entre mim e eles

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DISCURSO ENTRE MIM E ELES - MOSTRA OUTROS CINEMAS Nos últimos 5, 10 anos, venho lutando, através de textos, de mostras de cinema, de filmes, em prol de um cinema artesanal livre. venho buscando um maior espaço, de produção, de exibição, de reflexão, de pensamento por um cinema colaborativo. Luto por um cinema colaborativo de forma completamente solitária. Me sinto só. WH Auden dizia que ser livre é muitas vezes ser só. Sei que não estou sozinho em minha solidão; muitos também estão sós. Essa solidão não me enfraquece, mas me fortalece. Faço filmes para tentar dizer "eu te amo" ao mundo e às pessoas, ainda que eu fracasse. Se eu fracasso, não sucumbo, não desisto. Como diria Beckett, procuro "fracassar melhor". Queria dizer que Fortaleza não é o lugar onde eu nasci mas é o que eu escolhi para viver. Dizem que não escolhemos os nossos pais, mas escolhemos o nosso cônjuge. O Rio são os meus pais, mas Fortaleza é o lugar que eu aprendi a amar. É minha esposa. Pode não ser o lugar mais bonito, mais charmoso, mas é o lugar que eu escolhi para viver, é o lugar que eu amo. Eu aceito Fortaleza com todas as delícias e todas as dores que esse lugar pode me dar, porque eu o amo, e o amor não tem explicação. Este filme teve sua primeira exibição há mais de um ano, em março de 2013, no Rio, onde nasci. Quis o destino que o primeiro convite para exibir esse filme aqui em Fortaleza não tenha vindo do Alumbramento, nem da Vila das Artes, nem do Dragão do Mar, nem de nenhum cineclube, nem mesmo da mostra de cinema ou do cineclube da UFC, onde dou minhas aulas. Quis o destino que esse convite viesse da Barbara Cariry, da Mostra Outros Cinemas, de quem pessoalmente sou menos próximo. Esse gesto da Barbara, que supre essa ausência, fala muito do que é Fortaleza, e fala muito do que busco dizer em meu filme. ENTRE MIM E ELES não é um making of, pois não é uma peça publicitária, não é um filme institucional nem tem fins promocionais. É um filme-ensaio. Ele acompanha o processo de filmagem de OS MONSTROS, do Alumbramento. Considero que OS MONSTROS são um filme extremamente importante na cena

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Discurso ENTRE MIM E ELES - Mostra Outros Cinemas - realizado na Caixa Cultural Fortaleza

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Page 1: ENTRE MIM E ELES

DISCURSO ENTRE MIM E ELES - MOSTRA OUTROS CINEMAS

Nos últimos 5, 10 anos, venho lutando, através de textos, de mostras de cinema, de filmes, em prol de um cinema artesanal livre. venho buscando um maior espaço, de produção, de exibição, de reflexão, de pensamento por um cinema colaborativo. Luto por um cinema colaborativo de forma completamente solitária. Me sinto só. WH Auden dizia que ser livre é muitas vezes ser só. Sei que não estou sozinho em minha solidão; muitos também estão sós. Essa solidão não me enfraquece, mas me fortalece. Faço filmes para tentar dizer "eu te amo" ao mundo e às pessoas, ainda que eu fracasse. Se eu fracasso, não sucumbo, não desisto. Como diria Beckett, procuro "fracassar melhor".

Queria dizer que Fortaleza não é o lugar onde eu nasci mas é o que eu escolhi para viver. Dizem que não escolhemos os nossos pais, mas escolhemos o nosso cônjuge. O Rio são os meus pais, mas Fortaleza é o lugar que eu aprendi a amar. É minha esposa. Pode não ser o lugar mais bonito, mais charmoso, mas é o lugar que eu escolhi para viver, é o lugar que eu amo. Eu aceito Fortaleza com todas as delícias e todas as dores que esse lugar pode me dar, porque eu o amo, e o amor não tem explicação.

Este filme teve sua primeira exibição há mais de um ano, em março de 2013, no Rio, onde nasci. Quis o destino que o primeiro convite para exibir esse filme aqui em Fortaleza não tenha vindo do Alumbramento, nem da Vila das Artes, nem do Dragão do Mar, nem de nenhum cineclube, nem mesmo da mostra de cinema ou do cineclube da UFC, onde dou minhas aulas. Quis o destino que esse convite viesse da Barbara Cariry, da Mostra Outros Cinemas, de quem pessoalmente sou menos próximo. Esse gesto da Barbara, que supre essa ausência, fala muito do que é Fortaleza, e fala muito do que busco dizer em meu filme.

ENTRE MIM E ELES não é um making of, pois não é uma peça publicitária, não é um filme institucional nem tem fins promocionais. É um filme-ensaio. Ele acompanha o processo de filmagem de OS MONSTROS, do Alumbramento. Considero que OS MONSTROS são um filme extremamente importante na cena contemporânea brasileira por uma série de motivos. E ele também é muito importante para mim. Ele foi filmado quando eu acabava de chegar, de maia e cuia, a Fortaleza. Quando fiz esse filme, estava apaixonado por todos eles. É uma reflexão sobre a relação entre cinema e vida, sobre como o cinema pode também mostrar modos de ser. É um filme sobre o que me fez vir para Fortaleza. É um filme sobre o que me fez deixar as minhas origens para me apegar ao que verdadeiramente amo. ENTRE MIM E ELES dá continuidade ao meu trabalho muito singular no cinema, que espero que algum dia possa ser compreendido. A um trabalho artesanal que combina cartas e diários, cinema e vida. ENTRE MIM E ELES é um filme-ensaio, é um filme-diário, e é um filme-carta. Mas no fundo mesmo, ENTRE MIM E ELES é uma declaração de amor. Mas não é um filme deslumbrado, pois algo se passou entre o momento em que filmei as imagens e o momento em que fui para a ilha de edição. O nevoeiro, provisoriamente. ENTRE MIM E ELES é uma declaração de um amor não correspondido. Mas ainda que não seja correspondido, eu não deixo de amar por conta disso. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. BAN-ZAI!!!! BAN-ZAI!!! BAN-ZAI!!!

Obrigado e boa sessão!ik