entrevista com josé maria nunes pereira

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ENTREVISTA Entista com José Maria Nunes ra Concedida e"tr e 15 e 28 de dezembro de 2006, "0 Rio de Janeiro, " Vere,," Alberti e Am i/lr Aral/jo Pereira José Maria Nunes Pe rei ra Conceição foi um dos fundadores, em 1973, do Centro de Es tudos Afro-Asiticos (CEAA) da Faculdade Candi do Mend es, no R io de Jane iro, uma insti ruição de re rencia pa ra assuntos ligad os à Á ica e suas relaçõ es com o Bra sil. Nascido São L do Mo (1937), tudou em Portugal (1947-1962) epartici pou dos movimentos de l ibertação das colônias ponug uesas Á ica. Gr aduou-se em ciênci as sociais na UFF (1972), foi pro- fes sor de histó ria Á frica e edito r da revista Es s Ao-A siáos, do CEAA (1978-1986). Sua dissertaçáo de mesdo em sociolog ia, dendida na USP em 1991, teve como tema o cen tro de es tudos q ue ndou: '' estudo s aicanos no Brasil e a s relaçõe s com a Á ica - um est udo de caso: o ೪A (1973-1986)". A tese de dou torado, também defendida na US em 1999, int ilulou-se "Angola: uma política externa em con tex to de crise (1975- 1994)". Em o J'; a" 1', janei·ju aho de 27, p. 121_1S6. 121

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Page 1: Entrevista com José Maria Nunes Pereira

E N T R E V I S TA

Entrevista com José Maria Nunes Pereira

Concedida e"tre 1 5 e 28 de dezembro de 2006, "0 Rio de Janeiro,

" Vere,," Alberti e Ami/Cllr Aral/jo Pereira

José Maria Nunes Pereira Conceição foi um dos fundadores, em 1973, do Centro de Estudos Afro-Asill.ticos (CEAA) da Faculdade Candido Mendes, no Rio de Janeiro, uma instiruição de referencia para assuntos ligados à África e suas relações com o Brasil. Nascido em São Luis do Maranhlio (1937), estudou em Portugal (1947-1962) e participou dos movimentos de libertação das colônias ponuguesas na África. Graduou-se em ciências sociais na UFF (1972), foi pro­fessor de história da África e editor da revista Estudos Afro-Asiáticos, do CEAA (1978-1986). Sua dissertaçáo de mesuado em sociologia, defendida na USP em 1991, teve como tema o centro de estudos que fundou: ''Os estudos africanos no Brasil e as relações com a África - um estudo de caso: o CEAA (1973-1986)". A tese de doutorado, também defendida na USP, em 1999, intilulou-se "Angola: uma política externa em contexto de crise (1975-1994)".

Em,,1M l/iJr&ria>t, Rio de JlJ\';ro, a" 1', janeirn·juaho de 2007, p. 121_1S6.

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a/lIdos his/6rlcos e 2007 - 39 ---

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Esla enlrevisla foi realizada dentro do projeto "História do movimen· tO negro no Brasil", desenvolvido pelo CPDOC desde sctembro de 2003. Fo­ram quatro encontros, que rc$uharam em IOh30min de convems gravadas, das quais editamos alguns trechos para serem publicados aqui. Na elaboração das nolas, contamos com o auxílio de Leandro Faustino da Silva, bolsista Fa· pcrj.PIBIC.

Fonlltlfão 110 Mtlmllhiio e em Porll/gtll

GoslaTÚmws de cOffleÇI11' com ruas origens: ondll quando o Stnhor nasceu, o qUI faziam seus pais?

Nasci em São Luis do Maranhlo,em 13 de maio de 1937. São duas dataS: aqui, é a libertação dos escravos, eem Portugal, é o dia de Nona Senhora de Hti· ma. Quando cu CStava em Portugal, diziam: "Ah, que bonito, dia de Nossa Senhora de Flitima!" Eu franzia a cara e dizia: "Dia da libcnação dos escravos no Brasil!" As minhas duas dataS. Meu pai, Abel Pereira da Conceição, era um imigrante por­tugu!!, sócio de um armazém de cstiva -o brasileiro diz grossista, de venda a gros. so. Um armazém atacadisla de cinco andam que imporuva do Sul e vendia de tudo para0 interiordoMaranhlo. Minha mãe,Matilde Maria Nunes Pereira Con­ceição,era uma paraense, filha deum portugues imigrante que haviaenricadocom a borracha no Pari,Antônio Pinto Nunes Alves Vitória. Depois ele entrou em de­cadencia, foi à falência, mas o casamentO da minha mãe ainda se deu no meio da carreira dele, em 1936. Meus pais tiveram quatro filhos, e sou o mais velho.

A raiz da minha história es,á na separação dos meus pais, quando eu li· nha seis anos. Se desquitaram, fiquei com meu pai e fomos morar, primeiro, numa república de portugucscs; depois, papai comprou um casario enorme e fui criado por uma família negra-mie Lúcia, as irmãs e os meus dois irmãos de cri· ação, que eram mais velhos e me protegiam. O casarão ficava a duzentos passos do armazém, o que significava zona comercial, no bairro negro, perto da prosti. tuição. Fui um menino de bairro negro e de cais do porto; das minhas janelas eu via o cais. E mãe Lúcia teve muila influéncia em mim. Ela sempre se preocupava em dizer: "Você vai ser grande branco." Ela era da Casa das Minas,' mas nunca me levou para lli, escondia tudo o que era de culto. As nossas velhas de antiga. mente queriam que a nossa gente negra fosse criada no mundo dos brancos. Nlio era por alienação, era para vencer. Eu � que fazia ao conuário. Eu sempre fui um assimilado ao contrário, um sujeito africanizado dcscle muito cedo. Foi uma in· flncia que pareceu depois esquecida, mas mais tarde veio a marcar muito a mi· nha vida. Agora, no dia 4 de dezembro, dia de Iansã, ela faria 100 anos se estivesse viva. Ela e papai morreram com dois meses de diferença. Eles se amasiaram, ele morreu, e ela morreu dois meses depois.

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Entnl'bta com JO$! Maria Nllnes Pereim

Como ele a conheceu, o senhor sabe dizer� Quando se separou, ele foi para a casa de um compadre, uma república

de ponugueses, para onde eu fui também. E mãe Lúcia era a gerente. No Mara­nbão era assim: uma empregada-gerente e seis empregadas.

Para meu pai, eu seria doutor, estava escrito. No Maranhão, ia-se para Coimbra. A elite maranhense, graças ao algodão, que se fortaleceu com a Guerra de Secessão, era uma elite fone: João LisOOa;2 o nosso mais famoso poeta, da Canção dJJ exílio, Gonçalves Dias ... Era uma elite, de mulatos até, criada em Por­tugal, Coimbra. A idéia do meu pai era que o filho mais velho fosse ser doutor em Coimbra e depois fosse médico de famllia da aldeia.

Q/lal era a aldeia dele? A aldeia dele era Cabanôes, conselho de Águeda, dismto de A veiro. Tra­

duzindo: a 80 quilômetros do Pono,entre Aveiro e Águeda. Em 1947 eu vou para Portugal- faço dez anos a bordo-com meu pai e meu irmão mais novo, que iria voltar. Fomos para a casa do vovô, onde papai passou uns oito meses, depois vol­tou. Em outubro de 1947, eu entrei na grande casa da minha vida: colégio imer­no João de Deus, no POrto. Era o melhor colégio do norte de PortugaJ. lsso é que era o valor para papai, e queeu repeti sempre: meus filhos sempre foram criados em colégios caros, acima das minhas posses - aquela coisa bem de ponuguês e das nossas mães negras também. O colégio interno João de Deus foi o grande la­boratório da minha vida. Li eu passei oito anos e fui rudo: editor, goleiro, chefe de cineclube, fundador do jornal. Até fui um aluno que parecia melhor do que era: tinha uma boa retÓrica e, na hora das notas, era aluno de oito, mas parecia dez! Ali foi muita camaradagem, muito apoio dos amigos. Eu ilCmpre fui uma pessoa feita pelos amigos. Reparem: república de Serafim, meu padrinho; repú­blica de papai; colégio interno; república de estudantes em Coimbra; república do Pono; aí caso com uma angolana cuja casa era república dos africanos. Depois, acabaram-ilC as repúblicas, mas fundou-se o Centro de Estudos Afro­Asiáticos.

No colégio havia dois grupos: um numeroso, de brancos nascidos nas colônias, e um pequeno,de negros nascidos nas colônias. Mesmo os brancos já li­nhamos uma unidade: o mesmo clima tropical, os mesmos frutos, as mesmas brincadeiras. Tínhamos uma identidade automática, eu e os brancos, e, depois, eu e os poucos negTos, filhos de elites locais.

Os paiJ desses al/lnos não moravam em Portugal.> Nâo. Moravam nas colônias. Mandavam os filhos para e5tudar. Toda a

minha vida africana vai ser assim: na casa de africanos cujos pais os mandavam esrudar em Ponugal. Montavam república, vinha a mãe deles, alugava para mais

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utwlos históricos . 2007 - 39

filhos, e ficava aquela famma africana, sobretudo angolana, que eu mais vivi. Desde pequeno minha escola foi a paternalista. Como um bom branco que se africaniza, ou que se negrifica, a primeira atitude que ele tem � o paternalismo. Acho que nAo larguei isso at� hoje. Aos I 5 anos comecei a ser dirigente daJuven· tude Escolar Católica. Tínhamos que carregar a bandeira, e era sempre um negro que carregava.

Em 1947, em Portugal, "a o wlazarismo. O smhor rtgislTtnJa isso'> NAo. Oque predominava era a identidade, mais do quea política. E mais

ainda: em 1947 eu invejava aqueles que já eram mais graduados na Mocidade Portuguesa. Órgão fascista da juventude. Meu namoro pelo fascismo - fascismo está um pouco exagerado - vai até a Universidade de Coimbra, onde eu chego ainda dirigente católico,com 18 anos, para fazer pedagogia, porque eu queria ser mMico leigo na Africa. No colégio, passei a minha iniãncia, até 05 15, 16 anos, lendo livros católicos, livros de santoS, livros de formação. Eu era mesmo assim: calÓlico de direita ligado aos africanos. O cone se deu numa reunião do Centro Acadêmico Democracia Crism, já em 1955, em Coimbra. Disseram: ''O Zé Maria é a pessoa indicada. Nós estamos vendo que os nossos estudantes africanos estio muito rebeldes, não aceilam a praxe." A praxe é aquilo queo calouro sofre, o tr0-te. A praxe em Coimbra era cortar os cabelos, e os negros diziam: "Não cortem nossos cabelos, porque demoram muito tempo a crescer. Os de vocês crescem em tm meses." Disseram: "Zé Maria, vocêpodiaseaproximar mais desses meninos e nos trazer as informações de que precisamos." Só me lembro que foi um raio que caiu na minha cabeça. Foi ali. fone.

E th que infomwfÕlS elts predsovam.> Era para dizer: "Olha, vão fazer uma manifestação daqui a 15 dias. Olha,

vAo fazer isso .... ' Foi isso, e foi a demonstração de queos negros eram inferiores. Me demonstraram, e eu quase acreditei: "Então, um branco casa com uma preta. E o filho, sai de que cor? Bem mais claro! Depois o fIlho casa com uma branca ... Logo, eles $,Ao uma raça em extinção, Zé Maria!" Ali, pronto, eu rompi e passei para o lado africano definitivamente.

Sal de Coimbrae vim para0 Pono em 1956, para fazer medicina. No Por· la, eu penencia a uma grande instituição famosa, a Casa dos Estudantes do Impêrio, li qual pertenceram todas as lideranças africanas que depois vieram a presidir os seus países. A Casa dos Estudantes do ImpErio era uma instituição criada pelo governo com a finalidade de viabilizar um pouco a vida dos pretos, dos mulatos, dos filhos decolonos brancos: nós Ifnhamos república para dormir mais barato, restaurante ... Mas nunca se pensava que aquela casa, com uma vigi­lância poHtica tão grande, fosseserum celeiro de intelectuais militantes. Porena

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EIltrevisrtl com losl Maria NUllu P�nira

casa passaram Amilcar Cabral, Agostinho Neto, Mondlane -que é antes de Sa­mora Machel-, Marcelino dos Santos.} Enfim, ainda hoje, quando alguém quer me apresentar, diz: "Casa dos Estudantes do Império, Movimento Popular de Libertação de Angola no Brasil!' Pronto. O calouro, o novato, SÓ falta bater con­tinência. Sou um "mais velho" .•

Af eu começo, de fato, a me africanizar. O presidente da Casa dos Estu­dantes do Império, que era caboverdiano, dizia: "Põe aquele branquinho brasi­leiro para ensinar aos miúdos história da África. Porque ele lê muito." Miúdos eram os calouros, estudantes do primeiro ano da universidade. Então ali eu co­mecei a sistematizar o estudo de Africa, comecei a me kafrializar. Kaffir é uma pa­lavra árabe que significa "negro". Nas colônias, kafrializaoo -assim mesmo, com o r depois do! - é o branco que tem vida de negro, mora no interior, tem filhos mulatos, e nunca chega a ter dinheiro para voltar li. metrópole, casar com uma branca. Eu me lembro que meu grande mestre na Casa dos Estudantes do Impé­rio foi TOmás Medeiros, que depois dirigiu o movimento de libertação de São Tomé e Príncipe. Ele abria aqueles baús, tirava uma porção de roupa suja e de­pois, lá por baixo, estavam os livros da Prúence Africaine, de Paris, os livros de África.5 Livros de história da África eram proibidos. E ele me emprestava com muito cuidado.

Ao mesmo tempo, existiam na comunidade africana - no Porto, em Co· imbra eem Lisboa -, as repúblicas de estudantes e também 05 chamados "lares". O pai náo mandava só o filho, mandava a filha. A primeira filha ficava num lar de freiras-a minha primeira mulher assim ficou. Com a segunda filha, ou mais um filho, ele mandava a mulher; a mulher formava um lar onde ficava a filha e o fi­lho e onde ela alugava vagas pal"1i oums meninas. Fonnava-se um lar africano. Mãe Ceiçã, mãe Luíza, são os meus grandes lares africanos. Mãe Ceiçã, Concei­Çáo, era mãe de um grande jogador de futebol. AI eu tenho aquela vida africana da comida, do vestuário ... Eu engraxava os sapatos das velhas, comprava cigarro, fazia tudo pal"1i elas me contarem as histórias do antigamente. Pagava cerveja para aqueles marinheiros ... O POrtO tinha o seu porto, não é? Vinham aqueles marinheiros de navios portugueses, africanos, pretos, semi-analfabetos, e eu pa­gava cerveja para Ouvi-los. E depois, todo mundo queria contar a sua história para aquele "branquinho nosso".

Militâ"cia polítjCtJ fflI Portugal t 110 Brasil

Quallfo tempo o senhor ficou 110 Porto? Fiquei no Porto de 1956 até 1961. Cinco anos. Não passei do terceiro ano

de medicina. No primeiro ano, fui proibido de fazer as provas, com razão deles, por negligência administrativa, embora ninguém fosse punido dessa fonna. Tec-

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e$tudO$ hist6ritos e 2007 - 39

Fel� era o nome de guerra do maior intelectual da revolução angolana: Mlirio Pinto de Andrade.l• Era uma figura simbólica, um grande intelectual na França, um militante, um fundador do MPLA. Ele era da nossa família e viria ao Brasil em outubro, quando meu filho nascesse, convidado por San TIago Dantas e ou­tros, do Itamaraty, e seria o padrinho do meu filho. Então eu botei o nome do meu filho de Buanga Kassule, "o Buanga mais novo", e, para poder sonorizar melhor, o Kassul passou para a frente: Kassul Buanga. Minha filha f Nahri Ra­mos da Cruz Nunes Pereira. Nahri f "florsilvestre",f um nomede Moçambique. Depois vem o nome mais pomposo: Samory Soundjata. Esses são dois impera­dores do Mali, um do skulo XIV e outro do skulo XIX. É um nome inconveni­ente, pesado. Porque uma pessoa não dá a seu filho o nome de duas figuras histó­ricas. Eu tenho um neto tambfm chamado Samory. E depois, Luena, que é a mi­nha mais nova. É um nome tão lindo. Luena f o nome de um rio e de um povo. A lenda conta que Luena era uma filha de um chefe local que foi obrigada a casar com um estrangeiro, gente imponante, mas nlio quis e afogou-se no rio. E nasceu uma flor, tudo bonito. O nome não foi por causa da princesa; foi porque, quando ela nasceu, a guerra estava Ui em cima, num quadrilátero, num cantioho de Angola, peno do rio Lueos. Dá-se a independência e a povoaçãozinha que se chamava Luso,a capital, passou a chamar-se Luena, que virou nome de cidade.

EllIão, em 1962, chega aqui o ]osl Lima de Azevedo. E cria-se um burtau não-oficial do MPLA na minha casa. Tínhamos uma

grande atividade no meio intelectual: Candido Mendes, Eduardo Ponela, que eram figuras da fpoca,josé Honório Rodrigues e Jorge Amado.ls O Jorge Amado tem um famoso anigo, "Saudações a Buanga Felê, chefe da luta em Angola".16 E Matia Yedda Linhares, minha mestra. Essa era a atuação junto aos intelectuais, que nessa época estavam concentrados no Instituto Brasileiro de Esmdos Afro-Asiáticos, que havia sido fundado por Jánio Quadros e é fundamental para explicar, mais tarde, a criação do Centro de EstudosAfro-Asiáticos. Em 196I,Can­dido Mendes era chefe de Assessoria Técnica Internacional de jãnio Quadros, José Aparecido era seu secretário panicular, e Golbery do Couto e Silva era o chefe de gabinete da secretaria geral do Conselho de Segurança Nacional. Esses três fize­ram amizade e, naquela Brasilia da época, de 1961, passavam as noites jUntos. Mais tarde, quando Golbery está fazendo a distensão de Geisel, Candido era membro da Comissão de Justiça e Paz do Vaticano, alfm de secretário aqui. Então Candido, com a Igreja, e Golbery, eram os grandes interlocutores. Isso está um pouco fora da ordem, mas é a razão principal por que o Centro de Estudos Afro-Asiáticos fazia cursos de guerrilha em plena Ipanema, em 1974, e o II Exército não invadia. Eram Candido, a figura vital do Vaticano, e Golbery, os dois interlocutores.

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EMrn>ista Ci)m lDst Maria NUPln Pereira

Bom, ponanto: papel do MPLA no Brasil? Intelectuais realizavam con­fertncias, e este locutor que vos fala vivia pendurado nas faculdades fazendo caro lBZes, murais, confertncw e tal. Eu lembro que uma vez, no Sindicato dos Meta· lúrgicos, um ceno senhor nlo gostOU nada, porque tinha fotografias de guerri· lhas. O senborentrou e avisaram: "Tem um painel ali da luta de Angola." Ele não olhou. Entrou em frente. Era Luiz Carlos Prestes. Para ele, nós �ramos agentes provocadores; nlo era hora de falar de guerrilba naqude tempo. E o velho tinha razfio. Nem tinha mio de ter razão, porque acabamos perdendo por fazer baru­lho, perdendo por nlo fazer resistência ... Enfim, era da �.

Outra coisa importante,que tocou muitoos ponugueses, foi a atuaçlo de Lima de Azevedo nos sindicatos. Imagine os portuários boicotando o envio de feijlodo Brasil para Ponugal! E outrascoisasassim, pequenas, mas que na �poca eram significativas. Depois at� vinha o contrabando de armas, a esquerda tinha acesso a armas de fora ... Era um projeto meio utópico.

Ora bem, por que 1962 foi um ano imporunte? Não foi só porque Ango­la estava em luta. Foi também porque em Angola havia dois movimentos rivais e nós estávamos perdendo para o nosso rivalP Era um periodo dificRimo para nós. O engraçado � que sofríamos na África e, no Brasil, tinha um buTtalainJao va­gabundo que fazia um grande estardalhaço e chegava a aparecer na imprensa in­ternacional.

No final de 1962 criamos o Movimento Afro-Brasileiro Pró-Libenação de Angola, o Mabla, primeiro em São Paulo e depois no Rio. Em 1963 foi a radi­calizaçlo. Nesse ano, aconteceu um grande congresso internacional do te�iro mundo na Bahia. Toda a nossa delegação foi: Angola e o PAlGC, o Partido Afri· cano da Independtncia da Guin� e Cabo Verde, de que eu também era auxiliar. Nossa atuação começou entlo a incomodar os ponugueses, primeiro os comen­dadores, depois a própria PlDE, a policia política de Sall1Jlf. Ii

A prisão mt 1964

Em 1963, o movimento cresceu e tivemos um jogo pollLico imponante. Lacerda começou apontando a sua candidatura para 1965; Lacerda e Kubits­chek. Ora bem, ai � um papel que só mesmo vocnacrerlitando em mim e nos jor­nais da época Vejamos o que era a comunidade portuguesa no Rio de Janeiro em 1963,64. Não havia Casas da Banha, não havia supermercados. Entio, como � que a senhora comprava o arroz, o feijão? Na mercearia da esquina. Essa mercea­ria da esquina era fornecida pt'los grandes grossistas, os atacadistas da famosa rua do Acre. Essa erll uma força organizada pt'lo governo porruguês. Estávamos naquele fio da navalha de Salazar: em 1963começa a guerra na Guin�-Bissau - jj não � só Angola -e Salazar diz: "O grande apoio que nós vamos ter � o Brasil. O

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uhldos Mst6ricos e 2007 - 39

Brasil vai ser estratégico para a defesa do nosso plano. Primeiro, temos o Tratado de Amizade e Consulta:19 o Brasil nada pode fazer, e não faz, sem nos consultar. O Jânio Quadros já foi embora e esse João Goularl, safado, a gente tem que domar."

O Rio de Janeiro, do ponto de vista do imigrante, era politicamente por· tuguês, como São Paulo é italiano. A comunidade era grande, porque ela tinha um sustenuiculo interno - os atacadistas - e 17 instituições ponuguesas: Casa das Beiras, Casa do Douro, Casa do Minha ... Inocentes casas com um poder de arrecadação de dinheiro enorme. Aquele português imigrante que ainda chegou nos anos 50 para ser balconista de uma padaria obtinha um financiamento da Caixa Geral dos Depósitos para poder comprar seu botequim, sua padaria, e ali· mentava o poder econômico da comunidade. E o poder político não precisava de dinheiro. O Itamaraty era no Rio de Janeiro. A capacidade de Salazar vir distri· buir louvores, "puxa·saquismos", comendas, aos chefes da comunidade ponu­guesa era enorme. João Neves da Fontoura dizia que nós não tínhamos polltica externa com Portugal; Portugal era famnia e com famflia não há política exter­na.20 Salazar tinha um grande investimento: cinco jornais, três imponantes pro­gramas em emissoras de rádio ... A comunidade portuguesa marcava presença. Nós tínhamos aqui deputados salazaristas mais salazaristaS do que 05 de Portu­gal.

Lacerda olha para todo este aparato, que já o ajudara a eleger·se governa­dor,e em 1963,64 está se preparando para a presidência. Agora vou direto ao as­sunto: em 1964, Lacerda facilita a instalação da PlDE no Brasil, sem grandes au­torizações do governo central. Era a Gestapo portuguesa, como se dizia. A PlDE se instala secretamente no Brasil, na rua Santa Clara, nO 36, aquele prédiO gran­de, e começa acompanhando o nosso movimento, o movimento dos nacionalis­tas africanos. Eu me lembro bem do agente da PIDE, todos nós sabíamos que o velho Gusmão era da PIDE. Mas achávamos que o Gusmão não podia fazer gran· de mal. Eu então, que era desse tipo, sempre tive que engolir papel porque sem· pre fui descuidado com segurança.

Há o golpe em 1964, e Lacerda consegue que a Marinha se associe à PIDE para controlar as nossas vidas e sobrerudo as nossas prisões. Então vem um episódio revelador que está nos jornais. Eu sou preso em 8 de abril, me libe· ram, mas no dia 21 de junho vem nova priüo. Sou preso na minha casa junto com o José Manuel Gonçalves, com o Lima de Azevedo e com um português, Amônia Louro, que era antifascista e DOS ajudava. Minha atuação era discreta, de OffiCl�, e SÓ apareceu porque a sede era na minba casa. Por isso é que, quando houveas prisões, o meu dossiê era enorme-assim conta Candido, queo Golbery mostrou a ele-e os outros d05Siês eram menores. Eu disse: "Professor Candido,

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o M.PLA era na minha casa. Pomnto, os documentos apanhados, em geral, eram imputados a mim porque a casa era minha."

No dia seguinte li minha prisão é que se revela a trama: aparece a Mari­nba hiem casa para fazer a limpeza total, desmontar a televisão, a minha bibliote­ca vai toda. O agente da Marinha ficou famoso depois como torturador - Joio Maria Perestrelo Fdjó, comandame de mar-e-guerra. Toda essa gente era muito suave naquela época, muito delicada, muito espe:rlll, gente que treinava. E a Ma­rinha estava um pouco interessada em nÓS porque éramos um grupo que propa­gava a guerril ha,eeles tinham tido aexperiência dos marinheiros.ll Isso ossedu­ziu um pouco a tomar ronla do caso angolano eos levou a aceitar a PIDE. Quan­do o comandante Feijó vai inspecionar minha casa, vem um senhor rom quem Feijó fala em inglês, E Filomena, minha mulher, nio é craque em inglês, mas sabe o suficiente para participar. Ela era daquela aristocracia velha angolana, a chamada sociedade crioula, educada nos bons coUgios, falava francês e inglês ­Constincia Filomena Ramos da Cruz Nunes Pereira. Daqui a pouco o coman­dante Feijóencontra um documemoque incriminava diretamente a minha mu­lher como pertencente li Organizaçio da Mulher Angolana. Ela estava com um filho no colo e com a barriga de seis meses - eu tenho dois filhos que nasceram em menos de um ano. AI o Feij6 disse: "Dona Filomena, guarda esse documen­to." O cara da PIDE vem e avança: ''O que é isso?" Ar o comandante Fdjó ficou ofendido e disse: "Dona Filomena, eu quero apresentar à senhora O agente Pas­sos da PIDE," E dona Filomena: "Muito prazer," Veterana, já tinha pegado ou­traS prisões minhas, no dia seguinte, com muita iniciativa, foi ao jornal. Dois ou trb dias depois eu sei disso na prisio. Estou já na ilha das Cobras e vejo I man­chete da Últinw Hora: "PIDE prende angolanos no Brasil." rllomena de dedo em riste com o filho no colo -linda me lembro da fotografia da Última Hora. AI foi uma denúncia. Depois O Globo, em resposta, publicou o dossié todo apreen­dido pelo Cenimar.22

Nessa segunda prisão, sou interrogado por um advogado brasileiro com as perguntas de Angola, mas aquilo jácom um ctrto constnmgimento. Ao fim de SO dias, sou solto, com habtas wrpus. Essa prislo foi OUtra escola. Olha a minha cela: Marighella, Mário Alves, Açio Popular .. .ll Era a chamada cela das forças populares, porque eram várias esquerdas, nto f:? Mlrigbelll, meu colega de col­chio, que nunca se queixou de mim. Depois as pessoas me contaram que eu me mexia de noite e mexia no ferimento dele, que ele foi baleado, Foi uma prisão muito rica,eu cheguei um tempoa ser vice-xerife, portanto, a organizaras eoisas. Eu lembro que, no dia em que fui solto, fui solto às três horas, e às cinco eu ainda estaVI fazendo a pauta para o dia: era uma conferência sobre centralismo demo­crático dada por Ivan Ribeiro.24 Ivan Ribeiro era da sala conservadora do Parti-

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do, 10 lado. A nossa era I das forças populares e, defronte, aquda sala que nunal me sai da cabeça: a dos ferroviários e portuários. Minha senhora, um mome de laras de sardinha. de conserva! Aquilo � que era sala. O que eu apanhei? Coro­nhada. Na hora em que eu ia pegar sabão em pó nos olhos, foi preso o filho do ge. neral Resende.!S Entlo amansou a repressão. Fui salvo pelo gongo. Ainda tinha uma coisa interessante: quandneu era deslocado deuma prisão para outra,quan' do passamos da PIDE para a ilha das Cobras, minha mulher era avisada por um daqueles guardinhas pret05. .. Porque eu era casado com preta; Louro, casado com preta;JoséGonçalves. namorando com preta,enlã0tera uma coisa estranha para aqueles soldados e marinheiros pretOs. E a gente: "Africa, África ..... Tinha· mos uma popularidade muito grande.

AnttJ da sua pris40, o senhorvivio de quê, aqui? O senhor trOuxe a sua mulher para cá, o fomílio morava aqui. ..

Isso: vivemos dequ�? Vou daro depoimento do detetive do Dops me in· terrogando: "Profissão?" "Proprietário." "Gente, nós temos um capitalista aqui!" Fui teremprego s6 em 1964, antes de 31 de março, no Minist�rio da Edu· alçlo, no Programa Nacional de Alfabetizaçto, m�todo Paulo Freire. Não fui despedido, o meu emprego � que desapareceu. Eu vivia da herança de papai, aqueles bens imediatamente disponfveis. Depois virei propagandista mfdico, de produtos farmac!uticos. Tive umas vime e poucas profissões, mais ou menos.

Do IlIstituto Brasileiro tle Estudos Ajro..Asiáricos ao CEAA

Gostaríamos tk entmdn melhor o que aconltCtu durante o gootrr1b Jtinio Quadros em rtlação d AfrUa, indusiw a pr6pria criaç40 do Instituto Bratikiro tk EsnuiM A.tnrAsiáticos.

Ao se apagar o governo Jânio. a üniC8 coisa que ficou em relaçlo l África, no plano do concreto, foram aqueles estudantes bolsistlls. A polltica externa in· dependente continuou, e at� conseguiu ser mais sólida. DeJAnio há um episódio interessante; ele abre duas embaixadas, uma em Gana, a outra no Senegal, e en· via Candido Mendes a Gana para anunciar essa abertura. Z6 Candido Mendes, di· ante de Kwame N'Krumah, presidente de Gana,l1 explica: "Senhor presidente, O meu presideDle vai enviar para o senhor um embaixador negro." Quem seria o embaixador negro? Raimundo Sou� Dantas, jornalistll, voc:k conhecem. N'Krumah disse: "Ótimo, mas diga ao seu presidente para mandar Sou� Dan· tas para a Suécia e venha o senhor para ci." Eu ouvi isso. Claro, Candido esconde o "venba o senhor para oi", que ele só revela quando fala para estrangeiros, em inglês. Porque N'Krumah ficou entusiasmado com aquele brasileiro falando muito bem quatro Unguas, sabendo as coisas da África. Candido era um pouco li·

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Ellfrtl'jsta '0'" losl Maria NUrlts etreira

gado aJulius Nyerere, presidente da Tanzânia, aquele presidente do "socialismo santo", que, por ser catõlico, era amizade do Vadeano.21 Alilis, o embaixador não era para s.ero Souza Dantas, era para sere Milton Santos, que estava na França na época.NO Souza Dantas eslava disponível e, assim, foi o escolhido para ser o pri­meiro embaixador negro brasileiro em Gana.

a período de Jãnio Quadros tinha tido ambigüidade em relação às colô­nias portuguesas, devido ao peso político que Ponugal linha no nosso país. Ve­jam só: enquanto o representante brasileiro se abstinha, até os Estados Unidos votaram contra o colonialismo português em Angola, numa reunião do Conse­lho de Segurança da ONU, em 1961. O VOlO não foi vencedor porque França e Inglaterra vetaram. O Brasil votou quase s.empre em abstenção; só votou uma vez favorável à descolonização de Angola, no governo João Goulart.

Jãnio foram sete meses eJoão Goulart foram dois anos em termos de ati­vidade diplom:hica possível. Nes$3. época,a luta em Angola estava feroz-não do pontO de vista militar, mas do ponto de vista poUtico. Os americanos ainda esta­vam hesitando entre apoiar a independência de Angola e não apoiar. Isso era um problema entre o Pentágono e o Departamento de Estado, porque a grande arma de Salazar eram as bases dos Açores, indispensáveis para o Pentágono e para a Otan. Nós estlivamos no ano da crise dos mlsseis, ano de guerra fria, derrota da França na Argélia, e ai os americanos tiveram que abandonar a África e apoiar o oolonialismo português.lO O dilema se repetiu em 1973, quando Marcello Caeta­no não autorizou os aviões americanos a socorrer Israel em plena guerra. Henry Kissinger mandou uma carta desesperada, mais ou menos nesses termos: "Se­nhor presidente, por favor me mande autorização por escrito até as oito da noite, porque depois dessa hora os aviões americanos vão pousar nos Açores. nll Parecia que Kissinger estava pedindo por misericórdia, porque senão teria que invadir os Açores desrespeitando o governo. AI Marcello Caetano passou a carta.

Vamos deixar Jãnio e vamos entrar em Candido. Candido Mendes é de 1928; portanto, em 1960,ele tinha 32, 33 anos. Era um menino brilhante, forma­do na PUC em direito, com doutorado, que dava aulas na Fundação Getulio Var­gas. Atraiu a atenção da equipe de Jãnio Quadros e foi s.er chefe da Assessoria Técnica Internacional do presideme. Entrou com aquela vitalidade de traçar uma polltica externa brasileira, mas especialmente a política externa nova, aqui­lo que iria ser criado, a polftica para o terceiro mundo. Então: África. Candido e Eduardo Ponela sentiram a necessidade de ter um gabinete de estudos, um insti­tulO que pudesse, primeiro, reunir aquela elite que estava muito predisposta a discutir o tema: José Hon6rio Rodrigues, San Tiago Dantas, Maria Yedda Li­nhares, Jorge Amado, Afonso Arinos.

O lnstituto Brasileiro de Estudos Afro-Asi�ticos foi criado pela Presi­dência da República em abril de 1961 para produzir políticas para o ltamaraty.12

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Ou melhor, foi ftilO para conar um pouco as bases do ltamaraty,que nlo evoluiu, no governo Jlnio Quadros, para uma polftica de abenura para o mundo, não acompanhou a chamada política externa independente. Afonso Arinos, que foi ministro do Jlnio, nlo era da carreira. A política do Itamaraty era uma política deapoioaocolonialismo ponuguês. Williams Gonçalves tem uma tese dedouto­rado que � bisica sobre Portugal e Brasii.3) Por que nós entramos numa política de"seguidismo" de Portugal? Nãoera a nossa marca. Vamos lembrar rapidinho: estamos em 1944, Getúlio Vargas faz aquela barganha Alemanha-Estados Uni­dos, que todos conhecem ... Eu vou resumir, simplificar, portanto, errar. Nós ga­nhamos uma importAntia grande: uma Amfrica do Sul neutra ou hostil, uma Argentina que era pior que nós, um Chile que nlo ia muito distante, enquanto nós nos alinhamos com os Estados Unidos Lriplamente: politicamente; com ba­ses em Natal e em Slo Luis do Maranhão-uma baseúnha lXQucna -, e com par­ticipação na guerra. Quem, na Am�rica Latina, participou na guerra? Claro que não foram OS seiscentos mil africanos que participaram da Segunda Guerra Mundial. Foram 24 mil brasileiros. Isso nos deu uma relevlocia polldca. Os Estados Unidos queriam que nós penencbsemos ao Conselho de Segurança da ONU.34 Aí a União Soviética diz: "Não, espera li, colônia n:!io vale." Então nio penencemos. Mas fomos fundadores e Ponugal nlio foi. Ponusal foi entrarsóem 19S5.1s Então nós tlnhamos uma importAncia.

Eis que tennina a guerra, e em 1947 começa o risco de Itália e França, com panidos comunistas no governo, o risco de Berlim ... 36 É a guerra fria, que traz toda a tensão americana para a Europa: Plano Marshall e tai. A gente sobre­viveu ao go\'emo Dutra, e entra Getúlio, que sente necessidade de um contra­pontO europeu. Repare: na guerra, nós tlnhamos ganho, digamos, a maior ex­pressão junto aos americanos na Am�rica do Sul. Depois perdemos isso e fica­mos l procura de uma nova macroparceria, que seria a Europa. Mas como entrar na Europa? A porta do cavalo era Portugal. Daí o Getúlio fazer aquele Tratado de Amizade e Consulta com Portugal, queera uma satelitização da política brasilei­ra a Portugal. Essa satelitização era visível no fonnal: tínhamos que consultar Ponuga!. O que objelivivamos eram os capitais europeus, que afinal acabaram vindo. EntAo, essa ligação nossa com PorlUgal � fruto do ffllC3$SO de uma reava­liação do Brasil nos inleresses americanos, que vai vir logo em seguida, mas vai vir com Fidel Castro.

o sm1wr tinha contatO tom as atividades do Instituto Brasileiro de EJ/IIdOf Afro-Asiáticos?

Eu chego aqui em janeiro de 1962, no governo JOOo Goulart, e já encon­tro o Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos no prMio do Ministério da Educação, o Palácio Capanema, no Rio de Janeiro, que era onde estava a intelec-

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Entrevista a}ln José Maria Nunes Pereira

tualidade que apoiava o órgão. Ele fazia duas coisas: aquilo que a gente nlio via, que eram os relatórios para o presidente, e uma atividade externa marcada por conferéncias,cursose livros. Esses livros foram em número de cinco ou seis: um livro sobre África, com uma entrevista com Mário PintO de Andrade; um sobre Israel; Candido faz um belo Iivrão sobre nacionalismo e desenvolvimento; Pereira Soares, também, outro sobre desenvolvimento ... As conferências tinham impacto; eram realizadas ali no Ministério de Educação. Isso tudo em 1962, 63. Em 1963 os homens do Instituto estavam muito comprometidos também com a própria crise: retomamos o presidencialismo em janeiro e, depois ... Eu me lembro que foi o ano da criação da Organizaçào da Unidade Africana, a OUA, em maio.37

Uma pergunta: o que havia (Ú "asiático" no Instituto Brasileiro (Ú Estudos Afro-Asiáticos e no Centro de Estudos Afro-AsiáricosJ

Isso é uma liçãozinba, e das boas. A tradiÇio européia e americana, 50-brerudo européia, era de estudos de África e eslUdos do Oriente, o que incluía do mundo érabe ao mundo hindu,ao mundo chinês. Estudos afro-orientais. O cen­tro de estudos da Babia chama-se Centro de Estudos Afro-Orientais.lI Em 1955, com a grande Conferência de Bandung, ocorreu o surgimento internacional dos países afro-asiéticos, úio-africanos até, na época.19 Consagrou-se a expressão "afro-asiético" e entrou o Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiéticos, filho dileto desse espírito de Bandung, de Candido. Mais tarde, ao criarmos o Centro de Estudos Afro-Asiáticos, em 1973, Candido tinha a nostalgia de reviver, na ini­ciativa privada, na sua universidade, o projeto e o espírito do Instituto Brasil eiro de Estudos Afro-Asiéticos. E eu analiso a linha histórica dessas denominações que correspondem a olhares diferentes. Oolharafro-oriental é um olhar colonial -embora com lucidez. com paternalismo. E o afro-asiético é a época da descolo­nização, da grande unidade afro-asiética, que depois vai ser tricontinental. Nós tivemos,de 1955 a 1974, 05 nossos anos de fogo,que foram os anos em que, graças àguerra fria e à descolonização, fizemos cara feia para o mundo. Em 1955 e 1956: Bandung e Suez.40 Suez foi o enterro solene das veleidades franco-britAnicas de restaurar o colonialismo.

Vamos reconstituir o processo que wi dtJ Insriluto até afimdapio dtJ Centro tk Estudos Afro-Asiátitos, em /9731 O que acontece nesse perúxWJ

])qJois de 1964, o Instituto foi absorvido pelo Ministério das Relações Exteriores e desapareceu. Candido diz que milhares de livros do Instituto foram parar no Centro de Estudos Afro.-Asiéticos, mas não foi bem assim. A bibüOlCCa do Instituto ficou absorvida pelo ltamaraty e nunca veio para o Afro-Asiático. O que aconteceu foi que encontraram umas cenlenas de volumes daqueles cinco li­vros, com mofo etc., no Palácio Capanema, e levaram para as instalações do Centro

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de Esrudos Afro-Asiãticos,em Ipanema. Aquilo nem foi aproveitado. A bibliote­ca toda do Centro, durante meses, não teveum livro de fora que não fosse meu.

Em 1966, antes da fundação do Afro-Asiático, nós inventamos outra confusão: uma grande frente de movimento negro com movimento africano. Foi a mais ampla frente: ia desde a nossa aristocracia do alto da Tijuca, aqueles mfdi­cos riquíssimos, atf Tião Medonho e os artistas de cinema, passando por aqueles professores negros do Pedro 11 e pelo grande grupo de jovens atores - Milton Gonçalves, Antônio Sampaio, hoje conhecido como Pitanga, a nossa Ruth, Abdias do Nascimento na chefia, Antônio Olinto ... �1 E organizamos, de 1965 para 1966, a Sociedade Africana de Culrura, sob o telO acolhedor da embaixada do Senegal no Rio de Janeiro.

Por que fizemos a Sociedade Africana de Cultura? Por causa do grande Festival de Arte Negra de Dacar.42 A embaixada mais ativa no Brasil era a embai­xada do Senegal, chefiada por Henri Senghor, um sobrinho de Uopold Seng­hor.41 Esse festival mobiliza a comunidade artística negra. Vou lembrar aqui a cena: estou na embaixada do Senegal, em abril de 1966, numa das noites mais maravilhosas da minha vida. Aqui está Solano Trindade conversando comigo; aqui estio Donga, Pixinguinha, Paulinho da Viola, está aquelecompositore pin­tornai!. Heitor dos Prazeres.oU Aqui está Clementina deJesus,4s que, pela prime­ira vez, conhece uma africana, que f a minha mulher. Aqui estão os paulistas, o Eduardo Oliveira e Oliveira, o grande Adalberto Camargo, que naquele tempo era só dono de empresa de táxi, aqui está Oswaldo de Camargo, outro poeta pau­lista ... -46 Aqui estou eu e Ataulfo Alves.47 Minha glÓria: naquele dia acompanhei Alaulfo Alves com caixinha de fósforo. Mas ele não soube dar valor ... Olhou para mim e disse: "Tu enfeita como um branco." "Mestre,eu estou diante do senhore não ia enfeitar?!"

No rescaldo disso esboçou-se a Sociedade Africana de Culrura, que não chegou a vingar. Eu me lembro que foiJoel Rufino dos Santos" o encarregado de me participar: "Zé, tu fs um cara pra frente, nada tem a ver contigo ..... - foi a pri­meira vez que ouvi essa I!Xpres�o: um cara "pra frente". "Isso nãoé contigo, mas não vamos com vocês. Nós vamos nos separar." Eu disse: "Pena, porque a gente ia reunir uma coisa frágil, mas uma coisa ampla." A gente depois podia até fazer coisas paralelas, mas pegava o circuito da embaixada do Senegal. Não fizemos. E eles criaram o Grupo Ação, um grupo de teatro, que representou Memórias de um sargenUJ de milfCÚJJ.

A criação do CEAA

Em 1972 acontece um episódio marcante, que inicia esse nosso capítulo, que e a criação do Centro de Estudos Afro-Asiáticos. Candido Mendes, quando

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Entrevista rum 'DS! Maria Nlln�s Pereira

tinha tempo, dava um curso na pue do Rio de Janeiro sobre África. Naquele ano, o curso era sociologia polftica africana, no qual me inscrevi como ouvinte e para o qual acabei contribuindo, trazendo o mapa da África etc. Ele se lembrou de mim do Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos. Naquele momento eu estava trabalhando na Enciclopédia Mirador, onde eu tinha sido aprovado por Antônio Houaiss por causa da biblioteca. De todos os empregos da minha vida, nio há um que nlo tenha sido influenciado pelo fato de eu ter uma biblioteca. A Enciclopédia foi o mais eyidentei depois da Enciclopédia, o Afro-Asiático; de­pois do Afro-Asiático, os projetos que ganhei. Até o próprio propagandista: eu não devia ser propagandista porque havia sido aluno de medicina, mas acabaram

percebendo que eu não voltariaaseraluno de medicina e tinha bons liyros e bom conhecimento. Então essa é uma justificativa que eu dou para a faroma: aquela biblioteca CUStoU dois apanamentos, mas ...

Pois bem, lá estava eu na Mirador Internacional, e mais ainda: o minis­trO Delfim Neto estava precisando deum trabalho sobre África e me disse: "Qual das três Áfricas é a que vale mais a pena? A África do Norte, a África negra, ou aquela África branca, África do Sul, Angola, Moçambique e tal?"49 Ele queria apostar nessa África doapart/wid e do colonialismo ponuguês. Não porque fosse a favor do colonialismo. Para ele era o mais rentãvel. E o Itamaraty estava, mes­mo timidamente, defendendo a África do None e a negra. Por vias travessas o Delfim chegou a mim: seu chefe de gabinete, o embaixador José Maria Vilar de Queiroz, 50 me procurou, e eu passei a fazer também esse trabalho. Então essa conjuntura toda me leva a substituirCandido Mendes. Não de imediato. Os pro­fessores que substitulram Candido nesse curso de sociologia polftica africana, quando ele tinha que viajar a serviço do Vaticano, ou a serviço das coisas dele, eram Paulo de Castro, um português antigo exilado aqui; Samuel Pinheiro Gui­marães,eeu me lembro que o último foi Luiz Albeno Babia.11 O Bahia não tinha de fato o conhecimento e teve dificuldades em sua aula. Eu nlo intervinha, mas daquela vez eu intervim. E ele disse: "Estou muitO bem atuali7.ado, porque estou aqui com um esrudo que o ministro Delfim Neto me deu ... " Contei a Candido, rimo-nos juntos.

Terminou o curso e fui a Candido para ele corrigir as provas. "Não, você corrige." Bom, sintetizando: da última vezera para ele dar as notas, eu dei as no­tas e, quando estava no último dia, eu disse: "Bom, professorCandido, então me despeço, muito obrigado ..... "Não, senhor. O senhor vai dar o curso no ano que vem comigo." E ele me dava ochequezinho integral dele no fina) do mês. Eu dis­se: "É bom, professor Candido, porque eu tenho uma biblioteca em casa ..... ''O senhor tem uns livros em casa?" "� uma bib lioteca, professorCandido. Não che­ga a dois mil, mas tem um arquivo." Ele gritou para o assistente: "Vicente Barre-

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to, vem aqui! Vamos criar o Centro de Documentação Africana." Então, em 30 segundos criamos o Centro de Documentação Africana. Mas foi em 30 segundos, porque nem entramos na sala. Eu estava na ante-sala, o Vicente Barreto entra e, quando nos sentamos: "Predsamosde um tinanciamento ... lnstilUto de Estudos Afro·Asiéticos ... " O nome do Instituto era Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos, mas naquele momento ele nem falou nisso. Isso l: imponante para ver como as decisões de Candido eram fulminantes. Ele acenava, no tempo em que as coisas podiam sermais facilmente acenadas e havia mais recursos. Na­quele ano, Candido Mendes criou um centro semelhante ao Clube de Roma,52 acerca do desenvolvimento - havia um pessimismo sobre a possibilidade de de­senvolvimento mundial -, um centro sobre norte-sul, o Centro de Estudos Afro-Asiáticos, echamou o meu velho adorado Hl:lio Silva, que fundou o Centro de Memória SociaJ.H

Como foi criado o Centro? Demorou uns três meses para ser criado, por­que nio havia saJa. Me reunia em ca�s, ele pagava o meu salário, pagava a meta­de do �lário da secretária e eu pagava a outra metade. Depois ele pagou três pes­quisadores, metade, e eu a outra metade, com os verbetes que eu estava escreven­do ainda para a Enciclopédia Mirador. Era uma coisa assim de um amadorismo brilhante. Até abril de 1973, o centro funcionou na minha casa. Em abril conse· guimos três quartos de sa.la na Faculdade Candido Mendes de Ipanema, onde já havia a faculdade de economia e estava sendo abena a de direito. O outro um quarto de sala era do Instituto de Estudos Jurídicos do grande Helena Fragoso, nosso parceiro na Comissão de Justiça e Paz. S4 O Afro-Asiático foi criado com a colaboração gelltil da empresa Gato Preto de mudanças, que transportou de mio nha casa quatro estantes e oitocentos e poucos livros, trouxe os arquivos, uma máquina de escrever 32 Lenera e o ventilador. No depósito de móveis velhos da faculdade, consegui arrancar umas mesas. E assim foi criado.

Em janeiro, quando ainda nlio tínhamos sala, fui ao Colégio Santa Rita, em Botafogo, um colégio de crianças, aluguei uma saJa com aquelas cadeirinhas pequenas-nio as infantis, masas de criança-, e 30alunos se inscreveram no pri­meiro curso de introdução à história da África. Entre os alunos estavam pessoas imponantes: a mulher do Newton Carlos, de que eu nio me lembro o nome no momento; Fernando Lopes, que hoje é deputado, mas foi secn:tário de Fazenda e era uma pessoa importante no jogo Brasil-Angola; Edmundo Dias, professor titular da Unicamp; o velho Moacyr Góes, e Conceição, a esposa dele. Era assim uma platéia ... �� O gostoso foi quando eu entrei no gabinete de Candido e, com todo orgulho e empáfia, depositei o cheque da receita do curso. "O que é isso?" Porque tínhamos um contratO -era uma coisa romântica -, que dizia que todo dinheiro que eu fizesse com o Afro·Asiático, eu devolvia a Candido. Depois eu dava umas aulas em vestibular, porque eu era muito ligado ao professor Francis-

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Entrevista com lost Maria Nunes Pereira

co Falcon, e todo mundo sabia que no vestibular havia as perguntas de África. Então Zé Maria andava pelos colégios Anglo-Americano, São Vicente, e dava cursos.

Enfim,correu 1973 com cursos deextensio. Fizemos mais de uma dúzia de cursos de extensão. Uma vez Candido foi a Ipanema e abriu a porta errada. Quando abriu, estava um grupo de SO alunos assistindo ao Zé Maria falando de­sesperadamente da libertação da África. E Candido ficou surpreso. Agora vale uma nOla: estamos em 1973, naquele regurgitamento da linha dura,em que nem a PUCconseguia (eruma aula de história contemporânea com o teor que tinham nossas conferências sobre desenvolvimenlo africano, modelo de desenvolvi­mento japonês, história da África, onde guerrilha era o filme do dia - tudo por causa da impunidade que tínhamos dada a posiçao histórica e conjuntural de Candido. Então acho que é importante dizer que 1973 foi um ano de maturaçáo imponante, porque nós influenciamos as escolas superiores, a Uerj, a UFF e a PUc.

Como erafeUa a divulgação tÚsses cursos? Como as pessoas sabiam?

Nós tínhamos um grupo numeroso, com muita audiência. O Afro-Asi'­tico era o lugar aonde as pessoas iam às seis da tarde. Depois de terminar as aulas na PUc, era aquela coisa: "Vamos ver o Afro-Asi'lico, o que aconteceu na reva.. luçao mundial, na revolução africana. " Era assim. Quer dizer, isso tudo numa sa­linha em que não cabia meia dúzia. Mas a gente transbordava para uma sala de aula ali aberta. E não era só de África, era também de América Latina, que mais falta fazia. Não havia cursos de extensão na universidade naquela época. Nio ha­via textos de apoio. O professor dava um curso na PUC sobre Orienle Médio e quem dava os textos de apoio, asUTOXS, e quem fazia uma apostilazinha éramos nós. Então era um centro, assim, de eco.

Para ver o que era, vou contar um episódio que aconteceu em 1974. O Afro-Asiático rrabalhava aos domingos, porque todas as minhas coisas estavam lá e eu não podia fazer nada em casa. É a primeira vez que eu lenho esse raciocí­nio: é um centro em Ipanema, lugar inóspito pant uma universidade,em cima de uma igreja eIC., e aquilo deve ter atingido aléo pessoal da rua. Porque só assim eu explico o episódio que aconleceu. Estou num domingo trabalhando e vejo uns passos no corredor e uma pessoa meio perdida. A cara dele me assustou, porque cle é muito parecido com o pai, Kwame N'Krumah, o pai do pan-africanismo moderno, a quem Candido tinha ido avisar que jânio Quadros ia mandar um embaixador negro para Gana. Ele se apresentou: "Sou Francis N'Krumah, sou médico psiquiatra ... " E sentou-se e começamos a conversar. Antes de contar o resto, que é rápido, eu fico pensando: como é que aquele homem chegou ali? Ele se identificou como africano, naquela coisa de rua, e alguém disse: "África,

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África, ali!" Mandaram ele subir. Niúdamente. Não haveria outra hipótese. Mas aí N'Krumah senta·se ao meu lado e pouco depois ele tem um SUSto, porque ele estava olhando para mim e olhou para uás, onde estava o retrato do pai dele. Um retrato absolutamente não·oficial, úrado de um comlcio, que eu tinha mandado ampliar. Em seguida, levei·o à biblioteca: tinha livro do N'Krumah em ponu· guês, já naquela época, que é o Neocoú:milllismo, último estágio do imperialismo; ti­nha a autobiografia dele em espanhol, sublinhadinha; tinha My Li/e, dele tam· bém, em inglês, e tinha um estudo em francês. Mas o que mais o surpreendeu é que era tudo sublinhado em vermelho, verde, anotações ao lado e tal.

Já havitJ umj1uxo gratllÚ fk militanus e tk pessoas negras freqiienlandiJ o Afra-AriátUo, nesse nwmento?

Já. Isso com� em abril de 1974. No dia 21 de março, Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, in ventamos uma cerimônia e tivemos a ousadia de convidar Afonso Arinos, que topou.56 Nunca tinha havido uma ce· rimOnia comemorativa dessa data no Brasil. Afonso Arinos topando, o Jtama· raty mandou o embaixador Jaime Portella, que então chefiava a representação do Itamaraty no Rio de Janeiro, também vir. Foi uma surpresa para Candido, na· quele salão todo embele7.ado, em Ipanema. Foi o primeiro aparecimento, diga· mos, diplomático, do Afro·Asiático, um ano depois de ser criado.

Depois vêm da Bahia Juana Elbein dos Santos e o nosso Deoscoredes Maximiliano dos Santos, Mestre DidP' Esposa e marido. São muito amigos de Candido, há muito tempo, e vieram para cá com a idéia de fazer uma grande ex­posição de arte sacra afro·brasileira, com o acervo de Didi e o acervo dos museus da Bahia. Era um conjunto lindo. Eles criaram, na oponunidade, a Secneb, S0-ciedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil, que é uma das instituições cria· das a partir da freqüência no Afro-Asiático. Ficamos com quatrO ou cinco salões do Museu de Arte Moderna e abrimos com umshow de Gilbeno GiI,jards Maca· lé e Djalma Correa, grande percussionista. E o Itamaraty entrou: "Conferências aqui, não. Vocês vão fazer conferências na universidade." Então nós fomos fazer as conferencias sobre am e questões afro·brasileiras em Ipanema, com um público muito reduzido. Algumas oficinas eles permitiram fazer, como a peça de teatro "Por que Oxalá usa ekodidé", que foi um sucesso. S8 O show do Gilbeno Gil, do Ma· calé e do Djalma, naquele museu todo ocupado, deu um frenesi na turma negra. E agora nós vamos nos aproximando do momento em que o Afro·Asiático começa recebendo o pessoal negro. Na época, eu não me apercebi, mas tenho muito eco disso com as teses e estudos que têm sido feitos a esse respeito.S9

Eu sempre achava que movimento negro era movimento negro. Eu ti· nha feito a experiência em 1966, contei para vocês, da grande organização negra. Mas depois eu disse: "Não. A função do Afro-Asiático - até a expressão que eu

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Entrtvista com JOft Maria NlmtS Penira

usava era esta - será ser um almoxarifado do movimento negro. Aqui eles terio todos os livros sobre África, todos os livros sobre negro no Brasil." O que quero dizer com isso? uNão vamos bancar 6rgão militante do movimento negro. N6s somos metade brancos e metade africanos, então não vamos fazer isso." Esse meu propósito foi ultrapassado pelos acontecimentos. Atl!:, inclusive, depois, o Afro-Asiático foi durante muitos anos, atl!: 1986, a única instituição na hist6ria da universidade brasileira em que a maioria dos dirigentes, pesquisadores, tkni­cos e funcionários era negra. Mas isso naturn1mente: cinco secretárias concorri­am, as cinco eram negras. Depois, mais rarde, fizemos concursos financiados pela Ford, e aI, sim, os concu�s eram para estudantes negros que tivessem con­dições de fazer mestrado e doutorado. AI a palavra negro apareceu mesmo. Mas antes não, era natural.

Bom, feira essa nota prévia da estratl!;gia que tínhamos de sermos um al­moxarifado, vohemos a abril de 1974. Uma professora da UFF, Maria Berriel,es­tava fazendo, em suas aulas, uma pesquisa sobre um aspeto do racismo brasileiro, e não tinha livros suficientes na biblioteca da UFF. Então ela disse: "Olha, vocês vão ao Afro-Asiático, que lá tem uma boa biblioteca." E começaram a aparecer, eu sem me aperceber muito bem, aqueles dois, três, quatro negros. Ao mesmo tempo, a minha cunhada, que é nome hist6rico do movimento, Beatriz Nasci­mento, irmã de minha segunda mulher, Maria Isabel do Nascimento, havia pu­blicadodois artigos na revista Vozes. Vendo aqueles alunos, eu disse: "Vem cá, va· mos nos reunir aqui aos sábados. Tem aqui os textos de Bearriz e nós podlamos discutir ..... E no primeiro sábado eu me lembro que foram umas 13 pessoas. Logo ao fim de cinco sábados eram 40, 50.

40, 50 negros brasileiros? Negros brasileiros. Apareceram uns branquinhos, uns rrês ou quatro.

Sabes o que I!:? Me veio agora ao pensameOloa frase: não tínhamos tempo para os brancos. Quer dizer, eu sou branco, mas sou aculturado. Vamos explicar: n6s, para uma discussão proficua, não tínhamos tempo de explicar aos brancos as coi· sas básicas do racismo que já sabíamos. Emão os brancos foram mais deixados para o lado e acabaram não frequentando. O certo I!: que aquilo era impressionan­te. Depois das semanas afro-brasileiras que acomeceram no MAM em junho todo, a dimensão aumentou muito. Na chegada, eram grupos de três, de quatro, de cinco. Mas às dez da noite fechavam o pridio e então descia, e a palavra cena e científica I!: a "negrada", na praça Nossa Senhora da Paz. A hora da salda era a hora do impacto. E ningul!:m sala correndo para a fila do ônibus eentrava. Ficava aquilo ali vagando por Ipanema. Bom,eu vou adiantar, para depois não esquecer, que, ali por volta de setembro, Candido Mendes sofre a pressão do governo. Eu

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digo pressão do governo porque as pressões vinham sempre através do Golbery do Couto e Sil va. Nós estamos em 1974: a abertura geiseliana. lenta e tal. Em 1973 começam os ataques aos padres. e o meu Casaldáliga fazendo a revolução nos versos.60 Está na hora do conDito com a Igreja. Então Candido tinha a Igre.­ja e Golbery tinha Geisel - eram os dois dialogantes. Mas tudo que acontecia, Candido SÓ me dizia: "O general..." E eu já sabia o que era. Então Candido rece· be a pressão e diz para mim: "Se for preciso mistura uns brancos." Não foi pre­ciso misturar os brancos, porque Golbery controlou a situação. Mas quando es­tava mais agudo, nós paramos, porque eu tive que fazer uma importante via­gem 11 África, em 1974, e durante os dois meses em que viajei não tivemos reu­niões.

o que se discutia russas reuniões tU sábadc? Nós tínhamos cinco salas grandes 11 disposição, então era público médio

de 80. Distribuíamos ali por quatro, cinco salas os grupos e, durante a semana. um grupinho ia ao Afro-Asiático, escolhia os textOS que iriam motivar as discus­sões de dinimica de grupo aos sábados e fazia as cópias. Eram Carlos Alberto Medeiros, Paulo Roberto dos Santos, José Ricardo de Almeida ... 61 Esse grupi­nho fica meio institucionalizado, aí começa a chamar-se Grupo Afro-Brasileiro, que tinha assento dentro da Candido Mendes. Não recebia salário, mas era mais oficialmente aceito. Então o que havia? Havia um clima de fermentação que deu origem 11 criação, enrre 74 e 75, de quatro instituições: a Sociedade de Intercâm­bio Brasil-África, Sinba; o Instituto de PesquiSas das Culturas Negras, IPCN; o Centro de Estudos Afro-Brasileiros, Ceab. de Niterói, que Jogo se dil uiu. e o Gru­po de Trabalho André Rebouças, da UFE E dentro tfnhamos dois tipos de cor­rentes. Uma, de inspiração marxista: velhos militantes do Parti dão, normal­mente os mais antigos, os mais, digamos, consolidados. Eu era um desses casos, como o Vedo Ferreira, o Amauri Mendes ... 62 E o grupo acusado de "pr6-america­no", que eu acho que era o adequado para a época, por incrlvel que pareça. Esse era: "De que nós precisamos? De assumir uma identidade!' Uma misrura dos dois foi o que deu mais certo.

o movimento negro dos allOS 1970 e as mlldatJflJS no CEAA

Ora bem, o que tínhamos na I!!poca? Vamos começar pela conjuntura mais ampla. Essa conjuntura mais ampla i; marcada pelo "milagre brasileiro",63 resultado da repressão, mas tambl!!m responSável pelo maior número de estudan­tes negros na universidade. O milagre, o novo mercado de trabalho, o pêndulo da repressão-distensão ... Essaconjuntura brasileira é tingida de preto porum even-

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EntrrJ'ista (om 'osi Maria N.ITIIS Plrlira

to que, aparentemente, nada tem a ver: 0$ bailes soul dirigidos por Asfil6fio de Oliveira, o FiI6/" por Carlos Medeiros e outroS. 01'11 bem, os bailes sou/ eram tudo o quea gente precisava. Sabe o que � ver um preto bonito, dançando música f orle que dizia coisa à gente? Era o wul, a batida sou/, a letra, o vestir bem, o cabelo black ... Aquela música agitada, aquele icran iluminado. NÓs não tínhamos isso no nosso imaginário, nÓS tínhamos o samba. Com todo o respeito, meu Nei L0-pes, meu compadre, O sambinha nlio fala do meu problema. Fala da minha na­morada, mas não fala do meu problema. Primeiro: osamba não era de juventude, nlioera de garotada, no mfnimo isso. Segundo: começava a haver uma preocupa­ção em investir na beleza. A beleza nãoera SÓ o afro,era osapato, que el1l um sím­bolo da época, era a roupa justa. Esse era um clima amplo e local, brasileiro. Um clima de aparentes oportunidades, embora com uma desigualdade social cres­cente, mas uma desigualdade na qual uma faixa pequena, mas já razoável do pes­soal negro, entrava na univenidade.

Ao mesmo tempo, Ifnhamos a repressão e um Brasil que começava a rea­gir um pouquinhoaosefeilos quaseanestbico5 de 1968 a 1973. lsso,aqui. Agora, olhem para os Estados Unidos. O nosso movimento negro dos anos 1970 � filho de 1968. Temos duas realidades. Uma realidade americana: movimento dos di· reitos civis, com Manin Luthcr King, mas lamb�m com Malcolm X como con­Inl-imagem.65 E tfnhamos uma coisa que chegava a n6s, que o Afro-Asiático tra· úa em imprensa, fotos, filmes e slides: a guerrilha, a luta do negro de arma na mio, eganhando. Não era de arma na mão como os Dlacle. Panten e depois o FBt matando.66 Não. Era luta ganhando. A luta da Guin�,eDlão,era uma beleza. A de Angola, enfim, era pequena; a de Moçambique passava menos. Mas a da Guiné era, naquela época, estonteadamente vencedora, derrubava aviões. EI1I O máxi­mo. E tudo isso muito próximo. Era a primein. vez que tinhamos, pr6ximo a nós, a África na IIngua -direto em porluguês-, nl5 imagens, nos africanos que come­çaram a chegar. Então, a cultunl black wul, o movimento negro americano e o movimeDlo guerrilheiro na África de lfngua portuguesa doos uês sustentáculos dessa plataforma de nova luta do negro pela sua emancipação. E o Afro-Asiático é palco disso.

Em 1975, mais ou menos, as entidades começam a se criar, e os s,ábados perdem vez. Em vez de os sábados continuarem, o que continua? Os dias da se­mana. J:I nAo é mais reunir a05 sábados em grandes magotes, não. Se vai, na se­mana, fal'.er o curso do Afro-Asiático; se vai ler; se vio trOCar experi�ncias e idéi­as, organizar conjuntamente determinado evento. Nesse momeDlo nasce o jor­nal Sinba, que é vendido no Afro-Asi�tico, que era uma grande vitrineF Em 1977, a Inter-American Foundation financia o IPCN. E financia da melbor ma­neinl, com a compra de uma sede. É a primeira vez que uma organização conlem-

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estlldos históricos e 2007 - 39

porânea negra tem sede própria. Oque são organizações comemporâneas? São as que foram fundadas nessa década de 1970. Normalmente quem tem sede pró­pria? As nossas organizações sei:ulares: as irmandades, os clubes recreativos. Há, ponanto, OUtrO lugar para aglutinação, para movimento, e o Afro-Asiático não precisa mais exercer essa função.

Em 1979, recebemos o primeiro financiamento da Ford, que vai mudar o Afro-Asiático. Primeiro: a Ford não poderia e não estava interessada em finan­ciardirelamente um programa exclusivo de movimento negro. Seu interesse era ver até onde ia a evolução do Brasil em relação à África. Ela diz: "Eu quero ver como é essa política brasileira para a África." E escolhe a melhor instituição, onde já estava situado o oiflCe-boy ideal, que já tinha atuado antes e que estava promo para continuar a atuar. Uma instituição aulonomfssima, em que Candido não tinha tempo de mandar. Pega um intermediário, um acadêmico, Michael Tumer, negro americano de famIlia antilhana, que havia sido professor de histó­

ria.u Michael era uma pessoa que tinha feito Brasil e, quando era professor de história da África em Brasflia, pegava um aviãozinho por conta dele e vinha para as reuniões decisivas do Afro-Asiático, em 1977. 78,79. Por causa disso -depois ele volta para os Estados Unidos e fica disponível, a Ford o chama para ser o en· carregado do projeto. E ele torcia por nós, era dedicado, muito firme.

Entrementes chega aqui uma americana branca, repóner do Time Mogo­zine no Brasil, que namora um sul-africano, que está nos Es13dos Unidos e que ela queria que viesse para câ: "Qualquer salário serve ... " E fala com o Zé Maria, que em 20 minutos admite Victor Vockerodt. Esse aí é outro que feza história do Afro-Asiático. É um sul-africano colored, filho de xhosa com alemão -o avO era alemão. Pouco depois,João Carneiro desce de Angola, perseguido pelas lutas lá, vem e encontra emprego no Afro-Asiático. João Carneiro faleceu, era um dos nossos angolanos brancos. Depois, o Thierno Gueye, senegalês, que entra via Cindido. Esses eram nossos avulsos africanos, que passavam por aqui e ficavam. E falta o principal deles: Jacques d'Adesky, que está até hoje. Cidadão belga nas· cido em Ruanda, mestiço, com l,98m, a mãe tUlsi co pai belga, que, no pós-guer­ra, teve a ousadia - naquele tempo nunca se fazia isso - de tirar os cinco filhos mulatos de Ruanda e trazê-los para a Bélgica. Todos nós aqui dizemos: "Poxa, deixou a mãe sem os cinco meninos ... " O que os colonos mais faziam era deixar. EIe, não. Ele levou. Hoje, todos eles, exceto Christine, são funcionários da ONU, muito bem colocados. Eu os vi agora na Bahia. Pois bem, como é que essa gente aparece aqui? É nesse período aí, de 1977. 78, em que Candido consegue investir mais no Afro-Asi�tico. Pouco depois, em 1980, vai chegando Manuel Faustino, de Cabo Verde.69 Nós montamos um time! Este era o Afro-Asiático, agora ama­durecido para uma OUtra fase.

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Notas

J. Terreiro com organização matriar<:a1 fundado por escn.\"OS africanos procedentes do Daomé, atual Benin, a Casa das Minas, localizada em São LuIs, foi tombada pelo Instituto do Património Histórico e AnJsuco Nacional (Iphan) em 2002. Ver hup://www.n:vista-iphan. gov,br/materia.php?idz« e www.ufrna. br/canai$/gpminl/infonnacocs,asp, acesso em 21/3/2007.

2. João Francisco Lisboa (1812·1863) (oi jornalista, deputado provindal pelo Maranhlo e hislOriador. Ver htlp:llwww.

academia.org.br, acesso em 2815n007.

J. Amilcar Cabral (1924-1973) fundou o Panido Africano para a Independ�nda da Guin� e Cabo Verde (pAIGC) em 1956 e (oi um dos dirigentes da luta pela Jibenação da Guinê·Rissau. Em 1972, anunciou a criação de um gO\'cmo provisório nos territórios controlados pela guerrilha do PAIGC, mas foi auassinado pouco depois, em janeiro de 1973. Seu irmio, Luis de Almeida Cabral, tlmblm fundador do partido, foi o primeiro presidente da República de Guioe.Biuau após a independência, em 1974. Agostinho Neto (1922·1979), Ifder e fundador do Movimento Popular de Libenaçlo de Angola (MP LA), (oi o primeiro presideDle da Rcpüblica Popular de Angola, de 1975 I 1979. Eduardo Mondlane (1920·1969) (oi o primeiro diri�nte da Fn:nle de Libenaçlo de Moçambique (Frelimo). Samora Moisés Machel (1933-1986) tomou·se o IIder da Frelimo após a mone de Moodlane e foi o primeiro presidente de MoçambiQue após a proclamação da independência, em 25 de junho de 1975, pennanKendo no cargo atl sua morte por acidente de avião, na África do Sul. Marcdino dos SaDIos (1929), poeta e politico moçambicano, ocupou a

Entrevista '0111 Josl Mnria Nunes Pueira

vice·presidtncia da Frelimo e alguns a110S çargos do governo de Moçambique. Ver Almanaque Abril (2002), Enciclopt!dia Abril (1971), Lopes (2004), Grande Enciclopédia Larousse Cultural (1998) c www.pluraledilores.co.mzlPLE 04.lSp?area_2& ID=03, acesso em 28/1J2007.

4. A ancesu"llidade ê um valor civilintório presente em diversas culluras .fricanas. O "mais velbo� � o dbio, respeitado e respondvd, enU"e outras coisas, pela traDsmissio do conhecimento para as gerações rUturas.

5. A Prúe�eJtliicai1lll foi uma revista francesa, publicada em Paris e Daca.r a partir de 1947, Que tinha enm seus colaboradores escritores como Andrê Gide, Albcn Camus c Richard Wright, e intermediava IS infonnações Que chegavam da África, lomando conhecidos ruiO$ poetas negros de llngua francesa. 'lhtava·se de órgão importante para I difusão do movimento litertrio que ficou conhecido como Nigritudl e Que sUI"giu na dá:ada de 19M, reunindo produções Que valoriuvam o patrimônio cultural e a perspectiva negro·africana, em contfllposiçlo "­cultura ocidental.

6. Em 10 de novembro de 1961, um avião da TAp, que havia saldo de Casablanea, Marrocos, com destino a Lisboa, foi tomado em pleno vôo por seis guerrilheiros, comandados por Hermlnio da Palma Inácio, que obrigal"2m o piloto a fazer um vôo rasante sobre I cidade de Lisboa. Os guerrilheiros jogaram pela janela de emcrgtnda 100 mil panfletos com apelos 1 revolla popular contn a ditadura. Em seguida, o aviiio pousou em TAnger, Marrocos, onde 0$ guerrilheiros conseguiram asilo polftico. O seqüestro

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alI/dos lIisiúril;os . 2007 - 39

do na ... io Sanfa Maria ocorreu dez meses ames, em 19 de janeiro de 1961, e foi atem.do por lO membros da DirttÇio Revoludon:i.ria Ibttica de Libertaçio (DRIL), oposilores do ,.laurismo em Portugal. O na ... io ia de Portugal para . Am&ia. Central e IC"lIbou chegando, duas semanas depois, 10 portO bruilciro do Recife, onde os revolucionmos se enlCtPI1JU b .utoridades brasileiras e pediram asilo polltiro. O assalto 10 Sallfa Maria tIIUllU pana a hiStÓria .o inlroduzir a prttica de seqUestrar na ... ios e a ... iões com fins polflicos. Ver hllp:flmuscu.marinha.pIlMuseu/Site/PT I Extra!Popups/On .... ioSamaMaria.htm e bltp:JJwww.corrdodam\lnb ... pt!noticia. asp?id: 2lO48o&idseltet .. 9&idCanal '" 9&1''' 200, aca50 em 3/512007.

7. Aldo Aranles foi presidente da União N.cional dos Estudantes (UNE) de 1961 a 1962, militou na ju ... entude Uni ... ersit:i.ria Calólka QUe) e depois na Açlo Pnpular{AP). Nos anos 1970, filiou.se 10 Partido Comunista do Brasil (PC do B). Mais tarde, emre 1983 e 1999, cumpriu qUIlUll mandatos como deputado feden.l pelo est.do de Goib. VerDHBB.

!. Endereço da sede da UNE.

9. Padre Alrpio de Freitas foi membro da cominio militar e dirigente nacional da AI' e Integrante das Ligas Camponesas. Ver www.usinadaspalavras.comlindex" html?p:ler lexlo&txt Id_17926&al -6, acesso em 28/2!2007. 10. Monso Arinos de MelQ Franco havia sido mininro das Relações Eneriores no go�mlQ Jlnio Quadrw, quandQ desempenhou papel importante na formulaçllo da chamada "polida cxlerna independente", que abandonou o Illinhamento autom:i.tico com os EUA e defendeu um 00'10 padrlo de relacionamento com Q mundo afro-Isi'tico, bUClldo na condenaçio 10 coloniaJismo. Dunnte SUl gestão coonIeDDu a abenura das embawdas do

SenepJ, Guin�, Nigéria e Cougo. Seu IUce$$Or, j� UQ primeiro gabinete parlamemarista de Joio Goulan, foi San Tilgo Dantas, que nomeou Renato Ar<:her $ubsecret6rio do ministfrio, runçlo que compreendia a subsdtuiçio do titular sempre que necesdrio. Em sctembro de 1961, Aronso ArinO$ chefiou a de1epçio brasileira 11 XV! Assembl6a Geral di Organizaçlo das NIÇ6es Unidas (ONU), em NOV1. York, onde ll$Sumiu a direçiO do mo ... imento pela autonomia de Angola. A delegação brasileira apoiou a rcsoluçiio amicolonialista aprovada pela Assembl�ia, m.s rejeitou o item que condenaYI explicitamente o governo portuguêi. De julho I sctembro de 1962, durante o gabinete parlamem.risll de Brothado da Rocha, voltou 11 chefia do Ministmo das Relf>ÇÓCS Exteriores. VerDHBB.

11. Em bilhete dirigido 10 MiniS1�rio das RelaÇÕC5 Exteriorn e datado de 10 de março de 196I,jfinio Quadros aUlOriu a concesSio de 20 bolsu de estudos, ainda em 1961, e mais 280 distribuidas nos Inos de 1962 a 1965, puI estudantes .rrinnos de medicina, farro'eia, odontologia, arquilCtUl"ll, agronomia e '"eterin:i.ril (Quadros, 2006: 331). 11. Segundo infonnaÇÕCS de The Róbin50u Rojas AfÇhiYe,j� Lima de Azevedo, angolano de nascimenlO, era eslUdante de economia em Portugal, onde presidiu I n:dcnçlo de Estudantes AtricanO$.. Com o inicio da IUII pela liberuçf.o de Angola, em 196I,e o inicio das perseguições JMlllticu pela dilldUl"ll ullZlrisla em Portugal, refugiou·se no Brasil, onde continuou seus estudos univenit:i.rios. Após o golpe: de 1964, foi preso trb vezes no Rio de 1 aneiro pelos órgios de segu�nça em colabornçlo com a policia secreta de Portugal, a !'olícia Inlernacional de Defesa do Estado (PIDE), que pretendia obter infonnaçóes IObre organizações guerrilheiras de ADIOI ... As. forças de segunmÇl

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bruileins amcaçtnm Lima de tUevedo de aU'fldiçio pu. Ponupl. Ver http://www.rrojuebtabank.infolbrasOOOOl brud 17 .pdl, http://www.rrojuebtabank. inCoIbruOOOOJbrasc311.pdf e bup://wwW. uc.ptled25a1wikka.php?wakka= EspolioS, acesso em 31/S12oo7.

13. Fernando di Costa Andrade "Ndunduma" (1936) f formado em arquitetura e foi diretor do Depanamento de História do MPLA e doJf!rMl dtAfIIOIa. Foi deputado na Assemblfil Nacional de Angola pelo MPLA durante tr� mandatos, a panir du elriç6c:s de 1992. Ver hup:J1 www. parlamento.aoIdeputadotlmplaffernando _costa_andl"llde.htm, acesso em 4/Sf2OO7.

14. Mtrio Pinlo de Andnde (l92S·199O) foi presidente do MPU entre 1960 e 1962 e dedicou·se: em seguida � lIua� como intelectual, participando de scDliniriol c fóruns, onde rtpfC$eDtOU uma imponante voz nl lUIl pela indc:pcndfnda angolana. Além de artigos e elUllÍO$, publicou os IivrosA .. � Ulllllritll dt fXN!io 1l/rit1l'N2 (1953, 1979) c Oripfu tkJ IUldollQ/imro 4ri�llno (1997). Ver www.fundacao·mario-lOares.ptl arquivo _ bibliotea/dma _ hiografia.asp, KeUO mI 281l12oo7.

15. Eduardo Matos Ponela (1932) atuou como jornalista e intelectual nas 'rcu de ktrM e eduClçlo. foi diretor oecutivo do Instituto Brasileiro de Estudos Afro·Ali'ticos, órgio di Presidéncla da Reptlblica, alUe 1961 e 1964, c ministro di EduClçto durante o governo de Joio Fisueiredo (l979·19S0). O historiador e enulsUl J* Honório Rodrigues (1913·1987) foi professor no lnstituto Rio Bl"llnco e em diversas unlvcl'$idldcs do Rio de Janeiro. Publicou, entre outra. obras, Brwi/ , Á/rim: 0II1n1 1wriz:tmu (l96I). JOl'JC Amado (1912· 2(01) escreveu duenu de romances, sendo o primeiro O /NlÚ tkJ (.amaval, publicado em 1931. Ver DHBB, www.biblio.com. br/contcudo/biografi'"

Entrevista com 'os! Maria Nlmes Pudra

jose:bonoriorodriguC$.htm e www.fundacaoiorJ"mldo.com.br. � em 1°/3/2007.

16. nata·se de entrcvlsUI de Jorge Amado com Mmo Pinto de Andrade. publicada sob o útulo "Convcna com Buanp Ftl�, tamMm conhecido como Mmo de Andrade, cbefe da luUl em AntoJa" (Amado, 1962: 25·30). Ver hup://www2. ebDnel.ner/Vkajibanga/doa/VilOrMapifin aI.doc, acesso em 271212007.

17. O cotrcVi'Uldo refere·se 10 MPLA, do q\LI1 fazia p.rte, e ao scu prinCipal oponente naquele momento, a Frente Nacional de Ubcmçlo de Antola (FNLA).

18. A Policia Internacional de Defesa do Estado, PlDE, surgiu em 1945, no CODtatO do finll Segunda Guem Mundial, e foi mantida li.!: 1969, quando mudou de nome para Dircçio Geral de ScpranÇl (OOS). Eua mudan� fez parte da polltin de refonnas de Marccllo Caellno, que havia assumido o sovemo de Ponupl em 1968, após o IÍa$lIlDCDtO, por doença, do ICDeral Salazar, que comandava o regime desde 1933. Ver hup://www.citi.pl/culturalanes..plasticasl dc:scnhoialvaro _ cunhaVpide.htm1, acesso em 012007.

19. O TraUldo de Amizade e Consuh.l entre Brasil e Ponupl !oi assinldo no Rio deJanciro, em 16 de novembro de 19B. Ver hup:Jlwww2.mre.gov.bt/dai/ bJ»rU39 _3927.htm c www-Senado.

gov.br, "Lcgislaçio", IICCSSO em 21312007.

10. Joio Neves d. Fontoura (lSS9·1963) fui embaixador do Brasil em Portugal entre 190 e 1945 e duas vezes ministro das RelaÇÕCS Exteriores: em 1946, duranleo governo de Eurico Dutn, e de 195 1 1 1953, dunnte o segundo governo Vargas. Ver DHBB.

21. Em 2S de mlfÇQ de 1964, CCrçl de dois mil marinheiros, lOb a liderança de J* Anselmo dos SantOS, o "Clbo

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estwfos históricos _ 2007 - 39

AnKlmoM - que depois Kria identificado como agente de informaçio dO$ órglo$ de represslo, reunirtm'K na sede do Sindicato do$ Melall1rgicos do Rio de Janeiro, comemorando o lOiverstrio de dois IDOS di Auociaçlo dos Marinheiros e Fu!i1eil'O$ Navais do Brasil e desobedecendo i, ordens do minislro da Marinha, que proibin o funcionamenlo da entidade. O mini$1ro ordenou o cerco 10 local, mas o presidente João Goulan proibiu SUl invado. Senlindo-K desprestigiado, o minblro da Marinha renunciou. Os revoltosos foram pre50S, mas 1010 anistiados por Goubn, o que caU$OU rnolr. entre os oficiais, que considemam o ato um incentivo � quebn da hien.rqula militar. VerDHBB.

22. Cenimar: Centro de loformaçócs da Marinha.

23. Carlos Marighella, nascido em 1911 e membro do &nido Comunista Bruileiro (PCB) desde 1934, foi preso em maio de 1964, em um cinema, no Rio de Janeiro, onde foi baleado, e pennaneceu 80 dias na prislo, sendo $0110 porMbtas-corpw. Em novembro de 1969 foi mono em uma emboSCIda na cidade de Sio Paulo por agcntes do Dops. MArio Alves, nascido em 1913, en membro do PCB quando roi preso em julho de 1964 c libmado um 100 depois, wnbml por Mbtas-corpw. Preso novamente em janeiro de 1970 pelo DOI-Codi do Rio deJaneiro, morreu sob tortura. A Ação Popular (AP) foi fundada cm 1962 e reunia membros da Juventude Univmitúia Católia. QUe) e da Juventude Estudantil Católica QEQ. Após o 31 de março de 1964 muitos de seus membros foram presos ou passaram 1 clandestinidade_ Ver DHBB e www.tOnurtnuncam.is.org.br.aces$O em 5/312007.

14. IVlo Ribeiro, nl$Cldo em 1911 e filiado ao PCB desde 1933, foi preso cm junho de 1964, só sendo $0110 em junho do ano Kguinte. FalCl:w em 1970,

durante uma rcuoilo clandestina do comite cenual do PeB.

VerDHBB.

25. O e<:onomisr. 5&'Jio de ReKnde, filho do genenl ESlevio Taurino de ReKnde, foi preso em Recife em julho de 1964, acusado de participar de ações 1ubversivas. Ver DHBB, �tbctc "Taurino de RecndeM•

26. M relações diplomAticas entre o Brasil e GlOa fOCllm esllbclCl:ldas em 1960, com a criaçio da Legaç�o em Acra, capital, cleYllda 1 categoria de embaixada no 100 quintc. Raymundo Souza DIOII$ foi o primeiro embaiudor. Ver http://www2.mrc.gov.br/deaíldl(1/ pnal.htm e hllp:/lbrasilghana.ortf cuhura/historia IlIbom.htm,lCcno em 26/412007. Em bilhclc dirigido 10 Ministmo das ReIaç6es Ezterioces e dalldo de 6 de abril de 1961, Jlnio Quadros determinou . insmaçio imediata de embaixadas do Brasil em "Dacar (Senegal), com :oerviço �'Qnlular; ( ... ) em Conacri, nl GuinE, cumulativa com Mali; (_.) em Lagos, na Nigm .. cumulativa com a Rep(lblica dos Camatlles, (_) em Abidjl, nl Costa do Marfim, cumulativa com Alto Volta, Nlger e Daom�; ( ... ) em Acra, nl Glna; (. .. ) em Adis-Abeba, na Etiópia", e de consulados "em Salisbury, aa RodEsia; ( ... ) em LeopoldvUle, no Congo; ( ... ) em Nairóbi, no Qutni .... No dia seguinte, um novo bilhete reforçou a urg!neia: �A. embaixadas e consulados na África tm absoluta prioridade oa iDStallÇlo.� Vcr Quadros (2006: 351-52).

27. K1VIIIIC N'Krumab (1909-1972) foi Uder no proces$O de emancipaçlo de Gana em 1957 e presidente desse pais de 1960 a 1966. Ver hllp://www2.mre.gov.brl deaíldat!/Pllal.htm, acesso em 1°I3l2007.

Z8. Julius Nyerere foi o primeiro presidentc da Repllblica Unida da Tan:tlnia e pennaneceu no cargo de 1964

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al� 1915. Ver hllp://www2.mre.80Y.brj deal1daf lIW1Z1lniaZ.bun, acaso em 1°/3/2007.

29. O leógrafo Milton Almeida dos Santos (1926·2001), (ontlado pela Uniyenidade Federal da Bahia (1941), doutorou·se na França. pela Universidade: de SlBSbourg (1958). e: (oi professor na FranÇll e nos Eilldos Unidos, nu dkadu de 1960 e 1970. �.nOUO$Mlpaul0.tom.brJ"ReLSPI EducacaolMiltonSantos.hun, www.leatrobrasile:iro.com.br/entrevislM/ stoklOS-$lntO$.hlm e ww.mc:rulor.u(c.brl rcvisla%2Qmerntor%201 %2Oem%2OpdI1 mel"Clltorlartigol.pdf, ICC:UO em 241512007.

JO. A crise dos missc:is seguiu·se l ins..J.çIo de mis.scis soYi�licos em Cuba, em 1962, em resposta ' iostllaçto de mlsseb nudeares norte-mle:ricanos na Thrquia, em 1961. O reconhecimento da indepcnd!ncil da �Iia pela FranÇll ocorreu em 1962, após yiolenta guena iniciada em 1958, lendo sido procJamada • RepQblica Popular Dcmocriúca da Argtlia ."as eleiçOd. Disponfvel e:m: hllp://pLwilr.ipc:dia.orgtwilr.iI�lia, lCtssO em 2/lI2007.

J/. Marcc:llo Caelano (1906-1980) pentllOCCC"U l frente do governo de Portupl de 1968 1(� ' Revoluçio dos Cnvm, em 25 de abril de 1914. Em outubro de 1973 ocorreu a Guena do Yom Kippur, o "dia do perdia". Egito e Slril atacaram Israel em uma das princiPlis dataS religiosas do ca1end1rio judeu, Imtando r«upenc OS territórios perdidos nl Guerra dos Seis Dias (1967). Israel reagiu, bombardeando Damasco, e o conflito se encerrou .pós 19 dias, sem .pre5enlar alteraÇÕC$ territoriais. N. ocasilo, Henri Kissinger cra seaelmo de Estado dos Estados Unidot, cargo que exerceu de: 1971 I 1911.

12. O InstilUto Brasil eiro de Estudos Afro.Asi!licos (lBEAA), com sede em

Entrtvistll com Josi Mnrin Nunes Prrtirn

BrasniA, (oi criado pelo DtcretO nO SO.465, de 14 de abril de 1961, na qualidade de "centro de altOS estudos destinado a incremenllf as relações do Brasil com o mundo a(ro·lSi'tico�. Ver "Lc:gislaçio Federal", em www.smldo.goY.br.lcc:uo em 101412007.

31. GonÇllIvc:s (Im). Ver ·PI.ta(orma Ulles", www.cnpq.br. aceMO em 28{1/2007.

14. A Orpnizaçlo das NIÇ6eI Unidas (ONU) (oi fundada em outubro de: 1945, sendo entio integrada por 51 pafscs, inclusive o Brasil. O Conselho de Scgur.nça � composto por 15 países, smdo cÍDco membl"Oll permanentes ­China, França. a UniiQ dal �QbIiClS SociaIisw SoviroC*S (hoje, Federaçio Russa), o �ino Unido e os Estados Unidos -e dez escolhidos por um pcrfodo de doi, anO$. O Brasil i' foi membro nlo permanente do Conselbo de ScIUranÇll da ONU por dez bi�nios nin consecutivos, sendo o primeiro de 1946 a 1941. Ver www.onu-brasil.org.br. acesso em 6I3fZOO7.

15. Ponupl ÍDgressou n. ONU em 14 de dezembro de 1955, com mais 16 Estadoa, apó$ um acordo entre a Unllo SoYi�úCl e os Estados Unidos, que vetavam 5istemllticamente I admlsslo de candidatos do bloco oposto. Ver www.ciari.org./invc:súllICKV ponugal_ e _1_ onu.htm, lCCS50 em 2415/2007.

16. Na ltilia, nas eleições de 1941, houve um enfrcntameOlo claro entre o centro e a esquerda e, nl França. as primeiras !I& eleições do pós·guerra (outubro de 1945, junho de 1946 e novembro de 1946) testemunharam um IYIJ1� considcriyd dos partidos de esquerda. Quanto a Berlim, U"lta·sc do bloqueio de Berlim Ociden..J pela Uni," SOril!ÚC:a, que vigorotl dc junbo de 1948 a maio do lOO seguinte,

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estudos históricos e 2OQ7 - 39

seguindo-se a essa crise a divis.lo da Alemanha em dois palses (1949). Disponlvel em bup://www2.mre.gov.brl iprilPllpers/França/Antonio%20I...cmo.doc c www.lcrT1l.com.br/voltairclmundol 200Zl1J9n51OO1.hun, ates$O em 1413n007. 37. A Organizaçto da Unidade Africana (OUA) foi criada em Addis-Aheba, Etiópia, em maio de 1963, por 32 países africanos independentes. Essa organização foi amC<:C$sora, at� 2002, da UniAo Africana (UA). DisponlveJ em http://en.wikipedia.org/wikiJ Organization of African Unity, acesso em 8/3/2007. - - -38. O Centro de Esludos Afro·Oriem.i, da Faculdade de Filosofia c Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia foi criado em 1959, por iniciativa do professor ponugu& Gtorge Agostinho Baptista da Silva (1906-1994), que viveu no Brasil de 1947 • 1969, perseguido pelo regime saluarist •. Ver www.ceao.ufb •. br. hup://WWW.csc.ips.ptlesc/destaqucN agsilva/biogra.liLhun e hup:/Ipt. wikipedia.org/wikiJAgostinho da Sih'a, acaso em 24/5n007. - -

39. A Conferfncia de Bandung, realizada em 1955, n. Indon&ia, linha como objetivo promover a cooperaçiO econômica c cultural afro-asiAlic:a, como forma de oposiçiO às inllufncias dos Estadns Unidos c da UniAo Sovi�tica. Disponível em: htlp://pt.wikipedia.ors' wikiJConferencia _de _ Bandung, acesso em 8/3/2007. 40. Em julho de 1956, o presidente eglpcio Gamal Abdel Nasser naciona lizou o Canal de Suez, acabando com o controle anglo-franc!s $Obre I regiAo. Em outubro, França, Gri Bn:tanh. e Israel iniciaram uma guCrT1I contra o Egito. Israel tomou a península do Sinai, e Inglatern c França conquistanrn Pon·S.id, nl entrada do canal. A invulo n:pcrcutiu

negativamente junto 11 opinião pCiblica mundial, e o Conselho de Segurança da ONU ClIigiu, com os VOIOS favoriveis dos Estados Unidos e d. União Soviitica, que OS três palses se retiras.scm do Egito. Em seguida, tropas da ONU passaram I ocupar a fronteira entre Israel c Egito. Disponlvel em: www.cpdoc.fgv.br/ nav jklhtm/Q Brasil_deJK/A_crise_ do canal de Suez.asp, acesso em 8/3/2007.- -

41. Tião Medonho foi a personagem protagonista do filme Assalto 00 tmII pagrulor, de Roheno Farias, vivido pelo ator negro Eliezer Gomes, em 1962. Milton Gonçalves, ator e din:tOf. surgiu no cenirio anlslico no final da dkada de 1950. Atuou no Teatro de Arena em São Paulo, onde p.nicipoll de montagens que abordavam a questto do negro, tlis como Arma (OfIW Zllmbi eA >MMrágora. Na tc1cvi�o. distinguiu-se nas funç6c5 de ator e din:tor de telenovelas e programas especiais da Rede Globo. Ao longo de sua carreira tomou como prcferencia não interpn:w personagens que ferissem I auto·estima dos afrodescendentes. Disponlvcl em: hup://www1.folha.uol. com.br/folhatilustrada/ult9Ou52190. shunl, IICCSSO em 19{8/2oo5i ver tambtm Lopes (2004). Amônio Pitanga f pseudônimo de Antônio Luiz Sampaio, ator e polilico. Foi verudor do Rio de Janeiro (1993-2000) c secretário de Açio Social, Espone e Lazer do estado do Rio de Janeiro (1999). Entre outraS produç6cs cincID.itogrificas, panicipou dos filmes Gmiga Zumba (1964) c QWombo (1984). Ruth Pinto de SoIlU (1921) iniciou sua carreira em 1945 no TutrO Experimenlll do Negro (TEN), atuou nas primeiras radionovelas do jnfs e nos teletcatrDS das TVs Thpi (Rio) c Record (SAo Paulo), n. ditada de 1950. Em 2004 panicipou de FúJw do wnto, filme de Joel Zíto Arauio. Disponlvel em: www.adorocinema brasíleiro.com.br/pe!SOnalidades/ruth­de-$Ouza/ruth-dc-$OuZl. .• sP. acesso em 30/812005. Abdias do Nascimento (1914)

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fundou o TEN m:I 1944 c foi um dos organizadora: da Canvcnçlo NlCiollll do Negro, cncontro real.iDdo por dois anos (I94S c 1946), no Rio c cm Sio Paulo, que propôs 11 CansdtuiDle de 1946 a tipificaçlo da discriminaçlo ncial como crimc dc I�-p'tria_ Participou wnbán como orpniDdor do primeiro Congruso do Negro Brasileiro, em 19S0. Em 1961 ailou-$t nos Estldos Unid05, em d«onbcia do cndurtCimento do governo militar, e foi prof�r cm diversas univusidades none·lrDericanas. Participou da fundaçio do Movimento Ncgro Unificado, em 1971. Foi deputado fedenl pelo Rio de Janeiro entre 1983 c 1986 e senador pelo mesmo estado dc 1991 1 1992 c dc 1997 a 1999. Ver DHB8. Antonio Olymho Marques da Rocha (1919), escritor c critico litatrio, foi nomeado adido cullllnl cm Lap, Niafria, em 1962, exercendo o cargo por trfs Inos. Em 1964 publicou Bnuikiroi 1141 A/r*a, resultado de pt$Qui$l sobre o regresso dos ex-escravos brasileiros lO continentc africano. Foi profesllOr visitantc na Universidade de Calumbia, em Nova York (I96S-1967), c Idido cultunl em Londra I partir de 1961. Escrevcu intlmetoS romançes, ensaios e poesia e ingressou na ABL em 1997. Ver www.academia.ol.J.br. lCC$SO em S/3I2oo7.

42. O Festival Mundial de Anc Ncgn. ocorreu no ano de 1966, cm Dacar, 00 Stnepl. Ver Lopes (2004).

4J. Leopold Stolhor (1906-2001), poetl $tncp1� e um dos lIderes do movimento litatrio NI"uwu, foi o primeiro pra:identc da RepÍlblica do Stntpl, cuja indcpcndhlci. ajudou I proclamar, em 1960, penoanetendo no podcr, após sucessivas reeleiÇÓC5, até 1981. Ver Lopes (2004).

U. Solano Trindade (1908-1974), poeta e ItOr, panicipou do I CongresllO Aíro-BrasiJciro,em Recifc, em 1934, c fundou, em 1936, a Freme Nqra de

Elltrcvist/l tom losi Maria Nunu Pereira

Ptnu.mbuto e o CenUll de Cuhun Aíro-brasilein. Na dla.da $tguinte fundou o Teatro Popular Bnsilciro c I Orquesln Afro-brasilein. Publitou, cDlre outros, fbnrwu tk lInta vido simplts (1944), sm Itnlpos de poesUJ (19S8) c QmlQTQ tw II\CII fJOfXJ (1961). Vcr bup:J/www.porulafro.com.brJlilmllunJ IOlanC)"lOlano.btm, ICC$SO em 28/S12007. Donp (1&89-1974). apelido de ErnCStO Joaquim Maria dos SanuJI$,compositor brasilciro, foi um dos 'utores dc �Pelo telefonc", cm 1916, quc ficou conhetido como O primeiro $Imba relistndo. Pixinguinha (1989·1973), p$Cudônimo de Alrredo d. Rocha Viana Filho, foi WWl(onista, fI,utina e compositor. Paulinbo da Viola (1942), pseudônimo de PJulo Cáar Batista dc Fui., mÍlsico e compositor, gravou intlmttol dÍSCOl desde a d&ada de 1970. Ver hup:J/www. p'u linhodaviola.com.brlponuguesl bíografil/biografia.up, ICC$SO cm 2�f200? Heitor dos Prazeres (1898-1966), ex·menino de ru., foi um dos fundadora: das escolas de $Imba Ponel. e Mangueira, autor de sucessos como I marcha ·PiclTÔ apaixonado" (em parceri. tom Noel Rosa) c protct:ou·se tomo pintor n. Bimal dc SIo Paulo de 19SI. Para lodos OI cilados, ver wnbfm Lopes (2004).

45. Oeroentina dc Jesus (1901-1987), Clnton brasileira, estreou nos palcos em I96S com o musical Rma Ih ouro. Dunntc sua ClrTcil'll se dedicou lOS ritmOl musicais de ;ollgo, eorimu, lundlU e $I.IIlba$ da tr'IIdiçio rural. SUl Oniel viagem .a exlmor (oi como integrantc da dclcgaçio brasílcin do Ftstinl Mundial dc Anc Negra. em DlCllr,cm 1966. Vcr Lopes (2004).

46. Eduardo Oliveira e Olivcil'll (1928·1980), sociólogo, fez p'ne da AssocilÇio Cultural do Negro, cri.da em 1954, em Sio Paulo. c foi fundador do III"IlPO de teatro Evoluçio, no intmor do cstado.ero 1971, e do Centro dc Estudos

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atmlos hist6ricos _ 2007 - 39

� Arte Negn (Ccean), �m 1972. Adalbmo Camargo (1923), político � �mpredrio, foi diutor d� "'riu empresas �m Sio Paulo, entre elu a Tbi Amarelinho S.A. FQi o primeiro nelro I se eleger deputado federal por S!o Paulo, em 1966, assumindo a cadeira em janeiro do ano lIqPIinte. RecI�ilO uú vutS, pennantçC'll ao todo quatro lrgislaturu DI CIm.ra, de 1967 . 1983. V�r DHBB. QswaIdo de Camargo (1936), escrilor e poeta, publicou, entre outroS, Um ho!nmI: .,nUl Jtr anjo (l9S9), I S fJ«mtJJ IUfITIS (1961), com prelldo d� Florestan Femantes, e O ne/{l'O ,Kl'ill' (1987). Foi também co·fundador do grupo Quilombboje Literatura, em 1980. Ver www.usp.br/nw.rricabruilJpaginasl prescnca c \l\'ww.quitombhoje.com.brl calendarilW'calendario.htm, acesso em !J3/2001.

47. Ataulfo Alves (1909·1969), composilor c cantor brasileiro, tambim esteve no Festival Mundial de Arte Ne81'1 de Dacar, em 1966. Ver Lopes (2004).

48. Joel Rufino dos Sant<nó (1941), historiador c jornalista, integrou a equipe de historiadorel que elaborou I Hist6ria __ do 8n.uil, conjunto de lil'ros produzidos entre: 1962 e 1964 pelo DepanarnenUl de História do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (beb) (criado em 1956 e extinto em 1964), com a finalidade de renovar o ensino da história no nlvcl mtdio. Apót o golpe polftico·mililar de 1964, com a invulo e I cxtinçio do lseb,os livros fon.m aprttndidos e seus autores, prC505 -com exceçto de Pedro Celso Uchoa CaVillcanli e Rubem asar Fernandes, que se ClIilaram. Jod Rufino foi professor da Escola de ComunicaçAo da UFRJ e presidcntc da Fundaçlo Cultul'llll Palmares, fundada em 1988. Publicou, cntre outros: Zumbi (1985), O � # nldulw.' (1985) e lIMas do ltIdal­CI1IIIO podem OI illltkmuriJ rralNJlJwr paro

OI pobm (2004). Ver Sodrt(l986) e Lopes (2004).

49. Antônio Delfim Neto foi ministro da Futnda de 1967 a 1974. SO. Joü Maria Vil ar de Queiroz foi U5eS50r do economiSla e diplomata Roberlo Campos e chefe da ma inlernacional do Minisltrio da Fazenda. Disponível em: http://www.rescnhuj. gov.br/clippinglpull cUppinglclipping 20061 DEPOSlTóiOOO6lOljaneiro 2006nÕÕ6.01.1lsexJmeus%lO documenlOs02/ As%201Iusoes%20 Armadas%203%20·%lOA %20Diladura %20Derrolada%20·%lOdio%20Gaspari, rlf, acesso em 21/312007. SI. Samuel Pinheiro Guimarles Nelo, bacharel em direilo pela Universidade do Brasil (1963), cursou o In$llluto Rio Branco, ingressou na carreira diplom'tica e fez o mesmdo em economia na Universidadc dc 8o$Ion em 1969. Entre 1971 c 1974, esteve de licença, II'lIIbalhando como economista na Serete S.A. Engenharia. Diretor do InstitulO de Pesqui$l de Relações Internacionais do Itlmlt1.l)' duraDle o govemo nmando Henrique Cardoso, em 2003 10moU·$C $CCrttirio-geral das RellÇÕCS uleriores, Disponh'el em: www.mre.gov.br/ponulluetlminislerilW. e5ttulutWsecretario .$erallSII.asp, acaso em 2113{2oo7. O jornalista Lui� Albeno Bahia foi membro do conselho editorial da Falha lU S. Paulo; ralcec:u I0Il 82 anos em novembro de 2005. Ver bnp:J/wwwl. folhl/brasillul!96u 74205..ihlml, acesso em 7/312007. S1. O Cubc de Roma, criado em 1968, t uma organiuçto inlcmacionll que reUne personalidades de todo o mundo ­cientistas, cconominas, empresários, chefes de estado, entre outros -, com a misslo de anali$lr c disculÍT os problemas da humanidade, em principio livre de interases polhicos, económiros ou ideológicos. Dispon(\'c] em: hup:J1 WW\II".clubofrome.org/indcx.php,

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www.ebape..fgv.brlnovidadtslulV'dsp dados_comunicadO$.up?rep:247 e -www.unb.br/aCl/unbagendaJago0306-44. hlm, lcesso em 211lf2007.

53. O hislOriador Hllio Silva (1904-1995) publicou dezcnu de livros sobre a hisukil conlemportne. do Brasil, como J9ZZ; I4IJIZW /Ia artill fk CopaclJba/la (1964), ou J95�; U1II liro /10 roruçllo (1978).

54. Helmo FraJOlO (1926-1985) (01 professor ulUlar das fllCuldadt$ de dinilO da Uerj e da Universidade Candido Mendes. Foi lambém membro d. Comiuin Internacional de Juristas em Genebra e direlor da RaJUla dt Dir�ila PtIUÚ t Crimi1lOÚ)gia, editada pelo lnstirulO de Ci�ndu PeDal$, da Universidade Candido Mendes. http://www.rragoso.oom.br/heleno curriculo.asp, ace55() em 21/3l2007�

55. O jornalillll, Newlon Carlos (1927) colaborou para diveRO$ periódicos, como ]amaI ÚlJ Brari/ e Fo/Jm fk S. Paul(,. FernaDoo Lopes de Almeida (1946) fuia mlStllldo e doutorado na Esrola de pós.GraduaçiO em Economia da Fundação Getulio Vargu no iDieio dos anos 1970. Dulllllfeos dois governos de Lcontl Brizol. no Rio de ]antiro (1983-]987 e 1991-1994) (oi secret'rio de Planejamenlo e Conlrolt, cargo que lcumulou com o de $«fetário de UrbaniuçAo, Habitaçlo e Assen�mento. Urbaoos durante o segundo governo Brizola. roi Ilmbém depulado IStadual (1987-1990) e redmli (1991, 1993, 1994.[999). VerDHBB. Edmundo Dias (oi professor de sociologia da Univnsidade de Campinas (Unicamp). Disponível em: www. unicamp.br/unicamp/divulgacaol BDNUHlNUH _1413NUH _14IJ.hunl, accssoem 20012007. Moacyr de Góes et1i scçrclirio de Educaçio de Natal e {oi exonerado e preso logo apó, o golpe de 1964. Tr.ns(erindo-$!: para o Rio, (oi professor no Coltgio SAo Vicente de

Erltn'Vina tom lasi Maria Nunes P«tira

PaulL SUl esposa, Maril Conooçio Pimo de Góes, � professora ldjunll da UFRJ desde 1979, e fuia graduaçtn em hislÓril nl mesma univcnidade no inicio da dlcada de 1970. Ver www.cnpq.br. "Plataforml Lllles", e hllp:J/ tribunadonorte.com.br/lSpccill/hiSlrnJ hÍl_m_lk..htm e htlp:J/Vqa.lbril.com. brJveiarj/IOOB05Jcronica.hunl, fICaSO em 281512007.

S6. Em J de julho de 1951 (oi promulgada I Lc:i nO 1.390, 1 mimada "ui Afonso Arinos� por ler se nriginado de um projtlO de lutoril do emio depulldo fedual Afonso Arinos dt Melo Franco. A lei lncJuí.l l prtlica de IIOS rlSuhames de preconceitos de raça ou de cor entre as contravenç6e:s penais. Ver "Lcgislar;to" em www.scnado.gov.br. acesso em 8J12J2006.

57. Dcosroredes Maximililno dos Santos (1917), nascido em SalVlldor e conhceido como MlStre Cidi, t cbefe religioso, anilll plástico e IUlor de di�-enos liVlOl 50bre I tradiçio de iorulns em terras brasileiras. Seu livro O iarwbd ull qual u

fala, de 19S0, foi o primeiro manual com voc::abultrio dessa IínJUI editado no Brasil. Juanl E1bcin dos SanlOS doutoroU-$!: em tUlologia pela UnÍ\-ersidade da Sorbonne, em Pari$, em 1972, com a lese OJ Nllf'6ea PIIIIr4': padl, /Uni t Deu/li) til''' /10 Balria, publicada pela Edilora VOlCl. Ambos fundanrn I Soeiedade de Esrudo$ da Cultura Ntgra no Brasil (Sccrleb), em Sah'ldor, em 1974. Ver Lopes (2004), verbete "Mestre Didi", hllp:/Jwww.mesmdidiJscçneb.blm e hllp://pl.wildpcdia.orgfwikiJ JUBna Elbeio dos Santos, acesso em 3115/2007. - -

58. 1'c\'a de teatro de Deoscoredes Muimiliano dOll Santos.

59. Ver, por exemplo, Moutinbo (1996) e Monteiro (1991).

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estudos hist6ricos . 2007 - 39 ----"

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(j(J. Dom Pedro Casaldál iga, bispo de Sjo Félix do Araguaia {MT}, foi o principal responsivel pela criaçAo, em outubro de 1915, da Comissio Pastoral da Temi (CPT), organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Bruil (CNBB). Durante o regime militar, muifOs .gemcs pasfOrais fOmaram·� suspeitos de subvel'$�o da ordem social e foram perseguidos, presos e mesmo monos pelos ór�os de repressão. Ver DHBB, verbete �Comissão PasfOral da TerraH•

61. Carlos Albeno Medeiros panicipou da fund,açâo da Sociedade de Interclmbio Brasil·Africa (Sinba) e do Instituto de Pesquisa das Culturu Negras (lPCN), ambos no Rio de Janeiro, em 1974 e 1975, rapectivamente. Mais tarde foi chefe de gabinete da S«retaria de Estado Extr1lOrdinária de Defesa e PromOÇio dali Populações Negras (Seafro), durante o segundo governo de Leonel Brirola no Rio de Janeiro (1991-1994), e membro do Grupo de Trabalho Interministerial para a Valorização da PopulaçAo Negra, órgio do Ministério da Justiça (1995-1996). Concedeu uma entrevista ao CPDOC para o projeto "História do movimento negro no Brasil", em 1 5 de abril de 2004. Paulo Robeno dos SanfOs, também militante do movimento negro desde a d«ada de 1910, foi presidente do IPCN durante a d«ada de 1980, gerente do Plano Estadual de DireifOs Humanos do Rio de Janeiro e presidente do Con�lho Estadual dos Direitos do Negro (Cedine), no go\'erno Rosinha Garotinho (2003-2006). Disponlvel em: www. p!analto.gov,brlseppir/informativosl 038.htm e www.imprensa.rj.gov.br/ SCSsitdmprensaldetalhe nOlicia. asp?ident:3S324, acesso em 21/312001.

6Z. Vedo Ferreira foi militante comunista atl! a dkada de 1960, quando se afastou do Panido Comunista Brasileiro devido l

perscguiçAo do regime militar. Por sua experiência como militante de esquerda antes do golpe de 1964, teve grande importância na fundaçiio e na tstrulunçào de entidades do movimento negro na d«ada de 1910, elaborandn estatutns e contribuindo muito para a consolidaçAo do chamado "mnvimeDfo negro coDfemporil.neo". Panicipou da fundaçio da Sinba, do IPCN e do Movimentn Negro Unificado (MNU), em 1918. Amauri Mendes Pereira foi fundadnr da Sinba e participou da direçào do lPCN no inicio da dkada de 1980 e no inicio da dkada de 1990, quando foi eleito presidente da entidade. Também foi fundador do MNU, em 1978. Ambos concederam entrevista ao CPDoc, para o projeto �História do movimento negro no Brasil", em 2003 e 2004.

63. Durante o periodo de 1968 I 1974, a economia brasileira sofreu uma notável expans�o, refletida no crescimento acelerado do PID. Esse período fioou conhecidn como "milagre brasileiro", o qual ficou caracterizado por (Dali de crescimento excepcionalmente elevadas. Disponível em: www.cpdoc.rgv.br/ dhbb/verbctes hlrn/3388 6.asp, acesso em 21/3/2001.-

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64. Asfilófio de Oliveira Filho (1949), conhecido como Fi16, nasceu no Rio de janeiro. Foi mentor do movimento sociocultural Black Rio, que eclodiu nos subUrbios da cidade do Rio de Janeiro na década de 1970, baseados nos movimentos de afirmaçAo dos negros none-americanos e naJlml mu.sic. Nos anos 1990 foi presidente do Institutn Nacional de �nvo[vimento Esponivo (Indesp). No ano de 2002 foi presidente da Superintendência de Espones do Estado do Rio de Janeiro (Suderj). Ver Lopes (2004), verbete "Filó".

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65. "Ianin Luther King (1929-1968). pasmr negro da Igreja Batista, foi Udcr do movimento pelos direitos civis nos Eiltados Unidos nas dá:adas dc 1950 e 1960, defendendo m�lOdos basead05 no amor cristlo e oa açio nio violenta. Foi assaninado em agosto de 1968. Malcolm X (1925-1965). cujo pai, um pastor batista, foi morto pela Ku Khlx Klan, wnbém foi lIdcr do movimcnlO pelos direitos civis nos Estados Unidos, defendcndo, contudo, o uso da luta armada como forma de ação. Malcolm X foi Iider da Naçio do I5lt, organizaçio religiosa dc muçulmanos negros, de que, contudo, s.c desligou em 1964, s.cndo essa possivelmcnte a causa dc s.cu assassinato no ano scguinte. Ver Lopes (2004). 66. Black Panthcrs, Panteras Negras, � o nome reduddo da .grcmiaç6o Blaclo: Panther Parly for SelfDefcns.c, fundada em 1966, nos Estados Unidos, com o objelil'(l de enfrentar, por meio da luta armada, a discriminação sofrida pelm negros. Ver Lopes (2004).

67. O jornal Sinb<l, d� Sociedade de Imcrdmbio Brasil·Arrica, circulou de 1977 a 1980.

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AMADO,jorge. 1962. ''Convena com Buangll Felê, lambml conhecido como Mário de Andrade, chefe da luta em

EmrCI'iSt{/ (01/1 José M/Iria Nllllcs Ptrdm

68. MichaeJ Thmer, mCSlfe e doutor cm bistória africana e história latino-americana pelas universidades de Boston e Harvard, f diretor do Programa de Estudm da Am�rica Latina e do Caribc na Faculdade Hunter da Universidade do Municfpio de Nova Iorque (CUNY), e co·fundador di Iniciativa Global Afro-Latina c Caribcnba (GALCI). Foi o responsável pela implantação do progrunll de assuntos afro.brasileiros da Fundaçkl Ford (J979·198S). Ver hup://www. abdias.com.br/nacional 9Oanos/ nacional 9Oanos ooloqüio.hun, aceuo em IOf6l2CI07. -69. Manuel Faustino, cabo-verdiano, f vice·presidente da comissAo que de quatro cm quatro anm organiza o Congresso dos Quadros Cabo·vcrdianos na DiAspon e presidentc a AS$OCiaçio para a Solidariedade e Des.cnvolvimento Zf Moniz, uma ONG fundada em 1995, que atua em Cabo Verde. Ver http://www.congrcssocv.org/, http://www.africa.cxpresso.dix.prJ cabovcrde/anigo.asp?id = 24760003 c h(lp:llwww.rd�sida.Ofgldetalbcong. asp?id=34, acesso cm 1°/6/2007.

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