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Ano XXXVII Nº 435 |Novembro/Dezembro 2013 | Publicação Bimestral | ISSN 0870-8789 Distribuição Gratuita aos Associados Preço Avulso 5,25 Euros (I.V.A. Incluído) Apoio www.apotec.pt Sempre perto de Si. Entrevista a Américo Brás Carlos Dgert certifica a apotec como entiDaDe formaDora NOVA PÓS-GRADUAÇÃO EM FISCALIDADE FORMAÇÃO SOBRE OE 2014 E REFORMA DO IRC ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE TÉCNICOS DE CONTABILIDADE INSTITUIÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA

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Ano XXXVII Nº 435 |Novembro/Dezembro 2013 | Publicação Bimestral | ISSN 0870-8789D

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NOVA PÓS-GRADUAÇÃO EM FISCALIDADE

FORMAÇÃO SOBRE OE 2014 E REFORMA DO IRC

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE TÉCNICOS DE CONTABILIDADEINSTITUIÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA

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ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE TÉCNICOS DE CONTABILIDADEINSTITUIÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA

O Jornal de Contabilidade é o periódico técnico e científico que permite tomar conhecimento de todos os aspectos das técnicas contabilística, fiscal e jurídica.

É distribuído gratuitamente a todos os associados e é editado ininterruptamente desde Abril de 1977, constituindo um importante elo de ligação entre a APOTEC e os Associados.

Está disponível aos Associados na Área Reservada as edições desde 2006.

Os destaques desta edição encontram-se em www.apotec.pt/jornal/

www.apotec.pt

JORNAL DE CONTABILIDADE

Nº 435 | Novembro/Dezembro 2013

Editorial 199

Entrevista a Américo Fernando Brás Carlos 200

Modelo de Revalorização dos Activos Fixos Tangíveis: repercussão nas Demonstrações Financeiras 205

Obrigações fiscais em sede de IR e IVA nos países da zona Euro 215

Direito Laboral – Trabalho 218

IVA – Regime de Caixa 219

Síntese Económica 220

Consultório 222

Glossário 228

Livraria 229

Com a devida vénia 231

A APOTEC em notícias 232

Obituário 234

Fólio do Senador 235

SEPARATA- FormaçãoAçores | Albufeira | Braga | Castelo Branco | Guarda | Lisboa | Porto | Torres Vedras | Viseu

Director: Manuel Benavente RodriguesDirectora-Adjunta: Maria Teresa NetoCoordenação: Isabel Maria CiprianoColaboração: Paulo Nogueira FilhoMensário Técnico, fundado por Martim Noel MonteiroPropriedade e Edição: Associação Portuguesa de Técnicos de Contabilidade – APOTEC (Instituição de Utilidade Pública)NIF: 500910847Periodicidade: Bimestral

Redacção e Administração: Rua Rodrigues Sampaio, 50, 3º Esq. 1169-029 LISBOATelefone: 213 552 900 / Telefax: 213 552 909Site: www.apotec.pt / E-mail: [email protected]

Tiragem: 7000 exs.Depósito Legal: 53873/92Registo nº 105076 ICS

Assessores: Abílio Sousa; António José Neves Casaca; Isabel Amado; João Filipe Gonçalves Pinto; José de Oliveira Sales Pires.

Composição e impressão: PENTAEDRO – Tel. 218444340 1700-249 LISBOA

Normas de publicação: Os textos recepcionados têm a prévia autorização dos respectivos autores para publicação na nossa revista.

Os artigos publicados são da responsabilidade dos seus autores e não vinculam a APOTEC.

O Jornal de Contabilidade, até decisão em sentido diferente, publicará os textos em português de acordo com a ortografia adaptada pelos respectivos autores.

ÍNDICE

FICHA TÉCNICA

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eDitorial

Manuel PatuleiaPresidente da Direcção Central

Sei que é melindroso expressar opiniões com veemência. Nada de pessoal. Mas habituei-me a tomar de mão o conceito de Oscar Wilde: “Digo sempre; não o que deveria dizer, mas o que na verdade penso.”A contabilidade estaria ao serviço da gestão se não estivesse ao serviço do fisco.Poucas Associações de classe, de inscrição facultativa, têm a bonita idade de 36 anos. A APOTEC é uma das que pelo reconhecimento dos seus associados, continua a orientar-se no sentido de cumprir o objectivo para que foi constituída. Acreditamos que numa era conturbada como a que vivemos, a única resposta credível a dar à situação, é apostar na reali-zação quer individual, quer colectiva, através da competên- cia e da honestidade. O País desespera com tanta desonesti-dade!!Vivemos na época do “diminutivo”. O contraditório devia ser uma imposição de consciência e o diálogo, um imperativo. O insulto fácil e a submissão dócil deviam ser arredados para sempre. Que esperança poderemos ter no amanhã em relação à eco-nomia do país? Poderemos vir a ser competitivos face à concorrência dos Países da Europa de Leste e dos Asiáticos? Será que a “reforma” do IRC irá contribuir para que o inves-timento cresça? Será que a introdução do regime do IVA de caixa (apelidado já por alguns de regime de contabilidade de caixa em sede de iva) contribuirá para aliviar as tesourarias das empresas? Será, será…A proposta de Lei do OE para 2014 apresentada pelo Gover-no à AR, encerra um conjunto de alterações de índole fiscal marcadas pela necessidade de atingir as metas acordadas entre o Estado Português e a “Troika”. A vida está sempre a mudar, o que provoca que nos mante-nhamos atentos e preparados para todos os desafios. A legis- lação fiscal mantém-se imparável com o estafado argumento de que é para bem da Nação.

As alterações introduzidas nem sempre respeitam os prazos de forma a haver uma implementação atempada e estudada. Perante as novas exigências, por vezes à boa maneira portu-guesa, atamanca-se.No tocante à Contabilidade sentimos que a sociedade muito pouco a valoriza porque a não compreende. O mundo empre- sarial deveria possuir pequenas noções de contabilidade que contribuiriam, certamente, para a melhoria substâncial da gestão das empresas.As práticas contabilísticas neste mundo globalizado afasta-ram-se muito das opções prudentes que antes se seguiam na informação sobre o património e lucros, ou prejuízos alcan-çados. A contabilidade deixou de ser patrimonial e passou a ser de “expectativas”. Há que repensar as normas contabilís-ticas existentes.Esperamos que a nova directiva europeia relativa à simplifica-ção das demonstrações financeiras anuais corresponda aos objectivos de simplificação burocrática. Só assim se poderá provocar algum bem-estar no trabalho dos profissionais, (pro-vocado alguma redução de obrigações), mas duvidamos que a satisfação seja total uma vez que a fiscalidade continua no caminho inverso, ou seja, de completa complicação.A sociedade civil deve resolver por si algumas das situações que se lhe deparam, num projecto de associativismo livre, onde a influência política não se faça sentir.Termino, expectante, por ainda não ter o prazer de poder anunciar aos profissionais a oportunidade de escolherem li-vremente a formação que proporciona elevado grau de saber. Já passaram mais de 6 anos desde que iniciamos o processo em que acreditamos. Tenhamos confiança tudo na vida se transforma porque não existem dinastias eternas!!Boas Festas.

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Entrevista a Américo Brás Carlos

Américo Fernando Brás Carlos (n. 1952) é jurisconsulto e exerceu ou exerce as seguintes funções:

Inspetor-Geral dos Serviços de Justiça de Portugal;Vogal do Conselho Directivo da Administração Geral Tributária;Consultor do “Fiscal Affaires Department” e do “Legal Department” do Fundo Monetário Internacional;Consultor do Tax Program do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos da América; Consultor do Banco Mundial e da União Europeia para o sistema tributário de PALOP;Consultor de várias empresas para a cooperação em matéria tribu- tária;Diretor do Mestrado Executivo em Gestão Fiscal e da pós-graduação em Fiscalidade, do INDEG/ISCTE;Professor Auxiliar Convidado do ISCTE, coordenador das disciplinas de Fiscalidade I e II;Professor nos mestrados executivos das áreas de finanças, de gestão e de contabilidade do INDEG/ISCTE;Professor no Mestrado de Direito das Empresas do ISCTE-IUL; Docente na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa;Diretor do Mestrado em Direito Fiscal, da Universidade “A Politécnica” de Moçambique; Membro do júri do exame de acesso à Ordem dos Revisores Oficiais de Contas;Coordenador do Conselho Económico e Social;Assessor da Comissão para o Desenvolvimento da Reforma Fiscal;Assessor do Conselho para o Sistema Financeiro; Jurista Assessor da Direção Geral dos Impostos;Formador do Centro de Formação e Aperfeiçoamento Profissional da Direção Geral de Impostos; Autor do livro “Impostos-Teoria Geral”, ed. Almedina e coordenador e co-autor do livro “Guia dos Impostos em Portugal”, ed. Quid Júris;Autor de vários manuais de formação tributária em Portugal e Moçambique;Autor de várias dezenas de artigos sobre ciência e técnica tributária em jornais e revistas da especialidade;Autor de várias dezenas de comunicações sobre temas tributários.

entrevista

JC – Orçamento do Estado para 2014: uma luz ao fundo do túnel ou um “voo cego a nada”?BC – É mais um OE dentro da sequência puni-tiva que nos foi imposta pelos que deveriam ser os “nossos parceiros europeus” e que os nossos governantes fizeram questão de querer ultra-passar. Veja-se a triste ideia dos cortes “para além da troyka”. Há um outro aspeto prévio que me preocupa neste OE: este é o terceiro Orçamento do Esta- do consecutivo que é apresentado com eviden-tes sinais de inconstitucionalidade – sendo que nos dois anteriores já várias normas estruturan-tes dos mesmos foram declaradas inconstitu-cionais – com tudo o que isso implica de impre- visibilidade, de conflitualidade entre as insti- tuições e de má imagem para o exterior. Quanto aos efeitos económicos deste OE, é mais um que esmaga o consumo e a economia e, com isso, agrava ainda mais a situação de grande parte das empresas e do desemprego. Sobre este aspecto recordo apenas dois factos que muitas vezes parecem ser ignorados: em Portugal o consumo vale cerca de 2/3 do PIB e ao contrário do que tradicionalmente se diz, são os consumidores – internos ou externos pela via da exportação – que criam postos de trabalho e não as empresas.

JC – E este OE tem condições para sobrevi-ver à fiscalização do Tribunal Constitucio-nal (TC)? BC – A sua pergunta lembra-me a outra coisa lamentável a que voltou a assistir-se em torno do OE e que é a pressão sobre o TC, tentando empurrar para as suas costas as culpas de des-graças vindouras, como se a ele fosse imputável a responsabilidade da elaboração das normas, que a quase generalidade dos constitucionalis-tas reconhece afrontarem a Constituição. Tam-bém sou dos que pensam que existem nova-mente violações do princípio da confiança e do princípio da igualdade a um nível que pode ser considerado incompatível com o que entendo ser a boa interpretação daqueles princípios constitucionais. Resta-nos aguardar.Nesta matéria, tenho que dizer que li todos estes Acórdãos do TC (pelo que tenho ouvido a alguns opinion makers, sou levado a pensar

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que nunca os leram) e, do meu ponto de vista, são Acórdãos tecnicamente bem fundamentados, proferidos num prazo curto e, contendo, em minha opinião, decisões corretas. Onde mais encontraria motivos de divergência foi na mudança de jurisprudência do TC que postergou os efeitos da inconstitu-cionalidade dos cortes dos subsídios de férias e de natal para o ano seguinte – 2012 – e não para a data de publicação do Acórdão como vinha sendo entendido à luz do n.º 4 do arti-go 282.º da Constituição. Mas mesmo depois desse claro aviso (ainda que discutível) o Governo insistiu em medida similar no ano seguinte e tivemos, sem nenhuma surpresa para mim, a declaração de inconstitucionalidade que conhe-cemos.Além da pressão sobre o TC, há também quem exija uma mudança da Constituição, apesar de nunca dizerem quais os preceitos a alterar e em que sentido. Convém contudo lembrar que os princípios da igualdade, da confiança e da proporcio-nalidade, como o TC tem entendido estarem na nossa Cons-tituição são os mesmos que estão nas Constituições da ge-neralidade dos Estados com que nos queremos comparar. Aqueles princípios pertencem à estrutura básica de todos os textos constitucionais.Outra ideia muito propalada é a de que a Constituição (CRP) e o direito em geral estão limitados aos direitos que as finan-ças e a economia possam dar em cada momento. E, portan-to, nos momentos de dificuldades financeiras – equiparados a estado de exceção – a CRP, o direito e os direitos ficariam suspensos. E, já agora, neste caso, quem definiria quais os direitos ainda em vigor? Esta ideia do estado de exceção declarado ad hoc por factos não previstos na Constituição não pode deixar de me trazer à memória o que se passou no III Reich. Nada mais errado. É nos momentos mais difíceis que as Constituições mais necessárias são. Quanto à dependên- cia do direito face à economia, o direito é que deve prece- der a economia e as finanças e não o contrário. Economia sempre houve, o que nem sempre houve foi um direito como o conhecemos – um direito com direitos para todos. Nos estados esclavagistas havia economia, não havia era direitos.

JC – Falou que este OE se enquadra na intenção de punição por parte dos “nossos parceiros europeus”…

BC – É claro, e já o escrevi, que o programa imposto pela UE a Portugal tem uma nítida componente punitiva. Pelos mon-tantes emprestados, pelas taxas de juro inicialmente contra-tualizadas e prazos de amortização, isso é evidente. Quanto aos montantes viu-se logo no início que faltavam pelo menos cerca de 30.000 milhões para as necessidades de regu- larização das finanças públicas portuguesas, valor que veio agora a coincidir com o indicado por um grupo financeiro americano como sendo o valor que Portugal necessitará para o dito programa cautelar. Na altura, o empréstimo concedido a Portugal foi de 78.000 milhões de euros, que compara com o primeiro programa de apoio à Grécia que foi de 110.000 milhões e com 85.000 milhões para o apoio à Irlanda. Na comparação e tendo em conta as respetivas populações (Por-tugal = 10,6 milhões; Grécia = 11,3 milhões; Irlanda = 4,5 milhões) vê-se que o empréstimo a Portugal corresponde a um rácio de €7.358/habitante, enquanto para a Grécia o mesmo foi de €9.734 e para a Irlanda de €18.888. Se rela-tivamente à Grécia, o maior dramatismo da situação justificou um maior empréstimo em termos absolutos e per capita, já relativamente à Irlanda, esta diferença quer também em ter-mos absolutos quer per capita não se explica apenas com a necessidade de socorro ao sistema bancário irlandês. Acresce que, é corrente afirmar que a Irlanda, para além de ter menos de metade da população portuguesa, conta com uma estru-tura económica muito internacionalizada (também pelos laços históricos com os EUA e o Canadá) o que lhe permitiria fazer mais facilmente os devidos ajustamentos nas finanças públicas. No que respeita à taxa de juros a pagar por Portugal às (tam-bém nossas) instituições da UE, na primeira tranche do em-préstimo, tal taxa alcançou os 5,7%. Repare que o FMI, aplicando as suas regras gerais, fixou em 4% a taxa de juro da primeira tranche (portanto quase menos 50%). Quanto aos atuais prazos de reembolso, quem clama por muito maior prazo tem razão. Só isso permitirá fazermos os devidos ajus-tamentos financeiros sem esmagar ainda mais o consumo e sem aumentar a tragédia das insolvências das empresas, do desemprego e da não recuperação dos equilíbrios financeiros nacionais. Para ter uma ideia comparativa das condições do empréstimo a Portugal, recordo as condições gerais do Acordo de Londres assinado em 1953 para tratar das dívidas da Alemanha ante-

Correm tempos difíceis e ao que dizem, de mudança de paradigma, mas nem sempre é fácil encontrar nas opções do legislador fiscal a consagração de soluções adequadas ao interesse coletivo.

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riores e posteriores à II Guerra Mundial: perdão de mais de 50% das dívidas, empréstimo por 25 anos e pagamento de juros só a partir de 1957, sendo que estes não poderiam exceder anualmente 5% das exportações alemãs ou 567 milhões de marcos. Quanto às reparações de guerra ficaram para depois da unificação e, depois, apenas uma pequena parte foi paga. Mas as condições do resgate impostas a Portugal pela UE são tanto mais injustas quando se sabe que o disparar das taxas da dívida portuguesa e dos Estados do Euro mais frágeis ocorre quando, logo após a falência do banco Lehman Bro-thers, a chanceler Merkel afirmou expressamente: “a garantia contra situações de incumprimento não deverá vir da União Europeia, mas de cada Estado-membro separadamente”. E fê-lo não podendo deixar de saber que, não tendo os ditos Estados em dificuldade, a possibilidade de utilizar uma moe-da própria como instrumento de ajustamento, a perceção de risco dos mercados relativamente à sustentabilidade da sua dívida subiria vertiginosamente. E os juros exigidos também, como se viu.

JC – O que pensa da recente reforma do IRC?BC – Desde logo, é um prodígio de coincidência entre o re-latório da respetiva comissão e o legislador fiscal. Vivi por dentro a grande reforma dos Impostos sobre o Rendimento de 1989 (para além da elaboração do Relatório para a Comis- são de Desenvolvimento da Reforma Fiscal de 1996 e dos trabalhos da Ecorfi em 2000) e nunca vi tal coincidência, nem que, designadamente:a) Não fossem quantificadas as consequências das alterações

e encontradas no sistema tributário as necessárias medidas compensatórias;

b) Nas comissões não houvesse representantes dos serviços de administração dos impostos em causa com capacidade de discutir e influenciar as soluções legislativas.

Este afastamento da administração tributária é aliás tanto mais surpreendente quanto esta continua a ser um corpo de assi-nalável competência técnica e dedicação (o que tem aliás permitido colocar Portugal num lugar cimeiro no que respei-ta à modernização do sistema tributário, nomeadamente no que respeita ao cumprimento das obrigações dos particulares) que tem servido o País, de modo consistente, na sua função de liquidação e arrecadação dos impostos num ambiente difícil de exaustão fiscal e social, de maior exigência ao nível das garantias dos contribuintes e de diminuição dos recursos financeiros e humanos ao seu dispor. E tendo sido também importante na formação de muitos especialistas na área da ciência e técnica tributária, que trabalham ou estagiam nos seus serviços ou nos gabinetes governamentais e ingressam ou voltam à atividade privada.

Correm tempos difíceis e ao que dizem, de mudança de paradigma, mas nem sempre é fácil encontrar nas opções do legislador fiscal a consagração de soluções adequadas ao interesse coletivo. Situação que, em boa verdade, já terá começado há alguns anos atrás, designadamente, com a criação da arbitragem tributária, francamente contrária aos princípios constitucionais tributários, mas sem que ne-nhuma entidade com legitimidade para tal levasse a questão ao TC.

JC – Mas não considera importante o facto de as deci-sões arbitrais tributárias serem proferidas em prazos curtos de seis meses ou pouco mais?BC – Claro que a rapidez das decisões é um aspeto muito importante no dirimir de qualquer conflito, mas a questão da rapidez (que não se sabe se continuará caso a arbitragem tributária venha a ser mais procurada) ou qualquer outra, nem se coloca para quem, como eu, considera que o regime da arbitragem tributária é inconstitucional. Sobre a inconstitucio-nalidade da arbitragem tributária e a adequação da mesma à natureza indisponível da relação tributária e ao interesse público, aconselho a leitura do artigo do Prof. Casalta Nabais, “Reflexões sobre a introdução da arbitragem tributária” in Revista de legislação e jurisprudência, n.º 3967, e o livro “Arbitragem Administrativa e Tributária, Problemas e Desa-fios”, coordenado pela Drª Isabel Celeste Fonseca, com espe-cial atenção para os preocupantes avisos que o Prof. Mário Aroso de Almeida deixa no respetivo prefácio. Também no I volume do livro de homenagem ao Prof. Alberto Xavier estão algumas ligeiras reflexões minhas sobre o tema. Quando eu era Inspetor Geral dos Serviços de Justiça entre-vistaram-me sobre o problema dos atrasos da justiça e a minha resposta continua a ser a mesma. O Estado democrá-tico e desenvolvido necessita de salvaguardar parâmetros mínimos de exigência, qualidade técnica e de produtividade, também na justiça. São também desafios que a auto organi-zação da magistratura tem pela frente. Percebe-se que se a um conjunto de licenciados em direito for atribuído o poder efetivo que um magistrado tem e não forem estabelecidos efetivos mecanismos de avaliação de diferentes níveis, não é inverosímil que alguns se transformem em algo diferente de “administradores da justiça em nome do povo” como impõe a Constituição da República. Deve, pois, é atacar-se seriamen-te o problema da justiça tributária do Estado (não reconheço outra) e não entrar por regimes em que a CRP é afrontada, o interesse público parece não ter sido devidamente acaute-lado e onde são frágeis os mecanismos que visam assegurar a imparcialidade dos árbitros. É aliás muito perturbador que dois dos panegíricos mais frequentemente ouvidos relativa-mente a este regime seja o de se tratar de um regime inova-

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a Américo Fernando Brás Carlos

entrevista

dor em todo o mundo, sabendo-se que isso não é garantia de qualidade e legalidade; e de que os juízes jubilados, ago-ra árbitros, trazem à arbitragem tributária uma certidão de qualidade que a prestigia, parecendo esquecer que os mesmos se formaram nos tribunais do Estado e que, de onde vêm, a regra é a da qualidade e isenção. Mas esta espécie de voluntarismo legislativo também se nota em casos como o do regime dos residentes habituais, cuja face mais visível são os anúncios televisivos passados na Amé-rica latina incentivando os reformados a contactarem um certo número telefónico a fim de tratarem da residência em Portugal, onde não serão tributados. Neste caso, se tal pro-paganda resultar, imagino que o número de autocaravanas ao longo da costa alentejana e algarvia possa aumentar, bem como a pressão sobre o serviço nacional de saúde. Um outro caso recente de “oferecimento” do País são os cartazes em

chinês e em russo na sala de recolha de bagagens do Aero-porto de Lisboa anunciando que a compra de um apartamen-to no valor de €500.000 dá direito à obtenção do visto de residência. Resta-me a esperança de que seja levado a cabo um prévio e eficaz controlo.

JC – E o que nos pode dizer sobre as soluções concretas constantes da proposta desta reforma do IRC? BC – Começo pela redução da taxa do IRC, por ser o aspeto mais mediatizado.Em circunstâncias normais e em princípio não vejo nenhuma boa razão para que a taxa estatutária de tributação em IRC seja superior à média da UE. E de acordo com o relatório da comissão do IRC, considerando a derrama municipal e a der-rama estadual, é isso que acontece. Mas o problema é que não estamos num tempo normal. E não se vê qual a urgência em perder receita (além de que a estimativa governamental de 70 milhões de perda de receita parece baixa) num período de dramática necessidade de consolidação orçamental, como aliás, os rendimentos do trabalho e das pensões bem têm sentido. Ninguém acredita que existam milhões de euros de potencial investimento à espera desta descida da taxa estatu-tária para entrarem neste ou no próximo ano na economia portuguesa. Aliás, pensando em incentivos fiscais ao investi-mento é surpreendente que se tenha ignorado totalmente o artigo 41.º do EBF, dedicado precisamente aos incentivos fiscais ao investimento de natureza contratual. Parece-me mais

um aproveitamento apressado da actual conjuntura política-partidária. Nesta fase, a haver uma descida de taxa do IRC, ela deveria ser apenas para entidades verdadeiramente expor-tadoras.Quanto ao regime de isenção dos lucros e mais valias (parti-cipation exemption) agora proposto para os artigos 14.º e 51.º do CIRC, defendo que é tão inaceitável a dupla tributa-ção como a dupla não tributação. E, nessa medida, a não restrição territorial do âmbito da isenção e da dedução pre-vista nos artigos referidos, independentemente das participa-das e participantes se situarem dentro ou fora da UE, seria aceitável. O que não parece aceitável é que se tivesse altera-do a norma antiabuso que não permitia a aplicação deste regime quando não tivesse havido tributação efectiva destes rendimentos na esfera de quem os distribuiu. Passam a ser possíveis situações de dupla não tributação.

No que respeita à alteração do período de reporte de prejuí- zos de cinco para doze anos, passasse algo parecido. É ver-dade que a passagem de cinco para doze anos, sem qual- quer gradualismo, suscita grande perplexidade, mas em meu entender é mais criticável, no caso de aquisição de sociedades com prejuízos fiscais, o desaparecimento da obrigação de continuidade do objeto e da atividade da empresa geradora de prejuízos como condição para que aqueles fossem repor-tados (n.º 3 do artigo 52.º do CIRC) assumindo-se agora o legislador indiferente às aquisições de empresas com prejuí-zos, apenas por razões de poupança fiscal. Não é objetivo desta entrevista escalpelizar toda a proposta de reforma do IRC, mas termino chamando a atenção para a mudança no princípio geral para dedução fiscal dos gastos e perdas incorridos, constante no n.º 1 do artigo 23.º do CIRC. Deixará de ser exigida a sua comprovada indispensabilidade para a realização dos rendimentos sujeitos a imposto ou para a manutenção da fonte produtora, para passar a serem fis-calmente dedutíveis “todos os gastos e perdas incorridos ou suportados pelo sujeito passivo para obter ou garantir os rendimentos sujeitos a IRC”. Relativamente ao preceito ainda vigente já a jurisprudência tinha sedimentado largamente o conceito de indispensabilidade, desligando-o designadamente de julgamentos de boa ou má gestão. Agora com a nova redação, destinada a ser menos restritiva, vai reiniciar-se um novo caminho de “depurar” jurisprudencial; e, contra o obje- tivo expresso da comissão, a litigância vai aumentar.

Ninguém acredita que existam milhões de euros de potencial investimento à espera desta descida da taxa estatutária para entrarem neste ou no próximo ano na economia portuguesa.

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JC – Regime do IVA de Caixa: uma boa ideia? Uma má legislação? Um péssimo contexto?BC – Bem, o regime é opcional, o que, no caso, é positivo. Parecia que o IVA de caixa ia ser uma solução muito relevan-te para os problemas de tesouraria das empresas de menor dimensão (regime que existe em vários Estados da UE), e, afinal, parece ser ainda reduzido o número de empresas que a ele aderiu. O acesso a todas as informações ou documentos bancários sem dependência de autorização do sujeito passivo, que o artigo 63-B, n.º 1, al. d) da LGT veio consagrar, terá possivelmente determinado uma menor adesão ao regime, mas porque para estes sujeitos passivos a exigibilidade do imposto passou a assentar no recebimento, era espectável a criação de um regime mais expedito de quebra do sigilo bancário.Além disso, o regime contém outras dificuldades para quem nele se enquadra e para quem com ele se relaciona, que não parecem de fácil resolução. Veja, por exemplo, o caso de fornecedores do regime normal que vendem a clientes do regime de caixa: têm uma nova obrigação de comunicação, cumprida agora em relação ao pagamento. Os próprios sujei-tos passivos enquadrados no regime de caixa têm que atua-lizar as suas aplicações informáticas de modo a contemplar também o momento do recebimento e do pagamento, quan-do antes para IVA e para IRC, relevava apenas o momento da faturação. Enfim, não é fácil encontrar um regime sem aspetos negativos. JC – A Administração Fiscal obriga à comunicação men-sal da facturação emitida pelas empresas: a eficiência do controlo fiscal justifica os custos de contexto das empresas?BC – Claro que esses custos devem merecer a atenção dos decisores. Provavelmente, esse seria um campo onde mais frutuosa se poderia revelar a constituição de um grupo de trabalho para testar a efetiva relevância de cada obrigação acessória imposta aos sujeitos passivos,

JC – Acha que a actividade de Restauração consegue sobreviver fiscalmente à taxa de 23% com ganhos para todos: agentes económicos, autoridade fiscal e consu-midores?BC – Voltamos à ideia já explanada. No limite, sobreviverá, como sobreviverá toda a economia, se o rendimento dispo-nível das pessoas e o consumo não continuarem a ser esma-gados. Mas, na restauração como nas atividades turísticas em geral, a comparação com as taxas para a mesma atividade em Espanha e a aproximação a estas, parece dever ser o principal aspeto a ter em atenção no futuro.

JC – O que pensa sobre mais um agravamento das tri-butações autónomas sobre as viaturas ligeiras de pas-sageiros no Orçamento de 2014: mais receitas fiscais ou sucessivo desaparecimento das frotas comerciais, em especial nas microempresas e pequenas empresas?BC – Em matéria de tributações autónomas, há vários anos que percorremos esta vertigem onde já não se percebe um fio condutor que não seja a obtenção de receita fiscal. Trata- -se de uma tributação da despesa e não do rendimento, que, além disso, carece de uma lógica coerente. São tributados nesta sede gastos dedutíveis e não dedutíveis; gastos susce-tíveis de utilização na empresa e na pessoa dos seus titulares ou colaboradores e outros que não têm esta característica. A continuar assim, a receita das tributações autónomas no próximo ano chegará a cerca de 1/3 do total da receita de IRC, o que revela a que ponto chegámos.

JC – Que soluções para resolver a vida orçamental de um Portugal endividado?BC – Eu até poria a questão ao contrário: que soluções para reduzir a dívida de um país com défice orçamental. Sabe-se que, num cenário de ausência de défice orçamental, o cres-cimento da dívida é dado pelo rácio entre a taxa de juro a pagar e o crescimento do PIB. Claro que num cenário de défice, como o nosso, este faz aumentar ainda mais a dívida. Outro aspeto importante a ter em conta é que o consumo vale cerca de 2/3 do nosso PIB. Portanto, para começar a amortizar a dívida – e é para a dívida e para a capacidade de a pagar que os investidores olham – devemos:a) Sinalizar permanentemente o compromisso de pagamento

aos nossos credores; b) Insistir convictamente junto da troyka no sentido da evi-

dência da vantagem também para os credores em aumen-tar o prazo dos empréstimos, tendo em vista não esmagar mais a procura agregada, o consumo e o PIB e possibilitar o lançamento de algumas políticas ativas de crescimento da economia;

c) Conceder créditos fiscais ao investimento dirigidos a em-presas exportadoras e aligeirar os limites para a concessão de incentivos fiscais de natureza contratual previstos no artigo 41.º do EBF;

d) Na medida que for possível, transformar dívida externa em dívida interna (corrigindo também o erro passado de des-truição dos certificados de aforro enquanto instrumento de captação de poupanças, cometido no passado) com a vantagem de os juros serem pagos e, em princípio, utiliza-dos no País.

Entrevista conduzida por Manuel Benavente Rodrigues

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Jornal de Contabilidade 205

EnQUAdRAMEnTO E OBJECTIVOs

A Revalorização dos Activos Fixos Tangíveis constitui-se como um dos aspectos inovadores do actual normativo contabilísti-co, sobretudo porque as normas previstas no Sistema de Normalização Contabilística trazem alterações em relação às anteriores Reavaliações Legais, suportadas por diploma de âmbito fiscal, e às Reavaliações Livres, suportadas pela Direc-triz Contabilística 16.A Revalorização [entendida no âmbito do Sistema de Nor-malização Contabilística (SNC) através da adopção da Norma Contabilística e de Relato Financeiro (NCRF) 7 – Activos Fixos Tangíveis (AFT), para as entidades abrangidas pelo artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho (MFAP, 2009a), e da Norma Contabilística e de Relato Financeiro para as Pequenas Entidades (NCRF-PE) para as entidades abrangidas pelo artigo 9.º do referido Decreto-Lei] – e a Reavaliação [entendida no âmbito do Plano Oficial de Contabilidade (POC) através de diplomas legais específicos e das Directrizes Contabilísticas (DC), em particular a DC 16 intitulada Reava-liação de activos imobilizados tangíveis] são temas tratados por diversos autores de reconhecido mérito na área conta-bilística.Com este Trabalho propomo-nos:• Evidenciar as alterações decorrentes da legislação contabi-

lística em vigor face às anteriores reavaliações;• Identificar as características da revalorização; • Operacionalizar o respectivo enquadramento contabilís-

tico; • Observar as implicações fiscais da revalorização, em parti-

cular nos Impostos Diferidos; • Apresentar o respectivo enquadramento contabilístico no

contexto da problemática fiscal.

contabiliDaDe financeira

Maria Lúcia Marques(**)

Professora Adjunta da ESTG do Instituto Politécnico da GuardaInvestigadora da UDI – Unidade de Investigação para o Desen-volvimento do Interior(PEst-OE/EGE/UI4056/2011 – projeto fi-nanciado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT)

Modelo de Revalorização dos Activos Fixos Tangíveis: repercussão nas Demonstrações Financeiras(*)

METOdOlOgIA E REQUIsITOs

Para concretizar os objectivos referidos, seguiu-se, em termos de investigação, o protocolo metodológico proposto por Raupp e Beuren (2006), assente em três pilares: a) quanto aos objectivos, a pesquisa é descritiva e explicati-

va;b) quanto aos procedimentos, a pesquisa é bibliográfica;c) quanto à abordagem do problema, a investigação é qua-

litativa.Para Raupp e Beuren (2006) a pesquisa descritiva traduz-se num estudo intermediário entre a pesquisa exploratória e a explicativa, isto é, não se apresenta tão preliminar como a primeira nem tão aprofundada como a última. Por seu lado, a pesquisa explicativa tem por objectivo aprofundar o conhe-cimento da realidade, procurando a razão, o porquê das coisas e, por esse motivo, está mais sujeita a erros. As pes-quisas bibliográficas são desenvolvidas mediante material já trabalhado, ou seja, fontes de evidência secundárias, princi-palmente livros e artigos científicos (e técnicos e/ou académi-cos). A investigação qualitativa é aquela que não emprega um instrumento estatístico como base do processo de análise do problema; concebendo-se análises mais profundas em relação ao fenómeno que está a ser estudado (Raupp e Beu-ren, 2006; Vieira et al., 2009).Importa evidenciar que, para a compreensão do tema a de-senvolver neste Trabalho, se assume que há um conjunto de conceitos que já devem estar apreendidos. Em particular: (1) conceitos e aspectos de controlo interno dos AFT; (2) ca-tegorias de AFT; (3) reconhecimento e mensuração inicial dos AFT; (4) especificidade e métodos de depreciação dos AFT e (5) contabilização da depreciação. A NCRF 7, relativa aos AFT(1), apresenta uma estrutura similar aos conceitos prévios anteriormente indicados, tendo sido objecto de estudo prévio os seguintes §§ da Norma:• Objectivos: §§ 1.• Âmbito: §§ 2 a 5.

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206 Jornal de Contabilidade

• Definições: §§ 6, entre as quais se destacam as definições de (i) AFT; (ii) Custo; (iii) Depreciação (amortização); (iv) Jus- to valor; (v) Perda por imparidade; (vi) Quantia escriturada; (vii) Quantia recuperável; (viii) Valor residual; (ix) Vida útil.

• Reconhecimento: §§ 7 a 15, indicando as condições sobre o reconhecimento do custo como sendo um activo (§§ 7); aos custos iniciais (§§ 12) e aos custos subsequentes (§§ 13 a 15).

• Mensuração no reconhecimento: §§ 16 a 28, destacando-se os elementos do custo (§§ 17 a 23) e a mensuração do custo (§§ 24 a 28).

• Mensuração após reconhecimento: §§ 29 a 65. O tema em estudo encontra-se enquadrado por estes parágrafos. Esta mensuração pode ser efectuada segundo o modelo de custo ou o modelo de revalorização. Interessa destacar que, previamente ao estudo do modelo de revalorização, já se estudou a Depreciação (§§ 43 a 62) onde se desenvolveram conceitos relacionados com depreciação, quantia depreciá-vel, período de depreciação, métodos de depreciação e quantia escriturada.

sUMáRIO dO TRABAlhO

Para a concretização dos objectivos enunciados, o Trabalho encontra-se estruturado em oito secções. Depois da Introdu-ção, são tecidas considerações quanto ao âmbito e objectivos do tema em estudo na segunda secção. Na terceira secção, dar-se-á atenção aos aspectos relacionados com a mensuração após reconhecimento, encontrando-se na quarta secção o enquadramento e respectivo tratamento contabilístico da re-valorização dos Activos Fixos Tangíveis. Questões que se en-trecruzam com a problemática dos Passivos por Impostos Diferidos serão realçados na quinta secção e, na sexta, o foco direccionar-se-á para a divulgação da informação que é exi-gida no Anexo às Demonstrações Financeiras, quando uma entidade opta pelo modelo de revalorização. Na sétima secção exemplifica-se o tratamento contabilístico do tema em estudo, através da apresentação de um Caso Prático, procurando fazer uma análise detalhada e integrada das problemáticas que lhe estão associadas. A finalizar, são apresentadas algu-mas Considerações Finais.

1. InTROdUçãO

A nível contabilístico têm-se vindo a operar significativas mu-danças desde a adopção, pela Comissão Europeia, das normas internacionais de relato financeiro emitidas pelo International Accounting Standards Board (IASB, 2011)(2), bem como pelas alterações decorrentes da utilização das normas previstas no

Sistema de Normalização Contabilística (SNC), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho (MFAP, 2009a).O Regulamento (CE) n.º 1606/2002 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de Julho (CE, 2002), indicava, no seu artigo 1.º, que “tinha como objectivo a adopção e a utilização das normas internacionais de contabilidade na Comunidade, com vista a harmonizar as informações financeiras apresenta-das pelas sociedades, por forma a assegurar um elevado grau de transparência e de comparabilidade das demonstrações financeiras e, deste modo, um funcionamento eficiente do mercado de capitais da Comunidade e do mercado interno”.Este Regulamento indicava ainda que, “em relação a cada exercício financeiro com início em ou depois de 1 de Janeiro de 2005, as sociedades regidas pela legislação de um Estado- -Membro cujos títulos são negociados publicamente devem, em determinadas condições, elaborar as suas contas consoli-dadas em conformidade com as normas internacionais de contabilidade”. Acrescentava que as normas internacionais de contabilidade adoptadas deviam ser publicadas na íntegra em todas as lín-guas oficiais da Comunidade, sob a forma de Regulamento da Comissão, no Jornal Oficial das Comunidades Europeias, o que se veio a verificar com a publicação do Regulamento (CE) n.º 1725/2003 da Comissão, de 21 de Setembro (CE, 2003). Posteriormente, o Regulamento (CE) n.º 1126/2008 da Co-missão, de 3 de Novembro (CE, 2008), veio substituir o an-terior Regulamento (CE) n.º 1725/2003 da Comissão, de 21 de Setembro (CE, 2003), sendo a base das Normas Contabi-lísticas e de Relato Financeiro do Sistema de Normalização Contabilística, homologadas pelo Aviso n.º 15655/2009, de 7 de Setembro (MFAPSG, 2009b), e da Norma Contabilística e de Relato Financeiro para Pequenas Entidades do Sistema de Normalização Contabilística, homologada pelo Aviso n.º 15654/2009, de 7 de Setembro (MFAPSG, 2009a). A temática das denominadas Reavaliações, até 31 de Dezem-bro de 2009, era regulada pelos normativos que decorriam do Plano Oficial de Contabilidade (MF, 1989), de diplomas legais específicos e das Directrizes Contabilísticas (DC) – em particu-lar a DC 16 Reavaliação de activos imobilizados tangíveis(3). A reavaliação dos activos imobilizados tangíveis podia ser efectuada com base na variação do poder aquisitivo da moe- da. Adoptando este procedimento a quantia excedente era objectiva e verificável; objectiva, porque se apoiava normal-mente em índices de preços que traduziam variações gerais nos preços ou, por motivos fiscais, nos “coeficientes de des-valorização monetária” publicados anualmente pelo Ministé-rio das Finanças; verificável, porque quando se procedia à sua comprovação, obtinha-se sempre a mesma quantia.A reavaliação dos activos imobilizados tangíveis também podia ser efectuada com base no Justo Valor. Neste caso, os avalia-

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Jornal de Contabilidade 207

dores procediam de acordo com parâmetros próprios de cada um; a quantia atingida era naturalmente subjectiva e dificil-mente verificável (no sentido em que cada um obtinha outra quantia dado o uso de parâmetros pessoais) e só por excep-ção coincidiria com a do avaliador inicial.A partir de 1 de Janeiro de 2010, com a entrada em vigor do Sistema de Normalização Contabilística(4), adopta-se a NCRF 7 – Activos Fixos Tangíveis, para as entidades abrangidas pelo artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 158/2009 e a NCRF – PE para as entidades abrangidas pelo artigo 9.º do referido Decreto-Lei. A adopção da NCRF 7 e da NCRF-PE decorre da adopção da Norma Internacional de Contabilidade (do inglês International Accounting Standard – IAS) 16 – Activos Fixos Tangíveis. Esta é a norma do IASB que prescreve os procedimentos que uma entidade aplica no reconhecimento (inicial e subsequente) dos AFT, tendo como objectivo o tratamento contabilístico dos activos fixos tangíveis, em particular no respectivo reconheci-mento e mensuração. Estas alterações contabilísticas trouxeram mudanças no reco-nhecimento e mensuração dos AFT. O §§ 2 da NCRF 7 deli-mita o âmbito de aplicação da mesma – a contabilização de AFT – excepto quando uma outra Norma exija ou permita um tratamento contabilístico específico, tais como (i) Activos fixos tangíveis classificados como detidos para venda, (ii) Activos biológicos relacionados com a actividade agrícola, (iii) Activos relacionados com a exploração e avaliação de recursos mine-rais, ou (iv) Direitos minerais e reservas minerais.De seguida, apresenta-se um resumo dos normativos que suportam as Reavaliações e as Revalorizações:

Ant

es d

e 20

10

Reavaliações Legais:De 1963 a 1998 foram publicados vários diplomas de reava-liação de âmbito fiscal(5), a saber:

Portaria n.º 20258, de 28/12/63Decreto-Lei n.º 126/77, de 2/4Decreto-Lei n.º 430/78, de 27/12Decreto-Lei n.º 24/82, de 30/1Decreto-Lei n.º 219/82, de 2/6Decreto-Lei n.º 143/84, de 9/5Decreto-Lei n.º 399/G-84, de 28/12Decreto-Lei n.º 278/85, de 19/7Decreto-Lei n.º 118-B/86, de 27/5Decreto-Lei n.º 111/88, de 2/4Decreto- Lei n.º 49/91, de 25/1Decreto-Lei n.º 264/92, de 24/11Decreto-Lei n.º 31/98, de 11/2(6)

Reavaliações Livres:Suportadas pela Directriz Contabilística 16 – Reavaliação de activos imobilizados tangíveis, a qual foi aprovada pelo Con-selho Geral da CNC, em 11 de Janeiro de 1995.

Apó

s 20

10

Com a entrada em vigor do SNC, a Revalorização de Activos Fixos Tangíveis encontra-se enquadrada pela:

• NCRF 7 – Activos Fixos Tangíveis, para as entidades abran-gidas pelo artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 158/2009; e

• NCRF – PE para as entidades abrangidas pelo artigo 9.º do referido Decreto-Lei.

Diversos autores, durante a vigência do Plano Oficial de Con-tabilidade (MF, 1989) questionaram a utilidade e os objectivos das Reavaliações Livres. É o caso de Ferreira (1993: 171) ao referir que “pessoalmente sempre reagiu contra as reavalia-ções ditas livres. Alguém tem de apontar cautelas, mostrar receios. Na verdade, práticas indiscriminadas de reavaliações põem em perigo a certeza do Direito e as bases da informa-ção contabilística, sendo, obviamente, alarmantes e significa-tivos os inconvenientes daí resultantes.”Também Machado (1998: 724-725) questiona esta remensu-ração, afirmando que “tem havido a tendência nas empresas do nosso país em favorecer a remensuração do valor de uso dos activos fixos, com a complacência dos contabilistas, revi-sores, com o fim de apresentarem demonstrações de balanços ‘melhoradas’ perante instituições financeiras, os investidores e o público em geral.”Com a introdução do actual normativo, mantêm-se a perti-nência do tema. Em muitas das rubricas pode ser aplicada uma mensuração híbrida. Os Investimentos Financeiros e os AFT, entre outros, podem ser mensurados ao custo ou ao justo valor, ou seja, modelos de valorização diferentes.Se a informação financeira for entendida como elemento de apoio à decisão dos investidores, esta opção de mensuração tem implicações claras na escolha dos modelos de avaliação dos Activos e dos Passivos.

2. ÂMBITO E OBJECTIVOs

A Revalorização dos activos – focalizada neste Trabalho apenas nos Activos Fixos Tangíveis (AFT) – e os seus reflexos na res-pectiva contabilização são aspectos importantes a considerar pelos responsáveis contabilísticos e pelos órgãos de gestão, pois esta temática interfere directamente nos critérios de avaliação dos activos. Também os docentes comungam de idêntica preocupação, pois esta questão influencia significati-vamente o estudo dos AFT. Na mensuração subsequente dos AFT, a entidade pode optar por adoptar o modelo do custo ou o modelo de revalorização. Rodrigues et al. (2010) alertam para as implicações da adop-ção de cada um destes modelos, em particular quanto à (i) mensuração do valor do período (ii) mensuração das even-tuais perdas por imparidade e (iii) determinação do justo valor à data da revalorização. E acrescentam que se deverá discutir “o impacto de cada um daqueles modelos na informação financeira divulgada, ao nível dos resultados presentes e fu-turos; do valor dos capitais próprios; da análise da informação por parte dos seus utilizadores”. (Rodrigues et al., 2010: 412).Os modelos de Demonstrações Financeiras foram aprovados pela Portaria n.º 986/2009, de 7 de Setembro (MFAP, 2009b),

Maria Lúcia Marques

contabiliDaDe financeira

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208 Jornal de Contabilidade

e a entidade adopta os mesmos modelos nas contas indivi-duais e nas contas consolidadas.A adopção do Modelo de Revalorização dos AFT exige alte-rações e divulgações:• no Balanço – no valor apresentado pelas rubricas Activos

Fixos Tangíveis e Excedentes de Revalorização, bem como nos respectivos Passivos por impostos diferidos;

• na Demonstração dos Resultados por naturezas – no valor apresentado pelos Gastos/reversões de depreciação e de amortização e Imparidade de activos depreciáveis/amortizá-veis (perdas/reversões);

• na Demonstração das Alterações no Capital Próprio – no item Excedentes de revalorização de activos fixos tangíveis e intangíveis e respectivas variações, na qual se divulgam e justificam os acréscimos e as diminuições do próprio ano e do ano anterior;

• no Anexo – com particular destaque para as divulgações exigidas nas notas 8 – AFT e 26 – Impostos sobre o Rendi-mento.

Guimarães (2010) afirma que é reconhecida a importância da adopção do critério de mensuração do justo valor na quali-dade da informação financeira prestada pelas empresas, com destaque para a característica qualitativa da relevância a qual contribui para “a sua verdadeira performance”.No presente trabalho optou-se por aprofundar a NCRF 7 nas alterações contabilísticas que veio permitir, em particular com a possibilidade de, na mensuração subsequente, se poder optar pelo modelo de revalorização. Poder-se-ia ter abordado a problemática da determinação do justo valor e a sua implicação nas demonstrações financeiras, no valor da própria empresa, nas suas aptidões e adequação ao mercado, no valor do seu capital humano(7). Porém, o enquadramento da mensuração após reconhecimento, deta-lhando o modelo de revalorização, e o impacto nos Impostos Diferidos revelaram-se mais pertinentes dadas as dificuldades suscitadas por alguns estudantes, nomeadamente quando se encontram a realizar o seu Relatório de Estágio. Pois, como refere Guimarães (2008: 1) “é que esta matéria dos ‘impostos diferidos’, não é uma matéria simples, e para a compreender é preciso aprender a ‘pensar em termos de impostos diferi-dos’.”A literatura contabilística publicada quer antes, quer depois de 2010, apresenta de forma isolada o estudo dos AFT (Imo-bilizações Corpóreas, na anterior denominação) dos Impostos Diferidos. É o caso, entre outros, dos seguintes autores:• Machado (1998): apresenta o estudo dos AFT ou Imobiliza-

ções Corpóreas no capítulo 21; em relação aos impostos diferidos apenas refere que “vamos aguardar a evolução no FASB e no IASC a este respeito.” (pp. 1325). Convém lem-brar que a Directriz Contabilística n.º 28 Impostos sobre o

Rendimento (MFSG, 2003) foi publicada em Janeiro de 2003.(8)

• Borges et al. (2007): apresenta o normativo relacionado com a revalorização (pp. 150-151) e com os passivos por impos-tos diferidos (pp. 92-93), exemplificando-os de forma sin-tética.

• Costa e Alves (2008): apresenta em capítulos autónomos o estudo das imobilizações Corpóreas (11) e o estudo dos Impostos sobre os lucros: correntes e diferidos (17).

• Almeida et al. (2010a): apresenta o estudo da revalorização de AFT e a problemática dos impostos diferidos (pp. 179- -185), apenas aplicada a dois exercícios económicos, enqua-drando-os do ponto de vista contabilístico e fiscal.

• Borges et al. (2010): apresenta, isoladamente, o estudo do reconhecimento e mensuração dos AFT e dos impostos diferidos, exemplificando-os resumidamente nas Aplicações 84 e 126.

• Gomes e Pires (2010): no Caso Prático n.º 6 (pp. 241-242) apresenta a resolução de várias situações relacionadas com a revalorização mas “sem considerar o efeito dos impostos diferidos”; no Caso Prático n.º 3 (pp. 666-669) apresenta a resolução da revalorização enquadrada na problemática dos impostos diferidos, mas de forma sintética e sem con-tinuidade nos anos seguintes.

• Martins (2010): apresenta uma nota adicional sobre aspec-tos contabilístico-fiscais do método de mensuração de activos tangíveis através do custo revalorizado no capítulo 17, de forma resumida.

• Rodrigues et al. (2010): na resolução do Caso Prático 9 – – Modelo de revalorização é referido expressamente que “o mesmo está a ser resolvido, ignorando quaisquer efeitos dos impostos diferidos” (pp. 434). No Caso Prático 4 – Mul-tas, mais-valias, provisões, revalorizações e depreciações faz um enquadramento sintético das implicações dos impostos diferidos na revalorização (pp. 815-816).

• Silva et al. (2010): apresenta no estudo dos Investimentos (capítulo 3), um exercício resolvido (I.3.05) no qual refere que “por simplificação não foram considerados os efeitos tributários da operação”; no estudo dos Impostos sobre o Rendimento (capítulo 7), são apresentados dois exercícios (I.7.01 e I.7.02) onde aplicam os efeitos dos impostos dife-ridos à revalorização, mas de forma sintética.

No seguimento desta pesquisa bibliográfica, entendeu-se ser oportuno elaborar um Caso Prático que procurasse conjugar, ao longo da totalidade da vida útil, as questões associadas ao modelo de revalorização dos AFT com a problemática dos Impostos diferidos, justificá-las com o normativo em vigor e apresentar a respectiva contabilização anual.

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3. MEnsURAçãO APós RECOnhECIMEnTO

Após o reconhecimento e mensuração inicial (§§ 16 a 28 da NCRF 7), cada classe de AFT poder-se-á mensurar subsequen-temente através do:• Método do custo (§§ 30 da NCRF 7); ou• Método de revalorização (§§ 31 a 42 da NCRF 7),e essa política dever-se-á aplicar a uma classe inteira de AFT. Na Figura 1 encontra-se esquematizado a aplicação de cada um destes métodos.O reconhecimento dos AFT pode ser efectuado por uma quantia revalorizada quando possa ser mensurado fiavelmen-te o seu justo valor(9) (§§ 31 da NCRF 7). E as revalorizações devem ser feitas com suficiente regularidade para assegurar que a quantia escriturada não difere materialmente daquela que seria determinada pelo uso do justo valor à data do balanço.Segundo Costa (2010: 56) “o justo valor adoptado deverá corresponder à situação do bem à data, que poderá ser obtido pelo valor de mercado, apenas se existir mercado activo ou, em alternativa, mas apenas no momento da tran-sição, pelo valor presente dos fluxos de caixa que o activo ainda irá proporcionar.”O justo valor dos AFT poderá, assim, ser determinado através de vários critérios (§§ 32 e 33 da NCRF 7): • Terrenos e edifícios: com base em provas obtidas no mer-

cado e recorrendo aos serviços de avaliadores qualificados e independentes;

• Itens de instalações e equipamentos: com base no valor de mercado determinado pela avaliação;

• Se não houver provas com base no mercado, não será possível utilizar o método de revalorização(10).

No caso duma entidade proceder à revalorização de um AFT de uma determinada classe, deverão ser revalorizados todos os activos dessa mesma classe (§§ 36 da NCRF 7). Ferreira (2010a: 15) justifica esta necessidade “sob pena de estarmos a distorcer o valor da classe como um todo, afectando desta forma o princípio que o SNC segue relativamente à compa-

rabilidade e da imagem verdadeira e apropriada. Na mesma linha de orientação, depreende-se que a revalorização dos bens de uma classe deverá ser assegurada de forma simultâ-nea, ou seja, evitar a revalorização selectiva e o relato de quantias que sejam uma mistura entre custos e valores em datas diferentes”.Uma classe do activo fixo tangível é um agrupamento de activos de natureza e uso semelhantes nas operações de uma entidade. O §§ 37 da NCRF 7 indica exemplos de classes separadas:

(a) terrenos; (e) aviões;(b) terrenos e edifícios; (f) veículos a motor;(c) maquinaria; (g) mobiliário e suportes fixos; e(d) navios; (h) equipamento de escritório.

Os itens integrados numa classe do activo fixo tangível são, segundo o §§ 38 da NCRF 7, revalorizados simultaneamente a fim de ser evitada a revalorização selectiva de activos e o relato de quantias nas demonstrações financeiras que sejam uma mistura de custos e valores em datas diferentes. Porém, uma classe de activos pode ser revalorizada numa base rota-tiva desde que a revalorização da classe de activos seja con-cluída num curto período e desde que as revalorizações sejam mantidas actualizadas.De acordo com o §§ 34 da NCRF 7, a frequência das revalo-rizações dos AFT deverá obedecer a alguma regularidade de modo a assegurar que a quantia escriturada não difira mate-rialmente daquela que seria determinada pelo uso do justo valor à data do balanço. A frequência das revalorizações depende das alterações nos justos valores dos activos fixos tangíveis que estão a ser reva-lorizados. Quando o justo valor de um activo revalorizado diferir materialmente da sua quantia escriturada, é exigida uma nova revalorização (§§ 34 da NCRF 7). Na Figura 2 encontra-se uma síntese dos procedimentos a adoptar no Modelo de Revalorização.

Figura 1 – Esquema de aplicação do Método do Custo e do Método de Revalorização

Fonte: Ferreira (2010a:15).

Maria Lúcia Marques

contabiliDaDe financeira

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210 Jornal de Contabilidade

Figura 2 – Síntese da frequência da Revalorização

Fonte: Elaboração Própria, a partir da NCRF 7.

Em relação à revalorização de AFT (§§ 34 da NCRF7) podem- -se aplicar os seguintes procedimentos:• Alterações insignificantes no seu justo valor: poderão ser

revalorizados apenas a cada três ou cinco anos;• Alterações significativas e voláteis no seu justo valor: have-

rá a necessidade de revalorização anual.

4. REVAlORIzAçãO dE ACTIVOs FIxOs TAngíVEIs

Na data de revalorização, de acordo com o §§ 35 da NCRF 7, as depreciações acumuladas poderão ser tratadas de uma das seguintes formas:a) “Reexpressa proporcionalmente com a alteração na quan-tia escriturada bruta do activo a fim de que a quantia escri-turada do activo após revalorização iguale a quantia revalori-zada”. Este método é usado frequentemente quando um activo é revalorizado por meio da aplicação de um índice ou coeficiente para determinar o seu custo de reposição depre-ciado;b) “Eliminada contra a quantia escriturada bruta do activo, sendo a quantia líquida reexpressa para a quantia revaloriza-da do activo”. Este método é frequentemente usado para edifícios, utilizando o valor de mercado do mesmo.A quantia do ajustamento proveniente da reexpressão ou da eliminação da depreciação acumulada faz parte do acréscimo ou do decréscimo da quantia escriturada, de acordo com os §§ 39 e 40.O reconhecimento da Revalorização do AFT terá os seguintes procedimentos:• Se a quantia escriturada de um activo for acrescida como

resultado de uma revalorização, o aumento deve ser credi-tado directamente ao capital próprio numa conta com o título de excedente de revalorização. Contudo, o aumento deve ser reconhecido nos resultados até ao ponto em que reverta um decréscimo de revalorização do mesmo activo previamente reconhecido nos resultados (§§ 39 da NCRF 7).

• Se a quantia escriturada de um activo for decrescida como resultado de uma revalorização, a diminuição deve ser re-conhecida nos resultados(11). Contudo, a diminuição deve ser debitada directamente ao capital próprio com o título de excedente de revalorização até ao ponto de qualquer saldo de crédito existente no excedente de revalorização com respeito a esse activo (§§ 40 da NCRF 7).

A Figura 3 sintetiza estas duas possibilidades de revalorização.

Figura 3 – Revalorização por Acréscimo e por Decréscimo do AFT

Fonte: Ferreira (2010a:16).

Os métodos referidos podem ser explicados a partir de uma esquematização, como se segue:

A) na Revalorização por acréscimo utilizando o Modelo da Reexpressão

B) na Revalorização por acréscimo utilizando o Modelo da Eliminação

C) na Revalorização por decréscimo utilizando o Mode-lo da Reexpressão

d) na Revalorização por decréscimo utilizando o Mode-lo da Eliminação

A utilização do Excedente de Revalorização incluído no Capi-tal Próprio com respeito a um item do activo fixo tangível assume os mesmos procedimentos que os verificados no POC, aplicando-se o disposto no §§ 41 da NCRF 7:• Pela totalidade, sendo transferido directamente para resul-

tados retidos quando o activo for desreconhecido (aquando da alienação ou retirada do activo – realização total)(12);

• Em parte, à medida que o AFT for usado por uma entidade, ou seja, reconhecimento pela depreciação do exercício (rea- lização parcial). A quantia do excedente transferido será a

Custo Dep. Acum. Diferença (1-2)

Acréscimo (1) Acréscimo (2)

43x AFT 438x Dep. Acum. AFT 5891 / 7625

Custo Transf. Dep. Acum. Transf. Dep. Acum. Dep. Acum. Diferença (1)

Acréscimo (1)

43x AFT 438x Dep. Acum. AFT 5891 / 7625

Custo Decréscimo (1) Decréscimo (2) Dep. Acum. Diferença (1-2)

43x AFT 438x Dep. Acum. AFT 655 / 5891

Custo Transf. Dep. Acum. Transf. Dep. Acum. Dep. Acum. Diferença (1)

Decréscimo (1)

43x AFT 438x Dep. Acum. AFT 655 / 5891

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Jornal de Contabilidade 211

diferença entre a depreciação(13) baseada na quantia escri-turada revalorizada do activo e a depreciação baseada no custo original desse mesmo activo.

Na opinião de Guimarães (2010: 16-17) “a expressão “quan-do os elementos ou direitos que lhes deram origem sejam alienados, exercidos, extintos, liquidados ou, também quando se verifique o uso, no caso de activos fixos tangíveis e intan-gíveis”, diz respeito à verificação do “princípio de realização”, o qual se encontra contemplado no item 2.4 da Directriz Contabilística n.º 16 (DC 16) “Reavaliação de Activos Imobili-zados Tangíveis” e, com o SNC, na NCRF 6 “Activos Intangí-veis” e na NCRF 7 “Activos Fixos Tangíveis”, nos parágrafos relativos à mensuração após reconhecimento, e mais concre-tamente, nas partes relativas ao modelo de revalorização.”O §§ 41 da NCRF 7 acrescenta, ainda, que as transferências do excedente de revalorização para resultados retidos não são feitas por via de resultados, mas sim por via do acréscimo das rubricas de Capitais Próprios.Em relação às Pequenas Entidades, constata-se que a Revalo-rização do AFT referida na NCRF-PE apresenta algumas dife-renças em relação ao que está prescrito na NCRF 7. Assim, o §§ 6.1 da NCRF-PE refere que a política ou políticas contabi-lísticas a aplicar a determinado item será a que decorrer do capítulo que especificamente tratar da subjacente transacção, outro acontecimento ou condição. E o §§ 7.8 acrescenta que uma entidade deve aplicar o modelo de custo do parágrafo 7.9. Apenas nos casos em que existam diferenças significati-vas entre a quantia escriturada segundo o modelo do custo e o justo valor dos activos, uma entidade poderá, alternati-vamente utilizar o modelo de revalorização do parágrafo 7.10 como sua política contabilística e deve aplicar essa política a uma classe inteira de activos fixos tangíveis.Na opinião de Rodrigues et al (2010: 433) “o acesso ao mo-delo de revalorização na NCRF-PE é mais restritivo compara-tivamente ao modelo geral. Uma vez cumprido aquele requi-sito, se uma PE adoptar o modelo da revalorização da NCRF-PE, o tratamento contabilístico das operações analisadas neste caso é similar no contexto de uma PE, inclusive no que se refere aos impostos diferidos (cf. §§ 7.10 da NCRF-PE). Também as exigências de divulgação de informação por par-te das PE são menores do que no modelo geral.”A natureza deste tema torna-o particularmente relevante nas grandes empresas. Nas Pequenas Entidades não se verificará uma utilização frequente dos conceitos apresentados.

5. ACTIVOs E PAssIVOs POR IMPOsTOs dIFERIdOs

O §§ 42 da NCRF 7 refere que os efeitos nos impostos sobre o rendimento, se os houver, resultantes da revalorização do activo fixo tangível são reconhecidos e divulgados de acordo

com a NCRF 25 – Impostos sobre o Rendimento, a qual tem como objectivo prescrever o tratamento contabilístico dos impostos sobre o rendimento. Salienta-se, igualmente, que o §§ 16.1 da NCRF-PE estipula que o tratamento contabilístico dos impostos sobre o rendi-mento se faz, regra geral, através do reconhecimento e men-suração dos impostos correntes, não havendo lugar ao reco-nhecimento de impostos diferidos. No entanto, se a PE adoptar o modelo de revalorização terá que adoptar a NCRF 25 na íntegra (tal como está definido no §§ 7.10 da NCRF-PE).A NCRF 25 exige que uma entidade adopte um tratamento semelhante para as consequências fiscais decorrentes de tran-sacções e de outros acontecimentos. Assim, se as transacções e outros acontecimentos forem reconhecidos nos resultados, o seu efeito fiscal também o deverá ser. O mesmo se passa se o reconhecimento for feito no Capital Próprio.O artigo n.º 15(14) do Decreto Regulamentar 25/2009, de 14 de Setembro (MFAP, 2009c), é relativo às depreciações de bens reavaliados. No n.º 1 referem-se os requisitos da aceita-ção como gastos das depreciações de bens reavaliados ao abrigo de legislação fiscal. O n.º 2 indica a parte das depre-ciações que não são aceites como gasto. O excesso das depreciações futuras resultantes da aplicação do modelo de revalorização não é fiscalmente dedutível. O excesso da depreciação obtida através de reavaliações ao abrigo de diplomas de carácter fiscal também não era aceite na totalidade como gasto. O §§ 20 da NCRF 25 refere-se aos Activos escriturados pelo justo valor, o qual refere expressamente que a diferença ge-rada pela revalorização é uma diferença temporária e dá origem a um a activo ou passivo por impostos diferidos:

“As Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro permitem que certos activos sejam assentados pelo justo valor ou sejam revalorizados (ver, por exemplo, a NCRF 7 – Activos Fixos Tangíveis, a NCRF 6 – Activos Intangíveis, a NCRF 27 – Instrumentos Financeiros e a NCRF 11 – Propriedades de Investimento). Em Portugal, a revalorização ou reexpressão de um activo não afecta o lucro tributável no período da revalorização ou reexpressão e, consequentemente, a base fiscal do activo não é ajustada. Contudo, a recuperação futura da quantia escriturada resultará num fluxo tributável de benefícios económicos para a entidade e a quantia que será dedutível para finalidades tributárias diferirá da quan-tia desses benefícios económicos.A diferença entre a quantia escriturada de um activo reva-lorizado e a sua base fiscal é uma diferença temporária e dá origem a um passivo ou activo por impostos diferidos. Isto é verdade mesmo se:(a) A entidade não pretender alienar o activo. Em tais casos, a quantia escriturada revalorizada do activo será recupera-

Maria Lúcia Marques

contabiliDaDe financeira

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212 Jornal de Contabilidade

da pelo uso e isto gerará rendimento tributável que excede a depreciação que será permitida para finalidades tributá-veis nos períodos futuros; ou(b) A tributação sobre os ganhos de capital é diferida se os proventos da alienação do activo forem investidos em acti-vos semelhantes. Em tais casos, o imposto tornar-se-á por fim pagável pela venda ou pelo uso de activos semelhantes.”

Esta NCRF indica, igualmente, os procedimentos a efectuar em relação aos itens creditados ou debitados directamente ao Capital Próprio (§§ 55 a 60). Seguidamente apresentam-se os parágrafos relacionados especificamente com a Revalorização:

“§§ 55 – O imposto corrente ou imposto diferido deve ser debitado ou creditado directamente ao capital próprio se o imposto se relacionar com itens que sejam creditados ou debitados, no mesmo ou num diferente período, directa-mente ao capital próprio.§§ 56 – As Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro exigem ou permitem que certos itens sejam creditados ou debitados directamente ao capital próprio. São exemplos de tais itens:(a) Uma alteração na quantia escriturada proveniente da revalorização do activo fixo tangível (ver a NCRF 7 – Activos Fixos Tangíveis);(…)§§ 58 – A NCRF 7 – Activos Fixos Tangíveis, não especifica se uma entidade deve transferir ano a ano o excedente (reserva) de revalorização para resultados transitados uma quantia igual à diferença entre a depreciação ou amortiza-ção de um activo revalorizado e a depreciação ou amorti-zação baseada no custo desse activo. Se uma entidade fizer tal transferência, a quantia transferida é líquida de qualquer imposto diferido relacionado. Considerações semelhantes aplicam-se a transferências feitas pela alienação de um item de activo fixo tangível.§§ 59 – Quando um activo for revalorizado para finalidades de tributação e essa revalorização estiver relacionada com uma revalorização contabilística de um período anterior, ou com uma que se espera que seja levada a efeito num perío- do futuro, os efeitos fiscais de quer a revalorização do activo quer do ajustamento da base fiscal são creditados ou debitados ao capital próprio nos períodos em que ocorram.”

Na Secção 7, na apresentação e resolução do Caso Prático, abordar-se-á a problemática dos Passivos por Impostos Dife-ridos e, em cada exercício económico, justificam-se e conta-bilizam-se as situações com eles relacionadas.

6. dIVUlgAçõEs

A NCRF 7 descreve nos §§ 72 a 75 o que deve ser objecto de divulgação(15) relativamente à revalorização dos AFT. Refe-

re o §§ 72 que as demonstrações financeiras devem divulgar, entre outros, os seguintes itens:

“(a) os critérios de mensuração usados para determinar a quantia escriturada bruta;(…)(e) uma reconciliação da quantia escriturada no começo e fim do período que mostre as adições, as revalorizações, as alienações, os activos classificados como detidos para ven-da, as amortizações, as perdas de imparidade e suas rever-sões e outras alterações.”

O §§ 75 da NCRF 7 acrescenta que, se os itens do activo fixo tangível forem expressos por quantias revalorizadas, deve ser divulgado o seguinte:

“(a) a data de eficácia da revalorização;(b) se esteve ou não envolvido um avaliador independente;(c) os métodos e pressupostos significativos aplicados na estimativa do justo valor dos itens;(d) a medida em que o justo valor dos itens foi determina-do directamente por referência a preços observáveis num mercado activo ou em transacções de mercado recentes numa base de não relacionamento entre as partes ou foi estimado usando outras técnicas de valorização; e(e) o excedente de revalorização, indicando a alteração do período e quaisquer restrições na distribuição do saldo aos accionistas.”

A NCRF 4 – Políticas contabilísticas, Alterações nas estimativas contabilísticas e Erros refere, no §§ 34, que uma entidade deve divulgar a natureza e a quantia de uma alteração numa estimativa contabilística que tenha um efeito no período corrente ou se espera que tenha um efeito em futuros perío- dos, excepto quando for impraticável calcular esse efeito.Este tema é particularmente relevante nas grandes empresas. Para exemplificação da informação a divulgar, apresentam-se excertos das Notas às Demonstrações Financeiras Consolida-das em 31 de Dezembro de 2010 do Grupo Portugal Telecom (PT, 2011), pela grandeza dos valores reflectidos nesta temá-tica e pelo facto de não se ter acesso às demonstrações fi-nanceiras das entidades que adoptam as NCRF. Realça-se, no entanto, que as contas consolidadas deste Grupo são elabo-radas de acordo com as IAS, pelo que foi adoptada a IAS 16 e não a NCRF 7. A Nota 3 Principais Políticas Contabilísticas, Julgamentos e Estimativas apresenta, relativamente aos activos tangíveis, na sua alínea c), a seguinte divulgação:

“Em 2008, a Portugal Telecom alterou a política contabilís-tica de valorização dos imóveis e da rede de condutas, deixando de utilizar o modelo do custo e passando a adop-tar o modelo de reavaliação, uma vez que a Empresa en-tende que este último reflecte de melhor forma o valor económico destas classes de activos, tendo em conta a natureza dos activos reavaliados, os quais não estão sujeitos

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a obsolescência tecnológica. O acréscimo de valor dos ac-tivos tangíveis resultante destas reservas de reavaliação, não distribuíveis, está a ser amortizado de acordo com o critério utilizado na amortização dos bens reavaliados. Os restantes activos tangíveis encontram-se registados ao custo de aquisição ou de produção, deduzido de amortiza-ções acumuladas, subsídios ao investimento e perdas por imparidade, quando aplicável.(…) Decorrente da excepção prevista na IFRS 1, as reava-liações efectuadas aos activos tangíveis, em exercícios an-teriores a 1 de Janeiro de 2004, de acordo com os índices de actualização monetária previstos na legislação portugue-sa, foram mantidas, designando-se esse valor reavaliado como valor de custo para efeitos de IFRS.A amortização dos activos tangíveis, deduzidos do seu valor residual, é realizada de acordo com o método das quotas constantes, a partir do mês em que se encontram disponí-veis para utilização, durante a vida útil dos activos, a qual é determinada em função da utilidade esperada”.

Quanto à Imparidade de activos tangíveis e intangíveis, ex-cluindo goodwill, a alínea f) da Nota 3 indica:

“(…) Os activos tangíveis registados de acordo com o mo-delo de reavaliação são periodicamente mensurados, sendo que a Portugal Telecom pretende proceder a uma nova rea-valiação destes activos pelo menos de três em três anos. Qualquer perda por imparidade nestes activos é reconhecida como uma diminuição à reserva de reavaliação reconhecida inicialmente no capital próprio. As perdas por imparidade superiores no montante da reserva de reavaliação inicial são reconhecidas na Demonstração Consolidada dos Resultados.”

Os Eventos Subsequentes referem-se aos Julgamentos e Esti-mativas. Encontram-se relatados na alínea t) da Nota 3 (sen-do desenvolvidos posteriormente na Nota 46) e indicam os critérios de mensuração nos activos reconhecidos de acordo com o modelo de reavaliação:

“A Portugal Telecom utilizou o modelo da reavaliação para mensurar o valor contabilístico de determinadas classes de activos. Para determinar o valor reavaliado desses activos, a Empresa utilizou o método do custo de reposição no caso da rede de condutas e o valor de mercado no caso dos imóveis. Estes métodos implicaram a utilização de determi-nados pressupostos relativos ao custo de construção das condutas e de indicadores específicos relacionados com o mercado imobiliário, conforme explicado em maior detalhe na Nota 34.”

A Nota 34 deste Relatório e Contas refere-se aos Activos Tangíveis, sendo as Reavaliações pormenorizadas no n.º 3: “Em 2008, a Portugal Telecom alterou a política contabilística relativa à valorização dos imóveis e da rede de condutas, passando do modelo do custo para o modelo de reavaliação. As reavaliações dos imóveis e da rede de condutas foram

reconhecidas a 30 de Junho e 30 de Setembro de 2008 e resultaram na reavaliação desses activos pelos montantes de 208.268.320 euros e 866.764.702 euros, respectivamente, correspondente a um montante total de 1.075.033.022 euros reconhecido na Demonstração Consolidada do Rendimento Integral. As amortizações acumuladas à data de ambas as reavaliações foram eliminadas por contrapartida de uma re-dução do valor bruto contabilístico e, de seguida, os valores líquidos desses activos foram então reavaliados.A determinação do valor de mercado dos imóveis foi efec- tuado por uma entidade independente e baseou-se essencial-mente: (i) em preços disponíveis num mercado activo ou determinados a partir de transacções recentes ocorridas no mercado; (ii) no método da rentabilidade para imóveis comer-ciais e administrativos; e (iii) no custo de adquirir ou produzir um imóvel semelhante com a mesma utilização para os edi-fícios técnicos. Na aplicação da primeira metodologia, os principais pressupostos utilizados foram a taxa de desconto (média de 8%) e a renda mensal por metro quadrado (média de 6 euros).A determinação do valor de mercado da rede de condutas foi efectuada internamente com base no método do custo de reposição.O processo de valorização baseou-se essencialmente: (i) em preços correntes de materiais e trabalho de construção rela-tivo à instalação das condutas no subsolo; (ii) na natureza do tipo de solo e pavimento onde as condutas estão instaladas, situação que tem impacto no custo de construção; (iii) em custos internos directamente atribuíveis à construção da rede de condutas; (iv) num factor de depreciação, de forma a garantir que o custo de reposição é consistente com a vida útil remanescente dos activos reavaliados; e (v) num factor tecnológico, o qual reflecte as alterações tecnológicas ocorri-das, nomeadamente relacionadas com os tipos de condutas que já deixaram de existir e foram substituídas por outras. Genericamente, os preços de materiais e do trabalho de construção, juntamente com outros pressupostos de natureza qualitativa mencionados acima, resultaram numa valorização da rede de condutas que reflecte um custo médio por metro de conduta entre 58 euros e 119 euros, em função da zona geográfica onde a rede de condutas está instalada.Com base em preços correntes e observáveis no ano de 2010 para os imóveis e para os materiais e trabalho de construção relacionados com a instalação das condutas, a Portugal Tele-com concluiu que os activos reavaliados em 2008 não sofre-ram variações significativas no seu valor de mercado durante o exercício de 2009. Consequentemente, os valores contabi-lísticos desses activos em 31 de Dezembro de 2009 corres-pondem aos respectivos valores de mercado nessa data, líqui-dos de amortizações acumuladas registadas desde a data em que os mesmos foram reavaliados.

Maria Lúcia Marques

contabiliDaDe financeira

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A amortização do acréscimo de valor resultante da reserva de reavaliação dos imóveis e da rede de condutas ascendeu 13 milhões de euros e 45 milhões de euros no exercício de 2009, respectivamente e a aproximadamente 12 milhões de euros e 45 milhões de euros no exercício de 2010, respectivamen-te. Consequentemente, se estes activos estivessem reconhe-cidos de acordo com o modelo do custo, o valor contabilísti-co dos imóveis e da rede de condutas seria mais baixo em, aproximadamente, 145 milhões de euros e 765 milhões de euros, respectivamente.”As Demonstrações Financeiras da Portugal Telecom, em rela-ção ao ano de 2010, permitem constatar que a mesma divul-ga a informação exigida na NCRF 7. Destacam-se os seguin-tes aspectos: • Nos imóveis e na rede de condutas é adoptado o modelo

de revalorização e explicam o porquê da alteração do mé-todo subsequente de mensuração;

• No que respeita à periodicidade da revalorização, esta pre-tende proceder a uma nova reavaliação destes activos pelo menos de três em três anos e determina eventuais perdas por imparidade;

• A base da revalorização é relatada com pormenor e acres-centa que, para determinar o valor reavaliado desses activos, se adoptou o método do custo de reposição no caso da rede de condutas e o valor de mercado no caso dos imóveis;

• Os procedimentos efectuados nesta revalorização por elimi-nação são apresentados com detalhe, informando que a determinação do valor de mercado dos imóveis foi efectu-ada por uma entidade independente e que a determinação do valor de mercado da rede de condutas foi efectuada internamente com base no método do custo de reposição.

Pela leitura da parte final da Nota 34 constata-se que a adop-ção do modelo de revalorização nos imóveis e na rede de condutas provocou um impacto substancial na estrutura pa-trimonial da PT(16), sendo referido que “se estes activos esti-vessem reconhecidos de acordo com o modelo do custo, o valor contabilístico dos imóveis e da rede de condutas seria mais baixo em, aproximadamente, 145 milhões de euros e 765 milhões de euros, respectivamente.” (PT, 2011).

(Continua no próximo número)

(*) 1.º Prémio do C.A. do Prémio de Contabilidade “Luiz Chaves de Almei-da”, edição 2011.

(**) A autora agradece o acompanhamento e as sugestões das Prof. Dra. Maria do Céu Alves, Rute Abreu e Fátima David e a revisão dos Prof. Vitor Simões e Fernando Pêga Magro

1) Esta norma pode ser consultada no Aviso n.º 15655, de 7 de Setembro (MFAPSG, 2010b).

(2) Para entender a evolução do normativo emitido pelo IASB poder-se-á consultar Alexander et al. (2007) e Bline et al. (2008).

(3) Sobre o enquadramento desta DC, consulte-se Mota e Lemos (2006).(4) No período subsequente, surgiram várias publicações que procuram

compilar a legislação sobre o SNC, como é o caso de Rodrigues (2011), Almeida, (2010b) e Cravo et al. (2009).

(5) Para mais detalhes consultar Guimarães (2002).(6) A última reavaliação legal ocorreu com a publicação do Decreto-Lei n.º

31/98, de 11 de Fevereiro (MF, 1998), a qual se reportava ao final de 1997 (31 de Dezembro) ou ao início de 1998 (1 de Janeiro). Acrescen-tava o n.º 4 do artigo 1.º do referido diploma que “a reavaliação deve constar do balanço referente ao termo do exercício em que se integra a data a que se reporta a reavaliação ou do balanço relativo ao termo do período de tributação seguinte, no caso de os sujeitos passivos não poderem efectuar a reavaliação em tempo útil”.

(7) Esta abordagem foi seguida por Martins (2010).(8) Foi entendido pela Comissão de Normalização Contabilística que esta

DC se deveria aplicar apenas aos exercícios que se iniciem em ou após 01 de Janeiro de 2003.

(9) Na opinião de Ferreira (2010b: 4) “conceptualmente, tais elementos con-ferem aos activos contabilizados um valor que deixa de ser o custo histó-rico diminuído das depreciações acumuladas (âmbito do POC), passando a estar mais próximo do preço de mercado (justo valor), ou do montante que os gestores da entidade julgam que deve ser atribuído ao activo no âmbito da sua continuidade ao serviço da empresa (valor de uso).

Na prática, tal implica uma evolução do ajustamento periódico do valor dos activos pelo processo de alocação do custo, via depreciações, no sentido da sua valorização, em cada momento, a quantias não superio-res àquelas que podem ser recuperadas através da venda ou utilização continuada.”

(10) O texto da NCRF 7 difere neste parágrafo do texto da IAS 16, a qual refere: “Se não houver provas com base no mercado do justo valor devido à natureza especializada do item do activo fixo tangível e se o item for raramente vendido, excepto como parte de um negócio em continuação, uma entidade pode precisar de estimar o justo valor usan-do uma abordagem pelo rendimento ou pelo custo de reposição depre-ciado.” (§§ 33 da IAS 16).

(11) O §§ 7 da NCRF 12 – Imparidade de Activos indica que, para se avaliar se um activo está ou não em imparidade, se devem recorrer a fontes externas de informação e a fontes internas de informação, discriminando-as. Sobre este assunto ver, entre outros, Marques (2009) e Ferreira (2010b).

(12) O desreconhecimento engloba não só a alienação, mas também a troca, a destruição, a inutilização e outras causas (Guimarães, 2002).

(13) A depreciação é calculada com base no período de vida útil. Segundo Correia e Gonçalves (2010: 23) “o conceito de vida útil, é entendido como sendo o período durante a qual a entidade espera que o activo esteja disponível para uso ou o número de unidades produzidas que se espera obter do activo (utilidade esperada). Todavia, o conceito baseia-se numa estimativa, o que nos leva a afirmar que a mensuração da depre-ciação sistemática do activo vem influenciada aprioristicamente por di-versos factores, desde logo, a experiência da entidade com activos simi-lares e, de novo, o julgamento do preparador da informação, factores que aumentam a subjectividade do modelo contabilístico.”

(14) Artigo 15.º Depreciações de bens reavaliados “1 – O regime de aceitação como gastos das depreciações de bens re-

avaliados ao abrigo de legislação de carácter fiscal é o mencionado na mesma, com as adaptações resultantes do presente decreto regulamen-tar, aplicando-se aos bens reavaliados nos termos da Portaria n.º 20 258, de 28 de Dezembro de 1963, o regime previsto no n.º 2 do artigo 5.º

2 – Relativamente às reavaliações ao abrigo de diplomas de carácter fiscal, é de observar o seguinte:

a) Não é aceite como gasto, para efeitos fiscais, o produto de 0,4 pela importância do aumento das depreciações resultantes dessas reavaliações;

b) Não é aceite como gasto, para efeitos fiscais, a parte do valor depre-ciável dos bens que tenham sofrido desvalorizações excepcionais nos termos do artigo 38.º do Código do IRC que corresponda à reavaliação efectuada.”

(15) Em 2010 a OTOC promoveu as Noites SNC. A 1.ª Sessão foi sobre os AFT (OTOC, 2010a) e a 4.ª Sessão foi sobre o Capital Próprio (OTOC, 2010b). E mencionam que “divulgar significa dar a saber outras informações im-portantes que sejam relevantes para os utentes/utilizadores das demons-trações financeiras para que estes possam ter acesso ao conhecimento da situação real das entidades. As divulgações devem constar nas notas do anexo às demonstrações financeiras e podem consistir em texto explica-tivo ou quadros suplementares para que melhor se compreendam o ba-lanço e a demonstração de resultados.” OTOC (2010b: Diapositivo 66).

(16) A Demonstração Consolidada da Posição Financeira do Grupo Portugal Telecom, SGPS, apresenta o valor de €3.874.613.414,00 na rubrica Activos Tangíveis.

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Jornal de Contabilidade 215

fiscaliDaDe

As obrigações fiscais em sede de IR e IVA nos países da zona Euro

Joaquim Miranda SarmentoDoutorando em Tilburg (Finanças), Mestre em Finanças; Assistente no ISEG e Docente convidado na Catolica Lisbon School

Este artigo procura sintetizar as principais obrigações decla-rativas e de pagamento em sede de IRS, IRC e IVA nos países da zona Euro. Pese embora o processo de harmonização fiscal a nível comunitário ter nas últimas décadas evoluído significativamente (mais em sede de IVA do que em IRC, sendo que menos ainda em IRS), em matéria de obrigações fiscais as diferenças entre os 17 países são ainda significativas.

Este artigo está organizado da seguinte forma: Aborda pri-meiro as obrigações em sede de IRS, depois em sede de IRC e por último em sede de IVA. Em cada imposto sintetiza-se o regulamento normativo para Portugal, apresentando-se de-pois a informação comparável para os restantes países (de forma sintética, em forma de tabelas). Desta forma julgamos ser mais fácil a leitura, uma vez que usamos o caso Português como indicação para as obrigações fiscais dos restantes países.

IRs

Em Portugal, a retenção na fonte de IRS é entregue pelas entidades que procedem à sua retenção até ao dia 20 do mês seguinte ao do pagamento desses rendimentos. Não existe, ao contrário de outros países, nenhum regime que diferencie grandes e pequenas empresas. Adicionalmente, as entidades que pagaram ou colocaram á disposição rendimentos estão obrigadas a entregar uma declaração anual (decl. Mod. 10), com a informação desses valores desgregada por contribuin-te e categoria de rendimentos, até 28 de Fevereiro do ano seguinte ao que respeita os rendimentos. A Tabela 1 sintetiza estas normas para os países da zona Euro. Ainda em sede de IRS, os trabalhadores independentes são sujeitos a um paga-mento por conta, que ocorre três vezes por ano (julho, se-tembro e dezembro). A Tabela 2 resume para os países em análise essa obrigação de pagamento.

Tabela 1 – Obrigações declarativas em sede de IRS (retenção na fonte) nos países da zona Euro

País

nº dias entrega retenção

fonte

Regras diferentes para pequenas empresas?

Obrigação decl. Anual

Portugal 20 dias não sim, 28 fev n+1

Alemanha 10 diasMicro empresas: trimestre ou anual, mas mantendo os 10

dias de limite entregaNão

Áustria 21 dias Não Sim, 28 fev n+1

Bélgica 15 dias

Microempresas podem ter regime entrega trimestral ou anual (mas mantendo os 15

dias de limite entrega)

Não

Chipre 30 dias Não

Sim, abril n+1, com 3 meses extensão se

entrega online

Eslováquia 5 dias Não Não

Eslovénia 10 dias Não Não

Espanha 20 diasPequenas empresas: regime trimestral, entrega no dia 20

após o trimestre

Sim, 31 jan (20 jan se usar o

formulário pré-preenchido)

Estónia 10 dias Não Não

Finlândia 12 dias Pequenas empresas: trimestre Sim, 31 jan n+1

FrançaNão

aplicávelNão Sim, 31 jan n+1

Grécia 20 dias

Para pequenas empresas (menos 50 empregados)

regime Bimensal, a 20 de março, maio, julho, setembro

e janeiro n+1

Sim, 31 de março

HolandaÚltimo dia

do mês seguinte

Não Não

Irlanda 14 diasMicro empresas: regime

trimestral ou anualSim, 15 fev n+1

Itália 16 dias Não Sim, 28 fev n+1

Luxemburgo 10 dias Não Sim

MaltaÚltimo dia

do mês seguinte

Não Sim, 15 fev n+1

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216 Jornal de Contabilidade

Tabela 2 – Obrigações de pagamento (pagamentos por conta) nos países da zona Euro

Paísnº

pagamentos por conta

Meses para o pagamento por

conta

Cálculo do pagamento por conta

Portugal 3 7º, 9º e 12º 76,5% do imposto do penúltimo ano

Alemanha 4Dia 10 do 3º, 6º,

9º e 12º mêsImposto do ano anterior

Áustria 415 fevereiro, maio, agosto e novembro

25% do imposto do ano anterior + fator

ajustamento

Bélgica 410 abril, julho e

outubro e 22 dezembro

Opcional e determinado pelo contribuinte

Chipre 31 agosto, 30

setembro e 31 dezembro

Imposto estimado para esse ano

Eslováquia 4Final de cada

trimestre25% do imposto do ano

anterior

Eslovénia 4Final de cada

trimestre25% do imposto do ano

anterior

Espanha 4

20 abril, julho e outubro e 31 janeiro do ano

seguinte

Depende do tipo de categoria (profissionais

liberais, pequenos empresários, etc)

Estónia 315 de julho, setembro e dezembro

Varia entre 1/12 e 1/4 do imposto do ano anterior

Finlândia MensalAté dia 23 cada

mês1/12 do imposto do ano

anterior

França 315 fevereiro, setembro e dezembro

33,3% do imposto do ano anterior

Grécia 12 Mensal55% do imposto do ano

anterior

Holanda 12 MensalCom base no imposto do

ano anterior

Irlanda 1 31 outubroO valor do imposto do

ano anterior

Itália 216 junho e 30

novembro40% do imposto do ano

anterior

Luxemburgo 410 março, junho,

setembro e dezembro

25% do imposto do ano anterior

Malta 3Final abril, agosto e

dezembro

20%, 30% ou 50% do imposto do ano anterior (dependendo dos valores

apurados)

IRC

Em sede de IRC em Portugal todas as pessoas coletivas são consideradas como sujeitos passivos deste imposto. Desta forma, estão obrigadas à entrega da declaração de rendimen-tos mod. 22, que deve ocorrer até ao 5.º mês após o período de tributação, sendo que o pagamento deve ocorrer em si-multâneo com a entrega da declaração. A Tabela 3 apresen-ta esta informação para os restantes países. Tal como no IRS, existe em IRC a obrigação de realizar pagamentos por conta. Esses pagamentos ocorrem no 7.º, 9.º e 12.º mês do período de tributação (Tabela 4).

Tabela 3 – Entrega da declaração de IRC nos países da zona Euro

País data limite entrega apos o

período tributaçãodata limite pagamento

Portugal 5 meses no momento da entrega declaração

Alemanha 5 mesesUm mês apos a entrega

declaração

Áustria4 meses (papel) ou 6 meses

(internet)Um mês apos a entrega

declaração

BélgicaData indicada na declaração

remetida pelas finanças2 meses apos a data limite

entrega declaração

Chipre31 dezembro de n+1, ou mais

3 meses se entregue via internet

1 agosto de n+2

Eslováquia 3 mesesNo momento da entrega

declaração

Eslovénia 3 mesesUm mês apos a entrega

declaração

Espanha 6 meses e 25 diasNo momento da entrega

declaração

Finlândia 4 meses 11 meses

França 4 mesesQuando recebe a nota

liquidação

Grécia 4 meses e meioNo momento da entrega

declaração

Holanda 5 meses2 meses após receber a nota

liquidação

Irlanda 9 meses 9 meses

Itália 9 meses6 meses apos a entrega

declaração

Luxemburgo 5 meses2 meses após receber a nota

liquidação

Malta 9 mesesNo momento da entrega

declaração

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Jornal de Contabilidade 217

Tabela 4 – Obrigações de pagamento (pagamentos por conta) nos países da zona Euro

Paísnº

pagamentosMês (es) Valor

Portugal 3 7º, 9º e 12º mês 80% ou 95% da Coleta n-1

Alemanha 4Dia 10 do 3º, 6º, 9º e

12º mês25% do imposto

estimado

Áustria 4Dia 15 do 2º, 5º, 8º e

11º mês25% da coleta de n-1

Bélgica 4Dia 10 do 4º, 7º e 10º mês e dia 20 do ultimo

mês

25% do imposto estimado

Chipre 3Dia 1 agosto, 30 setembro e 31

dezembroImposto estimado

Eslováquia 4 ou 12Trimestral (pequenas empresas); mensal

Trimestral: ¼ do imposto estimadoMensal: 1/12 do

imposto estimado

Eslovénia 4 ou 12Trimestral (pequenas empresas); mensal

Trimestral: ¼ do imposto estimadoMensal: 1/12 do

imposto estimado

Espanha 3Dia 20 do mês 4, 10 e

12Taxa progressiva da

coleta de n-1

Finlândia 2 ou 12

Mensal (grandes empresas) ou bianual

– 3º e 9º mês (pequenas empresas)

Mensal: 1/12 do imposto estimado

Bianual: “pro-rata” do imposto estimado

França 4Dia 15 do 3º, 6º, 9º e

12º mês25% do imposto

estimado

Grécia Mensal n.a80% do imposto

estimado

Holanda Mensal n.a(média coleta dos últimos 2 anos)/12

IrlandaDepende da dimensão da

empresan.a

1º pagamento: 50% da coleta de n-1 ou 40% do imposto estimado;

2º pagamento: em falta para atingir 90% do imposto apurado

Itália 2 6º e 11º mês60% do imposto

estimado

Luxemburgo 4Dia 10 do 3º, 6º, 9º e

12º mês25% do imposto

estimado

Malta

IVA

Relativamente ao IVA, constata-se (fruto do tipo e natureza comunitária deste imposto), uma maior harmonização das obrigações declarativas e de pagamento. Em Portugal não existe um valor mínimo de faturação para o registo em IVA (declaração de inicio de atividade), não invalidando o regime de isenção do art.º 53. Relativamente às obrigações declara-tivas e de pagamento, o regime mensal determina a entrega da Declaração Periódica (DP) até ao 10.º dia do 2º mês se-guinte ao do mês de tributação. Já o regime trimestral deter-mina a entrega da DP até ao 15.º dia do 2.º mês seguinte ao do trimestre em causa. A Tabela 5 sintetiza as obrigações de DP nos países da zona Euro.

Tabela 5 – Regimes de IVA nos países da zona Euro

PaísRegime Mensal – n.º dias

entregaRegime trimestral – nº dias

entrega

Portugal 40 45Alemanha 10 10

Áustria 45 45

Bélgica 20 20

Chipre 40 40

Eslováquia 25 25

Eslovénia 30 30

Espanha 20 20

França 24 24

Grécia 26 26

Holanda 30 30

Irlanda 19 (bimensal) N.A

Itália 35 N.A

Luxemburgo 15 15

Malta 45 45

Com este artigo procuramos de forma simples e sintética analisar as obrigações fiscais (declarativas e de pagamento) nos 17 países da zona Euro. Permite-se assim uma informa- ção mais fácil e uma comparação entre os países da moeda única.

Joaquim Miranda Sarmento

fiscaliDaDe

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218 Jornal de Contabilidade

Direito laboral

Trabalho

Jorge Ribeiro MendonçaRafael TelesCaiado Guerreiro & Associados RL

COMPEnsAçãO POR CEssAçãO dE COnTRATO dE TRABAlhO

Entrou em vigor, no passado dia 1 de Outubro, a quinta revisão ao Código do Trabalho (CT), que alterou aspetos relacionados com a flexibilização interna das empresas, mormente por via da aprovação de novas regras de cálculo de compensações devidas por cessação do contrato de tra-balho.Assim, a compensação devida ao trabalhador pela caduci-dade de contrato de trabalho a termo certo, celebrado após 30 de Setembro de 2013, corresponderá a 18 dias de retri-buição base e diuturnidades por cada ano completo de an-tiguidade.Também no caso de despedimento colectivo, cujo regime é geralmente aplicável à cessação de contratos de trabalho sem termo, o montante de compensação foi alterado, tendo sido reduzido de 20 para 12 ou 18 dias de retribuição base e diuturnidades.Porém, nos contratos celebrados antes de 1 de Novembro de 2011 e entre esta última data e 30 de Setembro de 2013, as regras de cálculo da compensação registam especificida-des consoante o período contratual a que respeitam, de acordo com o regime transitório aplicável Regral geral, os montantes pagos a título de compensação ficam ainda su-jeitos a diversas limitações quanto ao seu valor.A revisão do CT determinou ainda a obrigatoriedade de rea- valiação, em prazo não superior a 5 anos, da eliminação dos feriados de Corpo de Deus, de 5 de Outubro, de 1 de Novembro e de 1 de Dezembro.

FUndO dE COMPEnsAçãO dO TRABAlhO (FCT) E FUndO dE gARAnTIA dE COMPEnsAçãO dO TRABAlhO (FgCT)

Na mesma data, entrou em vigor o regime jurídico do FCT e do FGCT, aprovado pela Lei n.º 70/2013, de 30 de Agosto, e aplicável aos contratos de trabalho celebrados depois de 1 de Outubro de 2013, exceto aos de muito curta duração.O FCT é um fundo de capitalização individual, financiado pelas entidades empregadoras através de contribuições obri-gatórias no valor de 0,925% da retribuição base e diuturni-dades devidas a cada trabalhador abrangido pelo diploma.Estas contribuições visam o pagamento de até 50% do valor da compensação a que os trabalhadores abrangidos pelo novo regime venham a ter direito na sequência da cessação do contrato de trabalho, mediante reembolso ao empregador do montante do saldo da conta de registo do trabalhador cujo contrato irá terminar.A adesão ao FCT por parte do empregador – obrigatória, salvo opção por adesão a Mecanismo Equivalente –, através de comunicação no momento da admissão do primeiro tra-balhador abrangido, determina a criação, pela entidade ges-tora do fundo, de uma conta global, em nome do emprega-dor, a qual prevê obrigatoriamente contas de registo individuais, por cada um dos seus trabalhadores.Com a adesão ao FCT, passa a ser devida igualmente contri-buição para o FGCT, no montante de 0,075% da retribuição base e diuturnidades de cada trabalhador.O FGCT é um fundo mutualista, acionado mediante requeri-mento do trabalhador, que tem como objetivo a cobertura de metade do valor da compensação devida por cessação de contrato de trabalho, subtraído do montante já pago pelo empregador, a menos que este haja pago um valor igual ou superior ao referido.As contribuições do empregador aludidas têm lugar 12 vezes por ano, mensalmente, nos prazos previstos para o pagamen-to de contribuições à segurança social, sendo este efetuado por multibanco ou homebanking.

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Jornal de Contabilidade 219

fiscaliDaDe

IVA – Regime de CaixaDecreto-Lei n.º 71/2013 de 30 de Maio

Joaquim António Rosado ValenteEconomista. TOC. Associado da APOTEC

Duma forma sucinta, vou tentar sintetizar o que julgo de mais fundamental, não dispensando a leitura do respectivo diploma:

POdEM OPTAR PElO REgIME dO IVA dE CAIxA Os sUJEITOs PAssIVOs QUE:

1 – No ano anterior, não tenham atingido um volume de negócios superior a €500.000;2 – Não beneficiem de isenção de imposto;3 – Não estejam abrangidos pelo regime dos pequenos reta-lhistas;4 – Se encontrem registados em IVA há, pelo menos 12 me-

ses;5 – Tenham a situação tributária regularizada;6 – Optem, no corrente ano, até 30 de Setembro, – Produz efeitos a partir de 1 de Outubro de 2013; 7 – Optem, nos anos seguintes, até 31 de Outubro, – Produz efeitos a partir de 1 de Janeiro do ano seguinte;8 – Após a opção terão de aí permanecer durante pelo menos

2 anos.

ExClUídOs

1 – Importações, Exportações;2 – Aquisições e transmissões intracomunitárias;3 – Prestações intracomunitárias de serviços;4 – Operações abrangidas pela regra da inversão;5 – Operações em que os sujeitos passivos tenham relações especiais;6 – Operações realizadas com consumidores finais.

ExIgIBIlIdAdE

REgIME dE IVA dE CAIxA

1 – No momento do recebimento total ou parcial;2 – Caso não ocorra o recebimento no 12º mês posterior à

emissão da fatura com emissão de um documento recti-ficativo.

REgIME nORMAl

Para sujeito passivo do regime de caixa1 – No momento da emissão da fatura ou fatura simplificada;2 – Após o recebimento terão de emitir Recibo com a menção

“IVA – regime de caixa”;3 – Comunicar estes recibos nos mesmos termos da comuni-

cação das faturas.

dEdUçãO

REgIME dE IVA dE CAIxA

1 – Só se tiver na sua posse FATURA/RECIBO ou RECIBO emi-tidos de forma legal;

2 – Fatura não paga no 12.º mês posterior à emissão da mesma, com emissão de um documento retificativo.

REgIME nORMAl

Para sujeito passivo do regime de caixa1 – Deduzem IVA com base na fatura ou fatura simplificada;2 – Pagamento contra recibo do regime de caixa.

REIngREssO nO REgIME gERAl

1 – Assim que passarem 2 anos;2 – O volume de negócios ultrapasse os €500.000;3 – Passe a praticar operações isentas. – Pode ser feito a todo o tempo; – Produz efeitos no período de imposto seguinte.

ACEssO À InFORMAçãO E dOCUMEnTOs BAnCáRIOs

A AT pode aceder a informações ou documentos bancá- rios dos sujeitos passivos que tenham optado pelo regime de IVA de caixa, sem necessidade de consentimento destes últimos.

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220 Jornal de Contabilidade

síntese económica

Paulo Nogueira Filho (Jorna lista)

EuA e uE retomam conversas sobre acordo comercial

A União Europeia e os EUA retomaram as negociações do maior acordo de livre comércio, apesar das recentes revelações de espionagem norte-americana contra os seus aliados.A segunda ronda de negociações do acordo comercial tran-satlântico deveria ter sido iniciada em outubro, mas as reve-lações de espionagem dos EUA e a paralisação parcial do governo federal americano por causa do orçamento atrapa-lharam o cronograma.Uma autoridade da União Europeia próxima às negociações disse que “pode haver questões de confiança” envolvidas, mas destacou que a região não vai comprometer os padrões de proteção pessoal de dados, mesmo que tenha de discutir assuntos mais amplos de transferência de informações.A terceira etapa de negociações está programada para ser retomada entre 16 e 20 de dezembro, em Washington. O acordo final, que envolveria cerca de 50% do comércio global, deve ser alcançado até o fim de 2014. Um dos principais objetivos das negociações é harmonizar os regimes regulató-rios para reduzir as barreiras ao comércio.

Cai o número de famílias com atraso nas dívidas bancárias – mas ainda são muitas...

As famílias que não estão a conseguir pagar os empréstimos diminuíram em setembro, mas está a aumentar o número daquelas que têm dificuldades em pagar o crédito à habita-ção. De acordo com Banco de Portugal, no fim de setembro havia 658.900 famílias com prestações dos empréstimos em atraso. Este valor significa uma redução do número de famí-lias em incumprimento de cerca de 30 mil, face às 687.400 que estavam em falta para com o banco no final de junho.

A diferença é ainda maior se for feita a comparação de se-tembro deste ano com setembro do ano passado, quando eram mais de 690 mil as famílias com empréstimos em in-cumprimento. Apesar da queda do número de famílias em incumprimento entre junho e janeiro, já naquelas que têm empréstimos à habitação houve um aumento. No final do terceiro trimestre de 2013, havia cerca de 148.500 famílias com prestações do crédito à habitação em atraso, acima das 147 mil de junho. Dentro das famílias, os créditos à habitação são aqueles em que há maiores montantes envolvidos, o que tem contribu-ído para as elevadas imparidades (perdas) registadas pelos bancos. Os créditos ao consumo e para outros fins, de me-nor valor, geralmente, destinam-se à compra de automóvel, eletrodomésticos, financiamento para férias ou propinas, por exemplo.

Exílio dourado em Portugal

Faltam ainda mais de seis meses para o próximo Salão do Imobiliário Português em Paris (a realizar entre 16 e 18 de maio. Mas, desde já, todos os dias chegam pedidos de infor-mação de franceses, essencialmente reformados, à Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa (CCIFP). Estão interessados em gozar os anos dourados da reforma num país que lhes garanta a isenção total de IRS quando no seu país de origem, o fisco lhes pode retirar até 45% do seu rendimento.“Portugal está a duas horas de avião de Paris, tem sol, bom clima, belas praias e qualidade de vida, preços baratos na alimentação... e a desfiscalização das reformas é a cereja sobre o bolo para as pessoas que recebem uma pensão da França, porque elas vão conseguir, sem dúvida alguma, viver bem melhor em Portugal do que em França.” A explicação é do presidente da CCIFP, Carlos Vinhas Pereira.

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Jornal de Contabilidade 221

O objetivo agora é vender casas em Portugal a reformados franceses com elevado património, acenando com preços atrativos e novos incentivos fiscais. Os especialistas do sector imobiliário avaliam que o volume de negócios envolvido pode atingir os 200 milhões de euros.

Alemanha pela primeira vez entre os países com desequilíbrios

A Comissão Europeia apontou, no âmbito do “mecanismo de alerta de desequilíbrios macroeconómicos”, 16 Estados-mem-bros cuja situação merece “análise aprofundada”. E, pela primeira vez, a Alemanha figura na lista, estando previstas para a Primavera eventuais recomendações a estes países. A Comissão Europeia vai examinar os excedentes comerciais alemães, superiores a 6%, que considera desequilibrados.O executivo comunitário lançou o seu terceiro ciclo anual do procedimento relativo aos desequilíbrios macroeconómicos, exercício do qual Portugal está para já excluído, devido à sua situação ser acompanhada pormenorizadamente, sob um pro-grama de assistência económica e financeira.No relatório apresentado em Novembro em Bruxelas, a Co-missão Europeia defende que se proceda a análises aprofun-dadas da evolução da situação relativa à acumulação e cor-reção dos desequilíbrios em 16 Estados-membros da União Europeia, sendo que a Alemanha, o Luxemburgo e a Croácia são apontados pela primeira vez.Espanha, França, Itália, Países Baixos, Dinamarca, Malta, Fin-lândia, Suécia, Bélgica, Bulgária, Reino Unido, Hungria e Eslovénia são os outros países visados por Bruxelas.

A Comissão Europeia ressalvou que, quanto à Alemanha, a decisão, imposta pelas regras comunitárias, não constitui uma crítica à competitividade da maior economia dos 28. Pelo contrário, disse Durão Barroso: “Gostaríamos de ter mais Alemanhas na Europa.”

Governo aposta em novos programas de rescisões

O secretário de Estado da Administração Pública, Hélder Ro-salino, revelou a intenção de lançar “vários programas” de rescisões em 2014 e referiu um programa para professores e outro para o Exército.“Temos outros dois programas: um dirigido ao Ministério da Educação, em particular ao corpo docente, e outro dirigido a um grupo profissional muito específico, inserido no âmbito dos estabelecimentos do Exército”, disse Hélder Rosalino.Depois de o Tribunal Constitucional ter chumbado os despe-dimentos na função pública, o Governo prepara-se para apos-tar no modelo das rescisões amigáveis.Hélder Rosalino anunciou que o executivo está “a fazer um levantamento junto de todos os ministérios no sentido de identificar outras áreas para poderem ser lançados novos programas de rescisão”. Um modelo que, defendeu, “deve estar em permanente utilização”, uma vez que “tem corrido bastante bem”.

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222 Jornal de Contabilidade

consultório

Esclareça as suas dúvidas

Exercício de Actividade EnI para sociedade

Questão Sócio n.º 16117

A empresa A exerceu a sua actividade de Farmácia (Socieda-de Unipessoal) através de um contrato de Cedência de Explo-ração com outra Farmácia (Empresa B) durante 3 anos. Em 2009 esse contrato foi cessado. A Empresa A, apesar de não exercer desde essa data a sua actividade de Farmácia, pois ficou sem o Alvará, continua a cumprir as suas obrigações em sede de IRC/IVA. Nesse mesmo ano 2009, através de concur-so, a sócia única da Empresa A, iniciou actividade de Farmá-cia, em ENI (Empresa C), pois por imposições legais do con-curso, não era possível exercer a actividade de Farmácia sob a forma de Sociedade. Surge agora a possibilidade legal, de poder vir a exercer no futuro a sua actividade de Farmácia, não em ENI mas sim em Sociedade Unipessoal. 1. Qual a forma de se proceder a essa alteração de ENI para Soc. Uni-pessoal? 2. Aplica-se aqui a Integração Total do Patrimó-nio, no âmbito do Art.º 38.º CIRS + Art 86.º CIRC? 3. Pode-rá ser uma solução, a venda total do Património (StocK + Activo Fixo) da Empresa C à A? 4. Esta Venda poderá estar isenta de IVA? 5. É obrigatório quantificar/valorizar o Alvará? 6. Outra solução possível e fiscalmente neutra?

Resposta do Assessor Fiscal:

1. A passagem de uma ENI para SUQ não pressupõe a exis-tência de uma transformação de uma para outra figura jurídica, mas sim a criação de uma nova entidade jurídica. Note-se que apenas «o estabelecimento individual de respon-sabilidade limitada (EIRL) pode, a todo o tempo, transformar- -se em sociedade unipessoal por quotas, mediante declaração escrita do interessado». Não é esse o caso. Na circunstância, o empresário em nome individual (ENI) para exercer a activi-dade sob a forma de sociedade unipessoal por quotas (SUQ), terá de criar uma sociedade unipessoal por quotas. Só que o ENI já é sócio de uma SUQ, embora sem actividade, como é referido na consulta. Sendo assim, o ENI não pode ser sócio de uma segunda SUQ como determina o n.º 1 do artigo 270.º-C do Código das Sociedades Comerciais – «uma pessoa singular só pode ser sócia de uma única sociedade unipesso-al por quotas». Neste sentido se o ENI já é sócio de uma SUQ não pode criar uma segunda. 2. Inaplicável, face à resposta anterior. 3. A venda total do património do estabelecimento em nome individual à «SUC» existente, é admissível. 4. Essa venda, em princípio, não será considerada uma transmissão para efeito de IVA, tal como resulta do n.º 4 do artigo 3.º do CIVA.

SP – 2013-07-09

IVA operações com Madeira

Questão Sócio n.º 19239

A empresa A tem um estabelecimento estável na Madeira. A empresa A encomenda à empresa B determinados bens mó-veis corpóreos que são entregues directamente pela empresa B ao estabelecimento estável na Madeira da Empresa A. Como são estas operações tratadas em sede de IVA?

Resposta do Assessor Fiscal:

1. A empresa A, com estabelecimento estável na Madeira, encomendou à empresa B, certamente com sede no Conti-nente, bens móveis que esta entregou directamente ao esta-belecimento estável na Madeira. 2. Os bens transmitidos que estejam situados no continente no momento em que se inicia o transporte ou expedição para o adquirente na Madeira ou, no caso de não haver expedição ou transporte, no momento em que são postos à sua disposição, consideram-se localizados no Continente, sendo de tributar às taxas vigentes no Conti-nente (n.º 3 do artigo 1.º do DL 347/85, de 23.08, na redac-ção da Lei n.º 14-A/2012 , de 30.03 e n.º 1 do artigo 6.º do CIVA).

SP – 2013-07-09

Activo Tangível

Questão Sócio n.º 19018

Uma empresa tem um bem no ativo tangível totalmente degradado, sem qualquer utilização. Este bem é desmontado e vendido como valorização de resíduo – materiais ferrosos. A minha questão, é se para efeitos de IVA deverá ser tratado à taxa normal ou fazendo a inversão do sujeito passivo.

Resposta do Assessor Fiscal:

1. São sujeitos passivos do imposto os sujeitos passivos adqui-rentes de bens ou serviços mencionados no anexo E ao CIVA que tenham direito à dedução total ou parcial do imposto, desde que os respectivos transmitentes ou prestadores sejam igualmente sujeitos passivos do imposto (alínea i) do n.º 2 do artigo 2.º do CIVA). 2. Sendo assim, tratando-se da transmis-são de bens incluídos no anexo E (resíduos e produtos ferro-sos, como diz), então, neste caso, sendo o adquirente e o transmitente sujeitos passivos do imposto e desde que se verifique em relação ao adquirente que este tem direito à dedução total ou parcial do imposto, há lugar à inversão do sujeito passivo, prevista no referido normativo.

SP – 2013-07-09

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Jornal de Contabilidade 223

divulgação de alteração de vida útil de AFT

Questão Sócio n.º 30028

Em 2011 a empresa para a qual trabalho efetuou uma alte-ração no período de vida útil de diversas classes de acti- vos fixos tangíveis. No anexo às DF’s de 2011 e no quadro 0505-A da IES de 2011 fizemos a divulgação dos valores dos ajustamentos com efeitos no período corrente e nos períodos seguintes. A nossa dúvida consiste em saber se no quadro 0505-A da IES de 2012 devemos recalcular e divulgar os valores dos ajustamentos com efeitos no período corrente e nos períodos seguintes da alteração efectuada em 2011. E se sim, esta divulgação deve ser efetuada até quando? (Norma-tivo aplicável: NCRF)

Resposta do Assessor Fiscal:

1. Não existe uma orientação clara, nem nos normativos contabilísticos nem nas instruções de preenchimento da IES, sobre a questão colocada. 2. Em nossa opinião, a alteração de vida útil constitui um facto relevante no período em que foi efetuada, ou seja, em 2011. 3. Nos períodos seguintes os registos evidenciam apenas as consequências da alteração efetuada em 2011. 4. Neste sentido, somos de opinião que a divulgação só deve se efetuada na IES relativa a 2011.

AS – 2013-08-29

Categoria B – Alienação

Questão Sócio n.º 19440

Sou contabilista de um contribuinte que se encontra coletado na categoria B com contabilidade organizada, tendo como atividade principal construção e venda de edificios (CAE41200). Todas as despesas e receitas inerentes estão devidamente contabilizadas. Acontece que foi recebida da AT uma notifi-cação para alterar a declaração Mod. 3 por falta do Anexo G. Ora, a venda do prédio em apreço diz apenas respeito à atividade. A AT diz que deveria preencher o anexo G e preen- cher quadro 14 do Anexo C, está correto?

Resposta do Assessor Fiscal:

1. Estão sujeitos a IRS, os lucros de atividades de natureza comercial, industrial e agrícola, silvícola e pecuária, bem como as prestações de serviço com caracter profissional e empresa-rial, quando auferidos por pessoas singulares, incluindo as heranças indivisas. 2. Assim, integram-se na Categoria B os

rendimentos ( n.º 1 art.º 3.º do CIRS): Decorrentes do exercí-cio de qualquer atividade comercial, industrial, agrícola, silví-cola ou pecuária; Auferidos, no exercício por conta própria, de qualquer atividade de prestação de serviços, ainda que conexas com qualquer atividade mencionada na alínea ante-rior; Provenientes da propriedade intelectual ou industrial ou da prestação de informações respeitantes a uma experiência adquirida no sector industrial, comercial ou científico, quando auferidos pelo titular originário, considerando-se como pro-venientes da propriedade intelectual os direitos de autor e direitos conexos. 3. Consideram-se ainda rendimentos da Categoria B ( n.º 2 art.º 3.º do CIRS): Os rendimentos prediais e de capitais imputáveis a atividades empresariais e profissio-nais; As mais-valias apuradas, no âmbito das atividades em-presariais e profissionais, definidas nos termos do Código do IRC, designadamente as resultantes da transferência para o património particular dos empresários de quaisquer bens afe-tos ao activo da empresa; As indemnizações conexas com a atividade exercida, nomeadamente pela sua suspensão, redu-ção e cessação ou pela mudança do local do respetivo exer-cício; As importâncias relativas à cessão temporária de explo-ração de estabelecimento; Os subsídios e subvenções, desti- nados, quer à exploração quer a equipamentos; Os derivados de atos isolados, que só se consideram como tal, os que não resultem de uma prática previsível ou reiterada. 4. Toda a Categoria B passou a revestir a característica da preponderân-cia, na medida em que, seja qual for a fonte principal do rendimento nela integrado, os rendimentos de capitais e prediais obtidos no âmbito do exercício das correspondentes atividades se vão nela integrar, tal como as mais-valias dos respetivos ativos imobilizados. 5. Em conformidade com o previsto na alínea c) do n.º 2 do artigo 3.°, consideram- -se rendimentos da categoria B, as mais-valias apuradas no âmbito das atividades geradoras de rendimentos empresariais e profissionais, definidos nos termos do artigo 46.° do CIRC. 6. No caso exposto, o contribuinte encontra-se coletado pela atividade de construção e venda de edifícios (CAE41200), pelo que é perfeitamente natural que efetue alienação de bens imoveis. A divergência ocorre por os notários terem de efe-tuar a entrega da declaração Modelo 11, onde devem incluir todas as operações em que intervêm. 7. É com base na infor-mação prestada nessa declaração que a AT tem conhecimen-to das alienações e aquisições efetuadas durante o ano. Ora desde 1999 que deixou de existir o NIPC de empresário em nome individual, pelo que em todas as aquisições e alienações de imoveis, efetuadas por empresários em nome individual é indicado o seu numero fiscal de contribuinte (gama 1 ou 2), pelo que se torna difícil distinguir as operações efetuadas no âmbito da atividade empresarial e as efetuadas no âmbito pessoal, sem que para tal se questione o contribuinte ou o

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seu TOC. 8. Deste modo, no caso de efetivamente se estar perante uma alienação efetuada no âmbito da atividade em-presarial do contribuinte, deverá o consulente informar desse facto o Serviço de Finanças da área do domicílio do contri-buinte, esclarecendo que a operação está refletida no anexo C da declaração Modelo 3, não necessitando, nesse caso de efetuar a entrega do anexo G, porquanto este é exclusivo para operações resultantes da alienação onerosa de direitos reais sobre bens imóveis, que não sejam considerados rendi-mentos empresariais e profissionais, de capitais ou prediais, e se mostrem decorrentes de atos fortuitos (art.º 10.º do CIRS).

AS – 2013-07-23

Mais-valias

Questão Sócio n.º 19934

Tenho um cliente no regime simplificado que vendeu em 2012 uma viatura que pertencia a sua atividade por 3500 € tendo--a comprado em 2011 por 4000 €. A venda da viatura seguiu no IVA a 16%. No IRS segue a totalidade da venda?

Resposta do Assessor Fiscal:

1. A determinação do lucro tributável no regime simplificado resulta da aplicação de coeficientes, conforme resulta do n.º 1 do artigo 31. do Código do IRS. 2. Sobre as mais-valias incide o coeficiente 0,75, nos termos do n.º 2 do mesmo artigo. 3. Por força do disposto no n.º 9 do mesmo artigo para efeitos do cálculo das mais-valias referidas na alínea c) do n.º 2 do artigo 3.º do Código do IRS são utilizadas as quotas mínimas de amortização.

AS – 2013-08-14

dedução de IVA em baterias de viatura electrica

Questão Sócio n.º 30081

Tenho um cliente (sociedade) que vai adquirir uma viatura ligeira de passageiros 100% elétrica. Acerca da tributação autónoma, sei que não haverá, a dúvida reside na dedução do IVA do seu “combustível“. A empresa vai fazer um con-trato de aluguer das baterias, desta forma a viatura fica muito mais barata, a minha duvida é que, na verdade, o pagamento desse aluguer de baterias será “o combustível” da viatura. Se fosse gasóleo, deduzia 50%, gasolina não deduzia nada e baterias? Lendo o art.º 21 do CIVA com al-guma cautela parece-me que não se pode seduzir mas pare-ce-me contraditório face ao benefício para efeitos de IRC.

Resposta do Assessor Fiscal:

A alínea b) do n.º 1 do artigo 21.º do CIVA, apenas diz res-peito à exclusão do direito à dedução nas despesas com «combustíveis» e às excepções nela previstas. As despesas com «baterias» de viaturas de turismo estão abrangidas pela alínea a) do mesmo normativo e, consequentemente, o IVA nelas incluído não é, em qualquer circunstância, dedutível.

SP – 2013-07-17

Preenchimento Quadro 12 Anexo C Modelo 3

Questão Sócio n.º 30252

Recentemente tivemos várias divergências no preenchimento do Quadro 12 do Anexo C do IRS. A AT está a fazer o cru-zamento entre os valores das bases tributáveis das declarações periódicas de IVA (campos 1, 3, 5, 7, 8, e 9) e os campos 1201, 1210 e 1202 do Quadro 12 do Anexo C e quando os totais divergem é emitida uma divergência para o contribuin-te justificar ou corrigir. Li as instruções de preenchimento da aplicação que a AT disponibiliza para os contribuintes no Portal das Finanças, li o Livro que a APECA editou (edição 49) e fiz uma consulta à SoftwareHouse que criou o Software que utilizamos no nosso gabinete. Preenchi o Quadro 12 do Ane-xo C da seguinte forma: Vendas (campo 1201) – saldo da conta 71; Subsídios (campo 1210) – saldo da conta 75; Pres-tações de Serviços e outros rendimentos (campo 1202) – sal-dos das restantes contas da classe 7 incluindo a conta 73, e é aqui que surge a divergência, pois quando a conta 73 tem saldo devedor, o Serviços de Finanças não aceita o valor in-serido, embora não dê justificação para não aceitar. Já por diversas vezes expliquei que a conta 73 pode ter saldo deve-dor e nesse caso vai influenciar o valor a inserir no campo 1202, embora o valor deste campo seja sempre globalmente positivo, pois este campo tem outras contas da classe 7 que influenciam o seu valor final. Estarei a preencher corretamen-te o Quadro 12, ou terei que retirar o saldo da conta 73 quer seja devedor ou credor?

Resposta do Assessor Fiscal:

Nos processos de análise de Divergências, relativamente aos rendimentos da Categoria B, a Autoridade Tributaria, utiliza diversas fontes de informação e controle, a saber: 1. Recibos//faturas-recibo eletrónicas; 2. Declarações periódicas de IVA entregues; 3. Declarações Modelo 10 das entidades pagado-ras. Os rendimentos a mencionar quadro 12 do anexo C devem abranger todos os que estiveram na base do resultado

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líquido do período, incluindo os indicados nos campos 403, 408 e 410 no quadro 4 do anexo H, no quadro 5 do anexo H, bem como aqueles que foram indicados nos campos 403 a 406 e 421 do anexo J. Deve ter-se em consideração que o total das vendas, deve ser indicado separadamente do valor dos outros rendimentos, sujeitos a imposto, incluindo os que se encontram isentos, obtidos no ano a que se refere a de-claração e nos dois anos imediatamente anteriores. O total dos valores respeitantes a subsídios, devem ser indicados nos campos 1210, 1211 e 1212. Nos campos 1202, 1204 ou 1206 devem ser indicados, para além dos previstos nas alíneas b) e c) do n.º 1 art. 3.º do Código do IRS, também os referidos no seu n.º 2: Rendimentos prediais imputáveis a atividades geradoras de rendimentos empresariais e profissionais; Ren-dimentos de capitais imputáveis a atividades geradoras de rendimentos empresarias e profissionais; Mais-valias apuradas no âmbito das atividades geradoras de rendimentos empre-sarias e profissionais, definidas nos termos do artigo 46.º do Código do IRC, designadamente as resultantes da transferên-cia para o património particular dos empresários de quaisquer bens afetos ao ativo da empresa e, bem assim, os outros ganhos ou perdas que, não se encontrando nessas condições, decorram das operações referidas no n.º 1 do art. 10.º do Código do IRS, quando imputáveis a atividades geradoras de rendimentos empresarias e profissionais; As importâncias auferidas, a título de indemnização, conexas com a atividade exercida, nomeadamente a sua redução, suspensão e cessa-ção, assim como pela mudança do local do respetivo exercício; As importâncias relativas à cessão temporária de exploração de estabelecimento. Face ao objetivo do quadro 12, que é cruzar informação relativa a rendimentos obtidos e possibilitar o enquadramento do contribuinte, não se nos afigura que devam ser nele incluído qualquer valor negativo. Afigura-se- -nos que os saldos das contas referidos pelo consulente, de-vem constar na demonstração dos resultados por natureza, ou seja, no Quadro 5 do anexo I da IES/DA, mas não no Quadro 12 do Anexo C da M3.

AS – 2013-08-02

Encargos com rendas imóveis

Questão Sócio n.º 17834

No ano de 2012 o cliente x, efetuou diversas obras de con-servação e beneficiação num imóvel, para arrendamento. As obras foram efetuadas durante o mês de Outubro. Acontece que só em Fevereiro de 2013 o imóvel foi arrendado. Ques-tiono se os encargos tidos em 2012 poderão ser considerados para efeitos de despesas, muito embora o dito imóvel no ano de 2012 não foram obtidos quaisquer rendimentos.

Resposta do Assessor Fiscal:

1) Nos termos do n.º 2 do artigo 55.º do Código do IRS, o resultado líquido negativo apurado na categoria F pode ser reportado aos cinco anos seguintes àquele a que respeita, deduzindo-se aos resultados líquidos positivos da mesma cate- goria. 2) Note-se contudo que a partir de 2013, os rendimen-tos prediais são tributados autonomamente à taxa de 28%, conforme n.º 7 do artigo 72-.º do Código do IRS. 3) Nestes termos, para pode efetuar o reporte do resultado negativo ocorrido em 2012, o sujeito passivo terá de optar pelo englo-bamento dos rendimentos prediais. 4) Alerta-se no entanto que esta opção pode não ser vantajosa em termos de tribu-tação final.

AS – 2013-07-18

Pagamentos por conta – grupo de sociedades

Questão Sócio n.º 5265

1. Como calcular o pagamento por conta nos grupos de so-ciedade durante a aplicação do regime (3 anos)? 2. Sociedade normal A coleta desta sociedade em 2012 foi de 3,60 euros. Como proceder relativamente ao pagamento por conta?

Resposta do Assessor Fiscal:

1. O cálculo dos pagamentos por conta no regime especial de tributação de grupos de sociedades efetua-se da mesma forma que para as restantes entidades sujeitas a IRC, ou seja, seguindo as regras de cálculo referidas no artigo 105.º do Código do IRC. 2. Naturalmente que só é devido um paga-mento para todas as sociedades do grupo, competindo este à sociedade dominante. 3. No cálculo deve ter-se em consi-deração a coleta apurada na declaração do grupo. 4. Quanto à segunda questão, informa-se que os sujeitos passivos são dispensados de efetuar pagamentos por conta quando o imposto do exercício de referência para o respetivo cálculo for inferior a € 199,52, conforme n.º 4 do artigo 104.º do Código do IRC.

AS – 2013-07-24

IVA – Inglaterra

Questão Sócio n.º 18619

Determinada empresa portuguesa prestou um serviços de advocacia, em território nacional, a uma empresa inglesa sujeito passivo de IVA lá, o cliente aplicou a norma do artigo 6, alínea a) do n.º 6, e na fatura escreveu – IVA Auto-liqui-

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dação. Está correto? Quanto ao IVA da declaração recapitu-lativa é necessário enviar?

Resposta do Assessor Fiscal:

1. A declaração recapitulativa a que se refere a alínea i) do n.º 1 do artigo 29.º do CIVA deve ser enviada pelos sujeitos passivos sempre que estes efectuem prestações de serviços a sujeitos passivos que tenham noutro Estado membro da Co-munidade a sede, um estabelecimento estável ou, na sua falta, o domicílio, para o qual os serviços são prestados, quando tais operações sejam aí localizadas nos termos do artigo 6.º do CIVA. 2. No caso em apreço, os serviços são prestados por uma empresa portuguesa a um adquirente/ /empresa com sede num país comunitário (Inglaterra), onde é sujeito passivo do IVA. 3. Nestas circunstâncias a operação é de tributar no país do adquirente do serviço, ou seja, em Inglaterra, sendo sujeito passivo do imposto a empresa ingle-sa, por força do disposto na alínea a) do n.º 6 do artigo 6.º do CIVA, a contrario senso. 4. Sim, está correcto. A factura deve conter a expressão «IVA – autoliquidação». 5. O sujeito passivo nacional, por seu lado, deve cumprir o disposto no n.º 1, ou seja, deve indicar na declaração recapitulativa res-pectiva, a prestação de serviço efectuada à empresa inglesa.

SP – 2013-07-19

Alteração atividade/saldo de Caixa

Questão Sócio n.º 19004

A primeira questão é: Uma sociedade por quotas que tem como atividade principal o tingimento de malhas, adquiriu um imóvel (pavilhão industrial), que vai arrendar a outra socieda-de. Terá que alterar o objeto social na conservatória acrescen-tando a atividade de rendas? Essa renda está sujeita a IVA e a retenção? A segunda questão tem a ver com o saldo mui-to elevado da conta de caixa de uma sociedade, cujo valor não tem qualquer justificação. Este saldo já é antigo (anos). Como posso regularizá-lo?

Resposta do Assessor Fiscal:

1. O facto da sociedade arrendar um edifício seu, não lhe altera o objecto social. 2. Está isenta de IVA a locação de bens imóveis. Esta isenção não abrange: a) As prestações de serviços de alojamento, efectuadas no âmbito da actividade hoteleira ou de outras com funções análogas, incluindo parques de campismo; b) A locação de áreas para recolha ou estaciona-mento colectivo de veículos; c) A locação de máquinas e outros equipamentos de instalação fixa, bem como qualquer outra locação de bens imóveis de que resulte a transferência onero-

sa da exploração de estabelecimento comercial ou industrial; d) A locação de cofres-fortes; e) A locação de espaços para exposições ou publicidade. 3. Como podemos ler no despacho de 24.07.07 do SDG dos Impostos (informação vinculativa), estas excepções à isenção correspondem a operações econó-micas que englobam não só situações de locação de imóveis propriamente ditas, mas também outro tipo de características provenientes de outros contratos e que por esse facto, perdem a qualidade de mera colocação à disposição de locais ou de superfícies de imóveis em contrapartida de uma retribuição ligada ao decurso do tempo. 4. Nestas operações estamos perante contratos onde sobreleva a importância de outro tipo de serviços em relação à simples locação de espaço, nomea-damente, instalações ou áreas devidamente preparadas e ape-trechadas para dar continuidade ao exercício de uma activida-de comercial e/ou industrial. 5. Não sendo este o caso, ou seja, se o arrendamente do imóvel for feito de paredes nuas, ape-nas e só a locação do espaço, a locação do «pavilhão» estará isenta. Caso contrário, se o «pavilhão» estiver devidamente preparado para nele se instalar o exercício de uma actividade industrial, então a locação estará excepcionada da referida isenção (n.º 29 do artigo 9.º do CIVA).

SP – 2013-07-24

Resposta do Assessor Contabilístico:

No que respeita ao saldo de caixa, sugerimos a sua reconci-liação de acordo com os registos contabilísticos efectuados. Com base nessa reconciliação deverá questionar os sócios sobre a sua regularização, efectuando os correspondentes registos nas contas do activo e dos resultados de exercícios anteriores, se for o caso. O documento de regularização desse saldo, por desconhecermos a sua materialidade, deve assentar em acta da sociedade. Como sabe, esta regulariza-ção, em princípio, não será aceite como custo fiscal.

NC – 2013-08-21

Taxa IVA

Questão Sócio n.º 19934

Um cliente residente em Portugal foi a Angola prestar serviços de pedreiro na fatura passada pelo meu cliente tem que estar mencionada algum artigo em especial, e qual a taxa IVA?

Resposta do Assessor Fiscal:

Se os trabalhos de pedreiro estiverem relacionados com um bem imóvel situado em Angola, a prestação do serviço con-sidera-se localizada e tributada no lugar onde se encontra o imóvel, ou seja, neste caso, como é de supôr, em Angola (cfr.

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alínea a) do n.º 7 do artigo 6.º do CIVA). A factura deve conter o motivo justificativo da não aplicação do imposto (ex. o serviço não é tributável em território português (alínea a) do n.º 7 do artigo 6.º do CIVA), ou, simplesmente (alínea a) do n.º 7 do artigo 6.º do CIVA).

SP – 2013-07-29

localização de operação – Art. 6.º CIVA

Questão Sócio n.º 19634

Uma empresa portuguesa solicitou a uma empresa dinamar-quesa uma reparação de um equipamento. Atendendo ao facto de que o bem foi enviado para a Dinamarca, local onde foi efetuado o serviço de reparação e depois voltou a ser enviado para Portugal (onde continuará a ser utilizado), a qual das empresas compete a liquidação e pagamento do IVA?

Resposta do Assessor Fiscal:

São tributáveis em território português as prestações de ser-viços efectuadas a um sujeito passivo que nele tenha a sede, estabelecimento estável ou, na sua falta, o domicílio, para o qual os serviços são prestados, se situe no território nacional, onde quer que se situe a sede, estabelecimento estável ou, na sua falta, o domicílio do prestador (alínea a) do n.º 6 do artigo 6.º do CIVA). Na circunstância, os serviços foram pres-tados na Dinamarca, por uma empresa dinamarquesa, sendo adquirente dos serviços uma empresa portuguesa. Sendo assim, compete à empresa portuguesa liquidar o imposto (IVA) que se mostrar devido, por ser esta, nos termos da lei, o sujeito passivo do imposto, de conformidade com o disposto na alínea e) do n.º 1 do artigo 2.º do CIVA.

SP – 2013-07-24

Complemento Baixa de funcionário

Questão Sócio n.º 30299

Temos uma firma no gabinete que tem por norma quando os funcionários estão de baixa (quer por licença parental; doen-ça ou assistência aos filhos) de pagar um complemento de baixa de modo a que estes recebam o valor total do venci-mento como se tivessem ao serviço efetivo. Estes funcionários aquando ressarcidos da Segurança Social entregam esse valor à entidade patronal, uma vez que a entidade patronal já adiantou um complemento da baixa ao funcionário. Um dos funcionários desta firma já se encontra de baixa há dois anos, pelo que a firma atualmente ainda complementa o seu ven-cimento, não sendo nesta situação a firma ressarcida de ne-nhum valor. O que pretendia saber é se esta situação é legal,

e uma vez que este funcionário recebe este complemento, que não tem qualquer desconto para a Segurança Social nem para o IRS. Este valor tem de seguir na Declaração Mensal de Remunerações, e sim com que código?

Resposta do Assessor Fiscal:

1. Tendo em conta a forma como a empresa “processa” este valor, somos de opinião que o mesmo não constitui rendi-mento do funcionário, uma vez que os valores são devolvidos á empresa. 2. Assim, tais montantes assumem a natureza de um empréstimo, devendo ser evidenciados em contas de terceiros apropriadas para o efeito. 3. Por este motivo não devem estes valores ser incluídos na DMR-AT. 4. Se, no mo-mento em que os funcionários devolvem à entidade patronal os montantes por si recebidos da Segurança Social, existirem diferenças a favor deles, então sim ocorrerá uma colocação à disposição de rendimentos de trabalho dependentes, sujeitos a IRS nessa data.

AS – 2013-08-21

Empresário em nome individual conta 512/513

Questão Sócio n.º 19550

Tenho uma firma empresário em nome individual, da qual faço a contabilidade há vários anos. Este empresário não tem pessoal ao seu serviço, para além da esposa que trabalha com ele, todos os meses é registado na caixa as suas vendas, e as despesas são pouquíssimas assim sendo a caixa vai tendo uma acumulação bastante elevada de ano para ano. Como eles não podem tirar ordenado, pois não é permitido, certo que se servem do dinheiro da caixa mas não o justificam. Nesta altura a caixa já tem um acumulado à volta de 140 000€ será possível fazer uma transferência da caixa para a conta parti-cular 513? E emitir documentos de levantamentos periodica-mente para os mesmos assinarem? Estes documentos têm alguma retenção de IRS?

Resposta do Assessor Fiscal:

1. O empresário individual pode sempre transferir valores monetários da sua esfera empresarial para a sua esfera pes-soal, diminuindo o capital afeto à atividade. 2. Estas transfe-rências devem estar evidenciadas na conta bancária afeta à atividade empresarial, por força do disposto no n.º 2 do arti-go 63.º-C da Lei Geral Tributária. 3. Sobre estas transferências não incide retenção na fonte, dado que os valores em causa estão sujeitos a IRS na atividade empresarial, como rendimen-tos da categoria B e não como rendimentos de capitais.

AS – 2013-08-29

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228 Jornal de Contabilidade

glossário Do contabilista

Factura

Os nossos antepassados romanos da Idade Clássica, com a palavra “factura” queriam significar “mão de obra”, “feitio”. Coisas que no século XIII os franceses identificavam como “facture” (Houaiss) enquanto aqui em Portugal íamos mais ou menos significando “manufacturas”, entrando o vocábulo “factura” na nossa língua, no dicionário de Morais Silva em 1789, reportando a um alvará de 1764 (Morais). E só mais tarde a palavra “factura” refere a “relação de mercadorias com preços, expressando uma venda”.É bem verdade que as histórias das palavras são também histórias de nós.

Informamos que as reticências no fim de cada entrada, indi-cam mais significados presentes nos dicionários, léxicos e enciclopédias consultados, sendo os significados que aqui deixamos e reportados ao vocábulo em questão, meramente parcelares.

dicionário houaiss de língua Portuguesa – Instituto An-tónio houaiss de lexicografia Portuguesa – 2004

Factura (1764) – (étimo latino, factura, ae – feitio, traba-lho, mão de obra, proveniência pelo francês – séc.XIII – fac-ture – fabricação)1 – Acto ou efeito de fazer. Feitura. 2 – Obra feita por alguém, modo característico de cada autor compor a sua obra de arte 3 – Relação de mercadorias com os respectivos preços vendi-das a uma pessoa ou firma.…

A Enciclopédia – Editorial Verbo – 2004

Factura – Acto, efeito ou maneira de fazer//comércio: relação de mercadorias vendidas ou enviadas a alguém e dos respec-tivos preços.

dicionário de língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de lisboa – Editorial Verbo – 2001

Factura (do latim factura “obra feita”) – relação pormeno-rizada dos artigos vendidos e dos serviços prestados, com indicação de preços

nova Enciclopédia larousse – Círculo de leitores – 1997

Factura – 1 – Nota discriminativa de mercadorias vendi-das ou de serviços executados. 2 – Quantia a pagar, custo. 3 – Documento escrito pelo qual o vendedor descreve deta-lhadamente ao comprador, se a compra e venda for comercial.

lexicoteca Moderna Enciclopédia Universal – Círculo de leitores – 1987

Não tem o vocábulo.

dicionário de língua Portuguesa – José Pedro Machado – slP e Amigos do livro Editores – 1981

Factura – //Acção ou efeito de fazer; forma ou maneira de fazer qualquer obra; feitura; // relação pormenorizada da quantidade, natureza e preço das mercadorias que um nego-ciante envia ao comprador, comissário, sócio, etc; conta.…

dicionário Prático de Comércio e Contabilidade de Raul dória e e António álvaro dória – 1975

Factura – documento passado pelo vendedor ao comprador e no qual se faz a discriminação pormenorizada de todas as mercadorias vendidas, com suas quantidades, qualidade, preços unitários, preços totais e descontos.…

dicionário de gestão de henri Tezenas de Montcel – Publicações d. Quixote – 1972

Factura – documento enviado pelo fornecedor ao cliente, que indica uma venda de um bem ou serviço e a dívida cor-respondente.

dicionário da língua portuguesa composto pelo padre d. Rafael Bluteau, reformado, e acrescentado por Antó-nio de Moraes silva natural do Rio de Janeiro – 1789

Factura – O acto de fazer, fazimento// Alvará de 24 de Ja-neiro de 1764.

Vocabulário Português e latino do Padre Raphael Blu-teau – 1712-1728

Não tem o vocábulo.

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livraria

José Dinis Carmo e Abel Costa Fernandes convidam-nos a re-fletir sobre diversos problemas relativos à tributação dos rendi-mentos empresariais e à complexidade do sistema fiscal em Portugal e dão contributos para a sua resolução, que é vital para que Portugal readquira a competitividade fiscal.O primeiro é licenciado e mestre em economia pela FEUP aonde realizou uma pós-graduação em análise financeira. Exerceu fun-ções na PricewaterhouseCoopers e Sonaecom sendo atualmen-te ROC e TOC.Abel Costa Fernandes é professor catedrático na FEUP, presiden-te do Núcleo de Investigação em Finanças Públicas e Política Monetária e Diretor do Mestrado em Economia e Administração de Empresas.A obra estrutura-se em seis capítulos:1 – A política económica e o orçamento do Estado;2 – Evasão, fraude e complexidade fiscal;3 – O sistema fiscal português;4 – Evasão fiscal ao nível das pessoas singulares;5 – A evasão fiscal ao nível das empresas;6 – Alternativas ao modelo de tributação atual.O primeiro capítulo é dedicado à importância da política orça-mental na consecução de políticas de afetação de recursos públicos, redistribuição de rendimentos e riqueza e estabilização da atividade económica. Os autores consideram que um dos problemas das medidas de aumento de impostos propostas no memorandum da “Troika” se traduz no enfoque no aumento da carga tributária, via au-mento taxas nominais ou diminuição de deduções ou isenções, “ignorando que o desejado incremento da receita fiscal fica dependente da reação do valor da base tributável”.A partir da observação da evolução dos principais impostos em Portugal no último decénio os autores indiciam a presença do efeito de Laffer, principalmente quando se efetua uma análise comparativa da evolução da receita do IVA, do PIB e do consu-mo. Há, consideram, um sério risco de promover a fuga de capitais e desincentivar o desenvolvimento económico.No segundo capítulo formulam a distinção entre evasão fiscal e fraude fiscal e enunciam os fatores que as potenciam. Salientam evidências da importância que um sistema fiscal simples, eficien-te e estável tem, na tomada de decisão de agentes económicos e caraterizam os princípios que devem enformar um sistema fiscal.

Evasão, fraude e complexidade fiscalNeste capítulo analisam ainda a temática da burocracia e com-petitividade fiscal comentando o posicionamento das PME de Portugal através do estudo “Paying Taxes 2013” da Pricewa-terhouse Coopers e do Banco Mundial em critérios como o número de impostos existentes, o tempo de cumprimento das

A tributação dos rendimentos empresariais em PortugalDe José Dinis Carmo e Abel Costa Fernandes

obrigações fiscais e a taxa glo-bal de imposto dos rendimen-tos empresariais, esta última com desagregação em taxa de imposto sobre os resultados antes de impostos, taxa inci-dente sobre os rendimentos de trabalho (contribuições patro-nais para a Seg. Social) e ou-tras taxas (selo, IMI,IMT).Dão-se exemplos da complexidade dos impostos e de conflitos que opõem os contribuintes à Administração tributária (pedidos de fiscalização para reembolso do PEC, divergência entre crité-rios contabilísticos e critérios fiscais).

O sistema fiscal portuguêsO capítulo terceiro é dedicado ao enunciado dos principais impostos e de diversos diplomas que constituem o sistema fiscal português. Sendo um dos principais propósitos da obra a iden-tificação dos efeitos das situações de evasão fiscal (não de fraude fiscal) é sinteticamente referida a legislação anti abuso.Os autores defendem a desburocratização do IRC criticando alguns dos desfasamentos existentes entre gastos fiscais e gas-tos contabilísticos, aludindo, entre outros, à não aceitação como gastos fiscais de imparidades verificadas em “goodwill”, quando confrontada com a imediata aceitação como proveito fiscal do “badwill” no ano da aquisição.É analisado o IRC e as distorções económicas que poderão pro-vocar a nível interno ou internacional. Observando que “numa economia global, os fatores produtivos trabalho e capital e, por inerência o investimento, fluirão, ceteris paribus, para países onde o sistema fiscal encoraje e ofereça perspetivas de desen-volvimento económico” os autores refletem sobre a razão pela qual os estados tributam o rendimento das empresas.

A evasão fiscal ao nível das pessoas singularesO capítulo quarto é dedicado ao enunciado de algumas situações de planeamento fiscal agressivo a que os particulares (profissio-nais liberais e empresários em nome individual, não propriamen-te trabalhadores por conta de outrem) poderão recorrer.São analisadas as vantagens e inconvenientes da constituição de uma empresa, abordada a problemática do regime de trans-parência fiscal e da sua conjugação com o regime simplificado de tributação, revogado no OE para 2012 no que diz respeito às sociedades. Efetua-se a comparação da tributação entre as opções trabalhador independente e empresa relativamente a um profissional liberal.No que se refere à tributação de grandes fortunas e patrimónios, referem os autores, “onde os ganhos são recorrentemente

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reinvestidos, estes naturalmente movimentam-se na esfera das empresas, recorrendo a veículos como as holdings ou as SGPS, localizadas em Portugal ou no estrangeiro, e estes rendimentos ou nunca chegam a passar para a esfera particular ou, quando o são, são-no sob a forma de salários, devolução de empréstimos ou, em última instância, dividendos, muitas vezes isentos de qualquer tributação, nomeadamente quando provenientes de países como a Holanda”, como se descreve no capítulo quinto.

A evasão fiscal ao nível das empresasDinis Carmo e Costa Fernandes distinguem entre operações de planeamento fiscal que visam reduzir a tributação das empresas exclusivamente a nível interno das que procuram reduzir a car-ga tributária da empresa quando inseridas num contexto de internacionalização. Pronunciam-se designadamente sobre as seguintes matérias:– A nível interno: • Operações entre empresas de um mesmo grupo relacionadas

com a existência de diversos níveis de taxas de IRC (12,5%- -25% em 2011, derramas estaduais a partir de 2011);

• Recurso a Sociedades Gestoras de Participações Sociais (SGPS);

• Recurso ao Regime Especial de Tributação dos Grupos de Sociedades (RETGS);

• Enquadramento nos benefícios fiscais à interioridade (revo-gados no âmbito do OE2012).

Para ilustrar a modelização prática das operações de planea-mento fiscal a nível interno apresentam um quadro com o cálculo do IRC a pagar com e sem a realização de uma ope-ração de planeamento fiscal a nível interno, uma comparação do tratamento fiscal numa SGPS e numa outra sociedade ou contribuinte da mais-valia obtida na transmissão de uma participação social, um exemplo de determinação do imposto a pagar recorrendo ao RETGS e de aplicação do SIFIDE – Sis-tema de incentivos fiscais à Investigação & Desenvolvimento.

– A nível externo: Salientando a importância das taxas efetivas de IRC nas decisões de investimento, consideram que Portugal não é um país competitivo em termos fiscais, apresentando dois quadros com análises comparativas quanto às taxas de IRC e de retenções na fonte de que são objeto os dividendos, juros, royalties e serviços recebidos por empresas portuguesas relativamente a investimentos efetuados em vários países, quando comparados com idênticos investimentos realizados por empresas com sede na Holanda e Irlanda.

Em matéria da modelização prática de operações de internacio-nalização os autores formulam e respondem às seguintes per-guntas:1) Qual o tipo de sociedade a abrir localmente (subsidiária ou

sucursal)?2) Qual a sociedade que deverá deter estas empresas e onde

deverá estar situada?A resposta à segunda pergunta é em grande parte função do nível de fiscalidade associado às diferentes opções de estrutura corporativa. Neste domínio os autores relativamente a um con-junto de filiais ou sucursais, a funcionar no Brasil, México, Egipto, Polónia, Reino Unido e Malásia, procedem ao cálculo do

imposto a pagar através de estruturas corporativas sediadas em Portugal, Holanda e Irlanda com resultados manifestamente desfavoráveis para a hipótese da fixação da sede em Portugal.

Alternativas ao modelo de tributação atualNo último capítulo são-nos apresentadas duas alternativas ao modelo de imposto único sobre os rendimentos das pessoas singulares vigente em Portugal: o imposto dual (uma taxa pro-gressiva para os rendimentos do trabalho e pensões e outra, proporcional, mais baixa, para os rendimentos do capital, pró-xima da aplicada aos lucros das empresas) aplicado nos países escandinavos e um modelo de taxa relativamente baixa, inciden-te sobre todas as categorias de rendimentos, o modelo de taxa uniforme, apresentado pela primeira vez em 1981 pelos econo-mistas Robert Hall e Alvin Rabushka, e que tem servido de inspiração, mais ou menos próxima, para a conceção do sistema fiscal de alguns países da Europa central e de leste.Este último modelo é conhecido por “postcard return tax”, dado que as declarações de imposto a pagar a que dão origem, uma para os rendimentos de trabalho, outra para todo o outro tipo de rendimentos, considerados rendimentos empresariais, inde-pendentemente de serem auferidos por particulares ou por empresas, caberiam num bilhete postal, podendo ser preenchi-das em cinco minutos.Na forma mais “pura” deste sistema haveria a possibilidade de dedução da totalidade dos investimentos no ano da respetiva realização e a não consideração sob o ponto de vista fiscal dos juros pagos.Trata-se, referem, “de um regime muito mais favorável ao de-senvolvimento económico, evitando-se a dupla tributação dos rendimentos, ao garantir que as mais-valias são tributadas uma única vez…”. Neste modelo seriam apenas tributadas as ope-rações domésticas, independentemente da nacionalidade dos proprietários das empresas, o que faria com que todo o rendi-mento mundial fosse tributado apenas uma vez.Os autores simulam a aplicação de um modelo com esta filo-sofia no caso português. Equacionam a hipótese da criação de um “imposto de porta aberta” para empresas de muito peque-na dimensão que substituiria o imposto sobre os rendimentos empresariais e o IVA. Apresentam ainda um quadro sobre as taxas aplicáveis aos rendimentos de trabalho bem como aos rendimentos empresariais, taxas nem sempre iguais, de vários países cujo sistema fiscal se inspira mais ou menos de perto numa taxa uniforme.Estamos perante uma obra, concisa e bem fundamentada em exemplos práticos, que nos procura sensibilizar para a falta de competitividade fiscal de Portugal, para evidentes indícios do efeito de Laffer, para a necessidade de termos uma legislação tributária mais simples, mais atraente para o investimento es-trangeiro e em que surjam menos conflitos com os contribuintes.

Título: A tributação dos rendimentos empresariais em Portugal2013, 126 páginas

Autores: José Dinis Carmo e Abel Costa FernandesEditor: Livraria Almedina

Recensão feita por Joaquim Daniel da Costa Neves

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recortes

Com a devida vénia...

“Ou seja, trágico não é acabarmos mais pobres, mas acabarmos mais

pobres sem que nada mude em termos estruturais”

João Miguel Tavares, Jornalista, in Público, 15/10/2013

“O Tribunal Constitucional declarou a inconstitucionalidade de várias

alterações ao Código do Trabalho, desautorizando os parceiros sociais, o

Governo que as elaborou e o Presidente da república que as

promulgou”

João Luís de Sousa, Director da VE, in Vida Económica, 4/10/2013

“É impossível manter a actual carga fiscal”

José Eduardo Carvalho, Presidente da Associação Industrial Portuguesa,

in Vida Económica, 4/10/2013

“A redução do Estado na economia não significa cortar a todos por igual”

João Duque, Presidente do ISEG, in Expresso, 31/08/2013

“Economia não é sustentável com fiscalidade tão agressiva”

Pires de Lima, Ministro da Economia, in Vida Económica, 27/09/2013

“A inovação tem efetivamente de ser uma atitude permanente até se transformar no ADN das nossas

empresas”

José Alves, presidente da PwCin Jornal Expresso – Economia, 16/11/2013

“Primeiro o Estado depois os Partidos”

Wolfgand Schaube, Ministro das Finanças da RFA, após as eleições de Setembro,

in Expresso, 27/09/2013

“O respeito pelo défice não pode substituir por si só a consideração de

todos os outros princípios que de forma harmoniosa nos permitem viver

num Estado de direito”

Manuela Ferreira Leite, ex-Ministra das Finançasin Expresso-Economia, 9/11/2013

“Mais tempo não quer dizer nada: tempo para quê? Para que

investimentos? Para que criação de emprego? Ou para a continuação de

programas de austeridade que destroem o investimento e o

emprego?”

Francisco Louçã, ISEG, in Expresso, 27/09/2013

“Num dos primeiros rounds de negociações com a “troika”, os

portugueses chegaram em Audi 8, Mercedes S e BMW 7 e os “troikistas”

chegaram de táxi”

Clara Ferreira Alves, jornalista, in Revista Expresso, 27/09/2013

“You have to honour your signature”

“O vosso governo (dos USA) tem de honrar os seus compromissos”

Christine Lagarde, Directora do Fundo Monetário Internacional,

in Time, 28/10/2013

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a apotec em notícias

Inquérito aos Profissionais no âmbito de Tese de Doutoramento

No âmbito da tese de doutoramento da conselheira do Cen-tro de Estudos de História da Contabilidade da APOTEC, Matilde Estevens, pedimos aos Associados e a todos os pro-fissionais da contabilidade e da fiscalidade (dos distritos de lisboa, santarém, leiria e setúbal) que tenham inicia-do a sua profissão entre 1950-1985, que participem no Inquérito que se encontra disponível em www.apotec.pt.

Matilde Estevens é academicamente no domínio da Contabi-lidade, Mestre em Auditoria Contabilística Económica e Finan-ceira (UAL, Licenciada em Economia (ISEG) e Contabilista (equiparada a bacharel – ISCAL).

Profissionalmente foi docente no ISCAL e exerceu outras di-ferentes profissões contabilísticas.

Na qualidade de autora tem publicado diversos trabalhos particularmente no domínio da História da Contabilidade em Portugal. Presentemente é doutoranda na faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Porque a Contabilidade faz parte da história de um país e porque os seus profissionais, homens e mulheres, são agentes dessa história num domínio que lhe é transversal (sociedade, economia, política e religião) o objecto da sua tese é pre-cisamente o conhecimento e características da evolução da composição do universo da profissão contabilística num tempo marcante da sociedade portuguesa “1950- -1985”.

Matilde Estevens, acredita que poderemos ser todos um na reconstrução do passado e na projecção do futuro, pedindo e agradecendo desde já a preciosa colaboração.

No âmbito do processo submetido à DGERT – Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho no decurso deste ano, a APOTEC foi reconhecida como entidade formadora certificada pela DGERT nas áreas de educação e formação: 344 – Contabilidade e fiscalidade, 345 – Gestão e Adminis-tração e 380 – Direito.

O Sistema de Certificação de Entidades Formadoras, a par de outros mecanismos, é um dos garantes da qualidade do Sis-tema Nacional de Qualificações em Portugal.

Ser uma entidade formadora certificada significa que os seus procedimentos e práticas estão de acordo com um referencial de qualidade específico para a formação. Além disso, a for-mação promovida só é considerada certificada, nos termos do Sistema Nacional de Qualificações, se for desenvolvida por entidade formadora certificada.

Esta é mais uma vantagem da APOTEC, dos seus associados e de todos os seus formandos!

DGERT certifica a APoTEC como entidade formadora

Curso de Pós-Graduação em Fiscalidade

Organização:IERU – Instituto de Estudos Regionais e Urbanos da Universidade de Coimbra e pela APOTEC – Asso-ciação Portuguesa de Técnicos de Contabilidade, com coordenação a cargo do Dr. Abílio Sousa.

Finalidade:Estímulo do desenvolvimento e integração de co-nhecimentos sobre os normativos fiscais aplicados pelas particulares e pelas empresas, tendo em con-ta o relacionamento da fiscalidade na actividade dos sujeitos passivos.

duração, calendário e local:84 horas, com 2 sessões de 3 horas aos sábados de 11 de Janeiro de 2014 e 26 de Abril de 2014, em Lisboa.

Inscrições e Regulamento:Disponível em www.apotec.pt.

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Seminários em História Económica e Social

Organizados pelo GHES-Gabinete de História Económica e Social do ISEG-Instituto Superior de Economia e Gestão, rea- lizaram-se nos passados dias 29 de Outubro e 11 de Novem-bro, no âmbito do Programa de Doutoramento em História Económica e Social, dois Seminários, tendo o primeiro sido subordinado ao tema “Assistência médica aos trabalhadores do Comércio, Indústria e Serviços no Estado Novo (1933- -1968)“ a cargo da doutora Ana Campos; e o segundo tema foi sobre “A fiscalidade imperial portuguesa no período 1487-1761” da responsabilidade do Dr. Angelo Carrara, da Universidade Federal do Juiz de Fora.

Sendo ambos temas de interesse, o primeiro destaca-se pelo enquadramento histórico e a avaliação dos resultados versus outros países da Europa nesse mesmo período. Após a se-gunda guerra mundial surgem e florescem algumas ideias sobre um sistema de proteção social, muito em especial nos países industrializados e democráticos. Também em Portugal, timidamente surgem sinais do Estado Providência no regime salazarista da época. Baseadas nos princípios de uma políti-ca social e em regime cooperativo, surgem as Caixas Sindicais de Previdência.

O segundo seminário, por estar relacionado com os desco-brimentos marítimos, o assunto é interessantíssimo. A inves-tigação apresentada, feita ao império comercial português, que na época era constituído por enclaves ou feitorias, na India, Macau etc. estendeu-se até à colonização do Brasil. No Brasil a deslocação para o interior deu origem a um fluxo de despesas e receitas da Real Fazenda ou seja surge uma nova conjuntura financeira originada pela exploração do ouro.

A investigação do tema não ficou esgotada e muitas pergun-tas ficaram sem resposta.

Espera-se que os investigadores continuem a trabalhar sobre o manancial enorme de informação que poderá ser obtida, sobre um período importantíssimo da nossa História.

Assistiram a estes seminários os membros da Direção Central da APOTEC, Manuel Patuleia, Maria Teresa Neto e Manuel Benavente Rodrigues.

Comissão de Normalização ContabilísticaReunião do Conselho Geral

Reuniu no passado dia 20 de Novembro o Conselho Geral da CNC com quatro pontos na agenda de trabalhos:

1 – Informações – o Presidente do CNC referiu-se à mudan-ça para as novas instalações (local onde se realizou a reunião) como sendo um passo importante alcançado, apesar do con-texto difícil que se está a viver.

2 – Orçamento da CnC para 2014 – Foram identificadas as rúbricas onde serão aplicados os recursos financeiros orça-mentados e que provêm do Orçamento do Estado.

3 – Apreciação e votação do Plano de Atividades da CnC para 2014 – O Plano de Atividades distribuído previa-mente não levantou qualquer dúvida, foi aprovado por una-nimidade.

4 – linhas de orientadoras para a alteração aos norma-tivos contabilísticos – A publicação em Junho último, da Diretiva 2013/34/UE do Parlamento Europeu e do Conselho revogou a 4.ª e 7.ª Diretivas que vigoravam há mais de trinta anos. À luz da nova Diretiva devem ser feitas alterações e ajustes ao SNC.

A Diretiva baseia-se no princípio de que os encargos adminis-trativos sejam proporcionais aos benefícios que permitem obter, assim objetivamente nas alterações ao SNC as linhas orientadoras deverão ter em conta a racionalização, a simpli-ficação do excessivo e finalmente manter a estabilidade do sistema. As empresas pequenas ou micros devem manter os registos contabilísticos das suas operações comerciais, não devem ser dispensadas de Contabilidade, mas simplificadas as suas divulgações.

Foi apresentado também um documento orientador para a preparação do Sistema de Normalização Contabilística aplicá-vel às Administrações Públicas.

A APOTEC esteve representada pelo seu membro efetivo do Conselho Geral. A APOTEC congratula-se com a mudança de instalações da CNC que contribuirá certamente para uma melhoria das condições de trabalho dos Comités da Comissão Executiva.

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obituário

A campanha de novos associados continua para 2014!

No espírito do livre associativismo e entreaju-da, a Direcção da APOTEC decidiu alargar a Campanha de NOVOS ASSOCIADOS que teve inicio em 2012, por ocasião dos 35 anos da APOTEC.Mais de duzentos e cinquenta novos associados aderiram à APOTEC no ano transacto! Uma Associação livre, de inscrição facultativa e de reconhecida utilidade pública. A confiança dos Associados impele-nos e motivamos a servir mais e melhor, em defesa e acompanhamento profissional, nos limites estipulados no Estatuto que rege a APOTEC.

CAMPANHA DE NOVOS ASSOCIADOS(1)

• Os Novos Associados (inscritos a partir de 1 de Janeiro de 2013) beneficiam de uma Acção de Formação Gratuita(2)

• Os Associados já existentes que divulguem e promovam a APOTEC, que proponham Novos Associados, beneficiam também de uma Ac-ção de Formação Gratuita(2)

(1) Esta Campanha está vigente durante o ano 2013 e 2014(2) Acção de Formação limitada a 6h (1 dia)

Faleceu no passado dia 15 de Outubro, Ferran Termes, Presi-dente da Associació Catalana de Comptabilitat i Direcció (ACCID).

Foi com tristeza que recebemos esta notícia, e apesar da distância, não podemos deixar de lamentar e prestar home-nagem, sobretudo quando se abraça a causa do associativis-mo, do conhecimento, do trabalhar em prol dos outros, em particular dos profissionais.

Ferran Termes, academicamente ligado às ciências económi-cas, especializou-se em auditoria, tendo formado a primeira empresa de auditoria em Espanha. Com um vastíssimo e re-conhecido currículo, em 2002 promoveu a criação da ACCID, tendo sido seu presidente todos estes anos e tendo desenvol-vido um importante trabalho enquanto dirigente associativo, estando a trabalhar até ao último momento.

À Família e à ACCID as mais sentidas condolências.

Faleceu Ferran Termes i Anglès, Presidente da ACCID

50% de desconto em Formação para Desempregados

No espírito de apoio e entreajuda aos Associa-dos, a Direcção da APOTEC atribuiu o benefício de 50% de desconto, nas inscrições em Acções de Formação*, aos Associados que se encontrem em situação de desemprego.Para o efeito, é apenas necessário comprovativo do Centro de Emprego.

* Acções de Formação limitadas a 6h (1 dia)

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Jornal de Contabilidade 235

Fólio do Senador

Ensandecida e Incompetente

Paulo Cezar Consentino dos Santos

Presidente da Academia Mineira de Ciências Contábeis. Coordenador do

curso de Ciências Contábeis da Faculdade Milton Campos – Brasil

A burocracia e a legislação tributária Brasileira atingiu pata-mares que se pode considerar entre ENSANDECIDA e IN-COMPETENTE. Nos três níveis de Governo o que se tem observado é uma volúpia legislativa capaz de causar inveja aos “repentistas nordestinos” tal a velocidade com que enxergam os fatos, analisam as condições, editam as legislações e num circulo vicioso repete-se tudo em períodos de tempo de difícil digestão. A primeira mensagem que as sucessivas edições de “Medidas Provisórias (MPs) – Leis – Portarias – Resoluções – Instru-ções Normativas – Comunicados, etc, etc, etc passam é que são um amontoado de decisões não fundamentadas e redigidas por alguém que não tem o menor conhecimento do assunto, ou por algum “aspone” que após “desconfiar” de alguma falha na legislação e que estaria permitindo aos contribuintes apro-veitar aquela brecha, dispara ao superior “estudei profunda-mente este assunto nos últimos cinco minutos e eles – os contribuintes – agora não terão como escapar. Não há mais brechas questionáveis ou margens para interpretações. Aca-bou, nossa arrecadação agora vai aumentar X%”, até que no dia seguinte não vendo aquela profecia arrecadadora se mate-rializar, ele estuda novamente o assunto por mais cinco mi-nutos e continua repetindo seu PhD (por hora DEUS) “é isto que temos de alterar”, e tome novas desconfianças e alte- rações das alterações, ou, a milionésima mudança, em cima da duocentésima “inequívoca” interpretação. A insegurança jurídica que tem causado tal situação, além dos estratosféricos custos já estimados na casa dos bilhões com o aparato da máquina administrativa para tentar entender tal parafernália, tem levado especialistas em legislação tributária, principalmente aqueles encarregados de sua execução, à deses-tabilização emocional, vulgarmente chamada de loucura. Uma empresa de porte médio chega a ter mais de 10% dos funcionários da área operacional interna somente para tentar “administrar” a situação, sem nenhuma segurança de que seu zelo e seus procedimentos irão ter novas interpretações futu-ras e conseqüentemente estará sujeita a sanções pecuniárias, e aquelas com negócios em mais de uma unidade da Federação sempre em dúvidas apelam para consultas por escrito, e as regiões fiscais tem respondido o mesmo questionamento com fundamentos e decisões diferentes. Mas como? A interpretação muda de um Estado para o outro? Porque uma simples “Resolução do Comitê Gestor do Simples Nacional” – RCGSN – que disciplina o “SIMPLES” (parece anedota) chegou a ser alterada mais de 10 vezes, sendo 3 destas alterações em 3 dias consecutivos.É impossível entender e aceitar que a legislação possa prever no caso de certas Aplicações Financeiras, o “Imposto de Ren-da” – IR – na fonte seja superior ao valor do rendimento auferido. Mas é verdade. Porque uma singela “Instrução Normativa da Receita Federal do Brasil” – IN da Receita Federal do Brasil – RFB – sobre Imposto de Renda das Pessoas Físicas – IRPF – diz que “o imposto que resultar em valor inferior a 10,00 (dez reais) deve ser adicionado ao imposto correspondente a exercícios subseqüentes... Isto mesmo, você não precisa pagar, mas con-tinua devendo, e o que é pior gastando muito mais que meros

R$ 10,00 para controlar seu débito, que não existe. Legislações e exigências fiscais são adiadas em até 5 vezes antes de entrar em vigor, porque seus edito- res não tiveram o bom senso de melhor entender aqueles conceitos e o dis-parate de suas exigências mesmo considerando todos os recursos disponibiliza-dos pela informática, que também tem seu custo.E para a máquina tributá-ria, quando custa controlar tal situação? Na seara estadual a situação também beira ao ridículo com a legislação do “Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços” – ICMS que já é uma “torre de babel” nos 27 es-tados da Federação, querendo normatizar “horário de irrigação noturna” para fins de crédito do imposto. E o caso de arrepiar de Decretos que entram em vigor 30 dias antes de serem publicados. Futurologia tributária explicita.Por estas e outras que conforme amplamente divulgado e estatisticamente comprovado, 90% do “Contencioso Adminis-trativo” em trâmite no Conselho de Contribuintes do Estado de MG deve-se a “interpretação da legislação”. No âmbito do município a Câmara de Vereadores de Belo Horizonte, em total confronto com suas atribuições e com-petências chegou a publicar Lei Municipal obrigando empre-sas construtoras a fornecer Cesta Básica Higiênica a seus empregados.Como não se pode dizer mais “Samba do Criolo doido” sou obrigado a modernizar os ditos populares e admitir isto pa-rece “Musica do afro descendente mentalmente prejudicado”. Não faço apologia do crime ou da “verba não contabilizada” como diz o PT, mas com certeza essa competência as avessas tem contribuído para os alarmantes níveis de evasão fiscal. Para arrematar veja agora a Instrução Normativa da Receita Federal do Brasil – IN RFB 1397/13 que pretendia obrigar as empresas a terem 2 balanços, foi publicada e desautoriza-da em menos de uma semana, não sem antes causar estragos até no Índice da Bolsa de Valores do Estado de São Paulo – IBOVESPA. Caso típico do “estudo profundo nos últimos 5 minutos”. Qual a explicação para tanta legislação e para tantas mudan-ças, se não as considerações acima?Burocratas legisladores, deixem de lado sua zona de conforto e aprendam por favor o que é Mensuração, e o que é Custo x Benefício.Quem paga este abissal CUSTO BRASIL, ou melhor, esta interpretação?Como disse o Editorial ”Burocracia Ensandecida” do Jor- nal Diário do Comércio – DC – 03/10/2013 “é dinheiro que vai para o ralo, que em nenhum momento agrega valor ao negócio”.Ensandecidos e incompetentes.

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