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REZENDE, J. P. e DEUS, K. A. O ensino de Matemática Financeira através da
Resolução de Problemas: Relato de uma experiência de estágio. Anais do X
Encontro Paulista de Educação Matemática: X EPEM. São Carlos:
SBEM/SBEM-SP, 2010, pp.1-12. (ISBN 978-85-98092-12-6)
Eixo Temático: E4 - Ensino Médio
O ENSINO DE MATEMÁTICA FINANCEIRA ATRAVÉS DA RESOLUÇÃO
DE PROBLEMAS: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO
João Paulo REZENDE – UFLA ([email protected])
Karine Angélica de DEUS – UFLA ([email protected])
Resumo: Este texto é fruto de um trabalho realizado como parte do Estágio
Supervisionado III do curso de Licenciatura em Matemática, e tem por objetivo relatar
uma experiência de ensino de Matemática Financeira via Resolução de Problemas com
estudantes do 2º Ano do Ensino Médio de uma escola particular da cidade de Lavras-
MG. Para esse fim, utilizamos da concepção que o Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Educação Matemática (NEPEM/DEX-UFLA) possui acerca da Resolução de
Problemas, e do delineamento feito em seu texto (NEPEM/DEX-UFLA, 2010) acerca
de três diferentes abordagens para a Resolução de Problemas, ou seja, a Resolução de
Problemas segundo um modelo heurístico, o ensino de Matemática através da
Resolução de Problemas, e o ensino de Matemática através da Produção/Resolução de
Problemas (em que se acredita que está inserida a perspectiva exploratório-
investigativa), para que assim possamos identificar em qual dessas abordagens a nossa
proposta está inserida. As situações-problemas utilizadas foram retiradas de
HERMÍNIO (2008) e adaptadas de forma a atingir os objetivos almejados com a
atividade, bem como inseri-las na realidade dos estudantes. Utilizamos a metodologia
de oferecer situações-problemas como ponto de partida (ONUCHIC E ALLEVATO,
2004) e permitir que os estudantes construam seus próprios conceitos sobre a temática
estudada, o que proporcionou por parte dos estudantes, professor e estagiária a reflexão
e visão mais crítica sobre esse tema. Neste relato apresentaremos os problemas
trabalhados nas atividades, algumas resoluções dos estudantes, as discussões geradas a
partir dessas resoluções e os encaminhamentos da estagiária e do professor frentes aos
acontecimentos.
Palavras-chave: Atividade de ensino; Resolução de Problemas; Matemática Financeira.
A Resolução de Problemas como metodologia para o ensino de Matemática
Financeira: experiências em sala de aula
No curso de Licenciatura em Matemática, o Estágio Supervisionado tem como
filosofia, propiciar que os envolvidos no processo: professor-supervisor, estagiário (a) e
estudantes, interajam em sala de aula numa dinâmica favorável ao ensino-
aprendizagem. Essa perspectiva prevê o trabalho colaborativo entre professor-
supervisor e estagiário (a) desde o diagnóstico de necessidades da turma e preparação de
uma sequência didática, até sua execução e reflexão acerca dos objetivos traçados e
alcançados, sendo nesse ambiente que se desenvolveram os fatos que aqui pretendemos
relatar.
REZENDE, J. P. e DEUS, K. A. O ensino de Matemática Financeira através da
Resolução de Problemas: Relato de uma experiência de estágio. Anais do X
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Nossa experiência ocorreu em uma sala de aula do 2º Ano do Ensino Médio de
uma escola particular localizada na cidade de Lavras – MG, em que o segundo autor
desse texto atua como professor. A Matemática Financeira (MF) era um conteúdo a ser
trabalhado no 1º Ano do Ensino Médio, porém a turma não conseguiu cumprir a
programação para o ano. No entanto, era interesse do professor que esse conteúdo fosse
trabalhado, mesmo que acumulasse muitos assuntos para o 2º Ano, e também, queria
que ocorresse de forma rápida, mas significativa para os estudantes. Esse fato foi
levantado nas reuniões do professor com a estagiária e se mostrou pertinente ao compor
o plano de regência de estágio.
Assim, realizamos uma pesquisa bibliográfica a fim de buscar uma atividade de
ensino que já tivesse sido trabalhada com outros estudantes e obtido resultados
satisfatórios. Além disso, desejávamos ainda encontrar uma proposta inserida na
perspectiva de Resolução de Problemas (RP) como metodologia de ensino de
Matemática, por ser uma linha de pesquisa na qual defendemos e possui grande
credibilidade no cenário das pesquisas em Educação Matemática. Em consonância com
essas considerações, nos deparamos com a dissertação de mestrado de Hermínio (2008)
em que propunha por meio da Metodologia de Ensino-Aprendizagem de Matemática
através da RP o ensino da MF, de forma investigativa e construtiva.
Analisada as propostas de atividades de ensino em Hermínio (2008), decidimos
adotá-las e adaptá-las ao nosso contexto, visto que tínhamos como intenção principal
poder proporcionar ao estudante a possibilidade de, num primeiro momento,
resolver problemas reais, semelhantes àqueles que o homem pode encontrar
em seu dia-a-dia, para que ele possa saber ou reconhecer que aquilo que ele
está estudando tem aplicação na vida. Mas não podemos limitar o
crescimento intelectual dos estudantes e, por isso, devemos incentivá-los a
não fazer da Matemática uma ferramenta utilitarista, mas fazê-los pensar
sobre a criatividade que ela pode despertar ao ponto de, utilizando
conhecimentos prévios, poder construir novos conhecimentos. Dessa
maneira, valorizam-se as diferentes descrições de solução por parte dos
estudantes, bem como proporcionam o incentivo a diferentes reflexões sobre
os problemas trabalhados.
(HERMÍNIO, 2008, p. 65)
De acordo com a perspectiva de Resolução de Problemas que adotamos,
Onuchic e Allevato (2004, p.222) argumentam que “o ensino-aprendizagem de um
tópico matemático deve sempre começar com uma situação-problema que expressa
aspectos-chave desse tópico e técnicas matemáticas devem ser desenvolvidas na busca
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de respostas razoáveis à situação-problema dada”. Desta forma, o ensino-aprendizagem
não advém de definições abstratas, mas sim de problemas concretos que propiciam a
compreensão dessas definições. Nesse momento o estudante passa a ter o papel
principal em sala de aula, sendo ativo na construção do seu conhecimento e o professor
assume o papel de mediador desse processo.
A atividade de ensino
Nesse tópico, apresentaremos o desenvolvimento das situações-problema, bem
como a nossa intencionalidade ao trabalhá-las.
A atividade destinada ao ensino de MF foi subdivida em nove situações-
problema que tiveram duração de 8 horas/aula, sendo que na primeira (Anexo) tinhamos
por objetivo: verificar os conhecimentos prévios dos estudantes sobre os conceitos de
porcentagem e juros; estimular a criação de um novo ou diferente método de cálculo de
porcentagem; diferenciar a porcentagem da taxa percentual, pois observamos que os
estudantes utilizavam esses dois termos como se fossem iguais. O desenvolvimento
desta primeira situação-problema foi marcado pela tentativa dos estudantes em nos fazer
“falar” as respostas, porém a cada pergunta que nos faziam, questionávamo-los de
forma a fazê-los pensar sobre suas dúvidas, o que configurou um novo ambiente em sala
de aula, diferente do “tradicional”, exploratório e argumentativo. Por meio da atividade
realizada pudemos observar que todos os objetivos propostos foram atingidos, exceto o
segundo, visto que todos os estudantes se apoiaram na Regra de Três para calcular a
porcentagem, restando-nos discutir esse assunto somente no momento de socialização.
Com vistas a verificar a capacidade dos estudantes em aplicar os conhecimentos
adquiridos na primeira atividade, identificar a noção de acréscimo que possuíam,
estimular a argumentação de idéias, desenvolvimento da escrita e incentivar o
retrospecto, ou seja, verificação e justificação do processo de cálculo, propomos a
segunda situação-problema (Anexo). Em um primeiro instante todos os estudantes se
apoiaram no aspecto visual do problema, ou seja, observaram somente as taxas
percentuais somando-as e obtendo como resultado um aumento de salário em 17%, não
se preocupando com o contexto do problema proposto. Assim, foi necessária a nossa
intervenção com as seguintes questões: Quanto você receberá em fevereiro? E em
março? E em abril? Quanto você recebeu ao todo nesses três meses? Qual a
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porcentagem de aumento? Ao responderem a última pergunta viram que o valor
encontrado era diferente do suposto no primeiro momento, gerando conflito e
curiosidade em entender o que acontecia. Quanto ao processo de verificação e
justificação dos cálculos realizados, alguns estudantes somente explicaram como
chegaram ao resultado, porém um deles aproveitou esse momento e comentou o fato de
ter utilizado somente a Regra de Três para realizar o cálculo de porcentagem.
A justificação a seguir nos revela a compreensão do conceito e cálculo de
porcentagem, pois o estudante observou outra maneira de se obter o aumento de salário,
além daquela desenvolvida pelos demais: E2: No começo comecei usando a definição
(5% = 5/100; 1000 ∙ 5/100 = 5000/100), só que preferi usar a regra de 3, por ser mais
“prática”. Convém explicitar que para a maior facilidade e compreensão dos registros
dos estudantes optamos por transcrevê-los, e com o intuito de preservar a identidade dos
mesmos utilizaremos os seguintes pseudônimos: E1, E2, E3 e E4.
Concluido o processo de verificação da aprendizagem dos conceitos abordados
nas atividades anteriores, partimos para a terceira fase do nosso trabalho em que
objetivávamos introduzir os conceitos de capital, juros, taxa de juros, unidade de tempo,
prazo, montante, aprofundar a noção de juros e introduzir seu cálculo, e definir por meio
da atividade realizada o conceito de juros para que pudéssemos posteriormente
confrontá-la com a definição contida no livro didático. A partir da terceira situação-
problema (Anexo) pudemos avaliar a aprendizagem dos estudantes acerca dos conceitos
abordados nas atividades anteriores. No momento de socialização dessa situação
discutimos os conceitos presentes conforme nossos objetivos e, além disso, pudemos
perceber que a socialização do problema anterior possibilitou que os estudantes
optassem por diferentes caminhos para a realização dos cálculos necessários.
Percebemos que, mesmo sem nossa intervenção, os estudantes conseguiram
definir juros corretamente cada um da sua maneira restando-nos o momento da
socialização para discutirmos qual seria a definição mais adequada. As definições feitas
pelos estudantes foram: E1: Taxa a mais que você paga quando pega emprestado um
Figura 2. Resolução da letra b da terceira
situação-problema feita por E1.
Figura 1. Resolução da letra c da terceira
situação-problema feita por E2.
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dinheiro ou divide o preço; E2: Valor pago devido a espera de uma dívida; E3: Uma
quantia que se paga além do valor de algo que se comprou parcelado ou por alguma
quantia que se pegou emprestado; E4: Taxa cobrada além do valor do produto.
Após a exposição das definições, o último passo de nosso trabalho consistiu em
confrontar as definições construídas pelos estudantes com aquela apresentada no livro
didático, sendo que neste último a definição era: Juros (J) é toda compensação em
dinheiro que se paga, ou que se recebe, pelo dinheiro que se empresta, ou que se pede
emprestado. Esse fato possibilitava a aquisição de autonomia pelos estudantes, visto que
todas as definições foram construídas por eles. Assim, ao analisarem as definições do
livro didático eles o faziam com olhar crítico e tinham a opção de aceitar ou não, e
escolher seus próprios métodos e procedimentos de resolução da situação-problema.
Da mesma forma que fora trabalhado a segunda situação-problema, inserimos a
próxima situação (Anexo) a fim de avaliar os conhecimentos apreendidos pelos
estudantes. Pretendíamos também que os estudantes fossem capazes de reconhecer e
produzir significado à notação de taxa de juros, bem como se depararem com a
necessidade de realizar o retrospecto e justificação da atividade realizada para que
pudessem finalmente deduzir a fórmula dos juros. Pelo fato dos estudantes se
encontrarem familiarizados com o conceito de juros, a resolução dessa situação-
problema ocorreu de forma tranquila. Com relação a produção de significado para a
expressão “taxa de 1,2% ao mês”, acreditamos que o objetivo foi atingido em partes,
pois, alguns estudantes não expuseram o seu entendimento sobre o assunto, porém, um
estudante produziu significado à expressão somente no contexto do problema, e outro
estudante em sua resposta reconheceu a taxa de juros como algo que será aplicado a
uma quantia de forma a aumentar esse valor, fatos que exigiram a nossa intervenção no
sentido de fazê-los refletir sobre a questão.
Como a dedução da fórmula dos juros não partiu dos estudantes, optamos por
deduzi-la por meio da situação-problema no momento da socialização, sendo que foi
também a partir dela que delineamos junto aos estudantes as notações para unidade de
tempo, capital, juros e taxa de juros. Deduzida a fórmula dos juros pretendiamos
estimular a validação desta por meio da quinta situação-problema (Anexo) e em
seguida, levar os estudantes a encontrarem uma fórmula para o cálculo do montante.
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Os estudantes demonstraram compreensão da fórmula de juros deduzida na
atividade anterior, porém, ao corrigirmos as tarefas de casa, percebemos um melhor
desempenho quando não a utilizavam, pois já possuíam um entendimento sobre o que
estavam fazendo, tornando-se independentes da fórmula. O fato de nenhum deles
utilizar a fórmula na quinta situação-problema comprova essa afirmação.
Visando mostrar as diferenças entre juros simples e juros compostos e levar os
estudantes a compreender as características dessas modalidades de juros, incluimos a
sexta situação-problema (Anexo). Para o desenvolvimento desta, foi necessária nossa
intervenção a fim de clarear o que o enunciado da situação-problema estava pedindo.
Depois desse momento, a atividade foi desenvolvida rapidamente e sem muitas dúvidas.
Entendidas as diferenças dos dois regimes de juros (simples e compostos),
partimos para a próxima situação-problema (Anexo) que tinha por intenção aprofundar
o conhecimento sobre juros simples, e levar os estudantes a compreender as
características dessa modalidade. Pretendiamos também trabalhar a conversão da
unidade de tempo, e para concluir permitir que os estudantes definam da sua maneira o
conceito de juros simples. Para os estudantes essa situação-problema não representou
novidade alguma, pois realizaram os mesmos cálculos já feitos anteriormente. Pela
facilidade com que realizaram todas as atividades até então propostas, e a compreensão
correta do conceito de juros, após discutirmos com os estudantes o que seria Juros
Simples, percebemos que eles conseguiram cada um a seu modo defini-lo: E1: Juros
simples é quando o juros é calculado só sobre o capital inicial; E2: Juros que não
aumenta as prestações; E3: Uma taxa fixa paga por uma parcela também fixa; E4: É
um juros fixo da prestação que não aumenta. Conforme havíamos feito anteriormente,
desejávamos confrontar essas definições com aquela contida no livro didático, porém
este não trazia nenhuma definição sobre Juros Simples, sendo que simplesmente
começava este tópico por meio de um exemplo. Assim, restonou-nos discutir no
momento da socialização das idéias sem o apoio do livro didático as definições e levar
os estudantes a identificar a que mais se aproximava do real conceito de Juros Simples.
Figura 4. Resolução da quinta
atividade feita por E2.
Figura 3. Resolução da quinta
atividade feita por E1.
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A oitava situação-problema (Anexo) visava aprofundar o conhecimento sobre
Juros Compostos, e levar os estudantes a compreender as características desse regime de
juros para que pudessem definir por meio da atividade realizada o conceito de Juros
Compostos e ao final deduzir a fórmula do Montante. Através da sétima situação-
problema os estudantes tiveram um prévio contato sobre o conceito de Juros
Compostos, e já possuiam argumentos suficientes para diferenciar as duas modalidades
de juros, porém ainda não conseguiam realizar as operações. Assim, optamos em
proceder de forma diferente, deduzindo antes do início da oitava situação-problema,
junto com os estudantes a fórmula do Montante. Munidos dessa expressão o
desenvolvimento dessa atividade se deu de forma tranquila, pois os estudantes
conseguiram relacionar a fórmula obtida, com a equação exponencial, a qual possuiam
uma enorme facilidade de cálculo. Objetivávamos também que os estudantes
conseguissem definir através de suas experiências o conceito de Juros Compostos,
sendo que tal objetivo foi atingido. Queríamos ainda confrontá-las com a definição do
livro didático, mas este simplesmente mostrou com um exemplo o quão trabalhoso é
realizar o cálculo de juros composto por meio do raciocínio matemático, e em seguida
se propõe a demonstrar a fórmula do Montante de forma totalmente abstrata. Outro fato
que o livro didático deixou a desejar foi explicitar a diferença da fórmula do juros para
as duas modalidades, o que ocasionou erros por parte dos estudantes ao calcular o valor
do juros em regime composto.
Para verficar os conhecimentos adquiridos pelos estudantes com o conceito de
juros compostos, propomos a nona situação-problema (Anexo). Visamos também que
os estudantes relacionassem o cálculo do montante com as equações exponenciais e
validassem a fórmula obtida na atividade anterior. Para o desenvolvimento dessa
situação-problema, os estudantes tiveram a percepção de que necessitariam de outra
ferramenta matemática para que realizassem mais facilmente seus cálculos, ou seja, se
apoiaram nos conceitos de equação logarítmica, que assim como a equação exponencial
era uma temática de pleno domínio dos estudantes. O curioso é que mesmo quando não
era necessário usar essa ferramenta eles a utilizavam.
Figura 17. Resolução da nona situação-problema feita pelo E3.
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Cada problema proposto por Hermínio (2008) foi adaptado por nós, no sentido
de atingirmos nossos objetivos com a atividade e o contexto ao qual estávamos
inseridos. Inclui-se ai, uma abordagem também feita por Hermínio (2008), tal que,
através de questões discutimos as relações sociais, econômicas, culturais e políticas, do
conceito estudado, mesmo que de forma sintética por não ser nosso objetivo principal.
Considerações Finais
Para analisarmos o desenvolvimento das atividades utilizamos o diário de campo
do professor e estagiária, os registros dos estudantes, visto que solicitamos a eles que
não apagassem suas soluções, mesmo que as considerassem erradas, e gravações de
áudio. No momento de análise dos resultados buscamos identificar nos dados coletados
os objetivos alcançados, e quando esses não eram satisfeitos refletimos acerca dos
possíveis fatores que podem ter interferido. Encaminhamos as atividades de forma a
fazer com que os estudantes expusessem e defendessem suas idéias, construindo a partir
de uma relação entre conhecimento prévio, experiências pessoais e coletivas, e
raciocínio lógico matemático desencadeado por uma situação problema, seus próprios
conceitos sobre a MF, que posteriormente eram discutidos no momento da socialização.
Esse momento era destinado à argumentação e refutação dos conceitos até então
elaborados, onde os estudantes discutiam sobre seus constructos, e os reformulavam na
medida do necessário. Ao final desse processo, os estudantes se viam frente a uma rede
de caminhos para se resolver um mesmo problema, e tinham total autonomia para
transitar por eles e escolher os que julgassem mais adequados.
Desejávamos que a atividade fosse significativa para os estudantes, e
acreditamos que esse objetivo foi alcançado com sucesso, pois, em certos momentos da
atividade, os estudantes traziam problemas de seu cotidiano relacionados à MF para
serem discutidos. Outro fator relevante foi a possibilidade de fazer com que os
estudantes fossem sujeitos ativos em sala de aula, onde a partir de suas descobertas é
que formalizamos o conceito, o que fez com que participassem com mais interesse nas
aulas, ou seja, proporcionou a valorização do estudante no processo de construção do
conhecimento e significação da matemática.
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Referências Bibliográficas
HERMÍNIO, Paulo Henrique. Matemática financeira – um enfoque da Resolução de
Problemas como metodologia de ensino e aprendizagem. 2008. Dissertação de
Mestrado. Rio Claro, SP: (UNESP). 244 p.
NEPEM/DEX-UFLA. Alguns modos de ver e conceber a resolução de problemas no
ensino de matemática. In: X Encontro Mineiro de Educação Matemática. 2010,
Salvador. 11 p.
ONUCHIC Lourdes de la Rosa; ALLEVATO, Norma Suely G. Novas reflexões sobre o
ensino-aprendizagem de matemática através da resolução de problemas. In: BICUDO,
Maria Ap. Viggiani; BORBA, Marcelo de Carvalho. Educação Matemática: pesquisa
em movimento. São Paulo, SP: Cortez, 2004. p. 213-231.
Anexos
Situações-problemas
1) Uma determinada loja está com uma promoção no departamento de eletrônicos. O
cartaz diz o seguinte:
a) Se uma pessoa decidir comprar a televisão à prazo, qual o valor que ela estará
pagando a mais? Geralmente como chamamos essa diferença do preço à vista com
o preço à prazo?
b) Se uma pessoa comprar a televisão em 12 vezes, quanto por cento pagará a mais?
c) Por que alguns números do cartaz estão escritos com dígitos pequenos?
d) Em sua opinião, compensa comprar esta televisão em parcelas? Por que as pessoas
compram em parcelas?
e) Existe alguma solução para minimizar os prejuízos que essa compra parcelada traz?
2) Imagine que você recebeu um salário de R$1000,00 no mês de janeiro, e seu
patrão muito “generoso”, diz que vai te dar um aumento de 5% no mês de
fevereiro, 8% no mês de março e 4% no mês de ab
TV 14”
12 x de R$58,00 = R$696,00
À vista
R$480,00
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3) ril.
a) Qual será o salário que você irá receber no mês de abril?
b) Quanto você recebeu de aumento? Qual a porcentagem desse aumento?
c) Como você chegou ao resultado da letra a?
4) Roberto pediu emprestado à Suzana a quantia de R$50,00 para ser pago após 3
meses. Naquela data, além de pagar a quantia de R$50,00, Roberto se
comprometeu pagar mais 20% sobre o valor emprestado.
a) Por que Roberto se comprometeu a pagar um valor maior do que ele pegou
emprestado com Suzana? Você acha justo que Roberto pague mais do que
ele pegou emprestado? Como chamamos esse valor a mais que Roberto irá
pagar à Suzana?
b) Qual o valor do juro que Roberto estará pagando nesse trimestre?
c) Qual o valor do juro que ele estará pagando por mês?
d) Qual a porcentagem do juro por mês que Roberto estará pagando?
e) Com suas palavras defina Juros.
5) Laura aplicou R$8500,00 a uma taxa de 1,2% ao mês. Todo mês ela foi retirando
somente o valor referente aos juros daquele período.
a) Qual o valor do capital aplicado por Laura? Qual a taxa de juros em que
esse capital foi aplicado? O que significa “taxa de 1,2% ao mês”?
b) Quanto Laura retirou por mês?
c) Em quantos meses Laura conseguirá um valor de R$9214,00? Explique
como você chegou ao resultado.
6) Mariana pediu R$ 800,00 emprestado à Vinícius para pagar depois de 3 meses, à
taxa de 5% a. m. (ao mês). Quanto Mariana deverá pagar ao fim desse tempo?
7) Roberto pediu emprestado à Suzana a quantia de R$50,00 para ser pago após 3
meses. Naquela data, além de pagar a quantia de R$50,00, Roberto se
comprometeu pagar mais R$10,00. Quanto é a taxa de juros que Roberto estará
pagando nesse trimestre? Se, passados esses 3 meses, Roberto pedir à Suzana
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para pagar sua dívida, conservando a taxa de juros ao trimestre, qual será o
montante da dívida a ser paga se:
a) Roberto calcular o juro somente sobre o capital emprestado inicialmente?
b) Roberto calcular o juro sobre o capital que ele deve após os 3 primeiros
meses?
c) Os valores são diferentes? Justifique.
d) Qual é o valor correto?
e) Qual seria a melhor opção para Roberto? Por quê?
f) Qual seria a melhor opção para Suzana? Por quê?
8) Vamos supor que Roberto e Suzana, tivessem feito um trato em que a taxa de
juros seria aplicada somente sobre o valor inicial emprestado. Qual seria o valor
da dívida de Roberto passados:
a) 3 trimestres? 6 trimestres? 2 anos?
b) È justo que Suzana espere tanto tempo para receber esse empréstimo e
receba esse valor calculado sob regime de Juros Simples?
c) Sob qual regime de cálculo de juros nós pagamos as nossas dívidas? Você
acha isso justo?
d) Com suas palavras defina Juros Simples.
9) Suponha que Roberto tenha pagado à Suzana o dinheiro que ele tomou
emprestado e Suzana decidiu investir esse dinheiro em uma Instituição
Financeira. Essa Instituição Financeira comprometeu-se de pagar para Suzana
10% ao mês de juros sobre o valor que está aplicado mês a mês. Se Suzana não
poder mexer no seu dinheiro durante 2 anos, qual será o valor que ele terá em
sua aplicação passados:
a) 1 mês? 3 meses? 6 meses? 2 anos?
b) O sistema de juros compostos é melhor que o sistema de juros simples? Por
quê?
c) Quando vamos pagar uma dívida, que tipo de cálculo de juros você acha que
é aplicado? Por quê?
d) De acordo com esse problema defina Juros Compostos.
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10) João Paulo quer comprar um carro de R$12.130,20 e só tem R$9.200,00.
Supondo que o carro não aumente o preço, a que taxa mensal de juro composto
ele deve aplicar seu dinheiro, de modo a obter o montante necessário para
comprar o carro à vista em 10 meses?
11) Uma pessoa aplicou R$18.000,00 à taxa de juro composto de 2,8% a.m. e
obteve um rendimento de R$ 6390,00. Qual o prazo dessa aplicação?