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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL: PERSPECTIVAS E DESAFIOS. TATIANA SIMÃO DE CARVALHO NATAL-RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA

ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL: PERSPECTIVAS E DESAFIOS.

TATIANA SIMÃO DE CARVALHO

NATAL-RN

2016

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TATIANA SIMÃO DE CARVALHO

ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL: PERSPECTIVAS E DESAFIOS.

Artigo Científico apresentado ao Curso de Pedagogia a Distância do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia, sob a orientação do professor Dr. Bruno de Oliveira Lima.

NATAL-RN

2016

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FICHA CATALOGRÁFICA

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ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL: PERSPECTIVAS E DESAFIOS.

Por

TATIANA SIMÃO DE CARVALHO

Artigo Científico apresentado ao Curso de Pedagogia a Distância do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Dr. Bruno de Oliveira Lima (Orientador)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_____________________________________________________

Dra. Kilza Fernanda Moreira de Viveiros

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________________________

Ms. Janaína Lopes Barbosa

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL: PERSPECTIVAS E DESAFIOS.

Tatiana Simão de Carvalho

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.

RESUMO

O presente artigo enfoca a temática Educação em tempo integral através do Programa

Mais Educação integrante do PDE e tendo como marco legal a Portaria Interministerial

17/2007 e o Decreto 7.083/10.Tem por objetivo discutir os desafios e as possibilidades

de construção desse novo modelo de ser escola. A metodologia utilizada foi a reflexão

sobre a concepção de autores que versam sobre esta temática, Cavaliere (2007), Hora e

Coelho (2004), Kuhlmann (2001), Libâneo (2008), Saviani (2007), VinãoFrago (1998),

Vygotsky (1998) junto à pesquisa documental SEEC/RN Portaria nº 211,que autoriza o

funcionamento de Escola em Tempo Integral no estado do RN. Portaria normativa

Interministerial nº 17/2007-BRASIL.) e de campo numa escola selecionada na cidade de

Macau/RN contemplada com educação em tempo integral no ano de 2016. Por meio de

análise de documentos orientadores do MEC sobre esta temática e de literatura voltada

ao tema propõe-se uma reflexão acerca do tema. A primeira parte aponta tentativas,

mesmo que isoladas de escolas que ofereçam um currículo com ampliação de jornada e

modelo de currículo voltado a desenvolvimento das potencialidades integrais do

educando. Assim como contempla o momento de transformações no cenário

educacional brasileiro atual, em virtude das políticas públicas implementadas há cerca

de uma década no país. A segunda contempla o Programa Mais Educação.A terceira

parte fazemos um recorte à escola pesquisada e uma comparação entre o diz os marcos

legais e aplicação desta política no cotidiano escolar, bem como algumas percepções

que ao final da pesquisa consideramos intrínsecas ao processo de desenvolvimento desta

política e na quarta parte as conclusões do trabalho ora desenvolvido.

Palavras-chave: Educação Pública; tempo integral; Desafios.

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ABSTRACT

This article focuses on the education theme full time through the More Education

Program member of PDE and with the legal framework to Ministerial Decree 17/2007

and Decree 7.083 / 10. It aims to discuss the challenges and the possibility of

construction of this new model to be school. The methodology used was the

presentation of authors who deal with this subject, field research in a selected school in

the city of Macau / RN awarded full-time education in the year 2016.Por through

analysis of policy documents of the MEC on this topic and literature focused on the

theme proposes a reflection on the subject. The paper is divided into parts. The first

point attempts, even if isolated schools that offer a curriculum with magnifying journey

and resume template facing the development of the whole student potential. As well as

contemplating the moment of transformation in the current Brazilian educational

scenario, because of the public policies implemented for about a decade in the country.

The second includes the More Education Program. The third part we do a cut to school

studied and a comparison between the said legal frameworks and implementation of this

policy in everyday school life, as well as some perceptions that the end of the research

consider intrinsic to the policy development process and the fourth part of the

conclusions of work now developed.

Keywords: Public Education; Full-time; Challenges.

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1. INTRODUÇÃO

A educação brasileira passa por um momento de construção e desconstrução de

paradigmas. Nesse movimento constante e salutar sobre qual o modelo de escola que

atenderá qualitativamente aos alunos do século XXI encontra-se nas agendas

educacionais a escola em tempo integral1.

Expandir a carga horária de atendimento aos alunos é o primeiro passo para a

implantação desta temática. Em seguida, a etapa, e por que não dizer a mais

significativa, deste processo de (re)significar a escola como espaço de transformação

social conectada aos interesses e necessidades dos alunos.

Segundo Libâneo (2008) as instituições escolares vêm sendo pressionadas a

repensar seu papel diante das transformações que caracterizam o acelerado processo de

integração e reestruturação capitalista mundial.

Coelho e Hora (2004) reportam-se à temática entendendo a Educação Integral como um

amplo conjunto de atividades diversificadas inseridas no currículo escolar que possibilitam uma

formação mais completa ao ser humano. Ainda complementam que:

Nesse sentido, essas atividades constituem-se por práticas que incluem

os conhecimentos gerais; a cultura; as artes; a saúde; os esportes e o

trabalho. Contudo, para que se complete essa formação de modo

crítico-emancipador, é necessário que essas práticas sejam trabalhadas

em uma perspectiva político-filosófica igualmente crítica e

emancipadora (HORA; COELHO, 2004, p. 9).

Assim estamos diante de alguns questionamentos urgentes. De que forma os

agentes educacionais e o governo, implementador desta política educacional, podem

contribuir para sua implantação e eficácia? O que precisa ser modificado no currículo

escolar e na concepção do papel da escola para atender a esta demanda que ora se

1Segundo o dicionário AURÉLIO (2016) Integral significa inteiro, total, integrante.

8

apresenta às escolas de tempo integral? O professor está preparado para atender a este

novo cenário educacional?

Dermeval Saviani (1980) atribui à escola a função de promover o homem e,

nessa perspectiva, propõe melhorias profundas na formação docente e no ensino

discente. Antônio Gramsci (1979, 1989) propõe uma escola (...) que não aja de forma

imediatista, mas (...) conduzindo o aluno ao hábito de estudar, analisar, raciocinar e

abstrair.

Inquietos diante destas afirmativas nos propomos a discutir esse tema, que

chegado à nossa realidade educacional será constante e crescente. É preciso incluir

todos os agentes diante do novo cenário educacional se todos os envolvidos, que esta

política não seja vista como mais um benefício assistencialista ao educando fruto de

uma sociedade cada vez mais excludente e capitalista.

Segundo o MEC (2016), uma escola de Educação integral representa a opção por

um projeto educativo integrado, em sintonia com a vida, as necessidades, possibilidades

e interesses dos estudantes. Um projeto em que crianças, adolescentes e jovens são

vistos como cidadãos de direitos em todas as suas dimensões. Não se trata apenas de seu

desenvolvimento intelectual, mas também do físico, do cuidado com sua saúde, além do

oferecimento de oportunidades para que desfrute e produza arte, conheça e valorize sua

história e seu patrimônio cultural, tenha uma atitude responsável diante da natureza,

aprenda a respeitar os direitos humanos e os das crianças e adolescentes, seja um

cidadão criativo, empreendedor e participante, consciente de suas responsabilidades e

direitos, capaz de ajudar o país e a humanidade a se tornarem cada vez mais justos e

solidários, a respeitar as diferenças e a promover a convivência pacífica e fraterna entre

todos.

Segundo Saviani (2007) política educacional diz respeito às decisões que o

Poder Público, isto é, o Estado, toma em relação à Educação. Caracteriza-se comoum

sistema de metas e planos.

Entendemos que a escola em tempo integral é uma política educacional. Trata-se

de uma política, pois coloca em prática medidas planejadas e concebidas por um

governo visando a elevação da educação seja numa esfera micro ou macro. Dotada de

planos de metas a serem alcançados paulatinamente, é necessário a colaboração dos

entes federados para que se efetive.

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Em relação a Escola de tempo Integral, nas escolas públicas, o Programa Mais

Educação é atualmente o fio condutor desta política.Conduzida atualmente pelo governo

federal, através do PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola) e FNDE (Fundo

Nacional de Desenvolvimento da Educação) que repassa a Estados e Municípios

recursos para a implantação da carga horária mínima de 7 h/dia.

É válido ressaltar que escolas de tempo Integral de caráter privado já existem há

bastante tempo. Elas oferecem aulas de reforço e esportes, por exemplo, no contra

turno. Alunos da rede privada freqüentam estas atividades por opção familiar, diferente

da escola pública onde é uma medida adotada pelo governo.

Para nos aprofundarmos a respeito do tema é importante iniciarmos uma

incursão histórica. Durante a Primeira República, no Brasil, a Educação passou a ser

vista como necessária ao desenvolvimento do país. De lá para cá inúmeras

interferências ocorreram no sistema educacional brasileiro. Entre estas experiências

podemos exemplificar a proposta por Anísio Teixeira, que assumindo as ideias de

Dewey (1859-1952) que marcou sua formação e lhe deu base teórica para a construção

de um projeto de reforma para a Educação Brasileira, entre as ideias de Dewey, Teixeira

assume seu discurso e práticas de que a escola deveria ser de todos, buscando formar

integralmente os indivíduos. Em 1932, tendo encontrado base teórica sólida, junto a

outros educadores como Lourenço Filho e Fernando Azevedo. O Manifesto dos

Pioneiros da Educação. Documento que preconizava uma reforma educacional

brasileira.

É importante observar que em sua obra Educação não é privilégio (1957) Anísio

Teixeira não utiliza a expressão Escola de Tempo Integral, mas, traz à tona este conceito

quando se refere ampliação das funções da escola. Constitui-se como uma de suas

preocupações recorrentes a formação do indivíduo, perpassando todas as realizações

que efetivou, particularmente no campo da escola de Ensino Fundamental. Para Teixeira

(1994, pág.63)

Não se pode conseguir essa formação em uma escola por sessões, com

os curtos períodos letivos que hoje tem a escola brasileira. Precisamos

restituir-lhe o dia integral, enriquecer-lhe o programa com atividades

práticas, dar-lhe amplas oportunidades de formação de hábitos de vida

real, organizando a escola como miniatura da comunidade, com toda a

gama de suas atividades de trabalho, de estudo, de recreação e de arte.

10

No início da história da Educação Integral no Brasil podemos apontar Anísio

Teixeira como seu maior expoente. Partícipe da Escola Nova, movimento que ganhou

visibilidade, a partir do Manifesto dos Pioneiros da Educação, ele pode executar ações

nas Escolas-Parque na Bahia, fundada por ele, em 1950 onde defendia a ideia de que a

experiência do aluno deve ser a base do aprendizado.

Seguindo modelo parecido com o de Teixeira, na implantação deste modelo de

escola outra experiência se dá no Rio de Janeiro. São os CIEPS - Centros Integrados

deEducação Pública, de autoria do antropólogo Darcy Ribeiro.Implantados nos dois

mandatos do governo de Leonel Brizola. Tinha por objetivo oferecer ensino público de

qualidade, em período integral. Além de oferecer serviços educacionais também eram

constituídos de assistência médica e odontológica, e, adicionalmente o projeto

contemplava tirar crianças carentes das ruas, oferecendo-lhes pais sociais que deveriam

cuidar dessas crianças.

Em relação a legislação brasileira que serve como base para a educação em

tempo integral, podemos citar a LDB 9.394/2006, que em seu artigo 34 diz que o

Ensino Fundamental deverá ser ministrado progressivamente em tempo integral, a

critério de cada sistema de ensino. Já o PNE (2014-2024) nos traz um avanço em

relação a esta temática pois prevê na Meta 6 a oferta de Educação em Tempo Integral

para no mínimo 50% das escolas públicas, atingindo ao final do decênio o atendimento

de no mínimo 25% dos alunos da escola básica.

No que diz respeito ao contexto local do RN, apartir da promulgação da

PEC17/2015, de autoria da deputada Márcia Maia, o Estado passa a ter a obrigação de

incluir, progressivamente, a Educação em Tempo Integral para os alunos da rede

estadual do Ensino Fundamental.

Dentro desse contexto, este artigo tem por objetivo refletir sobre os desafios da

implantação da educação em tempo integral na escola pública brasileira, em especial na

escola Donana Avelino que serviu de parâmetro para este trabalho discutindo quais

perspectivas e desafios emergem na implantação desta referida política.

A seguinte pergunta de partida norteou a pesquisa: Quais os entraves e

contribuições que a Educação em Tempo Integral nos suscita enquanto educadores,

escola e governo? A partir desses pressupostos iniciais e em busca de responder nossas

inquietações.

11

Metodologicamente fizemos uso da pesquisa bibliográfica e exploratória. De

acordo com Gil (2010, p. 29-31): “a pesquisa bibliográfica é elaborada com base em

material já publicado. Tradicionalmente, esta modalidade de pesquisa inclui material

impresso como livros, revistas, jornais, teses, dissertações e anais de eventos

científicos”.

Justificamos o presente artigo na medida em que busca estimular e refletir

inovadoramente sobre teoria e prática na Educação em Tempo Integral, fazendo um

recorte à Escola Estadual Donana Avelino, localizada em Macau/RN contemplada com

o Programa Mais Educação, que faz parte das escolas contempladas pelo Governo do

Estado do Rio Grande do Norte, pela recente portaria Nº 211/2016-SEEC, que dispõe

sobre a implantação, organização e funcionamento do Ensino Fundamental em Tempo

Integral, oferecido na Rede Pública Estadual.

Em relação ao diagnóstico da escola podemos assim sintetizar.

Tabela 1

Quantidade de alunos atendidos 123

Turnos de funcionamento Matutino e vespertino

Anos escolares contemplados Do 1º ao 5º ano

Formação do corpo docente Graduados em Pedagogia

Estrutura Física 5 salas de aula

1 cozinha

3 banheiros masculinos-3 femininos

1 sala de direção

1 despensa

1 cozinha

1 espaço de recreação (pequeno)

1 sala de leitura

1 sala de informática

Fonte: direção da escola

12

Soma-se a isto um espaço próximo a cozinha que se destina a um refeitório

improvisado para os alunos (as mesas e cadeiras são carteiras da escola), os banheiros

forma ligeiramente adequados com chuveiro (para banho após o almoço). Em relação a

merenda a escola teve problemas no início do ano letivo, em virtude de servirem café da

manhã, lanhe, almoço e lanche da tarde. A diretoria e a supervisão assumiram este ano.

Os recursos financeiros que a escola dispunha não comportavam a despesa para oferecer

todas estas refeições. Em conversa informal com a gestora este fato já foi resolvido,

pois, o governo estadual complementou o recurso para tal fim, os restantes dos recursos

para manutenção da escola são oriundos do Programa Mais Educação.

O artigo está estruturado da seguinte maneira: Na introdução trazemos breves

reflexões teóricas, e, histórico a respeito da educação em tempo integral, objetivo,

justificativa, metodologia, diagnóstico da escola; No primeiro capítulo buscamos

delinear o programa Mais Educação; No terceiro capítulo trazemos a pesquisa de campo

na Escola Estadual Donana Avelino, bem como algumas fundamentações teóricas e

práticas cotidianas do dia a dia escolar observado; No capítulo quatro apresentamos

algumas perspectivas e desafios para a educação em tempo integral; E por fim as

considerações finais nas quais apontamos caminhos para futuras pesquisas.

2. NO QUE CONSISTE O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO?

O Programa Mais Educação, instituído pela Portaria Interministerial nº 17/2007 e

regulamentado pelo Decreto 7.083/10, constitui-se como estratégia do Ministério da

Educação para induzir a ampliação da jornada escolar e a organização curricular na

perspectiva de Educação Integral.

Para o MEC (2016), o Programa Mais Educação, ofertado às escolas públicas de

Ensino Fundamental, consiste no desenvolvimento de atividades de educação integral

que expandem o tempo diário de escola para o mínimo de sete horas e que também

ampliam as oportunidades educativas dos estudantes. As atividades do Programa

tiveram início em 2008, com a participação de 1.380 escolas, em 55 municípios nos 26

estados e no Distrito Federal, atendendo 386 mil estudantes. Trata-se de uma estratégia

indutora para a implantação do Ensino em Tempo Integral nas escolas brasileiras.Entre

os principais critérios para seleção das escolas a serem contempladas com o referido

programa estão, fato de que apresentam 50% ou mais de estudantes participantes do

Programa Bolsa Família e o IDEB baixo.

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A LDB/96 preceitua em seu 34º, inciso segundo que o Ensino Fundamental será

ministrado progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino. O

PNE (2014-2024) prevê na Meta 6, a oferta de educação em tempo integral para no

mínimo 50% das escolas públicas e o atendimento de ao menos 25% dos estudantes de

educação básica do Brasil ao final de sua vigência. Concomitante a essas legislações

federais os Estados e Municípios, em regime de adesão e colaboração com o governo

federal também criaram seus marcos legais. No Estado do Rio Grande do Norte o PEE

(Plano Estadual de Educação) no tópico que trata da qualidade da educação básica em

sua Meta 2 contempla a Educação em Tempo Integral.

Tendo como marcos legais os artigos 205, 206 e 227 da Constituição Federal, no

Artigo 34 da LDB nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, com base na meta 6,

estabelecida no Plano Nacional de Educação, Lei nº 13.005 de 25 de junho de 2014, e

com base na meta 6 do Plano Estadual de Educação do RN 2015/2024, a implementação

desta política no Estado do Rio Grande do Norte foi respaldada através da Portaria nº

211/2016, SEEC. Dispõe que inicialmente em:

Art. 1º - implantar a Educação Integral em Tempo Integral

gradativamente na Rede Pública Estadual, assegurando o

desenvolvimento humano e social dos estudantes, a ampliação da

jornada escolar, a integração das áreas de conhecimento, os saberes e

as experiências. (SEEC, 2016, p. 1).

A implantação gradativa das escolas em tempo integral nas escolas da rede pública

estadual. Se deu a partir de 2016 inicialmente com 10 escolas contempladas (escolas-

piloto). Sua carga horária /diária é de 8h50 minutos sendo destes 7h20 minutos

destinados às atividades de trabalho escolar e 1h30minutos dedicado a educação

alimentar e nutricional, perfazendo um total de 1.600 h/aulas anualmente. Ou seja, é

acrescido a seu tempo 600 h a mais que na escola de tempo parcial.

A mesma Portaria assegura que as escolas contempladas receberão recursos

suficientes. Mas ao tratar-se de insumos para manutenção, equipamentos, recursos

pedagógicos e alimentação estes serão providos de projetos e/ou programas do Governo

Federal.

14

Em relação à sua estrutura organizacional deverá ser composta por um professor

articulador com carga horária completa ou 10 horas suplementares, dois apoios

pedagógicos e horas suplementares para os educadores que desenvolvam extras sala

conforme a Proposta Pedagógica da Escola.

É valido destacar também que a Portaria prevê e respalda que as atividades possam

ser realizadas na escola, tanto quanto em espaços externos. Contempla que os

componentes curriculares sejam ministrados por Professores, mas que gradativamente a

Parte diversificada seja também seja ministrada por Professores.

3. Escola Estadual Donana Avelino x Educação em Tempo Integral (in lócus) -

Teorias e práticas cotidianas

Aqui fizemos um recorte entre o dispõe a Portaria e como ela se dá na prática

cotidiana da Escola Estadual Donana Avelino lócus da pesquisa.

Na verdade, há disparidade ente o marco legal e cotidiano escolar em alguns

aspectos, talvez porque seja a primeira experiência da escola e da comunidade ou,

apontamos também, para o fato de a política não chegar à escola de forma “integral”.

Um exemplo é que durante nossas conversas com professores observamos a tentativa de

um trabalho interdisciplinar, mas muito tímido ainda. Assim com as experiências dos

educandos precisa estar de forma mais pontual estar inseridas nas práticas pedagógicas.

Como nos aponta Vygotsky:

O ponto de partida dessa discussão é o fato de que o aprendizado das

crianças começa muito antes de elas frequentarem a escola. Qualquer

situação de aprendizagem com a qual a criança se defronta na escola

tem sempre uma história prévia. Por exemplo, as crianças começam a

estudar aritmética na escola, mas muito antes tiveram alguma

experiência com quantidades – tiveram que lidar com operações de

divisão, adição, subtração e determinação de tamanho.

Consequentemente, as crianças têm sua própria aritmética pré-escolar,

que somente os psicólogos míopes podem ignorar (VIGOTSKY,

1998, p. 110).

15

Pelo observado, o currículo escolar ainda se dá de forma fragmentada e sem levar

em (maior) consideração os saberes dos educandos. Pensamos que pela proposta de

Ensino Integral a escola deveria adotar um currículo transdisciplinar. Isso se deve ao

fato que em Educação em tempo Integral, segundo o MEC (2016), deve além do

desenvolvimento intelectual, tratar do físico, do cuidado com a saúde, desfrutar e

produzir artes etc.

Vejamos que o corpo é tema que permeia várias disciplinas, mas não pertence a

nenhuma exclusivamente. Podemos encontrar esta temática tanto na disciplina

Educação Física como na de Ciências, por exemplo. Não é possível inserir o tema

“corpo” em apenas uma disciplina. Daí retomamos a ideia de um currículo

transdisciplinar para que a integralidade, já conceituada pelo dicionário Aurélio (2016)

se efetive nesta política.

Outro ponto que nos chama atenção é o fato de que escola foi contemplada com

jornada integral, mas, seu corpo docente, funcionários e família não foram apresentados

ou familiarizados com a Educação em Tempo Integral. Claro que as práticas

pedagógicas não dependem de estar ou não numa escola que segue esse modelo, porém

percebemos uma desconexão com esse novo papel que a escola se propôs a assumir.

Em relação ao suporte pedagógico no momento a escola dispõe apenas de um no

turno matutino. Fato que dificulta a articulação entre o currículo comum seguido pela

manhã e a parte diversificada a tarde. Embora percebamos uma tentativa da escola para

unir os dois turnos, realizando o planejamento ánoite, já que um turno não deve se

diferenciar do outro, em relação ao elo pedagógico, mas que sejam complementares.

Fizemos uma pequena amostra com cinco pais acerca da temática, conforme mostra os

dados abaixo:

Tabela 2

Pai/mãe/responsável O que é escola de tempo

integral?

Por que matriculou seu/sua

filho (a) numa escola de tempo

integral?

A.G Ficar na escola o dia todo Para aprender mais

F.P Ficar na escola o dia todo Porque trabalho e não tem quem

fique com ele.

M.A Ter mais tempo na escola Pra ter aula de mais matérias,

16

para prender mais aumentar o conhecimento.

M.E É uma escola que dá tudo

que o aluno precisa. Material,

lanche, banho

Pra ter tudo isso: já ajuda.

Enquanto não gasto com ela na

escola, já compro outras coisas

pra ela.

G.C Escola que cuida da criança

durante todo o dia.

Pra estudar mais, conhecer outras

coisas, fazer esportes.

Fonte: entrevista com os pais.

Analisando os dados coletados apontamos para o fato de que os pais ainda têm uma

noção bastante fragmentada sobre o papel da escola de Tempo Integral. Associando a

ela a função básica de cuidar dos filhos durante o tempo que nela permanecem, e que

colabora na diminuição da despesa de materiais escolares ou alimentação. Diante de um

cenário novo que chega as escolas, gerir programa Mais Educação o fio condutor da

uma política de Educação em tempo integral da Escola Estadual Donana Avelino e, não

somente promover assistência social e substituir o papel da família, desafia a todos os

personagens escolares a se or (re)ganizarem.

Conceber um ensino que contemple o processo de ensino e aprendizagem de forma

que amplie não só tempo de permanência do aluno na escola, mas, também sua

qualidade de aprendizagem requer um real interesse de todas as partes envolvidas neste

processo desde o Estado (provedor e condutor desta política) até a escola.

Em relação a estrutura da escola podemos verificar que apesar de apresentar espaços

para diversos, ainda não está apta para absorver a demanda de forma qualitativa. Ou

seja, tem vários espaços, mas, que precisam ser estruturados para que a escola se se

torne mais atraente e compatível com a proposta de Ensino Integral.

Outra dificuldade é o fato de não ter funcionários suficientes para monitorar os

alunos nos horários de banho, almoço e espera das atividades diversificadas, no turno

vespertino, o que gera um certo desconforto para os poucos funcionários da escola

atenderem as necessidades deste horário.

Segundo o relato da técnica da DIRED a qual recorremos para complementar a

pesquisa, a indicação da escola se deu, pois, além de ter alunos de baixa renda social,

apresentava um quadro de baixa demanda de matrículas tanto no Ensino Fundamental-

17

Anos iniciais como na EJA e que parte da comunidade escolar (professores e

funcionários) ao saberem do fechamento do Turno noturno (EJA), viram a possibilidade

de continuarem na mesma escola através do novo modelo implantado na escola, bem os

outros professores de Anos Iniciais.

Como o titular da pasta da Secretaria de Educação do Estado do RN, à época,

Professor Francisco das Chagas, tinha em seu plano de trabalho implantar escolas nesse

modelo educacional e a escola oferecia espaço físico para tal finalidade além de ser

necessário alocar professores da escola, já que a EJA, no turno noturno, havia sido

fechada, (pouca demanda) viu-se a possibilidade de fomentar a Educação Integral no

Município, “contemplando” a Escola Estadual Donana Avelino nesta DIRED, haja vista

que em cada DIRED houve uma escola contemplada como projeto piloto.

Segundo a técnica da DIRED, responsável pelo acompanhamento dos Anos Iniciais,

a escola já foi visitada por engenheiros que puderam observar a estrutura da escola para

fazer um projeto para as adaptações físicas necessárias. Assim, como também, uma

equipe da Secretaria de Educação orientou como deverão ser ambientadas as salas de

leitura, informática para melhor acomodação dos alunos.

Porém tudo isto, ainda, em processo licitatório, o que acredita a técnica da DIRED,

após a recente troca de chefia da Secretaria Estadual de Educação deverá ter um prazo

maior para que todas estas providências sejam tomadas e paulatinamente, acrescenta a

técnica o ideário é de que o governo possa assumir financeiramente a escola, pois

momentaneamente é mantida com os recursos do Mais Educação.

4. PERSPECTIVAS E DESAFIOS FRENTE A EDUCAÇÃO EM TEMPO

INTEGRAL:

(Re)pensar a educação em tempo integral implica em vários questionamentos,

entraves e muita discussão sobre o tema. Elencamos a seguir 4 pontos que consideramos

inicialmente preponderantes para a implantação de forma coerente.

O primeiro aspecto a ser observado é que a comunidade escolar reunida deve ter o

direito de escolha, aderir a este novo modelo. Se quer desenvolver suas atividades em

tempo integral ou não. E não ser apenas “contemplada”. Escola democrática, eis uma

18

boa oportunidade de prática. E esta iniciativa, claramente deve partir do órgão

mantenedor.

Vejamos que no caso da escola pesquisada não se tratou de uma opção, mas da

opção viável que chegava à escola num momento em que a vida funcional de

professores e funcionários estava em um limiar. Ou seja, defendemos que a escola

reunida através de seu Conselho Escolar ou mesmo em reunião de pais, mestres,

gestores e DIRED levem a toda a comunidade escolar a proposta de Educação em

Tempo Integral e o que significa esta proposta. Obviamente isto demanda bastante

diálogo e reflexão e infelizmente ainda, em Educação carecemos muito disso. Além da

falta de cultura, por diversos motivos, onde os órgãos que tem poder de decisão

ordenam e pouco dialogam, ainda que se diga que a escola tem autonomia (relativa).

Não se pode esquecer que a infraestrutura é também fator primordial nesse processo.

Estar num ambiente que não atende as necessidades deste novo modelo de educação.

Por exemplo, sala de leitura aconchegante, organizada, ou seja, um espaço convidativo

para receber os alunos. Nos acrescenta Viñao Frago que:

Toda atividade humana pressupõe um espaço e um tempo

determinados e também a educação, pois “a educação possui uma

dimensão espacial” e que “o espaço seja, junto com o tempo, um

elemento básico constitutivo, da atividade educativa. (Viñao

Frago,1998, p.61).

O espaço, nesse sentido ganha status de promotor das interações sociais que

colabora para o universo do aluno contextualizando saberes e conhecimentos a partir de

um ambiente estimulante.

Podemos a isto acrescentar também professores em regime de dedicação integral à

Unidade. Pode parecer utópico num país como o Brasil vislumbrar isto. Enquanto o

Poder público não detiver o olhar para esta questão corremos o grande risco do ensino

se dá de forma fragmentada. Sabemos que isso perpassa por vários entraves históricos

da Educação Brasileira, entre elas a formação pedagógica do professor nos cursos de

graduação e sua valorização financeira.

E por fim e talvez, o ponto chave, um currículo integrador de saberes e práticas.

Pode até parecer trocadilho, mas, é essencial. As práticas pedagógicas ainda ofertam um

ensino fragmentado, é preciso um novo olhar para este aspecto. O aumento da carga

horária só terá eficácia se estiver aliada a um Projeto Político Pedagógico articulado

entre seus agentes.

19

Na escola, já mencionada pudemos constatar que não houve adesão voluntária ao

projeto de Educação Integral. O que houve foi uma “solução” para um antigo problema

da instituição com baixa demanda de alunos. O que implica inegavelmente em seu

corpo funcional não ter ainda uma noção concreta do que estar numa escola de tempo

integral. Pois como a quantidade de matrículas era pequena e não havia onde alocar

todos os professores e funcionários caso a escola encerrasse suas atividades.

Um dos critérios para contemplação da escola com ensino de tempo integral é o fato

de uma parcela significativa dos alunos serem beneficiários de programas de inclusão

social.É inegável que uma série de políticas educacionais atualmente existentes tentam

fazer um compensatório entre a educação e o assistencialismo, haja vista as disparidades

sociais e consequentemente educacionais do país.

Consideramos ser justamente esse o grande desafio para a educação pública em

tempo integral, que não se configure como assistencialista, mas, que busque efetivos

resultados no processo de educação das crianças brasileiras. Não podemos deixar de

registrar que aqueles que conduzem a política macro deste país tentam aliar as duas

funções educação e assistência social.

Há uma linha tênue entre assistencialismo e o projeto educacional de tempo integral

na escola. Devemos buscar refletir se: É possível unir as duas vertentes (educação e

assistência social) para elevar a qualidade educacional do país? Ou apenas estamos

acostumando nossos educandos a sempre esperarem do governo ações de promoções

sociais não estimulando a autonomia do sujeito?

Cavaliere no artigo Tempo de Escola e Qualidade na Educação Pública (2007) no

qual a autora delineia quatro concepções que se formam no entorno da proposta de

educação integral nos diz que:

A visão predominante, de cunho assistencialista, vê a escola de tempo

integral como uma escola para os desprivilegiados, que deve suprir

deficiências gerais da formação dos alunos; uma escola que substitui a

família e onde o mais relevante não é o conhecimento e sim a

ocupação do tempo e a socialização primária. (CAVALIERE ,2007, p.

1028).

A mesma autora diz que:

20

Uma outra visão, também presente nos discursos de profissionais e

autoridades, é a autoritária, na qual a escola de tempo integral é uma

espécie de instituição de prevenção ao crime. [...] já a concepção

democrática de escola de tempo integral imagina que ela possa

cumprir um papel emancipatório. O tempo integral seria um meio a

proporcionar uma educação mais efetiva do ponto de vista cultural,

com o aprofundamento dos conhecimentos, do espírito crítico e das

vivências democráticas. [...]. (CAVALIERE, 2007, p. 1028).

Podemos então ver que as discussões em torno do papel que a Educação Integral

pode ter na vida de cada indivíduo que por ela perpassa, ainda são bastante

contraditórios. Do assistencialismo a educação emancipadora, seja qual viés se pretenda

tomar não podemos mais estabelecer esse ponto como uma discussão inflexível,

polarizando uma única verdade.

Cavaliere ainda nos traz à reflexão de que se a educação em tempo integral for

vista e concebida pelos personagens envolvidos (em escala macro e micro) como uma

possibilidade de renovação do currículo, de práticas, tempos e espaços escolares

adequados a uma realidade atual que exige do educando uma outra perspectiva de

formação, poderemos obter êxito. Porém enquanto for vista como apenas um modismo

ou mais uma política de governo (e não de Estado) provavelmente estaremos fadados ao

insucesso.

Garantir acesso, permanência e aprendizagem não são tarefas fáceis a serem

cumpridas pela escola. Conceber o processo de ensino e aprendizagem de forma mais

ampla que o modelo atual das escolas de tempo parcial, é tarefa mais difícil ainda pois

isto implica em repensar currículo flexível e que atenda aos anseios das expectativas dos

alunos, objetivos e metas a serem alcançadas como declara Moysés Kuhlmann (2013, p

64), “não é possível obter resultados imediatos em políticas educacionais. Tem que se

pensar a médio e longo prazo”.

Percebemos que no Brasil há cerca de uma década há políticas sociais e

educacionais que investem e estimulam a diminuição do abismo social entre as classes

menos/mais favorecidas. É importantíssimo que o país tenha esse olhar com os grupos

menos favorecidos, porém, em face de das necessidades de um mundo globalizado e

digital faz-se necessário e urgente dar oportunidade de emancipação e autonomia aos

indivíduos menos favorecidos social e economicamente.

21

Para que a política de Educação em tempo integral se efetive qualitativamente é

necessário um esforço conjunto e a continuação de um projeto educacional não de

governo, mas, de Estado. Ou seja, deve ser um movimento crescente, pontual e efetivo.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Diante do estudo apresentado, a partir da base teórica, dos relatos e observações

feitos para esta pesquisa concluímos, momentaneamente, fazendo as seguintes

conclusões:

Compreende-se que a educação integral em jornada ampliada no Brasil é uma

política pública em construção e um grande desafio para gestores educacionais,

professores e comunidades que, ao mesmo tempo, amplia o direito à educação básica e

colabora para reinventar a escola.

Porém ainda estamos no início de uma longa jornada, onde surgirão percalços e

dúvidas, mas, disso sairá às possíveis soluções para resolver essas questões.

É um processo educativo complexo que pode e deve sair dos muros da escola, visto

que a escola hoje não se configura como único espaço do saber. Espaços como o teatro

local (em Macau) praças e outros espaços devem ser utilizados também como espaço de

aprendizagem coletiva e individual. Aprendendo a respeitar-se, explorar os sentidos,

estimular a cultura corpórea como forma de expressão, respeitando a diversidade

cultural dos espaços e indivíduos.

Serão estas oportunidades educativas que servirão de enriquecimento cultural

conectado ao cotidiano escolar, pois, promove o fortalecimento das relações entre

instituição e sociedade, desse modo a ela devolveremos esses educandos. Se pensamos

em realmente torná-los cidadãos conscientes e críticos é preciso utilizar os espaços

extraescolares, de modo a gerar sentimento de pertença à comunidade e coparticipação

como cidadão nestes lugares.

É fundamental que em toda atividade esteja presente uma intencionalidade

educativa clara para os educandos e que atenda aos interesses e necessidades.

Entendemos que políticas públicas educacionais, como a escola de Tempo Integral ou

Programas como o Mais Educação (na prática) reconfigura o modelo tradicional de

22

escola. Para isso, gestores e professores precisam repensar práticas da rotina escolar.

Incluindo de forma incisiva no seu currículo a transdisciplinaridade como eixo de seu

trabalho pedagógico. O que significa rever/avaliar/assumir conceitos e práticas.

Estruturar a proposta pedagógica da escola através de ações da educação

integral, ampliar tempos e espaços, propiciar aos educandos competências, para que

estes se vejam e assumam o papel de cidadão, rever práticas pedagógicas, nos faz

vislumbrar a certeza deque ainda temos muito a avançar.

Falta muito tanto em escala macro (governo) quanto micropolítica (escola) para

que ações /estratégias de implantação da Educação em Tempo Integral se efetive

qualitativamente. Não podemos deixar de mencionar que aos profissionais desta nova

escola também deve se oportunizar a docência em tempo integral. À escola, bem como

sua valorização financeira. Mudar um currículo, e, não estimular ou prover o

profissional e a estrutura física da escola, de nada adianta, continuaremos com um

ensino fragmentado. Alertando para o fato de que a política educacional não se torne

mais um capítulo que se distancie da proposta inicial de ser emancipadora, integradora e

integral.

Em virtude de ser uma pesquisa local não conseguimos momentaneamente

apresentar dados comparativos com outras realidades/experiências escolares pelo Brasil.

Realizando um comparativo se na prática a experiência de escola em Tempo Integral se

dá desta ou de diferente maneira nas práticas cotidianas. Pouco que conhecemos se

baseia em sites que apresentam experiências isoladas de projetos desenvolvidos em

escolas de tempo integral. Por enquanto não é possível, através da nossa pesquisa

verificar/analisar teoria e prática cotidiana delas.

Vivemos numa sociedade do conhecimento. Os saberes se tornam mais

complexos a cada dia. A escola não é o único espaço de conhecimento, mas ainda é um

espaço apropriado para a construção/apropriação desses saberes. É nela que direitos

básicos garantidos pela Constituição Federal, por exemplo, como ler, compreender

textos e estão dispostos, como também aprender a conviver, respeitar as diferenças.

Ampliar o tempo de permanência implica, inevitavelmente em reinventar a

rotina/tempos/espaços escolar. Além da relação com a família e a

articulação/colaboração da sociedade para a escola. Tarefa bastante desafiadora para um

país de lacunas educacionais imensas, mas não impossível numa perspectiva de Estado.

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Sabemos não ser tarefa fácil, estamos ainda nas primícias deste novo jeito de

ver/ser personagens desta escola. É preciso (e urgente) que todos os agentes em escala

macro ou micro estejam envolvidos. Daí, acreditamos que somente como política de

Estado e não de governo isso realmente se efetivará. Também sabemos que isso

demanda um tempo considerável para podermos avaliar qualitativamente essa política.

A priori percebemos que começa no caso do recorte de nossa pesquisa, com

muitas lacunas a serem preenchidas seja por ser a experiência inicial da escola ou pelo

fato da implantação da política se dá de forma fragmentada. Por ora concluímos que se a

União junto aos entes federados não assumir seu papel dando condições e instrumentos

para que a Educação em Tempo Integral possa acontecer em sua forma plena, estaremos

mais uma vez, irremediavelmente apenas fazendo uma transferência de responsabilidade

do Estado para a escola, enquanto que pelo contrário, todos devem ser co-responsáveis

por uma educação pública em tempo integral e de qualidade.

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