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mersa em uma di- mensão paralela, a “mulher de branco”, Ana Maria, uma figura lendária de Ipanema deixa, até mesmo, a arte de Salvador Dalí em perfeita adequação lógica. Ela assume para a própria vida a estética surreal e não tem pudore s ao defender que a existência é pura re p resentação. Sob a suposta posse de um telefone móvel – no caso, a própria mão – Ana Maria, que foi casada com o cantor e compositor Marcos Valle, circula diariamente pela sacada de sua casa e, durante horas, realiza suas ditas “ligações internacionais”. “Está sempre bronzeada de sol no calçadão da praia, de biquíni, tiara e manto branco. Tudo bran- co”, conta Thiago Brandão, há 20 anos morador do bairro. “Dizem que era bonitona, a sen- sação da praia. Mas, ficou louca por causa das drogas e da sepa- ração”. Assim como a personagem ca- rioca, são muitos os que fazem dos cenários da rotina, um ver- dadeiro palco teatral. Seja como fuga da realidade, seja por mar- keting ou por necessidades mer- cadológicas, o “faz de conta real” já é apontado como um distúrbio social, além de um novo way of life. São pessoas que assumem personagens 24 horas por dia até que, em dado momento, já não distinguem o real da ficção. Da mesma forma que existem os reconhecidos mentirosos pa- tológicos, também personagens anônimos partem de pequenas invenções para a construção de um novo sentido para a própria existência. É o caso da dona-de- casa Regina Azevedo, de 74 anos, JOÃO PAULO SÁ, JOSÉ EDUARDO PACHÁ, LUIZA PIZARRO E RENATA THOMPSON Escolha o seu papel e “quebre a perna” Julho/Dezembro 2005 6 Marilyn Manson choca a opinião pública na mesma proporção que vende seus discos “Seu maior prazer na vida é andar. Anda todos os dias no calçadão das praias de Ipanema e Leblon. Roupa branca, passos largos, sua figura chama a atenção. (...) Tem suas manias: não passa em túnel (‘lembra um útero’), não entra em filas ‘porque lembram a fila da reencarnação’, e usa um sinal de purpurina azul entre os olhos ‘para não perder a serenidade’” (Anônimos famosos, Carlos Eduardo Novaes) Rock-AM-Ring MTV

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Page 1: Escolha o seu papel e “quebre a perna” - Portal PUC-Rio Digitalpuc-riodigital.com.puc-rio.br/media/2 - escolha o seu... · 2008-11-17 · no calçadão das praias de Ipanema e

mersa em uma di-mensão paralela, a“mulher de branco”,Ana Maria, uma figura

lendária de Ipanema deixa, atémesmo, a arte de Salvador Dalíem perfeita adequação lógica. Elaassume para a própria vida aestética surreal e não tem pudore sao defender que a existência épura re p resentação. Sob a supostaposse de um telefone móvel – nocaso, a própria mão – Ana Maria,que foi casada com o cantor ecompositor Marcos Valle, circ u l adiariamente pela sacada de suacasa e, durante horas, realiza suasditas “ligações intern a c i o n a i s ” .

“Está sempre bronzeada de solno calçadão da praia, de biquíni,tiara e manto branco. Tudo bran-co”, conta Thiago Brandão, há20 anos morador do bairro .“Dizem que era bonitona, a sen-sação da praia. Mas, ficou loucapor causa das drogas e da sepa-ração”.

Assim como a personagem ca-rioca, são muitos os que fazemdos cenários da rotina, um ver-dadeiro palco teatral. Seja comofuga da realidade, seja por mar-keting ou por necessidades mer-

cadológicas, o “faz de conta real”já é apontado como um distúrbiosocial, além de um novo way oflife. São pessoas que assumempersonagens 24 horas por dia atéque, em dado momento, já nãodistinguem o real da ficção.

Da mesma forma que existemos reconhecidos mentirosos pa-tológicos, também personagensanônimos partem de pequenasinvenções para a construção deum novo sentido para a própriaexistência. É o caso da dona-de-casa Regina Azevedo, de 74 anos,

JOÃO PAULO SÁ, JOSÉ EDUARDO PACHÁ, LUIZA PIZARRO E RENATA THOMPSON

Escolha o seu papel e“quebre a perna”

Julho/Dezembro 20056

Marilyn Manson choca a opinião pública na mesma proporção que vende seusdiscos

“Seu maior prazer na vida éandar. Anda todos os diasno calçadão das praias deIpanema e Leblon. Roupabranca, passos largos, suafigura chama a atenção.(...) Tem suas manias: nãopassa em túnel (‘lembra umútero’), não entra em filas‘porque lembram a fila dareencarnação’, e usa umsinal de purpurina azulentre os olhos ‘para nãoperder a serenidade’”

(Anônimos famosos, Carlos Eduardo Novaes)

Rock-AM-Ring MTV

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que projeta no presente os desejosintangíveis do passado. Segundosua filha, Cristina Machado, coma reconstituição diária de cenasantigas, a mãe tenta suprimir omatrimônio frustrado por umpassado idealizado. “Naquelaépoca, em 1949, eu tinha um fãardoroso. O nome dele era Álva-ro, não me recordo o sobrenome.Era diretor de uma grandee m p resa na época. Ele chora,ainda hoje, querendo me conhe-c e r. Eu tive também um fãincondicional, chamado NionLanari, que me tentava todos osdias. Nós sentávamos em car-teiras próximas, no Curso de Co-mércio. Ele era um aluno exem-plar e me dava a entender queme queria não como amiga, mascomo namorada. Hoje, confessoque Nion conseguiu me roubarum beijo”, lembra Regina.

A psicóloga Angélica BrittoP e reira afirma que há umatendência humana em preservareventos do passado como anal-gésico contemporâneo e exempli-fica a “síndrome do Peter Pan”como uma das estratégias recor-rentes entre pessoas de distintasidades. Segundo ela, entre os sin-tomas do fenômeno estão “afalta de responsabilidade, ati-tudes de desamparo, desequi-líbrio emocional e uma alegre edespreocupada visão da vida”.Com a máxima incorporação dasíndrome à identidade, a pessoamanifesta freqüentes queixasemocionais e apresenta, inclu-sive, baixa auto-estima. “Alémda adesão a comport a m e n t o sque reproduzem eternos adoles-centes, as vítimas começam arenunciar estímulos e perdem a

disposição para investir emnovas metas. É como se a cons-ciência se voltasse somente paraa memória e não para o mundo,para o exterior. Com isso, ao serelacionar apenas com as lem-branças, a consciência se enri-jece, endurece, pois cada vezmenos ela permite que novosestímulos a afetem, enriquecen-do-a e expandindo. A repetiçãodaquilo que se foi ou do que seimagina ter sido substitui, aospoucos, o que de real podemosnos torn a r, a cada momento,

através das novas experiências”,explica Angélica.

Caminhos profissionaismoldam personagens

Miss Brasil em 1964, ÂngelaVasconcellos não se enaltece coma coleção de títulos no passado,quando tinha de driblar o estre-lato e fugir da estética da aparên-cia. Após voltar a Curitiba deuma temporada de dois anos naAlemanha e aceitar a candidatu-ra ao concurso imediatamente –“pois só queria continuar viajan-

É tudo mentira!7

Personagem andrógino de David Bowie, Ziggy Stardust foi um dos maioresfenômenos da história da música pop

Glam Rock Bear’s Glam Rockfiles

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do” –, a vida da arquiteta cariocasofreu as conseqüências dos holo-fotes.

Segundo ela, já naquela época,a aparição pública era uma cobiçageneralizada, e muitos já faziamda superexposição uma re p re s e n-tação diária. “Tentei desistir, masjá estava em cima. Ganhei o MissCuritiba, Miss Paraná e Miss Bra-sil. Viajei para Miami e fiqueie n t re as 15 finalistas do MissUniverso. Tudo aconteceu rapida-mente. Mas, eu estava certa deque, no fim, retomaria a vida deantes. Missão impossível. Naquelaépoca, miss era ‘de domínio públi-co’, e foi difícil re v e rter a situaçãomesmo depois de ter passado ac o roa para minha sucessora”, re-c o rda Ângela.

Assim como nas passarelas, asareias da praia de Ipanema tam-bém deram vida a um perso-nagem do cotidiano carioca. Cer-tamente, pouca gente sabe quemé Robenildo Quintino Alves. Mas

não há um morador de Ipanemaque não conheça o Pelé da Praia.Há 28 anos, ele vende biscoitos ebebidas em frente à Rua GarciaD´Ávila, mas foi em 1996 queganhou fama e o apelido seespalhou. Tudo porque foi res-ponsável por uma idéia queninguém havia tido: colocar,perto de sua barraca, um chu-veiro na areia à disposição detodos os banhistas.

“Fazia uma fila muito grande.Foi um sucesso. Aí, resolvi fazeruma carteirinha para os clientesmais antigos dando descontosem cadeiras, barracas e nasbebidas. Veio televisão, jorn a l ,um monte de gente me entrevis-tar e apareceram empre s a sq u e rendo anunciar na minhabarraca”, conta Pelé, que, depoisde assumir completamente o per-sonagem, montou uma escolinhade vôlei de praia com seu“nome”, fez comercial para umagrande empresa de refrigeradores

e até já se candidatou a vereadordo Rio pelo PMDB, conseguindo729 votos.

Se as praias do Rio parecem olugar ideal para encontrar osa t o res do comportamento, asruas, avenidas e bares que ligamos palcos da cidade a Xerém tam-bém não ficam atrás. Top of Minddo samba de raiz, Zeca Pago-dinho é um caso típico do artistaque criou seu personagem e ointerpreta todo o tempo. Ele en-carnou um malandro moderno,que trabalha, é casado, mas nãoabandona a boemia. “Se pudessedar um bico nisso tudo e conti-nuar como eu era... Minha mu-lher diz que para eu cantar horae meia num show faço umesforço danado. Mas que se eue n t ro no Buraco Quente, na Man-gueira, canto até às cinco”, afir-mou em recente entrevista aoJornal do Brasil.

F e rnanda Moreno, pro d u t o r ado Prêmio Tim de Música, reve-lou que em uma das premiaçõesno Teatro Municipal do Rio sóacharam o Zeca cinco minutosantes da hora dele subir nopalco. “Ele estava no bar do outrolado da rua tomando uns chopescom o pessoal que conheceu lámesmo. Quase que ele não foi re-ceber o prêmio”, afirmou.

Essa relutância em aceitar opersonagem que a vida profis-sional lhe obrigou a engolir, ficaevidenciada no mais famoso casode “vira-casaca” da propagandabrasileira. Famoso boêmio, Zecase tornou pivô de uma brigaentre dois dos principais publi-citários do país, quando decidiut rocar de camisa na hora deanunciar a cerveja que tomava.

Julho/Dezembro 20058

Zeca Pagodinho reluta em aceitar o personagem que sua própria carreira criou

Viva Afro Brasil

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Tudo porque não agüentavamais beber sua marca preferidaescondido das câmeras.

A criação e a recriação dospróprios personagens

A psicóloga Angélica BrittoP e reira lembra que o filósofofrancês Jean Paul Sart re já ilustra-

va, com o conceito de má fé, acoisificação do homem pela iden-tificação com um papel. “Ohomem contemporâneo é catego-rizado pelos atributos que possuiou pela função que desempenha,o que pode ser notado em algunss o b renomes de famílias, cuja ori-gem vem de uma ocupação, a mes-

ma que revelava a projeção socialde seus membros”, explica.

Segundo Angélica, para Sartre,nós buscamos representar comperfeição aquilo que os outros emgeral esperam de nós. “Mas eletambém diz que se retirarmostodos os nossos atributos oupapéis, o que resta é o Nada. Isto

É tudo mentira!9

Eles são pessoas comuns,anônimas, mas que, pormotivos part i c u l a res, de-cidiram apostar em umamudança radical. Aceita-ram ser confinados em

uma casa com outras pessoas e observados 24horas por dia. São os participantes dos realityshows, que viraram moda no mundo, tais como oBig Brother Brasil, que conquista altos índices deaudiência para a Rede Globo. Além dos conflitosque permeiam cada programa e da curiosidadesobre a intimidade dos participantes, outra polêmi-ca sustenta o interesse e a fidelidade do público.Afinal, os motivos que levam cada um a entrar noprograma permitem que atuem como eles mes-mos? A jornalista Esther Hamburger lembra que aprópria edição dos capítulos levantou essa dis-cussão.

“Na primeira versão de Casa dos artistas, a ediçãodos episódios que iam ao ar se tornou, ela mesma,tema de disputa e discussão entre os participantes.Eles sentiam que seus personagens escapavam desua interpretação, uma vez que, aos olhos do públi-co, em larga medida, sua atuação era filtrada peloscortes e seleção de trechos”, diz ela em artigo parao jornal Folha de S. Paulo.

Segundo Fernando Andacht, professor e pes-quisador uruguaio, o aspecto dramático do Big Bro-ther origina-se no processo de ficcionalização queacontece por meio das duas interpretações geradaspelo reality show: “a compreensão da audiência doprograma e a auto-encenação dos protagonistasdurante sua permanência na casa.” Após analisarum levantamento feito com o público da versãoBig Brother Uru g u a i, ele assinala que a atuaçãodos participantes é sempre bem observada pelop ú b l ico.

“Os jovens discutem com paixão, por exemplo, ograu de autenticidade dos moradores (eles são o

que parecem ser), ou de falsidade (eles só jogam nacasa). Esse é só um dos muitos temas sobre os quaisesses membros do público não cessam de refletircom singular engajamento. A transformação dopúblico em um enorme e espontâneo grupo de focodeve-se à encenação do processo de interaçãocotidiana, que é um componente essencial daestrutura do BB”, diz.

O caso TrumanOs reality shows

também são temade cinema. É ocaso do filme Oshow de Tru m a n,do diretor PeterWe i r, que cria umexemplo curiosode pessoas que re-p resentam 24 ho-ras por dia. O per-sonagem de JimC a rre y, Tru m a n ,por exemplo, nãofaz idéia de que é op rotagonista deum reality show,com câmeras queregistram todos os momentos de sua vida, desdeseu nascimento. Weir, no longa, faz uma inversão.Truman é um ator sem o saber, pois, desde o início,sua vida e seu mundo foram criados e manipuladospor um diretor de televisão. Ao contrário de todasas pessoas que o rodeiam como esposa, amigos evizinhos que são atores profissionais, Truman atuasem saber que está atuando. O paradoxal da vida,diferentemente dos Big Brothers, é que no filmeTruman tem a certeza de que está sendo ele mesmo.O próprio nome já diz: true man (homem ver-dadeiro).

Encenação ou reality?

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é, a pura indeterminação quesomos essencialmente. E, nestesentido, Sartre afirma que somoslivres para nos criarmos e nãosomente ficarmos repetindo osmesmos papéis já prontos”, con-clui a psicóloga.

Em relação a essa re c r i a ç ã oconstante de personagens, omundo da música parece um ter-reno fértil na geração de exem-plos. Alguns músicos usam muitobem a habilidade de encarnarnovas personalidades, para ditarmoda, criar conceitos, estilos e – éc l a ro – vender muitos discos.Num mercado volátil como ofonográfico, onde a tecnologiasempre está passível de grandest r a n s f o rmações, o m a r k e t i n g éuma técnica essencial para se tersucesso.

Perceptivo e visionário, o can-tor David Bowie aprendeu cedoessa lição. No final dos anos1960, o cantor inglês aproveitoutoda a repercussão da chegadado homem à lua e do lançamen-to de 2001 – Uma odisséia noespaço, de Stanley Kubrick, paraadotar a personalidade do astro-nauta “Major Tom”, que o acom-

panhou durante toda aquelaturnê.

Anos mais tarde, depois deuma série de mudanças – queinclusive o levaram a escrever amúsica Changes – Bowie encar-nou em tempo integral um per-sonagem que já se desenhava hátempos. Com o cabelo vermelhoe estranhamente cortado para ospadrões da época, roupas emaquiagens exóticas e seu par deolhos com cores naturalmentediferentes, o cantor assumiu abissexualidade – termo pouquís-simo conhecido e compreendidonaquele momento – e deu vidaao alienígena andrógino ZiggyStardust.

Décadas de muito sucesso e dis-cos vendidos separam a trajetóriado personagem mais famoso deBowie e o aparecimento de MarilynManson, em 1994. Nascido BrianHugh Warner, ele já havia adota-do o personagem formado pelajunção do nome do símbolo se-xual Marilyn Monroe e do “serialkiller” Charles Manson, quandocomeçou a gravar. Mercadologi-camente falando, essa foi umaaposta certíssima.

Milhões de discos vendidos peloartista no mundo foram frutos detoda a polêmica que o perso-nagem criou ao confrontar tabusda sociedade americana re l a-cionados a temas como violên-cia, religião e, principalmente,sexo. De um disco para o outro,seu visual vem transitando entreo andrógino e o travestido e seucomportamento entre o assexua-do e o libertino.

Menos famosa e mais miste-riosa do que Bowie e Manson,Fabiana prefere não revelar seunome verd a d e i ro. “É Fabianamesmo”, repete a travesti de 28anos. Sem a notoriedade de ou-tras como Roberta Close, ela per-c o rre a cidade de São Paulofazendo programas à noite ecuida da casa durante o dia.Porém, quando perguntada sevive o personagem Fabiana 24horas por dia, ela – definitiva-mente – é taxativa. “Não vivoum personagem. Quem vive sãoos homens casados que, todo dia,me ligam querendo realizar suasfantasias”.

E, aí, fica a pergunta: seremostodos atores?

Julho/Dezembro 200510

Mundo bem me quer mal me quer (À la folie... pas du tout, 2002)

Angélique é um exemplo de pessoas que vivem uma vidaimaginária. No entanto, ela é, de fato, uma personagem,interpretada pela atriz francesa Audrey Tautou no filmeBem me quer mal me quer. Angélique é apaixonada pelomédico Loïc (Samuel Le Bihan), seu suposto amante, e viveobcecada por essa paixão. Ao longo do filme, o jogo damontagem de cenas faz o público crer que o sentimento dajovem é correspondido e que a relação realmente existe.No fim, fica clara a ilusão de Angélique. Loïc não a ama e,mais do que isso, nem sabe que ela existe. É tudo imagi-nação da moça, que mata o amado ao ser rejeitada.