entrevista: force commander da missão de paz no haiti...
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Entrevista: force commander da Missão de Paz no
Haiti, general Ajax
Por Kleber Farias
Em fevereiro de 2004, uma resolução do Conselho de Segurança da
Organização das Nações Unidas (ONU) decidiu criar uma missão de paz para
restabelecer a segurança e normalidade institucional do Haiti, país da América
Central que sofreu sucessivos episódios de turbulência política e violência.
Desde sua criação, a Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti
(Minustah) tem um oficial militar brasileiro como comandante-geral das forças de
paz no país caribenho – cargo nominado pela ONU de force commander, ou
comandante da força, em uma tradução literal. Atualmente, cabe ao general de
divisão Ajax Porto Pinheiro a tarefa de comandar um efetivo total de 2.370
homens, de 19 diferentes nacionalidades.
No começo deste mês, o general recebeu uma equipe da Assessoria de
Comunicação do Ministério da Defesa em seu gabinete, em Porto Príncipe. Ele
falou sobre a experiência de comandar militares de vários lugares do mundo, os
desafios de se estar à frente da missão e a importância para o Brasil de contribuir
com o sucesso da Minustah. Confira, abaixo, a íntegra da entrevista.
Ministério da Defesa: General, qual é o papel do Brasil dentro da Minustah e
quais são as implicações para o País em se ter um force commander brasileiro?
General Ajax: A participação do Brasil na Minustah remonta a 2004. Nós fomos
a primeira tropa a desembarcar naquela grande crise que o país se viu envolto,
com a saída abrupta do presidente da época. Nós fomos os primeiros a chegar.
Tropas americanas tinham vindo num problema de emergência e, em seguida,
a ONU chegou aqui. E depois foram chegando as outras tropas de países
contribuintes. Mas o Brasil sempre manteve o maior efetivo de tropas no Haiti.
Na época em que nós tínhamos aqui quase 9 mil militares de várias
nacionalidades, sempre o contingente predominante foi o brasileiro.
Hoje, nós temos 2.370, dos quais 978 são brasileiros. Então, isso dá pouco
menos que a metade. E a importância é pela influência regional que nós
exercemos. É uma área de interesse nossa – América Central e Caribe. E é uma
forma de contribuir para a estabilização do Haiti, que é um país que vive de crises
sequenciais. Eles estiveram em crises aqui em 1991, muito sérias. Nas décadas
anteriores, com o Papa Doc, Baby Doc, o país vivia uma constante instabilidade
política. Nos idos de 1970, houve uma tentativa de golpe de Estado contra um
dos Duvalier, o pai. Em 1991, outra crise, governo provisório. Em 1994, retornou
Aristide. Eleições, em 2004. Então, o Haiti vive esses momentos de
instabilidades constantes, é rotineiro. A cada 10 anos, a cada 15 anos, o Haiti
passa por uma crise muito séria. E o Brasil e as tropas da ONU estão aqui para
manter – e temos mantido em 11 anos já – essa tranquilidade no país.
A presença do Brasil é muito importante. Para as Forças Armadas, é a
oportunidade que nós temos de treinar a nossa logística. Não é fácil trazer toda
uma estrutura para uma ilha do Caribe. Isso envolve um deslocamento de
material, de tropas. As tropas, ao virem para cá, treinam no país, e esse
treinamento tem evoluído muito – eu comparo com 2010, quando eu preparei a
tropa para ir ao Haiti, com as tropas que chegam hoje, cada vez mais bem
preparadas. E isso é bom para o Exército, porque, como nós revezamos tropas
a cada seis meses, todas as brigadas, no caso do Exército do Brasil, e dos
fuzileiros navais, estão em constante aperfeiçoamento e evolução, porque a
doutrina que se usa aqui com a tropa permanece. Ela volta para o Brasil com os
militares. Ela é aperfeiçoada. Então, eu diria que essa missão tem sido uma
grande escola.
Por que o force commander da Minustah é sempre um brasileiro?
Hoje, a ONU tem 16 missões no mundo, sendo a maioria delas na África. Ou
seja, há 16 force commanders mundo afora. Por exemplo, no Líbano, tem force
commander italiano e espanhol. Tem um force commander chinês no Sudão do
Sul; um paquistanês, no Saara Ocidental. Então, cada país tenta exercer
influência na ONU para que o líder militar da missão seja do seu país. É um sinal
de prestígio ter um general seu comandando tropas internacionais.
O Brasil conseguiu, quando veio para o Haiti, negociar e estabelecer que o force
commander daqui seria brasileiro. E o deputy, o segundo, general de brigada, do
Chile. E a ONU aceitou que o force commander se mantivesse sempre com o
Brasil. Poderia ter mudado. Então, eu diria que é uma disputa política na ONU.
Eu acho que é salutar, é saudável, tem que ser assim, para que os comandantes
sejam dos seus países. Aqueles países que têm mais influência na ONU, em
termos de missão de paz, que contribuem com mais tropas, têm mais chance de
emplacar um force commander.
Para o Brasil, é um sinal de grande prestígio. Eu já sou o 11° brasileiro na função,
desde 2004. E espero que, se a missão continuar, se mantenha assim, e venha
outro brasileiro para me substituir.
O senhor já comandou o Brabat (Batalhão brasileiro de infantaria e força de paz)
em uma ocasião anterior. O que a experiência durante esse período acrescentou
à sua bagagem militar?
A minha tropa foi treinada em 2009. Era uma tropa da Brigada Paraquedista. O
coração do meu batalhão era a Brigada de Infantaria Paraquedista do Rio de
Janeiro. Havia tropas da 9ª Brigada de Infantaria Motorizada, que também fica
no Rio; e tropas da 4ª Brigada, que é de Minas.
Na época, o efetivo brasileiro era de 1.300 soldados, e aí eu estou incluindo uma
tropa que não pertence formalmente ao Brabat, que são os engenheiros e os
fuzileiros navais – e, na época, eu tinha um pelotão paraguaio dentro do batalhão
brasileiro também. Essa tropa treinou em 2009 para assumir as funções a partir
de janeiro de 2010.
A principal missão nossa, para a qual nos preparamos, eram as eleições que
ocorreriam em 2010, à semelhança do que está ocorrendo aqui novamente.
Essas eleições, no entanto, só foram ocorrer bem depois, porque no dia 12 de
janeiro de 2010 veio o terremoto. A primeira leva de tropa minha saiu do Rio no
dia 10. Chegaram aqui no dia 11. No dia 12, os soldados, 130 meus, que estavam
aqui, já foram para as bases iniciar o processo de substituição, assumir novas
funções.
Teve uma reunião na sede da ONU, que na época ficava em um antigo hotel, o
Christopher,e ali já morreram os primeiros brasileiros. A partir daí, a missão
mudou. Eu, no Brasil, não sabia o que estava acontecendo. A segunda leva de
soldados veio para cá no dia 12 e não conseguiu descer do aeroporto, porque a
torre estava inoperante, a pista tinha rachado. Não tinha como descer aviões no
Haiti no dia 12 de janeiro. Esse avião, com 130 soldados – a segunda leva -,
retornou para o Brasil.
Nós reajustamos, tiramos alguns militares dele e eu entrei nesse avião com meu
Estado-Maior e meu subcomandante – que, inclusive, só viria depois. Nós
mudamos os planos e eu vim pra cá no dia 20 de janeiro, na semana seguinte
ao terremoto. A partir daí, a experiência foi totalmente diferente daquela para a
qual nós tínhamos treinado. Nós havíamos treinado para uma eleição e não tinha
mais eleição. Os criminosos estavam todos soltos, porque o principal presídio do
país caiu. Eles foram liberados, estavam no pátio na hora do terremoto e fugiram.
Os que estavam presos, a própria polícia soltou, porque não tinha como mantê-
los presos – iriam morrer nas celas. Isso aconteceu em toda a Porto Príncipe.
Mesmo nas celas afastadas, eles foram liberados, porque não tinha mais policial,
não tinha mais guarda penitenciário. E aí, a partir da segunda semana após o
terremoto, nós passamos a prendê-los novamente. E a missão do batalhão
também era fazer ajuda humanitária até as 14h, todos os dias. De 14h até o dia
seguinte, nós nos equipávamos e íamos prender as gangues de Cité Soleil, Mart
San, Croix-des-Bouquets e outras regiões, na capital inteira. Na época, essa
tarefa ficava a cargo apenas das tropas brasileiras. E isso durou até meados de
março. Havia dias em que nós prendíamos uma quadrilha inteira reunida,
tramando alguma coisa. A gente chegava, cercava e prendia quinze pessoas, de
uma vez só. E eram de alta periculosidade, eram os bandidos condenados que
estavam soltos. Outros, não tão perigosos, mas a gente prendia e entregava
para a polícia. Foi um período muito conturbado.
Nesse momento, chegaram tropas internacionais que não pertenciam à ONU.
Os americanos estavam aqui, com algo em torno de 15 mil militares. Essas
tropas deles estavam indo ou voltando do Afeganistão e Iraque, eram tropas
muito bem treinadas, mas não participavam da segurança. A segurança era
problema nosso. Eles participavam de ajuda humanitária. Então, nós
entregávamos diariamente em torno de 80 toneladas de alimentos do World
Food Programme. Oitenta toneladas de alimento implica dizer que é o que o
Brasil entrega em quatro dias quando tem uma grande crise de enchentes ou
seca. Em um mês, nós entregamos 30, 50, 60 toneladas. E aqui, tem vezes que
a gente entrega 80 por dia. Teve um dia que nós entregamos 320 toneladas.
Eram 10, 12 carretas com gêneros. E entregávamos junto com os americanos.
Fazíamos aquelas filas intermináveis de milhares de pessoas. As senhas eram
entregues no dia anterior, para haver justiça na distribuição. Uma coisa que a
gente aprendeu na época é que, nessas crises muito graves, tem–se que agir
com rigor. Não dava para fazer aquelas filas como se faz na entrega de gêneros
no Natal no Brasil, em que as pessoas estão felizes, vêm cantando na fila. Aqui,
não. Aqui era uma questão de sobrevivência. Então, quem vinha receber
gêneros vinha numa situação instável, às vezes tendia a descambar para a
violência, e aí as tropas tinham que impor a regra para que uma doação de
gêneros não se transformasse num desastre. Às vezes, a gente tinha que fazer
com blindados: nós cercávamos e as pessoas faziam fila. E eram milhares.
Entregávamos senhas e só entravam nas filas as mães. Não entregávamos
gêneros nem para crianças e nem para homens. O homem porque nós
descobrimos que eles pegavam os gêneros e trocavam por favores sexuais,
bebidas, vendiam. A mulher tem mais senso de proteção: ela pega a comida e
leva para a família. Aí, a gente entregava o pacote de gênero. E no dia seguinte,
a gente mudava os locais, para não repetir. E foi feito assim, com alimentação,
com água. Medicamentos a gente entregava nos postos, porque não se pode
distribuir remédios nas ruas. Esses gêneros vinham da WFP, que tinha grandes
depósitos aqui no centro industrial deles. Nós protegemos esse centro porque,
quando saíamos com as carretas, houve casos de assalto. Paravam as carretas
e roubavam tudo o que tinha dentro. E não dava para reagir. E tinha também as
doações brasileiras. Essas doações, o batalhão brasileiro entregava em locais
que nós tínhamos interesse em manter o bom relacionamento com a população.
As que vieram da ONU, a ONU dizia o local. Nós fazíamos entregas de senhas,
segurança e distribuição. E assim nós fomos vivendo durante 15 dias.
A engenharia teve um trabalho muito grande nessa época, que era recolher os
corpos e enterrá-los em valas coletivas de 200, 100, 50 pessoas. Registrávamos
e enterrávamos. A parte de saúde do Brabat e da engenharia trabalhou muito,
criou quase um hospital improvisado, porque, nessa hora, era muito problema
de saúde. Dentro do Brabat, teve amputações de pernas, de braços, e depois
era tratado até estabilizar e a pessoa voltava para sua casa. Mas o Brabat foi um
local onde se teve muito drama.
O Haiti inteiro teve 40 mil amputados. Até hoje eles estão por aí. No aniversário
do terremoto, esse ano, eu fui a Léogâne, que é onde foi o epicentro do
terremoto, e fui ver uma competição de handicap, de pessoas com deficiência,
com amputações. A maioria amputados. Tinha muita gente amputada. Foi muito
grave lá, assim como em Porto Príncipe também. E parte dessas pessoas foi
salva pelo Brabat, engenharia... Os médicos todos ficaram voltados para isso aí.
O hospital argentino também. Nós tínhamos os militares e civis da ONU, que
precisavam ser curados também. Foram mais de 150 mortos da ONU. Foi o
maior desastre, a maior perda que as Nações Unidas tiveram numa missão ao
longo da história. Morreram chineses, filipinos, brasileiros... Foi um choque. Foi
uma experiência mais de vida do que militar.
A tropa reagiu muito bem. Os soldados sentiram muito. Eles tinham 19 anos. Iam
à rua e viam tanta desgraça, e voltavam abalados para o batalhão. E eu proibia,
dentro do batalhão, de falarem de terremoto. Então, dentro do batalhão eu
incentivava e os forçava a estar sempre fazendo treinamento físico, correr, fazer
musculação, ouvir música, contar piada. Era uma forma de não trazer o clima de
desgraça que tinha na cidade pra dentro do batalhão. Eu dizia a eles que eles
tinham que agir como médicos e dar esperança para o paciente. Nessa época,
nós tivemos que recuar duas bases. Uma era no Forte Nacional, que caiu, e onde
morreram três. A outra, a Base Tebo, na área de Cité Soleil, também sofreu o
terremoto – era uma área que nós alugávamos. Então, no primeiro momento,
todo o batalhão recuou, porque não tinha mais onde ficar lá fora e aí a missão
mudou. A tropa aprendeu a ser flexível. Na época, era flexibilidade, iniciativa e
adaptabilidade. As três características da tropa.
General, vamos voltar à sua atuação como force commander da Minustah. O
senhor falou que existe uma tropa de 2.370 homens sob seu comando. Quais
são os países, como é essa composição, quantas nacionalidades e como é lidar
com idiomas e culturas diferentes?
Nós temos hoje, na Minustah, sob meu comando, 10 unidades. São três
batalhões de infantaria: o batalhão brasileiro, o batalhão chileno – no norte do
país, que tem tropas de El Salvador e de Honduras -, e um batalhão com tropas
do Uruguai e Peru. Temos também duas companhias de engenharia: uma
brasileira e uma paraguaia. Temos um hospital de campanha, argentino. Duas
companhias: uma seria equivalente à polícia do Exército do Brasil, que é da
Guatemala; e outra das Filipinas. E ainda duas unidades de aviação: uma do
Chile, com dois helicópteros bell, e uma de Bangladesh, com três helicópteros
russos MI17. Ah, dentro do batalhão do Chile também tem três oficiais do México,
que é algo inédito. É a primeira missão de paz em que o México participa.
Além dessas que eu falei, existem no meu Estado-Maior 63 oficiais, desses
países que eu já citei, e mais oficiais do Nepal, Sri Lanka, Jordânia, Estados
Unidos, Canadá, Equador e Bolívia, que não têm tropas, mas têm coronéis,
tenentes-coronéis... Então, nós temos 10 quarteis e 2.370 homens. Nesses
quarteis, temos a representação de 12 países. Além desses países, no meu
Estado-Maior tem mais sete países. É um total de 19 nacionalidades aqui.
O maior desafio para mim, no force commander, é ser respeitado por essas
tropas, porque eles são muito bem preparados, já têm experiência de outras
missões. São de países que vivem desafios em outros cenários - e eu diria que
os principais são os americanos e os canadenses. Há oficiais do Canadá e dos
Estados Unidos aqui que já participaram de missões de combate no Afeganistão,
por exemplo. São oficiais que têm experiências em situações críticas e os outros
são todos muito bons, os países mandam os melhores oficiais deles. De todos,
Brasil inclusive.
É um grupo muito bom. Mas é um grupo que cobra muito. Eles são exigentes.
Eles não são fáceis de serem convencidos, não. Eles precisam acreditar. E isso
para mim, talvez, seja o maior desafio que eu já enfrentei na vida. Antes, eu
comandava um batalhão de brasileiros. Queiram ou não, eles estavam sob os
regulamentos disciplinares do Brasil. Em termos até de disciplina, era muito mais
fácil de conduzir. Com esses oficiais aqui, é uma outra situação. A carreira deles
não depende de mim no futuro. Eles sairão para os seus países e nós,
provavelmente, nunca mais iremos nos ver. E eles têm vida própria no seu país,
têm uma carreira própria. Assim, é um desafio conduzir esse grupo em crises. E
tem dado certo. Eles são muito bons, são muito competentes. Aos desafios
nossos de segurança, quando vêm, a resposta é muito rápida, é muito eficaz,
tanto do planejamento nosso quanto da tropa. De todas as tropas. E tem sido
muito gratificante isso aqui.
Mas o maior desafio é uma missão com 19 nacionalidades, vivendo momentos
de tensão, fazer com que esse grupo produza o resultado eficaz para a ONU,
que é o que nós estamos fazendo aqui. E não podemos falhar. Eu não posso
falhar. A tropa não pode falhar. E o grupo entende que estamos todos no mesmo
barco. Se alguém falhar, todos vão falhar. É um lema que eu aprendi com eles,
que os outros force commanders trouxeram essa ideia para cá e, até agora, tem
tido resultado.
General, como foi a sua escolha para o cargo de force commander da Minustah?
Como tem sido voltar a viver no Haiti?
Eu estava numa missão do Exército da Argentina, em Buenos Aires, no dia 30
de agosto. Foi quando soube do falecimento do meu amigo Jaborandy [então
force commander da Minustah]. No dia seguinte, eu recebi uma ligação do meu
chefe, no Brasil, general Modesto, dizendo que eu era voluntário para o Haiti. E
aí quando eu dei a notícia para minha esposa, ela não gostou. Para ela, a minha
fase de Haiti já tinha passado, lá em 2010. E aí eu disse que quem iria decidir
era a ONU, não era eu. Eu entrei numa roda viva: voltei para o Brasil no dia 6
de setembro, depois, no dia 8, eu comecei a ler alguma coisa em inglês, para
treinar para a entrevista da ONU, que não é fácil – é uma videoconferência que
dura, no mínimo, 30 minutos, num telão com três militares de Nova York
entrevistando a gente, com dificuldade de sons...
A entrevista foi feita na sede do Ministério da Defesa, em Brasília. Na entrevista,
não pode ter ninguém na sala, não pode ter anotação, não pode ter nada. Cada
um dos entrevistadores faz três a quatro perguntas longas, com respostas longas
também. Querem saber tudo. E aí eu sobrevivi. Éramos três generais
concorrendo. Mas a ONU achou que, naquele momento, eu era para ser o
indicado. Durante uma viagem para o Paraná, numa missão do Departamento
Geral de Pessoal, onde eu era vice-chefe, eu recebi a ligação dizendo que eu
tinha sido o escolhido para a Minustah. Tive apenas dois dias de preparação de
mala.
Peguei meus dois sacos de viagem verde-oliva, coloquei tudo que eu achava
precisar e vim embora no dia 4 de outubro. Então, do dia que eu soube do
falecimento do Jaborandy até o meu embarque, entrevista, viagem, preparação,
foi um mês. Desde então, sou um funcionário civil da ONU. Eu não recebo salário
pelo Brasil, eu não tenho vínculos com o Brasil, eu não pago imposto no Brasil –
eu pago da ONU.
E a grande experiência de vida que eu tenho aqui é que eu estou me tornando
quase independente. Eu entrei no Google e tenho aprendido a cozinhar. Esse
tem sido o meu maior desafio. Durante mais de 50 anos, eu nunca cheguei perto
de um fogão, a não ser para fazer café e fritar ovo. Agora eu já consigo fazer
frango guisado. E é uma experiência tão boa que eu, inclusive, filmo e mando
para casa, para minha esposa. Tudo é experiência de vida, fazer comida é uma
experiência bacana. Eu cuido de plantas também, que é o meu hobby.
Como o senhor avalia a contribuição do braço militar da Minustah para a força
policial local do Haiti: o que é repassado e que legado está sendo deixado? E do
ponto de vista da população, como a atuação militar da Minustah ajuda o país a
se reerguer?
Hoje, a polícia do Haiti tem em torno de 11.500 homens. Até dezembro desse
ano, ela prevê chegar em 15.600. Esse é o número que a ONU considera ideal
para que eles assumam de vez a segurança do país. Isso pode ocorrer em
dezembro. O treinamento é realizado na academia e ele foi patrocinado pelo
Canadá. Uma formação técnica trazida de vários países, mas principalmente os
canadenses resolveram assumir essa responsabilidade. O Canadá tem ligações
muito fortes com o Haiti. Há um milhão de haitianos vivendo no Canadá hoje.
Tem um voo regular de Montreal para Porto Príncipe, diariamente. Os turistas
que agora já começam a vir para o Haiti, eles são a maioria do Canadá.
Os policiais do Haiti já aprendem muito conosco quando fazem operações
conjuntas. Tanto com o Chile, Uruguai, Peru e Brasil. De outubro até agora, nós
já fizemos mais de 250 operações conjuntas. Agora, nesse momento, tem
soldados haitianos fazendo patrulhas conjuntas com as tropas brasileiras, por
exemplo, em Cité Soleil. Esse mês de março, nós vamos fazer 11 operações em
Cité Soleil, em que as tropas da polícia haitiana participam também. Quando elas
vão juntas, eles aprendem conosco como nós procedemos, táticas, como que
nós agimos e isso tudo é ensinamento. Aos poucos, eles vão assimilando esse
conhecimento.
Às vezes, o Brabat faz treinamentos com eles antes de irem para essas
operações: normas, formas de agir, de atirar, de progredir, de se proteger. É um
trabalho muito importante que o Brabat faz. O Chile, o Uruguai, o Peru fazem
também. E isso é um aspecto que tem sido bom. Agora em março, nós vamos
fazer seis operações usando os helicópteros do Chile e de Bangladesh. Nessas
seis idas pelo país, eles, os policiais haitianos, vão também. Levam parte dos
soldados especiais deles para atuar junto conosco. Tem sido feito assim. É
grande a contribuição que vamos deixar aqui com a polícia, principalmente na
parte operacional.
Quanto à população, até hoje, depois de 11 anos, eles ainda admiram e
respeitam as tropas da ONU. O que não é usual em todas as missões. Há uma
tendência de desgaste nos últimos anos. A população começa a reagir porque
nós somos uma tropa de fora. Eu sou um general de um país estranho. Não é
uma boa imagem a de um general de outro país circulando fardado nas reuniões
com as suas autoridades. Não é agradável para eles. Não seria uma imagem
agradável no Brasil eu ver um general de outro país, que comanda as tropas de
outros países, circulando nos meus palácios, digamos assim. Tem que entender
isso aí. Eu entendo. E por isso que nós devemos ter muito tato, muito cuidado
com as nossas ações. O grande legado que a ONU está criando é a estabilidade,
a segurança no país.
Fonte: Ministério da Defesa
Data da publicação: 18 de março
Link: http://www.defesa.gov.br/noticias/19082-entrevista-force-commander-da-missao-
de-paz-no-haiti-general-ajax
Pela primeira vez mulher dirigirá grande comando
militar dos EUA*
Pela primeira vez um dos grandes comandos militares norte-americanos será dirigido
por uma mulher - anunciou nesta sexta-feira o secretário de defesa Ashton Carter.
A general da Força Aérea dos Estados Unidos Lori Robinson, foi nomeada pelo
presidente Barack Obama para dirigir o comando militar norte-americano para a América
do Norte, Northcom, e o comando militar encarregado da segurança aérea nos Estados
Unidos e Canadá, Norad (North American Aerospace Defense Command).
"Ela tem uma experiência operacional muito ampla" e uma "experiência muito boa em
gestão", afirmou Carter durante coletiva de imprensa em Washington.
O governo Obama decidiu no final de 2015 que, cumprindo os requisitos físicos
necessários, as mulheres podem chegar a todos os postos de combate, inclusive os
mais expostos, como as forças especiais.
As mulheres representam atualmente 15,6% do quadro das Forças Armadas norte-
americanas.
Fonte: Defesanet
Data da publicação: 19 de março
Link: http://www.defesanet.com.br/geopolitica/noticia/21882/Pela-primeira-vez-mulher-
dirigira-grande-comando-militar-dos-EUA/
Economistas veem inflação e dólar mais baixos
em 2016 mas contração mais forte*
SÃO PAULO (Reuters) - As estimativas para a inflação e o dólar este ano voltaram a
ser reduzidas enquanto a perspectiva de contração econômica piorou pela nona vez
seguida, ao mesmo tempo em o cenário para a Selic permaneceu inalterado na
pesquisa Focus do Banco Central.
O levantamento com uma centena de economistas divulgado nesta segunda-feira
mostrou que a projeção para a alta do IPCA em 2016 caiu em 0,03 ponto percentual e
agora é de 7,43 por cento, ainda muito acima do teto da meta, de 4,5 por cento com
tolerância de 2 pontos.
Para 2017 a estimativa da inflação continuou pela sexta vez em 6 por cento,
permanecendo no limite máximo do governo, de 4,5 por cento, com margem de 1,5
ponto percentual.
Ainda que os níveis de inflação permaneçam em níveis elevados, a pesquisa não
mostrou mudanças nas expectativas para a taxa básica de juros, que continuam
apontando Selic a 14,25 por cento no fim deste ano e a 12,50 por cento em 2017.
Para o dólar, a projeção para o final deste ano caiu a 4,20 reais, sobre 4,25 reais antes.
Para 2017 também recuou a 4,30 reais, contra 4,34 reais no levantamento anterior.
Já as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2016 mantiveram a trajetória de
deterioração, com contração agora estimada em 3,60 por cento, ante queda na pesquisa
anterior de 3,54 por cento. Para o ano que vem o crescimento esperado agora é de
apenas 0,44 por cento, sobre 0,50 por cento antes.
Fonte: Reuters
Data da publicação: 21 de março
Link: http://br.reuters.com/article/businessNews/idBRKCN0WN18C
REMAX oficialmente adotado pelo Exército
Brasileiro*
De acordo com a Portaria Nº 065 EME, o Exército Brasileiro adota oficialmente o sistema
de armas REMAX
PORTARIA N º 065-EME, DE 8 DE MARÇO DE 2016.
Adota o Sistema de Armas Reparo de Metralhadora Automatizado X, versão 3 (REMAX
3),
desenvolvido pelo Centro de Tecnologia do Exército e a empresa ARES Aeroespacial e
Defesa S.A.
O CHEFE DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO, no uso da atribuição que lhe confere
o inciso VIII do art. 5º, do Regulamento do Estado-Maior do Exército (R-173), aprovado
pela
Portaria do Comandante do Exército nº 514, de 29 de junho de 2010, e em conformidade
com o item 9) do art. 6º das IG 20-11, aprovadas pela Portaria Ministerial nº 270, de 13
de junho de 1994, e com o Bloco nº 71, do art. 15, das IG 20-12, aprovadas pela Portaria
Ministerial nº 271, de 13 de junho de 1994, resolve:
Art. 1º Adotar, para o Exército Brasileiro, o Sistema de Armas Reparo de Metralhadora
Automatizado X, versão 3 (REMAX 3), desenvolvido pelo Centro de Tecnologia do
Exército e a empresa ARES Aeroespacial e Defesa S.A.
Parágrafo único. A referida adoção é decorrente da decisão tomada na 1ª Reunião
Extraordinária do Conselho Superior de Transformação (CONSUT), encerrada em 3 de
fevereiro de 2016.
Art. 2º Determinar ao Departamento de Ciência e Tecnologia, ao Comando Logístico,
ao Comando de Operações Terrestres e às Áreas de Doutrina, Instrução e Logística do
Estado-Maior do Exército, que tomem as providências decorrentes da adoção do
material em questão, previstas nas IG 20-12.
Art. 3º Determinar que esta portaria entre em vigor na data de sua publicação.
De acordo com a fabricante, o REMAX possibilitará uma nova dimensão à Força
Terrestre Brasileira e Defesa Nacional, potencializando o poder de combate e
garantindo segurança da tropa embarcada que realiza a operação no interior da viatura.
O REMAX é uma estação de armas remotamente controlada giro-estabilizada
controlada remotamente para metralhadoras 12,7 mm e 7,62 mm que foi desenvolvida
a partir dos requisitos do Exército Brasileiro por meio de parceria da ARES com o CTEx
(Centro Tecnológico do Exército). Trata-se de um projeto ambicioso iniciado em 2006
com a promessa de desenvolvimento da primeira estação de armas 100% nacional.
Fonte: Tecnodefesa
Data da publicação: 17 de março
Link: http://tecnodefesa.com.br/remax-oficialmente-adotado-pelo-exercito-brasileiro/
* Não mencionado o autor