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UNIVERSIDADE DO MINHO ESCOLA DE ENGENHARIA RELATÓRIO DE PROJECTO INDIVIDUAL da Licenciatura em Engenharia Civil ESTUDO DO CENTRO HISTÓRICO DE GUIMARÃES Maria Laura Martins Orientador: Paulo B. Lourenço GUIMARÃES 2000

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UNIVERSIDADE DO MINHO

ESCOLA DE ENGENHARIA

RELATÓRIO DE PROJECTO INDIVIDUAL

da

Licenciatura em Engenharia Civil

ESTUDO DO CENTRO HISTÓRICO DE GUIMARÃES

Maria Laura Martins

Orientador: Paulo B. Lourenço

GUIMARÃES

2000

Agradece-se a

GTL- Gabinete Técnico Local, Guimarães Dra. Maria João do IPPAR, Porto

pela disponibilidade e colaboração no que lhes foi solicitado para a realização do trabalho aqui apresentado.

Índice

1. Introdução 4

2. Caracterização do Centro Histórico 7

2.1. O Centro Histórico: Sua Evolução 8

2.2. A Construção Habitacional 17

2.3. Conclusão 31

3. Tipologia do Edifício Tipo 34

4. Patologias 41

5. Conclusão 49

Anexo I 51

Anexo II 53

Bibliografia 62

1. Introdução

Universidade do Minho Centro Histórico de Guimarães Introdução

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No conhecimento geral dos Indivíduos reside o facto de que a maioria dos núcleos urbanos

portugueses não é de origem recente, resultando sim de longas permanências humanas num determinado espaço, o qual não pode, por isso, de deixar de reflectir as diferentes formas que ao longo do tempo, necessitou de adquirir para ser considerado urbano. Contudo, em certos casos, o rasto dos primeiros ocupantes perde-se por cronologias pouco precisas que chegam a recuar centenas de anos.

Apesar da presença de casas, dispostas contiguamente de maneira a constituírem ruas e praças, ter caracterizado, desde sempre, topograficamente, um núcleo urbano, a sua disposição no espaço disponível não tem permanecido sem mudança. Pelo contrário o que tem gerado formas específicas de organizar o espaço disponível não são mais que as mutações das características socioeconómicas, políticas e culturais da comunidades que, sucessivamente, o foram ocupando. Por vezes tão marcantes e significativas que nem o desgaste do tempo nem a vontade transformadora do homem conseguiram apagá-las totalmente.

É por isso que, mais bem ou mal delimitadas, “destacando-se com afirmativa nitidez ou

esbatendo-se em tímidos vestígios, sobrepondo-se ou rejeitando-se, se podem encontrar distintas paisagens urbanas numa mesma cidade ou vila, sugerindo, assim outros tempos e outros quotidianos. E nenhuma parece ser tão fácil de individualizar, mesmo pelo homem comum, como aquela que se denomina de medieval.” (1)

Nesta denominação se insere o Centro Histórico de Guimarães, onde podemos assistir a

ruas estreitas e sinuosas, marginadas por casas construídas em materiais pouco familiares a quem se habituou a viver entre o predomínio de cimento e alumínio. O moderado crescimento em altura dessas construções permite que os edifícios de maior dimensão se destaquem naturalmente, especialmente quando a riqueza artística exterior acentua a sua singularidade.

Também natural neste tipo de centros medievais é a existência de zonas protagonizadas pela presença de igrejas, mosteiros, pelos restos de uma muralha, de um castelo ou de uma torre de menagem. O Centro Histórico de Guimarães reúne uma significativa concentração destes elementos, o que compõe uma paisagem urbana bem distinta das actuais. Assim o Centro é associado a um passado já muito longínquo, protagonizado por réis, donas, clérigos e cavaleiros. Constituíndo cenários que combinam com longos assédios de mouros ou castelhanos, durante os quais se revelava o heroísmo, muitas vezes mitificado, das gentes simples da arraia-miúda. Contudo, como acontece com outros centros da mesma época que o de Guimarães, não se pode dizer que se esteja perante um cenário genuinamente medieval. Denotando que o hoje denominado Centro Histórico se identifique no todo ou em parte com a vila ou cidade medievais, uma vez que, como já se salientou anteriormente, as comunidades urbanas manifestaram, ao longo dos séculos, uma acentuada tendência para a continuidade na ocupação dos espaços, só algumas das construções podem ser consideradas dessa época.

Na realidade, até aos dias de hoje, quase só sobreviveram os edifícios de carácter singular, isto é, aqueles em que a melhor qualidade dos materiais utilizados lhes permitiu resistir aos

(1) Guimarães: Duas Vilas , Um só Povo. Estudo da História Urbana (1520/1389),Volume 1, Ferreira,

Maria da Conceição Falcão.

Universidade do Minho Centro Histórico de Guimarães Introdução

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desastres da guerra, aos malefícios dos recorrentes incêndios e inundações. Mesmo estes foram bastante alterados por sucessivas modificações dos padrões dominantes de gosto arquitectónico e decorativo. Da construção corrente, poucas edificações restaram intactas, e até mesmo o traçado das artérias sofreram alterações, resultantes da necessidade de circulação e mesmo de arranjo do espaço urbano.

No Projecto Individual de que resultou este relatório pretendeu-se caracterizar o Centro

Histórico de Guimarães, definindo a sua área e características, numa análise histórica do mesmo. Para além deste objectivo, uma caracterização da Tipologia do Edifício-Tipo foi pretendida, contudo não foi devidamente satisfeita face a razões de falta de material, nomeadamente de projectos de habitações, por forma a poder certificar melhor o pretendido. Contudo, devido a análise visual e descrição do técnico de GTL Arq. Filipe, foi possível uma caracterização, no entanto salvo que esta é pressuposta e não devidamente correcta. Um levantamento das Patologias Exteriores mais frequentes do Centro Histórica de Guimarães foi efectuado, quantificando-se ainda as mesmas numa zona concreta do referido centro. O RICUH, Regulamento de Intervenção no Centro Histórico de Guimarães, traduz-se num regulamento que condiciona as intervenções nas habitações do centro urbano e histórico, complementando a regulamentação nacional a este nível, entendendo-se adequado uma apresentação do mesmo, na versão que mais se aplica ao edificado estudado. Esta apresentação é efectuada no Anexo II.

2. Caracterização do Centro Histórico

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2.1. O Centro Histórico: Sua Evolução Para um entendimento mais geral do centro histórico em questão e por forma a entender a

origem da topologia habitacional do mesmo, um estudo sobre o nascimento e evolução do mesmo é necessária. Desta forma surge este sub-capitulo onde se refere a evolução urbanística do centro urbano e histórico de Guimarães.

Assim sendo, e segundo autores que estudaram a história urbana medieval, o centro em

estudo integra-se fielmente nos modelos do ocidente, na medida em que os elementos definidores comuns estão todos presentes: a muralha, a catedral, as igrejas paroquiais e os conventos mendicantes (assim designados por pertencerem a ordens religiosas onde a pobreza era um dos votos dos seus ordenados), o castelo e um centro com as suas construções.

Sendo uma região onde as famílias condais se localizavam, estas foram as responsáveis

por a origem e história da vila portucalense. Tal acontece na medida em que a criação de pólos atractivos para localização de gentes partiu deles.

De entre elas, a condessa Mumadona Dias, viúva de Hermenegildo Mendes, foi quem deu o primeiro passo no sentido de fixação das gentes, em torno do mosteiro que mandara construir. Foi pois a partir dele se começou a erguer um novo espaço no Guimarães medieval: burgo.

A fertilidade, o clima ameno, a existência de cursos de água, de vias romanas, estas com funções diversas dos caminhos medievais, mas que colocavam o sítio da futura vila num ponto de confluência de rotas estratégicas assegurando a comunicação com as povoações do litoral e do interior, foram factores favoráveis à instalação das gentes e expansão da vila.

Tais características não passaram despercebidas à condessa Mumadona aquando da escolha do local para a edificação do mosteiro gerador da comunidade urbana. Tratando-se de um mosteiro largamente dotado, para acompanhar e sustentar o processo, um núcleo de homens tornou-se imprescindível para o seu serviço. O burgo foi crescendo, ensaiando assim os primeiros passos.

Na mesma altura, por toda a Europa a ameaça de invasores levou à construção de

castelos. Em Guimarães tal aconteceu também, por forma a dar resposta ao perigo comum. Pode dizer-se que, de novo, o sítio para edificação do castelo se revelou favorável, isto é, a

presença de um monte, para o lado norte do mosteiro, a curta distância do mesmo, mostrava-se, pela sua elevação, ideal para localização de defesa.

Protegido o local, estava criado um segundo ponto de fixação. Como era corrente na época, os castelos, sendo normalmente de iniciativa dos poderes

senhoriais, agiam como pólos de atracção. A começar pela construção, e atendendo a que estes centros defendidos eram, muitas vezes, a residência de um senhor, não poderiam conceber-se sem gente que viabilizasse o quotidiano da aristocracia local.

Pode então afirmar-se que o castelo e o mosteiro, facilmente comunicáveis, agiram como um duplo atractivo para as populações circundantes, desenhando na paisagem da época o quadro típico da época : na planície, uma igreja ; na colina, um recinto protegido.

Para os locais mais seguros convergiam os homens por variadas necessidades, acontecendo assim tanto a povoação do burgo em torno do mosteiro, como a povoação da vila alta

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ao redor do castelo. Define-se assim dois espaços em vez de um: a vila alta e a vila baixa, denominadas mais tarde de Vila do Castelo e Vila de Sta. Maria da Oliveira (ver figura 1).

Figura 1: Muralhas de Guimarães: Vila de Stª Maria da Feira, Vila do Castelo “Guimarães do Passado e do Presente”

Foram-se ordenando e estruturando os primitivos núcleos, cumprindo-se o triplo imperativo

justificador da possível continuidade: a defesa, a paisagem e a adaptação às condições naturais(ver figura 2).

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Figura 2: Eixos Ordenadores, Guimarães Séc. XIV-XV. “Uma Rua de Elite na Guimarães Medieval (1376/1520)”

Tanto o castelo como o mosteiro viram crescer a sua importância primeira e alargadas as suas funções iniciais transformando-se num vector de incontestável crescimento do sítio e das gentes. Também a fixação, ao longo da história, da residência de condes na proximidade do castelo levou ao beneficio do sítio e do homem na medida em que este concedeu privilégios a quem fosse povoar Guimarães. Mantendo-se ao longo do tempo a situação descrita, muitos altos funcionários que integravam a corte fizeram com que crescessem habitações nobres. Os mercados e as feiras organizaram-se por consentimento e regulamentação régia, animou-se o castelo e a vila, ao mesmo tempo que se animava a paisagem do sítio. As ruas e as ruelas traçaram-se ao ritmo das necessidades crescentes e o espaço construído tomava forma e feição urbana.

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Numa época de devoção e temor, a vila baixa era modelada pela mesma, sendo o mosteiro e as igrejas os geradores de gentes. De facto, a Igreja da Oliveira (ver figura 3) e a praça tornaram-se o centro da vila que tudo e todos acabariam por se subordinar. Para aí convergia o traçado de várias ruas que, de uma forma ou de outra, garantiam o seu alcance.

Figura 3: As Ruas, Guimarães Séc. XV “Uma Rua de Elite na Guimarães Medieval (1376/1520)”

O alto funcionalismo que acompanhou a corte no decurso da sua estadia nas vilas, retirara-

se com ela, ou diluíra-se entre os que aí habitavam. Guimarães começou a ser uma terra de gente trabalhadora, ou de poucos recursos económicos. As profundas alterações que se foram inscrevendo no quadro social das origens foram acompanhadas também por profundas alterações do primitivo sítio. O tecido urbano expandiu-se animando a paisagem pelo traçado de ruas e vielas onde se acantonavam os mais variados ofícios.

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A selar este conjunto, a muralha unificou, em termos de protecção os dois primeiros núcleos (ver figura 1). As duas vilas chegaram a confrontar-se, levando os acontecimentos a uma actuação mais eficaz e conveniente para as forças do burgo, assumindo maior poder as gentes da vila, em detrimento das gente do castelo, que se despovoava. Em pouco tempo unificação das duas vilas aconteceu, tendo contribuído para este facto não só a muralha, como primeiro unificador no plano físico, mas também os diplomas régios contribuíram para a.

Sendo a construção de novas muralhas ocasional para a maioria das cidades e vilas medievais, o território intra-muros adquiria uma pronunciada estabilidade, que, todavia, se revelava incapaz de conter um crescimento da população urbana, o que se foi acentuando ao longo dos últimos séculos da Idade Média. Gentes que não podiam usufruir das vantagens de viver no interior da muralha, queriam, no entanto, estar o mais perto possível de um espaço que lhes parecia então mais adequado. Aí se aglomeravam formando um dédalo de ruas, caminhos, calçadas associadas a espaços vazios de construções, utilizados para comércio os arrabaldes. No entanto, também de intra-muros se rejeitava os maus cheiros dos pelames, as excessivas poeiras das olarias ou ruídos agudos e agressivos dos ferreiros. E o temor do fogo, que a qualquer momento se podia tornar incontrolável e destruidor, fazia remeter, sempre que possível, para o exterior as forjas e os fornos que acompanhavam certas actividades artesanais tais como a Fábrica dos Couros. Assim os pelames, as olarias e as ferrarias geraram à sua volta instalações humanas mais ou menos significativas, habitadas preferencialmente pelos que asseguravam o seu funcionamento. Em Guimarães medieval este processo degenerou em Ruas ( como é o exemplo da Rua da Caldeiroa).

“Mas uma cidade era também um agrupamento de habitações, mais numeradas e mais densas, em relação ao mundo rural circundante e dele distinguia por atribuições e funções próprias. Quando se construiu a muralha definitiva, o traçado limitou-se a envolver as linhas de uma ocupação já efectiva, sancionando-lhes a existência no espaço urbano. Porém, a partir desse momento, imprimiu ao referido espaço uma nova ordenação, pautada agora pelo muro que delimitava o seu interior”(2). Tendo que no interior desta muralha existiam grandes áreas não ocupadas, a vila assumiu um característico aspecto labiríntico, formado por vielas que asseguravam a passagem ás ruas maiores. A rede de circulação urbana garantia, por outro lado o acesso aos edifícios religiosos e aos civis. Face aos índices de crescente urbanização da altura, “a malha de construções apertou-se, os balcões e os passadiços tornaram-se frequentes, aproveitaram-se os corredores que circundavam os muros e adoçaram-se as paredes a vários prédios a que não escaparam as igrejas”(3). Na vila baixa, previamente traçada, mesmo sem um plano na verdadeira acepção urbanística, as casas foram tomando o seu lugar conformando-se com a lei construtiva.

Enquanto as construções monumentais ou de prestígio funcional sempre foram sendo objecto de notícia e centros de interesse em estudos de diversificada natureza, o mesmo não acontece para as edificações comuns, as que preenchiam e davam forma ao espaço construído.

(2) Uma Rua de Elite na Guimarães Medieval, Maria da Conceição Falcão Ferreira, Edição da

Câmara Municipal de Guimarães (em colaboração com a Sociedade Martins Sarmento) (3) Guimarães: Duas Vilas, Um Só Povo. Estudo da História Urbana (1250-1389), Volume 3, Maria

da Conceição Falcão Ferreira, Biblioteca Geral de Universidade do Minho.

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A muralha, nascida de vivências de insegurança e angústia, não se limitava contudo a minorar preocupações de defesa, uma vez que demarcava, de forma clara e evidente, duas formas diferentes de afeiçoar o espaço onde tinha de se viver, surgindo como o principal símbolo material um limite máximo da área de intra-muros definindo contornos que acompanharam a cidade durante séculos. Nos finais do Antigo Regime ( Regime de 74), e mesmo depois, a muralha foi rompida transformando-a numa estrutura inútil que ensombrava as rua e casas e não ajudava na expansão da origem do centro urbano. O derrube das muralhas veio permitir a aplicação de soluções arquitectónicas e urbanísticas mais de acordo com os tendências consideradas como adequadas ao desenvolvimento urbano que os homens da altura se esforçavam em promover.

De seguida apresenta-se um conjunto de figuras que ilustram a evolução do espaço urbano

de Guimarães: figura 4, figura 5, figura 6 e figura 7.

Figura 4 : Evolução do Centro Histórico ( séc. XVII ) “Guimarães do Passado e do Presente”

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Figura 5 : Evolução do Centro Histórico ( 1863) “Guimarães do Passado e do Presente”

Universidade do Minho Centro Histórico de Guimarães Caracterização do Centro Histórico

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Figura 6 : Evolução do Centro Histórico ( 1924 ) “Guimarães do Passado e do Presente”

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Figura 7 : Evolução do Centro Histórico ( 1975 ) “Guimarães do Passado e do Presente”

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2.2. A Construção Habitacional do Centro Histórico Nas artérias que foram crescendo ao longo do tempo, foram sendo erguidos edifícios,

habitacionais ou não, dando corpo às mesmas. Assistindo a um passar de épocas e estilos que se associaram a ela, Guimarães foi erguendo-se e criando a personalidade que hoje a caracteriza. Deixando mais ou menos impressões, cada época foi importante, renovando novas necessidades que se assumiam no quotidiano da população. Pode, quem conhece Guimarães, dizer tratar-se de uma cidade de estilo medieval, conforme ilustra o sub-capitulo anterior, mas poucos dos edifícios se podem dizer de traço original. A caracterização habitacional do centro histórico torna-se por isso relevante. De notar que o estudo se limitou à denominada zona histórica, localizada na carta apresentada no Anexo I.

“A casa era o elemento da paisagem urbana que melhor transmitia o resultado da

capacidade de adaptação do homem ao meio natural que o rodeava e, no caso dos aglomerados urbanos, á disponibilidade de espaço. Simultaneamente, a habitação podia servir como uma exteriorização da posição social de quem a habitava. Razões mais que suficientes para conferirem à casa uma variabilidade extrema que tinha, necessariamente, que se repercutir no aspecto adquirido por uma rua, por uma praça ou por uma viela”.(3)

A construção habitacional em Guimarães assistiu a uma forte estruturação entre os séculos

X e XIII, em forma cerrada coexistindo ainda com edificações isoladas em lotes autónomos com irregular alinhamento de frentes, numa perspectiva de uma tradição urbanística mais primitiva, de origem no ordenamento dos castros e citânias ou no parcelamento romano que lhe precedeu. A economia do terreno urbano proporcionada por este tipo de urbanização, aliada às dificuldades construtivas e aos seus custos poderá ser a explicação, nesta fase de crescimento da cidade, da predominância de tipologia “terreira”, sendo por isso raras, as casas com “sobrado” e inexistentes as que possuíam dois. Nesta altura as residências de maior prestígio seriam já executadas em alvenaria de granito e cobertas de telha assente em estrutura de madeira. A partir dos finais do século XII, surge no espaço urbano de Guimarães as Casa Torre (ver figura 8), uma tipologia de residência nobre, implementada um pouco por toda a Europa. A disposição das casas torre revela que estas se encontravam concentradas na área de urbanização mais antiga, existindo algumas mais a norte, mas não distante daquela.

Deste tipo de habitação, apenas um exemplar adulterado, dito do final do século XIV, chegou aos nossos dias um único exemplar localizado na Rua Rainha, denominada nos nossos dias de Torre dos Almadas.

(3) Guimarães: Duas Vilas, Um Só Povo. Estudo da História Urbana (1250-1389). Volume 3, Maria

de Conceição Falcão Ferreira, Biblioteca Geral de Universidade do Minho.

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A nível de sistema construtivo e devido ao facto da não existência de informação sobre o assunto parte-se do princípio de que seriam similares ao de outras áreas urbanas de Portugal Alto-Medieval. Os materiais perecíveis seriam os mais utilizados, nomeadamente a madeira, associada ao adobe, à palha ou barro. Tal dever-se-á ao facto do custo dos materiais. Continuando no reduzido conhecimento do sistema construtivo e da organização interna da habitação corrente, parece contudo certo de que a cobertura daquelas eram executadas em colmo, existindo esta afirmação na existência de inúmeras construções colmatadas, no final da Idade Média, nas ruas da Vila. O uso da cobertura em telha só se tornou obrigatório nos finais do século XVII.

Assistiu-se até aos séculos XIV uma disposição das casas não linear levando á criação de

frentes descontinuas e irregulares, sem qualquer lógica planeadora. Durante os séculos XIV e XV esta tradição tendeu a terminar, substituída por uma nova metodologia de ajustamento da casa, formando bairro e sem intervalo entre elas.

Entre os séculos XVI e XVII a tipologia das casas torre manteve-se, mas associada a um

corpo habitacional, tipologia que a Casa dos Laranjais assume até hoje e também a desaparecida casa torre, localizada no largo da Tulha, tendo só chegado aos nossos dias o corpo habitacional.

Figura 8: Casa dos Laranjais

Face a uma crescente intensificação da edificação de “paços” urbanos para habitação da

nobreza principal, em Portugal, assiste-se em Guimarães à construção de alguns destes espaços habitacionais. Destes pode referir-se o Paço de Fernão de Sousa, dos finais de XV, localizado na rua Santa Maria (ver figura 9).

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Figura 9: Paço Fernão de Sousa: Casa do Arco.

Exemplar construído utilizando como material a pedra, de um só sobrado, com dimensões

que não seriam de desprezar, pois sabe-se, que ocupava já, e numa extensão razoável, os dois lados da rua; sobre esta seria, então também, lançado um arco, ou apenas um balcão, ligando as duas alas da residência, assumindo-se assim uma estrutura com anterior tradição. Assim pode dizer-se que este tipo de construção, por ser para gente mais aristocrática, assiste a um melhoramento dos materiais de construção, dos espaços habitacionais onde se denota um uso de frontarias cuidadosamente aparelhadas em cantaria de granito, e com dimensões da fachada relativamente pequenas, com a tendência para a regularização do loteamento urbano, como aliás se começava já a fazer sentir nesta altura, com um consequente alinhamento de frentes e nivelamento das altura, piso térreo e um ou dois sobrados. É afirmado por quem de conhecimento de causa tratar-se de uma decoração de fachadas que assume já o “fenómeno renascentista”, sendo pois “as frontarias especialmente cuidadas, quer pela oposição de pedras de armas, omnipresentes a partir do século XVI, quer pela característica decoração das aberturas quer ainda pelo cuidadoso aparelho da sua cantaria”.(4)

A pedra como material construtivo continuou a ser o mais utilizado durante o século XVII, na tipologia da casa nobre urbana, mas agora sofrendo algumas alterações ao longo do mesmo século. Como as suas antecessoras, as residências aristocráticas apareceram então intra-muros, em especial na área setentrional, tendo para tal a explicação de se tratar na altura de uma área em desenvolvimento e por isso com relativo desafogo, e explicando ainda as grandes dimensões e o carácter um tanto errático que as suas plantas assumiam. Notaram-se contudo que em alguns casos, estas estruturas resultaram de um desenvolvimento orgânico de estruturas anteriores, nomeadamente do século XV e XVI, regularizada pela geração seiscentista.

Um belo exemplar também existente no núcleo habitacional de Guimarães, é a Casa de Valadares, localizada na Rua Gravador Molarinho, cuja tipologia assume ainda as pequenas

(4) Guimarães Cidade Património Mundial Um Objectivo Estratégico, Gabinete Municipal de

Guimarães, Gabinete Técnico Local,1980

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dimensões do lote e o tratamento da cantaria da fachada, como sucedia na tipologia quinhentista (ver figura 10 ).

Figura 10: Casa de Valadares.

A nível de habitação corrente, a tipologia da mesma assume uma grande diversificação,

quer a nível de materiais de construção, quer a nível de disposição de vãos, do tipo de varandas, quer ainda a nível de elementos decorativos integrados no tratamento das fachadas. Contudo foi notada uma tendência para a estabilização das alturas, assumindo as estruturas um piso térreo e dois sobrados, e também a estabilização da frente do lote, mantendo contudo a uma profundidade variável. As casas em ressalto do século XVI e com rótulas, foram sendo sistematicamente modificadas com a introdução de adaptações mais arejadas. O ressalto surge como um recurso para obter maior espaço nos andares superiores bem como uma consequência do processo de construção, em que os barrotes assentam nas paredes inferiores.. A presença deste tipo de habitação é ainda presente mas com ressalto mais ou menos acentuado podem ainda ser observadas na Rua Dr. António Mota Prego (dois exemplares), à entrada da Rua Francisco Agra (um exemplar), na Rua Gravador Molarinho (dois exemplares), na Arcela (dois ou três exemplares), na Rua do Dr. Avelino Germano, no cimo da Rua das Trinas (um exemplar), e por fim na Praça de Santiago pode assistir-se a esta fisionomia na maioria das habitações presente.

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Figura 11: Casas de Ressalto Rua Gravador Molarinho. Um exemplar de destacar, com o reconhecimento do prémio “Europa Nostra”, é o localizado

na Rua Egas Moniz, assistindo-se desta vez a um rés-do-chão também em alvenaria, mas com os dois sobrados de tabique em ressalto, varandas de grossos balaústres e quatro quartelas ou mísulas laterais, duas em cada andar (para suporte de vasos). O segundo andar tem o ressalto mais pronunciado, dando um certo relevo ao seu pronunciamento esguio (ver figura 12).

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Figura 12: Casa GTL. A utilização de rótulas nas aberturas das habitações, nomeadamente nas janelas, foi

comum no universo habitacional. Vedar o sol, deixando-o entrar apenas pelos intervalos das travessas, que se cruzam entre si, traduz-se no principal objectivo, evitando a degradação do interior. Existe no núcleo habitacional do Centro Histórico um edifício localizado no Largo Dr. João da Mota Prego (ver figura 13), considerado o mais notável do mesmo.

Trata-se de um rés-do-chão em alvenaria, como vem sido já notado, assistindo a apenas um piso superior em tabique, em que assenta num ressalto pronunciado e completamente revestido de rótulas na testada das suas duas frentes.

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Figura 13:Casa das Rótulas. Largo Dr. Mota Prego.

A casa da rua das Trinas apresentava um 2º andar em ressalto, apoiado numa das

extremidades, num cachorro caiado, formado na ponta da trave que vem de dentro, e na outra extremidade no topo da saliência de pedra que sobe do 1º andar. Hoje este ressalto não existe, como se pode ver na figura 14. O rés-do-chão é de pedra e os dois andares superiores de tabique, não fugindo ao que vem sido referido. As janelas foram modernamente substituídas, não assumindo a tipologia primitiva

F

Figura 14: Casa da Rua das Trinas.

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O ressalto era normalmente sustentado nos próprios caibros do soalho(ver figura 15), em cachorros ou em socos de pedra, como aconteceu com a casa da Rua das Trinas (figura 14). As casas referidas são as que contêm os ressaltos mais salientes.

a) Cachorros.

b) Caibros do soalho Figura 15: Exemplos de apoio do ressalto.

As casas na sua maioria só tinham de pedra as fundações e o rés-do-chão. Os primeiros andares, em ressalto, eram construídos de rodízio, entrecruzamento de barrotes em que todos os espaços triangulares restantes se enchiam de tijolo ou simplesmente palha e barro.

As janelas do rés-do-chão apresentavam um peitoril largo, uma espécie de saliência, que aparece efectuada em pedra ou em madeira - denominado de tabuleiro. As janelas do andar tinham rótulas ou crivos que impediam a luz não permitindo devassar o interior.

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Eram casa abafadas, entaipadas, existido num espaço limitado, com traseiras

insignificantes e latrinas, de adobos e madeira, ou de cu tapado, sem arejamento ou luminosidade. Este tipo de habitação existia em ruas estreitas. No decorrer do século XVII, começa a notar-se alguma mudança na fisionomia da habitação corrente. Quando umas casas eram mais altas que outras, os revestimentos das empenas das mais esguias, por causa das humidades, eram feitos de telhas sobrepostas, presas com cavilhas e cal bastante areada, ou chapas de lousa (ver figura 16).

Figura 16: Chapas de Lousa. Telhas Sobrepostas

Os interiores permaneciam em brutesco, denunciando fraqueza de dependência, pela divisão e subdivisão em cubículos escuros, com escadas assobiadas, sem corrimão, que aparecem quase rentes à porta de entrada. Poucas habitações tinham chaminé, escoando o fumo pelos telhados sem forro.

O beiral saliente (ver figura 17), coberto de madeira, com embarrotamento recortado, caracterizam também este tipo de habitação, protegendo as fachadas em tabique.

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Figura 17: Beiral das Casas.

Por sua vez, as portas e as janelas das varandas, de duas folhas, têm caixilhos de vidraça

fixos, do lado exterior, fixos ou móveis, consoante, com janela em cima, independentemente, para abrir por dentro (ver figura 18). Eram baixas e estreitas, tendo sobretudo, o que as distinguia uma das outras, as molduras de madeira, com entalhamentos criados à feição dos enfeites populares, e grossos remates de cornijas com filas de cachorrada, sacadas com balaústres de madeira torneados e tectos de masseira nas dependências do primeiro andar, e rebicados frisos de saliência.

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Figura 18: Portas e janelas.

Habitações de fachadas lisas, existe um conjunto na Praça de S. Tiago, em convivência

com habitações de andares em ressalto. Os andares assentam num rés-do-chão de pedra e dois sobrados de taipal de rodízio. Também nas ruas de Val-de-Donas, Egas Moniz e Santa Maria se encontram habitações com esta fisionomia.

As casas alpendradas (ver figura 19), tiveram uma acentuada construção no século XVII, localizadas em especial em locais de movimentação ou comércio por forma a assegurar refúgio. Contornaram todo o Largo da Oliveira. O Toural, nos seus lados oeste e sul, era igualmente assistido por este tipo de tipologia.

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Figura 19: Casa Alpendrada. Largo da Oliveira.

Em todo o país se notou a partir do século XVI uma consequente normalização do lote, como se nota na rua das Flores na cidade do Porto, que é dito ter sido iniciada em 1521, e em cujas parcelas tinham todas uma frente “igualitária de três braças craveiras”, ou seja de seis metros e sessenta. Nota-se contudo que em Guimarães apenas se tratou de uma tendência, pois a existência de casas seiscentistas de três pisos ou de um piso apenas, com frentes também elas muito variáveis, e de um modo geral mais estreitas que no Porto. Esta situação é verificada sobretudo nas ruas mais antigas da cidade, onde as dimensões do lote se mantiveram aquando da substituição das habitações medievais por outras dos séculos XVII e XVIII, mantendo por isso uma planta estreita e profunda, em comparação com a edição actual.

Não é notado em Guimarães a existência de tipologias diferenciadas de habitação comum

localizadas cronologicamente na primeira metade do século XVIII. Assiste-se sim a uma continuidade das tipologias seiscentistas. “Dada a inexistência de estudos específicos sobre a habitação urbana destes períodos, torna-se difícil a sua individualização e caracterização, podendo constatar-se contudo que as grandes alterações ocorreram já na segunda metade do século”. De facto, e segundo Alberto Vieira Braga, um tipo uniforme de casas, de certa distinção expressiva, começou a notar-se nos fins do século XVIII. Nesta altura assistiu-se a uma associação de elementos funcionais do comércio com a utilidade e comodidade da habitação superior, nos mesmos prédios. Assim, nos sítios mais centrais e desafogados, onde foi cortada a sequência das muralhas, ou seja em Santo António, mas especialmente em S. Francisco e no Toural, surgiram duas correntes de casas, de diferentes e distintas fisionomias, mas com linhas “bem classificadas”, “bem concebidas”, de “plenitude clássica” (ver figura 20 ). Casas bem relacionadas, simétricas, elegantes, de “brio pombalino” e de sólida construção.

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a) Rua de Sto. António

b) Largo do Toural

Figura 20: Rua de Sto. António. Largo do Toural. Para além deste núcleo foram erguidas em Guimarães outras casas nobres urbanas como é

o caso da casa Lobos Machados, cuja fachada foi mandada construir em 1754 (ver figura 21). Esta e as restantes casas mandadas construir na altura apresentam, no tratamento dos seus alçados, uma decoração rococó. Nota-se que ao contrário dos seus antecessores, estas habitações procuravam enquadrar-se na malha urbana. Encontram-se situadas em ruas de grande movimento, mesmo no interior da vila, respeitando as frentes em que se inseriam, embora utilizassem, em alguns casos, como a casa Lobos Machados, lotes de maiores dimensões do que as vizinhas habitações burguesas. São casas com pedras de armas e pórticos precedidos de escadarias, como na casa do Proposto, ou com portões. Por toda a cidade, e extra-muros ocorreram a elaboração de diversas criações urbanas por todas as encostas que rodeiam a cidade, com significados diferentes dos que rodeiam as mesmas habitações intra-muros.

FFigura 21: Casa Lobos Machados. Rua da Rainha.

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Outro tipo de casas nobres que surgiram ainda nesta época em Guimarães, de características urbanas e grandes dimensões, desenvolvimento horizontal e ausência quase completa de decoração rococó.

Pode, no entanto, afirmar-se com relativa certeza que os material construtivo utilizado neste período foi pedra assistindo-se a uma gradual substituição da taipa nas fachadas. As padieiras arqueadas dos vãos fazem a sua aparição neste período, assistindo também a uma estabilização da tendência para a regularização da altura, precedente do século XVII, em loja térrea e nos dois pisos habitacionais, na grande maioria dos prédios urbanos. A ausência da cornija em muitos destes prédios, assentando a cobertura directamente sobre o topo das fachadas, avançando sobre a rua beirais largos, suportados por barrotamento decorado de madeira, é também uma característica do núcleo habitacional deste período (ver figura 18).

Como foi normal em todas as cidades e vilas onde a muralha existia, também em

Guimarães se assistiu a um processo de demolição ou aglomeração da muralha para construção, como aliás já fora referido anteriormente. Da muralha do centro histórico de Guimarães pouco restou, coexistindo pequenos pedaços aqui e ali, onde não foi possível de demolir, e outras partes foram absorvidas, compondo a parede de uma casa ou muro de separação. A muralha é um belo exemplo de parede em alvenaria, construída com material de boa qualidade, e sujeita a regulares limpezas e conservações, na altura em que era instrumento indispensável na estratégia militar. Este processo prolongou-se até meados do século XIX e a sua consequência imediata, para além da já referida frente do Toural, foi a criação de novos conjuntos urbanos, a partir do século XIX. Este surgimento é sobretudo visível na rua Santo António. Nestes núcleos urbanos podemos notar uma normalização no tamanho dos lotes, na altura dos alçados e denota uma ausência de sacadas salientes e uma individualização de cada casa ao gosto do seu proprietário e um toque neo-clássico (ver figura 20 a) ).

O processo de normalização iniciado em meados do século XVII com as casas nobres chega ao seu fim com o Liberalismo e Romantismo que promoverão o aparecimento de novas tipologias completamente indiferenciadas, onde a casa nobre e a burguesa deixou de ter razão de existir, perdendo-se assim esta tipologia.

Novas tipologias habitacionais erigiram por toda a cidade a partir dos meados do século XIX. Cumulativamente foram construídos novos equipamentos ligados á administração, ao ensino e ao abastecimento, muito em especial nas novas artérias criadas em consequência do plano de urbanização iniciado em 1863, iniciado com a renovação da zona do Toural. As novas tipologias presentes podem dividir-se em duas, uma designada de moradia burguesa, a qual era ladeada por um jardim de dimensão variável, e a segunda denominada de prédio de rendimento, de origem setecentista. Este tipo de tipologias é visível fora das muralhas.

Pode então concluir-se que Guimarães assistiu a um passar de história, de evolução de

gostos, necessidades, mantendo contudo um traço de todas as épocas que por ela passaram, numa identidade muito própria que a leva a ser uma das mais significantes das cidades medievais. Por certo que não são encontrados nela edifícios inalterados, pois a sua existência no tempo é de tal forma grande que seria impossível manter as primeiras características, face á evolução das capacidades técnicas e as necessidades crescentes da população e do Homem.

Pode no entanto notar-se a existência constante de uma habitação mais comum constituída por um piso térreo em alvenaria e a existência de dois, por vezes três pisos de tabique e taipal de rodízio. As frentes das habitações são estreitas e no intra-muros algo iguais, não se notando o mesmo no extra muros, em especial na zona urbana da parte sul.

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2.3 Conclusões Da análise anterior podem tirar-se algumas conclusões : O intra-muros era um espaço limitado irregularmente ocupado, por isso, as casas

localizadas no seu interior apresentam formas diversas, resultantes da sua tentativa de se adaptarem, da melhor maneira, às disponibilidades de terreno. Nas artérias mais concorridas, onde todos queriam viver, o espaço faltava, tornando as casa mais exíguas e fazendo da construção de novos edifícios uma raridade, geralmente só possível à custa de demolições. Os prédios eram assim obrigados a crescer em altura, podendo ter um andar ou até mais.

Mas, como o crescimento em altura tinha, como é óbvio, limites, foi necessário recorrer a um outro estratagema: a expansão do prédio no sentido oposto ao da sua fachada, originando uma casa estreita e comprida. Podiam ser quatro ou até cinco vezes mais comprida do que largas, que chegavam a estender-se de uma rua a outra e a ter até serventia para ambas as artérias. As traseiras, por seu lado, podiam ainda ser aproveitadas para a construção de uma casa, mais pequena e sem saída directa para a rua, o que permitia aumentar as possibilidades de alojamento.

Mas, se o espaço abundava, as soluções empregues na construção de moradias tinham de ser forçosamente outras. As fachadas alargavam-se, rasgavam-se mais aberturas para o exterior e toda a habitação podia ser mais ampla. Os logradouros disponíveis nas traseiras podiam atingir dimensões mais avantajadas, contudo quase sempre se reduziam a simples retalhos de terreno de diminuta superfície.

A casa também servia para distinguir os homens. Assim acontecia quando na sua construção se utilizavam maiores quantidades de materiais caros e de melhor qualidade, como a pedra e a telha. Ou quando as fachadas ganhavam individualidade com a adição de pormenores decorativos, como uma escada, um alpendre ou um pórtico. Às vezes, essas casas tinham adossada uma torre que a aproximava, morfologicamente, do tipo de habitação utilizada pelos privilegiados, ou seja, do paço. A distintas fachadas tinham de corresponder, necessariamente, interiores também eles diferentes. Nas casas de melhor qualidade, os compartimentos eram mais numerosos e tendiam a adquirir alguma da especialização que hoje é familiar a qualquer citadino, a qual, como é sabido, passa pela atribuição de um destino específico a cada aposento. Assim, os andares superiores, propícios ao recolhimento, reservavam-se para os quartos, enquanto o andar térreo podia albergar as áreas da casa mais abertas ao exterior, à sociabilidade. Uma diversidade que, todavia, não se encontrava com muita frequência.

Com efeito, o tipo mais vulgarizado de habitação medieval caracterizava-se por uma estrutura simples, pouco especializada e sem particularidades arquitectónicas exteriores. Formava-a uma casa dianteira, que na maior parte das vezes servia de oficina ou local de venda e um compartimento traseiro, onde a família se recolhia e tomava as suas refeições. Os mais ditosos podiam ainda contar com o primeiro andar que permitia acrescentar à casa uma ou duas divisões. A individualidade desses edifícios assentava por isso, muito mais, na identidade de quem a habitava e sobretudo nas actividades artesanais e comerciais que aí tinham lugar, as quais, devido à escassez de aberturas e à consequente insuficiência de luz, tinham lugar, na maior parte dos casos, na soleira da porta ou em poiais e tabuleiros amovíveis, que se recolhiam quando a jornada de trabalho chegava ao fim.

As fachadas erguem-se lisas e rebocadas com cores ou branco, destacando assim motivos decorativos como molduras, cornijas, nichos, entablamentos e cachorros. Reúnem um conjunto de

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janelas e vãos simétricos, varandas que podem acompanhar toda a fachada ou serem individuais, em pedra ou em madeira, mas sempre estreitas, as de pedra mais que as de madeira. As guardas são em ferro ou em madeira, existindo em alguns casos diferenças entre o piso superior e os restantes. No rés-do-chão observa-se a uma ou duas portas, uma para a loja e outra para residência, a primeira maior que a segunda, e quase inexistência de janelas. Estas são envidraçadas, de duas folhas, verificando-se a existência de vestígios de sistemas anteriores. As “portadas de varanda são de duas folhas, com caixilho de vidraça fixo, pregado pelo exterior da portada e, por trás dele e do seu tamanho, postigos móveis que se podem abrir sem que ser preciso abrir as portadas nem as vidraças para iluminar a sala”(4). Gelosias neste tipo de aberturas também se encontram em algumas habitações. (Ver figura 22)

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Figura 22: Janelas e fachadas comuns no centro histórico. Na cidade de Guimarães, muitas das ruas andaram ligadas à história familiar dos ofícios e

do próprio sentimento dos moradores, na forma dos arruamentos da Idade Média. O mesmo não se pode afirmar com o núcleo habitacional, que não fica imutável na sua

estilização primitiva, nos limites expostos e intrínsecos, quer seja de pedra ou tabique, porque os tempos de duração brigam com o interior, com a precariedade dos materiais, e ainda porque a insatisfação e as necessidades obrigam a reformas e manutenções para descondensar os refúgios de utilidade limitada, levando a um melhoramento das comodidades.

Assim, todos os tempos introduziram as suas modificações, porque o evoluir, vai intensificar e amadurecer as utilizações, as conveniências e as interpretações individuais, modificando o que é velho, com arrebiques e novidades coloridas, ou inserindo em cada prédio um andar desconcertante, ou rasgando janelas num cariz de pouco reboco, ou abre no rés-do-chão a “bocarra” larga para um celeiro, uma adega, uma tasca ou uma garagem. Da mesma forma na reabilitação, por razões externas que podiam ser fogo, inundações, que frequentemente ocorriam, sobrepunham-se as deturpações, pelo que é muito raro notar-se com uma linha exacta que nos dê a imagem do que teria sido a estrutura nascente de todo um conjunto arquitectónico de casas.

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(4) Guimarães Cidade Património Mundial Um Objectivo Estratégico, Gabinete Municipal de

Guimarães, Gabinete Técnico Local,1980.

3. Tipologia do Edifício Tipo

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3. Tipologia do Edifício Tipo Os estilos habitacionais que caracterizam o centro histórico de Guimarães, traduzem formas

diferentes de construir, assim como diferentes formas de aplicar os materiais. Contudo, uma aproximação entre os mesmos é verificada.

Para uma caracterização da tipologia do edifício tipo do Centro Histórico de Guimarães pouca informação se encontra disponível para que esta seja devidamente completa. Contudo, por observação, por documentos escritos ou por instrução de quem com o centro histórico trabalha diariamente, é possível a tentativa de definir tal topologia.

Do antigo existente pode dizer-se que entre 1250 e 1389, o “panorama decorrente das

memórias entre arquivos permite afirmar que o material mais utilizado nas casa de morada era, sem dúvida, a madeira”(3). O facto de Guimarães de inserir numa sub-região granítica não permite extrapolar a transposição dos recursos geológicos ou, pelo menos, estabelecer uma relação linear, entre materiais existentes e a prevalência dos mesmos. “Por certo, ao tempo, seria o castanho uma das espécies mais utilizadas, não podendo atestar-se, via arquivística, o uso do pinho”(3). Como a duração destes materiais é tanto menor, quanto maior é a humidade do solo (caso do norte em geral, e a sub-região de Guimarães, em particular) era necessário proteger os referidos materiais, afastando-os do chão, fazendo beirados salientes e, sempre que possível pintando as fachadas, ou revestindo-as de argamassa. Daí advirá uma das razões da utilização de pedra no rés-do-chão e taipal de rodízio nos superiores. Outra razão estará relacionada com o facto de se tratar de uma técnica com materiais mais leves e baratos.

As varandas de madeira, mais compridas que as de pedra, como é natural, são bem visíveis

numa série de construções da Praça de S. Tiago, entre outros locais. Quanto à pedra, percepciona-se que a pedra apenas se utilizava para os alicerces e outros

pontos de suporte, e mais não. A pedra, a par com a madeira, era reservada para construções militares, religiosas e civis de atestado prestígio.

A omnipresença da taipa, ripa, tabuado (determinada porção de tábuas, para benfeitorias dos prédios, e pregadura) no sentido do recurso a várias espécies de pregos, é um facto nas edificações correntes. A arquitectura em madeira requer qualidades e acumula progressos, com o inconveniente se não deixar senão poucos vestígios da sua existência.

Por fim a perecidade da construção corrente só pode explicar-se pela conjugação de vários factores em que, em primeiro plano, se devem incluir os materiais frágeis, sujeitos a rápida deterioração, como o eram a taipa, o adobe e o fraco recurso da pedra, em simbiose com o clima.

Fernando Távora, com base nos exemplos mais antigos que se mantêm no centro histórico seiscentista, fala de casas assentes em “envasamentos de granito , que tomam a altura do pé direito do rés-do-chão, onde se erguem as paredes de taipa rebocada, e onde simetricamente se deixam as aberturas indispensáveis”.

Assim confirma-se a evolução da utilização da pedra na construção habitacional corrente. A

(3) Guimarães: Duas Vilas, Um Só Povo. Estudo da História Urbana (1250-1389). Volume 3, Maria

da Conceição Falcão, Biblioteca Geral da Universidade do Minho.

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pedra não foi nunca excluída entre suportes básicos da construção, ou sempre que as soluções arquitectónicas o exigissem, como refere Fernando Távora. Trata-se de um material caro, sujeito às dificuldades de transporte e pressupondo artífices especializados, interferindo tudo isto no custo.

Desconhece-se, para a Idade Média portuguesa, disposições normativas que tornassem obrigatório o recurso a materiais menos inflamáveis, e obrigasse, por exemplo, à limitação da madeira nas paredes contíguas; desconhece-se de igual modo se existiriam normas que limitassem a prática comum dos prédios adossados uns aos outros, sem prever determinado espaço entre cada um, quer por questões de serventia, quer para minimizar a propagação do fogo. Estas questões eram postas em algumas zonas da Europa.

As restrições à utilização da madeira, no século XIX, parecem limitar-se à exigência do habitante do andar superior da casa, não poder acender fogo sem uma lareira de pedra e precaver todo o prejuízo do inferior.

A presença do ferro em certos elementos de construção, como chaves e ferragens em

geral, para portas e janelas, é comum. Tudo o que foi possível apurar é que a maior parte das habitações era de um sobrado_ piso

térreo e loja ou sótão, para armazenamento, oficina, criação de animais, entre outros fins que fossem convenientes. A tendência foi de, aos poucos, para erguer um novo sobrado, sobretudo nos espaços mais disputados.

O máximo de crescimento em altura não ultrapassa, até finais de Trezentos, o nosso conceito de casa com rés-do-chão, e dois pisos.

No século seguinte a média passou a oscilar entre um ou dois sobrados, e as casas terreiras a coexistirem nas ruas e vielas mais pobres.

Na sua maioria, exceptuando os casos de ruas quase adossadas aos muros, era comum que qualquer habitação tivesse o seu terreiro, tudo indicando que se repetiria o que se pode concluir para o século XV: um rácio comprimento largura comprometida pela comprimento dos espaços habitacionais, quando confrontados com a dimensão da fachada, tomando a feição de corredor estreito, e a exigir soluções técnicas por certo difíceis, como seria o da construção de escadas interiores. De ter em conta que esta conhecida discrepância entre a largura e o comprimento se deve relacionar com as partes em que se repartia a casa: um espaço de habitação, propriamente dito, e os currais, hortas e exidos, a prolongarem-se em comprimento.

As janelas, elemento comum das construções tal como as portas, ficam documentadas, por via de regra, quando há questões decorrentes da colocação das mesmas, pois poderia ser factor de devassa do espaço contíguo.

A exemplo do cenário dos centros urbanos de então, o uso de balcões e passadiços, lançados entre as casas fronteiras entre si, ou contra o muro, eram uma realidade em Guimarães.

Quanto aos repartimentos das habitações, uma ausência quase total de informação, quer para a funcionalidade dos espaços, quer para os traços arquitectónicos, soluções e recursos.

Pode-se deduzir que as janelas eram feitas com portas de madeira e, bem mais tarde, haveria de permanecer o predomínio da madeira, sendo o vidro usado em pequenas superfícies, às vezes, apenas um óculo num dos cantos de uma das portadas.

O uso de telha era vulgar, ainda que nem todas as casas fossem telhadas, sendo

obrigatório esta solução no século XVII. O telhado de uma água diz-se ter sido predominante, passando posteriormente a verificar-se telhados de duas águas, e muito raramente três ou quatro águas.

De chaminés não ficou registo, mas fica a certeza de que os fumos se escoariam por qualquer abertura.

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Sabendo pouco sobre o modo de repartição das casas, a compartimentação tinha de ser simples, talvez dois repartimentos ou três, no máximo, nas habitações correntes.

De tudo isto foi ficando no centro histórico a casa tipo de habitação corrente,

maioritariamente seiscentista, que ao correr o mesmo se observa na sua quase totalidade. Na tentativa de identificar o edifício tipo, na sua constituição, forma, construção e materiais se define o escrito em seguida.

Inserindo-se as habitações em parcelas que ronda os sete metros de frente por quinze

metros de comprido, estas assumem o tipo de casa longitudinal. Um rés-do-chão mais dois andares, com existência em alguns casos de um pequeno logradouro, traduz a tipologia da casa habitacional corrente no Centro Histórico de Guimarães (ver figura 23).

cc

ca

c

a

b

cd

d

d

Figura 23: Tipologia Tipo. Processos de Construção: a - alvenaria de pedra, b - taipal de rodízio, c- tabique, d - soalho.

Construtivamente, estas habitações assumem paredes resistentes de alvenaria de pedra de

granito, reservando-se para o primeiro e para o segundo andar o processo de construção de Taipal de Rodízio. Material mais leve e mais barato que também é mais perecível. As paredes divisórias não resistentes são de tabique de madeira revestida.

O taipal de rodízio assume para constituição uma argamassa pobre, tijolo e madeira, no tabique assiste-se um cruzamento de madeira a 60º.

As paredes exteriores são rebocadas com argamassas e pintadas, isto nas paredes dos andares, não se verificando o mesmo no piso do rés-do-chão. Este anteriormente caiado, apresenta-se agora limpo, com a pedra que o compões à vista. O tempo e os gostos levaram a que

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se considerasse a pedra visíveis. As paredes resistentes são constituídas por pedra granito, com juntas de argamassa pobre, com variedade de dimensão e forma da pedra que a constitui. De facto, a pedra era utilizada unicamente para resistir e não para efeito estético Tal como se admite habitualmente. Estas paredes eram normalmente revestidas com reboco ou pintadas, transformando-se nos nossos dias em pedra à vista.

Note-se que as paredes divisórias entre habitações contíguas são de pedra_ parede resistente, pois, como é comum ainda nos nossos dias em todo o Norte do país, existia a cultura de ter o que é seu, isto é, nas habitações do centro histórico cada casa tem as suas paredes.

Os pavimentos são de madeira, com vigas de secção normalmente rectangular, observando-se que as que assumem secções mais perfeitas são de uso mais recente, sendo a madeira mais usada o pinho. Para revestimento destes pavimentos o soalho é o utilizado e para revestir o tecto é vulgar o forro de madeira, quando existente.

Relativamente às escadas das habitações são totalmente em madeira, isto é, a sua estrutura e revestimento dos degraus são de madeira, com uma acentuada inclinação e de um único lanço. Tal dever-se-á ao facto de as escadas se localizarem normalmente no meio da habitação, sempre na paralela à fachada, pelo que leva pouco espaço para o seu desenvolvimento.

A nível de coberturas, são de estrutura em madeira com asnas, madres, varas e ripas, existindo forro interior na quase totalidade das habitações. O revestimento é de telha canudo ou telha de Marselha. São normalmente de duas águas, podendo verificar-se pontualmente casos de quatro águas.

Nas fundações verifica-se que são no geral criadas por o prolongamento das paredes, umas vezes alargada área da base outras não, dependendo do tipo de terreno de fundação. A alvenaria utilizada nas fundações é normalmente de um tipo mais pobre que as da fachada. Normalmente as fundações não são muito profundas, não se conhecendo fundações constituídas por arcarias de alvenaria.

Sendo habitações de rés-do-chão mais dois pisos, tradicionalmente o uso do rés-do-chão

destinava-se a uma área comercial, armazém ou oficina aberto ao público e à sociabilidade (ver figura 24). Também no rés-do-chão de se começaram a localizar mais tarde as instalações sanitárias, por as exigências que estas exigem no tratamento a dar aos resíduos. Ao primeiro piso atribuía-se a zona de dormir, existindo possivelmente um quarto de casal e mais um ou dois para acomodação dos restantes, muitas vezes de alcovas (ver figura 25). No piso superior normalmente localizava-se a cozinha (ver figura 26). Não existindo chaminés, a ventilação tinha de ser feita, pelo que era o telhado o responsável por ela, mas também aqui se localizava por causa dos incêndios.

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Figura 24: Planta do Rés-do-Chão: a - zona de comércio, b - sanitários, L - logradouro.

Figura 25: Planta 1º Andar : c - zona de dormir.

Figura 26: Planta 2º Andar: d - cozinha.

As fachadas erguem-se lisas e rebocadas com cores ou branco, destacando assim motivos

decorativos como molduras, cornijas, nichos, entablamentos e cachorros. Reúnem um conjunto de janelas e vãos simétricos, varandas que podem acompanhar toda a fachada ou serem individuais, em pedra ou em madeira, mas sempre estreitas, as de pedra mais que as de madeira, e abertas. As guardas são em ferro ou em madeira, existindo em alguns casos diferenças entre o piso superior e os restantes. No rés-do-chão observa-se a uma ou duas portas, uma para a loja e outra para residência, a primeira maior que a segunda, e quase inexistência de janelas. Estas são envidraçadas, de duas folhas, verificando-se a existência de vestígios de sistemas anteriores. As “portadas de varanda são de duas folhas, com caixilho de vidraça fixo, pregado pelo exterior da portada e, por trás dele e do seu tamanho, postigos móveis que se podem abrir sem que ser preciso abrir as portadas nem as vidraças para iluminar a sala”(4). Postigo ou gelosia neste tipo de aberturas também se encontram em algumas habitações. A luminosidade do piso do rés-do-chão é precária, não o sendo no entanto nos pisos superiores, assistindo-se mesmo a uma boa luminosidade. Janelas de grandes rasgos que deixam entrar a luz natural, verificando-se a não necessidade de luminosidade artificial. As escadas são iluminadas por clarabóias ou trapeiras.

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Os telhados são na generalidade de duas águas, com o sótão aproveitado, com empenas para os dois lados. (4) Guimarães Cidade Património Mundial Um Objectivo Estratégico, Gabinete Municipal de Guimarães, Gabinete Técnico Local, 1980.

4. Patologias

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4.1. Patologias do Centro Histórico de Guimarães

É do conhecimento geral a ocorrência de patologias e anomalias em edifícios, quer se trate de edifícios velhos ou novos no tempo. Os centros históricos, são na maior parte das vezes, o mais dramático dos casos, quer por não manutenção dos edifícios, quer mesmo por abandono destes. No decorrer dos anos, têm-se, contudo, vindo a estabelecer programas para recuperação dos edifícios, em centros históricos e outros, por forma a melhorar o espaço habitacional.

As patologias que frequentemente são visíveis decorrem dos mais diversos factores, tendo nos materiais utilizados, na aplicação destes, nas técnicas de construção, bem como na implementação de novas técnicas, que não se adaptam a edifícios antigos, como os que vêm sido apresentados, a base da ocorrência de patologias

No Centro Histórico de Guimarães, tendo ele vindo a ser alvo de recuperação, assiste assim mesmo a patologias e a degradação, por vezes intensa, de alguns edifícios. Da visita e análise ao referido centro resultou o reconhecimento de algumas delas, a nível exterior das fachadas, podendo então dizer-se, de uma maneira geral, que a Humidade é a principal causa das patologias, tendo que em alguns edifícios de intervenção mais recente seja a má aplicação de materiais e soluções técnicas, que não funcionam em conjunto com o edifício, a causa provável da ocorrência das mesmas.

Assim sendo, as patologias presentes na referida zona histórica relacionadas com a Humidade têm como fonte principal a chuva. A Humidade, traduz-se na deterioração dos materiais tais como a madeira (ver figura 27), de uso frequente no referido centro, na deterioração dos rebocos (ver figura 28) , bem como das fachadas em taipal de rodízio, levando, em alguns casos, a uma deterioração profunda (ver figura 30).

Figura 27: Exemplo de deterioração da madeira.

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Figura 28: Deterioração do reboco. Outra forma de patologia derivada da Húmidade encontrada na zona histórica é a

colonização biológica, localizada essencialmente em fachadas de alvenaria de pedra, mas não unicamente,e nas zonas mais próximas ao tubo de queda (ver figura 29).

Figura 29: Exemplos de Colonização

Biológica.

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Figura 30: Exemplo de deterioração dos materiais, localizado.

A deterioração dos materiais que constituem as fachadas dos edifícios construídos em taipal de rodízio acontece por causa da humidade, mas também por falta de conservação, associada à primeira, originando uma deterioração profunda nas fachadas de alguns dos mesmos edifícios (ver figura 31). O apodrecimento dos materiais é notório, revelando a estrutura e os mesmos materiais que constituem o processo de construção

Figura 31: Deterioração da fachada.

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Os problemas de Humidade traduzem-se também no “descascar” das tintas, para além da já referida deterioração dos materiais e proliferação biológica (ver figura 32).

Figura 32: Deterioração do reboco.

Em casas com reboco hidráulico as fissuras na fachada da mesma traduz um problema que

é frequente no Centro Histórico de Guimarães (ver figura 33). O mau funcionamento do material face às movimentações do edifício estará na causa do problema.

Figura 33: Fissuras no reboco

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A Humidade e o clima em geral provoca outros tipos de deterioração e patologias. Neste

caso, uma fachada que se deteriorou devido ás diferenças de clima.

Figura 34: Outros tipos de deterioração. As patologias aqui apresentadas foram recolhidas por todo o Centro Histórico, contudo observa-se que na zona nascente do mesmo as edificações se encontram em melhor estado de conservação e com ligeiras patologias, quando existentes, ao contrário da zona poente do mesmo. A degradação habitacional ainda é visível no referido centro, contudo nota-se um esforço para que a recuperação aconteça e a conservação seja efectuada.

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4.2. Estudo Patológico de Rua Val-de-Donas, Gravador Molarinho

Identificadas as principais patologias que são frequentes no Centro Histórico de Guimarães, proferiu-se uma quantificação, na totalidade da zona que vem sido apresentada, mas nas ruas Val-de-Donas, Gravador Molarinho e na travessa do Largo João Franco para o Largo da Oliveira, assinaladas na figura 35.

Figura 37: Localização das ruas estudadas.

A zona de estudo assume basicamente duas tipologias diferentes. Contendo maioritariamente edifícios de rés-do-chão em alvenaria granito e dois pisos em taipal de rodízio, em convivência com a tipologia de rés-do-chão mais um ou dois andares em alvenaria de pedra granito, nota-se, em todos os edifícios, a existência de intervenções, mais ou menos profundas.

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A maioria dos edifícios apresenta patologias, 82% dos mesmos, coincidentes com as referidas no ponto 4.1. como sendo as de principal ocorrência no Centro Histórico de Guimarães: a) Colonização Biológica; b) Degradação de Madeiras; c) Fissuras no Reboco; e d) Outras Patologias, englobando degradação da tinta, degradação do reboco, degradação das juntas, estrutura à vista e humidade. As patologias foram identificadas e classificadas quanto à localização e quanto ao aspecto da patologia, isto é, se existe na generalidade do edifício ou apenas em algumas zonas, e se são patologias intensas ou ligeiras. Por uma patologia intensa admite-se ser aquela que seja grave. A quantificação e classificação das patologias a),b),c) e d) são assim apresentadas: a) Colonização Biológica Esta patologia foi identificada e classificada a em relação à localização na fachada do edifício em: dispersa eu localizada; e em relação à intensidade da patologia em: intensa, média ou ligeira. Do espaço habitacional reconhecido, 18% das habitações apresentam colonizações biológicas, em que 67% destas apresentam-na localizada e intensa, dividindo-se os restantes 33% das habitações por patologia localizada e ligeira, 11%, e dispersa de média intensidade, 22%. b) Degradação das Madeiras Classificando-se esta patologia observada em degradação do total das madeiras da fachada - elevada, média ou ligeira, e degradação parcial das madeiras da fachada, observou-se que 40% do total do edificado assiste a esta anomalia. Tendo que a degradação parcial não foi observada, a degradação do total das madeiras absorve assim os 40%. Das habitações identificadas com esta patologia, 35% assume uma degradação do total das madeiras elevada, 55% uma degradação do total das madeiras média e 10% uma degradação do total das madeiras ligeira. Note-se que identifica-se como degradação elevada a madeira que está totalmente degradada, degradação média a madeira que necessita de ser reposta mas que não está no seu limite último e degradação ligeira a madeira que apresenta já degradação mas no seu início. c) Fissuras no Reboco Do edificado total, 28% dos edifícios apresentam fissuras nas suas fachadas. Dividindo estas por existência de fissuras elevada, média e pouca, e ainda verificando se estas são profundas ou médias e superficiais,, observou-se então a seguinte divisão: fissuração elevada, 36% - 14% profundas, 22% médias e superficiais; fissuração média, 36% - 14% profundas, 22% médias e ligeiras; e pouca fissuração, 43% - 14% profundas, 29% médias e ligeiras. O valor de 28% de habitações com fissuras no reboco pode parecer ainda reduzido, porém se tivermos em conta que 1/3 das habitações são de alvenaria de pedra sem reboco, este valor pode ser mudado para 90%, ou seja, das habitações com reboco, 85% destas apresentam fissuras. d) Outras Patologias Como foi referido, outras patologias foram identificadas no espaço estudado observando-se que : 8% das habitações apresentam deterioração (“descascamento”) da tinta; 6% apresentam deterioração (“descascamento”) do reboco; 4% apresenta degradação das juntas; 4% apresenta estrutura à vista e 4% apresentam humidade.

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Tendo que algumas habitações apresentam mais que uma patologia, torna-se oportuno referir a avaliação global deste espaço habitacional, assumindo 5% das habitações uma degradação elevada, 25% uma degradação média, 45% uma degradação ligeira. As restantes 25% das habitações se encontram degradadas. Assim pode concluir-se que a zona habitacional que engloba as ruas e travessa estudadas se encontra num nível de degradação não grave, contudo a percentagem de habitações de degradação elevada e média é relativamente elevado.

5. Conclusão

Universidade do Minho Centro Histórico de Guimarães Conclusão

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Do estudo efectuado, as conclusões foram sendo apresentadas ao longo dos diversos capítulos, no entanto e de uma maneira geral pode assumir-se algumas conclusões que são assistidas em todo o Centro Histórico.

Como a maior parte dos Centros Históricos, o de Guimarães assiste a tipologias de diferentes épocas designando-se uma (tipologia rés-do-chão mais dois, conforme o apresentado no capitulo 3). Não constante no tempo, as mudanças efectuadas para restauro e conservação das mesmas, tentam assistir às exigências de quem as habita, como às exigências da tipologia inicial da habitação. Relativamente a patologias, pode concluir-se que como todos os centros urbanos e históricos, as patologias existem. Não podendo dizer-se tratar-se de um centro em degradação preocupante, exigindo uma resposta rápida, as patologias aparecem ainda em grande percentagem. Contudo, apenas uma parte, podendo dizer-se que pequena, das patologias assumem um papel mais prioritário. Centro de cariz medieval, em que o seu aglomerado habitacional está em crescente melhoramento, nota-se uma preocupação crescente no restauro e conservação do mesmo, por parte de incentivos da Câmara Municipal de Guimarães, mas também por parte de quem habita o referido centro. Deve referir-se que algumas das patologias mais frequentes no Centro Histórico são devidas `a Humidade e à aplicação de materiais, pelo que um estudo mais eficaz a este nível aquando do restauro e conservação dos edifícios deve ser tido em conta, evitando assim o aparecimento imediato de algumas patologias.

Anexo I: Planta de Localização da Zona de Estudo

Anexo II: RICUH Regulamento de Intervenção no Centro Urbano e Histórico

Universidade do Minho Centro Histórico de Guimarães Anexo II: Regulamento de Intervenção

no Centro Urbano e Histórico de Guimarães

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Intervenção No Centro Histórico de Guimarães O centro histórico de Guimarães vem sido alvo de restauro ao longo dos anos. As intervenções nele efectuadas são regulamentadas por regulamentos ou disposições que indicam o que se pode ou não efectuar, como de resto acontece com todas as edificações. O Centro Histórico de Guimarães assiste aos regulamentos de ordem nacional. Contudo, tendo o município achado insuficiente, foi criado um regulamento a aplicar na área do Centro Histórico e Urbano do mesmo. Este regulamento, datado de 1994, pretende indicar as possibilidades na realização de obras, qual o processo a seguir e quais as peças a introduzir num processo para intervenção nos edifícios que constituem o referido Centro Histórico e Urbano de Guimarães. Para além do regulamento RICUH (Regulamento de Intervenção no Centro Urbano e Histórico), existe, em Guimarães, um Gabinete responsável por uma área de intervenção que se denomina de Centro Histórico de Guimarães, assim como uma área á volta da mesma, cinquenta metros para fora dos limites da muralha.

Pode dizer-se que o RICUH é um regulamento exigente em termos de elementos

necessários para um licenciamento de intervenção. Contudo, face aos processos a que consegui ter acesso no IPPAR, tal não é confirmado, ou seja, não são encontrados nesses processos metade do que é exigido por referido regulamento. A conclusão obtida sobre esta discrepância é de que os processos englobam apenas parte do exigido conforme é considerado necessário inserir ou não o requerido pelo RICUH. O Regulamento que rege a Intervenção no Centro Urbano e Histórico de Guimarães data de 1994 e denomina-se de RICUH. Este regulamento abrange:

a) áreas comerciais, de publicidade, toldos e vitrines; b) o licenciamento de obras particulares; c) a questão de segurança contra incêndios; d) a definição funcional dos edifícios; e) as taxas, as licenças e as garantias a que ficam sujeitas; f) e por fim as sanções aplicáveis.

Nesta apresentação apenas é dado interesse a alguns pontos do RICUH, pois são os que mais se relacionam com o trabalho efectuado.

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1. Disposições Gerais

Nas intervenções plausíveis de efectuar são necessários os devidos licenciamentos pelo

que o RICUH define quais as que são ditas de licenciamento municipal e quais as que não assistem a tal obrigação.

Assim todas as obras realizadas no perímetro da área de intervenção do Gabinete Técnico Local carecem de licenciamento municipal, exceptuando-se:

a) as obras de conservação simples, em acordo com legislação em vigor, submetendo-se

contudo a apreciação da Câmara Municipal e do GTL; b) as obras que sejam de organismos de estado são também excluídas do processo de

licenciamento municipal, na medida em que respeite o que o regulamento traduz; c) jardinar o logradouros das habitações é outra das situações que não assiste ao

licenciamento referido.

Casos referentes a:

a) utilização dos edifícios, b) alteração das funções, c) alteração de actividade comercial, d) utilização de espaço público, e) instalação de publicidade, toldos e vitrines visíveis em espaço público f) e o mobiliário a utilizar nas esplanadas

são casos de licenciamento municipal. No caso de obras de ampliação ou alteração, a sua execução pode ser condicionada à execução simultânea de obras necessárias para adequar a totalidade do edifício às normas e regulamento em vigor. No caso de descoberta de elementos arquitectónicos notáveis e/ou arqueológicos, as licenças poderão ser suspendidas, dependendo posteriormente o andamento dos trabalhos do estudo e identificação dos elementos descobertos. Todos os edifícios terão de ter bem definidos para cada uma das suas partes autónomas a utilização a dar, bem referidas nos projectos e licenças de construção e utilização.

2. Áreas Comerciais, Publicidade, Toldos e Vitrines

2.1. Áreas Comerciais Neste ponto o RICUH refere que o carácter e expressão arquitectónica dos edifícios têm de ser mantidas quer se trate de obras para novo estabelecimento ou para remodelação do já existente. Deste facto surge que:

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a) apenas é admitida área comercial a nível do piso do rés-do-chão, b) é interdita a abertura de vãos em obras que alterem a tipologia da fachada do edifício c) e não é admitida a utilização de vidro directamente adossada ás paredes dos edifícios.

2.2. Publicidade

A publicidade exterior terá de obedecer a condicionantes de volume e iluminação por forma a não interferir a leitura da fachada em que se insere e da envolvente correspondente.

É assim proibida a publicidade comercial de:

a) painéis em edifícios, b) cartazes ou grandes inscrições nas coberturas, c) armação de ferro e néons em coberturas, d) publicidade saliente, nas grades, sacadas e cantarias, e) publicidade colocada perpendicularmente às fachadas.

Na colocação de publicidade não é admitido a utilização de dispositivos, formatos, cores ou materiais susceptíveis de confundir ou ocultar a toponímia, a iluminação e sinalização oficial, ou prejudicar árvores existentes.

2.3. Toldos A colocação de toldos só é admitida no rés-do-chão dos edifícios e nunca em elementos nobres das fachadas, mas sim em panos de paredes rebocados.

O tipo de toldo admitido é do tipo “direito” , de enrolar e sem abas laterais. Para além disso tem que :

a) a pala pendente, caso exista, não será superior a 0.15m de altura, b) o afastamento horizontal mínimo é de 0.60m, em relação ao extremo do passeio e só

nos casos de este ser superior a 1m de largura, c) a altura mínima da parte inferior da pala não será inferior a 2m.

O material constituinte do toldo será lona ou semelhante, não se admitindo toldos em material plástico. As cores admitidas são qualquer uma, com o parecer do GTL. A armação do toldo será em ferro. Não é admitida a colocação de publicidade no toldo. Apenas poderá ser colocada a identificação do estabelecimento nas palas pendentes, quando devidamente aprovadas pelo GTL.

2.4. Vitrines

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Relativamente a vitrines, não é permitida a abertura de vãos em todas as obras que alterem a tipologia da fachada do edifício. A utilização de vidro é admitida quando este não for adossado ás paredes do edifício.

3. Obras Particulares 3.1. Licenciamento de Obras Particulares 3.1.1. Pedido de Informação Prévia / Pedido de Viabilidade Nas obras particulares o GTL efectua informações prévias ou viabilidade de um

determinado objectivo. Sendo assim o interessado terá de efectuar um pedido entregando a seguinte documentação:

a) memória descritiva, esclarecendo devidamente e de forma inequívoca a pretensão; b) planta à escala 1/1000, indicando o local preciso onde se pretende executar a obra;

No caso de novas edificações ou de obras implicando o aumento de área construída é

ainda necessário apresentar com o anterior:

c) planta de implantação à escala 1/200, definindo o alinhamento e o perímetro dos edifícios;

d) cérceas e números de pisos acima e abaixo da cota de soleira; e) área de construção, volumetria dos edifícios propostos e a sua relação volumétrica

com a envolvente; f) o uso das edificações propostas e das imediatamente adjacentes.

3.1.2. Processo de Licenciamento Para licenciamento, o interessado terá de incluir para além do indicado na legislação em

vigor:

I. Documentação fotográfica; II. Memória descritiva e justificativa; III. Peças Gráficas.

I. Documentação fotográfica :

a) fotografias actuais em papel de cópia fotográfica, a cores, permitindo visualizar o local da obra e a sua relação com a envolvente e imóvel classificado;

b) tomadas de vista longínquas ou de cota superior, sempre que tal se verifique necessário para uma análise correcta da integração da proposta no ambiente existente.

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II. Memória Descritiva e Justificativa Esta memória descritiva e justificativa deverá conter:

a) leitura histórica e urbanística do local da obra, no caso de se tratar de um projecto de raiz, e uma análise arquitectónica do edifício e conjunto edificado;

b) caracterização do respectivo sistema construtivo e verificação de eventuais patologias;

c) descrição e justificação da proposta.

III. Peças Gráficas As peças gráficas que deverão ser apresentadas são:

a) planta de localização actualizada, com a indicação do local da obra, imóvel classificado e respectiva zona de protecção à escala 1/1000;

b) levantamento rigoroso do existente, contendo: b)1. à escala 1/50:

− plantas de todos os pisos, incluindo a de cobertura e área de logradouro;

− cortes; − alçado;

b)2. à escala 1/10 e 1/1: − pormenorização construtiva e acabamentos.

c) projecto de arquitectura

Este projecto integrará ainda:

c)1. à escala 1/50: − plantas de todos os pisos, incluindo o da cobertura; − cortes; − alçados.

c)2. à escala 1/10 e 1/1:

c)2.1. projecto de execução, permitindo a compreensão clara e a definição precisa do dimensionamento e da natureza das interligações dos diferentes materiais ou partes constituintes:

c)2.1.1. mapa de vãos à escala 1/10, indicando:

− tipologia de cada vão e respectivas quantidades; − modo de funcionamento; − natureza e características dos materiais e das ferragens,

bem como outras informações necessárias à execução; − mapa de acabamentos; − cortes verticais, à escala 1/10 demonstrando o sistema

construtivo adoptado;

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− pormenorização das caixilharias à escala 1/1; − pormenorização das varandas à escala 1/10 e 1/1; − pormenorização de chaminés e clarabóias à escala 1/10 e

1/1;

4. Materiais a Utilizar

4.1 Coberturas As coberturas serão de estrutura em madeira, não se admitindo lajes em betão. O número de planos de inclinação da cobertura não pode ser alterada. A estrutura será coberta de telha e não de outro material, sendo o tipo de telha a aplicar definido por os técnicos do GTL, consoante a data da edificação. No caso de existência de áreas planas nas coberturas, estas terão de ser revestidas a tijoleira de barro. O desenho tradicional dos beirais terá de ser mantida na íntegra. No caso de existência de remates em madeira, este terão que ser repostos de acordo com a traça original. Clarabóias e lanternins, quando existentes, deverá ser consultado o GTL para dar seu parecer. Nos tubos de queda apenas a chapa zincada, devidamente aparelhada e pintada é o material que é admitido. PVC é proibido no centro histórico de Guimarães. 4.2. Paredes As paredes exteriores terão que manter a traça e os materiais originais. No caso de ser necessário substituir, no todo ou em parte, algum pano de parede:

a) as paredes interiores deverão ser mantidas, sempre que possível. Tornando-se necessária a sua alteração, terá de ser apresentado o respectivo projecto de licenciamento;

b) existindo paredes em pedra, nas quais haja juntas a tomar, deverá utilizar-se uma argamassa pobre de 1/3 ou 1/4 ( 1 medida de cal hidráulica e 3 ou 4 medidas de areia)

c) as paredes, quer interiores quer exteriores, e sempre que rebocadas, terão de ser estanhadas e pintadas, não sendo permitidos outros tipos de acabamento.

4.3. Pavimentos Os pavimentos serão executados de harmonia com orientações técnicas do IPPAR. 4.4. Caixilharias As caixilharias deverão manter o seu desenho original, sendo proibida a utilização de caixilharias de alumínio e/ou PVC.

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no Centro Urbano e Histórico de Guimarães

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Gradeamento do tipo industrial, enroláveis ou não, em alumínio e/ou ferro não é permitido no Centro Histórico de Guimarães. Também o uso de estores, quer metálicos, quer metálicos, quer em PVC, não é permitido. O sistema de obscurecimento deverá ser conseguido através da utilização das tradicionais portadas de madeira. Quando se trate de um piso comercial, o desenho de caixilharias poderá ser alterado tendo, no entanto, que ser previamente apresentado o respectivo projecto de licenciamento. Neste caso poderão ser utilizados o ferro, o aço sem polimento, o latão oxidado e a madeira. Outros materiais são interditos. 4.5. Cantarias A pintura de cantarias não é permitida, assim como o uso do cimento ou betão a imitar a mesma. Na necessidade de “tomar” juntas existentes nas cantarias, terá que ser aplicada uma argamassa pobre de traço 1/3 ou 1/4 (1 medida de cal hidráulica e 3 ou 4 medidas de areia).

4.6. Soleiras e Parapeitos A aplicação de mármores e granito polido, em soleiras e parapeitos é proibida. A utilização de cimento à vista nas soleiras é interdita no centro histórico de Guimarães. 4.7. Tintas e Cores As tintas que se deverão utilizar são as tradicionais, isto é :

a) nos madeiramentos, guardas de varandas, caleiros, tubos de queda e caixilharias empregar-se-á tintas a óleo;

b) nos rebocos utilizar-se-á o alvaiade, com ou sem pigmentos. Os edifícios deverão subordinar-se à utilização de cores que mantenham o equilíbrio

cromático, assim:

a) nas paredes aplicar-se-á somente o branco, o branco-sujo e o ocre; b) nos madeiramentos e elementos de ferro aplicar-se-á o castanho escuro, o castanho

avermelhado, o vermelho “sangue-de-boi” e o verde “loureiro”; A pintura das edificações não pode ser executada sem que a CMG e o GTL aprove as cores

a empregar. 5. Segurança Contra Incêndios

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No caso de restruturação profunda dos edifícios, e dadas as condicionantes inerentes à

preservação do património, terão que ser criadas paredes interiores corta-fogo envolvendo todo o edifício. Na caixa de ar dupla assim formada terá que ser aplicado um material resistente ao fogo.

Bibliografia

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