escutas telefónicas como meio de obtenção de provatrabalho

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Escutas telefónicas como meio de obtenção de prova As escutas telefónicas estão inseridas na categoria vasta de métodos ocultos de investigação, ou seja, meios e métodos que permitem a recolha de prova sem que quem a fornece perceba que se esta a auto incriminar de forma inconsciente. Este método tem vindo a crescer exponencialmente devido ao aumento da criminalidade organizada e complexa onde os outros meios de obtenção mais tradicionais não conseguiam proceder a sua investigação. Mas aos falarmos de meios ocultos, neste caso específico de escutas telefónicas, temos que ter presente em mente que, como muitos autores defendem, este meio de obtenção de prova tem um impacto devastador e imprevisível, sendo lesante de direitos e liberdades fundamentais da vida privada das pessoas escutadas, das pessoas com quem elas se relacionam, o que implica uma grande restrição a nível jurídico por parte da utilização desse meio de prova. O professor Costa Andrade alerta mesmo para uma “danosidade” social e devassa de direitos fundamentais e elevado poder de ameaça das escutas. A regra geral neste domínio é que é “proibida toda a ingerência das autoridades publicas na

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TRabalho de probatorio..rascunhio

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Escutas telefnicas como meio de obteno de prova

As escutas telefnicas esto inseridas na categoria vasta de mtodos ocultos de investigao, ou seja, meios e mtodos que permitem a recolha de prova sem que quem a fornece perceba que se esta a auto incriminar de forma inconsciente.Este mtodo tem vindo a crescer exponencialmente devido ao aumento da criminalidade organizada e complexa onde os outros meios de obteno mais tradicionais no conseguiam proceder a sua investigao.Mas aos falarmos de meios ocultos, neste caso especfico de escutas telefnicas, temos que ter presente em mente que, como muitos autores defendem, este meio de obteno de prova tem um impacto devastador e imprevisvel, sendo lesante de direitos e liberdades fundamentais da vida privada das pessoas escutadas, das pessoas com quem elas se relacionam, o que implica uma grande restrio a nvel jurdico por parte da utilizao desse meio de prova.O professor Costa Andrade alerta mesmo para uma danosidade social e devassa de direitos fundamentais e elevado poder de ameaa das escutas.A regra geral neste domnio que proibida toda a ingerncia das autoridades publicas na correspondncia, nas telecomunicaes e nos demais meios de comunicao, salvo nos casos previstos na lei em matria de processo criminal nos termos do art 34 n4 CRP, e a sua utilizao nos termos do artigo32 n8 CRP.Assim sendo a nossa CRP estatui um princpio de proibio da admissibilidade das escutas como forma a proteco do direito fundamental a segredo das telecomunicaes, reserva da intimidade da vida privada e da palavra falada nos termos do artigo 26 n1 CRP, mas admite as ao mesmo tempo em processo penal enquanto mtodo de obteno de prova, na medida que respeite o princpio da proporcionalidade nos termos do artigo 18 n2 da CRP.Daqui resulta que s em relao as matrias de processo penal admissvel a limitao e compresso do direito fundamental do sigilo da correspondncia e nas telecomunicaes corporizando os artigos 187 a 190 CPP , tendo o legislador circunscrito a utilizao das escutas telefnicas com grandes condicionantes, tanto a nvel material art 187 CPP como procedimental art 188 do CPP.

Conhecimentos fortuitos Noo:So conhecimentos fortuitos, todos aqueles que exorbitam o ncleo de fonte de informao prevista no meio de obteno da prova em causa, atingindo a esfera de terceiros, bem como daqueles que atendendo ao seu contedo no se prendem com a factualidade que motivou o recurso a tal meioAntes da reforma a doutrina e a jurisprudncia debatiam se sobre a questo de ser admissvel ou no a utilizao de conhecimentos fortuitos como prova contra terceiros no arguidos ou suspeitos.Mas como podemos verificar houve um aditamento do n 4 e n 7 do artigo 187 que veio dissipar as duvidas que se colocavam na doutrina e na jurisprudncia quanto a valorao dos factos conhecidos atravs das escutas.Assim podemos verificar que o artigo 4 prev que a intercepo e gravao contra1. O suspeito ou arguido;2. Pessoa que sirva de intermedirio do arguido;3. Vtima de crime, desde que consentimento efectivo ou presumido.No era o que se passava antes da reviso ao Cdigo de Processo Penal, uma vez que nenhuma imposio existia quanto identidade da pessoa escutada, que podia ser qualquer uma, independentemente da sua interveno ou no na prtica do crime. Exige-se agora, para que se proceda a escutas relativamente a terceiros, que existam fundadas razes para crer que este recebe ou transmite mensagens destinadas ou provenientes de suspeito ou arguido, ou que estes terceiros sejam, de alguma forma, j suspeitos da prtica de factos ilcitos contidos no n. 1 e 2 do art. 187. do CPP. ainda acrescentado o n. 7 que estabelece que a gravao obtida por meio de escutas s poder ser utilizada noutro processo, instaurado ou a instaurar se tiver resultado de intercepo feita a pessoa referida no n. 4, e na medida indispensvel prova de crime previsto no n. 1. Em suma o conhecimento fortuito vale como prova quando resultar de intercepo de meio de comunicao usado por pessoa indicada no n4 (catalogo de alvos) do artigo 187 e quando se refira a um dos crimes do catlogo indicados no n 1 do 187 relativamente aos quais a escuta e legalmente admissvel. Assim podem ser utilizadas as escutas em relao aos crimes catalogares investigados no s no processo mas tambm noutros processos em curso, ou a instaurar, nos termos do artigo 187 n 7.

A razo do catlogoA razo para existir um catlogo constitucional nos termos do art. 34 n 4 in fine da CRP com a pretenso de proteger os direitos fundamentais e concretizar os princpios prescritos no n 2 art. 18 da CRP. O catlogo elenca vrios exemplos sujeitos a diligncia, mas sempre e sem esquecer que apesar de ser do catlogo tem que preencher os requisitos, isto , a diligncia ser indispensvel para a descoberta da verdade ou que a prova seria, de forma impossvel ou muito difcil de obter por despacho fundamentado do juiz de instruo e mediante requerimento do Ministrio Pblico, quanto a crimes:

a) Punveis com pena de priso superior, no seu mximo, a 3 anos;b) Relativos ao trfico de estupefacientes;c) De deteno de arma proibida e de trfico de armas;d) De contrabando;e) De injria, de ameaa, de coaco, de devassa da vida privada e perturbao da paz e do sossego, quando cometidos atravs de telefone;f) De ameaa com prtica de crime ou de abuso e simulao de sinais de perigo; oug) De evaso, quando o arguido haja sido condenado por algum dos crimes previstos nas alneas anteriores.

Conhecimentos fortuitos e os conhecimentos de investigao

de importante relevncia a distino entre conhecimentos fortuitos e conhecimentos da investigao, porque consoante atribuamos a um facto obtido no decurso de uma escuta o seu tratamento processual vai ser diferente a nvel probatrio. Existem duas grandes doutrinas nacionais, a doutrina do Professor Costa Andrade, e do professor Francisco Aguilar.Costa Andrade define conhecimentos da investigao como factos fortuitamente descobertos no decurso de uma escuta telefnica e que tero de imputar se a prpria investigao, ao contrrio os que no sejam imputveis, so conhecimentos fortuitos. Mas levanta se ento a questo: Que factos que se devem imputar a investigao, ou seja que factos pertencem ao conceito de investigao?Costa Andrade no define um critrio que faa a distino entre conhecimentos da investigao e conhecimentos fortuitos, faz uma enunciao de casos tpicos que devem reconduzir se ao conceito de conhecimentos de investigao:- Factos que esto numa relao de concurso ideal e aparente com o crime que esteve em base da autorizao da escuta- Delitos que esto numa relao de alternatividade com o crime que legitimou a escuta- Diversas formas de comparticipao- Formas de favorecimento pessoal, auxlio material ou receptao- Crimes que constituem o fim da associao criminosaAfirmando tambm Costa Andrade que no uma enumerao taxativa.Sendo que todos os outros, numa forma mais residual sero conhecimentos fortuitosO professor Francisco Aguilar apresenta uma tese mais objectiva que tenta qualificar os conhecimentos descobertos no decurso de uma escuta telefnica sendo conhecimentos de investigao ou fortuitos.Define conhecimentos da investigao como factos obtidos atravs de uma escuta telefnica legalmente efetuada que se reportam ao crime cuja investigao legitimou a realizao daquela ou de outro delito pertencente ou no ao catlogo legal que esteja baseada na mesma situao histrica da vida daquele. Sendo assim, temos duas partes, a primeira aos crimes que se reportam ao crime que legitimou a escuta, e a segunda parte aos factos que tenham a virtualidade de consubstanciar um novo ilcito tpico, sendo do catlogo ou no do art. 187 n 1 desde que esteja na mesma situao histrica de vida do crime, para isso Aguilar define essa unidade histrica num sentido de unidade de investigao em sentido processual, para o qual usa o artigo 24 n 1 do CPP. Assim tal como Costa andrade os conhecimentos fortuitos sero todos aqueles que no integram nesta categoria.

A posio da nossa jurisprudncia

Para isso vamos analisar dois acrdos, o primeiro o acrdo do tribunal da relao do Porto, de 12 de Dezembro de 2007, no qual este tribunal analisa a questo de saber se um crime de favorecimento pessoal (art. 367 n1 CP) descoberto fortuitamente no decurso de um escuta telefnica para um crime de lenocnio. O tribunal da relao acaba por definir os conhecimentos fortuitos como conhecimentos que no se reporta ao crime cuja investigao legitimou a escuta, sendo que neste caso no se verifica, justificando com a posio do professor Costa Andrade, sendo neste caso o crime de favorecimento pessoal, tendo valorado esse meio probatrio no processo em causa.No caso do tribunal da relao de lisboa no acrdo de 11/10/2007, que foca mais o problema da valorao de conhecimentos fortuitos do que a distino entre ambos, fundamentando e apresentando varias posies da doutrina.Reconhece tambm que escasso o tratamento desta matria e segue definindo conhecimentos da investigao como factos obtidos atravs de uma escuta telefnica legalmente efectuada que se reportam ao crime cuja investigao legitimou a realizao daquela ou de outro delito pertencente ou no ao catlogo legal que esteja baseados na mesma situao histrica da vida cujo contedo e susceptvel de ser obtido mediante recurso aos critrios objectivos vertidos no art. 24 n1 do CPP embora o seu contedo no se esgote naquelas constelaes tpicas. Sendo que claramente segue a tese do professor Aguilar.O tribunal no define conhecimentos fortuitos sendo que o sero por excluso de partes em relao aos conhecimentos da investigao.

Em que medida podem os conhecimentos fortuitos serem valorizadosConhecimentos fortuitos e conhecimentos da investigao, qual o limite e fronteira entre eles.Conhecimentos fortuitos e qual o limite que h em relao ao CI , Quando falamos em conhecimentos da investigao temos perante nos uma situao parecida, conhecimentos obtidos atravs de uma medida que se reportam a crimes diferentes ao crime em nome cuja perseguio foi validamente ordenada a escuta telefnica, mas que tem uma relao especifica com o crime originrio, crime bsico, constelaes em que a medida de investigao permite alcanar dados ou conhecimentos que se reportam a crimes distintos mantem com ele uma estreita e relevante conexo. Qual e a particularidade entre os CI e os CF, os CI podem ser valorados para prova dos crimes em relao aos quais se reportam, nos Conhecimentos Fortuitos s podem ser se o crime ad qoem for tambm um crime do catlogo. O que levanta problemas, basta ser do catalogo ou tem que se aplicar aquele juzo de intromisso hipottica quer dizer, s podemos usar os CF se se verificar as condies todas de sustentabilidade da suspeita de necessidade proporcionalidade que se determinam no incio da medida das escutas, Nos Conhecimentos da investigao podem, ser valorados mesmo a outro crime mesmo no sendo um crime do catlogo.

Dois problemas Fronteira entre CI e CF e o que acontece nos CI qd cai o crime do catalogoExemplo : Contra um inspector da PJ movido um crime de corrupo passiva para acto ilcito, o acto ilcito era a violao de segredo por funcionrio, a corrupo e crime do catlogo a violao de segredo por funcionario no , entende se assim que os conhecimentos relativos obtidos atravs de escutas eram conhecimentos e podiam ser utilizados para provar o crime , o problema levantou se depois porque o MP no acusa o o PJ de corrupo passiva, mas as escutas permitiram a prova do crime da violao de segredo por funcionrio, assim cai o crime do catlogo, E pode se valorizar os conhecimentos da investigao sem o crime do catlogo que o sustentava legitimava?Nos conhecimentos fortuitos o problema no se poe porque de crime do catlogo para crime do catlogo. Nos conhecimentos da investigao o crime pode no ser crime do catalogo logo se este cai o outro crime no e do catalogo pode ser valorizado?Cair significa, que no h acusao, ou que h absolvio, pode ainda o arguido ser condenado por crime no catalogado obtido atravs das escutas?Os conhecimentos da investigao surgem de criao jurisprudencial no Supremo tribunal federal alemo, que chega a este conceito num momento em que a jurisprudncia tinha chegado a uma parte em que os Conhecimentos Fortuitos s podiam ser valorados se fossem do catalogo, que por vezes tinha custos muito grandes, isto , implicava prescindir de provas de muitos crimes e era necessrio arranjar uma soluo, ou seja, tinha que se arranjar um medida intermdia. Assim considerando que alguns no so fortuitos maques fazem parte da investigao, no se viola o princpio que sem crime do catlogo no se podem valorizar os Conhecimentos Fortuitos, mas podem valorar nalguns casos, o que levanta a questo das fronteiras entre os dois.Os conhecimentos obtidos no contexto de uma intromisso podem ser utilizados contra 3 por crime n pertinente ao catlogo se os factos que sustentam a sua conexo estejam em conexo com o crime do catlogo. Crimes de associao criminosa e os crimes da associao crime associao crime catalogado e fraude fiscal praticada pela associao no catalogado mas quemantem uma conexo com o crime catalogado. A doutrina avana para objecto do processo, os conhecimentos fortuitamente obtidos no so fortuitos de forem parte daquele mesmo pedao de histria de vida que fazem uma unidade de processo. Principio constitucional que se chama vinculao ao fim, sempre que acha intromisso enquanto esta ao servio do fim que lhe empresta essa legitimao, n podem haver alterao de fim, o ilcito esta na alterao de fim, dizia ento que o objecto do processo esta se dentro do mesmo fim. Os tribunais avanam para conexo processual, a doutrina afirma para objecto do processo, o professor costa andrade afirma que poder So autorizadas escutas para uma associao criminosa devido a pratica de furtos,

Um individuo vai para o comboio com a ideia de assaltar as carteiras, mas antes de ir foi a um caf e comeu e no pagou, fraude para obteno de alimentos, crime no catalogado, e foi atravs das escutas que se soube, valorar as escutas para este crime viola os princpios da constituio.Francisco Aguilar apresenta os artigos 24 como elementos de conexo, costa andrade refuta essa ideia, afirmando que so conceitos normativos a nvel do processo e no de uma investigao. Costa andrade afirma que ao lado de conceito de crime dogmticos de penal substantivo e ao lado de conceito processual objecto de processo de crime, devera surgir um conceito de crime como objecto de uma investigao , mais criminalstico, h determinados crimes que no tenham orientados a investigao, mas que j fazia parte da investigao estreita ligao, o que se n se passa com os CF. Por exemplo investigar uma associao criminosa por fraude fiscal que tb se vem a saber que se praticava FORMAS DE CORRUPAO DE AGENTE DAS FINANAS ESTAMOS PERANTE ALGO QUE J ESTAVA INCLUIDO NO AMBITO DE INVESTIGAAO, O QUE J E DIFERENTE SE NUMA ASS CRIMI EU ME DEPARO COM CRIMES DE LENOCIDIO. Corrupo passiva para acto ilcito e que configure um crime que n seja catlogo n e possvel investigar sem investigar esse crime, os ci so numa perspectiva incontornveis, e os seu valor probatrio no altera o fim. CI so um limite aos conhecimentos fortuitos. O PJ entenderam que estavam mos perante conhecimentos da investigao mesmo a queda do crime do catologo de corrupo passiva permite a valorao de conhecimentos para efeito de prova do crime subordinado, no dominate, o que acontece qunda o conhecimento da investigao cai crime do catolog, o crime que suportava a legitimadade aquelas medidas, nos CF no se levanta essa questo pq e de crime do catologo para crime do catologo, e se nos CI cai o crime do catlogo. A doutrina defende q se a crime do catlogo cai pode se valorar os conhecimentos, esta e a posio da doutrina.Problema, se h partida e liito utilizar escutas para um crime do catologo e isto envolve todos os crimes sejam ao no do catologo relacionados com o catalogo,o que vem acontecer depois nm j n altera nada, j foi adquirida a legitimidade. Mas e hj contestado por um numero minoritrio que se ope e defendem uma tese de acessoriedade estrita do crime domando ao crime dominante, se o crime do catalogo cai deixa de haver legitimao e suporte que as escutas permitiram. Arg doisPolitica criminal se n for assim esta encontrado o caminho para escutas a todos os crimes, poe se um crime de catlogo a cabea e deixa se cair e aproveita se o resto. Que e perigoso e graveAnalise ponto de vista substancial quando falamos em escutas telefnicas e outras formas de devassa temos ter noo q a devassa e a danosidade social actualiza se e renova se em todos os momentos q se utilizam as escutas. Sempre que se utilizam escutas para um crime no do catlogo mas com o suporte do catlogo, e legitimo, mas se o crime do catlogo cai e um atentado aos DLG, e violar juzos de ponderao, escutas s para investigar e provas crimes do catlogo.