entrevista - mpto.mp.brmpto.mp.br/cint/cesaf/arqs/220408042007.pdf · autodefesa e pela defesa...

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7... )( ENTREVISTA « C/) Cf) W -' ~w (f)" O -, O - t-- C/) « fI) UJ C/) o Professor SEBASTIÃOJOSÉ LESSAé au- tor de obras referénciais no campo do Direito Disciplinar. Oriundo dos quadros da Polícia Federal, onde foi Coordenador de Disciplina, dedica -se atualmente à advocacia especiali- zada em Brasília, a conferências na Capital Federal, no Rio de Janeiro e em São Paulo, e a concluir a nova edição do livro Do Processo Disciplinar e da Sindicância. Em conversa com Léo daSilvaAlves, do Gru- po Consulex, o Professor LESSAanalisou onovo comando da jurisprudência, tendo em vista que o Superior Tribunal de Justiça vinha, há algum tempo, sinalizando no sentido de privilegiar a defesa técpicanos proçesso~disciplinares, em desfavor da redação de estatutos que dispen- savam a presença de advogado. No mês de setembro de 2007, por fim, foi editada a Súmula STJ n° 343, impondo a pre- sença de profissional habilitado em todas as fases de um processo disciplinar. O que era "".faculdade, virou imposição. Como primei- ra conseqüência, processos em grau de re- cur~o, sob alegação de fragilidade de defesa, ," paSsaram a ser anulados; a Administração Pública, por outro lado, mostra-se inconfor- mada, alegando falta de estrutura para aten- der a essa exigência. Acompanhe, a seguir, a elucidativa entre- vista. o STJE ASÚMULAN° 343 O ADVOGADO TAMBÉM É INDISPENSÁVEL NO PROCESSO DISCIPLINAR " ' ',' 6 'REVISTA JURíDICA CONSULEX -ANO XII- N' 265 - 31 DE JANEIR012008 "SóOadvogado é dotado 'do conheCimento técnico e jurídico capaz de viabilizar de maneira segura e efiCiente os meios e os recursos relaCionados ao contraditório e ampla defesa." " li' ~ I ~' i I i

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o Professor SEBASTIÃOJOSÉ LESSAé au-tor de obras referénciais no campo do DireitoDisciplinar. Oriundo dos quadros da PolíciaFederal, onde foi Coordenador de Disciplina,dedica -se atualmente à advocacia especiali-zada em Brasília, a conferências na CapitalFederal, no Rio de Janeiro e em São Paulo, ea concluir a nova edição do livro Do ProcessoDisciplinar e da Sindicância.

Em conversa com Léo daSilvaAlves, do Gru-

po Consulex, o Professor LESSAanalisou o novocomando da jurisprudência, tendo em vista queo Superior Tribunal de Justiça vinha, há algumtempo, sinalizando no sentido de privilegiar adefesa técpicanos proçesso~disciplinares, emdesfavor da redação de estatutos que dispen-savam a presença de advogado.

No mês de setembro de 2007, por fim, foieditada a Súmula STJn° 343, impondo a pre-sença de profissional habilitado em todas asfases de um processo disciplinar. O que era

"".faculdade, virou imposição. Como primei-ra conseqüência, processos em grau de re-cur~o, sob alegação de fragilidade de defesa,

," paSsaram a ser anulados; a AdministraçãoPública, por outro lado, mostra-se inconfor-mada, alegando falta de estrutura para aten-der a essa exigência.

Acompanhe, a seguir, a elucidativa entre-vista.

o STJE ASÚMULAN° 343O ADVOGADO TAMBÉM É INDISPENSÁVEL

NO PROCESSODISCIPLINAR

" '

',' 6 'REVISTA JURíDICA CONSULEX -ANOXII- N' 265 - 31 DE JANEIR012008

"SóOadvogado é dotado'do conheCimentotécnico e jurídicocapaz de viabilizarde maneira segura eefiCiente os meios e osrecursos relaCionadosao contraditório e

. à ampla defesa.""

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Revista luddica CONSULEx - A legisla-ção que trata dos processos disciplinarespermite que ofuncionário acusado faça aprópria defesa. E, sendo revel, indica queoficiará como defensor dativo qualqueroutro servidor de grau hierárquico igualou superior.A Súmula n°343 do ST] mudaesse perfil e impõe defesa aos cuidados deadvogado. Como o Senhor vê isso?Professor SE.BASTlf\OJOSÉ LESSA- Adefesa é uma peça técnica, isto é, aquelaexercida, de preferência, pela atuação pro-fissional de um advogado, sendo, portan-to, um corolário da ampla defE;sa,comoensina Uadi Larnrnêgo Bulos ao comen-tar o inciso LVdo an. 5°da Constitllição Fe-deral.TambémAntonio Scarance Fernan-des, em torno do mes~o comando da Car-ta, sustenta que essa d~fesa técnica, no or-denamento constitucional brasileiro, é de-fesa necessária, indeclinável, plena e efeti-va. Eleexplica que, além de ser um di{eito,é também uma garantia, porque só assimse pode atingir uma solução justa.

Realçando a 'importância do conte-údo e natureza da defesa técnica, a Lein° 10.792/03 introduziu o parágrafoúni-co no art. 261 do CPp, assim redigido: "Adefesa técnica, quando realizada por de-fensor público ou dativo, será sempre exer7cida através de manifestação fundamen-tada". Logo,é evidente que o defensor de-verá possuir habilitação técnica e jurídi-ca para produzir uma peça de defesa de-vidamente fundamentada.

CONSULEX - OJudiciário tem anuladoprocessos disciplinares porfalta dessa de-fesa técnica?SEBASTIÃOLESSA- Sim. No julgamentodo HC nO9.750-Sp,o colendo SuperiorTri-bunal de Justiça anulou o processo disci-plinar instaurado contra um servidor pre-so. O motivo foi a falta de defesa elabora-da por defensor técnico. O voto condutorconsiderou que a ampla defesa se dá pelaautodefesa e pela defesa técnica, que nãose confundem nem se excluem, sob penade nulidade do procedimento. O fato deo sentenciado ter se autodefendido noprocedimento administrativo não elidea mácula da ausência do defensor técni-co' pois só com a presença atuante desseé que estará assegurada a paridade de ar-gumentos entre acusação e defesa, disseo Ministro Hamilton Carvalhido.

(;()NSULEX - O acusado pode renunciara essa defesa?SfBASTIÃO LESSA - Não. Reproduzo,ainda, o voto condutor do Ministro Ha-

milton Carvalhido, o qual entendeu quea autodefesa é até renunciável; porém, adefesa técnica, além de obrigatória, é umdireito do sentenciado e independe davontade. Tanto assim é que ao magistra-do incumbe avaliar a atuação do defen-sor e, se necessário, declarar o réu inde-feso, indicando outro profissional que odefenda de forma eficaz.

CONSULEX-Alei, no entanto, dispensa opatrocínio de,advogado...

. SEBASTIÃOtESSA - De fato, 9S estatu-tos em regra dispensam a defesa técnica.Mas a posição da Corte é clara: mesmona ausência de

risdicional do Estado, incumbindo-lhe aorientação jurídica e a defesa, em todosos graus, dos necessitados". Concretizan-do tais garantias, o art. 18, inciso VII, daLei Complementar n° 80/94 dispõe: "AosDefensores Públicos da União incumbe odesempenho das funções de orientação,postulação e defesa dos direitos e interes-ses dos necessitados, cabendo.lhes, espe-cialmente: (...) VII~ defender os acusadosem processo disciplinar".

CONSULEX- OSel1hqrentende que o STJinvalidou a vigência dos estatutos, no que

gado em todas as fases do processo admi-nistrativo disciplinar. E o forte argumen-to, vale repisar, está em que a simples de-terminação legal facultando ao servidoracompanhar o processo disciplinar des-de sua instauração, pessoalmente ou,.porseu procurador, não satisfaz a exigêritiaconstitucional inserida no art. 5°, incisoLV;da Constituição Federal.

O Ministro Arnaldo Esteves Lima e aMinistra Laurita Vaz, em 2006, já sinali-zavam no sentido de que a presença deadvogado ou de defensor dativo é indis-pensável para que, ao menos em tese,haja igualdade na relação jurídica esta-belecida para fins de apuração do ilícitoadministrativo.

CONSULEX- OMinistroAmaldo EstevesLima destacou, inclusive, a importânciado advogado nafasede instrução...SEBASTIÃOLESSA- De fato, o MinistroArnaldo Esteves Lima considerou que éexatamente na fase probatória que se co-lhem os elementos que servirão de supor-te para a futura aplicação da penalidadeadministrativa. Por conseguinte, disse oMinistTo, é imperioso que o servidor pú-blico acusado seja acompanhado de ad-vogado ou de defensor público, para que,em tese, obtenha em seu favor uma defe-sa técnica também quando são colhidasas provas. O contraditório e a defesa nãose limitam à peça escrita, com apresenta-ção da versão do acusado.

CONSULEX - A Constituição Federal,aliás, considera o advogado indispensá-vel à realização da justiça...SEBASTIÃOLESSA- Claro. Nos arts. 133e 134 da Carta Política está dito que "Oadvogado é indispensável à administra-ção da justiça" e que "A Defensoria Pú-blica é instituição essencial à função ju-

lendo Superior Tribunal de Justiça, aoeditar a Súmula n° 343, longe de contra-riar ou negar vigência à lei, em verdade,ajustou o fato em debate - direito ao con-traditório e à ampla defesa - aos postUla-dos maiores. Ou seja, interpretou a lei em

-cotejo com os direitos e garantias funda-mentais da Carta Política, em especial oart.59, inciso LV;onde se lê: "aos litigan-tes em processo judicial ou administrati-vo e aos acusados em geral são assegura-dos o contraditório e a ampla defesa, comos meios e recursos a ela inerentes".

Ora, só o profissional habilitado, nocaso o advogado, é dotado do conheci-mento técnico e jurídico capaz de via-bilizar de maneira segura e eficiente osmeios e os recursos relacionados ao con-traditório e à ampla defesa.

CONSULEX - A matéria tem gerado po-lêmica na Administração Pública emtodo o País. Mas, tudo indica, o quadro éirreversível.SEBASTIÃOLESSA- Não há dúvida. Nes-

sa toada, ajurisprudência evoluiu no sen.tido de reconhecer a necessidade da pre-sença de advogado no processo adminis-trativo disciplinar. Assim, a defesa é umapeça técnica e nece~sária, e,portanto, deveser elaborada por profissional habilitado.Aquela antiga redação nos estatutos (fe-deral, estaduais e municipais) facultando

-ao servidor acompanhar Ôprocesso admi-nistrativo disciplinar,' desde sua instaura-ção' pessoalmente ou por seu procurador,não satisfaz a exigência constitucional.

Fique deveras claro que" O advogadoé indispensável à administração da jus-tiça", e que "ADefensoria Pública é insti-tuição essencial àfunção jurisdicional doEstado, incumbindo-lhe a orientação ju-Mica e a defesa, em todos osgraus, dos ne-cessitados", como antes referido. li

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