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Escola de Enfermagem no Hospital São Pedro (1939/ 1952) O Presidente do Estado do Rio Grande do Sul, Antônio Augusto Borges de Medeiros, sancionou o Decreto n.º 3.550, de 29 de dezembro de 1925, aprovando o Regulamento do Hospital São Pedro. Foi assinado em conjunto com o Secretário de Estado dos Negócios do Interior e Exterior, o médico Protásio Antônio Alves, um dos fundadores e primeiro Diretor da Faculdade Livre de Medicina e Farmácia de Porto Alegre, em 1898. O Regulamento em seu Capítulo XIX, expresso em oito artigos, tratava da criação da Escola de Enfermeiros do Hospital São Pedro. O curso, de dois anos de duração, funcionaria nas dependências do noso- cômio. O aspirante à Escola deveria saber ler, escrever e ter uma con- duta ilibada. Durante a aprendizagem prática o aluno poderia atuar co- mo auxiliar de enfermagem, recebendo hospedagem, alimentação e uma gratificação financeira. A supervisão seria do diretor do hospital e as disciplinas desenvol- vidas no curso seriam organizadas em conjunto com os médicos da ins- tituição, com a obrigatoriedade de ministrarem, no mínimo, oito aulas mensais. As disciplinas do curso no "1.º anno - Noções práticas de Anatomi- a, Physiologia, Hygiene, Technica therapeutica (1.ª parte); 2.º anno - Noções praticas de Propedeutica clinica, Curativos e pequena cirurgia, Technica therapeutica (2.ª parte), inclusive dirtetica.". O certificado de conclusão seria entregue ao aluno após prestar exame perante uma comissão de médicos. O aluno habilitado seria a- proveitado conforme sua classificação. Os postulantes que não freqüen- taram o curso teriam que se submeter aos mesmos exames. Em caso de igual classificação, a vaga seria do funcionário do hospital. A Escola Profissional de Enfermagem do Hospital São Pedro foi concretizada no governo Cordeiro de Farias, através do Decreto n.º 7.782, de 02 de maio de 1939, quando o Diretor do Hospital São Pedro era o médico Jacintho Godoy.

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Escola de Enfermagem no Hospital São Pedro (1939/ 1952)

O Presidente do Estado do Rio Grande do Sul, Antônio Augusto Borges de Medeiros, sancionou o Decreto n.º 3.550, de 29 de dezembro de 1925, aprovando o Regulamento do Hospital São Pedro. Foi assinado em conjunto com o Secretário de Estado dos Negócios do Interior e Exterior, o médico Protásio Antônio Alves, um dos fundadores e primeiro Diretor da Faculdade Livre de Medicina e Farmácia de Porto Alegre, em 1898.

O Regulamento em seu Capítulo XIX, expresso em oito artigos, tratava da criação da Escola de Enfermeiros do Hospital São Pedro. O curso, de dois anos de duração, funcionaria nas dependências do noso-cômio. O aspirante à Escola deveria saber ler, escrever e ter uma con-duta ilibada. Durante a aprendizagem prática o aluno poderia atuar co-mo auxiliar de enfermagem, recebendo hospedagem, alimentação e uma gratificação financeira.

A supervisão seria do diretor do hospital e as disciplinas desenvol-vidas no curso seriam organizadas em conjunto com os médicos da ins-tituição, com a obrigatoriedade de ministrarem, no mínimo, oito aulas mensais.

As disciplinas do curso no "1.º anno - Noções práticas de Anatomi-a, Physiologia, Hygiene, Technica therapeutica (1.ª parte); 2.º anno - Noções praticas de Propedeutica clinica, Curativos e pequena cirurgia, Technica therapeutica (2.ª parte), inclusive dirtetica.".

O certificado de conclusão seria entregue ao aluno após prestar exame perante uma comissão de médicos. O aluno habilitado seria a-proveitado conforme sua classificação. Os postulantes que não freqüen-taram o curso teriam que se submeter aos mesmos exames. Em caso de igual classificação, a vaga seria do funcionário do hospital.

A Escola Profissional de Enfermagem do Hospital São Pedro foi concretizada no governo Cordeiro de Farias, através do Decreto n.º 7.782, de 02 de maio de 1939, quando o Diretor do Hospital São Pedro era o médico Jacintho Godoy.

Em 1938, no governo Cordeiro de Farias, uma reforma técnica possibilitou um conjunto de mudanças que vieram qualificar o quadro de pretendentes à Escola de Enfermagem. Um aumento de 50% nos salá-rios dos auxiliares do serviço técnico, criando uma hierarquia de classes, possibilitou uma concreta ascensão funcional. A escola, que se propunha aprimorar os enfermeiros do próprio Hospital São Pedro no tratamento de transtornos psiquiátricos, passou a ser procurada por candidatos qualificados intelectualmente.

O governo provisório do Brasil, nos primeiros anos de 1930, regu-larizou a profissão de enfermeiro e a condição dos práticos, leigos e das religiosas.

Em 1949, o governo federal regulamentou a criação de escolas de enfermagem com dois padrões de ensino: as escolas de baixo padrão, exigindo a instrução primária dos candidatos, e as escolas de alto pa-drão exigindo a instrução ginasial. A lei não previa uma enfermagem es-pecializada no tratamento mental.

A Escola funcionou por quatorze anos, com treze turmas, diplo-mando cento e noventa e um alunos, entre os quais vinte Irmãs da Congregação São José. Nos primeiros anos do curso, as Irmãs de São José estavam dispensadas do exame de seleção.

A relação dos primeiros vinte e quatro alunos aprovados (quinze homens e nove mulheres), dentre um total de trinta postulantes, regis-trava como primeiro classificado entre os homens, Roberto Moreira dos Santos, e entre as mulheres, Maria Felisbina Nunes.

Os eventos de colação de grau, quando então os formandos pres-tavam juramento sobre o livro “Maladies Mentales considerées sous les rapponts medical, hygienique et medico-legal” do alienista francês Jean Dominique Étienne Esquirol, eram noticiados pelos jornais da Capital gaúcha.

Prestigiavam as solenidades de formaturas (foto acima) as au-toridades do Governo do Estado e do Departamento Estadual de Saúde, bem como os representantes de entidades civis, entre os quais o presi-dente da Cruz Vermelha Brasileira.

A Escola de Enfermagem do São Pedro, ao exigir do candidato à especialização "certo grau de instrução elementar", não se ajustava ao que estipulava o Decreto federal de 1949, que estabelecia os dois tipos de ensino de enfermagem, sem encarar diretamente a questão do tra-tamento mental.

O médico Jacintho Godoy, diretor do Hospital, acreditava que tal exigência não era motivo para o fechamento da Escola de Enfermagem do São Pedro. Tinha por certo que "A melhor aprendizagem não é a que se faz nas lições teóricas (...) mas resulta do convívio diário de discípulo e mestre (...) à cabeceira do enfermo, nas salas de observação (...) que a enfermagem dos doentes mentais é recrutada entre indivíduos de do-

tes psicológicos e vocacionais prevalentes sobre o grau de instrução es-colar, propriamente dita".

A partir de 1952, o Departamento Estadual da Saúde não mais publicou o edital do concurso para a Escola de Enfermagem do Hospital São Pedro.

Regulamento do Hospital São Pedro - 1925 CAPITULO XIX Da Escola de Enfermeiros Artigo 70.° - O Hospital manterá uma Escola de Enfermeiros com o fim de prepara profissionaes. Artigo 71.° - Quem desejar frequentar a Escola de Enfermeiros, terá de prestar a titulo de aprendisagem pratica, serviços de ajudante de enfermeiro, mediante a compensação de mesa e cama. Quando esca-lados em serviço, e uma gratificação pro-labore. Artigo 72.° - Para esses logares podem concorrer individuos de boa conducta privada e publica que saibam ler e escrever. Artigo 73.° - O curso será de 2 annos, funccionará no Hospital sob a superintendencia do Director e constará das seguintes disciplinas: 1.° anno - Noções praticas da Anatomia e Physiologia, Hygiene, Technica therapéutica (1.ª parte); 2.° anno - Noções praticas de propedeutica cli-nica, Curativos de pequena cirurgia, Technica therapéutica (2.ª parte), inclusive dietetica. Artigo 74.° - O Director distribuirá entre os medicos e internos do Hospital as cadeiras do curso da Escola de Enfermeiros, organisando, de accordo com elles, programmas de aulas, de modo que sejam dadas num total minimo de 8 aulas por mez, em cada disciplina, exceptuado o periodo de férias. § único - Os medicos e internos do Hospital são obrigados a minis-trar o ensino na Escola de Enfermeiros. Artigo 75.° - Terminado o curso e, após exames procedidos peran-te a commissão de medicos que ministraram o ensino, recebe o alunno approvado um certificado que o habilita á promoção, quando se derem vagas, com a classificação e merecimento, ao posto effectivo de enfer-meiro. Artigo 76.° - Quando concorrer a uma vaga de enfermeiro qual-quer candidato que não haja frequentado a Escola de Enfermeiros do Hospital, terá submeter-se a provas de exame, das diversas disciplinas, como se fosse alunno matriculado.

Artigo 77.° - Se approvado, poderá obter logar de accordo com a classificação. Em igualdade de condições, dar-se-á preferencia para o que já trabalhar no Hospital. Registro fotográfico do momento de entrega do diploma para um for-mando de 1950, pelo Dr. Jandyr Maya Faillace, do Departamento Esta-dual de Saúde. Fotografia: GODOY, Jacintho. Psiquiatria no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Edição o Autor, 1955. Bibliografias: GODOY, Jacintho. Psiquiatria no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Edição o Autor, 1955. Regulamento do Hospital São Pedro do Rio Grande do Sul de 29 de de-zembro de 1925.

Edson Medeiros Cheuiche Historiador do Hospital Psiquiátrico São Pedro