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    Administrao e Teoria Crtica:Epistemologia e Metodologia para as Pesquisas Crticas em Administrao

    Autoria: Ana Cristina Batista-dos-Santos, Jomria Mata de Lima Alloufa

    Gostaria de ser envolvido pela palavrae levado bem alm de todo comeo possvel.Michel Foucault

    (A Ordem do Discurso)

    ResumoO texto articula Administrao e Teoria Crtica. Tem o objetivo de socializar compreensessobre aspectos epistemolgicos e metodolgicos crticos visando a contribuir para o avanodas discusses e das prticas de pesquisas crticas, de tradio frankfurtiana, no campo daadministrao. Faz a delimitao do que so estudos crticos e Teoria Crtica na administraoe se posiciona quanto ao uso do termo crtica no sentido da Teoria Crtica associada Escolade Frankfurt. Apresenta as dimenses epistemolgicas da crtica e sugere trs pares

    categricos dialticos para compreenso da realidade: naturalizao versushistria, sistemaversus prxis social, alienao/dominao versus emancipao. Discute aspectosmetodolgicos e socializa tcnicas e tecnologias utilizadas em pesquisas crticas. Finalmente,o texto sintetiza o fazer da pesquisa crtica como dilogo reflexivo e permanente com diversosinterlocutores: (i) com a Teoria Crtica enquanto quadro terico de referncia, (ii) com a teoriadominante no campo que investiga, (iii) com os sujeitos de pesquisa, tanto nas situaes deentrevista como tambm com as narrativas-texto que delas emergem, (iv) com os leitores, pormeio de escritos socializados, e (v) com o prprio pesquisador crtico que investe no exercciocontnuo de um pensamento que se interroga ao dialogar com a realidade, tendo em vista umatransformao consciente desta realidade e de si mesmo nesta realidade.

    IntroduoA palavra crtica parece ter se tornado um termo chavo na academia contempornea

    haja vista a sua repetio abusiva com conseqente perda de valor expressivo (HOUAISS,2001a). Seu uso frequente em projetos pedaggicos de cursos, em ementas de disciplinas,alm de ser repetido indiscriminadamente por professores e alunos nas mais diversasatividades acadmicas. Fala-se de um ensino crtico, pesquisa crtica, postura crtica, alunocrtico. Mas, afinal, o que ser crtico? O que a crtica? Como faz-la?

    Este texto compartilha a compreenso de Matos (1993) de que o conceito de crticaprocede de crisis, no sentido de separao. Ela, a crtica, pe em suspenso qualquer juzosobre o mundo, para sua prvia interrogao e prpria de um pensamento que coloca a simesmo em julgamento. Com este sentido, a crtica realmente se faz necessria nos diversoscampos do saber quando o que se tem em vista a criao de conhecimento comprometidocom uma transformao social consciente.

    O presente trabalho trata da crtica no campo da administrao. Faz, ento, na partedois, a delimitao do que so estudos crticos e Teoria Crtica no referido campo, se

    posiciona quanto ao uso do termo crtica, e prope seu objetivo. Na terceira parte, apresentaas dimenses epistemolgicas da crtica e sugere trs pares categricos dialticos paracompreenso da realidade. A quarta parte socializa experincias de pesquisa com metodologiacrtica. As consideraes finais so expostas na ltima parte.

    2 Crtica e Administrao: um dilogo possvel?A rea de administrao, frequentemente considerada acrtica dado seu papel

    ideolgico e instrumental para acumulao de capital (AKTOUF, 2005; GURGEL, 2003),pelo menos desde a dcada de 70 (sc XX) incorporou a perspectiva crtica a sua produocientfica, no cenrio internacional, atravs dos Critical Management Studies (CMS), de

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    tradio anglo-saxnica (ALVESSON; DEETZ, 1998; DAVEL; ALCADIPANI, 2003;FARIA, 2007; PAULA, 2008), e no contexto brasileiro pela produo de uma crticaautnoma de pensadores como Maurcio Tragtemberg e Alberto Guerreiro Ramos (PAULA,2008), embora sobre este ltimo no seja consensual seu enquadramento como um terico

    crtico no sentido que este trabalho adota (FARIA, 2007).Em sentido extremo, a crtica na administrao entendida como qualquer perspectivadenunciadora e alternativa ao modelo funcionalista ou gerencialista dominante (FARIA, 2007;PAULA, 2008). Porm, a tarefa de criticar algo ou apontar aspectos negligenciados pelaabordagem funcionalista no significa ser crtico, nos termos dos estudos crticos emadministrao (DAVEL; ALCADIPANI, 2003, p. 75), e corre o risco de se tornar um merodenuncismo no esclarecedor e alvo de classificaes inadequadas (FARIA, 2007). Assim,Faria (2007) alerta que a pesquisa no campo da administrao carece de uma adequadadiferenciao entre estudos crticos e Teoria Crtica.

    O que Faria (2007) nomeia como estudos crticos est representado pelo movimentodos CMS que, em linhas gerais, se ocupa com o questionamento permanente da racionalidade

    associada s teorias administrativas tradicionais (DAVEL; ALCADIPANI, 2003). Porm,Faria (2007) destaca que estes estudos crticos tm sido por vezes identificados como crticaterica, no sentido de proposies que empreendem uma crtica teoria das organizaes,contudo se mantendo prisioneira s bases epistemolgicas da mesma. De maneira especfica,os estudos administrativos crticos tm limites identitrios bem definidos, expressos emtermos de uma agenda de pesquisas que inclui: 1) promulgao de uma viso desnaturalizadada administrao, 2) intenes desvinculadas da performance empresarial, e 3) idealemancipatrio (ALVESSON; DEETZ, 1998; DAVEL; ALCADIPANI, 2003).

    Embora sejam variadas e no consensuais as perspectivas denominadas crticas naadministrao (DAVEL; ALCADIPANI, 2003; FARIA, 2007; PAULA, 2008)1, este trabalhotoma Teoria Crtica (TC) especificamente no sentido frankfurtiano do termo, por partir dascontribuies da Escola de Frankfurt, expresso geralmente associada a tericos como MaxHorkheimer, Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Walter Benjamin, e, mais recentemente,Jurgen Habermas(FREITAG, 1986; HELD, 2001a; MATOS, 1993). Entende a TC da Escolade Frankfurt como um movimento de intelectuais autnomos, no sentido de individualidades

    pensantes (ASSOUN, 1991) que, enquanto grupo, convergiam para o interesse comum deuma compreenso totalizante e dialtica, capaz de fazer emergir as contradies da sociedadecapitalista (FARIA, 2004, p. 26). Entende, ainda, que a TC valoriza a auto-reflexividade(HORKHEIMER,1980), no sentido do conhecimento que pensa a si prprio tendo em vistaseu compromisso poltico com a emancipao humana: a liberdade na sociedade inseparvel do pensamento esclarecedor. (ADORNO; HORKHEIMER,1944, p. 1).

    Assim, a TC sempre teve em sua agenda de pesquisa um debate em torno da razo(FREITAG, 1986; MATOS, 1993), em que os frankfurtianos trazem luz os aspectosnoturnos do iluminismo (MATOS, 1993, p. 31), ao desvelar que a proposta iluminista dedissoluo dos mitos atravs de uma razo abrangente e humanstica, posta a servio daliberdade e emancipao dos homens, se atrofiou resultando na razo instrumental(FREITAG, 1986, p. 35) e na mitificao da prpria razo.

    Adotar a perspectiva da TC no mbito da administrao colocar-se em um local deminoria (FARIA, 2003). Considerada pejorativamente como radical, a TC de fato radical nosentido de que sempre vai raiz dos fenmenos (FARIA, 2003; 2007). Sua pertinncia nombito da administrao se d pela contribuio em desvelar o mundo do poder, em suasinstncias obscuras e manifestas, e as formas sempre atualizveis de controle nas

    organizaes capitalistas (FARIA, 2003; 2004; 2007), local onde o predomnio daracionalidade instrumental (RAMOS, 1989) tem implicado em uma vida danifica no sentido

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    adorniano do termo: uma vida espoliada de relaes imediatas e de espontaneidade(RUSCHEL, 1995, p. 240).

    Entendendo como Faria (2004) que as dimenses polticas, epistemolgicas emetodolgicas devem guardar coerncia numa pesquisa crtica, este trabalho argumenta que a

    crtica tambm uma questo de mtodo, e concorda com Demo (1996, p. 24) sobre aimportncia da contribuio metodolgica dos pesquisadores: impossvel criar anlisesinspiradas sem discutir o como fazer. Parte-se da compreenso de que embora o debateterico sobre a crtica na administrao esteja em crescimento no Brasil, a discussometodolgica, e a epistemolgica que lhe antecede, no vm sendo realizadas com a mesmaintensidade, exceto pelas contribuies presentes nos trabalhos de Faria (2004, 2007).

    Assim, este trabalho tem o objetivo de socializar compreenses sobre aspectosepistemolgicos e metodolgicos crticos visando a contribuir com o avano das discusses edas prticas de pesquisas crticas, de tradio frankfurtiana, na administrao. Entretanto,

    busca-se aqui contribuir com o mtodo crtico no num sentido reducionista e pragmticoem que se proporia um conjunto de tcnicas como espcies de receitas de bolo (FARIA,

    2007), mas, no sentido do mtodo como possibilidade de crtica do conhecimento, comoadverte Adorno (1995a, p. 143) ao relatar suas experincias cientficas na Amrica:inquietava-me um problema metodolgico fundamental: a palavra mtodo, entendida em seusentido europeu de crtica do conhecimento mais que no norte-americano, segundo o qualmethodology significa, mais ou menos, tcnicas prticas de investigao.

    3 Epistemologia Crtica: da dialtica aos pares categricos dialticosQuanto aos fundamentos epistemolgicos, a TC ope-se ao que Horkheimer (1980)

    nomeia de Teoria Tradicional (TT) a qual se apresenta como um processo de pensamento deoperao linear, buscando uma lgica causal dos acontecimentos que seja aplicvel aos demesma natureza de modo isomrfico. Assim, situar-se epistemologicamente no territrio daTC posicionar-se tanto contra o positivismo empirista quanto contra o positivismo lgico

    popperiano, o que implica na rejeio dos mtodos indutivistas e dedutivistas de compreensoda realidade. Diferentemente do positivismo, a TC v a dialtica como a lgica constituinte darealidade, e, consequentemente, tambm como mtodo apropriado para construo deconhecimento sobre esta realidade (FREITAG, 1986).

    3.1 Sobre a dialticaA TC ope-se a todo pensamento da no contradio, construdo sob a lgica da

    identidade, caracterstico do pensar cartesiano (MATOS, 1993); ou, ao que Adorno (1995b, p.203) chama de racionalidade do sempre-igual. Ao contrrio, a TC trabalha com a lgica da

    negatividade da dialtica (FREITAG, 1986).Com a dialtica, as dimenses totalidade e contradio tornam-se centrais paracompreenses crticas possveis sobre os fenmenos sociais. Adorno (1980) rebate ao ataque

    positivista de que a dialtica teria um cunho meramente especulativo, como se o dialticofosse aquele que pensa futilmente sem compromisso, sem autocrtica lgica e semconfrontao com as coisas. Responde aos positivistas dizendo que a dialtica no ummtodo independente do seu objeto. Ao contrrio, a crtica dialtica tem um compromissocom qualquer objeto e opera mediante o desvelamento de suas contradies, estascompreendidas em face da totalidade, e no de maneira segmentada e especializada, como

    prprio ao positivismo.A viso de totalidade implica na considerao da dinmica e da complexidade da vida

    social. Rejeita a segmentao simplificadora de um pensamento que considera a realidadesocial como constituda de partes estanques (DEMO, 1990). A totalidade no se constitui soba forma de acumulao ou somatrio: o todo um todo vivo, um todo em desenvolvimento,

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    um todo com histria, um todo que processo histrico de manifestao. (MOURA, 1977, p.54). Pela noo de totalidade, compreende-se que sujeito e objeto existem to somente emsituao de relao (KOSIK, 1976).

    Para Moura (op. cit., p. 139), a origem do movimento e do desenvolvimento dos

    entes e dos fenmenos em geral reside, precisamente, nas contradies que internamente osconstituem. As totalidades s tomam corpo pela identificao gradual das contradies quelhe so inerentes (KONDER, 2000). Assim, a dialtica reivindica esgueirar-se por trs dacasca dos fenmenos, procurando a profundidade deles, porque cr numa realidade que no sed primeira vista. (DEMO, 1990, p. 99).

    Portanto, no centro do pensamento crtico, auto-reflexivo, reside a negatividade o querequer pensar o dito e o vivido como contendo em si mesmos contradies: o pensamentodialtico um pensamento que se esfora constantemente por superar a si prprio, tanto indoat ao extremo das implicaes lgicas do que descobriu como atingindo pontos de vistanovos que parecem contradizer as suas primeiras afirmaes (FOULQUI, 1978, p. 118).

    3.2 Os pares categricos dialticos: Teoria Tradicional versusTeoria CrticaEntende-se aqui que o caminho epistemolgico para fazer a crtica, em sentido

    frankfurtiano, passa por uma atitude coerente de trabalhar intelectualmente e empiricamentecom as categorias crticas presentes nos mais variados textos frankfurtianos. Tendo em vista aamplitude das obras que compem a bibliografia frankfurtiana, este trabalho escolhe comoreferncia principal, quanto questo epistemolgica, o texto Teoria Tradicional e TeoriaCrtica, escrito por Horkheimer, em 1937, e complementa com algumas outras passagens detextos variados. Este texto de Horkheimer representativo do discurso epistemolgico dosfrankfurtianos da primeira gerao, constituindo-se uma espcie de manifesto da Escola deFrankfurt (MATOS, 1993; SLATER, 1978). Nele, Horkheimer indica a filosofia cartesianacomo paradigma do pensamento identitrio, como forma cannica do pensamento tradicionale aponta a diferena entre dois mtodos gnosiolgicos: o tradicional e o crtico.

    Atravs de uma anlise acurada, pode-se compreender como presente no texto deHorkheimer (1980) a proposio de pelo menos trs pares dialticos: 1) naturalizao versushistria, 2) sistema versus prxis social, 3) alienao/dominao versus emancipao,conforme sintetiza a Figura 1, abaixo:

    FIGURA 1 Pares categricos dialticos: Teoria Tradicional versusTeoria CrticaFonte: elaborao prpria, 2009

    O Quadro 1 exemplifica, com excertos da obra de Horkheimer (1980), o primeiro pardialtico: naturalizao versushistria.

    Na perspectiva da TT, no ato de conhecer, considera-se a seqncia dosacontecimentos como algo oriundo do determinismo natural, logo, independente da

    interferncia humana. Como o objeto das cincias sociais essencialmente histrico, opensamento

    TEORIA TRADICIONAL TEORIA CRTICA

    Naturalizao Histria

    Sistema Prxis social

    Alienao/Dominao Emancipao

    Positivismo Dialtica

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    Teoria Tradicional Teoria Crtica

    A gnese social dos problemas, as situaesreais nas quais a cincia empregada e os finsperseguidos em sua aplicao so elementos

    exteriores ao homem e prpria cincia [...].Trata-se de uma coisa dada, cujo nicoproblema a constatao e previso segundoas leis da probabilidade. O que dadodepende apenas da natureza(HORKHEIMER, 1980, p. 155).

    Trata-se de uma teoria da sociedade que temcomo objeto os homens como produtores detodas as suas formas histricas de vida. [...] O

    que dado no depende apenas da natureza,mas tambm do poder do homem sobre ela.(HORKHEIMER, 1980, p 155)

    A totalidade do mundo perceptvel, tal comoexiste para o membro da sociedade e tal como interpretado em sua reciprocidade com ela ,para seu sujeito, uma sinopse de faticidades;esse mundo existe e deve ser aceito(HORKHEIMER, 1980, p. 125)

    Os fatos que os sentidos nos fornecem sopr-formados de modo duplo: pelo carterhistrico do objeto percebido e pelo carterhistrico do rgo perceptivo(HORKHEIMER, 1980, p. 125)

    As cincias sociais tomam a totalidade danatureza humana e extra-humana como dada ese interessam pela estrutura das relaes entrehomem e natureza e dos homens entre si.(HORKHEIMER, 1980, p. 124-125)

    A teoria no acumula hipteses sobre odesenrolar de acontecimentos sociais isolados,mas constri a imagem desenvolvida do todo,do juzo existencial englobado na histria.(HORKHEIMER, 1980, p. 152)

    QUADRO 1 Par categrico dialtico da Teoria Crtica: Naturalizao versusHistriaFonte: elaborao prpria com excertos do texto Teoria Tradicional e Teoria Crtica, 2009

    pensamento crtico considera o entrelaamento entre o individual e o social: nas opinies eatitudes subjetivas, manifestam-se tambm indiretamente objetividades sociais. (ADORNO,1995a, p. 146). Pela perspectiva crtica, rejeita-se um tipo de pensar que permanece nasuperfcie dos dados, pela subordinao obediente da razo ao imediatamente dado

    (ADORNO; HORKHEIMER, 1947). Contrape-se cientificidade que se encerra namensurao e demonstrao; considerando que facilmente, o ceticismo frente aoindemonstrado pode transformar-se na proibio do pensar. (ADORNO, 1995a, p. 151).Desde o ponto de vista do pensar e fazer crticos, busca-se ver no dado particular as relaesmateriais nele imbricadas e sua inscrio na histria. As relaes temporal e espacialmentecircunstanciadas so o foco de interesse, atentando-se, pela perspectiva crtica, aos processossociais em suas dimenses multifacetadas.

    O Quadro 2 apresenta excertos da obra de Horkheimer (1980) que elucidam o segundopar dialtico: sistema versusprxis social. Horkheimer (1980) denuncia a postura sistmica daTT que evita a contradio inscrita nos fenmenos sociais. Igualmente, Adorno (1961, apudFREITAG, 1986, p. 51) afirma que as teorias sistmicas positivistas procuram meramente

    sintetizar de forma no contraditria suas afirmaes sobre o real, situando-as em umcontguo lgico. Ressalte-se o quanto a teoria das organizaes est impregnada dosistemismo, perspectiva subjacente ao paradigma funcionalista dominante. Isto vem expresso

    principalmente no discurso metafrico organizaes mecanismo e organizaes organismo freqente no campo em questo especialmente a partir da segunda metade do sculo XX.

    Diferentemente, a TC tem a totalidade da prxis social como dimenso central para acrtica dialtica, em oposio faticidade e lgica de funcionamento sistmico prpria ao

    positivismo (FREITAG, 1986). Adorno (1980) afirma que no h como compreender ouinterpretar qualquer fato fora da totalidade da prxis social, tendo em vista que tudo que socialmente ftico tem seu valor especfico na totalidade e assim que deve ser interpretado.Ao insistir na lgica da faticidade, os positivistas acabam tratando o sujeito-objeto das

    cincias sociais (a sociedade) apenas como elemento sistmico, coisificando-o. Assim, a TTdesconsidera o movimento da prxis social que se d pelo agir de sujeitos cognoscentes.

    NATURALIZAO

    HISTRIA

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    Teoria Tradicional Teoria Crtica

    Teoria como sistema de sinais puramentematemticos.(HORKHEIMER, 1980, p. 118)

    No por meio da conexo entre pensamentoterico e fatos, imanentes cincia burguesa,que se d o desenvolvimento do conceito e

    teoria, mas por uma ponderao que no tangeunicamente ao cientista, mas tambm a todosos indivduos cognoscentes(HORKHEIMER, 1980, p. 125).

    Uma exigncia fundamental, que todo sistematerico tem que satisfazer, consiste emestarem todas as partes conectadasininterruptamente e livres de contradio. H.Weyl considera como condioimprescindvel a harmonia que exclui toda apossibilidade de contradio, assim como aausncia de componentes suprfluos,puramente dogmticos, e independentes dasaparncias observveis.(HORKHEIMER, 1980, p. 118)

    preciso passar para uma concepo queelimine a parcialidade que resultanecessariamente do fato de retirar osprocessos parciais da totalidade da prxissocial (HORKHEIMER, 1980, p. 124).

    O cientista e sua cincia esto atrelados aoaparelho social, suas realizaes constituemum momento da autopreservao e dareproduo contnua do existente,independentemente daquilo que imaginam arespeito disso. Eles tm apenas que seenquadrar no seu conceito, ou seja, fazerteoria no sentido descrito acima [tradicional].Dentro da diviso social do trabalho, ocientista tem que conceber e classificar osfatos em ordens conceituais e disp-los de talforma que ele mesmo e todos os que devemutiliz-los possam dominar os fatos o maisamplamente possvel.(HORKHEIMER, 1980, p. 123)

    A vida da sociedade um resultado datotalidade do trabalho nos diferentes ramos deprofisso, e mesmo que a diviso do trabalhofuncione mal sob o modo de produocapitalista, os seus ramos, e dentre eles acincia, no podem ser vistos comoautnomos e independentes. So, portanto,momentos do processo de produo social.(HORKHEIMER, 1980, p 123)

    QUADRO 2 Par categrico dialtico da Teoria Crtica: Sistema versusPrxis socialFonte: elaborao prpria com excertos do texto Teoria Tradicional e Teoria Crtica, 2009

    O terceiro par dialtico alienao/dominao versusemancipao exemplificadocom os excertos constantes no Quadro 3. Horkheimer (1980) defende que a TC implica emum comportamento crtico que tem em vista a emancipao. Esta se refere conscientizao, autonomia, pelo desvelamento de situaes onde imperam controle, dominao, coero,

    submisso (ADORNO, 1995a; HELD, 2001a; LUKES, 2001), inclusive no mbito da cincia.Uma pesquisa social crtica investe na conscincia quanto s novas formas de agenciamentodo poder e controle (FARIA, 2004; HELD, 2001a, 2001b) bem como no desvelamento desituaes favorveis alienao.

    Neste sentido, a compreenso da prxis cotidiana e o desvelar das situaes dedominao tem em vista no a reproduo social, mas, ao contrrio, a sua transformao pormeio da crtica ideolgica emancipatria: o sentido no deve ser buscado na reproduo dasociedade atual, mas na sua transformao (HORKHEIMER, 1980, p. 138). A TC busca aimagem de um futuro, fruto de uma compreenso do presente (HORKHEIMER, 1980).Assim, uma teoria social realmente emancipatria investe na conscientizao individual ecoletiva (FARIA, 2007).

    SISTE

    MA

    PRXIS

    SOCIAL

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    Teoria Tradicional Teoria CrticaA alienao que se expressa na terminologiafilosfica ao separar valor de cincia, saber deagir, como tambm outras oposies,preservam o cientista das contradies

    mencionadas e empresta ao seu trabalholimites bem demarcados.(HORKHEIMER, p. 131)

    Um comportamento que esteja orientado paraa emancipao, que tenha por meta atransformao do todo, pode servir-se semdvida do trabalho terico, tal como ocorre

    dentro da ordem da realidade existente.Contudo ele dispensa o carter pragmtico queadvm do pensamento tradicional como umtrabalho profissional socialmente til.(HORKHEIMER, p. 131)

    A aparente autonomia nos processos detrabalho, cujo decorrer se pensa provir de umaessncia interior ao seu objeto, corresponde iluso da liberdade dos sujeitos econmicos nasociedade burguesa. Mesmo nos clculos maiscomplicados, eles so expoentes domecanismo social invisvel, embora creiamagir segundo suas decises individuais.

    (HORKHEIMER, p. 123)

    O comportamento crtico consciente faz partefaz parte do desenvolvimento da sociedade. Aconstruo do desenrolar histrico, comoproduto necessrio de um mecanismoeconmico, contm o protesto contra estaordem inerente ao prprio mecanismo, e, aomesmo tempo, a idia de autodeterminao dognero humano, isto , a idia de um estado

    onde as aes dos homens no partem mais deum mecanismo, mas de suas prpriasdecises. (HORKHEIMER, p. 145)

    QUADRO 3 Par categrico dialtico da Teoria Crtica: Alienao/Dominao versusEmancipaoFonte: elaborao prpria com excertos do texto Teoria Tradicional e Teoria Crtica, 2009

    4 Metodologia crtica: seus princpios e breves exemplificaesConvergentemente aos aspectos epistemolgicos, a operacionalizao de uma pesquisa

    crtica se d numa perspectiva no-linear e se pauta numa premissa bsica: a lgica dialtica.Como corrobora Richardson (2008, p. 92): na parte central de uma metodologiagenuinamente crtica, encontra-se a lgica dialtica. Alm disso, se deve levar em conta: (i) a

    orientao de todas as fases da pesquisa pelo quadro de referncia da TC, isto , utilizando-sedimenses categricas crticas como uma espcie de lente crtica; (ii) que a realidade sempre maior do que aquilo que o pesquisador crtico pode acessar e compreender; (iii) quetodas as fases da pesquisa (planejamento, reviso terica, pesquisa de campo, reflexo sobreos dados, escritura) esto inter-relacionadas, por vezes se sobrepem no tempo, no podendoser tratadas de maneira isolada e fragmentria; (iv) que as tcnicas metodolgicas a seremescolhidas dependem sempre da natureza do objeto de estudo.

    Especialmente no tocante ao quarto ponto, importante destacar que no h umametodologia crtica padro e homognea a ser utilizada de maneira indiscriminada e, portanto,acrtica, em pesquisas que se propem crticas. Neste sentido, este trabalho considerainfrutfero um posicionamento metodolgico no circunstanciado, isto , que no leve em

    conta nem a natureza do objeto de estudo e nem as possibilidades de acesso ao real, critrioscuja inobservncia tem resultado, frequentemente, em discusses incuas sobre a precednciade tcnicas quantitativas sobre as qualitativas ou vice versa, conforme Faria (2007) alerta:

    Mtodo um processo e no um instrumento. Para a Economia Poltica do Poder2,os instrumentos de coleta de dados, qualitativos ou quantitativos, entrevistas ouquestionrios, documentos ou observao, so definidos pelo objeto de pesquisa ecircunscritos ao campo emprico e no aprioristicamente pelo sujeito,independentemente do objeto e campo. A primazia do real (FARIA, 2007, p. 14).

    Adorno (1980) fornece reflexes que podem ser iluminadoras quanto a esta dicotomiaentre as tcnicas quantitativas e qualitativas. Em sua crtica ao positivismo popperiano,Adorno (1980) adverte quanto ao risco de um cientificismo nas cincias sociais em que umaprisionamento ao aparato tcnico copiado das cincias naturais pode redundar, por vezes, emum distanciamento do que realmente se quer ou se deveria investigar: tcnicasoperacionalmente ideais distanciam-se forosamente das situaes em que se situa o que deveser investigado (ADORNO, 1980, p. 232). Ele adverte ainda quanto aos riscos de um

    ALIENAO/DOMINA

    O

    E

    MANCIPAO

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    reducionismo metodolgico: o objetivo, inclusive de mtodos sociais quantitativos, seria odiscernimento qualitativo; a quantificao no constitui um fim em si mesmo mas um meio

    para tanto. Os estatsticos esto mais dispostos a reconhec-lo, do que o a lgica correntedas cincias sociais. (id.p. 238, grifo nosso). Assim, Adorno (1980) parece incentivar um

    posicionamento consciente de pesquisadores crticos em suas escolhas metodolgicas.

    4.1 Natureza da pesquisaNeste sentido, este trabalho compreende que, numa pesquisa crtica, imprescindvel a

    clareza quanto natureza da pesquisa e, portanto, quanto abordagem que lhe orienta,todavia, a pesquisa crtica coloca-se aberta quanto s possibilidades tcnicas paraaproximao e compreenso mais apropriada do real. Este trabalho defende que as pesquisascrticas so essencialmente de natureza qualitativa, sendo esta a abordagem por excelnciaque lhe orienta. No entanto, dependendo da natureza do objeto de estudo e tendo em vistaaprimorar o discernimento qualitativo de que fala Adorno (1980), a pesquisa crtica podetambm utilizar acessoriamente tcnicas quantitativas de coleta e anlise dos dados. O

    instrumento constante no Quadro 8 (Apndice) exemplifica esta questo.Por pesquisa de natureza qualitativa entende-se aqui uma atividade [historicamente]

    situada que coloca o pesquisador no mundo, consistindo num campo de prticas materiais einterpretativas que tornam o mundo visvel (DENZIN; LINCOLN, 2000, p. 3), levando-sesempre em conta o sentido que o Outro, enquanto sujeito pesquisado, d s coisas. A pesquisaqualitativa crtica mantm o foco nos processos de significado visando compreenso deindivduos, grupos, organizaes e trajetrias (GOLDENBERG, 1997). Os dados qualitativosso sempre gerados in vivo, perto do ponto de origem, com uma figurativa colocao demarcos, por parte do pesquisador, marcos esses que delimitaro um domnio temporal eespacial do mundo social que ele investiga (VAN MAANEN, 1983), porm, sempreconsiderando a inscrio dos fenmenos que investiga na totalidade da prxis social(ADORNO, 1980).

    4.2 Tcnicas de pesquisaSendo essencialmente de natureza qualitativa, a tcnica de pesquisa privilegiada nas

    pesquisas crticas a entrevista, pois oferece a oportunidade de coletar informaes atravs dafala dos atores sociais e possibilita entender o que e como as pessoas pensam e sentem acercado assunto pesquisado (OPPENHEIM, 1995). A pesquisa crtica considera a relevncia dasnarrativas que os sujeitos fazem das suas prxis como espao de emergncia do seu processode construo de sentidos em sua relao com a totalidade.

    Entendendo, como Minayo (2000), ser essencial pesquisa qualitativa a interao

    entre pesquisador e pesquisado, a entrevista constitui-se a tcnica possibilitadora desta relaoespecfica. Um trabalho de campo crtico visa a um contato do pesquisador com o mundovivido dos sujeitos de pesquisa. Com as entrevistas, busca-se a rememorao do cotidiano, oagir dos sujeitos, sua prxis. Kramer (2001) argumenta que as entrevistas correspondem aespaos de produo de narrativas que se abrem como textos passveis de compreenso, umavez que originados na fala individual que reveladora de condies estruturais, de sistemasde valores, normas e smbolos e ao mesmo tempo tem a magia de transmitir, atravs de um

    porta-voz, as representaes de grupos determinados, em condies histricas, scio-econmicas e culturais especficas (MINAYO, 2000, p. 109-110).

    Desde o ponto de vista do fazer de uma pesquisa crtica, deve-se buscar uma atitudecrtica em campo, isto : (1) fazer-se presente como sujeito cognoscente durante a entrevista,

    pelo exerccio da reflexividade Bourdieu (1997) considera a reflexividade sinnimo demtodo, e essencial para o controle, por parte do pesquisador, quando do trabalho de campo,da relao social estabelecida entre ele e o sujeito de pesquisa; (2) participar objetivamente da

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    entrevista oferecendo-se como interlocutor ao entrevistado e no como interrogador; (3) trataro entrevistado como sujeito e no como um depositrio de informaes, no sentidodaquele a quem foi confiado um segredo ou confidncia (HOUAISS, 2001b); (4) fugir deuma postura de mero coletor ou receptor de dados. Enfim, se deve evitar uma dupla reificao

    (do pesquisador e pesquisado), pelo estabelecimento de uma relao sujeito-sujeito, baseadana interlocuo. As entrevistas podem assumir aspectos multifacetados para possibilitar umaaproximao do objeto de estudo sob vrias perspectivas (DENZIN; LINCOLN, 2000).

    Dentre vrias possibilidades, este trabalho discorre e exemplifica quatro tipos deentrevistas que considera como adequados s pesquisas crticas em administrao: (i)entrevista com uso de elementos da tcnica histria de vida; (ii) entrevistas testemunhais; (iii)entrevista com uso de questo estmulo; (iv) entrevista ficcional. Ressalta-se que alguns tipos

    podem ser utilizados de maneira conjunta, como ser exemplificado adiante.

    Entrevista com elementos de histria de vida

    O uso da tcnica histria de vida em pesquisa crtica na rea de administrao no se

    d em funo dos objetivos originalmente vinculados a tal tcnica (HAGUETTE, 2001), mas,como uma tcnica subsidiria, sem confundir com uma biografia convencional (MARTINS,1994). A tcnica da histria de vida privilegia o uso da memria como recurso de coleta deinformaes: a memria no simplesmente um reservatrio passivo de dados, cujocontedo pode ser esvaziado e escrutinado vontade. Ela est empenhada e integrada com o

    presente, com atitudes, perspectivas e compreenses que mudam continuamente, trabalhandoe retrabalhando os dados da experincia em novas reformulaes, opinies e, talvez, at novascriaes (HAGUETTE, 2001, p. 93-94). Ademais, e, principalmente, a tcnica da histria devida possibilita ao narrador tomar a si mesmo como personagem, estando tal tcnica acavaleiro de duas perspectivas: a do indivduo [...] e a de sua sociedade com sua organizao eseus valores especficos [...] [sendo] [...] tcnica que capta o que sucede na encruzilhada da

    vida individual com o social (QUEIROZ, 1988, p. 36), aspecto to caro a estudos crticosque tm as dimenses histria e prxis social como norteadoras.Nas pesquisas que envolvem sujeitos inseridos no contexto das organizaes, a tcnica

    da histria de vida deve ser utilizada no sentido de lev-los a narrar sobre suas histrias devida profissional, no contexto de suas histrias de vida como um todo, visando emergnciadas relaes diacrnicas (HAGUETTE, 1990), isto , compreenso dos sujeitos hoje,inseridos em um quadro existencial mais amplo. Deve-se visar a ultrapassar o nvel domomento captado (HAGUETTE, 1990, p. 168), tendo em vista refletir sobre a dinmica do

    processo de construo dos sentidos que os sujeitos esposam hoje, a partir de suas histrias devida; a emergncia do todo vivo como processo histrico de manifestao (MOURA, 1977).

    Entrevista narrativa testemunhal

    A entrevista testemunhal constitui o resultado da utilizao combinada das tcnicas daentrevista narrativa em profundidade (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2002) e do testemunho(BEVERLEY, 2000). Ela oferece a oportunidade do sujeito entrevistado fazer uma narrativa,geralmente em primeira pessoa, de uma histria da qual ele pode ter sido o protagonista outestemunha, pois parte-se do pressuposto de que no h experincia humana que no possaser expressa na forma de uma narrativa (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2002, p. 91). Talnarrativa, em geral, refere-se vida ou a uma experincia significativa na vida do sujeito(BEVERLEY, 2000). As entrevistas testemunhais se mostram pertinentes e adequadas aestudos crticos pela possibilidade de dar voz quele que est no lugar da subalternidade(BEVERLEY, 2000). A entrevista narrativa testemunhal compartilha com a histria de vida e

    histria oral o uso da memria como recurso de coleta de informaes e reconstruo domundo vivido e entende que o sentido no est no fim da narrativa; ele permeia toda ahistria (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2002, p. 93).

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    Entrevistas com uso de questo-estmulo

    Segundo Albandes-Moreira (2002), a questo ou elemento-estmulo algo(pergunta, afirmao, proposio) que se apresenta ao entrevistado como um estmulo que,sendo suficientemente ampla, mas necessariamente focal, serve de eixo a uma entrevista.

    Possibilita ao pesquisador obter o mximo de informao multidisciplinar (de cunhosociolgico, psicolgico, poltico) relevante e necessria pesquisa crtica sem transformar aentrevista em um interrogatrio. Repetindo esta questo de forma transformada e atualizada,ao longo da entrevista, o pesquisador prov condies de exame do tema em termos de

    prticas e de experincias subjetivas, de afetos e conhecimentos, de teorias e prticas as maisprximas da realidade. As questes-estmulo utilizadas no incio de entrevistas emprofundidade podem ser desdobradas em questes de apoio cujo fulcro seja as categoriascrticas - histria, prxis social e emancipao tomadas como pares dialticos. As questesde apoio podem ser escolhidas tendo como pressupostos: (a) que o objeto melhor abordadoquanto menos relao as questes parecem ter com o tema da pesquisa (ADORNO, 1995a) e,(b) que os sujeitos so melhor abordados quanto mais as questes estimulam a rememorao

    do vivido, evocando assim narrativas originrias da vida real, pois, [...] nas dobras docotidiano que a histria se realiza. (KRAMER, 2001, p. 174).

    Entrevista ficcional

    Em sua tese, Albandes-Moreira (2002) props a entrevista ficcional como tcnica queobjetiva fazer emergir o vivido do sujeito, em sua liberdade criativa, sob a forma de umanarrativa. Inicia com uma exposio, por parte do entrevistador, de uma situao hipottica,realista, a partir da qual o entrevistado pode criar a sua narrativa ficcional. A entrevistasuportada por este tipo de narrativa oferece ao entrevistado maior possibilidade para seleodo material emprico existencial e experiencial, sendo-lhe dada completa liberdade na criaoda narrativa, uma vez que ele no est aprisionado verdade. O suporte para este tipo de

    entrevista a compreenso de que os discursos ficcionais constituem-se como narrativas nosentido de que so representaes dos eventos a que se referem. Focaliza-se, portanto, nossentidos que o evento ou fato tem para o indivduo, tornando imediatamente visvel oscontedos que permanecem na mente destes como memria de eventos passados ou como

    projeo para eventos futuros. A construo da entrevista ficcional baseada em uma situaodeclarada que um curto relato oral, uma situao sinttica que o entrevistado convidado adesenvolver. Esta situao deve ter um lugar preciso, um tempo preciso e um determinadoevento desencadeador (incidente crtico). O entrevistado, alm de criar, atua como um autorliterrio, de teatro, ou como um diretor de um filme improvisado, por exemplo, que parte deum script inicial inacabado oferecido pelo pesquisador. O papel do entrevistador garantirque se mantenha o foco da narrativa, possibilitando assim a emergncia das contradies de

    cada entrevistado. A entrevista ficcional oferece, ainda, a possibilidade de fazer emergir aviso de mundo do entrevistado (ALBANDES-MOREIRA, 2002).

    O Quadro 4 sintetiza alguns exemplos de tcnicas e tecnologias utilizadas emexperincias de pesquisas crticas em administrao, na tradio frankfurtiana.

    Pesquisa Objeto Tcnicas utilizadas TecnologiasP1 Conceitos de Organizao e

    Administrao de Empresrios eProfessores

    - Entrevista com questo estmulo,questes de apoio e histria de vida- Entrevista ficcional

    Figura 2 (Apndice)

    Quadro 5 (Apndice)P2 Representaes de trabalhadores

    sobre processo de inserotecnolgica no lcus do trabalho

    - Entrevista com questo estmulo,questes de apoio e histria de vida- Questionrio

    Quadro 6 (Apndice)

    Figura 3 (Apndice)P3 Experincia de um trabalhador

    com sistemas da qualidade- Entrevista narrativa testemunhal Quadro 7 (Apndice)

    QUADRO 4 Metodologias em pesquisas crticas: por objeto, tcnicas e tecnologiasFonte: elaborao prpria a partir de dados de pesquisa, 2009

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    4.3 Compreenso dos resultadosAdorno (1980) alerta quanto aos cuidados necessrios no processo interpretativo dos

    fenmenos sociais. Aquele que faz a crtica dialtica deve evitar tratar o fenmeno e ainterpretao de maneira absolutizada, como se houvesse uma invarincia fenomenolgica

    com conseqente invarincia na compreenso, como fazem os positivistas com os seusmtodos aplicados ao fato coisificado. Ao contrrio, o fenmeno, para o dialtico, deve serencarado como um processo do vir-a-ser-social e nesta perspectiva que os sentidos ligadosao fenmeno e sua interpretao devem ser considerados. Para Adorno (1980), a noo desentido corresponde essncia social que cunha os fenmenos, portanto, situa-se nointerstcio do individual com o social. Assim, parece estar subjacente ao pensamentoadorniano uma lgica de movimento pendular entre o fenmeno isolado com a totalidade da

    prxis social: A interpretao dos fatos conduz totalidade, sem que esta seja, ela prpria,um fato. No h nada socialmente ftico que no tenha seu valor especfico nesta totalidade(ADORNO, 1980, p. 217).

    Para compreender as informaes obtidas em campo, sugere-se aqui a realizao de

    um processo de imerso-impregnao-compreenso (IIC) das falas dos sujeitos. Tomandoemprestada a expresso de Bourdieu (1997, p. 694), trata-se do momento de uma escuta ativae metdica. Nas experincias de pesquisa que embasam este texto, as gravaes eramouvidas por diversas vezes, num processo de recorrncias na seqncia da gravao, tendo emvista impregnar-se do discurso. Toda a ateno era concentrada neste processo, no s emtermos do contedo, mas, tambm, no sentido da percepo dos pequenos detalhes, tais comorecorrncias de termos ou de eventos vividos, variaes na entonao, gaguejos e silncios.

    Na seqncia, o trabalho de transcrio das entrevistas mostra-se relevante para o processoIIC, por possibilitar uma outra forma de contato com as informaes. Com a continuao dotrabalho de escuta e transcrio, a lgica dos sujeitos entrevistados como que vai sedesvelando para o pesquisador, sendo a base para o processo de categorizao.

    Convergentemente compreenso de Kramer (2001) de que mais importa como seolha do que aquilo que se v, em uma pesquisa crtica os discursos dos sujeitos devem serolhados com a lente crtica. Operacionalmente, assim como em todas as fases anterioresda pesquisa, tambm nesta fase as categorias crticas (pares dialticos) guiam o olhar do

    pesquisadorque deve empreender uma reflexo sobre as narrativas que dispe por meio deum constante movimento pendular: (i) entre as partes e todo; (ii) entre a teoria e a prxis.

    Consideraes FinaisTendo em vista o objetivo a que este trabalho se props, entende-se que as

    compreenses aqui socializadas ao mesmo tempo em que podem contribuir para o avano das

    discusses e das prticas de pesquisas crticas em administrao, igualmente se colocam comoum convite interlocuo com aqueles que tm acreditado ser possvel fazer esta crtica.Finalmente, compreende-se aqui que fazer pesquisa crtica dialogar reflexivamente e

    permanentemente com diversos interlocutores: (i) com a Teoria Crtica enquanto quadroterico de referncia, (ii) com a teoria dominante no campo que investiga, (iii) com os sujeitosde pesquisa, tanto nas situaes de entrevista como tambm com as narrativas-texto que delasemergem, (iv) com leitores, por meio de escritos socializados, e (v) consigo mesmo, por meiodo exerccio contnuo de um pensamento que se interroga ao dialogar com a realidade, tendoem vista a transformao consciente desta realidade e de si mesmo nesta realidade.

    Notas:1 Faria (2007) e Paula (2008) questionam a identificao de trabalhos ps-estruturalistas, ou ps-modernos,

    como os do CMS, com a Teoria Crtica. Para Faria (2007), Teoria Crtica uma escola de pensamento herdeirado marxismo e no teoria ps-moderna.2Economia Poltica do Poder a designao de Faria (2004, 2007) para as pesquisas em administrao queutilizam a Teoria Crtica, de tradio frankfurtiana, como quadro de referncia.

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    APNDICE

    i

    FIGURA 2 Exemplo de instrumento de entrevista em profundidade com histria de vida e questo estmuloSujeito de Pesquisa: Proprietrio-Gerente de empresaFonte: elaborao prpria a partir de dados de pesquisa, 2009

    HISTRIA DE VIDA1 APROXIMAO

    [Dados de Identificao Pessoal]:Idade (ano) Estado Civil Filhos Naturalidade

    [Dados de identificao da formao]:

    Graduao: Quando Onde O qu (curso) Porque (curso/faculdade)

    Ps-graduao: Quando Onde O qu (curso) Porque (curso/faculdade)

    HISTRIA DE VIDA2 APROXIMAO

    [Dados da Vida Profissional]:Incio: Quando Onde O qu Porque

    Mudanas: Quando Onde O qu Porque

    HISTRIA DE VIDA3 APROXIMAO[Dados da Empresa]:

    Incio: Quando Onde Setor Porque

    Sociedade N funcionrios

    Estrutura Funcionamento

    QUESTO-ESTMULO:Como o sr. v a sua empresa?

    QUESTES DE APOIO:- Do que o sr. lembra sobre como estava o mundo na poca em que o sr.

    iniciou o seu negcio?

    - O que o sr. v diferente hoje na sua empresa quando a compara a daquela

    poca?

    - Quando o sr. chega ao final do dia, como o sr. sabe se foi um bom dia ou

    um mau dia de trabalho?

    - Que tipo de coisa acontece em um bom dia de trabalho na sua empresa?

    - Que tipo de coisa acontece em um mau dia de trabalho na sua empresa?

    - Como o sr. faz para que as coisas andem bem na sua empresa?

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    uma 2 feira do ms de outubro de 2010. Diferente do habitual, o(a) Sr(a) no est na Faculdade X. O(a) Sr(a) foiconvidado(a) a ministrar uma palestra em um encontro sobre Organizaes e Gesto, no Centro de Convenes dacidade. Ao acabar a sua palestra, o Sr. vai ao restaurante onde abordado por um(a) ex-aluno(a), que se graduara naturma de 2005. Ele(a) acabara de ouvir a sua palestra e pede para sentar...QUADRO 5: Exemplo de instrumento de entrevista ficcionalSujeito de pesquisa: professorFonte: elaborao prpria a partir de dados de pesquisa, 2009

    Questo-Estmulo: Conte-me como o seu trabalho em AlfaConte-me sobre suas experincias profissionais antes de trabalhar na AlfaE como foi que voc chegou Alfa?Fale-me sobre seu processo de seleo.O que voc lembra dos seus primeiros dias nesta empresa?Voc entrou em que funo/setor? a mesma funo de hoje?Fale-me um pouco sobre essa poca, como foi a sua mudana de funo/setor.Houve alguma mudana salarial?Como era trabalhar na Alfa, antes do R/3?Voc trabalhava com outro sistema?

    O seu trabalho mudou com a introduo do R/3?Como foi o processo de mudana de antes do R/3 para passar a ter o R/3 aqui na Alfa?Como foi sua participao na introduo do R/3? Voc acha que, de alguma forma, ajudou na introduo do R3?Como foi que aconteceu no seu setor? Houve mudana no trabalho de todos?Quais foram as mudanas que o R/3 j passou aqui na Alfa?Conte-me como foi na poca da integrao do R3. Como foi que aconteceu esse processo?O seu trabalho mudou com a integrao do R/3? Como?Como foi a sua participao na integrao do R/3?Depois da integrao, ainda houve alguma mudana relacionada ao R3?Como voc se sentiu durante todo esse processo relacionado ao R3?Na sua opinio, para que serviu todo esse processo relacionado ao R3?Pensando na sua experincia, aqui na Alfa, o que significa esse processo relacionado ao R3 pra voc?Existe alguma coisa, na sua vida pessoal, que voc diria que foi influenciada por esse processo todo?Pensando hoje, em algum momento voc pensou em desistir, pedir demisso, ou pedir transferncia?

    Voc sabe se algum foi demito? Na sua opinio, por que eles foram demitidos?Voc conhece o trabalho do comit?Para que ele serve? Qual sua importncia para o funcionamento do R3?Na sua opinio o R/3 trouxe melhorias para a empresa? Quais?Para voc, como pessoa, o R/3 trouxe alguma melhoria?Na sua opinio, com o R3, voc passou a ter mais ou menos autonomia em seu trabalho?Como voc se v em relao ao futuro?

    QUADRO 6: Exemplo de instrumento de entrevista em profundidade com histria de vida e questo estmuloSujeitos de pesquisa: trabalhadores de uma indstriaFonte: elaborao prpria a partir de dados de pesquisa, 2009

    N daentrevista

    Temas e Narrativas evocadas Questes de apoio

    01 Conceito e histria da qualidade 1. O que qualidade para voc?2. Como voc se sentiu no tempo que voc estava imersono contexto da qualidade?

    02 Experincias de trabalho anteriores Empresa X

    1. Qual era a sua viso do seu trabalho no incio da vidaprofissional?

    03 Experincias de trabalho na Empresa X (FasePr-Qualidade)

    1. Qual era a misso da Empresa X?2. Qual era a misso do seu trabalho na Empresa X?

    04 Experincias de trabalho na Empresa X (comSistema de Gesto pela Qualidade)

    1. Qual era a misso da qualidade na Empresa X?

    05 Perodo de Desemprego 1. Como voc se sentia enquanto trabalhador nesseperodo de desemprego?

    06 Novas Experincias de trabalho 1. Qual a sua viso do seu trabalho na atual fase da suavida profissional?

    QUADRO 7: Exemplo de instrumento de entrevista narrativa testemunhalSujeito de pesquisa: trabalhador-gestorFonte: elaborao prpria a partir de dados de pesquisa, 2009

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    1.

    Marque com um X, o quanto as palavras e expresses abaixo, a partir de sua vivncia, tm relao com o Sistema R3.

    FIGURA 3: Exemplo de questionrioSujeitos de pesquisa: trabalhadores de uma indstriaFonte: elaborao prpria a partir de dados de pesquisa, 2009

    Processo de concepo do instrumento:1) Seleo dos termos predominantes na literatura sobre o tema (sistemas de informao)2) Insero de termos antagnicos aos constantes na literatura visando a apreender as possveis contradiesemergentes no campo. Essas informaes podem ser relevantes para aprofundamento das entrevistas.

    Adaptao Valores Autonomia

    Investimento Opresso Introspeco

    Fluidez Poder Ineficincia

    Hostilidade Frustrao Obedincia

    Barganha Desgaste ManipulaoInovao Agente Centralizao

    Acesso Monitoramento Impacto

    Reestruturao Comodidade Confiabilidade

    Sistema Informao Necessidade

    Aprendizagem Harmonia Inveno

    Trabalho Lucro Entraves

    Independncia Regulao Excluso

    Malefcio Dinamicidade Variedade

    Integrao Compreenso Conforto

    Mudana Intimidao Padronizao

    Dilogo Associao Imprevisibilidade

    Estabilidade Deciso Estrutura

    Facilidade Partilha CapitalRevoluo Mecanismo Abertura

    Conflito Stress Sacrifcio

    Crena Regras Interao

    Acomodao Limitao Promessa

    Vnculo Metamorfose Processo

    Cooperao Participao Benefcio

    Descentralizao Modelo Eficincia

    Complexidade Sutileza Incerteza

    Soluo Priso Conscincia

    Disseminao Satisfao Retorno

    Relacionamento Usabilidade Adoo

    Mtodo Continuidade Sofrimento

    Dificuldade Problema VelocidadeTransformao Dependncia Fluxo

    Flexibilidade Ciclo Escolha

    Projeo Liberdade Sobrevivncia

    Simplicidade Turbulncia Elemento

    Convergncia Agilidade Vigilncia

    Incluso Instrumento Padro

    Novas idias Papel aglutinador Mundo novo

    Agregao de valor Novos mtodos Melhoria contnua

    Caro (a) Sr. (a),Este curso de mestrado est desenvolvendo uma pesquisa sobre Sistemas de Informao, para a qualsolicitamos sua participao.Considere sua vivncia com o Sistema R3. Reflita sobre esta vivncia. Responda o questionrio a seguir.No precisa se identificar. Gratos por sua colaborao.