epidemia 5 decadas de homicidios
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Importante conjunto de Reportagens de Bruno Paes Manso sobre as curvas de violência em São Paulo: de 1960 aos 2000.TRANSCRIPT
7/17/2019 Epidemia 5 Decadas de Homicidios
http://slidepdf.com/reader/full/epidemia-5-decadas-de-homicidios 1/6
%HermesFil eInfo:C- 8:20121014:
C8 Cidades/Metrópole DOMINGO, 14 DE OUTUBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO
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Grupos
erammaisletais que aditadura
ENTRE1960E1999,HOMICÍDIOS
PULARAMDE217CASOSPARA6.653.EM2000,ASMORTESCOMEÇARAMACAIR
ESCALADA
“GUARDEI (ORELÓGIODEUMAVÍTIMA) SÓDELEMBRANÇA”
BrunoPaesManso
“P
aracadapo-licial mor-to, dez ban-didos vãom o r r e r ” ,
bradou emnovembrode1968oin-
ve sti gador A s t o r i g e
Correia,o Correinha, na frentede jornalistas durante o enter-ro de Davi Parré, investigadormortoporumtraficantedazo-nanortedeSãoPauloconheci-docomoSaponga.Ojuramen-toantecipavaasériedeassas-sinatos praticada por poli-ciais civis do famigerado es-quadrão da morte lideradopelo delegado Sérgio Para-nhos Fleury.
Nasemanapassada,afa-tídicasentençavoltouaas-sombrar o cotidiano dospaulistas como se as 130
mil mortes ocorridas em52anostivessemsidoin-suficientes para dar li-ções.Ohomicídiodepo-liciais militares na Bai-
xada Santista e em Ta- boãoda Serraprovoca-ramumasequênciade20 homicídios nos
bairrosvizinhos. Mo-radores que viram omassacre apontaram PMs à paisanacomo suspeitos.
Emdoismomentosdistantes,separadospormaisdemeiosécu-lo, a vingança continua fazendoaengrenagemdoshomicídiosgi-rar. Para compreender a violên-cianosdiasdehoje,éfundamen-talentenderavariaçãodoshomi-
cídiosnosúltimos52anos.Aepi-demia dos assassinatos começanofimdosanos1960,depoisqueasmortesàbalapassamaservis-tas como uma maneira de semanter o controle dos roubosemumacidadequecresciadesor-denadamente.
Antes disso, o mundo do cri-
me em São Paulo era quase ro-mântico, palco dos desviantesquevagavamnabocadolixoper-to da Estação da Luz e da velharodoviáriadocentro.Nochama-do Quadrilátero do Pecado, re-gião da Avenida Duque de Ca-
xias, que no futuro se transfor-
mariana cracolândia, em vez derevólveres, os malandros usa-
vam navalhas em noitadas abas-tecidas por anfetaminas e desti-lados.
Maisdoqueumredutodecri-minososviolentos,o submundopaulistano era palco de contra-
venções e contraventores que vendiam sexo, jogos de azar edrogas leves. Assassinatos, nes-se tempo, eram a opção dos vi-lões,malvadoseloucos.“Ostem-pos eram outros. O crime que
maisassustavaeraofurtoqualifi-cado, quando o ladrão invadiaumcomércioouumacasaquan-
doodonoestavafora”,lembraocriminalista Roberto Von Hyde,de 82 anos,que defendeu crimi-nosos perseguidos
pelo esqua-drão,alémdeJoãoAcácioPerei-ra da Costa, o Bandido da Luz
Vermelha,que em1967foi presoporassaltarcasasematarquatropessoas.
“Crimes de sangue” envol- viamgeralmentehistóriasdema-ridostraídos,que,movidospeloódioincontrolável,muitasvezesmatavamasiprópriosemtragé-
dias passionais à la NelsonRodrigues. Entre 1960 e1965, em mais da metadedos assassinatos em SãoPaulo,corposdevítimasfo-ram encontrados dentro decasa,revelandoforteassocia-çãoentreessetipodecrimeepaixõesdomésticasmalresol-
vidas.Por serem ações treslouca-
das,osassassinossofriamcon-trole acirrado de instituições eda sociedade. Casos comoo deBenedito Moreira de Carvalho,que ficou conhecido como oMonstro de Guaianases ao seracusadodeviolentarematardezmulheres entre 1950 e 1953, tor-navam o homicida um pária,odiado e caçado como persona-gemde filmede terror.
Mudança. A epidemia de assas-sinatos em São Paulo começouquando homicídios passaram aservistoscomoferramentapara
limpar a sociedade dos bandi-dos.Comocrescimentodosrou- bose dos assaltosa bancono fimdos anos 1960, viraram instru-mentodeextermínioouvingan-ça para ser usado em benefícioda populaçãocom medo.
Emvezdemonstros,oshomi-cidasquealegavamagiremdefe-sadasociedadeetornaracidademais segura se transformaramem heróis. Os chamados “pre-suntos” eram desovados em es-tradas de São Paulo, depois deseremretiradosdepresídiosco-mo o antigo Tiradentes.
Chefedoesquadrãodamorte,o delegado Fleury – que come-çou em 1968 a matar suspeitoscomajudadeoutrosintegrantes
do bando – virou um dos ídolosdoperíodo,recebendohomena-gensemletrasdecançõespopu-lares.Eosmétodoscruéisdoes-quadrãotambémganharampres-tígio durante o regime militar.Técnicas de tortura e assassina-tospassaramaserusadasporin-
tegrantes do Exército e da Polí-cia Militar no combate à guerri-lha e para desbaratar os gruposdeesquerda.Em1969,Fleuryes-tava à frente da emboscada quelevouà mortedo lídercomunis-taCarlosMarighellanaAlamedaCasaBranca,nos Jardins.
Rota. No combate ao crime co-mum, policiais das Rondas Os-
tensivasTobiasdeAguiar(Rota)assumiramnosanos1970opos-to de “caçadores de bandidos”,celebradospelopovo.“Embair-ros das periferias, a populaçãopedia para beijar nossa mão”,lembra o coronelNiomar CyrneBezerra, ex-comandante da Ro-tanaépoca.
Nosanos1980,saiudaPMumdosprincipaismatadoresdahis-tóriadacidade.OsoldadoFloris-
valdo de Oliveira,conhecido co-mo Cabo Bruno, morto há duassemanas depois de ficar 27 anosnaprisão,iniciousuacarreirade
justiceiromatandoa soldode co-merciantes. Logo justiceiros pi-pocaram por todos os cantos deSãoPaulo.Deformageral,todos
alegavammatarbandidosemde-fesados trabalhadores.Em 1987, depois da prisão de
FranciscoVitaldaSilva,justicei-ro conhecido como Chico Pé dePato,apopulaçãodoJardimdasOliveiras, na zona leste, foi em
pesoaoFórumdeSantanapedirsua liberdade.
Comopassardosanos,noen-tanto,foificandomaisclaroqueoshomicídios,emvezdecontro-larem o crime, acabavamprovo-cando novos assassinatos, emcírculosininterruptosdeviolên-cia. Se por um lado eliminavamsuspeitos, consolidavam tam-
bém nesses bairros o medo da
morteeestimulavamodesejode vingança.Éoquerevelaahistóriadoma-
tador César de Santana Souza,quenosanos1990diziatermata-domaisde50pessoasnoGrajaú,na zona sul. Ele praticou o pri-meiro homicídio por vingança,depois que um amigo foi mortoemumcampinhodefutebol.Ju-rado de morte por inimigos quequeriam vingança, passou a ma-tar porrazões cada vezmais ba-nais, sempre quepressentia quecorriariscodesermorto.Eleche-gouaacreditarqueaviolênciaoajudaria a dominar o bairro. De-pois deum tempo, percebeu,noentanto, que homicídios ser-
viam apenas para provocar no-
voshomicídios.Em 2006,termi-nouassassinadoporintegrantesdo Primeiro Comando da Capi-tal (PCC) que passaram a ven-derdrogas em seubairro.
EPIDEMIA:
www.estadao.com.br/acervo
Dasexecuçõesdoesquadrãodamortenosanos1960aoshomicídiosordenados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) nos dias dehoje, a epidemia de assassinatos em São Paulo matou 130 mil pes-soas.Aolongode52anos,comoemumcomportamentocontagioso,os assassinatos começaram a crescer. De menos de um homicídiopordiaem1960,chegouaquaseumamorteporhoraem1999.
Nesseano,acidaderegistrou63,5assassinatospor100milhabitan-
tes, taxa semelhante à dostrêsanos deguerra noIraque.A partirde2000, a exemplo das epidemias, o contágio cessou e os homicídiosdespencaram77%aolongode11anos.Nesteano,contudo,disputasincessantes entre policiais militares e integrantes do PCC mostra-ramque essapacificaçãose sustentavasobrefrágeisestruturas.
Comocompreender essas mudançasbruscasno comportamentodoshomicidas?Dehojeaquinta-feira,oEstadopublicaumasériede
reportagensparaexplicaravariaçãodosassassinatosemSãoPaulo.O material éresultado de 13anos de investigaçõese estudose de
maisdecementrevistas–muitasfeitascommatadoresqueatuaramem diferentes períodos em SãoPaulo. O trabalho resultou em umatesede doutorado, defendidaem 28 de agosto no DepartamentodeCiênciaPolítica da Faculdadede Filosofia, Letrase CiênciasHuma-nasda Universidadede SãoPaulo (FFLCH-USP).
Maioria das mortes (aqui por 100
mil/hab) era passional e em casa
estadão.com.br
DELEGADOFLEURYLíder do esquadrão
Assassinatos aumentamdepois que passama servistos como ferramenta de controledocrime
● Tantono Riode Janeiro quanto
emSão Paulo,o esquadrãoda
morterepresentouo começo da
epidemia de assassinatos. Não
pelaquantidade de homicídios
deseus integrantes,mas porco-
locarem prática umanovaforma
devero mundo e lidar com as-
sassinatosem sociedades em
processo de urbanização.
O esquadrãocomeçouno Rio
em1958e serviude modelo para
o resto do Brasil, inclusiveSão
Paulo. Policiaispaulistas conver-
savamcom os cariocasantesde
se organizar para matar. O Espíri-
to Santo, Estado que liderou o
ranking dos assassinatos no Bra-
silnos anos 1980e 1990,tam-
bémteve seu esquadrão.
Considerandol evantamentos
policiaisdo período,entre 1963e
1975os grupos de extermínio
formadospor policiaismataram
quase900pessoasno Rio(654)
e emSãoPaulo(200)– maisdo
que os 20anos deregime militar.
Oque5décadasdehomicídiosemSãoPaulotêmaensinar
Dos esquadrões aoPCC, 52 anos de violênciamataram130mil pessoas
Online. Áudios emúsicassobrea violênciae osesquadrões
www.estadao.com.br
A PMsó é criadaem 1969.
Antes, cabia à ForçaPública
defendero patrimônio do
Estado. Pouco saía às ruas.
Nodia 23 denovembrode
1968, émorto Saponga,acusa-
dodemataro investigador
DaviParré
9/8/1967
O delegadoFleury conversa
coma mãe deSaponga,que
era jurado de morte acusado
dematarum policial
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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 14 DEOUTUBRO DE 2012 Cidades/Metrópole C9
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9,9
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9,9
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18,5
Um delegado ligava para os jor-nalistas anunciando que haviaum“presunto”naestrada.Afon-te secreta tinha o apelido de Lí-rio Branco e passava a ficha cri-minal do morto. Em alguns ca-sos, os matadores deixavam aoladodocorpodesenhosdecavei-ra do esquadrão da morte. Não
bastava matar. Era preciso avi-
sar o público, pelos jornais, queos assassinos tentavam livrar omundodosbandidos.
Entre1969e1971,maisde200suspeitosforamexecutadospeloesquadrão. O efeito dessas mor-tes, no entanto, transcenderamasvítimas.Aplaudidospelapopu-laçãoerespaldadospelasautori-dadespaulistasenacionais,osas-sassinos consolidaram em SãoPaulo a ideia de que os homicí-dios podiam ser usados comoumaferramenta eficaz paralim-parasociedadedosbandidos,aomesmo tempo em que aplaca-
vamo desejode vingançade umapopulaçãoamedrontada.
“Os efeitos dos assassinatospraticados pelo esquadrão sãosentidos até hoje. A limpeza so-cial continuou sendo defendidae praticadapor gruposde exter-míniohojelocalizadosprincipal-mente na Polícia Militar”, afir-ma o padre Agostinho DuarteOliveira, de 81 anos, na sede doInstituto Brasileiro de CiênciasCriminais, em SãoPaulo.
Amigo de infância do delega-do Sérgio Paranhos Fleury, comquem jogava futebol no mesmoclube da Vila Mariana, padre
Agostinho conseguiu, em 1969,autorização do secretário da Se-gurançaPública,HelyLopesMei-relles, para ingressar no antigoPresídioTiradentes,emSãoPau-lo, onde a presidente DilmaRoussefftambémcumpriupenacomoutros presos políticos, se-parada dospresoscomuns.
Conversando com os deten-tos, padre Agostinho descobriucomooesquadrãodamorteagia.Os presos comuns eram retira-dosdascelasnasmadrugadaspa-ra serem exterminados e teremocorpocheiodebalasjogadoemalguma estrada. Para provar oquefalava,oreligiosoconseguiua lista oficial dos presos. Comoelesapareciamnasestradascomsuasidentidadesdivulgadas nos
jornais, bastava checar a lista e verquem deveriaestar nascelas.“Eucompravaoantigojornal No-tícias Populares e lia o nome dosmortos para saber se eram osqueestavamno Tiradentes.”
Vingança. Depois da morte deSaponga, em vingança ao crimecontra o investigador Davi Par-ré, as execuções do esquadrãopassaram a se tornar corriquei-ras e banais. Jornais da épocacontabilizavam o total de mor-tos anunciados pelo esquadrão.Havia uma certa tolerância comessas ações, cujas investigações
eram inexistentes. Afinal, aque-les que deveriam investigareramos mesmos quematavam.
O jornalista Afanásio Jazadji,quecobriaoassuntonoperíodo,lembraquando,certanoite,aten-deuumtelefonemanasaladeim-prensa da central de polícia queexistia noPátiodo Colégioe lhedisseram que havia quatro cor-pos jogados em um matagal emGuararema, na Via Dutra. Ini-ciante, elefoiapuraro crimeem
busca de um furo semfalar paraos outros jornalistas, que conti-nuaram jogando baralho. Paraevitar que concorrentes depoischegassem ao local e reportas-sem a informação aos seus jor-nais, mudou os corpos de lugarparadespistarosoutroscolegas.“Imagina. Naquele tempo issoera possível. Foi quando deixeideserfoca.”
A situação dos integrantes doesquadrãomudouem17dejulhode 1970, depois da morte de ou-tro investigador. O suspeito daautoria da morte do policial
Agostinho Gonçalves de Carva-lhoeraumjovemde20anosco-nhecido como Guri. No mesmodiadamortedoinvestigador,oi-to corpos baleados foram leva-dosao InstitutoMédico-Legal.
OpromotorHélioBicudo,quepassariaaatuarnocasodoesqua-drão, descobriria, com a ajudaposterior do padre Agostinho,que quatro mortos tinham sidoretirados do Presídio Tiraden-
tes.Nosdiasqueseseguiram,pa-ra achar Guri, Fleury e seus ho-mens foram acusados de tortu-rar os pais do suspeito para que
elesoentregassem.Guri acabou sendo encontra-
donamatafechadadeumafazen-danoParquedoCarmo,nazonaleste. Os policiais chegaramacompanhados de jornalistasquedescreveramacenanosdiasseguintes nos jornais. Guri foimortocommaisde100tirosemseu corpo, que ficou desfigura-do. O homicídio, anunciado aosquatro ventos pelos policiais,
provocou a reação das institui-çõescomooTribunaldeJustiça.Em agosto de 1970, o depoi-
mento do padre Agostinho, desobreviventese de presos do Ti-radentes ajudaram o então pro-motorHélioBicudo,hojeprocu-radoraposentado,eojuizcorre-gedor Nelson Fonseca a inicia-remoprocessoquelevariaaoin-diciamento de 35 pessoas. Sóseis foram condenadas. Apesarda dificuldade em punir, os au-
tostrouxeramàluzinformaçõespreciosas.
Vieram à tona, por exemplo,daods de que traficantes de SãoPaulo eram beneficiados pormortes praticadaspelo grupo. A promiscuidadedepoliciaiseban-didos da boca do lixo motivou
váriasmortes do esquadrão,queprotegiatraficantesamigosderi-
vais,como revelaramdepoimen-tosdo processo.
“A violência era tolerada por-que aparentemente ocorria emdefesadasociedade,masnaver-dadeerausadaparaacobertarou-tros tipos de crime”, lembra Bi-cudo,umdosprincipaisrespon-sáveispelasinvestigaçõesdope-ríodo,hojecom92anos.“Oses-quadrõesdamorteacabaramse-guindo o caminho do crime. É oquecostumaocorrer.Engana-sequem acredita em um assassi-no”,diz.
● Emmaiode 1970,o tenente da
PolíciaMilitarAlbertoMendes
Júnior foiassassinadoa coronha-
daspelos guerrilheirosdogrupo
deCarlos Lamarcadepoisde
cair emumaemboscadano Vale
doRibeira. A informação sóche-
gouaoExércitoquatromeses
depois,quandoum integranteda
VanguardaPopularRevolucioná-
ria(VPR) foitorturado e apontou
onde estavao corpodo oficial.
A “ameaçacomunista” estava
noauge.Um dosresponsáveis
pelo cercomalsucedidoa Lamar-
caera o coronel doExército Eras-
moDias. Emcompanhia dodele-gadoSérgioParanhosFleury, ele
participouda caçadaà VPR, um
dosgrupos daguerrilhaurbana.
Trêsanos depois, em1974,Dias
assumiria a Secretaria daSegu-
rançapara combatero crimeco-
mum. Osbandidosseriamseus
novos inimigose alvos.A tortura
e os assassinatoscontinuariam
sendo as ferramentasde traba-
lhode alguns policiais.
“Desdeaquelesanos,as simu-
lações de resistênciasseguidas
demortese tornariamumadas
formas dedisfarçarexecuções”,
afirmaIvanSeixas,quehoje pre-
sideuma entidadededireitos
humanos.Emabril de1971, aos
16anos,Ivanfoi presocomo
pai,o operárioJoaquimAlencar
Seixas,doMovimentoRevolucio-
nário Tiradentes.Ambos foram
levados aoDestacamento deOpe-
rações e Informações –Centro
deOperaçõesde DefesaInterna
(DOI-Codi),formadopor integran-
tesdo Exércitoe dasPolícias Ci-
vil e Militar.O pai deIvanfoimor-
tonodiaseguinte, durante ses-
sõesde tortura. Oficialmente,
policiaisinformaramque eleha-
viamorridoem umtiroteiono dia
anterior.
A caçada aosbandidos co-
muns, iniciadapelo esquadrão
damorteno fim de1968 e adapta-
dana luta contraa guerrilha, le-
varia tensãoe medo paraasperi-
ferias emformação ao longoda
década de1970. Osnovosagen-
tesdoshomicídios seriamgru-posde policiaismilitares.
O enfrentamentoera incentiva-
dopelosecretário ErasmoDias,
quepremiava commedalhase
elogios PMsenvolvidos emtiro-
teio,comoconta o coronel João
PessoaNascimento.
ANOS 60
O ASSASSINO
ASSASSINATOS
Variaçãoseacelera a partirde
meadosde 1975e a capital
registraem 1999 quase1
homicídio porhora. Em1960,eramenos de1 por dia
129.278
Comosecretário daSeguran-
ça,coronel ErasmoDiaspre-
miava policiaisque se envol-
viamem confrontos
O esquadrão retiravaas vítimas
dospresídiose, porisso, nãose
vinculavaaos territórios.QuandoaPMpassaa matar,a partirdos
anos1970, asmortes começam
a se concentrarnas periferias
LOCAL
EFEITOS
Como crescimentodosassaltose omedo dapopulação, policiais
doesquadrão damorte passa-
rama matarsob a justificativa de
quetornavama sociedademais
segurae livredosladrões
Ohomicida deixadeser um
páriaparasetornarum herói ao
matarem defesada sociedade
CABEÇA
Emvez decoibiremos roubos,
oshomicídiosprovocama rea-
çãodaqueles quese sentemvíti-
masdos assassinos. Vingançase
disputasterritoriaiscriamcírcu-
losviciososdeviolência
Vingadoroficial, Fleuryinicia a ondademortesPoliciais retiravam vítimas de presídio para executá-las até que um padre,um promotor e um juiz desvendaram o que havia por trás dos crimes
60
● A epidemiacomeçou
nofimdosanos 1960e
cresceuprincipalmente
depoisde1975
“TINHADEMANTERA
ORDEM.NÃOACEITAVA DESOBEDIÊNCIA”
CORONELERASMO DIASSecretário de Segurança
10A CURVAEntre1900e 1960,SãoPaulo nuncahaviaultrapassadoa
barreirados 10casospor 100mil habitantes. Oshomicídios
eramendêmicose nãocriavamcírculosdevingança
80 90 0070
●Apoio popular
●Rua
Sobo discursodadefesada
sociedade,poli-
ciaisdaRota
assumemo
postode
“caçadoresde
bandidos”
Nodia17 dejulhode 1970,
policiaisdo esquadrão encon-
tramGuri, queseriamorto
commaisde 100tiros
60%dapopulaçãodeSP em1970
apoiavamesquadrão(Marplan)
49%apoiavamo esquadrão porconsi-
derarembandidosirrecuperáveis
38%achavamque a Justiça nãoera
suficiente paracoibiro crime
Tiroteiocoma
políciaédisfarceparaexecuções
As mortes do esquadrãoEM 21 MESES
NOV
3
DEZ
12
FEV
12
JUL
13
JAN
8
MAR
4
ABR
6
MAI
9
JUN
2
JUL
3
AGO
4
OUT
10
SET
2
NOV
3
DEZ
9
JAN
3
ABR
2
MAR
5
JUN
5
FEV
6
1968 1969 1970
123mortos
2.351tiros
CRESCIMENTO DAS PERIFERIAS
SERRA DACANTAREIRA
PARQUEANHANGUERA
PARQUEDO IBIRAPUERA
PARQUEDO ESTADO
ÁREA URBANIZADA ATÉ 1949
ÁREA URBANIZADA ATÉ 1962
ÁREA URBANIZADA ATÉ 2002
LIMITE DA ÁREA DE PROTEÇÃODOS MANACIAIS
A EXPANSÃO DE SP
PARQUEESTADUAL
GUARAPIRANGA
PARQUEESTADUAL
DO JARAGUÁ
PARQUEECOLÓGICO
DO TIETÊ
VILAMEDEIROS
PIRITUBA
ITAIMPAULISTA
TATUAPÉ
CIDADETIRADENTES
SAPOPEMBA
VILA
MARIANA
CAMPO
LIMPO
MORUMBI
BUTANTÃ
LAPA
SÉ
GRAJAÚ
MARSILAC
INFOGRÁFICO/AE
7/17/2019 Epidemia 5 Decadas de Homicidios
http://slidepdf.com/reader/full/epidemia-5-decadas-de-homicidios 3/6
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O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 15 DE OUTUBRODE 2012 Cidades/Metrópole C5
1981
21,7
1984
37,9 1985
36,9
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41,7
1982
20,41980
18,5
1990
44,1
198330,5
Os homicídios passarama se
concentrarnas periferias de nor-tea sul deSãoPaulo.Nosanosque viriam, os mesmos bairrosdasperiferiasvão liderar os ran-kingsde assassinatos.
A açãoterritorial dosjusticeirose dospoliciaismilitaresprovocamdisputas localizadase concentradas na periferia
DepoisdaPM,mortesmigramparaa periferia
Bairros em área nobre da zona
sul, como o JardimPaulista, ti-nhamtaxa de homicídio europeia(3 por100 mil), enquanto mortesno Jardim Ângela ultrapassavam100casos por100 mil.
HOMICÍDIOS
forampraticados por ano
durante a décadade 1980 emsupostos casosde resistênciaseguida de morteenvolvendopoliciais militares.
Contando coma omissão e o in-
centivo da polícia,justiceiros pas-saram a matar suspeitosnosanos 1980 acreditando agir emdefesa dos trabalhadores do bair-ro e bancados por comerciantes.
A violência migra paraos territórios periféricos dacidadenos anos 1980, décadaem queo crescimentodas taxasde homicídioalcançou 144%.
ANOS 60
Justiceiros imitam policiais ematam suspeitos para tentarmanter a ordem no bairro
ENTRE1975E1989,AEPIDEMIASEACELERA:PASSA,EM1979,ABARREIRADOSMILCASOS.DEZANOSDEPOIS,ALCANÇA3.850
A recente eleição para vereadordedoisoficiaisdareservadaRon-dasOstensivasTobiasdeAguiar(Rota) mostra como, até hoje, odiscursotruculento de combateao crime tem apelo popular.Quando na ativa, o coronelPau-
loTelhadaseenvolveuem36re-sistências seguidasde mortee ocapitão ConteLopes,em 41.
O excesso de violência virouumadascaracterísticasdacorpo-ração, postura queacabouse es-tendendoa outros batalhões. Se
durante o períododo esquadrãodamorteasvítimaseramtiradasde presídios,quandoos homicí-diossetornaramferramentasdopoliciamentoostensivoosassas-sinatosmigraramparaosterritó-riosdasperiferiasdemetrópole.
Matarse transformou em ins-trumento de trabalho de partedosPMsquetentavamcontrolarocrimedenorteasuldeSãoPau-lo. Nos anos 1980, em Guaiana-ses, na zona leste, um tenenteque pediu para ser identificadoapenas como Pereira passou a
matar quando percebeu que ossuspeitoseramrapidamentesol-tosnosdistritospoliciais.Nazo-na sul, depois de 11 anos agindodeformaviolentaaolongodadé-cadade 1980, cominúmeros ca-sos de resistência seguida de
morte,osargentoDavidMontei-rocontaquese enxergavacomoumpolicialmodelo.Sópercebeuqueestavaagindodeformaequi-
vocada quando o comando oafastoudaruaparatrabalhosbu-rocráticos.“Nessemomentoafi-cha caiu”, recorda. Ele já haviarecusado o convite de um justi-ceiropara matarem juntos.
Em 1960, quando os homicí-diosemSãoPauloaindaeramen-dêmicos e as autoridades de se-gurança se dividiamentre ForçaPública, Guarda Civil e Polícia
Civil,oficialmentefoiregistradoapenasumóbitocometidopelasforçaspoliciaisnoEstado.Cincoanos depois, em 1965, foramduasmortes.
A situação começou a mudarem 1970, no regime militar. A
PM foi criada e passou a ser co-mandada por oficiais do Exérci-to. Nesse ano, as mortes subi-rampara28,pulandopara59em1975, no augeda repressão.
A execução de suspeitos nãoparou de crescer, revelando odespreparo dos policiais. Só nadécadade1980,foram4.093mor-tes.Longedediminuirocrime,atruculência aumentou a desor-demna cidadee acendeu o sinalde alerta. Em vez de aplauso, oexcessopediria ajustes.
EPIDEMIA:
Boa partedos justiceiros costu-mavaafirmarque tinham come-çado a matardepois quefamilia-resforam ameaçados ou violenta-dos por bandidos locais.
A CURVA
Oque5décadasdeviolênciatêmaensinar
CURVADEHOMICÍDIOS
LOCAL
JUSTIFICATIVA
L.GEVAERD/AE
70 80 90 00 10
PAULOCERCIARI/AE
Justiceiros ePMs fazemparceriaparamatarEm1987, Cabo Bruno tentouassassinarsobrevivente de chacina feita por policiais
MEDODAMORTEE VINGANÇASPROVOCAMMAISHOMICÍDIOS
Corposamanhecidos no chãoviraram rotina nas periferias.Cabo Bruno (à esquerda)agiuem parceriacom PMs
Nosanos 1980,a vida do justi-ceiroClidenorAncelmo Bri-lhante, queatuouem SãoBer-nardo, acabou virando filme.
60
ABISMO
estadão.com.br
CABEÇA
BrunoPaesManso
Opadre irlandês Jai-me Crowe chegouem fevereiro de1987aoJardimÂnge-la,nazonasuldaci-dade, para coman-dar a Igreja SantosMártires,umdospi-lares da pacificaçãodo bairro nos anos
2000. O prédio ainda estava emconstrução quando, em dezem-
bro, no ano de sua chegada, ummeninoveiochamá-loparaaten-der a um homem armado, com
bigodesnegros e grossos.Diante dele, estava o mais fa-mosojusticeirodazonasul:Flo-risvaldo de Oliveira, ex-policialconhecido como Cabo Bruno,quenãoseidentificouepediupa-radormirnaigreja.“EraDiados
DireitosHumanos,10dedezem- bro, eu nunca me esqueço. EunãosabiaqueeraoCaboBruno.”
Em tese, Cabo Bruno deveriaestarnoRomãoGomes,presídioda Polícia Militar onde cumpriapena por seus crimes. Mas, na-quelamadrugada,elebuscavaPi-rulito,filhodedonaLuzia,mora-dorado Jardim Ângela.
Trêsanosantes,Pirulitohaviasido o único sobrevivente deuma chacina praticada por PMscontraquatrojovens.Etestemu-nharia nos próximos dias. Paraque ficasse em silêncio, levou 15tiros.CaboBrunofugiriaoficial-mente do Romão Gomes depoisdo atentado, na noite de Natal.“EssaéahistóriadePirulitoqueme revelou a parceria entre osPMs e justiceiros”, diz o padre.Osdetalhesdaparceriaforampa-raotúmulodeFlorisvaldodeOli-
veira, morto há duas semanas. Assassinatos praticados por
policiais para coibir roubos aca-ramincentivandoasescolhasho-micidas dos justiceiros. Comoeram tolerados pelas autorida-des, viraram opção popular. Os
justiceiros eram bancados por
comerciantes, assim como, nadécadaanterior,industriaispau-listasjáhaviamfinanciadoaçõesnosporões do regime militar.
A estimativa é de que os justi-ceiros tenham matado pelo me-nos mil pessoas na Grande SãoPaulo.
Conforme os assassinatoscresciam,apopulaçãodasperife-rias começava a reagir aos cor-posnomeiodaruaeàspequenastragédias cotidianas. Em vez deaumentarasensaçãodeseguran-ça,asaçõeshomicidasacabavamarmandoosespíritoseproduzin-donovosassassinatos.Cadano-
vocaso instigavaa comprade re- vólveres, a formação de grupos
rivais e círculosde vingança.Comerciante em Diadema
nosanos1980,LaércioSoaresan-dava comduasarmas nacinturaparase protegernos campinhosdevárzeadacidade.Eleeoutrospequenos empresários tambémpagavam advogadospara defen-derosjusticeiroslocais.
Com raras exceções, os justi-ceiros eram migrantes ruraisapegados aos valores tradicio-nais das pequenas cidades ondenasceram.Chegavamacre-ditando nas oportunida-desoferecidasporSãoPau-
lo.Matavamaquelesqueviamco-mo “bandidos”, integrantes dageração de jovens urbanos, des-cendentesdemigrantes,quene-gavamos valores dospaise bus-cavam uma identidade própria.Jovens de uma geração que aca-
bousendo dizimada na São Pau-lodosanos1980e1990.
TV Estadão. Confira análise
sobre homicídios www.estadao.com.br/
O ASSASSINO
Boinas pretas.Truculência nas
periferias
409
● Acompanhe até quinta-feiraa sérieespecialsobreseisdé-cadasde homicídios em SP.
●Emtodosos cantosde SPDa esquerda paradireita:JoãoBalaio, JonasFélix, Diógenes eÍndio, justiceiros que durante adécada de 1980atuaram nasdife-rentesregiõesda GrandeSãoPaulo. Omissão ou parceria compoliciaisacabou incentivando acarreirados matadores.
INFOGRÁFICO/AE
MORTOS PELA PM
229
1991 20120
300
600
900
1200
1500
7/17/2019 Epidemia 5 Decadas de Homicidios
http://slidepdf.com/reader/full/epidemia-5-decadas-de-homicidios 4/6
%HermesFil eInfo:C- 6:20121016:
C6 Cidades/Metrópole TERÇA-FEIRA, 16 DE OUTUBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO
1991
45,5
1992
40,7
1995
54,8
1996
55,2
1998
58,3
1999
65,3
1993
40,4
1997
54,0
1994
45,51990
44,1
2000
59,4
Nosanos1990,nos territóriosviolentos,o excessode armas ederiscosinduzema escolhahomicida atéem conflitosbanais
Os homicídiosse concentramnosbairrosdasperiferias. Noano2000,a taxa emParelheiros(106 por100milhabitantes)é 28vezesmaiordo queno JardimPaulista (3,6 casospor100mil).
O resultadoda matança de jo-vens viciadosemcracké a craco-lândiano centro, quese tornaumrefúgio dosjovens quequeremfugirdas chacinasdasperiferiasda cidade.
CHACINASocorreramentre 1998 e 2000.Casosemquemorremtrês pes-soas oumais nomesmoevento,elascomeçaram a crescerde-pois demeadosdos anos 1990.
EFEITO DOMINÓ:QUANTOMAISHOMICÍDIOSEMUM TERRITÓRIO,MAIOR ACHANCE DENOVAS MORTESOCORREREM
ANOS 90
O altograuderisco,o medoex-cessivo e a grandequantidadedearmas emcirculação transforma-ramqualquerconflito em riscodevidapara osjovensque sesen-tiamameaçados.
PCCsurge domata-mata emSPe tentacriarhegemonia no crime
Noaugedo caos, 1morte levava a 150Jovens moradores de bairros violentos iniciavam conflitos incessantes contra vizinhos e disseminavam os assassinatos pelas periferias
NuncaSão Paulo registroutantos homicídiosquantoos6.653casos de1999.O total é 30vezesmaiordoqueos 217ocorridos nosanos1960.
A mística em torno das facçõesno Rio de Janeiro começou em1981,quandoZéBigode,cofunda-dordoComandoVermelho,refu-giou-se no Conjuntodos Bancá-rios,naIlhadoGovernador,tro-cando tiros com 400 policiaispor10horasatésermorto.
Com um bom fornecedor decocaína, entre 1983 e 1986 o Co-mandodominouas bocas de fu-motradicionais,tocadas porpe-
quenos traficantes de maconha.Em1985,jádetinha70%dospon-tosdevendaemumgrandeelu-crativo mercado.
Em São Paulo, desde os anos1970, quando as taxas de crimecomeçaram a crescer, pequenascélulas isoladas de criminososse equilibravam parcamente,correndo o risco de serem caça-dasporjusticeiros,policiaisecri-minoso rivais.
O roubosempre foio negócioprincipal.O tráfico de drogas sósefortaleceria emSão Paulode-poisdosanos1990,comachega-
dadocrack.Entre1981 e 1996,o rouboem
SãoPaulo cresceu emmédia9%ao ano. Enquanto no Rio os cri-minosos se vinculavam a fac-çõesque dominavamterritóriosnosmorros,emSãoPauloosin-tegrantesdomundodocrimeserelacionavamdeigualparaigual,como indivíduos, pisando emovosedisputandopoderemter-ritórios conflagrados, onde vi-
viam sob risco de matar ou mor-rera qualquermomento.
Nessa estrutura criminal semhierarquia, horizontal, sobra-
vamoportunidadese motivospa-ra vinganças e assassinatos ba-nais.“Ninguémémelhordoqueninguém” sempre foi uma frase
repetida nesse cenário igualitá-rioeinstáveldasredescriminaispaulistas.Naprática,jovensdes-confiavamde outros jovens,vis-tos como homicidas em poten-cial,ematavammotivadosàsve-zespor conflitos banais.
Origem. É nesse contexto demata-mataedesordemqueoPri-meiro Comando da Capital co-meçou a se formar nas prisõesem 1993. E a se fortalecer, comdiscurso que propunha fim dasmortes de integrantes do crimee incentivoa negóciosilegais.
DENORTEA SUL, RIXASCRIAMAGERAÇÃO DE JOVENSMORTOS
EPIDEMIA:
BrunoPaesManso
Aos 21 anos, César deSantana Souza sabiaqueseu tempoestavase esgotando. Em1999, como ele pró-prio dizia, estava fa-zendo “hora extra naterra”. Juntamente
comos“aliados”JoséIdel- van dos Santose João Car-los Queiroz, ele tentava
preservaraintegridadedogrupodeamigoseahegemonianosvá-rios tipos de negócios criminaisemumapequenaáreadoGrajaú,nazonasul.
Depoisdecincoanosdeconfli-toscomjovensrivais,elecalcula-
va que já tinha matado mais de50 pessoas. Narrou pelo menostrês chacinas. A primeira mortequepraticou foipor vingançadeum colega no campinhode fute-
bol. Vários conflitos se sucede-
ram.“Osproblemasvãobrotan-do e parece que não acabammais”, explicou.
Em2006,César e João Carlosforamqueimadosdentrodocar-rocomoutrastrêspessoas.Apo-líciaapurouqueosautoreseramintegrantesdoPrimeiroComan-do da Capital (PCC) que passa-ram a vender drogas no bairro.Idelvan morreu no mesmo ano,assassinadonafrentedofilhode6anos.
As periferias da São Paulo dosanos 1990 são o resultado das
mortespraticadasporpoli-ciaise justiceiros nasdéca-dasanteriores.Em1999,osassassinatos na cidade al-cançariam seu ponto maisalto na curva, com65 mor-tes por 100 mil habitantes,
semelhante à guerra do Iraque.Corpos nasruas, rodinhas em
torno dos defuntos, enterros deamigoseparentes,conversasso-
bretiroteiose crimesfaziampar-te da rotina e popularizaram asescolhashomicidas.Nolequedealternativas dos moradores dos
bairros violentos, o homicídiotornou-seaomesmotempoumaameaçarealeumaopçãoderea-ção. Foinosanos1990 quea en-grenagemdehomicídiosseazei-
toue passoua girar commaisforça. As mortes dos anos1980chegaramcomoumabo-ladeneve.
Em 1990, aos 15 anos, Ale- xandreRodriguesda Silvaini-ciousuatrajetórianocrimenoJardimÂngela,nazonasul. Ele e os amigos ti-nham rivais em bairros
vizinhos. A maior dasrivalidades começouem 1995, contra osNinjas, moradoresdo Jardim Tupi.
Segundo apu-rações da polí-ciaedoMinis-
tério Público, entre 1993 e 1998as rivalidades entre grupos noJardim Ângela provocaram 156mortes, sobretudode jovens.
Mudança. A trajetória de Ale- xandreno crimeterminouquan-doelefoipreso,em1998.Repen-souavidaehojeestáemliberda-de provisória. Virou evangélicohá quase uma década. Aos 38anos, trabalha com decoração e
é pai de duas meninas. O jovemmatador que ele foi nos anos1990cresceuemumcontexto
violento e foi resultado dasescolhas erradas que to-mou. “Eu, de verdade,souessapessoaquevo-cê conhece hoje. Empaz”,resume.
● Nocomeçodos 1990, o crack– droga feita a partirda pasta decocaína combicarbonatode só-dioe vendida empequenaspe-dras quetornavama dose barata– aumentouo girodasbocas e aquantidadedas biqueirasnasperiferias de SãoPaulo. Viciadosemcrack, chamadosdenoias,mergulharamde cabeça no con-sumo, fazendo de tudo pornovasdoses.Eles setornaramum dos
alvospreferenciais dosmatado-res. “Noia semata compedrada,nãoprecisanemgastarbalas detão tranqueira”, diziaCésar Sou-zaem 1999,matador doGrajaú.Aschacinas– casosemque
três oumais vítimas sãoassassi-nadas– alcançaram 95casosanuaisem 2000. E eram o retra-to dadesordemgeneralizada.Namaior ocorrênciado Estado, em1998, 12pessoas forammortasemFranciscoMorato.Os auto-res, PMsque tambémfaziam se-gurança,buscavamuma meninaque testemunhariacontra elesnaJustiça.Mataramos outrospara evitaro risco desobraremmais testemunhas.“Éaquelacoisa. Está dema-
drugada, bebendo comquemnãopresta,coisaboanãodeveser”, explicavaJosé Idelvan dosSantos sobreas trêschacinasquepraticou nosanos1990.Nesse contextode extermínio,
asperiferias passarama expur-garos consumidoresparao cen-trode SãoPaulo. A cracolândiasetornariaumazona neutra, umrefúgio onde sepodiatraficarsobosolhosda polícia e consumiradrogasem o riscodeser assassi-nado.Nasperiferias, comrevólveres
emedo emexcesso, conflitosbanais podiam provocar esco-lhas homicidas. O aluno deumaescolaem Diadema explicouoassassinato praticadopor umamigo.Ele ia todamanhã levar a
irmãà aulae umjovem o encara-vado ladode fora daescola.Noterceirodia, atiroue matouo jo-vemsem questionar. “Estácerto.Desacreditou,tem demorrer.”
HEITOR HUI/AE 4/10/1992
60A CURVA
Oque5décadasdeviolênciatêmaensinar70 80 00
LOCAL
10
AGLIBERTO LIMA/AE 1/12/1998
FREDERIC JEAN/EDITORA ABRIL
REPRODUÇÃO
Em1992, 111 sãomortos porPMsna Casa deDetençãodoCarandiru. Episódio vaimudara política carcerária emSP.
A chegada do cracknasbocasdasperiferiasaumenta a quan-tidadede pontosde vendaede conflitos.
CABEÇA
estadão.com.br
REFÚGIO
Episódioda Favela Naval, emDiadema,em 1997, revela des-preparo daPMe força coman-doa mudar a gestãoda tropa.
90
TV Estadão. Confira análises
sobre homicídios
www.estadao.com.br
O ASSASSINO
Chacinaecrackrevelamápicedadesordemnos1990
Enquanto o crime no Rioeratocado porfacçõesdesde 1980, sóno fim dos1990uma organizaçãomarcoupresençaem SP
● Acompanheatéquinta-feiraa sérieespecialsobreseisdécadas dehomicídios emSP.
Facção. Em1993, Geleiãocria o PCC comoutros presos
273
Matadores do Grajaú.Em conflitos com jovens
rivais, disputas eramtravadas na periferia
P A U L O
L I E B E R T
/ A E
7 / 1 1 / 2 0 0 2
7/17/2019 Epidemia 5 Decadas de Homicidios
http://slidepdf.com/reader/full/epidemia-5-decadas-de-homicidios 5/6
%HermesFil eInfo:C- 5:20121017:
O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 17 DE OUTUBRO DE 2012 Cidades/Metrópole C5
2001
57,8
2003
47,7
2004
37,3
2006
23,5
2007
17,7
2005
24,3
2008
14,8
2009
15,3 2010
14,52011
12,5
2002
50,9
2000
59,4
2012
13,3
2001
57,8
Quando todospodemmatar,o homicidadeixadeter poder e ficasujeito a serassassinado.Ganhamforça, assim,soluções alternativas
Apesar de oshomicídios teremcaídoem bairrosda periferia,elescontinuamliderando os ran-kingsde assassinato.O total decasos, contudo, cai acentuada-mente ao longoda década.
INTERVENÇÃOANTIVIOLÊNCIADOESTADOFOIEFICAZ PORQUEMORADORESDA
PERIFERIAAPRENDERAMCOMTRAGÉDIAS
O CemitérioSão Luís, na zonasul, queficouconhecido comoo “cemitério dosjovens”porenterrarmuitas vítimasde ho-micídio, passoua teráreasvagase arborizadas.
A surpreendente quedaininterruptadoshomicídiossalvoumais de30 mil vidas entre 2000e o anopassado, quandoas 6.653 mortescaírampara 1.403.
ANOS 2000
HOMICÍDIOSocorreram na capital em 2011.Esse númeroé inferior ao totalde1980,quando1.470 pessoasforamassassinadasem SãoPaulo.
OMESMOOCORREUEMOUTRASCAPITAISBRASILEIRAS
BrunoPaesManso
Natalino Pereira dos San-tos chegou a São Paulo,
vindo da pequena Jar-dim Alegre, no Paraná,em1989.Veioparatraba-lhar em um frigorífico.
Separado da mulher, com ajudadasirmãsconseguiucriarosdoisfilhos, Leandro e Edmar, dando
duro em diferentes empregos.No ano passado, seu filho maisnovo, Leandro Damião, foi con-
vocado para a seleção brasileiradefutebol,aos22 anos.
A trajetória de Damião no es-porte está associada à pacifica-ção não só do Jardim Ângela, nazona sul, como detodaa cidade,ondehomicídiosdespencaramapartirde2000.LeandroDamiãofezprimeiracomunhãoecrismanaParóquiaSantosMártires,on-deopadreJaimeCrowepassoualiderar, em meados dos anos1990,umacaminhadaemdefesadavida.Aquedanastaxasdeho-micídio em mais de 80% permi-tiu que ele seguisse sua trajetó-riaempaz.
Em2006,Damiãojogounoti-me de várzea do Família TupiCity,antesdesedestacarnoAtlé-
tico de Ibi-rama,deSan-ta Catarina, echamar a atençãodoInternacional,quan-doem2010marcouogolque deu ao clube o títuloda Libertadores.
O presidente do FamíliaTupiCityéomotoboyPauloEnoc. Em outubro de 2001,ele havia sido ameaçado demorte por integrantes da Gan-gue dos Ninjas, um dos gruposmaisperigososdobairronaépo-ca,protagonistaderixasquepro-
vocaram mais de 150 assassina-tosnoJardim Ângela de1990.
Para lidar com a situação,Enoc comprou uma arma e foiconversar com Luizinho, umdos líderes da gangue. Chegou aumpagode,assustou-seeatirou,matando Luizinho e outra pes-soa.Sumiuporumtempo,foiaju-dadopelospatrõeseacabouino-centadona Justiça poratirar emlegítimadefesa.
Enoc montou o Família Tupi
City para tentar ajudar as crian-ças do bairro. Entidades do Jar-dimCopacabana,comooCiodaTerra, ajudaram a levar Damiãoaotimede várzeado bairrovizi-nho,vistocomoviolento.“Mon-tamosaescolinhadefutebol,or-ganizamos festas, distribuímosleite e tentamos ajudar as crian-ças daqui. A pacificação a partirdoano2000foifundamentalpa-ra isso”, dizEnoc.
PCC. A queda acelerada dos as-sassinatos a partir da virada doséculo ocorreu com o aumentodavendade drogase dainfluên-ciadoPrimeiroComandodaCa-pital(PCC)naregião.Masaten-são permanece na cidade, que
aindasofreameaçaderetomadada epidemia.Mesmoque ocorrapelaaçãodeoutrotipodevírus.
O PCC deMarcola(acima)nãofoicausada queda doshomicí-dios,mas resultadode políticasantiviolência.A facção ganhouforça porconseguir,dentro e foradasprisões,mediar mortes.
EPIDEMIA: Oque5décadasdeviolênciatêmaensinar
Todos perderamcomhomicídiose açãodo
Estadosurtiu efeito
70 8060A CURVA
TIAGO QUEIROZ/AE
90
LOCAL
10
VIVI ZANATTA/AE 21/11/2005 NIGEL RODDIS/REUTERS EVELSON DE FREITAS / AE 7/8/2006
No auge dos homicídios, em1999, José Idelvan, matador doGrajaú, autor de dezenas de as-sassinatos e de pelo menos trêschacinas, explicava que parariade matar se pudesse. “Mas nãotem como. Se eu parar, aquelesquequeremme pegarteriam vi-da fácil e eu morreria rapidi-nho”, disse. Idelvan morreu em2006,assassinadodepoisqueou-troscincocolegasforamqueima-dosdentrodeumcarro.
Aqueda dosassassinatosocor-reuporque,depoisqueoshomi-cídios se disseminaram e se po-pularizaram,todosseprejudica-
ram, incluindo os assassinos,que passaram a ser jurados demorte.Nosanos1970 e 1980,osassassinosaindatinhamailusãodequeseuscrimespodiamexer-ceralgumcontrolenoterritório.
Vinte cinco anos demortes ensinaramque não era bem as-sim:adesordemten-desóaaumentar.
Os homicídios eosassassinos,noen-
tanto, não mudaram sozinhos.Dependeramdeumaforçaexter-na, capaz de induzir potenciaishomicidas a optar por soluçõesalternativas.Só o Estado tinha acapilaridade e a capacidade deagir com abrangência suficienteparareverterastaxasdehomicí-dios em quase todas as cidadespaulistasa partir de 2000.
As políticas mais importantescomeçaramaserexecutadasnosanos1990,provocadasporacon-tecimentostrágicos.Depoisdes-sasações,omundodocrimenun-camaisseria o mesmo.
O massacre do Carandiru,
quando111presosmorreramem1992, foi um desses episódiostransformadores.
Cincomesesdepois,foicriadaa Secretaria da AdministraçãoPenitenciária,que ganhou auto-nomiaemrelaçãoàSecretariadaSegurançaeampliouasvagasnosistema.Entre1988ehoje,ocres-cimento de presos por 100 milhabitantes foi de 770%. Passoude 51 por 100 mil habitantes noEstado para 418 por 100 mil nosdias dehoje.
Paralelamente, o sucesso dasmedidas implantadas em Nova
York, que pela primeira vezcon-seguiu reduzir homicídios emcurtoprazo,incentivouamudan-ça no patrulhamento dos poli-ciais militares, que passaram aagirnoslugarescomtaxasmaio-res de homicídio. Um dos focosera retirar armas frias das ruas,aproveitando o rigor de novasleiscontrao porte.
Organização.No mundo do cri-me, o impacto dessas políticaspúblicaslevou a mudançasradi-cais no comportamento de seusintegrantes. Como o homicídioprejudicava os criminosos – queestãointeressadosemganhardi-nheiro roubando e traficando –,asmedidasinduziramaescolhasdiferentes.
OPrimeiroComandodaCapi-tal foi também uma das conse-quências das políticas públicas.Comoaumentodepresoseaor-ganização da facção, os debatesnas “quebradas” também aca-
bou ajudando a controlar os as-sassinatos a partir de 2006.O círculo virtuoso entrou em
ação.Assimcomonoperíododeascensão, no qualum homicídiopodia produzir outros homicí-dios, um assassinato a menostambém provocava redução emescala.
Ascaminhadascontra a vio-lênciaaté o CemitérioSãoLuís,na regiãodo JardimÂn-gela,continuamaté hoje.
CABEÇA
00
estadão.com.br
EFEITOS
TV Estadão. Confira análisessobre homicídios
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Osataques praticadospeloPCCem 2006evidenciaramaopúblico a forçada facção,principalmentenas prisões.
Apósdesordemedor,mortes caemaceleradamente
Homicídios se tornamestorvo para todos,
até para assassinos, e abrem espaçopara aintervenção doEstadono crime
O ASSASSINO
● Acompanheaté amanhãasérie especial sobreseisdécadas de homicídios emSP.
Índice dehomícidiospor 100 milhabitantes
Damião. DoJardim Ângelapara a seleçãobrasileira
1.403
Jardim Ângela. Enoc comcrianças dobairro:dono dotimeem queLeandroDamiãojogou
7/17/2019 Epidemia 5 Decadas de Homicidios
http://slidepdf.com/reader/full/epidemia-5-decadas-de-homicidios 6/6
%HermesFil eInfo:C- 10:20121018:
C10 Cidades/Metrópole QUINTA-FEIRA, 18 DE OUTUBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO
1950
4,61960
5,7
1970
9,9
1980
18,5
1990
44,1
2000
59,4
2010
14,52012
13,3
ENTENDERANATUREZADOSCONFLITOS
ÉIMPORTANTEPARADEFINIRSEESSAEXPANSÃOÉCONJUNTURALOUESTRUTURAL
1º DPº DP
2º DPº DP
3º DPº DP
4º DPº DP
5º DPº DP
6º DPº DP
8º DPº DP
12º DP2º DP
77º DP7º DP
78º DP8º DP
16º DP6º DP
17º DP7º DP
26ºDP6º DP27º DP7º DP
35º DP5º DP
36º DP6º DP
83º DP3º DP
95ºDP5º DP
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103º DP 3º DP
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32º DP2º DP
50º DP º DP
53º DP3º DP
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62º DP2º DP
63º DP3º DP
64º DP4º DP
65º DP5º DP
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68º DP8º DP
10º DP º DP
29º DP9º DP
30ºDP º DP
31º DP1º DP
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57º DP7º DP
81º DP1º DP
9º DPº DP13º DP3º DP
19ºDP9º DP
20º DP º DP
28º DP8º DP
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73º DP3º DP
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90º DP º DP
100º DP º DP
101º DP 1º DP
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21º DP1º DP
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41º DP1º DP
44º DP4º DP
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55º DP5º DP
66º DP6º DP
69º DP9º DP
70º DP º DP
7º DPº DP
14º DP4º DP
15º DP5º DP
23º DP3º DP
33º DP3º DP
34º DP4º DP
46º DP6º DP
51º DP1º DP
75º DP5º DP
87º DP7º DP
89ºDP9º DP
91º DP1º DP
93º DP3º DP
48º DP8º DP
58º DP8º DP
1º DP
2º DP
3º DP
4º DP
5º DP
6º DP
8º DP
12º DP77º DP
78º DP
16º DP
17º DP
26ºDP27º DP
35º DP
36º DP
83ºDP
95ºDP
96º DP
97º DP
103º DP
22º DP
24º DP
32º DP
50º DP
53º DP
59º DP
62º DP
63º DP
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65º DP
67º DP
68º DP
10º DP
29º DP
30ºDP
31º DP
42º DP
52º DP
56º DP
57º DP
81º DP
9º DP13º DP 19º DP
20º DP
28º DP
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72º DP
73º DP
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101º DP
102º DP
11º DP
25º DP
37º DP
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47º DP 80ºDP
85º DP
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66º DP
69º DP70º DP
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75º DP
87º DP
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93º DP
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1º DPº DP
2º DPº DP
3º DPº DP
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6º DPº DP
8º DPº DP
12º DP2º DP
77º DP7º DP
78º DP8º DP
16º DP6º DP
17º DP7º DP
26º DP6º DP27º DP7º DP
35º DP5º DP
36º DP6º DP
83º DP3º DP
95º DP5º DP
96º DP6º DP
97º DP7º DP
103ºDP 3º DP
22ºDP2º DP
24º DP4º DP
32ºDP2º DP
50ºDP º DP
53ºDP3º DP
59ºDP9º DP
62ºDP2º DP
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65ºDP5º DP
67ºDP7º DP
68ºDP8º DP
10º DP º DP
29º DP9º DP
30º DP º DP
31º DP1º DP
42º DP2º DP
52º DP2º DP
56º DP6º DP
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81º DP1º DP
9º DPº DP13º DP3º DP
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38º DP8º DP
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45º DP5º DP
72º DP2º DP
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90º DP º DP
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101º DP 1º DP
102º DP 2º DP
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37º DP7º DP
43º DP3º DP
39º DP9º DP
18º DP8º DP
21ºDP1º DP
47º DP7º DP
80º DP º DP
85º DP5º DP
92º DP2º DP
98º DP8º DP
99º DP9º DP
41ºDP1º DP
44ºDP4º DP
49ºDP9º DP
54ºDP4º DP
55ºDP5º DP
66º DP6º DP
69ºDP9º DP
70º DP º DP
7º DPº DP
14º DP4º DP
15º DP5º DP
23º DP3º DP
33º DP3º DP
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46º DP6º DP
51º DP1º DP
75º DP5º DP
87º DP7º DP
89º DP9º DP
91º DP1º DP
93º DP3º DP
48º DP8º DP
58º DP8º DP
1º DP
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12º DP77º DP
78º DP
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26º DP27º DP
35º DP
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9º DP13º DP 19º DP
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72º DP
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47º DP80º DP
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98º DP
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66ºDP
69ºDP70º DP
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23º DP
33º DP
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51º DP
75º DP
87º DP
89º DP
91º DP
93º DP
48º DP
58º DP
Todos os homicídios registrados na capital paulista em cada um dos anos
VIOLÊNCIA
2000
2007
Parque Santo AntonioCapão RedondoJardim HerculanoJardim MiriamJardim das ImbuiasCidade Tiradentes Jardim MirnaParelheirosCampo Limpo Parada de Taipas
92º DP47º DP
100º DP98º DP
101º DP54º DP85º DP25º DP37º DP74º DP
Os 10 mais violentos de 2000
235212
209
197
195
157
156
139
133
124
Jardim das ImbuiasPar Santo AntonioCampo LimpoJd MiriamCapão Redondo
ParelheirosJaçanãPerusParada de TaipasJd Herculano
101º DP92º DP37º DP98º DP47º DP
25º DP73º DP46º DP74º DP
100º DP
Os 10 mais violentos de 2007
57
49
47
47
46
46
40
40
39
38
INFOGRÁFICO/AE
ASSASSINATOCOMOCONTROLEINTENSIFICAA VIOLÊNCIA
Antesdoesquadrãoda morte,oassassinoera o páriae louco queassustavae provocavarepulsa.A epidemiacomeçou quando poli-ciais do esquadrãopassaramamatar alegandodefendera socie-dade. Com a açãoda PMnosanos 1970, amorte de suspeitosse concentrouna periferia, mes-molugarondeos justiceirosma-tavamnos anos 1980. A engrena-gemda violência passoua funcio-nar, comcírculosde vingançae
assassinatos.Todos perdiam.Apartirdo ano2000,com a socie-dadesaturadade tragédias,abriu-se espaçoparaque aspolí-ticas públicas tivessemmais efei-to. Os homicídios, então, caíram.
EPIDEMIA:
Homicídio
retomaalta
comembate
‘PMxPCC’Antes emqueda, índice volta a crescer apósatentadosa policiais e mortesde suspeitos
BrunoPaesManso
O
primeiro trabalho dosoldado Paulo CesarLopesCarvalhonaPo-lícia Militar foi na ba-secomunitáriadoJar-dim Ângela, na zonasul, em 1998. Carva-lhotinha26anosenos
anosseguintesfariapartedeumdosprojetosmais premiados dacorporaçãopaulista.
Antesde começara funcionar,a base comunitária organizoudiscussões na Paróquia SantosMártires,dopadreJaimeCrowe,onde os PMs conheceram maisde200liderançasdazonasulnoFórumemDefesadaVida.Ogru-posejuntouparareverteroqua-drodobairroque,em1995,haviasido considerado o mais violen-to do mundo, com 108 homicí-diospor 100mil habitantes.
Uma das ideias surgidas foi acriação da Caminhada em Defe-
sa da Vida, feita no Dia de Fina-dos,atéoCemitérioSãoLuís,co-nhecido como o “cemitério dos
jovens” pelo número de vítimasde homicídios. Os PMs da baseestavamsempre presentes.
Carvalho fazia cooper unifor-mizadopelasruasdobairroparainteragir com a população. NaPáscoa,eleeoutrospoliciaisdis-
tribuíam ovos para as crianças,concorrendo com o crime queusava a mesma estratégia. PMstambémabriramabaseparainte-grantesdohip-hoporganizaremcursos e oficinas.
Em21dejunho,aos40anosdeidade, Carvalho foi assassinadoenquantofazia compras.O poli-cialestavadefolga.Antesdema-tá-lo,umjovemmexeunospaco-tes do supermercado para des-
viarsuaatenção.Outrostrês che-garam atirando.
Nos dias seguintes, oito pes-soas foram mortas nos arredo-res,em crimes comcaracterísti-cas parecidas. Na morte do co-peiro Eleandro Cavalcante de
Abreu, testemunhas disseramque homens com toucas ninjasem carro e moto mataram compistolas silenciosas e de calibre12 de canoserrado.
Retomada. Assim como ocor-reuem2009,nesteanoasdispu-tassangrentasenvolvendomor-tesdepoliciaisedesuspeitosvol-taram a mudar a tendência dacurva de homicídios, que vinhacaindo aceleradamente. Em2009,naBaixadaSantista,oem-
bateenvolvendomatadores nin- jas já havia causado leve aumen-to de homicídios no Estado.
Neste ano, a situação come-çou a degringolar em março.Nosoitoprimeirosmeses,osho-micídioscresceram 15,4% na ca-pital e 6,3% no Estado. Até on-
tem,81 policiaishaviamsido as-sassinados.Desses,segundoapu-raçãodaPolíciaCivil,39homensdaativae4dareservaforamexe-cutados. Outros 27 foram mor-tos em ocorrências esclarecidas
comoroubos. Gramposmostra-ramintegrantesdoPrimeiroCo-mando da Capital (PCC) dandoordensparamatarPMs–ascha-madas “xeque-mate”.
Sequências suspeitas de mor-tesocorreramlogoapósassassi-natodepoliciais.EmOsasco,oi-tomorreramdoisdiasdepoisdoatentado a um soldado que so-
breviveu.Duassemanasmais tar-de, seis pessoas foram executa-das em Guarulhos após um PMdas Rondas Ostensivas Tobiasde Aguiar (Rota) levar um tiro.
Moradores disseram que osPMsda Rotapassaram na regiãoordenando toque de recolher.Partedosassassinatosocorreua200metrosdoatentado.Atéago-ra,os casosnão foramesclareci-dos.Nasemanapassada,20mor-tesocorreramnaBaixadaSantis-taenaregiãodeTaboãodaSerradepois de atentadosa PMs.
Ainda é cedo para afirmar so- bre o futuro, se a tendênciaé pa-ra valer ou apenas um espasmo,comoexplicaoeconomistaJoãoManoel Pinho de Mello (PUC-
RJ),queestudaacurvadehomi-cídios em São Paulo. “Isso podeser conjuntural – uma onda deconflitosfora do nívelde equilí-
brio – ou estrutural – quando,poralgumarazão,aumentaonú-mero e a letalidade dos confli-tos”, afirma. “Será importanteestudaranaturezadessesconfli-tosparaevitarquealgoconjuntu-ralsetorneestrutural.”
Conclusões.É importante,con-tudo,prestaratençãoaosensina-mentosqueos52anosdeassassi-natosoferecem.Paraosespecia-listas, o principal deles é que oshomicídios não podem ser maisaceitoscomorespostadeautori-dadesde segurançapública.
A grande quantidade de resis-tências seguidas de morte reve-lam–segundoeles–despreparodaPolíciaMilitareincapacidadede prender criminosos com es-tratégias e métodos inteligen-tes. Dão brecha também paraque agentes de segurança aca-
bemse tornandoassassinos ein-tegrantesde grupos de extermí-nioe outras quadrilhas.
Como esta série de reporta-gens mostroude domingo a ho-
je, homicídios provocam novoshomicídios.Emvezdefunciona-remcomoferramentadecontro-le,eles aumentama desordemefazemo vírusda epidemiase es-palhar rapidamente.
Oque5décadasdeviolênciatêmaensinar
estadão.com.br
A CURVA
TV Estadão. Assista ao
documentário ‘12 Tiros’
www.estadao.com.br
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TULIO KAHNCIENTISTA POLÍTICO
“Épossível apontar acontinuidade da quedanacionaldastaxas dehomicídionospróximosanos emrazãodefatores como a diminuição de jovens na população,o
aumento do investimento emsegurançae a quedadadesigualdadeno País.”
JOÃOMANOELPINHODEMELLOECONOMISTADA PUC-RIO
“Para atingir níveis maisbaixosdehomicídios, seriaprecisomelhorara distribuiçãoderendae aumentarum poucoaspenasnas idades entre
15e 18anos. A segundaopçãonãome pareceestardisponível.”
SÉRGIOADORNOSOCIÓLOGO DA USP
“Aquestão da segurançapúblicanãomaisse restringeaoaparelhorepressivo. Outraspolíticas,com apoiodasociedadecivil, devemalcançaros cidadãoscomuns nosbairros,
solidificar laçosde cooperaçãoecontribuirpara umredesenhourbano commaiorequidade.”
LEANDROPIQUETCIENTISTA POLÍTICO DA USP
“As instituiçõesdo sistemadeJustiça criminal deSãoPauloconseguiramdeterasengrenagens que tornaramoEstadoum dosmais violentosdoPaís.O ciclo virtuosoda política
seinicia quandoo crime,queantesrecompensava, deixou deserumaalternativa viável.”
ADÍLSON PAES DESOUZACORONEL DARESERVA DAPM
“(Muitos policiais) desconhecema realidadesocial emque vãotrabalhar,confundemautoridadecomtruculência, exercíciodopodercom superpoderes,com
osquaispodemagirsegundosuasprópriasregras,cujoresultadoé maisarbitrariedade.”
●Zonade perigoSozinhos,quatro DPsda zona sul(92º, 47º, 37º
e 100º) regis-traram 789homicídios,ou 14,9%dototal dacidade.
●AlívioComdiminui-çãogeral doíndice de homi-cídios, alguns
bairros quaseconseguiramse livrar total-mente doscri-mes, masain-dahábolsões.
●Zonade perigoNobolsãoda zona sul,o total demortes caipara 180, masisso ainda re-presenta 12%doshomicídiosda capitalpaulista.
●MapavermelhoCidade tinhahomicídiosespalhadosportodososdistritos,combolsões deviolêncianaszonassul,norte, lestee central.
1º DP
2º DP
3º DP
4º DP
5º DP
6º DP
8º DP
12º DP
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16º DP
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Todos os homicídios registrados na capital paulista em cada um dos anos