PT aplicam também a agenda dos patrões

6

funcionários públicos, dos carcereiros etorturadores ao Presidente da República.Conforme se intensifica a repressão e anecessidade de maior controle dasociedade pelo Estado, o número e opeso social desse setor tende a crescer.

ASSALARIADOS E ASSALARIADOSApesar das enormes diferenças

profissionais, culturais, de poderaquisitivo e mesmo de concepção demundo e de participação política dasclasses de transição, elas compõem, juntocom a burguesia, a porção parasitária dasociedade. Tal como os burgueses, elastambém vivem da riqueza produzida peloproletariado.

Relembremos, em poucas palavras,o que vimos no artigo “Classes Sociais”no Jornal Espaço Socialista n. 77. Toda ariqueza de toda e qualquer sociedade vemda transformação da natureza em meiosde produção e meios de subsistência. Issoé fácil de ser percebido nos modos deprodução escravista e feudal. Ninguém,nesses casos, argumentará que o soldadoromano ou o padre medieval produzemqualquer riqueza; pelo contrário: éevidente que vivem da riqueza produzidapelos escravos ou pelos servos.

No capitalismo desenvolvido, issojá não é assim tão evidente. Por duasrazões. A primeira e menos importante éporque todos são, agora, tipicamente ouburgueses ou assalariados. O que gera afalsa impressão de todos os assalariadosserem igualmente explorados pelaburguesia. Veremos que são explorados,mas não igualmente explorados; aqualidade da exploração não é a mesmaporque exercem distintas funções naestrutura produtiva.

A segunda, e mais importante, é queo capital é uma forma de propriedadeprivada que se reproduz diferentementeda propriedade privada escravista efeudal. Ainda que, como propriedadeprivada, seja a mesma apropriação pelaclasse dominante da riqueza produzidapelos explorados, o capitalimediatamente se acumula pelamercadoria, ou seja, por aquele produtodo trabalho que é portador da mais-valia.

Já vimos o que é a mais-valia: é ovalor de uso da força de trabalho sob ocapital. A força de trabalho é a únicamercadoria que, consumida, produz umvalor maior do que o seu próprio.Imediatamente, portanto, há dois tiposde trabalhadores assalariados: aqueles que

produzem mercadorias (e, assim,produzem mais-valia) e os que não ofazem. Os primeiros são chamados detrabalhadores produtivos e, os outros, deimprodutivos. Mas, atenção: produtivosou improdutivos de mercadorias, de mais-valia.

O exemplo clássico de Marx é umprofessor. Se ele trabalha em uma escolapública, é um trabalhador assalariado quenão produz mais-valia. O Estado nãovende ao aluno a mercadoria hora-aulado professor. Caso esse mesmo professortrabalhe em uma escola privada, ele será,então, um trabalhador produtivo de mais-valia. Pois, na escola privada, o seutrabalho se converte em uma mercadoriaque o proprietário da escola vende aospais dos alunos. O salário do professorpossui um valor menor do que a hora-aula que ele produz, é uma mercadoriaque, como toda mercadoria, é portadorade mais-valia.

Veja: o capital não se acumula como trabalho do professor em uma escolapública. Mas se acumula com o trabalhodo mesmo professor na escola privada.Isso é apenas uma decorrência de quetrata-se de relações sociais diversas: oEstado fornece um serviço que é aeducação pública, a escola privada vendeuma mercadoria produzida peloprofessor (a hora-aula). Para o capital, osalário do professor do Estado é custo,o da escola privada é fonte de mais-valia.

Os assalariados, portanto, se dividemem assalariados produtivos eimprodutivos de mercadorias, isto é,produtivos ou improdutivos de mais-valia. Essa diferença é importante, masnão determina as classes sociais, comoveremos a seguir.

TRABALHADOR PRODUTIVO EPROLETARIADO

Voltemos ao exemplo de Marx: oprofessor na escola privada. Vimos queele produz uma mercadoria, a hora-aulaque, vendida pelo proprietário da escola,se converte em mais-valia. O patrão queexplora o professor, claro está, acumulao seu capital.

Contudo, o professor apenas podereceber o seu salário se houvercompradores para a mercadoria hora-aulaque ele produz e, por isso, é preciso quehaja uma vasta quantidade de pessoas nasociedade que não tenham tempo paraeducar seus filhos e que,simultaneamente, tenham dinheiro

disponível para pagar a escola dos filhos.Ou seja, para que a escola seja umnegócio lucrativo, é preciso que ummontante de riqueza, sob a forma dedinheiro, já exista na sociedade. De ondeprovém essa riqueza que precisa existirpara que o professor possa vender suaforça de trabalho ao dono da escola?

DO TRABALHO DO PROLETARIADOPodemos ser breves, porque já

vimos isso em “A aristocracia operária”,no Jornal Espaço Socialista n.82. Otrabalho que transforma a natureza geraum produto que, por ser naturezatransformada, continua a existir depoisde terminado o processo de suaprodução. Por isso essa riqueza vai seacumulando na sociedade, de geração ageração. A cada ato de trabalho proletário,uma nova riqueza é acrescida à riquezasocial já existente. A cada ato de trabalhoproletário amplia-se o “capital socialtotal” (Marx): produz-se um novo, antesinexistente, capital. A riqueza necessáriapara que o professor possa produzir umamais-valia advém do trabalho proletário.

Muito resumidamente, funcionaassim: a burguesia vende o produtogerado pelo trabalho proletário. Com odinheiro obtido, ela paga todos os seusassalariados proletários ou não(administradores, executivos, chefes deoficina, engenheiros de todos os matizes,segurança na empresa etc.) e ela paga,também, os impostos que vão manter oEstado e, portando, que assalaria osfuncionários públicos. A porção da mais-valia proletária que a burguesia industriale do agrobusiness transferem aos bancossob a forma de juros, também paga osassalariados do setor bancário. E, por fim,a parcela da mais-valia que a burguesiaindustrial transfere ao comércio tambémassalaria os trabalhadores deste setor.

Percebam: não apenas a riqueza daburguesia, mas também todos os saláriostêm sua origem no proletariado. Otrabalho proletário, por ser fundante dasociedade burguesa, também é oprodutor de todo a riqueza nela existente.

Em outras palavras, a única classesocial que não vive da exploração denenhuma outra é o proletariado (docampo e da cidade). Todos os outrosassalariados vivem da riqueza que aburguesia extrai do proletariado. Há,portanto, assalariados e assalariados: asclasses de transição, de um lado e, dooutro, o proletariado. Essa é uma das

Page 7: ESPAÇOSOCIALISTAespacosocialista.org/portal/wp-content/uploads/2015/12/jornal-85.pdf · “esquerda”, os setores menos conservadores como o PT aplicam também a agenda dos patrões

7

razões que fazem o proletariado a únicaclasse revolucionária, no presente.

A EXPLORAÇÃO DAS CLASSES DETRANSIÇÃO E A DO PROLETARIDADO

A riqueza que a burguesia expropriado proletariado é dividia em duasporções, grosso modo. Uma porção é amais-valia. Outra porção vai para pagaros custos da produção. Partepreponderante desses custos é o valorda força de trabalho. Quanto menor ossalários, menor os custos de produçãoe, assim, maior a lucratividade do capital.

Há, portanto, uma contradição entreo conjunto dos trabalhadores assalariadose o capital. Este quer diminuir, aquelequer aumentar, o valor dos salários. Isto,as classes de transição e o proletariadopossuem em comum: a luta pelaampliação dos salários.

Contudo, há um limite para essecampo comum: como os salários dasclasses de transição têm sua origem naexploração do proletariado pelaburguesia, elas compartilham com aburguesia o interesse histórico pelamanutenção da exploração doproletariado pelo capital. Apenas oproletariado tem interesse em extinguira exploração do trabalho pelo capital,pois apenas o proletariado não vive destaexploração.

Ainda mais: a manutenção de baixossalários entre os proletários do campo eda cidade é uma das condições para queas classes de transição (1) tenham acessoa mercadorias de menor preço. Assim,muito mais frequente do que raro, asclasses de transição tendem a ver comsimpatia, quando não a apoiar, a repressãodas lutas proletárias pelo Estado.

Não é difícil de perceber, portanto,que todos os assalariados são exploradospelo capital. Mas não da mesma maneira.Na medida em que os assalariados dasclasses de transição compartilham coma burguesia a riqueza que esta extrai doproletariado, sua luta é sempre pelamanutenção do capitalismo, depreferência com seus saláriosaumentados. Isto, é claro, vale para oconjunto dos assalariados das classes detransição, sejam eles produtivos ouimprodutivos de mais-valia.

A mais-valia cumpre, portanto, duasfunções. A diferença entre elas é ofundamento da diferença entre osassalariados produtivos em geral e oproletariado. Ela sempre serve para a

acumulação do capital. Todo trabalhadorprodutivo de mais-valia contribuiimediatamente para a acumulação docapital. Essa a primeira função, a maisimediata e visível delas.

A segunda função é a produção deum novo capital, de uma riqueza antesinexistente. A produção do capital, claroestá, é sempre também uma suaacumulação. Mas nem toda acumulaçãoé a produção de um novo capital, de umariqueza antes inexistente na sociedade.Apenas o proletariado produz o capital,os outros trabalhadores produtivos demais-valia apenas acumulam o capital —que apenas o trabalho proletário ampliao “capital social total”.

Por isso o proletariado – diferentedos assalariados produtivos das classesde transição – é a classe com potencialrevolucionário: de suas mãos se originaa totalidade do capital, é a única que nãoexplora outras classes.

CLASSES DE TRANSIÇÃOO lugar que as classes de transição

ocupam na estrutura produtiva determinaseu caráter de classe: como vivem daexploração do proletariado, se aliam coma burguesia todas as vezes que asociedade capitalista estiver ameaçadapor uma revolução proletária. Nessesmomentos, as classes de transição, emlarga medida, aderem à contrarrevolução.

Contudo, um aumento dos saláriosdas classes de transição pode significaruma diminuição da lucratividade docapital, e vice-versa. Abre-se, destaforma, um conflito permanente entre asclasses de transição e a burguesia aoredor da divisão da riqueza que aburguesia expropria do proletariado.Aliadas dos capitalistas na manutençãodo capital e, sempre que isto não estiverem jogo, em conflito permanente com aburguesia para ampliar seus salários: esseo conteúdo histórico das classes detransição nas sociedades capitalistasdesenvolvidas.

Em outras palavras, por não seremclasses fundamentais (como a burguesiae o proletariado), são incapazes de umprojeto próprio, de classe. Apenas lhesresta, então, a alternativa história real:manter ou revolucionar a sociedadeburguesa. O conservadorismo e oreformismo são, por isso, elementossempre presentes nas ideologias dasclasses de transição e refletem o fato deque, no antagonismo da burguesia com

o proletariado, ficam com a primeiracontra o segundo.

Por trás das ideologias das classesde transição há, portanto, umadeterminação histórica que brota daprodução regida pelo capital. Esse é solosocial de onde brotam as ideologiaspequeno-burguesas. Elas são muitas emuito variadas, entre outras coisasporque são muito sensíveis às variaçõessociais e econômicas no interior dasclasses de transição. Algumas aparentamser anticapitalistas e outras, sãoabertamente conservadoras.

Apesar dessa ampla variedade, umacaracterística comum a todas elas épregarem que não há diferença entre osassalariados das classes de transição e oproletariado. Haveria apenas duasclasses sociais, a burguesia e os demaisassalariados. Isto significaria que oprojeto da revolução proletária – o desuperar a propriedade privada, dedestruir o Estado, de deixar na lata dolixo da história as classes sociais e afamília monogâmica – seria inviável pelasimples razão da inexistência doproletariado. O possível seria a ampliaçãodos salários, a melhoria da distribuiçãode renda, o aperfeiçoamento dademocracia – bem entendido, mantendoa exploração do proletariado.

Ao invés da revolução proletária,deveríamos agora lutar por “mais justiça”,“mais igualdade”, “mais democracia”...Trata-se, bem pesadas as coisas, de “maisdo mesmo”, que já temos. E o que temosé a igualdade e a justiça da exploraçãodo proletariado e, claro, a democracia —que nada mais é que o capital elevado àordem política.

Quantas vezes não escutamos quea democracia deve ser “aperfeiçoada”?Se não há democracia sem exploraçãodo proletariado – trata-se, na verdade,de ampliar os salários das classes detransição pelo aperfeiçoamento daexploração do proletariado.

Essa a primeira característicaideológica importante das classes detransição: negam a diferença de classeentre o proletariado e os demaisassalariados para justificarideologicamente a impossibilidade darevolução proletária. Velada a diferençaque brota da estrutura produtiva, adistinção de classe entre o reformismoe a ideologia revolucionária fica reduzidaà mera diferença de opiniões políticas.

Page 8: ESPAÇOSOCIALISTAespacosocialista.org/portal/wp-content/uploads/2015/12/jornal-85.pdf · “esquerda”, os setores menos conservadores como o PT aplicam também a agenda dos patrões

8

Enquanto “apenas políticas”, asdiferenças podem ser conversadas,negociadas – pode-se encontrar, pelodiálogo, um “campo comum”. Afinal,como diz a ideologia das classes detransição, “somos todos assalariados”. Éevidente o quanto essa segundacaracterística foi importante, por exemplo,para o PT chegar ao poder.

A segunda característica importanteé que, ao negar a contradição entre oproletariado e as classes de transição,cumpre-se uma importante funçãoauxiliar no controle do proletariado.Quando os autênticos burgueses têmdificuldades para se apresentar comorepresentantes de toda a sociedade, nãoraras vezes recorre-se às classes detransição.

Como elas são assalariadas, seusideólogos mais facilmente do que osburgueses podem se apresentar comorepresentantes de “todos os

trabalhadores”. Os proletários, vendo umtrabalhador assalariado (2) no poder, sãopossuídos da esperança de que a vidavai melhorar sem ser preciso a superaçãodo capital. Essa válvula de escape éfundamental para o capital evitar aeclosão da revolução quando esta seapresenta na história.

As classes de transição, portanto, sãoresultado inevitável no desenvolvimentodas sociedades de classe. No capitalismodos nossos dias, são, junto com aaristocracia operária, os aliados do grandecapital contra a revolução proletária.

LEITURAS RECOMENDADASDe Karl Marx: O 18 brumário de Luis

Bonaparte e As lutas de classe na França.Deste último, a edição da Boitempo traztambém os rascunhos preparatórios. DeEngels, O socialismo jurídico, editado porMárcio Naves (Boitempo), e Do socialismoutópico ao científico são análises clássicas

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: FORMAS

DE ENFRENTAMENTO E POLITIZAÇÃO

das ideologias pequeno-burguesas.De Lenin, O que fazer? é o texto mais

importante na distinção da ideologiareformista da ideologia revolucionária.Proletariado e sujeito revolucionário, de Lessae Tonet (Instituto Lukács), discute adistinção de classe entre o proletariadoe os demais assalariados no capitalismodos nossos dias. Os textoscontemporâneos mais significativos nadefesa da igualdade de classe entreassalariados e proletários são de RicardoAntunes (Os sentidos do trabalho) e deAntonio Negri (O poder constituinte).

NOTAS(1) Vimos, no Jornal Espaço Socialistan.82, como isso também é válido para aaristocracia operária.(2) Ou mesmo um aristocrata operário:basta o exemplo do Lula, mas há muitosna história

A opressão da mulher não é algorecente na história da humanidade, elaperdurou por distintos modos deprodução e está presente na atualsociedade. Uma das formas mais visíveisda referida opressão são as manifestaçõesde violência contra mulher, que muitasvezes são naturalizadas. A violênciacontra a mulher não se dá somente nasexpressões de agressões físicas, massexual, psicológicas, patrimonial e moral.Partindo desse entendimento se faznecessário discutir – com homens emulheres – questões relacionadas aogênero feminino, com ênfase na tentativada desconstrução da opressão. 

HISTÓRIA DA OPRESSÃO FEMININAA opressão da mulher existiu em

todas as sociedades, em qualquermomento histórico? Bem, não é isso queas pesquisas científicas no campo daantropologia, arqueologia e históriademonstram.

De acordo com Sérgio Lessa, adivisão do trabalho na comunidadeprimitiva, ainda que levasse em conta aidade, a força física ou o sexo dosindivíduos, baseava-se na igualdade e naautonomia destes para a realização dastarefas necessárias ao desenvolvimentoda comunidade. Todos tinham acesso aoque era coletado ou produzido. A

sobrevivência de cada indivíduo estavaligada à sobrevivência dos demais,constituindo-se um fato necessário paraa perpetuação da espécie humana. Nãohavia desigualdade social entre homense mulheres.

Nesse contexto, as mulheres, porserem capazes de gestar novos seres,tendiam a realizar trabalhos menosperigosos, no âmbito do ambientedoméstico, enquanto os homens seafastavam deste ambiente para caçar,pescar etc. Acrescentamos ainda que aamamentação era outro fator quedemandava maior presença e permanênciadas mulheres junto às crianças. Nesteperíodo os seres humanos mantinhamrelações sexuais livremente, fato que,implicava a contagem da descendênciapela linhagem feminina.

A MULHER NA SOCIEDADE DECLASSES

Com o desenvolvimento das forçasprodutivas e a possibilidade de produçãode excedente surgem as condiçõesobjetivas de exploração do ser humanopelo ser humano. A partir deste momentoa sociedade se dividiu em classes. Amaior parte da população passou aproduzir a riqueza material, enquantouma minoria se apropriou desta riquezatornando-a propriedade privada. O

surgimento da propriedade privadaprovocou um reordenamento no âmbitoda reprodução social. 

Enquanto possuidor do controlesobre os instrumentos de trabalho e dariqueza produzida, que progressivamentecrescia, o homem da classe dominanteimpôs o reconhecimento de seusdescendentes pela linhagem paterna. Essa foi, como assinala  Engels,  “a grande  derrota histórica do sexo femininoem todo o mundo” (ENGELS, 2012, p.77, grifos  do autor). A partir daí, dá-se aformação da família monogâmica (1),constituída pela consolidação doatriarcado, sistema de dominação quegarante o direito do homem de ter osfilhos como herdeiros e co controle sobreo corpo e a vida das mulheres. Isso incluia sua força de trabalho - convertendo-aem servidora, instrumento de reproduçãoe escrava da sua “luxúria”, destituindo-ado comando do lar.

 A família se desloca, então, docoletivo e se torna um núcleo privado,pois os indivíduos, agora com interessesantagônicos, precisam buscar suasobrevivência individualmente. Dessecontexto resultaram as bases materiais e

Page 9: ESPAÇOSOCIALISTAespacosocialista.org/portal/wp-content/uploads/2015/12/jornal-85.pdf · “esquerda”, os setores menos conservadores como o PT aplicam também a agenda dos patrões

9

humano-sociais das relações de exploraçãoe opressão do homem sobre a mulher.

Com o surgimento da sociedadeburguesa, o trabalho feminino não ficarestrito ao ambiente doméstico. Nasmanufaturas, dada a necessidade de forçafísica para operar os meios de trabalho,os homens constituíam maior númeroentre os trabalhadores. O trabalhofeminino era reduzido. Essa situaçãosomente se modificou quando seintroduziu a maquinaria moderna naprodução, que proporcionou além de seuingresso mais efetivo, a exploração dotrabalho infantil. Assim como os homens,elas passam a fazer parte da força detrabalho a ser explorada pelo capitalista,porém, com o valor rebaixado em relaçãoao trabalho masculino.

A MULHER NA SOCIEDADE DO CAPITALMesmo a mulher ganhando espaço

no âmbito público, ingresso no mercadode trabalho e – muito posteriormente –no campo político, a relação de opressãoque é fruto do patriarcado não foisuperada. É comum às mulheresocuparem postos de trabalho comremuneração menor que a do homem,serem vítimas de violência doméstica,sexual, psicológica, e ainda serem privadasde frequentar espaços públicos apenaspor serem mulheres – por medo de danosa sua integridade física. Tais exemplosdemonstram que a lógica de inferioridadeda mulher em relação ao homem estápresente nas sociedades de classes, que amulher é relegada a cumprir papéissecundários e quando transitam porespaços públicos é vítima de violência. 

Atualmente, os noticiários trazeminúmeras notícias da opressão da mulherna sociedade, são casos de estupros,escravização sexual, violência física epsicologia, degradação da moral dentreoutros crimes que atacam a humanidadedas mulheres, como é o caso do recenteProjeto de Lei nº 5069/2013de autoria doDeputado Eduardo Cunha que foiaprovado na Comissão de Constituição eJustiça (CCJ) da Câmara dos Deputadosesse ano, que busca criminalizar aindamais a mulher e impedir que ela possadecidir sobre o próprio corpo, quando emsituações de risco de gravidez indesejada.

Diante disso, como as mulherespodem enfrentar a opressão vivenciadaao longo da história humana? Partimosdo pressuposto que essa opressão só serásuperada com uma transformação socialque elimine a propriedade privada, aexploração do ser humano pelo serhumano e todas as formas de opressão– base da sociedade dividida em classessociais. Contudo, isso não significa quenão há possibilidade de tecer lutasimediatas com horizonte de uma radicaltransformação social. Desse modo, é defundamental importância que tenhamoscomo objetivo a realização de trabalhode base nos bairros de periferia, nasescolas, nos locais de trabalho queintencione politizar homens e mulherespara desencadearem lutas contra aopressão, tendo por foco adesnaturalização da violência vivenciadacotidianamente pelo gênero feminino. 

Partindo desse entendimento, oEspaço Socialista em Maceió (AL) iniciouum processo de politização de

adolescentes e jovens mulheres nasescolas da periferia. A identificação dasadolescente com o tema: Violência contra amulher, ocorreu desde a primeira discussão,isto acontece por que essa forma deopressão é mais sentida nas classesoprimidas. A mulheres jovens da periferiasentem na pele diariamente esta opressão,seja ela no tratamento dado pelos colegasna escolas (de inferiorização eobjetificação), pela distinção feita pelafamília entre filhos de sexo masculino efeminino, na responsabilização da gravideznão planejada, na culpabilização da mulherpela violência sofrida ou mesmo nomomento em que procuram o primeiroemprego sempre mais precarizado emrelação ao homem.

Devemos lutar diariamente contratodas as formas de opressão e, para isso,temos como tarefas:

Desconstruir a subordinação dogênero feminino em relação ao gêneromasculino; 

Identificar a opressão contra amulher como própria das relaçõeseconômicas, políticas e sociais; 

Nos organizarmos politicamentepara o enfrentamento da opressão einferiorização do gênero feminino.

NOTAS:(1) A monogamia é um tipo de

organização familiar que historicamentesempre limitou as relações sexuais dasmulheres a um único parceiro como formade garantir herdeiros legítimos parapropriedade privada. Mas com relação aoshomens este tipo de organização familiar émais flexível, sendo socialmente aceito ohomem ter várias parceiras.

A REORGANIZAÇÃO ESCOLAR - “QUE EU ME

ORGANIZANDO POSSO DESORGANIZAR”

CONTEXTOEm 24 de outubro o Secretário de

Educação do Estado de São Paulo,Herman Voodwald, apresentou o projetode Reorganização Escolar que pretendeo fechar 94 escolas e alterar nofuncionamento em outras. A redeapresenta hoje 5.108 escolas, das quais1.443 são de ciclo único(1), outras 3.186mantêm dois ciclos e 479 escolas têmtrês ciclos. Entre as escolas que atendemmais de um ciclo de ensino, 754 passarãoa funcionar em segmento único.

As justificativas para a mudança sãoo aumento no desempenho escolar, ouso de salas ociosas em centenas deunidades em decorrência damunicipalização e a redução demográficaao longo dos anos de 2000 a 2015 –queda no número de alunos de 5,5milhões para 3,8 milhões. Destes 94prédios vazios, 66 serão disponibilizadospara os municípios realocarem creches eescolas de Ensino Infantil. As outras 28possivelmente irão prestar outros serviçosde Educação, por exemplo, Etecs. Porém,é preciso considerar que, ao separaralunos por ciclos, priva-se o contato dos

mais jovens aprenderem com os maisvelhos e os mais velhos aprenderem comos mais jovens, comum nodesenvolvimento socio-histórico.

A utilização das salas ociosas e aredução demográfica na rede aparentauma preocupação real do governo emmelhorar os espaços públicos, porém ao

“O Estado veio quente, nóis já táfervendoQuer desafiar? Não tô entendendoMexeu com estudante, vocês vão sairperdendo”MC Foice e Martelo. Escola de Luta, 2015.

Page 10: ESPAÇOSOCIALISTAespacosocialista.org/portal/wp-content/uploads/2015/12/jornal-85.pdf · “esquerda”, os setores menos conservadores como o PT aplicam também a agenda dos patrões

10

adentrar nas escolas, verifica-se que assalas estão superlotadas (cerca de 45alunos por sala) e outras vazias. Muitasvezes pela falta de verba repassada àescola para criação de um espaçopedagógico, como o intencionalsucateamento da educação públicaacessada pelos filhos da classetrabalhadora, para que a contradição declasse perdure na sociedade capitalista.

Em relação à designação dos prédiospara criação de Etecs a dúvida recai, poiso gasto com alunos, professores einfraestrutura para tal sobrepõe-se aogasto regular das unidades existentes.Quanto às creches e ao ensino infantil,a proposta parece estar relacionada a doispontos do Plano Estadual da Educação(PNE): a transferência do Ensino Infantilpara os municípios até 2017 e areformulação do Ensino Médio para umsistema em que os estudantes possamescolher as matérias que estudarão. Adiminuição da rede proporcionará ainserção das escolas de Programa deTempo Integral, financiadas também pelainciativa privada.

Além disso, a especialidade dasescolas pode parecer um benefício, maspara famílias que têm filhos em trêsciclos as consequências serão enormes.É comum as (os) responsáveisaproveitarem qualquer intervalo notrabalho para buscar e levar os filhos,que estudam em ciclos e períodosdiferentes, na mesma escola. Com areorganização, será necessário percorrerduas ou mais escolas.

Cerca de 310 mil estudantes (10%da rede) serão afetados com a mudança epodem vir a estudar até 1,5 km longe desua moradia. Nos casos de ausência dociclo, na região onde mora, necessitará sedeslocar mais 1,5 km até a escola. Assimse rompe o vínculo local e pessoal doaluno, desconsiderando a continuidadedos projetos pedagógicos e desprezandoa valorização local, histórica e identitáriado aluno e dos bairros. Além disso, asfamílias ainda terão de ampliar os gastoscom Educação, pois o gasto com otransporte deverá entrar no orçamento.

Um importante destaque desteprojeto é o fechamento do períodonoturno que atinge o Ensino de Jovense Adultos (EJA) o qual compromete osalunos que trabalham durante o dia e terãode se direcionar as poucas escolas emque haverá aulas a noite.

Para os professores que jáacumulam inúmerasdificuldades noacompanhamento individual doaluno e precarização de seuserviço, terão de lidar com o aconsequente superlotação dassalas de aula. Tudo isso semcontar que cerca de 40 milprofessores e milhares defuncionários ficarãodesempregados com fechamento dasescolas e o encerramento das 3.000 salasde aula.

A política adotada assemelha-se aversão aplicada em 1995 na gestão deMário Covas e, após seu falecimento,Alckmin, no qual Rose Neubauersecretária da educação forçou amunicipalização do Ensino FundamentalI, que fechou 150 escolas, impactando3.600 unidades, e a introdução da“aprovação automática”.

Se o governador se preocupassecom a qualidade do ensino, investiria nosprofissionais da Educação, resolveria osproblemas estruturais das escolas,quanto às condições de trabalho e àaprendizagem dos alunos, a partir de umagestão escolar democrática.

REAIS INTENÇÕESA Reorganização Escolar e as

mudanças ocorridas na Educação nesteano, como o corte no FIES, redução dasverbas para pesquisas nas universidadespúbicas, são alguns dos reflexos dapolítica de ajuste fiscal; horizonte a seralcançado nos âmbitos federal, estaduale municipal.

A fim de adaptar a vida da classetrabalhadora às necessidades do capital,o ajuste fiscal pretende elevar o lucrodos empresários e repassar parte dasverbas arrecadadas para o pagamento dadívida pública, em detrimento das poucasconquistas históricas da classetrabalhadora, desde direitos trabalhistasaté serviços básicos de atendimento.

O MOVIMENTODiversas comunidades escolares

insatisfeitas com a falta de diálogo dasecretaria da educação realizarampasseatas e buscaram o diálogo com asdirigentes de ensino em sua região. Apósas tentativas, na segunda-feira (9/11), osalunos da E.E. Diadema ocuparam aescola como protesto. No dia seguinte,os alunos da E. E. Fernão Dias Paes, na

Zona Oeste de SP, também ocuparam aescola.

O movimento inspirou as lutas emoutras escolas. Só na primeira semana,pelo menos 15 unidades em São Paulo eGrande São Paulo já estavam ocupadas.Com o pedido de reintegração de possepor parte do governador, a negativa porparte do Tribunal de Justiça e aincapacidade de conciliação entregoverno e alunos, o movimento seampliou, atingindo diversas cidadestambém no interior.

Em três semanas a ocupação deescolas atingiu cerca de 200 unidades,com a participação da comunidadeescolar, dos movimentos sociais e dasentidades políticas que se juntaram aosalunos, com apoio material e pessoal(vigília em frente à escola, atividadesculturais, auxílio de advogados etc.).

A truculência de Geraldo Alckminse expressou no decorrer das semanas,com as “ameaças” feitas nas escolasocupadas, agressões a docentes, bombaslançadas durante a madrugada, além dafalta de diálogo. Na quinta-feira (19/11),o secretário da educação propôssuspender (10 dias) a reorganização seos alunos desocupassem as escolas. Pormeio de uma manobra midiática, a Folhade S. Paulo induziu que a reorganizaçãoestaria suspensa.

Na segunda-feira (23/11) Alckmin,tentando assegurar a integridade doSARESP, foi derrotado novamente naJustiça ao ver negada a reintegração deposse das escolas ocupadas. Emcompensação, parece ter acordado coma UMES a ocupação parcial das escolas,para manter as aulas aos estudantes epossibilitando pequenas alterações nosplanos inicias da Reorganização Escolar,sem recuar acerca das unidades fechadas.

O cenário ainda em movimentoaponta caminhos problemáticos, tantopelo descaso do governo que tentaconfundir os rumos da luta, como, e

Page 11: ESPAÇOSOCIALISTAespacosocialista.org/portal/wp-content/uploads/2015/12/jornal-85.pdf · “esquerda”, os setores menos conservadores como o PT aplicam também a agenda dos patrões

11

principalmente, o papel da UMES que,como entidade estudantil, decide osrumos da luta, mas se acovarda frenteao governo estadual, pois aplica a políticado governo federal. A UMES seamedronta frente à possível crítica daEducação atingir o governo federal,responsável pelo pagamento da dívidapública e o corte de verbas públicas, aoinvés, de avançar na luta por umaEducação digna da classe trabalhadora.

As manifestações e ocupações pelacidade merecem o apoio da sociedade.Apenas se educando na lutaconseguiremos atingir uma sociedadeigualitária, socialista e que ofereça uma

O Desgaste de Dilma, a derrota docandidato a presidente Scioli naArgentina (aliado de Cristina Kirchner),a vitória da oposição de direita naseleições municipais no Equador no anopassado, a provável derrota doscandidatos apoiados por Maduro naVenezuela sugere que os governos“nacionalistas burgueses” da AméricaLatina perderam apoio popular, entramem crise e a oposição de direita avança.

Como parte desse avanço, a mídia eos setores de direita têm procuradodesgastar não só esses governos, mastambém o socialismo e a revolução, comose as ações desses governos tivessemalguma coisa a ver com as ideias deesquerda.

De maneira sagaz, esse setor dedireita se apoia na retórica dessesgovernos que, procurando se legitimarperante o movimento e os trabalhadores,se intitulavam como de esquerda e, nocaso de Hugo Chávez, até comosocialistas. Nada mais distante da realidade.

Os modelos econômicos aplicadospor esses governos, ainda que comalgumas pequenas medidas e programassociais, são na sua essência projetosburgueses. O papel cumprido por essesgovernos é de gestão do capital, sendoque em muitos casos “ como osgovernos petistas “ é de continuidadedo modelo neoliberal.

Em suma: são gestões que têmcomo base a exploração da classetrabalhadora e, para mostrar aoscapitalistas que eram eficientes,desferiram muitos ataques aos direitos

da classe trabalhadora.Quando alimentados pelo

dinheiro que entrava pelasexportações de commoditiesconseguiram implementaralguns programas sociais que davamares populares a esses governos, masforam as exportações diminuírem (e odinheiro também) para haver o apertosobre os direitos trabalhistas e sociaispara garantir a lucratividade do capital.Essa é a base da causa da crise políticaque esses governos atravessam.

A crise é profunda e a direita seaproveita disso para fazer crescer aoposição a esses governos no interiorda própria classe trabalhadora e avançarpara a ruptura em amplos setorespopulares.

É preciso desmascarar essediscurso que só serve para enganar ostrabalhadores sobre os verdadeirosresponsáveis pela crise e pelascondições de vida da população, que éo próprio capitalismo.

A DESLEGITIMAÇÃO DONEOLIBERALISMO

Nos anos 1990, a América Latinasofreu um intenso processo de confiscode recursos naturais (minério, petróleoe até mesmo a imprescindível água), deempresas estatais praticamente doadas a“investidores” (as privatizações, muitascom dinheiro público emprestado a jurosabaixo do mercado), retirada de direitos(reformas sistemas previdenciários, entreoutros), desregulamentação favorecendoo fluxo do capital financeiro, enfim,

transformações que impuseram umperíodo de ofensiva sobre os direitoshistóricos dos trabalhadores.

Era o apogeu do neoliberalismo quepermitiu aos capitalistas um salto naacumulação de capital e elevação das taxasde lucros. Há a deterioração das condiçõesde vida da classe trabalhadora e impõe-se o “Estado mínimo”, retirada do Estadona gestão de vários serviços públicos (porvia das privatizações) e quando continuana gestão é sob a forma precarizada comoEducação, Saúde etc. Já para os burguesesse instaurou o “Estado máximo”, comempréstimos, concessão de serviços, dainfraestrutura etc.

Em resposta a essa situação, noinício dos anos 2000, ocorrerammobilizações em vários países daAmérica Latina envolvendo milhares detrabalhadores e abrindo um novo períododa luta de classes, com a classetrabalhadora se colando em oposição aoneoliberalismo.

CHAVISMO, BOLIVARIANISMO, NACIONALISMO BURGUÊS:NÃO SÃO SOCIALISTAS

Educação que priorize as capacidadesindividuais.

BANDEIRAS DE LUTAPela gestão democrática nas

ocupações e que a comunidade escolarimpulsione a luta autônoma dos alunosrumo à ampliação das demandaseducacionais, sem acordos parciais!

Pela formação de fóruns entre osestudantes secundaristas para formaçãode uma luta mais ampla.

Pelo fim da Reorganização Escolar,SARESP e todo sistema pedagógicoimplementado pela gestão PSDB nasúltimas décadas.

Por escolas de qualidade, com maisprofessores, melhor remunerados,escolas com boa infraestrutura física,menos alunos por turma, autonomia noprojeto pedagógico e uma Educação quevalorize as potencialidades individuais.

Pelo apoio dos demais setorestrabalhistas e unificação das lutas, embusca de uma greve geral e umasociedade socialista.

NOTASO Ensino brasileiro é dividido em trêsciclos, sendo eles: Infantil (1º ao 5ºano),Fundamental (6º ao 9º ano) e Médio (1ºao 3ºano).

Page 12: ESPAÇOSOCIALISTAespacosocialista.org/portal/wp-content/uploads/2015/12/jornal-85.pdf · “esquerda”, os setores menos conservadores como o PT aplicam também a agenda dos patrões

Foi como parte desse processo queos setores que se opuseram a essasreformas se fortaleceram e ganharam aseleições em vários países do continente“ Hugo Chavez na Venezuela, Kirchenerna Argentina, Fernando Lugo no Paraguai,Lula no Brasil, Rafael Correa no Equadore Morales na Bolívia. Na Venezuelahouve muita tensão, principalmente peladisputa pelo controle da PDVSA(petroleira estatal) que representa sozinhamais de 95% de tudo que o Estadovenezuelano exporta.

AS ILUSÕESMuitos trabalhadores e até

organizações de esquerda depositaramconfiança nos governos em tomarmedidas de ruptura com o capital. Ledoengano. Nenhum deles apresentoumedidas que colocavam o capital em risco.

Outros alegam que os programassociais representam um grande avançoe, portanto, o caráter progressista e deesquerda desses governos. Claro que nãosomos contra esses programas (que emmuitos casos representa o único meiode muitas família se alimentarem), masisso ainda não é suficiente para trataresses governos como de esquerda ousocialistas.

O custo com esses programassociais é ínfimo (no Brasil representamsomente 0,5% do PIB) e não oferecenenhum risco a rentabilidade do capital.Pelo contrário, ao chantagear milhões depobres, impediu-se as revoltas sociais nocontinente.

Programas como o acesso àuniversidade, moradias populares eoutros programas também nãorepresentou nenhuma rupturaprincipalmente pelo fato de que muitosdeles se amparava na transferência deverbas públicas para a iniciativa privada.

Vale ressaltar que essas medidasforam financiadas pela entrada derecursos advindos da venda decommodities (petróleo, minério, produtosagrícolas) “ que estavam com preço alto“ no mercado mundial. Com os primeirossinais de queda desses preços, a maioriadesses programas ou foi extinto ou sofreuforte redução. Economias como avenezuelana e a equatoriana entraram emgrave crise quando houve o declínio dopreço do petróleo no mercado mundial.

Lula e Dilma, Cristina Kirchner,Hugo Chavez e Maduro, Rafael Correa,nenhum deles em momento algum

rompeu com as “suas” burguesias ou como imperialismo. O Chavismo naVenezuela continuou vendendo petróleopara os Estados Unidos, Lula invadiu oHaiti e fez o jogo sujo em nome dasuperpotência e Cristina continuou aalimentar os banqueiros com opagamento da dívida. Gritaram de umjeito e fizeram de outro.

Por isso esses governos nãosocialistas. Mas, o que são então?

MAS ANTES...Para dizer que não são socialistas, é

preciso então saber o que é o socialismo.Quando falamos em socialismo, a

direita quer logo associá-lo a governoscomo o petismo, o chavismo ou aoregime coreano. Isso é falso.

O socialismo é antes de tudo umsistema social em que aquilo que éproduzido atende as necessidades dacoletividade, de toda a sociedade. Issosignifica que há um planejamento geralna sociedade, no qual os trabalhadores(organizados em conselhos eleitos pelabase) discutem e decidem o que e comoproduzir. Se a necessidade é trator paraproduzir mais alimentos serãoproduzidos tratores; se moradias serãoproduzidas casas; se é para melhorar aEducação, serão construídas escolas eserá garantida a formação de professorase professores.

Porém, para chegar a isso, seránecessário destruir a propriedadeprivada, colocando esses meios deprodução sob controle dos trabalhadorespara que se possa produzir o que a classetrabalhadora decidir.

Mas, como sabemos, a burguesia, quepara existir precisa de trabalhador para serexplorado, não vai deixar de lucrar eaceitar essas mudanças. Por isso, anecessidade da revolução socialista emque as trabalhadoras e os trabalhadoresse organizem e assumam o controle dessesmeios de produção, por meio de conselhosdemocráticos e revolucionários.

Enfim, socialismo é uma etapa dahistória em que a humanidade vaicomeçar a acabar com as classes sociaise com todas as formas de exploração.

Isso é, em linhas gerais e de formasucinta, o socialismo.

ESSES GOVERNOS SÃO O QUE?Como se vê, um governo socialista

e de esquerda teria um programa deruptura com os capitalistas e adotaria

medidas contra a burguesia.Definitivamente esses governos não sãosocialistas.

Essas são características degovernos burgueses, tanto pelo modeloeconômico pró-capitalistas que aplicam,como pela repressão exercida sobre ostrabalhadores e é também mais umexemplo da falência da ideia de mudançasocial por dentro do Estado, detransformações “lentas e graduais”. Alémde estar ultrapassada a tese reformista, aprópria burguesia não aceitariapacificamente que seus privilégiosfossem alterados.

MAIS UMA VEZ, A FALTA DEALTERNATIVA...

Como as condições que permitiramadotar alguns programas sociais nãoexiste mais (queda do preço e dademanda das commodities no mercadomundial), o que presenciamos é a pioradas condições econômicas e sociais. Odesemprego e inflação no Brasil, a faltade alimentos e inflação na Venezuela, acrise econômica na Argentina, faz comque esses governos entrem em crise eabram espaço para a direita.

No plano político esse processoabriu caminho para a direita, como épossível perceber a eleição do candidatoda direita Macri na Argentina, a oposiçãode direita favorita nas eleições legislativasvenezuelanas de dezembro e no Brasiltudo aponta para o fim do “ciclo PT”.

Por fim, mas não menosimportante, a nossa oposição a essesgovernos é pela esquerda, ou seja, nãonos aliamos nem apoiamos as diversasoposições de direita. Lutamos pelaconstrução de uma alternativa socialistaque possa nos oferecer um projetoindependente, classista, socialista ebaseada na organização dos trabalhadores.Esta é a condição para superar essessetores que tentam se passar poresquerda, mas que na verdade são, comojá dissemos acima, projetos burgueses ede manutenção da ordem do capital.

CONTATOSwww.espacosocialista.org

[email protected]/espacosocialista1

Jornal editado mensalmente sob responsabilidadeda coordenação nacional do Espaço Socialista.Os textos assinados não necessariamenteexpressam a opinião da organização.