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Escrito - origem Apreensão – memória Apropriação – poder Disponibilização – organização da justiça e cooperação entre os cidadãos Gemealidade funcional - a atividade registral entre nós se desenvolveu a partir da tradição dos tabeliães portugueses. A origem assenta-se no Decreto 482, de 14 de novembro de 1846 [Jacomino – Ars notariæ].

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Page 1: Escrito - origem Apreensão – memória Apropriação – poder Disponibilização – organização da justiça e cooperação entre os cidadãos Gemealidade funcional

Escrito - origem

Apreensão – memória

Apropriação – poder

Disponibilização – organização da justiça e cooperação entre os cidadãos

Gemealidade funcional - a atividade registral entre nós se desenvolveu a partir da tradição dos tabeliães portugueses. A origem assenta-se no Decreto 482, de 14 de novembro de 1846 [Jacomino – Ars notariæ].

Page 2: Escrito - origem Apreensão – memória Apropriação – poder Disponibilização – organização da justiça e cooperação entre os cidadãos Gemealidade funcional

Sistemas Registrários

O sistema francês é consensual – a transmissão da propriedade se dá pelo contrato. O registro serve para dar publicidade ao ato.

O sistema alemão é abstrato – o título origina um crédito entre as partes e o registro converte o crédito em direito real, que se abstrai da causa que lhe deu origem, gerando uma presunção absoluta iure et iure.

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O sistema brasileiro é eclético –características franco-germânicas, constitutivo e causal, exige título + registro e é dotado de presunção iuris tantum.

O direito real só se consolida com o registro (formalizante), mas mantém-se vinculado a sua causa. Anulado o título, anula-se o registro.

Page 4: Escrito - origem Apreensão – memória Apropriação – poder Disponibilização – organização da justiça e cooperação entre os cidadãos Gemealidade funcional

O ato jurídico inexistente não produz efeitos na órbita jurídica. O registro de imóveis não é convalidante, pois nosso sistema não admite a eficácia saneadora do registro.

A publicidade registral é responsável pela eficácia, autenticidade e segurança jurídica.

Page 5: Escrito - origem Apreensão – memória Apropriação – poder Disponibilização – organização da justiça e cooperação entre os cidadãos Gemealidade funcional

A publicidade registral, segundo Alvaro

Delgado Scheelje¹ não é apenas um princípio,

senão é objeto mismo de la función registral,

la razón de ser de todo registro público y la

base sobre la cual se apoyan todos y cada

uno de los principios registrales.

A publicidade, efetivamente, é o fim de todos

os sistemas registrais, elemento comum a

todos e sua razão de existir.

1“La Publicidad Jurídica Registral en el Perú. Eficácia material y Princípios Registrales”, Revista Crítica de Derecho Inmobiliario, año LXXV, n° 650. Madrid, 1.991),

Page 6: Escrito - origem Apreensão – memória Apropriação – poder Disponibilização – organização da justiça e cooperação entre os cidadãos Gemealidade funcional

As notas e o registro respondem a uma

necessidade social, tratam de realizar

a segurança jurídica, não caracterizam

um fim em si mesmos.

Para que possa cumprir o desiderato de

publicizar a res certa o registrador

deve aplicar uma metódica formal.

Page 7: Escrito - origem Apreensão – memória Apropriação – poder Disponibilização – organização da justiça e cooperação entre os cidadãos Gemealidade funcional

Essa ocupação com a forma, contudo, como salienta o Des. Dipp, não corresponde ao formularismo (espartilho de regras), com suas regulações mágicas, palavras-vudús, cuja ritual observância realiza o mito da organização, ainda que não sirva, enfim, à consecução do fim ou razão de ser dessas instituições.

O registro formaliza ou representa (declara ou noticia) a res certa, conferindo-lhe seus caracteres de autenticidade e fé pública, cujos efeitos dimanam erga omnes.

Page 8: Escrito - origem Apreensão – memória Apropriação – poder Disponibilização – organização da justiça e cooperação entre os cidadãos Gemealidade funcional

A atividade notarial caracteriza-se por uma delegação do poder

do Estado, visando em especial o serviço público da

documentação das convenções, da sua autenticidade e

legalidade, da sua força executiva e probatória, bem como a

assistência preventiva e imparcial às partes interessadas para

descarregar os tribunais (Parlamento Europeu - Resolução de

18/01/1994)

Finalidade da Função Notarial: a certeza jurídica das relações

e situações subjetivas concretas.

A intervenção notarial se dá na esfera da realização voluntária

do direito, estabelece a certeza da situação a priori,

regulando e individualizando os direitos subjetivos

(preventiva), diferentemente da função jurisdicional que

atua a posteriori, depois de instalado o conflito (curativa).

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A tranquilidade reclama outros funcionários, conselheiros desinteressados das partes, assim como redatores imparciais das suas vontades, fazendo-lhes conhecer o alcance das obrigações assumidas, redigindo tais obrigações com clareza, conferindo-lhes a natureza de documento autêntico e a força de uma sentença em última instância, perpetuando-lhes a lembrança e conservando fielmente o seu depósito, assim impedindo o nascimento de diferendos [desacordos] entre os homens de boa fé e tirando aos cúpidos [cobiçosos] o desejo de, na esperança de sucesso, deduzirem contestações infundadas. Estes conselheiros desinteressados, estes redatores imparciais, esta espécie de juízes voluntários que obrigam irrevogavelmente as partes contratantes são os notários; esta instituição é o notariado.

França – 1803 - Exposição de motivos da Lei Orgânica do Notariado, sessão de 14 Ventoso [terceiro mês do inverno do Calendário Revolucionário Francês], ano XI.

Page 10: Escrito - origem Apreensão – memória Apropriação – poder Disponibilização – organização da justiça e cooperação entre os cidadãos Gemealidade funcional

Segurança jurídica notarial e registral

Notário • realiza a segurança dinâmica

(situações em vias de constituição)

• formalização do dictum (narração ou representação documental de um actum)

• finalidade de conformação e preconstituição de prova

• aconselhamento das partes,

• livre eleição das partes, porque o notário é participe da elaboração consensual do direito

Registrador• realiza a segurança estática

(conservação das situações estabelecidas)

• não exercita a função prudencial de acautelar o actum, mas sim a de publicar o dictum

• não configura a determinação negocial.

• é despicienda a liberdade de sua escolha pelas partes

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Principais Tarefas do Notário:

• investigação dos elementos levados pelos particulares para realização de um ato

• parecer jurídico acerca de sua concretização

• instrumentalização da vontade das partes, buscando os meios mais adequados e condizentes com o sistema jurídico-normativo

• guarda de documentos com a intenção de revestir o ato de maior segurança jurídica.

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Princípios da função notarial:

• Juridicidade ou legalidade

• Cautelaridade

• Imparcialiadade

• Publicidade

• Tecnicidade

• Rogatório

• Unicidade do Ato

• Conservação

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Juridicidade - o tabelião recebe a vontade das partes, a

qualifica juridicamente (conceitua e classifica) e cria o

instrumento jurídico adequado para que produza seus efeitos.

A atenção cautelar do notário se desdobra em dois aspectos:

•Consonância com o ordenamento jurídico

•Zelo pela autonomia da vontade

Cautelaridade – aconselhamento

Juízo prudencial - a função do notário é essencialmente um

mister de prudência, muito acentuada se comparada aos

demais operadores do direito, notadamente por sua natureza

cautelar.

Page 14: Escrito - origem Apreensão – memória Apropriação – poder Disponibilização – organização da justiça e cooperação entre os cidadãos Gemealidade funcional

Imparcialiadade – O notário exerce uma verdadeira

magistratura cautelar (Larraud), adianta-se ele a prevenir

e precaver os riscos que a incerteza jurídica possa acarretar

a seus clientes, impondo-se-lhe, por vezes, a aplicação de

tratamento desigual às partes, quando o caso concreto

assim o exigir, a fim de equilibrar os interesses em jogo.

Competência técnica – O notário tem um dever de

aptidão, que lhe permita qualificar adequadamente a

vontade das partes, a fim de que o ato possa produzir os

efeitos jurídicos pretendidos. O notário deve velar pela

aquisição de conhecimentos e obrigar-se a uma formação

intelectual permanente.

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Publicidade - função pública é aquela atividade própria e característica do Estado, cuja organização e o cumprimento regular e contínuo interessam diretamente à coletividade.

Segundo a declaração de Madri (março de 1990): O notário exerce uma função pública, num quadro de profissão liberal, ou seja, é ele titular independente de uma função pública.

Princípio da Conservação - Os notários devem conservar todos os documentos, livros e papéis que lhe foram confiados, a fim de constituir um sistema seguro frente às perdas e deteriorações.

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Rogação ou Instância - o notário não age espontaneamente, carecendo de provocação da parte interessada para exercer o seu mister. Havendo tal requerimento não pode o notário negar-se a agir; está obrigado a prestar a função notarial, que é pública, salvo impedimento ou qualificação notarial negativa.

Unicidade do Ato - O documento notarial deve ser elaborado de modo ininterrupto, sem solução de continuidade. Abrangendo a elaboração, leitura, assinaturas e encerramento (natureza instrumental – impossibilidade de acréscimo de disposições contratuais após o encerramento).

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Características técnicas da função notarial FÉ PÚBLICA notarial corresponde à especial confiança atribuída por lei ao que o delegado declare ou faça, no exercício da função, com presunção de verdade. Tem ela o condão de fixar preventivamente a situação jurídica firmada perante o tabelião. A publicidade notarial é negativa, no sentido de que o ato notarial está acessível a qualquer pessoa por meio de certidão, sem dimanar efeitos erga omnes.

A publicidade registral ostenta caráter positivo, gerando eficácia erga omnes do direito inscrito nos livros do registrador.

AUTENTICAÇÃO - contém a idéia de certeza da existência de um fato ou ato jurídico, atestado pelo notário em instrumento solene.

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Notariado - aspectos relevantes

Função-passarela – Entre o Estado e o cidadão. O primeiro precisa de intérpretes fiáveis que possam traduzir, objetivamente, a lei para o cidadão. Em sentido inverso, o notário exerce um importante papel na circulação da informação da base para o topo, mantendo contato permanente com as diversas entidades com as quais intervém no interesse dos usuários.

Assegura a eficácia da lei – o notário desenvolve a lei, sendo obrigado a aplicá-la e fazê-la respeitar.

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Garante a proteção do consumidor – através do dever de conselho, isto é, de assistência imparcial.

Atua como mediador e árbitro – ao ser chamado a dar autenticidade aos contratos, o notário é o primeiro “juiz” que se debruça sobre o assunto, cumprindo-lhe auxiliar as partes para encontrarem a melhor solução jurídica, evidenciando-se o seu caráter negociador e conciliador.

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Assegura a boa administração dos registros públicos – A fiabilidade do sistema registrário é garantia de segurança e está diretamente relacionada à boa classificação e arquivamento das informações que compõem o banco de dados.

A fiabilidade do ato notarial ultrapassa a simples forma, estendendo-se ao conteúdo do ato, provando, por si mesmo, a autoria, data, lugar e o fato das pessoas terem feito as declarações documentadas.

A força probatória do ato notarial significa que o documento basta por si próprio e quem o invoca tem apenas de exibí-lo. Quem o impugna assumirá o ônus de buscar judicialmente o seu desfazimento.

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Desafios:

Valorização da atividade notarial e do instrumento público (hipossuficientes)

Difusão da ata notarial como instrumento de autenticação de situações aptas a ingressarem no registro (regularização fundiária, correção de dados de especialidade, etc.)

Langue pertencente – estabelecimento de verdadeira interconexão entre as notas e os registros – fim comum.