escrita de si - fabíola padilha

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ÁGUA DA PALAVRA REVISTA DE LITERATURA E TEORIAS / NÚMERO 3 MARÇO 2011 ISBN 2178 0870 1 A escrita de si na ficção brasileira contemporânea Fabíola Padilha (UFES) “[...] leitor, sou eu mesmo a matéria deste livro.” (Montaigne) “eis uma de „minhas‟ frases preferidas: não procurem nada atrás de meus escritos, „eu‟ se existir estou todo neles, bem à tona.(Evando Nascimento) No âmbito atual dos estudos literários, vem recrudescendo notavelmente o interesse pela investigação de relatos em primeira pessoa. Isso se deve, em parte, à constatação de que assistimos ao alargamento do território do eu, tributário, dentre outros fatores, do avanço da cultura midiática e do impulso narcisista e vertiginoso votado à exposição da intimidade. Além das formas tradicionais do gênero biográfico, tais como os testemunhos, as memórias, as biografias (autorizadas ou não), as autobiografias, os diários e as correspondências, a celebração espetacular do eu ocupa domínios historicamente viabilizados em função mesmo do incremento tecnológico dos novos meios de comunicação e da expansão do mercado editorial. São eles os blogs, as entrevistas com escritores, os relatos de auto-ajuda, os perfis, as histórias de vida, os retratos, os anedotários, as variantes do show talk show, reality show... i , ampliando consideravelmente o que Leonor Arfuch denomina, tendo em vista a cultura contemporânea, de “espaço biográfico”, expressão tomada de empréstimo a Philippe Lejeune (um dos grandes teóricos da autobiografia), concebido pela estudiosa argentina como um “espaço-temporalidade mais dilatado que o gênero, pensado não a partir da pureza étnica, mas sim das interações, das inter-relações, do hibridismo das formas, de seus deslizamentos metonímicos, de sua intertextualidade, em resumo, das diferentes maneiras em que as vidas „reais‟ – experiências, momentos, iluminações, lembranças narram-se, circulam e são apropriadas nas incontáveis esferas da comunicação midiatizada” ii . É fato que a construção do eu no ato da escrita não constitui propriamente uma novidade. Manifestações dessa prática são encontradas desde tempos imemorais. Para se ter uma ideia, já no século I d. C., o epigramista Marcial escreve: “Este é aquele que lês, e a quem procuras, / Marcial, famoso em todo o mundo / Por seus mordazes livrinhos de epigramas, / A quem, assíduo leitor, deste prestígio / Enquanto ele vivia e tinha sentimento / O que raros poetas têm após a morte.”. No século IV, Santo Agostinho redige suas Confissões, a “autobiografia espiritual” que endereça a Deus, detentor supremo da palavra judicativa sobre a vida que se oferece para exame moral, obra esta inteiramente distinta, por exemplo, da homônima composta no século XVIII por Rousseau, considerada por muitos o marco pioneiro do gênero autobiográfico. Com suas Confissões, Rousseau empenha-se em esquadrinhar

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  • GUA DA PALAVRA REVISTA DE LITERATURA E TEORIAS / NMERO 3 MARO 2011 ISBN 2178 0870

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    A escrita de si na fico brasileira contempornea

    Fabola Padilha (UFES)

    [...] leitor, sou eu mesmo a matria deste livro. (Montaigne)

    eis uma de minhas frases preferidas: no procurem nada atrs de meus escritos, eu se existir

    estou todo neles, bem tona. (Evando Nascimento)

    No mbito atual dos estudos literrios, vem recrudescendo notavelmente o interesse pela investigao

    de relatos em primeira pessoa. Isso se deve, em parte, constatao de que assistimos ao alargamento do

    territrio do eu, tributrio, dentre outros fatores, do avano da cultura miditica e do impulso narcisista e

    vertiginoso votado exposio da intimidade. Alm das formas tradicionais do gnero biogrfico, tais

    como os testemunhos, as memrias, as biografias (autorizadas ou no), as autobiografias, os dirios e as

    correspondncias, a celebrao espetacular do eu ocupa domnios historicamente viabilizados em funo

    mesmo do incremento tecnolgico dos novos meios de comunicao e da expanso do mercado

    editorial. So eles os blogs, as entrevistas com escritores, os relatos de auto-ajuda, os perfis, as histrias

    de vida, os retratos, os anedotrios, as variantes do show talk show, reality show...i, ampliando

    consideravelmente o que Leonor Arfuch denomina, tendo em vista a cultura contempornea, de espao

    biogrfico, expresso tomada de emprstimo a Philippe Lejeune (um dos grandes tericos da

    autobiografia), concebido pela estudiosa argentina como um espao-temporalidade mais dilatado que

    o gnero, pensado no a partir da pureza tnica, mas sim das interaes, das inter-relaes, do

    hibridismo das formas, de seus deslizamentos metonmicos, de sua intertextualidade, em resumo, das

    diferentes maneiras em que as vidas reais experincias, momentos, iluminaes, lembranas

    narram-se, circulam e so apropriadas nas incontveis esferas da comunicao midiatizadaii.

    fato que a construo do eu no ato da escrita no constitui propriamente uma novidade.

    Manifestaes dessa prtica so encontradas desde tempos imemorais. Para se ter uma ideia, j no

    sculo I d. C., o epigramista Marcial escreve: Este aquele que ls, e a quem procuras, / Marcial,

    famoso em todo o mundo / Por seus mordazes livrinhos de epigramas, / A quem, assduo leitor, deste

    prestgio / Enquanto ele vivia e tinha sentimento / O que raros poetas tm aps a morte.. No sculo IV,

    Santo Agostinho redige suas Confisses, a autobiografia espiritual que enderea a Deus, detentor

    supremo da palavra judicativa sobre a vida que se oferece para exame moral, obra esta inteiramente

    distinta, por exemplo, da homnima composta no sculo XVIII por Rousseau, considerada por muitos o

    marco pioneiro do gnero autobiogrfico. Com suas Confisses, Rousseau empenha-se em esquadrinhar

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    os meandros da interioridade, buscando, entretanto, no reproduzir a verdade sobre os fatos exatos de

    sua vida, mas sim imprimir um carter autntico ao sujeito que emerge da escrita, interpelando

    diretamente o leitor. Certo do ineditismo de sua empreitada, Rousseau inaugura jactancioso o Livro I de

    suas Confisses, declarando: Dou comeo a uma empresa de que no h exemplos, e cuja execuo no

    ter imitadores. Quero mostrar aos semelhantes um homem em toda a verdade da natureza; e serei eu

    esse homemiii. Tambm Montaigne pretendeu, dois sculos antes de Rousseau, traar uma imagem de

    si, destinando-a ao virtual leitor. No prtico de seus Ensaios, ele anuncia: Eis aqui, leitor, um livro de

    boa-fiv. E, antecipando j uma certa expectativa em relao ao que prometem as pginas seguintes,

    nos adverte: Se houvesse almejado os favores do mundo, ter-me-ia enfeitado e me apresentaria sob

    uma forma mais cuidada, de modo a produzir melhor efeito. Prefiro, porm, que me vejam na minha

    simplicidade natural, sem artifcio de nenhuma espcie, porquanto a mim mesmo que pintov.

    Contrariamente a Rousseau, que demonstra uma certa obstinao pela verdade revelada por meio da

    transparncia e imetiaticidade dos movimentos de sua almavi, procurando alcanar a uma unidade

    identitria coesa, Montaigne se notabiliza por ser o pintor da mudana e da infixidez, como confirma,

    alis, esta conhecida passagem: O mundo movimento; tudo nele muda continuadamente [...] No

    posso fixar o objeto que quero representar: move-se e titubeia como sob o efeito de uma embriaguez

    natural. Pinto-o como aparece em dado instante, apreendo-o em suas transformaes sucessivas, no de

    sete em sete anos, como diz o povo que mudam as coisas, mas dia por dia, minuto por minuto. [...] Se

    minha alma pudesse fixar-se, eu no seria hesitante; falaria claramente, como um homem seguro de si.

    Mas ela no pra e se agita sempre procura do caminho certovii.

    Estes breves exemplos, com suas evidentes diferenas espaciotemporais, comportando obviamente

    vises de mundo dissimilares, reiteram assim a convico de que a construo do eu pela escrita , como

    mencionado antes, um sempiterno procedimento. No entanto, ao invs de optar, adotando uma

    perspectiva diacrnica, por traar uma linhagem dos relatos em primeira pessoa que promovem o

    enredamento entre o autor e o eu da escrita, compondo com isso um quadro genealgico desses textos

    especficos, me interessa discutir aqui, j efetuando um necessrio recorte, a maneira como se configura

    hoje, em textos assumidamente ficcionais, essa primeira pessoa que, para se constituir, incorpora traos

    autobiogrficos, numa poca a nossa que j vivenciou a desconstruo do sujeito autoevidente, como

    um dos gestos ligados a um empreendimento maior, comprometido com a derrocada de valores

    universais e hegemnicos, de ressaibo metafsico. Em sntese, importa reconhecer, tendo na mira esse

    contexto, que a impossibilidade de uma smula dialtica decorrente do trnsito vida e obra se encontra

    em consonncia com um zeitgeist dominado pela falncia do sujeito cartesiano, como veremos a seguir.

    No circuito da fico brasileira contempornea, h um enorme contingente de relatos em primeira

    pessoa que, de alguma forma, apontam para a figura extratextual do autor, operando uma

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    autorreflexividade identificada em diferentes escalas, fenmeno que, vale ressaltar, se propaga tambm

    na literatura estrangeira atual.

    S para nos atermos s publicaes nacionais que ocupam a primeira dcada do sculo XXI, obras

    como, por exemplo, O falso mentiroso: memrias (2004), de Silviano Santiago, que comentarei adiante,

    Nove noites (2002), de Bernardo Carvalho, A chave de casa (2007), de Tatiana Salem Levy, Budapeste

    (2003), de Chico Buarque, Retrato desnatural (dirios 2004-2007)(2008), de Evando Nascimento,

    Berkeley em Bellagio (2003) e Lorde (2004), de Joo Gilberto Noll, O autor mente muito (2001), de

    Carlos Sussekind e Francisco Daudt da Veiga, Joana a contragosto (2005), de Marcelo Mirisola, e

    Ribamar (2010), de Jos Castello, lanam mo, cada uma a seu modo, de estratgias autorreflexivas em

    suas composies, franqueando uma mtua permeabilidade entre autor e narrador. Encontramos a desde

    a presena inequvoca, em maior ou menor grau, de marcas autorais (como ocorre em todos esses

    romances), at sutis jogos especulares que visam a pr em xeque a autoridade autoral daquele que assina

    a obra ( o caso especialmente do romance de Chico, Budapeste). De imediato, tais obras nos induzem a

    questes como: 1) superada a ciso dualista verdade x fico, alada ao umbral da indecidibilidade, que

    implicaes decorrem dessas interrelaes para a construo identitria da voz em primeira pessoa?; 2)

    que efeitos produzem nas categorias autor e narrador essa referencialidade inscrita no interior da fico?

    Lidar com a articulao das esferas vida e obra implica em princpio reconvocar a figura do autor,

    reinserindo-a no centro do debate, mais de quatro dcadas aps a deflagrao de sua morte. No se trata

    aqui de cometer anacronismos, exumando o autor como um sujeito uno e monoltico, cuja integridade

    seria decalcada na escrita, correndo na contramo das tendncias filosficas da crtica do sujeito. Pelo

    contrrio. O que no campo atual dos estudos literrios vem sendo chamado de retorno do autor alinha-

    se paradoxalmente desconstruo da identidade perficiente. Secundando Diana Klinger: [...] o retorno

    do autor [...] coerente com a reconfigurao contempornea da subjetividade, isto , no como retorno

    de um sujeito pleno, fundamento e autoridade transcendente do texto, e sim como um sujeito no

    essencial, fragmentado, incompleto e suscetvel de auto-criaoviii.

    Nesse sentido, um certo bito do autor, legado por Barthes e Foucault, guardadas as devidas diferenas

    argumentativas entre os dois pensadores, contribuiu decisivamente para solapar a dimenso

    transcendental que recobria essa instncia autoral. Vale a pena, portanto, recuperar, de passagem,

    algumas linhas mestras dos respectivos postulados.

    Em A morte do autor, Barthes conjura, como se sabe, uma espcie de construo ideal, metafsica,

    de autor, como ncleo controlador do significado, a servir de parmetro inclinado a regular o sentido

    nico, de certo modo teolgicoix, dos textos sob a salvaguarda de sua assinatura. Tratava-se, naquele

    momento, de sepultar o poder tirnico que o autor exercia sobre sua obra, liberando-a para trilhar sua

    (im)prpria deriva, desinvestida de toda a pessoalidade que atravancasse seu incerto destino e trasse sua

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    natureza lingustica. Como sentencia Barthes: [...] o autor nunca nada mais para alm daquele que

    escreve, tal como eu no seno aquele que diz eu: a linguagem conhece um sujeito, no uma

    pessoa, e esse sujeito, vazio fora da prpria enunciao que o define, basta para fazer suportar a

    linguagem, quer dizer, para a esgotarx. Contraposta imagem do Autor, concebido como o passado de

    seu prprio livro, Barthes consagra a emergncia a do scriptor moderno, que nasce ao mesmo tempo

    que o seu texto, inaugurando uma nova relao temporal ao configurar-se no presente mesmo, o aqui e

    agora, da enunciao. Longe de constituir-se como uma incitao homicida por parte do semilogo

    (retenhamos as lgrimas, como diz Foucault), a morte do autor tem como corolrio a deposio dos

    privilgios deste ltimo, reputado como unidade transcendente, conferindo relevo figura

    desontologizada do leitor: o leitor, explica Barthes, o espao exacto em que se inscrevem, sem que

    nenhuma se perca, todas as citaes de que uma escrita feita; a unidade de um texto no est na sua

    origem, mas no seu destino, mas este destino j no pode ser pessoal: o leitor um homem sem histria,

    sem biografia, sem psicologiaxi. E arremata categrico: o nascimento do leitor tem de pagar-se com a

    morte do Autorxii.

    Subsequente ao momento inaugural e iconoclasta de Barthes, Michel Foucault, em sua no menos

    famosa (e polmica) conferncia O que um autor?, tambm redimensiona a ideia de autor a partir da

    noo de funo autoral, caracterizada como um modo de existncia, de circulao e de

    funcionamento de certos discursos no interior de uma sociedadexiii. Localizando o advento da figura do

    autor no final do sculo XVIII e incio do XIX, em que se verifica um autntico regime de propriedade

    para os textos e se reconhecem os efetivos direitos de autor, Foucault salienta que o momento de sua

    insurgncia representa o momento crucial da individualizao na histria das ideias, dos

    conhecimentos, das literaturas, e tambm na histria da filosofia e das cinciasxiv. Num dos temas

    desenvolvidos nessa conferncia, Foucault sublinha a especificidade da linguagem como sendo um

    corpo subtrado de toda interioridade, de todo ncleo transcendente que governasse um sentido nele

    alocado, aproximando-se visivelmente das reflexes de Barthes sobre o tema: [...] a escrita de hoje se

    libertou do tema da expresso, pondera Foucault, ela se basta a si mesma, e, por consequncia, no

    est obrigada forma da interioridade; ela se identifica com sua prpria interioridade desdobrada. O que

    quer dizer que ela um jogo de signos comandado menos por seu contedo significado do que pela

    prpria natureza do significante [...]xv. Como desdobramento das reflexes sobre o autor, Foucault

    acena para a necessidade de se reexaminar os privilgios do sujeito, visando a retirar d[este ltimo]

    seu papel de fundamento originrio, analisando-o como uma funo varivel e complexa do

    discursoxvi. Ao final de suas reflexes, ao afirmar que o autor , sem dvida, uma das especificaes

    possveis da funo sujeito, Foucault projeta um horizonte no qual a prpria funo autor seria

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    dispensvel, um horizonte a abrigar os discursos no anonimato do murmrio, fazendo valer a questo

    que ecoa o rumor de uma indiferena: Que importa quem fala?xvii.

    Passados pois mais de quarenta anos, possvel verificar, contudo, que a figura do autor,

    contrariamente ao ambicionado por Foucault, conserva uma pregnncia inarredvel no imaginrio do

    pblico leitor, alimentada sem dvida pela cultura miditica, corroborando o fato de que ainda importa,

    sim, quem fala. Como nota Ana Cludia Viegas: Pelo menos no campo literrio, permanece em ns,

    leitores, a vontade de encontrar do outro lado da pgina um ser que nos abrace; o que mantm o fetiche

    em torno de objetos pertencentes aos escritores (livros, mquina de escrever, fotos, documentos

    pessoais, entre outros) ou da oportunidade de ter a presena do autor, seja em programas de televiso ou

    ao vivo, nas to badaladas mesas de escritoresxviii. A propsito dessa pregnncia do autor no

    imaginrio do pblico leitor, apenas para ilustrar, reproduzo um trecho da coluna que Eliane Brum

    assina na revista poca, no curto texto de apresentao do autor por ela entrevistado, o Luis Rufatto. A

    matria foi postada no dia 31/01/2011 e se encontra disponvel na verso on line da revista. L, Eliane

    diz o seguinte: Desde que ouvi Luiz Ruffato contar sua histria, em Paraty no ano passado, que ficava

    ensaiando o convite para que ele a compartilhasse com vocs aqui nesta coluna. H escritores cujos

    livros a gente ama, mas quando os conhece encarnados, so to arrogantes e mesquinhos que d nhaca

    da obra. Por isso, em geral at prefiro no conhecer os autores dos livros que amo para no misturar as

    almas e perder os livros que j possuem um pedao da minha. No caso de Ruffato, o risco no existe.

    Ele uma das pessoas mais encantadoras e generosas que j conheci. Encontr-lo como chegar em

    casaxix.

    Tal depoimento corrobora o prognstico de que a escrita permanece assombrada pela imagem

    inarredvel daquele que a forjou, frustrando de certo modo sua atribuio meramente funcional.

    No que toca entretanto ao estudo de elementos autorreflexivos em textos ficcionais, no rastro das

    importantes contribuies de Barthes e Foucault para a reavaliao do estatuto do autor, e em

    conformidade com a crtica do sujeito, a presena, digamos assim, materializada desse espectro no

    interior de seu discurso, imiscuindo-se na trama mesma da escrita, pode ser vista como um ato

    performtico do autor/ator. Em outras palavras, o vazio aberto pelo desmoronamento da imagem

    idealizada do autor-Deus seria locupletado por um gesto autoficcional, uma espcie de

    autoengendramento de que resulta no a cristalizao de uma nova ndole inteiria, soberana, mas todo

    um esforo consciente de desenhar uma imagem de si, ainda que precria, nica construo de resto

    possvel para esse eu, visto que no mais se cogita resgatar uma suposta totalidade identitria. Em

    sntese, a imagem que se dramatiza na escrita a de um sujeito em construo, que no oculta as

    manobras empregadas no intuito de edificar-se, mas, ao invs disso, empenha-se em exibi-las ao leitor,

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    como um ilusionista que decide, diante dos olhos atnitos do pblico, mostrar que seus incrveis poderes

    so na verdade o potencial exerccio de seu virtuoso engenho, desfazendo a aura encantatria que a

    prestidigitao produz. Integram a urdidura desse ator da escrita os aspectos empricos de conhecimento

    pblico, que igualmente participam dessa multifria, incompleta e provisria trama identitria.

    Conforme assinala Klinger: [...] tanto os textos ficcionais quanto a atuao (a vida pblica) do autor

    so faces complementares da mesma produo da subjetividade, instncias de atuao do eu que se

    tencionam ou se reforam, mas que, em todo caso, j no podem ser pensadas isoladamente. O autor

    considerado o sujeito de uma performance, de uma atuao, um sujeito que representa um papel na

    prpria vida real, na sua exposio pblica, em suas mltiplas falas de si, nas entrevistas, nas crnicas

    e auto-retratos, nas palestrasxx.

    Para no ficarmos somente na esfera da teorizao, tomemos a ttulo de exemplo emblemtico da

    escrita de si O falso mentiroso: memrias, de Silviano Santiago, romance que analisei noutro lugarxxi

    , de

    onde recupero algumas passagens, para uma rpida abordagem sobre o funcionamento desse tipo de

    escrita.

    Narrado em primeira pessoa pelo personagem Samuel Carneiro de Souza Aguiar, o romance leva ao

    paroxismo o embaralhamento das divisas que confinavam o fato e a fico, a verdade e a mentira, o

    original e a cpia. A comear pelo ttulo, que evoca o paradoxo do falso mentiroso, didaticamente

    informado na quarta capa, na qual se pode ler a seguinte definio extrada da Enciclopdia Mirador:

    paradoxo atribudo a Euclides de Mileto (sculo IV a. C.), cuja forma mais simples : se algum afirma

    eu minto, e o que diz verdade, a afirmao falsa; e se o que diz falso, a afirmao verdadeira e,

    por isso, novamente falsa etc.. Esse paradoxo, inscrevendo-se como exponencial aporia, desmobiliza

    qualquer suposta credibilidade conferida ao projeto memorialstico, suspendendo todo critrio prvio

    que viesse em socorro do que no limite seriam verdade e mentira. Logo nas primeiras linhas do

    romance, por exemplo, a certeza de uma linhagem progenitora do narrador categoricamente rechaada,

    porquanto Samuel principia seu relato certificando-nos: No tive me. No me lembro da cara dela.

    No conheci meu pai. Tambm no me lembro da cara delexxii. Essas informaes so todavia logo

    rasuradas por seus ademanes galhofeiros, ao emendar a as desconcertantes frases: Posso estar

    mentindo. Posso estar dizendo a verdadexxiii.

    Enquanto rubrica da escrita de si, as memrias configuram um empreendimento

    autointerpretativo que tem como pano de fundo o impulso de imprimir unidade ao que j nasce

    naturalmente diverso, provisrio e em constante mutao: a identidade do sujeito. A tentativa de ordenar

    a mixrdia de eus que se agitam no indivduo ao longo de sua histria resulta numa fabulao de si

    mesmo. Como pondera Silviano Santiago:

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    A construo da identidade, depois da psicanlise, a questo da identidade um constructo, uma constante reelaborao, como no conceito de Lacan e Derrida de a posteriori, aprs coup, que diz que constantemente estamos reorganizando a

    placa-me da nossa memria, e essa reorganizao da placa-me sempre uma nova inveno de identidade que est sendo proposta.

    xxiv

    No texto memorialstico, essa forma de ordenao pressupe o arranjo momentneo de uma

    disperso passada, um bricabraque dos fragmentos retidos pela placa-me, qual se roga para que

    descortine seu arquivo. Em sua extensa e desarticulada superfcie, tenta-se domesticar uma certa

    indisciplina, de forma a conter a disjuno dos elementos que circulam nos intrincados meandros de seu

    esteio. Cada formao obtida desse exerccio recapitulativo flagra um instantneo, no que o arresto

    revela de efmero e transitrio.

    Como gnero discursivo que reenvia precedncia de um eu, em torno do qual a escrita se

    organiza, buscando fornecer uma imagem possvel desse eu que se d a ver no registro do testemunho,

    as memrias se vinculam a outras modalidades discursivas, que igualmente ensejam a exposio dos

    caminhos imprevisveis de uma vida vivida, tais como a autobiografia, o dirio ntimo e as confisses,

    sendo, no entanto, bastante tnue a linha que enfeuda cada uma dessas modalidadesxxv

    .

    A distino entre sujeito que escreve e sujeito da escrita, rompendo definitivamente com a idia

    reducionista de uma coincidncia especular entre essas instncias, possibilitou a leitura/escritura dos

    gneros confessional, autobiogrfico e memorialstico sob a gide do ficcional, sem excluir contudo a

    inquietante presena fantasmtica de uma empiricidade no mais perceptvel em seus estritos contornos.

    Ou seja, se a vida no se confunde mais com a escrita, fato tambm que vida e escrita esto

    profundamente comprometidas, imbricadas, no estabelecendo entre si uma relao isomrfica, porm

    anamrfica, situada na interseo dos elementos em jogo.

    Para compor suas memrias, Samuel, autodesignando-se escritor, confessa ter aproveitado os

    vrios volumes de seu Dirio ntimo, reciclagem da qual resulta uma obra que opera um trnsito

    discursivo livre, mesclando diversos gneros prosaicos (romance, memria, autobiografia), sem a

    restrio de uma exigncia unidirecional.

    Ao impedir qualquer deciso classificatria, o texto de Santiago aponta para aquilo mesmo que,

    por meio da afirmao, negado: as memrias no se limitam a um resgate autobiogrfico do narrador,

    a histria sendo edificada como a inviabilidade de uma escrita memorialstica nos termos tradicionais.

    Tal inviabilidade se constri a contrapelo de uma outra histria que se vai tecendo a de um narrador

    que se autoengendra, abalando, no interior do prprio gnero do qual emerge, os pressupostos

    convencionais das memrias, frustrando o voyeurismo do leitor que deseja conhecer a vida de um sujeito

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    chamado Samuel. Afinal, como se fiar em algum que em suas memrias fabrica nada mais nada menos

    do que cinco verses para as circunstncias excepcionais de [seu] nascimento?

    O narrador pe em xeque assim a lei do gneroxxvi

    , para falar com Derrida, por intermdio de sua

    causticante degenerao. A corroso do que o invlucro promete um texto memorialstico origina

    (palavra que integra o campo semntico de gnero) o paradoxo de que, afinal, as memrias (s

    avessas) de Samuel do testemunho, afinando-se harmonicamente ao ttulo que as enfeixa, ao mesmo

    tempo em que expe a meno ao gnero a uma congenial abertura, de natureza aportica, indecidvel.

    A transgresso lei do gnero no romance de Santiago vai ao encontro de uma demanda mais

    ampla, que evidentemente ultrapassa a mera tendncia de mistura de gneros, como a promulgada pelo

    Romantismo, por exemplo, e exercida com liberdade ilimitada por geraes sucessivas, cada qual a seu

    modo, cada qual com suas prprias motivaes. A transgresso aqui vai tambm muito alm da

    recorrente prtica ps-moderna de manipulao de diferentes cdigos e discursos agenciados na

    composio textual, apesar de essa prtica ser facilmente identificada no tecido de O falso mentiroso:

    memrias.

    Compreendido nesse gesto transgressivo encontra-se todo um esforo consciente de des-

    possesso de uma marca originria responsvel pela figurao do eu, inscrita, essa marca, no mbito

    mesmo que recorta os domnios da autobiografia. Essa regio assoma como um ponto de fuga para onde

    converge o discurso memorialstico, com o objetivo de moldar a fisionomia desse eu finalidade ltima

    do empreendimento retrospectivo.

    O ato de desapossar-se de si, num texto que se pretende memorialstico, acarreta inmeros

    desdobramentos ssmicos, que vo do abalo da prpria entidade autoral, passam pela dissoluo de uma

    suposta identidade construda a partir da restituio do passado, at desembocar em questes que versam

    sobre origem e originalidade, cuja abrangncia encerra ainda consideraes acerca do ultrapassamento

    da metafsica, citando uma expresso cunhada por Gianni Vattimo.

    Em O falso mentiroso: memrias, Samuel, com divertida ironia tnica preponderante das memrias

    , professa o princpio da multiplicidade como determinao gentica, em que o eu dominante avulta

    como uma espcie de fatalidade inerente a um regime natural de livre concorrncia:

    No sei por que nestas memrias me expresso pela primeira pessoa do singular. E no pela primeira do plural. Deve haver

    um eu dominante na minha personalidade. Quando escrevo. Ele mastiga e mascara os embries mais fracos, que vivem em

    comum como ns dentro de mim. A teoria gentica diz que toda grvida carrega no tero gmeos, trigmeos e at

    quadrigmeos. Somos concebidos como mltiplos. o gene dominante que constrangido a ser imperador, primeiro e nico estrangula e come os genes recessivos, ou dbeis, para poder, sozinho e endemoninhado, sair da caverna materna para a claridade do mundo.

    xxvii

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    E para justificar a permanncia de um eu que sobrevive a expensas da duplicao

    originria, o narrador esclarece: O eu a forma que encontrei para comungar, na mesa deste escrito,

    com os embries que assassinei no tero da mamexxviii. O eu aqui adquire espessura na medida em que

    incorpora outros eus compartilhados e simultaneamente descartados, de modo que algo ainda como

    um eu resta, fruto de uma hesitao entre o prprio e o imprprio da marca, que subsiste no texto

    autobiogrfico: Somos trs, possivelmente quatro, talvez cinco, compartilhando um nico crebroxxix.

    Esse mecanismo de autocriao do eu sob o primado de um ns dominante se torna mais

    complexo e profuso ao constatarmos que, no limiar da letra e da vida, o autor, Silviano Santiago, joga

    com sua presena, agregando-se estampa identitria plural de Samuel, contribuindo para conspurcar a

    univocidade da primeira pessoa. Essa presena se anuncia desde a capa, emprestando s memrias a

    traduo visual de sua persona: a fotografia em preto e branco ostentando um sorridente beb de olhar

    maroto.

    Outros indcios do indivduo Santiago se disseminam, enredando-se nas malhas das letras de

    Samuel. o caso, por exemplo, das referncias data e ao local de nascimento do autor

    (Samuel/Santiago), que coincidem entre si, favorecendo a intrincada mise en abme sobre a qual a

    narrativa se ergue. Na quinta verso de seu nascimento, Samuel declara, por exemplo, que teria nascido

    em Formiga, cidade do interior de Minas Gerais. No dia 29 de setembro de 1936. Filho legtimo de

    Sebastio Santiago e Nomia Farnese Santiagoxxx. No entanto, como si acontecer com o falso

    mentiroso, ao elencar distintas histrias envolvendo sua(s) origem(ns), essa fbula, como as demais,

    igualmente desconstruda, conservando todavia o trao do que foi rechaado: A verso to

    inverossmil, que nunca quis explor-la. Consistente s a data do nascimento. Cola-se que foi

    declarada em cartrio carioca pelo doutor Eucana e Donanaxxxi, estes ltimos pais postios de Samuel.

    O agenciamento de dados biogrficos do autor emprico (Santiago), transportados para a

    narrativa autobiogrfica de um autor de papel (Samuel), induz a um jogo autorreflexivo, culminando

    numa assinatura que conteria em seu bojo a inclinao ao mltiplo, ao se inscrever como potencial

    abertura para o seu desdobramento.

    Essa disjuno da voz em primeira pessoa encontra eco, por sua vez, num outro texto de

    Santiago, Eplogo em 1 pessoa: eu & as galinhas dangola, concebido para uma palestra proferida na

    PUC do RJ, em setembro de 2004. Na ocasio, Santiago foi convidado a pronunciar-se sob a tutela do

    nome prprio, o que o inspirou a pontuar sua fala com uma srie de questes acerca da complexa

    autoridade que subjaz chancela da primeira pessoa do singular. Numa passagem de seu texto, ele

    indaga: Sem identidade, sem rosto e sem nome prprio estvel, qual a minha primeira pessoa que,

    para se exprimir neste preciso momento, devo invocar e convocar?xxxii. Noutra passagem, incansvel

    em suas perquiries, Santiago conjectura:

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    Ou a minha primeira pessoa a ser invocada e convocada nesta palestra seria aquela que existe no momento em que, na minha

    casa, coloco ponto final no texto que acabei de escrever neste, por exemplo , e o assino com o nome que me prprio por direito civil? Ou seria aquela minha primeira pessoa que escreveu fim em outro texto recente, um romance, a que dei o ttulo

    de O falso mentiroso Memrias?xxxiii

    Santiago desarticula a unicidade subentendida na primeira pessoa, desmembrando-a em

    copiosos eus, que se ramificam na extenso dessas interrogaes alternativas. O que lhe permite

    reconhecer, nas condies que dariam suporte ancoragem do eu, uma necessria excluso do privilgio

    concedido voz enunciativa, compreendida como detentora dos direitos assegurados a uma identidade

    estvel, que precederia a todos os enunciados.

    A afirmao da alteridade, ao equacionar a heterodoxia do eu, produz um efeito performtico, na

    medida em que a construo de si implica a um tempo o declarado autoaniquilamento do sujeito indiviso

    e imutvel e sua concomitante reconstruo a partir do caminho aberto pelo outro. Assim, a certa altura

    de suas memrias, Samuel revela: Meu rosto, uma folha de papel em brancoxxxiv, inaugurando uma

    zona franca e frtil, apta a albergar uma legio de eus. o que podemos ver, por exemplo, na seguinte

    passagem:

    H que distinguir. Vozes, tons, falas, sentimentos, idias de cada um dos trs corpos, dos quatro ou dos cinco eus que

    coexistem em mim. Normal. H que aprender a voltar a entrecruzar, depois de desentrecruzados, vozes, falas, tons,

    sentimentos, idias. [...] no entrecruzamento de vozes, falas, tons, sentimentos, idias, sobressai o gene dominante,

    constitutivo da personalidade. Antropfago pela lei da natureza. Este eu que no quis ser ns. E . expresso de ns. Ns

    atados com escrpulo e cuidado, que eliminam o ns. Do autonomia ao eu.xxxv

    Nas linhas de suas memrias, Samuel brinca abertamente com o drama que circunda as

    investidas malogradas, dirigidas construo da identidade. Recusando-se a fixar no papel a harmonia

    de um rosto nico, Samuel se compraz em comunicar: Sou o mais original dos impostoresxxxvi,

    lembrando, porm, que a impostura, neste caso, no participa de um regime de oposies, situando-se do

    lado oposto sinceridade. O termo se inscreve com a devida rasura, sugerindo a movncia prpria das

    elaboraes identitrias provisrias. o autor mesmo Santiago quem se manifesta em defesa de seu

    personagem: No limite, meu personagem no um impostor. Qualquer pessoa que tenha experincia de

    psicanlise sabe que voc est constantemente fabulando sua prpria identidade, refazendo a sua

    identidade, at o momento em que tenha certa tranqilidade em relao quela construo que voc

    fezxxxvii. Em outro tempo e lugar, opinio semelhante expressa tambm por Montaigne, que expe em

    seus Ensaios a dificuldade enfrentada na tarefa de pintar-se. Vale a pena citar novamente o trecho j em

    parte mencionado:

    No posso fixar o objeto que quero representar: move-se e titubeia como sob o efeito de uma embriaguez natural. Pinto-o

    como aparece em dado instante, apreendo-o em suas transformaes sucessivas, no de sete em sete anos, como diz o povo

    que mudam as coisas, mas dia por dia, minuto por minuto. pois no momento mesmo em que o contemplo que devo

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    terminar a descrio; um instante mais tarde no somente poderia encontrar-me diante de uma fisionomia mudada, como

    tambm minhas prprias idias possivelmente j no seriam as mesmas. [...] Se minha alma pudesse fixar-se, eu no seria

    hesitante; falaria claramente, como um homem seguro de si.xxxviii

    No que tange ao carter performtico, identificado na escrita de Santiago, este pode ser aproximado,

    por seu turno, de uma certa tendncia que se verifica atualmente (mais do que em qualquer outra poca)

    nas letras contemporneasxxxix

    . Trata-se da tentativa de desmitificao do prprio ato da escrita no

    momento de seu nascedouro, captando o timo de sua realizao, facultando um strip-tease daquele que

    escreve, ao deixar-se surpreender no extremo de si mesmo, como diz o poeta, se exercendo nessa

    nudez, a mais nua que hxl.

    Ao fim e ao cabo, a folha de papel em branco se torna ento palco onde o eu encena a figurao

    de seu prprio rosto. E onde assume a funo de pintor de si mesmo, tornando-se sujeito/objeto do

    discurso que assina.

    i ARFUCH, Leonor. O espao biogrfico: dilemas da subjetividade contempornea. Trad. Paloma Vidal.

    Rio de Janeiro: EdUERJ, 2010, p. 15. ii Ibid., p. 114.

    iii ROUSSEAU, Jean-Jacques. Confisses. Trad. Raquel de Queiroz, livros I a X, e Jos Benedicto Pinto,

    livros XI e XII. Bauru, SP: EDIPRO, 2008, p. 29. iv MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. Trad. Srgio Milliet. So Paulo: Nova Cultural, 1996a. v. 1, p. 31.

    (coleo Os Pensadores) v Ibid., p. 31.

    vi DUQUE-ESTRADA, Elizabeth Muylaert. Devires autobiogrficos: a atualidade da escrita de si. Rio de

    Janeiro: NAU/Editora PUC-Rio, 2009, p. 18. vii

    MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. Trad. Srgio Milliet. So Paulo: Nova Cultural, 1996b, v. 2, p.

    153. (coleo Os Pensadores)

    viii

    KLINGER, Diana. Escritas de si, escritas do outro: o retorno do autor e a virada etnogrfica. Rio de

    Janeiro: 7Letras, 2007, p. 61. ix

    BARTHES, Roland. O rumor da lngua. Trad. Antnio Gonalves. Lisboa: Edies 70, 1987, p. 51. x BARTHES, 1987, p. 51.

    xi Ibid., p. 53.

    xii Ibid., p. 53.

    xiii FOUCAULT, Michel. Esttica: literatura e pintura, msica e cinema. Trad. Ins Autran Dourado

    Barbosa. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2001, p. 274. (col. Ditos e Escritos; v. III) xiv

    Ibid., p. 267. xv

    FOUCAULT, 2001, p. 268. xvi

    Ibid., p. 287. xvii

    Ibid., p. 288. xviii

    VIEGAS, Ana Cludia Coutinho. O retorno do autor: relatos de e sobre escritores contemporneos. In: VALLADARES, Henriqueta do Coutto Prado (Org.). Paisagens ficcionais: perspectivas entre o eu e o

    outro. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007, p. 15. xix

    www.revistaepoca.globo.com xx

    KLINGER, 2007, p. 55. xxi

    PADILHA, Fabola. Expedies, fices: sob o signo da melancolia. Vitria: Flor&Cultura, 2007. xxii

    SANTIAGO, Silviano. O falso mentiroso: memrias. Rio de Janeiro: Rocco, 2004a, p. 9.

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    xxiii

    Ibid., p. 9. xxiv

    html://p.php.uol.com.br/tropico/html/textostextos//2375,2.shl (SANTIAGO, 2004b) xxv

    Cf. MIRANDA, Wander Melo. Corpos escritos: Graciliano Ramos e Silviano Santiago. So Paulo:

    Ed. USP; Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1992, p. 25-41. xxvi

    Cf. DERRIDA, Jacques. Parages. Paris: Galile, 1986. xxvii

    SANTIAGO, 2004a, p. 136. xxviii

    Ibid., p. 136. xxix

    Ibid., p. 180. xxx

    Ibid., p. 180. xxxi

    SANTIAGO, 2004a, p. 180. xxxii

    SANTIAGO, Silviano. Eplogo em 1 pessoa: eu & as galinhas dangola. In: ______. O cosmopolitismo do pobre. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2004c, p. 246, grifos do autor. xxxiii

    SANTIAGO, 2004c, p. 249. xxxiv

    SANTIAGO, 2004a, p. 140. xxxv

    Ibid., p. 181. xxxvi

    Ibid., p. 218. xxxvii

    html://p.php.uol.com.br/tropico/html/textostextos//2375,2.shl (SANTIAGO, 2004b) xxxviii

    MONTAIGNE, 1996b, p. 153-154. xxxix

    Esse carter performtico pode abranger, em sentido amplo, o conjunto das prticas culturais

    contemporneas, no mais com o propsito de chocar ou romper com formas artsticas tradicionais, como tencionavam fazer as vanguardas do sculo XX, mas com o intuito de desmobilizar os princpios

    que norteiam a representao mimtica. Como ressalta Mrcio Seligmann-Silva: A marca dessa arte [a arte contempornea] a sada do campo da mmesis como imitatio e passagem para uma noo de arte

    como manifestao das pulses: rito, performance. E, citando Perniola, arremata: A transmisso ritual dos usos j tende a caracterizar a cotidianidade: todos os gestos e todos os comportamentos esto

    implicados numa circulao que os subtrai identidade e origem (SELIGMANN-SILVA, Mrcio. O local da diferena. So Paulo: Ed. 34, 2005, p. 59-60). xl

    MELO NETO, Joo Cabral de. In: OLIVEIRA, Marly de (Org.). Obra completa: volume nico. Rio de

    Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 413.