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ESCOLA DE EQUITAÇÃO DO EXÉRCITO
RODRIGO FAUSTO MENDES
PROPOSTA DE CADERNO DE INSTRUÇÃO DE EMPREGO
DE TROPA HIPOMÓVEL EM OPERAÇÕES DE GLO
Rio de Janeiro
2017
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RODRIGO FAUSTO MENDES
PROPOSTA DE CADERNO DE INSTRUÇÃO DE EMPREGO DE TROPA
HIPOMÓVEL EM OPERAÇÕES DE GLO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Escola de Equitação do Exército como
requisito parcial para conclusão do Curso de
Instrutor de Equitação.
Orientador: Cap Leonardo Martins Gomes
Rio de Janeiro
2017
22
RODRIGO FAUSTO MENDES
PROPOSTA DE CADERNO DE INSTRUÇÃO DE EMPREGO DE TROPA
HIPOMÓVEL EM OPERAÇÕES DE GLO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Equitação do Exército como
requisito parcial para conclusão do Curso de Instrutor de Equitação.
Aprovado em: _____/_____/_______
COMISSÃO DE AVALIAÇÃO
________________________________________
Leonardo Martins Gomes – Cap
Presidente
_______________________________________
McClelland Mozart Diniz Soares – 1º Ten
1º Membro
_______________________________________
Willian Cardoso de Albuquerque – 1º Ten
2º Membro
44
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus por dar-me a possibilidade de viver com as pessoas
que fazem parte da minha história.
Ao Major Lacerda, Instrutor Chefe da Turma de Alunos 2017 e os demais instrutores e
monitores de todas as disciplinas, pela atenção, ensinamento, apoio e dedicação desprendida
em transmitir os conhecimentos técnicos e doutrinários indispensáveis para a profícua
conclusão do curso.
Ao Major Cláudio de Azevedo Goggia por todo esforço em conseguir uma vaga no
curso e mais ainda para que fosse nas melhores condições possíveis, levando os melhores
cavalos do 4º RPMon.
À minha mãe, Ivone da Veiga Fausto, que sempre esteve do meu lado apoiando,
trazendo uma palavra de conforto e incentivo nos tropeços e derrotas e vibrando como se
fossem suas as vitórias conquistadas. Ao meu pai, Paulo Sérgio da Silva Mendes, pela
formação moral, exemplo de caráter e dedicação.
À minha esposa, Michele Berggsvist Baptista Mendes, por ter me incentivado e
apoiado, acompanhando cada momento desta conquista, assumindo todas as responsabilidades
da casa durante todo o ano do curso, abnegando de momentos de laser e mantendo-se firme e
companheira em todas as oportunidades – levarei esta gratidão por toda a eternidade, este
curso dedico inteiramente a ela.
Ao meu filho, Pedro Berggsvist Fausto Mendes, razão da minha vida, presente de
Deus para abençoar minha família, uma criança iluminada, alegre, disposta, cheia de energia
positiva e abençoada que faz os meus dias serem muito mais bonitos, felizes e esperançosos.
Aos meus sogros, Aimoré Webber Lumertz e Vanda Berggsvist, por fazerem parte da
minha família e me apoiarem como se filho fosse.
Às minhas avós, Antonina Ramos da Silva, Domingas da Veiga Fausto, e ao meu avô,
Ernesto Fausto, por toda a educação e exemplo de vida, primores que me fizeram crescer e
aprender a valorizar cada conquista. À minha bisavó, Anitina Kolling, que infelizmente não
está mais entre nós e minha tia-avó Nadir da Silva Broto que nos deixou no decorrer do curso,
mas que vibrariam muito com esta conquista; jamais esquecerei os valores que me
transmitiram.
Aos meus cavalos, Sombrio da Serra, Sublime da Serra, Pirata e Uivo do Rincão,
parceiros de curso que me ajudaram a concluir todas as etapas desta conquista.
55
“Quero a ordem e a liberdade, mas quando
esta perigar, minha espada estará pronta para
defendê-la. As dificuldades não me
quebrantam o ânimo.” (GENERAL OSÓRIO
apud BICENTENÁRIO, 2008, p.1)
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RESUMO
O presente estudo procurou apresentar uma proposta de caderno de instrução de emprego de
tropa hipomóvel em Operações de Garantia da Lei e da Ordem, com isso, buscou-se o
embasamento teórico a partir de diversas fontes bibliográficas, chegando-se à conclusão de
que o emprego da cavalaria em Operações de GLO se dá através da execução de
patrulhamentos hipomóveis em terrenos urbanos e rurais e em missões de controle de
distúrbios civis. A tropa hipomóvel constitui fração elementar quando da necessidade de
atuação das Forças Armadas no reestabelecimento da ordem pública, harmonia pública e paz
social, quando esgotados os recursos ordinários das forças policiais estaduais. As tropas
hipomóveis apresentam-se como uma ferramenta valiosa aos Comandantes das Operações por
tratar-se de uma fração extremamente ostensiva, qualificada, dinâmica e versátil. Para
alcançar o fim almejado, foram abordados no referencial teórico as características e vantagens
da atuação da tropa hipomóvel, tais como ostensividade, efeito psicológico, poder repressivo,
mobilidade e excelência como elemento de choque, focando em um primeiro momento a
atuação da cavalaria em patrulhas urbanas e rurais, os procedimentos de abordagem de
suspeito e composição da tropa. Também foram apresentadas as formas de emprego da tropa
hipomóvel em operações de controle de distúrbios civis, começando com o conceito de
distúrbio civil e suas causas, o fenômeno das massas e os aspectos legais da atuação da tropa,
as táticas de combate e controle, as formações e execução da carga de cavalaria, assim como
as formas de atuação em conjunto com a tropa a pé. No que tange aos equipamentos de
proteção do homem e do equino, foram apontados os mais modernos materiais que são
utilizados atualmente, reforçando os investimentos necessários que devem ser realizados para
a qualificação da tropa hipomóvel. Por fim foi abordado a correta escolha e adestramento do
equino e o treinamento militar necessário para que tenhamos o homem preparado e
qualificado. Nesses termos, conclui-se que o emprego das tropas hipomóveis das Forças
Armadas em Operações de Garantia da Lei e da Ordem são de suma importância para o
cumprimento de sua missão constitucional e que o Caderno de Instrução proposto busca
atender diretamente a tropa de cavalaria que necessita de uma doutrina técnica e atualizada
dispondo sobre o tema.
Palavras-chave: Forças Armadas. Garantia da Lei e da Ordem. Tropa Hipomóvel. Controle
de Distúrbios Civis.
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ABSTRACT
The present study offers a proposal of instruction manual for the employment of cavalry troop
in Law and Order Assurance Operations, with this, the theoretical basis was sought from
several bibliographical sources, arriving at the conclusion that Occupation of the cavalry in
GLO Operations It occurs through the execution of patrol of cavalry on urban and rural terrain
and in civilian control missions. The cavalry troop constitute an elementary fraction when the
Armed Forces need to reestablish public order, public harmony and social peace, when the
ordinary resources of the state police forces have been exhausted. The cavalry troop present
themselves as a valuable tool to the Operation Commanders as an extremely ostensible,
skilled, dynamic, and versatile fraction. To achieve the desired goal, the characteristics and
advantages of the cavalry troop performance, such as ostensibly, psychological effect,
repressive power, mobility and excellence as an element of shock, were first approached in
the theoretical framework, focusing at first on the performance of the cavalry in patrols urban
and rural, procedures for approaching suspects and troop composition. It was also presented
the forms of employment of the cavalry troop in civil disturbance control operations,
beginning with the concept of civil disturbance and its causes, the mass phenomenon and the
legal aspects of troop performance, tactics of combat and control, formations and execution of
the cavalry charge, as well as the ways of acting together with the troop on foot. Regarding
the man and horse protection equipment, the most modern materials that are currently used
were pointed out, reinforcing the necessary investments that must be made to qualify the
cavalry troop. Finally, the correct choice and training of the equine and the military training
necessary for the man to be prepared and qualified were approached. In these terms, it is
concluded that the employment of the cavalry troop of the Armed Forces in Law and Order
Assurance Operations are of paramount importance for the fulfillment of their constitutional
mission and that the proposed Instruction Book seeks to directly attend the troop of cavalry
that needs a technical doctrine and updated on the subject.
Keywords: Armed Forces. Guarantee of Law and Order. Cavalry Troop. Control of Civil
Disorders.
88
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Manifestação de cunho político . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Figura 2 – Esquadra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Figura 3 – Grupo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Figura 4 – Pelotão (conforme PMMG) .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Figura 5 – Coluna por um .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Figura 6 – Coluna por dois . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Figura 7 – Formação em linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Figura 8 – Formação em batalha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Figura 9 – Formação em cunha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Figura 10 – Tabela de emprego da tropa hipomóvel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Figura 11 – Policial Militar da PMESP utilizando axoesqueleto . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Figura 12 – Capacete de choque.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Figura 13 – Colete balístico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Figura 14 – Exoesqueleto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Figura 15 – Viseira e protetor de chanfro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Figura 16 – Bota antiderrapante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Figura 17 – Peitoral de proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Figura 18 – Caneleira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Figura 19 – Boleteira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
99
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.1 APRESENTAÇÃO E DELIMITAÇÃO DO TEMA .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.2 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.3 PROBLEMA .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.4 OBJETIVOS .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.4.1 Objetivo geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.4.2 Objetivos específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3 REFERENCIAL TEÓRICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.1 CARACTERÍSTICAS E VANTAGENS DA ATUAÇÃO DA TROPA
HIPOMÓVEL .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.1.1 Ostensividade e campo de visão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.1.2 Efeito psicológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.1.3 Poder repressivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.1.4 Mobilidade, flexibilidade e facilidade na transposição de obstáculos
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.1.5 Economia de efetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.1.6 Excelência como elemento de choque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.2 A ATUAÇÃO DA TROPA HIPOMÓVEL EM PATRULHAS URBANAS E
RURAIS .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.2.1 Trios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.2.2 Duplas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.2.3 Procediemntos após abordagem de suspeitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.2.3 Ponto de Apeamento (PA) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.2.3 Ponto Base (PB) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.3 PREPARAÇÃO DA TROPA HIPOMÓVEL .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.3.1 Ensilhamento e preparação do homem e do equino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.3.2 Preleção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.3.3 Distensão e aquecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.3.4 Embarque e desembarque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.3.5 Atuação da tropa hipomóvel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.3.6 Recolhimento do efetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1100
3.4 ATUAÇÃO DA TROPA HIPOMÓVEL EM CONTROLE DE DISTÚRBIOS
CIVIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.4.1 Controle de distúrbio civil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.4.2 O fenômeno das massas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.4.3 Prioridade de emprego dos meios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.4.3.1 Reconhecimento do local de atuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.4.3.2 Vias de fuga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.4.3.3 Demonstração de força . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.4.3.4 Ordem de dispersão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.4.3.5 Recolhimento de provas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.4.3.6 Emprego de agentes quimicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.4.3.7 Emprego de munição de impacto controlado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.4.3.8 Emprego de água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.4.3.9 CARGA DE CAVALARIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.4.3.10 Detensão de líderes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.4.3.11 Uso da arma de fogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.4.3.11 Socorro das vítimas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.4.4 Princípios fundamentais do controle de distúrbios civis de tropa
hipomóvel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.4.4.1 Indivisibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.4.4.2 Responsabilidade com a segurança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.4.4.3 Cuidados com os equipamentos de proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.4.4.4 Conhecimento da missão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.4.4.5 Atuação mediante ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.4.4.6 Manter distância da massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.4.4.7 Agir dentro dos preceitos legais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.4.4.8 Prioridade de emprego dos meios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.4.5 Tática de combate e controle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.4.6 Composição da tropa hipomóvel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.4.6.1 Esquadra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.4.6.2 Grupo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.4.6.3 Pelotão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.4.6.4 Esquadrão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.4.7 Formações da tropa hipomóvel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
1111
3.4.7.1 Coluna por um . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.4.7.2 Coluna por dois . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.4.7.3 Em linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.4.7.4 Em batalha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.4.7.5 Em cunha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.4.8 Atuação em conjunto da tropa hipomóvel com a tropa a pé . . . . . . . . . . . . 43
3.4.8.1 Passagem da tropa hipomóvel pela tropa a pé . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.4.8.1.1 Infiltração pelo flanco direito e esquerdo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.4.8.1.2 Infiltração pelo flanco direito ou esquerdo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.4.8.1.3 Infiltração pelo centro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.4.9 CARGA DE CAVALARIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.4.10 Comandos à tropa hipomóvel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.4.11 O número de efetivo empregado em grandes eventos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.4.12 Equipamentos de proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3.4.12.1 Equipamentos de proteção do homem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3.4.12.2 Equipamentos de proteção para o equino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3.4.13 Seleção do cavalo para tropa hipomóvel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
3.4.13.1 Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
3.4.13.2 Rusticidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
3.4.13.3 Resistência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
3.4.13.4 Flexibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
3.4.13.5 Agilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
3.4.13.6 Força e potência muscular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
3.4.13.7 Equilíbrio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
3.4.13.8 Porte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
3.4.13.9 Calma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
3.4.13.10 Franqueza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
3.4.13.11 Generosidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
3.4.13.12 Submissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
3.4.13.13 Coragem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
3.4.14 Treinamento da tropa hipomóvel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
3.4.14.1 Treinamento do militar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
3.4.14.2 Treinamento do cavalo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4 METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
1122
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
OBRAS CONSULTADAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
1133
1 INTRODUÇÃO
A utilização da tropa hipomóvel tem se demonstrado um elemento diferenciador nas
Operações de Garantia da Lei e da Ordem - GLO, tanto na execução do patrulhamento urbano
e rural quanto em missões de controle de distúrbios civis, sendo considerado um fundamental
para o cumprimento da missão.
O equino potencializa a ação do militar quando montado, tanto nas atividades de
patrulhamento e escoltas, quanto no controle de distúrbios civis atuando na dispersão de
agressores em manifestações. O cavalo mostra-se muito eficiente, influenciando
psicologicamente nas ações dos envolvidos, devido a imponência e estrutura física do animal,
além do que, a posição mais elevada do cavaleiro montado traz uma visão privilegiada em
relação ao homem a pé.
No contexto em que o cavalo é empregado, torna-se muito vantajoso seu emprego
pelas Forças Armadas em missões de Garantia da Lei e da Ordem, já que a coercibilidade nos
patrulhamentos e o emprego em controle de distúrbios civis auxiliam sobremaneira no
cumprimento das missões constitucionais.
Dadas essas considerações, o foco deste trabalho é apresentar a proposta de um
Caderno de Instrução de Emprego da Tropa Hipomóvel em missões de Garantia da Lei e da
Ordem tendo em vista a importância de uma doutrina atualizada de treinamento e emprego
das frações de cavalaria neste tipo de missão.
Desta forma, este trabalho está estruturado em quatro capítulos. No primeiro capítulo,
uma breve introdução sobre o assunto. O capítulo segundo apresenta a contextualização do
estudo, o tema, a problemática da pesquisa, os objetivos geral e específico e sua justificativa.
O terceiro capítulo aborda o referencial teórico, o qual embasa o tema, apresentando o sistema
normativo e doutrinário, respectivamente, e apoiando-se em pesquisas já elaboradas sobre o
assunto para trazer suporte e embasamento à proposta do caderno de instrução. Na
metodologia, trazida no quarto capítulo, apresentamos o delineamento da pesquisa, que
aprofundou como instrumento o estudo bibliográfico, em que foram pesquisados muitos
materiais (manuais, livros, documentos, legislações e trabalhos publicados).
Após uma análise e compilação de conhecimento e doutrina sobre o tema, buscamos
apresentar a resposta para o problema proposto, ou seja, apresentar uma proposta de caderno
de instrução de emprego de tropa hipomóvel em operações de Garantia da Lei e da Ordem.
Por derradeiro, fazemos as considerações finais e listamos as referências bibliográficas e
obras consultadas.
1144
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO
Este capítulo apresenta e delimita a temática e sua problematização, expõe como os
objetivos foram traçados e traz a justificativa do estudo.
2.1 APRESENTAÇÃO E DELIMITAÇÃO DO TEMA
Este trabalho visa propor um caderno de instrução de emprego da tropa hipomóvel em
missões de Garantia da Lei e da Ordem, uma vez que a tropa montada constitui atualmente o
grande diferencial no patrulhamento urbano e rural, bem como em operações de controle de
distúrbios civis. Trata-se de um excelente elemento de dispersão em tumultos, além do que,
pela imponência, desestimula o cometimento ou prosseguimento de infrações penais.
Nesse sentido, procuramos abranger aspectos relevantes trazidos pela legislação atual
e pela doutrina, somados com a prática das tropas montadas do Exército Brasileiro e Polícias
Militares. Com isso, busca-se apresentar a teoria como está disposta nas mais importantes
escolas, para que, diante de uma reunião de bibliografias sobre o tema, se realize uma análise
e síntese do que precisa conter um Caderno de Instrução de Emprego de Tropa Hipomóvel em
missões de Garantia da Lei e da Ordem.
Descrever como deverá ser realizado o treinamento do homem e do animal, os
materiais utilizados, as táticas empregadas e outros aspectos relevantes para a conclusão do
caderno proposto.
2.2 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO
A Constituição Federal de 1988 foi quem instituiu efetivamente o estado democrático
de direito, caracterizado pelos direitos e garantias fundamentais, no entanto, a Carta Magna
condicionou alguns requisitos para o exercício destes direitos; em caso de violação desses
requisitos, surge uma situação tendente à quebra da ordem pública, sendo então necessária a
interferência por parte do Estado.
As Forças Armadas, assim como os demais órgãos de segurança pública insere-se no
contexto do Estado, com responsabilidade na Defesa Social, visando à estabilidade das
instituições e ao equilíbrio do pacto federativo, devendo contribuir através de missões de
Garantia da Lei e da Ordem, conforme a legislação vigente.
1155
A atuação das Forças Armadas em missões de Garantia da Lei e da Ordem está
prevista no art. 142 da Constituição Federal de 1988.
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e,
por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
§1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem adotadas na
organização, no preparo e no emprego das Forças Armadas.
O tema foi disciplinado em âmbito infraconstitucional através da Lei Complementar nº
97, de 9 de junho de 1999.
§1º Compete ao Presidente da República a decisão do emprego das Forças Armadas,
por iniciativa própria ou em atendimento a pedido manifestado por quaisquer dos
poderes constitucionais, por intermédio dos Presidentes do Supremo Tribunal
Federal, do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados.
§2º A atuação das Forças Armadas, na garantia da lei e da ordem, por iniciativa de
quaisquer dos poderes constitucionais, ocorrerá de acordo com as diretrizes baixadas
em ato do Presidente da República, após esgotados os instrumentos destinados à
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,
relacionados no art. 144 da Constituição Federal.
§3º Consideram-se esgotados os instrumentos relacionados no art. 144 da
Constituição Federal quando, em determinado momento, forem eles formalmente
reconhecidos pelo respectivo Chefe do Poder Executivo Federal ou Estadual como
indisponíveis, inexistentes ou insuficientes ao desempenho regular de sua missão
constitucional. (Incluído pela Lei Complementar nº 117, de 2004)
§4º Na hipótese de emprego nas condições previstas no § 3o deste artigo, após
mensagem do Presidente da República, serão ativados os órgãos operacionais das
Forças Armadas, que desenvolverão, de forma episódica, em área previamente
estabelecida e por tempo limitado, as ações de caráter preventivo e repressivo
necessárias para assegurar o resultado das operações na garantia da lei e da
ordem. (Incluído pela Lei Complementar nº 117, de 2004)
§5º Determinado o emprego das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem,
caberá à autoridade competente, mediante ato formal, transferir o controle
operacional dos órgãos de segurança pública necessários ao desenvolvimento das
ações para a autoridade encarregada das operações, a qual deverá constituir um
centro de coordenação de operações, composto por representantes dos órgãos
1166
públicos sob seu controle operacional ou com interesses afins. (Incluído pela Lei
Complementar nº 117, de 2004)
§6º Considera-se controle operacional, para fins de aplicação desta Lei
Complementar, o poder conferido à autoridade encarregada das operações, para
atribuir e coordenar missões ou tarefas específicas a serem desempenhadas por
efetivos dos órgãos de segurança pública, obedecidas as suas competências
constitucionais ou legais. (Incluído pela Lei Complementar nº 117, de 2004)
E foi através do Decreto nº 3.897, de 24 de agosto de 2001, que o emprego das Forças
Armadas em missões de GLO foi regulamentado.
Art. 3º Na hipótese de emprego das Forças Armadas para a garantia da lei e da
ordem, objetivando a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e
do patrimônio, porque esgotados os instrumentos a isso previstos no art. 144 da
Constituição, lhes incumbirá, sempre que se faça necessário, desenvolver as ações
de polícia ostensiva, como as demais, de natureza preventiva ou repressiva, que se
incluem na competência, constitucional e legal, das Polícias Militares, observados os
termos e limites impostos, a estas últimas, pelo ordenamento jurídico.
Art. 5º O emprego das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem, que deverá
ser episódico, em área previamente definida e ter a menor duração possível, abrange,
ademais da hipótese objeto dos arts. 3º e 4º, outras em que se presuma ser possível a
perturbação da ordem, tais como as relativas a eventos oficiais ou públicos,
particularmente os que contem com a participação de Chefe de Estado, ou de
Governo, estrangeiro, e à realização de pleitos eleitorais, nesse caso quando
solicitado.
Caso surja uma situação tendente à quebra da ordem pública, após esgotados os
instrumentos ordinários de sua manutenção, será necessário e imprescindível a interferência
das Forças Armadas, que atuarão com condições técnicas e táticas diferenciadas frente a
demanda necessária.
“As Operações de Garantia da Lei e da Ordem (Op GLO)
caracterizam-se como operações de “não guerra”, pois, embora
empregando o Poder Militar, no âmbito interno, não envolvem o
1177
combate propriamente dito, mas podem, em circunstâncias especiais,
envolver o uso de força de forma limitada. ” 1
Este trabalho justifica-se pela grande relevância que possui o emprego das tropas
hipomóveis das Forças Armadas em missões de Garantia da Lei e da Ordem; a mobilidade e o
poder de dissuasão e desestímulo que a tropa montada transmite proporciona grande
vantagem, e o emprego do efetivo hipomóvel demonstra-se necessário e indispensável, sendo
um diferencial relevante que qualquer comando de tropa necessita para o êxito da missão.
Diante disso, o presente estudo caracteriza-se pela busca de manuais, pesquisas,
legislação e a mais diversa doutrina relativa ao tema, com o foco principal no emprego da
tropa hipomóvel em patrulhas e operações de choque, atuando como apoio ou isoladamente.
Assim, busca-se consolidar uma doutrina de emprego da tropa hipomóvel em missões de
GLO, para que possamos subsidiar o treinamento e o emprego com elementos técnicos sobre
a melhor forma de atuação do efetivo neste tipo de missão.
2.3 PROBLEMA
Propor um Caderno de Instrução de Emprego da tropa Hipomóvel em Missões de
Garantia da Lei e da Ordem.
Para o alcance do objetivo proposto, este trabalho visa apresentar uma doutrina
atualizada que contribuirá com o treinamento, aperfeiçoamento e emprego do efetivo
hipomóvel em Operações de Garantia da Lei e da Ordem, aprofundando o estudo referente à
importância do emprego da cavalaria no patrulhamento urbano e rural e em operações de
controle de distúrbios civis.
2.4 OBJETIVOS
Doravante serão apresentados o objetivo geral e os objetivos específicos deste estudo,
estabelecendo a forma como será desenvolvida a proposta de caderno de instrução de
emprego da tropa hipomóvel em Operações de Garantia da Lei e da Ordem.
1 BRASIL. MD33-M-10: GARANTIA DA LEI E DA ORDEM – Portaria Normativa nº 186/MD, de 31 de
janeiro de 2014. MINISTÉRIO DA DEFESA - 2ª Edição. Brasília: EGGF, 2014. p. 25
1188
2.4.1 Objetivo Geral
De maneira geral, o presente estudo pretende produzir uma proposta de caderno de
instrução de emprego da tropa hipomóvel em Operações de GLO que possibilite as frações
hipomóveis dispor de uma doutrina moderna e atualizada objetivando direcionar o
treinamento e aperfeiçoamento da tropa e padronizar procedimentos técnicos.
2.4.2 Objetivos Específicos
Com a finalidade de alcançar o objetivo geral, levantaram-se os objetivos específicos
abaixo relacionados na condução do presente estudo:
a. Apresentar os aspectos legais da atuação como polícia das Forças Armadas nas
operações de Garantia da Lei e da Ordem.
b. Descrever as ações que podem desencadear a atuação da tropa de hipomóvel
em Operações de Garantia da Lei e da Ordem.
c. Atuação das Forças Armadas em Patrulhamento Ostensivo.
d. Discorrer sobre o uso da força nos controles de distúrbios civis.
e. Apresentar as táticas de combate e controle (posição, formação, comandos,
carga de cavalaria).
f. Discorrer sobre a atuação em conjunto (tropa hipomóvel e tropa a pé).
g. Dispor sobre a escolha do equino e sua dessensibilização.
h. Apresentar os equipamentos de proteção (homem / cavalo).
i. Treinamento do militar e do cavalo.
j. Apresentar os exercícios de treinamento / área de treinamento.
1199
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 CARACTERÍSTICAS E VANTAGENS DA ATUAÇÃO DA TROPA HIPOMÓVEL
Devido a algumas peculiaridades da tropa hipomóvel, seu emprego deve ser de forma
inteligente e adequado às suas vantagens e desvantagens, para que se explore ao máximo das
características da tropa.
3.1.1 Ostensividade e campo de visão
Uma das características da tropa hipomóvel é a ostensividade, pois, devido à sua
projeção mais elevada, o conjunto se torna muito visível quando em patrulha, multiplicando
sua eficiência e potencialidade, o que inibe a ação de potenciais criminosos. O militar possui
seu campo de visão ampliado por encontrar-se em posição superior à dos demais populares,
isso lhe possibilita ver e ser visto mesmo em distâncias maiores.2
3.1.2 Efeito psicológico
O efeito psicológico caracteriza uma das maiores vantagens do emprego da tropa
hipomóvel, uma vez que transmite, de forma geral, uma imprevisibilidade da ação do animal,
por mais que esteja sob o controle do cavaleiro. Os populares sentem-se fragilizados diante da
imponência do cavalo e respeitam sua atuação, tanto em ações preventivas quanto repressivas.
Ao mesmo tempo que incerteza e temor aos transgressores, o cavalo propicia uma
aproximação com as pessoas de bem – o público deseja interagir com o animal, as crianças
gostam de tocá-lo, o que traz uma maior confiança da população na tropa hipomóvel.
“A experiência demonstrou de maneira concluinte, que o efeito psicológico causado
pela cavalaria aos elementos tumultuosos, é o de uma arma de grande eficácia,
quando bem explorada pelo comando da operação.”3
2 TAVARES, Tanir Pereira. O emprego de tropas hipomóveis em patrulhamento urbano: características do
animal, adestramento e procedimentos. Rio de Janeiro: Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, 2006. p.29. 3 RIO GRANDE DO SUL. Manual para emprego do esqd. hipo no controle de tumulto – 2º Ten. Pedro
Rubens. Porto Alegre: Brigada Militar, 1975. p.10.
2200
3.1.3 Poder repressivo
Outra importante característica apresentada é o porte físico do animal, bem como sua
força e o poder repressivo que representa, já que, por vezes, somente com sua aproximação já
evita o confronto direto da tropa hipomóvel com o distúrbio civil.
Não se deve esquecer que a dispersão é o objetivo principal nas operações de controle
de distúrbios civis, e a tropa hipomóvel deve estar engajada nessa missão, explorando ao
máximo o poder intimidador e desencorajador da presença do animal.
3.1.4 Mobilidade, flexibilidade e facilidade na transposição de obstáculos
A facilidade do animal em transpor obstáculos e transitar em locais de difícil acesso,
bem como sua velocidade e flexibilidade, apresenta uma grande vantagem para a tropa
hipomóvel. Tal fato fica evidente quando, por exemplo, há a necessidade de um
acompanhamento em terreno rural, ou até mesmo em parques de áreas urbanas, trata-se de
uma missão simples para o efetivo hipomóvel. 4
3.1.5 Economia de efetivo
Conforme os manuais mais tradicionais, o emprego do efetivo hipomóvel fica na
proporção de um militar a cavalo para cada 10 militares a pé. Tais proporções justificam-se
pela ostensividade, o efeito psicológico, a mobilidade e a flexibilidade que a cavalaria possui
quando do seu emprego, sendo extremamente efetiva a sua atuação.5
3.1.6 Excelência como elemento de choque
O emprego da tropa hipomóvel tem se caracterizado como um dos braços estratégicos
dos comandantes nas operações de controle de distúrbios civis. Apresenta-se no contexto atual
da sociedade, em que o emprego do conjunto homem/cavalo é fundamental para a dissuasão
de grandes tumultos.
4 MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Manual técnico-profissional n. 3.04.09/2013-CG: Regula
a Prática Policial Militar Especial de Policiamento Montado na Polícia Militar de Minas Gerais. Belo Horizonte:
PMMG – Comando-Geral, 2013. p.65. 5 Ibidem, p.66.
2211
A tropa de choque convencional necessita do apoio da cavalaria como um recurso
diferenciado dentre os meios existentes para que consiga fazer frente às peculiares situações
dos distúrbios civis. As características anteriormente mencionadas comprovam o diferencial
que apresenta o emprego do solípede; sua mobilidade, imponência, força e porte físico ficam
multiplicados quando em formação de tropa de choque.6
3.2 A ATUAÇÃO DA TROPA HIPOMÓVEL EM PATRULHAS URBANAS E RURAIS
Observa-se que a fração ideal para atuação de patrulhas deve ser de um trio de
militares, pois, estando em três, atuando em conjunto, cavaleiro e cavalo, caso necessária
alguma abordagem, um dos militares atuará como guarda-cavalos e os outros dois farão a
abordagem e seus procedimentos com mais segurança. Em trio, pode-se aumentar a extensão
do espaço de patrulhamento, sem colocar em risco a segurança do militar.
No entanto, nem sempre será possível empregar as patrulhas em trios, caso seja
necessário poderá haver duplas de patrulhamento, devendo estes adotar critérios especiais,
exige-se ainda mais atenção e técnica nos procedimentos de segurança.7
Com o efetivo hipomóvel lançado em patrulhas no terreno, um dos momentos mais
críticos é a abordagem com busca pessoal; para isso, o militar a cavalo deverá sempre
aproveitar-se do efeito psicológico que o animal provoca e não se deve ter no cavalo um
empecilho para a abordagem.
3.2.1 Trios
O efetivo ideal para realização de patrulhas, visto que na abordagem, um dos militares
ficará de guarda-cavalos, outro de segurança da abordagem e o outro realizará a busca
pessoal.
Com os cavalos colocados de forma frontal ao abordado, um dos militares irá realizar
a verbalização com o abordado.
6 SÃO PAULO. Manual de controle de distúrbios civis. Polícia Militar do Estado de São Paulo. 3.ed. São
Paulo: CSM/M, 1997. p.45. 7 MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Manual técnico-profissional n. 3.04.09/2013-CG: Regula
a Prática Policial Militar Especial de Policiamento Montado na Polícia Militar de Minas Gerais. Belo Horizonte:
PMMG – Comando-Geral, 2013. p.27
2222
Verbalização na abordagem:
___ parado, Exército Brasileiro!
___ coloque as mãos sobre a cabeça!
___ entrelace os dedos e vire-se de costas!
___ ajoelhe-se e cruze as pernas!
Com o suspeito de costas para a patrulha, um dos militares fará a segurança da
patrulha e os demais descerão dos cavalos, estando os dois militares apeados, eles então
passarão a ser responsáveis pela segurança do terceiro militar, que também descerá do cavalo.
Importante que durante a abordagem, o suspeito deverá estar com o rosto virado para o
lado inverso em que estiver sendo revistado, o que dificulta uma reação do abordado.
Um patrulheiro realizará a busca pessoal, o outro, a segurança, e o terceiro, além de
funcionar como guarda-cavalos, é o responsável pela segurança da retaguarda da guarnição.8
3.2.2 Duplas
Em dupla, com os cavalos colocados de forma frontal ao abordado, um dos militares
irá realizar a verbalização com o abordado nos mesmos moldes do patrulhamento em trios.
Enquanto um dos militares desce do cavalo, o outro realiza a segurança, um será o
encarregado da busca pessoal, e o outro, além de funcionar como guarda-cavalos, ficará
responsável pela segurança do seu parceiro, fazendo uma constante vigilância, evitando que
sejam surpreendidos pela retaguarda.
Os dois apeiam dos cavalos, e o posicionamento dos cavalos deve ser feito de modo
que sua presença incomode psicologicamente o suspeito.
O guarda-cavalos que ficará responsável pela segurança da dupla e a mão que
empunha a arma não deve ser utilizada para segurar as rédeas. 9
8 MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Manual técnico-profissional n. 3.04.09/2013-CG: Regula
a Prática Policial Militar Especial de Policiamento Montado na Polícia Militar de Minas Gerais. Belo Horizonte:
PMMG – Comando-Geral, 2013. p.31 9 RIO GRANDE DO SUL. Brigada Militar. EMBM-PM3. Manual de Policiamento Montado. Porto Alegre:
BMRS – 2016. p.77
2233
3.2.3 Procedimentos após abordagem de suspeito
Terminada a abordagem, havendo necessidade de condução do suspeito, a patrulha
acionará uma viatura de apoio que adotará as providências decorrentes e condução a área
judiciária.
Não havendo constatação de nenhuma anormalidade, os militares, de maneira educada,
explicarão ao cidadão os motivos que os levaram a suspeitar de sua atitude e registrarão os
procedimentos de abordagem em documento próprio.
3.2.4 Ponto de Apeamento (PA)
Local previamente estabelecido que não impeça o tráfego de veículos e pessoas, que
não afaste a patrulha do setor de sua responsabilidade e que se destina ao descanso periódico
dos homens e dos cavalos, objetivando o ajuste de equipamento, verificação de ferraduras e
outros cuidados com os animais.
O tempo ideal estimado é de 15 minutos apeado a cada 45 minutos montado. 10
3.2.4 Ponto Base (PB)
Local previamente estabelecido que não impeça o tráfego de veículos e pessoas e que
por estudo e estratégia da missão seja um local importante pela manutenção de um efetivo
ostensivamente colocado de forma preventiva, por um período determinado de tempo,
conforme estabelecido pelo comandante da Operação.
3.3 PREPARAÇÃO DA TROPA HIPOMÓVEL
3.3.1 Encilhamento e preparação do homem e do equino
A tropa hipomóvel possui a peculiaridade de uma preparação minuciosa do
material/equipamento e cuidados diários com o cavalo, objetivando manter-se ativo durante o
cumprimento da missão.
10 RIO GRANDE DO SUL. Brigada Militar. EMBM-PM3. Manual de Policiamento Montado. Porto Alegre:
BMRS – 2016. p.76
2244
Por tratar-se de um ser vivo, alguns cuidados básicos são necessários: manutenção da
instalação do animal (baias), necessita de limpeza diária, verificar se o cavalo se alimentou
bem, conferindo se há ração ou volumoso no cocho do animal, informando a formação
veterinária no caso de sobra de alimento no cocho.11
O militar deverá verificar se há sinais de algum tipo de lesão, doença ou indisposição
do cavalo e realizará a limpeza do animal, e conferirá o estado do ferrageamento de sua
montada;
Concluída a verificação e higienização do equino, o cavalariano procederá o
encilhamento, tomando o cuidado de verificar as condições do arreamento, constatando
possíveis irregularidades que possam causar ferimentos no animal.12
3.3.2 Preleção:
A preleção é o momento em que o Comandante da Operação reúne o efetivo que será
empregado na missão e transmite as ordens aos elementos subordinados, objetivando traçar
um mapa da missão, tais como o local de atuação, as atribuições de cada homem, a forma de
atuação da tropa, equipamento, material.
3.3.3 Distensão e Aquecimento
Antes de embarcar os animais para o cumprimento da missão, é necessário realizar a
movimentação da cavalhada, que objetiva alongar os animais que estão porventura muito
tempo estabulados, aquecer a musculatura e relaxar os animais com mais energia, tornando
mais seguro para o conjunto homem/cavalo; objetiva também verificar algum problema de
saúde com algum solípede ou equipamento mal ajustado.
O tempo para o aquecimento varia de 05 a 15 minutos, iniciando ao passo, após o
trote, podendo colocar ao galope por pouco tempo, retornando ao passo; importante esta
atividade ser acompanhada por um militar graduado, devendo este verificar os animais que
11 RIO GRANDE DO SUL. Brigada Militar. EMBM-PM3. Manual de Policiamento Montado. Porto Alegre:
BMRS – 2016. p.81 12 MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Manual técnico-profissional n. 3.04.09/2013-CG:
Regula a Prática Policial Militar Especial de Policiamento Montado na Polícia Militar de Minas Gerais. Belo
Horizonte: PMMG – Comando-Geral, 2013. p.26
2255
estão demasiadamente alterados, devendo substituí-los, já que o cumprimento da missão
poderá estar prejudicado por causa de uma simples adequação de montada.13
Durante o tempo previsto para o aquecimento poderão ser ministradas pequenas
instruções ao efetivo, reciclando conhecimento e aperfeiçoando a tropa.
3.3.4 Embarque e deslocamento
Quando o patrulhamento ultrapassar a distância de 6 Km do aquartelamento, o
deslocamento até o local deverá ser realizado embarcado, em caminhão box de transporte de
equinos; e quando transportados em distância de até 20 km, os equinos deverão estar
encilhados, sem a cabeçada, amarrados no cabresto (buçal). 14
No caso de o deslocamento ultrapassar essa distância, os animais deverão ser
transportados desencilhados para evitar uma sobrecarga nos cavalos.
Os cavalos deverão ser deslocados separados por divisórias e a velocidade do comboio
deverá ser reduzido preservando a saúde dos animais.
3.3.5 Atuação da tropa hipomóvel
Deverá ser em patrulhas, nos locais definidos na preleção, estabelecidos os locais de
PB e PA, e áreas de deslocamentos, sendo coordenado e fiscalizado pelo comandante da tropa
com a previsão de viatura de apoio.
As patrulhas deverão deslocar-se segundo as normas do Código de Trânsito Brasileiro,
não sendo admitido andar com os cavalos na contramão de direção, subir em passeios,
avançar sinais luminosos, exceto em casos excepcionais de atuação. O deslocamento deverá
ser na pista da direita, o mais próximo possível da calçada, evitando acidentes e
congestionamento do trânsito.15
O militar deverá sempre apresentar-se bem uniformizado e com uma boa postura,
reflexo de profissionalismo.
13 Ibidem 11, p.82 14 MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Manual técnico-profissional n. 3.04.09/2013-CG:
Regula a Prática Policial Militar Especial de Policiamento Montado na Polícia Militar de Minas Gerais. Belo
Horizonte: PMMG – Comando-Geral, 2013. p.29 15 Ibidem, p.30
2266
3.3.6 Recolhimento do efetivo
O recolhimento do efetivo hipomóvel deverá ser realizado aos mondes do embarque,
através de um ponto de reunião do efetivo, devendo os equinos serem embarcados
desencilhados e amarrados pelo cabresto (buçal).
O militar deverá desencilhar o animal, devolvendo devidamente limpo o material de
encilhamento, massagear o lombo do cavalo, rasquear retirando-se a marca da sela e limpar a
ranilha; em caso de meia ducha, jamais deverá guardá-lo molhado na baia.
O comandante da operação deverá reunir a documentação operacional produzida e
confeccionar o relatório da operação. 16
3.4 ATUAÇÃO DA TROPA HIPOMÓVEL EM CONTROLE DE DISTÚRBIOS CIVIS
É o tipo de atuação da tropa hipomóvel em locais de conflitos ou de desordem, com o
objetivo de REMOVER, REPRIMIR ou DISPERSAR os agressores em uma manifestação.
3.4.1 Controle de distúrbio civil
Quando dentro de um contexto qualquer em que ocorre uma grande concentração de
pessoas, cujos ânimos estão exaltados e, consequentemente, inflamados por inquietações ou
tensões coletivas, tomando a forma de uma manifestação, caracterizada por atos de violência
ou de desordem que resultam na prática de crimes, estamos diante de um distúrbio civil.17
Dentro de conceitos preestabelecidos, não podemos limitar esse tipo de fato social,
pois suas características são muito distintas, dependendo dos fatores que lhe deram causa, tais
como torcidas organizadas em jogos de futebol, manifestações de cunho político ou
ideológico, passeatas e romarias de cunho religioso, dentre outras.
A proliferação da desordem é a consequência dessas ocasiões, muitas vezes
extraordinárias, que influenciam na animosidade das pessoas e requerem atitude estatal, com a
ação das Forças Armadas.
16 MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Manual técnico-profissional n. 3.04.09/2013-CG:
Regula a Prática Policial Militar Especial de Policiamento Montado na Polícia Militar de Minas Gerais. Belo
Horizonte: PMMG – Comando-Geral, 2013. p.31 17 BRASIL. C 19-15: Operações de controle de distúrbios civis. Estado Maior do Exército. Brasília: EGGF,
2001. p.5.
2277
3.4.2 O fenômeno das massas
O significado de “massa” como grande concentração de pessoas caracteriza-se pelo
conjunto de indivíduos, de qualquer classe social, raça, profissão, sexo ou nacionalidade, que
se reuniram, independentemente dos motivos. Psicologicamente falando, a expressão toma
outro significado, pois pode, em determinadas circunstâncias, assumir uma forma
completamente distinta das características usualmente conhecidas.18
Gustave Le Bon, médico nascido na França no ano de 1895, lançou o livro
Psychologie des foules (A psicologia das multidões), um clássico que revolucionou a
psicologia social e que para ela contribuiu muito nos meados do século XIX na Europa.
O fenômeno das massas que sacudiu a Europa no final do século XIX foi, sem
dúvida, o principal motivo pelo qual as multidões se tornaram objeto de uma
investigação sistemática em diferentes campos de saber – como a Sociologia e a
Psicologia, por exemplo. Por seu caráter turbilhonar e explosivo, que ameaçava a
ruptura dos equilíbrios sociais e comportava o risco de tornar evidentes as
contradições inerentes ao arranjo liberal da sociedade capitalista naquele momento,
o estudo das multidões tornou-se fundamental para a manutenção do status quo.19
Para Le Bon20, uma multidão seria uma grande alma coletiva, formada pela dissolução
de todas as almas individuais; assim, a multidão é o resultado de uma regressão em massa a
formas primitivas ou até mesmo infantis da existência humana. O autor define a multidão
enquanto grupo social, de forma que tanto torcedores em um estádio de futebol quanto um
grupo de estudantes podem constituir-se numa multidão, dependendo do grau de regressão
mental empreendido entre eles e da força das condições psicológicas necessárias a essa
regressão.
O autor ainda diz que a massa cria e origina um processo hipnótico e uma fascinação,
o que, consequentemente, traria uma perda de discernimento e de vontade própria, fazendo
com que o indivíduo em uma multidão fique desprovido de sua consciência, sendo capaz de
descer vários degraus da civilidade e convertendo-se em um bárbaro primitivo. Dessa forma, a
multidão torna-se um ser psíquico, partilhando sua natureza com o indivíduo singular, mas no
nível psicológico mais baixo possível.
18 LE BON, 1995 apud CAIAFFO, Stéfanis; SILVA, Rosane Neves da; MACERATA, Iacã; PILZ, Christian. Da
multidão-massa à multidão-potência: contribuições ao estudo da multidão para a Psicologia Social. Arquivos
Brasileiros de Psicologia – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, v.59, n.1, p.27-37, 2007.
p.3. 19 Ibidem, p.4. 20 LE BON, op. cit.
2288
São características essenciais da multidão: a unidade mental, pois os membros da
multidão se desvinculam de seus individualismos, juntando-se aos mesmos objetivos;
conforme Le Bon, as multidões de sua época possuíam um estereótipo feminino, exagero de
sentimentos, predomínio do sensualismo e da vida instintiva; pensamentos raros e simplistas,
visto que ocorre um emburrecimento generalizado e o mais esperto dentre os componentes se
torna um bárbaro. Porém, para Le Bon, a principal característica das multidões era a fusão dos
indivíduos em um espírito e em um sentimento comuns.21
Atualmente, os acontecimentos têm mostrado uma nova forma de comunicação e
reunião, pois, mediante interfaces como a internet, os movimentos organizados passaram a ter
mais abrangência e rapidez, com mais segurança aos participantes. A subjetividade e o
anonimato fazem com que as pessoas não meçam palavras e intenções, agindo
indiscriminadamente, seguras da impunidade e da não-persecução pelas autoridades legais.
Figura 1 – Manifestação de cunho político.
Fonte: GAZETAPRESS, 2013 22
O que ocorre também é que essas atitudes se tornam excitantes para muitos que as
testemunham, visto que ali podem liberar suas raivas e angústias, protegidos pela massa que
compõem. Mesmo quando se encontram acidentalmente de forma desorganizada, observa-se
que os líderes, ou comandantes daquele grupo, incitam essas pessoas despretensiosas, as
quais, como fantoches, respondem aos comandos inconscientemente, liberando seus instintos
mais primitivos.
21 MELLO NETO, Gustavo Adolfo Ramos. Psicologia social nos tempos de S. Freud. Revista Psicologia:
Teoria e Pesquisa, Brasília, v.16, n.2, p.145-152, mai./ago. 2000. p.149. 22 GAZETAPRESS. Manifestação em Porto Alegre –RS. 2013. Disponível em: www.gazetapress.
com.br/pauta/36910/manifestacao_em_porto_alegre_rs>. Acesso em: 08 set. 2017.
2299
A dissolução da personalidade consciente e a orientação dos sentimentos e
pensamentos em um mesmo sentido, que são os primeiros traços da massa em vias
de organizar-se, não implicam sempre a presença simultânea de vários indivíduos
num mesmo lugar. Milhares de sujeitos separados entre si, num determinado
momento e sob a influência de certas emoções violentas (um grande acontecimento
nacional, por exemplo), podem adquirir as características de uma massa psicológica.
Bastará um acontecimento qualquer que os reúna para que suas condutas adquiram
imediatamente a forma dos atos de massa.23
Existem características que influenciam as atitudes de certos indivíduos, os quais agem
impulsivamente, perdem seu autocontrole e de forma irracional fazem o que normalmente não
fariam pelo resto de suas vidas se estivessem sozinhos, fato apresentado nos processos
psicológicos que contextualizam os comportamentos das pessoas.24
Primeiro, ocorre a “perda das faculdades críticas”. Isso decorre da desindividualização,
evidenciada com o aparecimento da alma coletiva, a qual reduz a capacidade intelectual de
cada integrante individualmente, tornando-o um membro de uma ilha primitiva, irracional e
sem capacidade crítica.
O “número” influencia sobremaneira, pois confere à massa um corpo único,
desvinculando o indivíduo de suas atitudes e trazendo-lhe a sensação de poder e segurança.
Consequentemente, o “anonimato” soma-se a essa característica por trazer a sensação da
impunidade pelos atos praticados, pois as pessoas se envolvem de tal maneira que removem
todo e qualquer sentimento de responsabilidade por suas atitudes.
A “excitação” e o “contágio mental” que a massa transmite são irresistíveis para
muitas pessoas, fazendo com que o indivíduo sacrifique facilmente seus interesses pessoais
pelos coletivos. Nesse mesmo contexto, ocorre a “imitação” dos atos, que se caracteriza pelo
exemplo contagiante, sendo natural aceitar aquela circunstância pela mera satisfação de fazer
algo novo, desprendido de sua rotina, simplesmente pela emoção e pouco se importando com
as consequências.
É por meio da “sugestão”, aptidão de receber estímulos do ambiente ou de quem o
compõe, transformando-o em atitudes e ações, que o indivíduo externa o que lhe é
transmitido. São reflexos dos líderes e comandantes que acabam guiando os integrantes da
massa, seja pela palavra ou atitudes, orientando-os no mesmo sentido e ideal.
23 MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Manual técnico-profissional nº 3.04.10/2013-CG:
Regula a Prática Policial Especial de Policiamento de Choque nas Operações de Controle de Distúrbios na
Polícia Militar de Minas Gerais. Belo Horizonte: PMMG – Comando-Geral, 2013. p.52. 24 MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Manual técnico-profissional nº 3.04.10/2013-CG:
Regula a Prática Policial Especial de Policiamento de Choque nas Operações de Controle de Distúrbios na
Polícia Militar de Minas Gerais. Belo Horizonte: PMMG – Comando-Geral, 2013.
3300
Por fim, há as “emoções intensificadas”, quando o cidadão não possui mais a
capacidade de dominar suas ações, ficando suscetível às excitações que o sujeitam e
intensificando-as de tal modo que acabam sendo incontroláveis. Nesse momento, sem
qualquer capacidade de dominar seus reflexos, o indivíduo expande seus preconceitos, seus
desejos, suas raivas, que até então estavam contidos, e vem a praticar atos inescrupulosos e
desordeiros, alimentados pela oportunidade e pelo anonimato da massa, o que sozinho e
isolado certamente não ousaria realizar.
3.4.3 Prioridade de emprego dos meios
A tropa de choque hipomóvel objetiva buscar a dispersão dos manifestantes, uma vez
que o efetivo sempre estará em menor número e o resultado do confronto é incerto; com isto,
são utilizadas inúmeras ações com o intuito inicial de causar o impacto psicológico e
desestimular a massa no enfrentamento da tropa.25
O emprego moderado e diferenciado da força é caracterizado pela prioridade do
emprego de meios, em que a tropa de choque atua conforme suas capacidades operacionais e
de acordo com o nível de hostilidade dos manifestantes. O objetivo principal da tropa é
dispersar o distúrbio, utilizando, caso necessário, todos os meios disponíveis para o
cumprimento da missão, de forma que a violência seja evitada.
Segue a sequência de ações (prioridade de emprego dos meios) que poderão ser
desencadeadas pela tropa de choque quando no controle de distúrbio civil.
3.4.3.1 Reconhecimento do local de atuação
O reconhecimento do local de atuação é importante para que o deslocamento da tropa
e sua atuação sejam seguros. Para o emprego da tropa hipomóvel é muito importante saber o
tipo de terreno em que será empregado, pois, apesar de sua característica ser de transposição
de obstáculos, a técnica enumera alguns locais de risco. 26
São comuns os riscos de queda quando o piso (asfalto, paralelepípedo) e o solo
estiverem escorregadios; risco à segurança quando o deslocamento for em locais estreitos e
25 RIO GRANDE DO SUL. Manual de Operações do Batalhão de Operações Especiais – 1º Sgt. Luis
Marcelo Brito. Porto Alegre: Brigada Militar: 2007. p.173. 26 RIO GRANDE DO SUL. Manual básico de policiamento montado – 1º Ten. Luiz Dulinski Porto. Porto
Alegre: Brigada Militar – Polost, 1995. p.28.
3311
baixa visibilidade; e risco à integridade física do conjunto homem/cavalo quando do
arremesso de objetos contra a tropa quando da passagem por baixo de viadutos ou pontes.
3.4.3.2 Vias de fuga
O itinerário de dispersão da turba é chamado de vias de fuga, objetivando dispersar os
manifestantes. A multidão não pode ser direcionada contra obstáculos físicos, contra outra
tropa ou mesmo na direção das viaturas e equipamentos, uma vez que poderá gerar confrontos
indesejáveis.
3.4.3.3 Demonstração de força
Quando a tropa hipomóvel toma a posição de forma firme e disciplinada causa um
impacto psicológico nos manifestantes, demonstra organização e preparo, desencorajando o
infrator.
A recomendação é de que a tropa mantenha distância de segurança dos manifestantes,
evitando arremesso de objetos.
3.4.3.4 Ordem de dispersão
O objetivo da tropa hipomóvel é a dispersão dos manifestantes, o Comandante da
tropa principal ordenará que os manifestantes se retirem pacificamente do local, informando-
os de forma clara e precisa da ilegalidade que estão cometendo, por meios audíveis de
comunicação, para que desistam de suas intensões criminosas e abandonarem pacificamente o
local.
3.4.3.5 Recolhimento de provas
Trata-se do respaldo técnico da tropa, uma vez que de nada adianta fundamentar os
procedimentos e as ações sem provas. Deve-se sempre fotografar e filmar a atuação da tropa
hipomóvel e os integrantes da manifestação, com o intuito de garantir a legalidade das ações e
buscar os possíveis líderes e criminosos.
3322
3.4.3.6 Emprego de agentes químicos
O lançamento de agentes químicos deve ocorrer conforme o necessário e dentro das
quantidades e distâncias adequadas objetivando provocar a dispersão para as vias de fuga
planejadas.
3.4.3.7 Emprego de munição de impacto controlado
O uso de munição de impacto controlado se faz necessário quando alguns agressores,
de forma isolada, atentem contra a segurança dos militares montados através de armamentos
ou objetos arremessados. O emprego deste tipo de munição será mediante ordem do
Comandante da tropa, que determinará aos atiradores que realizem o disparo de acordo com o
tipo de munição.
3.4.3.8 Emprego de água
O emprego do canhão de agua causa um impacto psicológico na multidão; muitas
vezes, potencializa o agente químico empregado anteriormente, sem falar que diminui o
tempo útil do indivíduo na manifestação pelo desconforto causado pela água.
A tropa hipomóvel deverá ter muita atenção quanto da utilização de agua na contenção
dos agressores, visto que deixa o solo escorregadio, prejudicando o deslocamento da
cavalhada.
3.4.3.9 CARGA DE CAVALARIA
O Comandante da Tropa poderá empregar a carga de cavalaria, em uma ação
conjunta com a tropa de choque a pé, ou seja, o choque montado avança pelos flancos ou
infiltrando pelo centro da tropa e toma a frente da tropa a pé.
O efeito psicológico causado aos integrantes do distúrbio é bastante significativo, por
isso, é importante o treinamento do efetivo conjunto, pois é necessário demonstrar coesão nos
procedimentos.
A tropa hipomóvel tomará a posição à frente da tropa a pé, preferencialmente em linha
e avançará sua montada através de uma carga ao galope em direção ao tumulto, sem perder a
3333
formação inicial, fazendo um alto ao final do deslocamento; e, após ganhar o terreno,
aguardará a tropa a pé retomar a vanguarda.
3.4.3.10 Detenção de líderes
Agentes descaracterizados e velados deverão atuar auxiliando a tropa montada durante
a manifestação, objetivando a identificação e captura das lideranças, para que com
oportunidade sejam detidas.
3.4.3.11 Uso da arma de fogo
O uso da arma de fogo é considerado o último recurso, sendo possível somente em
dois casos nas operações de controle de distúrbios civis: o tiro de comprometimento, pois,
como a técnica dispõe, em situações de iminente perigo de atentados armados contra a tropa
de choque, poderão ser postados atiradores de elite, dotados de armamento de precisão, para
que, depois de identificados possíveis agressores e mediante ordem, estes sejam neutralizados;
ou no caso de legítima defesa do militar ou de terceiros, seguindo os requisitos legais da
excludente de ilicitude, pois, mesmo quando um agente atua com armamento ou munição não-
letal, deve também estar de posse de um armamento letal, de forma individual ou coletiva,
para sua proteção.27
3.4.3.12 Socorro das vítimas
Quando na missão restarem feridos, é dever dar todo o suporte medico e veterinário a
tropa hipomóvel, uma vez que ocorrem como consequências da utilização do cavalo e de
procedimentos não-letais um risco de lesividade, ainda que diminuído pelos inúmeros
procedimentos de segurança adotados.
27 MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Manual técnico-profissional nº 3.04.10/2013-CG:
Regula a Prática Policial Especial de Policiamento de Choque nas Operações de Controle de Distúrbios na
Polícia Militar de Minas Gerais. Belo Horizonte: PMMG – Comando-Geral, 2013. p.46.
3344
3.4.4 Princípios fundamentais no controle de distúrbio civil de tropa hipomóvel
Alguns princípios fundamentais para o emprego da tropa hipomóvel em operações de
controle de distúrbios civis devem ser prioritariamente respeitados, uma vez que este tipo de
missão exige do militar montado algumas medidas diferenciadas, por tratar-se de uma atuação
dinâmica, com a possibilidade de estabelecer contato imediato com agressores, demandando
habilidade na condução das ações. 28
3.4.4.1 Indivisibilidade
Característica fundamental quando da atuação em operações de controle de distúrbios
civis, pois a tropa constituída de forma indivisível apresenta como característica o impacto
psicológico, bem com poder intimidador, que se reflete no desestímulo aos agressores.
Entende-se que esse tipo de conduta de tropa emassada facilita o comandamento e
controle, auxiliando por isso na segurança do militar, o que não é possível quando há divisão
em pequenas frações esparsas.
3.4.4.2 Responsabilidade com a segurança
Para toda e qualquer missão ser bem-sucedida, é necessário verificar os níveis de
segurança em que se encontra o cenário, pois a hostilidade com que a tropa de choque se
depara pode ser maior que as forças que possui para combatê-la.
Atuações imprudentes podem colocar em risco todo o efetivo hipomóvel, bem como
abalar o psicológico e o moral da tropa. Para que sejam evitadas ações isoladas que
comprometam a operação e o equilíbrio psicológico do efetivo, é fundamental o treinamento
constante para atuações nesse tipo de missão.
28 MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Manual técnico-profissional n. 3.04.09/2013-CG:
Regula a Prática Policial Militar Especial de Policiamento Montado na Polícia Militar de Minas Gerais. Belo
Horizonte: PMMG – Comando-Geral, 2013. p.67.
3355
3.4.4.3 Cuidados com os equipamentos de proteção
O equipamento de proteção é a segunda pele do militar e de seu cavalo, devendo ser
tomados alguns cuidados de manutenção e conservação, para que se consiga usufruir com
qualidade dos seus benefícios. Manter sempre limpo e bem acondicionado é fundamental para
o zelo do equipamento, fator relevante à instituição, pois gera uma economia em
investimentos, que poderão ser empregados em outras necessidades.
3.4.4.4 Conhecimento da missão
O militar montado não pode considerar-se apenas uma peça de manobra na operação e
limitar-se somente a ocupar seu lugar na unidade de choque. O integrante da tropa montada
deve, sim, ter conhecimento da missão, inteirar-se dos pormenores que estão envolvidos e
estar a par do contexto para que os objetivos gerais sejam alcançados.
3.4.4.5. Atuar mediante ordem
A unidade de comando é fundamental para a coesão da tropa; sem comando definido,
não há possibilidade de êxito, uma vez que a desordem e a iniciativa de ação isolada
colocariam a missão em fracasso.
3.4.4.6. Manter distância da massa
A tropa hipomóvel deve manter uma distância de segurança, evitando o contato físico
imediato, o que pode variar conforme as circunstâncias. A demonstração de força possui
efeito psicológico sobre a massa, inibindo a ação de possíveis agressores.
3.4.4.7 Agir dentro dos preceitos legais
A lei define os limites de atuação das Forças Armadas, devendo esta respeitar o uso
progressivo da força, agindo de forma proporcional e explorando a prioridade de emprego dos
meios.
3366
Importante o militar montado despir-se de qualquer preconceito envolvendo
sentimento pessoal, político ou ideológico, atuando dentro da técnica e cumprindo o que a lei
determina.
3.4.4.8 Prioridade de emprego dos meios
Como apresentado anteriormente, alguns procedimentos de forma gradual e
progressiva são apresentados à atuação do militar montado. O comando da tropa deve
conhecer as características da grande massa para que consiga decidir de forma técnica o que
deve empregar naquele momento, evitando ações desponderadas.
Não se pode admitir que se utilizem meios inócuos em grupos agressivos, nem ações
extravagantes em pequenas reuniões pacíficas.
3.4.5 Táticas de combate e controle
Nas Operações de Garantia da Lei e da Ordem, em missões de controle de distúrbios
civis exigem algumas técnicas diferenciadas das utilizadas nas missões de patrulhamento,
uma vez que pedem uma postura tática mais combativa, tal como a formação emassada da
tropa, pois possui grande força na condução de tumultos.
Conforme a Polícia Militar do Estado de São Paulo, nas operações de controle de
distúrbios civis, a tropa hipomóvel realiza seus deslocamentos táticos em ações repressivas
com o cassetete ou sabre desembainhadas, em posição "perfilada", ao galope e carga, sempre
em condições de realizar golpes defensivos.29 A demonstração de força realizada pela tropa
montada, com a tomada de posição de forma enérgica e disciplinada, é complementada com a
execução de movimentos de espada, chamados de “molinetes”. São ações altamente positivas
que poderão evitar atuações repressivas de contato.30
Nas aproximações da massa, o deslocamento do efetivo é realizado ao passo ou ao
trote, de forma dinâmica, com o propósito de atingir psicologicamente os turbadores. Nos
empregos repressivos, conforme a necessidade, é realizada a “carga de cavalaria”, em que a
tropa segue ao passo, passa ao trote, partindo ao galope em direção aos agressores, sempre
mediante comando.
29 SÃO PAULO. Manual de controle de distúrbios civis. Polícia Militar do Estado de São Paulo. 3.ed. São
Paulo: CSM/M, 1997. p.56. 30 POLICASTRO, Alberto Nubie. Manual de tropa montada. 1995. 246 f. Monografia (Graduação) - CAO –
Academia de Polícia Militar de São Paulo, São Paulo: 1995. p.65.
3377
3.4.6 Composições da tropa hipomóvel
Quando se fala no emprego da tropa hipomóvel em operações de controle de
distúrbios civis, deve-se pensar na constituição enquadrada do efetivo, ou seja, sua formação
básica em esquadra, grupo, pelotão ou esquadrão; diferentemente de quando se executam
patrulhamentos, em que a constituição é em trios e excepcionalmente em duplas, efetivo
mínimo caso seja necessário uma intervenção e busca pessoal. 31
3.4.6.1 Esquadra
A esquadra é a menor fração constituída, formada por seis conjuntos (militar/cavalo),
com um sargento comandante da fração. Dificilmente atuará isoladamente, salvo em missões
preventivas no local do evento, geralmente em grupos próximos para fácil recomposição.
Figura 2 – Esquadra
05 03 01
06 04 02
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017
3.4.6.2 Grupo
O grupo é formado por duas esquadras, constituído então por 12 conjuntos
(militar/cavalo), com um sargento comandante de cada esquadra. Na formação em grupos,
pode-se constituir uma frente vigorosa no controle de distúrbios, uma vez que já é possível
executar as formações de combate.32
31 MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Manual técnico-profissional n. 3.04.09/2013-CG:
Regula a Prática Policial Militar Especial de Policiamento Montado na Polícia Militar de Minas Gerais. Belo
Horizonte: PMMG – Comando-Geral, 2013. p.41. 32 RIO GRANDE DO SUL. Manual para emprego do esqd. hipo no controle de tumulto – 2º Ten. Pedro
Rubens. Porto Alegre: Brigada Militar, 1975. p.63.
3388
Figura 3 – Grupo
05 03 01 05 03 01
06 04 02 06 04 02
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017
3.4.6.3 Pelotão
O pelotão é a unidade básica operacional empregada em controle de distúrbios civis.
Possui a formação mais tradicional: dois grupos, 24 conjuntos (militar/cavalo), conforme
dispõe a Polícia Militar de São Paulo33, ou três esquadras, 18 conjuntos (militar/cavalo),
conforme dispõe a doutrina da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais34; em qualquer uma
das disposições, o comando está a cargo de um oficial subalterno.
A doutrina varia bastante quanto à formação em pelotão, mas o que se entende é que,
quando se utilizam três esquadras, não se fala da constituição em grupos, visto que essa
formação não é necessária na constituição do pelotão.
Figura 4 – Pelotão (conforme PMMG)
05 03 01 05 03 01 05 03 01
06 04 02 06 04 02 06 04 02
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017
33 SÃO PAULO. Manual de controle de distúrbios civis. Polícia Militar do Estado de São Paulo. 3.ed. São
Paulo: CSM/M, 1997. p.51. 34 MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Manual técnico-profissional n. 3.04.09/2013-CG:
Regula a Prática Policial Militar Especial de Policiamento Montado na Polícia Militar de Minas Gerais. Belo
Horizonte: PMMG – Comando-Geral, 2013. p.76.
3399
3.4.6.4 Esquadrão
O esquadrão possui a formação de três pelotões completos, comandados por um
capitão, podendo excepcionalmente atuar com dois pelotões, conforme a necessidade ou
estratégia da missão.35
3.4.7 Formações da tropa hipomóvel
As formações são elementos chave no emprego da tropa hipomóvel em Operações de
Garantia de Lei e da Ordem em missões de controle de distúrbio civil, devendo ser conhecidas
e treinadas pelos elementos que as constituem. 36
Primeiramente, com relação às formações utilizadas nos deslocamentos, temos, dentro
da doutrina, duas que são tradicionais: a coluna por um e a coluna por dois.
Das formações de combate, possuímos como a mais eficaz a formação em linha; no
entanto, devem ser conhecidas as formações em batalha e em cunha, caso seja útil e
necessário seu emprego.
A doutrina apresenta que a melhor e mais eficiente formação nas operações de
controle de distúrbios civis é a formação “em linha”, pois é a única em que se consegue
manter a tropa agrupada e comandável, sendo qualquer outra formação ou mudança de
formação ineficiente e prejudicial ao controle do efetivo. 37
Nesse tipo de ação, são de fundamental importância o condicionamento e o
adestramento da tropa. Para tanto, o treinamento constante se faz necessário para
que, no auge da ação, não se ponha em risco a operação nem a segurança da tropa ou
de terceiros. Devem-se escolher, quando a situação permitir, os policiais mais
experientes para esta operação, pois o afã e a pouca habilidade com o cavalo
poderão vir em prejuízo da ação, sendo os cavalos, de preferência, os mais calmos,
dotados de coragem frente à massa para não recuar e, ao contrário, avançar.38
Nas formações, o comandante da fração está sempre integrado ao dispositivo para que
possa desempenhar com eficiência o controle da tropa e executar os comandos necessários. O
35 MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Manual técnico-profissional n. 3.04.09/2013-CG:
Regula a Prática Policial Militar Especial de Policiamento Montado na Polícia Militar de Minas Gerais. Belo
Horizonte: PMMG – Comando-Geral, 2013. p.77. 36 GOGGIA, Cláudio de Azevedo. Técnica de Policiamento Montado. Polígrafo de Instrução para Alunos-
Oficiais da Academia de Polícia Militar. Porto Alegre: Polícia Militar, 2013. p.12. 37 GOGGIA, Cláudio de Azevedo. Técnica de policiamento montado. Polígrafo de Instrução para Alunos-
Oficiais da Academia de Polícia Militar. Porto Alegre: Polícia Militar, 2013. p.17. 38 Ibidem, p.18.
4400
efetivo deve estar coeso, e as distâncias entre as frações devem ser reduzidas, de forma que a
tropa fique emassada, aumentando a percepção da força da cavalaria.
3.4.7.1 Coluna por um
Na coluna por um, os conjuntos (militar/cavalo) postam-se uns atrás dos outros, com a
distância de um corpo de cavalo, caso seja necessário, devem ser diminuídos os intervalos.
Essa formação é muito utilizada quando a via de deslocamento possui o tráfego intenso ou
quando é estreita. No entanto devem-se cuidar as distâncias para que não ocorra dispersão.39
Figura 5 – Coluna por um
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017
39 ABADIO, Rodrigo Silva - 2º TEN QOPM. O emprego do policiamento montado em operações de controle
de distúrbios civis em área urbana. Ministério da Defesa, Exército Brasileiro, Escola de Equitação do
Exército, Rio de Janeiro, RJ: 2004. Pag. 46
1º Esquadra
2º Esquadra
3º Esquadra
4411
3.4.7.2 Coluna por dois
Na coluna por dois, há características similares às da formação anterior, mas com uma
menor profundidade, auxiliando no controle; porém, não tem a mesma facilidade de
deslocamento em vias estreitas ou de grande tráfego.40
Figura 6 – Coluna por dois
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017
3.4.7.3 Em linha
Na formação em linha de um pelotão, a tropa hipomóvel é formada pela justaposição
das esquadras ou por escalonamento de cavaleiros à esquerda ou à direita, sem intervalos.
O pelotão pode ser alinhado em uma única fileira, com duas esquadras em linha e uma
em apoio central, ou com duas esquadras em linha e uma em apoio lateral. 41
Figura 7 – Formação em linha
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017
40 Ibidem, p.47. 41 TAVARES, Tanir Pereira. O emprego de tropas hipomóveis em patrulhamento urbano: características do
animal, adestramento e procedimentos. Rio de Janeiro: Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, 2006. p.44.
1º Esquadra
2º Esquadra
3º Esquadra
4422
Apesar de a formação em linha ser a melhor formação nas operações de controle de
distúrbios civis, o pelotão hipomóvel deve estar apto a tomar qualquer posição, de acordo com
a necessidade ou circunstância.
3.4.7.4 Em batalha
A formação em batalha possui uma relevante característica de condução da massa às
vias de fuga, já que dispõe de uma segunda fileira de ataque, gerando um efeito psicológico
ainda maior na turba.
No entanto, perde a amplitude da ação, sendo necessário efetivo maior para que
mantenha essa característica. 42
Figura 8 – Formação em batalha
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017
3.4.7.5 Em cunha
Na formação em cunha, o objetivo é dividir a massa, já que possui um grande poder de
penetração entre os agressores. No entanto, é uma posição de difícil controle e condução,
sendo comum o cavalo desgarrar do comando do cavaleiro devido à perda da referência que
possui no terreno.
Partimos do mesmo princípio da formação em linha, o pelotão pode estar todo
constituído em cunha, ou com duas esquadras na formação e uma em apoio central, ou com
duas esquadras na formação e uma em apoio lateral. 43
42 ABADIO, Rodrigo Silva - 2º TEN QOPM. O emprego do policiamento montado em operações de controle
de distúrbios civis em área urbana. Rio de Janeiro: Ministério da Defesa, Exército Brasileiro, Escola de
Equitação do Exército, 2004. p.49. 43 TAVARES, Tanir Pereira. O emprego de tropas hipomóveis em patrulhamento urbano: características do
animal, adestramento e procedimentos. Rio de Janeiro: Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, 2006. p.43.
4433
Figura 9 – Formação em cunha
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017
3.4.8 Atuação em conjunto da tropa hipomóvel com a tropa a pé
Nas Operações de Garantia da Lei e da Ordem em missões de controle de distúrbios
civis, o emprego da tropa hipomóvel será como apoio a tropa principal, de forma integrada a
Organização Militar a frente da missão, com uma formação compatível à da tropa a pé que
estiver a sua frente, tanto no deslocamento quanto na ação.
A tropa hipomóvel atuará com a finalidade de remover, reprimir ou dispersar os
agressores, realizando patrulhamento em determinadas áreas quando necessário para
desobstruir vias, contenções ou bloqueios, no entanto, somente nestes casos que atuará
isoladamente e não deverá ser empregada como cordão de isolamento, pois não possui
característica para este tipo de missão, já que não possui a proteção dos escudos como a tropa
de choque a pé.
O efetivo hipomóvel em deslocamento utilizará como andadura o PASSO quando o
objetivo é “REMOVER”, ao TROTE e GALOPE para “REPRIMIR” ou “DISPERSAR”.
A fração deverá se posicionar a uma distância aproximada de 10 (dez) metros atrás da
linha de escudos da tropa de choque a pé, objetivando garantir uma movimentação e
infiltrações rápidas; no entanto, deverá se posicionar a uma distância mínima de 100 (cem)
metros da multidão quando não há tropa de choque a pé.
A tropa montada posicionar-se-á a frente da tropa a pé quando precisar realizar uma
CARGA DE CAVALARIA, objetivando dispersar os agressores, após utilização de ações de
menor potencial ofensivo de acordo com a prioridade de emprego dos meios, com a formação
em “LINHA” ou a formação em “BATALHA”, conforme as características do local e evento.
4444
“no controle de tumulto só dá resultado o que é simples. Só se deve, pois, ensinar e
aplicar formações simples, praticando-as até que a tropa saiba executá-las com
precisão e com completa harmonia de movimentos com seus animais [...]”. 44
Observa-se que não se deve buscar evoluções elaboradas, mas uma condução coesa da
tropa, com técnica e disciplina tática, buscando alcançar os principais objetivos no controle de
distúrbios – reprimir e dispersar os agressores.
3.4.8.1 Passagem da tropa hipomóvel pela tropa a pé
A tropa hipomóvel se movimenta para posicionar a frente da tropa a pé deslocando
pelos flancos ou pelo centro da tropa a pé através de infiltrações.
3.4.8.1.1 Infiltração pelo flanco direito e esquerdo
A infiltração pelos flancos direito e esquerdo ao mesmo tempo, a tropa a pé abrirá os
flancos, o Comandante da tropa hipomóvel posicionado ao centro comandará “PARA
INFILTRAÇÃO PELOS FLANCOS... MARCHE”, a tropa hipomóvel partirá ao TROTE,
coluna por um, o Comandante pela direita com metade da fração e o Adjunto pela esquerda,
com os dois grupamentos se encontrando e formando uma linha a 10 (dez) metros com a tropa
a pé.45
3.4.8.1.2 Infiltração pelo flanco direito ou esquerdo
A infiltração por um único flanco, a tropa a pé abrirá o flanco esquerdo ou direito, o
Comandante da tropa hipomóvel, posicionado ao centro comandará “PARA INFILTRAÇÃO
PELO FLANCO DIREITO/ESQUERDO... MARCHE”, a tropa hipomóvel partirá ao
TROTE, coluna por um, o Comandante à frente, os militares da lateral oposta ao flanco aberto
partem em deslocamento, o grupamento se posiciona a 10 (dez) metros, em linha, à frente da
tropa a pé. 46
44 RIO GRANDE DO SUL. Manual para emprego do esqd. hipo no controle de tumulto – 2º Ten. Pedro
Rubens. Porto Alegre: Brigada Militar, 1975. p.24. 45 RIO GRANDE DO SUL. Brigada Militar. EMBM-PM3. Manual de Policiamento Montado. Porto Alegre:
BMRS – 2016. p.104 46 RIO GRANDE DO SUL. Brigada Militar. EMBM-PM3. Manual de Policiamento Montado. Porto Alegre:
BMRS – 2016. p.104
4455
3.4.8.1.3 Infiltração pelo centro
Infiltração pelo centro da tropa a pé, a fração de choque a pé abrirá em torno de 4
(quatro) metros a linha de escudos ao centro, o Comandante da tropa hipomóvel comandará
“PARA INFILTRAÇÃO PELO CENTRO... MARCHE”, o Comandante e o Adjunto a frente
da tropa, em coluna por dois seguem ao TROTE, em uma distância de aproximadamente 10
(dez) metros realizam o alto, a direita a coluna do Comandante e a esquerda a coluna do
Adjunto, formando uma linha a frente da tropa a pé.47
3.4.9 CARGA DE CAVALARIA
Conhecida como a derradeira resposta aos agressores quando não responderem aos
chamamentos ou ordens de dispersão, faz necessário o uso moderado da força, cujo objetivo é
dissolver o tumulto, e a decisão do emprego desse recurso cabe ao Comandante da tropa
hipomóvel.
Após a tomada da posição e demonstração de força, não ocorrendo a dispersão, a tropa
hipomóvel executará a CARGA DE CAVALARIA. O Comandante da tropa montada ordena
“PREPARAR PARA A CARGA”, antes da linha de onde partirá o avanço da tropa; em
seguida, os cavaleiros tomam o galope, mantendo a formação, com distância e intervalos
reunidos.48
No caso da formação em LINHA, ao comando de “PREPARAR PARA A CARGA”,
dado antes da linha de onde partirá o ataque, a aproximadamente 50 a 60 metros da massa,
será comandado “AO TROTE”, logo após “AO GALOPE” e o comando de “CARGA”, que é
repetido pelos cavaleiros (CARGA, CARGA, CARGA...) ou (CHOQUE, CHOQUE,
CHOQUE...), avançando a tropa.
Na formação em BATALHA, com duas fileiras de cavaleiros, na mesma distância, ao
comando de “CARGA”, avança a primeira fileira, gatilho para a tomada da posição e avanço
da segunda fileira, mantendo distâncias regulares de segurança.
A compartimentação da tropa é fundamental para o êxito da missão, uma vez que essa
é a vantagem do uso do efetivo enquadrada, e o avanço desgarrado e individual de um
cavaleiro não causará o efeito desejado, além de ser perigoso ao conjunto.
47 RIO GRANDE DO SUL. Brigada Militar. EMBM-PM3. Manual de Policiamento Montado. Porto Alegre:
BMRS – 2016. p.104 48 RIO GRANDE DO SUL. Brigada Militar. EMBM-PM3. Manual de Policiamento Montado. Porto Alegre:
BMRS – 2016. p.106
4466
A carga termina com a dispersão de manifestantes lançados em fuga; e ao comando de
“REUNIR”, os cavaleiros avançam, em linha ou em batalha, fazem alto e entram em forma,
sem a preocupação de se colocarem em seus lugares, mas de maneira rápida e enérgica para
não despertar nos manifestantes alguma sensação de resistência.
A medida que a cavalaria avança, conquistando terreno e dispersando a manifestação,
a tropa a pé acompanha com a finalidade de ocupar esse espaço conquistado.
A tropa hipomóvel nunca recua após a realização de uma carga de cavalaria, pois os
cavaleiros poderão ser atingidos por objetos lançados, além de encorajar os manifestantes a
ocuparem o que foi conquistado; e as infiltrações são sempre realizadas para a frente, tanto
pela tropa a pé, quanto pela tropa hipomóvel.
3.4.10 Comandos à tropa hipomóvel
Os comandos à tropa hipomóvel poderão ser executados por voz, por gestos ou até
mesmo por toques de clarim, como tradicionalmente era realizado no campo de batalha. No
entanto, é pacífico o entendimento de que devem ser de fácil compreensão e transmitidos de
forma clara e visível, a fim de que as frações obtenham o melhor entendimento possível da
ordem emanada.
Para sintetizar esse processo, partiremos para a descrição dos comandos específicos
para as formações nas operações de controle de distúrbios civis, retirando alguns comandos
também importantes, mas que não são destinados para esse tipo de missão.49 50 51
Nos comandos por voz, primeiramente, comanda-se a voz de advertência, “Atenção
Pelotão”; em seguida, o comando da formação desejada, “Coluna por um”, “Coluna por dois”,
“Em linha”, “Em batalha”, “Em cunha”, para após comandar a voz de execução, “Marche!”.
Quando necessário executar um deslocamento para uma posição com uma
determinada andadura, dentro do mesmo princípio, devem-se agregar mais informações ao
comando, como no exemplo a seguir: voz de advertência “Atenção Pelotão”, formação
“Coluna por dois”, direção “À direita”, andadura “Ao trote”, voz de execução “Marche!”. No
49 MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Manual técnico-profissional n. 3.04.09/2013-CG:
Regula a Prática Policial Militar Especial de Policiamento Montado na Polícia Militar de Minas Gerais. Belo
Horizonte: PMMG – Comando-Geral, 2013. p.87. 50 SÃO PAULO. Manual de controle de distúrbios civis. Polícia Militar do Estado de São Paulo. 3.ed. São
Paulo: CSM/M, 1997. p.58. 51 GOGGIA, Cláudio de Azevedo. Técnica de policiamento montado. Polígrafo de Instrução para Alunos-
Oficiais da Academia de Polícia Militar. Porto Alegre: Polícia Militar, 2013. p.16.
4477
entanto, deve-se também simplificar em outras ocasiões, como, por exemplo, uma simples
mudança de direção: “Atenção pelotão”, “À esquerda”, “Marche!”.
A voz de advertência destina-se a chamar a atenção do efetivo para a formação que
será determinada a seguir. Ao comando de “Marche!”, voz de execução propriamente dita, a
tropa conduzirá a montada entrando na formação determinada.
Os comandos por gestos são muito utilizados quando em eventos desportivos, uma vez
que o barulho do local dificulta muito a compreensão da tropa hipomóvel, além do que esse
tipo de comando auxilia no efeito surpresa, por não chamar a atenção dos agressores,
contribuindo para uma ação rápida.52
Dentre os comandos por gestos mais importantes em operações de controle de
distúrbios civis, podemos destacar os que seguem. 53
a) “Atenção”: estender o braço direito na vertical com a palma da mão aberta e
voltada para a frente; Idem “Alto”.
b) “Coluna por um, por dois”: estender o braço direito na vertical e com os dedos
indicar a formação desejada;
c) “Em linha” de uma ou de duas fileiras (formação em batalha): estender o braço
direito na horizontal e com os dedos indicar a formação desejada;
d) “Alto!”: estender o braço direito na vertical com a palma da mão aberta e
voltada para a frente;
e) “Reunir”: da posição de atenção, descrever vários círculos acima da cabeça.
f) “A cavalo”: estender o braço direito horizontalmente para o lado, palma da
mão para cima, e levá-lo diversas vezes para a vertical;
g) “A pé”: estender o braço direito horizontalmente para o lado, palma da mão
para baixo, e baixá-lo com a ponta dos dedos apontando para o solo;
h) “Em frente”: estender o braço direito verticalmente, palma da mão para frente,
e baixá-lo na posição desejada;
i) “À Direita”: estender o braço direito na vertical, palma da mão voltada para
frente, e efetuar movimentos de cima para baixo, acima da cabeça do cavaleiro, para o lado
direito.
52 GOGGIA, Cláudio de Azevedo. Técnica de policiamento montado. Polígrafo de Instrução para Alunos-
Oficiais da Academia de Polícia Militar. Porto Alegre: Polícia Militar, 2013. p.16. 53 Ibidem, p.17.
4488
j) “À Esquerda”: estender o braço direito na vertical, palma da mão voltada para
frente, e efetuar movimentos de cima para baixo, acima da cabeça do cavaleiro, para o lado
esquerdo.
k) “Em linha”: estender o braço direito verticalmente, palma da mão para frente,
oscilando-o para a direita e para a esquerda até a tropa tomar a formação.
l) “Aumentar a andadura”: da posição de atenção, baixar e levantar várias vezes o
braço direito, com o punho cerrado, sem que este desça abaixo da linha dos ombros.
m) “Diminuir a andadura”: Estender o braço direito horizontalmente para o lado,
palma da mão voltada para baixo, balançando para cima e para baixo, várias vezes.
No caso de o comandante da fração estar com o sabre desembainhado ou cassetete, o
que é muito provável que ocorra, alguns comandos por gestos podem ser realizados com a
espada, fazendo-se movimentos similares aos feitos com as mãos.
3.4.11 O número de efetivo empregado em grandes eventos
No atual contexto em que as Forças Armadas está inserida, com o emprego da tropa
hipomóvel em missões de Garantia da Lei e da Ordem, a missão constitucional de preservação
da ordem pública e incolumidade das pessoas e patrimônio exige alternativas técnicas e táticas
diferenciadas.
Estrategicamente, não se tem um número definido de conjuntos hipomóveis para atuar
no controle de tumulto, pois são analisadas diversas variáveis para definir o número de efetivo
empregado, mas, dentro de uma classificação do número de pessoas somados o local do
evento, clima, grupos envolvidos, motivações ideológicas e publicidade, pode-se chegar a
uma previsão de efetivo empregado como segue:
Figura 10 – Tabela de emprego da tropa hipomóvel.
Público Grupo Número de militares montados
Até 10.000 pessoas 1 GPMon Até 12 conjuntos
10.000 a 20.000 pessoas 1 PelMon De 12 a 26 conjuntos
20.000 a 40.000 pessoas 1 Esqd Mon De 24 a 48 conjuntos
Acima de 40.000 pessoas 2 Esqd Mon De 48 a 96 conjuntos Fonte: GOGGIA, 2013 54
54 GOGGIA, Cláudio de Azevedo. Técnica de policiamento montado. Polígrafo de Instrução para Alunos-
Oficiais da Academia de Polícia Militar. Porto Alegre: Polícia Militar, 2013. p.10.
4499
De acordo com o planejamento da missão, o Comandante da Operação poderá
empregar os conjuntos montados de forma preventiva ou repressiva; preventivamente
ocupando áreas em que se presuma mais críticas, com o efetivo fracionado em patrulhas
objetivando evitar pequenos conflitos; repressivamente, a tropa hipomóvel é empregada de
forma mobilizada, ou seja, dentro de formações específicas, para produzir o impacto
psicológico esperado.
3.4.12 Equipamentos de proteção
Os equipamentos de proteção são essenciais para que o militar e seu cavalo estejam
em segurança e objetiva minimizar ao máximo a ofensiva letal ou alguma lesão grave que o
militar e seu cavalo venham a sofrer.
As atuações de alto risco deverão sempre ser bem avaliadas pelo comando da
operação, tendo como escopo preservar a vida do cidadão, do militar e do animal empregado.
Nas operações de controle de distúrbios civis, são utilizados ainda mais equipamentos
de proteção do que em missões de patrulhamento, isso porque as características da missão e
sua natureza são muito diferentes. Os equipamentos utilizados nos distúrbios civis são bem
mais robustos, elaborados e complexos, devendo a tropa adestrar o cavalo para seu uso e
executar treinamentos constantes para que a maneabilidade do efetivo não seja prejudicada
pelo desconforto dos trajes e arreios.
Entende-se também que é imprescindível um treinamento mais minucioso para a
utilização do material e sua correta manutenção e conservação, dessa forma garantindo ao
conjunto muito mais segurança no uso adequado dos equipamentos. Para isso, a padronização
do equipamento também é muito importante para facilitar sua utilização e os ajustes
necessários.
3.4.12.1 Equipamentos de proteção para o homem
Existem muitos tipos de equipamentos de proteção utilizados pelos militares montados
quando em missões de controle de distúrbios civis, mas deverão essencialmente proteger a
cabeça, o tronco e os membros, de maneira que garanta sua integridade física e um mínimo
aceitável de mobilidade.
5500
Figura 11 – Policial Militar da PMESP utilizando o exoesqueleto
Fonte: PMESP, 2017 55
Tradicionalmente, esse equipamento de proteção individual é utilizado de forma
modulada, ou seja, separadamente adaptado ao militar. 56
a) Capacete de choque com viseira articulável:
Figura 12 – Capacete de choque
Fonte: Alibaba, 2017 57
55 PMESP. Exoesqueleto. 2014. Disponível em: <http://www.ssp.sp.gov.br/noticia/LeFotos.aspx?id=6113>.
Acesso em 10 out. 2017. 56 NUNES, Francisco Otavio Rodrigues. Padronização dos arreamentos e equipamentos de proteção
individual do cavalo e policiais militares empregados no policiamento montado na Brigada Militar. Rio
Grande do Sul: CAAPM, Academia de Polícia Militar, 2011. p.67. 57 ALIBABA. Capacete – CDC. 2017. Disponível em: < https://www.alibaba.com/product-detail/High-Quality-
Lightweight-American-Standard-ABS_50029774532.html>. Acesso em: 10 out. 2017.
5511
b) Colete balístico:
Figura 13 – Colete balístico
Fonte: SAFEStore, 2017 58
c) Exoesqueleto:
Figura 14 – Exoesqueleto
Fonte: EBC, 2017 59
58 SAFESTORE. Colete. 2017. Disponível em: < https://safestore.com.br/produto/colete-balistico-nivel-ii-a-
colete-a-prova-de-balas-curitiba/>. Acesso em: 10 out. 2017. 59 EBC. Exoesqueleto. 2014. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2014/06/policia-lanca-
bombas-de-gas-lacrimogeneo-em-manifestantes-na-paulista>. Acesso em: 10 out. 2017.
5522
3.4.12.2 Equipamentos de proteção para o equino
No tocante à proteção do cavalo em controle de distúrbios civis, entende-se ser
essencial sua utilização para a manutenção da integridade física da montada, refletindo-se
diretamente no desempenho e permanência na missão. O animal fica muito exposto, por isso
alguns equipamentos são indispensáveis, tais como: viseira de proteção e protetor de chanfro,
caneleiras e boleteiras, peitoral em couro ou acrílico e botas antiderrapantes para proteção de
casco e ranilha.
O cavaleiro jamais poderá negligenciar os cuidados com seu animal, devendo manter o
asseio e equipamentos em perfeitas condições, pois isso vai resultar na saúde do solípede. O
mau encilhamento e mau ajuste de equipamentos podem machucar o cavalo e,
consequentemente, prejudicar seu desempenho na operação.
a) Viseira protetora acoplada à cabeçada e protetor de chanfro:
Figura 15 – Viseira e protetor de chanfro
Fonte: TARIDEAL, 2017 60
60 TARIDEAL. Viseira e protetor de chanfro. 2017. Disponível em: <
http://www.tarideal.com/Solutions/Law_Enforcement/Mounted_Police/TA03137/Horse_Visor>. Acesso em: 10
out. 2017.
5533
b) Protetores de casco e ranilha:
Figura 16 – Bota antiderrapante
Fonte: PMESP, 2017 61
c) Peitoral para proteção frontal:
Figura 17 – Peitoral de proteção
Fonte: PMESP, 2017 62
61 PMESP. Bota antiderrapante. 2014. Disponível em: <
http://www.ssp.sp.gov.br/noticia/LeFotos.aspx?id=6113>. Acesso em: 10 out. 2017. 62 PMESP. Peitoral de proteção. 2014. Disponível em: <
http://www.ssp.sp.gov.br/noticia/LeFotos.aspx?id=6113>. Acesso em: 10 out. 2017.
5544
d) Protetores de membros:
Figura 18 – Caneleira
Fonte: MLA, 2017 63
Figura 19 – Boleteira
Fonte: MLA, 2017 64
63 MLA. Caneleira. 2017. Disponível em: < http://mlapoliceequipment.com/horse-front-leg-protector/>. Acesso
em: 10 out. 2017. 64 Idem. Boleteira. 2017. Disponível em: < http://mlapoliceequipment.com/horse-front-leg-protector/>. Acesso
em: 10 out. 2017.
5555
3.4.13 Seleção do cavalo para tropa hipomóvel
A escolha do cavalo ideal é muito importante para o bom desempenho em Operações
de Garantia da Lei e da Ordem, principalmente em operações de controle de distúrbios civis.
Muitos estudos e pesquisas foram realizados para que se chegasse a uma raça ideal,
procedendo-se à busca do animal mais adaptável à atividade operacional, que possuísse as
características essenciais para o desempenho das atribuições militares.
Psicologicamente, busca-se um cavalo dócil e obediente, pois estará em grandes
movimentações de pessoas; não poderá ser muito assustado e deverá ser calmo, concentrado,
sem vícios agressivos e corajoso.
Além disso, o animal deverá atender fisicamente ao que se espera de um verdadeiro
d’armas, com uma estrutura equilibrada que garanta força e agilidade, combinadas com um
porte elevado que possibilite a vantagem psicológica, e deverá ter a pelagem uniforme entre a
cavalhada. 65
Quanto às qualidades físicas notáveis que devem ser avaliadas no animal, busca-se
verificar basicamente os aspectos fisiológicos do cavalo e a sua complexão orgânica. 66
3.4.13.1 Saúde
O cavalo deverá gozar de boa saúde, com o equilíbrio de sua estrutura muscular e
óssea, juntamente com o perfeito funcionamento do sistema orgânico, sem esquecer a
estabilidade do metabolismo.
3.4.13.2 Rusticidade
Capacidade de aguentar condições adversas sem que fique doente ou abatido, bem
como de recuperar as energias e cicatrizar os ferimentos. A aclimatação é muito importante,
devendo suportar intempéries sem que baixe sua imunidade, dando espaço para doenças.
65 PEREIRA, Rafael Matta Assenção. A preparação dos cavalos empregados em operações de garantia da lei
e da ordem. Rio de Janeiro: Escola de Equitação do Exército, 2011. p.20. 66 TAVARES, op. cit., p.53.
5566
3.4.13.3 Resistência
A capacidade de suportar fisicamente a esforços prolongados sem alcançar a exaustão;
a capacidade cardiopulmonar influencia muito nessa qualidade, devendo o animal ser
trabalhado constantemente para conservar tal capacidade.
3.4.13.4 Flexibilidade
O animal deverá conseguir realizar todos os movimentos atinentes à sua estrutura
ósseo-muscular, sem limitações por atrofiamentos ou rompimentos ligamentares.
3.4.13.5 Agilidade
Qualidade que caracteriza a destreza, rapidez, desembaraço do animal na execução dos
movimentos, muito ligada ao reflexo e ao senso de coordenação, bem como à inteligência
motora na resposta dos comandos do cavaleiro.
3.4.13.6 Força e potência muscular
O cavalo tem que ter força e potência suficiente para deslocar o seu peso somado com
o do cavaleiro sem que perca velocidade e agilidade nos movimentos.
3.4.13.7 Equilíbrio
Capacidade que o animal possui de realizar os movimentos combinando seu peso com
o de seu cavaleiro, sem que perca o controle de seu centro de gravidade nem diminua a
velocidade, agilidade e destreza. Essa característica garante a segurança do conjunto
militar/cavalo, pois, ao perder-se o equilíbrio, poderá ocorrer uma queda.
3.4.13.8 Porte
Entende-se que o animal deverá possuir um porte médio para grande, o que pode
influenciar na sua capacidade de suportar a troca de cavaleiros, mas também para facilitar a
5577
transposição de obstáculos e projetar sua silhueta de forma ainda mais ostensiva aos possíveis
agressores.
Quanto às qualidades morais, busca-se uma personalidade equilibrada do animal para
que se adapte às peculiaridades da função operacionais. O cavalo que possuir as
características a seguir tende a ser conduzido muito melhor por seu cavaleiro, facilitando o
cumprimento da missão. 67
3.4.13.9 Calma
O cavalo não pode ficar irritado, impaciente, pois estará constantemente sendo
inquietado pela movimentação das pessoas; mais ainda, deverá suportar de forma equilibrada
as agressões que vier a sofrer. Essa característica alia-se à capacidade de concentração do
animal, que deverá responder aos comandos de seu cavaleiro, sem se influenciar com a
desordem.
3.4.13.10 Franqueza
Sinônimo de lealdade, característica ímpar do cavalo militar, pois demonstra o quanto
se poderá confiar em sua montada. O militar deverá estar tranquilo com seu animal, sabendo
que o cavalo não refugará um comando ou a transposição de um obstáculo, o que
consequentemente poderia vir a causar um acidente.
3.4.13.11 Generosidade
Qualidade que evidencia a característica que o cavalo possui de disposição e entrega.
Traduz-se pela lealdade, que se evidencia na obediência aos comandos de forma briosa,
honrosa e retilínea.
67 TAVARES, Tanir Pereira. O emprego de tropas hipomóveis em patrulhamento urbano: características do
animal, adestramento e procedimentos. Rio de Janeiro: Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, 2006. p.53.
5588
3.4.13.12 Submissão
Não somente no sentido de sujeição que o cavalo dispõe ao seu cavaleiro, mas de
camaradagem, lealdade que se manifesta na relação. O cavalo deve ser disciplinado, assim
como seu cavaleiro, devendo o conjunto bem desempenhar suas missões, enquadrados e
comprometidos com a causa.
3.4.13.13 Coragem
Trata-se de uma qualidade muito rara entre os solípedes, pois o cavalo tem
instintivamente o reflexo de afastar-se de uma situação de perigo, por isso que
fisiologicamente são muito velozes, pois faz parte de seu instinto fugir pois são presas
naturais. Porém, em Operações de Garantia da Lei e da Ordem, principalmente em operações
de controle de distúrbios civis, o cavalo deverá ser aguerrido, audaz e arrojado, avançando
contra os agressores, mesmo com o risco de ferir-se.
Adotou-se de maneira geral nas Forças Armadas e Polícias Militares a raça Brasileiro
de Hipismo como o cavalo ideal nas atividades operacionais, pois trata-se de um animal que
consegue agregar o maior número de características que se procura no cavalo d’armas. Foi
uma raça que na década de 90 começou a ser desenvolvido a partir da mistura de raças
europeias, com a ideia de padronizar a atividade operacional em todo o Brasil; inclusive, as
polícias militares de São Paulo, Distrito Federal e Rio Grande do Sul já trabalham com essa
raça de cavalo. 68
3.4.14 Treinamento da tropa hipomóvel
Para que se consiga a melhor coesão da tropa, com militares capacitados e cavalos
adestrados, são necessários alguns sacrifícios, e o treinamento se faz fundamental,
objetivando o bom cumprimento da missão com eficiência e segurança. A utilização das
melhores técnicas e equipamentos deve estar inserida nas metas do comando da tropa,
68 RODRIGUES, Dayanne. Raça de cavalo apta ao policiamento é apresentada em Porto Alegre. 2012.
Disponível em: < http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2012/09/raca-de-cavalo-apta-ao-policiamento-
e-apresentada-em-porto-alegre.html >. Acesso em: 28 ago. 2017.
5599
buscando aperfeiçoar o efetivo da melhor forma; para isso, deverá ser aplicado nos treinos o
que encontrarão na realidade.
Para que se obtenham resultados satisfatórios com o emprego do cavalo em operações
de controle de distúrbios civis, alguns aspectos fundamentais relativos aos treinamentos e à
formação da tropa devem ser observados, são eles: a preparação intelectual, física, psicológica
e tática do efetivo para o emprego nesse tipo de operação; o condicionamento do equino para
que avance sem hesitação em terrenos hostis; a adaptação do animal em ambientes que
possuam concentração de agentes químicos; a preparação técnica e tática do conjunto
militar/cavalo e a perfeita compreensão, por parte do militar montado, dos liames jurídicos e
legais atinentes às operações. 69
3.4.14.1 Treinamento do militar
Os militares que atuarão em operações de controle de distúrbios civis necessitam de
um treinamento específico para que consigam conduzir sua montada com segurança e
eficácia. Adquirir desenvoltura, agilidade e fixidez no cavalo requer uma capacitação mais
específica, conduzida por instrutores técnicos e capacitados. 70
A habilidade equestre somente se adquire ao dorso do cavalo, seguindo os passos do
instrutor, que transmitirá os conhecimentos necessários para que o militar se torne, antes de
tudo, um bom cavaleiro. Para isso, a formação básica deve ser concluída com êxito, com o
cavaleiro sendo capaz de guiar sua montada em todas as circunstâncias e condições, sabendo
lidar com o desembaraço físico e moral criado pelo cavalo.
O treinamento equestre desenvolve no militar a confiança em suas capacidades,
modelando sua personalidade e fazendo-o desenvolver hábitos essenciais para a condução do
equino, tais como: tenacidade, perseverança e calma. Saber usar tecnicamente seu armamento
de dotação é fundamental ao cavaleiro, de forma a aprimorar o equilíbrio e a maneabilidade,
principalmente com o cassetete ou sabre, já que são portados em todas as circunstâncias.71
69 SANTOS JÚNIOR, Claudionor dos. Implantação do pelotão de choque montado no esquadrão da polícia
militar de Sergipe. Rio de Janeiro: Escola de Equitação do Exército, 2006. p.49. 70 GOGGIA, Cláudio de Azevedo. A viabilidade da criação de uma escola de policiamento montado na
Brigada Militar. Curso Avançado de Administração Policial Militar. Rio Grande do Sul: Academia de Polícia
Militar, 2011. p.46. 71 POLICASTRO, Alberto Nubie. Manual de tropa montada. 1995. 246 f. Monografia (Graduação) - CAO –
Academia de Polícia Militar de São Paulo, São Paulo: 1995. p.100.
6600
Todo e qualquer treinamento deverá ser conduzido por Oficial especializado, que
deverá montar um ambiente de ensino proficiente, sempre forjando as características
essenciais ao militar montado. 72 Corroborando esse ponto de vista,
“o oficial educador – que é sua mais nobre e elevada missão – cabe-lhe servir de
exemplo àquela massa heterogênea, vale dizer, parecer e ser melhor do que o melhor
dos seus comandados”. Benício da Silva 73
O treinamento militar deve ser conduzido com cavalos dessensibilizados, já adaptados
ao ambiente conturbado, pois nesse momento devemos ressaltar as qualidades do cavaleiro,
verificando e corrigindo suas atitudes, reações e possíveis vícios. O militar montado deve ser
surpreendido com as possíveis adversidades com que irá deparar-se, assim podendo ter a real
noção das possibilidades e limitações que possui com sua montada, fazendo com que tome as
melhores decisões, de forma inteligente e segura.
O treinamento das frações constituídas deve ser criteriosamente conduzido, com uma
circunspecta atenção nas formações, tomadas de posição, deslocamentos e demonstração de
força. A carga de cavalaria é o derradeiro momento da operação, exigindo um treino
diferenciado ao militar, pois a condução do cavalo ao galope e em formação emassada exige
muita habilidade do cavaleiro.
3.4.14.2 Adaptação do cavalo
A adaptação do cavalo visa a propiciar seu melhor rendimento nas operações, partindo
do princípio de que o solípede já seja selecionado sob um criterioso acompanhamento de suas
qualidades físicas e morais. A preparação do animal complementa a fase de escolha do
equino, o que garantirá seu melhor desempenho diante das dificuldades e intempéries que
deverá suportar para o cumprimento da missão.
Muitas fases são necessárias para a completa preparação do cavalo para o emprego em
missões de Garantia da Lei e da Ordem, e muito mais treinamentos são necessários para que
possa ter condições de atuar em operações de controle de distúrbios civis. Cabe ressaltar os
métodos e técnicas aplicadas na preparação da montada, visto que devem ser respeitados os
72 POLICASTRO, op. cit., p.101. 73 SILVA, Valentim Benício da. O oficial de cavalaria: como é, como deve ser. Rio de Janeiro: Papelaria
Velho, 1936. p.56.
6611
limites físicos e psicológicos do animal, que poderá desenvolver vícios e traumas difíceis de
serem corrigidos.
Para a Escola de Equitação do Exército, são necessárias três fases básicas para a
iniciação do animal às atividades profissionais, como dispõe o texto a seguir:
De acordo com o método preconizado pela Escola de Equitação do Exército, o
cavalo deverá ser submetido a três períodos durante sua iniciação. O primeiro
período é o de aclimatação, retomada do amansamento e estabelecimento de
confiança. No segundo período, será dada mais atenção ao desenvolvimento da
habilitação física e à submissão sumária às ajudas através de um trabalho montado, e
por fim, num terceiro período, será dada ênfase ao desenvolvimento de seu
condicionamento físico e de seu caráter para o emprego profissional.74
Concluída com êxito a fase básica de preparação do animal, com o cavalo aceitando
os arreios e equipamentos, apresentando-se de forma calma e dócil aceitando a montada do
cavaleiro e respondendo aos comandos, esse cavalo estará pronto para ser submetido à
preparação específica do treinamento, a dessensibilizarão, e assim adquirir o desenvolvido
físico e condições mentais necessários para suportar as dificuldades da operação.
Assim, o cavalo, ao ingressar nas fileiras da Corporação, com o objetivo de se somar
aos meios de apoio existentes, seja no combate à criminalidade, seja na obtenção da
tranquilidade pública, face às suas qualidades incontestáveis, deve ser submetido a
um processo constante de adaptação e treinamento, que permita, a seu cavaleiro,
utilizá-lo com desembaraço, explorando ao máximo as vantagens que ele propicia.75
Entende-se como imprescindível desenvolver o condicionamento do cavalo para
acostumar-se à presença de outro animal, uma vez que, em operações de controle de
distúrbios, será empregado em conjunto com outros animais. Os equinos deverão aprender a
marchar um ao lado do outro, sem que se assustem ou se desconcentrem.
Destaca-se que as mudanças de marcha devem ser aperfeiçoadas para que se mantenha
a formação, aplicando-se o reforço positivo e negativo, conforme o desempenho dos
cavalos.76
A doutrina destaca que esse tipo de treinamento é extremamente desgastante e
estressante ao animal, devendo ser praticado de forma intervalada, com descansos regulares, e
de forma progressiva, para que não se perca o animal por lesão.
74 PEREIRA, Rafael Matta Assenção. A preparação dos cavalos empregados em operações de garantia da lei
e da ordem. Rio de Janeiro: Escola de Equitação do Exército, 2011. p.27. 75 POLICASTRO, Alberto Nubie. Manual de tropa montada. 1995. 246 f. Monografia (Graduação) - CAO –
Academia de Polícia Militar de São Paulo, São Paulo: 1995. p.212. 76 Ibidem, p.32.
6622
Nas ações de Controle de Distúrbios Civis, terão de enfrentar manifestantes que
avançam em sua direção, munidos de faixas e cartazes, entoando, aos gritos,
palavras de ordem. Os conhecidos panelaços provocam um barulho assustador, para
chamar a atenção, e as demais frações de choque empenhadas na ação costumam
deflagrar bombas de efeito moral, que se caracterizam pelo estrondo intimidativo
que produzem.77
O animal iniciado nos treinamentos para operações de controle de distúrbios possui
instintivamente a audição acostumada aos ruídos da natureza, devendo o equino ser adaptado
aos estampidos dos armamentos empregados. Esse treinamento é um dos mais propícios a
causar traumas ao animal, já que sua sensibilidade aos barulhos é muito maior e aguçada,
exigindo muita habilidade na condução do treinamento para que o cavalo não atrase sua
evolução. 78
O ambiente urbano é visualmente muito poluído para o solípede, que deverá aprender
a transpor obstáculos artificiais com naturalidade, sem se assustar com veículos, viaturas e
sinais luminosos intermitentes. Algumas maneiras de conduzir o treinamento para esses
ambientes são através do emprego de faixas coloridas, lonas rasgadas, sacolas plásticas,
pontes de madeira, fogo, fumaça e qualquer outro meio que possa lembrar o ambiente urbano,
propiciando o maior desconforto possível e estimulando o cavalo a vencer os desafios. 79
Submeter o cavalo a um ambiente simulado pode ser muito produtivo no seu
desenvolvimento para o cumprimento de missões de Garantia da Lei e da Ordem, por isso, é
importante possuir uma pista de treinamento com os obstáculos factíveis. A exposição
controlada às possíveis adversidades físicas, visuais e sonoras vai obrigar o cavalo a adquirir
coragem e franqueza e poderá definir o sucesso na missão.
77 POLICASTRO, Alberto Nubie. Manual de tropa montada. 1995. 246 f. Monografia (Graduação) - CAO –
Academia de Polícia Militar de São Paulo, São Paulo: 1995. p.213. 78 Ibidem, p.213. 79 PEREIRA, Rafael Matta Assenção. A preparação dos cavalos empregados em operações de garantia da lei
e da ordem. Rio de Janeiro: Escola de Equitação do Exército, 2011. p.33.
6633
4 METODOLOGIA
Conforme descrevem Lakatos e Marconi, “[...] a pesquisa é um procedimento formal,
com método e pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no
caminho para conhecer a realidade ou descobrir verdades parciais”. 80 A pesquisa permite
momentos de reflexão, de descoberta, de criatividade e, acima de tudo, motivação à busca do
conhecimento.
Neste trabalho, buscou-se o estudo bibliográfico como metodologia para produção
científica, em que se procurou descortinar os fenômenos acerca do tema por meio de trabalhos
publicados, desenvolvendo-o a partir de material já elaborado. As obras pesquisadas
constituem-se principalmente de livros, artigos publicados, pareceres, legislação federal e
estadual e, especialmente, manuais doutrinários.
Reiterando o que dispõem Lakatos e Marconi sobre pesquisa bibliográfica, “[...] trata-
se de levantamento de toda a bibliografia já publicada em forma de livros, revistas,
publicações avulsas e imprensa escrita. ”81
O método empregado foi o dedutivo, porque a pesquisa parte do geral para o
específico, mediante construções teóricas, que iniciaram nas matérias lato sensu até de forma
específica resolver o tema. A forma de abordagem foi qualitativa, com trabalho exploratório e
explicativo.82 O método de procedimento foi o dialético, em decorrência da análise de
doutrina e de legislação que regem o assunto, além das práticas utilizadas na caserna.
Quanto ao tipo e técnica de pesquisa utilizada, foi a indireta, devido à não-realização
de pesquisa de campo, utilizando-se somente pesquisas doutrinárias e administrativas. Foi
realizada a revisão bibliográfica tradicional, buscando-se, a partir da doutrina existente na
área de estudo, analisar o conhecimento disponível, identificando-se e esmiuçando-se os
conteúdos.
No que concerne à metodologia empregada, o trabalho foi desenvolvido a partir de
uma abordagem qualitativo-interpretativa, levando-se em consideração, como ponto de
partida, a pesquisa nos referenciais teóricos sobre Operações de Garantia da Lei e da Ordem,
objetivando centralizar conteúdo necessário para a produção do caderno de instrução de
emprego de tropa hipomóvel em Operações de Garantia da Lei e da Ordem.
80 LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Técnica de pesquisa: planejamento e execução de
pesquisa, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. 5.ed. São Paulo:
Atlas, 2008. p.155. 81 Ibidem, p.43-44. 82 LEITE, Eduardo de Oliveira. Monografia jurídica. 8.ed. São Paulo: RT, 2008. p.117.
6644
Na construção do trabalho, buscou-se realizar uma análise acerca do tema procurando-
se resolver o problema proposto, traçando-se um perfil da tropa hipomóvel quando em
patrulhamento urbano e rural bem como em operações de controle de distúrbios civis. Foram
apreciadas as mais diversas doutrinas militares e policiais militares das mais tradicionais
tropas de cavalaria.
A proposta de caderno de instrução apresentada mostra em que contexto a tropa
hipomóvel será emprega quando acionada para atuar em Operações de Garantia da Lei e da
Ordem, auxiliando na correta compreensão da importância desse tipo de efetivo no
patrulhamento urbano e rural como em controle de distúrbios civis. A preparação do efetivo, o
investimento técnico profissional, o adestramento do conjunto homem-cavalo e a aquisição de
equipamentos adequados foram apresentados com o objetivo de ilustrar a necessidade de
investimento no homem e no material utilizado.
A construção do corpus caracterizou-se como processo de coletas materiais (manuais,
documentos, legislação, doutrina), não estando baseada em princípios aleatórios, mas sim no
princípio da sistematização, considerando relevância, homogeneidade e saturação.83
Conforme o autor, a saturação é um critério de garantia de confiabilidade e relevância dos
dados.
As obras e os autores utilizados na bibliografia são extremamente fundamentais e
significativos para o deslinde da proposta do caderno de instrução. Houve a conjugação dos
mandamentos constitucionais e das leis esparsas, bem como dos aspectos da doutrina militar e
policial militar referente ao tema, mediante uma análise aprofundada dos procedimentos
operacionais de emprego da tropa hipomóvel.
Pretende-se com a conclusão deste trabalho que possa ser o embrião de um caderno de
instrução de emprego de tropa hipomóvel em Operações de Garantia da Lei e da Ordem para
que seja distribuído nos Regimentos de Cavalaria de Guarda, e nos espaços acadêmicos de
formação hipomóvel.
83 BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual
prático. 4.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2005.
6655
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho teve como objetivo geral apresentar uma proposta de caderno de instrução
de emprego da tropa hipomóvel em Operações de Garantia da Lei e da Ordem que possibilite
as tropas hipomóveis dispor de uma doutrina moderna e atualizada objetivando aperfeiçoar e
padronizar o emprego do efetivo e os procedimentos técnicos.
Dentro da proposição que se apresentou, entendeu-se que os objetivos específicos
foram plenamente alcançados, mas jamais com a presunção de esgotar o tema, uma vez que a
doutrina de emprego da tropa hipomóvel em Operações de Garantia da lei e da Ordem está em
plena evolução, adaptando-se constantemente conforme a necessidade de atuação das Forças
Armadas.
Inicialmente, foi realizado um estudo bibliográfico com o objetivo de coletar materiais
relevantes sobre o tema, tais como manuais, livros, documentos, legislação e outros trabalhos
voltados ao emprego da tropa hipomóvel. Na busca dos subsídios doutrinários, muito material
foi encontrado, constatando-se que, com o passar dos anos, a produção científica atinente ao
emprego da cavalaria é muito qualificada.
As limitações encontradas foram relativas às divergências doutrinárias das Forças
Armadas e das Polícias Militares, ou seja, alguns procedimentos que são adotados de forma
diferente, mas como o mesmo fim; no entanto, não interferiram significativamente ao ponto
de inviabilizar os objetivos propostos.
A cavalaria possui características peculiares, o que possibilita uma variada forma de
seu emprego, atuando em diversos tipos de terrenos e situações inusitadas, fruto da
capacidade combativa do cavalo, por tratar-se de um animal aguerrido, dócil, inteligente e
disciplinado. As características que a tropa hipomóvel possui são muito específicas: a
ostensividade, o campo de visão amplo por estar em uma plataforma elevada, o efeito
psicológico, a mobilidade e a flexibilidade das frações.
Um dos objetivos propostos foi abordar o modelo tradicional de atuação da cavalaria
no patrulhamento urbano e rural, nas formações básicas em dupla e trio, bem como os
procedimentos de preparação da tropa hipomóvel para o cumprimento de uma jornada. No
entanto, o maior conteúdo abordado foi o emprego da tropa hipomóvel em operações de
controle de distúrbios civis, apresentando desde o conceito, causas, fenômeno das massas, de
forma que se possa entender esse curioso processo psicológico de formação das turbas.
Nessa faina, chegou-se à conclusão de que o fenômeno das massas trata-se de um fato
extremamente complexo, uma vez que reúne um determinado número de pessoas que se
6666
escondem no anonimato e na garantia da impunidade, mascarada pela multidão, para
cometerem violência e desordem e praticarem todo e qualquer tipo de ato criminoso.
Verificou-se também, que o emprego conjunto do efetivo hipomóvel e da tropa de choque a
pé é fundamental para o êxito da missão, o apoio mútuo das tropas tornam um complemento
dentro de suas peculiaridades.
As Forças Armadas são o último recurso do Estado para a garantia da ordem pública,
harmonia pública e paz social, de modo a assegurar o reestabelecimento das condições para o
desenvolvimento social, econômico e educacional do país, quando esgotados os recursos
ordinários de atuação policial.
Quanto à proposição de apresentar os equipamentos de proteção empregados pelo
conjunto homem/cavalo, entendeu-se que alguns equipamentos são mínimos para uma
atuação segura ao militar. Importante o investimento no processo de modernização desses
materiais, com a aquisição do “exoesqueleto”, traje de proteção individual em que o militar
montado fica protegido quase em sua totalidade.
A escolha do melhor equino para a tropa hipomóvel e sua adaptação ao emprego em
Operações de Garantia da Lei e da Ordem são imprescindíveis; e o treinamento do militar é
fundamental para a aplicação da melhor técnica do conjunto, permitindo a manutenção da
disciplina tática, coesão da tropa e constante desenvolvimento da habilidade do cavaleiro.
Ao término do estudo, discorrendo-se sobre a relevância do preparo do homem e
adaptação do equino no emprego operacional, chega-se à conclusão de que o a tropa
hipomóvel é elementar em missões de Garantia da Lei e da Ordem, e que o preparo técnico
profissional é fundamental para o melhor emprego da Arma Ligeira de Osorio.
6677
REFERÊNCIAS
ABADIO, Rodrigo Silva - 2º TEN QOPM. O emprego do policiamento montado em
operações de controle de distúrbios civis em área urbana. Rio de Janeiro: Ministério da
Defesa, Exército Brasileiro, Escola de Equitação do Exército, 2004.
ALIBABA. Capacete – CDC. 2017. Disponível em: < https://www.alibaba.com/product-
detail/High-Quality-Lightweight-American-Standard-ABS_50029774532.html>. Acesso em:
10 out. 2017.
BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som:
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