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1 entre, entre por favor entre blocos entre quadras entre, entre por favor

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entre,entre por favorentre blocosentre quadrasentre,entre por favor

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subo aos céuspelas escadas rolantesda rodoviária de brasília

o corpo de cristoaqui não é pão,é pastel de carne

3

o sangue de cristoaqui não é vinho,é caldo de cana

o padroeiro desta cidadeé dom bosco ou padim ciço?

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POESÍLIA - poesia pau-brasíliaCopiraite bai © Nicolas Behr

Capa: Nicolas Behr / Bené Fonteles

Fotos: Juan Pratginestós

“OBRAS quase COMPLETAS”de Nicolas BehrCx. Postal 08-76270.312-970 – Brasília [email protected](61) 3468 3191

RESTOS VITAIS

Iogurte com Farinha – agosto 77Grande Circular – junho 78Caroço de Goiaba – julho 78Chá com Porrada – julho 78

VINDE A MIM AS PALAVRINHAS

Com a Boca na Botija – junho 79Parto do Dia – julho 79Elevador de Serviço – agosto 79Põe sia nisso! – agosto 79Entre Quadras – agosto 79Brasiléia Desvairada – setembro 79Saída de Emergência – setembro 79Kruh – outubro 79303F415 – julho 80L2 Noves Fora W3 – novembro 80

PRIMEIRA PESSOA

Porque Construi Braxília – 1993Beijo de Hiena – 1993Pelas Lanchonetes dos Casais Felizes – 1994Segredo Secreto – 1996Estranhos Fenômenos – 1997 (ant.)Viver Deveria Bastar – 2001Umbigo – 2001Poesília – poesia pau-brasilia – 2002Menino Diamantino – 2003Peregrino do Estranho – 2004Braxília Revisitada – vol.1 – 2004Restos Vitais (coletânea) – 2005Braxília Revisitada – vol.2 – 2005Iniciação à Dendolatria – 2005Laranja Seleta, Ed. Lingua Geral – 2007Beije-me (fotografias) – 2009La Brasilíada (espanhol) – 2009O Bagaço da Laranja – 2009

ESTE E OUTROS LIVROS DO AUTORPODEM SER ADQUIRIDOS ATRAVÉS DOSITE WWW.NICOLASBEHR.COM.BROU NO VIVEIRO PAU-BRASÍLIA(Polo Verde - Saída Norte - entre a Ponte doBragueto e o Balão do Torto)Tel.: (61) 3468-3191

“LARANJA SELETA – 1977-2007– poesia escolhida” Editora Língua Geral.Finalista do Prêmio Portugal Telecom deLiteratura (2008). Adquira nas livrariasou pelo site www.linguageral.com.br

Dados Internacionais de catalogação na publicação (CIP)

Behr, Nicolas. Poesília: poesia pau brasília / Nicolas behr. – Brasília ; 2010.

84 p.

1. Literatura brasileira. 2. Poesia. I. Título.

CDU 82.1

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NikolausHubertus

JosefMariavonBehr

caiu napoesiae virouo putapoeta

NicolasBehr

BenéFonteles

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fac-simile da primeira página do Projeto de Lei em tramitação

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A LITERATURA BRASILIENSE NÃOEXISTE. É PURA FICÇÃO.

Nenhum(a) professor(a) ou aluno(a) darede oficial ou da rede particular deensino no Distrito Federal seráobrigado(a), nem por força da lei, acomprar, ler, interpretar ou mesmodecorar nenhum dos poemas que constamdeste livro. Só vale se for por amor.

(resposta do autor ao decreto ao lado, quetorna “obrigatório” o ensino de“literatura brasiliense” nas escolas)

Pobre da literatura que precisa de umdecreto para existir.

Literatura Brasiliense é o Diário Oficial.

a poesia é necessária,mas não obrigatória.

se obrigatória, deixa deser poesia. passa a ser burocracia.

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SQS415F303SQN303F415NQS403F315QQQ313F405SSS305F413

seria issoum poemasobre brasília?seria um poema?seria brasília?

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dedico este canteirode obras, estejardim-operário, aosesquecidos de Deusque construíramesta cidade deBrasília e que, umdia, construirãocomigo, em sonho esem dor, a cidade deBraxília

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minha poesiaé o queestou vendoagora:

um homematravessandoa superquadra

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a sindicância internaconcluiu pela necessidadeda criação de umasindicância externa

recomendandoexpressamenteque desta vezos anexossigam em separado

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A VOZ DO BRABIL

em brasília 19 horas noite e diaem brasília 19 horas em 15 minutosem brasília 19 horas nunca passamem brasília 19 horas sem saber pra onde irem brasília 19 horas mudando de estaçãoem brasília 19 horas não é nadaem brasília 19 horas de silêncioem brasília 19 horas do segundo tempoem brasília 19 horas desde 1500em brasília 19 horas procurando outras vozesem brasília 19 horas desligando o rádioem brasília 19 horas 19 honras 19 tarasem brasília 19 horas com a mulher do ministroem brasília 19 horas noves fora nada a declararem brasília 19 horas esperando ônibusem brasília 19 horas de atropelamentos no eixãoem brasília 19 horas sem escrever um poemaem brasilia 19 horas embaixo do blocoem brasília 19 horas sem fim

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BRASÍLIA ENIGMÁTICA

brasília, faltam exatos 3.232 diaspara o nosso acerto de contas

me deves um poemate devo um olhar terno

na beira do paranoápego um pedaço de pauentre um pneu velhoe um peixe morto(uma garça por testemunha)

não me reconhecesnão te reconheço

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AMOR ÀS PAMPAS pra ângela

você voltoupro seu ranchono rio grande

enquanto eu fiqueiaqui a verministérios...

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brasília já tevede mimo pedaço que queria

o pedaçofedia(agora é a vezde braxília)

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brasília passa embaixodo meu blocotodos os dias

o poeta descobreas cidades-satélitese entra em órbitamas não sabe a diferençaentre taguatinga centro e taguacentere pensava que ceilândiatinha alguma coisa a vercom ceilão - não tem nãoagora dentro de um ônibus:depois desse o outrodepois desce o outrodepois desse desce o outro

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BRASÍLIA VELHA

neste blocomorou,entre 1972e 1979,o poetafulano de tal

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braxília nãobraxília é sonho

braxília foiconstruídacom a língua

2.354 línguaspolindoas escadariasdo palácio

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cento e noveah, sempre nove109 4everali deveria terum ponto de ônibusa W3 deveria passarpela 109falta uma pastelariae uma escada rolantena 109ah, sempre novepassei metadeda minha vidaencostadonaqueles carros

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burocratas brasilienses(mortos-vivos)enviam ofícios de estimae consideração aossacerdotes egípcios(mortos-mortos)informando sobremudanças no ritual

brasília se soerguesobre as ruínas de luxor

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com licença, carlos

POLÍTICA LITERÁRIA

o poeta da asa nortediscute com o poetada asa sulpra ver qual deles é capazde bater o poetado plano piloto

enquanto isso, um poetade uma cidade-satélitequalquertira a lama do sapato

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como andao humorem brasília?aqui o humoranda dechapa branca

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tem alguémcutucando o tetoe fazendo muito barulho

não sei se quer falar comigoatravés de um códigoqualquer

vai ver nem sabe que aquimora alguém

e talvez esteja apenastentando matar as baratasque correm pelo teto

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DRUMMOND BRASILIENSIS

brasília, e agora?com o avião na pista,quer levantar vôo,não existe vôo...quer se afogar no lagomas o lago secou...quer falar com o presidentemas este viajou...quer se esconder no cerrado,o cerrado acabou...quer ir pra goiás,goiás não há mais...

brasília, e agora?

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eu engoli brasília

em paz com a cidade,meu fusca vaipor esses eixos,balões e quadras,burocraticamente,carimbando o asfalto

e enviando ofícios deestima e consideraçãoao sr. diretor

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enterremmeu coraçãona areiado parquinhoda 415 sul

e deixemmeu corpoboiandono paranoá

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imaginebrasílianão-capitalnão-podernão-brasília

assim ébraxília

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e eu que aquicheguei em 74não tive a sortede veras pegadas dospioneiros queexistiam pertoda igrejinha

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eu Stu Qele S

nós Svós Qeles N

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falta um bloco naminha quadracomo falta um denteem minha boca

meu bloco é redondocomo um cuboazul como uma laranja

bloco KK pra nós, K de poesia

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LORCA BRASILIENSIS

brasília que te quero braxíliaplano que te quero pilotosuper que te quero quadradabelhu que te quero trêséle que te quero doisgrande que te quero circularcidade que te quero satélitepastel que te quero caldoescada que te quero rolante

iogurte que te quero farinha

cerrado que não te quero soja

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desço aos infernospelas escadas rolantesda rodoviáriade brasília

meu corpo boiandono óleo que ferveum pedaçodo seu coraçãonum pastel de carne

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L 2 é poucoW 3 é demais

quando estoumuito triste,pego ogrande circulare vou passearde mãos dadascom o banco

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não consigo sair dessas palavras- setor comercial sul -

em que banco eu pagopra sair do setor comercial sul?

em quantas prestações eu saiodo setor comercial sul?

você quer 30% do meu saláriopra me livrar do setor comerical sul?

dois litros do meu sangue pra me tirardo setor comercial sul?

pra sair do setor comercial suleu faço qualquer negócio

só não vendo a alma

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mas onde estáa poesia?a poesiase escondena entre-cascana entre-quadrana entre-coxa

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me lembrei de quando vibrasília lá de cimaali de quem vem desobradinho,depois do colorado,na descida

foi perto de onde hojeé a catedralque eu perdi Esperança

vaca parideirapé duroboa de leite

caiu numa grota funda

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naquela noitesuzana estavamais W3do que nuncatoda eixosacheia de L2

suzana, vai sersuperquadraassim lá naminha cama

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o guardador de carrosdo estacionamentodo jumbo da 502 sulé meu amigo

(isso é poesia? perguntaum membro qualquer daacademia...)

só sei que o sorriso deleé poesia. a gentileza deleé poesia. o sofrimento deleé poesia

o seu não é

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nem tudoque é tortoé errado

veja as pernasdo garrinchae as árvoresdo cerrado

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no setor poético sulsaio pela emergênciano setor mortífero norteescapo pela válvulano setor deradioatividade sulaperto o botão de alarme

vou entrar numaspra sair dessae não cair em outra

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o olhar paradoo olhar perdidouma lista telefônicainútil na minha frente

é madrugada

e a madrugadade brasíliaé fria, inviabilizandoa criação de camarãogigante de água doceda malásia na região

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o barulho subindoas escadaso barulho de vocêsubindo as escadasmeu coraçãodisparandoa campainhatocando

não era cinthyaera o síndico

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o mundo desaba numa tardede quarta-feira e eu cato sementesde palmeiras na W3, perto da fofi

dois meninos de rua me ajudam edepois se digladiam com os milcruzeiros que dei para quedividissem entre si

cena patética

eles, no sinal, pedindo esmolas e eu,no meu velho fusca, com a uma listade clientes que ainda teria de visitarnaquele dia

quando é que eu eu vou ser feliz?

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olhos cerradosabertospara vercertos

cerradoscertos

e certosdesertoserrados

(o deserto certochora areia)

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nossa senhorado cerrado,protetorados pedestresque atravessamo eixãoàs seis horasda tarde,

fazei com que eucheguesão e salvona casa da noélia

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o planopilatoslava as mãose a sujeiravai todapro paranoá

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os fazedoresde desertosse aproximame os cerradosse despedemda paisagembrasileira

uma casca grossaenvolve meucoração

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o poeta plantabananeirasna praça do buriti

e eu dou asasao planoenquanto aimaginaçãodescansa

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papai, olha a estátua!é o juscelinokubitschek!ele é um super-herói?é sim!então cadê a espadadele?

viva JK, herói civildo brasildiálogo com erik, aos 3 anos de idade

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onde vocêtrabalha?trabalho nosetor dediversões sule o que vocêfaz lá?sou palhaço

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POESÍLIA

poesia, pois é, ilhabrasa

brasa em ilhailha em brasaversailles

se isso não é poesia,então põe sia nisso!

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paiê,que monumentoé aquele?é o monumentoao monumentodesconhecido

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SAUDADES DE BRAXÍLIA

soltar pipa no eixãonadar e pescar no paranoácomer pastel na rodoviáriaestacionar no setor comercial sulvoltar da festa a pé, altas horascatar gabirobas perto da catedralnamorar embaixo do blococruzar a L2 de patins e a W3 de skatepegar um grande circular e circularde mãos dadas com o bancover estrelas, muitas estrelaspescar no riacho fundo,que hoje atravesso a pé

erik volta do parquinho comsementes de leucena na mão epergunta: são essas as sementesque você colocouna minha mãe?

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os trêspoderessãoum só:o deles

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a asa norteficana asa sul?

clip 2W3Lstreetinstantâneo

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PARQUE ROGÉRIOPITHON FARIAS

ou

o boyque virouheroy

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quando a genteterminou,no beirute,escrevi numpapelzinho

LET IC IALET IT BE

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PALÁCIODA JUSTIÇA

bicho,esse palácioé a maiorcascata!

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ACONTECEU NA 103

o porteiro do bloco Ida 103 sul pegoua filha do síndicodo bloco O da 413 nortecom o cara da 302do bloco D da 209 suldentro do carrodo zelador do bloco Lda 517 norte

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TRISTE FIM

aí a poesia delecomeçou a ficar meio bestaxingar burocrata é fácil,ainda mais em brasíliae esse negócio de braxíliatambém é um sacomudar a capital pra onde?com que dinheiro?pra piorar as coisascomeçou a fazer poesiada poesia e a poesia,é claro, chateou-see o abandonouveja este exemplo,por exemplo

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senhores turistas,eu gostariade frisarmais uma vezque nestes blocosde apartamentosmoram inclusivepessoas normais

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SUPERQUADRAS

na entrada,um quebra-molase uma banca dejornal

blocos blocos blocosblocos blocos blocosblocos blocos blocos

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um poeta como nicolas behrbrasília não verá tão cedo

radical, profundo, se entregandoem cada linha, se expondo comonenhum outro poeta até hoje seexpos. tipo rimbaud

seremos lembrados no futurowagner hermuche, turiba, bené fonteles,odeth ernest dias, joão antonio, maurabaiochi, eliana carneiro, cassia eller,hugo rodas, reza, nanche las casas,maravalhas, aluísio batata, renato russo,pereira, néio lucio, cassiano nunes,tt catalão, athos bulcão, fernando villar,vitor alegria, ivan silva, toninho maya,galeno, rômulo andrade, regina ramalho,francisco alvim, chico chaves, clodo,climério, clésio, renato matos, chacal,paulinho andrade, omar franco,eudoro augusto

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SQSou

SOS?eis a

questão!

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SIM, O RATOTROUXE O CARIMBO

cidade, está decretado:teu símbolo é um carimbo

melhor: um rato segurando um carimbo

um rato autorizando vocêa entrar pela porta da esquerda(não, essa não, a outra.isso, essa mesma, pode entrar)

um rato autorizando você aseguir em frente pra seestrepar logo ali adiante(o rato ri)

um rato autorizando vocêa pular da torre de tv

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(o rato ri novamente: gente,faz tanto tempo que não pulaninguém da torre de tv)

um rato autorizando vocêa vomitar dentro do ônibuslotado, com gente em pé

rato, posso cuspir aqui na pia?pode sim, responde o rato

um rato autorizando você aesfaquear o pobre do policialdesarmado

um rato autorizando você acontinuar na fila que giraem círculos, de nadaa lugar nenhum

cidade, teu símboloé um rato, um rato indiferente

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bem, o sr.já nos mostrouos blocos, as quadras,os palácios, os eixos,os monumentos...

será que dava pro sr.nos mostrar a cidadepropriamente dita?

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tô namorandouma siglaMSPWconhecem?uma gracinhade siglaela é a minhaemessepêdabelhuzinha

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tentei um programa diferentecom minha garotalevei-a para comer pastelna rodoviáriaela preferiu hamburgerdias depois passei com elanovamente pela rodoviária ea convidei para tomar umcaldo de canaela preferiu pepsi(tempos depois sonhei que vio rosto dela numa tampinhade coca-cola)a caminho da asa norte passeisozinho pela rodoviária e pedium caldo de cana:- sem açúcar, falô?

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suzana, a eixosa que sumiu no SMUdops lá em casa, mamãe na igrejadrica e as suas tangerinas no parquebrasilinhas do luís da reginanuvem cigana e o tal do chatalonde andará renato mitos?cheio de água nos olhos, apostojari, a morte gmelinicachorei qdo hugo rodas foi atropeladoouvir a vaia do ventoonde o plano pilatos lava as mãosL2 noves fora W3uma namorada em cada blocoacadêmicos x marginaisninguém me ama, só quem liga tripabrasiléia desvairadabeirute, gayrute, arrote metrópole

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maria mercedes dos anjos alvimjoga a chave, meu bem, joga o jorgevocê está aqui mas aquinão está ninguémaluisio batata, o flautista doceturiba & kiprokó por toda partechico, mestre, agüentando a gente, enas horas vagas, moendo carnevidas erradas, vidas passadas (doeu?)Detrito Federal e DF-carsexoral é bom no ponto de ônibussenta que vai demorarcabeças (viva néio lúcido, viva!)fazeolos vulgaris, for peoplepereira e sua mala (upj sabe!)sempre nove, ah sempre novepunk não se espanqueazeitonas enguiçando as escadasrolantes da rodoviária

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(azeitonas más, expulsas do paraíso dos pastéis)colina, a outra tribo, religião urbanaum telefone pra quem mora no gamaé pouco no plano piloucoministéricas – saudades da leninhaa descoberta do beijo na bocaem goiânia, no carnaval, a primeiratransa foi sobre a bandeira nacionaltudo para todosdamata queimou o filme da janiscircuito: escola parque-galpão-beirutepela primeira vez – eu amo brasília –meus amigos mortos, algunsoutros sãos e salvos na casa da noéliafoi assim que construímos braxíliafoi assim que começamosa sentir saudades de vocês

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VOZES DO CERRADO

brasília, brasília,onde estásque não respondes?!

em que bloco,em que superquadratu te escondes?!

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joga a chave, meu bemjoga teu coração, meu bemjoga teu bem, meu bemjoga o síndico tambémjoga logo o jorgejoga o bloco, meu bemjoga a janela, meu bemjoga o pára-quedas tambémjoga teu corpo, meu bem

antes que o porteiroavise o zelador

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estou

dentro de mimentre quatro paredesnum apartamento

dentro de um blocoentre outros blocosnuma cidade

dentro do cerradoentre árvoresnum país

dentro da américa do sulentre dois maresno mundo

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PLANO PILOTIS

duas asas partidasdois eixos fora dos eixosdois traços invisíveisduas pistas falsas

minha plataformapolíticaé a plataformada rodoviária

78

neste paíssem memóriatambém vou construirum memorialem memóriade todos osconstrutoresde cidades

MemorialJKLMNOPQRSTUVXZ

79

o ministroe seusbaba-ovosapreciam apaisagempoderosaque maculao horizonte

80

o vigia do meu blocopassa as noitesapitando um jogoque já perdeupara as estrelas

aquele pri-prise perdendoentre aspilastras

81

rico sacapobre saqueia

político sacaneia

(anônimo)

82

meu corpo brancochega mais pertoda janela

lá embaixonão tem nada a ver

lá de baixoninguém me vê

olhando pra tudoquanto é ladonão tem nada a vernão tem nada a vernão tem nada a vernão tem nada a vertá vendo?

83

e eu quenão tenhounhas ficodesesperadonos pontosde ônibusda W3tentandoarrancaraqueles cartazescom os dentes

84

V I E T N A N Z I N H OCANDANGO ouA MANCHA QUE NÃO SAI

não se esqueçamdo massacre da GEB

façam um filme,documentário,escrevem um livro,comentem comos amigos,mas não se esqueçam

não se esqueçam nuncado massacre da GEB

85

eunicolas behrtusqs 415elebloco fnósapt. 303vósbrasília dfelesbrasil

86

blocos,eixos,quadras

senhores,esta cidadeé umaaulade geometria

87

sem nada pra fazerando por baixo dosblocos dumaquadra qualquer

atrás das pilastrasapenas maispilastras

atrás das pessoasuma nova máscaraou muitasconhecidas

88

eu abroa porta doquartotu chamasos outrosele mostraa janela

nós pulamosdo quinto andarvós estaisembaixo do blocoeles não sabemo que fazercom os corpos