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Efeito de um Programa Educacional de Equitação
Terapêutica na Destreza Manual, Destreza Podal
e Equilíbrio em Crianças com Paralisia Cerebral
Noémia Monteiro
2013
Efeito de um Programa Educacional de Equitação Terapêutica na Destreza Manual, Destreza Podal e
Equilíbrio em Crianças com Paralisia Cerebral
Dissertação apresentada com vista à obtenção
do grau de Mestre em Atividade Física Adaptada,
nos termos do Decreto-lei n.º 74/2006, de 24 de
março.
Orientadora: Professora Doutora Tânia Lima Bastos
Coorientadora: Professora Doutora Maria Olga Vasconcelos
Coorientador: Professor Doutor Rui Corredeira
Noémia Monteiro
2013
FICHA DE CATALOGAÇÃO
Monteiro, N. (2013). O efeito de um Programa Educacional de Equitação
Terapêutica na destreza Manual, destreza Podal e Equilíbrio em crianças com
Paralisia Cerebral. Porto: Dissertação apresentada à Faculdade de Desporto
da Universidade do Porto, para obtenção do grau de Mestre, do 2º Ciclo em
Atividade Física Adaptada.
Palavra-chave: PARALISIA CEREBRAL, EQUITAÇÃO TERAPÊUTICA, DESTREZA MANUAL, DESTREZA PODAL, EQUILÍBRIO.
Agradecimentos
II
Agradecimentos
Um sincero agradecimento à minha Orientadora Doutora Tânia Bastos pelo
apoio, compreensão e rigor na orientação do estudo, pela transmissão de tão
importantes conhecimentos e pela disponibilidade que demonstrou durante
todo este percurso.
Ao Professor Doutor Rui Corredeira pela simpatia, acompanhamento ao longo
de todo o estudo, pela disponibilidade e apoio transmitido.
À Professora Doutora Olga Vasconcelos pelo carinho, apoio, compreensão e
acompanhamento, pela sua disponibilidade incondicional.
Ao Bruno Barros e João Barros que me deram a oportunidade de realizar e
usufruir as instalações do Clube Hípico do Norte para a realização do estudo.
Pela simpatia e apoio transmitido e, pela disponibilidade sempre presente.
À minha amiga Joana Vale por todo o apoio e dedicação na realização desta
investigação. Por todos os momentos vividos e partilhados. Foi uma pessoa
essencial para o desenvolvimento desta caminhada.
A toda a Equipa do CHN, Clara Calheiros, Pedro Pestana, José Rosa, Ruben
Gomes pela disponibilidade e apoio ao longo do estudo e pelos momentos
agradáveis e de descompressão.
Aos participantes das Escolas de Esposende, que participaram nesta
investigação, pois foram fundamentais no desenvolvimento deste trabalho, pelo
tempo que disponibilizaram e por tudo o que me ensinaram.
Aos meus pais e avós que sempre me acompanharam e apoiaram, pela
confiança e incentivo, pelo carinho e dedicação.
À minha irmã Joana Monteiro pela presença e apoio nas várias etapas deste
percurso, pela paciência e carinho dedicados.
À minha amiga Eunice Aires, que de certa forma, teve algum impacto na
escolha desta área.
Agradecimentos
III
À minha prima Mariana Coelho Dias pela grande ajuda e apoio que me deu na
realização deste trabalho.
A todos os meus primos e amigos, que de uma forma ou de outra, me
acompanharam e apoiaram nesta jornada.
Muito Obrigada!
Índice Geral
IV
Índice Geral
Índice de Figuras .............................................................................................. VII
Índice de Quadros ........................................................................................... VIII
Resumo ............................................................................................................. IX
Abstract .............................................................................................................. X
Índice de Abreviaturas ....................................................................................... XI
Capítulo I - Introdução Geral
Introdução Geral ................................................................................................. 2
2. Referências Bibliográficas .......................................................................... 6
Capítulo II -Fundamentação Teórica
Fundamentação Teórica .................................................................................. 12
2.1. Paralisia Cerebral ................................................................................... 12
2.1.1. Definição e Classificação ................................................................. 12
2.1.2. Aspetos Etiológicos e Diagnóstico ................................................... 14
2.1.3. Défices e distúrbios associados ....................................................... 16
2.1.4. Intervenção Médica - Tratamento .................................................... 19
2.1.5. Comportamento motor na Paralisia Cerebral ................................... 21
2.1.6. Coordenação Motora ....................................................................... 24
2.1.6.1. Destreza Motora: Destreza Manual e Destreza Podal ............... 28
2.1.6.2. Equilíbrio .................................................................................... 30
2.2. Paralisia Cerebral e Atividade Física Adaptada ..................................... 33
2.3. Paralisia Cerebral e Equitação Terapêutica ........................................... 35
Capítulo III - Estudo Empírico
Introdução ........................................................................................................ 74
Material e Métodos ........................................................................................... 77
3.2.1. Enquadramento ................................................................................... 77
3.2.2. Caracterização da Amostra ................................................................. 77
3.2.3. Desenvolvimento do Programa de Intervenção .................................. 78
Índice Geral
V
3.2.3.2. Caracterização das Atividades...................................................... 79
3.2.3.3. Recursos Utilizados na Intervenção .............................................. 80
3.2.4. Instrumentos ....................................................................................... 80
3.2.4.1. Ficha de identificação do Participante .......................................... 80
3.2.4.2. Diário de campo ............................................................................ 81
3.2.4.3. Avaliação - Minnesota Manual Dexterity Test (TDMM) ................. 81
3.2.4.4. Avaliação – Tapping Pedal ........................................................... 83
3.2.4.5. Avaliação – Korperkoordination test (KTK ..................................... 84
3.2.4.6. Procedimentos de Recolha de Dados ........................................... 85
3.2.5. Procedimentos de Análise de Dados ................................................... 86
Apresentação dos Resultados ...................................................................... 87
3.3.1. Análise geral dos elementos da amostra ............................................. 88
3.3.1.1. Destreza Manual ........................................................................... 88
3.3.1.2. Destreza Podal .............................................................................. 89
3.3.1.3. Equilíbrio ....................................................................................... 89
3.3.2. Análise individual dos elementos da amostra ...................................... 90
3.3.2.1. Destreza manual ........................................................................... 90
3.3.2.2. Destreza podal .............................................................................. 91
3.3.2.3. Equilíbrio ....................................................................................... 92
3.3.3. Média total dos testes em relação a cada participante .................. 93
Discussão de Resultados .............................................................................. 93
Conclusão ................................................................................................... 100
Referências Bibliográficas ........................................................................... 101
Capítulo IV - Conclusão Geral
Conclusão Geral ........................................................................................... 81
Anexos
Anexo I – Ficha de Identificação do Participante .............................................. XII
Anexo I – Ficha de Identificação do Participante ............................................. XIII
Anexo II – Autorização para a Prática do Programa Educacional de Equitação Terapêutica .................................................................................................... XVI
Índice Geral
VI
Anexo III – Programa de Intervenção ........................................................... XVIII
Anexo IV – Grelha de Registo do Teste de Destreza Manual - Minnesota XXXIV
Anexo V – Grelha de Registo do Teste de Destreza Podal – Tapping Pedal ................................................................................................................... XXXVI
Anexo VI – Grelha de Registo do Teste de Equilíbrio – KTK ................... XXXVIII
Índice de Figuras
VII
Índice de Figuras
Figura 1: Posição e colocação dos discos para o teste de colocação............................ 82
Figura 2 : Posição inicial e sequência de filas com direções a seguir no Teste de Volta
..................................................................................................................................................... 83
Figura 3: Posição inicial e sequência de filas com direções a seguir no Teste de Volta
..................................................................................................................................................... 83
Figura 4: Posição do teste Tapping Pedal .......................................................................... 84
Figura 5: Teste K.T.K. ............................................................................................................. 85
Figura 6: Teste K.T.K. ............................................................................................................. 85
Figura 7: Teste de Minnesota (TC). Análise comparativa dos resultados dos quatro
momentos de avaliação da destreza óculo-manual. .......................................................... 90
Figura 8: Teste de Minnesota (TV). Análise comparativa dos resultados dos quatro
momentos de avaliação da destreza óculo-manual. ........................................................... 90
Figura 9: Teste Tapping Pedal (pé preferido). Análise comparativa dos resultados dos
quatro momentos de avaliação da destreza óculo-podal. .................................................. 91
Figura 10: Teste Tapping Pedal (pé não preferido). Análise comparativa dos
resultados dos quatro momentos de avaliação da destreza óculo-podal. ...................... 92
Figura 11: Teste K.T.K. Análise comparativa dos resultados dos quatro momentos de
avaliação do equilíbrio ............................................................................................................. 92
Figura 12: Média total dos testes aplicados relativamente a cada participante. ........... 93
Índice de Quadros
VIII
Índice de Quadros
Quadro 1: Teste de Minnesota (TC e TV). Análise comparativa dos resultados dos
quatro momentos de avaliação da destreza óculo-manual. Média, desvio padrão,
valores de z e p. ......................................................................................................... 88
Quadro 2: Teste Tapping Pedal. Análise comparativa dos resultados dos quatro
momentos de avaliação da destreza óculo-podal. Média, desvio padrão, valores de z e
p ................................................................................................................................. 89
Quadro 3 : Korperkoordination test. Análise comparativa dos resultados dos quatro
momentos de avaliação do equilíbrio. Média, desvio padrão, valores de z e p. .......... 89
Resumo
IX
Resumo
A Paralisia Cerebral resulta de lesões ao nível cerebral que afetam várias áreas,
nomeadamente a área do controlo motor, comprometendo a independência funcional
do indivíduos e a sua capacidade de realização de atividades de vida diária. Estudos
recentes demonstram a importância da Equitação Terapêutica na melhoria da força do
tronco, equilíbrio, postura, coordenação motora e espasticidade em pessoas com
Paralisia Cerebral. O presente estudo teve como objetivo avaliar a influência de um
programa Educacional de Equitação Terapêutica ao nível da destreza manual,
destreza podal e equilíbrio em crianças com Paralisia Cerebral. A nossa amostra foi
constituída por 3 crianças, com idade compreendias entre os 12 e os 14 anos de
idade, sendo 2 do sexo masculino e 1 do sexo feminino, pertencentes a Escolas
Públicas de Esposende. Para a avaliação da destreza manual foi utilizado o Minnesota
Manual Dexterity Test (1998) (Modelo 16015), para a avaliação da destreza podal foi
utilizado o Tapping Pedal 1990) (FACDEX) e para a avaliação do equilíbrio foi utilizado
o Koperkoordination test (KTK) (2009). Estes testes foram aplicados em três
momentos, antes, durante e após a aplicação do programa de intervenção.
Relativamente à estatística inferencial, foi aplicado o teste de Friedman para verificar a
evolução dos participantes nos quatro momentos de avaliação. O Z-Score foi utilizado
para verificar o desempenho individual dos participantes. Os resultados gerais revelam
o seguinte: i) na destreza manual, a amostra apresentou melhorias em todos os
parâmetros avaliados, embora só se verificassem diferenças estatisticamente
significativas no Teste de Volta; ii) na destreza podal, apesar de não se observar
diferenças estatisticamente significativas, a amostra apresentou melhorias ao nível do
pé preferido; iii) no equilíbrio, a amostra melhorou significativamente o desempenho.
Como conclusão geral, referimos que, após aplicação do programa Educacional de
Equitação Terapêutica as crianças com Paralisia Cerebral apresentaram melhorias em
todas as capacidades avaliadas.
PALAVRAS-CHAVE: PARALISIA CEREBRAL, EQUITAÇÃO TERAPÊUTICA,
DESTREZA MANUAL, DESTREZA PODAL, EQUILÍBRIO.
Abstract
X
Abstract
The Cerebral Palsy results of a brain injury that affects the area of motor control,
imparing the functional independence and the ability to execute daily life activities.
Recent studies highlighted the importance of Therapeutic Riding for the improvement
of trunk strength, balance, posture, motor coordination and spasticity in people with
Cerebral Palsy. The aim of the present study was to evaluate the influence of an
Educational Program of Therapeutic Riding regarding manual dexterity, pedal dexterity
and balance in children with Cerebral Palsy. Our sample comprised 3 children, ranging
in age from 12 to 14 years, 2 males and 1 female, who attended public schools in the
city of Esposende. For the assessment of manual dexterity, the Minnesota Manual
Dexterity Test (TDMM) (1998) (Model 16015) was used; for the assessment of pedal
dexterity, theTapping Pedal (1990) (FACDEX) was used, and for the balance
assessment, the Koperkoordination test (KTK) (2009) was used. These tests were
applied in three moments, before, during and after the implementation of the
educational program. With regard to inferential statistics, the Friedman test was applied
to verify the progress of participants in the three moments assessed. The Z-Score test
was used to verify the individual performance of the participants. The overall results
show that: i) concerning manual dexterity, the sample revealed improvements in all the
parameters assessed, although statistical significance differences were only found in
the Turning Test; ii) regarding pedal dexterity, despite not revealing statistically
significant differences, the sample showed improvements as well as regarding the
preferred foot; iii) in what concerns balance, the sample showed significant
improvements in this component. As a general conclusion, it may be stated that, after
implementation of the Educational Program of Therapeutic Riding, children with
Cerebral Palsy revealed improvements in all the abilities assessed.
KEYWORDS: CEREBRAL PALSY, THERAPEUTIC RIDING, MANUAL DEXTERITY,
PEDAL DEXTERITY, BALANCE.
XI
Índice de Abreviaturas
PC Paralisia Cerebral
et al. Et alteri = e outros
EFA Educação Física Adaptada
ET Equitação Terapêutica
i.e Id est = isto é
SNC Sistema Nervoso Central
ROM Lower Extremity rande of motion
PEDI Pediatric Evaluation of Disability Inventory
AFA Atividade Física Adaptada
NE Necessidades Especiais
ANDE Associação Nacional de Equitação
s/d Sem Data
AVD Atividades de Vida Diária
FADEUP Faculdade de Desporto, Universidade do Porto
CHN Clube Hípico do Norte
e.g Exampli gratia = por exemplo
TDMM Minnesota Manual Dexterity Test
TC Teste de Colocação
TV Teste de Volta
KTK Koperkoordination Test
SPSS Statistical Package for the Social Sciences
nº Número
Capítulo I - Introdução Geral
Introdução Geral
2
Introdução Geral
A Paralisia Cerebral (PC) é uma condição ou incapacidade que ocorre
devido a uma desordem no controlo muscular, produzindo assim, dificuldades
no movimento e na postura corporal. Esta condição é não progressiva e,
menifesta-se antes, durante ou após o nascimento, resultando de uma lesão ao
nível cerebral que afeta o controlo o movimento (Mambrilla, 2000; Miller, 2005;
Porreta, 2010). Existem três principais critérios para o diagnóstico de PC: i)
défice do controlo neuro motor que altera o movimento ou a postura; ii) uma
lesão cerebral estática; e, iii) a aquisição de uma lesão cerebral antes do
nascimento ou nos primeiros anos de vida (McMahon et al., 2009). A lesão
pode ocorrer quando existe: um defeito no desenvolvimento, tal como, uma
Lissencefalia; uma infração, ou seja, uma oclusão da artéria cerebral média em
recém-nascidos; ou provocada por um trauma durante ou após o parto (Miller,
2005).
Devido à amplitude destes critérios, a PC é um diagnóstico
extremamente heterogéneo em termos clínicos, etiológicos e patológicos
(McMahon et al., 2009). Correspondendo a uma variedade de síndromes e
lesões, a PC é facilmente classificada com base nas alterações clínicas do
tónus muscular e no tipo de desordem do movimento, sendo os tipos de PC
classificados como: espástico, atetóide, atáxico, hipotónico ou misto. O padrão
de movimento mais comum é a espasticidade ao contrário de casos como a
discinesia, ataxia ou hipotonia que são menos comuns (Yeargin-Allsopp et al.,
2008; Stokes, 2000; Mancini, 2004; Mancini, 2002; Lima & Fonseca, 2004;
Oliveira & Cordani, 2004). A espasticidade pode variar de um ligeira
monoplegia a uma grave tetraplegia ou uma espasticidade corporal global. O
principal meio de classificação de PC relativamente aos problemas motores é a
distribuição anatómica. As três categorias na distribuição anatómica são a
hemiparesia, tetraparesia e diparesia, que ocorrem com bastante frequência
(Yeargin-Allsopp et al., 2008). Cada indivíduo com PC é classificado dentro de
quatro dimensões, nomeadamente: i) alterações motoras; ii) deficiências
Introdução Geral
3
associadas; iii) descobertas anatómicas e radiológicas, iv) a causa e o tempo
da lesão (Bax et al., 2005).
Perante as alterações motoras a PC causa dificuldades variáveis na
coordenação da ação muscular, resultando numa incapacidade em manter
posturas e realizar movimentos normais (Aicardi & Bax, 1992; Parker et al.,
1993; Diament & Cypel, 2005). Neste sentido, os indivíduos apresentam
alterações motoras complexas sendo que os défices primários descritos por
Papavasiliou (2009) são: tónus muscular alterado influenciando a postura e
movimento; alteração do equilíbrio e coordenação; diminuição da força; perda
do controlo motor seletivo com problemas secundários de contraturas e
deformidades ósseas. Além disso, muitos indivíduos com PC demonstram
problemas de aprendizagem (50-75%), bem como dificuldades na fala (25%),
deficiência auditiva (25%), distúrbios convulsivos (25-35%) e diminuição da
visão (40-50%) (Olney & Wright, 2000). Desta forma, a PC apresenta limitações
na realização de tarefas básicas como a alimentação, higiene, vestuário,
locomoção, para além das pessoas com PC terem uma restrição de
participação na escola e na comunidade (Peacock, 2000; Gordon et al., 2007).
O desempenho em atividades funcionais, como as referidas anteriormente, são
extremamente importantes para promover a independência dos indivíduos com
PC, pois as dificuldades no desempenho das mesmas constituem, geralmente,
a queixa principal dos indivíduos bem como dos seus familiares. Neste sentido,
a participação e o bom desempenho em atividades e exercícios físicos deve
ser definido como objetivo a ser alcançado (Butler, 1995; Pellegrino, 1995).
Todas as pessoas com PC podem beneficiar de atividade física e
desportiva independentemente do tipo e grau de severidade, e do
comprometimento motor, pois os exercícios são trabalhados e adaptados em
função da necessidade de cada indivíduo. Níveis adequados de atividade física
ajudam esta população na realização de atividades diárias, de recreação e
lazer, promovendo um estilo de vida saudável (Porretta, 2010). A capacidade
de manter o controlo da postura é um fator importante na realização das
atividades de vida diária para alcançar uma certa independência no
desenvolvimento pessoal (Van der Heide et al., 2005). Embora o controlo
Introdução Geral
4
estável da postura e do equilíbrio se torne automático em indivíduos saudáveis,
tal não acontece em indivíduos com PC tornando-se um desafio (Ferdjallah et
al., 2002). Alcançar um máximo controlo motor e conseguir um
desenvolvimento na realização de exercícios e atividades físicas agradáveis,
aumentam a probabilidade de que a aptidão física e intelectual relacionada com
a saúde será mantida ao longo da vida (Winnick, 2010).
O trabalho na área de Educação Física Adaptada (EFA) exige um
desenvolvimento individual na aptidão física e motora, habilidades e padrões
motores fundamentais, habilidades e conhecimento de vários tipos de desporto
(Gorgatti & Costa, 2005). Esta área incorpora conhecimentos relacionados com
a anatomia do corpo e desenvolvimento intelectual, tendo como base de estudo
a biologia, psicologia e o social, sendo que na prática a EFA é aplicada a
atividades ou exercícios que levam ao desenvolvimento do indivíduo, utilizando
diversos programas de reabilitação e educação (Castro, 2005). Tendo os seus
alicerces nas conceções de corpo e movimento, a Equitação Terapêutica (ET)
é vista como uma das formas de intervenção na área da EFA (Rosa, 2008).
Atividades motoras realizadas a cavalo, têm sido sugeridas como uma
intervenção potencialmente promissora, podendo ser realizada num ambiente
natural (Campbell, 1997), dentro do contexto familiar e com prestação de
cuidados (Law et al., 2003) o que motiva a participação de pessoas com
necessidades especiais (Perleth et al., 2001). A prática da ET proporciona
melhor movimentação dos quadris, pélvis, cabeça, tronco e equilíbrio como
resposta aos movimentos do cavalo (Sterba et al., 2002; McGee & Reese,
2009).
A intervenção da ET transmite calor, forma e ritmos, e os movimentos
tridimensionais do cavalo melhoram a flexibilidade, postura, equilíbrio e
mobilidade do participante. Durante a intervenção, os movimentos produzidos
pelo cavalo fazem com que haja um deslocamento da pélvis durante o
percurso. Realizar esses movimentos com a pélvis e as pernas alinhadas, bem
como com o tronco e cabeça eretos, promove um alinhamento do tronco e
reações de equilíbrio durante a terapia. Para além disso, permite a mobilização
e exercitação da pélvis, da coluna lombar e das articulações do quadril.
Introdução Geral
5
Simultaneamente, os músculos do tronco vão-se modificando entre um estado
ativo e um estado de relaxamento, conduzindo a uma normalização do tónus
muscular. Através de um processo dinâmico, as alterações posturais criadas
pelos movimentos do animal oferecem ao participante múltiplas oportunidades
de ajustamento (Thelen & Spencer, 1998). A ET é normalmente realizada com
a presença de um instrutor de equitação que ensina o controlo do cavalo
usando as habilidades básicas de equitação (Snider et al., 2007).
De acordo com Rodrigues (2006), as vantagens da ET são múltiplas,
nomeadamente: i) melhoria do equilibrio através dos ajustes musculares e
corporais que o participante tem que realizar para se manter em cima do
cavalo; ii) melhoria da auto estima, confiança, concentração e integração com o
grupo; e, iii) a receção a um novo estímulo que proporciona novas perceções e
vivências. Este tipo de atividade tem como principal objetivo a condução do
cavalo, ou seja, ter a capacidade suficiente para poder, de forma autónoma,
conduzir e realizar um percurso indicado pelo responsável. Esta tarefa é
conseguida pela repetição sucessiva de exercícios de coordenação, equilíbrio,
lateralidade, força, flexibilidade e confiança. Assim sendo, de uma forma geral,
esta participação pode suscitar ao aluno motivação e interesse por uma vida
ativa e saudável, proporcionando uma melhor qualidade de vida (Rodrigues,
2006).
Desta forma, o presente estudo tem como objetivo averiguar o efeito de
um programa de ET no desempenho da destreza manual, destreza podal e
equílibrio em crianças com PC. Este programa consistiu numa prática de
Equitação Terapêutica semanal, atividade esta que estava incorporada no
programa educativo individual dos participantes. Este tipo de prática
terapêutica torna-se importante para o desenvolvimento do aluno pois, para
além das aulas de Educação Física habituais esta proporciona uma diversidade
de outros benefícios.
A presente dissertação apresenta-se organizada em quatro capítulos.
No Capítulo I: Introdução Geral - desenvolvemos a pertinência e objetivos do
estudo bem como a sua estrutura.
Introdução Geral
6
No Capítulo II: Fundamentação Teórica - desenvolvemos o enquadramento
teórico da temática e a definição dos principais conceitos abordados no estudo.
No Capítulo III: Estudo Empírico - encontra-se apresentado sob a forma de
artigo científico. Este é constituído pela introdução, material e métodos
utilizados na realização do estudo, apresentação e discussão dos resultados e
a conclusões com sugestões para futuros estudos.
No Capítulo IV: Conclusão Geral.
Por último, apresentamos os anexos. As referências bibliográficas estão
apresentadas no final de cada capítulo
2. Referências Bibliográficas
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Capítulo II -Fundamentação Teórica
Fundamentação Teórica
Fundamentação Teórica
2.1. Paralisia Cerebral
2.1.1. Definição e Classificação
A Paralisia Cerebral (PC) refere-se a um grupo permanente de
sintomas inaptos que afetam a área do controlo motor resultantes de danos
cerebral. É também denominada de Encefalopatia Crónica não-progressiva que
pode ocorrer antes, durante ou logo a seguir ao nascimento e manifesta-se
através de uma perda ou diminuição do controlo dos movimentos voluntários.
Dependendo da localização e da gravidade dos danos cerebrais, os sintomas
podem variar desde severo (i.e., total incapacidade para controlar os
movimentos corporais) a leve (i.e., apenas uma ligeira perda na fala). Os danos
cerebrais conduzem ao desenvolvimento de reflexos desajustados, originando
dificuldades de coordenação e integração dos padrões básicos de movimentos
(World Health Organization, 1999; Porretta, 2010).
A PC pode apresentar outros problemas associados, como convulsões,
distúrbios na linguagem, deficiências sensoriais (especialmente os que
envolvem o controlo motor-visual), sensação de perceção alterado e deficiência
intelectual. Também ocorrem complicações médicas secundárias tais como,
défice no crescimento ósseo, alterações articulares, doenças respiratórias e
doenças cardiovasculares (Olney & Wright, 2000; Porretta, 2010).
As lesões que originam a PC influenciam diferentes vias motoras,
dificultando os movimentos. Não só são afetados os movimentos corporais
como também difere o grau deste comprometimento do corpo e membros
(Cogher et al., 1992, cit. por Piek, 2006). Ao longo dos anos, o esquema de
classificação na caraterização de PC está de acordo com a topografia, i.e, o
local anatómico e o sistema neuro motor (McMahon et al., 2009; Porretta,
2010).
A classificação topográfica baseia-se nos segmentos corporais
afetados, sendo esta classificação também usada normalmente na terminologia
Fundamentação Teórica
médica. A classificação ocorre da seguinte forma: monoplegia, somente um
membro está afetado; diplegia, ambos os membros inferiores estão mais
afetados e os membros superiores estão menos afetados; triplegia, três
membros estão afetados (ocorrência rara); hemiplegia, tanto o braço como a
perna de um dos lados estão afetados; paraplegia, as duas pernas estão
afetadas; e, quadriplegia, todos os membros estão igualmente afetados
(Scherzer & Tscharnuter, 1990, cit. por Piek, 2006; Porretta, 2010).
Outra classificação para descrever a PC ocorre ao nível do sistema
neuro motor, destacando-se: espasticidade, atetose, ataxia, discinesia e mista.
A espasticidade resulta de danos nas áreas motoras do cérebro e é
categorizada pelo aumento do tónus muscular (i.e., hipertonicidade),
principalmente os flexores e rotadores internos, o que pode levar a contraturas
permanentes e deformidades ósseas. As contrações musculares exageradas
são comuns, e em alguns casos o músculo permanece em repetitiva contração,
devido aos reflexos hiperativos. A Atetose ocorre ao nível dos gânglios basais,
i.e., massa de matéria cinzenta composta por neurónios profundos dentro dos
hemisférios cerebrais do cérebro, resultando num excesso de fluxo de impulsos
motores para os músculos. Pelo facto dos movimentos serem lentos e
contraídos, descoordenados e involuntários, a atetose também é conhecida
como discinesia. O tónus muscular vai modificando de hipertonicidade para
hipotonicidade e essa modificação normalmente afeta os músculos que
controlam a cabeça, pescoço, membros e tronco, conduzindo a dificuldades
para comer, beber e falar. A ataxia ocorre ao nível do cerebelo, orgão que
regula o equilíbrio e a coordenação muscular. Os músculos apresentam graus
desajustados de hipotonicidade. Normalmente é diagnosticada quando a
criança começa a andar, pois quando tenta caminhar encontra-se
extremamente instável devido às dificuldades no equilíbrio e a falta de
coordenação necessária para um bom movimento de braços e pernas.
Pessoas com ataxia normalmente apresentam dificuldade com as habilidades
motoras básicas e padrões de movimento, especialmente em exercícios de
locomoção, como correr e/ou saltar. A PC mista apresenta mais que um tipo de
paralisia, por exemplo, uma criança pode apresentar uma PC espástica com
Fundamentação Teórica
movimentos atetósicos. (Porretta, 2010; Wongprasartsuk & Stevens, 2002;
Mambrilla, 2000).
2.1.2. Aspetos Etiológicos e Diagnóstico
Não existe um critério definido para o diagnóstico de PC. Quando uma
criança apresenta um atraso nos reflexos primitivos ou alterações significativas
na função motora pode ser feito um diagnóstico de PC. Os reflexos primitivos
incluem o reflexo de Moro, tónus palmar, reflexos assimétricos e reflexos do
pescoço. A persistência desses reflexos primitivos nos últimos seis meses de
idade deve ser considerada suspeita para um significativo comprometimento
motor. Antes desse tempo, a criança tem um repertório limitado de movimentos
voluntários, o que torna os atrasos no desenvolvimento motor mais difíceis de
detetar. À medida que os reflexos primitivos vão desaparecendo, as reações
posturais ou de proteção, e o equilíbrio ou inclinação devem surgir. Em
crianças com PC, as reações posturais podem ser menos eficazes, ocorrendo
mais tarde do que o normal ou então, não chegam a desenvolver-se (McMahon
et al., 2009).
O primeiro passo para uma avaliação de PC é um relato detalhado de
fatores de risco e particularidades genéticas, devendo também, evidenciar-se
claramente uma lesão não progressiva e um atraso no desaparecimento de
reflexos primitivos infantis (McMahon et al., 2009). A diminuição de reflexos
tendinosos profundos, fraqueza, ausência de reflexos infantis, são
características de uma desordem neuromuscular. Os fatores que podem levar a
uma lesão cerebral ou PC são: a prematuridade, infeções e coagulopatia
(O’Shea, 2002). O maior fator de risco para o desenvolvimento de PC é a
prematuridade (Hagberg et al., 1989; Colver et al., 2000).
Os défices metabólicos, apesar de serem mais propícios na infância,
podem apresentar-se em qualquer idade. Estes défices devem ser
considerados se uma criança aparentemente saudável apresentar uma
encefalopatia aguda, sem uma explicação adequada. Desta forma, a acidose
metabólica, hipoglicemia hepática, envolvimento ou comprometimento cardíaco
Fundamentação Teórica
também são considerados como doença metabólica. Tendo em consideração
que a distonia e a espasticidade estão presentes em vários défices
metabólicos, incluindo doenças mitocondriais, podemos referi-las como aspetos
a ter em consideração no diagnóstico de PC. A divergência entre o
desenvolvimento motor e cognitivo pode também surgir como indício de PC. O
aspeto mais importante no despiste da PC é conferir se a criança não perdeu
nenhuma habilidade, pois poderia surgir como uma desordem neuro
degenerativa (McMahon et al., 2009).
Um diagnóstico definitivo de PC deve ser feito com precaução,
especialmente nos primeiros seis meses de vida. Os bebés com suspeita de
apresentarem PC devem seguir avaliações qualificadas e exames ao nível do
desenvolvimento físico e cognitivo até o diagnóstico se tornar evidente (Miller,
2005; McMahon et al., 2009). O reconhecimento de PC permite uma triagem de
condições associadas. A PC é um termo descritivo que não intervém com uma
única etiologia, patologia ou prognóstico, não existindo um teste de diagnóstico
específico (McMahon et al., 2009).
A etiologia de PC muitas vezes não é bem compreendida, podendo
esta ser provavelmente multifatorial (Taft, 1995). A etiologia é importante
quando é considerada uma evolução esperada no desenvolvimento e
maturação (Miller, 2005). A descrição de PC é aplicada perante um
desenvolvimento motor alterado (Blair & Stanley, 1997). Uma diversidade de
deformidades congénitas pode levar a um diagnóstico de PC. Estas
deformidades provêm de um défice durante o desenvolvimento considerado
normal da criança (Miller, 1998).
O comprometimento do Sistema Nervoso Central (SNC) nos casos de
PC decorre de fatores endógenos e exógenos, que de diversas formas estão
presentes em todos os casos. Quanto ao instante em que o agente etiológico
incide sobre o SNC em desenvolvimento, evidenciam-se os períodos pré-natal,
perinatal e pós-natal (Torfs et al., 1990). No período pré-natal, os principais
fatores etiológicos são: as infeções e parasitoses; intoxicações; radiações;
traumatismos; fatores maternos. No período perinatal, é possível conhecer o
grau de asfixia aguda através das condições vitais do recém-nascido, que se
Fundamentação Teórica
medem pelo índice de Apgar, sendo significativa a asfixia aguda quando
sustentada em observações sucessivas (1', 5', 10', 15', 20'). A asfixia crónica
está intimamente ligada à insuficiência placentária que origina fetos pequenos.
Esta asfixia ocorre durante a gestação e pode resultar num importante
comprometimento cerebral embora o recém-nascido com boas condições
vitais. Os acontecimentos que levam ao comprometimento cerebral são a
diminuição de oxigénio, devido à hipoxemia (i.e., diminuição da concentração
de oxigénio no sangue), ou isquemia (i.e., diminuição da perfusão de sangue
no cérebro). A isquemia é a forma mais importante de privação de oxigénio
(Volpe, 2001; Vannucci et al., 1993). A relação de asfixia pré-natal e perinatal é
responsável pelo maior comprometimento cerebral do recém-nascido e é a
primeira causa de morbidade neurológica neonatal (Diament & Cypel, 1996;
Volpe, 2001; Miller, 2005).
No período pós-natal os fatores etiológicos a ter em consideração são:
os distúrbios metabólicos; as infeções; as encefalites pós-infeciosas e pós-
vacinais; a híper bilirrubinemia; os traumatismos crânio-encefálicos; as
intoxicações; os processos vasculares e a desnutrição, que interferem de forma
decisiva no desenvolvimento do cérebro da criança (Volpe, 2001; Vannucci et
al., 1993).
2.1.3. Défices e distúrbios associados
Outros distúrbios estão associados com as disfunções motoras e
cognitivas que caracterizam a PC, destacando-se os défices na perceção
(visual, auditiva e propriocetiva), nas tarefas motoras de integração sensorial,
na fala, nas habilidades cognitivas, no ajustamento social e psicológico, e nas
experiências da vida diária (Bobath & Bobath, 1973). Os défices sensoriais são
mais comuns em crianças com hemiparesia. (McMahon et al., 2009).
Outro défice associado são os problemas ao nível visual, sendo comum
em crianças com PC, com uma prevalência relatada de 39% a 100% (Stiers et
al., 2002). A dificuldade em realizar um exame oftalmológico em crianças com
diferentes graus cognitivos e de deficiência motora torna difícil determinar
Fundamentação Teórica
a incidência precisa nas desordens visuais. O estrabismo é o distúrbio mais
comum, apesar de uma larga variedade de outras desordens terem sido
relatadas. Alguns défices visuais evidenciam uma relação com a etiologia
subjacente, como por exemplo, a retinopatia em crianças prematuras
(McMahon et al., 2009).
Existem défices auditivos também associados mas que são
relativamente raros em casos de PC. A perda auditiva neuro sensorial é
considerada a mais comum aquando associada a toxoplasmose, rubéola,
herpes, infeções bacterianas, meningite e drogas, especialmente em crianças
com PC atetósica (McMahon et al., 2009; Mambrilla, 2000).
As deficiências cognitivas também são comuns em indivíduos com PC.
É difícil generalizar a relação específica da função cognitiva nestes casos pois
é uma desordem heterogénea. Além disso, a avaliação do desenvolvimento
intelectual pode ser difícil de realizar nesta população, pois com as graves
dificuldades motoras e as dificuldades de comunicação, pode-se levar a uma
subestimação da função das capacidades cognitivas. Uma superestimação da
função cognitiva pode ocorrer em pacientes com boa resposta social. A
frequência que existe no atraso do desenvolvimento intelectual, definido como
uma pontuação de QI de 69 ou abaixo, é descrita em 50% a 70% dos casos
(Fennell & Dikel, 2001). Geralmente, indivíduos com deficiência neuromuscular
severa apresentam maior risco para uma deficiência intelectual, embora alguns
indivíduos com dificuldades motoras graves podem ter um normal nível de
cognição. É importante fazer uma avaliação intelectual, a fim de auxiliar à
construção de um adequado plano de ensino e de formação profissional
(McMahon et al., 2009).
A prevalência de problemas emocionais e de comportamento em
populações com PC é de 30% a 80% (McDermott et al., 1996). Uma grande
diversidade de comportamentos e distúrbios emocionais são possíveis de
ocorrer, como a dificuldade de concentração, défice ou transtorno emocional,
passividade, imaturidade, raiva, tristeza, impulsividade, baixa auto estima e
ansiedade. Devido às dificuldades de movimento e de comunicação, a criança
sente-se frustrada com facilidade quando faz algo ou quando não é capaz de
Fundamentação Teórica
se fazer entender (Mambrilla, 2000). Os profissionais e os pais devem estar
atentos às crianças com PC pois, este tipo de situações podem originar
traumas psicológicos, sendo fundamental recorrer a um especialista na área da
saúde mental (McMahon et al., 2009).
Os casos de ocorrência de epilepsia em indivíduos com PC situa-se
entre os 15% a 55% de uma população mista de crianças e adultos (Wallace,
2001). A relação entre a frequência dos ataques e os vários fatores de risco
ainda não foi estabelecida. O que se sabe para já é que as crises são mais
comuns em crianças com PC mais severa e em crianças com tetraparesia e
hemiparesia (Humphreys et al., 2007).
A avaliação do crescimento e nutrição de crianças com PC pode ser
dificultada pela falta de meios fiáveis para medir a estatura de crianças com
contraturas e escoliose, e também devido à falta de dados de referência ou
curvas de crescimento específicas para os indivíduos com PC (Stevenson &
Conaway, 2007). Problemas na incapacidade de auto alimentação, na digestão
e deglutição, no controlo da salivação, no refluxo gastro esofágico e na
comunicação podem aumentar o risco de desnutrição nesta população.
Embora a desnutrição constitua a principal preocupação, as crianças com a PC
também estão em risco de superalimentação e obesidade. Crianças com PC
mais grave têm um gasto total de energia mais baixo e um maior teor de
gordura corporal do que crianças sem Necessidades Especiais (NE) (Sullivan
et al., 2006).
O desenvolvimento de incontinência urinária também é um distúrbio
associado à PC, embora geralmente retardado. Os casos mais comuns de
incontinência urinária em indivíduos com PC ocorrem nas situações de
tetraparesia e deficiência cognitiva. A ocorrência de incontinência urinária
também está aliada à frequência urinária, à hesitação, à urgência e à retenção
urinária (Reid & Borzyskowski, 1993; Karaman et al., 2005).
Relativamente às doenças respiratórias, há um aumento de risco nesta
população. O défice no controlo dos músculos respiratórios, a incapacidade de
tossir, o refluxo gastro esofágico ou convulsões aumentam o risco de
secreções crónicas das vias aéreas. As secreções das vias aéreas podem
Fundamentação Teórica
levar a um aumento de pneumonia, doença pulmonar restritiva ou
bronquiectasias (McMahon et al., 2009).
2.1.4. Intervenção Médica - Tratamento
O tratamento de uma criança com PC requer uma abordagem
multidisciplinar. Os membros da equipa que acompanham a criança podem
incluir: fisiatra, pediatra, ortopedista, neurologista, fisioterapeuta, terapeuta
ocupacional, terapeuta da fala, psicomotricista, psicólogo, oftalmologista,
nutricionista e um assistente social. Esta equipa deve trabalhar tendo em
consideração os cuidados que a criança deve ter para se poder desenvolver a
curto e longo prazo tomando como objetivo as preocupações a nível
neuromuscular, tais como, manter a amplitude de movimento e de controlo do
tónus e os objetivos funcionais relacionados com as habilidades diárias,
mobilidade e comunicação (McMahon et al., 2009; Porretta, 2010).
Perante esta situação o tratamento da PC visa aliviar os sintomas
causados pelos danos cerebrais e ajudar a criança a alcançar um potencial
máximo de crescimento e desenvolvimento. Trabalhar a disfunção motora
implica promover um desenvolvimento no controlo muscular voluntário,
enfatizando o relaxamento muscular e aumentando as habilidades motoras
funcionais. Devido a danos no SNC, muitas pessoas com PC apresentam um
desenvolvimento de reflexos fora do parâmetro normal, interferindo com a
aquisição de movimentos voluntários. Devido a este padrão de reflexos, torna-
se importante recorrer a um fisioterapeuta para inibir essa situação trabalhando
a flexibilidade e alinhamento corporal. O tratamento deve enfatizar a realização
de tarefas motoras colocando à prova o autocontrolo. As habilidades motoras
funcionais como caminhar, correr e saltar devem ser desenvolvidas e atingidas.
Quanto mais precocemente se atua no sentido de proteger ou estimular o SNC,
melhor será a sua resposta (Rotta, 2001; Porretta, 2010).
Damiano (2004) sugere, atualmente, quatro principais objetivos no
trabalho a desenvolver com pessoas com PC, nomeadamente: i) reduzir
incapacidades músculo-esqueléticas para melhorar a função e qualidade de
Fundamentação Teórica
vida; ii) permitir que as crianças se movam de forma mais correta; iii) impedir
ou limitar o desenvolvimento de implicações secundárias; iv) alterar a evolução
natural da doença e promover um bem-estar ao longo da vida.
Em alguns casos, a utilização de aparelhos e/ou dispositivos
ortopédicos ajudam a prevenir contraturas permanentes ou podem servir como
suporte aos grupos musculares afetados, principalmente em pessoas com
espasticidade. Também se pode recorrer à cirurgia para alongar os tendões
contraídos (especialmente o tendão de Aquiles) ou para reposicionar um
músculo, melhorando o movimento sobre outro músculo afetado (Rotta, 2001;
Porretta, 2010).
Em casos mais raros, a cirurgia cerebral pode ser realizada para aliviar
a hipertonicidade severa (Rotta, 2001; Porretta, 2010) que afeta a maioria das
crianças com PC. Pode ocorrer em grupos musculares distintos, como é
frequente em diparesias e hemiparesias, ou mais globalmente, na maioria dos
músculos esqueléticos axiais e apendiculares. Pode interferir com o
posicionamento, na formação de contraturas e deformidades músculo
esqueléticas, sendo fonte de desconforto. A hipertonicidade afeta também de
forma negativa a função e tarefas motoras (McMahon et al., 2009).
O desenvolvimento da estrutura óssea está relacionado com o
crescimento global. Este desenvolvimento é menor nos indivíduos com PC. Os
ossos tendem a ser magros, ou seja, há uma diminuição de massa óssea,
denominada osteoporose, e há uma diminuição de densidade mineral óssea. A
causa da má formação óssea é multifatorial (Miller, 2005). O processo de
osteoporose, devido à imobilização prolongada, o uso de determinados
medicamentos por longos períodos devido à presença de doenças crónicas, e
os défices nutricionais aumentam o risco de fraturas nas crianças com PC.
Nesses casos, o uso de vitamina D e de cálcio são essenciais na recuperação
óssea destas crianças (Jerovec-Vrhovsek et al., 2000; Miller, 2005). A
intervenção fisioterapêutica deve estar diretamente ligada a este processo,
principalmente de forma preventiva, estimulando a melhoria na densidade
volumétrica óssea total (Porretta, 2010).
Fundamentação Teórica
Quanto à epilepsia, pode ocorrer em qualquer idade (Mambrilla, 2000).
O tratamento medicamentoso para a epilepsia está associado ao uso de
anticonvulsivos com indicações específicas para cada tipo de epilepsia, nas
doses e nos intervalos recomendados. A manutenção do tratamento depende
do grau do tónus muscular, da resposta do indivíduo e da manutenção da
habilidade adquirida (Russman, 2000).
Embora existam muitas opções de tratamento, ainda existe pouca
evidência científica para decidir qual o melhor tratamento a ser aplicado. A
heterogeneidade de PC, para além da falta de controlo e de outras doenças
associadas, também contribui para esta situação. De forma geral, o tratamento
deve sempre começar por meios menos invasivos e ter em consideração o
custo-eficácia das opções de tratamento (McMahon et al., 2009).
Numa perspetiva educacional, é fundamental a presença de uma
equipa multidisciplinar onde, tanto os profissionais de saúde como os
profissionais de educação, trabalhem em conjunto com os pais para um
acompanhamento apropriado (Porretta, 2010).
2.1.5. Comportamento motor na Paralisia Cerebral
O comportamento motor de crianças com PC é adquirido da mesma
forma que nas outras crianças. Primeiro elas seguram e levantam a cabeça,
sentam-se e gatinham, e por último andam. As diferenças no tónus muscular e
nos padrões de movimento, bem como dificuldades em controlar os
movimentos, é que irão afetar o desenvolvimento das habilidades motoras em
crianças com PC (Martin, 2006).
O controlo muscular permite-nos usar os músculos e mover o corpo da
forma que queremos. É o que nos permite regular a força, velocidade e o
tempo dos movimentos. A impossibilidade de controlar os músculos é o
problema mais generalizado em crianças com PC. Problemas de controlo
muscular estão presentes independentemente do tecido muscular. Vários graus
de descoordenação (dispraxia) são comuns o que contribuí para um atraso no
controlo motor e no desenvolvimento. Devido à incapacidade de movimentos
Fundamentação Teórica
controlados e uma incorreta postura, as crianças com PC têm dificuldade em
manter o equilíbrio e a coordenação motora. Esta falta de controlo é mais
evidente se uma criança apresentar espasticidade ou atetose (Martin, 2006;
Porretta, 2010).
Os défices no movimento podem incluir um ou mais das seguintes
incapacidades, como: atrasos nos movimentos iniciais, pouca força,
incapacidade de manter o controlo postural, diminuição da velocidade de
movimento e o aumento de contração (Campbell, 1991). O principal interesse
nas pesquisas feitas em crianças com PC tem sido, perceber como trabalhar
com os diferentes tipos de tónus muscular, a distribuição dos défices motores,
os reflexos primitivos e a aquisição da marcha dentro das habilidades motoras
básicas (Bartlett & Palisano, 2000).
Ao abordar o desenvolvimento da força, é importante constatar que os
desequilíbrios musculares entre flexores e extensores dos grupos musculares
são comuns em pessoas com PC. É relevante desenvolver e manter um
equilíbrio entre estes músculos em todo o corpo (Porretta, 2010). Quando os
desequilíbrios de força muscular estão presentes entre as regiões corporais,
DiRocco (1999) sugere que as pessoas com PC podem usar pesos de mão ou
instrumentos flexíveis, de modo a que a resistência apropriada seja aplicada a
um segmento particular do corpo ou região. Sabe-se geralmente, que o
desenvolvimento da força não aumenta a espasticidade (Porretta, 2010).
A fraqueza muscular também está presente em crianças com alto tónus
muscular. Frequentemente, o músculo espástico e o músculo oposto são fracos
e precisam ser fortalecidos (Fowler, 2001, cit. por Martin, 2006). Quando a falta
de força muscular interfere com o desenvolvimento motor, a criança sofre
modificações musculares. Porém, o progresso é lento pois é causado por
problemas de controlo muscular e não de fraqueza (Martin, 2006).
O tónus muscular refere-se à quantidade de tensão ou resistência ao
movimento dentro de um músculo e é regulado por células nervosas no nosso
cérebro. O tónus muscular causado pela PC está alterado e não é progressivo.
As crianças com PC têm danos nos tecidos nervosos. Se o tónus é muito baixo
é chamado hipotónico ou flácido. Um músculo hipotónico ou flácido é macio e
Fundamentação Teórica
muito elástico. As crianças têm mais dificuldade em se mover contra a
resistência da gravidade e de se mover com força. Com a prática, as crianças
ficam mais fortes e mais coordenadas, e o efeito do baixo tónus muscular vai
tornar-se menos percetível. Se o tónus é muito alto é chamado hipertónico ou
espástico. Um músculo hipertónico é duro, resistente e tenso. A hipertonicidade
é designada como tendo um tónus muscular muito alto o que significa que, as
crianças têm que se esforçar muito para poder superar a resistência de
músculos espásticos e tensos. As crianças com PC podem ter músculos
hipertónicos ou músculos hipotónicos ou a combinação de ambos os tipos de
tónus muscular. Por exemplo, crianças com PC leve podem ter uma
combinação de tónus muscular. Algumas crianças têm o tónus muscular
flutuante, isto significa que o tónus em repouso é muito baixo e tende a ser
muito alto quando o músculo trabalha. As emoções também afetam o músculo.
Fortes emoções acarretam um aumento descontrolado do tónus, podendo
perder o controlo muscular e é mais provável que os padrões de movimentos
descoordenados ocorram. Esta situação não vai piorar ao longo da vida, mas
também não vai melhorar. A criança terá sempre problemas no tónus muscular,
os exercícios não vão ajudar a normalizar o tónus, no entanto, exercícios
terapêuticos e atividades irão ajudar a dominar habilidades motoras (Martin,
2006).
Os défices músculo-esqueléticos como as contraturas da flexão do
joelho são comuns devido à espasticidade nos músculos isquiotibiais e do
posicionamento estático na posição sentada. As contraturas da flexão do joelho
estão associadas com a flexão do quadril e das contraturas do tornozelo e da
alta patela. A displasia da anca adquirida é comum na PC levando muitas
vezes a uma progressiva subluxação e um possível deslocamento. A
subluxação pode ocorrer a partir dos dois anos de idade (Hagglund et al., 2007)
e devem ser cuidadosamente monitorizados através de exame e radiografias.
Os fatores presentes são a anteversão excessiva, a persistente femoral,
displasia do acetábulo e desequilíbrios musculares dos adutores e flexores do
quadril. Estes fatores fazem com que o quadril fique flexionado, rodado
internamente e diminuído, colocando em risco de uma luxação posterior. A
Fundamentação Teórica
incidência de dor associada a uma deslocação da anca diversifica, está
geralmente presente em pelo menos 50% dos indivíduos com luxações
(Cornell, 1995).
As deformidades da coluna vertebral, incluindo a cifose, lordose, ou
escoliose, estão presentes em crianças com PC. A cifose é vista
frequentemente em conjunto com a fraqueza significativa dos músculos
extensores da coluna vertebral e a pressão no isquiotibiais, acarretando uma
inclinação pélvica posterior. A lordose está frequentemente associada a
contraturas da flexão do quadril. A probabilidade de escoliose aumenta com a
gravidade da PC. Curvas superiores a 40 graus tendem a progredir,
independentemente de maturidade do esqueleto do indivíduo (Saito et al.,
1998). O risco de progressão é maior em indivíduos com tetraparesia, com
elevada espasticidade, em idades jovens, e com um baixo equilíbrio sentado ou
obliquidade pélvica (Renshaw et al., 1996).
As características da PC levam a uma preocupação com outros
subtipos mais frequentes a nível funcional, i.e, o tipo predominante de PC que
provoca o comprometimento motor, se é espástico, discinético ou atetose; com
a distribuição dos membros: unilateral ou bilateral; e o nível de auto mobilidade
e de habilidade manual (Gorter, 2009).
2.1.6. Coordenação Motora
A coordenação motora proporciona uma interação do sistema músculo-
esquelético, do sistema nervoso e do sistema sensorial com o objetivo de
produzir ações motoras precisas e equilibradas, e reações rápidas adaptadas à
situação, exigindo: i) uma adequada medida de força que determina a
amplitude e velocidade do movimento; ii) uma adequada seleção dos músculos
que influenciam a condução e orientação do movimento; iii) a capacidade de
alternar rapidamente a tensão e relaxamento muscular (Schilling & Kiphard
1976 cit. por Gorla & Araújo, 2009). A coordenação liga-se às componentes de
aptidão motora, de equilíbrio, de velocidade e de agilidade (Schmidt &
Wrisberg, 2008). Um comportamento coordenado significa um desempenho
Fundamentação Teórica
correto de movimentos específicos, em série, de forma rápida e precisa, no
qual estes movimentos coordenados devem ser sincronizados, rítmicos e
sequenciais (Gallahue & Ozmun, 2005). Assim, o movimento coordenado
necessita do envolvimento dos sistemas motor e sensorial num padrão de ação
harmonioso e lógico, ou seja, uma combinação concordante de deslocamento
dos segmentos corporais, no tempo e no espaço, com vista à execução de uma
tarefa (Schmidt & Wrisberg, 2000).
Segundo Moreira (2000) a coordenação é vista como uma capacidade
motora complexa, ou seja, uma consequência da gestão do grande número de
músculos que contribuem para a realização dos movimentos efetuados pelo
SNC. A coordenação motora pode ser analisada segundo três perspetivas: i)
biomecânica: refere-se à distribuição dos impulsos de força numa ação motora
e à distribuição de acontecimentos em relação a dois ou mais eixos
perpendiculares; ii) fisiológica: relaciona-se com as leis que confrontam os
processos de contração muscular entre agonistas e antagonistas, como
também os processos nervosos que lhe estão subjacentes; iii) pedagógica:
refere-se às fases de um movimento ou de ações parciais. Meinel e Shnabel
(1976 cit. Andrade, 1996) definem a coordenação motora como uma relação
recíproca. Em resumo, descrevem-na como a coordenação e organização de
ações motoras no sentido de atingir um determinado objetivo.
Magill (2007) e Vinagre (2001) menciona dois tipos de coordenação: a
coordenação motora global e a coordenação motora fina. A primeira refere-se à
interação eficaz entre o SNC e a musculatura esquelética. Esta está
intimamente relacionada com a execução de movimentos básicos, não estando
ligada a nenhuma tarefa ou atividade particular. Alguns autores mencionam
que não há indivíduos descoordenados, mas sim com diferentes níveis de
coordenação. A segunda apresenta movimentos específicos envolvendo
pequenos grupos musculares como os das extremidades. Este tipo de
coordenação não é mais que a adaptação das capacidades a uma determinada
atividade, permitindo uma rápida e eficiente realização das tarefas
características e específicas.
Fundamentação Teórica
Gorla et al. (2001) defendem que as crianças com NE, que apresentam
limitações ao nível motor, demonstram défices significativos no que diz respeito
à noção e organização do esquema corporal, organização espacial,
coordenação e dissociação dos movimentos, flexibilidade, equilíbrio e
lateralidade, aceitação das suas limitações e nas relações com os outros.
Goldcamp (1984, cit. Bumin & Kayihan, 2001) menciona que as
crianças com PC apresentam disfunções ao nível da integração sensorial como
resultado de uma alteração neurológica. Esta dificuldade motora e as suas
alterações sensório-percetivas refletem-se em diversos problemas, tais como:
imagem corporal, discriminação entre a direita e a esquerda, orientação
espacial, perceção visual, motricidade fina e apraxias (Bumin & Kayihan, 2001).
Bobath e Bobath (1996) afirmam que, a PC e a patologia que lhe é inerente,
restringe, altera ou não permite uma série de vivências e experiências que
ocorrem no desenvolvimento de qualquer criança. Assim, se as crianças com
PC estão privadas de um padrão normal de movimento, é essencial para o seu
desenvolvimento a aquisição de capacidades coordenativas, desta forma a
realização coordenada de movimentos será afetada positivamente.
Flanagan et al. (2004) pesquisaram o efeito de um programa de
fisioterapia intensivo durante 10 dias, no Shirsners Hospitals for Children, em
Chicago, num adolescente de 15 anos com diplegia espástica. Inicialmente, o
adolescente foi avaliado segundo a Gross Motor Function Classification Sistem
e classificado com nível II. De seguida, foi avaliado pela Escala de Equilíbrio de
Berg, Gross Motor Function Classification Measure (D e E), ROM (lower
extremity range of motion) e Canadian Occupational Performance Measure, em
três momentos: início e fim do programa e após 5 meses da última avaliação.
Os resultados permitiram concluir que no início, a adolescente apresentava
alterações no equilíbrio, na força e na amplitude articular devido a lesões no
SNC. No entanto, o programa intensivo revelou grandes melhorias em todas as
capacidades estudadas. Os autores afirmam que crianças com PC apresentam
alterações na força, equilíbrio e nas amplitudes articulares devido a lesões no
SNC.
Fundamentação Teórica
Com o objetivo de analisar diferentes aspetos psicomotores em
pessoas com PC, Colleta et al. (2005) realizaram uma investigação, com uma
bateria chamada - Bateria Psicomotora de Fonseca, numa amostra de 9
pessoas com PC, de ambos os sexos e com idades entre os 8 e 18 anos. Os
aspetos psicomotores avaliados foram: equilíbrio, tonicidade, lateralidade,
noção corporal, coordenação fina e global. Os resultados recolhidos mostram
que o equilíbrio, a coordenação global e a coordenação fina foram os fatores
com pontuação mais baixa. Os autores sugeriram que a melhoria das áreas
mais afetadas influencia diretamente no desenvolvimento global da criança e,
consequentemente, no seu relacionamento com a comunidade. Propõem
então, uma intervenção a nível da estruturação motora nestes indivíduos.
Foi comprovado, em crianças com PC, que os défices existem não só
na execução do movimento levando a limitações de atividades, mas também
problemas de planeamento motor (Steenbergen & Gordon, 2006). Os sintomas
persistem na vida adulta e podem ter consequências nas funções, atividades e
participação nas tarefas de vida diária (Van der Dussen et al., 2001;
Donkervoort et al., 2007). A variabilidade existente nos indivíduos foi
presenciada em diferentes domínios de funcionamento, como por exemplo, o
cuidado próprio, a mobilidade e a função social (Kennes et al., 2002; Lepage et
al., 1998; Ostensjo et al., 2003), e em diferentes ambientes, por exemplo, em
casa, na comunidade e no ambiente escolar (Palisano et al., 2003; Tieman et
al., 2004).
Inúmeras pesquisas em crianças com PC concentram-se na
coordenação motora global, enquanto a coordenação braço-mão-visão, isto é,
a coordenação visuo-motora tem recebido pouca atenção. Estudos anteriores
mencionam que a função de braço-mão na maioria das crianças com PC é
prejudicada, pois resulta na restrição de participação em atividades (Fedrizzi et
al., 2003; Arner et al., 2008). Um sinal precoce de anormalidade pode ser: o
uso de apenas um braço para a sustentação de peso; diferente tónus nos
braços; ou uma diferente quantidade de tónus muscular entre os braços e as
pernas. As crianças que mostram preferência por um lado ou utilização de um
lado, provavelmente irão desenvolver um padrão de PC hemiplégica. Crianças
Fundamentação Teórica
que não desenvolvem o controlo distal do pé provavelmente irão desenvolver
um padrão de PC tetraplégico. Estes desvios no desenvolvimento são
geralmente os primeiros sinais de problemas neurológicos (Miller, 2005).
Relativamente ao nosso estudo, as capacidades como a destreza
manual, destreza podal e o equilíbrio vão ser objeto de uma abordagem mais
pormenorizada visto que são contempladas especificamente durante toda a
nossa intervenção.
2.1.6.1. Destreza Motora: Destreza Manual e Destrez a Podal
Para Grosser (1983), a destreza motora é referenciada como
habilidade e agilidade, é uma capacidade complexa, que permite ao indivíduo
aperfeiçoar rapidamente as ações motoras de execução mais exigente, e
aplica-las às circunstâncias do momento e à aprendizagem rápida de novas
ações motoras.
Em relação à destreza manual, esta pode ser definida como uma
capacidade complexa das mãos para a execução de diversas tarefas, tais
como as atividades da vida diária (Turgeon et al., 1999) e as atividades
desportivas (Schmidt & Wrisberg, 2008). Para Harrow (1988), as atividades de
destreza manual exigem acuidade visual e controlo motor. O seu
desenvolvimento tem com objetivo o aperfeiçoamento dos cálculos ótico-
manuais. Desrosiers et al. (1997) consideram a destreza manual como:
destreza fina e destreza global. A destreza fina envolve movimentos rápidos e
precisos manipulando pequenos objetos usando as partes distais dos dedos. A
destreza global refere-se à habilidade de manusear objetos maiores e os
movimentos são globais em detrimento de interdigitais.
Na PC, em geral, o braço menos afetado adapta-se ao nível do braço
mais afetado. Alguns autores, no entanto, sugerem que o braço mais afetado
pode beneficiar do braço menos afetado, com base na constatação de que o
desempenho dos braços afetados melhoram em tarefas bimanuais
(Steenbergen & Gordon, 2006; Volman et al., 2002).
Fundamentação Teórica
Torna-se relevante estudar as habilidades motoras finas,
principalmente em idades compreendidas entre os 3 e os 5 anos, pois é
quando as crianças entram no período escolar. A função motora global já se
encontra muito desenvolvida nesta faixa etária, por outro lado, as habilidades
motoras finas apresentam um contínuo desenvolvimento. Estas habilidades
auxiliam a criança a desenvolver capacidades como: vestir, tomar banho,
alimentação, sendo muito importante nesta idade (Martin, 2006; Miller, 2005).
Os aspetos a considerar para um tratamento e as suas expectativas na
função motora fina são: a idade, função cognitiva, função física e as
preocupações estéticas (Miller, 2005).
Dellatolas et al. (2005) realizaram um estudo onde avaliaram a
destreza manual através do teste Peg Moving Task, em 30 crianças com PC
espástica, diplégica, hemiplegia esquerda e hemiplegia direita, com idades
entre os 7 e os 8 anos de idade. O grupo de controlo era constituído por 30
crianças sem qualquer tipo de NE. Esta investigação concluiu que, em
comparação com o grupo de controlo, cerca de 30% das crianças com
hemiplegia apresentam dificuldades ao nível da destreza manual do lado não
afetado e que, 70% das crianças com diplegia espástica apresentam
dificuldades ao mesmo nível em ambas as mãos.
Estimular a sensação de movimento é importante. Os braços são
sensíveis ao toque, tal como as pernas. As palmas das mãos têm sentido de
contato assim como a planta dos pés (Martin, 2006).
Como as crianças com PC geralmente apresentam um atraso no
desenvolvimento das habilidades motoras, os músculos do tornozelo e do pé
são mais fracos. Tanto a fraqueza como a espasticidade dificultam a colocação
do pé e tornozelo. Os pés e as articulações do tornozelo são a base, afetando
assim a posição. Mudanças na base e na posição de pé podem causar
problemas no equilíbrio e até mesmo provocar quedas (Martin, 2006).
A criança diplégica, por exemplo, pode usar o braço, para realizar
ajustes posturais na posição bípede, segurando-se num objeto firme, em vez
de usar a musculatura da perna. Numa criança hemiplégica as adaptações
podem envolver inclusive o uso dos membros afetados. No entanto, crianças
Fundamentação Teórica
com lesões graves, no qual são afetados os quatro membros, não conseguem
movimentar-se eficazmente (Fulford & Brown, 1976).
2.1.6.2. Equilíbrio
Esta capacidade motora é, segundo Martin (2006) e Miller (2005), a
capacidade de manter uma posição estável no espaço, ou seja, uma boa
posição para um funcionamento motor normal. Ter um bom equilíbrio requer
que o indivíduo tenha uma base de apoio estável e um bom sistema de
feedback sensorial, podendo interpretar o corpo no espaço e a sua posição. No
desenvolvimento das crianças ocorre primeiro a capacidade de equilibrar a
cabeça e o tronco para ser possível sentar, posteriormente a possibilidade de
ajoelhar e finalizando com todo o corpo em posição ereta. Hirtz (1986) refere
que o equilíbrio tem função em inúmeras ações motoras nos diferentes
domínios da atividade, através das quais é perturbado tanto pela modificação
da localização do centro de gravidade do corpo em relação ao plano de apoio
(balanços, rotações, saltos, mudanças de direção, etc.), como pelos esforços
exigidos nas diferentes modalidades desportivas (ginástica rítmica, remo, judo,
etc.). Moreira (2000) ainda refere que se as atividades têm como principal
objetivo uma situação de equilíbrio, este é conseguido através de correções
constantes. É verificado, tanto em relação à colocação dos segmentos, como
em relação à tonicidade muscular (relação agonista/antagonista).
Segundo Long (1995) o desenvolvimento do equilíbrio envolve três
sistemas: vestibular, visual e sensorial, sendo a visão fundamental no
desenvolvimento do controlo postural. O equilíbrio depende da experiência e de
como o sistema nervoso e os músculos funcionam (Miller, 2005).
Em pé, a criança controla e equilibra todo o corpo. Para as crianças
com PC a posição de pé traz desafios únicos (Martin, 2006). O défice ao nível
do controlo motor e do tónus muscular podem causar problemas no equilíbrio.
Défices no sistema vestibular e sensorial podem também afetar o equilíbrio
(Miller, 2005).
Fundamentação Teórica
A ataxia é o termo que indica um equilíbrio desajustado em crianças
com PC. Crianças com ataxia muitas vezes apresentam um movimento
exagerado na direção oposta. Estas crianças apresentam dificuldades no
controlo de velocidade, amplitude, direção e força de movimentos e atos
funcionais como estender o braço para pegar num objeto, tendem a ser
imprecisos (Sheperd, 1996). Há crianças que não reconhecem a queda, até
que realmente caem sem executar qualquer reflexo. Este padrão de deficiência
sensorial é extremamente perigoso, pois a criança afetada pode sofrer o risco
de uma lesão a partir de uma queda (Miller, 2005). Conjuntamente com as
dificuldades em relação ao equilíbrio, a locomoção é descoordenada (Sheperd,
1996). Uma criança espástica demonstra muitas vezes um grau elevado de
atividade muscular (movimentos associados), em resposta a certos estímulos,
tais como: esforço, emoção, perda de equilíbrio e medo e/ou ansiedade
(Fulford & Brown, 1976).
A melhoria na coordenação dos músculos das pernas e o equilíbrio
ajuda a adquirir habilidades adicionais que necessitam para caminhar de forma
segura (Martin, 2006). Por vezes, a criança espástica pode adquirir a
habilidade de se manter equilibrada em posição ereta, ocorrendo adaptações
no comportamento (Fulford & Brown, 1976). Uma maneira de fazer progressos
é treinar a criança a andar de forma diferente (Martin, 2006).
A avaliação do equilíbrio em crianças com PC é difícil de fazer pois
uma falta de equilíbrio faz com que as crianças sejam incapazes de ficar num
só lugar. Os distúrbios desta patologia podem causar incapacidade de produzir
trabalho muscular necessário para o equilíbrio. As dificuldades podem ser
devido à interferência dos reflexos, ou o cérebro pode não ser capaz de
processar a informação sobre a posição corporal no espaço e enviar as
informações necessárias para uma reação muscular (Martin, 2006; Miller,
2005). Os problemas podem advir, também, de uma combinação destes
fatores. O problema no equilíbrio é mais evidente no desenvolvimento
independente da marcha. (Miller, 2005).
Liao e Hwang (2003) investigaram, em 15 crianças com PC (sete com
diplegia espástica, cinco com hemiplegia espástica, uma discinesia e duas
Fundamentação Teórica
ataxias), a relação entre o equilíbrio e as capacidades motoras globais. A
avaliação do equilíbrio foi realizada pelo Smart Balance Master System e por
testes clínicos, enquanto o teste Motor Age foi usado para testar as
capacidades motoras globais. O estudo demonstrou que a estabilidade
postural, independentemente dos vários testes de equilíbrio realizados, foi
significativamente correlacionado com as capacidades motoras globais.
Um estudo realizado por Allegretti et al. (2004) teve como objetivo
traçar o perfil funcional em crianças com PC diplégica espástica. Foram
avaliadas 20 crianças (dez possuíam um desenvolvimento normal e dez tinham
paralisia cerebral diplégica espástica). Foi também utilizado o teste funcional
padronizado Pediatric Evaluation of Disability Inventory (PEDI). Este teste
avalia aspetos funcionais do desenvolvimento de crianças em três áreas de
desempenho: cuidado próprio, mobilidade e função social. As análises
comparativas das três áreas de desempenho funcional mostraram diferenças
significativas tanto na área de cuidado próprio como na mobilidade. Os
resultados demonstraram que o impacto no perfil funcional destas crianças foi
manifestado principalmente em atividades que envolvem a coordenação
bimanual, equilíbrio, destreza, coordenação e nas atividades de transferência.
Segundo o mesmo autor, o desempenho das atividades de transferência
parece estar mais comprometido do que o desempenho de atividades de
locomoção, isto porque, as crianças com este tipo de PC fazem uso de
aparelhos ou modificações do ambiente nas atividades de locomoção.
Considerando as alterações apresentadas e a dificuldade em realizar
alinhamento e retificação de posturas que permitam vivenciar atividades
diárias, é fundamental incutir programas de habilidades motoras contínuas, em
indivíduos com PC, os quais podem interferir de forma significativa em diversos
contextos (Monteiro et al., 2010). É fundamental que o profissional que atua
utilize instrumentos de simples aplicação e que permita analisar os fatores que
interferem nas fases de aquisição, retenção e transferência de habilidades
motoras (Souza et al., 2006).
Fundamentação Teórica
2.2. Paralisia Cerebral e Atividade Física Adaptada
As pessoas com PC normalmente apresentam atrasos motores, ou
seja, uma falta de capacidade de movimentação e dificuldade em controlar os
movimentos. As crianças com PC são frequentemente incapazes de executar
movimentos fundamentais de uma forma adequada (Porretta, 2010).
Segundo Hutzler e Sherrill (2007), a atividade física adaptada (AFA)
permite, a pessoas com Necessidades Especiais (NE), uma criação de
oportunidades para uma vida ativa e a participação no desporto e atividade
física através de um conjunto de atitudes e comportamentos. A AFA é uma
disciplina que treina, educa e prepara pessoas com NE a praticar atividade
física e desporto. Esta disciplina também é vista como um corpo interdisciplinar
de conhecimentos direcionados para o estudo de soluções para as diferenças
individuais na atividade física.
A Educação Física Adaptada (EFA) é vista como uma área de estudo
oriunda da AFA, que engloba o estudo abrangente e interdisciplinar da
atividade física para a educação, bem-estar, participação desportiva e de lazer,
adaptada a indivíduos com NE. É entendida como uma subdisciplina da
Educação Física que proporciona experiências de segurança, satisfação
pessoal e sucesso para os alunos de diferentes níveis de capacidade. O
objetivo de cada programa de Educação Física consiste em incentivar os
alunos a alcançar um máximo controlo motor e de desenvolvimento
relacionados com as atividades funcionais, por exemplo, de recreação ou
atividades de vida diária (Krebs, 1995; Winnick, 2010).
Todas as pessoas com PC podem beneficiar da Educação Física e de
Atividades Desportivas. A EFA visa, um programa individualizado incluindo
aptidão física e motora, habilidades e padrões motores fundamentais,
habilidades individuais e de grupo e, jogos desportivos projetados para atender
as necessidades específicas dos indivíduos. Os programas de Educação Física
devem, de forma sequencial, focalizar o desenvolvimento de padrões motores
fundamentais e habilidades essenciais para a participação em jogos simples,
desportos variados e atividades de lazer (Krebs, 1995; Winnick, 2010).
Fundamentação Teórica
Os movimentos inapropriados nesta população contribuem para a
redução da atividade aeróbica e proporciona desequilíbrios no funcionamento
muscular e flexibilidade em todas as regiões do corpo. Este comportamento
impróprio também causa dificuldades na coordenação motora e a diminuição
da força muscular, flexibilidade e resistência cardiorrespiratória, o que podem
levar à incapacidade de manter o equilíbrio. Assim, as pessoas com PC podem
não atingir um padrão de saúde razoável e uma aprendizagem e execução de
certas habilidades motoras, especialmente aqueles necessários para realizar
atividades de recreação e lazer (Laskin, 2003; Porretta, 2010). Um dos objetivo
importantes para pessoas com PC, é incentivar a mover o corpo o mais
independentemente possível. O tipo e grau de deficiência física,
comprometimento motor, nível de interesse e, em geral, os objetivos
educacionais, devem ser modificados e adaptados em função da necessidade
de cada indivíduo (Porretta, 2010).
Segundo Winnick & Short (1999) deve desenvolver-se para indivíduos
com PC um plano de atividade física moderada (funcionamento aeróbio), tendo
em conta, uma boa composição corporal e função músculo-esquelético (i.e.,
força e resistência muscular, flexibilidade), onde é possível a participação em
diversas atividades desportivas e de lazer.
Nos últimos anos, os investigadores apoiam a eficácia do treino de
força para melhorar a função motora, bem como outros distúrbios neuro
motores (Miller, 2005). Na ausência do controlo voluntário, o treino de força é
mais complicado, mas pode ser facilitado pela utilização de estimulação elétrica
ou através do reforço sinérgico dentro dos padrões de movimento. No entanto,
esse reforço só é justificável se o objetivo final for melhorar a habilidade motora
ou função específica. Portanto, numa criança com pouca ou nenhuma
capacidade no controlo muscular voluntário é desaconselhado desenvolver um
programa de força (Fowler, 2001; Dodd et al., 2002; Miller, 2005).
Um programa de treino adequado pode permitir também o aumento da
velocidade de movimento. Os indivíduos devem ser motivados a realizar
movimentos o mais rapidamente possível, tentando executá-las de forma
controlada, precisa e propositada. Inicialmente, o indivíduo deve concentrar-se
Fundamentação Teórica
num padrão de movimento e, gradualmente aumentar a velocidade de
execução (Porretta, 2010). Fatores motivacionais e de atenção também podem
afetar o sucesso de um programa de treino (Miller, 2005).
Nos programas de EFA, os professores devem trabalhar com os pais,
os estudantes, administradores e profissionais de várias áreas. Torna-se
importante trabalhar em conjunto com terapeutas pois ajuda a promover a
supressão de certos reflexos desajustados e a facilitação da postura e reações
de equilíbrio. Embora muitas atividades ajudem ao desenvolvimento da postura
e equilíbrio, outras podem provocar reflexos menos esperados. Assim, os
profissionais responsáveis pelo programa do aluno de EFA devem concentrar-
se na realização de habilidades funcionais, incluindo habilidades desportivas. A
obtenção de habilidades funcionais, como rastejar, andar, correr são
importantes para o desenvolvimento de habilidades futuras (Porretta, 2010;
Winnick, 2010).
As intervenções devem incluir vários tipos de técnicas para ajudar o
indivíduo a alcançar o sucesso. Todos os programas devem ser conduzidos
num ambiente seguro e estruturado e as tarefas devem ser criadas em
situações abertas e/ou fechadas para permitir uma maior transição para as
habilidades de vida diária, de forma funcional onde, os alunos são livres de
explorar os seus próprios corpos, interagindo com o ambiente, e favorecendo o
desenvolvimento físico e motor (Miller, 2005).
2.3. Paralisia Cerebral e Equitação Terapêutica
Kuratorium (1986) foi o primeiro a criar os programas básicos de
Eqiutação Terapêutica (ET), sendo a equipa interdisciplinar desenvolvida para
trabalhar num programa apropriado à necessidade do participante, agindo
sempre em conjunto e com ênfase na área profissional que se pretende
trabalhar. A equipa interdisciplinar de ET pode ser formada por profissionais
das áreas da saúde, educação e de equitação. Existe também a necessidade
da colaboração de um médico responsável dando apoio à equipa indicando ou
contra indicando o tratamento. Os profissionais que intervêm nas sessões
Fundamentação Teórica
devem realizar uma avaliação técnica individual de todos os futuros
participantes, pois como as necessidades especiais são variadas, cada
indivíduo deve estar devidamente inserido no tipo de programa existente de ET
(Oliveira et al., 2011). Portanto, Nogueira (2007) e a Associação Nacional de
Equoterapia (ANDE) – Brasil (2008) enfatizam três programas básicos
constituintes da ET: i) Hipoterapia; ii) Educação/ Reeducação; iii) Pré-
desportivos.
A Hipoterapia é um programa no qual os participantes necessitam de
um total auxílio do seu guia para uma boa estabilidade sobre o animal e
realização das atividades propostas. Perante esta dificuldade, o cavalo atua
principalmente como um instrumento cinesioterapêutico, ou seja, os
movimentos que ele produz assemelham-se à marcha do ser humano.
Por sua vez, num programa de educação/reeducação, os indivíduos
que já possuem uma razoável autonomia sobre o animal, realizam a condução
do cavalo de forma independente, usufruindo menos do apoio do guia. Neste
caso, o cavalo atua como um instrumento pedagógico, tendo a função de
motivar o participante e trabalhar a sua coordenação motora.
Por último, o programa pré-desportivo é próprio para pessoas
totalmente independentes, ou seja, não necessitam de apoio para lidar com o
animal ou executar os exercícios e tornam-se aptas a participar em exercícios
específicos de hipismo. Nesse tipo de terapia, o cavalo é visto como um
instrumento de inserção social, contribuindo principalmente para a melhoria do
comportamento, comunicação e interação com a sociedade.
Não existe uma raça específica de cavalo apropriada para a ET. O
importante é que efetue os três andamentos regulares como o passo, o trote e
o galope, sendo o passo o andamento mais utilizado na ET. A passo o cavalo
realiza um movimento tridimensional idêntico ao andamento do ser humano.
Esse movimento é caracterizado por movimentos, para cima e para baixo no
plano vertical; para a direita e para a esquerda no plano horizontal (i.e.,
segundo o eixo transversal do cavalo) e para frente e para trás segundo o seu
eixo longitudinal. Em conjunto, ainda se observa o movimento realizado pela
torção da bacia do participante de oito graus para cada lado a cada passo dado
Fundamentação Teórica
pelo cavalo. Com este andamento o cavalo encontra-se constantemente a
desequilibrar o participante provocando, também, uma constante contração e
relaxamento dos músculos, fortalecendo-os. Mesmo quando o cavalo está a
passo, realiza outros movimentos, como alongar o pescoço, virar a cabeça de
um lado para o outro ou até quando pára, provocando no participante uma
readequação muscular para conseguir equilibrar-se (Heine, 2003; Hakanson et
al., 2009; Uzun, 2005; Jesus, s/d).
Através da adoção de diversas posições do participante sobre o cavalo
é possível trabalhar diferentes grupos musculares, exercitando músculos
profundos que normalmente não se consegue em terapias convencionais
(Jesus, s/d). A ET envolve uma série de atividades com base no movimento do
cavalo e na posição e movimento do participante aquando montado. O
participante pode adotar várias posições no cavalo, como por exemplo, o
montar à frente (posição típica a cavalo), sentar-se de lado e encontrar-se de
costas sobre o pescoço do cavalo. O participante pode montar em diversas
posições, dependendo da capacidade e objetivos a atingir. Cada mudança de
posição ou forma visa diferentes integrações sensório motoras (Shurtleff &
Engsberg, 2010). As modificações de piso, da velocidade ou direção do cavalo,
ou mesmo as tarefas funcionais podem ser realizadas para desafiar um
movimento apropriado (Hamill et al., 2007). Colocar uma criança com uma
disfunção do movimento a cavalo proporciona inúmeras oportunidades para
responder ao ação do cavalo durante a realização das tarefas funcionais. O
participante deve manter a cabeça, o tronco e braços sobre a base de apoio
(pélvis), quando sentado a cavalo, praticando assim o controlo postural. O
participante é um participante ativo que faz ajustes contínuos para manter a
atitude postural numa superfície dinâmica (Shumway-Cook et al., 2003; Liu et
al., 2000).
Desta forma, a ET é baseada em princípios de aprendizagem motora e
de controlo, implicando a intensa prática de aprender a responder ao
movimento ritmico do cavalo (Heine & Benjamin, 2000; Casady & Nichols-
Larsen, 2004; Sterba et al., 2002). O cavalo fornece uma base dinâmica de
apoio, tornando-se um excelente instrumento para melhorar a força do tronco,
Fundamentação Teórica
o equilíbrio, a força postural e resistência, abordar a transferência de peso e o
planeamento motor (Sterba, 2007). A ET foca a estabilidade de tronco, postura
e mobilidade pélvica melhorando a marcha e o equilíbrio (Meregillano, 2004).
Assim, a ET proporciona benefícios físicos, psicológicos e sociais aos
seus participantes. Os benefícios físicos que esta terapia proporciona são a
obtenção ou melhoria do equilíbrio, da coordenação motora, a melhoria na
postura, no relaxamento ou aumento do tónus muscular, no alongamento e
flexibilidade muscular, na dissociação de movimentos, no esquema e imagem
corporal. Verifica-se, também, uma melhoria na circulação sanguínea e
capacidade respiratória, na integração dos sentidos, na cognição, na fala e
linguagem, melhorias na digestão e deglutição, no controlo da salivação, e uma
melhoria das atividades de vida diária (Jesus, s/d; Medeiros & Dias, 2002;
Lermontov, 2004).
A ET tem o potencial para ser um tratamento eficaz em crianças com
PC tendo em vista o desenvolvimento da autonomia em atividades funcionais
(Snider et al., 2007). As funções neuro motoras, por intermédio da utilização do
cavalo como instrumento terapêutico, exige da criança um planeamento motor
e realização de estratégias, desenvolvendo e/ou potencializando as habilidades
motoras (Medeiros & Dias, 2002).
Tendo presente todos estes fundamentos nas conceções de corpo e
movimento, a Educação Física pode ter um forte contributo para a prática de
ET (Rosa, 2008). O Professor de Educação Física, enquadrado numa equipa
interdisciplinar, pode cooperar na melhoria da condição física dos participantes,
através das ações desenvolvidas com o apoio do cavalo (Mürmann et al.,
2011). Assim sendo, a ET abrange grande parte das habilidades motoras
fundamentais do indivíduo, juntamente com aspetos biopsicossociais,
evidenciando benefícios em todas as áreas atingidas pela prática (Faveiro &
Siqueira, 2010).
Referências Bibliográficas
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Capítulo III - Estudo Empírico
Efeito de um Programa Educacional de Equitação Terapêutica na destreza Manual, destreza Podal e Equilíbrio em Crianças com Paralisia Cerebral
Influence of an Educational Program of Therapeutic Riding regarding Manual Dexterity, Pedal Dexterity and Balance in Children with Cerebral Palsy
Estudo Empírico
Introdução
A Paralisia Cerebral (PC) refere-se a um grupo de problemas
heterogéneos que afeta o cérebro (Jan, 2004) e resulta de alterações na
estrutura e função do sistema neuro músculo-esquelético (Beckung & Hagberg,
2002). Esta patologia é não progressiva manifestando-se, antes, durante ou
depois do nascimento, e caracteriza-se pela lesão de uma ou várias partes do
cérebro, afetando o controlo motor (Mambrilla, 2000; Miller, 2005; Porreta,
2010).
As crianças com PC, frequentemente, apresentam fraqueza muscular,
dificuldades no controlo das musculaturas agonista e antagonista, restrição na
amplitude dos movimentos, alterações do tónus muscular, desequilíbrio,
dificuldades na coordenação, na postura e perda do controlo motor seletivo.
Estas alterações podem interferir e/ou limitar o desempenho de atividades
relevantes à funcionalidade, incluindo a marcha, a escrita, o brincar, entre
outras (Beckung & Hagberg, 2002; Papavasiliou, 2008; Donker et al., 2008).
Outros distúrbios, tais como, dificuldades de aprendizagem, epilepsia,
deficiência visual e hidrocefalia, estão também frequentemente presentes e
afetam as atividades e a participação ativa na sociedade. Também os défices
na fala, linguagem, perceção e comportamento são comuns (Beckung &
Hagberg, 2002). Consequentemente, estas desordens podem limitar o
desempenho de atividades funcionais e alterar ou prejudicar a realização das
atividades de vida diária (AVD) (Charles et al., 2006) tais como: alimentação,
higiene, vestuário e deslocação, além de restringir a participação na escola e
comunidade (Gordon et al., 2007).
Assim sendo, a independência funcional e a melhoria da qualidade de
vida constituem-se como os principais objetivos da intervenção multidisciplinar
na PC. O conhecimento da relação destes fatores pode aprimorar o
desenvolvimento de estratégias de intervenção para esta população
(Camargos et al., 2012).
De acordo com Hutzler e Sherril (2007), a Atividade Física Adaptada
(AFA) treina, educa e prepara as pessoas com Necessidades Especiais (NE)
Estudo Empírico
para a prática de atividade física e desportiva, oferecendo oportunidades para a
adoção de um estilo de vida ativo. Neste sentido, a Educação Física Adaptada
(EFA) é vista como uma área de estudo oriunda da AFA, e engloba o estudo
abrangente e interdisciplinar da atividade física para a educação, bem-estar,
participação desportiva e de lazer para crianças com NE.
A EFA promove programas individualizados que englobam a aptidão
física e motora, habilidades e padrões motores fundamentais, habilidades
individuais e de grupo e jogos desportivos, projetados para atender às
necessidades específicas dos indivíduos. De forma sequencial, este tipo de
programas focaliza o desenvolvimento de padrões motores fundamentais e
habilidades essenciais para a participação em jogos simples, desportos
variados e atividades de lazer (Krebs, 1995; Winnick, 2010). Um dos objetivos
fundamentais da EFA para pessoas com PC é incentivar o movimento do
corpo, da forma mais independente possível. Todas as pessoas com PC
podem praticar EFA e atividades desportivas, sendo que os objetivos
educacionais, devem ser modificados e adaptados em função da necessidade
de cada indivíduo (Porretta, 2010).
De entre as diversas atividades e intervenções que a AFA apresenta,
destaca-se a Equitação Terapêutica (ET). Este tipo de intervenção utiliza os
movimentos equinos como parte de um programa terapêutico, em ambiente
natural, de modo a alcançar resultados funcionais (Campbell, 1997;
Cunningham, 2009). O cavalo fornece uma base de apoio dinâmica,
convertendo-se num excelente instrumento para melhorar a força do tronco, do
controlo e equilíbrio, velocidade e resistência, transferência de peso e
planeamento motor (Sterba, 2007). Um dos principais objetivos desta
intervenção terapêutica é desenvolver a capacidade de realizar atividades de
vida diária (Ostensjo et al., 2004).
O cavalo transmite um movimento preciso, rítmico e suave para o
participante. O andamento é realizado por um movimento tridimensional muito
semelhante à ação da pélvis humana durante a marcha (Bertoti, 1988; Reide,
1988; Thelen & Spencer, 1998). Esta intervenção envolve uma série de
atividades com base no movimento do cavalo e na posição e movimento do
Estudo Empírico
participante em cima do cavalo. O participante pode adotar várias posições no
cavalo dependendo da capacidade e objetivos a atingir e, cada mudança de
posição ou forma, visa diferentes integrações sensório-motoras (Shurtleff &
Engsberg, 2010). As modificações de piso, da velocidade ou de direção do
cavalo, ou mesmo as tarefas funcionais, podem ser realizadas para desafiar
um movimento apropriado (Hamill et al., 2007). O participante deve manter a
cabeça, o tronco e braços sobre a base de apoio (pélvis), quando sentado a
cavalo, praticando assim o controlo postural. Os ajustes contínuos para manter
a atitude postural numa superfície dinâmica (Shumway-Cook et al., 2003; Liu et
al., 2000) são sistematicamente solicitados aos participantes, bem como a
ativação dos sistemas neurais e músculo-esqueléticos que favorecem a
aquisição dos padrões motores básicos (Faveiro & Siqueira, 2010).
A ET proporciona diversos benefícios ao nível da coordenação,
equilíbrio, espasticidade, controlo postural (i.e., tronco e controlo da cabeça),
coordenação motora global e marcha em crianças com PC (Bertoti, 1988;
Hamill & Washington, 2007). A importância da ET resulta, também, do facto de
abranger grande parte das habilidades motoras fundamentais, juntamente com
os aspetos biopsicossociais, reforçando benefícios em todas as áreas atingidas
pela prática (Faveiro & Siqueira, 2010). Segundo Rodrigues (2006), as
vantagens da ET sistematizam-se da seguinte forma: i) ajustes musculares e
corporais contínuos que o participante tem que realizar para se manter em
cima do cavalo; ii) uma melhoria da autoestima, confiança, concentração e
integração com o grupo; e, iii) receção a estímulos que oferecem novas
experiências e perceções. Este tipo de terapia tem como objetivo fundamental
a condução do cavalo de forma autónoma, ou seja, desenvolver a capacidade
e confiança suficiente para poder conduzir e realizar um percurso exigido pela
equipa responsável. Esta competência é adquirida pela repetição sistemática
de exercícios de coordenação, equilíbrio, lateralidade, força e flexibilidade. A
integração da ET nas escolas transmite ao participante grande motivação e
interesse numa vida ativa, saudável, como também proporciona uma melhor
qualidade de vida (Rodrigues, 2006).
Estudo Empírico
Assim sendo, este estudo tem como objetivo desenvolver a destreza
manual, a desterza podal e o equilíbrio, de crianças com PC, envolvidas num
Programa Educacional de Equitação Terapêutica.
Material e Métodos
3.2.1. Enquadramento
A realização deste trabalho foi possível devido ao Protocolo
estabelecido entre o Gabinete de Educação Física Especial da Faculdade de
Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) e o Clube Hípico do Norte
(CHN). O CHN, em colaboração com os agrupamentos das Escolas e a
Câmara Municipal de Esposende, desenvolveu um Programa Educacional de
ET no qual o nosso estudo se incluiu. Esta valência terapêutica visa objetivos
psicomotores direcionados para as necessidades específicas dos participantes
na área educacional, psicológica ou cognitiva, pressupondo progressos no
ensino equestre. Pressupõe a ação intencional e direcionada entre o cavalo e o
participante, sendo o cavalo visto como um instrumento pedagógico. O
Programa Educacional de ET visa dotar o participante de autonomia suficiente
para atuar sobre o cavalo e o conduzir, sendo o envolvimento ativo
fundamental, desde o momento da aproximação ao cavalo e nas diferentes
atividades terapêuticas.
3.2.2. Caracterização da Amostra
A amostra deste estudo exploratório, de natureza quantitativa e
qualitativa, foi constituída por 3 participantes, nomeados por nomes fictícios
como José, Ana e Manuel, com diagnóstico de Paralisia Cerebral, entre os 12 e
os 14 anos de idade, sendo dois do género masculino e um do género
feminino. Foi elaborada uma caracterização para cada participante segundo: i)
problemas associados, ii) medicação, iii) nível académico, iv) desempenho
cognitivo, v) desempenho psicossocial e vi) atividades desportivas.
Estudo Empírico
Quanto aos problemas associados, todos os participantes
evidenciavam défice cognitivo, bem como problemas ao nível comportamental
e motor (i.e., equilíbrio e coordenação). O desempenho cognitivo (i.e.,
concentração/atenção e capacidade de aprendizagem) foi considerado baixo
em todos os participantes.
Quanto ao desempenho psicossocial, o José manifestava pouca
estabilidade comportamental, uma alta autoestima e uma inconstante
motivação para a tarefa; a Ana tinha uma boa estabilidade comportamental,
uma boa autoestima e uma boa motivação para a tarefa, no entanto, na
adaptação a novas situações era necessário supervisão. O Manuel tinha uma
baixa autoestima, dificuldades na capacidade de adaptação a novas situações
e uma inconstante motivação para a tarefa.
No que diz respeito à participação em atividades desportivas, o José e
o Manuel frequentavam as aulas Educação Física e também praticavam
Natação; a Ana frequentava a Natação e sessões de Psicomotricidade.
A caracterização acima apresentada foi baseada na informação da
Ficha de Identificação do Participante da responsabilidade do CHN (Anexo I).
Os critérios de inclusão definidos foram: i) idade não superior a 14 anos; ii)
diagnóstico de Paralisia Cerebral; iii) assiduidade nas sessões superior a 75%,
ou seja, uma participação mínima de 10 sessões de intervenção.
3.2.3. Desenvolvimento do Programa de Intervenção
3.2.1.1. Organização do Programa Terapêutico
O programa Educacional de Equitação Terapêutica, desenvolvido pelo
CHN, iniciou-se em meados de outubro de 2012 até meados de junho de 2013.
No entanto, a intervenção referente ao nosso estudo decorreu entre outubro
2012 e março de 2013, perfazendo um total de 12 sessões efetivas a cavalo.
As sessões realizaram-se uma vez por semana com uma duração aproximada
de 7 minutos para cada participante.
Estudo Empírico
3.2.3.2. Caracterização das Atividades
No que diz respeito à estrutura das sessões, estas foram realizadas
segundo três partes: i) parte inicial (i.e., aproximação ao cavalo/aquecimento);
ii) parte fundamental (i.e., objetivos específicos da sessão) e iii) parte final (i.e.,
retorno à calma). A parte inicial contemplava diferentes etapas,
nomeadamente: i) colocar o toque; ii) tocar no cavalo antes de montar; iii) subir
para o cavalo; iv) efetuar uma volta pelo picadeiro para uma adaptação ao
movimento do cavalo e, v) realizar trabalho de ativação articular para preparar
o participante para as atividades solicitadas. Na parte fundamental propôs-se
exercícios que visavam o desenvolvimento da coordenação motora global e
fina, do equilíbrio e atitude postural, da flexibilidade e da força dos membros
superiores e inferiores. As atividades foram realizadas em dois planos
diferentes, um plano inferior (i.e., ao nível do solo) e um plano ao nível do
cavalo/participante. Estas atividades apresentavam também diferentes níveis
de dificuldade, tais como: realizar as tarefas com o cavalo parado ou em
andamento; e colocar objetos a distâncias próximas ou afastadas do cavalo. A
parte final consistia em efetuar uma volta ao picadeiro de modo a promover o
relaxamento corporal do participante.
Para além das sessões de ET, o Programa Educacional também
contemplava atividades com fins recreativos e lúdicos, tais como: i) presépio de
natal ao vivo; ii) condução do cavalo; iii) a limpeza do cavalo com material
equestre apropriado; iv) a limpeza e manutenção do próprio material equestre;
v) condução do cavalo com uma guia até ao Paddock (i.e., local próprio para o
cavalo); vi) alimentar o cavalo, e vii) pintura do cavalo (i.e., tintas adequadas
feitas para os participantes pintarem o cavalo). Todas estas tarefas foram
adaptadas à funcionalidade de cada participante, tendo-se realizado explicação
com demonstração do exercício proposto e imitação motora do mesmo
(responsável/participante) sempre que necessário.
Estudo Empírico
3.2.3.3. Recursos Utilizados na Intervenção
As sessões foram desenvolvidas sob a responsabilidade de uma
monitora de Equitação, um Técnico de Equitação Terapêutica, um Terapeuta
da Fala e duas profissionais de Educação Física (estudantes de Mestrado,
sendo uma delas autora deste documento). As sessões foram planeadas pelos
responsáveis do Programa de Educacional de ET. Os professores de
Educação Especial e os auxiliares de apoio educativo acompanhavam e
supervisionavam os participantes nos momentos em que estes não estavam
diretamente envolvidos nas sessões.
As intervenções decorreram nas instalações do CHN, dentro do
picadeiro coberto. Os recursos materiais utilizados nas sessões de ET foram
materiais equestres (e.g. cilha, suadouro, cabeçada, corda e toque) e materiais
recreativos/ educativos (e.g. bolas, cones, arcos, cesto, varas, postes, teclado
computador, cadeado, caixa “zip”, disco, recipiente, copos, setas, pincéis e
tintas). Foi utilizada uma rampa para ajudar o participante a subir para o cavalo.
3.2.4. Instrumentos
3.2.4.1. Ficha de identificação do Participante
Esta ficha de identificação foi elaborada pelo Técnico de ET do CHN
para recolher informação pormenorizada de cada participante, e foi preenchida
pelos Encarregados de Educação e professores de Educação Especial dos
participantes (Anexo I). A informação da ficha incluía: nome; idade; problemas
associados; diagnóstico; intervenientes na Equipa de Reabilitação; medicação;
alterações/ dificuldades motoras; contra indicações; a participação em outras
atividades desportivas; competências académicas; leitura/escrita; números/
cálculo; desempenho cognitivo; desempenho psicossocial; e observações
complementares.
Estudo Empírico
3.2.4.2. Diário de campo
Este instrumento foi adotado para registar, no final de cada sessão de
intervenção e momentos de avaliação, as principais observações sobre as
capacidades e comportamentos de cada participante. Cada registo foi feito
numa folha branca, caneta e preenchida segundo estes critérios: i)
aproximação ao cavalo; ii) desenvolvimento motor; iii) estabilidade
comportamental; iv) cooperação. Este instrumento permitiu verificar a
adaptação e evolução por parte de cada participante, focando o
desenvolvimento motor, cognitivo e social.
3.2.4.3. Avaliação - Minnesota Manual Dexterity Test (TDMM)
Para este estudo foi selecionado o Minnesota Manual Dexterity Test
(TDMM) (1998). Este teste é estandardizado e utilizado para avaliar a
habilidade do individuo para mover pequenos objetos a variadas distâncias, a
coordenação óculo-manual, as habilidades motoras globais, a evolução e ou
desenvolvimento da destreza manual, as quais resultam de um processo de
reaprendizagem e diagnóstico de problemas de coordenação.
O TDMM é constituído por um tabuleiro com orifícios (matriz) e por um
conjunto de 60 discos (pretos de um dos lados e vermelhos do outro), que
encaixam na matriz. Esta bateria inclui dois testes: o Teste de Colocação e o
Teste de Volta.
Teste de Colocação (TC):
• A posição inicial do tabuleiro é realizada numa mesa de 25,4cm do
bordo da mesa;
• Colocar os discos nos buracos do tabuleiro e de seguida, levantar o
tabuleiro de forma que os discos fiquem posicionados em colunas e
linhas retas, colocando posteriormente o tabuleiro em frente aos discos;
• O participante deve iniciar o teste pela direita, pegando no disco que se
encontra na base e inserir no buraco do topo do tabuleiro e, de seguida,
Estudo Empírico
voltar a tirar um disco e colocar na coluna direita continuando assim
sucessivamente;
• O participante tem de mover os discos da direita para a esquerda,
utilizando cada uma das mãos e com menor tempo possível;
• Completando uma coluna, repete-se a sequência anterior na coluna
seguinte, até o tabuleiro estar completo;
• O participante pode segurar o tabuleiro com a sua mão livre, se assim o
pretender;
• Deve-se assegurar que os discos estão bem posicionados no tabuleiro;
• O resultado deste teste é o número total de segundos que demora a
completar as tentativas e o tempo destas é anotado separadamente;
• Quando o teste termina o examinador prepara o tabuleiro para novo
teste.
Teste de Volta (TV):
• Todos os discos encontram-se inseridos no tabuleiro com o lado
vermelho/preto virado para cima (a cor deve ser uniforme em todo o
tabuleiro);
• O objetivo deste teste é pegar nos discos com uma mão, virá-los com a
outra mão, voltando a colocar os discos nos orifícios do tabuleiro o mais
rapidamente possível;
• O participante, com a mão esquerda pega na peça que está no topo do
lado direito do tabuleiro, vira o disco em simultâneo que passa para a
Figura 1: TDDM. Posição e colocação dos discos para o teste de colocação
Estudo Empírico
mão direita e coloca no buraco onde estava anteriormente com a face de
baixo virada para cima;
• Quando a primeira fila está completa, o participante tem de pegar o
disco com a mão direita, virar enquanto está a passar para a mão
contrária e colocar de novo para o orifício com a face de baixo virada
para cima;
• O procedimento para a terceira fila é igual à primeira e, na quarta fila é
igual ao da segunda fila;
• No final todos os discos encontram-se com cor diferente da cor inicial e
uniforme em todo o tabuleiro;
• O examinador anota, no final, na folha de resultados o tempo em
segundas das tentativas realizadas.
Em ambos os testes, a pontuação mais baixa (em segundos) significa
uma melhor performance.
3.2.4.4. Avaliação – Tapping Pedal
Para este estudo foi selecionado o teste - Tapping Pedal (1990)
(FACDEX), para avaliar a destreza podal (i.e., coordenação óculo-podal e a
velocidade dos movimentos dos membros inferiores). O teste implica a
utilização de uma cadeira, uma régua, dois autocolantes sinalizadores e um
cronómetro.
Neste teste:
Figura 2: TDDM. Posição inicial e sequência de filas com direções a seguir no Teste de Volta.
Figura 3: TDDM. Posição inicial e sequência de filas com direções a seguir no Teste de Volta.
Estudo Empírico
• A distância dos autocolantes sinalizados é de 40cm entre os seus
centros;
• O avaliador deve colocar o cronómetro ou temporizador nos 10
segundos e em contagem decrescente;
• O participante com um pé de cada vez, realiza um sapateado o mais
rápido possível, num período de 10 segundos, batendo alternadamente
o pé nos autocolantes sinalizados em cada lado da régua;
• Os participantes iniciam a tarefa unipodal com o pé preferido/não
preferido, seguindo-se o desempenho com o pé contra lateral:
• O participante tem direito a duas tentativas para cada membro inferior;
• Para um melhor entendimento por parte da criança é realizada uma
explicação acompanhada de uma demostração.
3.2.4.5. Avaliação – Korperkoordination test (KTK)
Para esta avaliação foi selecionado o Korperkoordination Test (KTK) –
Trave de Equilíbrio (EQ) (Grola et al., 2009). O material a utilizar neste teste
são três traves com 3m de comprimento e 3cm de altura, com larguras de 6,
4.5, 3 cm.
O objetivo desta avaliação é verificar a estabilidade do equilíbrio em
marcha para trás sobre a trave.
Figu ra 4: Posição do teste Tapping Pedal
Estudo Empírico
Esta bateria de teste consiste:
• Em caminhar à retaguarda sobre três traves com espessuras diferentes;
• São válidas três tentativas;
• Durante o deslocamento não é permitido tocar com os pés no solo;
• Antes das tentativas o aluno tem uma tentativa de experiência para se
adaptar à trave;
• O participante deve realizar a marcha sobre a trave sem tocar o pé no
chão, caso toque, o participante começa a segunda tentativa;
• Para a avaliação de cada trave, são contabilizados três tentativas
válidas, o que perfaz um total de nove tentativas;
• Os passos válidos são aqueles que se deslocam sobre a trave à
retaguarda até que um dos apoios (passos) toca o chão ou até que
sejam atingidos os 8 passos em cima da trave;
• A máxima pontuação possível é de 72 pontos no qual, o resultado será
igual ao somatório de apoios à retaguarda nas nove tentativas;
• Para um bom entendimento por parte do participante é realizada uma
demonstração e explicação dando a possibilidade ao participante de
realizar um pré-exercício.
3.2.4.6. Procedimentos de Recolha de Dados
Inicialmente, foi solicitada uma autorização aos Encarregados de
Educação dos participantes de modo a que o envolvimento das crianças fosse
Figura 6: Teste K.T.K. Figura 5: Realização do Teste K.T.K. como Tentativa de Experiência.
Estudo Empírico
devidamente enquadrada. O pedido foi feito por escrito e encontra-se no anexo
II.
Todos os participantes foram avaliados individualmente pela autora
deste estudo com auxílio de outra estudante de mestrado. O período de
avaliação inicial decorreu em meados de outubro de 2012, sucedendo dois
momentos de avaliação intermédia em dezembro e janeiro, e a avaliação final
decorreu em março de 2013. A avaliação intermédia foi realizada para controlar
o efeito da interrupção das férias escolares no programa de intervenção.
Todas as avaliações foram realizadas nas instalações do CHN, em
local fechado, calmo e controlado, dentro do horário semanal do programa.
3.2.5. Procedimentos de Análise de Dados
Finalizada a recolha de todos os dados, procedemos à organização e
análise estatística recorrendo aos programas estatísticos Statistical Package
for the Social Sciences (SPSS) versão 20.0 e o Microsoft Office Excel 2007.
Foi utilizada a estatística descritiva para encontrar a média e desvio
padrão nas variáveis do estudo. Devido ao reduzido tamanho amostral foi
utilizado o teste de Friedman - (K Related Samples), teste não paramétrico,
para verificar a evolução dos participantes. Foi utilizado o teste Z-Score para
analisar individualmente e comparar o desempenho dos participantes nos
diferentes momentos de avaliação. A escala utilizada foi a ordinal (valores em
números e segundos). O nível de significância nos testes estatísticos aplicados
foi fixado em p≤0,05.
A análise de conteúdo foi a técnica utilizada para tratar os dados
recolhidos no diário de campo permitindo sistematizar, para cada participante,
informações relativas às seguintes categorias: i) aproximação ao cavalo; ii)
desenvolvimento motor; iii) estabilidade comportamental; iv) cooperação.
Estudo Empírico
Apresentação dos Resultados
A apresentação de resultados encontra-se estruturada da seguinte
forma: i) Destreza manual: diferenças entre os quatros momentos de avaliação
na amostra total; ii) Destreza podal: diferenças entre os quatros momentos de
avaliação na amostra total; iii) Equilíbrio: diferenças entre os quatros momentos
de avaliação na amostra total; iv) Destreza manual: diferenças entre os quatros
momentos de avaliação em cada participante; v) Destreza podal: diferenças
entre os quatros momentos de avaliação em cada participante; vi) Equilíbrio:
diferenças entre os quatros momentos de avaliação em cada participante; v)
Média total dos testes em relação a cada participante.
De modo a permitir uma melhor interpretação dos resultados nos
diferentes quadros ao longo da nossa análise, importa referir que os resultados
apresentados no teste Minnesota encontram-se em segundos, representando
os valores superiores obtidos neste teste (TC e TV) um pior desempenho. No
teste Tapping Pedal, os valores correspondem ao número de toques colocados
nos sinalizadores, e a valores superiores correspondem melhores
desempenhos. No teste KTK, os valores correspondem ao número de passos
efetuados, e os valores superiores correspondem a melhores desempenhos.
Na leitura da média de todos os testes, relativamente aos valores médios do
grupo, os valores superiores traduzem melhores desempenhos, dado que os
valores correspondentes ao teste de Minnesota foram multiplicados por -1
antes de serem transformados em scores z.
Estudo Empírico
3.3.1. Análise geral dos elementos da amostra
3.3.1.1. Destreza Manual
Relativamente à destreza manual (Teste Colocação) , conforme se
pode verificar no Quadro 1, a amostra não apresenta diferenças
estatisticamente significativas através dos momentos, quer na primeira, quer na
segunda tentativa (p= .122) mas os resultados foram melhorando ao longo dos
quatro momentos de avaliação. Quanto ao Teste Volta , verificou-se somente
diferenças estatisticamente na 1ª tentativa (p= .042) entre os vários momentos
de avaliação. O desempenho foi melhorando no decorrer dos quatro momentos
de avaliação.
Quadro 1: Teste de Minnesota (TC e TV). Análise comparativa dos resultados dos quatro momentos de avaliação da destreza óculo-manual. Média, desvio padrão, valores de z e p.
Destreza Manual
(valores em segundos)
1º Momento
2º Momento
3º Momento
4º Momento z p
Teste (Colocação)
1ªtentativa 222.00±1
25,69 203 ± 71.02
194.67± 64.29
164 ± 54.25
5.800 .122
2ªtentativa 205.67±1
01.67 194 ± 58.66
190.00± 73.98
167.33± 69.06
5.800 .122
Teste (Volta)
1ªTentativa 187.67±78.25
186.33± 75.18
162.00± 64.37
141.67± 58.23 8.200 .042
2ªTentativa 189
±91.85 164.67± 79.19
169 ± 74.94
140± 59.91
6.310 .097
Estudo Empírico
3.3.1.2. Destreza Podal
Como se pode verificar no Quadro 2, relativamente à ao pé preferido , a
amostra não apresenta diferenças estatisticamente significativas, quer na
primeira tentativa (p= .185), quer na segunda tentativa (p= .475). No entanto,
houve um aumento dos valores ao longo dos quatro momentos de avaliação. A
primeira e segunda avaliações apresentam o valor mínimo de melhoria,
enquanto nas avaliações posteriores houve melhoria no domínio da destreza
podal, obtendo-se um melhor desempenho na avaliação final. No teste com o
pé não preferido , a amostra não apresenta diferenças estatisticamente
significativas através dos momentos, no entanto os valores aumentaram do
primeiro para o quarto momento de avaliação nas duas tentativas.
3.3.1.3. Equilíbrio
Quanto ao Equilíbrio , como se pode analisar no Quadro 3, verificam-se
diferenças estatisticamente significativas (p= .032). O desempenho dos
participantes foi sempre melhorando ao longo dos quatro momentos de
avaliação.
Quadro 2: Teste Tapping Pedal. Análise comparativa dos resultados dos quatro momentos de avaliação da destreza óculo-podal. Média, desvio padrão, valores de z e p
Destreza Podal
(nº) 1º
Momento 2º
Momento 3º
Momento 4º Momento z p
Pé preferido
1ªTentativa 9.00±2.65 10.00±2.00 11.33± 5.03
13.00± 1.73
4.821 .185
2ªTentativa 10.00± 5.29
10.00±3.46 11.67± 5.13
12.67± 1.16
2.500 .475
Pé não preferido
1ªTentativa 10.00± 2.00
8.33± .57 10.00± 2.00
11.00± 2.65
2.464 .482
2ªTentativa 9.33±1.15 7.33±3.05 11.67±4.0
4 12.33±4.
04 7.500 .058
Equilíbrio (nº) 1º Momento 2º Momento 3º Momento 4º
Momento z p
KTK
.33± .58
1.33±1.53
2.67±1.16
3.67±1.16
8.786
.032
Quadro 3: Korperkoordination test. Análise comparativa dos resultados dos quatro momentos de avaliação do equilíbrio. Média, desvio padrão, valores de z e p.
Estudo Empírico
3.3.2. Análise individual dos elementos da amostra
3.3.2.1. Destreza manual
Relativamente à Figura 7 verificamos que o José obteve melhores
resultados em comparação com os restantes participantes, embora tenha tido
uma evolução oscilante. A Ana obteve a prestação mais afastada da média. O
Manuel apresenta uma pontuação baixa, mas melhorou nas últimas avaliações.
Na Figura 8: Teste de Minnesota (TV). Análise comparativa dos resultados dos quatro momentos de avaliação da destreza óculo-manual.
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0
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1ºMomento 2ºMomento 3ºMomento 4ºmomento
Va
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MinnesottaTeste Volta
José
Ana
Manuel
Na Figura 7: Teste de Minnesota (TC). Análise comparativa dos resultados dos quatro momentos de avaliação da destreza óculo-manual.
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1ºMomento 2ºMomento 3ºMomento 4ºmomento
Va
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Minnesotta Teste Colocação
José
Ana
Manuel
Estudo Empírico
De acordo com a Figura 8, verificamos que o José obteve melhores
resultados em comparação com os restantes participantes. A Ana obteve a
prestação mais afastada da média, mas melhorou a sua presentação ao longo
das avaliações. O Manuel, apesar de alguma oscilação no segundo momento
de avaliação, conseguiu evoluir o seu desempenho ao longo das avaliações.
3.3.2.2. Destreza podal Na Figura 9: Teste Tapping Pedal (pé preferido). Análise comparativa dos resultados dos quatro momentos de avaliação da destreza óculo-podal.
Relativamente à Figura 9, é possível observar que o Manuel, de um
modo geral, obteve melhor pontuação em comparação com os outros dois
participantes. O José apresenta uma prestação muito oscilante. A Ana, embora
apresentar a prestação mais afastada da média, evidenciou uma melhoria
desta capacidade no último momento de avaliação.
-1,5
-1
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1ºMomento 2ºMomento 3ºMomento 4ºmomento
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Tapping PedalPé Preferido
José
Ana
Manuel
Estudo Empírico
Na Figura 10: Teste Tapping Pedal (pé não preferido). Análise comparativa dos resultados dos quatro momentos de avaliação da destreza óculo-podal.
Quanto à análise da destreza podal no pé não preferido , o Manuel
obteve melhor pontuação relativamente aos restantes participantes. A Ana
apresenta uma prestação oscilante em todos os momentos de avaliação. O
José apresenta, igualmente, uma pontuação muito variável mas, melhorou o
seu desempenho do 1º para o 4º momento de avaliação.
3.3.2.3. Equilíbrio
Na Figura 11: Teste K.T.K. Análise comparativa dos resultados dos quatro momentos de avaliação do equilíbrio
No que diz respeito à capacidade de equilíbrio, quem realizou maior
número de passos em cima da trave de equilíbrio foi o Manuel. A Ana, apesar
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1ºMomento 2ºMomento 3ºMomento 4ºmomento
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Tapping PedalPé Não Preferido
José
Ana
Manuel
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1ºMomento 2ºMomento 3ºMomento 4ºmomento
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re
KTK
José
Ana
Manuel
Estudo Empírico
de se ter afastado da média no 2º momento de avaliação, melhorou do 1º
momento ao 4º momento de avaliação. O desempenho do José melhorou,
apesar de ser o participante com resultado mais afastado da média.
3.3.3. Média total dos testes em relação a cada par ticipante
Seguidamente, descrevemos os resultados respeitantes à média total
dos testes aplicados em relação a cada participante. Na Figura 12, todos os
valores superiores obtidos referem-se aos melhores desempenhos.
Na Figura 12: Média total dos testes aplicados relativamente a cada participante.
No que diz respeito ao desempenho global dos participantes em todos
os testes, podemos verificar que a melhor prestação no Teste Minnesota foi
obtida pelo José. Nos outros dois testes, Teste Tapping Pedal e K.T.K, quem
evidenciou melhor pontuação foi o Manuel.
Discussão de Resultados
Esta investigação teve como objetivo desenvolver a destreza manual, a
destreza podal e o equilíbrio, de crianças com PC, envolvidas num Programa
Educacional de Equitação Terapêutica. De uma forma geral, no nosso estudo
constatamos melhorias ao nível das capacidades motoras avaliadas, embora
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
TC TV TP PP TP PNP KTK
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Média total dos Testes
José
Ana
Manuel
Estudo Empírico
só se tenham verificado diferenças estatisticamente significativas no equilíbrio
dos participantes.
No que diz respeito à destreza manual, a melhoria observada no
desempenho dos participantes ao longo das avaliações também foi evidente ao
longo da intervenção, quando recorremos à análise dos resultados de natureza
qualitativa. As crianças evidenciaram algumas dificuldades nas primeiras
sessões de ET mas no final da intervenção constatamos uma maior
concentração e atenção, uma maior motivação para a tarefa e uma melhor
prestação motora nas atividades realizadas em plano inferior, bem como nas
atividades realizadas ao nível do cavalo/participante. De uma forma geral,
consideramos os resultados obtidos positivos pois as melhorias nas
capacidades avaliadas podem sugerir uma transferência para as atividades de
vida diária e tarefas aliadas às modalidades desportivas em que o uso de
ambas as mãos é fundamental (Teixeira, 2006).
Por exemplo, a Ana apresentava grande dificuldade na manipulação
de objetos com as duas mãos em simultâneo (e.g., transferência da areia de
um copo para outro) e a sua concentração era muito baixa pois o contacto
ocular era irregular, ora focando a atenção na tarefa ora dispersando com
estímulos externos. No final do programa de ET, em todas as ações de
coordenação motora fina, a participante foi capaz de melhorar a sua prestação,
ainda que com uma velocidade de execução motora lenta.
Por sua vez, o José em tarefas que exigiam lançamento (e.g., lançar
discos para um alvo) não realizava uma pega de mão adequada o que
condicionava a direção e força do lançamento. Tal como a Ana, também o José
nas fases iniciais da intervenção evidenciava dificuldade em manter a
concentração e contacto ocular nos aspetos determinantes da tarefa. No final
do programa de ET, o José já conseguia um lançamento da bola ao arco
certeiro e dirigido, resultante um movimento motor mais eficaz e de maior
concentração na tarefa.
O Manuel não apresentava problemas motores na execução das
tarefas mas o seu comportamento interferia nas tarefas prejudicando o seu
desempenho (i.e., rejeição das tarefas, realização de atividades com choros,
Estudo Empírico
movimento bruscos e linguagem vulgar). A instabilidade comportamental foi
discutida com os auxiliares de apoio educativo e respetiva professora de
educação especial, tendo sido sugerido que, eventualmente, a ausência
pontual de medicação ou instabilidade do ambiente familiar poderiam estar na
origem desses comportamentos. No entanto, ao longo da intervenção o referido
participante melhorou os aspetos comportamentais e, consequentemente, o
desempenho na coordenação motora fina. Uma das estratégias desenvolvidas
consistia em, durante a intervenção, abordarmos assuntos que despertassem o
interesse ao participante (e.g., festas populares; jogos interativos; membros da
família e a sua zona de habitação). Com esta intervenção a cavalo, o
participante foi-se familiarizando com a equipa terapêutica e revelou-se mais
confiante e disposto a realizar as tarefas.
Neste contexto, importa realçar a importância do apoio motivacional às
crianças com PC quando envolvidas em contextos de avaliação e intervenção
de longa duração, como é o caso dos programas de intervenção que implicam
uma pesquisa longitudinal. De acordo com McDermott et al. (1996), a
prevalência de problemas de comportamento em crianças com PC é de 30% a
80%. Uma grande diversidade de comportamentos e distúrbios emocionais são
possíveis de ocorrer como, o défice ou transtorno emocional, passividade,
imaturidade, raiva, tristeza, impulsividade, baixa auto estima e ansiedade, que
podem condicionar o desempenho nas atividades se as adequadas estratégias
pedagógicas e motivacionais não forem desenvolvidas pelas equipas de
intervenção. Do mesmo modo, Cheney e Palmer (1997) enfatizam a relação
entre o comportamento e as consequências, especificamente destacam as
relações entre o comportamento e a motivação a estímulos ambientais para
que as habilidades funcionais sejam desenvolvidas com sucesso. Os mesmos
autores consideram que abordagens ao nível do desenvolvimento neurológico
fornecem informações sobre habilidades motoras para produzir movimentos
funcionais, enquanto as abordagens comportamentais fornecem diretrizes
sobre a eficácia na aquisição de habilidades motoras. Combinando as duas
abordagens, os autores descrevem etapas de intervenção que constituem a
base de um método neuro comportamental: i) definir o objetivo a alcançar com
Estudo Empírico
a criança; ii) identificar o comportamento; iv) identificar melhorias na criança e
repetição do comportamento desejável; e v) realizar movimentos motores
levando ao incentivo da prática, de modo que a criança associe o
comportamento ao resultado.
Tal como foi referido anteriormente, apesar das melhorias qualitativas
notórias as longo do programa de intervenção, a análise quantitativa não
evidenciou diferenças estatisticamente significativas. Tal facto pode estar
relacionado com o reduzido tamanho amostral que não permite análises
estatísticas mais sofisticadas e condiciona a interpretação dos resultados.
Contudo, importa salientar que é difícil recrutar um elevado número de
participantes em populações especiais. Logo, uma metodologia quantitativa
poderá não ser a metodologia mais adequada a utilizar neste contexto pois
apenas põe em evidência as evoluções quantitativas e não a sua qualidade. Os
estudos de investigação devem por isso recorrer à combinação de diferentes
metodologias (i.e., quantitativa e qualitativa) de modo a que as evoluções dos
participantes possam ser postas em evidência.
Por outro lado, também é necessário refletir sobre a adequabilidade do
tempo das sessões semanais (i.e., 7 minutos por criança) e da duração total de
16 semanas do programa de ET por nós desenvolvido. Fox et al. (1984)
desenvolveram um programa de ET com duração de 6 semanas, em dezanove
crianças com NE, cujas sessões tinham a duração de 90 a 120 minutos e
obtiveram um aumento significativo na força de braços dos participantes. Os
mesmos autores aplicaram, também, metodologia qualitativa para averiguar as
perceções dos pais e terapeutas acerca da evolução das crianças avaliadas e
encontraram uma evolução positiva. Ou seja, variáveis como o tempo de
sessão, a duração do programa e o tamanho amostral podem ser sugeridas
para as diferenças nos resultados relativamente ao nosso estudo. Do mesmo
modo, Haehl et al. (1999) verificaram melhorias na coordenação e desempenho
funcional entre a parte superior e inferior do tronco, assim como entre a parte
inferior do tronco do participante e o dorso do cavalo em duas crianças com
PC. No entanto, possivelmente devido ao reduzido tamanho da amostra e à
Estudo Empírico
duração do programa de intervenção (i.e., 12 semanas) também neste estudo
não foram evidentes diferenças estatisticamente significativas.
Relativamente ao desempenho da destreza podal, de uma forma geral,
os participantes evidenciaram uma tendência positiva no desenvolvimento
desta capacidade. Em atividades como a colocação de um arco no pé, tocar a
mão no pé, pontapear a bola em diferentes posições, todos os participantes
evidenciaram dificuldades no início do programa de ET. No entanto, foram
melhorando progressivamente ao longo das sessões no que diz respeito à
amplitude articular e à velocidade de execução dos movimentos que envolviam
os membros inferiores, à distribuição da pressão do calcanhar e à distribuição
do peso nos apoios plantares. Todas estas situações foram sendo evidentes
logo na fase inicial de cada sessão, que visava a adaptação ao cavalo, pois os
participantes adotavam uma melhor postura a cavalo. Em concordância com os
nossos resultados, encontra-se um estudo realizado em indivíduos com
distúrbios de coordenação, equilíbrio e posição do pé, que demonstrou a
eficácia com a ET na melhoria da distribuição plantar do peso e diminuição da
pressão do calcanhar e do hálux no apoio plantar (ANDE-Brasil, 2012). Num
outro estudo sobre o efeito de 9 sessões de ET durante três semanas
consecutivas, com uma duração 25 minutos, obtiveram-se melhorias
significativas na velocidade da passada de crianças com PC (Honkavaara &
Rintala, 2010). Também no nosso estudo se verificou uma maior velocidade
nos movimentos que envolviam coordenação pedal, como por exemplo a
marcha.
Importa realçar que a ausência de robustez no desempenho da
coordenação podal pode ser uma consequência da variação dos níveis de
atenção e concentração evidenciados pelas crianças durante a avaliação. Por
exemplo, após colocação do pé nos sinalizadores, os participantes
rapidamente mudavam o foco da sua atenção, perdendo o contato ocular com
os sinalizadores de referência. Também verificamos que esta situação foi mais
frequente nas primeiras avaliações. Após repetição e treino da condição de
avaliação, foi evidente uma melhoria na concentração e confiança para a
Estudo Empírico
execução da tarefa, bem um melhor conhecimento do próprio corpo do
participante, que se traduziu numa maior velocidade de execução.
Assim sendo, um aspeto que gostaríamos de discutir relaciona-se com
a importância da adaptação dos instrumentos de avaliação quando aplicados a
crianças com PC. Por exemplo, utilizar sinalizadores de referência apelativos
(e.g., cores variadas, imagens adequadas ao contexto de intervenção) ou
adaptar o protocolo de execução às características cognitivas e motoras dos
participantes. No nosso caso, julgamos que as crianças da nossa amostra
beneficiariam se o número de tentativas de execução fosse superior (i.e., mais
de uma tentativa de treino), permitindo assim uma melhor familiarização com
as exigências do protocolo. O facto de não existirem instrumentos de avaliação
adaptados e validados para a população em estudo, limita a investigação nesta
área, pois as condições de avaliação não têm em consideração as
necessidades específicas dos participantes. Deste modo, a validação de
instrumentos na área da coordenação motora para crianças com PC seria um
importante contributo para a investigação futura.
Um outro aspeto já referido anteriormente nesta discussão, relaciona-
se com o número de crianças presentes no nosso estudo, tendo-se
argumentado sobre a necessidade de aumentar o tamanho da amostra para
obtermos resultados mais robustos. Por exemplo, Benda et al. (2003)
desenvolveram um programa para quinze crianças com PC, proporcionando
oito minutos de ET efetiva e oito minutos de atividade em que as crianças
montavam num barril estático, e estudaram a atividade muscular do tronco e os
membros inferiores em posição sentada, em pé e em andamento, antes e
depois de cada intervenção. Os autores constataram uma evolução significativa
na simetria da atividade muscular dos grupos musculares sob o efeito da ET
efetiva quando comparado com a situação de montar sobre um barril estático,
sugerindo que o movimento do cavalo traz melhorias motoras.
Por último, na capacidade equilíbrio verificaram-se melhorias
significativas ao longo do programa de ET. Esta diferença pode ser explicada
pelo facto de que o equilíbrio ser uma capacidade que é constantemente
solicitada na ET. Segundo Queiroz e Alécio (2006), o movimento tridimensional
Estudo Empírico
do cavalo gera movimentos mais complexos de rotação e translação que
exigem ajustes posturais contínuos por parte do participante em função do
posicionamento do cavalo. Este processo estimula os órgãos sensoriais e a
recolha de informações propriocetivas que permitem a manutenção do
equilíbrio e postura a cavalo. Por outro lado, importa realçar que o equilíbrio é
um requisito fundamental para o desenvolvimento de outras capacidades e tem
implicações para o quotidiano do ser humano.
Na fase inicial do programa, todos os participantes apresentavam
instabilidade do tronco e desalinhamento corporal, precisando muitas vezes de
apoio lateral para a execução da tarefa (e.g., afastar os braços, segurar em
objetos com as duas mãos, realizar a tarefa com o cavalo em andamento),
enquanto nas sessões finais de intervenção, todas estas atividades foram
realizadas de forma autónoma. Os nossos resultados estão em conformidade
com diversos estudos (Galvão et al., 2010; Shurtleff & Engsberg, 2010) que
também mencionam melhorias no equilíbrio e no alinhamento postural
(tronco/cabeça) após a implementação de um programa de ET.
Outro aspeto a ter em consideração na nossa intervenção, foi a postura
a cavalo, ou seja, a posição sentada dos participantes. Inicialmente, os
participantes apresentavam uma postura desconfortável e incorreta. Com o
desenvolvimento continuado de atividades que visam a melhoria da postura
(e.g., segurar uma barra atrás das costas, colocar o participante ao contrário
em cima do cavalo, colocar as mãos atrás das costas), todos os participantes
evidenciaram uma melhor posição sentada a cavalo após o programa de ET.
Do mesmo modo, Borges et al. (2011) encontraram melhorias significativas no
controlo postural em posição sentada, em crianças com PC sujeitas a um
simulador de ET. Esta melhoria no controlo postural foi também identificada
pelos pais durante o desempenho das crianças nas atividades de vida diária
que ocorreu de forma mais autónoma. Assim sendo, destaca-se uma vez mais
a importância da transferência das capacidades solicitadas na ET (i.e.,
equilíbrio, controlo postural, mobilidade da pélvis) para a melhoria da qualidade
de vida das crianças com PC e suas famílias.
Estudo Empírico
Ainda que não tenha sido objetivo do nosso estudo, ao longo do
programa de ET foram evidentes melhorias na autoestima, autoconfiança,
motivação, e nas relações interpessoais estabelecidas entre os participantes,
demonstrando a importância da ET para o equilíbrio físico, social e psicológico
das crianças com PC, e, consequentemente, para a sua qualidade de vida (Fox
et al., 1984; Medeiros & Dias, 2002; Glazer et al., 2004; Adário, 2005; Hamill et
al., 2007).
Conclusão
Após o nosso programa de intervenção, os participantes apresentaram,
no geral, melhorias nas capacidades motoras avaliadas. Contudo, a nossa
intervenção permitiu também, através de observação, alcançar melhorias ao
nível psicológico e social, apesar de estas não terem sido objeto de estudo.
Desta forma, julgamos importante a implementação de programas
semelhantes, visto que o programa educacional de ET revelou-se benéfico
para os participantes.
Para o sucesso alcançado no programa foi indispensável o
envolvimento da equipa multidiciplinar de equitação terapêutica, mas também a
colaboração e apoio contínuo dos professores de educação especial e
respetivos auxiliares de apoio educativo, no acompanhamento de todos os
participantes. Mais uma vez, é importante salientar que o programa de ET por
nós desenvolvido fez parte do Programa Educativo Individualizado das
crianças, constituindo-se como parte da oferta educativa das Escolas às
crianças com PC, no âmbito desportivo. Desta forma, a Escola e os seus
agentes educativos reconheceram a importância da ET na formação das
crianças com NEE, proporcionando novas vivências e experiências desportivas
aos seus alunos.
Na realização desta dissertação tivemos dificuldades em encontrar
estudos com questões de investigação semelhantes à nossa, o que limitou a
discussão dos nossos resultados. Consideramos fundamental que estudos
futuros sejam realizados seguindo esta linha de investigação que associa a ET
Estudo Empírico
à coordenação motor global e fina. Domínios a nível cognitivo e social são
relevantes para completar a análise qualitativa, tornando-se de igual forma um
fator importante a avaliar. Sugerimos que a intervenção futura possa
contemplar uma maior frequência e duração semanal de prática, uma vez que
a evolução no desempenho funcional está associada à experiência repetida e
prolongada. Por outro lado, é importante aumentar o tamanho amostral e
recrutar um grupo de controlo, bem como combinar metodologia quantitativa e
qualitativa para robustecer os dados.
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Human Kinetics.
Capítulo IV - Conclusão Geral
Conclusão Geral
81
Conclusão Geral
Durante a realização deste estudo vários aspetos foram desafiantes ao
longo do ano letivo, sendo importante destacar cada um deles nesta conclusão
geral da dissertação.
O desenvolvimento de uma investigação no meio equestre exige, por
parte dos investigadores, um conhecimento básico sobre cavalos, material e
segurança. Nesta medida, a aprendizagem e domínio deste contexto específico
ocorreu na prática através do envolvimento nos processos necessários ao
desenvolvimento das sessões do programa educacional de ET, bem como
através na pesquisa teórica. Para além destes princípios, foi também
importante compreendermos com o próprio corpo os diferentes movimentos
que o cavalo proporciona, para depois podermos ensinar e corrigir os
participantes. Por este motivo, procuramos ter aulas de equitação para
adquirimos um melhor entendimento sobre os comportamentos e processos
motores solicitados na ET.
Enquanto observadora e auxiliar das sessões de ET, desenvolvi um
processo de aprendizagem direcionados para as variadas situações de
aprendizagem e sequências metodológicas a propor de acordo com as
características dos participantes. Por outro lado, compreendi e apliquei
diversas estratégias de intervenção adaptadas ao contexto da paralisia
cerebral. Por exemplo, criança com paralisia cerebral necessita de um trabalho
específico ao nível da atenção e concentração para a tarefa. Assim sendo, o
responsável necessita de realizar uma demonstração prévia da tarefa e para
obter bons resultados são necessárias repetições sistemáticas do
comportamento em causa. Relativamente à aproximação ao cavalo, sendo este
um animal de grande porte, deve-se sempre mostrar segurança e transmitir
confiança ao participante para este poder usufruir plenamente da terapia. Ao
posicionar-se em cima do cavalo, o participante tem a sensação de força e
poder, o que posteriormente aumenta a sua autoestima e autoconfiança.
Em suma, este estudo foi uma experiência extremamente
enriquecedora, tanto no que diz respeito ao conhecimento e familiarização com
Conclusão Geral
82
o meio equestre, tanto ao nível do desenvolvimento do trabalho académico na
sua vertentente de ação e de investigação.
Anexos
XII
Anexo I – Ficha de Identificação do Participante
XIV
XIII
Anexo I – Ficha de Identificação do Participante
XIV
XV
XVI
Anexo II – Autorização para a Prática do Programa E ducacional de
Equitação Terapêutica
XVII
XVIII
Anexo III – Programa de Intervenção
XIX
Semana - 2 -
Responsáveis: Técnico Equitação Terapêutica, Terapeuta da Fala, Monitor de Equitação, 2 Professoras de Educação Física
Material: ------------------------------- Instalação: Clube Hípico do Norte - CHN
Objetivo geral: Adaptação ao meio e ao cavalo.
Esta sessão teve como pressuposto a aproximação do participante ao cavalo. Tendo iniciado com a
colocação do toque na cabeça, o tocar no cavalo e consequentemente o montar.
Objetivos da Sessão: Capacidade de Adaptação; Aceitação de regras e Estabilidade Comportamental.
O participante dava uma volta a cavalo, ao Picadeiro, debruçando-se decúbito ventral sobre o pescoço do
animal.
Semana - 1 -
Responsáveis: Técnico Equitação Terapêutica, Terapeuta da Fala, Monitor de Equitação, 2 Professoras de Educação Física
Material: Traves de Equilíbrio (KTK); Teste Minnesota e Teste Tapping Pedal
Instalação: Clube Hípico do Norte - CHN
Objetivo geral: Equilíbrio, Coordenação Óculo-Manual e Coordenação Óculo-Pedal.
Descrição da Sessão: Realização da avaliação inicial (1ª avaliação) - Bateria de testes: Teste de Equilíbrio com a Trave de
Equilíbrio (KTK); Teste de Destreza Óculo-Manual com o teste Minnesota e o Teste de Destreza Óculo-Pedal
com o Tapping Pedal.
XX
Semana - 3 -
Responsáveis: Técnico Equitação Terapêutica, Terapeuta da Fala, Monitor de Equitação, 2 Professoras de Educação Física
Material: Cones Instalação: Clube Hípico do Norte - CHN
Objetivo geral: Manter o Equilíbrio a cavalo nas mudanças de direção.
Parte Inicial Esquema da Atividade
Objetivo específico: Adaptação ao cavalo e mobilização articular do
participante.
Uma volta de aquecimento a cavalo, no Picadeiro.
Parte Fundamental
Objetivo específico: Atitude Postural; Orientação no espaço.
A sessão realizada consistia em contornar uns cones (amarelos e azuis)
formando as formas: quadrado, retângulo, triângulo e círculo
Parte Final
Uma volta de relaxamento a cavalo, no Picadeiro.
XXI
Semana - 4 -
Responsáveis: Técnico Equitação Terapêutica, Terapeuta da Fala, Monitor de Equitação, 2 Professoras de Educação Física
Material: Cones, Varas e Corda. Instalação: Clube Hípico do Norte - CHN
Objetivo geral: Capacidade de Decisão e reconhecimento das Figuras Geométricas.
Parte Inicial Esquema da Atividade
Objetivo específico: Adaptação ao cavalo e mobilização articular do
participante.
Uma volta de aquecimento a cavalo, no Picadeiro.
Parte Fundamental
Objetivo específico: Orientação no espaço; Equilíbrio; Autocontrolo Motor. O responsável parava o cavalo pedindo ao participante para identificar as
figuras que se encontravam em Picadeiro, com isto o utente escolhia com
uma sequência, qual a figura que queria contornar.
Parte Final
Uma volta de relaxamento a cavalo, no Picadeiro
XXII
Semana - 5 -
Responsáveis: Técnico Equitação Terapêutica, Terapeuta da Fala, Monitor de Equitação, 2 Professoras de Educação Física
Material: --------------------------- Instalação: Clube Hípico do
Norte - CHN
Objetivo geral: Atitude Postural, Equilíbrio.
Parte Inicial
Objetivo específico: Adaptação ao cavalo e mobilização articular do participante.
Uma volta de aquecimento a cavalo, no Picadeiro.
Parte Fundamental
Objetivo específico: Coordenação Motora em Atividade e Mobilidade do tronco e dos membros superiores e
inferiores.
Os exercícios executados foram: a rotação dos ombros; rotação dos braços; mão atrás das costas; pontapés
alternados para trás; rotação do tornozelo e flexão plantar. Em cada exercício, a criança realizava uma
contagem crescente de 1 a 10.
Parte Final
Uma volta de relaxamento a cavalo, no Picadeiro
XXIII
Semana - 6 -
Responsáveis: Técnico Equitação Terapêutica, Terapeuta da Fala, Monitor de Equitação, 2 Professoras de Educação Física
Material: Poste, arco, cesto, bolas, teclado, cadeado, caixa zip, disco, recipiente, zebra de plástico, revista, copos, corda e bola de golfe.
Instalação: Clube Hípico do Norte - CHN
Objetivo geral: Coordenação motora em atividade e equilíbrio.
Parte Inicial Esquema da Atividade
Objetivo específico: Adaptação ao cavalo e mobilização articular do
participante.
Uma volta de aquecimento a cavalo, no Picadeiro.
Parte Fundamental
Estação 1 – Copos com areia Objetivo específico: coordenação óculo-manual. O participante segurava um copo com areia com uma mão e o sem areia na outra. O objetivo era que conseguisse mudar a areia de um copo para o outro sem a deixar cair. Estação 2 - Zebra dentro do recipiente Objetivo específico: coordenação óculo-manual e capacidade de decisão. O participante tinha de conseguir abrir o recipiente de plástico que continha uma zebra no interior. Devia retirar a zebra, voltar a colocar no interior do recipiente e fecha-lo. Estação 3 – Lançamento do Disco Objetivo específico: coordenação óculo-manual, força dos membros superiores e precisão para um alvo em plano inferior. O participante continha um disco na mão e era pretendido que este o conseguisse projetar o mais longe possível. O importante era que o participante focasse um alvo imaginário e lançasse o disco. Estação 4 – Zip com moedas Objetivo específico: coordenação óculo-manual. O zip continha seis moedas de diferentes quantias (5cent, 10cent, 20cent, 50cent, 1 euro e 2 euros). Era pedido ao participante que abrisse o zip, contabilizasse o número de moedas e a quantia. Posto isto, colocava as moedas novamente no zip e fechava-o. Estação 5 – Cadeado Objetivo específico: coordenação óculo-manual. Era pretendido que o participante conseguisse colocar a chave no cadeado de bicicleta e o conseguisse abrir. Estação 6 – Teclado Objetivo específico: coordenação óculo-manual e memória.
XXIV
Era solicitado ao participante que escrevesse o seu nome, carregando uma tecla de cada vez do teclado. Estação 7 – Tiro ao alvo Objetivo específico: coordenação óculo-manual, força de membros superiores e precisão para um alvo num plano superior. O cavalo era parado a uma distância consideravelmente perto do alvo e o participante projetava as três bolas alternadamente para o alvo. Estação 8 – Bola ao cesto Objetivo específico: coordenação óculo-manual, força de membros superiores e precisão para um alvo num plano superior. O cavalo foi parado a uma distância aproximadamente de um metro do cesto. O participante possuía duas bolas de diferentes tamanhos. O objetivo desta tarefa era que o participante conseguisse encestar as duas bolas. Estação 9 – Lançamento das bolas para o arco Objetivo específico: coordenação óculo-manual, força de membros superiores e precisão para um alvo num plano inferior. Estava um arco no solo do picadeiro e era pretendido que o participante atirasse a bola para o interior do arco. Estação 10 – Poste com argola Objetivo específico: coordenação óculo-manual, força de membros superiores e precisão. Era pretendido que o participante conseguisse colocar a argola no poste.
Parte Final
Uma volta de relaxamento a cavalo, no Picadeiro
Observação: A sessão teve a presença de dois cavalos em Picadeiro.
XXV
Semana - 7 -
Responsáveis: Técnico Equitação Terapêutica, Terapeuta da Fala, Monitor de Equitação, 2 Professoras de Educação Física
Material: Cones, Varas, bola de ténis, recipiente, cadeado (bicicleta), disco.
Instalação: Clube Hípico do Norte - CHN
Objetivo geral: Coordenação motora em atividade e equilíbrio.
Parte Inicial Esquema da Atividade
Objetivo específico: Adaptação ao cavalo e mobilização articular do
participante.
Uma volta de aquecimento a cavalo, no Picadeiro.
Parte Fundamental
Tarefa A – Tiro ao Alvo
Objetivo específico: coordenação óculo-manual, força de membros superiores e precisão para um alvo num plano superior. Nesta tarefa era solicitado ao participante que atirasse as três bolas para o
alvo com o objetivo deste as conseguir colar no alvo.
Tarefa B – Bola dentro do recipiente
Objetivo específico: coordenação óculo-manual e capacidade de decisão.
Dentro do recipiente estava colocada uma bola de ténis. Era pretendido
que o participante abrisse e pegasse na bola, a voltasse a colocar dentro
do recipiente e fechar o respetivo.
Tarefa C – Lançamento do disco
Objetivo específico: coordenação óculo-manual, força dos membros
superiores e precisão para um alvo em plano inferior.
Era pretendido que o participante lançasse o disco de forma a este acertar
num dos três cones
Tarefa D – Cadeado
Objetivo específico: coordenação óculo-manual.
O participante deveria conseguir abrir o cadeado com a respetiva chave
Selecionada a tarefa que o participante pretendia realizar, era direcionado
o cavalo para junto da tarefa. Despois de realizadas as tarefas A e B eram
realizadas as tarefas C e D.
Parte Final
Uma volta de relaxamento a cavalo, no Picadeiro
XXVI
Semana - 8 -
Responsáveis: Técnico Equitação Terapêutica, Terapeuta da Fala, Monitor de Equitação, 2 Professoras de Educação Física
Material: Traves de Equilíbrio (KTK); Teste Minnesota e Teste Tapping Pedal
Instalação: Clube Hípico do Norte - CHN
Objetivo geral: Equilíbrio, Coordenação Óculo-Manual e Coordenação Óculo-Pedal.
Descrição da Sessão:
Realização da avaliação intermédia (2ªavaliação) - Bateria de testes: Teste de Equilíbrio com a Trave de
Equilíbrio (KTK); Teste de Destreza Óculo-Manual com o teste Minnesota e o Teste de Destreza Óculo-Pedal
com o Tapping Pedal.
Os testes foram aplicados depois da sessão a cavalo. Nesta sessão para não influenciar o momento de
avaliação foram realizados pequenos exercícios motores. Depois de uma volta de aquecimento, cada
participante realizava quatro exercícios: 1º. afastar os braços (avião); 2º. mãos atrás das costas; 3º. mãos na
cintura e rodar de um lado e do outro; 4º. mão nos ombros rodando para a frente e para trás. Em cada
exercício, a criança realizava uma contagem crescente de 1 a 10.
Semana - 9 -
Responsáveis: Técnico Equitação Terapêutica, Terapeuta da Fala, Monitor de Equitação, 2 Professoras de Educação Física
Material: Traves de Equilíbrio (KTK); Teste Minnesota e Teste Tapping Pedal
Instalação: Clube Hípico do Norte – CHN
Objetivo geral: Equilíbrio, Coordenação Óculo-Manual e Coordenação Óculo-Pedal.
Descrição da Sessão:
Realização da avaliação intermédia (3ªavaliação) - Bateria de testes: Teste de Equilíbrio com a Trave de
Equilíbrio (KTK); Teste de Destreza Óculo-Manual com o teste Minnesota e o Teste de Destreza Óculo-Pedal
com o Tapping Pedal.
XXVII
Semana - 10 -
Responsáveis: Técnico Equitação Terapêutica, Terapeuta da Fala, Monitor de Equitação, 2 Professoras de Educação Física
Material: Cones; Arcos pequenos; Arcos Grandes; Bolas Instalação: Clube Hípico do
Norte – CHN
Objetivo geral: Coordenação Óculo-Manual e Autocontrolo motor.
Parte Inicial Esquema da Atividade
Objetivo específico: Adaptação ao cavalo e mobilização articular do
participante.
Uma volta de aquecimento a cavalo, no Picadeiro.
Parte Fundamental
Tarefa 1
Objetivo específico: coordenação óculo-manual, lateralidade e precisão
para um alvo num plano inferior.
Estavam dois cones dispostos lateralmente e afastados a uma distância
de aproximadamente de 1m (espaço suficiente para o cavalo parar no
meio dos cones). Esta tarefa tinha como objetivo o participante conseguir
acertar com a argola nos cones. Tinha 5 tentativas para cada uma das
mãos.
Tarefa 2
Objetivo específico: coordenação óculo-manual, lateralidade e precisão
para um alvo num plano inferior.
Estavam dispostos, dois arcos de cores diferentes afastados uns dos
outros, aproximadamente 2 m. A tarefa consistiu em o participante
conseguir acertar com as três bolas no interior de cada um dos arcos,
com as duas mãos.
Parte Final
Uma volta de relaxamento a cavalo, no Picadeiro
XXVIII
Semana - 11 -
Responsáveis: Técnico Equitação Terapêutica, Terapeuta da Fala, Monitor de Equitação, 2 Professoras de Educação Física
Material: Arcos, bolas de ténis. Instalação: Clube Hípico do
Norte – CHN
Objetivo geral: Coordenação motora geral.
Parte Inicial Esquema da Atividade
Objetivo específico: Adaptação ao cavalo e mobilização articular do
participante.
Uma volta de aquecimento a cavalo, no Picadeiro.
Parte Fundamental
Tarefa 1
Objetivo específico: Equilíbrio; Coordenação óculo-manual; Tomada de
decisão e precisão para um alvo em plano inferior.
Estavam dois arcos em picadeiro, em linha reta afastados um do outro,
aproximadamente 4 metros. Era pretendido com a tarefa que o participante
acertasse com a bola dentro do interior dos arcos com o cavalo em
andamento, formando um oito. O participante efetuada 2 lançamentos para
cada um dos dois arcos.
Nota: A realização da tarefa tinha como pressuposto o cavalo em andamento,
mas devido as características de alguns dos participantes, houve necessidade
de parar o cavalo para este efetuar o lançamento ou então era-lhe dada
instrução verbal de quando era o momento exato para efetuar o lançamento.
Tarefa 2
Objetivo específico: Coordenação óculo-pedal e Força dos membros
inferiores.
O cavalo, era parado, e realizadas tarefas motoras ao nível dos membros
inferiores como: pontapear para trás e tocar com a mão no calcanhar e
pontapear para a frente até tocar com o pé na mão do técnico que se
encontrava em várias posições e distâncias. Efetuava 5 tentativas para cada
exercício (cada pé).
Parte Final
Uma volta de relaxamento a cavalo, no Picadeiro
XXIX
Semana - 12 -
Responsáveis: Técnico Equitação Terapêutica, Terapeuta da Fala, Monitor de Equitação, 2 Professoras de Educação Física
Material: Pino, arco e bolas de ténis. Instalação: Clube Hípico
do Norte - CHN
Objetivo geral: Coordenação motora geral.
Parte Inicial Esquema da Atividade
Objetivo específico: Adaptação ao cavalo e mobilização articular do
participante.
Uma volta de aquecimento a cavalo, no Picadeiro.
Parte Fundamental
Estavam dispostas duas tarefas motoras no meio do picadeiro. O participante teve a liberdade de escolher a tarefa que pretendia realizar em primeiro. Para além disso, foi-lhe mostrado a bola e a argola e o participante tinha de referir qual o material a usar em cada uma das tarefas. Tarefa a – colocar a argola no pino Objetivo específico: coordenação óculo-manual; Força dos membros superiores e precisão. Tarefa b – lançar a bola de ténis para o interior do arco Objetivo específico: coordenação óculo-manual; Força dos membros superiores e precisão para um alvo em plano inferior. Depois de realizadas estas tarefas, na última volta ao picadeiro o cavalo era parado e realizados exercícios com os membros inferiores (pontapés à retaguarda e tocar com a mão no pé).
Parte Final
Uma volta de relaxamento a cavalo, no Picadeiro.
XXX
Semana - 13 -
Responsáveis: Técnico Equitação Terapêutica, Terapeuta da Fala, Monitor de Equitação, 2 Professoras de Educação Física
Material: 2 Bolas de ténis, 2 copos, 1 alvo, 2 arcos, 3 setas, 2 varas. Instalação: Clube Hípico
do Norte - CHN
Objetivo geral: Coordenação motora geral e equilíbrio.
Parte Inicial Esquema da Atividade Objetivo específico: Adaptação ao cavalo e mobilização articular do
participante.
Uma volta de aquecimento a cavalo, no Picadeiro.
Parte Fundamental
Estação 1 – Copos com areia
Objetivo específico: coordenação óculo-manual
O participante segurava o copo com areia numa mão e com a outra mão o
copo sem areia. O objetivo da tarefa era mudar a areia de um copo para o
outro e assim sucessivamente com o cavalo em andamento.
Estação 2 – Lançamento da bola de ténis para o arco
Objetivo específico: coordenação óculo-manual, força de membros superiores e precisão para um alvo num plano inferior. Estavam dois arcos afastados um do outro em linha reta e o participante a
cavalo tinha de os contornar fazendo a forma de um oito. Durante o
percurso do cavalo era dado ao participante uma bola de ténis para este
lançar para o interior do arco.
Estação 3 – Tiro ao alvo
Objetivo específico: coordenação óculo-manual, força de membros superiores e precisão para um alvo num plano superior. O cavalo era parado a uma distância consideravelmente perto do alvo
para ser mais fácil a tarefa e maior probabilidade de êxito. Nesta tarefa o
participante realizava os lançamentos para o alvo
Estação 4 – “Túnel” (passagem a cavalo entre duas varas posicionadas
no solo)
Objetivo específico: Equilíbrio e Atitude Postural.
Nesta tarefa o participante entrava no túnel a cavalo e realizava dois
exercícios com os membros superiores: avião e mãos atras das costas.
Parte Final
Uma volta de relaxamento a cavalo, no Picadeiro.
XXXI
Semana - 14 -
Responsáveis: Técnico Equitação Terapêutica, Terapeuta da Fala, Monitor de Equitação, 2 Professoras de Educação Física
Material: Garrafas de plástico com areia Instalação: Clube Hípico do
Norte - CHN
Objetivo geral: Força dos Membros Superiores
Parte Inicial
Objetivo específico: Adaptação ao cavalo e mobilização articular do participante.
Uma volta de aquecimento a cavalo, no Picadeiro.
Parte Fundamental
Tarefa A – Avião
Objetivo específico: Transferência de Peso; Coordenação motora em atividade; Equilíbrio.
O participante possuía uma garrafa com areia em cada uma das mãos e foi-lhe solicitado que realizasse o
avião durante meia volta ao Picadeiro.
Tarefa B – volta à cintura com garrafa
Objetivo específico: Mobilidade dos membros superiores; transferência de peso; coordenação óculo-manual.
O participante em posse de uma garrafa com areia executava a transferência da garrafa de uma mão para a
outra à volta da cintura.
Tarefa C – Membros Superiores em extensão
O participante com os membros superiores em extensão segurava a garrafa com areia com ambas as mãos,
durante meia volta ao Picadeiro.
Parte Final
Uma volta de relaxamento a cavalo, no Picadeiro.
XXXII
Semana - 15 -
Responsáveis: Técnico Equitação Terapêutica, Terapeuta da Fala, Monitor de Equitação, 2 Professoras de Educação Física
Material: Cones, Arcos e uma bola de Ténis. Instalação: Clube Hípico
do Norte - CHN
Objetivo geral: Coordenação Óculo-Pedal.
Parte Inicial Esquema da Atividade
Objetivo específico: Adaptação ao cavalo e mobilização articular do
participante.
Uma volta de aquecimento a cavalo, no Picadeiro.
Parte Fundamental
Tarefa 1
Objetivo específico: lateralidade; coordenação óculo-pedal e estabilidade
corporal.
O participante tinha de tocar com a mão direita no pé direito e de seguida
tocar com a mão esquerda no pé esquerdo. Este exercício foi realizado
com o cavalo em andamento e repetiam o exercício de forma alternada
para cada lado, 20 vezes.
Tarefa 2
Objetivo específico: coordenação óculo-pedal e lateralidade.
O responsável colocava um arco no pé do participante e este tinha de o ir
buscar com a mão e colocar no pé contrário. Este exercício foi realizado
com o cavalo parado e repetindo alternadamente 5 vezes.
Tarefa 3
Objetivo específico: coordenação óculo-pedal.
O responsável estava em posse de uma bola de ténis e foi pedido ao
participante que simulasse um chuto na bola. A bola tinha diversas
posições espaciais no qual o participante tinha de tocar com a ponta do pé
na bola.
Este exercício foi realizado com o cavalo parado e foram repetidas 10
vezes para cada pé.
Parte Final
Uma volta de relaxamento a cavalo, no Picadeiro.
XXXIII
Semana - 16 -
Responsáveis: Técnico Equitação Terapêutica, Terapeuta da Fala, Monitor de Equitação, 2 Professoras de Educação Física
Material: Traves de Equilíbrio (KTK); Teste Minnesota e Teste Tapping Pedal
Instalação: Clube Hípico do Norte - CHN
Objetivo específico: Equilíbrio, Destreza Óculo-Manual e Destreza Óculo-Pedal.
Descrição da Sessão:
Realização da avaliação final (4ª avaliação) - Bateria de testes: Teste de Equilíbrio com a Trave de Equilíbrio
(KTK); Teste de Destreza Óculo-Manual com o teste Minnesota e o Teste de Destreza Óculo-Pedal com o
Tapping Pedal.
Os testes foram aplicados depois da sessão a cavalo. Nesta sessão para não influenciar o momento de
avaliação foram realizados pequenos exercícios motores. Depois de uma volta de aquecimento, cada
participante realizava quatro exercícios: 1º. afastar os braços (avião); 2º. Uma mão na barriga e outra nas
costas e trocavam as mãos com sinal do responsável; 3º. mãos na cintura e rodar de um lado e do outro; 4º.
Rodar os braços para a frente e para trás. Em cada exercício, a criança realizava uma contagem crescente
de 1 a 10.
XXXIV
Anexo IV – Grelha de Registo do Teste de Destreza M anual - Minnesota
XXXV
Avaliação destreza manual - Minnesota Manual Dexter ity
(ficha de preenchimento)
Nome: _________________________________________________________
Data de Nascimento: ___/___/___
Data de teste: ___/___/___
Registo dos resultados em segundos
1ª Tentativa 2ª Tentativa
Teste de colocação
Teste de volta
XXXVI
Anexo V – Grelha de Registo do Teste de Destreza Po dal – Tapping Pedal
XXXVIII
XXXVII
Avaliação da Velocidade e Coordenação dos Membros I nferiores -
Tapping Pedal
(ficha de preenchimento)
Nome: _________________________________________________________
Data de Nascimento: ___/___/___
Data de teste: ___/___/___
Registo dos resultados em batimentos
1ª Tentativa 2ª Tentativa
Pé preferido
Pé não preferido
XXXVIII
Anexo VI – Grelha de Registo do Teste de Equilíbrio – KTK
XXXIX
Avaliação do Equilíbrio Dinâmico – Teste K.T.K (Tra ve de Equilíbrio)
(Ficha de preenchimento)
Nome: _________________________________________________________
Sexo:
Data de Nascimento: ___/___/___
Data de avaliação: ___/___/___
Registo dos Resultados
Trave 1ª Tentativa 2ª Tentativa 3ª Tentativa Soma
6,0 cm
4,5cm
3,0 cm
Total
MQ1