eles vão, eles vêm. escravos e libertos negros entre lisboa e o

30
Revista Estudos Amazônicos • vol. VI, nº 1 (2011), pp. 70-99 Eles vão, eles vêm. Escravos e libertos negros entre Lisboa e o Grão-Pará e Maranhão (séc. XVII-XIX) * Didier Lahon ** Resumo: O artigo examina o movimento de escravos e libertos negros entre Portugal e o Grão-Pará e Maranhão, mais especialmente depois da promulgação da Lei de 19 de Setembro de 1761 que proibiu a entrada de novos escravos na Metrópole. Coloca a questão das influencias recíprocas das populações negras entre a capital do Império e a região Norte e, de modo mais amplo, a importância desse movimento entre o Brasil e Portugal. Palavras chaves: Escravos; Portugal; Grão-Pará-Maranhão. Abstract: The article examines the movement of slaves and free blacks between Portugal and the Grão-Pará-Maranhão, more especially after the promulgation of the Law of September 19, 1761 which prohibited introduction of new slaves in the Metropolis. It discusses the reciprocal influences of the black populations between the capital of the Portuguese Empire and Northern Brazil and, more broadly, the importance of this movement between Brazil and Portugal. Keywords: Slaves; Portugal; Grão-Pará-Maranhão.

Upload: hoangkhuong

Post on 09-Jan-2017

219 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Revista Estudos Amazônicos • vol. VI, nº 1 (2011), pp. 70-99

Eles vão, eles vêm. Escravos e libertos negros

entre Lisboa e o Grão-Pará e Maranhão (séc.

XVII-XIX)*

Didier Lahon**

Resumo: O artigo examina o movimento de escravos e libertos negros entre

Portugal e o Grão-Pará e Maranhão, mais especialmente depois da

promulgação da Lei de 19 de Setembro de 1761 que proibiu a

entrada de novos escravos na Metrópole. Coloca a questão das

influencias recíprocas das populações negras entre a capital do

Império e a região Norte e, de modo mais amplo, a importância

desse movimento entre o Brasil e Portugal.

Palavras chaves: Escravos; Portugal; Grão-Pará-Maranhão.

Abstract: The article examines the movement of slaves and free blacks

between Portugal and the Grão-Pará-Maranhão, more especially

after the promulgation of the Law of September 19, 1761 which

prohibited introduction of new slaves in the Metropolis. It discusses

the reciprocal influences of the black populations between the

capital of the Portuguese Empire and Northern Brazil and, more

broadly, the importance of this movement between Brazil and

Portugal.

Keywords: Slaves; Portugal; Grão-Pará-Maranhão.

Revista Estudos Amazônicos • 71

Até as primeiras décadas do século XIX numerosos senhores de

escravos brasileiros, ignorando de propósito ou não a Lei de 19 de

Setembro 1761,1 tentaram entrar em Portugal e, sobretudo, em Lisboa

com os seus escravos. Estes, no momento do desembarque em Lisboa,

recebiam de imediato uma carta de alforria por parte da Alfândega e,

depois da Lei do ventre livre e da libertação dos escravos de quarta

geração de 1773,2 aumentaram a população liberta da capital portuguesa.

No entanto, por descuido ou corrupção dos funcionários da Alfândega

alguns cativos não se beneficiaram da medida legal e escaparam

igualmente da vigilância das Irmandades negras que mandavam os seus

membros assistirem as chegadas dos navios oriundos das províncias

ultramarinas. Por outro lado, revelando com freqüência situações

dolorosas, escravos negros portugueses, ainda que nascidos na África,

antes e após a Lei de 1761, foram vendidos ou exilados numa das duas

capitanias do Norte, ou seja: Grão-Pará e/ou Maranhão, pelas razões que

abordaremos mais tarde.

Mesmo se nesse domínio a documentação é raríssima, é igualmente

quase certo que o contrabando de escravos, tanto africanos como

brasileiros, nunca parou depois da Lei de 1761, pois a procura continuou

importante na Metrópole, até o início do século XIX. Vários exemplos

mostram que, muito depois da proibição, a região de Guiné-Bissau e

Cabo Verde forneceu mão-de-obra servil de origem africana com uma

idade tal, que só podia ter entrado de contrabando para ser explorada na

Metrópole.3 Em alguns casos, a reexportação, muitas vezes de

contrabando, podia oferecer um lucro superior quando realizada para

uma região que, como as capitanias do Norte, reclamavam sempre mais

braços africanos. O exemplo seguinte revela como, ao abrigo duma Lei

favorecendo a navegação, era praticada a entrada de escravos na

Metrópole que depois eram vendidos.

Alguns anos depois da promulgação da lei de 1761, esta foi

modificada4 de modo que os escravos matriculados nos navios,

chegando do ultramar, na qualidade de marinheiros, não fossem

beneficiados com a alforria automática. Em setembro de 1781, um

homem se apresentou na Intendência da Polícia de Lisboa para

matricular vários escravos de um navio com destino ao Pará.

Desconfiado, o Intendente pediu:

72 • Revista Estudos Amazônicos

“averiguar se elles se achavão baptisados e

instruhidos nos Mysterios de Nossa Santa Fé; e

como fui informado que ainda se achavão Pagaos

havendo mais de seis meses que o supplicado

delles hera Senhor conformando-me com a

disposição du Código [....] mandei suspender a sua

matricula e cuidei logo que fossem baptisados na

certeza de que o supplicado tinha já delles perdido

o dominio: porque permittindo-se a escravidão

pelo trabalho da instrução na Santa Fé Catholica, o

supplicando pondo de parte este só cuidava em

transportar aquelles assim Pagaons para os Estados

do Pará como já tinha feito aos seos companheiros

levado do mayor interesse da sua venda, chegando

a illudir a Ley”.

O texto não permite dúvida, não era a primeira vez que o senhor

burlava a lei. O intendente concluiu: “Pelo que me parece [...] os

Supplicantes estão no termos de se lhe permitir a liberdade que implorão

por terem a seo favor as Leys deste Reino que os protegem”.5

A Historiografia Portuguesa e Brasileira e a escravidão Negra

em Portugal

Apesar de alguns estudos no decorrer das últimas décadas,6 a

historiografia portuguesa pouco se debruçou sobre a presença de

escravos africanos ou de origem africana no território nacional entre a

segunda metade do século XV e o início o século XIX. Sem dúvida

nenhuma, por razões ideológicas, ainda hoje difíceis de ultrapassar, como

o denunciou Magalhães Godinho,7 quando Ministro da Cultura. Figuras

de destaque entre os historiadores da época salazarista e pós-salazarista

negaram, apesar das inumeráveis provas de arquivo contrárias, a

importância da escravidão negra ou de origem africana em Portugal além

das primeiras décadas do século XVII. Oliveira Marques, por exemplo,

afirmou que a moda e a ostentação explicavam a rápida e maciça

introdução de escravos subsaarianos na metrópole portuguesa a partir da

segunda metade do século XV e a primeira do XVI. Depois, segundo ele,

Revista Estudos Amazônicos • 73

o fenômeno de moda teria desaparecido, o preço dos escravos

encarecido e, não tendo eles uma real utilidade econômica, as

importações teriam cessado. Gradualmente, com as mortes naturais e a

mestiçagem com a população branca, os escravos teriam perdido

qualquer visibilidade logo no início do século XVII.8 Tal asserção,

seguida no estrangeiro por outros pesquisadores,9 pode explicar porque

durante décadas ninguém, ou quase, se debruçou sobre o fenômeno,

apesar dos inumeráveis índices contraditórios nos arquivos sobre a

presença escrava negra ou de origem africana em Portugal até o século

XIX.

No tocante à historiografia Brasileira, salvo raras exceções,10 o

interesse para com a escravidão dos negros africanos “no coração do

Império”11 seguiu sensivelmente até agora a tese portuguesa.

Considerou-se, assim, que os escravos ou libertos presentes na

Metrópole e na capital portuguesa, ainda durante o século XVIII, não

passavam de indivíduos trazidos do Brasil por funcionários dos diversos

escalões da administração colonial de regresso à Metrópole;12 bem como

por comerciantes estabelecidos nas duas margens do Atlântico; ou ainda

mais recentemente, “que o escravismo não foi mais que um setor

marginal da economia e da sociedade Portuguesa na Época moderna”.13

Embora as duas análises contenham uma parte da realidade, evidenciei,

na minha tese14 e em artigos posteriores, o limite delas.15 Não podemos

nos delongar aqui sobre a caracterização da sociedade portuguesa de

Antigo Regime enquanto sociedade escravista ou com escravos. Se

claramente a sociedade portuguesa não se reproduziu na base do

trabalho escravo, este, todavia, penetrou profundamente no tecido social,

pois longe de ser um produto de ostentação, os escravos dos dois sexos

preenchiam um papel econômico significativo em vários setores da

economia, inclusive na agricultura. Todas as profissões, ou quase,

empregavam um ou vários escravos que trabalhavam igualmente para o

Estado. Enfim, se todo mundo não possuía escravos “a maior parte das

categorias sociais do reino tiveram acesso ao trabalho escravo e [...] no

seio delas foi-se constituindo uma distinção e uma diferenciação

simbólica e econômica entre possuidores e não possuidores de

escravos”.16

Pelo menos no que diz respeito a Lisboa, a documentação e os

levantamentos nos registros paroquiais da capital revelam um aumento

74 • Revista Estudos Amazônicos

constante em termo relativo e absoluto do número de escravos até as

vésperas da Lei de 1761,17 que proibiu “que se transportam anualmente

da África, América, e Ásia para este Reino hum tão extraordinário

numero de escravos pretos, que fazendo nos meus domínios

Ultramarinos uma sensível falta para a cultura das terras e das Minas”. A

lei sancionava assim não só a vontade de Pombal de desviar o tráfico em

direção ao Brasil como a de industrializar o país na base de uma mão-de-

obra livre. O projeto de Pombal não sofre qualquer contestação, mas

acredito que entre as suas motivações, a ordem pública tinha um papel

de primeira importância. De fato uma década depois, a Lei do ventre

livre de 1773 evocou “as confusões e Ódios” entre Vassalos, idéia que

nunca transpareceu tão claramente em outros documentos. De todas as

maneiras, as duas Leis não surtiram o efeito esperado, pois, no fim do

século XVIII Portugal conhecia uma carência endêmica de mão-de-obra

que afetava cruelmente as capacidades produtivas da Indústria e da

Agricultura, carência que preocupava a maior parte dos economistas da

época.

Quantos escravos entraram em Portugal até a Lei de 1761? Nunca,

provavelmente, o saberemos com exatidão. A maior parte da

documentação relativa ao tráfico foi destruída aquando do terremoto de

1755, e, infelizmente, nos últimos 10 anos, ninguém se debruçou sobre o

século XVIII, mas sim sempre sobre o século XVI.18 Estimei o número

de mais ou menos 400.000 escravos para o período até 1761, avaliação

que partilho com Alessandro Stella que, por caminhos diferentes,

calculou entre 700 e 800.000 escravos africanos importados na Península

Ibérica até 1750, destes a metade em Portugal.19 Mais recentemente, por

sua parte, António de Almeida Mendes considera que “entre 1440 e

1640, 350.000 a 400.000 escravos africanos foram introduzidos em

Portugal e Espanha”.20 O que só pode reforçar a minha avaliação e a de

A. Stella para os dois séculos seguintes.

Será que podemos dar crédito ao Intendente de Polícia Pina Manique

quando em 1801,21 num relatório dirigido ao Regente, que parece um

verdadeiro grito de alerta, ele afirmou que 4000 escravos entravam

anualmente em Portugal antes da Lei de 1761? No mesmo texto, ele

denunciou a situação econômica do país e fez valer ao regente “a

necessidade que há de lançar mão dos pretos, vista a falta de população”,

medida igualmente justificada para compensar a perda dos escravos da

Revista Estudos Amazônicos • 75

Metrópole cuja “exportação” – para o Brasil – Pina Manique tinha

proibido desde 1797.22

Os escravos que vinham do Brasil

A lei de 1761 incluía a América, na verdade o Brasil, como sendo uma

das vias de entrada dos escravos em Portugal. Era tradição antiga que

qualquer pessoa voltando das colônias podia trazer com ela escravos a

seu serviço, sem pagar direitos. Nos séculos XVII e XVIII, idênticas

cláusulas, ou outras favoráveis em termos financeiros, beneficiavam os

funcionários e particulares que voltavam do Brasil,23 assim como os

escravos herdados de familiares falecidos no ultramar.24 Enfim, apesar da

falta de amplas indicações sobre o comércio negreiro para Portugal nos

séculos XVII e XVIII,25 algumas informações mostram que embarcações

do Brasil abasteciam o mercado português de escravos com algumas

dezenas ou centenas de escravos. Em 1720, por exemplo, a Gazeta de

Lisboa, anunciou que as frotas da Bahia e de Pernambuco tinham,

respectivamente, desembarcado 104 e 83 escravos, cuja origem africana

ou brasileira não consta no documento.26 Parece provável que, muitas

vezes, os cativos procedendo tanto do Golfo de Guiné como de Angola

passavam primeiro por um porto brasileiro. Nas décadas seguintes,

sobretudo a partir da segunda metade do século XVIII, os registros

paroquiais e vários outros tipos de documentos,27 revelam a presença

cada vez mais freqüente de africanos, escravos ou forros, oriundos do

Brasil, especialmente da Bahia.

Nos últimos anos do tráfico para Portugal, 186 escravos originários

do Brasil foram introduzidos em Lisboa, ou seja, 18,6% do total dos 998

que foram desembarcados sobre os quais temos informações que

permitem uma análise.28 Entre eles, 72 do Rio de Janeiro, 61 da Bahia, 12

de Pernambuco, 30 do Pará e 5 do Maranhão, mais 5 de origens

desconhecidas. É de notar que, sobre o conjunto, as mulheres contam

por 24,7%, enquanto 49 são ditos, moleques, pretinhos ou negrinhas, ou

seja, 26,35% do total dos escravos “Brasileiros” desembarcados em

Lisboa. No conjunto dos escravos vindo do Pará e do Maranhão, os de

sexo masculino contavam-se 27 dos 35 identificados e os de menor idade

representavam quase a metade (16) do contingente da região Norte.

76 • Revista Estudos Amazônicos

Numa época de carência permanente de mão-de-obra escrava

africana, denunciada de modo reiterado pelas autoridades e lavradores

tanto do Pará como do Maranhão, e enquanto a Companhia Geral do

Grão Pará e Maranhão, recentemente criada, introduziu entre 1755 e

1760, respectivamente 2405 e 2978 escravos no Maranhão e no Pará,29 a

exportação de escravos, mesmo em pequeno número, pode parecer

contraditória.

Não sabemos a quem eram confiados ou vendidos os escravos do

Norte que entravam em Lisboa por esse meio. Mas os 998 escravos já

mencionados foram despachados em nome de 494 indivíduos ou

proprietários entre os quais 297 e 110 declaram, respectivamente, um e

dois escravos. O que significa que pelo “menos 51,7% entraram a título

individual e que, entre as 54 pessoas que declararam 3 ou 4 escravos, a

possibilidade de os guardarem para uma exploração pessoal ainda é forte.

Provavelmente, é o caso de 4 escravos cujas taxas são pagas em nome de

uma viúva para quem foram comprados. Um caso entre vários”.30 Pois,

as viúvas procuravam especialmente os escravos menores, mais fáceis de

socializar e educar para as tarefas domésticas ou para os colocar ao

ganho. Em termo de preço, os adultos eram avaliados a 15.800 réis, e os

jovens a 12.800 réis. Na avaliação não entrava nem a origem geográfica

ou étnica dos cativos, nem o sexo. Só contava a idade. Além do preço

avaliado para cada adulto, o declarante pagava uma taxa principal de

3.600 réis, mais 190 réis de escritura. Para os jovens (moços(as),

moleques, etc.), a taxa caía para 2.4000 réis e a escritura a 169 réis.

Ignoramos o valor de compra inicial dos escravos para calcular o preço

de aquisição final. Mas, num grande número de caso de jovens escravos

vindos do Brasil é muito provável que a transação era realizada entre

familiares das duas margens do Atlântico. De fato, redes sociais

familiares importantes existiam entre Portugal e Brasil, anteriores às

migrações do século XIX, que ainda não foram suficientemente

pesquisadas e que revelariam provavelmente estratégias familiares e

individuais, lógicas de comportamentos econômicos, no quadro das

relações entre centro e periferia.31 Redes que transparecem neste artigo.

De todas as maneiras, na mesma época, em Lisboa, o valor de um

escravo comprando a sua liberdade rondava entre 78.000 e 122.000 réis

em função da idade e das origens, os africanos valendo – aparentemente

– mais que os outros.32

Revista Estudos Amazônicos • 77

Um dos efeitos dos contatos entre escravos do Brasil e de Portugal

foi sem dúvida a difusão na capital e na Metrópole das bolsas de

mandingas. Embora conhecidas em Portugal desde a segunda metade do

século XVII,33 alguns processos da inquisição revelam a influência dos

escravos brasileiros, de passagem ou não, na sua ampla divulgação.

Assim, num dos processos da Inquisição entre os mais estudados34 os

dois principais acusados, originários da costa da Mina, viviam em Lisboa

depois de uma primeira temporada no Brasil. Entre os outros co-

acusados, dois entre eles pertenciam a um homem desembarcado da

última frota do Rio de Janeiro assim como outro cúmplice. Todos

tinham comprado uma bolsa a um dos recém-chegados. Este, como

muitos outros escravos que vinham do Brasil, trazia nas suas bagagens

ervas locais, uma em particular muita cheirosa que entrava na

composição das bolsas e/ou para “amansar” os donos.

Escravos, forros e libertos nas tripulações entre Portugal e o

Pará-Maranhão

“Eles vão, eles vêm”: o título desse artigo não pode ilustrar melhor a

situação dos tripulantes negros, livres ou escravos, que durante séculos

participaram do comércio marítimo entre as diversas províncias do

Império. Nos interessam especialmente aqui os que embarcaram nos

navios que praticavam o Atlântico Norte ou Sul, quer no comércio

clássico de mercadoria quer no tráfico negreiro entre a África e o Pará-

Maranhão durante a segunda metade do século XVIII e a primeira

metade do século XIX, 1836 para o Pará, 1846 para o Maranhão.35

Num artigo recente, Mariana P. Candido se debruçou sobre o papel e

o número dos escravos negros nas tripulações dos navios negreiros

portugueses, entre os anos 1760 e 1820, um tema ainda pouco

pesquisado.36 Entre os seus exemplos encontramos embarcações que

desembarcaram escravos oriundos seja da Senegâmbia seja de Angola,

nos portos de Belém ou de São Luiz nesse período. Segundo ela, na

maior parte dos navios negreiros, a tripulação só contava com um ou

dois escravos, às vezes nenhum. No entanto, em alguns casos, como o

do navio Nossa Senhora do Carmo e São Pedro, indo para Angola e Benguela,

em 1783, a tripulação podia contar com até 6 escravos, nesse caso

particular todos naturais de Angola.37 Tal origem tinha, sem dúvida, a ver

78 • Revista Estudos Amazônicos

com as recomendações da Junta do Comércio de 1777 sobre a

importância da presença de africanos tradutores nas tripulações dos

navios negreiros.38 Focalizando exclusivamente o seu estudo sobre os

escravos, M. Candido só encontrou 230 escravos para um total de 8441

membros de tripulação identificados. Frequentemente os escravos

embarcados pertenciam ao proprietário da embarcação, seja ao capitão,

ao piloto, ao calafate e, às vezes, ao cirurgião, assim como verificamos

recentemente na documentação da Torre de Tombo e do Arquivo

Ultramario em Lisboa.39 Essa documentação mostra igualmente que se

muitas tripulações não contavam nem com escravos nem com forros, em

muitas outras embarcações havia elementos africanos ou de origem

africana, forros ou livres, às vezes alguns mulatos, que integravam o rol

de equipagem. Estes, aliás, assim como os escravos, não eram enrolados

a título de marinheiros, mas de serventes, o que significava que,

teoricamente, eles só participavam das manobras enquanto ajudantes.

Podemos pensar que os africanos tinham igualmente um importante

papel de tradutores e intermediários para as transações comerciais ou,

nas suas terras de origem, no comércio negreiro e com os escravos

embarcados durante a travessia. Mas nem sempre era assim. Em 1768,

Bernardo Franco, capitão da galera São Pedro Gil, que embarcou escravos

em Cabo Verde e Bissau para São Luiz não alistou nenhum servente

natural de Cabo Verde, mas sim o seu jovem escravo de 15 anos que

navegava havia mais de 6 anos, porém natural de Moçambique.

Ao contrário, em 1767, a corveta São Pedro Gonçalves, cujo capitão era

Ignácio Luis da Silva, saiu de Lisboa em julho, passou por Bissau onde

carregou 127 escravos que transportou para Belém. A tripulação contava

com 26 homens entre os quais um preto forro, moço de primeira

viagem, Francisco Lopez de 18 anos, provavelmente natural de Lisboa;

Manoel da Luz dos Anjos, um moço preto forro de 18 anos, natural de

Bissau embarcado pela terceira vez. Os acompanhavam, Christovão da

Silva, moço do navio, preto forro de 24 anos, que embarcava havia 12

anos, natural de Angola, e enfim Francisco António, um pardo forro

natural do Pará com 24 anos que navegava havia 5.40 No ano seguinte,

indo desta vez para São Luiz, com 109 escravos comprados em Bissau,

Manoel da Luz, natural de Bissau, acompanhou novamente o capitão do

São Pedro Gonçalves. Em 1769, a galera São Luiz Rey de França,

desembarcou no Maranhão 205 escravos, de Cabo Verde e Bissau.

Revista Estudos Amazônicos • 79

Contava da tripulação Nicolas Mendes, preto forro natural de Santiago

de Cabo Verde e Joaquim da Costa, preto cativo do capitão, natural de

Cacheu, de 20 anos, batizado no Rio de Janeiro e que atravessava o

Atlântico Norte e Sul já havia 8 anos.

No início de novembro de 1785, o navio Aníbal que, segundo o livro

de matrícula, devia seguir viagem para Bissau com escala no Maranhão

ou Pará, atracou finalmente no porto de São Luiz no início de maio com

278 escravos e estava de volta em Lisboa em 8 de outubro do mesmo

ano.41 Nessa torna-viagem, por parte de escravatura e por outra parte de

comércio clássico com mercadorias do Maranhão, a tripulação de 33

homens não contava com um só marinheiro, mas 24 serventes entre os

quais Francisco da Câmara, pardo forro, natural da Ilha de São Miguel,

Eugenio Pereira, preto forro, natural de Cacheu, e Silvestre Francisco,

preto forro, natural de Bissau. Não parece necessário multiplicar os

exemplos, mas terminaremos com um último caso que ilustra a aplicação

da Lei de 1761 a escravos que entraram ilegalmente na Metrópole. Ainda

em 1785, a corveta São Jorge que no fim do ano devia seguir viagem para

Cacheu com escala no Maranhão se desviou para Belém onde deixou

uma carregação de 324 escravos, antes de fazer escala em São Luiz42 e

voltar para Lisboa em outubro de 1786. Na tripulação havia 4 africanos,

1 natural de Cabo Verde, 2 de Cacheu, 1 de Moçambique. Três dentre

eles eram “forro pela Ley”. Todos navegavam havia menos de três anos.

Infelizmente, em muitos livros de matrículas do fim do século XVIII

e do início do XIX não consta o detalhe das tripulações como antes. Mas

um movimento parece se desenhar progressivamente, em conseqüência

das leis de 1761 e de 1773. A primeira, acabando com a entrada de forças

vivas úteis na navegação; a segunda, jogando no mercado de mão-de-

obra livre um grande número de escravos de quarta geração. Com o

estatuto de livres – pela lei –, os tripulantes negros dos navios

portugueses serão cada vez menos escravos e mais freqüentemente

forros ou livres, inclusive recrutados diretamente na África.

Escravos e criados do Grão Pará-Maranhão

Antes da segunda metade do século XVIII, as notícias relativas a

escravos ou criados negros ou mulatos vivendo em Lisboa e originários

das províncias do Norte, são raras. No século XVII, a única encontrada

80 • Revista Estudos Amazônicos

até agora, por mero acaso, data de 1633 e diz respeito à Leonor de

Lencastre, uma escrava negra, dita natural43 do Maranhão, ou seja, nascida

nesta capitania, declarada de pais gentios, que deseja casar com um

escravo angolano, de pais gentios, contra a vontade do dono, o Conde de

Castelo Melhor, os dois sendo cativos da mesma casa.44

Por outro lado, a presença de índios brasileiros na capital não era

rara, se acreditarmos nos registros paroquiais, mas ainda não existe

estudo sobre o tema. Enquanto, no entanto, escravos transportados para

a Metrópole, não podemos deixar de os mencionar e esquecer que

fizeram parte da numerosa população servil da capital do então Império

Português, ao mesmo título que os escravos asiáticos até a segunda

metade do século XVII e os ditos Pretos da Índia, originários das Índias

Orientais que entraram em Portugal até os últimos anos do tráfico.

Assim, já em 1667, o Padre Carli, de regresso do Congo para Lisboa

num navio que saiu da Bahia mencionou índios escravos acompanhando

os seus donos.45 Dizendo respeito ao Norte, encontramos, no século

XVIII, em 1726, o caso de um morador de Belém, António de Oliveira

Pantoja, solicitando autorização para levar consigo para Portugal, duas

raparigas índias do gentio da terra, compradas em Belém, portanto

cativas, para seus serviços. Para conseguir a pretendida licença, no

entanto, ele deu fiança se comprometendo a não vender as duas escravas

em nenhuma circunstância.46 Ainda em 1745, Marcos de Amaral, o

capitão do navio Nossa Senhora da Conceição e Santa Anna, transportou sem

autorização “huns índios ou escravos para o Reino”.47

É, sobretudo, a partir da segunda metade do século XVIII que a

circulação de escravos ou libertos, índios, mestiços ou negros, originários

das capitanias do Norte, parece ser mais freqüente. Em 1760, o coronel

Luís de Vasconcelos de Almeida Castelo Branco Loureiro Pereira de

Melo, que ano(s) anterior(es), tinha ido para a Corte com os seus

escravos, um índio e um mameluco, contra a vontade e sem licença do

Governador, “por forem estes homens preciosos ao Estado”, regressa

do reino com eles.48 Quase um século mais tarde, em junho de 1822,

António Ferreira de Matos, voltou ao Pará com o seu escravo índio

Joaquim.49

Existem características diferentes entre o Pará e o Maranhão no que

diz respeito ao movimento de população entre as duas margens do

Atlântico. No conjunto de várias centenas de passaportes ou de licenças

Revista Estudos Amazônicos • 81

de viagens para Portugal, apenas duas dezenas de pessoas acompanhadas

de escravos ou de criados libertos deixaram o Pará, mas nenhuma das

que deixaram Portugal com a pretensão de instalação provisória ou

definitiva nesta província. Por razões óbvias, é claro, mas o fato vale a

pena ser realçado. Ao contrário, na saída do Maranhão, os escravos, mas,

sobretudo, os criados livres ou forros seguem em número maior os seus

donos, mesmo com o risco de aplicação da lei de 1761. Assim, sobre 249

passaportes analisados entre 1786 e 1833,50 40 (16%) dizem respeito a

pessoas que viajaram para Portugal, especialmente para Lisboa,

acompanhadas por servidores negros, escravos ou libertos. Sobre um

total de 69 pessoas, os libertos dos dois sexos dominam (42), sendo os

homens em número superior (31) ao das mulheres (11), enquanto que a

proporção de homens é ainda mais forte entre os escravos – 18 homens

contra 3 mulheres. No conjunto entram 7 menores, entre os quais pelos

menos 4 meninas.

Em alguns casos, adultos homens ou mulheres libertas viajaram por

conta própria51 ou para servir em Lisboa, enquanto menores são

confiados a passageiros para serem entregues a familiares de moradores

do Pará ou Maranhão. Encontramos, assim, um mulato que veio no

correio marítimo Príncipe Real para trabalhar nas Obras Reais; bem como

Jacinta Delfina, uma mulher preta natural da cidade do Pará que, “tendo

falecida a sua mãe” quis se deslocar “para poder herdar e tomar conta do

que sua mãe lhe dexara”. Jacinta Rosa de Medeiros, uma mulher parda

livre, fora para casa do capitão de fragata José Maria de Medeiros,

morador em Lisboa; Ignácio Francisco, homem preto, criado que foi do

desembargador Manoel António Leitão Bandeira, antigo ouvidor do

Maranhão, recolheu-se na casa de Dona Maria Josefa Barboza, moradora

no bairro das Olarias. Por outro lado, não sabemos o motivo da viagem

de Isidoro, homem preto livre e de Francisco Raymundo, índio, nem de

três mulheres pretas livres. Tampouco sabemos o destino final dos

menores, pretos livres, Jacinto e Luiza, ambos de 4 anos, nem de Maria

Rosa, de 7 anos. Mas de alguns outros pequenos é possível saber alguma

coisa: Manoel de Noronha, preto, menor de 5 anos, fora remetido por

ordem do governador do Maranhão para a sua mãe; Vitória, menor de 6

anos, fora para o serviço de Miguel Lourenço Peras; Maria José, menor

de 7 anos, para o serviço de José Gomez Loureiro, negociante, morador

em Lisboa na rua das Flores; Isabel Maria, preta livre, menor de 7 anos,

82 • Revista Estudos Amazônicos

para o serviço do piloto Jorge Miz de Britto. Por fim, Ana Rita e Maria

José, duas pretinhas, são conduzidas pelo capitão do navio para serem

entregues ao Desembargador Vidigal, enquanto um outro capitão fora

encarregado de conduzir Maria Joana, uma pretinha menor, para a

entregar a José Joaquim Ferreira, negociante em São João Nepomuceno.

Com quem viajam? Donos e Patrões

De modo geral, ignoramos o estatuto dos patrões ou donos, mas

podemos destacar alguns nomes como o do bacharel José Thomas da

Silva Quintanilha; de Frei Baltazar de Campo Maior; de Dona Maria

Gertrudes, que viajou com 8 escravos; do sargento Luiz Pedro de

Araújo; de Antonio Belfort; do tenente Manoel Carlos Duarte Gomes;

de Francisco Alberto Rubem, ex-governador da província do Ceará; dos

capitães João Manoel da Silva e José Nunes; do Padre Antonio da Costa;

do ouvidor do Piauí que “acabou o seu serviço”.

Alguns deles parecem ignorar, se não desprezar, a lei de 1761 e, às

vezes, tentar contorná-la. Em 1793, Caetano Francisco Domingues, que

saiu de Portugal para se instalar no Maranhão em 1788 com a sua

mulher, levando com ele a sua escrava, solicitou voltar para a Metrópole

com a mesma escrava, a fim de sua esposa “melhor convalescer” duma

doença do clima da Província. Em 1795, o capitão de cavalaria auxiliar,

José Joaquim Silva Rosa, “tendo tido huma avultadíssima sociedade com

Mateus Potier, Homem de Negocio desta Praça de Lisboa, precisa vir

pessoalmente ajustar as contas‟‟, comprometeu-se a mandar de volta ao

Maranhão os seus escravos Joaquim e Rita, seis meses depois da sua

chegada em Lisboa, sem que eles fossem contemplados pela “Graça de

Alforria”.52 Outros, ao contrário, como Maria Micaela Furtado e sua filha

Maria Lina Furtado Belfort, declaram que deixaram livres os seus

escravos “em chegando ao Reino”.53 De modo geral, não conhecemos as

respostas a esses pedidos de transportar escravos para a Metrópole. Mas,

a autorização foi condicionada a “cominação” de a escrava ficar livre

para João Alves Morreira, que em 1787 vivia no Pará do seu negócio

havia 20 anos e que tinha “urgente necessidade de se recolher na Corte,

em companhia da sua filha, e uma escrava Joaquina Rosa para servir

lha”.54 É um dos raros documentos no qual a aplicação da lei foi

lembrada, mas não temos a certeza que derrogações não foram

Revista Estudos Amazônicos • 83

concedidas a funcionários dos territórios ultramarinos que, no quadro

duma missão temporária na Metrópole, se faziam acompanhar de um

escravo antes de regressar à colônia. É o que deixa pensar um processo

de 1818 entre Joaquim Bento Pires de Figueiredo, “Comiçario Pagador

da Devizão de Tropa da Bahia, que foi passificar o Pernambuco”, e seu

escravo Feliciano. Este último “se aproveitou desta circunstancia para

adquirir conhecimentos com outros Pretos, aqui rezidentes, e para

concertar a fuga, que praticou na ora do embarque, roubando dinheiro, e

alguns trastes de valor”. Atrás dessa fuga organizada, só podemos ver a

mão duma das Irmandades negras de Lisboa. O que significa que

Feliciano não tinha obtido a sua carta de alforria quando o seu dono

chegou, tendo este se beneficiado provavelmente duma derrogação. Pois,

o pedido dele foi sem ambiguidade; uma vez preso o escravo, devia

regressar para a Bahia.55

Exilado no Pará-Maranhão – um castigo

Enquanto duraram as trocas comerciais entre o Pará-Maranhão e a

Metrópole – Lisboa mais especialmente –, o fluxo regular de entradas e

saídas de escravos, que não pode ser confundido com o comércio

negreiro clássico, não modificou, obviamente, a importância global do

número dos escravos do lado brasileiro. Mas, depois das leis de 1761 e

1773, a introdução de libertos ou escravos logo alforriados, vindos do

Brasil, contribuiu para diminuir o declínio da população negra de Lisboa.

De outro lado, a carência de escravos nas duas capitanias do Norte

oferecia possibilidades mais lucrativas que o mercado metropolitano para

se livrar dos escravos rebeldes, recalcitrantes ou fujões, ou para recuperar

um capital que, em curto prazo, as duas leis ameaçavam de

desvalorização. Em 1780, por exemplo, 8 escravos, 6 mulheres e 2

homens, desembarcaram em São Luiz, em 3 embarcações diferentes,

entre os quais um navio que praticava o tráfico negreiro entre o Norte e

a costa africana. Logo foram vendidos, a dinheiro, cinco mulheres e um

homem por um valor médio de 63.000 réis, uma mulher por 10.000

réis.56 Um preço correspondendo, para os sete primeiros, ao dos

escravos de “refugo” que chegaram em 1781 no quadro do tráfico,

enquanto o valor da mulher era igualmente inferior aos 20% de todos os

escravos entrados em São Luiz esse mesmo ano e equivalente aos 9%

84 • Revista Estudos Amazônicos

comprados pelo mesmo valor.57 Esses escravos que chegaram fora do

tráfico negreiro, eram provavelmente indivíduos castigados pelos seus

donos portugueses. Pois, a ameaça de venda para o Brasil foi sempre

uma prática dos senhores portugueses que queriam se vingar e afastar os

escravos indóceis ou aqueles vendidos e separados por não ter respeitado

a proibição de casar por parte dos donos. É o que aconteceu a Maria

Izidora, mulher parda, casada com José Manoel, homem branco. Movida

por um “ódio positivo”, a sua senhora a quis vender para o Brasil.58 Em

alguns casos, a justiça podia intervir para impedir a venda para a colônia

como aconteceu com outra escrava casada com um liberto.59 Os motivos

mais diversos motivavam as vendas: desentendimento com o dono;60 não

respeito, por parte de herdeiros, da liberdade concedida por

testamento;61 o lucro, conseguido, quando a justiça não tomava em

consideração os privilégios das Irmandades.62 Vários proprietários de

escravos não respeitaram a Lei do ventre livre e de quarta geração, de

1773, e conservaram os seus escravos, às vezes durante décadas. Nesse

caso, para escapar à ação duma Irmandade, a venda para o Brasil

constituía uma opção para realizar um lucro sobre um indivíduo

geralmente nascido em casa.63 E nem um processo em curso podia deter

alguns senhores na execução de seus projetos, como aconteceu em 1771:

enquanto a Irmandade do Rosário dos Homens Pretos do Convento da

Graça intentou um processo contra João Alberto, este, um dos

corretores de escravos da capital, queria “desterrar e mandar para fora do

Reyno” a escrava Joana.64 A venda para o Brasil era o grande terror dos

escravos portugueses e podia conduzir a atitudes manifestando um

absoluto desespero como já contamos num outro texto.65 Mas a venda

numa das duas regiões do Norte era considerada como um castigo entre

os mais cruéis, inclusive pela justiça que podia aplicar tal medida a

respeito dos escravos considerados perigosos ou definitivamente

incontroláveis. É o que aconteceu em 1800, quando o Cavaleiro

Professo, Tomas José Borge de Brito, pediu à justiça que dois dos seus

escravos fossem transportados a seu custo para a Capitania do Pará, “por

lhe haverem insultado a sua casa conservando no quarto deles

meretrizes, de que se servirão socialmente”, além de o ter roubado várias

vezes. Por ter censurado os dois escravos numa outra ocasião, um padre

tinha escapado por pouco a uma tentativa de assassinato. Presos a

pedido do dono, os escravos Francisco António e Gonçalo ameaçavam

Revista Estudos Amazônicos • 85

de dentro da cadeia o senhor do mesmo projeto, isto é, de morte. Um

inquérito comprovou os fatos e a periculosidade dos dois sujeitos,

“porque além de serem muito rixosos, mal intencionados, presumidos de

valentes, sam também muito vingativos”. Por todas essas razões foram

“extreminados” para “a dita cidade do Pará para ali serem vendidos, e se

empregarem nos trabalhos, [...] em utilidade do Público, da cultura, e das

minas”, pois “os mesmos escravos sam robustos, e fortes, que podem

fazer-se muito uteis ao Estado inchendo (sic) no Pará os interessantes

fins da saudável Ley de 19 de Setembro de 1761”.66 Até um simples furto

de galinha podia conduzir o culpado a um exílio de 5 anos no Maranhão.

Por essa razão, Francisco Gabriel, igualmente conhecido como João

Gabriel e finalmente Felipe Neri, um forro, de 21 anos de idade, homem

de ganhar, e criado de servir, foram condenados a 5 anos de degredo em

1819.67 Resumindo, o Pará-Maranhão era um verdadeiro ergástulo dos

escravos como o fora para um grande número de degredados e suas

famílias até a independência do Brasil.68

A péssima fama do Pará

O Pará, em particular, não gozava duma boa reputação em Portugal.

Era considerado como uma região selvagem, ainda pouco civilizada no

melhor dos casos, cujos costumes eram, no imaginário da época,

comparáveis e comparados à África. Já em 1731, foi publicado o seguinte

texto no Folheto de Ambas Lisboa,69:

“Rua dos Escudeiros. Hontem pelas nove hora da

manhã estava a huma janella das desta rua huma

celebra negra, vendo-se com muita curiosodade a

hum espelho, e pondo cor na cara; o que vendo

hum sujeito, que passou acaso, sobio pela escada

acima, e disse a negra o soneto seguinte. Soneto:

Quem te manda cachorra bujame \ chegar a este

cristal, se has de ver só \ huma cara talhada para

hum dó,\ hum corpo, que nasceo para o cumbè ?

\ Considera, que es filha de Guinè, e que te has de

tornar em negro pó; \ não queiras que te diga a

gente tó,\ vay te ser presumida a São Thomé.\

86 • Revista Estudos Amazônicos

Que gentio nascido no Parà,\ vendo o feitio desse

corpo nú,\ deixa de te hospedar cum passa lá ?

\ Pois se a ver te ao espelho chegas tu,\ dizem

logo: essa negra que se và \ baylar com mil diabos

o gandù.”

Apesar dessa fama, muitos portugueses, como já notamos, emigraram

para essa região, enquanto outras pessoas, depois de um tempo na

Metrópole, voltavam ao Pará ou o deixavam. Em 1790, Dona Maria

Gertrudes tinha-se deslocado para Lisboa acompanhada de 8 escravos,

entre os quais a mulata Maria Gertrudes e a negra Maria.70 Onze anos

mais tarde as duas voltaram para o Maranhão “aonde é a sua

residencia”.71 Em 1822, José Tomás Nabuco de Araújo, natural da Bahía,

ex-secretário do Governo do Pará, de 37 anos, voltou de Lisboa com o

seu escravo preto Anoleno.72 No mesmo ano, Isabel Rebola, escrava

Angola de 24 anos, vivendo em Lisboa, voltou ao Pará por ordem do seu

senhor.73 Nos dois últimos casos o estatuto de Isabel e de Anoleno não

podia ser o de escravo, pois havia já 60 anos que nenhum escravo

africano entrava oficialmente na Metrópole e sendo escrava de um

brasileiro não podia ter entrado em Portugal desde essa data. Quanto a

Anoleno, só se for natural do Reino e comprado lá recentemente, no

caso de ele ter acompanhado o seu senhor nos últimos anos, teria

obrigatoriamente obtido a sua carta de alforria na ida do seu senhor para

Lisboa. Portanto, estamos provavelmente frente a alguns casos de

escravos que por diversas razões não foram introduzidos legalmente. O

que não era tão raro. Ana, de nação Angola, entrada ilegalmente, chegou

do Maranhão na galera Piedade para Lourenço da Costa Dourado, foi

libertada em 1830 graças à ação da Irmandade negra de Jesus Maria José,

após passar 3 anos na casa do seu dono que nem a deixava “sahir a

Missa, tratando a escondidamente a maneira de cárcere privado”.74

As ações das Irmandades Negras

A intervenção duma irmandade negra para defender os escravos e

requerer em nome deles não era uma situação excepcional. Desde o fim

do século XVII, várias irmandades “negras” de Lisboa, e algumas de

províncias, possuíam privilégios de Liberdades para proteger os seus

membros dos maus tratamentos dos senhores. Um dos privilégios

Revista Estudos Amazônicos • 87

permitia igualmente de impedir a venda dos seus confrades “barra fora”,

ou seja, para o Brasil. Com a promulgação da lei de 1761, as Irmandades

ficaram extremamente atentas ao respeito da lei, com os seus membros

patrulhando, literalmente, os cais de desembarque de Lisboa para

informar qualquer negro ou mulato vindo da África ou do Brasil dos

seus direitos relativos à alforria automática. Durante o reino de D. Maria,

numa data desconhecida, Duarte da Costa de Mello e Sá, caixeiro de um

comerciante de Lisboa, comprou no nome deste um escravo fugido,

oficial de curtume de sola, para mandá-lo se aperfeiçoar em Lisboa e

voltar para Belém e ensinar os seus companheiros. Uma vez na capital,

através da Irmandade do Rosário da Igreja da Graça de Lisboa, Vitorino,

reclamou a alforria a qual tinha direito e devia ter recebido

automaticamente na passagem da Alfândega. Argumentando de modo

especioso, o caixeiro tentou uma negociata propondo que o escravo

voltasse para Belém para servir “bem” e ensinar ainda durante 6 anos e

que depois desse tempo seria alforriado e conduzido para Lisboa. Porém,

a Irmandade recusou; o que levou o caixeiro ao seguinte comentário:

“bem conhece a Vossa Magestade a emjustiça com que a Irmandade em

prejuízo da utilidade pública resiste a huma propozição que se dirige ao

aumento das suas colônias, e como em se praticar a proposição do

supplicante nem a Irmandade nem se ofende o bem público”. O

Conselheiro, violando a lei, sem dúvida pelo bem público, recomendou à

rainha de entregar o escravo ao seu dono, com a condição que Vitorino

seja libertado segundo as condições da proposta.75 Não sabemos se a

rainha opinou no mesmo sentido. Mas esse caso revela o quanto no seio

mesmo do poder os senhores de escravos podiam encontrar apoios e

cumplicidades contrários à lei.

Em Lisboa, os senhores de escravos que desejavam vender os seus

escravos para fora, temiam tanto a intervenção inopinada de uma das

instituições negras da capital, antes ou no momento do embarque, que

alguns deles incluíam num seguro, legalizado em cartório, uma cláusula

assumida pelo proprietário, caso o embarque não se efetuasse por causa

duma Irmandade. É o que mostra sem ambigüidade o ato de venda do

escravo pardo Joaquim de Santa Anna vendido para o Pará, em setembro

de 1784, pelo valor de 120.000 réis.76 O caso de Felipe José, comprado

por um negociante de Lisboa por 86.400 réis e imediatamente

embarcado no navio Maranhão para ser vendido no Pará foi mais uma

88 • Revista Estudos Amazônicos

situação desse tipo na qual interveio uma irmandade em 1786, entre

centenas que encontramos nos arquivos. Quatro anos depois, a situação

ainda não estava resolvida.77 Além do fracasso da venda, os atores do

que pode ser considerado como contrabando de escravos, se arriscavam

a enfrentar ainda mais dificuldades. De fato, quando uma irmandade

suspeitava o embarque ilegal de um dos seus confrades, ela tinha

legalmente o direito de subir no navio e intimar o comandante de

entregar-lhe o escravo. Em caso de recusa ou de dissimulação atestada, o

capitão arriscava, teoricamente, uma multa de 200 cruzados remetidos à

Irmandade. Não encontramos um único documento comprovando a

aplicação de tal medida.78

As intervenções da Irmandade nem sempre tinham êxito favorável.

Em 1783, a de São Benedito conseguiu na última hora tirar Fabiana de

um navio que ia zarpar para o Maranhão. Na espera de ver o caso

resolvido, ela ficou num primeiro tempo abaixo da proteção da Polícia e

em seguida da Casa Pia. Segundo o relatório da Polícia, a venda não se

justificava, pois era unicamente motivada pela má vontade do senhor e

um espírito de vingança. O dono, o desembargador João Henrique da

Maia, contestou a decisão, protestou da justeza da sua decisão, o que

provocou uma investigação que foi fatal a Fabiana.79 Culpada de um

delito de moralidade, no qual o desembargador parece ter tido uma co-

responsabilidade, e a esposa dele ser a vítima, o processo da Irmandade

em favor de Fabiana foi indeferido.

Outra irmandade foi igualmente confrontada com a decisão de um

dono especialmente cruel. Em abril de 1772, a Irmandade de Jesus Maria

José tentou opor-se à venda para o Maranhão de cinco escravos de Felix

Coutinho de Azevedo: uma mulher e o seu filho e um casal e o seu filho.

A mulher do casal tinha amamentado o filho do dono, falecido aos 3

anos de idade. Em razão da qualidade dos serviços e dos méritos dos

escravos, a venda foi considerada como uma medida excessiva, não

podendo prosseguir por esses motivos. Infelizmente, a Irmandade era,

na época, a única de Lisboa que ainda não possuía os privilégios de

liberdade necessários, referidos há pouco, para acatar o pedido. Nesse

tipo de situação, outra irmandade negra podia tomar conta do caso. Mas

o processo foi indeferido. Foi alegado que os escravos não estavam

inscritos no livro de entrada da Irmandade Franciscana. O que era

verdade como verifiquei.

Revista Estudos Amazônicos • 89

Na Arte de Furtar,80 já no século XVII, o autor denunciava a prática de

embarcar à força escravos roubados ou libertos para os vender no Brasil.

Aconteceu em 1790, com dois marinheiros naturais de São Tomé da

tripulação de um navio francês que acabava de naufragar. Foram

embebedados por um tendeiro com loja de mercearia e colocados num

navio que ia para o Pará e logo vendidos. Ali, protestaram com

veemência e por sorte foram ouvidos pela justiça e imediatamente

confiados a um cidadão de Belém, Domingos José Frazão. Alguns meses

depois, tomando conhecimento da situação, o Intendente da Polícia de

Lisboa pediu ao Ministro Martinho de Mello e Castro para dar ordens

“ao Governador da capitania do Pará para logo fazer remeter a esta

Corte os ditos Pretos; e como esta a partir hum navio para este Porto,

queira V. Exª por ele fazer expedir as mesmas ordens, afim de resgatar

estes miseráveis”. O resto da correspondência mostra que o tendeiro não

se saiu ileso. Foi preso e obrigado pelo intendente a “indemniza-los dos

jornaes, que tenho tenção de lhes-fazer pagar desde o dia, em que os

meterão a bordo neste Porto athé o dia, em que chegarão a este, e

arbitrar-lhes mais a titulo de ajuda de custa coiza, com que os mesmos

escravos possão ser satisfeitos da injuria, e damno que lhes-cauzarão”.

Esse rigor teve por objetivo de “dar hum exemplo por este modo, para

que outros não pratiquem esta casta de violencias”.81 Já Pedro Nolasco, o

capitão do navio, que tinha transportado os dois escravos e

provavelmente tinha parte no crime, era igualmente, em 1791, co-

proprietário da galera S. Macário e Minerva, que, entre 1788 e 1796,

realizou várias viagens com escravatura entre Bissau e o Pará-Maranhão.

É a segunda vez que encontramos um capitão de navio, efetuando o

tráfico negreiro, implicado numa situação dando lugar à contestação na

justiça. O que, certo, não significa que não aconteceu com outros

destinos do Brasil. Mas acreditamos mesmo que a falta de escravos mais

aguda na região Norte provocou comportamentos extremos, pois será

que valia a pena se arriscar tanto para contrabandear um ou dois

escravos? Se for o caso, então porque o lucro valia a pena. Mas o

sucesso, como acabamos de ver, não era sempre garantido.

90 • Revista Estudos Amazônicos

A Lei de 1761 e a Independência do Brasil

Um pouco antes e depois dos eventos que marcaram a independência

do Brasil, muitos portugueses comerciantes ou militares, fiéis à coroa,

emigraram para Portugal com os seus escravos, muitas vezes o único

capital que tinham conseguido salvar. Apesar da lei de 1761, a maior

parte entre eles conseguiram conservar o domínio sobre os seus escravos

graças a derrogações que favoreceram mais de 200 emigrados, talvez

mais, e um número bem superior de escravos. A medida criou um

conflito entre várias figuras do governo na época, e acabou só em 1830,

com a liberdade definitiva dos escravos ainda existentes na Metrópole.

Entre os beneficiados pelas derrogações encontramos o tenente-coronel

Joaquim Jozé da Costa Portugal, morador na Província do Maranhão, e o

seu escravo de 25 anos, Luciano ou Luciano Augusto, de nação Congo

ou Angola e filho de pais gentios. Luciano, apresentado como caiador,

fugiu logo após o desembarque e fez citar o tenente-coronel “a

requerimento dos Pretos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário,

com pretextos frivollos, e inteiramente falços para que o dito escravo

fique forro”. Ao pedido do militar, Luciano foi preso entre janeiro e o

fim do mês de agosto de 1825 e o senhor produziu o documento que se

proibia de passar a certidão de liberdade ou que esta fosse revogada no

caso do escravo já a possuir.82 Um caso entre centenas de outros, mas o

único que conhecemos a respeito do Pará ou Maranhão. Não sabemos o

que aconteceu com Luciano e se ele ficou finalmente em Portugal, se

fugiu, ou se o tenente-coronel embarcou ilegalmente o seu escravo para

o Brasil como o fizeram outros emigrados.83

Finalizaremos com algumas interrogações ampliando a problemática

que, em pano de fundo, levanta esse artigo. Em primeiro lugar, sobre o

papel que tiveram os escravos ou forros brasileiros nas Irmandades

negras de Lisboa ou das províncias portuguesas. Sabemos que, na

segunda metade do século XVIII, o juiz de uma das Irmandades negras

de Lisboa era um liberto brasileiro, o Pai Paulino, que, na segunda

metade do século XIX, dirigiu duas das últimas instituições negras da

capital. Paulino, do seu verdadeiro nome Paulino José da Conceição,

originário da Bahia, participou do desembarque de Mindelo em 1832,

como soldado das tropas liberais. Doze anos mais tarde, inscreveu-se na

Irmandade negra Franciscana de Jesus Maria José, e logo foi eleito juiz

Revista Estudos Amazônicos • 91

perpétuo. Passaram mais de 10 anos e reergueu, em 1853, a Irmandade

negra dos Reis Magos. Até 1864, Paulino presidiu as duas instituições e

participou, muitas vezes de modo polêmico, das eleições dos últimos reis

e rainhas do Congo da capital portuguesa. Mas, a principal das suas

preocupações era a de libertar os escravos que, mais de um século depois

da lei de 1761, continuavam a entrar na capital. Africanos livres,

chegando como marinheiros ou domésticos, eram às vezes vendidos

como escravos para o Brasil. Figura popular da capital, caiador de

profissão e gaiteiro nas procissões, era recebido pelo ministro da

Marinha que o tratava com a “maior bonomia”.84 Foi retratado pelo

célebre caricaturista e ceramista Bordalo Pinheiro, a quem foi dedicado

um museu em Lisboa, no qual o Pai Paulino tem ainda hoje o seu busto.

Na vida social da comunidade escrava e liberta de Lisboa, os do Pará-

Maranhão representaram uma pequena fracção dos escravos brasileiros

da Bahia, de Minas Gerais, do Rio de Janeiro e outras regiões do Brasil

que, durante séculos, viveram uma parte das suas vidas na capital do

Império. Não sem deixar as suas marcas, como parece indicar a

documentação. Significativo é o fato que entre os libertos, na realidade

sobretudo libertas, que fizeram testamentos e possuíam alguns bens em

Lisboa, a maior parte eram brasileiras. Assim, esses casos dos escravos e

libertos do Pará e Maranhão ou dos escravos da capital que acabaram

suas vidas no Norte, colocam a questão mais geral da importância desse

movimento de escravos e libertos entre a Metrópole e o Brasil e dos

laços que foram, eventualmente, mantidos entre as duas comunidades

das duas margens do Atlântico.85

Artigo recebido em junho de 2011 Aprovado em agosto de 2011

92 • Revista Estudos Amazônicos

NOTAS

* Esse artigo não resulta de uma pesquisa específica, mas, sim, de documentos

encontrados em vários fundos – indicados nas notas de roda pé – muitas vezes

por acaso –, no decorrer de outras investigações tanto no Pará e Maranhão, e,

sobretudo, em Portugal: por ocasião da pesquisa de doutoramento em

Antropologia Social e Histórica na EHESS de Paris (2001), financiada

sucessivamente, entre 1993 e 2000, pela Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa), o

Instituto Camões (Lisboa), a Comissão Nacional Para as Comemorações dos

Descobrimentos Portugueses – CNCDP; o pós-doutoramento sobre a Limpeza

de Sangue aplicada aos negros e mestiços em Portugal (2001-2003), na

Universidade Católica de Lisboa (financiamento da Fundação para a Ciência e a

Tecnologia – Lisboa); enquanto pesquisador visitante na UFRJ (2004-2005) sobre

a expansão das Irmandades Negras no Brasil, e, em seguida, como professor

visitante na UFPA, desde 2008, pesquisando sobre as Irmandades negras no

Pará, e, desde 2010, sobre as “Relações triangulares entre o Para-Maranhão, a

África e o Portugal: O Tráfico Negreiro do fim do século XVII até 1846. Novos

dados, novos olhares. Foco sobre a Senegâmbia” (esta pesquisa conta com

apoio do CNPq).

** Professor visitante da Faculdade de História da Universidade Federal do Pará

(UFPA). Doutor em Antropologia e História pela École des Hautes Études em

Sciences Sociales (EHESS), França.

1 A lei de 19 de Setembro de 1761 proibiu a introdução de novos escravos de

qualquer origem geográfica e concedia a alforria automática a todos os escravos

que entravam ilegalmente em Portugal.

2 De modo paradoxal, as duas leis foram freqüentemente apresentadas pela

historiografia portuguesa e até estrangeira como sendo duas leis de abolição da

escravidão, fazendo de Portugal o primeiro país da Europa a tomar essa decisão.

No entanto, os textos das leis que publiquei em duas obras não permitem a

menor dúvida: a escravidão continua legal na Metrópole até a abolição definitiva

em todos os territórios da coroa, em 1869. LAHON, Didier; NETO, Maria

Cristina. Os Negros em Portugal, sécs. XV a XIX. Catálogo da Exposição do

mesmo título. Mosteiro dos Jerónimos. Lisboa: Comissão Nacional para as

Comemorações dos Descobrimentos Portugueses – CNCDP, 1999, pp. 87-90;

LAHON, Didier. O negro no Coração do Império – uma memória a Resgatar.

Séculos XV-XIX. Lisboa: Secretariado Coordenador dos Programas de

Educação Multicultural/Ministério da Educação, 1999, pp. 78-83.

3 Assim, entre outros exemplos, o caso de Maria da Encarnação: natural de

Bissau, entrada em Lisboa em 1821, com 18 anos na época. Escrava de Joaquim

António de Mattos, funcionário na Guiné-Bissau, desde os seus 8 anos, ela foi

Revista Estudos Amazônicos • 93

dada à mãe deste que residia em Lisboa. IANTT, Feitos Findos. Fundo Geral

[FF.FG], Mç. 3009, Abril 1824/Fev. 1826.

4 Aviso de 22 de Fevereiro de 1776. Colleção de Legislação Portuguesa,

Supplemento à Legislação de 1763 a 1790, p. 425; e Lei de 10 de Março de 1800.

IANTT, Livro 15 de Leis, f.125; e Maço 8 de Leis, n° 102, texto publicado em

LAHON, O negro no Coração do Império, pp. 83-84.

5 IANTT. Intendência Geral da Policia, Livro 1, fl. 191-192, 25/9/1781.

6 SAUNDERS, A. C. de C. M. História social dos Escravos e Libertos Negros em

Portugal (1441-1555). Lisboa: Imprensa Nacional, 1994. Tradução de A Social

History of Black Slaves and Freedmen in Portugal, 1441-1555. Cambridge, 1982;

RAMOS, J. Tinhorão. Os Negros em Portugal. Uma presença silenciosa. Lisboa:

Ed. Caminho, 1988; FONSECA, Jorge. Ecravos em Évora no século XVI.

Évora/Portugal: Câmara Municipal de Évora, 1997; FONSECA, J. Escravos no

Sul de Portugal. Séculos XVI-XVII. Lisboa: Ed. Vulgata, 2002. LAHON, D.

Esclavage et Confréries Noires au Portugal durant l’Ancien Régime (1441-1830)

[Escravidão e Irmandades Negras em Portugal durante o Antigo Regime (1441-

1830)]. 2 vols. Paris: EHESS, 2001. FONSECA, J. Escravos e Senhores na Lisboa

Quinhentista. Goiânia: Ed. Colibri, 2010.

7 Em 1974, após a “Revolução dos Cravos” de 25 de Abril, que derrubou o

regime Salazarista, Vitorino Magalhães Godinho, então Ministro da Educação e

da Cultura, denunciou os atentados ao espírito histórico cometidos durante o

período salazarista que cultivou “a mitologia considerado propaganda oficial”,

ocultando as fontes de informações como as, por exemplo, relacionadas à

escravidão. In: Jornal de Notícias, 27 de Novembro de 1974, p. 23, citado por

CAPELA, José. Escravatura, Conceitos a Empresa de Saque. Porto: Ed.

Afrontamento, 1978, p. 183.

8 OLIVEIRA MARQUES, A. H. de. História de Portugal. 12ª edição. 3 Vol.

Lisboa: Palas Editores, 1985.

9 DESCHAMPS, Hubert. Histoire de la Traite des Noirs de l'Antiquité à nos jours.

Paris: Fayard, 1971, p. 52.

10 VENÂNCIO, Renato Pinto. “Pombal aboliu a escravidão em Portugal? Uma

sondagem nos registros de óbitos da Sé de Lisboa‟‟. SBPH, 2004, p. 3; a partir

dos registros paroquiais da Sé estima a população escrava de Lisboa entre 1780-

1788 em 4000, de uma população lisboeta de 170.000, e considera que “a

comparação com dados de períodos anteriores permite, inclusive, que se

perceba uma ligeira intensificação dos percentuais de cativos na população

total”.

11 LAHON, O Negro no Coração do Império.

94 • Revista Estudos Amazônicos

12 SOUZA, Laura de Mello e. O Diabo e a terra de Santa Cruz. Feitiçaria e

religiosidade Popular no Brasil Colonial. São Paulo: Companhia das Letras,

1995, p. 216: “[Lisboa] sede de um Império Colonial, muitos dos seus

funcionários levavam consigo os cativos quando voltavam à metrópole. Pelas

ruas perambulavam assim um sem-número de negros africanos que tinham

vividos nas ilhas atlânticas e nas diferentes capitanias brasileiras. Alguns só

haviam estado lá de passagem, em escalas dos navios negreiros que os levavam

ao reino. Outros enxergavam como transitória a residência na Corte, ansiando

por retornar à África ou ao Brasil”.

13 FALCON, Francisco C. e NOVAIS. Fernando. “Extinção da escravatura

africana em Portugal no quadro da política Pombalina”. In: NOVAIS,

Fernando. Aproximações: estudos de história e historiografia. São Paulo: Edição

Cosacnaify, 2005, p. 86.

14 LAHON, Esclavage et Confréries Noires au Portugal durant l’Ancien Régime.

15 No entanto, J. Fonseca, numa obra recente, continua afirmando que a

centúria do século XVI foi “aquela em que o número de escravos foi maior na

principal urbe portuguesa e no conjunto do reino [e] aquela sobre que parece

existir mais referências documentais.” Opinião com a qual não concordo: cf.

FONSECA, Escravos e Senhores na Lisboa Quinhentista, p. 9.

16 LAHON, D. “O escravo africano na vida econômica e social Portuguesa no

Antigo Regime”. Africana Studia, Centro de Estudos Africanos, Universidade do

Porto, n. 7 (2004), pp. 73-100.

17 LAHON, O Negro no Coração do Império, Texto completo da lei de 1761, pp. 78-

80.

18 MENDES, António de Almeida. “Les réseaux de la traite ibérique dans

l‟Atlantique nord. Aux origines de la traite atlantique (1440-1640)”. Les Annales,

Histoire, Sciences Sociales, n. 4 (2008), pp. 739-768. FONSECA, Escravos e

Senhores na Lisboa Quinhentista.

19 STELLA, A. Histoires d’Esclave dans la Péninsule Ibérique. Paris: Editions EHESS,

2000, pp. 64-65.

20 MENDES DE ALMEIDA, “Les réseaux de la traite ibérique dans

l‟Atlantique nord (1440-1640)”.

21 IANTT. Intendência da Policia, Livro 6, fl. 160-162, 1° de Julho de 1801.

22 IANTT. Intendência da Policia, Livro 5, fl. 108-109. Carta de 28 de Fevereiro

de 1797, dirigida a D. Rodrigo de Sousa Coutinho. IANTT. Intendência da

Policia, Livro 5, fl. 108-109.

Revista Estudos Amazônicos • 95

23 IANTT. Arquivo Alfândega de Lisboa, Casa da Índia, Livro 54\2, fl. 84.

Autorização a “Pedro Copico, Capitaão de uma das capitanias do Brasil” de

voltar no reino com “todas as peças de escravos e seus bens” pagando o Quarto

e a Vintena e os direitos de costume sobre os produtos originários das colonias

(23/1/1755).

24 Index das notas de varios tabelliães de Lisboa. Lisboa: B. N. Lisboa, tomo 4, 1949,

p. 354: “Obrig.am

de H.e Roiz a D. L.

or Sallema v.ª de Alv.º Lopez Lobo Thezr.º

q. foy da Rainha m.ra

na rua da Figr.ª a pagarlhe os negros q. lhe remetia o G.or

Ant.º Çalema do Brazil ... fl. 92 [1577]”.

25 Quanto ao tráfico negreiro para Portugal os dados do Transatlantic Slave

Trade não permitem ainda qualquer avaliação.

26 Biblioteca Nacional de Lisboa. Gazeta de Lisboa, n. 5, Fevereiro de 1720; n. 32,

Agosto de 1720.

27 Os registros de óbitos da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa assim como

IANTT, F. F. Inúmeros processos, incluindo os Processos Crimes.

28 IANTT. Alfândega de Lisboa/Casa da Índia, Livro 894, fl. 1-9v e 15-20; Livro

895; Liv. 896, fl. 1-6 e 15-22; Livro 1356, fl. 2-4v; Livro 1461, fl. 2-5v e 15-16v.

29 Contagem realizada na base da documentação do Arquivo Histórico Ultramarino

[Projeto Resgate] e da base de dados do Trans-Atlantic Slave Trade Database:

http://www.slavevoyages.org

30 LAHON, “O escravo africano na vida econômica e social Portuguesa do

Antigo Regime”, p. 76.

31 LEVI, Giovanni. A Herança imaterial. Trajetória de um exorcista no Piemonte do

século XVII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

32 LAHON, Esclavage e Confréries Noires au Portugal Durant l’Ancien Regime, cap. 7,

p. 317.

33 PAIVA, José Pedro. Bruxaria e superstição num país sem "caça às bruxas", 1600-

1774. Lisboa: Notícias Editoral, 1997.

34 IANTT. Inquisição de Lisboa, Processo 11774 (1731); Processo 11767 (1731);

MOTT, Luis. “Etno-demonologia: aspectos da vida sexual do diabo no mundo

ibero-americano (séculos XVI ao XVIII)”. Comunicação apresentada na 14e

Reunião da Associação Brasileira de Antropologia, citado por SOUZA, O Diabo

e a terra de Santa Cruz. pp. 299, 316-321; e Ibidem. Inferno Atlântico. São Paulo:

Companhia das Letras, 1993, pp. 170-172; LAHON, D. “Inquisição, pacto com

o demônio e “magia” africana em Lisboa no século XVIII”. Topoi, Revista de

96 • Revista Estudos Amazônicos

História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Vol. 5, n. 8 (2004),

pp. 9-70.

35 FRUTUOSO, Eduardo, GUINOTE, Paulo, LOPEZ, António. O Movimento

do Porto de Lisboa e o comércio luso-brasileiro (1769-1836). Lisboa: CNCDP, 2001, pp.

146-148: entre 1769 e 1836, 1342 embarcações do Maranhão e 825 do Pará

entraram no Porto de Lisboa. Entre elas encontramos quase a totalidade dos

navios negreiros durante o período da Companhia Pombalina e posteriormente.

36 CANDIDO, Mariana P. “Different Slave Journeys: Enslaved African Seamen

on Board of Portuguese Ships, c.1760–1820s”. Slavery and Abolition, vol. 31, n. 3

(2010), pp. 395–409.

37 Ibidem, p. 403: IANTT. Junta do Comercio, Livro 35, fl 42–46v; “Nossa

Senhora do Carmo e São Pedro”, 29 de Março de 1783.

38 CANDIDO, „‟Different Slave Journeys: Enslaved African Seamen on Board

of Portuguese Ships, c.1760–1820s”, p. 402; e IANTT. Copiador de Benguela,

Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba, Lisboa, 4 de Julho 1777, Livro 291,

fl. 2v.

39 Em julho de 2011, no quadro do projeto de pesquisa: LAHON, “Relações

triangulares entre o Para-Maranhão, a África e o Portugal”, cf. nota 1.

40 IANTT. Junta do Comércio [JC], Livro 1, Matrículas das Equipagens de

Navios, fl. 39-44.

41 IANTT. JC, Livro 40, Matrículas das Equipagens de Navios, fl. 174; e seg.

FRUTUOSO, O Movimento do Porto de Lisboa e o comércio luso-brasileiro (1769-1836),

p. 369.

42 IANTT. JC, Livro 40, Matrículas das Equipagens de Navios, fl. 68; e AHU.

Maranhão, [Resgate], cx. 68, doc. 5910; FRUTUOSO, O Movimento do Porto de

Lisboa e o comércio luso-brasileiro (1769-1836), p. 369.

43 Em Portugal um escravo nascido fora de África era chamado “natural da

terra” ou do Reino.

44 IANTT. Sumários Matrimoniais, Mc. 602, Processo 110, 2/8/1633.

45 “Relation curieuse et nouvelle d‟un Voyage de Congo fait les années 1666 e

1667 par les RR.PP. Michel Ange de Gattine, e Denis de Carli de Plaisance,

Capucins et Missionaires Apostoliques audit Royaume de Congo”. A Lyon,

M.D.C.LXXX, 1680, p. 202.

46 AHU, Pará, [Resgate], cx. 9, doc. 813, Anterior a 10 de Abril 1726.

47AHU, Pará, [Resgate], cx. 28, doc. 2641.

48 AHU, Pará, [Resgate], cx. 47, doc. 4329, 30/10/1760.

Revista Estudos Amazônicos • 97

49 AHU, Pará [Resgate], cx. 154, doc. 11832, ant. 19 de Junho 1822.

50 Arquivo Público do Estado do Maranhão [APEM], Secretaria do Governo II,

Registros de Passaportes; Livro 39 (1789-1811), Livro 40 (1821-1833).

51 Ibidem, Costa, mulher preta e forra, fl. 3v; Pedro Vaz, preto forro, fl. 61v;

Maria Francisca, preta liberta, fl. 62v; Abel, crioulo forro, para Lisboa, fl. 44v.

52 AHU, Maranhão, [Resgate], cx. 87, doc. 7271, ant. 17 Julh./1795.

53 AHU, Maranhão, [Resgate], cx. 106, doc. 8436, 19/Junho/1822.

54 AHU, Pará, [Resgate], cx. 96, doc. 7646, ant. 7/5/1787.

55 IANTT, FF. FG, Letra A, mç. 90, doc. 23, 1818.

56 AHU, Maranhão, [Resgate], cx. 56, doc. 5263.

57 AHU, Maranhão, [Resgate], cx. 58, doc. 5355.

58 IANTT, FF. FG, Mç. 3569, 1782: “‟Sentença Cível em que são partes o juiz e

Irmãos da irmandade de S. Benedito e Nossa Senhora da Agua da Lupe erecta

no Convento de S. Francisco desta cidade para titulo da Liberdade da sua Irmã

Maria Izidora mulher parda”.

59 IANTT, Intendência Geral da Polícia, Livro 83, fl. 264v, 3 de Janeiro de 1791.

“Aviso do Marques Mordomo-Mor para não ser vendida Maria-Rosa, Mulher

Preta. Que V. S absolutamente embaraçe que ella seja vendida, e remettida para

qualquer parte dos Brazis, ou outra Conquista, em caso, em que o supplicado [o

dono], contendo na dita petição, o intente assim fazer per sy, ou por interposta

pessoa”.

60 IANTT, FF. FG, Mç. 3020, Irmandade de Nossa Senhora do Rosário da

Igreja do Salvador, 1814; Mç. 3052, Irmandade de Jesus Maria José dos Homens

Pretos do Real Convento dos Carmelitas Calçados, 1795.

61 IANTT, FF. FG, Mç. 2927, Irmandade de Nossa Senhora do Rosário da

Igreja do Salvador, 1765.

62 IANTT, FF. FG, Mç. 2925, Irmandade de Nossa Senhora do Rosário da

Igreja do Salvador, 1785.

63 IANTT, FF. FG, Mç. 2996, Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos

Homens Pretos e Pardos do Convento da Graça, 1817 . No caso presente a

escrava não podia ter menos de 44 anos.

64 IANTT, FF. FG, Mç. 2924, Irmandade dos homens Pretos do Rosário do

Convento da Graça, 1771.

65 LAHON, Didier. “Violência do Estado, Violência Privada: o verbo e o gesto.

O caso Português”. In: FLORENTINO, Manolo e MACHADO, Cuca (Org).

98 • Revista Estudos Amazônicos

Ensaios sobre a Escravidão (1), Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003; e IANTT, Inq.

Lisboa, Processo n. 433, Gracia Luisa, 1736.

66 AHU, Pará, [Resgate], cx. 117, doc. 8991, Lisboa, 3/2/1800.

67 IANTT, F. F. Letra F, mç. 80, n. 20, cx. 165, 13/12/1819.

68 AHU, Maranhão, [Resgate], cx. 32, doc. 3264, Decreto de 17 de Maio de

1751, sobre a falta de povoadores e soldados no Maranhão. Em virtude disto

decide [o Rei D. José] que as pessoas que iriam cumprir o seu degredo na Índia

seriam agora deslocadas para o Maranhão.

69 IANTT, Folhetos de Ambas Lisboa. In: Provas e suplementos a História

Annual Chronologica, e Politica do Mundo, e Principalmente da Europa,

Folheto 10.7, de 19 de Outubro de 1731.

70 Arquivo Público do Estado do Maranhão [APEM], Secretariado do Governo II,

Registros de Passaportes, Livro n. 39, 1789-1811; Passaporte passado, em

2/3/1790, a Dona Maria Gertrudes, fl. 12.

71 AHU, Maranhão, [Resgate], cx. 158, doc. 11408, ant. 2/7/1811.

72 AHU, Pará, [Resgate], cx. 156, doc. 11944, Post. 2/10/1822.

73 AHU, Pará, [Resgate], cx. 155, doc. 11910, ant. 15/8/1822.

74 IANTT, FF. FG, Letra J, Mç. 3015, 1830 “Auto cível de requerimento para

deposito d‟huma mulher preta; Supplicantes O Juiz e Irmãos da real Irmandade

de Jesus Maria José do Carmo”.

75 AHU, Pará, [Resgate], cx. 78, doc. 6512, Post. 1777; “Requerimento de

Duarte da Costa de Melo e Sá, morador na cidade de Belém do Pará e caixeiro

do negociante Feliciano José Gonçalves Grosso, para a rainha [D. Maria I],

solicitando a entrega de um escravo, chamado Vitorino, nos termos dos autos

do processo que opõe o suplicante e a Irmandade do Rozário dos Homens

Pretos no Convento da Graça [de Lisboa]”.

76 IANTT, Cartorio Notarial, C. 5A, Livro 66, fl.78-79, 3/9/1784.

77 IANTT, FF. FG, Mç. 3020, 1790, Entre 1766 e 1770, Veríssimo Duarte Rosa,

capitão do navio no qual Felipe José foi embarcado, foi capitão de 4 carregações

de escravos entre Bissau e São Luiz para a Companhia Geral do Grão-Para e

Maranhão: IANTT, Arquivo Histórico do Ministério das Finanças, Companhia

Geral do Grão-Pará e Maranhão, 48:75-6, 98, 111, 123, 1766; 48:159, 163, 1767;

49:41, 94, 1768; 49:207, 261, 266, 1770.

78 IANTT, Desembargo do Paço, Maço 1016, doc. 17, 1771.

79 IANTT, Intendência Geral da Polícia, Livro 1, fl. 689-690, 11/8/1783.

Revista Estudos Amazônicos • 99

80 COSTA, Padre Manuel da. Arte de Furtar. Edição crítica, com introdução e

notas de Roger Bismut. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1991.

81 IANTT, Intendência Geral da Polícia, Livro 3, fl. 164v e 165, 26/2/1791.

82 IANTT, F. F, Juízo da Índia e Mina, Mç. 2, n. 1, cx. 126, 1825.

83 O tema foi objeto de nossa palestra na ocasião do Seminário Internacional

Escravos, libertos e trabalho forçado na era das abolições, Faculdade de Direito

da Universidade Nova de Lisboa/Cedis, 19 e 20 de Novembro de 2009. Título: Um

caso particular da aplicação da Lei do 19 de Setembro 1761: a Independência do

Brasil. Não Publicado.

84 NETO, Maria Cristina. “Algumas achegas para o estudo de Paulino José da

Conceição (1798-1869)”. Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, Lisboa, série

116ª, N. 1-12, Jan./Dez. 1998, pp. 193-202, e em vários números do Jornal do

Comércio entre 1856 e 1858, em particular, N. 1126, 21/6/1857 e N. 1415,

13/6/1858.

85 Agradeço a leitura da primeira versão e as valiosas sugestões do meu colega

José Maia Bezerra Neto