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ESPAÇO SOCIALISTA Organização Marxista Revolucionária N° 90 Junho de 2016 Contribuição: R$ 2,00 DECLARAÇÃO POLÍTICA DE ESPAÇO SOCIALISTA E MOS (MOVIMENTO DE OPOSIÇÃO SOCIALISTA) MOVIMENTO ECOLÓGICO E CAPITAL FORMAÇÃO LUTAR CONTRA TEMER SEM DEFENDER O “VOLTA, DILMACONJUNTURA CONTRA A LEI DA MORDAÇA: PELO DIREITO DE ENSINAR CRITICAMENTE EDUCAÇÃO AMÉRICA LATINA: A VOLTA À NORNALIDADENEOLIBERAL INTERNACIONAL GREVE GERAL PARA ENFRENTAR OS ATAQUES DO GOVERNO TEMER CONJUNTURA

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ESPAÇO SOCIALISTAOrganização Marxista RevolucionáriaN° 90 Junho de 2016

Contribuição: R$ 2,00

DECLARAÇÃO POLÍTICA DE ESPAÇO SOCIALISTA EMOS (MOVIMENTO DE OPOSIÇÃO SOCIALISTA)

MOVIMENTO ECOLÓGICO E CAPITAL

FORMAÇÃO

LUTAR CONTRA TEMER SEM DEFENDER O“VOLTA, DILMA”

CONJUNTURA

CONTRA A LEI DA MORDAÇA: PELO DIREITO

DE ENSINAR CRITICAMENTE

EDUCAÇÃO

AMÉRICA LATINA: A VOLTA À“NORNALIDADE” NEOLIBERAL

INTERNACIONAL

GREVE GERAL PARA

ENFRENTAR OS ATAQUES DO

GOVERNO TEMER

CONJUNTURA

DECLARAÇÃO POLÍTICA ENTRE ESPAÇO SOCIAISTA

E MOS (MOVIMENTO DE ORGANIZAÇÃO SOCIALISTA)

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Desde julho de 2015, o EspaçoSocialista e o Movimento de OrganizaçãoSocialista (MOS) iniciaram um processode discussão e intervenção conjunta parauma maior aproximação entre as duasorganizações.

Esse processo de aproximação quevem se aprofundando revela anecessidade da unidade de lutadores elutadoras pela revolução. Após umaruptura com o PSTU, em 1998, o EspaçoSocialista é fundado. O ano passado,retomado o contato com o MOS,formado em 2012, também composto demilitantes que romperam com o PSTU ecom outros agrupamentos da esquerdainstitucionalizada não governamental, ocenário de lutas e de ataques à classetrabalhadora nos colocou esse desafio.

Com a perspectiva de fusão dasduas organizações estamos construindo,desde então, discussões, elaboraçõesconjuntas, organismos comuns, materiaisassinados pelas duas organizações (faixas,panfletos, jornais) e a intervenção práticana realidade.

Com isso, buscamos em 2017, no anodo centésimo aniversário da RevoluçãoRussa, reafirmar essa fusão a partir dacomprovação na realidade da importânciae da necessidade da unidade na lutaanticapitalista, antigovernista e socialista.

Dentro de uma compreensãomarxista da realidade, as duasorganizações apontam que a saída para aclasse trabalhadora no Brasil e no mundopassa pela estratégia da revolução, frenteà crise estrutural do capital mundializadoe contra sua barbárie crescente.

Criticamos as saídas e o viésburocrático-eleitoral que têm norteadoa esquerda institucionalizada nãogovernamental. Ainda que sejanecessário ocupar espaços legais,entendemos que não faz sentido se nãofor para procurar impulsionar as lutas econtribuir para a construção dos setoresmais explorados do proletariado e daclasse trabalhadora.

Acreditamos na necessidade urgenteda formação de organismos de frenteúnica e de luta direta desses setores,portanto, toda organização que tem comoestratégia a saída revolucionária para opaís precisa ter uma política de combate/

desmascaramento do Estado burguês desuas instituições, de seu regimedemocrático burguês e de seu modo devida destrutivo e explorador.

Por acreditarmos que a libertaçãodos trabalhadores será obra dos própriostrabalhadores, as duas organizaçõesapostam no resgate do verdadeirocentralismo democrático e não dessadeformação que vigora na maior partedas organizações que se reivindicamcomo revolucionárias.

Insistiremos na construção e nofortalecimento da democracia operárianão contaminada por uma estruturafrouxa ou uma federação de tendências,própria de agrupamentos que têm comoestratégia a disputa das eleiçõesburguesas e dos aparatos sindicais.

O centralismo democráticoreivindicado pelas duas organizaçõesbusca retomar o que existiu no partidobolchevique, até os primeiros anos daRevolução de 1917, com amplo debatee publicidade de ideias e posições.

O debate interno nas organizaçõesmarxistas é um debate da própria classetrabalhadora, que apresenta em seu seiodiversas divergências. Publicizá-lo écombater, dessa forma, a estrutura de seitade grande parte da esquerda, fechada emdogmas e “verdades revolucionárias”. Ebusca contribuir na formação e no avançoda consciência da classe operária e dosdemais explorados e oprimidos.

O entendimento das duasorganizações é que com o resgate doverdadeiro centralismo democráticoreforçaremos a intervenção conjunta quese contrapõe a infinidade de rachasexistentes na esquerda, o que possibilitaráo fortalecimento de uma atuaçãoindependente das amarras do Estadocontra os inimigos da classe trabalhadora.

Embora reconheçamos a importânciados processos revolucionários socialistasdo século XX e parte de seu legado, étambém compreensão comum entre asduas organizações não reivindicar“modelos” como Cuba, Coréia do Norte,os antigos estados do Leste Europeu,China e ex-URSS, assim como o chamado“Socialismo do Século XXI” de HugoChávez-Nicolas Maduro, Rafael Corrêa,Evo Morales e Daniel Ortega, pois,

buscamos construir uma intervençãocomum na luta de classes calcada naindependência de classe e na estratégiada Revolução Socialista.

Não reivindicar por completo os“modelos” acima citados não significadesprezar o internacionalismo. É umatarefa de toda organização revolucionáriabuscar relações com a luta dostrabalhadores de todo o mundo econstruir efetivamente os laçosinternacionais da classe, ainda que hajauma série de motivos que levem adispersão da esquerda revolucionária.

Reafirmamos que temos comomarco para nossa atuação os embates daclasse trabalhadora, a democracia operáriae o internacionalismo, ainda que na atualdispersão da esquerda revolucionária,não tenhamos relações com nenhumagrupamento internacional.

Para evitar qualquer tipo decooptação do Estado capitalista, de seusregimes, das burocracias parlamentarese sindicais que atuam em seu interior asduas organizações defendem que suasfinanças estejam totalmente desatreladase independentes do Estado burguês ede qualquer organismo de frente únicade massas.

Frente a uma conjuntura defensivae de muitos ataques à classe trabalhadora,de crise da consciência socialista comretrocesso na consciência das camadasexploradas, produto de seguidosprocessos de restauração capitalista (naex-URSS, Leste Europeu, Cuba e China,“Socialismo do Século XXI”, olulopetismo no Brasil, Syriza na Grécia,etc.), o combate à fragmentação daesquerda que tem a estratégia daRevolução, passa a ser decisivo.

A dispersão, em centenas deagrupamentos no Brasil e milhares nomundo, da esquerda que tem comoestratégia a revolução, nos faz presas fáceispara o Capital e seus agentes e torna-seum impeditivo para nos tornar referêncianos processos de luta e resistência daclasse trabalhadora, desperdiçando asoportunidades de avançar a luta.

A realidade de exploração do capitalque a cada dia reafirma sua barbárie temexigido de lutadores e lutadoras a unidadepara o fortalecimento da classe que a

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Temer assumiu o lugar de Dilma em12 de maio, resultado da pressão demanifestações multitudinárias – desdemarço de 2015 – pelo afastamento dapetista e de uma crise política profunda.As manifestações pela permanência deDilma, apesar de significativas, nãoconseguiram impedir sua queda.

No entanto, esse arranjo burguês, defato, contou com o apoio majoritário desetores da classe dominante, como agrande indústria (FIESP, por exemplo),os banqueiros, o agronegócio e os setoreschamados da “lumpem burguesia”(mercado da fé, mercado da bala).Também juntou as representaçõesparlamentares correlatas (PSDB, PMDB,DEM, PSB).

Porém, mesmo com esse amploapoio, Temer não conseguiu a mesmaunidade burguesa de 1992/94, como foicom Itamar e que levou ao Plano Real,adequando o Brasil à economiamundializada e suas demandas privatistase de ataques à força de trabalho.

Tampouco, Temer, conseguiu aunanimidade de apoio por parte dosgovernos da burguesia internacional.Muito pelo contrário: países comoUruguai, Rússia, China, Venezuela, ElSalvador, Cuba, entre outros nãoreconheceram o novo governo brasileiro.

O petismo conseguiu, no exterior,relativo sucesso na divulgação da ideiade que se tratava de um Golpe deEstado, semelhante ao que ocorreu noBrasil em 1964. E resgatou para essapropaganda a lembrança dos afastamentosrecentes de Zelaya em Honduras (2009)e Fernando Lugo (2002) no Paraguai.

É um processo ainda em aberto quea depender de vários fatores,principalmente como a classetrabalhadora vai reagir, Temer pode sefortalecer ou até mesmo não resistir pormuito tempo.

O PROJETO PARTICULAR PETISTA DEGOVERNO BURGUÊS

O modelo de gerenciamento doEstado brasileiro, construído no

lulopetismo, procurou se manterobediente aos contratos com a bancainternacional (cumprimento da Lei deResponsabilidade Fiscal e aprovação daReforma da Previdência de 2003), à buscapela construção do chamado superávitprimário e, também, à uma políticaeconômica que garantisse a lucratividadedos demais setores do capital.

Para isso Lula ampliou do crédito edo incentivo à exportação de commodities,tomou como parceiro principal a China.Medidas que foram financiadas peloconstante endividamento, através davenda de título da dívida pública. Foiatravés desses marcos capitalistas, aosquais se adequou e em parceria com essesetor, que o governo petista desenvolveuum projeto particular de poder.

Esse projeto foi construído embase às minúsculas concessões aosprojetos sociais e sem esboçar nenhumapolítica de reformas que pudesse seexpressar de fato em conquistas sociaiscomo a Reforma Agrária ou a soberaniado Estado nacional.

Registre-se que as relações do PTcom o setor de empreiteiras foram sendoconstruídas bem antes da chegada deLula ao poder em 2002: foi assim nossindicatos cutistas, via câmaras tripartites(governo, empresários e sindicatos) econsequentes parceiras; foi assimtambém em prefeituras e governosestaduais, administrados por petistas que,com o fomento de obras, estreitourelações com esse segmento.

Ademais, o petismo, também pordentro do movimento sindical, já tinha se

incorporado aos fundos de pensão e, porconsequência, ao setor financeiro. Comoo próprio Lula cansava de se gabar “emnenhum governo da história do Brasil, osbanqueiros lucraram tanto, como no meu governo”.

O projeto arquitetado por JoséDirceu e Lula, através de recursos doEstado (principalmente do BNDES e dasobras da Petrobrás) fomentou o setor deconstrução civil que, em contrapartida,“financiava” a maioria parlamentar dobloco governista, sedimentando asalianças mais espúrias e fisiológicas compartidos como o PMDB, o PP ou comfiguras de triste passado na históriabrasileira como Maluf, Sarney, entreoutros. Nada diferente de governosburgueses anteriores que sempregovernaram esse país.

Assim, se garantiu a gestão petista:um projeto de governo de longo prazo,em que se mantinham intactas as basesdo Estado burguês brasileiro, com buscade controle, através de pequenasconcessões, das amplas massasbeneficiadas pelos programas sociais.

UMA PEDRA NO CAMINHO PETISTA: ACRISE ECONÔMICA DE 2008

A crise aberta em 2008 nos EUA, acrise “das hipotecas”, chegou à economiaque mais crescia no mundo: a chinesa,chefiada pelo Partido “Comunista” ediretamente atrelado à economiaimperialista estadunidense. A China tevecrescimento reduzido de 12% ao ano parapatamares inferiores a 7% anualmente.Também substituiu as exportações pelaexpansão do seu mercado interno.

Em consequência dessa mudançanos rumos da economia chinesa ascommodities brasileiras foramafetadas. A isso soma-se a fortequeda registrada nos preçosinternacionais (soja, petróleo,minério de ferro e outros produtosdo agronegócio).

Esse modelo de gerenciamentodo capitalismo brasileiro, sob olulopetismo, apresentou sinais clarosde esgotamento (baixos índices de

MICHEL TEMER, UM GOVERNO PARIDO EM MEIO À DIVISÃO

INTERBURGUESA

tudo produz, nada decide e poucousufrui. É urgente transformarmos essarealidade capitalista miserável e queimpõe a dispersão dos que lutam! Esseprocesso de aproximação e provável

fusão entre o Espaço Socialista e oMovimento de Organização Socialistabusca atender essa necessidade ereescrever a história de forma diferente,demostrando que é possível atuar em

outra perspectiva: ao invés da separação,a unidade da esquerda marxista que tema revolução como estratégia. Pelofortalecimento da classe trabalhadora, aunidade revolucionária!!

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crescimento do PIB, queda na produção,etc.) e mostrou que a crise capitalista nãoera uma “marolinha” como afirmou Lula.Era uma crise profunda, na qual omodelo econômico petista ruiu e comele a base de sustentação para o PTgovernar.

Com o aprofundamento da crise e oaumento das dificuldades de o capitalrealizar suas taxas de lucro, as fraçõesburguesas procuraram construir umasaída legal para superar o lulopetismo.O apoio a Aécio na eleição de 2014 (queperdeu a eleição por uma diferença 1,5%dos votos) foi o primeiro movimento deum setor da burguesia brasileira maisvinculado aos imperialismos ianque eeuropeu de chegar ao poder central.

O SEGUNDO GOVERNO DILMA: MAISÀ DIREITA E MAIS CRISE

Dilma, no segundo mandato, foi logoatendendo a banca internacional com anomeação de um nome do mercadofinanceiro (Joaquim Levy do Bradesco)para o Ministério da Fazenda e de outrodo agronegócio que foi Katia Abreu parao Ministério da Agricultura, seaproximando ainda mais dos setores maisconservadores da sociedade brasileira.

Para responder à crise econômica quese aprofundava optou por medidas cadavez mais duras contra os trabalhadores.Editou medidas provisórias de ataque aosdireitos dos trabalhadores, como a 664(retirada de direitos previdenciários) e665 (restrição para concessão de segurodesemprego), no que se convencionouchamar de Ajuste Fiscal. Para piorar oque já era ruim, apoiou a aprovação doprojeto do tucano Serra que retirou daPetrobrás o direito de participaçãomínima de 30% na exploração doscampos de petróleo.

Os cortes no orçamento da saúde,Educação e outros serviços públicos(para pagar a dívida aos agiotas) tambémforam outra constante desse governo.

Também foi neste segundo mandatoque intensificou a criminalização dosprotestos e dos movimentos sociais, coma aprovação da “Lei Antiterrorismo”,buscando se mostrar confiável nosentido de garantir a segurança doscontratos internacionais e dos grandesnegócios como as Olimpíadas de 2016.Enfim, a lista de ataques aos nossosdireitos é grande... Tudo para mostrar ao“deus mercado” como o seu governo éde servidão.

Entretanto, essas medidas foramconsideradas insuficientes pelo mercado(que é controlado pelos banqueirosagiotas, comerciantes, industriais, etc.)que, como sempre, quer mais e exigemais ajustes, mais ataques aos direitosdos trabalhadores e aos parcos programassociais e com maior rapidez.

A saída de Levy do Ministério daFazenda foi a senha para osparlamentares (na condição derepresentantes das diversas frações docapital) passarem a utilizar o argumentode descumprimento da Lei deResponsabilidade Fiscal (as chamadaspedaladas fiscais), imputando crime deresponsabilidade à Dilma, abrindo-seassim o processo de impeachment, emmarço desse ano.

A CONSPIRAÇÃO DAS FRAÇÕESBURGUESAS CHANCELADA PELA MÍDIA

E PELO JUDICIÁRIOCom praticamente todo o Congresso

questionado pelas denúncias decorrupção e um executivo sem poderde articulação, entra em cena outro pilardo regime: o Judiciário. Representante queé dos interesses burgueses passou acoordenar, do ponto de vista legal, ospassos do impeachment.

Várias das medidas (diga-se depassagem, bem seletivas) de Moro na“Operação Lava Jato” eram adotadas bemde acordo com o momento político,contribuindo assim para construir umahisteria coletiva. A condução coercitivade Lula e a divulgação (ilegal) das escutasde suas conversas isolaram ainda mais oPT, o que levou à debandada de váriospartidos da base parlamentar.

O STF entrou na jogada dando, acada passo, legitimação ou mesmocorrigindo os passos do processo deimpeachment. Até mesmo a últimacartada de Dilma, a nomeação de Lulacomo Ministro da Casa Civil, foi barrada.

Paralelamente, o mesmo STF e Moroblindavam figuras como Aécio, Serra eaté Temer (citados várias vezes emdelações premiadas), fundamentais paraa articulação do novo governo, além depessoas chaves para a condução doprocesso de impeachment.

Tudo isso com o apoio dos grandesmeios de comunicação (em particular, aRede Globo).

A histeria coletiva presente nasmanifestações reacionárias dos“coxinhatos” foi baseada em um fascismo

societal, próprio das grandes crisescapitalistas e suas grandes ondas dedesemprego, como observamos nosEUA com o crescimento de Trump.Assim como na Europa, na ondaxenofóbica (contra estrangeiros), contraárabes e refugiados.

Também é o mesmo que levou aopoder a extrema-direita na Áustria e naHungria e ao crescimento eleitoral deMarine de Le Pen, na França.

No caso brasileiro, esse fascismosocietal, tem como alvo os pobres, osbeneficiados pelos limitados programassociais como Bolsa-Família e as regiõesdo país mais abrangidas por essesprogramas como o Nordeste.

A aprovação do impeachment naCâmara foi seguida pelo Senado e Dilmaafastada por até 180 dias para apuração ejulgamento definitivo do processo. Pôs-se fim a mais de 13 anos do PT no poder,pois a possibilidade de reversão éremotíssima.

GOVERNO TEMER: CONTINUAM OSATAQUES SOBRE OS TRABALHADORES

Primeiramente é importante demarcarque o governo Temer é de continuidadede um projeto econômico que até a poucoera coordenado pelo PT. As diferençasentre Temer e Dilma não são suficientespara dizer que se trata de outro projeto.

Temer está dando um ritmo queDilma não estava conseguindo impor. Amaioria das medidas ou foram elaboradasou cogitadas por Dilma. Como não tinhaforça, Temer assume a responsabilidadede aprova-las para que as diversas fraçõesda burguesia brasileira possam retomarsuas taxas de lucro.

Com um ministério composto pordiversos investigados pela “OperaçãoLava-Jato” (quando fechávamos esseartigo, Jucá não completava doze diascomo ministro), o governo Temer temuma duríssima agenda de ataques aostrabalhadores para cumprir: Reforma da

Previdência: Querimpor a idade mínimapara celetistas eaumentar a dos

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funcionários públicos, igualando paramulheres e homens; Fim daaposentadoria especial de professores; Flexibilização das leis trabalhistas:

muda as férias remuneradas e o 13ºsalário; o negociado se sobrepõe à lei(categorias com pouca organização e comsindicatos pelegos perdem direitos quejá estão na lei); PLP 257: congelamento salarial por

no mínimo dois anos, suspensão deconcursos públicos, possibilidade dedemissão com o fim da estabilidade parao funcionalismo (através de avaliação dedesempenho e outros mecanismos). Esseprojeto, mesmo direcionado aofuncionalismo, atinge toda a população(principalmente a mais pobre), pois osserviços públicos seriam ainda maisprecarizados;Mais privatização: há quatro

aeroportos, trechos de rodovias eterminais portuários que, se leiloadosainda no segundo semestre deste ano,como se prevê, podendo arrecadarpróximo de R$ 31 bilhões. Também osCorreios e outras estatais (230 empresasdo setor elétrico, a maior parte pertencenteà Eletrobrás), a Infraero, as companhiasDocas, a Casa da Moeda, a Caixa Seguros,o IRB Brasil, União na BNDESPar (braçodo BNDES), Centrais de Abastecimentode Minas Gerais (Ceasaminas), Companhiade Armazéns e Silos do Estado de MinasGerais (Casemg), Novacap e Terracap)estão na alça de mira do “novo” governo.

MAS, TAMBÉM VAI TER RESISTÊNCIAAs coisas não vão ser fáceis para

Temer. No primeiro embate perdeu:funcionários do Ministério da Culturadecidiram fazer o mesmo que ossecundaristas e ocuparam o MINC, emvários estados, contra sua extinção. Aocupação do MINC ganhou apoio daintelectualidade e de vários artistasrenomados. O governo recuou e decidiurecriar o Ministério.

A juventude,principalmente asecundarista, protagonizaa luta por Educaçãopública de qualidade econtra seu desmonte. Aonda das ocupações deescolas, iniciadas em SãoPaulo em 2015, atingiuGoiás, Rio de Janeiro,Ceará e, agora, Rio Grandedo Sul com mais de 150

escolas. E apesar da repressão quesofrem, seguem lutando!

A recente exoneração de Jucá, tidocomo “homem forte” do governointerino, do Ministério do Planejamentoapós vazarem gravações a respeito do“pacto nacional” para conter a OperaçãoLava Jato, desgasta ainda mais o governoe intensifica a crise política no país.

O momento atual exige muitaunidade dos trabalhadores, pois osataques serão imensos. Diante dessecenário, está colocada a necessidadede uma greve geral para enfrentartodos esses ataques.

Como parte da preparação dessagreve geral, ou como sua antessala, énecessária a organização de uma grevegeral da Educação pública, setor quetem sido vanguarda desde 2015, com asgreves dos professores do Paraná, de SãoPaulo e, agora, no Rio de Janeiro e comas lutas estudantis em curso. A palavrade ordem dos secundaristas paulistas,“Não Vai Ter Corte!”, pode ser oelemento unificador.

A SAÍDA É POR FORA DAINSTITUCIONALIDADE BURGUESAToda crise política coloca

possibilidades de a classe trabalhadora secolocar em luta e com força no processoe avançar a sua consciência socialista. Maspara isso, em certa medida, depende dapolítica das organizações socialistas. Enessa parte, as coisas não andam bem.

De um lado, “antigos/as”governistas só querem a volta de Dilmapara continuar fazendo a mesma coisa.De outro, algumas organizações deesquerda mostram os seus limites, composições que capitulam ao governismoou carregam como saída o parlamento.

A defesa de “Fora, Todos! EleiçõesGerais” joga ilusões de que o problemase resume às pessoas que estão noparlamento e não ao próprio poder do

capital e daburguesia com seutipo de democracia(que funciona sópara os ricos). Ouque novas eleições

resolverão os problemasdo país. Até mesmo setoresda burguesia trabalham com

essa hipótese. É umacarta na manga daclasse dominante,com a qual flertam

setores patronais como a Folha de SãoPaulo.

Outra posição de saída institucionalé a de “constituinte livre e soberana”.Eleição de constituintes, nas condiçõesatuais, é eleger Bolsonaros e Felicianos.E sabemos bem que o processo eleitoralé viciado e comandado pelo grandecapital. Imaginem como seria uma novaConstituição com essa composição: opouco que nos resta de direitos eliberdades democráticas se perderiam.

O significado dessas políticas é,ainda que às vezes sob uma formaradical, a capitulação à democraciaburguesa e a contenção do movimentode massas, relegando a ação direta – fontede nosso poder – a um plano secundário.

Não defendemos a política do “Fora,Temer!” por considerarmos que nestemomento tem um conteúdo de “volta,Dilma”. No entanto, se esses atosganharem a presença dos trabalhadorescontra os cortes passarão a ter um caráterprogressista. Hoje não é assim.

Com a construção e odesenvolvimento das lutas da classetrabalhadora que necessitam prosseguir ese intensificar (devido ao aumento preços,cortes de direitos e dos serviços públicos,além do aumento do desemprego)avançaremos na consciência de que osgovernos burgueses não nos representame nas formas de organização e ação diretade trabalhadores/as, para construção deum poder próprio da classe trabalhadora.

PLENÁRIAS DE BASE: CONSTRUINDOFORMAS UNITÁRIAS E DE BASENão há saída que seja imediata e por

dentro do sistema! É fundamental queos trabalhadores construam a suaalternativa política.

Vemos na construção de plenáriasde base e num encontro nacional deativistas para construir um programacapaz de apontar uma saída para acrise sob a perspectiva dostrabalhadores contra o capital formasnecessárias para organizar a classe a partirda base e de seus problemas reais.

Partimos do pressuposto danecessidade de colocar na ordem do diaa ofensiva socialista, ainda mais nocontexto da crise estrutural do capital,marcado por subtração de direitos,intensificação e precarização do trabalho.Faz-se urgente recolocar na ação daesquerda socialista a luta por umasociedade socialista e pela revolução!

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Em novembro de 2015, o projeto delei Escola Livre, “carinhosamente”apelidado pela categoria docentealagoana de “Lei da Mordaça” – deautoria do deputado Ricardo Nezinho(PMDB) – foi aprovada por unanimidadena Assembleia Legislativa de Alagoas.Entretanto, a PL foi vetada pelogovernador do estado, sob osargumentos dos custos que a leiacarretaria ao governo, como fornecercursos de ética aos profissionaisdocentes e, também, sobre a PL ferir aprópria Constituição Federal, que prevêa liberdade de aprender, ensinar,pesquisar e divulgar o pensamento.

Esse projeto acompanha o movimentopolítico “Escola Sem Partido”, iniciadopelo advogado Miguel Nagib em 2004.Desde então, vários projetos de leisideologicamente convergentes com essaproposta estão para a apreciação noCongresso Nacional: PL 7180/2014 e PL7181/2014, ambos de autoria do deputadoErivelton Santana (PSC/BA); o PL 2731/2015, do deputado Eros Biondini (PTB-MG); o PL 1859/2015, de Izalci Lucas(PSDB/DF) e Givaldo Carimbão (PROS-AL) e outros deputados.

Segundo a nova lei, a categoriadocente está proibida de opinar sobrepolítica, religião e ideologia. Sob o falsoargumento de que é preciso livrar aescola de “ideologia”, e consolidar um“ensino neutro”, o que demonstra ignoraro acúmulo histórico de produçãocientífica da humanidade.

E, ao mesmo tempo, estesparlamentares fingem que o conhecimentonão se trata de uma construção social. Oautor e seus apoiadores pretendem comisso que somente o ideário burguês seja abase da Educação no estado, que existasomente uma verdade e se deva impedirque os professores distorçam essa“verdade”. E esse conceito de verdadedos autores do projeto é em si umaexpressão ideológica da classe dominante.

O projeto coincide com mobilizaçãodo movimento estudantil, sobretudo asmobilizações de secundaristas queexplodem pelo país. Querem não só calaros professores, mas cercear odesenvolvimento de uma consciênciacrítica e o direito de reivindicação dos

estudantes, por meio das mobilizações.Não é sem propósito, pois esse momentoda conjuntura política, em que é aplicadoo ajuste fiscal e os cortes nos direitossociais são gigantescos, resvalam nasescolas públicas e na péssima qualidadede ensino que elas oferecem.

O papel dos educadores passa defomentador dos debates e instigador dosenso crítico, para vulgares reprodutoresdo que nos impõe os livros didáticos.Mas, essa lei não só prejudica o papel daprofissão docente e a liberdade depesquisa, mas interfere diretamente nasociedade. Como se dá isso?

AS OPRESSÕES NO BRASIL E EMALAGOAS

Essa lei busca impedir a discussãode gênero nas escolas (chamada poresses parlamentares de “ideologia degênero”). Seus defensores defendemcoisas absurdas e tapam os ouvidos sobrenotícias de feminicídio, violênciadoméstica, violência sexual e violênciascontra a comunidade LGBT.

Muitos argumentam que estupradorese homicidas são “monstros”, “doentes” eassim tentam anular a responsabilidade dasociedade de tê-los criado. Na verdade,não são. Especialistas da área de psiquiatriaforense são taxativos em dizer queestupradores não são necessariamentecriminosos com problemas psicológicos.É importante ressaltar que, segundo oMapa da Violência, 67,2% dos agressoresde mulheres, onde os atos incluemviolência física, psicológica, sexual,tortura, tráfico humano, entre outras, sãoseus próprios familiares, parceiros e ex-parceiros. Onde essas pessoas aprendemque é certo ou deixam de aprender que éerrado?

No Brasil, os dados da violênciacontra a mulher e LGBTs são alarmantes.Segundo o mesmo “Mapa da Violênciade 2015: Homicídios de mulheres noBrasil”, 50,3% dos homicídios demulheres são cometidos por familiares,onde 33,2% do total de feminicídios foramcometidos por parceiros ou ex-parceirosdas vítimas. Uma mulher é estuprada acada 11 (ONZE) minutos no Brasil. Onúmero de feminicídio contra negrasaumentou em 54% nos últimos dez anos,ainda segundo o Mapa da Violência.

Alagoas é o quarto estado com maishomicídios de mulheres e está sempre àfrente no quesito de assassinatos dehomossexuais e pessoas trans.

O Brasil registra 5 denúncias deviolência contra LGBTs por dia, porémos números reais são muito maiores. Massegundo os defensores da lei, nãoprecisamos falar sobre violências degênero e sexuais nas escolas.

O Brasil é o quarto país mais lentona redução da mortalidade materna,enquanto a criminalização do abortoescanteia as mulheres pobres e daperiferia para procedimento não seguro,e as relega a procedimentos clandestinos(de alto risco de infecções e fatalidades).

O fracasso da implementação dadisciplina de Educação sexual nasescolas amplia os altos índices degravidez na adolescência e naproliferação de doenças sexualmentetransmissíveis. Todos esses pontosperpassam pela discussão de gênero queos parlamentares querem impedir.

Se não precisamos debater comcrianças e adolescentes sobre violênciade gênero e diversidade sexual,estranhamente as primeiras perguntasfeitas pela sociedade quando se sabe decasos de estupro são sobre o que vestiaa vítima, onde andava a vítima, comquem ela andava. Questiona-se a vítimae isenta os agressores de sua real culpa.

Ainda nos deparamos com discursosde ódio, como o propagado por JairBolsonaro, que violência física é ummodo de corrigir os filhos de “condutaserradas”. Ou como proferiu o próprio,que “ter filho gay é falta de porrada”.Ou que se visse dois homens se beijandona rua, iria bater neles!

Enquanto o Estado burguês

A “LEI DA MORDAÇA”: MAIS UM ATAQUE À EDUCAÇÃO E A

CLASSE TRABALHADORA

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Um dos mais dramáticos e evidentessinais da desumanidade do modo deprodução capitalista é o que se denominade “a questão ecológica”. Por essa razão,esse é também um dos temas em que aideologia burguesa mais concentraesforços para evitar que se tomeconsciência da raiz do problema. E écomo auxiliar ideológico da burguesiaque a maior parte do movimentoecológico – mas, evidentemente, nãotodo – surge e se desenvolve.

Como já vimos no Jornal EspaçoSocialista n. 84, não há sociedade humanaque possa se reproduzir sem transformara natureza. A transformação da naturezaé o trabalho e, seus produtos, sãonecessariamente ou meios de produção(ferramentas, máquinas, prédios, estradasetc.) ou meios de subsistência (alimentos,moradia, roupas, remédios etc.). Ahistória da humanidade é, por essa razão,também (portanto, não somente) acrescente transformação da natureza noque necessitamos e, com o passar dotempo, a transformação do Planeta Terraem um ambiente cada vez mais adaptadoàs nossas necessidades.

Pensemos em uma cidade. A cidade,em sua totalidade, é o resultado de umaconstrução realizada pelo trabalho degerações seguidas, ela nada tem denatural. Um parque apenas é um parqueporque os humanos determinaram queassim seja. A cidade é um ambientecriado pelos seres humanos para atenderas necessidades dos seres humanos. Omesmo vale para tudo na nossa história:a produção de energia, a produção deroupas, moradias, meios de transporte,comunicação, comércio etc.Paulatinamente, a humanidade foi sedesenvolvendo e convertendo o planetanaquilo que necessitamos.

Isso é uma característica insuperávelda vida humana. Ser humano significa,necessária e insuperavelmente,transformar a natureza no quenecessitamos. E isso está presente em

todos os momentos da nossahistória. Até mesmo nos seusmomentos mais primitivos. Umatribo ou bando que apenas é capazda coleta ( ver Jornal n.83) promoveuma transformação intensa poronde passa: se alimenta de tudo o queencontra, insetos, animais, ovos depassarinho, frutas maduras ou verdes,raízes e assim sucessivamente. Toda ahistória da humanidade envolve algumatransformação significativa do meioambiente e não há vida humana sem essacaracterística.

Isso não é decorrente de nenhumaescolha de nossa parte, os humanos. Pelocontrário, isso é decorrente da próprianatureza, da qual somos o resultado.Como vimos no Jornal Espaço Socialistan. 84, foi do desenvolvimento da matériainorgânica que surgiu a vida. Foi dodesenvolvimento da vida que surgiu oser humano. Por essa razão estritamentenatural, tal como todos os animais eplantas, nós também apenas podemossobreviver se transformarmos oambiente, se transformamos o planeta.

Sem dúvida, a forma com quetransformamos o planeta é diferente daforma como os outros seres vivos ofazem. Enquanto os outros agem sobreo meio ambiente de forma biológica, nóstransformamos o ambiente pelo trabalhoe, por isso, ao transformamos a naturezatransformamos também a nós própriose, portanto, as nossas relações sociais.Enquanto os animais vivem sempre domesmo modo, nós passamos do modode produção primitivo ao escravismo, aofeudalismo e depois ao capitalismo. Issoé verdade: não transformamos a naturezado mesmo modo que os animais.Contudo, não menos verdadeiro é quenão há vida humana sem constantetransformação da natureza, tal comoocorre com todos os seres vivos. E issoé uma decorrência direta do fato desermos um animal, o Homo sapiens.

ROMANTISMO ECOLÓGICOÉ importante compreendermos esse

fato para podermos, logo de cara,descartar a escola romântica como umaalternativa viável ao problema ecológico.

A escola romântica tem sua origemem um filósofo francês do século 18,então um dos pensadores mais radicaisda burguesia revolucionária: Rousseau.Sua tese central é que os homensnasceram livres e bons e que a vida socialos teria convertido em mesquinhos emaus. Naqueles anos, imaginava-se queno passado os homens tinham uma vidaem comunidade e em harmonia com anatureza, que teria sido uma era deabundância e de felicidade. Depois, associedades teriam degenerado a todos nósna mesquinharia e no individualismo dacivilização. Sua solução era o ContratoSocial (o título de um dos seus livros maisconhecidos): um acordo pelo qual todoscombinariam regras de funcionamento dasociedade de tal modo a recuperar aharmonia e a felicidade do passado.

Depois de Rousseau, um pensadorimportante da escola romântica foi HenryThoureau (1817-1862). Ao seu modo,lutou pela igualdade e era crítico docapitalismo. Defendeu a tese daDesobediência Civil (título de um dosseus livros) em que afirma o direito àdesobediência frente a todo governo quenão represente o povo – um texto queinfluenciou Gandhi e o movimentopacifista dos anos de 1970. Sua propostaera de um retorno à vida junto à naturezae a busca de uma harmonia com a mesmaa partir dos exemplos dados pelos animaise pelas plantas.

A tradição romântica da ecologia tem,até hoje, grandes influências e

MOVIMENTO ECOLÓGICO E CAPITALSÉRGIO LESSA

reacionário busca nos calar e barrarnossas lutas, os casos de violência e deódio continuam aumentando. Ver NotaEspaço Socialista de 29/05/2016 sobrea barbárie do estupro coletivo.

Não nos calaremos! Não à “Leida Mordaça”, não à censura!

Pela liberdade de discussão política,de gênero e religiosa nas escolas.Pela liberdade de ensinar, pesquisar

e aprender!Por mais políticas públicas contra a

violência contra mulheres, comunidadeLGBT e negrxs!

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repercussões no modo como omovimento ecológico em geral trata darelação dos seres humanos com anatureza. Influente exemplo doromantismo ecológico em nossos dias éa Hipótese Gaia, que pressupõe o planetacomo um ser vivo que “responderia” àsnossas “agressões”

ROMANTISMO ECOLÓGICO ÉSEMPRE BURGUÊS

O romantismo ecológico serve,sempre, à burguesia. Por duas razões,fundamentalmente.

A primeira razão está em concebera relação homem/natureza como um“problema ecológico” que causaria um“desequilíbrio ecológico”. O“desequilíbrio” ecológico parte dopressuposto de que haveria um equilíbrionatural, como uma “sabedoria” inerenteà natureza, que “deveria” (o verbo devertem, nessas concepções, um enormepapel, o romantismo ecológico é sempremoralista) ser respeitado e, que, osindivíduos, com seus comportamentosinadequados (ignorância, falta de cultura,individualismo, egoísmo etc.) terminampor destruir. Essa seria a essência do“problema ecológico” e, aqui a segundarazão, sua solução estaria na modificaçãodo comportamento dos indivíduos (pelaEducação, pela ação governamental, pormeio de melhores leis e agentesfiscalizadores mais eficientes etc.) paraque respeitassem o “equilíbrio” e a“sabedoria” naturais.

O conceito teórico de “equilíbrioecológico” se complementa com umaindividualista concepção prática: a origeme a solução do “problema ecológico”estaria no comportamento dos indivíduos

A concepção romântica de um“equilíbrio” dado pela natureza que seriarompido pelo comportamento humano,sempre associada à concepção de que aorigem e a solução do “problemaecológico” estaria na ação do indivíduo,tal concepção serve como uma luva àsnecessidades ideológicas do capital.Fundamental e essencialmente porqueretira do centro do problema a totalidadedo modo de produção e coloca comochave da solução a alteração docomportamento individual no interior doatual modo de produção.

CAPITAL E ECOLOGISMOAs grandes soluções teóricas para

os problemas mais complexos são, muitas

vezes, bastante banais. O“problema ecológico” nãofoge a essa regra: vivemos emum planeta finito, com umvolume finito de recursosnaturais e, portanto, há umlimite dado pela natureza paranossa capacidade detransformar a Terra. Éverdade que odesenvolvimento de novastecnologias e novasdescobertas científicaspossibilitam fazer recuaresses limites; ainda assim, afinitude do planeta evidenciaque nossa capacidade de transformá-loé, também, finita.

Essa finitude tem duasconsequências imediatas.

A primeira: o modo comotransformamos o planeta é uma questãodecisiva para a sobrevivência dahumanidade (se consumirmosperdulariamente as reservas de água ouse continuarmos a poluir o planeta, não épreciso muito para se perceber o quantoestamos criando a possibilidade dedestruirmos a nós mesmos). A segundaconsequência: que, ao transformarmos anatureza, as necessidades e possibilidadesem consideração devem ser aquelas quedizem respeito à sobrevivência dahumanidade no seu todo.

Dessas duas consequências, segueuma conclusão obrigatória: como ocapitalismo se reproduz atendendo tão-somente às necessidades do lucro (damáxima extração da mais-valia, para sermais preciso), se não superarmos ocapitalismo não haverá possibilidades detransformamos a natureza em um modoadequado à sobrevivência dos humanos.A questão decisiva está, não nocomportamento dos indivíduos, mas nomodo de produção em sua totalidade. Aovelar esse fato e falsificar tanto a questão,quanto a solução, o movimento ecológicoem geral (portanto, admitindo-se exceções)acaba auxiliando o capitalismo.

O equívoco decisivo da maior partedo movimento ecológico está na soluçãoque propõe à questão ecológica. Ahipótese de não transformarmos anatureza, ou de recuperarmos seu estágiooriginário, é uma completa inviabilidade,pela razão de que só há vida humana setransformarmos a natureza naquilo queprecisamos. O verdadeiro problema não

está na transformação social da natureza,mas em como precisamos transformar anatureza de modo a não colocar em riscoa sobrevivência da humanidade.

CAPITAL E MEIOS DE PRODUÇÃOA essência de cada modo de

produção está em sua forma depropriedade. Todas as sociedades declasse se baseiam na propriedade privada.O capitalismo não é excessão.

Lembremos o que vimos no JornalEspaço Socialista n. 77: a propriedadeprivada não é o instrumento de usopessoal, como a roupa que se usa ou acasa em que se mora, mas a relação deexploração que faz com que uma parteda sociedade (sempre minoria) viva dariqueza produzida pela outra parte dasociedade. Escravos e senhores deescravos, servos e senhores feudais,proletários e burgueses – na famosapassagem do Manifesto Comunista, deMarx e Engels. Pois bem, no modo deprodução capitalista, esta relação deexploração é o capital e, essa relação deexploração se reproduz sempreampliadamente (o capital, ao explorar otrabalho, acumula a mais-valia e, assim,tem seu valor acrescido, acrescidonovamente e, uma vez mais acrescido e,assim, sucessivamente.)

Como toda propriedade privada, ocapital também estabelece como relaçãobásica entre humanos a concorrência. Nãoapenas aquela que, desde a Babilônia aténossos dias, se expressa na luta de classesentre a classe dominante dos proprietáriosprivados e os trabalhadores mas tambémaquela que ocorre no interior da classedominante. Em nossos dias, o burguêsapenas sobrevive no mercado se for capazde manter seu negócio “rendável”, istoé, se for capaz de retirar de seus

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trabalhadores a quantia de mais-valia quelhe permita vencer a concorrência. Aquestão decisiva não é, portanto, a desobreviver no longo prazo – ao contrário,ele apenas estará no mercado daqui a dezanos se for capaz de sobreviver nopróximo mês ou no próximo semestre.

Por isso, dizia Keynes, não devemosconsiderar o futuro, pois no futuroestaremos todos mortos. Por isso, dizMészáros em Para além do capital, aideologia e a prática da burguesia nãopodem incorporar o futuro: para o capital,apenas o presente importa. Essa é aessência do fato, que Marx discute tãointensamente no Volume I de O capital,de que a natureza tem a função, no modode produção capitalista, de meio deprodução de mais-valia.

Ou seja, os finitos recursos naturaisdo planeta serão transformados levandoem consideração, apenas e tão somente,o maior lucro imediato que se possaproduzir. Se isso leva ao aquecimentoglobal, se destrói as florestas e, com isso,gera uma atmosfera ruim para os sereshumanos; se destrói as reservas de águaou a biodiversidade etc. – esses sãoproblemas que não podem sequer fazerparte das preocupações e das finalidadesda produção. Pois a finalidade daprodução não é atender às necessidadeshumanas, mas obter lucro – algumasvezes, mesmo sem atender a qualquernecessidade humana, como a produçãodas bombas atômicas etc.

Percebam: produzimos comida paramatar a fome, produzimos casas para darabrigo aos humanos, produzimos energiapara atender às necessidades humanaspor calor, luz etc. – mas não o faríamosse essa produção não fosse lucrativa. Emuma famosa passagem de O Capital, Marxcomenta que o modo de produçãocapitalista ampliou e, ao mesmo tempo,reduziu a produção. Ampliou, poisproduz muito mais produtos e em umaquantidade muito maior que no passado;reduz porque, de fato e realmente, seproduz apenas mais-valia, já que tudoque é produzido nada mais é que meiode produção de mais-valia.

Ao a natureza ser reduzida a meiode produção de mais-valia, está dada aessência do problema ecológico:converteremos a natureza na maiorquantidade possível de mais-valia,sendo indiferente se com issoproduziremos ou não um planeta cada

vez mais inóspito para nós próprios. Aessência do problema ecológico é aessência da alienação que brota do capital:produzimos uma riqueza cada vez maiorpela produção de uma humanidadecrescentemente desumana e,simultaneamente e pelos mesmos atos,produzimos uma riqueza cada vez maiorconvertendo o planeta em um lugar cadavez mais inóspito aos humanos.

Em poucas palavras: a desumanidadeda humanidade para consigo própria (asalienações produzidas pelo capital) é aessência do problema ecológico (aqui,sem aspas). A essência do problemaecológico reside na essência do modode produção capitalista e, não, nocomportamento dos indivíduos. Aodestruirmos a nós próprios enquantohumanos, destruímos também ascondições imprescindíveis parasobrevivermos no planeta. A produçãovoltada ao lucro tem a mesmadesumanidade essencial tanto ao produziruma sociedade desumana, quanto aoproduzir um planeta no qual os humanosnão possam viver. São as duas faces damesma moeda.

O problema ecológico não residenos indivíduos – aqui um dos grandesequívocos do romantismo ecológico.Pelo contrário, os indivíduos secomportam dessa forma porque o modode produção assim o exige: mesmo queo burguês e o proletário saibam queestão destruindo o planeta, tenhamconsciência de que estão convertendo oplaneta em algo ruim para os humanos,para sobreviverem como burguês e comoproletários continuam a produzir o queproduzem, do modo como o produzem,por um exigência da totalidade do sistemado capital. Em definitivo, o problema nãoreside no indivíduo, mas na totalidade

do sistema; a solução não está em umnovo comportamento dos indivíduos nointerior do modo de produção capitalista,mas na superação deste último.

SÃO PAULO E A FALTA DE ÁGUAUm bom exemplo, pela sua

atualidade e sua dramaticidade, está nafalta de água nos grandes centrosurbanos. Peguemos o caso de São Paulo.

Segundo dados da própria Sabesp (acompanhia que distribui a água na cidade)mais de 30% da água tratada é perdida emvazamentos e inoperâncias do sistema(evaporação, contaminação com água nãotratada etc.) A, tomemos como exemplo,produção de um carro de passeio (comtoda a cadeia de produção de suas peçase equipamentos) consome ao redor de 25mil litros de água (cerca da metade doconsumo mensal de uma residência médiaem São Paulo) (Jornal O Estado de São Paulode 4 de março de 2016).

Faz-se então o cálculo: o que dariamais lucro? Investir o necessário paradiminuir ou eliminar as perdas de águaou deixar os encanamentos danificados?Alterar as técnicas de produção dos carrospara diminuir o consumo de água oumantê-las? A conclusão também óbvia: oque de fato dá mais lucro é convencer apopulação a consumir menos água de talmodo que seja possível prosseguirproduzindo-se mais-valia tal como seproduz hoje, sem ter que se investir nemnos encanamentos e tratamento da águanem em novas técnicas de produção queeconomizem a água.

É aqui que a concepção romântico-individualista do “problema ecológico”(agora com aspas) auxilia ideologicamenteo sistema do capital: caberia aosindivíduos, por uma consciência superiore uma concepção menos individualista,economizarem água. Ao consumirmosmenos água em nossas casas, por maistempo o sistema do capital poderácontinuar lucrando sem ter que realizaros investimentos na infra-estrutura e emnovas técnicas de produção. E, assim, osistema do capital amplia sua lucratividadeao continuar produzir a mais-valia comos investimentos já realizados.

Espero que esteja ficando claro:economizar água em nossas casas (ou,mais em geral, adotar um comportamentoindivual menos perdulário), sem superaro modo de produção capitalista, é algoque serve à burguesia, não aostrabalhadores. Pois as indústrias (no caso

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AMÉRICA LATINA: A VOLTA À

“NORMALIDADE NEOLIBERAL”Passados 15 anos de governos ditos

“progressistas” ou neopopulistas naAmérica Latina, eis que presenciamos oretorno da chamada “normalidadeneoliberal”.

Vários países de grande influênciaeconômica fizeram parte desse processo:Venezuela com Chávez, Argentina como casal Kirchner, Bolívia com EvoMorales, Equador com Rafael Correa,Chile com Michelle Bachelet, Brasil comLula (e depois Dilma), Paraguai comFernando Lugo, Honduras com Zelayae Nicarágua com Daniel Ortega.

Sobretudo nos inícios de seusmandatos, esses governos eram vistos(cada qual à sua maneira) como supostosagentes de rupturas, alternativos aosgovernos neoliberais. Foram tomados,então, como um contraponto aos governos

de duas décadas anteriores – que tinhamdesferido duríssimos ataques aostrabalhadores e aos funcionários públicos,contribuído para aumentar o desemprego,além de desregulamentar a economia eprivatizar os recursos naturais e empresasestatais (muitas vezes com contratosfraudulentos e extremamente prejudiciaispara suas populações).

Naquele período, o impulso aocrédito fácil e a juros baixos nos EUA ena Europa, o deslocamento de inúmerasempresas para a China, Índia e outraseconomias faziam com que ocrescimento econômico mundial sedesse através de taxas elevadas. A Chinacrescia de forma muito acelerada.

Fosse a partir de rebeliões sociais,ou em prevenção a elas, setores dasburocracias de Estado, ligadas ou não,

ao movimentos sindicais, aliadas comsetores da burguesia interna mais ligadosàs matérias-primas (agronegócio,exportadores de minérios etc.),respaldaram-se em setores de massasque, desgastados com tantos anos deataques neoliberais, vislumbravam apossibilidade de alavancar suas

de São Paulo) continuarão a consumirágua até o final dos reservatórios,independente do que consumirmos emnossos banhos, ou ao lavar nossasroupas. Pela única razão de que isto émais lucrativo: ao consumirmos menos,mais sobra para “eles”. Pois, novamente,os recursos naturais são, para o sistemado capital, apenas meios de produçãode mais-valia e, não, recursos para seremtransformados tendo em vista asnecessidades dos seres humanos.

MORALISMO E MOVIMENOECOLÓGICO

Ao retirar do centro da questão omodo de produção capitalista e ao focartodo o problema ecológico nocomportamento do indivíduo, para amaior parte do movimento ecológico nãoresta senão apelar para a moral. E, aqui,a hipocrisia inerente à burguesia ganhauma intensidade toda especial.

O governo que faz campanhas paraque não lavemos nossas calçadas, paraque economizemos energia, água etc. éo mesmo que defende o capital contra otrabalho, que faz de tudo para manterelevada a lucratividade do grande capital,que esconde as verdadeiras causas dodesastre ecológico. Quer-se promovernos indivíduos uma consciência moralpara que se comportem de modo apreservar a água (de modo mais geral,os recursos naturais) com a única

finalidade de manter a redução danatureza a meio de produção de mais-valia. Postula-se que “preservemos” anatureza para que “eles” possam ter maislucros destruindo a própria natureza quenos recomendam preservar.

Por isso os movimentos ecológicosque não tomam como central a questãoda superação do modo de produçãocapitalista são, sempre, auxiliares docapital – quer seus integrantes tenhamou não consciência desse fato.

Também por isso, o movimentoecológico, em sua enorme maioria, aobuscar soluções no interior do sistema docapital, não pode jamais se voltar contraa atividade mais humana destruidora danatureza: a guerra. Combate-se o abatedas baleias ou o transporte de lixo tóxicodos países imperialistas aos países maispobres – mas não se diz uma palavra sobrea destruição ecológica que são as guerras.

A razão desse silêncio? O complexoindustrial-militar é uma válvula de escapeimportante para o sistema do capital emcrise estrutural para ser questionado.Preservar as baleias ou o peixe-boi, fazerpropaganda da energia eólica (dos ventos)ou solar, promover a agricultura “bio” ou“ecológica”, incentivar a indústriahomeopática contra a alopática, tudo issoé possível. Mas, um pacifismo radical, umradical combate às guerras, nem pensar!Aqui, como em todos os lugares, o

reformismo é aliado do capital.Moralismo, individualismo e

ideologia burguesa: esses são os limitesmais comuns do movimento ecológico.Pela direita ou pela esquerda, semdistinção. A verdadeira questão estácentrada na totalidade do modo deprodução e, a autêntica solução, em suasuperação. Não há aqui (como em todasas questões decisivas para a humanidade)meio-termo: ou se é a favor ou contraas desumanidades do sistema do capital.É impossível um capitalismo de facehumana, tal como é impossível atransformação do planeta para atenderàs necessidades humanas autênticas semsuperarmos o capital.

INDICAÇÕES DE LEITURA:De Marx, os Manuscritos de 1844 é

muitíssimo interessante, em que pese aformulação ainda imatura de váriasquestões (a melhor edição é a daExpressão Popular, a da Boitempo éparticularmente ruim). O Livro I de Ocapital possui muitas passagens sobre aquestão (a edição da Abril Culturalcontinua a melhor em nosso país). Comoexemplo de um texto que propõe asolução da questão ecológica por dentrodo mercado, conferir o artigo de MichaelLöwy na Revista Crítica Marxista n. 28“Ecossocialismo e planejamentodemocrático” (baixar do site da revista).

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condições sociais. Vemos, assim, queforam setores sociais que viam interessescomuns que conduziram, ou apoiaram, aascensão desses governos.

De nossa parte, nunca nutrimosilusões de que os chamados governoschavistas (ou os demais que, de algumamaneira, surgiram em sua esteira) fossemsocialistas ou revolucionários, masgovernos nacionalistas burgueses (no casode seus expoentes mais radicalizados,como na Venezuela, Bolívia e Equador).

Dirigidos por burocracias de Estadoe setores médios da sociedade (e aliadosa setores da burguesia e pequenaburguesia de seus países), essesgovernos nãos se propunham a romper,de fato, com os limites do capitalismo,recusando-se de fato a avançar em umpoder dos trabalhadores e naexpropriação da burguesia.

Devido aos limites colocados pelaprópria organização atual do capitalismomundializado, apontávamos que nãoseria possível sequer manter projetosemancipadores sem a ruptura com 1) ocapitalismo, 2) o mecanismo da dívida e3) a ruptura com o imperialismo, numregime de democracia operária (quenenhum desses governos se propunha).

Hoje é visível que, apesar deescaramuças e enfrentamentos pontuaise parciais desses governos com oimperialismo, não houve uma ruptura, oumesmo redução, da dependênciaestrutural desses países. Consolidou-sea conformação a um papel de fornecedorde matérias-primas e alimentos na divisãointernacional do trabalho, que retoma asua antiga função da época colonial comoprodutores de matérias-primas econsumidores de produtosindustrializados.

O período em que houve o boom dovalor das matérias-primas e alimentos

propiciou as condiçõesobjetivas para essesgovernos realizaremprojetos sociais e políticos(maiores ou menores adepender de cada país) que,mantendo (e atéaumentando) a lucratividadedo empresariado, permitiualguma intervenção doEstado no sentido dedirecionar parte (sempremuito menor que a doempresariado) para os

trabalhadores – particularmente ossetores mais precarizados, como formade mantê-los sob controle.

Esses governos puderam seaproveitar de um contexto, até certoponto excepcional, para realizar algumasreformas que trouxessem avançosdemocráticos mínimos. Mas, ao nãoserem estruturados em uma mudançasocial de fato, agora são passíveis dequestionamento e reversão à medida emque a burguesia busca retomar de formadireta e mais incisiva a gestão do Estado.

VENEZUELA E BOLÍVIA: O MODELOCHAVISTA

O setor mais avançado desse projetofoi, sem dúvida, o chavismo (naVenezuela) que, depois de reaver ocontrole estatal sobre a gigante dopetróleo PDVSA, pôde se apoiar nopreço do barril de petróleo a 120 dólarespara realizar um conjunto de reformas epolíticas sociais na Venezuela queserviram de modelo para outros países.

Na Bolívia, Evo Morales(pressionado pela rebelião dos mineirose demais setores indígenas e populares)avançou para um controle sobre asreservas de gás e uma renegociação doscontratos. No Chile e no Equador abusca se deu por um maior controle dasreservas de cobre.

Já na Argentina e Brasil, os governospuderam se apoiar na agricultura deexportação (agronegócio) e, no caso doBrasil, na exportação de minérios.Empresas privadas conseguiram lucrarmuito mais. Como a economia estava emcrescimento, uma parte ainda que menordos seus lucros podiam ser utilizadas pararealizar programas sociais. Na esteira docrescimento econômico e das políticassociais houve também o avanço demovimentos raciais, de gênero, LGBT eoutros.

Durante esse período houve golpes(como o que retirou Chaves), mas queacabou sendo revertido pela mobilizaçãopopular. No caso de Evo Morales,ocorreram ameaças de greves de policiaise um constante trabalho da mídia para criarcondições para a retirada desses governos(e pelo retorno à normalidade neoliberal).Da mesma forma se deu em todos osdemais países, mesmo que fossemarremedos do chavismo.

O BRASIL DENTRO DISSONo Brasil, o processo se deu de forma

diferente, pois foi um dos países em quemenos enfrentamentos houve com aburguesia. Ao contrário, a eleição de Lulaem 2002 foi bem aceita, uma vez que suavitória era entendida como mal menor,frente a possibilidade de uma rebeliãosocial da qual surgiam sintomas. Alémdisso Lula/PT se comprometiaabertamente com a manutenção daestrutura e os interesses maiores docapital com a Carta ao Povo Brasileiro (naverdade “Carta aos Banqueiros”). Mesmoassim, desde 2005 a burguesia passa acolocar limites para o prosseguimento doprojeto e, então, começam as denúnciassobre o mensalão, em que o PT tempresas todas as suas principais lideranças(José Dirceu, Genoíno, Palocci etc.). É oinício da operação de desgaste, que, alémde enfraquecer o governo petista, cria ascondições para, em algum momento,poder fazer retornar a “normalidadeliberal”.

A CRISE DE 2008: FIM DASCONDIÇÕES MATERIAIS PARA OSGOVERNOS CHAVISTAS E AFINSA partir de 2008, a crise mundial

provoca um choque dos preços dasmatérias-primas, trazendo orecrudescimento da situação nessespaíses. Temos a tentativa de Golpe naBolívia contra Evo Morales pelaburguesia da região da Meia Luna e aGreve das Polícias contra Rafael Correa.Na Argentina uma rebelião decamponeses dirigida pelos grandesfazendeiros contra o governo de CristinaKirchner mostrou a disposição da direitaem realizar movimentos quemobilizassem a classe media como massade manobra da burguesia. O Golpe emHonduras foi justamente o anúncio deque a burguesia visava parar ali omovimento de expansão dessesgovernos de inspiração chavista.

APÓS 2009, A TENDÊNCIA DEDECLÍNIO DAS COMMODITIES SE

MANTÉMA burguesia mundial e os gestores

do capital (os estados nacionais)conseguiram contornar a última grandeeclosão da crise estrutural, que ocorreuem 2008, a partir de uma megaoperaçãode salvação dos bancos, fundos depensões e empresas por parte dosprincipais estados nacionais. Essamegaoperação significou, segundo algunsanalistas, o despejo de mais de 12 trilhõesde dólares, parte importante que foramincorporados às dívidas dos estadosnacionais. Desse modo, responderam compolíticas anticíclicas, conseguindo naquelemomento relançar suas economias.

As tensões seguiram aumentandopois, embora tenha se evitado a completadepressão da economia mundial, ocrescimento econômico não recuperoumais os patamares anteriores e, portanto,houve uma queda no preço das matérias-primas e alimentos, fazendo com que ascondições objetivas dos governoschavistas (e os demais, de conciliação)fossem se esvaindo. Ao mesmo tempo,o aumento da competitividade em nívelinternacional fez com a que soasse osinal que uma ofensiva burguesa rumoao retorno à “normalidade neoliberal”.

AMÉRICA LATINA – QUEDAACENTUADA DO CRESCIMENTO

ECONÔMICOLogo a seguir, ocorre o Golpe

Institucional no Paraguai que derrubouFernando Lugo (2012). Esse processouconseguiu “legitimidade” por meio deeleições fraudulentas para implantarmedidas antioperárias e antipopulares. Apartir de 2013 vemos um acirramentodessas tendências. Os governos da regiãonão conseguem mais sequer manter seusorçamentos e passam a acumular déficitsorçamentários e, portanto, a provocar aruptura do setor que ainda os respaldava(o capital financeiro). No Brasil ocorremos julgamentos do Mensalão em que aslideranças petistas são condenadas.

Os projetos reformistas, de setoresmédios (como a burocracias de Estado edas forças armadas) que visavam aredistribuição de uma parte da rendaexcedente, não alteraram a relação deprodução entre as classes. À parte algumasnacionalizações, a estrutura social declasses e a absurda desigualdadepermaneceram quase as mesmas.

VITÓRIA DE MACRI, DERROTA DE EVOE CRISE DO GOVERNO MADURONesse marco, os últimos

acontecimentos apontam para mudançasna Argentina, em que o candidatoneoliberal “puro sangue” – MauricioMacri – venceu as eleições a já aplicaum duro receituário retrógrado contra ostrabalhadores. No Brasil, vimos forçasde direita e ultradireita se articularem paradepor a presidenta Dilma e avançar naagenda reacionária contra a classetrabalhadora. Na Bolívia, Evo Moralesperdeu o referendo para que pudesse secandidatar novamente e, sem a suaparticipação nas próximas eleições,aumenta-se a possibilidade de que adireita “pura e dura” possa voltar.

Na Venezuela, vemos a crise dogoverno Maduro, que enfrenta um lockoutpatronal e uma campanha golpista damídia, além de uma Assembleia Nacionalem que a oposição de direita é maioria eestá buscando todos os meios paraenfraquecimento, desestabilização edeposição do governo Maduro.

CONTRA QUALQUER GOLPE!NENHUMA DEFESA DE GOVERNOS DECONCILIAÇÃO! POR UMA ALTERNATIVAINDEPENDENTE, REVOLUCIONÁRIA DOS

TRABALHADORES!Isso mostra que esses governos, por

seu caráter de classe pequenoburocrático-burguês, não eram e não sãoprojetos socialistas. Tampouco foramprojetos consequentes de enfrentamentoao capital, pois embora tenham feitoenfrentamentos parciais ou pontuais commaior ou menor alarde, via de regra,seguiram respeitando os principais pilaresda subordinação de suas economias àglobalização capitalista, como ospagamentos de dívidas públicasastronômicas, a manutenção demodelos econômicos pautados nareprimarização das economias (coma não-industrialização ou mesmodesindustrialização), como no casodo Brasil, e a não superação dasdesigualdade real. As políticas

sociais se mostraram limitadas e passíveisde cortes ao menor sinal de crise e, afim e a cabo, a burguesia deteve seupoder econômico (assim como todos ossetores que apoiaram o processo deimpeachment, que não foram presos, nemjulgados). Esses governos tambémmantiveram os meios de comunicação nasmãos da burguesia, que puderam, então,influenciar e fazer de massa de manobragrande parte da população.

Também não houve uma mudançadas instituições políticas que continuaramfuncionando praticamente como antes,permitindo que a burguesia colocasseseus representantes no Congressos.

Mas o maior dano foi no campo daconsciência e referência dostrabalhadores. Como esses setoresburocráticos desses governos secoligaram com setores da burguesiainterna (e até do imperialismo), nãoqueriam e não podiam mobilizar, nempermitir, a livre organização dostrabalhadores sob pena de serem poreles questionados. Contribuíram eprovocaram nítidos retrocessos naconsciência de classe de luta eorganização dos trabalhadores e setorespopulares, de modo que, hoje, afastam-se das lutas políticas ou, em sua maioria,são massa de manobra das oposições dadireita reacionária.

Os setores mais de direita, nessaconjuntura, aproveitam-se do débil quadroda economia (assim como dos casos decorrupção) para voltar ao poder, seja pela“via democrática” (eleições) ou pela viade manobras parlamentares e judiciais ougolpes militares e institucionais.

Diante disso, precisamos batalhar pelareconstrução de uma alternativa socialistae revolucionária, que tenha, de fato, umasustentação nas lutas contra os ataquesda “normalidade neoliberal” e, ao mesmotempo, não deposite qualquer esperançana manutenção, ressurgimento oureciclagem de projetos conciliadores como capital, porque – como cada vez maisse mostra – sempre levam ao crescimentoda direita e extrema direita.

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