Época #894 (2015-07-27).pdf

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Job: 21900-021 -- Empresa: africa -- Arquivo: AFF-21900-021-MITSUBISHI-LANCER GATO-RV EPOCA-404X266_pag001.pdfRegistro: 171050 -- Data: 15:32:58 23/07/2015Job: 21900-021 -- Empresa: africa -- Arquivo: AFF-21900-021-MITSUBISHI-LANCER GATO-RV EPOCA-404X266_pag001.pdfRegistro: 171050 -- Data: 15:32:58 23/07/20158 I POCA I 27 de julho de 2015EDIO 894 I 27DEJULHODE 2015PRIMEIROPLANODA REDAO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16PERSONAGEMDA SEMANA . . . . . . . . . .17Hisao Tanaka, o executivo da Toshibaque se envolveu em um esquemade fraude e pediu desculpasA SEMANA EMNOTAS. . . . . . . . . . . . . . . .20A SEMANA EMFRASES. . . . . . . . . . . . . . .22EXPRESSO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24A Procuradoria-Geral da Repblicaj tem a bala de prata para denunciarEduardo Cunha na Lava JatoGUILHERME FIUZA . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26O Proibido do PortoSUA OPINIO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28NOSSA OPINIO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .30TEMPOTEATRO DA POLTICAAs investigaes daLava Jato no exterior . . . . . . . . . . . . . . . . . . .34Surgem indcios de umaconta do PT no exterior . . . . . . . . . . . . . . . . .36Para Eduardo Cunha,a melhor defesa o ataque . . . . . . . . . . . . . .40O jogo de ganha-ganha entreGeraldo Alckmin e Dilma Rousse. . . . . . . .42Joaquim Levy sofre e osbrasileiros sofrero junto . . . . . . . . . . . . . . . .44CARTA DE HAVANA . . . . . . . . . . . . . . . . . .48Cuba est ansiosa coma chegada dos americanosENTREVISTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52Osocilogo Brasilio SallumJr.lana umlivro sobre o processode impeachment de Collor e avaliao cenrio atual da presidente DilmaIDEIASOBSERVADORDO JORNALISMO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .56O jornal O Globo completa 90 anosMOVIMENTO EMPREENDA. . . . . . . . . . . .62Pequenos e microempresrios driblama crise e exportam para o exteriorHELIO GUROVITZ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67Em Os limites do possvel, AndrLara Resende provoca ao questionarse o crescimento rpido daeconomia a melhor opoVIDAROMANCE URBANO . . . . . . . . . . . . . . . . . .68Na era digital, terminar um relacionamentocou mais fcil. A psicologia explicaENTREVISTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .72Elza Berqu, demgrafa brasileira, falada homossexualidade depois dos 60 anosBRUNO ASTUTO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .76Roberta Rodrigues viver umaninfomanaca na nova novela das 9WALCYR CARRASCO . . . . . . . . . . . . . . . . .80O book rosaMENTE ABERTA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .82POCA ouviu o primeiro lbum solode Keith Richards em duas dcadasJAIRO BOUER . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .86Por que ainda no erradicamos o HIV12 HORAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .88RUTH DE AQUINO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .90Eduardo Cunha o inimigodos sonhos de DilmaDIRETOR GERAL Frederic Zoghaib KacharDIRETOR DE MERCADO ANUNCIANTE Alexandre BarsottiDIRETOR DE MERCADO LEITOR Luciano Touguinha de CastroDiretor de Redao: Joo Gabriel de Lima [email protected]: Diego EscosteguyDiretor de Arte Multiplataforma: Alexandre LucasEditores Executivos: Alexandre Mansur, Guilherme Evelin, Marcos CoronatoEditor-Colunista: Bruno AstutoEditores: Aline Ribeiro, Bruno Ferrari, Danilo Venticinque, Flvia Yuri Oshima,Joo Luiz Vieira, Marcela Buscato, Marcelo Moura, Rodrigo TurrerReprteres Especiais: Cristiane Segatto, Jos FucsColunistas: Eugnio Bucci, Guilherme Fiuza, Gustavo Cerbasi, Helio Gurovitz,Jairo Bouer, Marcio Atalla, Ruth de Aquino, Walcyr CarrascoReprteres: Flvia Tavares, Graziele Oliveira, Jlia Azevedo Korte,Leopoldo Mateus, Marcelo Sperandio, Nina Finco, Pedro Marcondesde Moura, Ruan de Sousa Gabriel, Teresa Perosa, Thais Lazzeri, Vinicius GorczeskiEstagirios: Ana Helena Rodrigues, Ariane Teresa de Freitas,Felipe Hideki Yatabe, Gabriel Lellis, Gabriela Varella, Harumi Visconti,Igor Utsumi, Patricia PeresSUCURSAIS l RIO DE JANEIRO: [email protected] Floriano, 19 8oandar Centro CEP 20031-050Diretora: Cristina Grillo; Reprteres: Acyr Mra Jnior, Daniela Barbi, Marcelo Bortoloti,Sergio Garcia; Reprteres Especiais: Hudson Corra, Raphael Gomide; Samantha LimaEstagiria: Lvia Cunto Salles l BRASLIA: [email protected] 701 Centro Empresarial Assis Chateaubriand Bloco 2 Salas 701/716 Asa SulDiretor: Luiz Alberto Weber; Editor: Leandro Loyola;Reprteres: Filipe Coutinho, Murilo Ramos, Thiago BronzattoFOTOGRAFIAl Editor: Andr Sarmento; Assistente: Sidinei LopesDESIGN E INFOGRAFIAl Editor: Daniel Pastori; Editora Assistente: Aline ChicaDesigners: Alyne Tanin, Daniel Graf, Renato Tanigawa;Editor de Infograa: Marco Vergotti; Infograstas: Luiz C.D. SalomoSECRETARIA EDITORIAL l Coordenador: Marco Antonio RangelREVISO l Coordenadora: Araci dos Reis Galvo de Frana; Revisores: Alice Rejaili Augusto,Elizabeth Tasiro, Silvana Marli de Souza Fernandes, Verginia Helena Costa RodriguesPOCA ONLINE l [email protected]: Liuca Yonaha; Editora Assistente: Isabela Kiesel;Reprteres: Bruno Calixto, Marina Ribeiro, Rafael Ciscati; Vdeo: Pedro Schimidt;Web Designer: Giovana Tarakdjian; Estagiria: Marina Salles TeixeiraCARTAS REDAO: Nathalia Bianco [email protected];Assistente Executiva: Jaqueline Damasceno; Assistentes: Nathlia Machado Garcia,Victria Miwa; Pesquisa: CEDOC/Globopress;INOVAO DIGITAL: Diretor de Inovao Digital: Alexandre Maron;Gerente de Estratgia de Contedo Digital: Silvia Balieiro;Gerente de Tecnologia Digital: Carlos Eduardo Cruz; Gerente de InterfacesDigitais: Valter Bicudo; Designers: Janaina Torres, Sheyla Amaral; Esley Henrique eMarcella Maia (estagirios) Desenvolvedores: Bruno Agutoli, Everton Ribeiro, JefersonMendona, Leonardo Turbiani, Marcio Esposito, Tcha-Tcho, Victor Hugo Oliveira da SilvaMERCADOANUNCIANTE:Diretoriadenegciosmultiplataforma:EmilianoMoradHansenn, MarciaSoter; Executivos de negcios multiplataforma: Fabio Ferri, Cristiane Paggi, Selma Pina, Ciro Hashimo-to, Ana Silvia Costa, Milton Luiz Abrantes; Gerente de negcios multiplataforma Pequenas e mdiasagnciaseGrupoCasa,GalileueMonet: SandraMelo; ExecutivosdenegciosmultiplataformaGrupo Casa, Galileu e Monet: Ana Silvia Costa, Marco Antnio Costa Gandares, Milton Luiz Abrantes,Cristiane Nogueira, Valquiria Blasioli Leite, Keila Ferrini; Gerente multiplataforma Pequenas & MdiasAgncias e Grupo Moda: Andreia Santamaria; Executivos de negcios multiplataforma Moda: ElianaLima Fagundes, Neusi Maria Brigano, Rosa Maria Martini Barreira; Gerente de negcios multiplatafor-ma Marie Claire: Graziela Daiuto; Diretora de Negcios Digitais: Renata Simes de Oliveira; Executivosde negcios digitais: Andressa Bonm, Lilian Ramos Jardim, Bianca Ramos Piovezana; Consultora demarcas EGCN: Olivia Cipolla Bolonha; Diretor de negcios multiplataforma Regional, PEGN, AE, GRepocaNegcios:RenatoAugustoSiniscalco;Executivosdenegciosmultiplataforma:AndressaAguiar, Diego Fabiano; Gerente multiplataforma: Sandra Regina de Melo Pepe; Executiva multiplata-forma: Alexandra Caridade Azevedo; Diretor de negcios multiplataforma sucursais RJ e BSB: RicardoRodrigues; Gerente de negcios multiplataforma RJ:Rogrio Pereira PoncedeLeon; Executivos denegciosmultiplataformaRJ: AndreaMuniz,DanielaLopes,MariaCristinaMachado,KatiaCorreia,Pedro Paulo Rios, Suellen de Aguiar; Gerente de negcios multiplataforma BSB: Fernanda Requena;Executivas de negcios multiplataforma:BarbaraCosta, Camila Amaral; Diretor Estdio Globo:Ra-fael Kenski; Gerente: Eduardo Watanabe; Gerente de eventos: Daniela Valente; Opec on-line: RodrigoSantanaOliveira,DaniloPanzarini,Higor Daniel Chabes,HenriqueFermino,RodrigoPecoschi,ThiagoPreviero; Opec off-line: Jos Soares, Carlos Roberto Alves de S, Douglas Vieira da CostaMERCADO LEITOR: Diretor de Marketing: Cristiano Augusto Soares Santos;Ger. de Vendas de Assinaturas: Reginaldo Moreira da Silva;Ger. de Operaes e Planejamento de Assinaturas: Ednei ZampesePOCA uma publicao semanal da EDITORA GLOBOS.A. Av. Jaguar, 1.485, So Paulo (SP),CEP05346-902. DistribuidorexclusivoparatodooBrasil: DinapDistribuidoraNacional dePublicaesGRFICAS: Log&PrintGrficaeLogstica S.A. RuaJoanaForestoStorani,676 Distrito Industrial Vinhedo, So Paulo, SP CEP 13280-000.Atendimento ao assinanteDisponvel de segunda a sexta-feira, das 8 s 21 horas, e sbado, das 8 s 15 horas.Internet: www.editoraglobo.com.br/atendimentoSo Paulo: 11 3362-2000Demais localidades: 4003-9393*Fax: 11 3766-3755 (noticaes da Justia devem ser enviadas para 11 3767-7292)*Custo de ligao local. Servio no-disponvel em todo o Brasil.Para saber da disponibilidade do servio em sua cidade, consulte sua operadora localPara anunciar ligue: SP: 11 3767-7700/3767-7489RJ: 21 3380-5924, e-mail: [email protected] se corresponder com a Redao: Enderear cartas ao Diretor de Redao, poca. Caixa Postal66260, CEP 05315-999 So Paulo, SP. Fax: 11 3767-7003 e-mail: [email protected] cartas devem ser encaminhadas com assinatura, endereo e telefone do remetente. pocareserva-se o direito de selecion-las e resumi-las para publicao. S podem ser includas naedio da mesma semana as cartas que chegarem Redao at as 12 horas da quarta-feira.Edies anteriores: O pedido ser atendido atravs do jornaleiro ao preo da edio atual, desdeque haja disponibilidade de estoque. Faa seu pedido na banca mais prxima.O Bureau Veritas Certication, com base nos processos e procedimentos descritos no seu Relatrio de Verica-o, adotando um nvel de conana razovel, declara que o Inventrio de Gases de Efeito Estufa - Ano 2012,da Editora Globo S.A., preciso, convel e livre de erro ou distoro e uma representao equitativa dosdados e informaes de GEE sobre o perodo de referncia, para o escopo denido; foi elaborado em conformi-dade com a NBR ISO 14064-1:2007 e Especicaes do Programa Brasileiro GHG Protocol.EP894p008_V2.indd 8 24/07/2015 16:07:50Momento SuoTISSOTPRC200. CAIXAEMAOINOXIDVEL316L, COROAEFUNDOROSQUEADOS,RESISTNCIA A GUA AT 200 METROS (20 BAR / 660 PS). INOVADORES PORTRADIO.TI SSOT. ChSAC113746289915-0942_AN_TISSOT_EPOCA_894_202x266.indd 1 17/07/2015 14:14:46Job: 21856-018 -- Empresa: africa -- Arquivo: AFF-21856-018-VIVO-GAVETA MASCULINO-REVISTAS-404X266_pag001.pdfRegistro: 170394 -- Data: 17:55:42 13/07/2015Job: 21856-018 -- Empresa: africa -- Arquivo: AFF-21856-018-VIVO-GAVETA MASCULINO-REVISTAS-404X266_pag001.pdfRegistro: 170394 -- Data: 17:55:42 13/07/2015Job: Lupo07do15 -- Empresa: McGarryBowen -- Arquivo: AFA-20637843-Lupo-Neymar-404x266-Epoca_pag001.pdfRegistro: 170492 -- Data: 10:55:18 16/07/2015Job: Lupo07do15 -- Empresa: McGarryBowen -- Arquivo: AFA-20637843-Lupo-Neymar-404x266-Epoca_pag001.pdfRegistro: 170492 -- Data: 10:55:18 16/07/201516 I POCA I 27 de julho de 2015ucia est apaixonada por Edgardo. Enrico, irmo deLucia, contra o casamento. Enrico se aproveita deuma viagem de Edgardo ao exterior para forjar um docu-mento uma carta de Edgardo a Lucia, em que ele diz quej a esqueceu e est comoutra. Desiludida, Lucia concordaem se casar com Arturo, pretendente escolhido por suafamlia. Na hora do casamento, Edgardo volta de viagem. tomado pela ira assim como Enrico, por razes dife-rentes. Lucia se apavora, assim comoArturo. Oderramamentodesanguepareceinevitvel. E, quandochegaomomento mais tenso......Oalvoroo cessa de repente e todoscomeam a cantar. Trata-se do famososextetoChi mi frena in tal momento?,Quemme detmneste momento?, dapera Lucia di Lamermoor. A ao seinterrompe, e ouvem-se os monlogosdos personagens, que reetem sobre oque esto prestes a fazer. Lucia di La-mermoor uma pera cheia de momen-tos criativos como este, de autoria docompositor Gaetano Donizetti (1797-1848). ambientada entre a nobreza daInglaterraecantadaemitaliano. Foiinevitvel lembrar dela nos ltimos diasno Brasil que, infelizmente, vem setornando o pas da pera-bufa.Por aqui, o Ministrio Pblico e a Polcia Federal zeramoperaes de busca e apreenso na casa de congressistas.Alguns deles, como o senador Collor, reclamaram de per-seguio ao Legislativo (se fosse uma pera, aqui entrariaum coro masculino em fortssimo). O presidente da C-mara, Eduardo Cunha, se juntou cantilena depois que umlobista o acusou de recebimento de propina (na partitura,o momento em que a voz do bartono solista se sobrepeao coral). Oex-presidente Lula tambmse queixou da Jus-tia, depois que o Ministrio Pblico abriu investigaocriminal contra ele, por suspeita de trco de inunciainternacional (ria de baixo profundo, em tom menor). E,no momento em que parecia que o pas ia explodir......Veio o recesso parlamentar. A verso, na vida real, dosexteto Chi mi frena in tal momento?. Fazendo as vezesLPERACena de Lucia di Lamermoor.s vezes a ao se interrompe.Mas no para todosJoo Gabriel de LimaDiretor de RedaoEa polcia noparoude cantarde maestro, o vice-presidente Michel Temer congelou osbraos no alto da cabea, indicando a longa pausa. Disseque as duas semanas de folga seriam boas para que se es-friasse a cabea. Nem todos, no entanto, obedeceram ordem.Incgnitonofossodaorquestra,obartonoEduardo Cunha tocava discretamente seu trombone, depoisde aplicar-lhe uma surdina para abafar o som (leia na p-gina 40). Alguns msicos acompanharam a rebelio. Ou-tros, sob a batuta do maestro Temer,dedicaram-se a acompanhar o tradicio-nal momento, comum nas peras, doidlio pastoral. Na plcida Piracicaba,em rsticos trajes camponeses, a con-tralto Dilma e o tenor Alckmin exalta-rama paz e trocaramdelicadas juras deamor (leia na pgina 42).Mas a polcia no entrou emrecesso.Nema Justia. Indiferentes parada dospolticos em Braslia, elas continuaraminvestigando, indiciando, condenandoe prendendo. Empreiteiros e executivosde construtoras foram os principais al-vos. Entre os polticos e empresriospoderosos, ainda h quem ache que possvel controlar as investigaes. Se jera difcil h no Brasil, ainda bem,crescente independncia dos Poderes edasinstituies,agoracouquaseimpossvel. As investigaes da Lava Jato entraramemfasede estreita colaborao compolcias e instituies jurdicasinternacionais, notadamente da Sua e de Portugal (leiamais a partir da pgina 34). Aos que tentarem se opor marcha da verdade, s restaro as rias melanclicas. Sea pera da Lava Jato chegar a um nal feliz, elas seroabafadas, na ltima cena, pelo coro triunfante da Justia.Foto: Getty ImagesEP894p016.indd 16 24/07/2015 16:09:34PRIMEIROPLANO27 de julho de 2015 I POCAI 17Oexecutivo quefraudou ou permitiu afraude nas contas daToshiba, numesquemaque prejudicoumais de 400 milinvestidores, pededesculpas e renunciado cargo. Enquantoisso, no Brasil...NaterradatolernciazeroHI SAOTANAKAPERDOTanaka, naentrevista emque renunciouao cargo. Aempresa inouos lucros emUS$ 1,2 bilhoFoto: Issei Kato/ReutersEP894p017_019.indd 17 24/07/2015 17:06:4718 I POCA I 27 de julho de 2015s guerreiros samurais do Japo feudal vi-viamparaprotegerosinteressesdeseussenhores. Agiamsobumausterocdigomoral no escrito, que estabelecia obriga-es de servir com sinceridade, bravura elealdade. Burlar essas regras era um caminho para a per-da da honra, e o guerreiro poderia pagar a falha com avida. No se exige de ningum que siga, hoje, o antigocdigo samurai. Mas ele ainda tem algum efeito sobrecomo reagem, ao ser pegos no agra, os japoneses corrup-tos de quem se esperava conduta exemplar. Na tera-feirada semana passada, Hisao Tanaka, de 65 anos, presidenteexecutivo da Toshiba, renunciou ao cargo, aps ser pegoem um escndalo de falsicao de contas da empresa.Junto comele, pediramdemisso o vice-presidente, NorioSasaki, e o consultor Atsutoshi Nishida, ex-presidente daToshiba. Sasaki tambm renunciou ao posto num grupode conselheiros empresariais do primeiro-ministro, Shin-zo Abe. Os trs executivos curvaram-se por vrios segun-dos em frente a dezenas de cmeras. Peo desculpas decorao a todas as partes interessadas (na companhia) porter causado esses problemas, disse Tanaka. Trata-se doepisdio mais prejudicial para nossa marca nos 140 anosde histria da empresa. Ainda no se sabe qual a exten-so da culpa pessoal do executivo se ele maquiou contasou se manteve umambiente propcio para que elas fossemmaquiadas. A Toshiba, ao comunicar a demisso do exe-cutivo, divulgou um comunicado com teor semelhante:Revelou-se que tem havido contabilidade imprpria pormuito tempo, e pedimos perdo aos interessados por tercausado esse srio problema.O escndalo que, durante as gestes dos ltimos trspresidentes da empresa, os lucros foraminados numtotalde cerca de US$ 1,22 bilho. A fraude foi descoberta porum comit investigativo independente que refez clculosdos ltimos seis anos. Desde a formao do comit, emabril, as aes da Toshiba na Bolsa de Tquio caram 20%.A Bolsa dever multar a Toshiba pela fraude.Pelo que se sabe at agora, a maquiagem de contas co-meou em 2008, pice da crise econmica mundial, anoem que a empresa japonesa acumulou prejuzos de apro-ximadamente US$ 3,5 bilhes. Em meio a um cenrioinstvel, conteno de gastos, corte de pessoal e enxuga-mento de atividades, os executivos comearam a exigir deseus funcionrios metas inalcanveis. De forma repenti-na, a empresa passou a divulgar projees de lucro cadavez mais altas. A presso interna e externa por resultados,a ausncia da possibilidade de questionamentos de subor-dinados a superiores e a falta de sistemas de controle re-sultaram no esquema de falsicao de dados. O caso es-cancarouafalnciadosistemaderigidezhierrquicapresente em muitas corporaes japonesas, que facilita acorrupo nos cargos mais altos. Na Toshiba, havia umacultura corporativa que no permitia contrariar as vonta-des do alto escalo. Quando a alta direo apresentava asmetas, osfuncionriosdosegundoescalorealizavamprticas contbeis inadequadas para cumprir esses objeti-vos, arma o relatrio do comit.O consumidor brasileiro conhece a marca por meio daparceria com a Semp (antiga Sociedade EletromercantilPaulista), que em 1977 deu origem Semp Toshiba, fabri-cante de eletrnicos, como computadores e aparelhos deTV. Aps viver um perodo de sucesso at os anos 2000,com faturamento anual acima de R$ 2 bilhes, a empresapassou a apresentar resultados piores. Desde 2011, registraprejuzo. Mas a participao da Toshiba na parceria noBrasil no d a real dimenso da companhia, fundada em1875 e at agora considerada um exemplo de tica corpo-rativa. Hoje, a empresa tem 200 mil funcionrios distri-budos por mais de 590 operaes em 30 pases. Em 2014,tinha mais de 400 mil acionistas. Alm de computadores,tablets e monitores, o grupo fabrica equipamento hospita-lar (uma rea aberta por Tanaka) e sistemas para gerao,transmisso e distribuio de energia.Tanaka cheava esse colosso desde 2013, quando a maiorparte dos grupos de tecnologia do Japo sofria com a criseeconmica. Oexecutivo assumiu a misso de superar a faseOMarcos Coronato comGabriel LellisPERSONAGEMDASEMANASOINCIOGraa Foster,ao renunciar Petrobras. OBrasil comeaa scalizarcontas pblicase empresariaisEP894p017_019.indd 18 24/07/2015 17:06:4827 de julho de 2015 I POCAI 19adversa. Era cria da casa trabalhava na Toshiba ha-via 42 anos e fez carreira internacional no setor devendas. Como convm imagem de um executivomoderno, praticava arte marcial, era considerado umhomem focado, apreciador de leitura e golfe. Era umpregador das virtudes da comunicao e armavasempre ouvir os funcionrios. Pelo jeito, ouvia apenasos que no revelavam verdades incmodas.A sociedade japonesa, como todas as outras, sofrecom corrupo, nas empresas e no governo. A dife-rena em relao a sociedades menos desenvolvidas,como o Brasil, que por l h menos impunidade euma forte intolerncia com os corruptos. Quandoestoura um escndalo desse tipo, toda a cpula daempresa convoca a imprensa, pede desculpas fazendouma reverncia e pede perdo para a sociedade, emseguida pedindo demisso, arma Wataru Kikuchi,pesquisador no Centro de Estudos Japoneses da USP.A presso da opinio pblica enorme e no cessaat ocorrer esse ato que se poderia dizer at rituals-tico. A mdia veicula 24 horas a notcia, muitas vezesde forma sensacionalista, e contribui para aumentaressa presso. No caso da Toshiba, nada ainda indicaque haver processos judiciais e prises. Mesmo sema ao da Justia, a presso da opinio pblica servecomo punio. A retaliao social pode levar o indi-vduo ao suicdio. Em2007, o ento ministro da Agri-cultura, Toshikatsu Matsuoka, enforcou-se comumacoleira de cachorro, aps ser acusado de favorecer emlicitaes empreiteiras e construtoras que zeramdoaes a sua campanha eleitoral.No Brasil, os casos de fraude tomam a cena commaior frequncia que no Japo. Entre os casos eminvestigao atualmente esto a compra de trens demetr superfaturados pelo governo paulista, entre1998 e 2008, e a contratao de obras pela Petrobrasemtroca de pagamento de propina e doaes de cam-panha. A presidente da Petrobras no momento emque veio tona o escndalo, Graa Foster, esperoumeses at renunciar ao cargo. Hoje, a Petrobras estimater perdido R$ 6,1 bilhes por causa da corrupo.Segundo JurivanVieira, doutor emcincias jurdicas,o brasileiro deveria se indignar com os malfeitos emempresas tanto quanto no governo. Asociedade bra-sileira no d a importncia adequada corrupoempresarial, porque pensa no haver consequncias.Mas, quando um grupo econmico que aparenta so-lidez comete fraude, engana o Estado e os investido-res, gera descrena e afeta outras empresas, diz. Es-peremos que os culpados por fraudes, por ao ouomisso, em qualquer pas, enfrentem na Justia asconsequncias de suas decises. uHisao TanakaAculturadaempresaimpediaquesecontrariasseoaltoescalo. Asoluoerafalsicaros resultadosFoto: Fbio Motta/ Estado ContedoEP894p017_019.indd 19 24/07/2015 17:06:48Onda de mortes emManausManaus passou a semana em estado de alertaaps a ocorrncia de ao menos 35 homicdios emquatro dias. O governador do Amazonas, JosMelo (Pros), admitiu falhas no combate violnciae armou que a Secretaria de Segurana Pblicafoi pega desprevenida. A onda de assassinatoscomeou aps a morte de um policial na sexta-feira, dia 17. Pelo menos 17 mortes foram causadaspor armas de fogo de posse exclusiva de policiais.Os investigadores suspeitam que membros daPolcia Militar podem ter participado dos crimes.PacoteaprovadoNa madrugada da quinta-feira, dia 23, o Parlamentogrego aprovou a segundaparte de um pacote deausteridade que abriras portas do pas para asnegociaes de um terceiroresgate nanceiro. As medidasaprovadas incluem uma lei dereforma bancria e mudanasno cdigo civil grego.Opresente deHaddadao papaEm um seminrio no Vaticanoque reuniu prefeitos do mundointeiro, o prefeito de SoPaulo, Fernando Haddad (PT),causou polmica ao presentearo papa Francisco com um LPautografado do grupo de rapRacionais MC. O nome do disco Sobrevivendo no inferno.Canad acusaatleta brasileiroO goleiro Thy Bezerra, da seleobrasileira de polo aqutico, foiacusado de abuso sexual pelapolcia de Toronto. Ele suspeitode abusar de uma mulher de22 anos enquanto ela dormia.O atleta estava no Canaddisputando o Pan e deixou o pasem 16 de julho, rumo Crocia.O Canad emitiu um pedidointernacional de priso de Bezerra.JULHOI 2015Seg Ter Qua Qui Sex Sb Dom20 21 22 23 24 25 26FINANCTIMESVENDIDOOtradicionaljornal britnicoFinancial Timesfoi vendido parao grupo asiticoNikkei porNANCIALFotos: Herick Pereira/Governo Do Amazonas, Galit Rodan/Ap,Peter Nicholls/Reuters,Nsa, Arnd Wiegmann / Reuters, LossservatoreRomano/Ap,Reproduo, Wassilios Aswestopoulos/Nurphoto/ApQUERESUMEMASEMANAEP894p020_021.indd 20 24/07/2015 20:08:3727 de julho de 2015 I POCAI 21OMAISANTIGOEXEMPLARDOCOROCientistas britnicos identicarama data derarssimos fragmentos do Coro que faziamparte de uma coleo da Universidade de Birmingham, na Inglaterra.Os manuscritos datamde 568 a 645 d.C., menos de 20 anos depois da morte de Maom, o profeta do isl.Dlares ao arO presidente da Fifa, JosephBlatter, foi alvo de uma chuva dedlares na segunda-feira, dia 20,durante uma entrevista coletiva.O dinheiro, falso, foi jogado pelocomediante ingls Simon Brodkin.O humorista tambm fez piadacom a compra de votos para aescolha do pas sede da Copado Mundo de 2026. Essa vaipara a Coreia do Norte, disse.Umplaneta como a TerraOtelescpio Kepler fotografou umnovo planeta,o Kepler-452b, que orbita uma estrela parecida coo Sol. Oplaneta ca na zona habitvel, ou seja, a udistncia de seu sol que facilita a existncia de vidamumaarbita da Terra aPlanetas sodifceis dedescobrir porqueno tmluzprpria. Paraencontr-los,devem-se observarestrelasQuando o planetapassa emfrente estrela, o brilhoestelar diminui.Comessa tcnica,foramidenticadosmais de 1.000planetasOKepler-452b parecidocoma Terra, gira emtorno deuma estrela parecida comoSol e est na zona habitvelde seu sistemaEP894p020_021.indd 21 24/07/2015 20:08:44QUERESUM MEMASEMANASe vooc estprocur randoum p blicodiferente,posso televar a a umaboate destripteeaseCharlize Theron,atriz. Oconvite inussitado foi feitoao presidente dos E Estados Unidos,Barack Obama. Elaa reconheceudepois que foi uma piada imbecil22 I POCA I 27 de julho de 2015EP894p022_023.indd 22 24/07/2015 17:53:59I IAt existeuma crisezinhapoltica, masinstitucional noMichel Temer,vice-presidente da Repblica, sobre asconsequncias do rompimento do presidenteda Cmara, Eduardo Cunha, como governoTemos o melhorcomandante possvel,mas ele sozinho novai ganhar a guerraBeny Parnes,ex-diretor do Banco Central, sobre a atuaodo ministro JoaquimLevy. Na semanapassada, o governo reduziu a meta desuperavit scal de R$ 66,3 bilhes para R$ 8,7bilhes (leia Nossa Opinio, na pgina 30)Seria til seele renunciasseao mandatoMiro Teixeira (Pros-RJ),deputado federal, sobre Eduardo CunhaEstou perto dasantidade. Nocometo mais pecados,nem em pensamentoSilvio Berlusconi,ex-primeiro-ministro da Itlia. Famoso porpromover orgias, ele j foi condenado por crimesde fraude scal e, mais recentemente, corrupoDisseramque eraa cabea de uminelYahya,menino iraquiano de 14 anos sequestradopelo Estado Islmico. Ele fugiu de umcampo de treinamento onde era forado atreinar decapitaes comuma bonecaGosto de me comparara outros tipos deartistas, como PicassoMadonna,cantora, revelando que andacoma autoestima emaltaSer possvel verse umbeb no terotemtendncias criminalidade,e, se tiver, a meser impedidade dar luzLaerte Bessa (PR-DF),deputado federal e relatordo projeto de reduo damaioridade penalTOMATEDASEMANANo precisamosde egoarquitetos,precisamos deecoarquitetosJaime Lerner,urbanista, emdebate promovido por POCAnoFrumInternacional de Arquitetura e UrbanismoNo sei por queo mundo temdegirar emtorno deartigos cientcosBela Gil,chef de cozinha e apresentadora. Eladefendeu a substituio da pasta dedente por crcuma, o que, segundo Bela,ofendeu a comunidade odontolgicaEst tudo toruim que estoupropenso a aceitarJos Luis Datena,apresentador de TV, sobre possvelcandidatura prefeitura de So Paulo emm2016. Ele diz j ter sido convviiddaaddo a secandidatar porr ppeelloo menos dois partidFotos: Joel Ryan/AP e Gustavo Lima/ABREP894p022_023.indd 23 24/07/2015 17:54:[email protected] Por Murilo Ramos24 I POCA I 27 de julho de 2015Vingana amargaAliados de primeira hora deEduardo Cunha, polticos donanico PSC esto revoltados como deputado pernambucano SlvioCosta, que pediu o afastamentodo presidente da Cmara. Acpula do partido se reunirem agosto para enquadraro polmico Costa. H quemdefenda sua expulso do partido.Doce esperaO senador Fernando Collorde Mello poderia ter sidodenunciado em maro pelaProcuradoria-Geral daRepblica, tamanha a quantidadede provas de seu envolvimentonas ilegalidades. S que a esperados investigadores foi boa apareceram muito mais. Saiude um delito de R$ 50 mil paradelitos de R$ 5 milhes, dizem.Pavor e pnicoUm funcionrio do Planaltoque trabalha prximo deDilma est assustado com osdesdobramentos da Lava Jato. que ele mantinha estreitorelacionamento com OtvioAzevedo, ex-presidente doConselho de Administraoda Andrade Gutierrez.Caixa-forteO volume de documentosgerados na Lava Jato cresceu deforma to rpida que obrigoua Procuradoria-Geral daRepblica a comprar mais umcofre. Agora so dois por l.Assim, cabero documentossobre Edinho Silva e AloizioMercadante, delatados peloempreiteiro Ricardo Pessa.Bala de pratanvestigadores da Lava Jato afrmam ter encontrado a bala deprata apelido dado ao conjunto de provas capaz de sustentara denncia contra o presidente da Cmara dos Deputados, EduardoCunha. O que mais lhes agrada o depoimento do ex-diretor deinformtica da Cmara Lus Eira. Ele foi ao Ministrio Pblicoinformar que requerimentos supostamente usados para pressionaruma empresa a manter o pagamento de propina ao PMDB saram docomputador de Cunha. A verso de Eira corrobora informaes dodoleiro Alberto Youssef. A bala de prata de Renan Calheiros aindano foi encontrada, mas ele ser denunciado de qualquer jeito.IPrximos captulosDeixa dissoDepois de seis meses apanhandode Eduardo Cunha, no sopoucos os deputados petistas queadorariam pedir sua cabea empblico. S que o ex-presidenteLula tem agido para esfriar osnimos. No que Lula nutrasimpatia por Cunha, mas avaliaque se o PT, desgastado do jeitoque est, tentar ir forra, Cunhapoderia at se fortalecer.Fotos: Dida Sampaio/Estado Contedo, Assiano Rosrio/FuturaPres, Andre Dusek/Estadao Conteudo e Andre Penner/ApEP894p024_025.indd 24 24/07/2015 20:10:09ComMarcelo Sperandio, Nonato Viegas, Ricardo DellaColetta e Teresa Perosa e reportagem de Thiago BronzattoRessacadaAs importadoras de bebidasj sentiram o impacto da criseeconmica. O faturamento caiu5% no primeiro semestre emrelao a igual perodo do anopassado. Os consumidores estotrocando, por exemplo, vinhosde R$ 70 por vinhos de R$ 40.ouroEntre todas as TVs estrangeiras quecobriro a Olimpada de 2016, acanadense CBC, que pblica, ter omaior espao no centro internacional detransmisso: 1.000 metros quadrados. transmisso: 1.000 metros quadrados.FantasminhaO Po de Acar acaba deentregar ao Ministrio PblicoFederal um relatrio mostrandoque o ex-ministro da Casa CivilAntonio Palocci no entregouo trabalho de consultoria peloqual faria jus a R$ 5,5 milhes.Os procuradores usaro ainformao numa investigaopara apurar improbidadeadministrativa do ex-ministro.Fantasminha 2O Ministrio Pblico de SoPaulo abriu investigao paraapurar enriquecimento ilcitode funcionrios do Sesi que nocostumavam aparecer. MarleneArajo, nora de Lula, est no rol.SemrumoAs informaes sobre opagamento de propina daOdebrecht a diretores da Petrobrasno exterior sepultaram de vezo nimo dos funcionrios dacpula da empreiteira. At areao s acusaes mudou.Em vez de gritaria, silncio.Memriasdo crcereSabe o agente da Polcia Federalque aparece emquase todasas fotos (acima) ao lado dospresos da Lava Jato que chegam superintendncia da PF emCuritiba? Pois , o nome dele Newton Ishii. Ingressou nacorporao em1976. Em2003,sofreu umgrande baque. Foipreso pela prpria PF durantea Operao Sucuri, suspeitode integrar uma quadrilha querealizava contrabando na fronteirado Brasil como Paraguai.Acusado de corrupo, chegou aser expulso da PF. Ishii respondea processos criminal e civil, almde uma sindicncia. Reintegrado,a Polcia Federal diz que Ishii gozade confana da direo e umexcelente profssional.Estica e puxaA situao fnanceira do governoest to feia que o Ministrio dasCidades negociou o alongamentodos prazos de pagamento do MinhaCasa Minha Vida. Antigamente,o dinheiro era repassado paraas construtoras em at 20 dias.Agora, as pequenas receberoem 30 dias, as mdias em 45dias e as grandes em 60 dias.Sabe nadda, inocenteQuem se surpreeendeu com a revisodo superavit primmrio de 1,1% para0,15% do PIB por pouco no seassustou mais ain nda. Durante horase mais horas de rreunio para defniro resultado, os m ministros da equipeeconmica chegaaram a analisar apossibilidade de zerar a meta fscal.Poo fundoO ministro da Fazenda, JoaquimLevy, sabe que a infao vai piorarum pouquinho mais no incio destesegundo semestre com o aumentode algumas tarifas, como energiaeltrica e, quem sabe, combustveis.Leia a coluna Expresso em epoca.com.brAnjo GabrielMinistros adoram quandoGabriel, neto de Dilma, aia Braslia visitar a av.fca mais doce, mais serecom os assessores? Nadadisso. que, ao cuidar deGabriel, Dilma tem menostempo para ligar paraos auxiliares cobra dresultados e previses.Feiro ameaadoA corrida do presidente daPetrobras, Aldemir Bendine,para vender ativos e reforar ocaixa da estatal esstt aammeeaaaaddaa..Em breve, o Trib bunal deContas da Unio o vai fazerobservaes conntra o queconsidera uma liberalidadeexcessiva da emp presa.Voltas que o mundo dEP894p024_025.indd 25 24/07/2015 20:10:11GUI LHERMEFI UZAGuilherme Fiuza jornalista. Publicou os livros Meu nome no Johnny, quedeu origemao lme, 3.000 dias no bunker e No a mame Para entender aEra Dilma. Escreve quinzenalmente emPOCA. [email protected] I POCA I 27 de julho de 2015OProibidodo Portogigante est sambando. Num ataque crnico de so-nambulismo, ele vem requebrando freneticamente em formidveis acrobacias para manter Dilma Rousseffno Planalto. A cada novo petardo da Lava Jato expondoa indstria de corrupo montada pelo PT no topo daRepblica, o gigante mostra seu poder de esquiva. Nomelhor estilo Ronaldinho Gacho, ele olha sempre parao lado em que a bola do petrolo no est. E acaba decontrairumdolorosotorcicolo,emsuaguinadaparanoveraliteraturaexplosivadosbilhetesdeMarceloOdebrecht na cadeia.O Brasil j mostrara toda a sua ginga ao virar a cara,numa pirueta radical, para o encontro secreto de Dilmacom Lewandowski em Portugal. A presidente da Rep-blica e o presidente do Supremo Tri-bunal Federal, irmos de credo, re-nem-se s escondidas fora da capitalportuguesa, no momento em que omaior escndalo de corrupo da his-tria do pas (envolvendo o governodela)temseudestinonasmosdainstncia judiciria mxima (presidi-da por ele). Normal. No que o encon-tro vazou, a dupla explicou tudo: areunio foi para discutir o reajuste dosservidores da Justia.Perfeitamente compreensvel. Noh outra forma de discutir salrio de funcionrios p-blicos a no ser cruzando o Oceano Atlntico para umcafezinho clandestino. No Brasil, mais fcil uma aber-rao dessas virar rap o Proibido do Porto do queacordar a plateia para os riscos que rondam a OperaoLavaJato.Comoosbrasileirossecansaramdevernomensalo ou pelo visto no se cansaram , esse gatose esconde com o rabo de fora.A inabalvel posio de Lewandowski pr-mensalei-ros, em harmonia com a inabalvel lealdade de Dilmaaos companheiros apanhados em situao de roubo, asinfonia que se repete no petrolo. Entre as cenas que seseguiram ao Proibido do Porto est o cerco ao presiden-te da Cmara, Eduardo Cunha personagem venenosoque fustiga o governo. Surgiram oportunamente indcios,embalados por declaraes providenciais do procuradorJanot um homem providencial empurrando Cunhapara o STF de Lewandowski. O presidente da Cmararespondeu que no v problema em ser investigado noSupremo, desde que Dilma seja tambm. esse tipo de comentrio que faz o gigante rebolar.Como assim, investigar Dilma? Por que investigar a pre-sidenta mulher, me, av e que at tem um cachorro? Quefoi perseguida pela ditadura? (Embora hoje no se saibaao certo quem persegue quem.) De sua cela, MarceloOdebrecht mandou a resposta: porque ela recebeu di-nheiro sujo do petrolo diretamente de uma conta naSua para sua campanha presidencial. Que tal? Essa in-formao foi captada pela Polcia Federal de um celulardo empreiteiro preso, em forma cifrada, mas bastanteclara. Como j vinha se desenhando com clareza nasdelaes premiadas, praticamente todas apontando parananciamento de Dilma e do PT com propinas do pe-trolo, atravs do ex-tesoureiro Vaccari.Por uma enorme coincidncia, a em-preiteira a mesma em favor da qualLula suspeito de fazer trco interna-cional de inuncia, conforme investi-gao em curso no Ministrio Pblico.O Instituto Lula diz que vrios ex-pre-sidentes viajam para defender interessesdas empresas de seus pases. Resta saberse algum deles recebe cachs estratosf-ricos das empresas que defendem ou seviaja com uma bolsa BNDES a tiracolopara fazer brotar instantaneamentequalquer obra em qualquer lugar.O gigante se contorce inteiro para no ver que o petro-lo, como o mensalo, parte de umprocesso de pilhagem a includas outras tticas parasitrias como as pedaladasscais, tudo a servio da transfuso de dinheiro pblicopara um grupo poltico bonzinho se eternizar no poder.O Brasil est comendo o po que o diabo amassou, mer-gulhando numa recesso que no segue o panorama mun-dial, nem continental e ouve numa boa o companheiroRicardo Lewandowski declarar, aps o Proibido do Por-to, que a derrocada econmica nacional decorrente dacrise de 2008 nos Estados Unidos...Claro que ningum perguntou nada ao presidente doSTF sobre a conjuntura econmica. Mas no precisa,porque eles esto ensaiadinhos e so desinibidos. A pe-ra-bufa no tem hora para acabar, enquanto a plateiaestiver dormindo. uOO GIGANTE SECONTORCE TODOPARA NO VER QUEO PETROLO PARTEDE UM PROCESSODE PILHAGEMEP894p026.indd 26 24/07/2015 17:34:02Job: 22533-033 -- Empresa: africa -- Arquivo: AFD-22533-033-QUALICORP-18 ANOS-RV EPOCA-202x266_pag001.pdfRegistro: 170565 -- Data: 15:48:32 17/07/2015Escreva para:[email protected]. Que seja para o bem(893/2015), POCAmostrou a aoda Polcia Federal emconjunto coma Procuradoria-Geral da RepblicaUma coisa certa: Braslia virou umjogo de poder descarado. Ningum,semexceo, est pensando nos interessesdo pas e da populao. Todos querendoapenas salvar a prpria pele e perpetuaressa vida mole.Luis Tibir Lar,via FacebookCOMENTRIODASEMANAPor muito tempo os polticos apenasempurrarama sujeira para debaixodo tapete coma certeza de queningumveria. Agora estamosvendo o comeo da limpezaAndressa Marques,So Paulo, SPO pas vive uma grave crise institu-cional, pois necessrio restaurar opoder presidencial comreformas polticas,econmicas e sociais.Luiz Roberto Da Costa Jr.,Campinas, SPAbsurdo decretar sigilo de algumasoperaes. O povo tem o direito deacompanhar passo a passo as investigaesse assim o quiser.Raquel do Nascimento,via TwitterUMATENTATIVAFALHACapitalismo de compadrio(893/2015) defende que a poltica doscampees nacionais umascoA reportagem distorce a interpreta-o de dados do relatrio de efetivi-dadedoBNDESparaatacaraaodoBanco. A anlise de seis indicadores degrandes empresas industriais que tiveramapoio nanceiro do BNDES mostrou queem trs deles houve resultados superioresaos observados nas companhias noapoiadas. Para os outros trs, no foi pos-svel chegar a uma concluso. A revista,ento, qualicou o resultado comoascoe foi alm: atribuiu o diagnstico ao pr-prio BNDES. Mas, diferentemente do pu-EP894p028_029.indd 28 24/07/2015 18:25:15blicado, em nenhum momento o Bancodisse considerar sua poltica um ascoou armou que a poltica de apoio a gran-des indstrias no proporcionou os resul-tados esperados. Ao contrrio: a conclusogeral do relatrio que a contribuio doBNDES ao desenvolvimento temsido po-sitiva. Tambm incorreto dizer que orelatriofoi publicadosemalarde. OBanco divulgou a informao em 2 de ju-nho, informando tambm as mudanasno BNDES Transparente, que mostrou aefetividade dos nanciamentos. O relat-rio est disponvel no site do Banco e podeser consultado por qualquer cidado.Paulo Braga, chefe da assessoriade imprensa do BNDESPOCAmantmo que publicou.Pluto vistode perto.Ocorao formado pormontanhasde gasescongeladosMAI SCOMENTADAS MAI SLI DAS MAI SCOMPARTI LHADASI NSTAGRAMDOLEI TOR@mel_bussmann venceu o temaMar. Conra mais fotose o tema da prxima edio no sitede POCA: glo.bo/bombouPresidente da Cmaraanunciar rompimento...(Coluna Expresso)Houve canibalismo empresdio, diz funcionrio...(Coluna Expresso)Graa Foster no foiencontrada por ociais...(Coluna Expresso)Haddad, o ProfessorPardal e as marginais(Coluna Blog do Fucs)Um dia da caa,outro do caador(Coluna de Ruth de Aquino)12345gua de coco no cabeloe dormir de maquiagem...(Coluna de Bruno Astuto)Houve canibalismo empresdio, diz funcionrio...(Coluna Expresso)Haddad, o Professor Pardale as marginais(Coluna Blog do Fucs)Um terremoto.Que seja para o bemO HPV e a gerao quecompartilha tudo(Coluna de Cristiane Segatto)12345Presidente da Cmaraanunciar rompimento...(Coluna Expresso)Lula pede sigilo sobreinqurito de lobby...(Coluna Expresso)Cunha avisa Temer quenome de vice-presidente...(Coluna Expresso)Lula vai deporna Justia?Cunha deve acionara bomba-relgio doimpeachment, diz...12345UMNOVOCONHECIDOUmcorao que utua no espao(893/2015) narrou a misso New Horizonsque depois de nove anos chegou a PlutoA chegada humana a Pluto fantstica. Logo poderemos vislumbratoda forma solitria de todo o UniversoCarlos Fabian SeixasCampos dos Goytacazes, RUm grande passo para a cinciapara o conhecimento humano.Depois de uma longa viagem, a New Ho-rizons traz boas notcias, e imagens.Celso Moka,Rio de Janeiro, RJCALOROSOPluto vistos,on-aro.s,RJeEP894p028_029.indd 29 24/07/2015 18:25:1930 I POCA I 27 de julho de 2015ministro da Fazenda, Joaquim Levy, umhomemconhecido pela obstinao.Ele no desiste facilmente de seus desa-os. NoMinistrioda Fazenda, suas jornadas detrabalho atravessam o dia e avanam pelas ma-drugadas. Desde que ele assumiua Fazenda coma misso de tentar arrumar a baguna feita porDilma I na economia brasileira, sabia-se que suatarefa de promover umajuste scal que colocas-se as contas pblicas numa rota sustentvel seriardua. Na semana passada, cou claro que o ta-manhododesao, apesar dos esforos empreen-didos por Levy desde o incio do ano para cortardespesas e melhorar receitas, aumentou. O go-verno federal anunciou ocialmente que a metade superavit primrio (o superavit do governofederal, excludas as despesas como pagamentodos juros para rolagem da dvida pblica) foireduzida de 1,2% para 0,15% do PIB (ProdutoInterno Bruto). Ou seja, ela foi praticamenteanulada. O governo federal at admitiu que ascontas pblicas podero fechar com decit em2015 o que signicaria contas no vermelho pelosegundo ano consecutivo.Depois de reduotodrstica da meta, omi-nistroda Fazenda tratoude desmentir, ementre-vista jornalista MiriamLeito, transmitida pelaGlobonews, que havia jogado a toalha. Nem areduo da meta, disse o ministro, signica queo governo resolveu moderar a conteno de gas-tos. Segundo argumentou Levy, a poltica scaltem de ser realista para dar previsibilidade aosagentes econmicos. Isso (a reduo da meta)permite que as pessoas tomemdecises commaissegurana, disse. verdade. Diante da queda dearrecadao federal, por causa da recesso eco-nmica, que est sendo muito maior do que osplanos originais do governo, o cumprimento dameta de superavit de 1,2% se tornara irrealistaO ainda mais porque o Congresso, nas votaesdo ajuste scal, se deixou levar pelo populismoinconsequente. Areduo da meta, semdvida,torna a poltica scal mais transparente.Apesar das explicaes deLevy, omercadoreagiumal medida. fcil de entender por qu. Diasantes do anncio da nova meta, Levy dava entre-vistas contra uma reduo to drstica. Segundorelatos que saem de dentro do prprio governo,Levy foi vencido numa queda de brao internapelos que defendemuma poltica scal mais frou-xa. Numgoverno cheio de ambiguidades, que sabraou o ajuste scal por fora das circunstn-cias, Levy parece isolado numa luta que no de-veria ser s sua. Quanto mais prolongado o ajus-te, maiores sero as diculdades para todos osbrasileiros. Por mais obstinado que Levy seja, eleno vencer esse desao se no tiver apoio pol-tico. Aresponsabilidade maior da presidente daRepblica. No nosso sistema poltico (como lem-bra o cientista poltico Brasilio Sallum Jr., em en-trevista na pgina 52), seu papel insubstituvel. uA presidente Dilma Rousse precisa reforar, sem qualquerambiguidade, o apoio ao ajuste feito pelo ministro da FazendaLevynopodeficar sSOLIDARIEDADEJoaquimLevye o ministrodo Planejamento,Nelson Barbosa( dir.), no anncioda reduo dameta. Oministroda Fazendaprecisa mais quetapinhas nas costasFoto: Ed Ferreira/FolhapressEP894p030.indd 30 24/07/2015 17:41:10PETRONAS. PRESENTE NOMUNDO. NOBRASIL. NA SUA VIDA.PETRONAS SPRINTA.A ALTA TECNOLOGIA QUEVAI PROTEGER A SUA MOTONO DIA A DIA.Com PETRONAS SPRINTA e seu avanado sistema de aditivao, o seu motor catotalmente protegido. Isso mantm os pistes limpos at mesmo nas condiesmais severas do dia a dia.17.An15B_Pet_prod_Sprinta_T2_202x266.indd 1 7/17/15 5:19 PM34 I POCA I 27 de julho de 2015TEMPOTEATRODAPOL TI CAPOLICIAISEPROCURADORESDEDIFERENTESPASESCOLABORAMPARACAARCORRUPTOSINTERNACIONAIS.ALLna Frana, na Blgica e nos Estados Uni-dos. Outro caso recente foi a priso, naSua, de dirigentes da Fifa suspeitos decorrupo, aps uma investigao levadaa cabo pela polcia americana.No Brasil, a Operao Lava Jato veminovandonoapenas aoempregar mto-dos inspirados na OperaoMos Limpas que desarticulou os esquemas de cor-rupo na Itlia ao longo dos anos 1990.Na semana passada, a Procuradoria-Geralda Repblica de Portugal anunciou quea fora-tarefa da Lava Jato fez um pedi-do de cooperao internacional. Desde otempodomensalo, a polcia portuguesainvestiga casos de corrupo envolvendobrasileiros, com ramicaes em Portu-gal. Agora, a Lava Jato quer uniras duaspontas, mensalo e petrolo. E tambmtemoperado emcolaborao como Mi-nistrio Pblico da Sua. A Lava Jato jvirouumcasode estudo, diz oadvogadopenal Mauro Csar Arjona.Na semana passada, os procuradoressuos conrmaramque as investigaesda Lava Jato esto no caminho certo.Elas rastrearam as contas da Odebrechtno exterior (leia a partir da pgina 36).Pelo relato das autoridades suas e do-cumentos apresentados, h prova, emcognio sumria, de uxo nanceiromilionrio, em dezenas de transaes,entre contas controladas pela Odebrechtou alimentadas pela Odebrecht e con-tas secretas mantidas no exterior pelosdirigentes da Petrobras, armou o juizSergio Moro emseu despacho. Na sexta--feira, dia 24, os presidentes de duas dasmaiores construtoras do pas, MarceloOdebrecht, da Odebrecht, e Otvio Mar-ques de Azevedo, da Andrade Gutierrez,foram denunciados Justia sob acusa-o de corrupo, lavagem de dinheiroe formao de organizao criminosa. Adenncia atinge ao todo 22 pessoas. Foidecretada tambma quebra de sigilo dascontas da Odebrecht no exterior.Na reportagem que segue, POCAmostra, comexclusividade, asinves-tigaesemPortugalquerevelamosprimeirosindciosdeumacontanoexterior que pode ter alimentado cam-panhas do PT. E mostra como as inves-tigaes sobre a Odebrecht, na semanapassada, podemse desdobrar na Sua. Acolaborao entre a fora-tarefa da LavaJato e os investigadores europeus aindatem muito o que render.vidados corruptos mundoafora setorna cada vez mais difcil. Aglo-balizao a mesma que abriumercados, criou oportunidadesdeprosperidadeetambmdecorrupo internacional chega,aos poucos, Justia. Com isso,os agentes da lei de cada pas podemcaar malfeitos alm de suas fronteiras.O primeiro movimento nesse sentidoocorreu na Comunidade Europeia. Nosanos 1990, os Ministrios Pblicos e aspolcias dos diferentes pases comearamumintenso intercmbio. Aintegrao foicrucial para uma investigao importan-te no incio deste ano: o caso SwissLeaks,em que a lial de Genebra do bancoHSBC esteve envolvida num escndalointernacional de sonegao de impos-tos. Um funcionrio que trabalhou noHSBCpor oito anos pegou toda a movi-mentao nanceira irregular e entregoua trs MPs, o da Sua, o da Itlia e o daFrana, diz o jurista Luiz Flvio Gomes,estudioso do assunto e doutor emDirei-to pela Universidade Complutense deMadrid. Graas ao intercmbio de de-poimentos e provas entre os Judiciriosdos pases, o HSBC sofreu condenaesEP894p034_035.indd 34 24/07/2015 20:28:08IIS.ALAVAJATO, AGORA, AVANAPARAOEXTERIOREP894p034_035.indd 35 24/07/2015 20:28:0836 I POCA I 27 de julho de 2015Thiago Bronzatto e Filipe CoutinhoACOLABORAOENTREAFORA-TAREFAEAUTORIDADESSUASRASTREOUASCONTASDAODEBRECHTEPODEESSTEATRODAPOL TI CAm setembro de 2012, o publici-trio mineiro Marcos Valrio,condenado a 37 anos de priso,deu um depoimento ao Minist-rio Pblico Federal. Na ocasio,falou de contas no exterior des-tinadas a saldar dvidas da cam-panha eleitoral de Luiz Incio Lula daSilva em 2002. Referiu-se a uma contaespecca, no banco francs CrditLyonnais, atual Crdit Agricole, que, se-gundo Marcos Valrio, movimentou R$7 milhes. Ainda de acordo comMarcosValrio, a histria de tal conta envolviao prprio Lula, o ex-ministro AntonioPalocci e o portugus Miguel Horta eCosta, ex-presidente da empresa Portu-gal Telecom. Em investigao conjuntacom autoridades internacionais, a Pol-cia Federal brasileira descobriu que essaconta efetivamente existe. Seu nmero 01-00685-000. Conrmadas as suspeitas,seria a primeira conta descoberta no ex-terior a servir campanhas do PT.A denncia de Marcos Valrio levoua Polcia Federal a instaurar, em abril de2013, o inqurito sigiloso 0431/2013 oprimeiroa investigar a existncia de umaconta secreta associada campanha deLula e comconexocomomensalo(leiaao lado). Aolongodas investigaes, a PFtomouuma srie de depoimentos. Foramouvidos, por exemplo, os cantores ZezDi Camargo e Luciano, que atuaramemshows na campanha de Lula em 2002,Palocci e, por trs vezes, oex-ministrodaCasa Civil Jos Dirceu. Segundo MarcosValrio, o PT passou a fatura da dvidacom a dupla sertaneja para a PortugalTelecom pagar em 2005. Aps acionaras autoridades suas embusca de infor-maes da conta secreta, a Polcia Fede-ral recebeu neste ano uma informaonova.Acorrentistaresponsvel pelastransaes nanceiras era uma empresachamada Motil Partners. Sediada apenasno papel emLondres e representada porlaranjas, a Motil Partners j apareceuemrelatrios de inteligncia da PFassociadaa uma offshore que integrou a mesmaestrutura de lavagem de dinheiro usa-da pelo doleiro Alberto Youssef no casoBanestado. Foram os primeiros indciosda veracidade dos relatos dopublicitrioMarcos Valrio, operador do mensalo.Emjaneirodeste ano, oexecutivopor-tugus Miguel Horta e Costa, da PortugalTelecom, respondeua diversas perguntasenviadas pelos investigadores brasileiros.A Polcia Federal o interrogou por meiode carta rogatria remetida s autori-dades de Lisboa, conforme documentoobtido pela reportagem de POCA. Oex-presidente da Portugal Telecomnegouque tenha utilizado uma subsidiria emMacaupara quitar dbitos de campanhasdoPT, usandoa conta sua. Apartir des-ses primeiros indcios, as investigaescontinuam. Lula, Palocci, Dirceu e Mi-guel Horta e Costa negaram em depoi-mento as acusaes de Valrio.Ocasodacontailustradoisdes-dobramentosdainvestigaocomosquais a fora-tarefa da Lava Jato trabalhaatualmente. O primeiro a conexo en-tre petrolo e mensalo. O segundo a necessidade de cooperao crescentecomautoridades e policiais da Sua e dePortugal. Essa colaborao deve se estrei-tar cada vez mais. Na semana passada, aProcuradoria-Geral da Repblica portu-guesa divulgouuma nota armando quecontribui comas autoridades brasileirasna investigao da Lava Jato e no pro-cesso do mensalo, identicado sucin-tamente como caso da PT sigla pelaqual a Portugal Telecom conhecidasFoto: Andre Penner/ AP PhotoEP894p036_039.indd 36 24/07/2015 20:33:22INVESTIGAOOex-presidenteLuiz Incio Lulada Silva. Oinqurito contraele (abaixo) de 2013DDEESCLARECERPONTOSOBSCUROSDOMENSALO, COMOUMACONTASECRETANUMBANCOFRANCSEP894p036_039.indd 37 24/07/2015 20:33:2638 I POCA I 27 de julho de 2015TEATRODAPOL TI CARocha e Alexandrino Alencar. Nos bas-tidores da empreiteira, a complexa rededecontasnoexterioralimentadaporoffshores registradas emdiferentes pasesera considerada uma blindagem contrainvestigaes conduzidas por autoridadesbrasileiras. Ao pedir pela segunda vez aprisodoempresrioMarceloOdebrecht,o Ministrio Pblico Federal apresentouprovas sobre o esquema que, at agora, aempreiteira negava de forma incisiva. Osdocumentos, enviados pela procurado-ria da Sua, mostram todo o caminhodo dinheiro, desde a criao de offshoresda Odebrecht at as transferncias paracontas controladas por diretores da Pe-trobras (leia acima). Emdespacho, o juizSergio Moro, que conduz a investigaoda Lava Jato, armou: Assim, pelo rela-to das autoridades suas e documentosapresentados, hprova, emcogniosumria, de uxo nanceiro milionrio,em dezenas de transaes, entre contascontroladas pela Odebrecht ou alimen-tadas pela Odebrecht e contas secretasmantidas no exterior por dirigentes daPetrobras. No total, entre entradas e sa-das de dinheiro, passaram pelas contassecretas da Odebrecht US$ 290 milhes.De acordo com a investigao, a em-preiteira abasteceu cinco offshores embancos na Sua: Smith &Nash, ArcadexCorporation,Havinsur,GolacProjecte Sherkson Internacional. Diversos do-cumentos levam inclusive a logomarcada Odebrecht e a assinatura de um dosdiretores, HilbertoSilva. Para fechar ocr-culo, a procuradoria na Sua enviou aosinvestigadores da Lava Jato a relao dasoffshores criadas por diretores da Petro-bras, comdireito s cpias dos passapor-tes entregues aobancoque abriua conta,e registros do uxo nanceiro entre asrmas de fachada alimentadas pela Ode-brecht e as contas dos diretores da estatal.A investigao conseguiu assim mapearna Europa. Existem investigaes emcurso relacionadas com a PT, as quaisse encontram em segredo de justia. Ocomunicado se seguiu a uma reporta-gemdo jornal portugus OPblico quemostra o quanto as investigaes envol-vendoospersonagensenvolvidosnomensalo continuam quentes em Por-tugal. De acordo com a reportagem, apolcia portuguesa continua apurando aoperao de venda das aes da PortugalTelecom na Vivo para a espanhola Tele-fnica. Alinha de investigao, segundoo jornal, se o negcio foi costurado peloex-ministro Jos Dirceu, investigado naLava Jato e condenado no mensalo, etambmpeloex-presidenteLula. Napoca da transao, em 2010, o ex-pri-meiro-ministro portugus Jos Scratesno queria vender a fatia acionria daPortugal Telecom na Vivo. Diante desseimpasse, segundo as investigaes, a so-luo apresentada pelo Planalto foi ofe-recer uma participao societria na Oipara a Portugal Telecom. Assim, dizemos investigadores, foi feita uma troca deaes. Agora, surgem suspeitas de pro-pinas para polticos brasileiros e portu-gueses para a concretizao do negcio.Lula pode entrar na mira dos inves-tigadores. O jornal O Globo mostrou,com base em telegramas do Itamaraty,que o ex-presidente zera lobby em fa-vor da Odebrecht emPortugal. Nos do-cumentos de 2013, o lder petista pedepara que o primeiro-ministro do pas,Pedro Passos Coelho, desse uma aten-o especial aos interesses da compa-nhia baiana na privatizao da Empre-sa Geral de Fomento (EGF). Em abrilPOCA revelou que Lula investigadopelo Ministrio Pblico Federal do Dis-trito Federal por trco de inunciainternacional emprol da Odebrecht empases onde a construtora possui obrasnanciadas pelo BNDES.Ofrutomaisnotriodacolabora-o entre a fora-tarefa da Lava Jato e asautoridades estrangeiras veio a pblicona sexta-feira da semana passada: o ras-treamento das contas da Odebrecht naSua. Ele levou a que o juiz Sergio Morodesse segunda ordem de priso ao donoda empresa, Marcelo Bahia Odebrecht, eaos executivos Rogrio Santos de Ara-jo, Mrcio Faria da Silva, Cesar RamosAVIAGEMINTERNACIO NAAs suspeitas dos procuradores suos e brasileiros levama procedimentos comAOdebrecht cria umaempresa no exterior...De acordocoma investigao, a empreiteiratinha uma rede de empresas fora doBrasil. NaSua, havia aomenos cinco: Smith&Nash,Arcadex, Havinsur, Golac Project e Sherkson...e envia dinheiro para essa lial...Numa transferncia, a Smith &Nashfoi abastecida comquase US$11milhes. No total, entre entradas esadas, passarampelas contas secretasda Odebrecht US$290milhes1 2EP894p036_039.indd 38 24/07/2015 20:33:3427 de julho de 2015 I POCA I 39ode seupedido, ojuiz da Lava Jatocitaumfatoque chama deperturbador. Emanotaes encontradas nocelular doexe-cutivo, h referncias a dissidentes PFetrabalhar para parar/anulara investi-gao. Alm disso, Moro reitera que ume-mail enviado por Marcelo Odebrechtemque cita a expressosobrepreode-nota que o presidente do grupo estavaintegradonas discusses dos negcios narea de leoe Gs, nas quais eramcome-tidos crimes. Morocomplementa: Nose trata aqui de exigir a admisso dos fa-tos, mas, casoodirigente doGrupofosseestranho s prticas delitivas, a posturaesperada seria a apurao interna dosfatos, o afastamento dos subordinadosenvolvidos em crimes e a admisso dosmalfeitos, como forma de superao doepisdio. No foi essa a postura adotadapelo dirigente do Grupo.Emnotaemitidanestasemana, aempreiteira foi concisa. Os advogadosda Odebrecht esto analisando os do-cumentos. Ementrevistacoletivanasexta-feira, dia 24, Tecio lins e Silva, umdos advogados da Odebrecht, criticoua investigao. Nesse processo tudoescondido, no se tem acesso. A Justiatem sido unilateral, parcial, dando maisfora acusao, disse. Ele classicou aatuao do juiz Sergio Moro comoforado padro, no mnimo.As anotaes de Marcelo Odebrechtem seus oito celulares, reveladas tam-bm na semana passada, devem igual-mente alimentar a parceria entre brasi-leiros e suos. Uma delas despertou aateno dos investigadores: MRF: di-zer do risco cta sua chegar campanhadela?. MRF , segundo a PF, as iniciaisde Mauricio Roberto Ferro, advogadoda empresa. Os investigadores achamque ela, no caso, pode ser a presidenteDilma Rousseff, com quem a Odebrechtcolaborou na campanha eleitoral. Nasanotaes, hsiglasqueremetemaonome de polticos de diversos partidos.Na agenda de Marcelo, surgem aindatrs registros de reunies com um ban-queiro de Genebra. As investigaes daLava Jato em sua fase internacional pa-recem estar apenas no comeo. Dizerque sua crnica render um romancepolicial dizer pouco. Provavelmenteh material para uma minissrie. uUS$16 milhes empossveis pagamentosde propina a diretores da Petrobras comoPaulo Roberto Costa (Abastecimento),Renato Duque (Servios) e o gerente Pe-dro Barusco, entre 2007 e 2011.H muito ainda a descobrir sobre odestino do resto da fortuna que, sus-peitam os procuradores, a Odebrechtmovimentou. Segundo Moro, combasenos documentos enviados pelos suos,a conta em nome da offshore ArcadexCorporation, que temcomo beneciriaeconmica a Odebrecht, realizou dep-sitos milionrios na conta emnome daMilzart Overseas controlada por RenatoDuque. Quando Paulo Roberto Costa ePedro Barusco disseramque receberampropinas da Odebrecht no exterior, amaior construtora do pas negouvee-mentemente qualquer relao com osfatos. Aps a priso de executivos e dopresidente do grupo, Marcelo Odebrecht,a companhia divulgou um comunica-do nos jornais no dia 22 de junho ne-gando as acusaes. No explicou osfatos. Preferiu atacar os investigadoresda Lava Jato.Essa data no saiu da cabea do juizSergio Moro, da 13aVara da Justia Fe-deral do Paran e responsvel por julgaro escndalo do petrolo. Um ms e doisdias depois, ele deu a resposta: Ocorreque, nocursodas investigaes, surgiramelementos supervenientes que reforamarelao entre a Odebrecht e o pagamen-to de propinas no exterior, escreveu eleem seu despacho do ltimo dia 24 dejulho. O Grupo Odebrecht faltou coma verdade, nocomunicadopublicadonosprincipais jornais do pas, quanto ar-mada falta de vnculo com o pagamen-to da propina no exterior. Pelas novasprovas encontradas, Moro decretou umnovopedidode prisopreventiva contraopresidente da Odebrecht e mais quatroex-executivos. Arespeitoda fundamenta-IO NAL DODINHEIROs comuns no que seria o pagamento de propina da Odebrecht para a Petrobras...que, por sua vez, passa odinheiro a outra empresa...As liais da empreiteira brasileira zeramtransferncias commotivos indenidos. Asbenecirias eramempresas comfunesnebulosas entre elas, a Milzart e a Sagar...cujo proprietrio umdiretor da PetrobrasDocumentos mostramque a Milzart era deRenato Duque, e a Sagar de Paulo RobertoCosta. Ainvestigao mapeou US$16milhes empagamentos entre 2007 e 20113 4EP894p036_039.indd 39 24/07/2015 20:33:4040 I POCA I 27 de julho de 2015m 11 de maro, s 18h44, a croataSneana Gebauer, diretora-geral daempresa de investigao Kroll noBrasil, enviou Comisso Parla-mentar de Inqurito da Petrobrasum e-mail com o ttulo CONFI-DENCIAL proposta. A mensa-gem detalhava como a Kroll mobilizariasua rede de 2.300 prossionais espalhadapor 26 pases para assessorar a CPI daPetrobras. A empresa britnica de inves-tigao foi contratada sem licitao. Opresidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB) representante informal do presi-dente da Cmara, Eduardo Cunha(PMDB-RJ) na comisso , disse que aKroll fariaanlise nanceiraediagns-ticos e auditoria emcontratos da empre-sa Petrobras. To logo fechou o acordo,Cunha decretouo sigilo sobre o contratoat 2020. POCA obteve, com exclusivi-dade, cpia do contrato reservado compessoas ligadas Kroll. E descobriu que,entre os alvos prioritrios da investigao,est o lobista Jlio Camargo, que disse Justia Federal que opresidente da Cma-ra pedira propina de US$ 5 milhes. Se-gundo integrantes da Kroll ouvidos pelareportagem, Camargo entrou na lista dealvos prioritrios da investigaoquandose tornou claro que delataria Cunha.Deacordocomocontrato2015/072.0,redigido em portugus e ingls, a C-maradesembolsouR$1.180.139,40,numa operao registrada como nme-ro 0005112015. As parcelas forampagasem libras esterlinas, com uma cotaoprxima de R$ 5 e foram calculadasde acordo com o item 6 do contrato,intitulado honorrios e despesas, umdosmotivosdadecretaodosigilo.Nessa clusula, a remunerao da Krollvaria de acordo com a experincia deseus prossionais envolvidos no caso:de diretor executivo, que custa 348 librasa hora, a analista, 64 libras a hora.Ainvestigaofoi fatiada emseis partes.Aprimeira diz respeito revisoe anlisedodocumento. Asegunda est relaciona-da preparaode umplanoinvestigat-OPRESIDENTEDACMARASEDEFENDENAJUSTIA. EOLOBISTAJLIOCAMARGOESTENTREOSALVOSDAEMPRESADEINVESTIGAOCONTRATADAPELACPI DAPETROBRASThiago BronzattoTEATRODAPOL TI CArio. A terceira envolve um mapeamentodo perl de 15 alvos, chamados desujei-tos. A quarta, levantamento de bens nospases. Na quinta etapa, sero feitas en-trevistas de fontes, sem detalhar comoisso funcionaria na prtica. Por m, umrelatrio nal seria elaborado. SegundoPOCAapurou, foi feitoumacordocoma Kroll para que ela se concentrasse emquatro ou cinco alvos prioritrios, a mdedar mais agilidadeinvestigao econclu-la at meados de setembro.Na lista da CPI da Petrobras h trsnomes bvios: oex-diretor da estatal Pau-loRobertoCosta, odoleiroAlbertoYous-sef e o ex-gerente da companhia PedroBarusco. Almdesses, entraramna lista oex-tesoureiro do PT Joo Vaccari Neto eo lobista Jlio Camargo, executivo quetambmdisse que Cunha era scioocultodooperador FernandoSoares, conhecidocomo Fernando Baiano. Ao rastrear osbens de Camargo no exterior, sobretudoaqueles que no foramdeclarados para afora-tarefa da Lava Jato, a CPI poderura e- rolavEP894p040_041.indd 40 24/07/2015 20:25:4127 de julho de 2015 I POCA I 41mostrar que o lobista mentiu e assimcolocar emxeque a sua delao.Na semana passada, a advogada Bea-triz Catta Preta, que defendia Jlio Ca-margo, renunciou funo. O motivo que ela tambm se tornara alvo da CPI,por obra de umdeputado peemedebistado Rio de Janeiro. Celso Pansera, chama-do pelo doleiro e delator AlbertoYoussefde pau-mandadodeCunha, apre-sentou requerimento de convocao deCatta Preta para que ela explicasse a ori-gemdos honorrios que recebeu. OjuizSergio Moro, que conduz a Lava Jato,armou em despacho que no existemmotivos para a convocao.Enquantoisso, EduardoCunha traba-lha nas frias para se defender na Justia.Na segunda-feira, opresidente da Cma-ra recorreuaoSupremoTribunal Federal(STF) para travar a investigaosobre elenombitoda Lava JatonoParan. Cunhaargumenta que o depoimento feito pelolobista Camargonopoderia ter sidofei-to na primeira instncia, porque, por serdeputado federal, tem foro privilegiado.A defesa de Cunha pediu, ento, umadeciso provisria, para que o processosobre corrupo em compras da Petro-bras fosse remetido ao STF. Pediu tam-bmque fossemanuladas eventuais pro-vas produzidas enquantooprocessoestivesse noParan. Opresidente doSTF,RicardoLewandowski, decidiuque Morono poder julgar a ao em que Cunha citado, antes de explicar aoSTFcomoodepoimento de Camargo rendeu acusa-es contra o deputado.Existe outro desafeto do presidenteda Cmara na lista de investigados daKroll: o presidente do grupo Schahin,Milton Schahin, tambmfornecedor daPetrobras. Em entrevista ao jornal OGlobo, Schahin disse que foi perseguidopor Cunha e seus aliados, devido a umadisputa travada com o empresrio L-cio Bolonha Funaro. Temos uma pen-dncia muito grande com Funaro, e aligao de Cunha com ele muito co-nhecida, disse Schahin.Procurado por POCA, o deputadoEduardo Cunha disse por meio de suaassessoria que a decretao do sigilo docontratoda Kroll uma precauoda Di-retoria Geral da Cmara, porque h umaclusula queresponsabiliza judicialmen-te a Casa por eventuais vazamentos. Aassessoriadoparlamentaraindadisseque Cunha no participou da elabora-o do acordo com a Kroll, da lista dosinvestigados ou mesmo da convocaode qualquer pessoa para depor na CPI,porque essas so atribuies exclusivasda comisso, que independente. Sobreas acusaes de Youssef, arma: Cunhano tem pau-mandado. Por m, a as-sessoria diz que Cunha j prestou depoi-mento CPI e se colocou disposiopara voltar quantas vezes foremnecess-rias. A respeito das acusaes feitas porCamargo, o advogado do presidente daCmara, AntonioFernandode Souza, diz:Vamos demonstrar que mentirosa adelao de Jlio Camargo e que no hnenhumelementoprobatrioque vincu-le o parlamentar a esses fatos.Procurada, a Kroll disse que no co-menta sobre a identidade de seus clientesou detalhes de suas investigaes. O de-putado Hugo Motta armou que a listados investigados secreta para evitar va-zamentos que prejudiquem as apuraesequeaescolhados suspeitos foi feitacombase nos indcios destacados pelas investi-gaes. J odeputadoCelsoPanseradisseque no tem como objetivo prejudicar aLava Jato e que a advogada Beatriz CattaPretacriouumacortinadefumaaemtor-noda prpria renncia.Ela temodireitodesair docaso, eeutenhoodireitodedizerque negcio esse?, diz o parlamentar.Almda peleja jurdica e nos bastido-res da CPI, Cunha enfrenta uma lutapoltica: angariar seguidores emsua rup-tura com o governo do PT. O partidoest partido, diz o senador Ricardo Fer-rao(PMDB-ES), queparticipoudacampanha do tucano Acio Neves. Par-te do PMDB disse, na semana passada,que o rompimento de Cunha era umatoisolado. Outras alas favorveis rupturadesde 2014 veem, agora, uma oportuni-dade. S na volta das frias se saber qualala prevalecer. uComFlvia TavaresFoto: Dida Sampaio/Estado ContedoEP894p040_041.indd 41 24/07/2015 20:25:4342 I POCA I 27 de julho de 2015m dia aps obter a menor aprova-odahistriados presidentesbrasileiros na pesquisa CNT/MDA,Dilma Rousseff participou dainaugurao de uma fbrica de eta-nol emPiracicaba, So Paulo. Apesar daimpopularidade, Dilma era s sorrisos.Atendeu a pedidos e cantou o hino dotimedacidade, oXVdePiracicaba.Transitava emterritrio amigo RubensOmetto, presidente do conselho da com-panhia antri, a Razen, um aliadohistricodoPT. Mesmoassim, ocerimo-nial do evento foi precavido. Ao anunciaras autoridades que subiriam ao palco,chamou a presidente junto como gover-nador de So Paulo, Geraldo Alckmin(PSDB), numa tentativa de evitar vaiasa ela. No interior de So Paulo, Alckminreina. A estratgia funcionou. Ambosforam recebidos com palmas.Apesar da crescente tensoentre oPTe o PSDB, o governador tucano fez gen-tilezas variadas presidente petista, dian-te de uma plateia numerosa. Puxou as-suntocomDilma mais de uma vez. Faloucom ela ao p do ouvido. Saudou-a nocomeo de seu discurso. uma alegriareceb-la em nosso Estado, disse. Ao -nal de sua fala, demonstrouapoiovalen-do-se da frase em latim que aparece nobraso do Estado de So Paulo proBrasiliaanteximia, ou peloBrasil,faa-se o mximo. Ecompletou: Conteconosco para trabalharmos juntos pelonosso Brasil, presidente. Nem parecia omesmo Alckmin que, na conveno na-cional doPSDB, semanas antes, criticaraduramente o partido rival. Na ocasio,Alckmin disse ter cado claro queo PTno gosta dos pobrese criticouo gover-no federal pela concentrao de poder.Aaproximaoentre Dilma e Alckmin um jogo de ganha-ganha para ambos.Dilma quer isolar opresidente da Cma-ra, EduardoCunha (PMDB-RJ). Vai ace-nar comcargos e verbas aos peemedebis-tas que continuarem no governo e lucraaoseaproximardosopositoresmaisbrandos. Alckmin segue uma conta po-ltica clara: atrair recursos para So Pau-lo e ampliar as prprias chances de vit-rianaeleiopresidencial em2018.Depois de um decit de arrecadao decerca de R$ 700 milhes em maio, o go-verno paulista segue sem atingir as ex-pectativas de receita. Alckmin disputacom os senadores tucanos Acio Neves(MG) e Jos Serra (SP) o posto de can-didato Presidncia peloPSDB. Alckminsabe que um eventual impeachment dachapa de Dilma e seuvice, Michel Temer,com convocao de nova eleio, no ofavoreceria. Nesse cenrio, o candidatotucano seria Acio Neves.Nodia 16, comeounotucanatopau-lista acredite se quiser uma articulaopara salvar Dilma. Os apoiadores do pla-nopreviamque Cunha se voltaria contrao Planalto ao se tornar alvo da investiga-o Lava Jato. Naquela noite, o deputadoestadual Campos Machado, lder doPTBe antigoaliadode Alckmin, discorreuso-bre seuplano.Ser ummovimentocon-tra oquantopior, melhor. Vamos convo-car os lderes dos movimentos sociaispara barrar o impedimento da presiden-te, arma Machado. Diante da sugesto,Alckmin, bomtucanoque , noconcor-dounemdiscordou. Machado, que se dizespecialista em questes alckminianas,interpretou o silncio como anuncia.Sei que ele gostou da ideia. uAPETISTAQUERISOLARCUNHA.OTUCANOQUERSERPRESIDENTEEM2018. AAPROXIMAOENTREAMBOSSETORNOUUMJOGODEGANHA-GANHAAline Ribeiro, de PiracicabaTEATRODAPOL TI CASSORRISOSDilma e Alckminna inauguraoemPiracicaba.Oencontro foicheio de gentilezasFoto: Sergio Castro/Estado ContedoEP894p042.indd 42 24/07/2015 20:11:18ministro Joaquim Levy, cariocada gema, adora a vela e o mar.Longe da mulher e de suas duaslhas, que moram nos EstadosUnidos, Levy, de 54 anos, costu-ma navegar sozinho em seu pe-queno veleiro pela Baa de Gua-nabara nos raros dias de folga de quedispe. Isolado no meio do mar, com asilhueta do Rio de Janeiro no horizonte,ele pode meditar sobre as diculdadesque est enfrentando para superar asfortes turbulncias que atingem a eco-nomia do pas. Assimcomo emseus pas-seios nuticos, Levy parece cada vez maissolitrio no governo, apenas sete mesesdepois de assumir o cargo, em janeiro.Doutor em economia pela Univer-sidade de Chicago, templo do liberalis-mo global, ele um corpo estranho nasleiras governistas. Tornou-se, desde oprincpio, alvopreferencial de tubares elambaris do PT. Tambm no CongressoNacional, onde a base de sustentao dogoverno se desintegrou, Levy tem en-frentado srios obstculos para aprovar ainda que parcialmente seus planosde contenode gastos e reequilbriodascontas pblicas. Para complicar, na sema-na passada, surgiuumsinal preocupantede que Levy pode estar perdendo foradentro do prprio governo. OJoaquimparece aqueles comandantes de lmesde submarino na Segunda Guerra, quecam submersos, quietos para no re-velar sua posio, arma Benny Parnes,ex-diretor do Banco Central e scio dagestora de recursos SPX, do Rio de Ja-neiro. O problema que os destroyersso da prpria marinha dele.Defensor de umajuste mais duro, paraque opas possa sair mais rpidodopur-gatrio, Levy sofreuumdurogolpe numaquestocrucial: otamanhoda poupanaque o governo deve fazer para pagar osjuros da dvida pblica conhecida entreos economistas comosuperavit primrio e para evitar o aumento acelerado deseunvel de endividamento. Temerosodeque o anncio de uma reduo na metade superavit primrio aprovada no co-meo do ano pelo Congresso de 1,2%doProdutoInternoBruto(PIB) em2015 passasse a mensagem equivocada deJos Fucs e Samantha Limaque o ajuste nas contas pblicas foi paraobrejo, Levy queria mant-la inalterada.Aonal, porm, diante das evidncias deque o governo no conseguiria cumprira meta, mesmo com o corte de R$ 70bilhes em gastos anunciado em maio,acabou prevalecendo a posio dos mi-nistros NelsonBarbosa, do Planejamen-to, e Aloizio Mercadante, da Casa Civil,de cortar drasticamente o superavit.Depois de Levy ter dito dias antes queisso seria uma iluso e que o governono pode deixar o barco bater nas pe-dras, a presidente Dilma Rousseff deci-diu encaminhar desde j ao Congressoa reduo da meta deste ano para mero0,15% do PIB o equivalente a apenasR$ 8,7 bilhes, ante os R$ 66,3 bilhesprevistos anteriormente. Alm disso, ogovernoquerobterumalicenaparafechar suas contas de 2015 com at R$17,7 bilhes no vermelho, caso algumasreceitas extras previstas para este anonose concretizem. Pretende tambmredu-zir as metas do superavit de 2016 e 2017,de 2% do PIB para 0,7% e 1,3% do PIB,respectivamente. Para dourar a plulas44 I POCA I 27 de julho de 2015TEATRODAPOL TI CASOFREEOSBRASILEIROSSOFREMJUNTO. OPROLONGAMENTODOAJUSTEFISCALVAI SIGNIFICARMAISDIFICULDADESPAAFoto: Nacho Doce/ReutersEP894p044_047.indd 44 24/07/2015 20:29:24ESPARAOPASNOMEIODATURBULNCIAOministroJoaquimLevy.Ele parece estars emsua lutapara ajustar ascontas pblicasEP894p044_047.indd 45 24/07/2015 20:29:2646 I POCA I 27 de julho de 2015CENRIOCOMPLICADOSegundo economistas,semajuste estruturalos problemasvo continuare mostrar que oajuste nocoupara trs,o governo anunciou que far um corteadicional de R$ 8,6 bilhes nas despesas,o que quase nada diante da magnitudedo rombo existente em suas contas. Ocenrio piorou muito emrelao ao quese esperava no nal do ano passado, dizoeconomista Mansuetode Almeida. Oajuste scal hoje cou muito mais difcilque h seis meses.A justicativa ocial para o corte dosuperavit foi que, com a recesso, quepode levar a uma contrao de 2% noPIB em 2015, houve queda signica-tiva da arrecadao federal, de quase3%no primeiro semestre emrelao aomesmo perodo de 2014. Para compli-car, houve ainda expanso dos gastos,puxada por jabutisintroduzidos peloCongresso nas medidas de ajuste, pelanecessidade de quitar as contas ematra-so de anos anteriores e pelo crescimentoTEATRODAPOL TI CAPresidente doGoldmanSachs noBrasilAinda estamos nosdez primeiros minutosdo jogo. Os resultadosdesfavorveis dessaprimeira fase do ajusteainda esto por virPor mais dramticos quesejama contrao daeconomia e o crescimentoda taxa de desemprego,ainda no chegamosao fundo do pooAs agncias de ratingreconhecema mudanana conduo daeconomia. Mas, se o quefoi feito for interrompido, orisco de perda do grau deinvestimento aumentarEconomista doInstitutoBrasileirode Economia(Ibre)/FGVPoucos achavamque ameta seria realizvel. Eainda se descobriu quetanto a pedalada quantoa queda na arrecadaoforammais graves doque se esperava. Maisimportante do que areduo da meta ademonstrao de que oesforo scal vai continuarSe os empresriosperceberemque ogoverno vai continuarcomo esforo scal nomdio prazo, o impactovai ser pequenoAmudana scal ntidadesde o incio do ano. Maisuma vez, o que valer seo governo vai conseguirmostrar que, apesar daqueda da meta, o esforoscal ser mantidoEconomista-chefe doIta UnibancoSim, deve aumentarseguindo a recessoComsuperavits menoresa trajetria da dvida piora,o ajuste prolongado ea melhora postergadapara o futuro maisdistante. Ha tambmmaisrisco para a nota do BrasilNo. Arecesso vai seprolongar porque osproblemas herdados dopassado so maiores doque pensvamosPresidentedoInsperSim, a crise profunda. Osgastos pblicos crescemacima do PIB. Nos ltimosanos, foramconcedidosbenefcios semoclculo dos impactosAs agncias vmareboque dos fatos. Doponto de vista estrutural,as contas pblicas tmumproblema severo. Ouinventamos uma reforma,ou ela vai se imporAreduo da meta consequncia e no causadas graves diculdadespelas quais passamos.Tivemos umproblema dediagnstico no comeo doano sobre o tamanho dodesao. Isso s se resolvecomaumento da cargatributria ou comumajuste scal severode 5% a 7% acima da inao nas des-pesas da Previdncia Social. Acabou, as-sim, vencendo a tese de que o superavitproposto inicialmente era, na verdade,uma miragem.Para Levy, conhecido como mode tesoura por sua ao implacvelem defesa do equilbrio scal ao longode sua trajetria no setor pblico, adeciso foi seu maior revs desde queaceitou o desao de reverter a heran-a maldita que Dilma 1 deixou paraDilma 2. Foi a mais sria derrota queele teve nesse governo, arma o eco-nomista Alexandre Schwartzman, ex-diretor do Banco Central (BC). Eleestava tentando evitar o inevitvel, masa imensa maioria das pessoas j tinhachegado concluso de que no dariapara cumprir a meta.O impacto das mudanas nas con-tas do governo ser dramtico. Advidapblica, que deveria comear a cair ja partir do ano que vem e chegar em2018 em60,4%do PIB, segundo os da-dos ociais, agora s cair em 2018 echegar ao nal do mandato de Dilmaem 65,6% do PIB (leia o grco). Se asprevises se conrmarem, logo mais oBrasil dever ultrapassar a ndia, cujadvida pblica est em queda, e chegarao topo da lista dos pases emergentesmais endividados do mundo.A reduo da meta tem o mrito dedar mais transparncia s diculdadesda poltica scal. Mesmo assim, as pro-jees do governo esto muito aqumdas previses do mercado nanceiro.Umestudo realizado pelo departamen-to econmico do Ita Unibanco estimaque a dvida pblica do Brasil deverultrapassar os 70% do PIB em 2018 quase 5 pontos acima das previses dogoverno. No por acaso, a medida foiFotos: Fbio Costa/Jcom/D.APress, Renato S.Cerqueira/Futura Press, Epitcio Pessoa/EstadoContedo e Silvia Costanti/Valor/FolhapressEP894p044_047.indd 46 24/07/2015 20:29:3727 de julho de 2015 I POCA I 47RELAXAMENTOFISCALOgoverno reduziu as metas desuperavit primrio. Comisso, advida pblica vai dar umsaltoAPOUPANACAI...As metas de superavit primrio antese depois do corte anunciado pelogoverno na semana passadaEm%do PIBFontes: Ministrios da Fazenda e do Planejamento...E ADVIDACRESCEAs estimativas para a dvida brutafederal antes e depois do corte dosuperavit primrioEm%do PIB(1) Comuma brecha para fechar o ano comdecit de 0,3%2015(1)2016 2017 2018Como eram Como caram1,10,152 2 21,71,32015 2016 2017 2018 201465,660,466,360,966,461,964,762,558,9mal recebida pelos investidores. O d-lar subiu. Na Bolsa de Valores, o ndiceBovespa caiu para o menor patamardesde maro.OBrasil est soba ameaa de perder ograu de investimento na classicao dorisco de sua dvida pblica o que signi-car o encarecimento do crdito parao pas. Mesmo sem o rebaixamento dopas, o custo do nanciamento da dvidaj est subindo. O Brasil s no perdeuainda o grau de investimento porque asagncias de rating conam no JoaquimLevy, diz Mansueto de Almeida.A recesso, cujo captulo mais per-verso o aumento do desemprego, quej alcana 6,9% da populao ativa, deacordo com o IBGE, dever se prolon-gar. OeconomistaEduardoGianettiprev como cenrio mais provvelque a recesso dure os quatro anos domandato de Dilma. As crises anterio-res, como a crise cambial de 1999, a de2001, com o apago, a de 2002 e 2003,com a eleio do ex-presidente Lula, ea crise global de 2008 e 2009 duraramde dois a trs trimestres, e em cerca decinco trimestres o PIB tinha voltado aonvel de crescimento, arma. muitodifcil isso acontecer agora, pois esta-mos numa situao bem mais grave.Antes da reduo da meta, Levy jvinha enfrentando uma srie de con-tratempos. H dois meses, quando ogoverno deniu o corte de R$ 70 biem suas despesas, j havia prevaleci-do a proposta de Nelson Barbosa, deum corte menor. Alegando uma gripe,LevynemsequeracompanhouBar-bosa na entrevista coletiva em que ogoverno anunciou a medida. Ex-secre-trio executivo do Ministrio do Pla-nejamento na gesto de Guido Man-tega, no primeiro mandato de Dilma,o heterodoxo Barbosa mais anadoideologicamente com a presidente etem com ela uma intimidade de queLevy no dispe. Neste ano, segundoa agenda de Dilma, ela teve 22 audi-ncias com Nelson Barbosa e apenasnove com Levy. Para muitos analistas,Barbosa parece estar ampliando seu es-pao no governo na mesma proporoque Levy o est perdendo.Levy tambm foi voto vencido nacriao do Plano de Proteo ao Em-voc quer que eufaa, Levy?, disse Dilmaao ministro durante a reunio.Apesar dos indcios, Levy nega oclima de Fla-Flu no governo, em es-pecial entre ele e Barbosa. Desta vez,mesmo depois de defender a manuten-o da meta original de superavit, eleesteve ao lado de Barbosa no anncioda medida e disse que ela no signicaque o ajuste scal acabou. No umamudana de rota, um ajuste de velas,porque os ventos mudaram, armou,com uma metfora de quem sabe di-ferenciar tsunamis e marolinhas. Umde seus auxiliares na Fazenda disse aPOCAque a rixa entre Levy e Barbosa lenda e especulao. A informaofoi conrmada pelo executivo de umgrande banco. O problema dele no no Executivo, no Congresso. Levyesperava que a aprovao das medidasde ajuste scal levasse quatro meses,mas j se passaram seis meses e aindafalta votar o mdas desoneraes. Paratentar acelerar a tramitao do ajuste,ele se envolveu diretamente com a ne-gociao poltica e tem tomado caf damanh, almoadoejantadocomosparlamentares. Isso no impede que osprincipais lderes do PMDBvejamLevycomo umoperador nanceiro e no umformulador de poltica econmica.Umnancista que conhece bemLevydiz que as divergncias entre os ministrosda Fazenda e do Planejamento soirre-levantes. O Levy no queria assumir areduo da meta, porque tinha esperan-a que o Congresso ainda votasse no pri-meiro semestre o m das desoneraestributrias adotadas nos ltimos anos,disse. Em sua viso, qualquer especu-lao sobre uma possvel sada de Levydo governo no tem base na realidade.O Levy diz que as duas palavras-chavepara superar a crise so perseverana epacincia. Ele tem a obsesso de deixarum legado e no tem a menor intenode abandonar o barco. Tomara que es-teja certo. Apesar de sua receita amargapara a economia, Levy , hoje, a principalncora de que o Brasil dispe para atra-vessar a tempestade e para chegar a umporto seguro que abra novas perspectivasde desenvolvimento. uCom Flvia Tavares e Marcelo Sperandioprego, com o uso de recursos do FundodeAmparoaoTrabalhador(FAT). Omesmoaconteceuquandoogovernotentavaencontrarumaalternativaaom do fator previdencirio, aprovadopelo Congresso. Segundo relato de par-ticipantes da reunio, Levy era a favor doveto puro e simples da proposta, em vezda adoode uma soluointermediria,que acabou prevalecendo. Estou aquitentando encontrar uma soluo. OqueEP894p044_047.indd 47 24/07/2015 20:29:3748 I POCA I 27 de julho de 2015o ato de hasteamento da ban-deira cubana em frente sededa nova embaixada de Cubaem Washington, na segunda-feira, dia20, o chanceler cubano Bruno Rodr-guez declarou: grande o desao,porque nunca houve relaes normaisentre Estados Unidos e Cuba, apesarde um sculo e meio de intensos e en-riquecedoresvnculosentreosdoispovos. O discurso de Rodrguez ten-tou reforar a lenda de que a atitudepoltica dos Estados Unidos em rela-o a Cuba sempre foi de oposio soberania da ilha. Por isso, nunca teriahavidoumarelaonormal, eosnicos vnculos enriquecedores so osestabelecidosentreseuspovos, noentre seus governos.Normal sempre um critrio deavaliaoduvidoso. Aindaassim, aaproximao diplomtica entre Esta-dos Unidos e Cuba, iniciada emdezem-bro e referendada na semana passadacom a abertura da embaixada cubanaem Washington e da embaixada ame-ricana em Havana, depois de mais de54 anos de congelamento de relaes,gerou uma excitao poucas vezes vis-ta dentro de Cuba e entre os cubanosno exlio. Uma gerao de jovens quenunca viveu ou comungou dos ideaisdaRevoluode1959sedeslumbraagora coma possibilidade de entrar emcontato com a cultura americana.Trata-se de umevento histrico, mas preciso ir devagar. No a primeira vezque h excitao por causa de uma apro-ximao entre Cuba e Estados Unidos.Em1977, durante a Presidncia deJimmy Carter (1977-1981), os dois go-vernos tambminiciaramuma distensodiplomtica. Na ocasio, suas sees deinteresse dialogaram por um curto pe-rodo e estabeleceram intensas relaes.O resultado mais comovente foi a per-NOreatamento das relaes diplomticas entre Estados Unidos eCuOfascnioaBoris Gonzlez Arenas, de Havanamisso concedida a milhares de cubanosque haviamfugido para os Estados Uni-dos a visitar seu pas de origem. Comuma saga de xitos pessoais e bens ma-teriais acumulados, aqueles cubanos seencarregaramde exaltar o sonho ameri-cano diante de uma populao entorpe-cida por mais de 20 anos de castrismo.Essemovimentoresultou, dois anosdepois, em 1980, no xodo de Mariel.Na ocasio, do mesmo porto em quehoje se constri, comdinheiro brasileiro,a mais ambiciosa iniciativa econmicado governo do ditador Ral Castro, sa-rampara os Estados Unidos, emapenasseis meses, mais de 125 mil cubanos.A semente do sonho americano ger-minouentremuitoscubanos. Hoje,nosopoucasascrianascubanasquedizemque, quandocrescerem,querem ser estrangeiras. H um fasc-niode boa parte da juventude cubanapelaspossibilidadesoferecidaspeloparaso do consumo, do fast-food sroupas, das inovaes tecnolgicas suniversidades. A oferta ilimitada. Selevarmos em considerao que os Es-tados Unidos tm uma poltica espe-cial de acolhimentode imigrantescubanos, d para imaginar o nvel deencantamento que a populao cuba-na tem em relao aos Estados Unidos.CARTADEHAVANAEP894p048_050.indd 48 24/07/2015 18:52:4627 de julho de 2015 I POCA I 49caracterstica dos Castros. Oregime cas-trista quer uma aproximaocontrola-dacomos Estados Unidos da qual elequer extrair vantagens econmicas, massem abrir mo do controle poltico. uma empreitada em que o castrismocorre alguns riscos. Nos ltimos 50 anos,o antagonismo com os americanos temsido umdos alicerces como qual o regi-me busca justicar sua eternizao nopoder. Ao promover o reatamento dasrelaes diplomticas com os EstadosUnidos, Ral Castro pode estar agindocomo as primeiras picaretas que derru-baram o muro de Berlim.Ainda um grande enigma se a es-tratgia castrista vai funcionar. At ago-ra, um dos primeiros efeitos dessa rea-proximao foi reacender nos jovenscubanos a ansiedade em abandonar ailha. Muitos receiam que o reatamentodas relaes diplomticas termine comas facilidades que possuem para obterpermisso deresidncia nosEstadosUnidos, quando imigram para l. UmapesquisafeitaemCubapelaidneaconsultoria Bendixen & Amandi mos-trou que 67% dos jovens cubanos de-sejam sair do pas. Em uma entrevistaao jornal Cubadebate, controlado peloregime castrista, Antonio Aja Daz, di-retor do Centro de Estudos Demogr-cos da Universidade de Havana (Ce-dem), armou que 38 mil jovensdecidemabandonar Cuba todos osanos. Amigrao de jovens fez dispararo envelhecimento da populao. Segun-dodadosdocensopopulacional,oscubanos com60 anos ou mais ultrapas-samos 19%. Cuba o segundo pas coma populao mais idosa nas Amricas,atrs apenas do Canad.A mesma pesquisa da Bendixen &Amandi, tornada pblica emabril desteano, trouxe outros dados que causaramsurpresa. Apopularidade do presidenteBarack Obama em Cuba maior quess eCuba expe a ansiedade dos cubanos emdizer simaos ianquesoamericanoLONGAESPERAUmcubano aguarda ohasteamento da bandeirade Cuba na embaixada,emWashington. hora de aproveitar abrecha e avanar emdireo democraciaMickey Mouse e Pato Donald devemser bem acolhidos em uma ilha ondeopersonagemdedesenhoanimadomais popular Elpidio Valds.Elpidio um aguerrido e bigodudoocial rebelde, que conduz suas tropassempre para a vitria sobre o Exrcitoda Espanha, metrpole de Cuba nostempos coloniais. Criado em 1970 porJuan Padrn, um desenhista cubano,Elpidio costumava ser onipresente emCuba. Hoje, ele menos famoso queno passado. Mesmo assim, as aventurasde Elpidio Valds ainda so exibidascom furor, para incutir o patriotismonas crianas e apresentar a soberaniacomo um exerccio de defesa at a mor-te. Para entender a deciso do governocubano de restabelecer as relaes di-plomticas com os Estados Unidos, nose deve esquecer de uma coisa: depoisde cinco dcadas de enclausuramento,o regime castrista tem pouco a oferecerpara uma populao que vive em per-manenteestadodesacrifcioehmuitas razes para que os cubanos dei-xem o pas. Para continuar tendo umatropa para mandar, Elpidio Valds ne-cessita que seja o Pato Donald que ve-nha at Cuba, e que seus soldados dei-xem de desertar do batalho.Mas o suicdio poltico no umaFoto: AndrewHarnik/APEP894p048_050.indd 49 24/07/2015 18:52:4750 I POCA I 27 de julho de 2015CARTADEHAVANAa de Ral Castro e de seu irmo Fidel.Embora tenha sido visto com simpatiapelos cubanos desde o comeo de seumandato,apopularidadedeObamadisparou com o anncio da reaproxi-mao emdezembro passado, aprovadapor 97% da populao, segundo a pes-quisa. Ela foifeita de forma discreta emum pas onde o governo no tolera ne-nhumtipo de oposio e exerce contro-le feroz sobre os crticos.Para a oposiocubana, a novasituao tambm representa um desa-o. As relaes diplomticas foramrestabelecidas sem um compromissodemocrtico por parte do regime cas-trista. Para crticos do regime, preci-so aproveitar essa brecha para trabalharcom o mximo de intensidade e tentarobter a maior quantidade possvel deconquistas polticas. H muitas e dife-rentes abordagens. Enquanto o escritorLeonardo Padura, autor de O homemEnquanto a confrontao era a nor-ma, poucos tinham dvida de que orestabelecimento das relaes diplom-ticas seria uma grande faanha. No hdvidas de que os Estados Unidos soessenciais emqualquer projeto de naode Cuba. Areaproximao diplomticacom os Estados Unidos foi o mais ex-traordinrio passo dado por Ral Cas-tro em seus nove anos de governo. Masagora, na nova situao, aos poucos vaicando claro tambm que a responsa-bilidade pelo futuro de Cuba no sdos Estados Unidos, mas recai cada vezmais sobre os prprios cubanos.A imprensa ocial de Cuba, claro,no reproduziu as manifestaes de Pa-dura e Rodrguez. O castrismo procuramanter a velha prtica de ditar os dis-cursos que devemser reproduzidos peloscidados. Um discurso cansativo e semmatizes, que as palavras do chancelercubano apenas procuraram atualizar. uATRAO1. Trs geraes de cubanosemHavana. Ao se vestir,os mais jovens copiamosrappers americanos 2. Umacubana coma bandeira dosEstados Unidos pintadanas unhas 3. Rapazesusamo celular para entrarna internet 4. Abandeirados Estados Unidos comobandana na cabeade duas jovens cubanasque amava os cachorros, manifestava odesnimo de muitos cubanos que es-peravam ver resultados concretos demaneira imediata, o msico e poetaSilvio Rodrguez, convidado para a ce-rimnia de hasteamento da bandeirade Cuba emWashington, props trocaro antigo lema ocial castrista, Cuba s,yanquis no (Cuba sim, ianques no),por Cuba s, yanquis tambin (Cubasim, ianques tambm).1324Fotos: Ramon Espinosa/AP (2), DesmondBoylan/AP, Chip Somodevilla/Getty ImagesEP894p048_050.indd 50 24/07/2015 18:52:52Untitled-1 1 24/07/201