escala de preconceito contra pessoas tatuadas: validação e comparação de resultados

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS INSTITUTO DE PSICOLOGIA ESCALA DE PRECONCEITO CONTRA PESSOAS TATUADAS Validação e Comparação de Resultados Curso: Psicologia Disciplina: Elaboração de Medidas I Professor: Bruno Figueiredo Damásio Aluna: Renata Monteiro Moutinho Rio de Janeiro 2014 1

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Escala de Preconceito Contra Pessoas Tatuadas: Validação e Comparação de Resultados.

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Page 1: Escala de Preconceito Contra Pessoas Tatuadas: Validação e Comparação de Resultados

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

ESCALA DE PRECONCEITO CONTRA PESSOAS TATUADAS

Validação e Comparação de Resultados

Curso: Psicologia

Disciplina: Elaboração de Medidas I

Professor: Bruno Figueiredo Damásio

Aluna:

Renata Monteiro Moutinho

Rio de Janeiro

2014

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Page 2: Escala de Preconceito Contra Pessoas Tatuadas: Validação e Comparação de Resultados

SUMÁRIO

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................................................... 3

2. MÉTODO ................................................................................................................................................ 8

2.1 DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO INSTRUMENTO........................... 8

2.2 PARTICIPANTES ….................................................................................................................. 8

2.3 INSTRUMENTOS …................................................................................................................. 9

2.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS …................................................................. 11

2.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS …............................................................ 11

3. RESULTADOS ...................................................................................................................................... 14

4. DISCUSSÃO ......................................................................................................................................... 14

5. CONCLUSÕES ..................................................................................................................................... 15

REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 16

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Page 3: Escala de Preconceito Contra Pessoas Tatuadas: Validação e Comparação de Resultados

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A tatuagem faz parte de um conjunto de práticas conhecidas por “modificação corporal”, ou seja,

pela modificação deliberada e permanente do corpo humano por razões não médicas. Dentre outros

exemplos de modificação corporal estão o piercing, a escarificação e o branding. Para efeito deste

trabalho, será considerada somente a prática da tatuagem ou dermopigmentação, que se trata da aplicação

subcutânea de pigmentos através do uso de agulhas, visando formar um desenho permanente na pele do

indivíduo tatuado.

Em revisão da literatura acadêmica brasileira sobre o tema tatuagem, Medeiros et al. afirmam no

artigo Escala de atitudes frente à tatuagem: elaboração e evidências de validade e precisão (2010) não

haver encontrado no Brasil “qualquer referência a pesquisas empíricas sobre tatuagens ou sobre atitudes

diante delas” (p. 178). Cabe aqui a ressalva de que, utilizando a ferramenta Google Acadêmico, uma das

ferramentas utilizadas pelos autores do artigo no ano de 2008, pude facilmente encontrar pesquisas

anteriores ao ano mencionado, inclusive a de Andrea Lissett Pérez, A identidade à flor da pele: etnografia

da prática da tatuagem na contemporaneidade (2006), amplamente utilizada como referência neste

trabalho. Essa discrepância talvez possa ser explicada pelas melhorias ocorridas na ferramenta de buscas

nos últimos anos, mas, de qualquer modo, fica claro que o interesse de pesquisadores brasileiros pelo

assunto não é tão pequeno quanto pode aparentar.

No que diz respeito ao levantamento do interesse de pesquisadores estrangeiros sobre o tema,

Medeiros et al. afirmam que “as atitudes diante da tatuagem vêm demonstrando ser um construto

preponderante para o entendimento de diversos comportamentos e cognições” (p.178), como:

“Braithwaite et al. (2001) afirmam que homens tatuados fumam mais cigarros e têm mais

parceiras sexuais; já as mulheres tatuadas são mais comumente usuárias de álcool e outras drogas”

(p. 178);

“Deschesnes, Finès e Demers (2006) comprovam que jovens que usam tatuagens e/ou piercings

incorrem num 'risco natural' de apresentarem comportamentos arriscados; afirmam ainda que

alguns dos fatores que contribuem para inclinação juvenil de usar tais adornos corporais são o uso

de drogas, as atividades ilegais, a afiliação com gangues e os problemas com jogos de azar”

(p.178);

“Verifica-se que as tatuagens estão intimamente relacionadas com comportamentos de riscos e

desviantes entre jovens adolescentes e adultos, como, por exemplo, usar drogas e praticar sexo

sem camisinha (Armstrong & Murphy, 1997; Beyrer et al., 2003)” (p. 179); etc.

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Diante do foco de pesquisadores do século XXI em comportamentos insalubres e de risco, não é

de se esperar outra coisa além do alinhamento da sociedade atual com estereótipos em teoria

ultrapassados, nem que o preconceito venha sobrevivendo, via de regra, à aceitação das diferenças

supostamente decorrente do processo de globalização.

Para entender os estereótipos que ainda trazem à tona o preconceito automático e/ou velado em

relação a pessoas tatuadas, é necessário voltar no tempo e compreender as condições nas quais a tatuagem

se disseminou no mundo ocidental.

O Estigma da Tatuagem no Mundo Ocidental

Traçando brevemente um histórico da tatuagem, temos primeiro sua caracterização em diversas

tribos aborígines, desde a pré-história até a idade moderna, como símbolo de rituais de iniciação ou de

importantes momentos da vida – por exemplo, a entrada na adolescência, o casamento, o luto etc. Entre

outros usos, a tatuagem servia como pintura de guerra, pois acreditava-se que o número de desenhos em

um guerreiro determinava o quão amendrontador ele aparentaria aos olhos do inimigo. Além disso, o

processo de se tatuar apresentava fins medicinais, sendo comparado a uma série de injeções e percebido

como uma forma de vacinação, visto que a prática de infligir pequenos ferimentos ao corpo resultaria no

fortalecimento do sistema imunológico. A tatuagem também possuía um aspecto espiritual para algumas

tribos indígenas, como os sioux, que acreditavam que a entrada no paraíso após a morte era outorgada

somente àqueles que possuíam uma tatuagem no corpo. Por outro lado, a tatuagem já se apresentava

como estigma em algumas sociedades deste período, como na Grécia Antiga, onde escravos fugidos e

então recapturados eram tatuados – mais precisamente, marcados – como “fugitivos”.

Percebe-se, portanto, que no Oriente a prática da tatuagem assumia essencialmente um aspecto

positivo, apresentando conotação negativa somente entre os povos que mais se aproximam do modelo

social atualmente encontrado no Ocidente.

A prática da tatuagem chegou ao Ocidente no século XVIII, após o contato entre marinheiros e

povos aborígenes principalmente das ilhas do Pacífico, dentre os quais a tatuagem era entendida como

arte corporal. Tais marinheiros passaram então a tatuar os próprios corpos e, até os anos 80, a tatuagem

assumiu um sentido estigmatizador no Ocidente, em grande parte devido à precariedade dos instrumentos

e técnicas até então utilizadas. Tendo sido adotada principalmente por setores marginais da sociedade,

como presidiários, membros de gangues, prostitutas e, no fim dos anos 60, por tribos urbanas que

desejavam romper publicamente com as regras sociais, como hippies, punks, entre outros.

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Segundo Le Breton (1995, apud Lissett Pérez 2006, p. 180),

O sentido estigmatizador do uso da tatuagem começa a mudar a partir dos anos 1980, com oestabelecimento de modernas lojas exclusivas (dotadas de equipamentos especializados, materiaisdescartáveis e diferentes meios de promoção), a profissionalização de seus praticantes, omelhoramento da técnica e, sobretudo, as novas formas de conceber o corpo como obra-prima deconstrução do sujeito e aberto às transformações.

Embora os anos 80 tenham trazido consideráveis melhorias instrumentais e técnicas à prática da

tatuagem, foi somente a partir dos anos 90 que os estúdios aderiram completamente à lógica de mercado,

buscando atrair as classes sociais média e alta, capazes de arcar com os custos de um serviço cada vez

mais sofisticado e, com isso, transformando alguns de seus ambientes em ambientes praticamente

clínicos, onde se destacam a brancura do piso e das paredes, a austeridade dos objetos e mobiliários, o

instrumental de esterilização etc. (Lissett Pérez, p. 182).

Apesar da popularização da tatuagem nas últimas décadas, ela continua a carregar muitos dos

estigmas comumente associados no passado à prática de se tatuar. Percebe-se ainda, mesmo que de forma

velada, não explícita, a associação de indivíduos tatuados à marginalidade, à falta de moralidade –

conceito ainda muito entrelaçado a aspectos religiosos –, a comportamentos de risco etc. Segundo

Sanders (1988:428, apud Lissett Pérez 2006, p. 184),

A concepção da “impureza da tatuagem” está diretamente relacionada ao estilo de vida quehistoricamente faz parte dessa prática no mundo ocidental: nos limbos sociais, na marginalidade, narebeldia, no fora do convencial, nos excessos de álcool e de todo tipo de drogas. Tudo isso delineiaum perfil de desvio social, inclusive, apontando para doença mental.

Sanders aponta, em 1988, a questão do estilo de vida como determinante do modo como as

pessoas tatuadas são percebidas socialmente. Cabe a nós, desse modo, realizarmos uma rápida

comparação entre o estilo de vida atual e a prática da tatuagem.

Os meios de comunicação se desenvolveram exponencialmente a partir da década de 90 e,

especialmente com o advento da internet, o contato com outras culturas e, consequentemente, com outros

modos de perceber o mundo tornou-se algo mais que habitual: tornou-se praticamente inevitável. Espera-

se, com isso, uma maior aceitação das diferenças, por um lado. Por outro, podemos esperar também que

nossas atitudes negativas em relação à diferença sejam simplesmente trancafiadas em nossas mentes, não

sendo explicitadas ou, em alguns casos, vindo à tona somente entre aqueles que delas compartilham – o

preconceito velado.

Além disso, vivemos em um mundo capitalista, onde mesmo a arte é tomada como mercadoria, e

onde o corpo assume uma posição de destaque nas relações sociais pelos diversos modos em que pode ser

modelado e remodelado, geralmente na direção da moda e de valores estéticos em constante mutação.

Porém mais que isso, nas palavras de Le Breton (2002, p. 165), “o corpo passa a ser o 'recinto objetivo da

soberania do sujeito' e, como tal, a tatuagem passa a ser vista como uma espécie de 'assinatura de si

mesmo', uma forma de afirmar a sua singularidade”. Nesse contexto, a tatuagem atuaria como forma de

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expressão ao trazer de dentro para fora algo que representa o sujeito – compreendendo-se, aqui, a pele

como o limite simbólico entre os mundos interior e exterior. Sendo assim, não importando em que direção

siga o sujeito (seja a da moda, na qual o indivíduo se coletiviza, se torna parte de um grupo com o qual se

identifica; ou a da singularidade, na qual ele se individualiza, reforçando o controle individual e a

liberdade de ação e determinação sobre o próprio corpo), é de se esperar que, na atualidade, a prática da

tatuagem se encontre em grande parte despida do estigma das décadas passadas.

O que dizer, então, da segregação das pessoas tatuadas no mercado de trabalho?

Ainda atualmente, pessoas tatuadas são, de um modo geral, preteridas no mercado de trabalho –

especialmente aquelas com tatuagens em partes do corpo que não podem ser cobertas, pois esta seria a

atitude esperada por uma empresa ao contratar uma pessoa tatuada: que ela cubra seus desenhos da

maneira mais institucional possível. A questão do mercado de trabalho é bastante ampla, pois engloba não

somente a problemática da tatuagem, mas de toda uma “imagem profissional” que, em teoria, refletiria a

capacidade do indivíduo de desempenhar determinada função e ao qual o indivíduo deveria, portanto, se

adequar.

Podemos considerar então um segmento do mercado de trabalho onde o preconceito se mostra

explícito em relação a pessoas tatuadas: o dos concursos públicos. Segundo Del Negri, no artigo Sobre

liberdade e questões pertinentes ao preconceito automático nas sociedades descentradas (2011, p.209),

De um modo geral, observa-se que a abordagem da Administração pública direta e indireta, naredação dos editais de concursos públicos, em special para cargos militares, é de determinar apossibilidade de os candidatos serem considerados inaptos se a tatuagem atentar contra a “moral” eos “bons costumes”.

O autor segue com o questionamento sobre qual seria a definição exata de “moral” ou de “bons

costumes”, sendo categorias subjetivas que permitem ao juiz decidir com base em sua lei íntima, e

também debate casos onde a tatuagem chegou a ser tratada em editais como “doença de pele”, por mais

que a mesma não se trate de uma manifestação patológica. Ele relata que “é assunto considerado tranquilo

nos Tribunais de Justiça do país que é ilegal a exclusão de candidato do exame de admissão por possuir

tatuagens no corpo” (p. 218), mas pode-se concluir que, se esse tipo de exclusão continua a acontecer, a

ponto de ser necessário a alguns candidatos apelar a instâncias superiores, o preconceito contra pessoas

tatuadas está longe de ser superado no mercado de trabalho, embora esteja claro que, como afirma o autor,

“a eficiência profissional não está ligada à epiderme”.

Ainda sobre a questão da “moral” e dos “bons costumes”, uma forma de preconceito também

comum é aquela relacionada às crenças religiosas – por exemplo, as crenças cristãs – que condenam a

tatuagem por desrespeitar o corpo e, consequentemente, a Deus, visto que o homem foi criado à sua

imagem e semelhança. Com a importância atualmente dispensada à ciência em detrimento das crenças

religiosas, espera-se que esse tipo de preconceito tenha sido em grande parte superado, mas também deve-

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se levar em conta os aspectos socioculturais do povo brasileiro, que de um modo geral se apresenta como

bastante religioso e, em sua maior parte, cristão.

Objetivo do Trabalho

Em resumo, espera-se que em meados dos anos 2010 os indivíduos nascidos entre as décadas de

60 e 70 – e que, consequentemente, já haviam atingido idade suficiente para compreender a

transformação ocorrida nos anos 90 no modo de enxergar a tatuagem – apresentem atitudes mais positivas

e menos preconceituosas em relação a pessoas tatuadas que os indivíduos nascidos em décadas anteriores.

Este trabalho tem o objetivo de verificar, através da construção e aplicação de uma Escala de

Preconceito contra Pessoas Tatuadas, bem como da aplicação da já validada Escala de Atitudes Frente à

Tatuagem (EAFT-D), se esta transformação no modo de enxergarmos a prática da tatuagem se deu de fato

e, em caso negativo, quais são os pontos focais onde o preconceito contra pessoas tatuadas se mostra com

maior frequência e/ou intensidade na sociedade atual.

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2. MÉTODO

2.1 Descrição do Processo de Construção do Instrumento

Os itens da escala foram construídos a partir dos tópicos levantados ao longo da pesquisa

bibliográfica, levando em consideração questões historicamente relacionadas a uma atitude de

preconceito contra a prática da tatuagem, bem como temas atuais que possivelmente exerceram influência

nesta atitude nas últimas décadas.

A exemplo da Escala de Atitudes Frente à Tatuagem (EAFT-D), com a qual o instrumento seria

futuramente comparado em busca de validade, ele não possui itens invertidos e é medido através de uma

escala Likert de cinco pontos, variando entre “discordo”, com valor atribuído -2, e “concordo”, com valor

atribuído +2.

2.2 Participantes

Houve um total de 67 respondentes à pesquisa, que se deu anonimamente, através de formulário

do Google Drive (via internet), estando aberta à participação de todos os interessados. Houve, no entanto,

certo cuidado na divulgação do link da pesquisa, buscando essencialmente manter um equilíbrio entre o

número de respondentes das faixas etárias de até 34 anos e de mais de 35 anos de idade, visto que um dos

objetivos da pesquisa era a comparação entre as mesmas.

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2.3 Instrumentos

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Itens:

1 - Pessoas tatuadas demonstram maior tendência à criminalidade que pessoas não tatuadas.

2 - Tatuagens são uma forma de desrespeito ao divino.

3 - Pessoas tatuadas são mais influenciáveis.

4 - Pessoas tatuadas são mais impulsivas.

5 - Pessoas tatuadas demonstram maior tendência a apresentar transtornos mentais que pessoas não

tatuadas.

6 - Pessoas tatuadas demonstram menor preocupação com o contágio (via agulha) e transmissão de

doenças como Hepatite e AIDS que pessoas não tatuadas.

7 - Pessoas tatuadas demonstram maior tendência à homossexualidade que pessoas não tatuadas.

8 - Pessoas tatuadas tendem a ser mais promíscuas que pessoas não tatuadas.

9 - Eu teria dificuldades em confiar em uma pessoa tatuada.

10 - Eu não me casaria ou assumiria um relacionamento estável com uma pessoa tatuada.

11 - Eu teria dificuldades em aceitar que um(a) filho(a) se tatuasse.

12 - Ao envelhecer, pessoas tatuadas se tornam motivo de piada.

13 - Pessoas tatuadas possuem aparência menos profissional que pessoas não tatuadas.

14 - Eu não contrataria uma pessoa com tatuagem em um local do corpo que não pode ser coberto.

15 - Pessoas com um número exagerado de tatuagens “querem aparecer”.

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2.4 Procedimentos de Coleta de Dados

Fizeram parte da pesquisa um questionário sociodemográfico, a Escala de Atitudes Frente à

Tatuagem (EAFT-D) e o instrumento construído para os fins deste trabalho.

O link para a pesquisa foi divulgado via e-mail e em grupos pertencentes a redes sociais, e esteve

disponível entre os dias 06 e 14 de novembro de 2014.

2.5 Procedimentos de Análise de Dados

Primeiramente, os escores coletados em cada item de ambas as escalas foram reunidos em uma

planilha com o objetivo de verificar a convergência entre as mesmas. Os escores coletados na Escala de

Preconceito contra Pessoas Tatuadas então passaram por análise multivariada no Bioestat, visando

identificar quais itens possuíam cargas fatoriais expressivas e se estas eram ou não invertidas. Concluiu-

se, conforme imagem 1 abaixo, que a escala é unifatorial, visto que nenhum item do componente 1

alcançou coeficientes superiores a |0.30|. No componente 2, os itens 2, 14 e 15 apresentaram coeficientes

superiores a |0.30|, sendo que os dois últimos com carga fatorial invertida. Nenhum item apresentou

coeficientes inferiores a |0.30| em todos os componentes, indicando que não há a necessidade de exclusão

de itens do instrumento.

Imagem 1

Os passos seguintes foram a inversão dos escores obtidos nos itens 14 e 15 do instrumento e,

então, a soma dos escores finais obtidos nos três itens acima mencionados. Do mesmo modo, realizou-se

a soma dos escores obtidos na Escala de Atitudes Frente à Tatuagem (EAFT-D), e procedeu-se à

comparação entre os escores dos respondentes em ambas as escalas através do Coeficiente de Correlação

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Page 12: Escala de Preconceito Contra Pessoas Tatuadas: Validação e Comparação de Resultados

de Pearson, conforme tela do Bioestat apresentada na imagem 2:

Imagem 2

Para fins de pesquisa, os 67 respondentes foram separados em dois grupos, sendo um deles

composto por indivíduos de até 34 anos de idade (total de 37 respondentes), e outro composto por

indivíduos com mais de 35 anos de idade (total de 30 respondentes). Estes grupos foram então

comparados no Bioestat, utilizando o Teste T, e apresentaram os seguintes resultados:

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Imagem 3

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Page 14: Escala de Preconceito Contra Pessoas Tatuadas: Validação e Comparação de Resultados

3. RESULTADOS

Como exibido na imagem 2, o Coeficiente de Correlação de Pearson encontrado foi de 0.4211,

indicando haver alguma convergência entre as escalas, embora o coeficiente não tenha alcançado seu

valor ideal (acima de 0.50). Além disso, o valor p encontrado foi de 0.0004, consideravelmente inferior a

0.05, descartando-se assim a possibilidade de erro do tipo I ou “falso positivo” a um nível de significância

de 5% (ou mesmo de 1%).

Quando da comparação entre faixas etárias, porém, o Teste T revelou (vide imagem 3) um valor p

(bilateral) bastante superior a 0.05, indicado que a hipótese inicial da pesquisa deve ser rejeitada,

aceitando-se a hipótese nula.

4. DISCUSSÃO

Os itens considerados de maior relevância (coeficiente superior a |0.30|) no instrumento elaborado

foram os seguintes:

2 - Tatuagens são uma forma de desrespeito ao divino (coeficiente 0.49);

14 - Eu não contrataria uma pessoa com tatuagem em um local do corpo que não pode ser coberto

(coeficiente aproximado -0.38);

15 - Pessoas com um número exagerado de tatuagens “querem aparecer” (coeficiente aproximado

-0.48).

Deste resultado, percebe-se que o preconceito contra pessoas tatuadas se mostra com maior

clareza no que diz respeito às crenças religiosas, ao mercado de trabalho, e à sugestão de que quanto

maior o número de tatuagens em um indivíduo, maior sua motivação narcísica ao se tatuar.

Podemos inferir, portanto, que os respondentes apresentam maior facilidade em permitir que o

preconceito venha à tona quando ele pode ser corroborado por outras instâncias da sociedade, como as

religiões ou a própria lógica capitalista. Visto que a escala apresenta itens relacionados a um preconceito

explícito e não abarca completamente o preconceito velado, é possível que outras formas de preconceito

contra pessoas tatuadas sejam tão ou mais comuns que as apresentadas nos itens 2, 14 e 15, mas não

tenham sido consistentemente manifestadas pelos respondentes por estes não encontrarem, nestes casos, o

mesmo tipo de “suporte” em seus pares.

Por exemplo: Quando verificamos que obtêm-se para o item 13 (Pessoas tatuadas possuem14

Page 15: Escala de Preconceito Contra Pessoas Tatuadas: Validação e Comparação de Resultados

aparência menos profissional que pessoas não tatuadas) respostas mais “suavizadas” que para o item 14

(Eu não contrataria uma pessoa com tatuagem em um local do corpo que não pode ser coberto), é possível

interpretar que, para o respondente, a não contratação de um indivíduo tatuado não tem relação com a

imagem profissional do mesmo, e sim com algo maior e mais forte que uma opinião individual – como,

por exemplo, uma “regra do mercado de trabalho”. Além disso, o item 14 menciona a possibilidade de

que a tatuagem seja coberta, indicando certa leniência do respondente ao permitir que o indivíduo “cubra

seu erro”.

Outros dois itens que se aproximaram de uma carga fatorial expressiva, apresentando coeficiente

de |0.29| são o 7 (Pessoas tatuadas demonstram maior tendência à homossexualidade que pessoas não

tatuadas) e o 9 (Eu teria dificuldades em confiar em uma pessoa tatuada). O item 7 pode ser interpretado

como um reforço mútuo entre dois tipos de preconceito bastante presentes em nossa sociedade, onde o

moralismo religioso ainda se apresenta como fator determinante dos valores e opiniões pessoais,

conforme indicado pela alta expressividade do item 2. O item 9, por sua vez, apresenta abrangência

semelhante (porém ainda maior que) a do item 15, permitindo ao respondente demonstrar uma atitude

preconceituosa sem, com isso, fechar-se em uma explicação categórica a respeito de seus motivos.

5. CONCLUSÕES

Embora se mostrem necessárias novas pesquisas acerca do tema – especialmente as de caráter

qualitativo –, o trabalho em questão demonstrou que as mudanças ocorridas nas últimas décadas, seja no

modo de perceber as diferenças individuais, seja na própria estrutura social, não impactaram

consideravelmente na existência de ideias pré-concebidas em relação a pessoas tatuadas. Mesmo os

indivíduos nascidos a partir da década de 80 – e que, por esse motivo, tiveram a oportunidade de

acompanhar tais transformações e a elas precisaram se adaptar – demonstram dificuldade em aceitar as

diferenças individuais, mesmo que estas não representem qualquer dano a outros indivíduos ou à própria

sociedade.

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Page 16: Escala de Preconceito Contra Pessoas Tatuadas: Validação e Comparação de Resultados

REFERÊNCIAS

MEDEIROS. E. et al. Escala de atitudes frente à tatuagem: elaboração e evidências de validade e

precisão. Estudos de Psicologia, 27(2), p. 177-186, 2010.

GOUVEIA, V. et al. Correlatos valorativos de atitudes frente à tatuagem. Psicologia & Sociedade, 22(3),

p. 476-485, 2010.

PÉREZ, A. A identidade à flor da pele: etnografia da prática da tatuagem na contemporaneidade. MANA,

12(1), p. 179-206, 2006.

DEL NEGRI, A. Sobre liberdade e questões pertinentes ao preconceito automático nas sociedades

descentradas. Revista Brasileira de Direito Constitucional – RBDC, n. 17, p. 209-223, 2011.

SILVA, B. A tatuagem na contemporaneidade. UNESC, Criciúma, 2010. 55p.

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