erros e defeitos - grémio do património · poderes e actores sociais, o que não quer dizer que...

51
Revista da Conservação do Património Arquitectónico e da Reabilitação do Edificado Ano V – N.º 20 Outubro/Novembro/Dezembro 2003 – Publicação trimestral – Preço e 4,48 (IVA incluído) Erros e Defeitos V Aniversário da revista Pedra & Cal na Reabilitação dos Edifícios e na Conservação e Restauro do Património Edificado ENTREVISTA: Arquitecto José Aguiar

Upload: dangnga

Post on 30-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Revista da Conservação do Património Arquitectónico e da Reabilitação do Edificado

Ano

V –

N.º

20 O

utub

ro/N

ovem

bro/

Dez

embr

o 20

03 –

Pub

licaç

ão tr

imes

tral

– P

reço

e 4,

48 (

IVA

incl

uído

)

Erros e Defeitos

V Aniversário da revista Pedra & Cal

na Reabilitação dos Edifícios e na Conservação eRestauro do Património Edificado

ENTREVISTA: Arquitecto José Aguiar

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

Tema de Capa:

Reconhecida pelo Ministério daCultura como “publicação de ma-nifesto interesse cultural”, ao abri-go da Lei do Mecenato.

N.º 20 - Outubro/Novembro/Dezembro 2003Propriedade e edição: GECoRPA – Grémio das Empresas deConservação e Restauro do PatrimónioArquitectónicoRua Pedro Nunes, n.º 27, 1.º Esq.º1050 - 170 LisboaTel.: 213 542 336, Fax: 213 157 996http://www.gecorpa.ptE-mail: [email protected]: 503 980 820Director: Vítor Cóias e SilvaCoordenação: Pedro PimentelConselho redactorial: João Appleton, João Mascarenhas Mateus, José Aguiar,Miguel Brito Correia, Teresa de Campos Coel-ho Secretariado: Elsa FonsecaColaboram neste número: A. Jaime Martins, Carlos Mesquita, Carlos Sá Nogueira, Fernando Santo, Filipe Mário Lopes, Helena Azevedo, Iolanda Soares, João Appleton, José Maria Lobo de Carvalho, José PedroMartins Barata, Margarida Ambrósio Fragoso,Maria Amélia Dionísio, Miguel Brito Correia,Nuno Teotónio Pereira, Paula Costa, Pedro Pimentel, Pedro Quintas, Raquel Henriques da Silva, Rosa Bastos, Vítor Cóias e Silva.Design gráfico e produção:Loja da ImagemRua Poeta Bocage, n.º 13 – B 1600-581 LisboaTel.: 210 109 100, Fax: 210 109 199E-mail: [email protected]:Loja da ImagemRua Poeta Bocage, n.º 13 – B 1600-581 LisboaTel.: 210 109 100, Fax: 210 109 199E-mail: [email protected] Impressão: Onda Grafe – Artes Gráficas, Ld.ªRua da Serra, n.º 1 – A-das-Lebres 2670-791 S.to. Antão do TojalDistribuição: Distribuidora Bertrand

Depósito legal: 128444/98Registo na DGCS: 122548ISSN: 1645-4863Tiragem: 2000 exemplaresPeriodicidade: Trimestral

Os textos assinados são da exclusiva responsabili-dade dos seus autores, pelo que as opiniões expres-

1

Ficha Técnica

45E-PEDRA E CALErros, Defeitos e... Blogs(José Maria Lobo de Carvalho)

42ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIO O Emblema da Cidade de Lisboa e a Identidade Municipal(Margarida Ambrósio Fragoso)

OPINIÃOA Bomba Tristeou a Cidade

que lhes Deixamos(José Pedro Martins Barata)

32DIVULGAÇÃOOCRE – Para Potenciar Portalegre(Pedro Pimentel)

34AS LEIS DO PATRIMÓNIOO Crime de Infracção de Regras de Construção(A. Jaime Martins)

36NOTÍCIAS

35RECORTES DE IMPRENSA/MATERIAIS E SERVIÇOS

2EDITORIAL

4OPINIÃO

Velhos e Novos (Raquel Henriques da Silva)

14CASO DE ESTUDOReabilitação Urbana:

Potencialidades e Limites(Filipe Mário Lopes)

18REFLEXÕES

Reabilitar a Reabilitação(João Appleton)

6ENTREVISTA

Arquitecto José AguiarNo princípio era o urbanismo!

(Helena Azevedo)

28INVESTIGAÇÃO

A Pesquisa Histórica na Intervenção no Património Edificado

(Rosa Bastos)

20TECNOLOGIAS

A Revisão dos Projectos como Forma deReduzir os Custos da Construção e osEncargos da Manutenção de Edifícios

(Iolanda Soares e Vítor Cóias e Silva)

24

ANÁLISEErros e Defeitos nas

Intervenções de Conservação: Detecção, Diagnóstico e Prevenção

(Carlos Mesquita)

26

41AGENDA

38VIDA ASSOCIATIVA

40PERFIL DE EMPRESA

44CONSULTÓRIO GECoRPA

46LIVRARIA

49ASSOCIADOS GECoRPA

52PERSPECTIVASRestauro e ReabilitaçãoO que temos feito, o que fazemose o que nos falta fazer

(Nuno Teotónio Pereira)

Capa

Exemplos de erros e defeitos quepodem ocorrer. Imagens cedidaspelo Arq.º José Aguiar, LNEC.

Erros e Defeitos na Reabilitação dos Edifícios e na Conservação e Restauro do Património Edificado

12CASO DE ESTUDO

A Prevenção das Patologias Construtivasdos Edifícios

( Fernando Santo)

PROJECTOS E ESTALEIROSSesimbra

Capela do Espírito Santo dos Mareantes(Carlos Sá Nogueira)

29

30GUIA PRÁTICOA Cal na Construção – Capítulo I(Jane Shofield) – Leonor Silva (Tradução), Miguel Brito Correia (Revisão)

02 Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

EDITORIAL

Que os erros e defeitos são inevitáveis e que todos os cometemos e possuímos, ninguém duvida. Porconsequência, toda a actividade humana é sujeita a erros e todo o produto dessa actividade pode apresentardefeitos. A construção é, no entanto, uma área de actividade onde uns e outros proliferam, atingindoindistintamente a construção nova, a reabilitação das construções existentes e a conservação do patrimóniohistórico construído.Os erros nas construções novas, todos os sentimos no nosso quotidiano: são as infiltrações e as humidades láem casa, é a falta de durabilidade dos acabamentos e revestimentos e todo um rol de grandes e pequenosdefeitos e insuficiências que não deviam existir, numa época em que, noutros sectores da actividade humana,assistimos a verdadeiros prodígios. Nas intervenções de reabilitação das construções existentes tudo é maiscomplicado: é preciso conhecer bem objecto da intervenção, modelar o seu comportamento, controlar aqualidade durante a obra e monitorar o resultado da intervenção: os erros podem ter consequências maisgraves e pôr em risco pessoas e bens. Finalmente, na conservação do património arquitectónico, o que está emcausa é algo que pertence às futuras gerações, de que nós somos apenas usufrutuários e curadores. Nestedomínio, espera-se dos agentes, a todos os níveis, contenção, rigor e responsabilidade, postura que, todossabemos, não é a mais habitual no sector da construção. Por muito incómodos e perniciosos que sejam os erros e defeitos, eles encerram um valiosíssimo potencial deensinamentos e oportunidades de melhoria.Há uma canção da Edith Piaf em que ela diz, certamente num contexto menos prosaico, algo que vem apropósito:C’est payé, balayé, oublié... je repart a zero!Acho que, para nós, não é bem assim: os erros pagam-se, varrem-se e esquecem-se, mas só depois decuidadosamente analisados e deles se terem extraído todas as lições que for possível, para evitar cometê-los denovo. Se o fizermos, não partimos necessariamente do zero.Foi neste contexto que surgiu a ideia de realizar, numa parceria entre o GECoRPA e o LNEC, um SimpósioInternacional sobre Patologia, Durabilidade e Reabilitação de Edifícios, sob a égide do W086 – BuildingPathology, um grupo de trabalho do CIB, International Council for Research and Innovation in Building andConstruction.O GECoRPA achou que a organização do simpósio seria uma excelente oportunidade de contribuir paramelhorar as práticas na reabilitação dos edifícios antigos e na conservação do património arquitectónico, comoé seu objectivo estatutário. É, também, uma boa maneira de assinalar o quinto aniversário da nossa revista.

V. Cóias e Silva

Aprendendo com os Erros e Defeitos:na Construção Nova, na Reabilitação e na Conservação

03Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

GECoRPA

Quadro de Honra

Do número apreciável de empresas que têm manifestado interesse na conservação do patrimónioarquitectónico português e nas actividades do GECoRPA, foi seleccionado um grupo restrito depatrocinadores da revista Pedra & Cal.Para distinguir essas empresas, particularmente empenhadas no sucesso da revista, foi criado opresente Quadro de Honra.

A Direcção do GECoRPA

Gabinete Técnico de Engenharia, Ld.aConservação e Restauro do

Património Arquitectónico, Ld.a

Diagnóstico, Levantamento e Controlo deQualidade de Estruturas e Fundações, Ld.a

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

São noções com uma fortíssima historici-dade que começa por ser oitocentista(quando se defendia que monumentos emesmo cidades deviam ser restauradosnuma mítica verdade inicial) e percorremos patamares da própria evolução da ar-quitectura ao longo do séc. XX: da inter-venção violenta (com uso de materiaisexógenos como o betão) ou impositiva, àsvárias gradações do que hoje entendemospor intervenção mínima que deixa respi-rar as ruínas e, sofisticadamente, as dotade condições de uso e ou fruição.Simultaneamente à evolução dos critérios,mais ou menos teorizados, de intervençãoem monumentos e sítios prestigiados, odado mais espectacular, neste domínio, éa permanente extensão do que se entende

por património que deve ser preservado.Do conjunto restrito dos monumentos na-cionais mais relevantes, património pas-sou a ser, ao longo do século passado,peças ou conjuntos urbanos habitacionais,arquitecturas populares ou industriais,vestígios arqueológicos, e, no último quar-tel de novecentos, sítios, centros históri-cos, paisagens, mas também elementosmorfológicos de articulação espacial, co-mo ruas, muros, portões, árvores. O carácter invasor das exigências de sal-vaguarda patrimonial, sobre os lugaresem que vivemos, é sentido por alguns (ca-da vez menos?) como peso excessivo emrelação à legítima e também histórica pre-tensão de marcarmos o nosso tempo comas nossas opções, estéticas, técnicas, so-

ciais e culturais. Este ponto de vista, quan-do tratado com empirismo ou demago-gia, ignora que sempre as comunidadeshumanas viveram em cidades, sítios epaisagens herdados – vivemos na cidadedos mortos, poder-se-ia dizer poetica-mente – onde a marca de sucessivos tem-pos presentes foi, secularmente, mínimae rapidamente integrada. Esta lenta absorção do novo nos corposdominadores do existente entrou em cri-se nos últimos 50/60 anos. O crescimentodas cidades e a mundialização da econo-mia, suportadas por um poder tecnológi-co inédito e imparável, conduziu-nos à in-versão violentíssima da relação entre onovo e o velho nas cidades, sítios e paisa-gens: o primeiro impôs uma imensa su-

4

OPINIÃO

Velhos e novosA salvaguarda e defesa do património edificado é um tema maior dos debates urbano-arquitectóni-cos e ambientais da contemporaneidade. O que é salvaguardar e o que é património não são, no en-tanto, noções estáveis…

Telm

o M

iller

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

perioridade, em densidade, altura e, iro-nia aparente, fraquíssima durabilidade.Do que resulta uma situação fractal: as ci-dades (pedaços delas) e as paisagens no-vas, em que quase todos vivemos, poucotêm que ver com a imperiosidade de de-fender as heranças. Como os nossos vel-hos dos lares da terceira idade: visitamo-los às vezes mas ninguém os quer porquenão acompanham a vertigem do tempocurto e a velocidade que nos determinam.Neste contexto, as exigências patrimonia-listas que hoje caracterizam as cidades eas paisagens europeias – e são, digamo-locom clareza, uma das marcas mais gratifi-cantes do ser europeu – já não podem serapanágio de classe de alguns, poucos e eli-tistas. Elas situam-se hoje, idealmente, noseio das comunidades que, com maior oumenor discernimento, assumem, comodesígnio identitário, a sua defesa. Assimaconteceu, por exemplo, em Foz Côa. O que passou a estar em causa, no âmbitocada vez mais alargado da salvaguarda evalorização dos patrimónios, é a nossaprópria sobrevivência: fisicamente amea-çados pela exploração desadequada dosrecursos planetários e condenados, se osconstrutores do novo pudessem, a viverem lugares sem memória, sem raízes, mu-dos apesar do ruído eufórico da nossa si-tuação cosmopolita.O enunciado de que não queremos viver

em cidades sem história – e que esta, emtodas as suas dimensões, muito antigasou mais recentes, heróicas ou vulgares,constrange as intervenções nos sítios epaisagens – é hoje assumido por todos ospoderes e actores sociais, o que não querdizer que seja cumprido. Entramos assimno tema que me foi proposto. Não vou, no entanto, debruçar-me sobreerros patrimoniais concretos. A lista po-deria ser mais ou menos extensa, marca-da pela minha subjectividade. Prefiro fa-lar na generalidade para reconhecer queos maiores erros neste domínio radicamna ausência de inventários extensivos ac-tualizados, nas incúrias, mais ou menosintencionais, e na ausência de instrumen-tos eficazes de consertação de interesses,quando os patrimónios a defender sãoprivados.Esses erros advêm, mais profundamente,do facto de a defesa patrimonial – em sen-tido mais restrito e mais amplo – não serainda, para quase todos nós, o imperativosocial e ético que devia ser. Falta-nos es-pessura cultural, ou seja, o amor suporta-do em conhecimento. Falta-nos orien-tação política, nacional, regional e local, oque quer dizer que quem nos governa nãoestá comprometido de facto com o essen-cial das causas patrimonialistas. Falta-nostambém qualidade de investimento por-que os nossos empresários são todos de-

masiado recentes e visam – porque os dei-xam – lucros imediatos a taxas altíssimas,ou seja, como dizia o povo, são especialis-tas em matarem as galinhas dos ovos deouro.Falta-nos, sobretudo, a capacidade deconsertação entre as elites – não tenhamosmedo de palavras – que, na verdade, sãopatrimonialistas. Cidadãos anónimos, es-pecialistas das várias áreas, alguns políti-cos, alguns empresários sabem – sabemos– definir, sem dureza e com ponderação,o que deve ser feito para salvar objectospatrimoniais que podem ser um muro,uma casa, um moinho, um núcleo históri-co ou um sítio na paisagem. Sabemostambém que não podemos salvar verda-deiramente as memórias constitutivas senão exigirmos patamares de qualidademínima às cidades novas que se vão edifi-cando.Termino sobre este último tópico: hoje, agrande questão patrimonialista não é asalvaguarda do passado, entendido emtodas as dimensões temporais e espaciais.Porque para o salvarmos é do novo quetemos de cuidar, ou seja, da qualidade ur-bana e paisagística do que vai sendo edi-ficado, do ponto de vista arquitectónico e,essencialmente, do ponto de vista ur-banístico. Se não o fizermos, os objectospatrimoniais salvaguardados são corposmortos embalsamados, sem a seiva signi-ficante que os tornaram importantes paranós. Podemos visitá-los, podemos mes-mo amá-los e usá-los, como, dantes, a pe-quena burguesia usava a sua sala de jan-tar: raramente, com parcimónia e cerimó-nia. Se continuarmos a gerir assim a nos-sa relação com a património, as cidades eos sítios continuarão a morrer. Como se,em termos sociais, passássemos a cuidarbem os nossos velhos nos espaços higie-nizados de lares modelares, deixando acidade viva às classes juvenis. Quem oquer?

5

RAQUEL HENRIQUES DA SILVA, Prof.ª Auxiliar (Doutorada) do Departamento de História da Arte da FCSH-UNL

OPINIÃOTe

lmo

Mill

er

ENTREVISTA

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

Tema de Capa

Pedra & Cal – Quais os erros e defeitosmais comuns e mais graves que ocorremhoje na reabilitação dos edifícios e naconservação e restauro do património ar-quitectónico?José Aguiar – É comum pensar-se que sãoproblemas de “construção”, tecnológicos,localizados e (como tal) facilmente resolú-veis. Não acho nada disso! Os erros comimpactos mais terríveis são os de naturezaurbanística. Têm-se investido sobretudo na expansãoexterior à cidade, provocando nela ciclosde entrada e de saída, que produzempressões terríveis sobre o interior das pró-prias cidades onde estão os edifícios histó-ricos. E estes acabam por ser alterados emfunção de necessidades para que não fo-ram criados, nem estão preparados. A par dos problemas de projecto, da alte-ração e do uso, de não perceber a culturada construção antiga (que tinha uma filo-sofia completamente diferente da actual)esses são para mim os mais graves errosneste domínio. P&C – Qual é então o primado do qual sedeve partir quando se quer adoptar umaestratégia para restauro e reabilitação dopatrimónio?

JA – Fazer menos, em vez de fazer mais!Ou seja, quando deparamos com um edifí-cio antigo a primeira tendência é dizer queé apertado e que a sua tipologia não é ade-quada! E a primeira decisão é impor mala-barismos exigentes para que ele cumpraas exigências actuais. Ora bem, em vez deobrigar um edifício destes a cumprir estesdesempenhos e amplos requisitos (espa-ciais, funcionais), porque não pegar na-quele utilizador e, dentro da própria cida-de histórica, oferecer-lhe um outro edifí-cio próximo que resolva melhor e comomenos alterações a satisfação das suas ne-cessidades? Isto passa, no fundo, por umprocesso de gestão urbanística dos centroshistóricos que é prática corrente na maiorparte dos países europeus. Por cá, persistimos em impor exigênciasprogramáticas próprias da arquitecturanova à antiga; o que nos leva a partir paraa intervenção no antigo com uma lógicareformista muito ampla. Altera-se tudo!O que é um erro dramático! Temos de pen-sar na importância (documental, históri-ca, estética, material) destes, já escassos,sobreviventes (os edifícios históricos), do-tados de um enorme valor potencial, es-sencial a uma economia de futuro, virada

para os serviços, para uma nova residen-cialidade urbana e para o turismo… É pre-ciso perceber que os americanos e os japo-neses vêm à Europa para ver as nossas ci-dades. Mas a cidade que eles querem vernão é a que nós construímos no últimos100 anos, essa é desqualificada.Segundo os censos, temos muito poucosedifícios anteriores a 1918, cerca de 8 porcento. Com a nossa excessiva “capacidadereformista” e visão actual corremos o ris-co de em breve os fazer desaparecer.P&C – Há também erros grosseiros ao ní-vel dos materiais utilizados?JA – As construções antigas são assegura-das por materiais eminentemente poro-sos. Ora, ao detectar problemas com aágua (nas suas múltiplas formas), o pen-samento tendencial é: “vamos aplicar ca-madas impermeáveis”. Mas, ao fazê-lo,por vezes esquecemos que é quase sem-pre inevitável a chegada da água (por ci-ma, por baixo, pelos lados) ao interior dasparedes. Resultado: a lógica que poderiafuncionar bem numa construção nova,passa a ser factor patológico numa cons-trução antiga. Por isso é necessário perce-ber a cultura da construção antiga para po-der actuar sobre ela. O que não quer dizer

6

Arquitecto José Aguiar

No princípio era o urbanismo!Autênticos “pecados originais”, a má gestão urbanística e o desconhecimento da cultura da cons-trução antiga são os erros primeiros da Conservação, do Restauro e da Reabilitação do Patrimónionacional. Os outros problemas, os de ordem tecnológica e mais facilmente localizáveis, vêm poracréscimo. Esta é, pelo menos, a teoria do arquitecto José Aguiar, Investigador do LNEC nesta área,que defende como princípio basilar da Reabilitação, Conservação e Restauro, a máxima: “faça me-nos, em vez de fazer mais!”

que não se utilizem produtos e técnicascontemporâneas.P&C – Cada edifício tem de ser objectode um cuidado estudo prévio?JA – Costuma dizer-se que cada caso é umcaso. Mas é evidente que se podem reunirtendências. Os edifícios antigos obedecema padrões relativamente estáveis: como orecurso aos materiais locais e disponíveis.Cada um destes edifícios tem uma relaçãomuito próxima com o próprio lugar ondeassenta (pertence a uma microcultura geo-gráfica, morfológica, geológica, climatéri-ca, etc.). Hoje raramente é assim! Temosprodutos estranhíssimos e, ainda por ci-ma, os arquitectos têm uma tendência na-tural para se enamorarem pelo novo, pelaúltima moda. O resultado é que, passadoscinco ou seis anos, esses produtos já nemexistem sequer no mercado e os seus de-sempenhos e capacidades reais ficammuito aquém da maravilha prometida. Is-to acontece sistematicamente e os edifíciosantigos dos nossos centros históricosvêem, não raramente, ser-lhes imposta to-da uma panóplia de tecnologias moder-nas: betão, cimentos Portland, acrílicos,vinílicos, membranas, etc.Esta postura traz problemas complexos.

CONSERVAR A CIDADE HISTÓRICATEM DE SER DESÍGNIO NACIONALP&C – Se já há uma tomada de consciênciarelativamente a todo este tipo de erros, oque é que obsta a que se mude a filosofia? JA – Já temos técnicos, formação adequada(a nível de mestrados e de doutoramentos etambém no mundo da indústria da cons-trução) empresas preparadas e até organi-zadas em estruturas como o GECoRPA…O problema é que em Portugal a conser-vação da cidade histórica ainda não é umdesígnio nacional, nem um objectivo es-tratégico para o país. E devia sê-lo!O facto de não termos entrado na II GuerraMundial e de grande parte da nossa popu-lação ter emigrado para a Europa ou paraÁfrica fez com que Portugal fosse um dosrepositórios mais interessantes de arquitec-tura urbana da Europa.Em 30 anos, o processo de delapidação des-se recurso foi dramático: não há cidade quenão esteja rodeada de uma coroa suburba-na e expansiva de edifícios modernos queocultam os conjuntos antigos.Mais grave ainda, segundo estudos recen-tes, 25 por cento dos edifícios existentes emPortugal, novos ou antigos, estão desocu-pados. Portugal é, talvez, o país da Europa

com maior número de dupla habitação emaior número de fogos desocupados. E da-da a previsão de que Lisboa tornar-se-á,dentro de uma ou duas dezenas de anos, na3.ª área metropolitana da Europa, ainda émais atemorizador. Tanto mais que não nosreproduzimos… Temos de reflectir profun-damente sobre este cenário! Até por que a nova economia – a vindoura– não parece ser incompatível com as cida-des históricas e com os núcleos históricos,como antigamente foi. Hoje o que produzverdadeiramente riqueza é a inteligência. Eessa exerce-se em qualquer sítio.P&C – Falava há pouco de gestão urbanís-tica… Até que ponto o mercado imobiliá-rio e a sede de lucro condicionam essagestão?JA – Se é verdade que o mercado imobiliá-rio oferece hoje tipologias que não corres-pondem inteiramente às necessidades efec-tivas (a quase obsessiva exclusividade deT2´s e T3´s, também é certo que os edifícioshistóricos das cidades antigas oferecem,não raramente, tipologias ou muito peque-nas ou muito amplas. Nem todos somoscsais grávidos à procura do T2 ou T3 da pra-xe. A sociedade tem inúmeras pessoas quevivem sozinhas: famílias monoparentais,

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

ENTREVISTA Tema de Capa

7

ENTREVISTA

ENTREVISTA

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

Tema de Capa

8

divorciados, estudantes, mas também pes-soas que vivem com os pais até aos 30/40anos (que há muito deviam viver sozinhos) eque necessitam de maior privacidade…donde há lugar para a pequenez (ou o seuoposto) de muitos fogos em edifícios históri-cos. P&C – O estudante não tem poder de com-pra…JA – Isso é um engano! Estudei, há algumtempo, na Alemanha, onde aluguei um T0mobilado num conjunto de apartamentos nointerior de uma cidade histórica. Paguei, naaltura, o equivalente ao que seriam hoje, uns40 contos por mês (o mesmo que paga um es-tudante ou um trabalhador por um quartode alguém num apartamento alugado poroutrem a 25 euros). E, se por um lado as casas no interior das ci-dades não oferecem espaços mais amplos,podem oferecer outras coisas: centralidade,transportes, o acesso mais rápido, o acessorápido a toda uma gama de ofertas cultu-rais. Descobre-se hoje por toda a Europa o re-gresso à cidade. Em Paris, por exemplo, aspessoas começaram a trabalhar na periferiae a viver no centro. Nós insistimos no inver-so.Como não temos uma tributação sobre os so-los ou sobre as casas antigas, é de toda a con-veniência para os proprietários tê-las para-das à espera de futuras mais-valias, ou queelas caiam, podendo assim vender paraconstrução de prédios com mais densidadeno mesmo sítio. Em outros países Europeusnão é bem assim, as pessoas pagam menosde IRS, mas pagam muito mais por aquiloque é a verdadeira riqueza: a propriedade(financeira ou imobiliária)!O modelo francês, nesse aspecto, é espanto-so. Num tecido histórico francês, o principalinstrumento de controlo da reabilitação e daconservação, é, mais uma vez, de naturezaurbanística. Chama-se Plano de Ocupaçãodos Solos (POS). Nele se estabelecem indica-dores, lote a lote, edifício a edifício, que, pornorma, estabelecem que, no caso daqueleedifício ir abaixo, só se pode construir aliuma área bem inferior à já existente. Con-clusão: ao proprietário interessa sempremanter o que já tem. Em Portugal é ao contrá-rio: o crime de deixar cair, compensa! P&C – Mas para pagar as tais taxas de utili-

zação do solo, e até para o proprietário po-der reabilitar o edifício, as rendas teriam deser descongeladas, não?JA – Ninguém tem a menor dúvida sobre is-so. Há uma enorme quantidade de edifíciosantigos cujas rendas se situam abaixo dos15/25 euros… Trata-se de um problemapolítico muito delicado, que noutros paísessó se resolveu quando o Estado actuou deuma maneira muito forte na promoção dehabitação compensatória. Quando se des-congelaram as rendas em França, o Estadolançou (no mesmo momento) 3,6 milhões dehabitações a aluguer moderado (HLM). Fo-gos que foram colocados no mercado emfunção dos rendimentos das pessoas: se gan-hasse 100 contos pagava pelo aluguer 20; seganhasse 200, pagaria 40!P&C – É só desse tipo de reutilização quedepende a reabilitação da cidade antiga?JA – Não só! Há edifícios antigos com um in-teresse histórico tal que necessitam de um ol-har muito mais atento, mais qualificado; ain-da mais estratégico, sobretudo na perspecti-va de que temos vocação para prestar ser-viços. Algumas cidades têm prestado uma aten-ção cuidadosa a estas questões e os resulta-dos económicos são fabulosos. O centrohistórico de Guimarães é um exemplo! Olhe--se para o Alentejo e veja-se o sucesso de Évo-ra. Tanto Évora como Guimarães têm es-tratégias de intervenção e de reabilitação quevêm antes da primeira República. Qualqueruma destas cidades é considerada pólo deatracção e modelo de dinamismo urbano ede produção de mais-valias, porque têmuma estratégia muito longa de conservação,sempre compensadora a médio e longo pra-zo.

O SEGURO MORREU DE VELHO?P&C – E quanto à legislação em matéria deanomalias dos edifícios antigos e conse-quente segurança? JA – Esse é um problema complexo. Qual-quer intervenção num edifício, seja antigoou novo, deve obedecer a critérios básicos desegurança porque a vida humana é um bemacima de todos. Mas um edifício que foi con-cebido há 200, 300 anos não pode assegurar odesempenho e as prestações funcionais queexigimos a um edifício moderno. Daí quetenha de existir alguma permissividade con-

trolada. A lei permite que não se cumpramintegralmente certos aspectos da legislaçãonova em edifícios antigos. E ainda bem! Seassim não fosse tínhamos de demolir todo oedificado antigo e reconstruí-lo de cima abaixo, o que apagaria a maior parte do seuinteresse histórico, estético e patrimonial (edo seu valor para a nova economia). Há mesmo países que estabeleceram “subs-tandards” e recomendações de boas práticaspara dar resposta a estas questões.Dou-lhe um exemplo: a lei da edificação émuito exigente para as acessibilidades; masintroduzir rampas com as inclinações previs-tas na lei ou determinadas larguras de vãos éabsolutamente incompatível com o valor ar-quitectural de um edifício histórico gótico ourenascentista. Aqui, um projectista tem de en-contrar o meio-termo e sobretudo tirar parti-do da sua criatividade (existem soluções en-genhosas, ainda que por vezes um pouco ca-ras como os elevadores óleo-pneumáticos).De qualquer forma é evidente que devem ha-ver recomendações, códigos de boa prática,orientações técnicas!P&C – E há?JA – Algumas, por vezes desactualizadas epodia haver mais… Por outro lado, tambémhá discrepâncias a nível da interligação dasvárias legislações. Para cumprir integral-mente a legislação de segurança a incêndios,poderemos chegar a situações em que temosmuito pouca segurança em relação à in-trusão.P&C – Faria sentido um conjunto de reco-mendações específicas para os CentrosHistóricos?JA – Existem algumas medidas cautelaresem prol da segurança em sítios antigos. Exis-tem alguns trabalhos que o próprio laborató-rio fez, nomeadamente o Guião de Apoio àReabilitação de Edifícios, para a reabilitação neste tipo de casos. Mas precisa-mos, de facto, de actualizar esses documen-tos e promover novos instrumentos de com-pilação e partilha do conhecimento hoje dis-ponível!P&C – Enquanto pessoa ligada à reabili-tação e restauro, quais as anomalias / errosque mais o impressionaram? JA – Os de origem humana e de natureza cul-tural, como é evidente, sobretudo quandoprovêm de destrutivas e arrogantes ignorân-cias (como o “ódio” ao antigo)! Erros verda-

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

ENTREVISTA Tema de Capa

9

deiramente dramáticos: eu referiria a ab-surda renovação urbana que teve lugar naAlta de Coimbra, nos anos 40, no EstadoNovo, em que para se fazer uma nova cida-de universitária, se destruiu grande parteda cidade histórica. Por vezes estivemosquase no abismo: perante planos Moder-nos, dos anos 50, que previam a demoliçãode metade do Bairro Alto em Lisboa parafazer vias rápidas; ou os planos que defen-deram a demolição da Ribeira Barredo, noPorto dos anos 50 e 60. Tecnicamente ocorre-me uma intervençãono Convento de Mafra, em que os revesti-mentos pareciam em excelentes condições.Quando fizemos algumas sondagens, veri-ficamos que estavam feitos com argamas-sas de cimento Portland extraordinaria-mente consistentes. Ao realizar pequenosfuros, jorrava areia como de uma ampulhe-ta partida e constatava-se a extensiva faltade coesão das argamassas de cal que ligavaas alvenarias, a serem literalmente destruí-das pela pouquíssima permeabilidade des-ses novos revestimentos. Este exemplo é ti-po dos impactos resultantes da aplicaçãoacrítica de uma lógica da construção con-temporânea (impermeabilizar a “pele” ex-terior) a construções antigas.

MEDIADORES ESSENCIAISP&C – Como se podem prevenir erros co-mo o do Convento de Mafra?JA – Nós já saímos de uma indústria cujacultura era eminentemente artesanal, ondepautava o mestre construtor e a sua ética,para entrar num novo tipo de lógica, maiseconomicista e “industrial” – de anónimase despersonalizadas subempreitadas – sequisermos. Trilhando este caminho o pro-blema é estarmos ainda nas chamadas“meias tintas” (i.e. não terminou ainda umarealidade e não chegamos à outra). A res-posta a isso passa pela qualificação de quemactua aos vários níveis, mas também porum dono de obra mais atento (acedendo auma fiscalização competente). Se tivermosestas condições tudo correrá tendencial-mente melhor. Sendo este um domínio fér-til em situações inesperadas, difíceis de re-grar, há que aumentar ao máximo o conhe-cimento prévio para reduzir as surpresas.Importa realçar que tendemos muito a po-larizar as coisas entre projectistas e constru-

tores, como se no meio não houvessem ou-tras virtudes. Bem, lá fora, entre uns e ou-tros, existem outro tipo de protagonistas: osrestauradores! Esta nova disciplina e ofíciopode/deve por um lado ajudar o projectis-ta apoiando as decisões e escolhas a fazer e,por outro, funcionar em obra, fornecendoas indicações, as orientações, o acompanha-mento e fiscalizando os trabalhos.Em muitos países custa menos reabilitar erecuperar um edifício antigo do que cons-truir um novo (com áreas similares) porquê?Os agentes especializaram-se, as empresasprepararam-se, o mercado dos materiais deconstrução deu resposta às novas necessi-dades, os rendimentos de obra de reabili-tação melhoraram substancialmente porcomparação com aqueles que nós obtemos. O facto de uma empresa dar provas naconstrução nova não a habilita a intervirbem no edificado antigo.P&C – Desde quando é que essa preocu-pação com a prevenção de erros e defeitosexiste em Portugal?JA – No mundo da conservação patrimo-nial, ao contrário do que se diz, essa preo-cupação não é de hoje. Mas, a explosão dos garantismos e exigên-cias ao universo da construção, começousobretudo há cerca de duas décadas. Quando se tem uma economia tão exclusi-vamente dirigida para a produção de edifi-cação nova, demora algum tempo a desen-volver o saber e capacidades necessárias pa-ra dar resposta às novas exigências da cons-trução antiga. E isto não passa só por as me-zinhas de antigamente, mas sobretudo poradaptar procedimentos (organização de es-taleiro, tipo de mão-de-obra, disponibili-zação de saberes em obra, acesso a determi-nados materiais, etc.).P&C – E regressamos à incontornávelquestão dos materiais e das tecnologiasantigas?JA – Voltamos à filosofia “faça menos, emvez de fazer mais!” aproveite-se tudo o queestá bom e é aproveitável (a reabilitaçãoobedece ao paradigma ecológico). Para is-so são essenciais as fases de análise ediagnóstico. P&C – Enquanto professor tem um con-tacto muito próximo com as novas ge-rações de arquitectos e engenheiros. Achaque estão mais bem preparadas para essa

Como não temos uma

tributação sobre os solos

ou sobre as casas

antigas, é de toda a

conveniência para os

proprietários tê-las

paradas à espera de

futuras mais-valias, ou

que elas caiam, podendo

assim vender para

construção de prédios

com mais densidade no

mesmo sítio.

ENTREVISTA

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

Tema de Capa

lógica de fazer menos em vez de mais?JA – Sem dúvida que sim! Quando começa-mos a conhecer melhor estes jovens, temosgrandes surpresas. A maior parte deles estáalerta para as questões da ecologia e a reabi-litação trata de reutilizar um recurso queexiste (despendendo 100 vezes menos ener-gias, dizem os alemães, do que construir denovo).Curiosamente, creio que as novas geraçõestêm até um certo encantamento com o pas-sado e revêem-se melhor nele do que a mi-nha geração. O maior problema está em po-der encontrar agentes e oportunidades queos possam orientar em sentidos que não sóo narcisismo consumista da “obra nova”.

POTENCIAR AS ZONAS NA LINHA DEFRONTEIRAP&C – Quais os centros históricos portu-gueses da sua eleição?JA – Como modelo de intervenção, achoque o caso mais notável neste momento éGuimarães. Experiência que já começa a serestudada lá fora.Quanto a tecidos urbanos de interessehistórico onde ainda há oportunidades debem conservar, os mais interessantes exis-tem muito perto da linha de fronteira, lon-ge do litoral. Aí, de Norte a Sul do país, hánúcleos urbanos de grande autenticidadematerial e histórica que mereceriam umaatenção muito particular.Costumo, de cinco em cinco anos, fazer umaviagem ao longo dessa linha e fotografar osmesmos sítios. É muito interessante ver osque mantém as qualidades essenciais e osque já sofrem(ram) um rápido processo detransformação.Mas se me pede para escolher uma zona dopaís que me é particularmente cara, diriaMonsaraz e toda aquela região, as peque-nas cidades Raianas, de Mértola por Mou-rão a Campo Maior, uma zona com poten-cialidades paisagísticas e patrimoniais úni-cas em toda a Europa e que exige a salva-guarda não só da “cidade” como tambémda paisagem humanizada. P&C – Proponho-lhe agora um exercício:avançar meio século no tempo e pensar noque se constrói hoje em Portugal. O que éque vai valer a pena conservar? JA – Nós vivemos uma circunstância excep-cional na história de Portugal. Temos al-guns dos melhores e mais famosos arqui-

tectos do mundo (e tratamo-los muito mal!).Há uns tempos atrás tínhamos cinco arqui-tectos portugueses considerados entre os100 melhores do mundo. Felizmente, muito do que estamos a fazer, efizemos nos últimas duas décadas, será oujá é património.Por outro lado, também temos de pensarque há toda uma cultura popular que os in-telectuais tendem a desprezar, mas que,quando é revista no tempo, ganha outrasperspectivas. Creio que vamos deixar algumas coisas en-quanto geração, mas também vamos deixaruma enorme quantidade de porcaria. E por-caria são as coisas rápidas e mal feitas, malsedimentadas que nunca sobreviverão aoprocesso sedimentar da história.Pesa-me saber que, daqui a 50 anos, vamosser julgados como tendo feito muito e de-masiado depressa, estourando recursos deforma irreversível (como o território e as ci-dades históricas).P&C – Que acha do 2º. Simpósio Interna-cional sobre Patologia, Durabilidade eReabilitação dos Edifícios?JA – Acho a ideia e a oportunidade excelen-tes. Os temas parecem-me muito interes-santes; até no sentido de problematizar asfuturas grandes questões metodológicas.Hoje ainda só falamos em restaurar e reabi-litar, dentro de 20 ou 30 anos o problema vaiser manter, institucionalizar rotinas e siste-mas de manutenção. Em Inglaterra não há nenhum edifício queseja restaurado ou conservado a que nãocorresponda também um programa de ma-nutenção e de avaliação regular do seu es-tado e desempenho. Hoje já têm especialis-tas (surveyors) para realizar análises do edi-ficado, com vista a apurar problemas, de-terminar os seus custos e apoiar os proces-sos de manutenção. Vestindo (sempre!) a camisola da casa(LNEC) agrada-me particularmente queesta iniciativa - das mais interessantes doano (juntamente com o 3º ENCORE) – ocor-ra nesta grande instituição, o que demons-tra inequivocamente a sua grande preocu-pação com este sector de actividade.

10

Entrevista de Helena Azevedo

Pesa-me saber que, daqui

a 50 anos, vamos ser

julgados como tendo

feito muito e demasiado

depressa, estourando

recursos de forma

irreversível (como o

território e as cidades

históricas).

- Disponível na Livraria Virtual do GECoRPAem www.gecorpa.pt

CASO DE ESTUDO

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 200312

Os bens produzidos pelo Homem, osedifícios são aqueles com quem mais par-tilhamos a vida, estando presentes em to-das as fases importantes. Talvez por isso,existam tantas semelhanças entre o enve-lhecimento dos Homens e dos edifícios.Mas, apesar da prevenção ser, normal-mente, a forma mais económica de mini-mizar as consequências das patologiasconstrutivas, verifica-se uma ausência decultura orientada para a aprendizagemcom os erros cometidos. Esta cultura temde resultar da organização dos sectoresdas obras públicas e da construção civil,da legislação do sector, do modelo do li-cenciamento urbano, do desenvolvimen-to das instalações técnicas, do ritmo daconstrução e da valorização da imagemcomo sinónimo de qualidade.

A ORGANIZAÇÃO DOS SECTORESDAS OBRAS PÚBLICAS E DA CONSTRUÇÃO CIVILOs sectores da construção civil e das obraspúblicas foram organizados, em modelospróximos dos actuais, durante os anos de1950 a 1970. Durante os últimos 30 anos muitas foramas transformações ocorridas, as obras pú-blicas passaram a ser promovidas por al-gumas entidades especializadas, com ousem meios, mas uma parte significativa épromovida por donos de obra que apenaso são por disporem de verbas do Orça-mento do Estado ou de um qualquer fun-do de financiamento.O recurso à subcontratação desagregou oque deveria ser concebido e gerido glo-balmente, em melhoria contínua, fruto daaprendizagem de cada ciclo. Por outro lado, a desqualificação do valor

dos alvarás, conduziu à certificação deempresas sem a capacidade que o títuloatesta e a competitividade do sector obri-gou a processos de redução de custos comimplicações na qualidade.Também ao nível da organização produ-tiva, as empresas de construção tiveramque se adaptar à legislação laboral produ-zida, reduzindo os seus quadros ao míni-mo possível, subcontratando a maior par-te dos trabalhos, que por sua vez, aindasão subcontratados até se perder o rasto aquem verdadeiramente executa.

A LEGISLAÇÃO DO SECTOR E A IMPORTÂNCIA DO LICENCIAMENTO URBANOA partir de meados da década de 80 acen-tuou-se a produção legislativa avulso,por especialidades, sem a preocupaçãoda sua compatibilização com actividadesafins e sempre numa óptica isolada do es-pecialista, ignorando-se que o edifício éum todo. Esta visão isolada e traduzida em deze-nas de diplomas e centenas de artigos,transformou o licenciamento urbano nu-ma mera verificação administrativa, com-plexa, por vezes discricionária, sendo aaprovação e a obtenção das licenças ogrande objectivo dos promotores. Quan-to ao projecto de execução, normalmenteé dispensado, atribuindo-se ao empreitei-ro a competência para executar a obra li-cenciada.Com este quadro de licenciamento, as ca-torze especialidades que compõem hojeum projecto de licenciamento de umedifício, encontram-se na obra pela pri-meira vez, e é nesse local que os proble-mas se resolvem ou se disfarçam, depen-

dendo da competência e do profissiona-lismo dos intervenientes.

O DESENVOLVIMENTO DAS INSTALAÇÕES TÉCNICASO desenvolvimento das redes técnicasdos edifícios durante a última década de-terminou uma maior complexidade nosprojectos. A sua coordenação e a compa-tibilização em obra dos atravessamentose dos espaços para estas instalações técni-cas passou a ser um problema adicional,porque não previsto. As implicações emobra, com sacrifício dos elementos estru-turais, cortados para permitirem atraves-samentos não previstos, são um dos pro-blemas mais frequentes e preocupantes.Também o sistema construtivo, com pro-cessos tradicionais das décadas de 60 e 70,não está adequado a esta nova realidade.E, em obra, após execução das alvenariasinteriores, as mesmas são parcialmentedemolidas para instalação das redes téc-nicas.

O RITMO DA CONSTRUÇÃODurante os últimos cinco anos a produçãoanual de habitação ultrapassou as 100.000unidades, mais que o dobro da anteriormédia anual. Esta evolução permite con-cluir que, nos últimos 30 anos, foramconstruídos cerca de 40 por cento dos fo-gos existentes e destinados a habitaçãopermanente. A esta pressão da procura,justificada pelas carências habitacionais epelo abaixamento das taxas de juro, ospromotores responderam com as taxas deconstrução referidas, mas também comprazos de construção cada vez mais redu-zidos, com consequências nos processosconstrutivos e na qualidade.

Tema de Capa

Ao olharmos os edifícios idosos na perspectiva da sua recuperação, em vez da demolição, encontra-mos um conjunto de patologias, mais ou menos graves, que importa sanear, requalificando os edifí-cios da forma mais adequada às funções que desempenham.

A Prevenção das Patologias Construtivas dos Edifícios

CASO DE ESTUDO

13Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

A VALORIZAÇÃO DA IMAGEMCom o acréscimo da produção acentuou-se a diferenciação dos produtos, identifi-cando-se a qualidade com aspectos apa-rentes, de imagem, acentuados através domarketing imobiliário, mas sem verdadei-ramente se focalizar na qualidade cons-trutiva. Raramente se questiona a quali-dade da estrutura, das impermeabili-zações, do comportamento térmico eacústico, da durabilidade dos materiais edos equipamentos instalados, da pro-tecção contra incêndios ou das redes deinstalação de gás.

APRENDENDO COM OS ERROSA experiência da construção de um edifí-cio, geralmente, apenas beneficia os inter-venientes directos, os projectistas, os téc-nicos de fiscalização e os técnicos da cons-trução. Raramente as organizações reco-

lhem as experiências como memória co-lectiva a transmitir a cada novo processode produção. Os custos com os defeitosde construção são bastante superiores aoscustos directos com a reparação, sendotambém avaliados por custos de tempo,dependentes do despendido pelos inter-venientes, com destaque para os clientese utilizadores e custos psicológicos, deavaliação mais subjectiva, mas de grandesignificado para os clientes, utilizadores eopinião pública.Como resumo de patologias construtivasfrequentes durante a utilização dos edifí-cios, enunciarei as seguintes: • Humidades internas provocadas por in-filtrações nas coberturas, nos pavimentosinteriores, junto às portas de varandas,em pisos enterrados, em paredes, provo-cadas por roturas nas redes, em tectos deinstalações sanitárias;

• Condensações associadas às condiçõesde ventilação;• Fissuração de paredes;• Entupimento de esgotos. A redução das patologias construtivas edos erros dos projectos terá que resultarde alterações nas áreas referidas e quenão esgotam o universo do processo pro-dutivo.

Tema de Capa

FERNANDO SANTO,Eng.º Civil, coordenador da Especialização em Direcção e Gestãoda Construção da Ordem dos Engenheiros.

Roços para instalações eléctricas Redes de instalações na cozinha

CASO DE ESTUDO

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 200314

O objecto da Reabilitação constitui o pa-trimónio menor que, embora sendo mo-desto, é caracterizador destes bairros,construtor e garante da respectiva identi-dade (Fotos 1, 2 e 3). Não se trata, pois,do património arquitectónico maior aoqual se aplica a conservação e restauro jámuito bem definidos em convenções in-ternacionais. Aqui, foi preciso ir encontrando defi-nições e soluções que, permitindo asadaptações necessárias, realizassem asalvaguarda patrimonial do conjuntocom a permanência dos elementos carac-terizadores.Utilizaram-se os instrumentos jurídicos eos programas financeiros disponíveis,que foram sendo aperfeiçoados pela prá-tica. Cabe afirmar que, por comparaçãointernacional, se verificou serem dosmais avançados para o efeito. São eles:• “área crítica de recuperação e recon-versão urbanística” com a possibilidadede declaração de utilidade pública paraefeitos de expropriação e o direito de pre-ferência nas vendas de imóveis;• RECRIA (Regime Especial de Compar-ticipação para a Recuperação dos ImóveisArrendados), financiamento a fundo per-dido duma parte substancial das obras.Há, no entanto, que contextualizar estaReabilitação na reivindicação dos habi-tantes que, na sequência do 25 de Abril,exigiram a melhoria das condições de ha-bitação com a permanência de cada famí-lia na sua casa. Logo, com a clara rejeiçãoda sua periferização. Para viabilizar esta

exigência, procurou-se que as rendas nãosofressem aumentos incomportáveis, pe-lo que se recorreu, por um lado, ao RE-CRIA e por outro, à opção de intervençãomínima. Esta consistia em assegurar a es-tabilidade e a estanqueidade do edifício edotá-lo das infra-estruturas actuais, limi-tando as obras ao mínimo indispensável,com o aproveitamento integral do exis-tente viável.Deste modo, e apesar da escassez demeios financeiros, técnicos e decisionais,foi possível recuperar 7500 fogos, ou seja,um terço das necessidades dos bairrosem intervenção. Estes resultados con-frontados com outros casos de cidadesem que os edifícios reabilitados se con-tam por dezenas de fogos, revelam quese reabilitou muito. Em relação às neces-sidades, nesta que é a maior cidade dopaís, foi pouco, o que levou a algumdescrédito… Imerecido!A lentidão do processo, obrigatoriamen-te conduzido pela Câmara dado corres-ponder a elevados investimentos públi-cos, esteve intimamente ligada à formade funcionamento desta, onde os condi-cionamentos burocráticos, orçamentais,de concursos, etc., não permitem umagestão flexível. A limitação dos adicio-nais para obras, por exemplo, constituiuum grave obstáculo, visto só se saber atéonde estes vão, quando a obra está emcurso e portanto adjudicada.A câmara suportou cerca de 45 por centodo valor do respectivo investimento, en-cargo que nunca ultrapassou os cinco por

cento do seu orçamento. O custo médiopor fogo reabilitado foi de metade do cus-to de um fogo social novo na periferia.Provou-se, assim, que reabilitando semantém por bom preço a população nacidade, actor da identidade urbana peloexercício da sua vivência e a veiculaçãode formas culturais específicas.Os bairros reabilitados mantêm as suascaracterísticas populares, ao contrário doque vemos nos centros antigos da maio-ria das cidades do Norte da Europa, ondea reabilitação só diz respeito aos edifícios(Fotos 4 e 5). Aí, as populações foram, ge-ralmente, deslocadas para habitações so-ciais na periferia, com os problemas demarginalização que tal rejeição ocasiona.Destruía-se assim o carácter específico dacidade, povoando-a por classes sociaisabastadas (gentrificação), ou promoven-do a desertificação habitacional, e crian-do um ambiente artificial de actividadesde comércio de luxo e ou turismo.A peritagem do Conselho da Europa à ex-periência de Reabilitação em Lisboa pôsem evidência a importância da habitaçãodos residentes enraizados como factor decoesão social e de desenvolvimentoeconómico sustentável.Em Lisboa travou-se, pois, a gentrifi-cação; os habitantes continuam a assegu-rar a identidade cultural e social dos seusbairros, de que se sentem e afirmam per-tença. Até quando?O sector imobiliário que tem um peso de-masiado grande na nossa economia temvindo a centrar a sua actuação na ob-

Tema de Capa

Bairros antigos como Alfama, Mouraria, Castelo, Bairro Alto, Madragoa, Núcleos Dispersos, Pátiose Vilas de Lisboa foram alvo da reabilitação entre 1990 e 1999. A reflexão de quem dirigiu estas in-tervenções, é o que testemunharemos já a seguir…

Reabilitação Urbana

Potencialidades e limites

CASO DE ESTUDO

15Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

tenção das mais valias da urbanização,conseguindo que grandes extensões deterritório rural passem a urbano ficandoas mais valias para o promotor, pratica-mente sem encargos. Com o país cobertode betão, já saturaram o mercado imobi-liário solvente. O que falta, neste mo-mento, é habitação para insolventes,muitos morando nos prédios degrada-dos antigos. Estes prédios antigos estãono centro da cidade, o que os torna ape-tecíveis para habitação de abastados oupara actividades que irão substituir os in-solventes. Existem, pois, em perspectiva,boas mais-valias a arrecadar. Daí o inte-

resse do imobiliário por estas áreas da ci-dade que, sendo as coisas o que são, embreve irão perder a sua identidade real,substituída pelas operações de estéticaque darão aos edifícios o ar de pele esti-cada, a partir dos materiais sintéticos, eaos espaços públicos a monotonia e a frie-za das soluções estandardizadas.No início do processo de Lisboa não haviaconhecimentos específicos por parte dostécnicos, e os empreiteiros e operários sóconheciam a obra nova com técnicas ac-tuais de construção com betão e tijolo. Fi-zemos erros; segundo a orientação geral,estrutura e estabilidade, só com betão. Daí

alguns prédios de alvenaria e estrutura degaiola terem sido cintados com betão e fei-tas lajes de betão para substituir os pavi-mentos apodrecidos de cozinhas e casasde banho. Foram, igualmente, substituí-das paredes de frontal e divisórias de tabi-que por tijolo ( Fotos 6 e 7).Para sermos justos nesta análise, é ne-cessário lembrar que, nos primeiros tem-pos, tivemos que actuar com espírito debombeiro: os prédios ameaçavam ruína –alguns ruíram! –; nas escadas partiam-sepernas; dormia-se sob a protecção de sa-cos de plástico contra a chuva. Não ha-via, de facto, muito tempo para procurar

Tema de Capa

Foto 2: Rua do Cruzeiro

Foto 3: Cabeça Boa Foto 4: Rua de S. Miguel – Pintura de Roque Gameiro

Foto 5: Rua de S. Miguel – 2003

Foto 1: Alfama

CASO DE ESTUDO

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

Tema de Capa

16

Foto 6: Muro de frontal Foto 7: Tabique

Foto 8: Estrutura de Madeira Foto 9: Aresta Manual Foto 10: Cirurgia plástica – Santa Cruz

Foto 11: Reboco de cal

Foto 12: Telha tradicional

Foto 13: Preservar o carácter

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

CASO DE ESTUDOTema de Capa

17

soluções adequadas. Muito rapidamente,porém, esses procedimentos foram aban-donados porque criavam sobrecargas pe-rigosas e não asseguravam as ligações en-tre elementos, nem o travamento das es-truturas de madeira (Foto 8). Procurou-seperceber o funcionamento das estruturasdos edifícios para poder recuperá-las epô-las a funcionar de acordo com a suanatureza. O princípio de assegurar conti-nuidade e homogeneidade aos elementosconstrutivos foi-se divulgando entre ostécnicos.Também as argamassas eram, no início,de cimento, o que, sobre alvenarias e re-bocos à base de cal, não resultava, por in-compatibilidade de comportamento dosmateriais. Depois de longas experiênciascom a hidratação da cal viva, passou ausar-se a argamassa de cal e areia.A pele dos edifícios é extremamente im-portante (para a saúde das pessoas e pa-ra a do edifício), e na construção tradicio-nal as paredes respiram, o que é impedi-do pelas pinturas estanques. As textura-das são usadas para disfarçar as irregula-ridades. Ora, nos rebocos antigos, feitos à mão, sãoessas irregularidades que nos falam damão do homem e da sua força criadora,que vamos todos esquecendo. Com a in-dustrialização e a mecanização mudaramos conceitos estéticos correntes: a obratem de ficar “perfeita”, os planos semmarcas, as cores uniformes, as arestas rec-tilíneas (Foto 9 ). Agora, acontece que osedifícios antigos submetidos a esses tra-tamentos, ditos estéticos, perdem a ex-pressão da sua história vivida, tal comoos rostos submetidos a cirurgias plásticas(Foto 10 ).Dada a cultura envolvente, eivada daestética industrial, tornou-se extrema-mente difícil conseguir que os rebocosfossem afagados à colher e caiados, ob-tendo, assim, um bom aperto da arga-massa e a respiração das paredes, além deuma coloração não uniforme, susceptívelde jogar com a luz e a chuva (Foto 11). Também neste património menor, é im-portante utilizar técnicas da família dasusadas no restauro: a utilização dos mate-riais da preexistência (Foto 12), o trabalhomanual com as técnicas e ferramentas tra-

dicionais, a observação e aprendizagemcom o que está feito, tendo o cuidado de,sendo necessário demolir algo, fazê-locom uma desmontagem cuidadosa, paraperceber como foi feito e porquê. Mantero máximo da preexistência é, pois, não sómais económico como assegura maior au-tenticidade patrimonial: numa fachada asjanelas podem não estar bem alinhadas, aparede pode ter uma inclinação ou nãoser plana, mas são essas particularidadesque dão carácter, diversidade e graça aoedifício, porque integram a sua persona-lidade (Foto 13).A reabilitação do património menor, queé o que abriga as nossas vidas e memó-rias, está, pois, a iniciar os seus passos emuito temos todos que aprender para queeles não sejam dados em falso.

Nota de autor: Ao arrepio do título, que é geral, a presente re-flexão baseia-se na minha experiência na di-recção da reabilitação dos bairros antigos deLisboa: de Alfama, Mouraria, Castelo, BairroAlto, Madragoa, Núcleos Dispersos e Pátios eVilas, entre 1990 e 1999. Experiência posterior-mente acrescida da condução de projectos eobras particulares de reabilitação.

FILIPE MÁRIO LOPES, Presidente da Associação Ofícios doPatrimónio e da Reabilitação Urbana

PUB

REFLEXÕES

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 200318

Para essa preservação é necessário, emprimeiro lugar, bem usar o património e,depois, entender que as construções, co-mo os indivíduos, envelhecem, adoeceme até morrem, por processos naturais e ou-tros, para os quais é urgente encontrar so-luções, caminhos de saída.Conservar e reabilitar fazem, assim, parteintegrante de um léxico que se vai banali-zando, à medida que se interioriza a ne-cessidade cultural, histórica e económicade garantir a transmissão do patrimónioa gerações futuras, o mais possível emcondições de ser usado e vivido com dig-nidade, garantindo aos seus utilizadoressegurança, funcionalidade e conforto.Conservar e reabilitar são atitudes e actosque implicam conhecimentos especiali-zados e são, porventura, as tarefas maisdelicadas e exigentes que donos de obra,projectistas, construtores e fiscalizaçõesenfrentam, no âmbito da actividade daconstrução.

As dificuldades são facilmente compre-ensíveis; actuar sobre uma construçãoexistente implica muito mais do que con-ceber, projectar e executar uma cons-trução nova.A primeira, e porventura a maior dificul-dade deriva da necessidade de conhecerbem as características da construção e desegurança. Ou seja, impõe-se a realizaçãoprévia de um estudo de diagnóstico, emque se detectam e identificam as carac-terísticas do edificado (materiais aplica-dos, soluções construtivas usadas, levan-tamentos geométricos e arquitectónicos)e, em simultâneo, se faz o registo e identi-ficação de anomalias (fendilhações, de-formações, desagregações, empolamen-tos, etc.) e, talvez recorrendo a meios com-plementares de diagnóstico, chega-sequando possível, à identificação das cau-sas directas e indirectas das anomalias. Écom esse conjunto de acções e de atitudesque se atinge o diagnóstico da situação,

terminando este trabalho com o conheci-mento profundo do edificado que se visaintervencionar.Este processo, frequentemente ignorado,é essencial, e na sua falta reside uma dasprincipais causas do malogro das ope-rações de conservação e de reabilitação.Um segundo nível de dificuldades, leve-mente aflorado antes, tem a ver tambémcom o conhecimento necessário do edifi-cado e das características mecânicas, físi-cas e químicas dos materiais, elementos ecomponentes que o constituem.Esse conhecimento é essencial para quepossa ser equacionado, com equilíbrio ecom rigor, o tipo de materiais e de so-luções a adoptar nas operações de conser-vação e de reabilitação, assegurando-se acompatibilidade entre o novo e o velho,essencial ao bom comportamento futurode materiais distintos em contacto.Isto significa que aos técnicos que in-tervêm nestes processos se exige que

A preservação do património arquitectónico é umaquestão essencial na tomada de consciência da pró-pria identidade dos povos. Já que esse património,seja monumental ou não, é a melhor e mais eficazforma de contar e compreender a história da socie-dade e dos homens.

Reabilitar a

reabilitação

Formação de empolamentos e destruição de rebocos por aplicação do sistema de pintura impermeável ao vapor em obrade reabilitação.

REFLEXÕES

19Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

conheçam os materiais e tecnologias usa-das nas edificações antigas, ao mesmotempo que precisam de conhecer com omesmo rigor e profundidade os materiaise tecnologias que podem e devem utilizare, ainda mais, têm de conhecer soluçõestradicionais ou arcaicas, soluções corren-tes e até inovadoras, cada qual com o seulugar nos trabalhos de conservação e dereabilitação.Pelo que se expôs fica evidente a necessi-dade de conseguir um equilíbrio, que qua-se pode parecer contraditório e inevitável,entre o conhecimento generalista que é tí-pico da construção antiga (quando os ar-quitectos e engenheiros eram basicamen-te construtores) e o conhecimento especia-lizado, que é característico, por exemplo,do domínio dos problemas complexos decompatibilidade entre materiais tradicio-nais e inovadores.Essas dificuldades que não são só aparen-tes, pelo contrário, demonstram-se, evi-denciam-se, pela história dos insucessosdas operações de conservação e de reabi-litação, que revelam a ausência ou a fragi-lidade dos estudos de diagnóstico e quedenunciam as deficiências de conheci-mentos, tanto na área no domínio dos ma-teriais e técnicas modernas, nas suas re-lações com as anteriores.Situações práticas em que a falta de pre-paração e de conhecimentos de projectis-tas e construtores se evidenciam são, porexemplo, as que se relacionam com ope-rações de refechamento de fendas mal su-cedidas, em que as fendas reabrem maisou menos rapidamente. Duas razões fre-quentes explicam este tipo de insucesso:I) um diagnóstico impreciso define erra-damente a fendilhação como estabiliza-da, ou identifica incorrectamente umacausa que não é, portanto, eliminada; malinterpretado o fenómeno, o insucesso éinevitável, mesmo que se usem materiaise técnicas aparentemente qualificadas,mas que apenas conseguem remediartemporariamente a anomalia e não a suacausa; II) o conhecimento insuficiente so-bre os materiais de injecção e de refecha-mento ou conduz à contaminação inde-sejável dos materiais velhos por compo-nentes dos que são aplicados com função curativa; estão neste caso as argamassascorrentes de cimento e areia, muito fortes

mecanicamente e retrácteis, incompatí-veis com alvenarias fracas como são as an-tigas, com ligantes à base de saibro e cal.Outro exemplo, entre muitos outros quepoderiam escolher-se, diz respeito à subs-tituição desregrada de rebocos, cujas ano-malias são erradamente diagnosticadas e,por isso, são consideradas irrecuperáveis.A aplicação de novos rebocos, sobre pare-des de alvenaria de pedra e ou de tijolo,com argamassas de cal e areia, à base deargamassas cimentícias, com preparaçãodeficiente das bases de aplicação e, porvezes, em camadas de espessura excessi-va, cria situações potenciais de retracçãoexcessiva dos novos rebocos; esta provo-ca correntemente a fendilhação entre a ar-gamassa aplicada e a base de aplicação (otosco da parede), o empolamento, a frac-tura e a desagregação dos rebocos.

A ignorância acerca do processo de “res-piração” das paredes antigas, ou seja, daforma como se processam as trocas de hu-midade entre uma parede espessa de al-venaria ordinária e o ambiente exterior le-va, com frequência à “reabilitação” dossistemas de pintura à base de novos siste-mas à base de tintas texturadas e de tintas“de membrana”, pouco permeáveis àágua (o que é bom) e ao vapor de água (oque é mau), impedindo a transpiração daparede. Como consequência formam-seempolamentos nas superfícies pintadas;em função da capacidade de aderência dabase aos rebocos e destes à pintura, o em-polamento pode formar-se na interfacetinta-reboco ou na interface reboco-pare-de, em ambos os casos com consequên-cias desastrosas.Os exemplos poderiam suceder-se e, alémde problemas pontuais devidos a defi-ciências igualmente pontuais do processode intervenção nas construções antigas,outros casos há em que todo o processopode ser minado por sucessivos erros queobrigam, a curto prazo, à realização decampanhas de reabilitações integrais doedificado; o autor conhece várias si-tuações deste tipo.Por pudor não as refere.

JOÃO APPLETON,Engenheiro, A2P, Consult, Ld.ª.

Manchas em paredes reparadas e pintadas por incompatibilidade dos materiais aplicados.

Reabertura de fendas reparadas e abertura denovas fendas por efeito do prosseguimento deassentamento de fundações

TECNOLOGIAS

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 200320

LEGISLAÇÃOA legislação a que actualmente está su-bordinada a actividade de projecto é hete-rogénea (com diplomas obsoletos e ou-tros que nunca foram regulamentados),dispersa, contraditória, centrada no con-ceito do autor individual do projecto, in-cipiente nas áreas da qualidade e respon-sabilidade, e omissa no que se refere a sis-temas de qualificação profissional(2). Estes factos tornam, por um lado, difícil ocumprimento, por parte dos técnicos, detodas as normas e regulamentos existen-tes. Por outro, verifica-se a ausência deum quadro regulador das qualificaçõesprofissionais exigíveis aos autores dosprojectos.

QUALIDADE NO PROJECTOSe se contabilizar a totalidade dos custosenvolvidos por um edifício, desde a suaconcepção à demolição, a fase inicial deconcepção, projecto e construção repre-senta apenas 15 a 20 por cento. Os outros80 a 85 por cento são custos de utilização emanutenção. Da parcela correspondenteà concepção, projecto e construção, ape-nas uma pequena percentagem, da ordemdos 10-20 por cento, é gasta em concepção,

Tema de Capa

A Revisão dos Projectos como Forma de Reduzir os

Custos da Construção e os Encargosda Manutenção de EdifíciosSendo conhecido o grande peso que o projecto tem ao longo de todo o processo de construção, manutenção e utilização dos edifícios e a falta de qualidade que ele geralmente enferma, tem total ca-bimento proceder atempadamente à sua revisão. Esta prática, que tem vindo a ser seguida para pro-jectos complexos, sobretudo de obras públicas(1), não é, geralmente, seguida no caso dos edifícios.

Utilização e manutenção~ 80 %

4 – Má utilização e manutenção10 %

3 – Má execução10 %

2 – Materiais inadequados10 %

5 – Outras falhas6 %

1 – Concepção e projecto42 %

Construção15 a 20 %

Concepção, projecto e fiscalização

15 a 20 %

Figura 1: Os custos da concepção, projecto e fiscalização são uma pequena parte dos custostotais (incluindo os custos de utilização e manutenção).

Figura 2: A principal causa de encargos de reabilitação de construções são as deficiências doprojecto.

TECNOLOGIAS

21Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

projecto e fiscalização, sendo os restantes80 a 90 por cento gastos na construção. Isto significa que apenas cerca de três porcento dos custos totais envolvidos pelaconstrução e exploração de um edifíciocorrespondem à concepção, projecto e fis-calização. No entanto, a qualidade doprojecto é primordial para a redução doscustos ao longo da vida útil do edifício.No caso dos projectos de estruturas, estu-dos em diversos países onde o controlode projecto é mais apertado, concluíramque 40 a 50 por cento dos custos necessá-rios para a reabilitação das construçõesnovas afectadas por defeitos dizem res-peito a situações originadas por erros oupor omissões de projecto. Num estudo recentemente realizado noNorte do país sobre a qualidade dos pro-jectos de estruturas de betão de edifíciosconstatou-se que 64 por cento dos projec-

tos classificados quanto ao nível da quali-dade obtiveram nota “Medíocre”ou “Mau”,e só dois por cento obtiveram “Bom” (3).Um outro estudo demonstrou que a utili-zação das ferramentas de cálculo corren-tes é assustadoramente deficiente(4).Partindo do registo de várias inspecçõesrealizadas em casos reais de edifícios comproblemas, apresenta-se um quadro re-sumo da análise das principais anomaliase causas associadas à falta de qualidadedos projectos.Para além da racionalização dos custosimediatos da obra, a necessidade de reveros projectos coloca-se, também, em ter-mos dos custos de manutenção. É sabidoque os custos anuais de manutenção dosedifícios correntes se podem estimar emvalores da ordem de um a dois por centodo custo de substituição e, tem vindo a serdemonstrado, que esta percentagem é, so-

bretudo, afectada pelas opções feitas emfase de projecto. No domínio da segu-rança é, também, conhecida a importân-cia que tem a adopção de adequadas so-luções de projecto quer a nível da arqui-tectura quer a nível da estrutura. Nestascondições, faz todo o sentido investir narevisão do projecto, um conceito já soli-damente implantado nos países mais de-senvolvidos, mas que, em Portugal, temsido aplicado somente no caso de obraspúblicas de grande complexidade. A estepropósito, interessa referir o trabalho quetem vindo a ser feito pela Associação deProjectistas de Vias e Pontes, no âmbitoda revisão de projectos deste tipo(5).

REVISÃO DO PROJECTOTendo em vista a revisão dos projectos deedifícios, podem ser seleccionadas seisvertentes:

Tema de Capa

TIPO DE ANOMALIA

Corrosão das armadurasdos elementos de betãoarmado

Fendilhação

Condensação

Infiltrações de humidade

Deformações excessivasdos elementosestruturais

Segregação do betão

Entupimento de esgotos

CAUSAS ASSOCIADAS

Recobrimento das armaduras insuficienteOmissão no projecto das condições de exposição ambiental e medidas particulares de protecção,assim como, a composição do betão

Assentamento das fundações devido a insuficiente informação geotécnica e /ou de utilização doedifícioMá concepção face às principais acçõesQuantificação inadequada das acçõesModelos incorrectos de análise ou dimensionamentoFendilhação nas fachadas devida ao deficiente tratamento das pontes térmicas

Má concepção, originando deficiente ventilação das habitações e variações térmicas significativas

Deficiente pormenorização das ligações e remates das telas de impermeabilizaçãoMá concepção (pendentes insuficientes, pormenores construtivos mal concebidos, etc.)Deficiente isolamento dos elementos construtivos, nas caves, em relação ao terreno

Assentamento das fundações devido a insuficiente informação geotécnica e/ou de utilização doedifícioMá concepção face às principais acçõesQuantificação inadequada das acçõesModelos incorrectos de análise ou dimensionamento

Mau dimensionamento, excesso de armadura

Dimensionamento inadequado das tubagensDeficiente concepção das caixas de recepção de esgotos e das cotas de entrada e saída, contribuindopara deficientes condições de drenagem

QUADRO I

TECNOLOGIAS

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

Tema de Capa

22

Foto 1: Infiltração de humidade. Deficientepormenorização das ligações e remates da tela deimpermeabilização subjacente.

Foto 2: Deformação excessiva da Laje.Quantificação inadequada das acções.

Foto 4: Fendilhação. Má concepção face às principaisacções.

Foto 5: Fendilhação.Assentamento das fundações.

Foto 6: Mau dimensionamento. Excesso de armadura.

Foto 8: Infiltração de humidade.Deficiente isolamento dos elementosconstrutivos, nas caves, em relação aoterreno.

Foto 3: Corrosão das armaduras.Espessura de recobrimento insuficiente.

Foto 7: Infiltração de humidade.Dimensionamento inadequado das tubagens.

VERTENTE

Segurança da estrutura e das fundações

Durabilidade/Manutenção

Energia

Qualidade do ambiente interior

Segurança

Ambiente

OBJECTIVO DA REVISÃO

Comportamento adequado da estrutura e das fundações, tendo em conta as diversasacções a que o edifício pode estar sujeito, função da zona em que se encontra

Adequada durabilidade e reparabilidade do conjunto do edifício, dos seus componentes,materiais, sistemas e instalações, tendo em vista reduzir os custos de manutenção

Minimização da factura energética do edifício, em termos de climatização e iluminação

Condições necessárias para a manutenção de um ambiente interior saudável

Segurança contra incêndios e outras situações de emergência, intrusão, etc.

Princípios da construção sustentável

QUADRO II

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

TECNOLOGIASTema de Capa

23

Para cada uma das vertentes a revisão po-de ser graduada para um âmbito restritoou alargado, desde a simples verificação seestão presentes e têm suficiente desenvol-vimento todas as peças, até à verificaçãoaprofundada da consideração de todos oscritérios de concepção. Por exemplo, paraa vertente 1. “Segurança da estrutura e dasfundações”, a revisão pode limitar-se à ve-rificação das peças constituintes (se o pro-jecto está completo), à verificação dos crité-rios gerais referidos na regulamentação(verificação da conformidade com a regu-lamentação) ou abarcar a própria con-cepção da construção. De uma forma ge-ral, à medida que aumenta o grau de com-plexidade dos projectos, assim deverá au-mentar, também, o seu nível de revisão.

METODOLOGIA DA REVISÃOAs empresas que se pretendam dedicar aesta actividade, para além de um corpo téc-nico permanente com experiência na áreado projecto, manutenção e patologia das

construções, devem dispor de um corpo deconsultores das diversas especialidadesenvolvidas.As revisões dos projectos devem ser efec-tuadas segundo instruções com procedi-mentos bem definidos para as seis verten-tes acima referidas, incluindo listas de ve-rificação (checklists) com as respectivas fol-has de registo.O produto final da revisão é um relatório,devidamente estruturado, que deve termi-nar com um parecer claro quanto à verifi-cação dos vários requesitos e critérios equanto a eventuais correcções.Com base na informação e nas orientaçõesque lhe serão fornecidas, o dono da obradeverá ficar, por um pequeno investimen-to adicional, em condições de:- Assegurar a adequabilidade do seu em-preendimento ao fim em vista e o cumpri-mento da legislação aplicável;- Assegurar a durabilidade e racionalizaros custos de manutenção e de exploração;Reduzir os riscos a que o empreendimento

está sujeito, incluindo os associados à suautilização.

Referências(1) Appleton, J. – Revisão de projectos - enquadra-mento e objectivos. Lisboa: Encontro Nacional -Betão Estrutural 2000.(2) Ravara, A. – A legislação e a qualidade da cons-trução. Situação actual e perspectivas de evo-lução.(3) Ribas, D. e Figueiras, J. – A qualidade do projec-to de estruturas de betão em edifícios. Lisboa: Inge-nium n.º 43, Dezembro de 1999.(4) Oliveira, C. et al. – A função dos seguros na re-dução do risco sísmico. Faro: Sísmica 99 - 4.º Encon-tro Nacional de Sismologia e Engenharia Sísmica, Uni-versidade do Algarve, Outubro de 1999.(5) Instruções para a revisão de projectos. Lisboa: Associação de Projectistas de Vias e Pontes, Maio de2001.

VÍTOR CÓIAS E SILVA, Eng.º Civil, Gerente, Oz, Ld.ª, Lisboa,Portugal, [email protected]; IOLANDA SOARES, Eng.ª Civil, Directora da Qualidade,Oz, Ld.ª, Lisboa, Portugal, [email protected]

Tema de Capa

24 Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

A opinião pública e os estudiosos co-meçam a dar sinais de se aperceber do de-sastre urbanístico.Não se vê, no entanto, surgir qualquer re-ferência a um problema latente, obscuro epouco interessante para os media, e nemainda sentido pela grande massa dos ha-bitantes. Como uma bomba relógio, jáposta em acção mas ainda silenciosa, osseus efeitos só se farão sentir daqui a bas-tante tempo, e por isso, ninguém parecepreocupar-se com ele.Deflagrará, a bomba, mas serão outros asentir os seus efeitos. Porquê então termais essa preocupação, como se as deagora não bastassem já?Os economistas e os técnicos apercebem--se dos custos marginais crescentes dacriação e manutenção das infra-estrutu-

ras. Tudo isso se passa, com maior ou me-nor intensidade, em todo o globo.Mas concentremo-nos agora em Portugal.Olhe-se para as imensas massas de edifi-cação, na periferia das grandes e médiascidades, produzidas nos últimos 15 ou 20 anos.Mesmo no meio académico despontamacções de investigação e formação dirigi-das à “regeneração urbana” e à “requali-ficação urbana”, ainda impensáveis hápoucos anos.São bons sinais e indícios de uma tomadade consciência. Porém há um aspecto quenão se vê denunciado, estudado ou se-quer mesmo referido: tanto quanto um es-tudo sumário permite analisar, nunca seconstruiu em Portugal, em tão pouco tem-po, um volume edificado tão grande e dis-

perso. Que consequências tem esse facto?Em termos da capacidade de formaçãobruta de capital fixo e de demonstraçãoda eficácia da indústria da construção ci-vil na resposta às solicitações do fenóme-no da urbanização, é sem dúvida um feitoimportante.Mas significa também outra coisa... Signi-fica que essa massa edificada que, à nossaescala, é colossal, vai estar envelhecida edegradada toda ao mesmo tempo! Aomesmo tempo!Dentro de 60 ou 70 anos, as imensas col-meias de T1s e T2s, em seis, oito ou dezandares, tornar-se-ão tugúrios decaden-tes e sinistros.As operações ditas “de requalificação ur-bana” não chegarão para enfrentar umparque urbano em fim de vida, numa es-

OPINIÃO

A bomba tristeou a cidade que lhes deixamosAs dimensões gigantescas da expansão periurbana, com o seu cortejo de erros, lacunas, brutalidadee agressão estética e ambiental são bem patentes aos olhos de todos.

Foto 1: A massa gigantesca de construção (…)

Tema de Capa

25Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

cala que só podemos ainda imaginar di-fusamente, mas que, é fácil perceber, seráaterradora.Atente-se no seguinte:•As operações actuais de recuperação deimóveis degradados incidem substancial-mente nos núcleos urbanos densos e va-liosos; fazem-se sobre um tipo de cons-trução antiga e de tecnologias simples, esobre edifícios isolados ou pequenos con-juntos com idades e estado de degradaçãovariável.•As intervenções são justificadas econo-micamente por se tratar de edifícios cujovalor, em termos de localização, compen-sa o investimento, ou por se tratar de imó-veis cujo valor patrimonial ou históricopermite fazê-lo. Nem tudo o que existe

construído merece que se lhe consagre es-forço, se não tem condições de viabilida-de concreta.Mas o que acontecerá com os quilómetrosquadrados a perder de vista de construçãocomercial, de qualidade manhosa, de va-lor patrimonial histórico nulo, sem qual-quer pólo criador de vantagem locacional,servidos por infra-estruturas com obso-lescência rápida e manutenção difícil?Pense-se primeiro em termos técnicos.

Julgar-se-á que o betão estrutural é eternoe/ou duradouro como a pedra e as alve-narias antigas? Tem-se alguma ideia acer-ca da durabilidade das ténues paredesduplas de tijolo, dos revestimentos, dascaixilharias de plástico ou de alumínio,das redes de fluidos e de esgotos, da apa-relhagem de elevação, das instalaçõeseléctricas? Com custos crescentes, comexigência de mão-de-obra especializadacada vez mais escassa e incompetente – co-mo será quando a degradação cair comouma grande desgraça sobre os tristes pro-dutos da indústria da construção civil es-peculativa? Mas também, quem se preo-cupa agora?Pense-se, pelo menos, em termos econó-micos… Uma indústria de construção ci-

vil capaz de responder ao desafio, poderásurgir, reconformada e vocacionada, co-mo já agora começa a mostrar-se em em-presas dirigidas para a recuperação deimóveis. E, certamente, é a ela que caberáa parte mais importante na concretizaçãodas políticas de requalificação urbana.Com uma diferença: a recuperação deimóveis e conjuntos e a “requalificaçãourbana” faz-se hoje, e no curto prazo, emzonas com valorização crescente e na qual

o investimento que representam respon-de a essa valorização recuperando o valor“potencial” do tecido degradado. Mas o “megatugúrio suburbano”, indife-renciado e uniforme, constituído por edi-ficações em que o investimento inicial jáfoi recuperado e que já só têm um valorresidual e insignificante, onerado por cus-tos gerais aos quais os municípios nãoterão capacidade de fazer frente porquetambém não geram as receitas necessá-rias, não encontrará por parte do sistemafinanceiro os créditos exigíveis para a suarenovação: valerão pouco, e não se conse-guirá que valham mais, e a Banca não dor-me em serviço! Quando muito, financiaránovas expansões, novas ocupações de ter-renos expectantes, bem fora do grande

gueto periurbano.E não surpreenderáninguém que se estejaacautelando assegu-rando-os…Setenta ou oitenta anosé tempo de mais para ohorizonte dos políticos,dos urbanistas, dosgestores, dos jornalis-tas e dos sociólogos.Os nossos netos e os dosoutros todos que se de-senrasquem quandochegar o seu tempo. Esqueça-se a “bombarelógio” que lhes deixa-mos, porque nãoconvém nem é excitan-te nem admirável, nãodá boas reportagensnem suscita as indig-nações. É uma bomba,

sim, e a seu tempo deflagrará sem estron-do, nem fulgor, nem espectáculo… Ape-nas tristemente. É uma bomba, mas umabomba triste.

JOSÉ PEDRO MARTINS BARATA, Arquitecto, Professor aposentado do IST.

OPINIÃO

Foto 2: (…) alastra continuamente.

Tema de Capa

26 Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

Esta importante lacuna leva a que as in-tervenções sejam, muitas vezes, desajus-tadas das reais necessidades, obrigando,a curto prazo, a novas intervenções, desti-nadas a corrigir as anteriores, com os con-sequentes prejuízos. No caso dos enge-nheiros civis, que constituem apenas umdos elos da cadeia, poder-se-á apontar, co-mo uma das causas principais, a ine-xistência de um perfil específico para a reabilitação e a conservação ao nível da li-cenciatura (apenas existem pós-gradua-ções), sendo, basicamente, o próprio mer-cado a “formar” os técnicos, à medida dasnecessidades.

O PROJECTOFase crítica do processo de conservaçãoA fase do projecto é, reconhecidamente, amais importante, por condicionar tudo oque se irá fazer a seguir. Está, no entanto,ela própria dependente de uma fase pré-via, de recolha de informação que é fre-quentemente esquecida ou preterida,com todos os inconvenientes daí decor-rentes.O projecto de execução de uma inter-venção de conservação só pode ser cor-rectamente desenvolvido desde que sedisponha de informação actualizada so-bre o objecto a intervir, nomeadamente,sobre as suas características arquitectóni-cas, históricas, funcionais, construtivas ouestruturais, bem como sobre o estado deconservação, ou sobre os mecanismos dedeterioração em presença e a sua influên-cia na intervenção pretendida.

Fruto da experiência da Oz, ao longo dosseus 15 anos de vida, apresentam-se a se-guir alguns métodos de inspecção e en-saios, segundo os objectivos a atingir, quepoderão ajudar a eliminar ou, pelo menos,a reduzir os erros e consequentes defei-tos, tão indesejáveis nas intervenções deconservação.

METÓDOS DE INSPECÇÃO E ENSAIOSLevantamento estrutural (exaustivo ou por amostragem)O levantamento estrutural surge, normal-mente, quando se pretende levar a cabouma remodelação importante numa dadaconstrução da qual não se encontra dis-ponível qualquer informação ou, casoexista, torna-se necessário validar (verifi-cação da conformidade do projecto com oconstruído).Poder-se-á indicar, como primeira tarefa,a identificação e localização dos elemen-tos estruturais (figura 1), a definição/veri-ficação da geometria desses mesmos ele-mentos, levada a cabo, por exemplo,através de técnicas de topografia. A seguir, a caracterização das propriedades mecâ-nicas dos materiais constituintes, que nocaso das alvenarias poderá ser levada a ca-bo através de ensaios de macacos planosde pequena área (ver figuras 2 e 3).Outras tarefas, também, incluídas no le-vantamento estrutural, consistem na ca-racterização das cargas actuantes e na caracterização do solo de fundação (casodo reforço das fundações).

Levantamento das anomalias visíveisVisa a identificação das anomalias visí-veis, a sua disposição e extensão nos ele-mentos da construção, através de referen-ciação em desenhos.As anomalias de índole estrutural têm es-pecial relevância na medida em que de-nunciam um comportamento deficienteda estrutura ou seus componentes, peloque a sua detecção atempada é funda-mental para a tomada de decisãoquanto à implementação de medidas correctivas urgentes. Os sintomas maiscorrentes são as fissuras com orientaçãobem definida, associadas, normalmente,a deformações aparentes dos elementosestruturais.No caso de anomalias de índole não es-trutural não está tanto em causa a segu-rança actual da estrutura ou dos seus com-ponentes, mas sim outras exigências fun-cionais que comprometem a sua normalutilização durante o restante período devida útil. No entanto, o desempenho es-trutural pode vir a ser seriamente afecta-do caso não sejam implementadas, atem-padamente, medidas correctivas.

Monitoragem de movimentos da construçãoEsta ferramenta de diagnóstico, que podeser utilizada sobre todo o tipo de estrutu-ras, é muito útil para se acompanhar aevolução, por exemplo, de fenómenos deinstabilidade em curso e, consequente-mente, permite a definição de medidas co-rrectivas eficazes. A abertura de fissuras

ANÁLISE

Combatendo os Erros e Defeitos nas Intervenções de Conservação

através de uma abordagemvalidada pela experiênciaSem ser demasiado redutor, pode afirmar-se que a ocorrência de erros nas intervenções de conser-vação - em particular, sobre construções antigas – é devida, fundamentalmente, à inadequada for-mação ou falta de formação dos técnicos que intervêm ao longo das diferentes fases do processo:projecto, obra e ulterior manutenção.

Tema de Capa

27Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

de índole estrutural, consiste num dosparâmetros, normalmente, a monitorar. A escolha dos dispositivos de medição, adefinição da periodicidade das sessões deleitura e a duração da monitoragem de-vem ser feitas em função do tipo de estru-tura e das causas prováveis que estão naorigem das fissuras.No caso de obras importantes pode,também, monitorar-se o comportamentodinâmico das estruturas (ferramenta dediagnóstico relativamente recente, queenvolve recursos técnicos tecnologica-mente mais avançados), visando a de-tecção e avaliação de desvios importantesno comportamento dinâmico global daestrutura ou dos seus componentes. Podeser levada a cabo nas diferentes fases da obra.

Controlo de qualidade em obra durante a construçãoPara além dos habituais ensaios de re-cepção dos materiais, devem ser executa-dos outros ensaios in-situ, nomeadamen-te, na estrutura ou seus componentes, vi-sando o controlo da sua execução. Porexemplo, a aderência dos novos materiaisde revestimento, pode ser avaliadaatravés de ensaios de arrancamento.

CAPACIDADE TÉCNICAA capacidade técnica exigida aos interve-nientes encontra-se definida na legis-lação (para os prestadores de serviçosver, por exemplo, art.º 36.º do Dec. Lei197/99). Infelizmente, tem-se optado poromitir os requisitos aí preconizados nasconsultas feitas ao mercado, permitindo

que “empresas” muito pouco qualifica-das sejam as escolhidas sob o pretexto deapresentarem a proposta economica-mente mais vantajosa. No entanto, namaioria dos casos, a pretensa propostaeconomicamente mais vantajosa só o é noimediato, pois a breve prazo, com a ine-vitável ocorrência de erros e consequen-tes defeitos, essa decisão revelar-se-ápouco acertada, acarretando sobrecus-tos, que podem mesmo inviabilizar o ob-jectivo inicialmente planeado.

CARLOS MESQUITA, Engenheiro civil,Director Técnico da OZ,Ld.ª

ANÁLISE

Figura 1: Representação es-quemática de um levantamentoestrutural.

Figuras 2 e 3: Avaliação das pro-priedades mecânicas (deforma-bilidade e resistência à com-pressão) de uma parede de alve-naria de pedra através de en-saios de macacos planos SFJ(Small Flat Jack).

Figura 1

Figura 2 Figura 3

A leitura histórica de um edifício não serefere somente ao estudo das suas ori-gens, das circunstâncias que definiram assuas características históricas, mastambém da evolução que cada parte queo compõe possa ter sofrido. Para intervirnum edifício histórico, independente-mente da abordagem metodológica a se-guir, é indispensável a compreensão totalde todas essas partes. Muitos destes teste-munhos do passado, criados com mate-riais e técnicas diversas, são em si pró-prios um espelho das tradições, das pos-sibilidades e do desenvolvimento técni-co/social da época, chegando aos nossosdias, alterados, esquecidos e frequente-mente com um futuro muito incerto, tan-tas vezes por desconhecimento do real va-lor do bem ou ignorância das técnicas pa-ra intervir.Na análise histórica importa reconstituiruma espécie de cartel clínico, através dareconstrução cronológica de todos os ele-

mentos que compunham a obra na suaorigem e também daqueles que tenhamsofrido modificações ao seu estado origi-nal, como: possíveis intervenções de res-tauro, reposições, reestruturações estilís-ticas, variações no uso, permitindo, destemodo, individualizar as diversas fasesconstrutivas.À observação histórica directa deveráconfrontar-se aquela resultante de outrasfontes não directas e com a realidade efec-tiva do objecto em causa. Estas obser-vações podem, no entanto, revelar-se in-conclusivas. Trata-se sempre de um pro-blema de interpretação, de fronte a si-tuações, revestidas de grande complexi-dade. Porém estas fontes, revelam-se degrande utilidade, se não pela atribuiçãocronológica precisa e directa, talvez pelaindividualização de traços culturais es-tilísticos, linguísticos e arquitectónicos aatribuir à obra. Todavia, tratando-se deuma construção, a parte correspondente

à interrogação directa do objecto é com-posta por elementos gráficos e de arqui-vo, que serão os documentos mais signifi-cativos e evidentes. Para cada edifício, os documentos a anali-sar, serão qualitativamente e quantitati-vamente diversos. É este o grande desafioe, ao mesmo tempo, a dificuldade numainvestigação, como a da história da arqui-tectura, em que o propósito é o aprofun-damento científico da obra, condição es-sencial para acercar uma intervençãoconsciente.

Nota: Tema integrante da tese de mestrado em Recu-pero e Conservazione delle Costruzione Stori-che da Universidade La Sapienza, Roma

INVESTIGAÇÃO

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 200328

ROSA BASTOS, Arquitecta, Monumenta, Ld.ª

A pesquisa histórica constitui-se como pontode partida e fio condutor ao qual se faz referên-cia, estabelecendo-se como uma das bases deformulação do projecto de restauro. O conheci-mento da história, da forma e da consistênciamaterial do bem a intervir é de primordial im-portância, revelando-se impreterível o estudo,a análise e investigação de todos estes aspectos.

Intervenção no PatrimónioEdificado

A Pesquisa Histórica na

Antiga Casa da Inquisição – Monsaraz.

Trata-se de um edifícioquinhentista fundado pe-la Confraria do EspíritoSanto. Constituído pordois pisos, cujo piso supe-rior servia de Templo deCulto e o inferior comohospital de apoio aos ne-cessitados. Após o terra-moto de 1755, o hospitalfoi entulhado com os des-troços, tendo sido recons-truída a Capela. Em 1973,com a realização de obrasde melhoramentos, des-cobriram-se paredes anti-gas que, após estudos, severificou tratarem-se dasdo hospital. Nelas podiaver-se ainda a existênciade “grafitos” em carvãorepresentando caravelas e fuligem no re-vestimento da lareira, assim como estu-ques antigos, apresentando-se em algu-mas zonas com espessas camadas de caldevido às sucessivas caiações.Assim, procederam-se, com todo o cui-dado necessário, a demolições de algu-mas paredes de alvenaria ordinária (paraaproveitamento posterior das pedras),picagem dos rebocos existentes na zonada Capela, havendo o cuidado de prote-ger as paredes e respectivos revestimen-tos da cave.Durante a picagem dos rebocos desco-briu-se a zona do altar mor, vazado, de-marcado por fiadas de tijolo que tinha si-do emparedada; também se confirmaram

os locais dasPias de ÁguaBenta e da pe-dra represen-tando o Espíri-to Santo.

Para a execução do pavimento da Cape-la, houve necessidade de construir umpórtico constituído por perfis metálicos eda colocação de cantoneiras metálicas pe-riféricas suportadas através de chumba-douros em furo com respectiva injecçãode calda cimentícia de forma a propor-cionar a selagem. Estes elementos supor-tam vigamento de madeira, devidamen-te dimensionada e com tratamento anti-xilófagos, antifungos e antifogo. Na execução de rebocos na Capela utili-zou-se cal aditivada com gorduras, ten-do também o cuidado na protecção dasparedes e revestimentos da cave.Entretanto, foram colocadas todas as in-fra-estruturas embebidas nas paredes re-

ferentes à instalação eléctrica, telefones,som e vídeo, alarme de incêndio e in-trusão, CCTV, rede de águas e esgotos eclimatização.Na cave, antigo hospital, desmontaram--se cuidadosamente as vergas das portasem tijoleira e refizeram-se como se apre-sentavam na origem. Com o aproveita-mento de pedras resultantes das demo-lições, reconstruíram-se paredes ondeapresentavam falta destes elementos e re-mates dos vãos entretanto abertos.Vão agora iniciar-se os trabalhos de re-vestimentos finais que serão compostosessencialmente por aço Cor-ten, painéistipo Prodema e madeiras de afzélia.

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

PROJECTOS E ESTALEIROS

29

Carlos Sá Nogueira, Director de Obra da MIU, Ld.ª

Capela do Espírito Santo dos Mareantes

Sesimbra

A intervenção em curso (2.ª fase), realizada pela MIU, visa a recuperação e beneficiação do interiordo monumento. A finalidade é dupla: a ocupação de um espaço destinado à musealização no anti-go hospital e a do outro espaço para uma exposição permanente de arte sacra na Capela.

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

Os erros e defeitos existem tanto na cons-trução económica como na construção deluxo, quer em Portugal, quer noutros paí-ses mais avançados. A reparação de errose defeitos representa, noutros países euro-peus, um encargo anual da ordem de 2 a5% da produção do sector, a que corres-ponderia, em Portugal, no conjunto daconstrução civil e obras públicas, um totalda ordem de mil milhões de euros. À me-dida que a actividade do sector se for trans-ferindo para a reabilitação, o encargoanual com erros tenderá a aumentar. Justi-fica-se, portanto, um grande esforço nosentido da prevenção dos erros e defeitos.A detecção, caracterização e diagnósticodos defeitos, bem como o controlo da qua-lidade, são, hoje, facilitados pela existên-cia de grande quantidade de instrumentose equipamentos para inspecções e ensaiosnão destrutivos ou reduzidamente invasi-vos.

Balanço da evolução verificada desde osimpósio de Varenna, Itália, em 1994:1. Continuam a observar-se defeitos nasdiversas partes constituintes dos edifícios,

tendo surgido tipos novos de anomaliasrelacionadas com novas técnicas e mate-riais, por exemplo, as que afectam os iso-lamentos e a qualidade do ambiente inte-rior. Os problemas associados com a hu-midade continuam a ser os mais frequen-tes;2. Continua a haver um grande fosso entreas conclusões das instituições que se dedi-cam à investigação e a aplicação na práticadas recomendações que daí resultam;3. Constatou-se o aparecimento, desde1994, de numerosas publicações tratandodos erros e defeitos, mas parece não haverqualquer diminuição da incidência destes;4. O custo dos defeitos encontra-se, ainda,largamente oculto; foram apresentadasapenas três comunicações sobre este te-ma. Poderá acontecer que, normalmente,os intervenientes não calculem todos oscustos envolvidos. O período que decorredesde a investigação, passando pela repa-ração até à determinação de responsabili-dades é normalmente muito longo, e podeser que os custos verdadeiros sejam difí-ceis de aceitar por muitos dos intervenien-tes;

5. Continuam a ser necessárias novas abor-dagens para lidar com os defeitos, quer nametodologia de investigação, quer nas téc-nicas de reparação;6. Os agentes envolvidos nas actividadesdo dia a dia na construção têm falta de co-nhecimentos sobre o modo de evitar os de-feitos, do que, geralmente, não têm totalconsciência; 7. Os canais de comunicação melhoraramsubstancialmente com a introdução da In-ternet e, ao nível pessoal, do correio electró-nico. Os programas de investigação e os re-sultados estão mais acessíveis, fornecendoas buscas uma grande quantidade de infor-mação, por vezes superabundante. O desa-fio é, ainda, garantir que os profissionaistêm conhecimento do que está disponível,o que constitui uma tarefa constante doW086 e de outras comissões do CIB. Dispo-nibilizar ligações no sítio da W086 na Webpoderia fornecer aos interessados uma fon-te de informação actualizada.

III) Conclusões quanto às causas doserros e defeitos na construção:A) Causas relacionadas com o contexto em

30

EVENTOS

“Aprendendo com os erros e defeitos da construção”

Simpósio Internacionaldo CIB em Lisboa

Foto

cedi

da p

ela A

rte e

Con

stru

ção

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

que desenvolve a actividade da cons-trução:O enquadramente legislativo do sector,em particular no que se refere ao licencia-mento urbano;A perda da memória colectiva, falta debom senso, entre fiscais, arquitectos, en-genheiros, promotores e empreiteiros,com vista a uma construção eficaz;A ineficácia na comunicação e transferên-cia de conhecimentos entre os profissio-nais da construção, os promotores e os res-tantes agentes envolvidos no processo deconstrução;A excessiva valorização da imagem, comocritério de aquisição, em detrimento dosindicadores intrínsecos de qualidade daconstrução. B) Causas inerentes ao planeamento e aoprojecto:O enquadramento legislativo da contra-tação e da elaboração de projectos;A má interpretação dos regulamentos; A deficiente compreensão pelos arquitec-tos das implicações das suas opções deprojecto;A opção por novos materiais sem compre-ensão de como são afectados pelo climalocal;A crescente complexidade das instalaçõese sistemas dos edifícios.C) Causas respeitantes à própria activida-de da construção:A crescente complexidade dos edifícios;O ritmo cada vez mais acelerado da cons-trução;A baixa qualificação dos operários e qua-dros;A proliferação da sub-contratação.

IV) Acções possíveis:• Recolha de informação sobre o tema emapreço, junto das empresas e instituiçõesportuguesas da área de CC&OP, com vis-ta à sua caracterização no nosso país: Es-trutura dos erros e defeitos; Perdas a elesassociadas; Estudo de casos.• Estabelecimento de indicadores e metasque permitam efectuar Benchmarking.• Implementação de SGQs nas empresasda área;• Exigência de qualificação mais restriti-va (certificação) para trabalhos envolven-do elevado risco, utilização de tecnolo-

gias emergentes e conservação do pa-trimónio arquitectónico; • Expansão da actividade de formaçãoprofissional na área, incluindo cursos dereciclagem para os profissionais da cons-trução, a todos os níveis;• Revisão dos currículos dos cursos po-litécnicos e universitários, dando maispeso à vertente tecnológica;• Incremento da revisão dos projectos;• Incremento da fiscalização;• Implementação da directiva materiaisde construção;• Elaboração e disponibilização junto dosagentes da construção, em especial aosprojectistas e fiscais, de especificações técnicas detalhadas e tecnicamente cor-rectas; • Desenvolvimento de canais de comuni-cação entre os vários agentes da cons-trução, por um lado, e os politécnicos, asuniversidades e os institutos de investi-

gação, por outro, por forma a que os pri-meiros tenham acesso aos necessários sa-beres e os segundos dirijam os seus pro-jectos de investigação para temas de inte-resse prático;• Publicação de material didático comvista à melhoria da qualidade da cons-trução (manuais, CDs e vídeos temáticos);• Extensão aos projectistas de um sistemade classificação idêntico ao dos emprei-teiros;• Criação de centros de divulgação e deinformação tecnológica, acessíveis via In-ternet (livraria de defeitos, manuais dosmateriais);• Divulgação junto do grande público,dos principais requisitos da qualidade naconstrução, por forma a estimular o seugrau de exigência.

31

EVENTOS

PUB

VÍTOR CÓIAS E SILVA, Presidente do GECoRPA.

Fundada oficialmente em Junho de 1998 esediada em Castelo de Vide, a OCRE – As-sociação para a Valorização do Ambiente,Cultura, Património e Lazer – apresenta-secomo uma organização cívica que visa pro-jectar as potencialidades e debater os pro-blemas da Região de Portalegre. Uma áreariquíssima em valores ambientais, sociais,culturais e, especialmente, patrimoniais. A associação tem como alguns dos objec-tivos específicos: apoiar a participaçãodos jovens na sociedade; defender e es-clarecer os consumidores; implementar aprática de projectos e acções alternativasque potenciem as especificidades locais eregionais; propor alternativas que propi-ciem o bem-estar das populações, nomea-damente dos centros históricos; salva-guardar e valorizar o património natural,cultural, histórico e arquitectónico, entreoutros.

Tendo como lema de partida a abertura deum espaço de actividade cívica, traduzidasob várias formas, a OCRE tem vindo a or-ganizar um conjunto de iniciativas quepermite a (re)descoberta das gentes e doslugares num diálogo intenso entre passadoe futuro. Por exemplo, foi a OCRE que em2000 e 2001 promoveu os passeios ao “RioSever e seus Engenhos” e ao longo da“Calçada Medieval das Carreiras”. Já em2002 escolheu a Cal enquanto projectoagregador de interesses: visitou fornos, re-colheu informação sobre as técnicas cons-trutivas tradicionais implicadas, preparoua reabilitação de um forno na zona deMarvão e tentou perceber a importância daCal nas imagens regionais. Promoveuigualmente visitas à Amieira do Tejo, cha-mando a atenção para o seu valor patrimo-nial.Reportando-nos ao importantíssimo pa-

trimónio arquitectónico da região de Por-talegre, logo nos vem à memória as auste-ras e imponentes fortificações, as belíssi-mas igrejas, mosteiros, pontes, palacetesou as tradicionais herdades e casas alen-tejanas que por lá moldam a paisagem. Éneste âmbito que assume fulcral im-portância um projecto que a associação seencontra a preparar: um curso de for-mação totalmente dedicado à ConstruçãoTradicional, abordando sectores como asdiferentes tipologias, os materiais, os pro-cessos construtivos e a remodelação eadaptação de edifícios antigos. Para issoconta com a parceria do GECoRPA e deoutras entidades.

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 200332

Para potenciar PortalegreOCRE

DIVULGAÇÃO

PEDRO PIMENTEL,Assessor de Direcção do GECoRPAPara mais informações sobre a OCRE: tel.: 245 90 81 57

Cisterna da fortificação (Amieira do Tejo - Concelho de Nisa) Interior da OCRE (sala de convívio)

Fonte da Vila (Castelo de Vide)

Trata-se dum crime de perigo comum, oque significa que, o que se pune é a meraexistência do perigo para a vida ou para aintegridade física de uma ou mais pesso-as indeterminadas, sejam elas trabalha-dores da obra ou simples terceiros que na-da tenham que ver com a mesma (e.g. transeuntes ou moradores de edifi-cação vizinha); ou de perigo para bensmateriais de valor elevado.Não é, assim, necessário, que se verifiqueum dano ou lesão efectivos. Isto é, parahaver punição, basta que se tenha criadoum perigo de desmoronamento, sem quetenha havido o desmoronamento. Ou, ca-so exista o desmoronamento, não é neces-sário que o mesmo tenha atingido alguémou um bem material de valor elevado.Na verdade, basta apenas que, por in-cumprimento de normas legais, regula-mentares ou técnicas, tenha existido esseperigo, por exemplo, o já citado perigo dedesmoronamento.Este perigo, tanto pode ser criado por ac-ção, quando por uma actuação de quemestá incumbido de agir de acordo com asregras legais, regulamentares ou técnicas,forem violadas essas regras. Como, tam-bém, a violação dessas regras pode verifi-car-se por uma simples omissão de quemtenha o dever de agir de acordo com essasmesmas regras.As regras cujo incumprimento está emcausa são as resultantes de normas legais,regulamentares e técnicas em vigor emmatéria de construção, modificação e de-

molição de edificações, bem como as apli-cáveis a instalações técnicas de sistemasou equipamentos.E, quem é o destinatário da punição? A resposta é simples, sendo dada expres-sis verbis pela própria lei: é responsávelpela criação do perigo e como tal pratica(por acção ou omissão) uma conduta pu-nível, todo aquele a quem incumbe o pla-neamento, direcção ou execução. Ou seja,quem elabora os projectos (arquitecto),quem dirige a obra (director de obra) emesmo quem a executa (empreiteiro e subempreiteito).Desta forma, o legislador penal tentou as-segurar a tutela do interesse da segurançada construção, que, como se sabe, é mui-tas vezes posto em causa, pela existênciade mero perigo (quantas vezes traduzidoem lesão ou dano efectivos) para pessoase bens resultante da violação, por acçãoou omissão, das regras legais, regulamen-tares e técnicas em vigor.Ao arquitecto, director da obra e emprei-teiro não deve, contudo, ser exigível umatarefa hercúlea em que tudo fiscalizem econtrolem. É, no entanto, exigível:-Ao arquitecto – que projecte de acordocom a lei e regulamentação em vigor; as-sim, como que respeite as boas práticasda arte de projectar;-Ao director de obra – que proceda a umaconsciente escolha dos encarregados e dopessoal em obra; que dê as ordens e ins-truções correctas e que examine os resul-tados obtidos; que ordene e faça imple-

mentar as necessárias medidas de protec-ção destinadas a evitar a criação do peri-go; que mande parar a obra quando umempreiteiro ou subempreiteiro não cum-pra o plano de segurança, saúde e higieneem obra;-Ao empreiteiro e ao subempreiteiro quecumpram as regras de segurança, saúde ehigiene no trabalho; que façam com que oseu pessoal as cumpra; que respeitem asinstruções do director de obra, ou as queprovenham directamente do dono daobra, que tenham como objectivo preve-nir a criação de perigo em obra.Num país onde, infelizmente, a sinistrali-dade em obras de construção civil conti-nua a ser elevada, pretendeu o legisladorcriar uma norma que leve quem planeia,dirige e executa a ser pessoalmente res-ponsável pelo perigos criados. Esta res-ponsabilização pode ser feita, inclusive, àcusta da privação da própria liberdade.Termino, lembrando que, num estudo re-centemente publicado, encomendado pe-lo Governo, concluiu-se que só as empre-sas que agem de acordo com a lei acabampor vingar a médio e longo prazo…

34 Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

AS LEIS DO PATRIMÓNIO

Nos termos do art. 277 º, n.º 1, al. a) do Código Penal “quem no âm-bito da sua actividade profissional infringir regras legais, regula-mentares ou técnicas que devam ser observadas no planeamento,direcção ou execução de construção, demolição ou instalação, ouna sua modificação (…) e criar deste modo perigo para a vida ou in-tegridade física de outrem, ou para bens patrimoniais alheios devalor elevado é punido com pena de prisão de um a oito anos”.

O crime de infracçãode regras de construção

A. JAIME MARTINS, Advogado–sócio de Alcides Martins &Associados – Sociedade de Advogados.Docente universitário.

O Painel SANDWICH ONDUtherm serve para a execução de co-berturas inclinadas.É constituído por uma face em aglomerado hidrófugo, núcleo deisolamento térmico em Poliestireno Extrudido e acabamento aogosto do cliente/projectista. A comercialização é feita em painéisstandard (2x0,60m) com várias espessuras dos seus componentesque poderão ser alterados de forma a satisfazer as necessidadesespecíficas de cada obra.

GRANDES VANTAGENSISOLAMENTO TÉRMICO+ELEMENTO ESTRUTURAL (VENCE VÃOS DE 1,25m)+ACABAMENTO INTERIOR

ELEMENTO ESTRUTURAL + ISOLAMENTO TÉRMICOPara além de servir de elemento estrutural, já contempla o isola-mento térmico.

ISOLAMENTO TÉRMICO Excelente resistência térmica do seunúcleo (poliestireno extrudido).

RESISTÊNCIA MECÂNICACapacidade estrutural graças à combinação de elementos de espes-suras e densidades diferentes [aglomerado hidrofugo + poliestirenoextrudido + contraplado (por ex.)]

ESTRUTURAS MAIS SIMPLESPor ter capacidade resistente, permite estruturas mais leves, sim-ples e económicas. (Vence vãos de 1,25m).

RESISTE À HUMIDADEDesde que seladas as juntas, com Mastique de Poliuretano, ofereceresistência à humidade.

APROVEITAMENTO DE ESPAÇOSTorna imediatamente os desvãos (sótãos) das coberturas aproveitá-veis.

FÁCIL APLICAÇÃOPara a aplicação do Painel Sandwich não é necessária mão-de-obraespecializada (nem em Isolamentos térmicos nem em acabamentosde interiores).

SEGURO E DURÁVELPainel Sandwich ONDUTHERM + ONDULINE Sub-Telha é um sis-tema seguro, do ponto de vista térmico e da impermeabilidade a co-bertura.

MENOR CUSTO DE MÃO-DE-OBRATorna mais fácil a deslocação dos operários em cima da cobertura,permitindo por isso uma maior rapidez na execução da mesma, econsequentemente um menor custo de mão-de-obra.

Onduline PortugalRua das Lages, 5244405-231 Canelas-vngTel: 227 151 230Fax: 227 123 788E-mail: [email protected] informações em www.onduline.pt

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003 35

RECORTES DE IMPRENSA/MATERIAIS E SERVIÇOS

PUB

In Diário de Notícias

GOVERNO APROVA REGIME EXCEPCIONAL DE REABILITAÇÃO URBANAO Conselho de Ministros aprovou no final de Julho uma proposta delei que autoriza o governo a adoptar um regime excepcional dereabilitação urbana para as zonas históricas e áreas críticas derecuperação e reconversão urbanística. No âmbito desta proposta delei, os municípios, por si só, em parceria com o Estado ou comorganismos públicos, poderão criar as Sociedades de ReabilitaçãoUrbana (SRUs). (…) Segundo Durão Barroso, as SRUs, “dotadas deeficaz poder de intervenção”, poderão elaborar planos de pormenor,com a aprovação da criação de futuras Sociedades de Reabilitação deexpropriação ou de licenciamento, mas também poderes deintervenção junto dos proprietários de prédios em degradação. O objectivo é, acrescentou, “permitir que a reabilitação histórica sefaça e que a recuperação urbanística seja efectivamente promovida”.

In Confidencial Imobiliário, Setembro de 2003

PATRIMÓNIO - IGREJA DE GUIMARÃES METE ÁGUASANTOS EM SACOSAs esculturas dos santos voltaram a ser envoltas em sacos plásticos naigreja de S. Domingos, em Guimarães, devido às infiltrações dehumidade pelas paredes e à entrada directa da chuva no interior dotemplo, construído no século XVI e classificado como patrimónionacional.O Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar), cujostécnicos estão a fazer um levantamento da actual situação estruturaldo monumento, decidiu avançar com uma intervenção no telhado,mas que o sacerdote considera “insuficiente, porque se limita asubstituir apenas as telhas, mantendo-se os problemas da humidade eda água que escorre pelas paredes.”

In Correio da Manhã, 29 de Outubro de 2003

20 anos das primeiras classificações

como Património Mundial em Portugal

Passaram duas décadas desde que o Comité do Património Mundial, reunido na sua sétima sessão, em 9 de Dezembro de 1983, in-cluiu na Lista do Património Mundial os primeiros cinco bens portugueses:• Centro Histórico de Angra do Heroísmo, Açores• Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém, Lisboa• Mosteiro da Batalha• Convento de Cristo, Tomar

Portugal foi o 54.º Estado a tornar-se parte (em 30 de Setembro de 1980) na Convenção para a Protecção do Património Mundial Cultu-ral e Natural, adoptada em 16 de Novembro de 1972, e rapidamente elaborou os primeiros processos de candidatura. Em 1983 juntaram-se 29 bens à Lista do Património Mundial, que já incluía 134 bens culturais e naturais, e os quatro bens portugueses nesse ano surgem aolado de estrelas como Machu Picchu (Perú) e o Taj Mahal (Índia). O êxito da Convenção tem sido tal que actualmente contam-se 176 Es-tados membro e 754 bens de valor universal excepcional na Lista do Património Mundial (24 inscritos em 2003), dos quais 149 são natu-rais (1 português), 582 culturais (11 portugueses) e 23 mistos.

Miguel Brito Correia, Arquitecto

NOTÍCIAS

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 200336

Conferência Europeia sobre Património Mundial

debateu linhas de acção para o futuroDebater as estratégias a adoptar com vista a obter uma Lista do PatrimónioMundial mais equilibrada e representativa, em termos geográficos e de ca-tegorias de bens inscritos, foi o objectivo de “A Convenção do PatrimónioMundial – Desafios Futuros e Possíveis Linhas de Acção”, que se realizouem Setembro, em Roros, Noruega.Nos últimos anos, o Comité do Património Mundial adoptou um conjun-to de medidas com esse objectivo. Por ano, cada Estado apenas pode apre-sentar uma candidatura, e o Comité aprecia um máximo de 30; é dadaprioridade à apreciação de candidaturas de bens de categorias subrepre-sentadas.Na Conferência de Roros foram apontadas as categorias menos repre-sentadas na Lista do Património Mundial (com 754 bens em 2003): paisa-gens culturais; arquitectura moderna; sítios fósseis; desertos; regiões po-

lares e subpolares; regiões costeiras, marinhas e pequenas ilhas.Debateu-se também a implementação da Convenção em África, sublinhando-se a necessidade de obter apoios da comunidade inter-nacional para a constituição de Listas Indicativas e elaboração de processos de candidatura, bem como para a gestão de bens classifi-cados.A gestão dos sítios Património Mundial e a identificação de “boas práticas” a adoptar estiveram igualmente em análise. Os partici-pantes, entre os quais se incluíram altos responsáveis da UNESCO, ICOMOS e IUCN, e membros do Comité do Património Mundial,congratularam-se com histórias de sucesso recentes, como a de Viena de Áustria, cujas autoridades abandonaram um projecto deconstrução, na sequência de um parecer do ICOMOS e do aviso do Comité do Património Mundial de que o sítio seria retirado da lista se o projecto fosse concretizado.

Paula Costa, Antropóloga, Técnica Superior da Comissão Nacional da UNESCO

O emblema do Património Mundial simboliza a interdependência dos bens culturais e naturais: oquadrado central representa a forma criada pelo Homem e o círculo a natureza, as duas intimamenteligadas. O emblema é circular como o mundo, simbolizando também protecção. © UNESCO 1978

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

NOTÍCIAS

37

A intervenção na escultura

David de Miguel Ângelo Buonarroti:causas e métodos propostosÀ pedra encontra-se associada a ideia de elemento du-ro, inerte e duradouro. Todavia as suas característicaspodem modificar-se ao longo do tempo, tornando-senecessário, em certos casos, a adopção de medidas deconservação para minimizar os efeitos nefastos obser-vados.É no contexto da preservação de bens culturais cons-truídos em pedra que será abordada uma das mais co-nhecidas obras de arte mundiais – a escultura David de

Miguel Ângelo Buonarroti (1475-1564).Esta escultura, iniciada em 1501 e exposta pela primeira vez em 1504 no exterior do Palaz-zo Vecchio (Florença), foi esculpida em mármore branco, algo venado, proveniente da re-gião de Carrara, a partir de um bloco que teria já sido esboçado, trabalhado e abandonadopor outros artistas, pela sua aparente falta de qualidade.Ao longo dos séculos, David sofreu agressões e/ou intervenções de diversa ordem, tendopermanecido no exterior até 1873, data em que foi transferido para a Galeria da Academiade Florença a fim de ficar protegido da intempérie e da poluição atmosférica. David não foialvo de intervenção relevante desde 1873.A necessidade de intervenção sobre tão valiosa obra de arte, para além das operações regulares de manutenção, vem desde a dé-cada de 1980. Dos estudos então realizados verificou-se que a exposição à intempérie terá conduzido à erosão parcial e perda dolavrado de alguns elementos. Foi também identificado, ainda que de forma difusa, um mineral que resulta da interacção das su-perfícies calcárias com a poluição atmosférica - o gesso. De entre as medidas a preconizar no David encontra-se a execução de operações de limpeza. A limpeza é uma das etapas de in-tervenção em bens culturais construídos em pedra, através da qual se pretende eliminar a sujidade bem como os produtos de al-teração nocivos que se encontrem depositados. A escolha do método a usar depende da natureza, extensão e desenvolvimentodas substâncias a eliminar, das características da pedra e seu estado de degradação e, não menos relevante, do seu valor artístico.A limpeza do David, em preparação há 11 anos, tem gerado acesa discussão sobre o método mais adequado a usar. De um ladoestão os defensores de que a estátua deverá ser limpa segundo via seca, recorrendo a escovas macias, cotonetes, borrachas es-peciais etc.. Este processo, essencialmente mecânico, promoveria sobretudo a remoção de poeiras acumuladas. Do outro lado es-tão os que julgam que a estátua deverá ser limpa por processos aquosos, utilizando compressas embebidas em água. É um mé-todo eficaz para remoção de poeira acumulada, crostas gipsíferas de reduzida espessura ou de outros produtos nocivos. Os de-fensores deste método consideram que o gesso é o elemento mais nocivo para a integridade do David e que só será removido viaprocessos aquosos.Ambas as formas de limpeza, se executadas e acompanhadas por pessoal especializado, são bastante suaves e permitem a sal-vaguarda de tão valorosíssimo património para as gerações vindouras.Face ao intenso debate gerado em torno da intervenção, foi feita uma petição por especialistas internacionais, que propõe a sus-pensão de qualquer operação até que David seja minuciosamente analisado por uma comissão independente de peritos.Para mais esclarecimentos e acompanhamento da intervenção, que decorrerá até Março de 2004, poder-se-á consultar a páginaoficial: www.restaurodeldavid.it.

Maria Amélia Dionísio, Laboratório de Mineralogia e Petrologia, Instituto Superior Técnico, [email protected]

VIDA ASSOCIATIVA

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 200338

ProjectoRECOPAC A Stap, S.A. e Comissão Coordenadora da Região do Algarve juntas na reabilitação do património construído

Com o objectivo principal de produzir um Manual da Recupe-ração do Património Construído da Região Algarvia, foi recente-mente assinado entre a Stap, S.A. e a CCRA um contrato no âm-bito do programa INOVAlgarve. Além da Stap, participa nesteprojecto a Universidade do Algarve.O manual visa a divulgação da metodologia e da tecnologia de in-tervenção a adoptar com vista à reabilitação de edifícios das diver-sas tipologias construtivas que constituem o edificado da regiãoalgarvia. E incluirá “Linhas de orientação” para este tipo de inter-venção, destinadas a projectistas; bem como material para apoio àformação de operários especializados neste tipo de intervenção.Os destinatários são as entidades privadas e públicas que in-tervêm na concepção, planeamento, projecto, execução e fiscali-zação de intervenções de reabilitação do edificado da região al-garvia, bem como formadores e formandos do ensino técnico daregião, quer através da formação inicial, quer através de acçõesde formação contínua.

O GECoRPA participa activamentena iniciativa “Coimbra Capital Portuguesa da Cultura 2003”.

No âmbito do seminário organizado pelaDGEMN sobre o tema “Património e NovasTecnologias” e a convite desta instituição, opresidente do GECoRPA, Eng.º V. Cóias eSilva, fez uma apresentação sobre “Novastecnologias na concepção e execução de in-tervenções de conservação estrutural”.

Nesta comunicação focaram-se as diversas fases de uma intervenção de conser-vação estrutural, à luz das tecnologias avançadas: a concepção das intervenções,incluindo a elaboração dos respectivos projectos; a questão dos levantamentos eensaios preliminares para recolha da informação necessária para a modelaçãoestrutural (definição geométrica, caracterização da estrutura global, dos elemen-tos estruturais e das propriedades mecânicas dos materiais em presença); e a in-terpretação e crítica da informação recolhida.

Pôs-se também em evidência a importância da fiabilidade desta recolha de informação e necessidade de uma boa ligação entre estaactividade e a análise estrutural. Apresentaram-se diversas técnicas de intervenção estrutural, não tradicionais, vocacionadas para a salvaguarda dos monumentos eedifícios históricos, com casos de estudo de concepção e execução de intervenções de conservação estrutural.Finalmente, chamou-se a atenção para a importância de gestão do saber e da gestão da qualidade nestas actividades.

Edifício Irene Rôlo, Tavira

O GECoRPA leva a cabo terceiro e quarto DEMO-NÁRIOS

Decorreram nos passados dias 17 de Setembro e 8 de Outubro, nas insta-lações do Cenfic, no Prior Velho, o terceiro e o quarto Demo-nários GE-CoRPA. O primeiro foi dedicado ao “Reforço anti-sísmico de construçõesantigas de alvenaria” e o segundo visou a “Utilização de materiais e tecno-logias avançadas na conservação e restauro de construções antigas”.

O conceito de Demo-nário, um misto de Demons-tração e Seminário, tem em vista articular a compo-nente expositiva do seminário com a componenteprática da demonstração. Nesse sentido, as acçõesde formação têm lugar num ambiente que permite ainclusão de um conjunto de actividades de práticasimulada.No Demo-nário dedicado ao “Reforço Anti-sísmicode Construções Antigas de Alvenaria” os formado-res convidados foram o Eng.º Alfredo Campos Cos-ta, responsável pelo Núcleo de Engenharia Sísmica eDinâmica de Estruturas do Departamento de Estru-turas do LNEC, o Eng.º Vítor Cóias e Silva, presi-dente do GECoRPA, o Professor Ramiro Sofronie,docente do Departamento de Engenharia Civil daUniversidade de Bucareste e membro da UNESCO eo senhor Giancarlo Moscaritolo, director do Depar-tamento RichterGard de Blackburn. No Demo-nárioque se debruçou sobre a “Utilização de materiais etecnologias avançadas na conservação e restauro deconstruções antigas” os docentes foram o Eng.º Vi-tor Cóias e Silva, o Eng.º José Paulo Costa, adminis-trador da STAP, S.A./Delg. Sul e o Eng.º ThomazRipper, director da LEB, Ld.ª . Ambos os Demo-nários foram divididos em duaspartes distintas. Uma primeira dedicada às apresen-tações teóricas dos oradores e uma segunda, em quese assistiram a demonstrações práticas, utilizandoprovetes variados.Estas duas acções de formação foram as últimas doCiclo de 4 Demo-nários GECoRPA previstos para opresente ano (Abril, Junho, Setembro e Outubro).Em termos de balanço final, refira-se que os Demo-nários superaram as espectativas, cativando umalarga audiência e proporcionando uma formaçãoímpar, em que os diferentes temas foram apresenta-dos e explorados nas vertentes teórico-prática pordocentes especializados.

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

VIDA ASSOCIATIVA

39

Figuras 2 e 3 (Demo-nário de 17 de Se-tembro) Sessão demonstrativa, onde os for-mandos visualizaram a aplicação de dife-rentes técnicas de reforço anti-sísmico nosprovetes de alvenaria: recurso aos tirantesclássicos (2) e sistema RichterGard (3)

Figura 3

(Demo-nário de 17 de Setembro) Sessãoexpositiva e descritiva acerca das técnicasde reforço anti-sísmico de construções anti-gas de alvenaria.

Figura 1

Figura 2

(Demo-nário de 8 de Outubro) Sessãoexpositiva e descritiva focando o recurso a materiais e tecnologias avançadas naconservação e restauro de construções an-tigas.

Figura 4

Figura 5

Figura 6

Figuras 5 e 6 (Demo-nário de 8 de Outubro) Sessão demonstrativa onde os formandos visualizaram o processode pregagem tipo Cintec no provete de tipo ytong(5) a par da aplicação de resina numa manta de fibra de vidro(6)

40

PERFIL DE EMPRESA

Fundada em 1979, a QUINAGRE – Construções S.A. desenvolveu desde o início umpercurso de actividade construtiva bastante diversificado no que diz respeito a espe-cializações, ainda que predominantemente no âmbito das obras públicas.

É a partir de 1992, após a consolidação de uma estrutura de funcionamento e a sedi-mentação de conhecimentos numa equipa de operários especializados, que a Quina-gre investe as suas capacidades no sector do restauro e conservação do património ar-quitectónico, procurando um empenho no rigor e na qualidade que tem vindo a evi-denciar nas intervenções realizadas dignas de um reconhecimento generalizado. Co-mo testemunho deste processo, já diversos monumentos emblemáticos a nível nacio-nal constam do conjunto das suas intervenções.

Paralelamente a esta especialização, têm também sido objecto de intervenção pelaQuinagre a recuperação e reabilitação de construções correntes bem como a de edifí-cios industriais e obras de engenharia, cujo teor, ora mais generalista ora mais espe-cializado, coadjuvam para uma universalidade desta empresa relativamente ao seucampo de actuação.

Apesar deste percurso bem sucedido, a Quinagre não se dá por satisfeita, pois há sem-pre uma melhor relação de qualidade a alcançar. Para a empresa, é esta permanenteinsatisfação a principal garantia da sua motivação a cada nova intervenção.

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

AGENDA

41

II Ciclo de Conferências do NCROrganização: Núcleo de Conservação e Restauro Associação de Estudantes da Escola Superior de Tecnologia de Tomar, do IPT

Programa:Objectos Lacados Japoneses - Dezembro 2003 (data a confirmar)Dr.ª Leonor Leiria, Conservadora-restauradora de objectos lacadosFotografia - 12 Janeiro 2004Conservação e restauro de fotografia, Professor Dr. Luís Pavão, FotógrafoObjectos Lacados - 18 Fevereiro 2004As Lacas: das origens às práticas museológicas de conservação e restauroDr. Rui Xavier, Conservador-restaurador de mobiliário e lacas, Museu Calouste GulbenkianArqueometria do Vidro - Março 2004 (data a confirmar)Métodos de exame e análise aplicados ao estudo do vidroPintura Mural – 2004 (data a confirmar)Problems of maintaining repeatedly restored mural paintings. With a particular exam-ple: Mural paintings in the chapel of St. Liborius in Creuzburg/Thuringia, Germany,Dr.ª Dana Weinberg, Conservadora-restauradora de pintura mural, Alemanha

Informações: Instituto Politécnico de Tomar, Associação de Estudantes E.S.T.T.Núcleo de Conservação e Restauro; Estrada da Serra, Quinta do Contador – 2300-313 TomarTelefone: 249 328 129/ e-mail: [email protected] / Website: www.estt.ipt.p

Pós-graduaçãoGestão da Cultura e do PatrimónioCoordenação : Profª. Doutora Isabel FreitasCandidaturas: 4 de Novembro a 19 de Dezembro de 2003Duração do Curso: Janeiro a Dezembro de 2004

Este curso pretende contribuir para a formação de profissionais competentes naárea da Gestão da Cultura e do Património, criar um espaço de investigação e dedesenvolvimento de estratégias e analisar em profundidade a complexidade dasquestões suscitadas pela intervenção nas várias áreas da Cultura e doPatrimónio. Formar profissionais criativos, inovadores que actuem na dinâmica cultural epatrimonial e no desenvolvimento de “uma cultura para todos”, é o objectivoprimordial desta pós-graduação

Informações e Candidaturas:Universidade Portucalense - Gabinete de Ingresso (6º Piso)R. Dr. António Bernardino de Almeida, 541-619 - 4200-072 PORTOTelefones: 225572689/225572688/225572686 – Fax: 22 557 2013Linha verde: 800 27 02 01 /e-mail: [email protected]

IV Congresso de ConstruçãoMetálica e MistaLisboa, 4 e 5 de Dezembro de 2003, Centro de Congressos do Instituto Superior Técnico, Lisboa

Com este congresso pretende-se promover a construção metálica e mista através da divulgação de projectos e obras notáveis, dando a conhecer-se igualmente os avançoshavidos na análise estrutural, tecnolo-gias construtivas e investigação.

Informações: Secretariado do CMM – AssociaçãoPortuguesa da Construção Metálica e Mista tel.: 239 79 72 19 / http://www.cmm.pt

Novo curso de Mestrado emMetodologias de Intervençãono Património Arquitectónico Faculdade de Arquitectura da Universidade do PortoDuração: 2 anosNumerus clausus: 30

O novo curso de Mestrado emMetodologias de Intervenção noPatrimónio Arquitectónico tem comoobjectivo fundamental, proporcionarformação especializada na área dasalvaguarda do patrimónioarquitectónico, dando assim respostaàs crescentes solicitações no sentidoda formação pós-graduada detécnicos, numa área de crescenteexigência e especialização.

Contacto para informações: Fátima AguiarTelefone: 226 057 100 E-mail: [email protected] Website: www.arq.up.pt

ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIO

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 200342

O emblema da cidade de Lisboa

e a identidade municipal

Muitos emblemas municipais reflectem osfeitos mais importantes do passado e da his-tória das cidades, como marcas de identida-de local e como afirmação do poder autár-quico. Também o emblema de Lisboa, apre-sentando como símbolos uma nau com doiscorvos, remonta à época de D. Afonso Hen-riques e tem raízes profundas na lenda de S. Vicente.Conta a lenda que no ano de 304, Vicente, diáco-no do bispo de Saragosa foi martirizado e lançadoao mar por ordem de um perfeito romano, de no-me Daciano sendo recolhido por alguns cristãosque lhe deram uma sepultura em Valência. Coma invasão árabe e as contínuas perseguições aoscristãos, colocaram o corpo do santo numa barcae vieram aportar ao antigo Promontório Sacro, aoCabo de S. Vicente onde edificaram uma ermidapara repousaram os restos do mártir. Chegandoao conhecimento de D. Afonso Henriques a his-tória de S. Vicente, tomou este a iniciativa demandar buscar o corpo do santo. Na barca com osdespojos do mártir, dois corvos poisaram um àproa e outro à popa acompanhando-os durantetoda a viagem até Lisboa, onde chegaram em1176, ficando as relíquias depositadas na Sé (1). A primeira representação da simbologia oli-siponense surge num selo pendente em la-cre de 1233, que apresenta uma nau de velasenfunadas, em pleno mar, equilibrando, nosextremos, dois corvos”(2). Na heráldica lapi-dar, o exemplo mais antigo que se conhece

data de 1336 e encontra-se no Chafariz deAndaluz. Ainda hoje podemos olhar para asua composição simbólica: «mostra a naveou barca de extremos recurvados, sobre ca-da um dos quais assenta um corvo, e tem umúnico mastro de vela carregada na verga”(3).Este primeiro período de representaçõesheráldicas é relativamente estável na apre-sentação dos símbolos da cidade, mas, nasequência dos séculos, e essencialmente apartir do séc. XVI, a iconografia olisiponen-se foi sempre inconstante, não favorecendoa criação de uma identidade precisa e re-conhecível.As imagens são reveladoras desta realida-de: desde a nau dos descobrimentos, à em-barcação romana do brasão de 1920, passan-do pelo galeão manuelino, todo o tipo de re-presentações era possível. A posição e nú-mero de corvos também foi variando.Em 1940, como consequência da reformabrasonária autárquica, o brasão da cidade fi-ca sistematizado como uma estilização daslinhas gerais de um barco e não como um ti-po de construção naval de acordo com o de-sejo de cada época.Ficando desta forma representado o brasãode Lisboa, coexistem uma variedade sem li-mite de emblemas, comunicando uma ima-gem sem estabilidade e continuidade, pre-judicando o entendimento da identidade dacidade.

Receando a diversidade emblemática dacidade, em 1992 a CML adopta uma novaimagem, excluindo a utilização de qual-quer outra. Mas, também esta imagem foiefémera. Em 1996 o município emite umnovo emblema que, tal como o anterior, te-ve um período de vida muito limitado sen-do substituído em 2002 pela actual imagemmunicipal. Perante esta inconstância, o cidadão estra-nha a identidade do município. No actualemblema de Lisboa, se não há elementos sig-nificantes, se não reconhecemos os símbolosidentificativos vicentinos, como “ver” a ins-tituição?

PROPOSTA PARA O PERFIL DE UMA NOVA IMAGEM DA CIDADE DE LISBOADo estudo efectuado sobre as imagens mu-nicipais(4), decorre a formulação de três cri-térios cuja aplicação se julga eficaz paraconseguir os fins desejáveis para uma ima-gem coordenada municipal: um critériofuncional, um critério histórico e um crité-rio técnico.

CRITÉRIO FUNCIONALAs empresas, públicas ou privadas, lutampela afirmação de uma presença num mer-cado duramente concorrencial, e têm por is-so de buscar permanentemente formas de

A imagem municipal é um elemento de pertença e de identificação dos cidadãos à cidade. A suasimbologia deve ser clara, precisa e estável, de forma a que a população reconheça sempre a mesmaentidade.

1233 1897 1920 1927 1940 Emblemas emitidos entre os anos 40 e 90

visibilidade cada vez mais competitivas noplano visual. Mas um município não está nomercado. A sua imagem deve ser “securi-zante” e representativa de valores colecti-vos e intemporais com os quais a comunida-de se identifique e sinta como seus. A imagem coordenada da cidade de Lisboarepresentada pelo seu município, não deveentrar em concorrência com as da esfera em-presarial, e sim assumir um carácter pró-prio, institucional e estável.

CRITÉRIO HISTÓRICOLisboa, como cidade, contém uma colossalcarga histórica e afectiva, gerada e acrescen-tada ao longo de séculos. Ao longo de vicis-situdes, conflitos e regimes, constitui umapermanência.A reformulação da emblemática da cidadede Lisboa deve reencontrar a pureza essen-cial da figuração tradicional, com exclusãode corruptelas, introdução de elementos no-vos ou inovações temáticas, sem prejuízo damodernidade da sua realização plástica.

CRITÉRIO TÉCNICODada a variedade de situações de aplicaçãoda heráldica municipal, uma correcta reali-zação da imagem coordenada nos seus as-pectos plásticos exige uma abordagem pro-fissionalizada e um perfeito domínio dosproblemas técnicos envolvidos. A realização deve obedecer a todas as exi-gências técnicas que são normais nas situa-ções semelhantes no mundo empresarial,mas salvaguardando os valores definidospelos critérios, funcional e histórico, atrásmencionados.

Referências bibliográficas(1) BOTURÃO, J. O. (1962 -1968) – «São Vicente – O Padroeiro da Cidade de Lisboa», in Revista Muni-cipal, 95, (1962), pp. 11-24; 98, (1963), pp. 51-86; 101/102,(1964), pp.16-44; 108 /109, (1966), pp. 67-74;110 / 111, (1966), pp. 31-40; 114 / 115, (1967),

pp. 7-19; 116 / 117, (1968), pp. 21-32; 188 / 119,(1969), pp. 23-38.(2) DIAS, Jaime Lopes, Brasão de armas, Selo e bandei-ra da Cidade e Município de Lisboa, Lisboa, CML, 1960(3) MACEDO, Luís Pastor et al. , Casas da Câmara deLisboa (do Século XII à Actualidade), Lisboa, CML,1951, p. 182(4) Desenvolvimentos em: FRAGOSO, Margarida

Ambrósio, O Emblema da Cidade de Lisboa. SuporteComunicacional da Identidade Municipal, Lisboa, Livros Horizonte, 2002

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIO

43

1992 1996 2002

PUB

MARGARIDA AMBRÓSIO FRAGOSO, Designer e Investigadora.

44

CONSULTÓRIO GECoRPA

(1) CARLOS MESQUITA, nascido em 1968, engenheiro civil, ramo deestruturas, pelo Instituto Superior Técnico (IST), desenvolveu activida-de de projectista no IST, e no Gabinete de Engenharia de Novas Infra-estruturas do Exército, entre outras entidades. Desenvolve actividadedesde 1994 na OZ, Ld.ª, onde exerce funções de Director Técnico, naárea de diagnóstico, levantamento e controlo de Qualidade em estru-

turas e fundações. Tem várias obras publicadas na área de inspecção, ensaio e diag-nóstico para reabilitação estrutural.

(2) VÍTOR CÓIAS E SILVA, nascido em 1943, engenheiro civil pelo IST,dedica-se à área da reabilitação de edifícios e outras construções há maisde vinte anos. Foi inicialmente funcionário do LNEC, docente universi-tário, e trabalhou, depois, durante vários anos, como projectista. Fundouum conjunto de empresas que operam na área da reabilitação, desde odiagnóstico das anomalias até à intervenção em obra. Promoveu, há al-

guns anos, a criação do GECoRPA e, no âmbito desta, a Pedra & Cal. É autor de váriaspublicações das suas áreas de especialização.

(3) PAULO LUDGERO DE CASTRO, nascido em 1962, licenciado emGestão, frequentou vários seminários e ministrou cursos de conserva-ção e restauro com o apoio do Instituto Português do Património Cul-tural. Constituiu em 1989 a firma CRERE, Ld.ª, que mais tarde se asso-cia à A. Ludgero Castro, Ld.ª, criando assim um grupo especializadono mercado de restauro e conservação de edifícios com destaque na

área dos estuques e pinturas decorativas. Desde então exerce a direcção e a coorde-nação de todas as obras de Conservação e Restauro da empresa, bem como se tornouo impulsionador da sua certificação na área de restauro de gessos e estuques orna-mentais.

(4) MARIA AMÉLIA DIONÍSIO, nascida em 1970, engenheira de minaspelo IST, é Professora Auxiliar no mesmo Instituto. Doutorou-se em2002 no IST com o estudo “Degradação da pedra em edifícios históricos:o caso da Sé de Lisboa”.Tem participado em vários estudos de conservação de rochas de monu-mentos portugueses dos quais se destaca a Sé de Lisboa, o Altar-Mor do

Mosteiro dos Jerónimos, o Teatro Romano de Lisboa, a Porta Especiosa e o HospitalTermal das Caldas da Rainha.É professora de alguns cursos de mestrado em Conservação e Restauro e participouem 2002, no curso financiado pela União Europeia “Science and Technology of theEnvironment for Sustainable Protection of Cultural Heritage”.

O GECoRPA constituiu um grupo técnico de apoio para tentar responder a questões práticas quesurjam durante as diferentes fases do trabalho de conservação do património e da reabilitação doedificado.

Envie as suas questões para:

Consultório GECoRPARua Pedro Nunes, n.º 27, 1.º Esq.º1050-170 Lisboa

[email protected]: 213 157 996

Nota: As respostas serão enviadas directa-mente via e-mail, e também posteriormen-te publicadas na Pedra & Cal e no site.

Este grupo de apoio é constituído pelosEngenheiros Carlos Mesquita (1), da OZ,Ld.ª (área de diagnóstico), Vítor Cóias eSilva(2), do GECoRPA (área estrutural),Paulo Ludgero Castro(3), da A. LudgeroCastro, Ld.ª (área de gessos e estuquesornamentais) e Maria Amélia Dioní-sio(4), do Instituto Superior Técnico(IST), para questões relacionadas com apedra. Estes especialistas responderãoàs questões que os nossos leitores en-contrem nas diversas fases de um tra-balho de conservação e reabilitação dopatrimónio arquitectónico e das cons-truções antigas, dando o seu parecer econcorrendo, assim, para a boa práticada actividade. Para outras questões quenão estejam directamente relacionadascom estas áreas, o GECoRPA encarre-gar-se-á, dentro do possível, de procu-rar o especialista indicado para respon-der aos nossos leitores.

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

Tema de Capa

45Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

e-pedra e cal

Ao consultar alguns dos flahsback em atra-so disponíveis no site da TSF (http://tsf.sa-po.pt) ouvi o deputado José Magalhãesresponder a uma picardia política do eu-rodeputado José Pacheco Pereira, dizen-do-lhe para ir escrever o seu blog. Na mi-nha ignorância, pensei que tinha ouvidomal. Caro leitor sabe o que é um blog? Bom,o assunto está na ordem do dia e não serialícito escrever sobre Internet sem deixaruma pequena referência no fim deste arti-go. Para já vamos ao assunto que nos trou-xe aqui: Erros e Defeitos na Reabilitaçãode Edifícios.Há temas que sugerem inúmeras pistas deprocura na Internet e outros que se reve-lam de difícil digestão até ao fim. O pre-sente tema cai na segunda categoria, con-tudo “jogando por tabela” encontrei algu-mas pistas que passo a partilhar, não semantes relembrar aqui o tema da Certifi-cação de Qualidade (P&C 17) pois encon-tra-se interligado. É na perspectiva da qua-lidade que devem ser vistos os erros e de-feitos na construção pois, segundo algunsestudos, a qualidade (ou falta dela) naconstrução deve-se não apenas à execuçãodos trabalhos ou certificação dos materiaismas especialmente à qualidade do projec-tista, sendo que 43 por cento do custo totalde reparações têm origem em deficiênciasde projecto, dos quais 59 por cento corres-pondem a pormenorização deficiente (re-latório do Bureau Securitas, 1979). Estes dados surgem na sequência de vá-

rios estudos realizados nos últimos 30 anospor instituições de vários países europeus,que estudam as deficiências construtivas esistemas de protecção dos utilizadores as-sociados a seguradoras, nomeadamenteem França onde mais de 1,1 milhões de ha-bitações foram vistoriadas com o sistemaQualitel desde 1974 (www.qualitel.org),destinado à certificação de qualidade naconstrução ou na Suíça com Système d’Éva-lutation de Logements (SEL) sobre o qualdestaco o Bulletin du logement, n.º 69 edita-do pelo Office fédéral et la Commission de re-cherche pour le logement, intitulado “Conce-voir, évaluer et comparer des logements /Système d’évaluation de logements SEL,Edition 2000” (94 págs, disponível em ita-liano, alemão e francês) – ver publicaçõesem www.admin.ch/edmz ou www.bwo.admin.ch - onde se fala da recente actuali-zação deste sistema de verificação da qua-lidade na construção com mais de 25 anosde experiência no terreno. Também o In-ternational Council for Research and Innova-tion in Building and Construction, conheci-do pela sigla CIB (www.cibworld.nl) temdesenvolvido investigação nesta matériaatravés de algumas das 56 comissões detrabalho. Em www.qogbtp.com, encon-trará o site do Office General du Batiment etdes Travaux Publics (OGBTP) em que se in-tegra o Bureau Securitas, para o controlotécnico das construções, contudo não con-segui informação específica sobre a ac-tuação deste organismo. Não esquecer o

II Simpósio Internacional sobre Patologia, Du-rabilidade e Reabilitação de Edifícios, noLNEC que decorreu entre 6 e 8 de Novem-bro (www-ext.lnec.pt)na sequência do en-contro de 1994 em Varenna, Itália.E vamos aos blogs! Um blog é a abreviatu-ra de weblog e trata-se de uma página pes-soal onde alguém escreve publicamentesobre variados temas (maioritariamentesobre política) com a particularidade denunca se apagar nada do que foi escrito an-teriormente. Até aqui nada de especial,não fosse o facto de recentemente o blog dePacheco Pereira ([email protected])ter dado azo a um fait-diver político nos jor-nais na sequência de comentários sobre aactuação de um ministro. O universo dosblogs, a chamada blogosfera, está em ex-pansão e se no início do ano existiam cercade 170 blogs, actualmente são mais de trêsmil portugueses entre famosos e anónimosa manter diários on-line, sempre com no-mes sugestivos (ver 1º encontro nacionalsobre weblogs, http://encontrodeweblogs.blogspot.com). Também estou a pensarcriar um blog, depois darei notícias.

Erros, defeitos… e blogs

JOSÉ MARIA LOBO DE CARVALHO,Arquitecto, Mestre em Conservação doPatrimónio (York). Actualmente desen-volve o Doutoramento no IST, enquantobolseiro da FCT.

LIVRARIA

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 200346

Cadernos EdifíciosRevestimentos de paredes em edifícios antigos

LNECCoordenção: Rosário Veiga e José AguiarEste “caderno” faz parte de uma série da nova linha editorial do LNEC, orientada para a abordagemespecializada de temáticas ligadas ao mundo da construção. Este número apresenta novos olhares sobre aconservação de superfícies e revestimentos arquitectónicos em edifícios de valor patrimonial.Alguns dos textos apresentados reflectem sobre a problemática e metodologia geral das intervenções emrevestimentos de edifícios antigos, outros analisam as exigências a fazer e as características dos materiais autilizar. Preço: 17, 00 euros – Código LNEC.PP.1

Gramáticas da PedraLevantamento de tipologias de construção murária

CRATGabriella CasellaTrata-se de um aturado levantamento dos tipos de construção murária tradicional do nosso país, trabalhode carácter inédito entre nós. O trabalho de recolha de tipologia dos muros de pedra desenvolveu-se,segundo a autora, "não apenas por serem documentos históricos ou estéticos, mas por estarem aindaligados a um conhecimento prático da construção".Este levantamento está separado por fichas, dedicadas a cada região com uma tipologia de construçãomurária específica. Em cada ficha se analisa as características dessa construção e dos seus materiais. De fazerreferência, ainda, à qualidade das fotografias e imagens, que juntamente com os conteúdos, destacam estaobra no panorama dos estudos da construção tradicional portuguesa.Preço: 40,00 euros – Código CRAT.E.3

Direito do Património Cultural

AlmedinaJosé Casalta NabaisSusana Tavares da SilvaAqui se apresenta uma muito actual compilação de legislação relativa ao direito do património cultural.Com a qual se pretende reunir a legislação básica, bastante dispersa e diversificada, que disciplina esteimportante sector do nosso ordenamento jurídico.O momento é oportuno para uma publicação deste género, uma vez que foi publicada a Lei de Bases daPolítica e do Regime de Protecção e Valorização do Património Cultural, a Lei n.º 107/2001. Preço: 20, 00 euros – Código AL.L.1

Cor e Cidade HistóricaEstudos cromáticos e conservação do património

FAUPJosé Aguiar“As grandes vertentes desta investigação enquadram-se, fundamentalmente, no cruzamento de trêsabordagens fundamentais: o da historiografia urbana; o da análise filológica e morfológico-construtiva daarquitectura; e o das possibilidades tecnológicas da intervenção (conservação, restauro, renovação),privilegiando-se os métodos e técnicas de carácter qualitativo na recolha e análise da informação.”O autor conclui dizendo que um atento estudo da paisagem urbana revela a cor, os seus materiais etecnologias (superfícies, revestimentos, acabamentos) enquanto expressão de uma particular culturamorfológica. Parâmetros que melhor definem a especificidade identitária de um lugar histórico. Preço: 41,00 euros – Código FAUP.E.1

Técnicas Tradicionais de Construção de AlvenariasAutor: João Mascarenhas MateusEdições Livros Horizonte Esta obra, dirigida a arquitectos, engenheiros, historiadores de arte e gestores do património em geral,pretende tornar acessível a Arte de Bem Construir. A tradução é realizada numa linguagem técnica actual eà luz das mais recentes teorias e modelos da conservação e restauro. Conhecer como se construíam osantigos edifícios é indispensável para o seu estudo e conservação.Preço: 40, 00 euros – Código HT.E.4

3º ENCORE. Encontro sobre Conservação e Reabilitação de Edifícios. (2 Vols)

LNECAutor: váriosConservar e reabilitar fazem parte de uma novasensibilidade ecológica ligada à ideia dasustentabilidade do urbanismo e da construção, queestá a reformular profundamente as práticas daengenharia e da arquitectura no dealbar do novomilénio.É neste contexto que surge o 3º ENCORE, na sequênciado 1º e do 2º ENCORE’s, que tiveram lugar em 1985 e1994 respectivamente.O evento foi promovido e organizado pelo LNEC coma colaboração de diversas outras entidades oficiais econtou com o Alto Patrocínio do Presidente daRepública, integrando-se nas comemorações dos 150anos do Ministério das Obras Públicas, Transportes eHabitação.O 3º ENCORE abordou os nobres etradicionais temas relacionados com o patrimónioarquitectónico classificado, mas abrangeu também oestudo do património urbano mais geral e do parqueedificado recente, procurando em todos essesdomínios proceder ao balanço do conhecimentoadquirido na última década, detectar lacunas acolmatar, perspectivar novas linhas de abordagem efomentar o seu estudo e investigação.Preço: 90,00 ⁄ (versão em cd-rom: 18,00 ⁄) – Código LNEC: LN. A. 1

NOVIDADES

Património – Estudos - n.º 4“Conservação e Restauro de PatrimónioMóvel e Integrado”

IPPARCoordenação:Manuel Lacerda, Miguel Soromenho,Maria de Magalhães Ramalho, Carla Lopes e Maria JoséMoinhosEditado pelo Instituto Português do PatrimónioArquitectónico, o presente número desta publicaçãoaborda sobretudo a “Conservação e Restauro dePatrimónio Móvel e Integrado”. Através de umimportante conjunto de artigos procura-se ilustrar aabrangência territorial da política de conservação erestauro do Ippar, bem como das tipologias artísticasconsideradas, desde a escultura, talha e mobiliário,pintura mural, azulejaria, têxteis, vitral, a outras menoscomuns, como o restauro de sinos.As rubricas habituais incluem ainda contributos naárea da Salvaguarda – o sistema de informação doIppar, a formação de técnicos de conservação erestauro de arqueologia e pintura mural, a valorizaçãoda Fortaleza de Almeida – e da Memória, retomando-se aqui a questão da tipologia da Charola do Conventode Cristo ou apresentando-se um rastreio e estudo dafaiança de revestimento do Mosteiro de São João deTarouca. A pluralidade das diversas intervenções em imóveisclassificados tem igualmente expressão no presentenúmero, através dos casos da Ermida de N.ª Sra daConceição de Tomar, Estação Arqueológica de Tróia, ocirco romano de Olisipo e o Castelo de São Jorge, entreoutras.Preço: 12,00 ⁄ - Código IP.PP3

Património e Restauro em Portugal (1920-1995)FAUPMiguel ToméO restauro está tradicionalmente dividido em duas linhas de orientação: restauro enquanto transformação,que é necessário conhecer e documentar, e restauro enquanto manifestação artística.Esta investigação assenta nesta orientação de base, e define-se pelo cruzamento dos dados informativos edocumentais das operações de restauro com a interpretação crítica das mesmas enquanto projecto dearquitectura.Preço: 19,00 euros – Código FAUP.E.1

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

LIVRARIA

47

N.º 0, Out/Nov/Dez 1998Tema de Capa:

Prática da Conservação e Restauro do Património

Preço: 3,74 eurosCódigo: P&C.0 – esgotado

N.º 3, Jul/Ago/Set 1999Tema de Capa:

Património e EconomiaPreço: 3,74 eurosCódigo: P&C.3

N.º 4, Out/Nov/Dez 1999Tema de Capa:

Património Arquitectónico Industrial

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.4 – esgotado

N.º 5, Jan/Fev/Mar 2000Tema de Capa:

Qualificação Profissional e Património Arquitectónico

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.5 – esgotado

N.º 6, Abr/Mai/Jun 2000Tema de Capa:

Arqueologia UrbanaPreço: 4,48 euros

Código: P&C.6 – esgotado

N.º 7, Jul/Ago/Set 2000Tema de Capa:

Património Cultural e NaturalPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.7

N.º 8, Out/Nov/Dez 2000Tema de Capa:

Sismos e Património Arquitectónico

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.8

N.º 1, Jan/Fev/Mar 1999Tema de Capa:

Centros Históricos –Recuperar e Revitalizar

Preço: 3,74 eurosCódigo: P&C.1 – esgotado

N.º 2, Abr/Mai/Jun 1999Tema de Capa:

Reabilitação Urbana.Lisboa é um laboratório.

Preço: 3,74 eurosCódigo: P&C.2 – esgotado

N.º 9, Jan/Fev/Mar 2001Tema de Capa:

Salvaguarda de RevestimentosArquitectónicosPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.9

N.º 10, Abr/Mai/Jun 2001Tema de Capa:

Património de BetãoPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.10

N.º 11, Jul/Ago/Set 2001Tema de Capa:

Baixa Pombalina: Que Futuro?Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.11

LIVRARIA

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 200348

N.º 14, Abril/Maio/Jun 2002Tema de Capa:

Pontes que fazem históriaPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.14

N.º 18, Abril/Maio/Jun 2003Tema de Capa:

Água e património construídoPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.18

N.º 15, Jul/Agosto/Set 2002Tema de Capa:

Arquitectura MilitarPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.15

N.º 19, Jul/Agosto/Set 2003Tema de Capa:

EN2 - Estrada-PatrimónioPreservando os caminhos

do passadoPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.19

N.º 12, Out/Nov/Dez 2001Tema de Capa:

Intervenções em MuseusPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.12

N.º 13, Jan/Fev/Mar 2002Tema de Capa:

Intervenções em Monumentosde Pedra

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.13

Nota de Encomenda

Nome Endereço

Código Postal Localidade Telefone Fax

Junto cheque n.º sobre o Banco no valor de ____________________ euros, à ordem do GECoRPA

Data Assinatura

N.º Contribuinte e-mail

Código Título Preço Unitário Desconto (*) Quantidade Valor (**)

(*) Os associados do GECoRPA ou assinantes da Revista têm direito a 10% de desconto sobre o valor de cada obra encomendada. Os descontos não são acumuláveis, nem aplicáveis aos números da Pedra&Cal já publicados.(**) Ao valor de cada livro deverão ser acrescentados 2,50 euros para portes de correio. Quando a encomenda ultrapasse as duas obras, os portes de correio fixam-se nos 5,00 euros.Quanto aos números da Pedra&Cal já publicados, são acrescidos de 1,01 euros por exemplar, para portes de correio.FORMA DE PAGAMENTO: o pagamento deverá ser efectuado através de cheque à ordem de GECoRPA, enviado juntamente com a nota de encomenda para Rua Pedro Nunes , n.º 27, 1.º Esq.º 1050-170 Lisboa.

Associado do GECoRPA (10% de desconto)Assinante da “Pedra&Cal” (10% de desconto)

Actividade / Profissão

Con

sulte

a L

ivra

ria

Vir

tual

do G

ECoR

PAem

ww

w.g

ecor

pa.p

ton

de p

oder

á en

cont

rar e

stes

e o

utro

s liv

ros

Total: euros

N.º 16, Out/Nov/Dez 2002Tema de Capa:

Os Caminhos-de-ferrocomo património cultural

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.16

N.º 17, Jan/Fev/Mar 2003Tema de Capa:

Gestão de Qualidade na Conservação

do Património ArquitectónicoPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.17

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 2003

ASSOCIADOS GECoRPA

49

LEB – Consultoria em Betões e Estruturas, Ld.ªRotunda das Palmeiras Edifício Cascais Office, 1.º piso, sala I2645-091 AlcabidecheTel.: 210 331 125/6Fax: 210 331 127E-mail: [email protected]ável: Eng.º Thomaz RipperActividade: Projecto, consultoria e fiscalização na área da reabilitação do património construído.

MC Arquitectos, Ld.ªPraça Príncipe Real, n.º 25 - 3.º1250-184 LisboaTel.: 213 219 950 Fax: 213 467 995E-mail: [email protected] Responsável: Arq.º Gastão da Cunha FerreiraActividade: Projectos de arquitectura, levantamentos, estudos e diagnóstico.

PENGEST – Planeamento, Engenharia eGestão, S. A.Av. Eng.º Duarte Pacheco – Torre 2 – Amoreiras11º Andar – Salas 6/7/81070 – 102 LisboaTel.: 213 87 95 84Fax: 213 87 95 83e-mail: [email protected] Responsável: Eng.º José Luis Lourenço GilNunesActividade: Projectos de conservação e restauro do património arquitectónico.Projectos de reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas. Gestão,Consultadoria e Fiscalização.

Grupo II Levantamentos, inspecções e ensaios

ERA – Arqueologia – Conservação e Gestão do Património, S. A. Calçada de St.ª Catarina, n.º 9 C1295-705 DafundoTel.: 214 209 750Fax: 214 209 755Responsáveis: Dr. Pedro Simões Braga, Dr. Miguel LagoActividade: Conservação e restauro de estruturasarqueológicas e do património arquitectónico,inspecções e ensaios, levantamentos.

OZ – Diagnóstico, Levantamento e Controlo deQualidade de Estruturas e Fundações, Ld.ªRua Pedro Nunes, n.º 45 - 1.º E 1050-170 LisboaTel.: 213 563 371Fax: 213 153 550E-mail: [email protected] Site: www.oz-diagnostico.ptResponsável: Eng.º Carlos Garrido MesquitaActividade: Levantamentos, inspecções e ensaios não destrutivos, estudo e diagnóstico.

Grupo III Execução dos trabalhos,

empreiteiros e subempreiteiros

A. Ludgero Castro, Ld.ªRua Recarei, n.º 8604465-727 Leça do Balio

Grupo I Projecto, fiscalização e consultoria

A. da Costa Lima, Fernando Ho, Francisco Lobo e Pedro Araújo– Arquitectos Associados, Ld.ªRua de S. Paulo, n.º 202 – 2.º1200-429 LisboaTel.: 213 432 868Fax.: 213 259 553E-mail: [email protected]ável: Arq.º Francisco Lobo Actividade: Projectos de conservação e restauro do património arquitectónico, projectos de reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas, estudos especiais.

Consulmar Açores – Projectistas e Consultores, Ld.ªAvenida Infante D. Henrique, Bloco 1-5.º E9500-150 Ponta DelgadaTel.: 296 62 95 90Fax: 296 62 96 68E-mail: [email protected] Responsável: Arq.º Jorge Kol de CarvalhoActividade: Projecto, consultoria e fiscalização.

Desarcon, Ld.ªRua Borda D'Água da Asseca, n.º 9 8800-325 Tavira Tel. : 281 322 404 Fax: 281 322 336 E-mail: [email protected]ável: Arq.º Miguel MertensActividade: Projectos de conservação e restauro do património arquitectónico, projectos de reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas, fornecedores de levantamentos, inspecções e ensaios em P.A. e C.A.

ETECLDA – Escritório Técnico de Engenharia Civil, Ld.ªRua Júlio Dinis, n.º 911 - 6.º E4050-327 PortoTel.: 226 007 107Fax: 226 095 553E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Manuel Baptista BarrosActividade: Fiscalização de obras e projectos, gestão e coordenação de empreendimentos.

J. L. Câncio Martins – Projectos de Estruturas, Ld.ªRua General Ferreira Martins, n.º 10 - 3.ºA1495-137 AlgésTel.: 214 123 010 Fax: 214 123 011E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Luís CâncioActividade: Projectos de edifícios e pontes e reabilitação estrutural.

José Lamas e Associados, Estudos de Planeamento e Arquitectura, Ld.ªLargo de Santos, n.º 1-1.º Dt.o

1200-808 LisboaTel.: 213 968 484Fax: 213 974 946E-mail: [email protected]ável: Sr. José Nuno LamasActividade: Projecto de arquitectura e engenharia e estudos de planeamento.

Tel.: 229 511 116Fax: 229 517 517E-mail: [email protected] Responsável: Dr. Paulo Ludgero CastroActividade: Consolidação estrutural, construção e reabilitação de edifícios, conservação e restauro de pintura mural.

Alfredo & Carvalhido, Ld.ªLugar de FreixoPerre - Viana do Castelo4925-574 PerreTel.: 258 832 072Fax: 258 832 143e-mail: [email protected]ável: Valdemar CoelhoRodrigues CarvalhidoActividade: Conservação e restauro dopatrimónio arquitectónico. Conservação ereabilitação de construções antigas.

Alvenobra – Sociedade de Construções, Ld.ªRua Professor Orlando Ribeiro, n.º 3 – loja A1600-796 LisboaTel.: 217 584 734Fax: 217 584 738E-mail: [email protected]ável: Eng.º Jorge Rodrigues TeixeiraActividade: Reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas.

AMADOR, Construção Civil e Obras Públicas, Ld.ªAvenida das Escolas, n.º 292520-204 PenicheTel.: 262 78 29 64Fax: 262 78 18 73E-mail: [email protected]: www.amadorlda.pt Responsável: Eng.ª Catarina Amador RêgoActividade: Conservação, restauro e reabilitaçãodo património construído e instalações especiais.

Antero Santos & Santos, Ld.ªRua da Cafelada, n.º 22Mamodeiro – Aveiro3810 N.ª Sr.ª de FátimaTel.: 234 94 81 05Fax: 234 94 39 24e-mail: [email protected]ável: Sr. Mário SantosActividade: Conservação e restauro dopatrimónio arquitectónico. Reabilitação,recuperação e renovação de construções antigas.Instalações especiais em patrimónioarquitectónico e construções antigas.

Augusto de Oliveira Ferreira & C.ª, Ld.ªLargo João Penha, n.º 356 - 1.º D4710-245 BragaTel.: 253 26 36 14Fax: 253 61 86 16E-mail: [email protected] Responsável: Dr.ª Maria José CarrilhoActividade: Conservação, reabilitação de edifícios, cantarias e alvenarias. Pinturas, carpintarias.

Brera – Sociedade de Construções e Representações, Ld.ªRua Miguel Torga, 2 C – escritório 4.6 – Alfragide2720-292 AmadoraTel.: 214 725 470Fax: 214 725 471E-mail: [email protected]

ASSOCIADOS GECoRPA

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 200350

Tel.: 243 770 045Fax: 243 770 098 E-mail: [email protected]ável : Dr. Carlos Abel Silva DamasActividade: Conservação e restauro do patrimónioarquitectónico, reabilitação, recuperação erenovação de construções antigas, instalaçõesespeciais em património arquitectónico econstruções antigas.

Junqueira 220 – Sociedade de Conservação, Restauro e Arte, Ld.ªRua da Junqueira, n.º 2201300-346 LisboaTel.: 213 639 163Fax: 213 633 803 ou 213 627 840Responsável: Sr. Luís Figueira Actividade: Conservação e restauro de pinturas e talha dourada.

Listorres – Sociedade de Construção Civil e Comércio, Ld.ªRua Brigadeiro Lino Dias Valente, n.º 82330-103 EntroncamentoTel.: 249 72 00 30Fax: 249 72 00 39E-mail: [email protected] Responsável: Prof. Vasco DuarteActividade: Construção e reabilitação de edifícios.

L. N. Ribeiro Construções, Ld.ªRua Paulo Renato, n.º 3 r/c – C/D2795-147 Linda-a-VelhaTel.: 214 153 520Fax: 214 153 528Responsável: Eng.º Luís RibeiroActividade: Construção e reabilitação de edifícios, consolidação de fundações.

Lourenço, Simões & Reis, Ld.ªRua Luciano Cordeiro, n.º 49 - 1.º1169-135 LisboaTel.: 213 542 137Fax: 213 570 001E-mail: [email protected]ável: Eng.º Carlos Manuel GranateActividade: Consolidação estrutural.

MELIOBRA – Construção Civil e Obras Públicas, Ld.ª Rua das Fontainhas, n.º 33 C 2700-391 AmadoraTel.: 214 759 000Fax: 214 753 010E-mail: [email protected]ável: Sr. José Pedro Pires CoelhoActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios.

MIU – Gabinete Técnico de Engenharia, Ld.ªRua do Vale de Santo António, n.º 46 - 2.º Dt.º1170-381 LisboaTel.: 218 161 620Fax: 218 161 629E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Artur Correia da Silva eEng.º Pedro SilvaActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios, conservação de rebocos e estuques, pinturas.

Monumenta – Conservação e Restauro do Património Arquitectónico, Ld.ªRua Pedro Nunes, n.º 27 – 1.º Dt.º1050-170 Lisboa

Responsáveis: Eng.º Amílcar Beringuilho e Sr. Paulo RaimundoActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios.

Construções Borges & Cantante, Ld.ªRua António Andrade, n.º 1147Edifício Anduné, 1.º Dt.º2815-300 Charneca da CaparicaTel.: 212 973 131Fax: 212 961 291E.mail: [email protected]ável: Sr. Alberto Rodrigues BorgesActividade: Construção de edifícios, conservaçãoe reabilitação de construções antigas.

COPC - Construção Civil, Ld.ªRua Cidade de Bafatá, n.º 181800-060 LisboaTel.: 218 537 122Fax: 218 537 162E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Carlos OliveiraActividade: Construção de edifícios, conservação e reabilitação de construções antigas, recuperação e consolidação estrutural.

Cruzeta – Escultura e Cantarias, Restauro, Ld.ªRua da República da Bolívia, n.º 97 – 4.º Dt.º1500-545 LisboaTel.: 217 150 370Fax: 219 824 188E-mail: [email protected]ável: Sr. Eduardo Roberto Morezo Telemóvel: 967 094 130Actividade: Conservação e reabilitação de construções antigas, limpeza e restauro de cantarias, alvenarias e estruturas.

CVF – Construtora de Vila Franca, Ld.ªEstrada Nacional n.º 10, k/ 137,522695 S.ta Iria de AzóiaTel.: 219 533 230Fax: 219 533 239E-mail: [email protected] Responsável: Sr. Álvaro Reis PereiraActividade: Conservação de rebocos e estuques, consolidação estrutural, carpintarias, reparação de coberturas.

ENGIBUILT – Construções, Ld.ª Rua Diamantino Freitas Brás, n.º 24 r/c Dt.º2615-070 Alverca do RibatejoTel.: 219 582 582Fax: 219 577 627E-mail: [email protected]áveis: Eng.º José A. Martins e Eng.º Mário CunhaActividade: Reabilitação, recuperaçãoe renovação de construções antigas.

GALERIA NET, Ld.ª Rua Cândido de Oliveira, n.º 13 –A, Brandoa2700 AmadoraTel.: 214 760 267Fax: 214 760 267Responsável: Sr. Eduardo da Silva RamosActividade: Conservação e restauro de douradosem obras de arte, mobiliário antigo, molduras, etc.

GECOLIX – Gabinete de Estudos e Construções, Ld.ªEstrada Nacional, n.º 13Casal Prioste2070-624 Cartaxo

Tel.: 213 593 361Fax: 213 153 659E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º João VarandasActividade: Conservação e reabilitaçãode edifícios, consolidação estrutural, conservação de cantarias e alvenarias.

Na Esteira, Ld.ªCampo Grande, n.º 4, 1.º Esq.º1700-092 LisboaTel.: 217 800 800Fax: 217 964 943E-mail: [email protected]ável: Eng.º Furtado MendesActividade: Conservação e restauro dopatrimónio arquitectónico. Reabiltação,recuperação e renovação de construções antigas.Instalações especiais em patrimónioarquitectónico e construções antigas.

Pintanova – Pinturas na Contrução Civil, Ld.ªRua Amílcar Cabral, n.º 21 B1750-018 LisboaTel.: 217 572 856Fax: 217 577 4 72E-mail: [email protected] Responsável: Sr. Vasco Paulino Actividade: Conservação e restauro de rebocos, estuques e cantarias, pinturas.

Poliobra – Construções Civis, Ld.ªRua Afonso de Albuquerque, n.º 8 BSerra do Casal de Cambra2605-192 BelasTel.: 219 809 770Fax: 219 809 779E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Vítor António FarinhaActividade: Construção e reabilitação de edifícios, serralharias e pinturas.

Quinagre, Construções, S. A.Rua Hermano Neves, n.º 22 - 4.º A1600-477 LisboaTel.: 217 567 570Fax: 217 567 579E-mail: [email protected]ável: Eng.º Joaquim Quintas Actividade: Construção de edifícios, reabilitação, consolidação estrutural.

Sociedade de Construções José Moreira, Ld.ªAvenida Manuel Alpedrinha, n.º 15Reboleira2720-352 AmadoraTel.: 214 998 650Fax: 214 959 780E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º José Moreira dos SantosActividade: Execução de trabalhosespecializados na área do património construído e instalações especiais.

Somafre - Construções, Ld.ªRua Manuel Rodrigues da Silva, n.º 7 C – esc.61600-503 LisboaTel.: 217 112 370Fax: 217 112 389 E-mail: [email protected]ável: Eng.º Carlos FreireActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios, serralharias, carpintarias, pinturas.

Pedra & Cal n.º 19 Julho . Agosto . Setembro 2003

ASSOCIADOS GECoRPA

51

Grupo IVFabrico e ou distribuição de

produtos e materiais

BLEU LINE – Conservação e Restauro de Obras de Arte, Ld.ªRua do Alecrim, n.º 111 – 1.º Esq1200-016 LisboaTel.: 213 224 461Fax: 213 224 469E-mail: [email protected] Responsável: Dr. José Luís Marques PereiraActividade: Materiais para intervenções de conservação e restauro em construções antigas, conservação de cantarias.

Tecnocrete – Materiais e Tecnologias de Reabilitação Estrutural, Ld.ªRua Pedro Nunes, n.º 45 – 3.º Dt.º1050-170 LisboaTel.: 213 162 929Fax: 213 854 980Responsável: Eng.º Vítor Cóias e SilvaActividade: Produção e comercialização de materiais para reabilitação.

STAP – Reparação, Consolidação e Modificaçãode Estruturas, S. A.Rua Marquês de Fronteira, n.º 8 - 3.º Dt.º1070-296 LisboaTel.: 213 712 580Fax: 213 854 980E-mail: [email protected] Site: www.stap.pt Responsável: Eng.º José Paulo CostaActividade: Reabilitação de estruturas de betão, consolidação de fundações, consolidação estrutural.

TECNASOL FGE – Fundações e Geotecnia, S. A.Rua das Fontainhas, n.º 58Venda Nova2700-391 AmadoraTel.: 214 908 600Fax: 214 747 036E-mail: [email protected]ável: Eng.º Nuno Oliveira LopesActividade: Fundações e geotecnia, conservaçãoe restauro do património arquitectónico,reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas.

Para mais informações acerca dos associados GECoRPA, e as suas actividades, visite a rubrica "associados" no nosso site em www.gecorpa.pt

Pedra & Cal n.º 20 Outubro . Novembro . Dezembro 200352

PERSPECTIVAS

O Simpósio Internacional orga-nizado pelo GECoRPA e doqual se dá conta neste númeroda Pedra & Cal inscreve-se numconjunto de iniciativas, propos-tas, realizações, estudos e práti-cas que começam a colocar opaís em condições de responderpositivamente aos desafios que,cada vez com mais premência,se impõem entre nós no domí-nio do restauro e sobretudo dareabilitação e requalificação doparque edificado.Falou-se no último número da revista, porexemplo, da extraordinária quantidade equalidade de conhecimentos que foi pa-tenteada no 3.º ENCORE, promovido esteano pelo LNEC; havia-se referido antes aimportância, pelo seu carácter pioneiro eintegrado, do estudo publicado pelo ar-quitecto João Guilherme Appleton relati-vo à consolidação/reabilitação/moderni-zação dos prédios das Avenidas Novas,em Lisboa, selvaticamente destruídos nasúltimas décadas, mas agora, finalmentealvo de classificação; referiram-se ainda,anteriormente, as preciosas experiências emassa crítica sedimentadas, tanto pelaDGEMN como pelo Ippar, e de tempos-a--tempos ameaçadas por propostas defusões ou de transferências de competên-cias que felizmente não lograram ter êxito.Também, em artigo inserto nesta página,se chamou a atenção para as dificuldadesque se colocam na reconversão de edifí-cios antigos às novas necessidades, obri-gando à introdução de artefactos e insta-

lações técnicas, para o que se requer mui-to engenho e arte e de que se podem apon-tar como exemplos de sucesso, certamen-te entre outros, os edifícios da Universida-de da Beira Interior, de Costa Cabral, e aCadeia da Relação do Porto, de Souto deMoura. Ainda a propósito, há que saudara criação, na Faculdade de Arquitecturada Universidade do Porto, do Mestradoem Metodologias de Intervenção no Pa-trimónio Arquitectónico, apoiado por umcorpo docente a que o nível desta Escolanos habituou.Tudo isto constitui um conjunto de ferra-mentas inestimáveis para que as anuncia-das políticas públicas privilegiando a rea-bilitação do edificado em alternativa àconstrução nova possam ser concretiza-das correctamente. De facto, o repovoa-mento das Baixas (também já aqui larga-mente comentado), proclamado sobretu-do pelos municípios de Lisboa, Porto eCoimbra, vai exigir processos integradosde intervenção, articulando medidas de

política, programas de necessida-des, diagnóstico das patologias, in-ventário das carências, empreen-dorismo empresarial, planeamen-to da execução, engenharia finan-ceira, incorporação de novos equi-pamentos, etc., com competênciasespecíficas ao nível do projecto e daconstrução. E, para tudo isto, háque tirar partido do que de bomtem sido adquirido para o muitoque ainda há para estudar, apro-fundar, debater, divulgar e sobre-tudo formar.

Efectivamente, se ao nível do restauro dis-pomos já de empresas especializadas e deequipas de intervenção que conquistaramao longo dos últimos anos uma experiên-cia consolidada, quando se trata da reabi-litação e reconversão de tecidos urbanosna escala que agora se requer, as carênciasde formação específica ao nível da elabo-ração dos projectos, da direcção dos tra-balhos e de mão-de-obra qualificada paraa execução são evidentes. É para esta eta-pa que se torna necessário e urgenteavançar em diversas direcções, através demúltiplas iniciativas, para que os “erros edefeitos” que servem de oportuno tema aeste número da revista não venham a veri-ficar-se com uma indesejável frequência.Nada melhor do que apontar em comumolhares críticos e múltiplos sobre o queestá feito para se encontrarem os melho-res caminhos a percorrer.

NUNO TEOTÓNIO PEREIRA,Arquitecto.

O que temos feito, o que fazemos, e o que nos falta fazer

A reabilitação da construção com a resposta a novas necessidades obriga aum trabalho delicado tanto ao nível do projecto como da execução.

Restauro e reabilitação