escala de preconceito contra pessoas tatuadas: validação e comparação de resultados
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Escala de Preconceito Contra Pessoas Tatuadas: Validação e Comparação de Resultados.TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
ESCALA DE PRECONCEITO CONTRA PESSOAS TATUADAS
Validação e Comparação de Resultados
Curso: Psicologia
Disciplina: Elaboração de Medidas I
Professor: Bruno Figueiredo Damásio
Aluna:
Renata Monteiro Moutinho
Rio de Janeiro
2014
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SUMÁRIO
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................................................... 3
2. MÉTODO ................................................................................................................................................ 8
2.1 DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO INSTRUMENTO........................... 8
2.2 PARTICIPANTES ….................................................................................................................. 8
2.3 INSTRUMENTOS …................................................................................................................. 9
2.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS …................................................................. 11
2.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS …............................................................ 11
3. RESULTADOS ...................................................................................................................................... 14
4. DISCUSSÃO ......................................................................................................................................... 14
5. CONCLUSÕES ..................................................................................................................................... 15
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 16
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1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A tatuagem faz parte de um conjunto de práticas conhecidas por “modificação corporal”, ou seja,
pela modificação deliberada e permanente do corpo humano por razões não médicas. Dentre outros
exemplos de modificação corporal estão o piercing, a escarificação e o branding. Para efeito deste
trabalho, será considerada somente a prática da tatuagem ou dermopigmentação, que se trata da aplicação
subcutânea de pigmentos através do uso de agulhas, visando formar um desenho permanente na pele do
indivíduo tatuado.
Em revisão da literatura acadêmica brasileira sobre o tema tatuagem, Medeiros et al. afirmam no
artigo Escala de atitudes frente à tatuagem: elaboração e evidências de validade e precisão (2010) não
haver encontrado no Brasil “qualquer referência a pesquisas empíricas sobre tatuagens ou sobre atitudes
diante delas” (p. 178). Cabe aqui a ressalva de que, utilizando a ferramenta Google Acadêmico, uma das
ferramentas utilizadas pelos autores do artigo no ano de 2008, pude facilmente encontrar pesquisas
anteriores ao ano mencionado, inclusive a de Andrea Lissett Pérez, A identidade à flor da pele: etnografia
da prática da tatuagem na contemporaneidade (2006), amplamente utilizada como referência neste
trabalho. Essa discrepância talvez possa ser explicada pelas melhorias ocorridas na ferramenta de buscas
nos últimos anos, mas, de qualquer modo, fica claro que o interesse de pesquisadores brasileiros pelo
assunto não é tão pequeno quanto pode aparentar.
No que diz respeito ao levantamento do interesse de pesquisadores estrangeiros sobre o tema,
Medeiros et al. afirmam que “as atitudes diante da tatuagem vêm demonstrando ser um construto
preponderante para o entendimento de diversos comportamentos e cognições” (p.178), como:
“Braithwaite et al. (2001) afirmam que homens tatuados fumam mais cigarros e têm mais
parceiras sexuais; já as mulheres tatuadas são mais comumente usuárias de álcool e outras drogas”
(p. 178);
“Deschesnes, Finès e Demers (2006) comprovam que jovens que usam tatuagens e/ou piercings
incorrem num 'risco natural' de apresentarem comportamentos arriscados; afirmam ainda que
alguns dos fatores que contribuem para inclinação juvenil de usar tais adornos corporais são o uso
de drogas, as atividades ilegais, a afiliação com gangues e os problemas com jogos de azar”
(p.178);
“Verifica-se que as tatuagens estão intimamente relacionadas com comportamentos de riscos e
desviantes entre jovens adolescentes e adultos, como, por exemplo, usar drogas e praticar sexo
sem camisinha (Armstrong & Murphy, 1997; Beyrer et al., 2003)” (p. 179); etc.
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Diante do foco de pesquisadores do século XXI em comportamentos insalubres e de risco, não é
de se esperar outra coisa além do alinhamento da sociedade atual com estereótipos em teoria
ultrapassados, nem que o preconceito venha sobrevivendo, via de regra, à aceitação das diferenças
supostamente decorrente do processo de globalização.
Para entender os estereótipos que ainda trazem à tona o preconceito automático e/ou velado em
relação a pessoas tatuadas, é necessário voltar no tempo e compreender as condições nas quais a tatuagem
se disseminou no mundo ocidental.
O Estigma da Tatuagem no Mundo Ocidental
Traçando brevemente um histórico da tatuagem, temos primeiro sua caracterização em diversas
tribos aborígines, desde a pré-história até a idade moderna, como símbolo de rituais de iniciação ou de
importantes momentos da vida – por exemplo, a entrada na adolescência, o casamento, o luto etc. Entre
outros usos, a tatuagem servia como pintura de guerra, pois acreditava-se que o número de desenhos em
um guerreiro determinava o quão amendrontador ele aparentaria aos olhos do inimigo. Além disso, o
processo de se tatuar apresentava fins medicinais, sendo comparado a uma série de injeções e percebido
como uma forma de vacinação, visto que a prática de infligir pequenos ferimentos ao corpo resultaria no
fortalecimento do sistema imunológico. A tatuagem também possuía um aspecto espiritual para algumas
tribos indígenas, como os sioux, que acreditavam que a entrada no paraíso após a morte era outorgada
somente àqueles que possuíam uma tatuagem no corpo. Por outro lado, a tatuagem já se apresentava
como estigma em algumas sociedades deste período, como na Grécia Antiga, onde escravos fugidos e
então recapturados eram tatuados – mais precisamente, marcados – como “fugitivos”.
Percebe-se, portanto, que no Oriente a prática da tatuagem assumia essencialmente um aspecto
positivo, apresentando conotação negativa somente entre os povos que mais se aproximam do modelo
social atualmente encontrado no Ocidente.
A prática da tatuagem chegou ao Ocidente no século XVIII, após o contato entre marinheiros e
povos aborígenes principalmente das ilhas do Pacífico, dentre os quais a tatuagem era entendida como
arte corporal. Tais marinheiros passaram então a tatuar os próprios corpos e, até os anos 80, a tatuagem
assumiu um sentido estigmatizador no Ocidente, em grande parte devido à precariedade dos instrumentos
e técnicas até então utilizadas. Tendo sido adotada principalmente por setores marginais da sociedade,
como presidiários, membros de gangues, prostitutas e, no fim dos anos 60, por tribos urbanas que
desejavam romper publicamente com as regras sociais, como hippies, punks, entre outros.
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Segundo Le Breton (1995, apud Lissett Pérez 2006, p. 180),
O sentido estigmatizador do uso da tatuagem começa a mudar a partir dos anos 1980, com oestabelecimento de modernas lojas exclusivas (dotadas de equipamentos especializados, materiaisdescartáveis e diferentes meios de promoção), a profissionalização de seus praticantes, omelhoramento da técnica e, sobretudo, as novas formas de conceber o corpo como obra-prima deconstrução do sujeito e aberto às transformações.
Embora os anos 80 tenham trazido consideráveis melhorias instrumentais e técnicas à prática da
tatuagem, foi somente a partir dos anos 90 que os estúdios aderiram completamente à lógica de mercado,
buscando atrair as classes sociais média e alta, capazes de arcar com os custos de um serviço cada vez
mais sofisticado e, com isso, transformando alguns de seus ambientes em ambientes praticamente
clínicos, onde se destacam a brancura do piso e das paredes, a austeridade dos objetos e mobiliários, o
instrumental de esterilização etc. (Lissett Pérez, p. 182).
Apesar da popularização da tatuagem nas últimas décadas, ela continua a carregar muitos dos
estigmas comumente associados no passado à prática de se tatuar. Percebe-se ainda, mesmo que de forma
velada, não explícita, a associação de indivíduos tatuados à marginalidade, à falta de moralidade –
conceito ainda muito entrelaçado a aspectos religiosos –, a comportamentos de risco etc. Segundo
Sanders (1988:428, apud Lissett Pérez 2006, p. 184),
A concepção da “impureza da tatuagem” está diretamente relacionada ao estilo de vida quehistoricamente faz parte dessa prática no mundo ocidental: nos limbos sociais, na marginalidade, narebeldia, no fora do convencial, nos excessos de álcool e de todo tipo de drogas. Tudo isso delineiaum perfil de desvio social, inclusive, apontando para doença mental.
Sanders aponta, em 1988, a questão do estilo de vida como determinante do modo como as
pessoas tatuadas são percebidas socialmente. Cabe a nós, desse modo, realizarmos uma rápida
comparação entre o estilo de vida atual e a prática da tatuagem.
Os meios de comunicação se desenvolveram exponencialmente a partir da década de 90 e,
especialmente com o advento da internet, o contato com outras culturas e, consequentemente, com outros
modos de perceber o mundo tornou-se algo mais que habitual: tornou-se praticamente inevitável. Espera-
se, com isso, uma maior aceitação das diferenças, por um lado. Por outro, podemos esperar também que
nossas atitudes negativas em relação à diferença sejam simplesmente trancafiadas em nossas mentes, não
sendo explicitadas ou, em alguns casos, vindo à tona somente entre aqueles que delas compartilham – o
preconceito velado.
Além disso, vivemos em um mundo capitalista, onde mesmo a arte é tomada como mercadoria, e
onde o corpo assume uma posição de destaque nas relações sociais pelos diversos modos em que pode ser
modelado e remodelado, geralmente na direção da moda e de valores estéticos em constante mutação.
Porém mais que isso, nas palavras de Le Breton (2002, p. 165), “o corpo passa a ser o 'recinto objetivo da
soberania do sujeito' e, como tal, a tatuagem passa a ser vista como uma espécie de 'assinatura de si
mesmo', uma forma de afirmar a sua singularidade”. Nesse contexto, a tatuagem atuaria como forma de
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expressão ao trazer de dentro para fora algo que representa o sujeito – compreendendo-se, aqui, a pele
como o limite simbólico entre os mundos interior e exterior. Sendo assim, não importando em que direção
siga o sujeito (seja a da moda, na qual o indivíduo se coletiviza, se torna parte de um grupo com o qual se
identifica; ou a da singularidade, na qual ele se individualiza, reforçando o controle individual e a
liberdade de ação e determinação sobre o próprio corpo), é de se esperar que, na atualidade, a prática da
tatuagem se encontre em grande parte despida do estigma das décadas passadas.
O que dizer, então, da segregação das pessoas tatuadas no mercado de trabalho?
Ainda atualmente, pessoas tatuadas são, de um modo geral, preteridas no mercado de trabalho –
especialmente aquelas com tatuagens em partes do corpo que não podem ser cobertas, pois esta seria a
atitude esperada por uma empresa ao contratar uma pessoa tatuada: que ela cubra seus desenhos da
maneira mais institucional possível. A questão do mercado de trabalho é bastante ampla, pois engloba não
somente a problemática da tatuagem, mas de toda uma “imagem profissional” que, em teoria, refletiria a
capacidade do indivíduo de desempenhar determinada função e ao qual o indivíduo deveria, portanto, se
adequar.
Podemos considerar então um segmento do mercado de trabalho onde o preconceito se mostra
explícito em relação a pessoas tatuadas: o dos concursos públicos. Segundo Del Negri, no artigo Sobre
liberdade e questões pertinentes ao preconceito automático nas sociedades descentradas (2011, p.209),
De um modo geral, observa-se que a abordagem da Administração pública direta e indireta, naredação dos editais de concursos públicos, em special para cargos militares, é de determinar apossibilidade de os candidatos serem considerados inaptos se a tatuagem atentar contra a “moral” eos “bons costumes”.
O autor segue com o questionamento sobre qual seria a definição exata de “moral” ou de “bons
costumes”, sendo categorias subjetivas que permitem ao juiz decidir com base em sua lei íntima, e
também debate casos onde a tatuagem chegou a ser tratada em editais como “doença de pele”, por mais
que a mesma não se trate de uma manifestação patológica. Ele relata que “é assunto considerado tranquilo
nos Tribunais de Justiça do país que é ilegal a exclusão de candidato do exame de admissão por possuir
tatuagens no corpo” (p. 218), mas pode-se concluir que, se esse tipo de exclusão continua a acontecer, a
ponto de ser necessário a alguns candidatos apelar a instâncias superiores, o preconceito contra pessoas
tatuadas está longe de ser superado no mercado de trabalho, embora esteja claro que, como afirma o autor,
“a eficiência profissional não está ligada à epiderme”.
Ainda sobre a questão da “moral” e dos “bons costumes”, uma forma de preconceito também
comum é aquela relacionada às crenças religiosas – por exemplo, as crenças cristãs – que condenam a
tatuagem por desrespeitar o corpo e, consequentemente, a Deus, visto que o homem foi criado à sua
imagem e semelhança. Com a importância atualmente dispensada à ciência em detrimento das crenças
religiosas, espera-se que esse tipo de preconceito tenha sido em grande parte superado, mas também deve-
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se levar em conta os aspectos socioculturais do povo brasileiro, que de um modo geral se apresenta como
bastante religioso e, em sua maior parte, cristão.
Objetivo do Trabalho
Em resumo, espera-se que em meados dos anos 2010 os indivíduos nascidos entre as décadas de
60 e 70 – e que, consequentemente, já haviam atingido idade suficiente para compreender a
transformação ocorrida nos anos 90 no modo de enxergar a tatuagem – apresentem atitudes mais positivas
e menos preconceituosas em relação a pessoas tatuadas que os indivíduos nascidos em décadas anteriores.
Este trabalho tem o objetivo de verificar, através da construção e aplicação de uma Escala de
Preconceito contra Pessoas Tatuadas, bem como da aplicação da já validada Escala de Atitudes Frente à
Tatuagem (EAFT-D), se esta transformação no modo de enxergarmos a prática da tatuagem se deu de fato
e, em caso negativo, quais são os pontos focais onde o preconceito contra pessoas tatuadas se mostra com
maior frequência e/ou intensidade na sociedade atual.
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2. MÉTODO
2.1 Descrição do Processo de Construção do Instrumento
Os itens da escala foram construídos a partir dos tópicos levantados ao longo da pesquisa
bibliográfica, levando em consideração questões historicamente relacionadas a uma atitude de
preconceito contra a prática da tatuagem, bem como temas atuais que possivelmente exerceram influência
nesta atitude nas últimas décadas.
A exemplo da Escala de Atitudes Frente à Tatuagem (EAFT-D), com a qual o instrumento seria
futuramente comparado em busca de validade, ele não possui itens invertidos e é medido através de uma
escala Likert de cinco pontos, variando entre “discordo”, com valor atribuído -2, e “concordo”, com valor
atribuído +2.
2.2 Participantes
Houve um total de 67 respondentes à pesquisa, que se deu anonimamente, através de formulário
do Google Drive (via internet), estando aberta à participação de todos os interessados. Houve, no entanto,
certo cuidado na divulgação do link da pesquisa, buscando essencialmente manter um equilíbrio entre o
número de respondentes das faixas etárias de até 34 anos e de mais de 35 anos de idade, visto que um dos
objetivos da pesquisa era a comparação entre as mesmas.
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2.3 Instrumentos
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Itens:
1 - Pessoas tatuadas demonstram maior tendência à criminalidade que pessoas não tatuadas.
2 - Tatuagens são uma forma de desrespeito ao divino.
3 - Pessoas tatuadas são mais influenciáveis.
4 - Pessoas tatuadas são mais impulsivas.
5 - Pessoas tatuadas demonstram maior tendência a apresentar transtornos mentais que pessoas não
tatuadas.
6 - Pessoas tatuadas demonstram menor preocupação com o contágio (via agulha) e transmissão de
doenças como Hepatite e AIDS que pessoas não tatuadas.
7 - Pessoas tatuadas demonstram maior tendência à homossexualidade que pessoas não tatuadas.
8 - Pessoas tatuadas tendem a ser mais promíscuas que pessoas não tatuadas.
9 - Eu teria dificuldades em confiar em uma pessoa tatuada.
10 - Eu não me casaria ou assumiria um relacionamento estável com uma pessoa tatuada.
11 - Eu teria dificuldades em aceitar que um(a) filho(a) se tatuasse.
12 - Ao envelhecer, pessoas tatuadas se tornam motivo de piada.
13 - Pessoas tatuadas possuem aparência menos profissional que pessoas não tatuadas.
14 - Eu não contrataria uma pessoa com tatuagem em um local do corpo que não pode ser coberto.
15 - Pessoas com um número exagerado de tatuagens “querem aparecer”.
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2.4 Procedimentos de Coleta de Dados
Fizeram parte da pesquisa um questionário sociodemográfico, a Escala de Atitudes Frente à
Tatuagem (EAFT-D) e o instrumento construído para os fins deste trabalho.
O link para a pesquisa foi divulgado via e-mail e em grupos pertencentes a redes sociais, e esteve
disponível entre os dias 06 e 14 de novembro de 2014.
2.5 Procedimentos de Análise de Dados
Primeiramente, os escores coletados em cada item de ambas as escalas foram reunidos em uma
planilha com o objetivo de verificar a convergência entre as mesmas. Os escores coletados na Escala de
Preconceito contra Pessoas Tatuadas então passaram por análise multivariada no Bioestat, visando
identificar quais itens possuíam cargas fatoriais expressivas e se estas eram ou não invertidas. Concluiu-
se, conforme imagem 1 abaixo, que a escala é unifatorial, visto que nenhum item do componente 1
alcançou coeficientes superiores a |0.30|. No componente 2, os itens 2, 14 e 15 apresentaram coeficientes
superiores a |0.30|, sendo que os dois últimos com carga fatorial invertida. Nenhum item apresentou
coeficientes inferiores a |0.30| em todos os componentes, indicando que não há a necessidade de exclusão
de itens do instrumento.
Imagem 1
Os passos seguintes foram a inversão dos escores obtidos nos itens 14 e 15 do instrumento e,
então, a soma dos escores finais obtidos nos três itens acima mencionados. Do mesmo modo, realizou-se
a soma dos escores obtidos na Escala de Atitudes Frente à Tatuagem (EAFT-D), e procedeu-se à
comparação entre os escores dos respondentes em ambas as escalas através do Coeficiente de Correlação
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de Pearson, conforme tela do Bioestat apresentada na imagem 2:
Imagem 2
Para fins de pesquisa, os 67 respondentes foram separados em dois grupos, sendo um deles
composto por indivíduos de até 34 anos de idade (total de 37 respondentes), e outro composto por
indivíduos com mais de 35 anos de idade (total de 30 respondentes). Estes grupos foram então
comparados no Bioestat, utilizando o Teste T, e apresentaram os seguintes resultados:
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Imagem 3
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3. RESULTADOS
Como exibido na imagem 2, o Coeficiente de Correlação de Pearson encontrado foi de 0.4211,
indicando haver alguma convergência entre as escalas, embora o coeficiente não tenha alcançado seu
valor ideal (acima de 0.50). Além disso, o valor p encontrado foi de 0.0004, consideravelmente inferior a
0.05, descartando-se assim a possibilidade de erro do tipo I ou “falso positivo” a um nível de significância
de 5% (ou mesmo de 1%).
Quando da comparação entre faixas etárias, porém, o Teste T revelou (vide imagem 3) um valor p
(bilateral) bastante superior a 0.05, indicado que a hipótese inicial da pesquisa deve ser rejeitada,
aceitando-se a hipótese nula.
4. DISCUSSÃO
Os itens considerados de maior relevância (coeficiente superior a |0.30|) no instrumento elaborado
foram os seguintes:
2 - Tatuagens são uma forma de desrespeito ao divino (coeficiente 0.49);
14 - Eu não contrataria uma pessoa com tatuagem em um local do corpo que não pode ser coberto
(coeficiente aproximado -0.38);
15 - Pessoas com um número exagerado de tatuagens “querem aparecer” (coeficiente aproximado
-0.48).
Deste resultado, percebe-se que o preconceito contra pessoas tatuadas se mostra com maior
clareza no que diz respeito às crenças religiosas, ao mercado de trabalho, e à sugestão de que quanto
maior o número de tatuagens em um indivíduo, maior sua motivação narcísica ao se tatuar.
Podemos inferir, portanto, que os respondentes apresentam maior facilidade em permitir que o
preconceito venha à tona quando ele pode ser corroborado por outras instâncias da sociedade, como as
religiões ou a própria lógica capitalista. Visto que a escala apresenta itens relacionados a um preconceito
explícito e não abarca completamente o preconceito velado, é possível que outras formas de preconceito
contra pessoas tatuadas sejam tão ou mais comuns que as apresentadas nos itens 2, 14 e 15, mas não
tenham sido consistentemente manifestadas pelos respondentes por estes não encontrarem, nestes casos, o
mesmo tipo de “suporte” em seus pares.
Por exemplo: Quando verificamos que obtêm-se para o item 13 (Pessoas tatuadas possuem14
aparência menos profissional que pessoas não tatuadas) respostas mais “suavizadas” que para o item 14
(Eu não contrataria uma pessoa com tatuagem em um local do corpo que não pode ser coberto), é possível
interpretar que, para o respondente, a não contratação de um indivíduo tatuado não tem relação com a
imagem profissional do mesmo, e sim com algo maior e mais forte que uma opinião individual – como,
por exemplo, uma “regra do mercado de trabalho”. Além disso, o item 14 menciona a possibilidade de
que a tatuagem seja coberta, indicando certa leniência do respondente ao permitir que o indivíduo “cubra
seu erro”.
Outros dois itens que se aproximaram de uma carga fatorial expressiva, apresentando coeficiente
de |0.29| são o 7 (Pessoas tatuadas demonstram maior tendência à homossexualidade que pessoas não
tatuadas) e o 9 (Eu teria dificuldades em confiar em uma pessoa tatuada). O item 7 pode ser interpretado
como um reforço mútuo entre dois tipos de preconceito bastante presentes em nossa sociedade, onde o
moralismo religioso ainda se apresenta como fator determinante dos valores e opiniões pessoais,
conforme indicado pela alta expressividade do item 2. O item 9, por sua vez, apresenta abrangência
semelhante (porém ainda maior que) a do item 15, permitindo ao respondente demonstrar uma atitude
preconceituosa sem, com isso, fechar-se em uma explicação categórica a respeito de seus motivos.
5. CONCLUSÕES
Embora se mostrem necessárias novas pesquisas acerca do tema – especialmente as de caráter
qualitativo –, o trabalho em questão demonstrou que as mudanças ocorridas nas últimas décadas, seja no
modo de perceber as diferenças individuais, seja na própria estrutura social, não impactaram
consideravelmente na existência de ideias pré-concebidas em relação a pessoas tatuadas. Mesmo os
indivíduos nascidos a partir da década de 80 – e que, por esse motivo, tiveram a oportunidade de
acompanhar tais transformações e a elas precisaram se adaptar – demonstram dificuldade em aceitar as
diferenças individuais, mesmo que estas não representem qualquer dano a outros indivíduos ou à própria
sociedade.
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REFERÊNCIAS
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precisão. Estudos de Psicologia, 27(2), p. 177-186, 2010.
GOUVEIA, V. et al. Correlatos valorativos de atitudes frente à tatuagem. Psicologia & Sociedade, 22(3),
p. 476-485, 2010.
PÉREZ, A. A identidade à flor da pele: etnografia da prática da tatuagem na contemporaneidade. MANA,
12(1), p. 179-206, 2006.
DEL NEGRI, A. Sobre liberdade e questões pertinentes ao preconceito automático nas sociedades
descentradas. Revista Brasileira de Direito Constitucional – RBDC, n. 17, p. 209-223, 2011.
SILVA, B. A tatuagem na contemporaneidade. UNESC, Criciúma, 2010. 55p.
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