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ao Congresso de Economis- tas “recentemente” reali- zado em Luanda, o qual tinha ocorrido em Setembro de 1955. Este documento faz parte dos muitos que Lúcio Lara foi reunindo desde Lisboa a Luanda, pas- sando pela Alemanha, Tuní- sia, Guiné-Conakry, Congo-Kinshasa e Congo- Brazzaville. Em 1997, quando o livro “Um amplo Movimento…” foi publicado por Lúcio e Ruth Lara, este documento original, que tinha sido emprestado para uma exposição do Museu Militar,não estava locali- zável, pelo que naquela pri- meira edição se fez recurso a uma das cópias dactilo- grafadas. Em 2009, na foto- biografia “Lúcio Lara -Tchiweka – 80 anos – Ima- gens de um percurso”, a ATD publicou, em fac-simile, a primeira e a última folha do documento manuscrito, entretanto novamente loca- lizado e devidamente arqui- vado. Cópias digitais desse original, a cores, estão dis- poníveis no Centro de Docu- mentação da ATD e no Centro de Documentação e Investigação Histórica do MPLA (cedido pela ATD). Características do docu- mento: O Ms-1 está escrito apenas pela mão de Viriato da Cruz, não tem título nem data e não contém qualquer adenda ou obser- vação. É composto por 17 páginas, estando a primeira e a última mais acastanha- das que as restantes. No canto superior esquerdo da primeira página podem ver- se marcas de ferrugem de dois clipes e uma parte ligei- ramente rasgada. No canto superior esquerdo da última página nota-se uma parte rasgada e outra queimada pela ferrugem dos clipes. Nas demais páginas, no mesmo canto superior esquerdo, a marca de fer- rugem é menos acentuada, como é normal. O documento está escrito a esferográfica, vindo a mudar a espessura e a cor da tinta mais ou menos a meio do texto. Inicialmente foi usada uma esferográfica de ponta grossa e tinta fluente azul, depois há uma falha e o texto restante é redigido com uma esfero- gráfica de ponta mais fina mas tinta mais escura. Esta nítida mudança de esfero- gráfica verifica-se na linha 12 da página 8, na frase “Um governo de ampla coalizão de todas as forças...”A tinta azul acaba nas palavras“ um governo de ampla”(que quase não se lê), surgindo o novo traço e cor com “coa- lizão de todas as forças”. 2 - SOBRE O MANIFESTO ARQUIVADO NA FUNDA- ÇÃO MÁRIO SOARES (Ms-2) O Manifesto pertencente ao espólio de Mário Pinto de Andrade (Ms-2) está arquivado na Fundação Mário Soares, em Lisboa, e pode ser consultado on- line (http://www.casaco- mum.org/cc/visulaizador? pasta=04357.005.001). Foi publicado a preto e branco na “História do MPLA” do Centro de Documentação e Investigação Histórica do CC do MPLA (Luanda, 2008, vol. I: 399-415) e a cores na biografia “Américo Boavida: Tempo e Memória (1923- 1968)”, de Fernando Correia (Luanda, 2009: 402-418). O Ms-2 é praticamente igual ao Ms-1, com a mesma caligrafia (de Viriato da Cruz), a mesma distribuição do texto, incluindo o corte e hifenização das palavras, com o mesmo número de páginas, com o mesmo con- teúdo, as mesmas palavras sublinhadas e as mesmas rasuradas. Ou seja, ambos foram escritos pela mesma pessoa na mesma altura. Quais são então as dife- renças deste manuscrito (Ms-2) em relação ao pri- meiro (Ms-1)? a) No canto superior esquerdo do Ms-2, as marcas dos clipes não coincidem com os do Ms-1 e são muito mais ligeiras, e nenhuma folha está rasgada; b) Não existe nenhuma alteração no traço e na cor do texto do Ms-2 ao longo das 17 páginas; c) Na linha 12 da página 8, enquanto no Ms-1 prati- Mais uma vez o documento habitualmente referido como “Manifesto do MPLA” surge relacionado com uma polémica historiográfica. Há mais de 20 anos, o his- toriador Carlos Pacheco pro- clamou que tal “famigerado Manifesto” não existia, sendo um “papel que nunca ninguém viu”. E se ele, o historiador que dizia já ter pesquisado “de ponta a ponta” o arquivo da PIDE no que toca ao MPLA, nunca o encontrara, então “não tinham a mínima credibi- lidade factual e histórica” os que lhe faziam referência e o relacionavam com a his- tória do MPLA (Carlos Pacheco, “MPLA – um nas- cimento polémico”, Lisboa, 1997: 33-34). Felizmente, há vários anos que são do domínio público, não um mais dois exemplares manuscritos do tal Manifesto, idênticos em quase tudo, como adiante se explica, mas não temos conhecimento que o citado historiador tenha assumido publicamente o seu erro de então. A 27 de Julho deste ano foi publicado no Jornal de Angola um extenso artigo da historiadora Rosa Cruz e Silva: “A formação do MPLA – Dezembro de 1956. “As verdades verdadeiras” de cada um dos protagonis- tas na luta de libertação nacional” que, entre outras coisas, também critica Carlos Pacheco por essa e outras atitudes.Porém, o modo como a historiadora se refere a um documento do espólio de Lúcio Lara à guarda da Associação Tchiweka de Documentação (ATD), exige um esclarecimento que não deixe dúvidas ao público em geral sobre a existência e características desse docu- mento, sem título, geral- mente conhecido como “Manifesto do MPLA”. Não é objectivo da ATD apresentar aqui argumen- tação sobre o surgimento do histórico Manifesto, a sua importância, interpre- tação ou uso, nem escrutinar os objectivos de quem nega ou deturpa o seu valor no processo da luta pela Inde- pendência de Angola, sendo essa tarefa dos estudiosos. Compete, porém, à ATD a divulgação do seu acervo referente à luta de libertação nacional e, neste caso con- creto, comprovar a existên- cia material do histórico documento e as suas carac- terísticas originais. É nesse sentido que vai o nosso esclarecimento. No artigo de Rosa Cruz e Silva é feita referência a dife- rentes cópias manuscritas e dactilografadas daquele Manifesto, incluindo alguma comparação entre dois manuscritos semelhantes reconhecidamente redigidos por Viriato da Cruz, perten- cendo um deles ao espólio de Lúcio Lara, arquivo da ATD (adiante designado por Ms- 1) e o outro ao espólio de Mário Pinto de Andrade,arquivo da Fundação Mário Soares (adiante designado por Ms- 2). E é nessa linha da com- paração que seguiremos. 1 -SOBRE O MANIFESTO EXISTENTE NA ATD (Ms-1) O Manifesto existente na ATD (Ms-1) é um documento manuscrito de 17 páginas, contendo uma larga e pro- funda análise da conjuntura angolana nos meados da década de 1950 e sobre a necessária luta anticolonial, apelando à formação e união das diferentes organizações nacionalistas num amplo MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA. A data de 1956 não consta mas deduz-se como prová- vel pela referência no texto 6 DESTAQUE Domingo 4 de Agosto de 2019 ESCLARECIMENTO DA ASSOCIAÇÃO TCHIWEKA DE DOCUMENTAÇÃO Não é objectivo da ATD apresentar aqui argumentação sobre o surgimento do histórico Manifesto, a sua importância, interpretação ou uso, nem escrutinar os objectivos de quem nega ou deturpa o seu valor no processo da luta pela Independência de Angola, sendo essa tarefa dos estudiosos Lúcio Lara Mário Pinto de Andrade Há cerca de uma semana, a historiadora Rosa Cruz e Silva assinou, neste diário, um texto para contrapor o conteúdo de “alguma produção historiográfica”, que, no seu entender, “vem fixando uma narrativa que nega categorica- mente a existência do MPLA a partir de 1956”. Entretanto, citada na matéria,a Associação Tchiweka usa o mesmo espaço para deixar uma nota de esclarecimento O Manifesto–original ou cópia?

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Page 1: ESCLARECIMENTO DA ASSOCIAÇÃO TCHIWEKA DE …imgs.sapo.pt/jornaldeangola/img/1320257197_suplemento.pdf · a um documento do espólio de Lúcio Lara à guarda da Associação Tchiweka

ao Congresso de Economis-tas “recentemente” reali-zado em Luanda, o qualtinha ocorrido em Setembrode 1955. Este documentofaz parte dos muitos queLúcio Lara foi reunindodesde Lisboa a Luanda, pas-sando pela Alemanha, Tuní-s i a , Gu i n é -Conak ry ,

Congo-Kinshasa e Congo-Brazzav i l l e . Em 1997 ,quando o livro “Um amploMovimento…” foi publicadopor Lúcio e Ruth Lara, estedocumento original, quetinha sido emprestado parauma exposição do MuseuMilitar,não estava locali-zável, pelo que naquela pri-

meira edição se fez recursoa uma das cópias dactilo-grafadas. Em 2009, na foto-b i og rafia “ Lúc i o La ra-Tchiweka – 80 anos – Ima-gens de um percurso”, a ATDpublicou, em fac-simile, aprimeira e a última folha dodocumento manuscrito,entretanto novamente loca-lizado e devidamente arqui-vado. Cópias digitais desseoriginal, a cores, estão dis-poníveis no Centro de Docu-mentação da ATD e noCentro de Documentação eInvestigação Histórica doMPLA (cedido pela ATD).

Características do docu-mento: O Ms-1 está escritoapenas pela mão de Viriatoda Cruz, não tem títulonem data e não contémqualquer adenda ou obser-vação. É composto por 17páginas, estando a primeirae a última mais acastanha-das que as restantes. No

canto superior esquerdo daprimeira página podem ver-se marcas de ferrugem dedois clipes e uma parte ligei-ramente rasgada. No cantosuperior esquerdo da últimapágina nota-se uma parterasgada e outra queimadapela ferrugem dos clipes.Nas demais páginas, nomesmo canto superioresquerdo, a marca de fer-rugem é menos acentuada,como é normal.

O documento está escritoa esferográfica, vindo amudar a espessura e a corda tinta mais ou menos ameio do texto. Inicialmentefoi usada uma esferográficade ponta grossa e t intafluente azul, depois há umafalha e o texto restante éredigido com uma esfero-gráfica de ponta mais finamas tinta mais escura. Estanítida mudança de esfero-gráfica verifica-se na linha12 da página 8, na frase “Umgoverno de ampla coalizãode todas as forças...”A tintaazul acaba nas palavras“um governo de ampla”(quequase não se lê), surgindoo novo traço e cor com “coa-lizão de todas as forças”.

2- SOBRE O MANIFESTOARQUIVADO NA FUNDA-

ÇÃO MÁRIO SOARES (Ms-2)O Manifesto pertencenteao espólio de Mário Pintode Andrade (Ms-2) estáarquivado na FundaçãoMário Soares, em Lisboa,e pode ser consultado on-line (http://www.casaco-mum.org/cc/visulaizador?pasta=04357.005.001). Foipublicado a preto e brancona “História do MPLA” doCentro de Documentaçãoe Investigação Histórica doCC do MPLA (Luanda, 2008,vol. I: 399-415) e a cores nabiografia “Américo Boavida:Tempo e Memória (1923-1968)”, de Fernando Correia(Luanda, 2009: 402-418).

O Ms-2 é praticamenteigual ao Ms-1, com a mesmacaligrafia (de Viriato daCruz), a mesma distribuiçãodo texto, incluindo o cortee hifenização das palavras,com o mesmo número depáginas, com o mesmo con-teúdo, as mesmas palavrassublinhadas e as mesmasrasuradas. Ou seja, ambosforam escritos pela mesmapessoa na mesma altura.

Quais são então as dife-renças deste manuscrito(Ms-2) em relação ao pri-meiro (Ms-1)?

a) No canto superioresquerdo do Ms-2 , a smarcas dos cl ipes nãoco inc idem com o s doMs-1 e são muito maisligeiras, e nenhuma folhaestá rasgada;

b) Não existe nenhumaalteração no traço e na cordo texto do Ms-2 ao longodas 17 páginas;

c) Na linha 12 da página8, enquanto no Ms-1 prati-

Mais uma vez o documentohabitualmente referidocomo “Manifesto do MPLA”surge relacionado com umapolémica historiográfica.Há mais de 20 anos, o his-toriador Carlos Pacheco pro-clamou que tal “famigeradoManifesto” não existia,sendo um “papel que nuncaninguém viu”. E se ele, ohistoriador que dizia já terpesquisado “de ponta aponta” o arquivo da PIDEno que toca ao MPLA, nuncao encontrara, então “nãotinham a mínima credibi-lidade factual e histórica”os que lhe faziam referênciae o relacionavam com a his-tór ia do MPLA (CarlosPacheco, “MPLA – um nas-cimento polémico”, Lisboa,1997: 33-34).

Felizmente, há váriosanos que são do domíniopúblico, não um mais doisexemplares manuscritosdo tal Manifesto, idênticosem qua s e t udo , c omoadiante se explica, mas nãotemos conhecimento queo citado historiador tenhaassumido publicamente oseu erro de então.

A 27 de Julho deste anofoi publicado no Jornal deAngola um extenso artigoda historiadora Rosa Cruze Silva: “A formação doMPLA – Dezembro de 1956.“As verdades verdadeiras”de cada um dos protagonis-tas na luta de libertaçãonacional” que, entre outrascoisas, também critica CarlosPacheco por essa e outrasatitudes.Porém, o modocomo a historiadora se referea um documento do espóliode Lúcio Lara à guarda daAssociação Tchiweka deDocumentação (ATD), exigeum esclarecimento que nãodeixe dúvidas ao públicoem geral sobre a existênciae características desse docu-mento, sem título, geral-mente conhecido como“Manifesto do MPLA”.

Não é objectivo da ATDapresentar aqui argumen-tação sobre o surgimentodo histórico Manifesto, asua importância, interpre-tação ou uso, nem escrutinaros objectivos de quem negaou deturpa o seu valor noprocesso da luta pela Inde-pendência de Angola, sendoessa tarefa dos estudiosos.Compete, porém, à ATD adivulgação do seu acervoreferente à luta de libertaçãonacional e, neste caso con-creto, comprovar a existên-cia material do históricodocumento e as suas carac-terísticas originais. É nessesentido que vai o nossoesclarecimento.

No artigo de Rosa Cruz eSilva é feita referência a dife-rentes cópias manuscritase dactilografadas daqueleManifesto, incluindo algumacomparação entre doismanuscritos semelhantesreconhecidamente redigidospor Viriato da Cruz, perten-

cendo um deles ao espóliode Lúcio Lara, arquivo da ATD(adiante designado por Ms-1) e o outro ao espólio de MárioPinto de Andrade,arquivo daFundação Mário Soares(adiante designado por Ms-2). E é nessa linha da com-paração que seguiremos.

1-SOBRE O MANIFESTOEXISTENTE NA ATD (Ms-1)

O Manifesto existente naATD (Ms-1) é um documentomanuscrito de 17 páginas,contendo uma larga e pro-funda análise da conjunturaangolana nos meados dadécada de 1950 e sobre anecessária luta anticolonial,apelando à formação e uniãodas diferentes organizaçõesnacionalistas num amploMOVIMENTO POPULAR DELIBERTAÇÃO DE ANGOLA.A data de 1956 não constamas deduz-se como prová-vel pela referência no texto

6 DESTAQUE Domingo4 de Agosto de 2019

ESCLARECIMENTO DA ASSOCIAÇÃO TCHIWEKA DE DOCUMENTAÇÃO

Não é objectivo da ATD apresentar aquiargumentação sobre o surgimento

do histórico Manifesto, a sua importância,interpretação ou uso, nem escrutinar os objectivos de quem nega ou deturpa

o seu valor no processo da luta pela Independência de Angola, sendo essa tarefa dos estudiosos

Lúcio Lara

Mário Pinto de Andrade

Há cerca de uma semana, a historiadoraRosa Cruz e Silva assinou, neste diário,

um texto para contrapor o conteúdo de “alguma produção historiográfica”,que, no seu entender, “vem fixandouma narrativa que nega categorica-

mente a existência do MPLA a partir de 1956”.

Entretanto, citada na matéria,a Associação Tchiweka

usa o mesmo espaço para deixar uma nota

de esclarecimento

O Manifesto–original ou cópia?

Page 2: ESCLARECIMENTO DA ASSOCIAÇÃO TCHIWEKA DE …imgs.sapo.pt/jornaldeangola/img/1320257197_suplemento.pdf · a um documento do espólio de Lúcio Lara à guarda da Associação Tchiweka

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camente não aparecem aspalavras “governo de ampla”,no Ms-2 elas aparecem niti-damente e com a mesmatonalidade que as demais letras(o que se explica numa cópiacom papel químico, pois apressão da esferográfica nãose altera com a falha de tinta);

d) Em algumas folhas doMs-2 surgem observações(quase sempre em francês)e letras e frases sublinhadasou enquadradas, com tintapreta mais carregada e numacaligrafia diferente, que sereconhece ser de Mário deAnd rad e . I s s o o c o r renomeadamente nas pági-nas 1, 2, 4, 8, 9, 13, 14, 16e 17. Na primeira páginadeste Ms-2 aparece o títuloManifesto do MPLA e, naúltima página, com a mesmaletra e tinta, após a últimalinha foi acrescentado (emfrancês) Décembre 1956.

Tudo indica, portanto, queo Ms-2 é uma cópia do Ms-1, feita com papel químicopreto, provavelmente uma 2ªvia (considerando a sua niti-dez)ficando por se saber seterá havido uma 3ª via ou maisdo que três. Nesta cópia de 2ªvia do Manifesto escreveuMário de Andrade os adita-mentos acima referidos.

3- SOBRE AS CÓPIASDACTILOGRAFADAS

Deste documento existemtambém diversas cópias dac-tilografadas, em diferentesarquivos, incluindo o da ATD,sendo muito difícil estabelecerquando e onde foi feita cadauma dessas cópias, obvia-mente posteriores ao textomanuscrito. Com um númerovariável de páginas, as cópiasdactilografadas apresentamlacunas, erros e pequenasalterações em relação aodocumento original. Dasconhecidas, o título variaentre “Manifesto do MPLAao Povo Angolano” e “Mani-festo do MPLA”, e a data variaentre “10 de Dezembro de1956” ou simplesmente“Luanda, Dezembro 1956”.Como já foi esclarecido, nemtítulo nem data constavamdo manuscrito original.

CONCLUSÃODa análise cuidadosa dosdois manuscritos conheci-

dos, não é difícil concluirque, excluindo as alteraçõesposter iores fe itas numdeles, estamos perante omesmo documento, tendosido utilizado o papel quí-mico que era comum naépoca para fazer cópias emsimultâneo, falando-seentão em 1ª via, 2ª via etc.O facto de no Manifesto

existente na ATD (Ms-1) senotarem traços e cores deletras diferentes confirmaque este exemplar foi a 1ª viaou “o original”. O outro docu-mento (Ms-2) com letras emcinzento (o que facilmentese confunde com a escrita alápis), e sem alterações naespessura ecor da letra, éuma cópia a papel químico

daquele original. Foi nestacópia que Mário de Andradeacrescentou, em data inde-terminada, Manifesto doMPLA e Décembre 1956.

Finalmente, temos delamentar que a historiadoraRosa Cruz e Silva não tenhaesclarecido as dúvidas queo seu texto lança quanto aocarácter original do docu-

mento do espólio de LúcioLara, consultando o referidodocumento, cuja existênciaé do conhecimento públicohá vários anos. Parafra-seando a própria historia-dora, “numa análise quenem precisa de ser rigorosa,sem recurso à lupa”, facil-mente se constata que entreos dois manuscritos (o do

espólio de Lúcio Lara e o doespólio de Mário de Andrade)não só existe diferença namarca dos clipes como notraço e cor da escrita, e quea primeira via do Manifestooriginal é a que não possuitítulo nem data nem osoutros acrescentos feitos porMário de Andrade ao textoredigido por Viriato da Cruz.

“No artigo de RosaCruz e Silva é feita

referência adiferentes cópiasmanuscritas edactilografadas

daquele Manifesto,incluindo algumacomparação entredois manuscritos

semelhantesreconhecidamente

redigidos porViriato da Cruz,pertencendo

um deles ao espóliode Lúcio Lara

Domingo4 de Agosto de 2019DESTAQUE