ernesto bozzano a morte e os seus misterios

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www.autoresespiritasclassicos.com Ernesto Bozzano A Morte e os seus Mistérios Théodore Rousseau Vista da Ile-de-França Conteúdo resumido Esta obra reúne três monografias de Ernesto Bozzano, parte de um numeroso conjunto de obras desse grande cientista: - Ernesto Bozzano dedicou uma vasta pesquisa no estudo sobre esta mediunidade de efeitos físicos (Transfiguração) através da coleta de casos ocorridos com determinados médiuns em diversos países da América e da Europa. A transfiguração consiste na mudança do aspecto

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Livro de Ernesto Bozzano sobre a morte

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    Ernesto Bozzano

    A Morte e os seus Mistrios

    Thodore Rousseau Vista da Ile-de-Frana

    Contedo resumido

    Esta obra rene trs monografias de Ernesto Bozzano, parte de um numeroso conjunto de obras desse grande cientista:

    - Ernesto Bozzano dedicou uma vasta pesquisa no estudo sobre esta mediunidade de efeitos fsicos (Transfigurao) atravs da coleta de casos ocorridos com determinados mdiuns em diversos pases da Amrica e da Europa. A transfigurao consiste na mudana do aspecto

    http://www.autoresespiritasclassicos.com/

  • do corpo do mdium, o que significa imprimir em sua matria semelhanas de fisionomia, expresso, olhar e at mesmo timbre de voz, que varia de acordo com o grau moral do esprito e tambm do mdium.

    - Ernesto Bozzano dedicou uma vasta pesquisa no estudo sobre a mediunidade de efeitos fsicos - Marcas e impresses supranormais de mos de fogo (A parapirogenia) em casos ocorridos em determinadas pocas da humanidade e tambm dentro da literatura clssica esprita. A parapirogenia um fenmeno aonde ocorre a combusto espontnea, ou seja, a queima inexplicvel de objetos ou pessoas.

    - Ernesto Bozzano nos leva a conhecer diversos tipos de casos onde a proeminncia da morte est por acontecer e durante a crise de separao do esprito e do organismo somtico, aonde se passam, diante da viso espiritual do agonizante, como em "viso panormica", isto , na sucesso mais rpida e quase instantnea, todos os episdios da vida terrestre do moribundo. Eles desfilam em ordem regular, seja em sentido inverso, seja em sentido direto, comeando ento na primeira juventude e chegando aos ltimos dias da vida, e se apresentam objetivamente, em forma "pictogrfica".

    SumrioImpressionantes fenmenos de "transfigurao"Caso ICaso IICaso IIICaso IVCaso VCasos VI e VIICaso VIIICaso IXCasos X e XICaso XII

  • Caso XIIICaso XIVCaso XV

    Marcas e impresses supranormais de mos de fogoCaso ICaso IICasos III e IVCaso VCaso VICaso VIICaso VIIICaso IX

    Viso panormica ou memria sinttica na iminncia da mortel. categoria - Casos de "viso panormica" acontecidos na iminncia da morte ou em perigo de vida.Caso ICaso IICaso IIICaso IVCaso VCaso VICaso VIICaso VIII2. categoria - Casos em que a "viso panormica" acontece com pessoas ss, sem a ocorrncia de perigo de morte.Caso IXCaso XCaso XI

  • Caso XII3. categoria Casos de espritos comunicantes que afirmam ter passado pela experincia da "viso panormica"Caso XIIICaso XIVCaso XVCaso XVICaso XVIICaso XVIIIConcluses

    Prefcio

    "Ler um livro de Ernesto Bozzano penetrar em um mundo desconhecido e conhecer faces novas da Doutrina dos Espritos; iluminar-se o leitor de conhecimentos nobres e extremamente belos, os quais vivem a cada passo em nosso derredor sem que sequer o suspeitemos. Infelizmente, porm, esse admirvel analista esprita, bom, desinteressado, humilde de corao e generoso como todo iluminado a servio da Verdade Divina, desconhecido da maioria dos espritas que pouco se dedicam ao conhecimento das obras doutrinas clssicas, e fogem pesquisa bem orientada."

    "Ernesto Bozzano um mestre eminente, uma base slida para o prosseguimento da pesquisa, digno de ser conhecido e entendido por ns outros, que apenas vemos e sentimos os fatos, sem poder classific-los na sua verdadeira categoria cientfica. A questo, longe de haver terminado, permanece aberta aos progressos dos estudos psquicos" (trechos do artigo "Msica

  • transcendental" do Sr. Frederico Francisco, publicado no n. de junho de 1976 do jornal "Obreiros do Bem", rgo de comunicao da Associao Esprita Obreiros do Bem, do Rio de Janeiro.)

    Ernesto Bozzano, o grande Mestre da Cincia da Alma, escreveu os trabalhos constantes deste volume nos tempos ureos do Espiritismo Cientfico, isto , quando se procuravam provas concretas da sobrevivncia da alma e de sua comunicao com os vivos da Terra. Hoje, particularmente no Brasil, parece que se bastam as obras medinicas, esquecendo-se de que h ainda muita gente incrdula, os Toms de todos os tempos. Estes querem provas e, se as sesses de efeitos fsicos rareiam, temos estes admirveis trabalhos de Bozzano que vimos traduzindo e publicando.

    Isto vimos fazendo principalmente porque, depois da II Grande Guerra Mundial, travada, em grande parte, na Europa, o Espiritismo, com as Pesquisas Psquicas, devido a ditaduras polticas e religiosas, l desapareceu quase por completo, sendo mesmo proibido em Portugal e na Espanha, e, na Itlia, terra do grande Bozzano, s pde surgir mais tarde apenas com o nome de Metapsquica. Tivemos, por nossa vez, um Espiritismo de catacumbas, como os primeiros cristos.

    J na Inglaterra, por ser um pas protestante e separado do continente, sem a influncia catlica (os perseguidos transformados em perseguidores), o Espiritismo, l chamado de Espiritualismo por no seguir ainda a Codificao Kardecista, continuou a ser pregado e praticado, tornando-se, graas a Lorde Dowding, o Marechal do Ar, que, com os seus avies, salvou a Inglaterra do domnio nazista, reconhecido como religio em p de igualdade com as demais.

  • Como, de livros de Espiritismo Cientfico, s podemos ler alguns em traduo no portugus, a no ser que conheamos o ingls, pois so muitos os publicados na Inglaterra e nos Estados Unidos da Amrica, certos estamos de que, traduzindo e publicando mais algumas das estupendas monografias do Grande Mestre da Cincia da Alma, estamos contribuindo muito para a manuteno dos alicerces do magnfico edifcio que vem sendo construdo para a elevao do Homem no planeta Terra.

    Estas singelas palavras so de um velho Advogado da Sobrevivncia, que nunca cobrou nem espera receber honorrios de qualquer espcie. Dever cumprido, apenas.

    Francisco Klors Werneck

    Impressionantes fenmenos de "transfigurao"

    O primeiro a tratar dos fenmenos de "transfigurao" foi Allan Kardec, que, no "Livro dos Mdiuns" (cap. VI, n 122); assim os define: "Os fenmenos de "transfigurao" consistem na mudana de aspecto do corpo de um vivo." Contudo, quase sempre a mudana de aspecto circunscrita aos traos do rosto do mdium, mudana que pode consistir em uma transfigurao do semblante, por contrao e adaptao dos msculos faciais, contrao determinada por uma vontade qualquer, subconsciente ou extrnseca, como pode resultar uma transfigurao do semblante, no qual j se encontre um princpio de materializao ectoplsmica sob a forma de barba, de bigodes, de "sinais", de cicatrizes, ou outros caractersticos, surgidos inesperadamente sobre o rosto do mdium ou tambm de uma completa mscara sobreposta ao mesmo.

  • Os fenmenos de "transfigurao" existem, embora se mostrem entre os mais raros da casustica metapsquica e, por isto, no momento, apresentam escasso valor cientfico, porquanto as condies em que so observados dependem muito da perspiccia e do estado de nimo dos observadores, apresentando o flanco a legtimas dvidas e cepticismos, ao menos na maior parte dos casos. Resulta da que, at que se consiga fix-las numa chapa fotogrfica, no o caso de se falar de sua investigao cientfica. (1) Todavia, repito que tais fenmenos existem e, como em todos os ramos do saber, a observao espontnea das manifestaes que lhe constituem o material bruto precede sempre a pesquisa sistemtica das mesmas manifestaes, resultando de tal forma o necessrio incentivo interveno cientfica, no ser intil recolher certo nmero de episdios do gnero, para extrair deles algumas dedues interessantes, pois que os fenmenos em exame se prestam a esclarecer de modo notvel os fenmenos correspondentes das "materializaes integrais de fantasmas, independentes do organismo do mdium" e assim se deveria dizer que tudo concorre para demonstrar como a "transfigurao" nada mais que uma fase inicial da "materializao".

    (1) - Depois que Bozzano escreveu esta monografia j se conseguiram tirar vrias fotografias de fenmenos produzidos pela Senhora Bullock (N. T.).

    Desenvolverei a seu tempo este ltimo conceito, o qual se mostra teoricamente instrutivo.

    Passando citao dos casos, comeo por narrar alguns pertencentes ao grupo das transfiguraes por contrao e adaptao dos msculos faciais, grupo pouco interessante, porquanto com a sugesto hipntica seria possvel obter algo de

  • semelhante, se bem exista, na realidade, uma radical diferena entre as duas ordens de fatos.

    Tiro os poucos exemplos, que me apresto a referir, de recentssimos relatos do gnero, abandonando os de data antiga, com o intuito de atenuar, at onde possvel, as legtimas dvidas tericas relativas a uma classe de manifestaes muito dependentes da perspiccia e do estado emocional dos observadores. Para dizer a verdade, seria injusto afirmar que os observadores de setenta anos passados fossem mais impressionveis que os atuais, mas, de qualquer maneira, existe o hbito de preferir sempre relatos de data recente e unicamente por isto que me resolvo a suprimir os casos de data antiga.

    *

    CASO I - O Rev. Walter Wynn, na obra intitulada Rupert lives (Roberto vive), em que narra as manifestaes do seu falecido filho, por meio de diversos mdiuns, assim se refere a uma sesso com o mdium Srta. Mac Creadie:

    "H outros espritos em torno de vs que desejam falar convosco, continuou a Srta. Mac Creadie". De repente o mdium parece mudar-se em outra pessoa e comecei a experimentar uma sensao que at esse momento jamais conhecera e que no desejo sentir de novo. Digo com toda a sinceridade, digo mesmo com certa convico, era como se a Srta. Mac Creadie tivesse tomado a aparncia de minha me. A cabea inclinada, a tosse, a mo estendida para mim, tudo isto representava minha progenitora com perfeio; e ela me disse: "Meu filho! Meu filho! quero sempre ser sua me!"

  • Isto foi to inesperado que no experimentei nenhuma emoo. Eu estava inteiramente calmo. A viso durou muito pouco tempo, depois desapareceu." (pg. 34).

    Do prosseguimento da narrao se infere que o Rev. Walter Wynn possui faculdade medinica e, assim sendo, ter-se-ia que deduzir que a desagradvel sensao experimentada durante o desenvolvimento do fenmeno provinha, presumivelmente, do fato de que ele contribura com os seus prprios fluidos para a "transfigurao" do mdium em sua prpria me.

    Do ponto de vista da hiptese esprita, poder-se-ia dizer que, no episdio exposto, se tratava de um fenmeno de "possesso medinica", a tal ponto produzido que determinara a "transfigurao" do rosto do mdium, combinada com as atitudes mmicas habituais em vida defunta comunicante.

    * CASO II - Tiro o seguinte episdio do livro de H. Dennis

    Bradley The wisdom of the gods (A sabedoria dos deuses). Ele teve ocasio de observar duas vezes, com o mdium Sra. Scales, o fenmeno de "transfigurao" por contrao e adaptao dos msculos do rosto, fenmeno que, nos limites indicadas, se mostra sobretudo freqente nos mdiuns de "possesso ou incorporao".

    Escreve ele:"Ela (Clo, o esprito-guia, uma jovem ndia) disse que

    "Annie" hesitava em manifestar-se de uma forma em que no se manifestara antes. No ousava ocupar o corpo do mdium e no sabia se seria capaz de controlar e utilizar-se do seu organismo. Eventualmente, foi levada a tentar a experincia. O mdium caiu sentado na cadeira e ns esperamos dois minutos. A Sra. Scales

  • uma mulher baixa e gorda. O tom de sua pronncia, para ser delicado, o vulgar. Seu rosto o que se pode dizer agradvel e comum. Gradualmente, a expresso do rosto do mdium se foi mudando completamente. Era uma "transfigurao". Ao passo que o semblante permanecia, os olhos e a expresso se tornavam belos. No era uma alucinao. Minhas faculdades de observao so to argutas ou mesmo mais argutas do que nunca, e eu devo lembrar que essa maravilhosa mudana foi vista no s por mim, mas pela Sra. Sargeant e em plena luz.

    A princpio foi com grande dificuldade que as primeiras poucas palavras foram articuladas, mas gradativamente a fora aumentou consideravelmente e o esprito de minha irm tornou-se capaz de assumir completo controle dos rgos do mdium. Era minha irm. Era seu esprito usando o organismo de outro corpo fsico e falando a mim em sua prpria voz. No me importo que os cpticos se riam disto, mas os que ho estudado os fenmenos espritas sabem e compreendero. Eu j lhe falara em voz independente, na presena de testemunhas clebres, em centenas de vezes. Conheo sua personalidade, conheo seu esprito. A voz de "Annie" possua sua antiga beleza, sua tonalidade era perfeitamente enunciada da forma que lhe era peculiar quando neste planeta. Nenhuma atriz viva poderia simular essa maravilhosa personalidade. Ela conversou comigo acerca de fatos ntimos de sua vida terrena... Durante a nossa maravilhosa palestra, enquanto usava o organismo de outra pessoa, deu-me a mais ntima e excepcional prova da sobrevivncia. Nome aps nome, fato aps fato, foram mencionados: minha esposa, Pat, Dennis, tudo. Havia uma grande tragdia em sua vida, citada de forma velada em Towards the stars. Essa tragdia, cujos detalhes nunca foram publicados e que so apenas conhecidos de duas ou trs pessoas

  • vivas, foi por ela referida... Na manh seguinte, telefonei Sra. Sargeant a fim de fazer-lhe uma pergunta que esquecera. Pedi-lhe para descrever a voz que ela passara a ouvir desde que minha irm se incorporara no mdium. Isto fiz para afastar qualquer possvel dvida quanto ao tom ter sido produzido pela minha imaginao. A Sra. Sargeant disse, descrevendo a voz da minha irm, que o seu falar era lento e a enunciao das palavras excepcionalmente suave e clara. Essa era a voz caracterstica de "Annie" quando na Terra." obra citada, pgs. 120-123).

    No episdio exposto, a "transfigurao" do rosto se mostra menos desenvolvida que no caso precedente, limitando-se a uma transformao da expresso animada de um semblante, mas em compensao h a transformao da tonalidade vocal, com perfeita reproduo da voz de uma defunta, transformao que representa um notabilssimo fenmeno em demonstrao da realidade da incorporao medinica ocorrida. E, como uma laringe no pode mudar de tom sem ter experimentado uma correspondente contrao muscular de adaptao, dever-se- reconhecer que, no caso em apreo, a "transfigurao" se verificou de modo especial sobre a laringe do mdium. Observo a tal respeito que, na hiptese de um real fenmeno de possesso medinica, dever-se-ia presumir que tais processos de transformao temporria dos rgos dos mdiuns nos rgos homlogos do defunto comunicante so obra de um despertar automtico daquela misteriosa "fora organizadora" que plasma os seres vivos, "fora organizadora" que, sendo uma faculdade do esprito, sobreviveria morte do corpo e, em conseqncia, operaria nos casos anlogos aos expostos, determinando os fenmenos de transfigurao dos rgos e dos membros dos mdiuns, sem que necessrio fosse pressupor uma ao direta, intencional, dos defuntos comunicantes. Ao mesmo tempo, os

  • automatismos de tal natureza, reprodutores da voz ou do rosto de um defunto, implicariam e demonstrariam a realidade do fenmeno da possesso ou incorporao temporria, no mdium, do esprito que se diz presente.

    *

    CASO III - Tomo este episdio "Light" (1921, pg. 719), e quem o narra o Dr. Ellis Powell, personalidade bastante conhecida no campo das investigaes metapsquicas. Escreve ele:

    "H algumas semanas achava-me em Preston, e tive ocasio de entrar em relao com a personalidade medinica do "doutor Bancroft", a qual se manifesta por intermdio do mdium H. B. Tyler, de Preston, e a forma por que se manifesta o "transe" do mdium, com transfigurao completa do rosto.

    O doutor Bancroft informou ter sido mdico de grande clientela e falecido no ano de 1837. Forneceu detalhes sobre sua prpria carreira terrena, os quais foram reconhecidos verdadeiros, compulsando-se publicaes mdicas do perodo indicado. Havia quatro pessoas presentes alm do mdium: minha mulher, minha irm, minha me e eu. No se fizeram preparativos especiais. Sentamo-nos em semicrculo em torno do mdium, sem abaixar as persianas, de modo que o sol dardejava no quarto.

    Depois de cerca de dez minutos de uma conversao de ordem geral, o mdium deu sinais de passar ao estado de "transe" e com isto assistimos a um fenmeno estupefaciente: no espao de trs ou quatro minutos seu rosto se transformou a tal ponto que, se no houvesse assistido por inteiro ao processo de transfigurao, observando-a de perto e em plena luz, no o teria

  • mais reconhecido pelo mesmo indivduo. Ocorrido isto, o doutor Bancroft beijou as mos das trs senhoras com estudada cortesia do sculo dcimo oitavo, e logo depois iniciou o seu trabalho de mdico consultado. Tive o cuidado de nada dizer acerca dos sintomas de minha molstia e da sua presumida natureza, pois que ele prprio descreveria tudo, e com isso me poria em situao de poder julgar se estava ou no plenamente informado a respeito. Tomou-me uma das mos por alguns instantes, e logo comeou a descrever, de modo exatssimo, estupefaciente, os sintomas do meu mal, que me mantinham sob viva preocupao. Depois me dirigiu perguntas, as quais subentendiam conhecimento a meu respeito que ningum no mundo podia saber. Em seguida, assegurou-me que em mim no existiam molstias orgnicas, mas que se tratava de uma desordem funcional acentuada, que descreveu em termos de fisiologia. Depois ditou as prescries. Tal consulta de alm-tmulo no foi s grandemente benfica a minha sade, mas revelou-se extremamente interessante como exemplo magnfico da capacidade de um "esprito-curador" para diagnosticar e descrever no s o significado preciso dos sintomas de um mal, mas as causas originrias dos prprios sintomas, sem a mnima indicao da parte do consulente..."

    Na narrativa acima no se encontram indicaes que autorizem a presumir que a transfigurao ocorrida fosse algo mais que uma simples transformao do rosto do mdium, por contrao e adaptao dos msculos faciais. No obstante deve-se admitir que, se no houve manipulao ectoplsmica do rosto, o fenmeno de contrao e adaptao muscular atinge, no caso em apreo, a mxima eficincia realizvel com meios de tal natureza, visto que o narrador declara que, se no tivesse assistido por inteiro ao processo de transformao, no teria

  • mais reconhecido o mdium no personagem que se achava diante de si.

    Noto que tambm neste caso sobressaem particularidades de identificao pessoal da entidade comunicante, embora se no os possa reputar suficientes, mas j se compreende que, distncia de um sculo, no possvel identificar de maneira adequada a personalidade de um defunto que viveu modesta e obscuramente. No este, porm, o tema do presente trabalho, pelo que limitar-me-ei a repetir que o caso em apreo um bom exemplo de transfigurao, em que se pode supor atingidos os limites extremos da deformabilidade realizvel mediante o muito simples auxlio da contrao e adaptao dos msculos faciais.

    *

    CASO IV - Passando a referir exemplos de "transfigurao" com indcios de concretizao ectoplsmica, no posso deixar de aludir aos famosos alongamentos do corpo de Daniel Dunglas Home; antes de tudo porque tais alongamentos constituem j um princpio de manipulao ectoplsmica do corpo do mdium, depois porque, durante alguns destes alongamentos, sucedia observar-se a transfigurao mais ou menos ectoplsmica do seu rosto. Limito-me a narrar, a propsito, dois breves episdios, que extraio de um longo estudo publicado no vol. IV do "Journal of the Society of Psychical Research". (Julho 1889, pgs. 101-136). Escreve o General Boldero:

    "Em poucos minutos Daniel Dunglas Home caiu em profundo "transe". Levantou-se e passeou em volta durante breves instantes; depois veio a mim, tomando-me pela mo, e aludindo a si prprio na terceira pessoa, disse: "Devers

  • observar os ps de Dan (Home) e verificar que ele no se move do cho, e dirs aos outros que observem atentamente sua cabea." Assim fiz, enquanto ao mesmo tempo se assistia ao espetculo do seu corpo alongar-se at atingir a um comprimento maior de nove polegadas ou um p. Quis abaixar-me e controlar-lhe os calcanhares, que pousavam regularmente no soalho. A luz de um bico de gs iluminava em cheio a sua pessoa. Era um espetculo extraordinrio. O mdium murmurou: "Agora aproxima-te mais." Ele permanecia sempre com a estatura aumentada de um p. Tomou minhas mos, levou-as aos dois lados do prprio corpo, um pouco acima dos quadris, onde encontrei um vcuo correspondente entre o cs das calas e a barriga. Assim continuou: "Palpa Dan, a fim de que fiques plenamente satisfeito." Pousei as mos sobre seus flancos e senti que as suas carnes se contraam. Fitei Home: voltara estatura normal! Mas logo renovou a prova: novamente seu corpo se alongou, e senti suas carnes se distenderem sob minhas mos, para depois se contrarem novamente, apenas retomada por ele a estatura normal. V-lo alongar-se e diminuir-se daquela forma, com os ps sempre imveis no cho, era um espetculo estupefaciente...". (Op. cit., pgs. 125-126).

    Este outro um fenmeno de alongamento com transfigurao ectoplsmica do rosto. Relata o Sr. Hawking Simpson:

    No ano de 1868 eu quis investigar os fenmenos que se produziam com a mediunidade de Daniel Dunglas Home... Em uma sesso realizada sob boa luz, tive oportunidade de controlar o fenmeno do alongamento e contrao do seu corpo; e isto repetidas vezes e em rpida sucesso, no centro do quarto. Daniel Dunglas Home estava em "transe", mas falava sem interrupo. Pus-me diante dele, introduzindo os meus ps sob a

  • ponta de seus ps; vale dizer que ele estava com os calcanhares no soalho e os prprios ps sobre o peito dos meus. Depois coloquei sobre as nossas cabeas um grande caderno de msica e entreguei-me observao do seu rosto; ao mesmo tempo Lorde Crawford (depois Lorde Lindsay) apalpava-lhe os msculos e as pernas, vigiando atentamente a barriga do mdium, que se elevava lentamente duas trs polegadas acima da cintura para, aps, voltar ao primitivo tamanho. Depois trocamos de incumbncia e eu encarreguei-me de vigiar os msculos, as pernas e as vestes do mdium, porm mais estupefacientes ainda se mostraram as transformaes do rosto, o qual alternadamente se fazia mais largo e longo e em seguida muito menor; enfim, voltava s dimenses normais. No primeiro caso seu rosto parecia aumentar e adquirir gradativamente volume em cada uma de suas partes; depois tambm gradativamente se reduzia, tornando-se cada vez menor, e os seus traos diminuam, caso em que a pele do rosto ficava profundamente contrada e flcida. Depois disso foi levitado e vimo-lo oscilar no ar como um pndulo, assim se transportando at o div. Ningum se lhe achava prximo. Quando desceu sobre o div, despertou bruscamente e correu ao jardim onde foi acometido de vmitos. Enquanto se produziam os fenmenos falou sempre na terceira pessoa, como se tivessem estado presentes diversas entidades espirituais que o dirigissem. Com efeito, elas assim se exprimiam: "Agora faremos isto e aquilo outro com Dan... etc., etc..." (Op. cit., pgs. 123-124).

    Tendo em vista este ltimo episdio, no padece dvida de que, no caso de Daniel Dunglas Home, no se tratava de transfigurao por contrao e adaptao dos msculos faciais, mas de um verdadeiro e adequado processo de concentrao ou manipulao ou materializao ectoplsmica, o que sobretudo

  • demonstrado pela importante particularidade da pele do rosto do mdium, nos processos de diminuio do mesmo rosto, se mostrar profundamente contrada e flcida, indcio certo de subtrao de substncia ectoplsmica, em quantidade considervel, das tecidos do rosto do mdium.

    Do ponto de vista do significado terico do fenmeno de transfigurao, nota-se uma radical diferena entre as modalidades com que ele se produzia com Daniel Dunglas Home e as com que se produz quase sempre com os outros mdiuns, isto , ao passo que, com estes ltimos, se observa quase constantemente que a transfigurao implica uma tentativa mais ou menos bem sucedida de representar o rosto de um defunta que se diz presente, no caso de Home, ao contrrio, claro que as personalidades medinicas operantes se propunham exclusivamente transformar o rosto do mdium, variando-lhe as dimenses, ora aumentando-as, ora reduzindo-as notavelmente, e isto em correspondncia com o outro fenmeno simultaneamente operado do alongamento e reduo do seu corpo.

    *

    CASO V - Tiro-o dos "Annales des Sciences Psychiques" (1906, pgs. 34-37), e quem o relata o Dr. Joseph Maxwell, nome assaz conhecido no campo das investigaes psquicas. O diretor da revista, Sr. Cesare de Vesme, esclarece: "O caso foi comunicado ao Dr. Maxwell por um eminente magistrado seu colega, que no deseja seja revelado seu nome; todavia, se houver investigadores srios que desejem conhecer os nomes dos dois percipientes, bem como o da cidade em que se produziu o fenmeno, o Dr. Maxwell tudo revelar interessados."

  • Esta a narrativa do protagonista:"Meu pai era doutor em medicina e sempre exerceu a

    profisso numa vila do sul da Frana. Nascera em 1812; casara-se em 1843 e, a partir dessa data, habitara na mesma casa at a morte, ocorrida em julho de 1903.

    Aos primeiros dias de janeiro de 1903, meu pai foi assaltado pelos sintomas da molstia que, seis meses depois, devia lev-lo ao tmulo. Cerca de dois meses antes da sua morte, eu me encontrava no seu quarto s oito e meia da noite. Ele dormia na sua poltrona ao lado da chamin e eu me sentara diante dele, vigiando-lhe o sono.

    Estvamos ss, e no tardei a perceber que sua fisionomia ia gradativamente assumindo um aspecto que no era mais o seu, at que chegou um momento em que verifiquei, positivamente, que seu rosto se transformara no de minha me. Dir-se-ia que sobre o rosto de meu pai se colocara a mscara de minha me. Note-se que, desde muito tempo, faltavam inteiramente ao meu pai os superclios; mas naquele momento, acima de seus olhos fechados, se desenharam as vastas sobrancelhas negrssimas que minha me conservara at os ltimos dias de vida. As plpebras, o nariz e a boca se haviam tornado os de minha me. No obstante, seu rosto parecia consideravelmente maior, mas devo observar a respeito que, no perodo pr-agnico, o rosto de minha me se hipertrofiara notavelmente, at atingir aproximadamente as propores assumidas pela efgie que aparecia diante de ruim. Observo, alm disso, que a prpria efgie reproduzia mais fielmente o semblante dela do que o poderia ter feito se acaso houvesse reproduzido o seu rosto alterado pela molstia. Meu pai usava os bigodes e a barba em ponta muito curta. Barba e bigodes permaneceram; mas, contrariamente ao que se poderia supor, contribuam

  • eficazmente para completar os traos maternos. A apario manteve-se intacta por dez ou doze minutos; depois, lentamente se dissipou e meu pai retomou os traos normais. Cinco minutos depois despertou, e eu perguntei-lhe se sonhara porventura com sua esposa; respondeu negativamente.

    Durante a manifestao do fenmeno eu fiquei imvel, a observar o espetculo que se me deparava, abstendo-me de estender a mo para tocar a apario, e isto por temer que se dissipasse. Com efeito, meu pai contara ter visto minha me vrias vezes e ter sempre se arrependido por ceder ao impulso instintivo que o impelia a abra-la, ato que determinara sempre a desapario instantnea do fantasma.

    Eu provavelmente teria atribudo importncia muito relativa apario por mim observada, pois que me teria facilmente convencido de haver sido vtima de uma alucinao, mas houve isto: no fui o nico a v-la. Durante a apario, a criada de meu pai - uma moa de 31 anos - qual minha me, no leito de morte, recomendara velar por meu pai, entrara no quarto e eu me limitara a dizer-lhe: "Joana, olha meu pai adormecido!" - Ela exclamou: "Oh! Como se assemelha pobre senhora! Estupefaciente! Extraordinrio!" Logo, no era eu vtima de uma alucinao, pois que se Joana viu e reconheceu a apario sinal de que a mesma era objetiva. Resulta da que a natureza coletiva da viso ocorrida, tendo-me dado certeza sobre a realidade da mesma viso, fez com que eu ficasse profundamente impressionado e, se vivesse cem anos, jamais a esqueceria. Em seguida, perguntei a mim mesmo se teria sido o rosto de meu pai que se transformara a ponto de tomar os traos de minha me, ou se, ao contrrio, uma mscara do rosto de minha me se teria sobreposto ao semblante paterno. O que me faz pender para esta ltima hiptese a particularidade dos vastos superclios

  • maternos que eu percebi nitidamente nos traos da apario. Ora, se se pode admitir que o semblante de um marido, aps uma longa coabitao, possa algumas vezes assemelhar-se ao da mulher (o que no caso de meu pai estava longe de se ter dado), no parece possvel admitir-se que os superclios de um surjam sobre o semblante do outro que era totalmente privado de superclios. Devo no obstante acrescentar que o fenmeno por mim observado no desapareceu subitamente, isto , pareceu-me que o rosto de meu pai retomava gradativamente, por pequenas zonas, o seu aspecto normal."

    A criada Joana B. fez a seguinte declarao:"Recordo-me perfeitamente de que, cerca de dois meses

    antes da morte de vosso pai, eu subi ao seu quarto e vos encontrei com ele. Vs me dissestes: "Joana, olha meu pai adormecido!" - E eu logo exclamei: "Oh! como se assemelha pobre senhora!" estupefaciente! uma coisa extraordinria!" - Confirmo que vosso pai, no curso da sua ltima enfermidade, repetiu-me muitas vezes ter visto em vrias ocasies a apario de sua esposa, acrescentando ter-se arrependido de haver estendido as mos para atra-la a si, pois que, assim agindo, provocara sempre a sua instantnea desapario." (Assinado: Joana B., esposa de R.).

    O caso exposto de natureza espontnea e no experimental ou medinica e, como se viu, realizou-se aproximao da morte do protagonista, o qual tivera, precedentemente, vrias vises do fantasma daquela que chegou a materializar a prpria efgie, transfigurando o seu rosto, circunstncias estas todas a que no falta valor sugestivo, tendo em vista o fato de que os casos de "apario de defuntos no leito de morte" so relativamente comuns e que entre eles so relativamente freqentes os casos percebidos coletivamente ou sucessivamente

  • por vrias pessoas, circunstncia que confere certeza a respeito da sua objetividade. Da resultaria que o caso em apreo poderia ser classificado como um episdio de "aparies reiteradas de uma defunta no leito de morte do marido", com o acrscimo de uma manifestao fsica complementar, sob forma de transfigurao do rosto do enfermo e isto, presumivelmente, com o objetivo de fazer-se notar tambm pelo filho.

    Do ponto de vista probatrio de notar no caso em apreo a feliz circunstncia de ter sido visto o fenmeno de transfigurao coletivamente por duas testemunhas, e como a criada Joana no percebera a efgie da defunta logo ao entrar no quarto, circunstncia que exclui a existncia nela de estados passionais predisponentes de alucinao por influncia de circunstncias, deve-se reconhecer que a objetividade do fenmeno se mostra desta vez provada de maneira cientificamente adequada.

    Sob um outro ponto de vista, manifesto que o fenmeno de "transfigurao" no poderia ser esclarecido com a hiptese por demais simplista da contrao e adaptao dos msculos faciais. Serve especialmente para demonstr-lo o fenmeno dos "nigrrimos superclios maternos" aparecerem sobre a cara do enfermo, desprovido de sobrancelhas. Deve-se, portanto, concluir que se est em presena de um caso de transfigurao com notveis rudimentos de materializao, e, adaptao de substncia ectoplsmica ao rosto do indivduo.

    Com relao observao do narrador, segundo a qual o fenmeno no se tendo dissipado repentinamente e havendo o rosto paterno retomado gradativamente sua prpria expresso, significando isso o que os fatos no pareciam conciliar-se com a hiptese de uma mscara ectoplsmica sobreposta ao rosto paterno, noto que os fatos poderiam, ao contrrio, conciliar-se

  • muito bem com tal hiptese, com a condio nica de se no tomar ao p da letra as palavras com que se definiu a hiptese; vale dizer que no se deveria pensar na existncia de uma mscara mvel de ectoplasma colocada sobre a cara do paciente, mas certamente na existncia de uma substncia ectoplsmica distribuda e integrada, por pequenas zonas, nas tecidos do seu rosto, isto , nos pontos em que os traos fisionmicos deveriam ser modificados, caso este em que nada impediria de se presumir que a mscara ectoplsmica pudesse dissipar-se gradualmente, zona por zona.

    Como quer que seja, preciso considerar que tudo concorre para demonstrar que o fenmeno de transfigurao ectoplsmica se mostra quase sempre combinado com as outras modalidades de manifestao do mesmo fenmeno no sentido de que, para completar a concretizao da mscara ectoplsmica, tanto podem contribuir o fenmeno da contrao e adaptao dos msculos faciais, quanto o outro fenmeno da subtrao de substncia viva aos tecidos do rosto e isto com o escopo de reduzir-lhe ou remodelar-lhe alguns traos, adaptando-o de tal forma mscara do defunto que se deseja representar.

    Ter-se-ia, portanto, de concluir que, nos casos de completa transfigurao do rosto de um vivo, concorrem todas as modalidades de manifestao que o fenmeno comporta, modalidades combinadas harmonicamente umas com as outras, por uma vontade operante - subconsciente ou extrnseca - servida automaticamente por aquela mesma misteriosssima "fora organizadora" que preside, na natureza, a organizao dos seres vivos.

    *

  • CASOS VI e VII - A condessa Helena Mainardi, nome fartamente conhecido pelos cultores de investigaes psquicas de quarenta anos passados, era um poderoso mdium. Ela enviou ao "Congresso Espiritualista de Londres", do ms de junho de 1898, uma longa relao dos fenmenos obtidos em seu prprio crculo familiar, com sua mediunidade combinada com a da baronesa Rosenkrantz, tambm muito notvel mdium, crculo em que eram freqentes os casos de "transfigurao". O relato em apreo foi publicado integralmente pela "Light", da qual fao o seguinte extrato (1898, pg. 471).

    A condessa Mainardi escreve o que se segue:"Numa noite de inverno do ano de 1898, obtivemos

    fenmenos muito interessantes. Achavam-se presentes a baronesa Rosenkrantz; o General Gugiani, com sua esposa; o Dr. Visam Scozzi, meu marido e eu. Uma lmpada vermelha, colocada sobre a mesa, iluminava nossos rostos.

    A baronesa Rosenkrantz estava de p, atrs da minha cadeira, fazendo "passes magnticos" sobre minha cabea e ombros, quando, de repente, meu esposo, que estava sentado defronte, exclamou:

    "No vejo mais minha mulher!" Por sua vez o General Gugiani observou: "Dir-se-ia que a condessa desapareceu." O Dr. Visam Scozzi declarou que tambm no me via, mas que percebia no meu lugar uma coluna de substncia escura. Eu ouvia perfeitamente suas exclamaes, porm, por mais que tentasse, no lograva articular uma palavra, embora no houvesse deixado um s momento de ver os assistentes, os quais continuavam discutindo acaloradamente o fenmeno da minha desapario, quando repentinamente me viram reaparecer, mas com o rosto de outra pessoa. Meu marido exclamou assustado: "Oh! esta no minha senhora!" A baronesa Rosenkrantz

  • inclinou-se para mim, olhou-me fixamente de perto e disse: "Reconheo as feies de Helena Blavatsky!"

    Pouco depois a mscara da Blavatsky desapareceu e tornei a ser eu mesma, reconhecida como tal por todas os assistentes, com grande satisfao.

    Eis, porm, que, por seu turno, a baronesa Rosenkrantz envolvida em um influxo medinico e, sentando-se junto de mim, exclama: "Olha com ateno o meu rosto!" Transcorridos uns breves instantes, vimos transformar-se o seu semblante, que se tornou muito jovem, ao passo que a baronesa um tanto entrada em anos. Acreditei por um momento ser vtima de uma alucinao, pelo que me dirigi ao Dr. Visani Scozzi, perguntando lhe o que estava vendo. Vi que tinha ficado imvel como uma esttua, com os seus grandes olhos cravados sobre a manifestao e com uma expresso de estupor indescritvel! Respondeu-me: "Este o rosto de uma jovem a quem eu conheci intimamente h vinte anos."

    Tais so os episdios de "transfigurao" relatados pela condessa Mainardi.

    Do ponto de vista da fidelidade da narrativa, o nome do Dr. Visani Scozzi, autor de um livro clssico sobre a mediunidade, e a quem foi apresentado o relato antes de ser enviado ao seu destino, constitui um timo testemunho a respeito.

    Do ponto de vista da realidade objetiva das transfiguraes observadas, destaca-se a circunstncia de sua natureza coletiva, a cujo respeito convm insistir sobre o fato de que foram cinco os experimentadores que observaram, coletivamente, os mesmos rostos nas transfiguraes ocorridas.

    Fao notar que, na produo do primeiro episdio, sobressai o detalhe pouco comum da ocultao do mdium dentro de uma nuvem de ectoplasma, o que presumivelmente deve ser atribudo

  • poderosa mediunidade de efeitos fsicos da condessa Mainardi, potencialidade que permitiu uma emisso abundante de substncia ectoplsmica que logo se concretizou na mscara da transfigurao.

    Observo, por ltimo, que, em ambos os episdios, os rostos que se materializaram foram identificados e o caso do Dr. Visani Scozzi, que reconheceu no semblante da jovem, que se manifestou, o de uma jovem senhora que conhecera vinte anos antes, um caso bastante notvel no seu gnero, porquanto a baronesa Rosenkrantz, que ele conhecera em casa da famlia Mainardi, sem dvida alguma ignorava por completo a existncia da jovem dama que se havia materializado por transfigurao do seu prprio rosto. Deve-se, sem embargo, reconhecer que o relato dos fatos deveria comportar maior abundncia de detalhes, se bem que mister admitir que um relatrio mais extenso no era possvel exigir em um sumrio relato de numerosas experincias, como era o que a condessa Mainardi remetera ao "Congresso Espiritualista" de Londres.

    *

    CASO VIII - Alexandre Aksakof, no seu livro "Um caso de desmaterializao parcial do corpo de um mdium" (pg. 211), conta o seguinte caso, extrado de um artigo da Srta. Killingsbury, publicado em "The Spiritualist", de 22-10-1876:

    "A Sra. Crocker, mdium particular de Chicago, contou-me que h alguns meses, sob a direo de seu "guia" espiritual, iniciou uma srie de sesses para o desenvolvimento de uma nova fase de sua mediunidade, as quais se realizaram no seu crculo familiar. Uma noite, luz das velas que ardiam no recinto e ao claro da lua, sofreu uma transformao do seu

  • rosto, que mudou de tamanho, forma e natureza, brotando depois sobre ele uma barba negra e abundante. Todos os assistentes viram a mesma transformao e o primo do mdium, que estava sentado junto ao mesmo exclamou: " o rosto de meu pai!" - Desaparecida a manifestao, confirmou que se tratava da efgie perfeita do rosto paterno. Pouco depois, o mdium se transformou em uma velhinha de cabelos brancos. Todas estas metamorfoses se realizavam sob os olhares dos presentes, que no deixaram de as observar um instante.

    Ela afirma que conservou sempre a conscincia de si mesma, mas que havia experimentado uma sensao muito viva de formigamento e comicho em todo o corpo, tal como se estivera apertando com as mos os dois plos de uma forte bateria eltrica . . . "

    Esta aluso final do mdium, que disse experimentar uma viva sensao de formigamento e comicho em todo o corpo, reveste grande importncia do ponto de vista probatrio, uma vez que bom nmero de mdiuns de efeitos fsicos acusa justamente a mesma sensao, quer antes, quer durante a manifestao dos fenmenos. A Sra. D'Esperance aludia muitas vezes a essa sensao, que como um prenncio dos fenmenos, e com Euspia era habitual a mesma sensao. Quando durante as nossas experincias de trs anos, em Gnova, com o Prof. Morselli, ouvamos o mdium acusar a sensao de comicho em todo o corpo, ficvamos na expectativa, pois sabamos, por prtica adquirida, que era o preldio da produo dos fenmenos. Repito, portanto, que do ponto de vista probatrio, essa espcie de detalhes secundrios adquire no pouca importncia em favor da legitimidade dos fatos, pois eles pertencem a um gnero que um mdium fraudulento, como tambm um narrador infiel, no pensam em assinalar. E bem-

  • vindas sejam estas observaes no que concerne ao episdio exposto, em que o relato de "segunda mo" e a falta de detalhes no podem satisfazer do ponto de vista probatrio. E, como j vimos, o caso por si s seria por demais interessante devido aos incidentes da barba e dos cabelos brancos que apareceram sobre o rosto e a cabea de uma jovem senhora.

    A estas observaes em favor da legitimidade dos fatos, Alexandre Aksakof acrescenta o seguinte:

    "Um argumento de peso em favor da legitimidade de tais manifestaes consiste na considerao de que no s no se mostram contraditrias com o princpio de acordo com o qual se produzem os fenmenos de materializao, como constituem, ao contrrio, uma espcie de fase inicial transitria, prestes a transformar-se em outra, sob a ao de uma fora organizadora ignorada (pg. 219)."

    *

    CASO IX - No livro autobiogrfico do mdium Sra. Russell Davies: The Clairvoyance of Bessie Williams (A Clarividncia de Bessie Williams), publicado a conselho de grande amiga Sra. Florence Marryat, l-se, entre outras coisas, que o referido mdium possua a pouco invejvel faculdade de provocar fenmenos de assombramento cada vez que permanecia em alguma casa onde tivesse ocorrido, no passado, cenas de sangue.

    Sucedeu que, tendo o mdium adquirido uma casa de vero, onde se alojara com a sua famlia, no tardaram a manifestar-se fenmenos de assombramento muito importunos como sejam: rudos insistentes de passos pesados, que deambulavam pela casa, de lutas e de combates violentos, seguidos de quedas de corpos ao solo. Certa noite produziu-se um fenmeno

  • impressionante de transfigurao do rosto da Sra. Russell Davies, descrevendo-a seu esposo nos seguintes termos:

    "Estava eu sentado mesa da sala de jantar e minha senhora diante de mim, com o menino nos braos. De repente ela exclamou: "Sinto como se me tivessem ferido em um brao. Oh! que dor!" Fiz-lhe observar: "Minha querida, so dores reumticas." Como no replicasse, olhei para aquele lado e notei que a sua fisionomia se havia transformado horrivelmente e ficado embrutecida, adquirindo uma expresso de diablica perversidade. Em lugar de minha esposa, sempre afvel e sorridente, se achava diante de mim um velho repugnante, de fronte proeminente, cujos olhos de abutre se esquivaram ao meu olhar, com intenes furtivas que quase me faziam desmaiar de terror. Eu havia ouvido falar em fenmenos de "transfigurao", porm jamais assistira ao desenvolvimento dos mesmos. Levantei-me apressadamente para acudir em auxlio do menino. O brao de minha esposa o foi deixando lentamente nos meus, ao mesmo tempo que a sua outra mo se estendia sinistramente para uma faca que estava sobre a mesa e que eu me apressei a pr fora do seu alcance. Pouco depois minha senhora suspirou profundamente, e, com grande regozijo para mim, vi que o seu rosto voltava ao estado normal..."

    Averiguou-se, logo depois, que alguns sculos antes, aquela casa fora uma hospedaria, cujo dono, quando se lhe mostrava propcia a ocasio, assassinava os hspedes para roub-los. Naturalmente, depois do referido fenmeno de "transfigurao"; os Russell Davies apressaram-se em abandonar a casa.

    Tambm neste episdio, como em outros j relatados, dever-se-ia admitir que o fenmeno de "transfigurao" do rosto do mdium no de um "velho repugnante, de fronte proeminente e com olhos de abutre", teve origem na combinao das diversas

  • modalidades de produo que os mesmos fenmenos comportam: contrao e adaptao dos msculos faciais, distribuio de ectoplasma ou subtrao de substncias vivas nas zonas a serem modificadas no rosto do mdium.

    Do ponto de vista da hiptese esprita, mostrar-se-ia sugestiva e instrutiva a causa determinante do fenmeno de "transfigurao", que se realizara pelo fato de encontrar-se o mdium em um ambiente onde outrora haviam ocorrido vrios crimes, ambiente que se tornou assombrado to-somente devido presena de uma "sensitiva" que, mediante seus "fluidos" exteriorizveis, tornara possvel a produo dos usuais fenmenos de assombramento, isto , tornara possvel a manifestao aos vivos, na forma que se mostrara realizvel, dos protagonistas dos dramas que se verificaram em um determinado ambiente.

    *

    CASOS X e XI - No n. de julho de 1930 da revista inglesa The Occult Review, o Sr. R. M. Sidgwick relata uma srie de experincias obtidas em seu crculo familiar, com sua prpria mediunidade combinada com a de uma senhora a quem denomina Sra. A.

    Entre outros cita dois casos de "transfigurao alternante", nos quais se materializou duas vezes a efgie do seu av; a primeira vez, com a mediunidade da Sra. A. e a segunda, com a sua prpria mediunidade.

    Eis quanto pelo mesmo relatado:"Numa tarde de inverno, fui visitar a Sra. A., que possui mui

    notveis faculdades medinicas. Encontrei-a sentada junto ao fogo, onde ardiam alguns carves, porm sem chama,

  • irradiando em torno uma forte luz vermelha. A luz do dia havia desaparecido quase completamente, deixando o quarto em plena obscuridade, salvo um amplo crculo em volta do fogo.

    A Sra. A. se achava muito perto do fogo, de maneira que seu rosto aparecia vivamente iluminado. Conversamos durante um bom pedao de tempo; logo fizemos uma pausa que se prolongou durante dois ou trs minutos, aps o que lhe fiz uma pergunta, sem obter resposta. Ao mesmo tempo notei que a minha amiga respirava ruidosamente e, olhando-a fixamente no rosto, verifiquei que sua fisionomia, assim como a sua respirao, no davam mostras de achar-se em um estado de sonolncia normal. Fiquei, pois, espera de alguma manifestao e tal como ocorre com freqncia em nossas experincias a manifestao teve lugar; mas, por certo, mais distinta do que eu podia esperar. Enquanto eu vigiava atentamente a mdium, percebi que o seu semblante ia lenta, mas positivamente se transformando. O oval do rosto, as linhas, os traos da fisionomia j no eram os mesmos to familiares para mim. Logo se produziu improvisadamente a transformao final, desaparecendo tambm o nariz aquilino da Sra. A., vendo-me eu diante de um rosto de homem. Com indescritvel assombro reconheci nessa cara a reproduo perfeita do meu av. Fiquei a tal ponto impressionado que deixei escapar um grito de estupor, o que determinou a instantnea desapario do fenmeno e diante de mim ficou a Sra. A., j desperta, a qual se apressou a pedir-me desculpa por haver dormido, incorrendo em uma falta de ateno.

    Nada lhe disse de quanto havia ocorrido, pois eu esperava que esse fenmeno teria ulteriores desenvolvimentos e sabia por experincia que as manifestaes adquiriam maior valor terico quando o mdium ignorava os antecedentes... Transcorreu

  • algum tempo, e outra vez se produziu o inesperado...que, provavelmente, se realizou por ter-se reproduzido casualmente uma idntica situao de ambiente. Com efeito, eu de novo me achava sentado ao lado da Sra. A., na sala de jantar, junto do fogo, onde ardiam vivamente, mas sem chamas, alguns ties, que irradiavam em torno uma brilhante luz vermelha. Achava-se ento tambm presente a filha da Sra. A. No tardou que eu notasse no serem as condies de ambiente inteiramente normais, sentindo um gelado sopro de ar que, baixando do teto, me envolvia a cabea. Esta ltima circunstncia, unida s demais sensaes subjetivas me induziram a vigiar atentamente o que estaria ocorrendo com relao Sra. A.; reparei, porm, que por sua vez ela me fitava com uma expresso de grande assombro.

    Transcorrido algum tempo ela falou por fim, explicando que, alguns momentos antes, meu rosto havia desaparecido debaixo da mscara de outro rosto muito mais velho, de olhos claros e pele corada, com uma massa compacta de cabelos branqussimos. Ao mesmo tempo, tivera a impresso subjetiva de que era meu av que se manifestava. Sua filha, que estava sentada atrs de mim, nada havia visto, naturalmente, de tal transfigurao, mas ficara alguns momentos perplexa ao ver uma espcie de emanao de luz lunar em torno da minha cabea. O que mais me surpreendeu em tudo isto foi o fato de a Sra. A. nada saber, em absoluto, a respeito de meu av, apesar do que me descreveu com muitssima fidelidade. Era, pois, inegvel que lhe percebera a imagem.

    Estendi-me mais do que costumo fazer na descrio destas duas manifestaes, no s porque pertencem a uma categoria bem mais rara e interessante, como tambm porque, no meu entender, das mesmas sobressai manifestamente o deliberado

  • propsito de proporcionar-me a to desejada prova da sobrevivncia do esprito humano. Da primeira vez fui testemunha do fenmeno; da segunda, porm, o foi a Sra. A. e isto quer dizer que houve dois testemunhos independentes, que assistiram ao mesmo fenmeno, com a formao do mesmo rosto de defunto, o que refora notavelmente a prova exigida acerca da realidade objetiva do fenmeno em referncia."

    Tais so as concluses do relator e protagonista dos fatos e o significado probatrio, que decorre da observao coletiva do mesmo fenmeno, , desta vez, eficientemente reforado pela circunstncia, qui nica, da sucessiva manifestao do mesmo defunto mediante a transfigurao dos rostos de dois mdiuns.

    Do ponto de vista da interpretao esprita dos fatos, mostra-se sem dvida notvel a primeira manifestao do defunto por um mdium que jamais o conhecera e que ignorava o seu semblante: circunstncias de fato estas que induzem a concluir que o fenmeno da transfigurao do rosto da mesma no da entidade no poderia, desta vez, atribuir-se s "faculdades modeladoras" da subconscincia.

    Neste ponto parece indispensvel que eu me detenha em examinar o assunto nos limites que circunscrevem os denominados "poderes criadores" da subconscincia humana e isto com o fim de eliminar algumas opinies errneas a propsito, as quais no so apenas compartilhadas por nossos opositores, mas, sob certos aspectos, tambm pelos propugnadores da hiptese esprita. Entre estes ltimos h, de fato, quem admite que os "espritos dos defuntos" esto em condio de tomar a "forma fludica" ou a "forma materializada", animada e inteligente, de outro defunto, mistificando de tal forma os vivos, enquanto os opositores sustentam que o subconsciente do mdium capacssimo de

  • criar fluidicamente ou materializar fantasmas animados e inteligentes de defuntos por ele conhecidos em vida, ou de defuntos tambm pelo mdium desconhecidos, mas conhecidos de algum dos presentes (clarividncia teleptica ou telemnsia).

    Ora, tudo concorre para demonstrar que esto em erro tanto os nossos antagonistas quanto certos espritas j que a anlise comparada dos fatos demonstra, ao contrrio, que os "espritos encarnados" como os "desencarnados" no esto em condies de exteriorizar ou de reproduzir outra forma fludica ou materializada, animada e inteligente, que no a sua.

    No h quem no veja quanto se mostra teoricamente importante tal afirmao, da qual me apresto em demonstrar experimentalmente a validade, recordando antes de tudo que Gabriel Delanne j a havia revelado e repetido numerosas vezes. Assim, por exemplo, no 2 volume da sua obra "Les apparitions materialises dos vivants et des morts" (pg. 31.8), observa:

    "Existe um incidente que parece confirmar a hiptese de que o esprito tenha o poder de modificar o "corpo espiritual" e isto at o ponto de conferir ao mesmo uma aparncia radicalmente diversa da sua prpria. Ora, ainda uma vez se devem examinar a fundo os fatos, se no se quiser perder-se atrs de uma falsa pista. verdade que o esprito desencarnado pode sua vontade retomar uma das formas que teve, ao voltar Terra, reaparecendo materializado, seja como era no momento da morte, seja como era em outra poca da sua vida. Mas, de assumir a fisionomia de outro se interpe um abismo e eu no conheo exemplos de espritos que, voluntariamente, se tenham transformado at tomar o semblante de outro esprito de defunto."

  • Assim falou Delanne, mas, se teve a intuio da verdade, no se deteve em comentar por quais consideraes cientficas a afirmativa de tal verdade se mostra legitimamente vlida.

    Apresso-me, pois, a salientar como isto serve de base para uma prova por analogia fundamental e formidvel, porquanto versa sobre processas biolgicos e morfolgicos que determinam a organizao dos seres vivos, processos que se resumem no grande fato de que preside a origem da vida uma misteriosssima "fora organizadora", imanente em todos os seres vivos e diversa em cada um deles, a qual, no plano da existncia encarnada, age ocultamente dos seres que vai plasmando.

    Tal sendo a lei, da se infere que, se o esprito sobrevive morte do corpo, ento tambm a "fora organizadora" uma faculdade do esprita, deve, por sua vez, sobreviver morte do corpo; e, assim sendo, dever-se- reconhecer que nos fenmenos das "transfiguraes", das "materializaes" e das "fotografias transcendentais", quando resultam de natureza esprita, a mesma "fora organizadora" plasmadora dos seres vivos, aquela que retoma automaticamente as prprias funes no apenas estimulada pela vontade do defunto sem que necessite a de pressupor uma ao direta, intencional, em tal sentido, do prprio defunto, assim como a mesma "fora organizadora" age automaticamente na organizao e plasmao dos seres vivos sem que precise a ainda do concurso intencional dos seres vivos que essa vai plasmando.

    E agora chegamos s concluses: Do exposto resulta que, nos casos em que o automatismo da "fora organizadora" se mostra de natureza subconsciente ou de natureza anmica, o mdium no poder fazer outra coisa seno reproduzir a prpria forma exteriorizada, materializada ou fludica, animada e

  • inteligente, assim como existia em qualquer poca da sua vida, isto , no poder jamais tomar o semblante animado e inteligente de uma terceira pessoa, visto que se verdade, como indubitavelmente verdade, que a "fora organizadora" age automaticamente, ento isto equivale dizer que essa tem o poder de reproduzir e no o de criar. E, ao contrrio, nos casos em que o automatismo se mostra de natureza extrnseca ou esprita, o defunto comunicante no poder fazer outra coisa seno reproduzir, por sua vez, a prpria forma materializada ou fludica, animada e inteligente, tal como existia em qualquer poca da sua vida, e jamais reproduzir a forma animada e inteligente de outro esprito, porque, repito, a "fora organizadora", por ser um automatismo, reproduz e no cria, o que, se se notar bem, o contra-senso invarivel de qualquer forma de automatismo.

    Resulta da que estes simples, mas inabalveis, argumentos de fato bastam por si ss para demonstrarem que a hiptese por mim defendida parece irrefutvel, visto que, se se trata de um processo automtico, ento verdade que tal automatismo no poder fazer outra coisa seno reproduzir formas e rostos plasmados automaticamente e nunca criar novos, porquanto criar novos subentende-se um processo ativo e intencional, e j no passivo e automtico.

    , pois, evidente, no que se refere aos fenmenos de materializaes de fantasmas e rostos animados e inteligentes, que so estes os limites em que devero ser circunscritos os poderes modeladores do esprito humano, encarnado ou desencarnado, limites impostos pelos fatos de que o pensamento e a vontade no tm poder dirigente sobre a misteriosssima "fora organizadora" e criadora das "formas arqutipos" individuais, "fora organizadora" que se identifica com a "Idia

  • diretriz" pressentida por Claude Bernard, como se identifica com a teoria do "impulso vital criador" de Bergson e com a outra teoria anloga de Geley, sobre a existncia de um "dinamismo vital organizador" posto nas fontes da vida, ao passo que tudo concorre para fazer presumir que, na manifestao de tal mistrio imperscrutvel do ser, ns assistimos ao manifestar, nos mundos, de um atributo da imanncia divina do Universo.

    Vemos, em concluso, que o Pensamento e a Vontade teriam ao contrrio poder diferente no vasto campo da natureza inanimada, vale dizer, no domnio das criaes puramente plsticas ou artsticas. Isto posto, e tornando aos fenmenos de transfigurao, concluiremos observando que se verdade, como indubitavelmente verdade, que as consideraes expostas provam que os "espritos encarnados" e os "desencarnados" no tm poder dirigente sobre a modalidade pela qual funciona automaticamente a "fora organizadora" e plasmadora da Vida nos mundos, ento quando se obtm um rosto radicalmente diverso do semblante do mdium, se dever inferir que a "forma organizadora" em ao no a do mdium, mas uma outra a esse extrnseca.

    *

    CASO XII - O episdio que se segue, pela excepcional modalidade de produo, nico em toda a classe dos fenmenos de transfigurao.

    O Sr. James Smith, de Melbourne, em um interessantssimo opsculo intitulado: "How I became a Spiritualist" (Como me tornei espiritualista), narra que teve o primeiro contato com a fenomenologia medinica graas ao auxlio de um mdium de "transfigurao", a propsito do que relata o seguinte:

  • "Pelo fim do ano de 1870, a curiosidade impeliu-me a procurar uma senhora idosa que residia em Charlton, vivia em um casebre composto de trs aposentos e tinha fama de ser um mdium extraordinrio. Eu esperava colh-la em fraude, mas, pela segunda vez que a procurei, achei-me em face de uma manifestao estupefaciente. Ela era alem e esposa de um alfaiate ambulante. No tivera educao alguma; sua conversao era vulgar e sua personalidade destituda de qualquer atrativo. Enquanto, com os meus botes, fazia essas observaes, ela caiu em transe, seu corpo foi abalado por uma sacudidela convulsiva, assaz penosa, e pouco depois, pela sua boca, se manifestou uma personalidade inteligentssima, que no podia certamente identificar-se com a do mdium. A acentuao tedesca da sua palestra desaparecera totalmente; assumira uma atitude grave e digna, a linguagem tornara-se caracterstica e elegante, de maneira que, inesperadamente, me foi dado ouvir uma conferncia interessantssima sobre a evoluo cosmognica; e quem me falava dizia ter vivido na Terra anteriormente a qualquer aurora histrica...

    Em seguida, eis que se manifesta uma outra entidade espiritual que se mostrou profundamente versada nas indagaes etnolgicas; e, depois de me ter descrito os doze tipos principais de gnero humano, assim continuou: "Se na prxima vez vieres acompanhado do amigo Vievers, que um hbil desenhista, ns te mostraremos sucessivamente, sobre a cara desta mulher, os doze tipos primitivos da raa humana. Naturalmente no dia seguinte voltei, juntamente com o amigo desenhista e a entidade manteve a palavra. Meu amigo logrou traar, em bem sucedidos esboos, os doze tipos da humanidade primitiva tais como apareceram sobre o semblante transfigurado do mdium, alguns dos quais era a tal ponto repulsivos que causavam espanto. O

  • amigo Vievers remeteu-me cpias que ainda conservo cuidadosamente. Os tipos aparecidos foram os seguintes: o Caraba, o Asitico do norte, o Europeu do sul, o Africano, o Malaio e o Peruano. Como disse, alguns dos restos eram horrveis de ver-se e isto a ponto do meu amigo Vievers se espantar com eles de tal maneira que, em dado momento, s com dificuldade cheguei a impedir que atirasse fora o lpis e fugisse.

    Cada tipo daquelas transfiguraes se manteve por tempo bastante longo, pois que a entidade fornecia interessantes informaes em torno histria de cada um deles, informaes a que eu transcrevia rapidamente. A ttulo de exemplo, relato aqui o que ele disse a respeito do tipo caraba:

    "Seu crnio est cuidadosamente classificado nos vossos museus, depois de ter estado durante dezenas de milhares de anos sepultado nas cavernas da Terra. Ele fornece uma salutar lio ao homem moderno. Observai quo rudimentar ainda era o desenvolvimento deste crnio. Aparece deprimido, chato, limitado, exclusivamente adequado a guiar este ser na satisfao de suas quotidianas necessidades materiais, elas prprias estreitamente limitadas. Meditai particularmente sobre este crnio, pois que se trata de um importante anel de ligao na evoluo em srie da espcie humana. Parece-vos que este crnio tenha pertencido a um ser digno de ter a mesma sorte que os anjos? No, certamente; eram seus companheiros as feras das florestas e os animais que faziam os seus ninhos nas tenebrosas cavernas. Suas cordas para caa eram tiras de couro cortadas da pele de animais selvagens; seu arco era uma costela extrada de animais gigantes; suas flechas tinham um chifre na ponta. Estes os utenslios de sua existncia selvagem... Sedento de sangue e astuto, com o passo cauteloso, revelava pelo olhar a expresso

  • terrvel da sua natureza feroz. No estremecei, amigo, pois o que vos digo no seno uma plida descrio do vosso antepassado caraba. Orgulhoso europeu, ficai sabendo que vossa genealogia em coisa alguma superior a do vosso pobre irmo caraba, o qual neste momento vos contempla do alto, pois sua evoluo no mundo espiritual agora superior a vossa no mundo terreno. As suas viglias de caa na luta pela vida esto afastadas, no tempo, milhares de sculos; e a sua lenta ascenso fez-se agora para sempre espiritualmente radiosa; e talvez, quando entrardes no reino espiritual, no recusareis aceitar por guia o pobre caraba que est diante de vs e a primeira lio que recebereis no meio espiritual talvez vos seja dada por aquele e que foi descendente do lobo." (Op. cit., pgs. 3-5-).

    A primeira vista dir-se-ia que esta sucesso de "tipos" representantes das raas primitivas da humanidade consistiria em projees intencionais, no mais automticas, de verdadeiras mscaras plsticas, criadas para a circunstncia, pela vontade da entidade comunicante, assim como as modelaria plasticamente um escultor no mundo dos vivos, mas, se tem na devida considerao algumas palavras com que se se exprime a personalidade medinica comunicante, ento ser preciso concluir que tambm neste caso extremo, o qual se mostra nico em toda a casustica dos fenmenos em apreo, tambm neste caso excepcional, se encontre em ao a mesma lei, enquanto que a transfigurao do rosto do mdium no do pr-histrico caraba teria sido devido autntica interveno de um esprito de caraba, e, assim sendo, dever-se-ia inferir outro tanto para os demais episdios de transfigurao, devidos, por sua vez, interveno de cada um dos representantes das raas primitivas que se materializaram, os quais, por um ato de vontade, teriam posto em ao o automatismo modelador da sua "fora

  • organizadora", chegando a plasmar sua efgie tal qual era ela nos tempos remotssimos da sua encarnao terrena.

    Mudando de assunto, observo que os "esboos" executados pelo artista desenhista constituiriam j um primeiro encaminhamento para a contribuio de documentaes da investigao cientfica dos fenmenos de transfiguraes. Alis, os esboos de que fala o narrador, informando t-los conservado cuidadosamente, no so acessveis e, em conseqncia, no podem ser utilizados na pesquisa cientfica. Todavia, devo informar que o Professor Marco Tullio Falcomer, de Veneza, o qual h muitos anos me enviou o opsculo de James Smith, achava-se em relaes epistolares com este ltimo e escreveu-me que o Sr. Smith publicara em fototipia, em uma revista australiana, a coleo dos desenhos em apreo; mas no me lembro do ttulo da revista, que no era esprita e sim cientfica. Soube, alm disso, pelo Prof. Falcomer que o Sr. Smith era um apaixonado cultor de pesquisas geolgicas e etnolgicas, o que explicaria a manifestao pela "lei de afinidade", das duas entidades que lhe forneceram informes relativos s investigaes que lhe eram prediletas.

    *

    CASO XIII - Entre os mdiuns contemporneos de "transfigurao"; podemos citar, na Frana, a Sra. Picquart e, na Inglaterra, a Sra. Bullock, com as quais se principiou a experimentar com critrio cientfico, fotografando os fenmenos das "transfiguraes", que se realizam luz do dia ou com luzes diversamente coloridas, mas sempre suficientes.

    Para comear pela Sra. Picquart, observo que o Sr. A. Barbier, no nmero de maio de 1924, da "Revue Scientifique et

  • Morale du Spiritisme", expe os mtodos rigorosamente cientficos com que o hipnotizador M. Piara e o Dr. Potheau, de Nice, experimentam com o referido mdium. O doutor em apreo j possui uma conspcua coleo de fotografias variadas, entre as quais se acham fotografias de raios especiais que denomina "raios bio-eltricos", de fenmenos de "materializaes parciais", de "concretizaes ectoplsmicas" e de "transfiguraes".

    O mdium Sra. Picquart envolta em uma roupa aderente, sendo uma e outra previamente revistadas por testemunhas sempre novas, as quais podem levar seus aparelhos fotogrficos. Depois de alguns minutos, o mdium cai em transe, passando catalepsia, e durante toda a sesso fica em estado de rigidez, sem que se lhe note o menor movimento.

    Como disse, as sesses se realizam geralmente luz do dia, mas para determinadas experincias adota-se a luz vermelha ou verde, ou amarela, caso em que se fotografa luz do magnsio. Nos casos de "transfigurao", a Sra. Picquart muda radicalmente de fisionomia, e quando a efgie masculina, aparecem-lhe barba e bigodes no rosto. ( loc. cit., pgs. 149-151).

    Esta, em resumo, a descrio genrica das experincias.Tiro da "Light" (1927, pg. 508) a seguinte narrativa de

    uma sesso com a Sra. Picquart, assistida pelo Sr. Niel Gow, sesso que, entretanto, no atingiu o seu pleno desenvolvimento. Cito-a porque no disponho de outra documentao a respeito e tambm porque tal narrativa serve para ilustrar as modalidades com que se produzem as manifestaes.

    Relata o Sr. Niel Gow:"Foi com um sentimento de grata expectativa que entrei na

    sala das sesses, em casa da Sra. Oudot (Rue du Fauburg

  • Montmartre, Paris), para assistir s experincias com o mdium Sra. Picquart, a respeito de quem ouvira falar com admirao. E o meu interesse fora mais do que nunca estimulado pela conspcua coleo de fotografias obtidas pela Sra. Oudot, nas quais se observa o mdium nas variadas transformaes do seu transe, pois que a Sra. Picquart um mdium de "transfigurao". A Sra. Oudot tinha-me explicado que ela entrava em condies de catalepsia, durante as quais se transformava de fisionomia e, quando a efgie representava um homem, apareciam-lhes plos no rosto. E, com efeito, vrias das fotografias por mim vistas o atestavam, mostrando-se extraordinariamente interessantes.

    Ao mesmo tempo que eu, assistiam sesso um senhor norte-americano, representante de uma sociedade de investigaes psquicas dos Estados Unidos; um senhor ingls, membro de bem conhecida sociedade de investigaes psquicas de Londres; uma senhora inglesa, e trs senhoras francesas, uma das quais era mdium, e uma outra, a mulher de um artista dramtico.

    A Sra. Picquart foi apresentada a ns todos. E uma senhora pequena e de aspecto comum; pertence burguesia e aparentemente surda. Aps a apresentao, retirou-se para pr uma vestimenta negra muito aprimorada, com um xale negro sobre as espduas nuas. Em nossa presena, ela mesma enrolou um leno preto em volta da cabea e estendeu-se a comprido sobre o tapete, apoiando a cabea em uma almofada especialmente preparada. Estava-se em plena luz do dia e ns comeamos a observ-la atentamente.

    O mdium emitiu dois longos suspiros e logo caiu em estado de transe. Os lbios vibravam fortemente, e os olhos giravam convulsivamente nas rbitas. Depois apareceram sobre a pele do

  • peito e da espdua esquerda largas manchas vermelhas, e seu rosto se tornou muito plido. A Sra. Oudot levantou um brao do mdium, o qual caiu pesadamente sobre o tapete, produzindo um rudo surdo. A expectativa se fazia sempre mais ansiosa. De repente a Sra. Oudot exclamou: "Pronto! Neste momento, o esprito entra no corpo do mdium." Observamos uma mudana. As bochechas do mdium tornaram-se flcidas, cadas, as narinas se dilataram, os lbios se projetaram para a frente. Foi logo tomada uma fotografia da manifestao. Poucos minutos depois o mdium despertou. Parecia esgotado e abatido, e foi preciso ajud-lo a levantar-se. Urgentes negcios a liquidar impediram-me de ficar ainda e, com pesar, fui obrigado a ir-me embora. A experincia revelou-se interessante, mas devo confessar que permaneci um tanto desapontado por no ter logrado observar o fenmeno no seu completo desenvolvimento. . . "

    E realmente muito rudimentar o fenmeno de transfigurao, que foi dado ao relator assistir, fenmeno privado de qualquer forma de superposio ectoplsmica sobre o rosto do mdium. Assim como se deu, a manifestao aparece como um exemplo assaz modesto de transfigurao por contrao dos msculos faciais. Entretanto, so de notar-se as placas vermelhas que apareceram sobre a epiderme do mdium, as quais indicariam uma emergncia incipiente de transformao ectoplasmtica, que por uma causa qualquer no chegou a progredir. Assim sendo, claro que se no houvesse o precedente de numerosas fotografias, superposies ectoplsmicas, obtidas pela Sra. Oudot, e sobretudo pelo Dr. Potheau, teria sido prefervel no citar a experincia.

    *

  • CASO XIV - Os fenmenos de "transfigurao" que se obtm com a Sra. Bullock so por demais notveis e interessantes. Como se trata, porm, de uma mediunidade muito recente, publicaram-se poucas relaes de suas experincias e, ademais, s me possvel referi-las pelos resumos das relaes publicadas na revista Light. Passo, pois, a referir-me s mesmas, j que no possvel mencion-las sendo numa classificao destes fenmenos.

    No n. de 12 de junho de 1931 da Light (pg. 283) encontra-se uma relao resumida da seguinte forma:

    "O Rev. Will J. Erwood publica na revista "The National Spiritualist", de Chicago, a relao de uma sesso feita por ele em Hale, Manchester, com o mdium de transfigurao Sra. Bullock durante a qual se obtiveram manifestaes por demais notveis.

    A Sra. Bullock se achava sentada em plena luz, de maneira que se faziam visveis os mais minuciosos detalhes das manifestaes e, no espao de uma hora e meia, apareceram nada menos de 50 rostos diferentes, sobrepostos ao rosto do mdium. O Rev. Erwood observa: "Era como se o resto do mdium fosse uma massa elstica moldvel vontade e modelada, ademais, com assombrosa percia e rapidez, por um exmio mestre na arte, o qual, com fervor inesgotvel, passara de uma a outra efgie. No decurso dessa admirvel sesso apareceram todas as espcies de rostos e, entre eles, fisionomias de orientais e hindus, calmos, graves e espirituais. Um dos episdios mais impressionantes foi a personificao de uma menina paraltica, conhecida por mim nos Estados Unidos da Amrica. Todo o corpo do mdium, juntamente com seu rosto, se havia contrado e transformado em forma radicalmente

  • distinta do aspecto normal da mesma, representando, com toda a exatido, as lamentveis condies em que se encontrara aquela pobre vtima da paralisia."

    Em outro nmero da mesma revista, l-se o seguinte resumo:"Os estudiosos das Investigaes psquicas de Belfast se

    interessaram muito, ainda h pouco, pelas experincias da Sra. Bullock, que se realizaram na sede da "Sociedade de Pesquisas Psquicas". Essas manifestaes foram de um carter incomum. O referido mdium sentou-se defronte de uma lmpada vermelha, de uma luz algo tnue, e, depois que se manifestou seu "esprito-guia", comearam a produzir-se as assombrosas transfiguraes de seu resto, que ia tomando os semblantes dos espritos que, sucessivamente, se comunicavam.

    Por detrs do mdium fora estendido um largo pedao quadrado de veludo preto, e, como o mdium se vestira igualmente de preto, as caras, que apareciam, se destacavam de forma notvel. O mais extraordinrio verificado na produo das transfiguraes consistiu na circunstncia de que essas cresciam e se desenvolviam internamente e, como se manifestaram tambm rostos de orientais muito velhos, era muito interessante e prodigioso observar-se como o rosto do mdium se tornava, de repente, enrugado, ao mesmo tempo que as sobrancelhas se alargavam obliquamente e se desenhava sobre o lbio a sombra de bigodes virados para baixo. Desnecessrio dizer que se manifestaram muitas personalidades de defuntos conhecidos dos presentes, que conversaram, assim, com parentes e amigos.

    Devo acrescentar que a Sra. Bullock uma pessoa muito simptica, cuja modstia iguala sua sinceridade. O seu aparecimento entre ns, com sua mediunidade rara e prodigiosa, foi um acontecimento que despertou o maior interesse (Light, 1932, pg. 141).

  • Como se verifica por estes sucintos relatos, a mediunidade da Sra. Bullock realmente notvel e promissora e, posto que se trate de um mdium todavia muito novo, dado esperar ulterior e prximo desenvolvimento de suas faculdades supranormais, desde que a estudem experimentadores que se proponham a observar os fenmenos de um ponto de vista rigorosamente cientfico.

    Teoricamente falando, mostra-se importante a observao feita pelo relator quando diz que as transfiguraes "cresciam e se dissolviam interiormente", o que induz a presumir que, em tais fenmenos, se verifiquem uma produo e conformao interior da substncia ectoplsmica que constitui os tecidos do rosto do mdium, caso em que os tecidos se dissolveriam em uma substncia amorfa muito malevel, com a qual as distintas personalidades espirituais comunicamos plasmariam suas efgies em virtude de um ato volitivo, devido ao qual entrariam em funo suas prprias "foras organizadoras" individuais. A este respeito quero recordar que anteriormente citei um caso sucedido com o mdium Home (Caso IV) em que houve uma circunstncia que vem confirmar tal interpretao dos fatos. Disse, na ocasio, que nos processos da diminuio do rosto daquele, notava-se a curiosa circunstncia da pele que se tornava profundamente enrugada e flcida, indcio evidente de que o fenmeno de transfigurao se produzia com a ajuda de processos de "dissoluo interior", isto , de subtrao de substncia ectoplsmica dos tecidos do rosto do mdium, pelo qual se subtende que os processos opostos de retoque com adio de massa ectoplsmica ao rosto do mdium se deviam realizar igualmente por "integraes e manipulaes internas".

    Mostra-se assombroso-at o inconcebvel o fato de que, no intervalo de hora e meia, se tenham podido sobrepor,

  • materializar e dissolver, 50 rostos sobre o do mdium. Contudo e apesar da nossa incapacidade para compreender o fenmeno, raro nas experincias de transfigurao, mas j foi citado antes um caso anlogo.

    Com o intuito de atenuar, de certo modo, o espanto justificado do leitor, quero recordar que sucede o mesmo nos fenmenos das materializaes de fantasmas independentes do mdium. Valem por todas as experincias relativamente recentes de Varsvia com o mdium Frank Kluski, em que os fantasmas se manifestavam em sucesso ininterrupta, dissolvendo-se instantaneamente ante os espectadores, da mesma forma instantnea com a qual se haviam materializado. Quero recordar, tambm, que, nas clssicas experincias de William Crookes, o fantasma materializado de "Katie King" aparecia e desaparecia com fulminante instantaneidade, se bem se tratasse de um fantasma solidamente conformado e perfeitamente organizado. Infere-se que esse segundo mistrio, mais imperscrutvel ainda que o primeiro, serve, quando menos, para tornar mais aceitvel a particularidade da sucesso rapidssima com que se concretizam e se dissolvem os rostos supranormais nas experincias de transfigurao.

    Noto, enfim, que ambos os narradores falam de manifestaes de defuntos conhecidos dos experimentadores, com provas de identificao pessoal, entre as quais se mostra muito notvel a referida pelo Rev. Erwood, em que o mdium se transfigura no rosto e no corpo, personificando uma pobre paraltica, conhecida do narrador. No h quem no veja como tal episdio, em que se nota uma completa identificao fsica da defunta que se manifesta, induz racionalmente a presumir que, se o episdio mesmo no pode desta vez explicar-se com o trabalho de uma fora modeladora subconsciente, e isto pelas

  • consideraes precedentemente expostas, reforadas pelo fato de que o mdium jamais conhecera a moa que se manifestara, ento dever-se-ia concluir no mesmo sentido para as materializaes de todos os outros rostos, isto , na sentido de que, nos numerosos semblantes aparecidos, dever-se-ia pressupor a interveno de outras tantas personalidades de defuntos.

    *

    CASO XV - Este ltimo caso, de data recentssima, realizou-se espontaneamente, com o conhecido mdium Sra. Barkel, que possui faculdades de "clarividncia" e uma "oradora por inspirao", como so tantas em pases anglo-saxes. Aquele a quem foi dado observar nela o fenmeno da transfigurao do rosto foi o Sr. Leonard Farqhuar, um cptico, que se dirigira reunio com a inteno de formar uma opinio pessoal a respeito de semelhantes experincias. Escreve ele:

    "Declaro que no sou esprita, mas sei manter-me prudentemente neutro quando se trata de assuntos que no conheo e os meus conhecimentos a respeito remontam a uma semana antes da sesso de que me proponho a falar. Eu sou positivista materialista e, em conseqncia, no se poderia dizer que tivesse tendncia para ter vises por auto-sugesto.

    Na minha qualidade de nefito, propus-me a vigiar, atentamente, o mdium no momento em que casse em "transe". Assim procedendo no me parecem notar indcios de sua passagem a condies anormais quando se ps de p para comear o sermo, o qual me deixou profundamente decepcionado. Nada encontrara que fosse de molde a sugerir uma origem supranormal... e foi para mim verdadeiro alvio

  • quando vi a Sra. Barkel tornar a sentar-se. Sentia-me mais decepcionado, irritado e quase hostil.

    A "presidente" ps-se a falar por sua vez, mas eu no a escutava e fixava o olhar perscrutador sobre o mdium, com o escopo de assegurar-me se realmente se manifestariam indcios da sua emergncia em um estado anormal.

    Pois bem: desta vez houve indcios, e de um gnero inspirado. A Sra. Barkel estava sentada tranqilamente, com a cabea levemente reclinada. Pouco depois observei um movimento dos seus ombros, que se puseram em linha horizontal, enquanto a cabea caa bruscamente para frente, indo apoiar-se com o queixo sobre o peito, mas o queixo se mostrava particularmente indistinto. Depois, o mdium permaneceu imvel como uma esttua. Eu continuava a observ-la com impassvel insistncia, enquanto a "presidente" prosseguia no seu discurso. De repente, com imenso estupor meu, notei que a cabea e o rosto da Sra. Barkel estavam totalmente mudados, ou melhor, tinham sido substitudos pela cabea e o rosto de um homem. Entretanto, eu no notara mesmo o mais insignificante movimento! Isto no impedia que, no lugar do rosto da Sra. Barkel, reclinado sobre o peito, se achasse o msculo rosto de um homem, que se sobrepusera ao primeiro, mas sem o menor movimento perceptvel e apesar de redobrada ateno. Depois esfreguei os olhos e lancei rpido olhar assemblia, para assegurar-me se algum se apercebera do fenmeno, mas todos escutavam atentamente o discurso da "presidente" e ningum prestava ateno ao mdium. Voltei a contemplar o espetculo com o mais vivo interesse. Se se tratasse de uma viso fugaz, teria acabado por dar de ombros, pensando nas estranhas iluses que os "jogos de sombra" chegam a criar, mas aquele rosto de

  • homem permaneceu diante de mim vrios minutos, no apenas um instante fugacssimo.

    A Sra. Barkel envergava um comprido vestido preto, ornado de um colar branco, e eu jamais esquecerei o grotesco contraste gerado pelo fato dela achar-se sentada imvel, como morta, e com uma cabea que no era a sua, mas a de um homem!

    Nesse meio tempo, o grande discurso da "presidente" continuava a absorver a ateno da assemblia, enquanto a seu lado uma mulher-homem jazia enrijecida, com aspecto de morta.

    Procurei certificar-me se a cabeleira da Sra. Barkel, que de uma cor louro-dourada brilhantissima, permanecera tal qual era, mais no; ela se tornara opaca, enquanto uma boa parte da mesma desaparecera sob a mscara mscula sobreposta ao seu rosto, que, como eu disse, pousava o queixo sobre o peito do mdium.

    Parecia a mscara de um homem que tivesse sido fulminado na prpria cadeira, reclinando a cabea sobre o peito. Desgraadamente, eu o divisava de perfil e no consegui estudar-lhe exatamente os tratos de maneira a descrev-los eficazmente. Do canto de onde olhava, distinguia-lhe uns trs quartos, uma poro dos quais se apresentavam em tima luz para mim, mas os traos daquele rosto no eram distintos. Tambm os cabelos pareciam indefinidos e no saberia descrev-los. A parte do queixo, que se me apresentava, era imberbe e amarelada como pergaminho, mas no conjunto o rosto parecia acinzentado. Na base das faces se distinguiam rugas, que pareciam produzidas pela presso do queixo sobre o peito. Na regio das orelhas observavam-se "costeletas", que se prolongavam at o queixo. O rosto do rosto era barbeado.

  • Como disse, aquele semblante no era distinto, no obstante, posso afirmar que se tratava do rosto de um homem maduro, mas no velho, de muito grave aspecto e aparentemente morto.

    Fiquei a contemplar o fenmeno por vrios minutos (no simplesmente "segundos" bom notar), at que vi a Sra. Barkel mover-se durante um instante na cadeira, para depois levantar-se e olhar em torno com expresso de estupor. Voltara a si, com transformao instantnea, e os seus cabelos de ouro brilhavam novamente luz!

    E agora pergunto a mim mesmo: Como explicar-se semelhante fenmeno? Talvez atribuindo-o minha imaginao super excitada pelo sermo inspirado que ouvira? No, de certo, visto que aquele sermo aguara, ao contrrio, o meu cepticismo, deixando-me impassvel e decepcionado. Talvez atribuindo-o aos efeitos do lcool? - Excluo tambm isto, pois que sou abstmio. - Talvez a um sonho em estado de sonolncia? - Mil vezes excludo, pois que nunca estive to vigilante e atento como naquele momento. - Talvez incubao de qualquer enfermidade? Excludo, pois que continuo a gozar perfeita sade do corpo e do esprito." (Psychic News, 1932,

    n. 22, pg. 10).Como se infere das respostas a estas interrogaes finais, o

    relator-percipiente est bem seguro de quanto viu, ao passo que da narrao exposta sobressai, outrossim, que ele , de fato, um observador inteligente e sagaz, ao qual no escapou nenhuma particularidade do fenmeno acorrido, o que mais importante, porquanto, sendo um cptico e um decepcionado, era por isso mesmo o observador melhor indicado para analisar serena e desapaixonadamente o que se desenrolava diante de si e se a tais consideraes se acrescenta a circunstncia de ter podido observar o fenmeno durante vrios minutos consecutivos, no

  • nos resta seno reconhecer que assistira a um magnfico fenmeno de "transfigurao" (fenmeno cuja existncia ignorava), mediante o qual, presumivelmente, um defunto, cujos parentes se achavam presentes, tentara reproduzir a cena da prpria morte com o escopo de reconhecimento. , pois, bem deplorvel que o discurso da "presidente" tivesse impedido os assistentes de prestar ateno ao que se passava, espontaneamente, diante deles.

    No que se refere classificao das manifestaes, tudo concorre para demonstrar que se tratava de um fenmeno de transfigurao verdadeiro, porquanto se notaram na mesma alguns sinais de adio ectoplsmica sobre o rosto do mdium, tais como as "costeletas" que, partindo das orelhas, se prolongavam at o queixo do rosto msculo que se veio sobre por ao outro, feminino. Acrescente-se que o fato do percipiente insistir sobre a aparncia indistinta dos traos daquele rosto tende a reforar a mesma tese, porquanto se deveria presumir que os traos indistintos derivassem de uma produo imperfeita da materializao, o que equivale a admitir a existncia de um processo de exteriorizao ectoplsmica.

    Observo que o percipiente teve a impresso de que o fenmeno consistisse em uma mscara de ectoplasma concretizada, no se sabe como, sobre o rosto do mdium e tal observao adquire valor terico pelo fato de quem assim se exprime um profano, absolutamente ignorante da tcnica dos fenmenos a que assistiu, o que leva a reconhecer que a semelhana de sua expresso com as de vrios outros que assistiram a idntico fenmeno tende a fazer presumir que, para a classe das manifestaes em apreo, deva realizar-se algo de semelhante.

  • Observo, enfim, que nas experincias medinicas do gnero, como tambm algumas vezes fora delas (veja-se o caso V), se repete freqentemente o interessante fato da manifestao espontnea dos fenmenos de "transfigurao", conquanto o mais das vezes isso sucede sob a forma menos interessante da "adaptao dos msculos faciais", adaptao, porm, que muitas vezes levada a tais extremos (no realizveis normalmente) que chega representao de uma terceira pessoa defunta. Viu-se, ao contrrio, que, no caso exposto, se bem que estivesse presente um mdium dotado de faculdades supranormais diversas, o fenmeno assume valor de transfigurao ectoplsmica.

    Agora, assaz difcil explicar-se tais formas de transfigurao espontnea, se no se recorrer interveno de uma entidade de defunto que se tivesse apoderado do organismo do "sensitivo" em condies de sono. Assim, por exemplo, no caso V., em que se trata de um filho que vela o pai adormecido e v transformar-se o seu rosto no da prpria me, enquanto a camareira nota, espontaneamente, o mesmo fato, em um caso semelhante, o nico modo de explicar