entrevista a conceição vicente e raquel ramos

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  • 7/24/2019 Entrevista a Conceio Vicente e Raquel Ramos

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    Entrevista publicada na edio 83 do Jornal Despertar (junho 2015)

    conversa com Conceio Vicente e Raquel Ramos Entre Livros & Miados

    O mote foram os gatos Zacarias e Branquinho, os protagonistas dos mais recentes

    trabalhos das nossas convidadas da Tertlia Entre Livros & Miados: O Moleiro e as Trs

    rvores, de Conceio Vicente, e Episdios da vida de um jovem gato, de Raquel Ramos. No

    passado dia 22 de abril, em vspera do dia do Livro, conversa fluiu, e os presentes viram

    satisfeita a sua curiosidade e ainda levaram algumas novidades em primeira mo e dicas

    teis para ler+. A cadeia das mulheres foi o palco de mais um hino ao livro e liberdade.

    Alunos: Sabemos que a obra O Moleiro e as Trs rvores inspirada num conto de

    gueda. O gato Zacarias j fazia parte do conto ou foi inventado pela Conceio?

    Conceio Vicente: Os contos que recolhemos junto do povo so sempre muito simples. Aminha funo recri-los. Pegar nessa base simples e transform-la num texto literrio. O

    Zacarias meu introduzi o gato porque em todos os moinhos havia gatos e porque o gato

    um animal inteligente e misterioso. Era a personagem ideal para se transformar em condutor

    das restantes personagens e at do leitor, ajudando-o a estar atento s mensagens que a

    Natureza nos transmite.

    A: Como teve conhecimento do conto? Ouviu algum cont-lo?

    C.V:Conhecia uma verso do conto, e depois foi-me tambm contado por um senhor da terra.

    A: Esta obra contm, a nosso ver, uma mensagem ecolgica. uma preocupao da

    Conceio incluir estas mensagens nos seus livros?

    C.V:Sim. Os meus livros no tm que ser moralistas ou moralizantes. Essas preocupaes j

    existiam no conto popular. Este livro tem a preocupao de ensinar a respeitar a natureza e a

    ouvir a sabedoria encerrada nas linguagens do mundo, aqui representadas pelo gato, pelos

    pssaros, pela coruja, pelo rio

    A: Est a preparar mais alguma obra para crianas e jovens, baseada em contos ou lendas?

    C.V:A pesquisa no terminou. Enquanto houver histrias, eu continuarei a procurar.

    A: Como foi feita a escolha do ilustrador? Foi acompanhando o trabalho? Deu opinio?

    C.V: Nos meus livros no costumo ser eu sozinha a escolher. A escolha parte tambm do editor

    que conhece melhor os ilustradores. Foi o que aconteceu neste caso. Eu vi a proposta da Ctia

    Vidinhas, concordei com a maior parte das coisas, mas tive que intervir em pormenores

    especficos relacionados com os moinhos de gua. Os ilustradores tambm precisam de

    pesquisar!

    A: Sabemos que publicou recentemente dois livros que abordam o tema da Educao

    Financeira. Como surgiu a ideia? Como trabalhou o tema?

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    C.V:Foi a partir de um amigo meu que estava a trabalhar na rea da Educao Financeira. Ele

    disse que precisava de umas histrias para fazer passar a ideia, e assim nasceram Histria da

    Formiga e da Cigarra que no foi na Cantiga, que uma espcie de subverso da fbula

    clssica, e Do querer ao ter h muita conta a fazer, que baseada em ensinamentos que

    recebi na infncia: primeiro juntar dinheiro, e s depois comprar.

    A: Vo surgir mais temas desta coleo?

    C.V:Sim. Est j outro pronto, espera de folga econmica:A contas com rimas tontas.

    uma obra de poesia.

    A: Quais so os temas que mais gosta de abordar nas suas obras?

    C.V:Temas ligados infncia e aos alunos que me passam pelas mos. A obra que diz mais de

    mim Histrias Assim e a Srio.

    A: A personagem principal da obra da Raquel um gato. Porqu? Gosta especialmente degatos? Ou foi baseada na existncia real de um gato branquinho, que se tornou especial?

    Raquel Ramos:Tudo isso: gosto de gatos, tenho gatos e estava um gato ali a jeito. H seis anos

    eu estava grvida da minha terceira filha e esse foi o pedacinho de realidade (1%) em que

    peguei para dar corpo histria do Branquinho.

    Ao longo da obra notamos a presena de outros textos, como o A Histria do Gato e da

    Gaivota, de Seplveda, O Gato da Botas, O Gato com os olhos cor de ervilha, e outros. Gosta

    de se inspirar noutros autores? Pretende despertar o interesse para a leitura dessas obras?

    R.R:Um escritor antes de mais um leitor. Ningum comea a escrever sem ter lido muito.

    Quando eu andava no 2 ceb, o professor de portugus desenvolveu uma biblioteca de turma

    e fazia concursos ao ar livre o que servia para nos pr a falar de livros e a gostar de livros.

    Nesta obra h ecos desses textos e de outros, como O Velho e o Mar, o Musical Cats Sim, eu

    tambm pretendo, atravs desses intertextos, despertar os meus leitores para outras leituras.

    A: Branquinho, o protagonista desta histria, foge de casa. Que implicaes pode ter a

    presena desse comportamento numa obra para crianas e jovens?

    R.R: Branquinho tinha o corao pequenino. Num ato de fria, fugiu; teve uma srie de

    comportamentos que os adolescentes tambm podem ter No final da histria ele volta acasa e o corao deixa de ser do tamanho da azeitona. Ele aprendeu coisas no caminho

    A: Verificamos (com algum agrado, claro) que a Raquel emprega, por um lado, uma

    linguagem muito potica. No entanto, tambm inclui dilogos com vocabulrio como

    Maricas; Dizem que capado, coitado. O que est na origem destas opes?

    R.R:Este jogo entre linguagens intencional. Faz parte das vivncias do dia-a-dia das crianas.

    J Miguel Torga utilizou a palavra Maricas em Os Bichos

    A: Esta histria vai conhecer novos episdios? Vamos poder saber o que aconteceu ao

    Branquinho?

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    C.V:A infncia.

    Professor: Quando que sabem / sentem que os vossos trabalhos esto prontos enquanto

    produtos literrios? Como esperar pelo livro? E pela reao do pblico?

    R.R: / C.V: difcil desligar, mas h um momento em que temos de nos separar. Esperar

    agradvel mas traz alguma ansiedade, o trabalho s fica pronto com a reao do leitor.

    P: H alunos que gostam de escrever e fazem-no bem. No entanto, tm pouca confiana no

    seu trabalho. Que sugestes do a estes alunos no sentido de desenvolverem e partilharem

    o seu trabalho?

    C.V: Deve comear-se desde muito pequenino. Devemos ser criativos nas atividades que

    propomos: os livros podem ser trampolins para a escrita. No entanto, a escrita um trabalho

    difcil que exige muito treino, capacidade de autocrtica e aperfeioamento.

    R.R:Quanto partilha, as ferramentas digitais so um excelente meio.

    P: Consideram o mundo digital uma ameaa leitura literria? Como motivar para a leitura

    (que requer um tempo lento) num mundo cada vez mais tecnolgico e digital, onde tudo

    acontece distncia de um clique?

    R.R: No. Muito pelo contrrio. So realidades que esto a e que se complementam. O

    importante o processo mental, o saber ler e compreender. O formato e o suporte so

    secundrios. A UNESCO tem neste momento um projeto intitulado Ler na era mvel

    Pais:Como podem as famlias criar ambientes estimulantes de leitura? O que ganhamos com

    isso?

    R.R. / C.V:O melhor ambiente ter os pais como modelos de leitura: o primeiro conselho

    que os pais leiam. Leiam para serem felizes! E esse o maior ganho.