era uma vez... histórias para você

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    Histrias reunidas por Carmlia Cndida

    Maro/2010

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    E sta coleo traz contos que venho coletando ao longo de anos de trabalho com o contadora de histrias. E u a preparei pensando em reunir e organizar esses contos num nico volum e e tam bm pensando em oferec-la com o presente a outros contadores de histrias.

    A qui tem histrias que chegaram a m im enviadas por outros contadores, h histrias que garim pei na internet, outras que d igitei e h algum as que so reescritas m inhas. Coloquei a fonte sem pre que possvel; s no o fiz nos casos em que no m e lem bro delas.

    A coleo est dividida em duas partes. A prim eira traz contos m ais infantis; a segunda, m ais voltados para adolescentes e adultos. M inha inteno ao fazer isso no foi classificar rigidam ente as histrias, apenas organiz-las, um a vez que classificar histrias por idade relativo, pois isso depende m uito da relao e do grau de intim idade que o contador tem com os ouvintes.

    A gradeo aos am igos gentes das m aravilhas G lauter P icol (A ngra dos R eis) e A ndrea Cozzi (B elm do P ar), com panheiros de m uitas partilhas e trocas h uns bons anos. A gradeo a W ilson B arbosa (SP ), que tam bm j trocou m uitas figurinhas com igo, e a outros contadores que se fazem presente nesta coleo por m eio de histrias que m e enviaram , L ucy (SP ) e M aria C lara Cavalcanti (G rupo Confabulando, R J).

    E spero que gostem ! B oa leitura e tim as contaes! U m superabrao cheio de histrias para contar!

  • H istrias falam direto ao corao. Q uando elas chegam , entram e vo se acom odando E o corao se exalta, se exulta, se acalenta. F ica cheio de satisfao e enternecim ento.

    (Carm lia Cndida)

    Carm lia Cndida de Par de M inas M G . contadora de h istrias e tem um ba onde coloca seus guardados na internet: carm eliacandida.blog.terra.com .br

  • ndice PARTE I Macaquinho ........................................................................................ 6 Pituchinha ................................................................................... 8 A formiguinha e a neve .................................................................. 11 Os sete cabritinhos ...................................................................... 15 Dona Baratinha .......................................................................... 18 O coqueiro encantado ................................................................... 21 A ona e o bode ........................................................................... 24 Almofadinha de ouro .................................................................... 27 O mgico e o camundongo ............................................................. 30 O pescador, o anel e sua mulher ..................................................... 31 PARTE II Dois ces ..................................................................................... 34 A serpente e o vaga-lume .............................................................. 35 Menino Azul ................................................................................ 36 Fbula da Convivncia ................................................................. 37 No esquea o principal ................................................................ 38 A lenda do pssaro Cabea de Vento ................................................ 39 A menina e o pssaro encantado .................................................... 40 Lenda do urutau .......................................................................... 41 A mulher esqueleto ...................................................................... 44 As trs laranjas mgicas ............................................................... 46 A mentira e a verdade .................................................................. 48 O homem sem sorte ...................................................................... 51 A ratoeira .................................................................................... 55 A histria do gato ........................................................................ 57 Quem te matou? .......................................................................... 60 Os macacos ................................................................................. 63 A lenda do girassol ....................................................................... 65 A visita da comadre morte ............................................................ 66 Os bigodes do leo ....................................................................... 69 A noiva teimosa ........................................................................... 71 A serpente de ouro ....................................................................... 74 Uma ideia toda azul ..................................................................... 76 A pequenina luz azul .................................................................... 78 A lenda dos sapatos vermelhos ...................................................... 82 Deus nunca era .............................................................................. Se bom ou ruim, s o tempo dir ...................................................

    86 87

  • PARTE I

  • 6

    Macaquinho

    Todas as noites o macaquinho passava pra cama do pai e ficava mexendo, e pulando, e dando chute, e no deixava o pai dormir. Canto: Macaquinho, sai da (bis) Voc tem sua cama pra se deitar Papai quer dormir Porque voc no volta pra l? Macaquinho - Por que eu t com frio. O pai macaco cobriu o macaquinho com lenol, mas depois de um tempo l estava o macaquinho de novo na cama do pai, Canto: Macaquinho, sai da (bis) Voc tem sua cama pra se deitar Papai quer dormir Por que voc no volta pra l? Macaquinho - Por que eu t com fome.

  • 7

    O pai macaco deu mamadeira pro macaquinho, mas no adiantou. Depois de um tempo, j tava de novo na cama do pai. Canto: Macaquinho, sai da (bis) Voc tem sua cama pra se deitar Papai quer dormir Por que voc no volta pra l? Macaquinho - T com vontade de fazer xixi. Cada dia o macaquinho dava uma desculpa: medo, cama apertada... at que um dia ele falou a verdade. Macaquinho - Eu quero ficar na sua cama porque fico com saudades de voc. A o pai macaco entendeu. E comeou a brincar com o macaquinho todas as vezes que chegava do trabalho, ao invs de s ver televiso. O macaquinho ficou todo feliz e nunca mais passou pra cama do pai. E nunca mais o pai macaco precisou cantar: Canto: Macaquinho, sai da (bis) Voc tem sua cama pra se deitar Papai quer dormir Por que voc no volta pra l? Ronaldo Simes Coelho. Macaquinho. Belo Horizonte, L, 1985

    Adaptao: Nick Zarvos e Bia Bedran Esta e outras histrias podem ser lidas no blog do grupo Cirandeiros do Conto. Visite: cirandeiras.blogspot.com

  • 8

    PituchinhaPituchinhaPituchinhaPituchinha

    Numa loja de brinquedos, moravam muitas bonecas e bonecos bem juntinhos nas prateleiras. Durante o dia, a loja ficava cheia de gente: mes, tias, avs e amigos procurando presentes para dar s crianas.

    Quando a noite chegava, as luzes se apagavam, as portas se fechavam para s abrir novamente na manh seguinte.

    Todos os brinquedos deviam ficar bem quietinhos para no fazer baguna na loja.

    O problema que nem todos conseguiam...

    - Ol! Eu sou a Pituchinha, uma boneca muito levadinha, que vive se metendo em confuso. Hoje queria ficar bem quietinha na noite, mas vi quando chegou aquele maravilhoso doce de leite, que foi guardado l na cozinha... Mmmm, que fome! O que fazer?

    Olhei para um lado e para outro da prateleira onde estava, e logo achei meus melhores amigos: Pompom e Polichinelo.

  • 9

    - Vamos dar um passeio na cozinha para comer s um pouquinho de doce de leite?

    - Eu quero, disse Pompom.

    - Eu tambm, disse Polichinelo. Mas como vamos enganar o guarda?

    verdade: os brinquedos eram proibidos de sair da estante, e durante toda a noite o guarda tomava conta da loja. A tudo ele vigiava e, quando dormia, era com um olho aberto e o outro fechado. Depois trocava: um olho aberto e o outro fechado... No parava nunca, nem deixava de ver nadinha!

    - J sei! Vamos bem de mansinho, andando s quando ele fechar um dos olhos, depois paramos todos juntos.

    E assim foram bem devagarinho: p c, p l... p c, p l ... p c, p l ...

    E chegaram cozinha escura. O guarda no viu nada.

    Todos procuraram pelo pote de doce de leite, mas acabaram descobrindo que ele foi guardado l no alto, dentro do armrio.

    Pompom esticou bem seus bracinhos, mas suas mos no alcanavam a porta de cima do armrio da cozinha.

    Polichinelo tambm tentou, se esticando todo, mas no conseguiu chegar perto.

    A Pituchinha ento disse:

    - Cada um de ns sozinho nunca vai provar aquele delicioso doce de leite que est l em cima. Meu plano subirmos uns nos ombros dos outros para alcan-lo, e ento...

    Todos gostaram da idia, e foram logo fazendo. Primeiro foi Polichinelo, que era o mais forte. Depois Pompom subiu em seus ombros, e por ltimo subiu a Pituchinha, que esticou bem os bracinhos e abriu a porta de cima do armrio. O pote de doce de leite estava l no fundo, e sua mozinha estava quase conseguindo agarr-lo. Deu mais uma esticadinha, tentou uma puxadinha e ento...

    O pote de doce de leite escorregou, voou na parede e ...

    Bum!

  • 10

    Espalhou doce para todo lado. E o pior, com o barulho, na certa o guarda iria peg-los...

    E pegou. Ficou muito zangado com aquela baguna toda, que ele no queria limpar.

    Foi ento que teve uma idia: guardou cada bonequinho em sua caixinha, bem preso por uma fita, para s se soltar na casa da criana que ganhar aquele brinquedo.

    Desse dia em diante, as lojas de brinquedo passaram a guardar seus bonecos bem fechadinhos em caixinhas - para que no faam baguna na loja de noite. J reparou como eles vm bem embaladinhos?

    Fonte: http://www.feijo.com/~flavia/pituchinha.html

  • 11

    A Formiguinha e a NeveA Formiguinha e a NeveA Formiguinha e a NeveA Formiguinha e a Neve

    Certa manh de inverno, uma formiguinha saiu para o seu trabalho dirio.

    J ia muito longe a procura de alimento, quando um floco de neve caiu e

    prendeu o seu pezinho.

    Aflita, vendo que no podia se livrar da neve, iria assim morrer de fome e

    frio, voltou-se para o sol e disse:

    - sol, tu que s to forte, derrete a neve que

    prende o meu pezinho!

    E o sol indiferente nas alturas, falou:

    - Mais forte do que eu, o muro que me

    tapa.

    Olhando, ento para o muro, a

    formiguinha pediu:

    - muro, tu que s to forte, que tapas o

    Sol que derrete a neve, desprende meu pezinho.

    E o muro que nada v e muito pouco fala, respondeu apenas:

  • 12

    - Mais forte do que eu, o rato que me ri!

    Voltando-se ento, para um ratinho que

    passava apressado, a formiguinha suplicou:

    - rato, tu que s to forte, que ris o muro que tapa o sol que derrete a

    neve, desprende meu pezinho.

    Mas o rato, que tambm ia fugindo do frio, gritou de

    longe:

    - Mais forte do que eu, o gato que me come!

    J cansada, a formiguinha pediu ao gato:

    - gato, tu que s to forte, que comes o rato, que ri o muro, que tapa o

    sol, que derrete a neve, desprende o meu pezinho.

    E o gato sempre preguioso, disse bocejando:

    - Mais forte do que eu, o co que me

    persegue! Aflita e chorosa, a pobre

    formiguinha pediu ao co:

    - co, tu que s to forte, que persegues

    o gato, que come o rato, que ri o muro,

    que tapa o sol, que derrete a neve,

    desprende meu pezinho.

    E o co, que ia correndo atrs de uma raposa, respondeu sem parar:

    - Mais forte do que eu, o homem que me bate!

  • 13

    J quase sem foras, sentindo o corao

    gelado de frio, a formiguinha implorou ao

    homem:

    - homem, tu que s to forte, que bates no

    co, que persegue o gato, que come o rato,

    que ri o muro, que tapa o sol, que derrete a

    neve, desprende o meu pezinho.

    E o homem, sempre preocupado com o seu trabalho, respondeu apenas:

    - Mais forte do que eu, a morte que me mata.

    Trmula de medo, olhando para a morte que se aproximava, a pobre

    formiguinha, suplicou:

    - morte, tu que s to forte, que matas o

    homem, que bate no co, que persegue o

    gato, que come o rato, que ri o muro, que

    tapa o sol, que derrete a neve, desprende

    meu pezinho.

    E a morte, impassvel, respondeu:

    - Mais forte do que eu, Deus que me governa!

    Quase morrendo, ento a formiguinha rezou baixinho:

    - Meu Deus, tu que s to forte, que governas a morte, que mata o

    homem, que bate no co, que persegue o gato, que come o rato, que ri o

    muro, que tapa o sol, que derrete a neve, desprende meu pezinho.

    E Deus ento, que ouve todas as preces, sorriu,

    estendeu a mo, por cima das montanhas e

    ordenou que viesse a primavera

  • 14

    No mesmo instante, no seu carro de veludo e ouro, a primavera desceu por

    sobre a Terra. Enchendo de flores os campos, enchendo de luz os

    caminhos.

    E vendo a formiguinha quase morta, gelada

    pelo frio, tomou-a carinhosamente entre as

    mos e levou-a para seu reino encantado.

    Onde no h inverno, onde o sol brilha

    sempre, e onde os campos esto sempre

    cobertos de flores!

    Fonte: http://voteldobrasil.blogspot.com/2009_04_01_archive.html

  • 15

    Os sete cabritinhosOs sete cabritinhosOs sete cabritinhosOs sete cabritinhos

    XXXXra uma vez uma cabra, que morava com seus sete cabritinhos em uma linda casinha com quintal e jardim. Naquela manh, estavam todos assistindo televiso antes de mame sair para o mercado, fazer compras. A notcia de ltima hora dizia:

    - Cuidado: h um lobo mau solto por a. Foi visto pela ltima vez fugindo para perto do rio. Todos estamos trabalhando para ca-lo, mas at agora ele continua solto. As crianas devem ficar em casa at que ele esteja bem preso.

    - Ah! Logo hoje que amos comear nosso clube novinho l fora! Mame cabra no quis saber: falou srio com seus sete cabritinhos, e todos entenderam muito bem.

    - Ningum sai de casa hoje enquanto vou ao mercado. A porta fica fechada com a chave. No abram para ningum. Vocs conhecem a mame: quando voltar, chamarei pela janela com minha voz de sempre, e baterei de levinho no vidro com minha pata clarinha e de unhas curtas. Aprendam que o lobo mau tem um vozeiro terrvel e uma pata escura enorme cheia de unhas gigantes. Muito cuidado!

    - Est bem, ento. Pode confiar em ns. Vamos ficar bem atentos. E l se foi a cabra para as compras ...

    Encontrou sua amiga no caminho, e foi logo comentando como estava preocupada em sair para o mercado com aquele lobo mau solto por a... O que elas no sabiam, que o lobo mau disfarado estava ali bem pertinho escutando tudo, e pensando: "Sete cabritinhos sozinhos em casa, e eu com tanta fome!"

    Correu para a casa, jogando fora seu disfarce, tentou abrir a porta, e viu que estava trancada.

    - Abram a porta! Est trancada! - No vamos abrir nada, seu lobo bobo. A voz da mame suave e macia, s

    vamos abrir para ela! Ento o lobo ficou furioso. Tinha que ter alguma idia. Aqueles cabritinhos

    s iam abrir para a me, mas como engan-los? Ah! O lobo correu at a

  • 16

    confeitaria, escolheu a melhor torta de ma e mel, que engoliu inteirinha, querendo adoar a voz. Treinou falar cantadinho como as mes dos outros.

    -Abram a porta! a mame! Aquela no parecia mais a voz do lobo, e os cabritinhos ficaram em dvida

    se a me tinha ficado com esta voz diferente. Lembrando dos conselhos recebidos, eles disseram:

    - Se a mame, mostre sua patinha na janela. E o lobo, pego de surpresa, mostrou mesmo. - V embora seu lobo mau! As patinhas da mame so bem clarinhas! E sem

    garras! Ento o lobo teve outra idia: correu at o moinho e afundou as patas na

    farinha branquinha, para enganar os tolos. Bateu de volta na porta, ainda adoando a voz, e novamente foi parar com a pata na janela: desta vez ele encolheu bem as unhas:

    Os cabritinhos ficaram em dvida, olharam uns para os outros, e resolveram abrir a porta. Para que?

    Foi uma correria danada, todos tentando se esconder. Tinha cabritinho

    escondido na ,tambm tinha na , na lareira, nos armrios, em baixo da mesa, em toda parte. O lobo foi caando um por um, engolindo por inteiro cada cabritinho de tanta fome que estava. Perdeu a conta de quantos cabritinhos j tinham entrado naquele barrigo cheio, e foi embora, pensando no ter deixado sobrar nenhum.

    Estava enganado: apenas o cabritinho pretinho no foi encontrado em seu esconderijo:

    O tic-tac tic-tac atrapalhou o ouvido do lobo, que no ouviu o coraozinho

    assustado que estava escondido l dentro. Quando mame cabra viu a porta aberta, j entrou esperando pelo pior. -O lobo levou todos os meus filhinhos! - Todos, no mame. Eu ainda estou aqui! Os dois se abraaram muito, e decidiram ir atrs do lobo, para ver se

    ainda podiam salvar os irmozinhos. Correram em direo ao rio, onde souberam pela TV que era o esconderijo dele. Ao chegarem perto, logo ouviram um som terrvel: ROM... URM... ROM... Era o lobo roncando, dormindo sob as rvores na beira do rio.

  • 17

    Mame cabra teve uma idia, e disse ao filho: - No faa nenhum barulho para no acordar o lobo. Corra com toda sua

    velocidade at l em casa, e traga a cesta de costura da mame: veja que tenha tesoura, agulha e linhas.

    O cabritinho nem respondeu: saiu correndo como o vento, e logo estava de volta com sua encomenda.

    Mame cabra no perdeu tempo: com sua foi abrindo o barrigo do lobo enquanto ele estava dormindo. Logo foram saltando vivinhos, um por um, os seis cabritinhos que ele tinha engolido. A todos mame pedia silncio. Quando todos saram, ela disse em segredo:

    - Vo procurar as pedras maiores e mais pesadas que encontrarem, mas no faam barulho, nem demorem.

    Logo chegavam pedras em quantidade suficiente: mame colocou todas na barriga do lobo, e costurou rpido com agulha e linha. Ento foram todos se esconder.

    Quando o lobo acordou, sentiu a barriga muito pesada e a boca muito seca. Levantou-se com muito esforo, e quase no conseguiu ficar de p ("foram seis ou sete cabritinhos?"). E foi se arrastando at o rio querendo beber gua. A correnteza estava forte, e o lobo com a barriga cheia de pedras acabou indo parar no fundo do rio, de onde nunca mais saiu.

    E todos puderam comemorar o fim do malvado, e a sorte de todos os pequenos, que agora corriam livres pelo caminho para casa, para um novo dia.

    Fonte: http://www.feijo.com/~flavia/7cabritinhos.html

  • 18

    Dona BaratinhaDona BaratinhaDona BaratinhaDona Baratinha

    Era uma vez uma baratinha que varria o salo quando, de repente, encontrou

    uma moedinha:

    - Oba! Agora fiquei rica, e j posso me casar!

    Este era o maior sonho da Dona Baratinha, que queria muito fazer tudo

    como tinha visto no cinema. Ento, colocou uma fita no cabelo, guardou o dinheiro

    na caixinha, e foi para a janela cantar:

    - Quem quer casar com a Dona Baratinha, que tem fita no cabelo e dinheiro

    na caixinha?

    Um ratinho muito interesseiro estava passando por ali, e ficou imaginando o

    grande tesouro que a baratinha devia ter encontrado para cantar assim to feliz.

  • 19

    Tentou muito chamar sua ateno e dizer: "Eu quero! Eu quero!" Mas ele era muito

    pequeno e tinha a voz muito fraquinha e, enquanto cantava, Dona Baratinha nem

    ouviu.

    Ento chegou o co... com seu latido forte, foi logo dizendo: - Eu quero! Au!

    Au!

    Mas, Dona Baratinha se assustou muito com o barulho dele, e disse:

    - No, no, no, no quero voc no, voc faz muito barulho!

    E o cachorro foi embora.

    O ratinho pensou: agora minha vez! Mas...

    - Eu quero, disse o elefante.

    Dona Baratinha, com medo que aquele animal fizesse muito barulho, pediu

    que ele mostrasse como fazia. E ele mostrou o barulho que fazia.

    - No, no, no, no quero voc no, voc faz muito barulho!

    E o elefante foi embora.

    O ratinho pensou novamente: "Agora a minha vez!", mas...

    Outro animal j ia dizendo bem alto: "Eu quero! Eu quero!"

    E Dona Baratinha perguntou:

    - Como o seu barulho?

    - GRRR!

    - No, no, no, no quero voc no, voc faz muito barulho!

    E vieram ento vrios outros animais: o rinoceronte, o leo, o papagaio, a

    ona, o tigre ... A todos Dona Baratinha disse no: ela tinha muito medo de barulho

    forte.

    E continuou a cantar na janela:

    - Quem quer casar com a Dona Baratinha, que tem fita no cabelo e dinheiro

    na caixinha?

    Tambm veio o urso, o cavalo, o galo, o touro, o bode, o lobo, ... nem sei

    quantos mais. A todos Dona Baratinha disse no. J estava quase desistindo de

  • 20

    encontrar aquele com quem iria se casar. Foi ento que percebeu algum pulando,

    exausto de tanto gritar: "Eu quero! Eu quero!"

    - Ah! Achei algum de quem eu no tenho medo! E to bonitinho! - disse a

    Dona Baratinha. Enfim, podemos nos casar!

    Ento, preparou a festa de casamento mais bonita, com novas roupas,

    enfeites e, principalmente, comidas. Essa era a parte que o Ratinho mais esperava:

    a comida. O cheiro maravilhoso do feijo que cozinhava na panela deixava o Ratinho

    quase louco de fome. Ele esperava, esperava, e nada de chegar a hora de comer. J

    estava ficando verde de fome!

    Quando o cozinheiro saiu um pouquinho de dentro da cozinha, o Ratinho no

    aguentou:

    - Vou dar s uma provadinha na beirada da panela, pegar s um pedacinho de

    carne do feijo, e ningum vai notar nada...

    Que bobo! A panela de feijo quente era muito perigosa, e o Ratinho guloso

    no devia ter subido l: caiu dentro da panela de feijo, e nunca mais voltou.

    Dona Baratinha ficou muito triste que seu casamento tenha acabado assim.

    No dia seguinte, decidiu voltar janela novamente e recomear a cantar,

    mas... Desta vez iria prestar mais ateno em tudo o que era importante para ela,

    alm do barulho, claro!

    - Quem quer casar com a Dona Baratinha, que tem fita no cabelo e dinheiro

    na caixinha?

    Recolhida na internet

  • 21

    b Vx| Xvttwb Vx| Xvttwb Vx| Xvttwb Vx| Xvttw

    ````uito longe daqui, numa pequena povoao, vivia antigamente um pobre padeiro. Esse padeiro tinha um filho. Roberto era o seu nome , mas todos o conheciam por Betinho. Direi que Betinho era um menino esperto, obediente e trabalhador.

    Um dia, Betinho, depois de fazer sua tarefa (arrumar a casa e varrer o quintal), foi dar um passeio por uma grande mata que havia perto de sua casa. Ora, junto da estrada, havia um velho coqueiro. Notou Betinho que o coqueiro estava cheio de formigas.

    -Que pena -pensou Betinho - essas formigas so bem capazes de matar esse coqueiro.

    E, apanhando dois galhos secos, comeou a bater nas formigas e tanto bateu, tanto bateu, que elas fugiram. Quando Betinho havia acabado de salvar o coqueiro, livrando-o das formigas, ouviu vozes no meio da mata.

    - Que seria?

    Betinho era curioso e resolveu espiar. Foi bem devagarinho, p ante p, escondeu-se atrs de uma rvore e espiou. Era de assustar o mais valente. Debaixo de uma grande figueira avistou Betinho uma mulher, muito velha, vestida de preto com uma vassoura na mo. Compreendeu Betinho que a velha do vestido preto era uma feiticeira. E diante dela estavam trs bichos: um macaco, um porco e um tatu.

    A feiticeira falava:

    L, l, l, Vamos comear. L, l, l, Vamos comear!

    E, nisso, o macaco apontou para o lugar em que se achava o Betinho:

    - Rum! Rum! Rum!

    A feiticeira voltou-se e avistou o vulto de Betinho. E gritou, furiosa:

    - Vamos agarrar aquele menino!

    Ao ouvir aquelas palavras, Betinho correu para a estrada e, mais que depressa, subiu no coqueiro.

  • 22

    A feiticeira chegou junto do coqueiro e gritou alto:

    Desce coqueiro que eu quero pegar o filho do padeiro!

    O coqueiro foi diminuindo, diminuindo, mas quando a velha de preto ia agarrar o Betinho, ele, tremendo de susto, implorou:

    -Sobe coqueiro que eu te livrei do formigueiro!

    O coqueiro, ao ouvir a voz do menino, cresceu, cresceu, cresceu e levou o menino l para cima. A feiticeira gritou:

    -Desce coqueiro que eu quero pegar o filho do padeiro.

    O coqueiro foi diminuindo, diminuindo, at ficar deste tamanhinho. Mas quando a feiticeira ia agarrar o Betinho, este, assustado gritou:

    -Sobe coqueiro Que eu te livrei do formigueiro!

    O coqueiro, ao ouvir a voz do seu amigo, cresceu, cresceu, cresceu, ficou to alto, que o menino, l em cima, parecia pequenininho.

    Vendo a feiticeira que no conseguia agarrar o menino (pois o coqueiro descia e subia de novo) chamou o macaco de disse-lhe:

    -Vem macaco Matreiro sobe no coqueiro e traz de l de cima o filho do padeiro.

    O macaco resolveu subir no coqueiro, mas quando chegou no meio do coqueiro este comeou a tremer, a tremer tanto que o macaco caiu, de quatro no cho. A feiticeira, furiosa, bateu com a vassoura no macaco e o macaco fugiu para o mato. A feiticeira chamou, ento, o tatu:

    -Vem tatu do salseiro

  • 23

    derruba este coqueiro e tira l de cima o filho do padeiro.

    O tatu comeou a cavar o cho para derrubar o coqueiro. De repente uma raiz do coqueiro saiu de dentro da terra, bateu com tanta fora no focinho do tatu, que o tatu rolou tonto pelo cho no meio das pedras e depois, roncando de dor, fugiu para o mato.

    Ento a feiticeira chamou o porco:

    -Vem porco porqueiro derruba este coqueiro e tira l de cima o filho do padeiro.

    O porco quis roer o p do coqueiro, mas o coqueiro tinha a casca to grossa que quebrou os dentes do porco. E o porco grunhindo de dor, fugiu para o mato.

    A feiticeira, vendo que no conseguia agarrar o menino, comeou a atirar pedras e mais pedras. O coqueiro, porm, balanava de um lado para o outro, de modo que a feiticeira no acertava no Betinho.

    Mas Betinho, com aquele balano, estava ficando tonto e j estava cansado. Vendo que o coqueiro era seu amigo, disse baixinho:

    -Coqueiro coqueirinho meu amiguinho s de brincadeira atira um coquinho na feiticeira.

    Ora, o coqueiro largou, l de cima, um cco e acertou bem no cocuruto da feiticeira. O cco fez:

    - Pum!

    E saltou para cima como uma bola! A feiticeira soltou um grito e fugiu para o mato e nunca mais apareceu. A, ento, o coqueiro foi-se abaixando, abaixando, e Betinho saltou para o cho.

    E desse dia em diante, tornou-se Betinho amigo no s do coqueiro como de todas as rvores, pois ele sabia bem que as rvores , boas, so teis e protegem os meninos.

    Fonte: A Arte de Ler e Contar Histrias de Malba Tahan, Editora Conquista, 1961

  • 24

    T t x uwxT t x uwxT t x uwxT t x uwx

    Esta uma das histrias que o meu pai me contava quando eu era criana. Eu adorava ouvi-la, e por isso que vou cont-la pra vocs

    A ona estava procurando um lugar pra fazer sua casa. Procurou, procurou, at que achou um terreno ajeitadinho, todo plano, perfeito para sua construo. Ela ficou muito animada e foi embora cuidar de suas obrigaes, mas falou: amanh cedo eu venho fazer a capina e preparar o terreno pra levantar meu barraco.

    O bode tambm estava procurando um lugar pra fazer sua casa. Tinha trabalhado numa fazenda a vida toda e estava prestes a se aposentar. Ento ele procurou, procurou, at que achou um lugar no jeito pra construir, planinho, planinho. Como j tinha terminando o servio l na fazenda, na mesma hora tratou de fazer a capina e deixar o terreno pronto para construo. E falou: amanh de tarde, quando eu acabar minha lida, venho aqui pra fazer o alicerce. E foi embora, feliz da vida.

    No outro dia cedo, a Dona Ona chega no terreno que escolheu e no acredita: Meu Deus do cu, mas o Senhor bom demais pra mim! T querendo me ajudar! J limpou meu terreno! Agora ento eu vou fazer o alicerce! E a ona trabalhou a manh inteira e mais um pedacinho da tarde. Quando o alicerce estava prontinho, ela olhou, feliz da vida e falou: Agora eu vou cuidar das minhas obrigaes, mas amanh eu volto cedo para levantar as paredes.

    Ah, a ona seguiu pra um lado, e, da a pouco, l vem o bode do outro. Quando o bode chega, olha o terreno e v que o alicerce j est construdo, ele fica alegre demais. , meu Deus, mas o Senhor t me ajudando demais! Obrigado! Agora, ento, eu vou levantar as paredes. E assim o bode fez. Trabalhou at o anoitecer, e quando ele acabou, sentiu-se todo satisfeito. E falou: Amanh de tarde, quando eu acabar a lida, venho depressa pra c para fazer o telhado.

    No outro dia bem cedo, quando a ona chega, olha e v aquelas belezuras de paredes levantadinhas, ela olha para o cu e fala: , meu Deus, obrigada, obrigada! Como o

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    Senhor bom pra mim, S! Agora, ento, eu vou fazer o telhado. E a ona trabalhou l a manh inteirinha, e quando ela acabou, o telhado tinha ficado uma beleza. Amanh cedo eu volto e vou pr as portas e as janelas.

    A ona foi embora. Ah, da a pouco, chega o bode. Quando o bode v que a casa est cobertinha, ele nem acredita: , meu Deus, isso bondade demais! O Senhor t mesmo ajudando este filho seu. Que que eu vou fazer agora? Vou colocar as portas e as janelas! E o bode trabalhou a tarde todinha at um pedacinho da noite. Ps as portas, as janelas e pintou toda a casa com tinta de cor bem bonita. E quando ele foi embora, deixou a casa prontinha. Amanh de tarde eu trago minha mudana.

    No outro dia cedinho, l vem a ona, toda animada. Quando ela para na frente da casa e v as portas e as janelas v a casa pintadinha (Estava bonito demais da conta.!) Ah, os olhos da ona at se encheram de lgrimas. Ela ajoelhou, agradeceu a Deus. Como Deus era bom! Ento tratou de fazer uma limpeza na casa e foi embora arrumar sua mudana. No incio da tarde eu estarei de volta, casinha minha!

    Quando a tarde chegou

    De um lado, l vem o bode com sua mudana, todo feliz. E do outro lado quem vem? A ona! Toda assanhada porque iria se mudar para a casa S DELA.

    Mas, de repente, se encontram bem na porta da casa, a ona e o bode. Todos os dois querendo entrar.

    - Espera a, seu bode! Aonde que o senhor pensa que vai com essas tralhas? - Eu estou mudando pra minha casa, uai. Que eu constru com a ajuda Deus Nosso Senhor . - O qu? Essa casa aqui? Essa casa minha! Eu que constru , e com a ajuda de Deus! - Ah, dona ona. Na-na-nin-na-no! Pois fui eu que limpei o terreno, levantei as paredes, pus as porta s e janelas e pintei tudinho.

    - Muito bem, senhor bode! Mas fui eu quem fez o alicerce, o telhado e toda a faxina.

    Ai, Deus, e agora? Os dois tinham trabalhado na casa!

    A ona no arredava o p. Falou que a casa era dela e que no ia perd-la. O bode virou um estaca na porta da casa. Falou que tinha o mesmo direito que a ona.

    E os dois conversaram, conversaram at que chegaram num acordo. J que os dois tinham feito a casa, os dois tinham direito a ela. E combinaram de morar juntos, embora nenhum dos dois estivesse nem um pouco satisfeito com a idia. Mas a ona falou:

    - u, est bem. Mas eu vou te avisar uma coisa: o dia que eu olhar pra voc com os olhos arregalados e raspar a pata no cho, voc tome cuidado porque nesse dia eu estarei perigosa. Ento voc saia de perto.

    Enquanto ela foi falando o bode j foi matutando o que ia dizer:

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    - Est bem. Mas tambm vou te avisar: o dia que eu olhar pra voc e minha barba tiver repuxando, tome cuidado que nesse dia estarei perigoso. No fique por perto, no.

    E os dois passaram a viver juntos, se respeitando. Mas a verdade que nenhum queria o outro ali. E a verdade tambm que morriam de medo um do outro.

    E o tempo foi passando. Eles foram agentando At que chegou um dia que a ona se encheu e pensou: hoje! O bode? No que ele estava pensando a mesma coisa?

    A ona, ento, arregalou os olhos encarados no bode - comeou a fungar e a raspar a pata no cho. Quando o bode viu aquilo, ele levou um susto. Mas se recomps e passou a encarar a ona, bufando e repuxando a barba.

    Ficaram naquilo ali uns instantes: um pra atacar o outro. Mas todos dois morrendo de medo! E o medo foi maior que a coragem. O bode saiu em disparada para um lado, e a ona saiu para o outro. Nenhum dos dois olhou para trs.

    - O qu? Viver dia e noite com aquela estranha? Morrendo de medo dela? pensou o bode.

    - O qu? Ficar com aquele esquisito o tempo todo e viver com medo? Deus Me livre! pensou a ona.

    O que aconteceu foi quem cada um fugiu pra um lado e nunca mais nenhum quis saber de voltar ali. E a casa? Ah depois de um tempo, um senhor, que tinha perdido sua casa na enchente, se apossou dela. Levou a famlia, se acomodaram ali e viveram muito felizes. E a ona e o bode? Ah, devem ter construdo outra casa, s que bem longe um do outro.

    E boi no vaca; feijo no arroz. Quem quiser, que conte dois!

    Conto popular contado por Carmlia Cndida

    Disponvel em: carmeliacandida.blog.terra.com.br

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    Tytw|{t wx Tytw|{t wx Tytw|{t wx Tytw|{t wx

    XXXXra uma vez uma menina muito bonita e graciosa, filha nica, e que teve a infelicidade de ficar rf da me. Seu pai ainda ficou e casou novamente, com uma viva que tinha uma filha, pondo-se mocinha e muito feia e orgulhosa. A madrasta, na presena do marido, tratava a enteada bem, mas como esse vivia viajando, vingava-se, obrigando-a a trabalhos pesados, como lavar roupa, limpar a estrebaria, o galinheiro, a casa inteira, etc.. A mocinha comeou a viver amargurada e sofrendo toda a espcie de privaes e insultos. De tanto padecer, perdeu a pacincia e achou que o remdio era fugir daquele purgatrio. Antes de tomar essa deciso, a moa rezava todas as noites Nossa Senhora, que era sua madrinha, pedindo que lhe ensinasse os caminhos do bom proceder. Nossa Senhora virou-se numa velhinha e falou com ela no caminho do rio, explicando tudo. Abenoou-a e lhe deu uma almofadinha de ouro que era encantada. Quando precisasse de alguma coisa, pedisse almofadinha de ouro que fora dotada por Deus com poderes. Deixando a casa, a moa andou muitos dias, com fome e sede, e acabou encontrando uma ocupao num palcio vistoso, residncia de um prncipe solteiro e muito agradvel. A moa, para no causar suspeitas e despertar maldades, sujou o rosto e andava to imunda que s lhe deram o servio de tratar das galinhas e dos porcos, dormindo no fundo do quintal, num quartinho escuro e isolado do palcio. Dia vai e dia vem, anunciaram trs dias de festas e toda a gente ficou influda para esse divertimento preparando as roupas novas, encomendando os arranjos e fazendo clculos. O prncipe era um dos mais alegres e as moas da cidade desejavam que ele se engraasse de uma delas e casasse, por ocasio das festas. Chegando o primeiro dia, o prncipe foi para o baile e os empregados do palcio fugiram para ver as luzes e a entrada das pessoas que iam danar. A princesa-velha, me do prncipe, foi tambm. Ficando sozinha, a moa tomou banho, penteou-se e pediu almofadinha de ouro que lhe desse um vestido cor do campo com suas flores e uma carruagemcom criados. Apareceu, incontinente, o pedido, e a moa vestiu-se e compareceu festa,

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    causando um assombro pela sua formosura e lindeza de traje. O prncipe largou todas as outras e s danou com ela. Como lembrana do encontro, fez-lhe presente um anel. Perto da meia-noite a moa desapareceu, fugindo para casa onde trocou a roupa, o vestido e o carro sumiram. No segundo dia aconteceu a mesma coisa. A moa levou um vestido cor do mar com todos o seus peixinhos e o prncipe ficou encantado por ela, danando, servindo-a e conversando. Deu-lhe uns brincos. Antes da meia-noite a moa no foi encontrada em parte alguma. J estava em casa, suja e feia como habitualmente parecia aos olhos de todos. No terceiro dia, o mesmo sucedido. Desta vez o vestido era da cor do cu com todos os seus astros e a moa encandiava a vista pelo brilho das jias. O prncipe s faltava gritar de contente. Presenteou-lhe um colar e ficou griste quando ela desapareceu, antes da meia-noite. Passados os trs dias, s se falava na cidade naquele assunto da moa desconhecida, com os trs vestidos mais bonitos do mundo. O prncipe procurou-a como um cego procura a luz e no a encontrou em parte alguma. Estava to apaixonado que adoeceu de cama, trancou-se no quarto e s deixava entrar sua me. Todo mundo lastimava a doena do prncipe e os mdicos no tinham mais remdio para aconselhar nem receita que servisse. O prncipe nem queria comer e a princesa-velha fazia as maiores promessas para que o filho se alimentasse, fosse como fosse. Um dia a moa disse princesa-velha que queria fazer um bolo para o prncipe doente. A princesa achou graa no atrevimento, mas tanto a moa pediu e rogou que obteve o consentimento. Preparou-se, foi para a cozinha e fez um bolo dourado, colocando dentro da massa o anel que o prncipe lhe dera na primeira noite do baile. O prncipe nem queria ver a comida, mas sua me tanto pediu que ele cortou um pedao do bolo e, ao levar boca, reparou num objeto que aparecia na parte restante do prato. Puxou com o bico da faca e reconheceu o anel. Comeu todo o bolo, melhorando, e declarou que queria outro bolo feito pela mesma pessoa. A moa fez outro bolo e neste mandou o brinco, que o prncipe achou e ficou certo que a moa estava por perto. Pediu outro bolo e neste veio o colar. Ento sem ter mais dvida, disse princesa-velha que mandasse ao seu quarto quem fizera os trs bolos. A princesa obrigou a moa a mudar de roupa, perfumar-se para tirar o mau cheiro do galinheiro, e disse que se apresentasse ao seu filho. A moa subiu a escada, com a almofadinha de ouro na mo, e assim que bateu na porta, pediu que lhe aparecesse no corpo o vestido do terceiro dia da festa, dos

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    ps cabea. Quando a porta se abriu e ela entrou, o prncipe deu um grito de alegria, levantou-se da cama bonzinho de sade, chamando pela me e mostrando a moa que estava mais bonita do que nas noites passadas. Casaram-se imediatamente, contando a moa sua histria, e foram felizes at a morte. Fonte: http://www.aletria.com.br/historias.asp?id=390

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    O mgico e o camundongo Diz uma antiga fbula que um camundongo vivia angustiado com medo do gato.

    Um mgico teve pena dele e o transformou em gato. Mas a ele ficou com medo de co, por isso o mgico o transformou em pantera. Ento ele comeou a temer os caadores.

    A essa altura o mgico desistiu.

    Transformou-o em camundongo novamente e disse:

    - Nada que eu faa por voc vai ajud-lo, porque voc tem apenas a coragem de um camundongo.

    Fonte: http://voteldobrasil.blogspot.com/2009_04_01_archive.html

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    O PESCADOR, O ANEL E O REI Conto popular - Msica e adaptao: Bia Bedran

    Era uma vez um velho pescador que vivia cantando: Canto: Viva Deus e ningum mais / Quando Deus no quer / ningum nada faz. Mesmo quando sua pesca no era boa, ele cantava com muita f e alegria a sua cantiga. Canto: Viva Deus e ningum mais / Quando Deus no quer / ningum nada faz.

    Um dia, o rei daquele lugar soube da existncia do pescador e quis que ele fosse sua presena, por no admitir que Deus podia mais que tudo no mundo... Esse rei era to poderoso e orgulhoso, que achava que podia at mais que o prprio Deus! E l foi o pescador, subindo as escadas de tapete vermelho do palcio, cantando: Viva Deus... Diante do rei, o pescador no mostrou medo algum, e ainda reafirmou sua f, cantando a mesma cantiga. Ento o rei disse: Rei: Vamos verse Deus pode mais que eu, pescador! Eis aqui o meu anel. Vou entreg-lo aos seus cuidados! Se dentro de 15 dias voc me devolver o anel, intacto, voc ganhar um enorme tesouro, e no precisar mais trabalhar para viver. Porm, se no 15 dia voc no voltar com o anel, mando cortar a sua cabea! Agora v embora... O pescador foi embora e na volta pra casa, cantava: Viva Deus... Quando chegou em casa entregou o anel para a mulher que prometeu guard-lo a sete chaves. Deixe estar que isso no passava de um plano do rei, que logo mandou um criado disfarado de mercador, bater na casa do pescador, quando esteja havia sado para pescar. Criado disfarado: de casa! A velha senhora abriu a porta. Criado: Minha senhora, sou mercador. Vendo e compro anis. A senhora no teria a pelas gavetas um anelzlnho para me vender? Pago bem! E mostrou muito dinheiro. Velha: No tenho no senhor. Aqui casa de pobre. No tem anel nenhum no.

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    Mas a velha ficou surpresa com tanto que o homem mostrava. Acabou caindo na tentao, e vendeu o anel! No fim do dia, o pescador voltou pra casa cantando: Viva Deus... ...Quando chegou em casa, soube do que havia acontecido e ficou desesperado. Pescador: Mulher! Voc no vendeu o anel no; voc vendeu minha cabea! E foram correndo procurar o mercador pela floresta, pela estrada, pela praia, pela aldeia e nada... Claro! essa altura, o criado disfarado de mercador j estava longe, e havia jogado o anel em alto mar, a mando do rei, para que nunca mais ningum pudesse encontr-lo. E: o tempo foi passando... Dcimo dia... O pescador, triste continuava cantando: (mais lento) Viva Deus... Dcimo primeiro dia... E o pescador cantando e pescando... Canto: (ainda mais lento) Viva Deus... At que no penltimo dia, o pescador chamou a mulher e disse: Pescador: Mulher, eu vou morrer... Amanh, minha cabea vai rolar. Vamos nos despedir, com uma ltima refeio. Farei uma boa pescaria. E l foi o pescador, tristemente, cantando sem parar sua cantiga. Canto: Viva Deus... (muito triste) Pescou 50 peixes, 49 ele vendeu no mercado, e 1 levou para mulher preparar. Ela caprichou no tempero e fez no fogo de lenha, aquele peixe que seria sua ltima ceia junto com o marido depois de tantos anos. Mastiga daqui, chora dali, pensa de l, e de repente... Pescador: (Se engasgando) O que isso? Mulher (cospe o anel). Eu no disse que Deus pode mais que todo o mundo? Canto(bem animado): Viva Deus... O pescador limpou o anel, e correu em direo ao palcio. Subiu a escadas de tapete vermelho cantando, fez uma reverncia para rei, que perguntou todo poderoso: Rei: E ento, pescador? Aonde est o meu anel? E o pescador, vitorioso: Pescador: Est aqui, meu rei! O rei ficou boquiaberto! No conseguia acreditar...Teve de entregar o tesouro para o pescador. E at o rei teve que cantar: Canto: Viva Deus e ningum mais / Quando Deus no quer / Ningum nada faz.

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    PARTE II

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    Dois ces

    Um homem conversava com um velho ndio.

    - Voc no pode me entender, sua cultura primitiva demais

    para isso. Ns, que vivemos no mundo civilizado, temos que nos

    sobressair em nossas tarefas dirias. Se em alguns momentos podemos

    dar ateno a algum, na maioria das vezes temos que passar por cima

    de tudo para sermos bem sucedidos. Na verdade, vivemos em constante

    competio.

    Depois de dito isso, o homem sorria intimamente, pensando ter

    confundido totalmente a cabea do velho ndio. Este olhou nos olhos do

    homem e disse:

    - Dentro de mim moram dois ces

    que vivem uma luta eterna. Um sbio,

    complacente, compreensivo, feliz. O outro

    se arrasta na maldade, na disputa, no

    cansao e na dor.

    Como nada mais dissesse, o homem

    lhe perguntou:

    - E quem vence essa luta?

    - Aquele que eu mais alimento

    respondeu o ndio.

    Autor desconhecido

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    A SERPENTE E O VAGALUME

    Conta a lenda que uma vez uma serpente comeou a perseguir um vagalume. Este fugia rpido, com medo da feroz predadora e a serpente nem pensava em desistir. Fugiu um dia e ela no desistia, dois dias e nada.... No terceiro dia, j sem foras o vagalume parou e disse cobra: - Posso lhe fazer uma pergunta? - No costumo abrir esse precedente para ningum, mas j que vou te devorar mesmo, pode perguntar. - Perteno a sua cadeia alimentar? - No. - Eu te fiz algum mal? - No. - Ento, por que voc quer acabar comigo? - Porque no suporto ver voc brilhar!

    "Pense nisso e selecione as pessoas em quem confiar."

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    Menino Azul Anos atrs, em uma cidadezinha chamada Fraterna, aconteceu um fato muito interessante. Um dia, algum acordou gritando feliz para todos ouvirem que ele tinha encontrado a soluo para todos os problemas do mundo. Dizia que os homens eram infelizes, tristes, nervosos e estressados porque no tinham resolvido os problemas mais simples da vida. Ento, qual era a receita que estava sendo divulgada com tanta nfase naquela manh? O autor daquele barulho todo, um menino de 12 anos, dizia que toda vez que se zangava, perdia a serenidade e ficava triste, ele olha para o cu azul - azul claro, claro - e logo a paz voltava. Ele concluiu que se todo o mundo fosse pintado de azul -azul claro, claro - os homens seriam felizes. Como espalhar essa idia genial? Resolveu escrever uma carta aos presidentes dos pases mais importantes do mundo, pois, se eles pintassem seus pases de azul - azul claro, claro - todos os outros iriam fazer o mesmo, e a paz no mundo seria plena. O menino enviou as cartas e esperou esperou esperou e nada de respostas. Pensou: talvez seja mais fcil convencer o presidente do meu pas. Escreveu e recomendou que se fizesse uma lei que tudo no pas fosse pintado de azul claro. O menino esperou esperou esperou e nada de resposta. O presidente deve ser muito ocupado, pensou. Talvez o governador seja a pessoa indicada. Nosso estado ser o exemplo para o pas, que ser exemplo para o mundo. E escreveu para o governador. O menino esperou esperou esperou e nada de resposta. Ele no desanimou. Pensou: vou escrever para o prefeito. Comeando pela minha cidade mais fcil convencer o governador e os presidentes, e a paz reinar. O menino esperou esperou esperou e nada de resposta. Triste porque ningum lhe dera resposta sobre um assunto to importante como a paz no mundo, sentou debaixo da rvore no jardim de sua casa, e comeou a chorar. Depois de algum tempo, o menino levantou-se para brincar, quando olhou surpreso para a sua casa: no era azul, e sim branca desbotada. Levantou-se e gritou: " claro. Depende de mim, de mais ningum! Minha casa vai ser azul". Depois de alguns dias sua casa era outra. Estava toda azul - azul claro claro. O menino estava feliz porque dera o incio do seu plano de paz no mundo. Todos os que passavam por ali olhavam aquele casa de azul - azul claro, claro e sentiam-se alegres se estavam tristes, sorridentes se estavam sisudos, em paz se estavam nervosos. Muitas pessoas gostaram tanto daquela cor que pintaram suas casas tambm de azul azul claro, claro. A ideia do menino foi se espalhando pelo planeta, e l do espao os astronautas atestaram que a terra estava azul - azul claro, claro. O menino entendeu que qualquer transformao tem seu ponto de origem em cada um de ns. Para transformar o mundo, antes eu tenho que me transformar. (Texto baseado no livro "Teo, O Menino Azul", de Paulo R. Costa, Editora Riani Costa) Quem me enviou foi Lucy (RJ)

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    Yut wt V|v|tYut wt V|v|tYut wt V|v|tYut wt V|v|t Durante uma glaciao, muito remota, quando parte do globo terrestre estava coberto por densas camadas de gelo, muitos animais no resistiram ao frio intenso e morreram, indefesos, por no se adaptarem as condies do clima hostil. Foi ento, que uma grande manada de porco-espinhos, numa tentativa de se proteger e sobreviver, comeou a se unir, a juntar-se mais e mais. Assim, cada um podia sentir o calor do corpo do outro e, todos juntos, bem unidos, agasalhavam-se mutuamente, aqueciam-se, enfrentando por mais tempo aquele inverno tenebroso. Porm, vida ingrata, os espinhos de cada um comearam a ferir os companheiros mais prximos, justamennte aqueles que forneciam mais calor, aquele calor vital, questo de vida ou de morte. Afastaram-se feridos, magoados, sofridos. Dispersaram-se, por no suportatrem mais tempo os espinhos dos seus semelhantes. Doam muito... Mas, essa no foi a melhor soluo: afastados, separados, logo comearam a morrer congelados. Os que no morreram voltaram a se aproximar, pouco a pouco, com jeito, com precauo, de tal forma que, unidos, cada qual conservava uma certa distncia do outro, mnima, mas o suficiente para conviver sem ferir, para sobreviver sem magoar, sem causar danos recprocos. Assim, suportaram-se, resistindo a longa era glacial. Sobreviveram.

    Extrada da internet Desconheo a autoria.

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    a xxt |v|tAAAa xxt |v|tAAAa xxt |v|tAAAa xxt |v|tAAA Conta a lenda que certa mulher pobre com uma criana no colo, passando diante de uma caverna escutou uma voz misteriosaque l dentro lhe dizia: "Entre e apanhe tudo o que voc desejar, mas no seesquea do principal. Lembre-se, porm, de umacoisa: depois que voc sair, a porta se fechar para sempre.Portanto, aproveite a oportunidade, mas no se esquea do principal...." A mulher entrou na caverna e encontrou muitas riquezas. Fascinada pelo ouro e pelas jias, ps a criana no cho e comeou a juntar, ansiosamente, tudo o que podia no seu avental. A voz misteriosa falou novamente:"Voc s tem oito minutos." Esgotados os oito minutos, a mulher carregada de ouro e pedras preciosas, correu para fora da caverna e a porta se fechou... Lembrou-se, ento, que criana ficara l e a porta estava fechada para sempre!!! A riqueza durou pouco e o desespero, sempre. O mesmo acontece, as vezes, conosco. Temos uns oitenta anos para viver, neste mundo, e uma voz sempre nos adverte:"No se esquea do principal!". E o principal so os valores espirituais, aorao, a vigilncia, a famlia, os amigos, a vida!!! Mas a ganncia, a riqueza, os prazeres materiais os fascinam tanto que o principal vai ficando sempre de lado... Assim, esgotamos o nosso tempo aqui, e deixamos delado o essencial: "Os tesouros da alma!" Que jamais nos esqueamos que a vida, neste mundo, passa rpido e que a morte chega de inesperado. E quando a porta desta vida se fechar para ns, de nada valer as lamentaes. Portanto, que jamais esqueamos do principal!!! Colaborao de Andrea Cozzi, contadora de histrias de Belm do Par Visite o blog de Andrea: http://www.alinhavosdecomadreflorzinha.blogspot.com/

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    T _T _T _T _xwt w ct Vtuxtxwt w ct Vtuxtxwt w ct Vtuxtxwt w ct Vtuxt@@@@wxwxwxwx@@@@ixixixix Numa tribo indgena, havia uma ndia que se sentia muito infeliz no casamento. O marido era um daqueles homens broncos, insensveis, incapazes de um ato de verdadeiro carinho, mas que dizia amar muito a mulher. Ela, a cada dia, se sentia mais oprimida por ele. Sabia que seria muito difcil deix-lo, pois ele no aceitaria jamais este fato. Mesmo assim, teve coragem para dizer-lhe que iria embora. claro que o marido no concordou e, de acordo com os costumes da tribo, ela teria de ficar com ele. O marido, ento, passou a oprimi-la ainda mais. E assim foram vivendo, por muito tempo.

    Uma noite, porm, a mulher fez uma descoberta fascinante: depois que o marido dormia, ela podia deixar o corpo na cama, ao lado dele, e sair com a cabea para voar. Ele, dormindo, como de costume, passava a mo do lado dela e via que ela estava l e continuava a dormir. Ela, a cabea, voava por toda a floresta, conhecia lugares incrveis. E assim foi por um bom tempo. Quase todas as noites, a cabea ia passear sozinha, longe da opresso do marido.

    Tudo ia mais ou menos bem, mas, uma noite, a cabea voou para longe demais e no conseguiu encontrar o caminho de volta. Ficou s aquela cabea a voar, perdida na floresta.

    Ao amanhecer, o marido se deu conta de que s tinha o corpo da mulher consigo. Ficou furioso. No podia aceitar aquilo e, como tinha s o corpo, decidiu castig-lo: surrou-o at a morte. No satisfeito, esquartejou o corpo, queimou-o jogando as cinzas no rio.

    E a cabea? O Deus da tribo, para no deix-la aquela vagando perdida pela floresta, transformou-a no pssaro-cabea-de-vento. E foi assim que este pssaro surgiu na Terra. Um pssaro que traz consigo um grande ar de tristeza, mas que, no fundo, tem um qu de felicidade, pois livre.

    Contado por Ricardo Azevedo no curso Elos entre o folclore e a literatura infantil (Belo Horizonte 2000) Reconto: Carmlia Cndida

    Conhea o Ba de Carmlia: carmeliacandida.blog.terra.com.br

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    T x|t x t xvttwT x|t x t xvttwT x|t x t xvttwT x|t x t xvttw

    Era uma vez uma menina que tinha um pssaro como seu melhor amigo. Ele era um pssaro diferente de todos os demais: Era encantado. Os pssaros comuns, se a porta da gaiola estiver aberta, vo embora para nunca mais voltar. Mas o pssaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades... Suas penas tambm eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longnquos por onde voava. Certa vez, voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodo.

    "- Menina, eu venho de montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a no ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das rvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco de encanto que eu vi, como presente para voc...". E assim ele comeava a cantar as canes e as estrias daquele mundo que a menina nunca vira. At que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pssaro. Outra vez voltou vermelho como fogo, penacho dourado na cabea. "... Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem gua, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que no se apaga. Minhas penas ficaram como aquele sol e eu trago canes tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes. E de novo comeavam as estrias. A menina amava aquele pssaro e podia ouvi-lo sem parar, dia aps dia. E o pssaro amava a menina, e por isso voltava sempre. Mas chegava sempre uma hora de tristeza. "- Tenho que ir", ele dizia. "- Por favor no v, fico to triste, terei saudades e vou chorar....". "- Eu tambm terei saudades", dizia o pssaro. "-- Eu tambm vou chorar. Mas eu vou lhe contar um segredo: As plantas precisam da gua, ns precisamos do ar, os peixes precisam dos rios... E o meu encanto precisa da saudade. aquela tristeza, na espera da volta, que faz com que minhas penas fiquem bonitas. Se eu no for, no haver saudades. Eu deixarei de ser um pssaro encantado e voc deixar de me amar. Assim ele partiu. A menina sozinha, chorava de tristeza noite. Imaginando se o pssaro voltaria. E foi numa destas noites que ela teve uma idia malvada. "- Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partir; ser meu para sempre. Nunca mais terei saudades, e ficarei feliz". Com estes pensamentos comprou uma linda gaiola, prpria para um pssaro que se ama muito. E ficou espera. Finalmente ele chegou, maravilhoso, com suas novas

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    cores, com estrias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu. Foi ento que a menina, cuidadosamente, para que ele no acordasse, o prendeu na gaiola para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz. Foi acordar de madrugada, com um gemido triste do pssaro. "- Ah! Menina... Que que voc fez? Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficaro feias e eu me esquecerei das estrias...". Sem a saudade, o amor ir embora... A menina no acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas isto no aconteceu. O tempo ia passando, e o pssaro ia ficando diferente. Caram suas plumas, os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silncio; deixou de cantar. Tambm a menina se entristeceu. No, aquele no era o pssaro que ela amava. E de noite ela chorava pensando naquilo que havia feito ao seu amigo... At que no mais agentou. Abriu a porta da gaiola. "- Pode ir, pssaro, volte quando quiser...". "- Obrigado, menina. , eu tenho que partir. preciso partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas comeam a crescer dentro da gente. Sempre que voc ficar com saudades, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudades, voc ficar mais bonita. E voc se enfeitar para me esperar... E partiu. Voou que voou para lugares distantes. A menina contava os dias, e cada dia que passava a saudade crescia. "- Que bom, pensava ela, meu pssaro est ficando encantado de novo...". E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos; e penteava seus cabelos, colocava flores nos vasos... "- Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje... Sem que ela percebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado como o pssaro. Porque em algum lugar ele deveria estar voando. De algum lugar ele haveria de voltar. AH! Mundo maravilhoso que guarda em algum lugar secreto o pssaro encantado que se ama... E foi assim que ela, cada noite ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento. - Quem sabe ele voltar amanh.... E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.

    Texto de Rubem Alves

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    Lenda do Lenda do Lenda do Lenda do UrutauUrutauUrutauUrutau

    O Urutau o pssaro mais feio da floresta. Quando a lua nasce, tem um canto esquisito. Quem j ouviu, conta que ele diz foi, foi, foi. Eta bicho mais estranho, parece que fala. Numa casinha muito pobre no serto, vivia com seus pais uma moa muito feia. No podia nem se olhar no espelho que chorava. Os pais dela, j velhinhos, queriam ver a filha casada. Tinham medo de morrer e deixar a coitada sozinha, encalhada. Mas ningum queria a moa jaburu. O tempo foi passando e todas as suas amigas foram se casando. A coitada ficava sempre na janela da sala, esperando o povo que voltava da roa. Tinha a esperana que algum gostasse dela. Era boazinha, trabalhadeira e cozinhava como ningum. Todo mundo que passava, at cumprimentava a moa, mas no havia viva alma que se interessasse por ela. Tinha um narigo pontudo, olhos arregalados como um sapo, uma boca enorme, cheia de dentes tortos e os cabelos bem pretos escorridos. O mulher bem feia, parecia uma bruxa. Desiludida, desistiu de ficar na janela e comeou a dar longos passeios noite, quando ningum podia ver a sua feira. Arrumou um cachorro como amigo, um cusco quase to feio quanto ela, mas que acompanhava suas longas caminhadas. Adorava a natureza. Cada rvore, cada flor, cada pedra, lhe fazia companhia.

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    Uma noite, sentada num tronco, pensando na vida, ouviu o trote de um cavalo se aproximando. Como sempre sonhava com prncipes, logo imaginou que algum vinha salv-la. Um moo muito bonito e bem vestido desceu do cavalo. No d pra acreditar, mas era um prncipe de verdade. A noite estava escura e o moo no conseguia ver direito a coitada. Toda querida, ofereceu ajuda para o prncipe que estava completamente perdido. Foram caminhando pela floresta, um ao lado do outro, puxando o cavalo. Ela podia ser horrvel, mas, no escuro, parecia a mais encantadora das criaturas. Conversava sobre tudo, era delicada, sensvel, inteligente. O prncipe, j apaixonado, se ajoelhou e pediu a moa em casamento. De repente, a lua apareceu e iluminou o rosto dela. Foi o maior susto que o pobre moo j levou. Pensou estar falando com uma assombrao. Como era muito educado, inventou uma desculpa. Disse que precisava encontrar seu mensageiro e que logo voltaria para busc-la. A moa, acreditando ter finalmente encontrado a sua cara metade, ficou sentada esperando. Esperou, esperou e nada. At que algum apareceu. No era o prncipe, era uma feiticeira que vivia na floresta. A bruxa perguntou o que ela fazia ali sozinha. A moa, crente que o noivo voltaria, contou toda a estria. Pediu, ento, para a velha transform-la num pssaro que pudesse voar e encontrar o amado. Ele poderia estar perdido outra vez e ela tinha que ajud-lo. A feiticeira pensou duas vezes no pedido da moa que, de tanto chorar, foi atendida. Cabum!!! Virou um pssaro. Uma ave muito esquisita. Ficou feliz de qualquer modo. Agradeceu e voou mundo afora atrs do prncipe. O homem sumiu da face da terra. Dizem por a que nunca viram um cavalo correr tanto. Um cavalo que passou por aqui, montado por um prncipe. Coisa mais estranha. A moa, agora aquele pssaro horroroso, voltou para o lugar onde tinha encontrado a bruxa. Pediu que a transformasse de novo em gente, pois tinha desistido do noivo. A feiticeira, meio sem graa, disse que sentia muito, mas no se lembrava como desfazer o encanto. Sabe como , o tempo passa, a gente envelhece e acaba esquecendo das coisas. A moa-pssaro ou o pssaro-moa, acostumado a viver sozinho, se enfiou dentro de um tronco de rvore e vive l at hoje. Quando tem lua cheia, grita foi, foi, foi. Foi o prncipe que foi embora.

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    A mulher esqueletoA mulher esqueletoA mulher esqueletoA mulher esqueleto

    Era uma vez um jovem pescador que ficou perdido no oceano por

    longos dias. Ele era muito destemido e, por conta de sua coragem, acabou

    chegando com seu caiaque em uma regio de guas profundas. Tendo fome,

    resolveu lanar as se pescar algo para si. Ao pux-las, sentiu que elas traziam

    algo grande e pesado. Imaginando tratar-se de um peixe avantajado, puxou

    com todo o entusiasmo at trazer tona a horrvel viso de uma mulher-

    esqueleto.

    Era o corpo de Sedna, comido pelos peixes e deteriorado pela longa

    permanncia nas guas abismais. Apavorado, o pescador ps-se a remar a toda

    velocidade. Entretanto, quanto mais rpido remava, mais rpido o esqueleto

    era arrastado atrs dele, pois os ossos haviam-se enroscado nas redes de pesca.

    Chegando em terra, o pescador se ps a correr com quantas pernas

    tinha. Como levava com ele a rede, a mulher-esqueleto vinha junto, pulando e

    chacoalhando os ossos. O pescador pulou para sua tenda, achando que ali

    estaria protegido, e levou um enorme susto ao descobrir que o esqueleto

    entrara com ele. Conseguindo superar a sensao de pavor, s ento o rapaz

    tomou coragem para olhar com mais ateno a mulher-esqueleto e descobrir

    que ela s o seguira porque seus ossos descarnados estavam enroscados na

    rede.

    Ento, pela primeira vez o pescador sentiu compaixo por aquela

    mulher agora transformada num monte de ossos. Aproximou-se, tomou

    coragem e comeou a desembaraar os ossos dos fios da rede. Aos poucos,

    libertou todo os ossos do esqueleto e deitou-os cuidadosamente sobre uma

    confortvel pele de urso. Encerrado o trabalho, e percebendo que nada mais

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    podia fazer por aquele esqueleto que um dia fora uma mulher, foi dormir com

    uma lgrima a escorrer dos olhos.

    Acontece que, depois de dormir um tempo imemorial no fundo do

    oceano, a mulher-esqueleto sentiu-se confortvel e aquecida pela pele de urso.

    Ento ela acordou, viu seu benfeitor a dormir e viu tambm a lgrima a

    escorrer-lhe do olho. Como a mulher-esqueleto tinha sede, levantou-se e bebeu

    a lgrima do pescador. E bebeu muito e muito, porque sua sede vinha de

    muito longe. Depois percebeu que o pescador fizera comida, e comeu um

    pouco dela. E como sua fome vinha de muito longe, ela comeu e comeu e

    comeu, at sentir-se aquecida por dentro. E aos poucos a carne foi de novo

    cobrindo seus ossos, e seus cabelos cresceram belos outra vez, e seu corpo foi

    tomando forma.

    Quando o pescador acordou, descobriu que uma linda mulher dormia a

    seu lado. No preciso dizer que os dois ficaram juntos desde ento, e que

    jamais faltou boa pesca para ele, pois ela sempre sabia lhe dizer onde jogar a

    rede.

    Fonte: www.aletria.com.br

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    As trs laranjas mgicas

    Era uma vez um velho rei que, decidiu que era a hora do seu filho casar. Para escolher a felizarda, convidou vrias princesas, muitas delas vindas de muito longe, para participarem na festa. Mas, mesmo com vrias pretendentes, o prncipe no gostou de nenhuma. Para resolver a situao, decidiu que seria melhor ele prprio procurar uma

    esposa, mas sozinho. Assim, o prncipe montou o seu cavalo e partiu, rumo ao desconhecido. Um certo dia, chegou a uma floresta e, na entrada da mesma havia uma laranjeira:

    Ah!!! Esta laranjeira tem trs magnficas laranjas de ouro! Vou colh-las. declarou o prncipe, seguindo o seu caminho.

    Mais tarde, com o grande calor que fazia, o prncipe teve sede: - Vou abrir uma das laranjas, para ver se fico melhor. - E assim fez - Que maravilha, uma delcia!

    Entretanto, da laranja saiu uma bela donzela, com os olhos da cor do cu, e cabelos da cor do sol.

    - D-me um golo de gua, por favor! - rogou a rapariga ao prncipe. - Infelizmente, no tenho gua para te dar! - respondeu ele, encantado

    com a viso dela. Com esta resposta, ela desapareceu tal como tinha vindo. O prncipe

    continuou a sua jornada mas, o calor aumentava medida que caminhava. - Estou de novo cheio de sede, por isso vou abrir a segunda laranja! Ao abrir a segunda laranja, sai outra donzela, esta com os olhos da cor

    dum lago, e o cabelo vermelho, como uma cereja: - Peo-te por tudo, d-me gua! - implorou a rapariga. - Desculpa, mas no tenho! Afinal, quem s tu? - perguntou o prncipe,

    mas ela j tinha desaparecido. Por fim, ele chegou a uma fonte onde conseguiu saciar, toda a sua sede.

    Agora, estava era com fome: - Vou abrir a ltima laranja, e vamos l a ver o que acontece! Tal como das outras vezes, tambm desta laranja saiu uma donzela,

    com os olhos e cabelos negros como as asas dum corvo, e a pele branca como a neve:

    - D-me gua! - suplicou a rapariga. - Agora, j posso satisfazer o teu pedido! - respondeu o prncipe,

    enquanto mergulhava as mos, em forma de concha, na gua da fonte.

  • 47

    Aproximou-se da donzela e deu-lhe a gua, para beber. E, assim se quebrou o feitio de uma bruxa que, tinha encarcerado a rapariga, nas laranjas mgicas.

    O prncipe, encantado com ela, levou-a para o seu castelo, onde os dois se casaram, e viviam muito felizes.

    Algum tempo depois, a bruxa descobriu que a menina tinha sido libertada e, ficou furiosa. Decidiu ento disfarar-se de vendedora, e foi at ao castelo:

    - Ganchos para o cabelo! Quem quer comprar estes belos ganchos? A menina, j rainha, pediu velhota para entrar: - Faa favor! Que ganchos to bonitosQuero este que, tem uma

    prola na ponta. - Deixe-me ser eu a p-lo no seu cabelo! - pediu a bruxa manhosa. A rainha inclinou-se e ela espetou-lhe o gancho na cabea,

    transformando-a numa pomba branca. A rainha voou, voou, at chegar floresta onde, o seu marido estava a caar.

    - Que bela pomba! Vou apanh-la para a dar minha esposa de presente. - disse ele, sem saber que a pomba era a sua prpria rainha.

    Quando chegou a casa, o prncipe teve um enorme desgosto ao ver que, a sua mulher no estava em casa. E os meses passaram e, ela no regressava. O nico consolo dele, era a pequena pomba branca que, nunca o abandonava.

    Um dia, ao acariciar a cabea da pomba, ele sentiu a prola que enfeitava o gancho:

    - Quem seria capaz desta crueldade? Vou tirar isto, para ela no se magoar.

    Ao puxar o gancho Aconteceu um milagre!!! A pomba transformou-se, na sua bela esposa.

    - Meu amor, estava com tantas saudades tuas! O que foi que aconteceu? - perguntou o prncipe, muito emocionado com a volta da sua amada.

    Depois de todas as explicaes, ficou furioso e, mandou os seus soldados irem buscar a maldita bruxa, sua presena. No entanto, isso no foi preciso, pois a velha j tinha morrido, atraioada pelos seus prprios feitios.

    E assim, o rei e a bela rainha viveram felizes para sempre...

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    A Mentira e a VerdadeA Mentira e a VerdadeA Mentira e a VerdadeA Mentira e a Verdade

    Em tempos que h muito se vo, a Mentira e a Verdade, saram viajando pelo mundo.

    Sei que parece estranho, mas essa histria diz que naquele tempo, por incrvel que parea, a Mentira era muito acanhada, muito calada, por isso, logo no primeiro dia de viagem, ela disse para a Verdade:

    comadre Verdade, vamos combinar uma coisa? Se tivermos que falar com algum, fala voc, eu no quero abrir a boca jamais, pois sei que todos me reconhecero, e no acreditaro no que eu disser... - e assim combinado, seguiram viagem.

    Ora, aconteceu que l pela hora do almoo, elas avistaram uma cabana no meio da floresta, e para l se dirigiram para pedir pousada. A dona da casa convidou-as gentilmente a entrar, desculpando-se por no ter feito ainda o almoo, pois se distrara colhendo flores.

    Nisso, chega o marido da mulher, vindo da floresta, morto de fome, e vendo que ela no havia ainda nem comeado a preparar a comida, perdeu completamente a pacincia e perguntou s duas viajantes:

    O que as senhoras acham disso? A Mentira conforme o combinado, no tugiu nem mugiu, mais a

    Verdade foi logo dizendo: Ora, eu acho um absurdo uma dona de casa, que no tem a comida

    preparada quando o marido chega do trabalho. A foi a vez da mulher ficar furiosa, e expulsou as duas de sua casa aos

    gritos! E l se foram elas tontas de fome... Anda que anda, chegaram a um vilarejo e resolveram pedir pousada ao

    prefeito. Pelo caminho, passaram por um grupo de rapazes que esquartejavam um boi. Eles guardavam os melhores pedaos de carne para eles mesmos, e o resto colocavam em cestos de palha.

    Por coincidncia, infeliz coincidncia, chegaram juntos prefeitura, a Mentira e a Verdade e os rapazes trazendo para o prefeito, a carne dos cestos de palha.

    Este, todo orgulhoso com o presente, perguntou s duas viajantes:

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    Sabem quem manda neste vilarejo? A Mentira fez que nem ouviu a pergunta, mas a Verdade foi logo

    dizendo: Claro que so estes rapazes, pois eles partem, repartem, e ficam

    com a melhor parte... A foi a vez do prefeito ficar furioso, e ordenou que parte de seus

    soldados corressem atrs dos rapazes que j iam longe, e o resto, escoltassem aquelas duas senhoras at os limites da cidade expulsando-as de l.

    Bem, a esta altura, a Mentira j estava comeando a desconfiar que alguma coisa ia mal...da a pouco elas iam morrer de fome... disse, ento, a Verdade:

    comadre... as coisas to indo mal... vamos ver se eu falando as coisas melhoram?

    E assim combinado, seguiram viagem. Mais adiante, chegaram a uma grande cidade e avistaram uma fonte.

    Estavam as duas ali, descansando um pouquinho, quando chegou uma jovem para pegar gua. Conversa daqui, conversa dali, ela contou Mentira, que uma grande desgraa se abatera sobre aquela cidade; a Rainha morrera, e o Rei enlouquecido de dor, j no comia nem bebia. Sua loucura com a morte da Rainha era tanta, que ele havia prometido dar o peso em ouro a quem conseguisse ressuscit-la.

    A Verdade calada estava, calada ficou, mas a Mentira foi logo falando: Ora, ressuscito fcil, fcil, gente, sem problema nenhum... A jovem, nem bem ouviu aquilo, correu a dar a notcia ao rei, que

    imediatamente ordenou que levassem as duas senhoras a sua presena. Recebeu-as com todas as honrarias, serviu-lhes uma lauta refeio, e depois, com os olhos brilhando de emoo, perguntou-lhes:

    verdade, vocs disseram que podem ressuscitar minha querida rainha?

    A Verdade no resistiu e falou: Eu no disse nada de nada Majestade... quem falou foi ela... Pois disse e repito. - falou a Mentira. O Rei, ficou to emocionado, que repetiu na frente de toda a corte, o

    que a jovem j havia falado, que ele daria o peso da Mentira em ouro, se ela lhe trouxesse de volta sua adorada mulher!

    A Mentira no se fez de rogada. Mandou que construssem uma cabana de madeira encima da sepultura da Rainha, e trancou-se l dentro diante de toda a corte. Durante um bom tempo s se ouviu, barulho de picareta e gente cavando, de repente, ouviu-se uma forte discusso dentro da cabana. Eram vrias vozes que falavam quase que ao mesmo tempo, cada uma querendo falar mais alto do que a outra... sai, ento, a Mentira toda desgrenhada e diz ao Rei:

    Majestade, a coisa agora complicou...

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    O que houve? - perguntou o rei, aflito. Bem, quando a rainha ressuscitou e j ia saindo da sepultura, sua sogra

    agarrou-a pelo p, e ofereceu-me duas vezes meu peso em ouro se eu a trouxesse junto com a filha. Nisso, apareceu a me de sua sogra, oferecendo-me trs vezes meu peso em ouro pelo mesmo servio. Nem bem eu me refizera de to tentadora proposta, apareceu a me da me de sua sogra, oferecendo-me todo o ouro que eu pudesse carregar. Vim avis-lo, portanto, Majestade, que terei de ressuscitar a todas, pois no quero perder a chance de ficar rica. Prepare j vosso palcio que eu no me demoro... - e comeou a voltar para a cabana.

    O Rei, que tremia s em lembrar da vida que levava quando a sogra estava viva, imaginando o que seria passar o resto de seus dias no com uma, mas com quatro sogras... agarrou a Mentira pela barra da saia e foi logo dizendo que tinha mudado de idia, que cobria qualquer oferta para que ela deixasse sua mulher, e toda sua parentelha, dormindo em paz.

    E assim, a Mentira e a Verdade, sentadas na boleia de uma carroa cheinha de ouro, seguiram viagem. E dizem que esta combinao deu to certo, que por isso que at hoje, a Mentira fala muito mais do que a Verdade ...

    Conto adaptada por Maria Clara Cavalcanti, do Grupo Confabulando (RJ). Quem me enviou-o foi a prpria Maria Clara, por intermdio do Glauter Barros.

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    O HOMEM SEM SORTE

    Vivia perto de uma aldeia um homem, um homem que era completamente sem sorte. Nada do que ele fazia dava certo. Muitas vezes ele plantava sementes e o vento vinha e as levava, outras vezes, era a chuva, que vinha to violenta que carregava as sementes. Outras vezes ainda, as sementes permaneciam sob a terra, mas o sol era to quente que as cozinhava. E ele se queixava com as pessoas e as pessoas escutavam suas queixas, da primeira vez com simpatia, depois com um certo desconforto e enfim, quando o viam mudavam de caminho ou entravam para suas casas fechando portas e janelas, evitando-o. Ento alm de sem sorte, o homem se tornou chato e muito s. Ele ento comeou a procurar um culpado para o que lhe acontecia. Analisando a situao de sua famlia percebeu que seu pai era um homem de sorte, sua me tinha tido sorte por ter se casado com seu pai e seus irmos eram muito bem sucedidos. Pois ento, se no era um caso gentico, s poderia ser coisa do Criador. E depois de muito pensar, resolveu tomar uma atitude e ir at o fim do mundo falar com o Criador, que como Criador de tudo, deveria ter uma resposta. Arrumou sua malinha, algum alimento e partiu rumo ao fim do mundo. Andou um dia, um ms, um ano e um dia, e pouco antes de entrar numa grande floresta ouviu uma voz: - Moo, me ajude. Ele olhou para os lados procurando algum. At que se deparou com um lobo, magro, quase sem pelos; era pele e osso o infeliz. Dava para contar suas costelas . E o lobo falou: - H trs meses estou nesta situao. No sei o que est acontecendo comigo. No tenho foras para me levantar daqui. O homem refeito do susto respondeu: - Voc est se queixando a toa ...Eu tive azar a vida inteira. O que so trs meses? Mas faa como eu. Procure uma resposta. Eu estou indo procurar o Criador para resolver o meu problema.

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    - Se eu no tenho foras nem para ir ao rio beber gua... Faa este favor para mim. Voc est indo v-lo, pergunte o que est acontecendo comigo. O homem fez um sinal de insatisfao e disse que estava muito preocupado com seu problema , mas se lembrasse, perguntaria. Virando as costas, continuou seu caminho. Andou um dia, um ms, um ano e um dia e de repente, ao tropear numa raiz, ouviu: - Moo, cuidado. E quando olhou, viu uma folhinha que vinha caindo, caindo. Olhando para cima, viu uma rvore com apenas duas folhinhas. Levantou-se e observando suas razes desenterradas, seus galhos retorcidos, sua casca soltando-se do tronco, falou: - Voc no se envergonha ? Olhe as outras rvores a sua volta e diga se voc pode ser chamada de rvore? Conserte sua postura. A rvore, com uma voz de muita dor, disse: - No sei o que est acontecendo comigo. Estou me sentindo to doente. H seis meses que minhas folhas esto caindo, e agora, como vs, s restam duas... E, no fim da conversa, pediu ao homem que procurasse uma soluo com o Criador. Contrariado, o homem virou as costas com mais uma incumbncia. Andou um dia, um ms, um ano e um dia e chegou a um vale muito florido , com flores de todas as cores e perfumes. Mas o homem no reparou nisto. Chegou at uma casa e na frente da casa estava uma moa muito bonita que o convidou a entrar. Eles conversaram longamente e quando o homem deu por si j era madrugada. Ele se levantou dizendo que no podia perder tempo e quando j estava saindo ela lhe pediu um favor: - Voc que vai procurar o Criador, podia perguntar uma coisa para mim? que de vez em quando sinto um vazio no peito, que no tem motivo, nem explicao. Gostaria de saber o que e o que posso fazer por isto. O homem prometeu que perguntaria e virou as costas e andou um dia, um ms, um ano e um dia e chegou por fim ao fim do mundo. Sentou-se e ficou esperando at que ouviu uma voz. E uma voz no fim do mundo, s poderia ser a voz do criador. - Tenho muitos nomes. Chamam-me tambm de Criador ... E o homem contou ento toda a sua triste vida. Conversou longamente com a voz at que se levantou e virando as costas foi saindo, quando a voz lhe perguntou:

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    - Voc no est se esquecendo de nada ? No ficou de saber respostas para uma rvore, para um lobo e para uma jovem ? - Tem razo... E voltou-se para ouvir o que tinha que ser dito. Depois, virou-se e correu mais rpido que o vento, at que chegou casa da jovem. Como ela estava em frente casa , vendo-o passar chamou: - Ei!!! Voc conseguiu encontrar o Criador? Teve as respostas que queria? - Sim!!! Claro! O Criador disse que minha sorte est toda no mundo. Basta eu ficar alerta para perceber a hora de apanh-la! - E quanto a mim, voc teve a chance de fazer a minha pergunta? - Ah! O Criador disse que o que voc sente solido. Assim que encontrar um companheiro vai ser completamente feliz, e mais feliz ainda vai ser o seu companheiro. A jovem ento abriu um sorriso e perguntou ao homem se ele queria ser este companheiro. - Claro que no... J trouxe a sua resposta... No posso ficar aqui perdendo tempo com voc. No foi para ficar aqui que fiz toda esta jornada. Adeus!!! E virando as costas correu, mais rpido do que a gua, at a floresta onde estava a rvore. Ele nem se lembrava mais dela. Mas quando novamente tropeou em sua raiz, viu caindo uma ltima folhinha. Ela perguntou se ele tinha uma resposta, ao que o Homem respondeu: - Tenho muita pressa e vou ser breve, pois estou indo em busca de minha sorte e ela est no mundo. O Criador disse que voc tem embaixo de suas razes uma caixa de ferro cheia de moedas de ouro. O ferro desta caixa est corroendo suas razes. Se voc cavar e tirar este tesouro da, vai terminar todo o seu sofrimento e voc vai poder virar uma rvore saudvel novamente. - Por favor !!!Faa isto por mim!!! Eu no tenho como faz-lo. Voc pode ficar com o tesouro. Ele no serve para mim. Eu s quero de novo minha fora e energia. O homem deu um pulo e falou indignado: - Voc est me achando com cara de qu? J trouxe a resposta para voc. Agora resolva o seu problema. O Criador falou que minha sorte est no mundo e eu no posso perder tempo aqui conversando com voc, muito menos sujando minhas mos na terra. E virando as costas, correu, mais rpido do que a luz, atravessou a

  • 54

    floresta e chegou onde estava o lobo, mais magro ainda e mais fraco. O homem se dirigiu a ele apressadamente e disse: - O Criador mandou lhe falar que voc no est doente. O que voc tem fome. Est a morrer de inanio, e como no tem foras mais para sair e caar, vai morrer ai mesmo. A no ser, que passe por aqui uma criatura bastante estpida e voc consiga com-la. E nesse momento, os olhos do lobo se encheram de um brilho estranho, e reunindo o restante de suas foras, o lobo deu um pulo e comeu o homem sem sorte." Disponvel em: http://contoselendas.blogspot.com/2004/05/ohomem-sem-sorte.html

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    A R A T O E I R AA R A T O E I R AA R A T O E I R AA R A T O E I R A

    hhhhm rato, olhando pelo buraco na parede, v o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote. Pensou logo no tipo de comida que poderia haver ali.

    Ao descobrir que era uma ratoeira ficou aterrorizado. Correu ao ptio da

    fazenda advertindo a todos:

    - H uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa!!! A galinha, disse:

    - Desculpe-me Sr. Rato, eu entendo que isso seja um grande problema para o senhor, mas no me prejudica em nada, no me incomoda.

    O rato foi ao porco e lhe disse:

    - H uma ratoeira na casa, uma ratoeira!!!

    - Desculpe-me Sr. Rato - disse o porco - mas no h nada que eu possa fazer, a no ser rezar. Fique tranqilo que o senhor ser lembrado nas minhas preces.

    O rato dirigiu-se ento vaca. Ela lhe disse:

    - O qu Sr. Rato? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que no! Ento o rato voltou para a casa, cabisbaixo e abatido, para encarar a

    ratoeira do fazendeiro.

    Naquela noite ouviu-se um barulho, como o de uma ratoeira pegando sua

    vtima.

    A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia pego. No escuro, ela

    no viu que a ratoeira havia pego a cauda de uma cobra venenosa. E a cobra

    picou a mulher... O fazendeiro a levou imediatamente ao hospital. Ela voltou

    com febre.

  • 56

    Todo mundo sabe que para alimentar algum com febre, nada melhor que

    uma canja de galinha. O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o

    ingrediente principal.

    Como a doena da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visit-

    la. Para aliment-los o fazendeiro matou o porco.

    A mulher no melhorou e acabou morrendo. Muita gente veio para o

    funeral. O fazendeiro ento sacrificou a vaca, para alimentar todo aquele

    povo.

    Na prxima vez que voc ouvir que algum est diante de um problema e

    acreditar que o problema no lhe diz respeito, lembre-se que, quando h uma

    ratoeira na casa, toda a fazenda corre risco.

    O PROBLEMA DE UM PROBLEMA DE TODOS.

    Desconheo a autoria dessa histria. Quem enviou-a para mim foi o Glauter Picol, contador de histrias de Angra dos Reis.

  • 57

    A H I S T R I A D O G A T O

    Esta uma histria que se passa na savana. Existem diferentes verses em vrios pases africanos.

    Uma vez um gato saiu procura do bicho mais poderoso de todos, e na sua busca, se deparou com alguns bichos que pulavam de galho em galho e faziam muito barulho que eram... (suspense): os macacos! - Esses bichos que pulam de galho em galho e fazem todo esse barulho devem ser muito poderosos. Acho que vou passar a acompanh-los.

    Ento passou a viver entre os macacos. Viveu tranqilo durante muito tempo.

    At que um dia os macacos ficaram alvoroados e fugiram. Fugiram de medo, pois apareceu... um leo! Pensou ento o gato: - Esse deve ser o mais poderoso. Dizem que o rei dos animais. E se o rei porque mais poderoso. Ento o interesseiro gato passou a acompanhar o leo em todos os lugares,

    durante muito tempo. At que um dia o leo comeou a arrepiar sua juba e correu em disparada,

    pois apareceu um... rinoceronte! Quando viu aquele grande bicho, com sua carapaa grossa, seus olhos bem

    pequenos e aquele charme todo especial, o chifre no focinho, pensou o gato: - Que bicho maravilhoso, com sua carapaa etc. Alm de tudo espantou o leo, o rei da floresta. S pode ser esse tal de rinoceronte o bicho mais poderoso. Ento o gato passou a acompanhar o rinoceronte por todos os lugares

    durante muito tempo. At que um dia a terra comeou a tremer, o rinoceronte comeou a correr, pois estava aparecendo ali um... elefante!

  • 58

    - Que bicho enorme, com essas orelhas, patas, esse rabinho pequeno, os marfins e essa tromba! Ps at o rinoceronte para correr. Sem dvida esse elefante o mais poderoso. E imediatamente o gato passou a acompanhar o elefante por todos os

    lados. Durante muito tempo o gato desfrutou da companhia e proteo do elefante. Porm um dia, durante uma calmaria, se ouve um estampido fazendo o elefante correr o mais que podia. Foi ento que o gato se deparou com o responsvel pela fuga do elefante: o caador! Frustrado com o fracasso de sua caada, o caador se dirige para sua casa, enquanto o gato... - Que poder deste caador! Com apenas um tiro conseguiu espantar aquele enorme elefante, claro que ele s pode ser o mais poderoso de todos. Vou segui-lo. Chegando ento em sua casa o caador foi recepcionado por sua mulher:

    - Oi querido, que gatinho bonito esse, onde voc conseguiu? - Ele est me seguindo desde a floresta. - Por falar em floresta, voc no ia caar? - Fui... - Foi?!?! Ento onde est a caa? - Eu tentei acertar um elefante, mas errei. - Voc conseguiu errar o tiro em um elefante? Pois agora vai ter que nos conseguir carne, vai procurar! - Est bem querida... Dizendo isto partiu o homem para atender o pedido da mulher. O gato que

    observava tudo atentamente ponderou: - Essa mulher manda no temido caador, o terror de todos os bichos. Ento tenho certeza que a mais poderosa de todos. Ento com muito interesse passou a fazer carinho nas pernas da mulher,

    que se agradou com o bichano. - Oh! Que gatinho mais carinhoso. Pode ir dormir que depois te darei um pouco de leite.

    O gato tomou seu assento na sala enquanto a dona da casa se ocupava de seus afazeres. Ento o silncio foi interrompido por gritos histricos da mulher, que fez o gato despertar de sobressalto. Quando se aproximou da mulher, descobriu que ela gritava com medo de um... rato!

  • 59

    Sorrateiramente, num nico bote e algumas mastigadas o gato liquidou

    com o rato. A mulher ficou to grata: - Que gatinho maravilhoso, muito obrigado por me livrar desse monstro. Voc poderoso!!! Foi a que o gato concluiu:

    - Sa procura do bicho mais poderoso. Pensei que eram os macacos, mas logo vi que eles morrem de medo do leo, que pode ser o rei dos animais, mas no enfrenta o rinoceronte. Que com toda aquela carapaa e aquele chifre no ousa a duelar com o elefante. Porm com todo seu tamanho jamais se vira contra o caador. Esse aterroriza todos os bichos, mas se transforma em um medroso diante de sua mulher. Ela fala alto, d ordens ao temido caador, mas se desespera diante de um rato. Rato que eu, o gato, devoro num instante. Isso significa que eu, o gato, sou o mais poderoso dos bichos.

    E desde ento o gato se considerando o mais poderoso dos bichos passou a sair, entrar, comer e namorar sua vontade. Achando que ningum o comanda.

    E como encontraram Tal qual encontrei Assim me contaram Assim vos contei!...

    Enviada por Glauter Barros

  • 60

    QUEM TE MATOU?

    Um homem, certo dia, saiu da cidade andando a p, e junto a uma porteira, longe de habitaes, deu com uma caveira feia como s podem ser a morte e o pecado. Levianamente, deu-lhe um pontap e caoou: - Quem te matou, caveira? Mas qual no foi o seu espanto, quando, com u