entrevista iotti

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49 Terça-feira, 9 de junho de 2009 CULTURA Jornal de Brasília SAIBA + um super-herói das colônias. Claro que há sempre adaptações nas histórias em função da época e do passar do tempo, como o Radicci lidar com computador, por exemplo. Como podemos identificá-lo co- mo "gaúcho"? O Radicci é uma HQ regional. Ele é um ítalo-gaúcho, então tem todo aquele aspecto de abordar coisas como o churrasco, o ma- chismo, a caça, a pesca. Essa identidade cultural é feita em pequenos detalhes. De outra parte, existe uma espécie de res- gate de atitudes e hábitos pe- culiares que formam uma "ge- leia" cultural própria. De todo modo, as pessoas entendem as piadas numa boa, sem que seja preciso muita reforma na coisa toda. Eu acho que o personagem tem condições de se expandir para o centro do País, pois ele é um tipo universal com roupa- gem regional. O senhor foi o candidato bra- sileiro com a maior votação nas eleições italianas. Ao todo, fo- ram 13.920 votos, o que lhe garantiu a suplência no Senado. Como foi isso? Fui convidado a concorrer por um movimento associativo sem vínculos partidários com esquer- da, direita etc. Isto foi o que me motivou a participar desta em- preitada, tanto para participar das escolhas e ajudar os imi- grantes e descendentes nas ques- tões que surgem por aqui – busca de dupla cidadania, por exem- plo. Quis estar ligado a questões de âmbito cultural da relação entre a Itália e os países da América Latina, buscar um in- tercâmbio. O resultado da vo- tação também acabou me sur- preendendo, pois há muita abs- tenção. Eu não tinha verba para arcar com uma campanha e aca- bou que hoje sou segundo su- plente no Senado italiano. Como se dá o lance de inter- pretar seu próprio personagem no rádio? Isto foi algo que também acon- teceu meio que naturalmente. Me convidaram pra fazer um programa e eu assumi a voz do personagem, o jeito, as piadas… Facilitava a minha vida no sen- tido de "me vestir" com as ca- racterísticas do Radicci e isto foi ganhando audiência. Tenho um programa de rádio semanal em que conto muito com a par- ticipação do público. Há quadros que foram surgindo pela suges- tão das pessoas que acompa- nham. No meio desta loucura toda, acaba sendo muito diver- tido. Hoje, Radicci é o principal per- sonagem da imprensa gaúcha. Na sua opinião, porque ele cativa tantas pessoas? O Radicci completou 25 anos no ano passado. De lá pra cá, ele foi ganhando espaço para além dos quadrinhos – justamente por es- te modo como o personagem foi se tornando querido pelo pú- blico que o lê, auxiliado pelo fato de que passei a "interpretá-lo". Neste período, o Radicci migrou para o rádio, televisão, internet. As pessoas acabam se reconhe- cendo, eu acho, em algumas des- sas características de anti-herói, que são universais. E a isso eu atribuo o carisma que o Radicci foi conquistando com o passar do tempo. O público se iden- tifica com a família Radicci, pois ela fala do cotidiano, do dia a dia do colono. Que pode acontecer ali com o colono, mas que pode acontecer em outros lares, em outras formações. O Radicci já é mais popular que você? Às vezes há uma confusão entre criador e criatura e aí as pessoas esperam que eu me comporte como o Radicci. Não fazem a distinção entre o Iotti e o in- térprete do Radicci. Isso sempre gera fatos engraçados, que até rendem repertório para as piadas mesmo. Um dia, encontrei um colono em um distrito de Caxias do Sul. Ele me olhou embas- bacado e disse: "Oh, tu que é o Radicci?". "Sim, sou eu", retru- quei. "Ma Dio! Até meio negro tu é!", o colono disse. Eu fiquei e grafistas como Jaca e Joaquim da Fonseca. Qual é o melhor personagem de quadrinhos de todos os tem- pos? É uma pergunta difícil, né? (risos). Elencar um personagem é com- plicado, mas apostaria na Ma- falda, do argentino Quino. As histórias que ele cria são com- pletamente atemporais. Podem ser lidas a qualquer tempo e com muita graça. E os novos projetos? Há uma grande vontade de pu- blicar o Radicci na Itália. Há uns dois anos saiu um livro em ita- liano e fiz um site para ser lançado lá (www.radicci.it). Para este ano, pretendo conseguir publicar as rindo, fazer o quê? Mas, às vezes, o pessoal fica um pouco de- cepcionado, sabe, porque espera que eu seja gordo e bonachão. Ele pode virar animação, algum dia? Acho que pode sim, mas ani- mação é um trabalho gigantesco, pra poucos (e loucos). Aí de- pende da proposta pra isso se viabilizar. Quais são suas influências eter- nas nos quadrinhos? Eu admiro muito o Jaguar, que é um desenhista carioca, que foi editor do Pasquim , um marco no jornalismo brasileiro. Gosto ain- da do Ziraldo e do Angeli, que é o criador do Chiclete com Ba- nana e que atualmente está fa- zendo charges para a Folha de S. Paulo . Mas dá pra dizer que existe uma "escola gaúcha" de criação de HQ. Ela é muito in- fluenciada pela proximidade da Argentina, um centro fortíssimo em termos de criação gráfica. Nessa "escola", os expoentes que mais me influenciaram foram: Canini, Santiago, Edgar Vasques tiras em algum jornal ou revista de lá e ver o que acontece. O que espera encontrar em sua vista por Brasília? Conheci Brasília em uma Feira do Livro há um tempo atrás. No mês passado, estive aí para lan- çar o cartaz do projeto Carbono Zero, da Polícia Federal e foi bem legal, pois botei um calção e fui correr pela cidade. A gente vê as coisas que antes só conhece por foto ou cartum – o Senado, a Câmara, o Palácio do Planalto. Então foi divertido e o povo, bastante receptivo. Além de ver motoristas bem mais educados do que os daqui! Serviço 17 Expotchê – Expobrasília (Pa- vilhão A - Parque da Cidade). Até o dia 14 de junho de 2009. De se- gunda a sexta, das 16h às 23h; sábados e domingos, das 11h às 23h. A Mostra Literária será rea- lizada amanhã, às 21h. Ingressos: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia). In- formações: 3039-8114 Em 1983, no jornal Pioneiro , nasceu Radicci, o mais popular dos personagens de Iotti. Depois surgiu a família do Radicci: a mulher Genoveva, o filho Guilhermino, o pai Anacleto. Radicci esteve em rádios, revistas, televisão e na Copa do Mundo. Em 1997, Iotti ganhou o HQ Mix, prestigiado prêmio de quadrinhos brasileiro. Iotti ainda publica diariamente no Diário Catarinense , O Diário de Criciúma, O Diário do Sul (SC), O Diário do Sudoeste (PR) e O Estado do Paraná. Iotti participa do programa Show de Esportes, da Rádio Gaúcha, e apresenta semanalmente o programa Demo Via, na Rádio Atlântida de Caxias, além do quadro especial Iotti Repórter, no Jornal do Almoço (RBS TV).

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Segunda parte da entrevista.

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Page 1: Entrevista Iotti

49Terça-feira, 9 de junho de 2009 C U LT U R AJornal de Brasília

SAIBA +

um super-herói das colônias.Claro que há sempre adaptaçõesnas histórias em função da épocae do passar do tempo, como oRadicci lidar com computador,por exemplo.

Como podemos identificá-lo co-mo "gaúcho"?

O Radicci é uma HQ regional.Ele é um ítalo-gaúcho, então temtodo aquele aspecto de abordarcoisas como o churrasco, o ma-chismo, a caça, a pesca. Essaidentidade cultural é feita empequenos detalhes. De outraparte, existe uma espécie de res-gate de atitudes e hábitos pe-culiares que formam uma "ge-leia" cultural própria. De todomodo, as pessoas entendem aspiadas numa boa, sem que sejapreciso muita reforma na coisatoda. Eu acho que o personagemtem condições de se expandirpara o centro do País, pois ele é

um tipo universal com roupa-gem regional.

O senhor foi o candidato bra-sileiro com a maior votação naseleições italianas. Ao todo, fo-ram 13.920 votos, o que lhegarantiu a suplência no Senado.Como foi isso?

Fui convidado a concorrer porum movimento associativo semvínculos partidários com esquer-da, direita etc. Isto foi o que memotivou a participar desta em-preitada, tanto para participardas escolhas e ajudar os imi-grantes e descendentes nas ques-tões que surgem por aqui – buscade dupla cidadania, por exem-plo. Quis estar ligado a questõesde âmbito cultural da relaçãoentre a Itália e os países daAmérica Latina, buscar um in-tercâmbio. O resultado da vo-tação também acabou me sur-

preendendo, pois há muita abs-tenção. Eu não tinha verba paraarcar com uma campanha e aca-bou que hoje sou segundo su-plente no Senado italiano.

Como se dá o lance de inter-pretar seu próprio personagemno rádio?

Isto foi algo que também acon-teceu meio que naturalmente.Me convidaram pra fazer umprograma e eu assumi a voz dopersonagem, o jeito, as piadas…Facilitava a minha vida no sen-tido de "me vestir" com as ca-racterísticas do Radicci e isto foiganhando audiência. Tenho umprograma de rádio semanal emque conto muito com a par-ticipação do público. Há quadrosque foram surgindo pela suges-tão das pessoas que acompa-nham. No meio desta loucuratoda, acaba sendo muito diver-tido.

Hoje, Radicci é o principal per-sonagem da imprensa gaúcha.Na sua opinião, porque ele cativatantas pessoas?

O Radicci completou 25 anos noano passado. De lá pra cá, ele foiganhando espaço para além dosquadrinhos – justamente por es-te modo como o personagem foise tornando querido pelo pú-blico que o lê, auxiliado pelo fatode que passei a "interpretá-lo".Neste período, o Radicci migroupara o rádio, televisão, internet.As pessoas acabam se reconhe-cendo, eu acho, em algumas des-sas características de anti-herói,que são universais. E a isso euatribuo o carisma que o Radiccifoi conquistando com o passardo tempo. O público se iden-tifica com a família Radicci, poisela fala do cotidiano, do dia a diado colono. Que pode acontecer

ali com o colono, mas que podeacontecer em outros lares, emoutras formações.

O Radicci já é mais popular quevo c ê ?

Às vezes há uma confusão entrecriador e criatura e aí as pessoasesperam que eu me comportecomo o Radicci. Não fazem adistinção entre o Iotti e o in-térprete do Radicci. Isso sempregera fatos engraçados, que atérendem repertório para as piadasmesmo. Um dia, encontrei umcolono em um distrito de Caxiasdo Sul. Ele me olhou embas-bacado e disse: "Oh, tu que é oRadicci?". "Sim, sou eu", retru-quei. "Ma Dio! Até meio negro tué!", o colono disse. Eu fiquei

e grafistas como Jaca e Joaquimda Fonseca.

Qual é o melhor personagem dequadrinhos de todos os tem-p o s?

É uma pergunta difícil, né? (risos).Elencar um personagem é com-plicado, mas apostaria na Ma-falda, do argentino Quino. Ashistórias que ele cria são com-pletamente atemporais. Podemser lidas a qualquer tempo e commuita graça.

E os novos projetos?Há uma grande vontade de pu-blicar o Radicci na Itália. Há unsdois anos saiu um livro em ita-liano e fiz um site para ser lançadolá (www.radicci.it). Para este ano,pretendo conseguir publicar as

rindo, fazer o quê? Mas, às vezes,o pessoal fica um pouco de-cepcionado, sabe, porque esperaque eu seja gordo e bonachão.

Ele pode virar animação, algumd i a?

Acho que pode sim, mas ani-mação é um trabalho gigantesco,pra poucos (e loucos). Aí de-pende da proposta pra isso sev i a b i l i z a r.

Quais são suas influências eter-nas nos quadrinhos?

Eu admiro muito o Jaguar, que éum desenhista carioca, que foieditor do Pa s q u i m , um marco nojornalismo brasileiro. Gosto ain-da do Ziraldo e do Angeli, que éo criador do Chiclete com Ba-nana e que atualmente está fa-zendo charges para a Folha de S.Pa u l o . Mas dá pra dizer queexiste uma "escola gaúcha" decriação de HQ. Ela é muito in-fluenciada pela proximidade daArgentina, um centro fortíssimoem termos de criação gráfica.Nessa "escola", os expoentes quemais me influenciaram foram:Canini, Santiago, Edgar Vasques

tiras em algum jornal ou revistade lá e ver o que acontece.

O que espera encontrar em suavista por Brasília?

Conheci Brasília em uma Feirado Livro há um tempo atrás. Nomês passado, estive aí para lan-çar o cartaz do projeto CarbonoZero, da Polícia Federal e foi bemlegal, pois botei um calção e fuicorrer pela cidade. A gente vê ascoisas que antes só conhece porfoto ou cartum – o Senado, aCâmara, o Palácio do Planalto.Então foi divertido e o povo,bastante receptivo. Além de vermotoristas bem mais educadosdo que os daqui!

Serviço

17 Expotchê – Expobrasília (Pa-vilhão A - Parque da Cidade). Até odia 14 de junho de 2009. De se-gunda a sexta, das 16h às 23h;sábados e domingos, das 11h às23h. A Mostra Literária será rea-lizada amanhã, às 21h. Ingressos:R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia). In-formações: 3039-8114

Em 1983, no jornalPi o n e i ro , nasceu Radicci, omais popular dospersonagens de Iotti.Depois surgiu a família doRadicci: a mulherGenoveva, o filhoGuilhermino, o paiA n a c l eto .

Radicci esteve em rádios,revistas, televisão e na Copado Mundo. Em 1997, Iottiganhou o HQ Mix, prestigiadoprêmio de quadrinhosb ra s i l e i ro .

Iotti ainda publicadiariamente no DiárioC a ta r i n e n se , O Diário deCriciúma, O Diário do Sul(SC), O Diário do Sudoeste(PR) e O Estado do Paraná.

Iotti participa do programaShow de Esportes,da Rádio Gaúcha, e apresentasemanalmente oprograma Demo Via,na Rádio Atlântida de Caxias,além do quadro especialIotti Repórter, no Jornaldo Almoço (RBS TV).