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ENTRE A PROIBIÇÃO DO TRÁFICO ATLÂNTICO E O VENTRE LIVRE: AS DINÂMICAS DA ESCRAVIDÃO E DA IMIGRAÇÃO EUROPEIA EM SÃO PAULO (1831-1871) Antonio Marco Ventura Martins (História /Unesp) Orientador: Prof. Dr. Ricardo Alexandre Ferreira Palavras-Chave: Escravidão, Imigração, São Paulo. Interessa nesse trabalho problematizar a visão histórica constituída pelos autores que ao se dedicarem à abordagem da escravidão no século XIX, privilegiaram o processo de transição do trabalho escravo para o trabalho livre. 1 Atento às simplificações e generalizações de análises que tomam a imigração europeia e o trabalho livre como um sucedâneo natural e condenatório da escravidão e de sua forma decorrente de trabalho, procurou-se nesse texto, a partir da leitura dos Anais da Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo e das falas proferidas pelos Presidentes de Província entre 1831 e 1871, historicizar as questões colocadas aos coevos diante dos impasses que envolviam escravidão e a imigração europeia, priorizando uma abordagem relacional de hierarquia e de atração, ou seja, a partir das questões ligadas à escravidão se constituíam as possibilidades e estratégias para o desenvolvimento de uma política imigracionista, sem tomar o trabalho escravo como um obstáculo para o livre. 2 Crítico à ênfase abolicionista que marcou parte da produção historiográfica sobre a escravidão brasileira, busca-se aqui, dar relevo a uma província que tardiamente desenvolveu uma crescente demanda por braços escravos, nacionais e africanos, e que acabou por marcar significativamente a dinâmica e o destino da escravidão e da imigração no Brasil do oitocentos. A província de São Paulo experimentou uma importante transformação em seu quadro econômico ao longo do século XIX. Deixou sua condição secundária para, ao longo das décadas de 1830 e 1840, assumir uma posição de destaque no cenário mais amplo do Império do Brasil, principalmente pela expansão que a cafeicultura proporcionaria. É importante, no entanto, salientar que a agricultura cafeeira que se notabilizaria, em um primeiro momento, pela 1 Entre alguns trabalhos, ver: COSTA, Emília Viotti da. Da senzala à colônia. 4ª ed. São Paulo: Editora da Unesp, 1998; COSTA, Emilia Viotti da. Da monarquia à república. 7ª ed. São Paulo: UNESP, 1999; BEIGUELMAN, Paula. A crise do escravismo e a grande imigração. São Paulo: Brasiliense, 1981; BEIGUELMAN, Paula. Pequenos estudos de ciência política. 2ª ed. São Paulo: Pioneira, 1973. LAMOUNIER, Maria Lucia. Da escravidão ao trabalho livre. Campinas: Papirus, 1988; GEBARA, Ademir. O mercado de trabalho livre no Brasil . São Paulo: Brasiliense, 1986; STOLCKE, Verena & HALL, Michael. A introdução do trabalho livre nas fazendas de café de São Paulo. In: Revista Brasileira de História, nº 6, 1983, pp. 80-120; CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem/ Teatro de Sombras. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ/Relume Dumará, 1996. 2 Seguiremos as perspectivas iniciadas por: SLENES, Robert. Grandeza ou decadência: o mercado de escravos e a economia cafeeira da província do Rio de Janeiro. 1850-1888.In: COSTA, Iraci del Nero (org). Brasil: História Econômica e Demográfica. São Paulo: IPE, 1986, p.103-155.

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ENTRE A PROIBIÇÃO DO TRÁFICO ATLÂNTICO E O VENTRE LIVRE: AS

DINÂMICAS DA ESCRAVIDÃO E DA IMIGRAÇÃO EUROPEIA EM SÃO PAULO

(1831-1871)

Antonio Marco Ventura Martins (História /Unesp)

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Alexandre Ferreira

Palavras-Chave: Escravidão, Imigração, São Paulo.

Interessa nesse trabalho problematizar a visão histórica constituída pelos autores que ao

se dedicarem à abordagem da escravidão no século XIX, privilegiaram o processo de “transição

do trabalho escravo para o trabalho livre”.1Atento às simplificações e generalizações de análises

que tomam a imigração europeia e o trabalho livre como um sucedâneo natural e condenatório

da escravidão e de sua forma decorrente de trabalho, procurou-se nesse texto, a partir da leitura

dos Anais da Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo e das falas proferidas pelos

Presidentes de Província entre 1831 e 1871, historicizar as questões colocadas aos coevos diante

dos impasses que envolviam escravidão e a imigração europeia, priorizando uma abordagem

relacional de hierarquia e de atração, ou seja, a partir das questões ligadas à escravidão se

constituíam as possibilidades e estratégias para o desenvolvimento de uma política

imigracionista, sem tomar o trabalho escravo como um obstáculo para o livre.2

Crítico à ênfase abolicionista que marcou parte da produção historiográfica sobre a

escravidão brasileira, busca-se aqui, dar relevo a uma província que tardiamente desenvolveu

uma crescente demanda por braços escravos, nacionais e africanos, e que acabou por marcar

significativamente a dinâmica e o destino da escravidão e da imigração no Brasil do oitocentos.

A província de São Paulo experimentou uma importante transformação em seu quadro

econômico ao longo do século XIX. Deixou sua condição secundária para, ao longo das décadas

de 1830 e 1840, assumir uma posição de destaque no cenário mais amplo do Império do Brasil,

principalmente pela expansão que a cafeicultura proporcionaria. É importante, no entanto,

salientar que a agricultura cafeeira que se notabilizaria, em um primeiro momento, pela

1Entre alguns trabalhos, ver: COSTA, Emília Viotti da. Da senzala à colônia. 4ª ed. São Paulo: Editora da Unesp,

1998; COSTA, Emilia Viotti da. Da monarquia à república. 7ª ed. São Paulo: UNESP, 1999; BEIGUELMAN,

Paula. A crise do escravismo e a grande imigração. São Paulo: Brasiliense, 1981; BEIGUELMAN, Paula.

Pequenos estudos de ciência política. 2ª ed. São Paulo: Pioneira, 1973. LAMOUNIER, Maria Lucia. Da escravidão

ao trabalho livre. Campinas: Papirus, 1988; GEBARA, Ademir. O mercado de trabalho livre no Brasil. São

Paulo: Brasiliense, 1986; STOLCKE, Verena & HALL, Michael. A introdução do trabalho livre nas fazendas de café de São Paulo. In: Revista Brasileira de História, nº 6, 1983, pp. 80-120; CARVALHO, José Murilo de. A

Construção da Ordem/ Teatro de Sombras. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ/Relume Dumará, 1996. 2 Seguiremos as perspectivas iniciadas por: SLENES, Robert. Grandeza ou decadência: o mercado de escravos e

a economia cafeeira da província do Rio de Janeiro. 1850-1888.In: COSTA, Iraci del Nero (org). Brasil: História

Econômica e Demográfica. São Paulo: IPE, 1986, p.103-155.

produção do Vale do Paraíba e, num momento posterior, em virtude dos grãos produzidos pelo

chamado Oeste Paulista, se valeria de uma estrutura desenvolvida em momento anterior,

vinculada à produção de alimentos e à agricultura canavieira da segunda metade do século

XVIII, destacadamente pelos incentivos realizados a partir do governo do Morgado de Mateus.

Concomitantemente ao alastramento da lavoura do café, no século XIX, por terras paulistas,

deu-se também a necessidade de abastecer, de maneira satisfatória, essas áreas com a mão de

obra escrava de negros africanos.3

Essa prática se colocaria como desafio aos setores políticos e econômicos envolvidos

nessa empreitada, já que no Brasil o tráfico negreiro africano fora proibido e colocado na

ilegalidade pela lei de 1831, depois pela lei de 1850 e a própria instituição da escravidão,

sofreria com a lei de 1871, consideráveis dificuldades para sua continuidade e reprodução,

momentos esses que convergiram com fases fundamentais da produção cafeeira na província

paulista.

Passada a euforia da abdicação, o Império encontrava-se imerso em conturbadas

revoltas. Excluídos os exaltados, aliados de véspera, os liberais tidos como moderados seriam

os grandes vencedores do 7 de abril e os condutores mores da nova política regencial, - pelo

menos até 1837 com o chamado avanço liberal -, realizada num tumultuado terreno.

Em São Paulo, como a composição do poder provincial em 1831, sobretudo do Conselho

Geral e do Conselho da Presidência, era de maioria moderada, verificou-se a tentativa de

garantir apoio político à Regência estabelecida. Esse apoio aos poucos se efetivou na

participação de políticos paulistas em cargos centrais no executivo imperial, assim como na

composição do legislativo, fundamentais na condução das questões mais delicadas e

importantes do período.4

Em meio à instabilidade política do momento, houve a aprovação da lei de 07 de

novembro de 1831, que proibia o tráfico atlântico de africanos para o Brasil e garantia a

liberdade aos escravos que entrassem no país após a data de sua promulgação. Em São Paulo,

3 Para uma melhor compreensão da relação entre a expansão cafeeira, a demanda por mão de obra e o ritmo de

crescimento e fixação da população escrava em São Paulo, ver: COSTA, Emilia Viotti da. Da senzala à colônia.

4ª ed. São Paulo: Fundação Editora da Unesp, 1998 e LUNA, Francisco Vidal; KLEIN, Herbert. Op. cit. 2006; 4 Em relação à composição e ao posicionamento político dos Conselhos de Províncias e Conselhos de Presidência

de São Paulo entre 1831 e 1834, ver: LEME, Marisa Saenz. Dinâmicas centrípetas e centrífugas na formação do

Estado monárquico no Brasil: o papel do Conselho Geral da província de São Paulo. Revista Brasileira de História.

Vol.28, nº 55, São Paulo, Janeiro-junho de 2008; OLIVEIRA, Carlos Eduardo França de. Construtores do Império, defensores da província: São Paulo e Minas Gerais na formação do Estado nacional e dos poderes locais, 1824-

1834. São Paulo. Tese ( Doutorado em História), FFLCH-USP, 2014 e para o projeto político liberal paulista, ver:

HOLANDA, Sérgio Buarque. São Paulo. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de (org). História Geral da Civilização

Brasileira. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil , 1995, T. 2, v.2, pp. 415 a 472; DOLNIKHOFF, Miriam. O

pacto imperial. Origens do federalismo no Brasil. São Paulo: Globo Editora, 2005.

a polêmica lei ganharia destaques em diversos espaços de manifestações de opiniões, seja nos

periódicos5, nas representações enviadas pelas câmaras municipais ao governo provincial6 e na

própria assembleia legislativa7 que expressava o locus da pressão e representação dos senhores

de escravos.

É importante destacar que os proprietários de terras e de escravos de São Paulo

extrapolaram o âmbito provincial em suas reclamações contra o fim do tráfico e encaminharam

várias petições ao parlamento, argumentando que esse tipo de legislação contrariava os

interesses da nação porque, sem a importação de escravos, a agricultura, que representava a

principal força econômica, entraria em processo de falência.8

Compreendem-se essas reivindicações e manifestações contrárias à lei de 1831

promovidas em São Paulo, pela sua expansão econômica, com destaque para a agricultura

cafeeira que demandaria um contingente de escravaria cada vez maior e pela legitimidade de

séculos de prática que significava a escravidão e suas formas de manutenção e reprodução.9 Os

cafeicultores que controlavam 1/3 da escravaria empregada na agricultura na província paulista

passaram a possuir 95% do contingente cativo em fins da década de 1830. Em 1817 havia 94

proprietários de escravos que produziam café; em 1822 eles eram 276 e em 1829 passaram a

ser 413 e em 1854 eram 2.600 fazendas de café. Esse número continuou em uma consideravel

crescente a partir de 1850 quando o café se expandiu para o oeste paulista e passou a competir

com o açúcar e ali o suplantou10. Em 1869, o deputado provincial, Paula Ferreira, em seu

discurso na Assembléia Legislativa, indicava: “ Senhores, a província de São Paulo é o café”.

E concluimos, o café era o escravo.

Determinadas estratégias foram realizadas para a construção desse cenário acima

apresentado: a primeira foi a intensificação do tráfico11 nos momentos que antecederam a

ilegalidade pelo acordo com os ingleses em 1831, a segunda, foi o tráfico como contrabando,

ou seja, a ilegalidade tornava-se uma alternativa e prática corrente.12 A terceira e quarta foi o

5 O Novo Farol Paulistano, nº40, 21/12/1831 e O Justiceiro, nº10, 1835. 6 Anais da Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo, 23 de fevereiro de 1835, vol. I, p.71-72. A partir de

agora A.A.L.P.S.P. 7 Atas da Câmara dos Deputados, 30 de janeiro de 1843, I, p.437. 8 BETHELL, Leslie. A abolição do tráfico de escravos no Brasil, 1807-1869. Rio de Janeiro: Expressão Cultural,

1976, p. 87. 9 Conforme Parron houve uma redução abrupta na entrada de escravos no centro-sul do Brasil entre 1831 e 1835,

em torno de 4.000 escravos. PARRON, Tâmis. . 2011. 10 LUNA, Francisco Vidal; KLEIN, Herbert. Evolução da sociedade e economia escravista de São Paulo, de

1750 a 1850. São Paulo: Edusp, 2006, p.93. 11 Para maiores informações do tráfico atlântico para o sudeste, ver: FLORENTINO, Manolo. Em costas negras.

Uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro ( séculos XVIII e XX). São Paulo: UNESP,

2014. 12 “Vós não ignoraes (sic) quão vãs têm sido as providencias dadas para não se escravizarem africanos,

introduzidos furtivamente nas nossas praias, seja pela conivência, e omissão das autoridades, ou seja pela

tráfico interprovincial e intraprovincial que se intensificou a partir da efetividade da lei Eusébio

de Queirós em 1850, momento em que o Oeste Paulista ingressava na produção.

Uma opção que se colocava no universo das possibilidades frente às necessidades de

alternativas aos problemas decorrentes da política proibitiva do tráfico atlântico e da questão

relativa à “escassez de braços”, poderia ter sido o próprio trabalhador livre nacional. Em São

Paulo, tais indivíduos encontravam-se dispersos por toda a província vivendo em condições que

lhes permitia absterem-se de vender sua força de trabalho de maneira sistemática.13 Aliás,

constantes e diversas foram as críticas direcionadas ao trabalhor livre nacional nos discursos

realizados pelos membros da Assembleia Legislativa paulista. Pouco acreditada na sua

perspectiva produtiva e moral, essa força de trabalho continuou em um plano secundário nos

debates legislativos provinciais como possível resposta à demanda da agricultura.

Ganharam corpo nesse contexto de leis proibitivas ao tráfico atlântico africano e de

expansão produtiva cafeeira, os projetos em torno da mão de obra decorrente da imigração14.

Mais uma vez olharam para fora. Cogitaram-se trabalhadores asiáticos (os coolies), porém, com

poucas simpatias nutridas pelos produtores e políticos paulistas por esses imigrantes, foi

engrossada, desde o início, o coro das vozes em defesa dos europeus e mais tardiamente, dos

americanos do norte. Dominava, no debate político provincial, que, “ se a colonisação pode

influir grandemente nos destinos do Imperio, cumpre que tratemos com preferencia de convidar

para o paiz e a provincia uma população affecta aos habitos de ordem e trabalho, como

predisposta á cultura da intelligencia”.15 A ideia de uma superioridade moral, importante no

contexto de construção da nação, reafirmaria a opção pelos europeus.

Concomitante ao esforço para ampliar a mão de obra escrava disponível, a província

paulista tornou-se uma das principais frentes de experimentos imigrantistas, inicialmente sob

ineficcacia (sic) das leis...”. Fala do presidente da província, Rafael Tobias de Aguiar. A.A.L.P.S.P. -1835-1836,

vol.1, pp-9-10. 13 Para maiores informações sobre o trabalhador livre nacional, ver: EISEMBERG, Peter. “O Homem

Esquecido”: O trabalhador livre nacional no século XIX. Homens Esquecidos. Campinas: UNICAMP, 1989 e

FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens Livres na Ordem Escravocrata. São Paulo: UNESP, 1997. 14 Para maiores informações sobre a relação entre escravidão e imigração europeia, ver: ALENCASTRO, Luis

Felipe de. Proletários e escravos. Imigrantes portugueses e cativos africanos no rio d Janeiro, 1850-1872. Novos

Estudos CEBRAP, Nº 21, julho de 1988, pp. 30-56; LAMOUNIER, Maria Lúcia. Da escravidão ao trabalho livre:

a lei de locação de serviços de 1879. Campinas: Papirus, 1988 e BEIGUELMAN, Paula. A crise do escravismo e

a grande imigração. São Paulo: Brasiliense, 1981.

15 Discurso proferido pelo Dr. José Antonio Saraiva, presidente da província de São Paulo por ocasião da

abertura do ano legislativo da A.A.L.P.S.P.em 15/02/1855, p.363.

os auspícios de particulares como Nicolau Vergueiro e depois com a articulação do poder

provincial a partir da Assembleia Legislativa e de seu executivo.16

A política imigrantista foi, assim, apresentada como parte da solução do problema que

a escravidão se tornou a partir do fim do tráfico atlântico, em meados do século XIX, e os

caminhos a serem por ela percorridos estariam ligados a uma gama de circunstância vinculada

à agenda escravagista.

A leitura da documentação possibilitou identificar um intenso debate de opiniões

convergentes e divergentes a respeito das variadas necessidades da agricultura provincial e das

desejadas finalidades que orientariam a imigração em São Paulo, ao longo do período abordado.

De maneira geral, pode-se definir essas orientações da seguinte maneira: suprimento da

carência de trabalhadores nas obras públicas e privadas, principalmente nas aberturas e

manutenções de estradas e ferrovias tão necessárias para o desenvolvimento da província;

destinadas ao povoamento das áreas virgens ou abandonadas como maneira de povoar o “vazio

demográfico”; abastecimento de braços para demanda da lavoura cafeeira; desenvolvimento

de uma produção agrícola para abastecer o mercado interno e a aumentar a riqueza provincial.

Quanto ao discurso construído a respeito da vinda do imigrante europeu, não significou

até 1870, um movimento que por objetivo e essência negasse a escravidão. Mesmo após essa

data, é necessário destacar que o discurso da imigração como um movimento de repulsa,

negação e suplantação da escravidão passou a ser problematizado, por uma ideia de

protelamento da solução para um tempo futuro indefinido e para ser resolvido ao longo da

História e não por uma questão de intervenção vislumbrada para o presente, quase que por um

plano metafísico. Encerrando os trabalhos legislativos do ano de 1869, o presidente da

Assembleia, concluía: “ A História dará solução a esta questão; ella que não pode ser

dominada pela acção dos governos, estudará as causas, e as revelará com a probidade

scientifica que a characterisa”.17

Mesmo quando se fala a partir de uma noção temporal é de uma perspectiva quase

natural que se estabeleceria as diretrizes para debater possíveis medidas para acabar com a

escravidão. Por ocasião do debate sobre a lei do Elemento Servil, que seria publicada em 1871,

o deputado Whitaker retomou em sua fala, para problematizá-la, a citação do deputado Oliveira

Braga, que entendia:

16 Os debates e propostas em relação ao modelo a ser constituído da política de imigração e colonização em São

Paulo é assunto recorrente nas sessões da Assembleia. 17 A.A.L.S.P. 1869. Apêndice, p-9.

“que para chegarmos a um fim desejável, era bastante a libertação do ventre e para

provar esta proposição citou o nobre deputado o exemplo de outras nações que

tractavam da libertação de seus escravos, exibindo ao mesmo tempo uma estatística

por meio da qual procurou demonstrar que no decréscimo da população escrava, no

nascimento e no óbito, encontravam-se bazes para acreditar-se que no praso de 35

anos seria, entre nós extinta a escravidão”.18

Reconhecido emancipacionista e entusiasta da imigração americana, o deputado

Whitaker, atacava parte das ideias de Oliveira Braga no que se referia a suficiência da libertação

do ventre para a extinção da escravidão, no entanto, reconhecia a impossibilidade de tratar de

maneira imediata sobre o processo emancipatório:

“...Devia fazer um protesto contra a sua proposição de que é bastante a libertação

do ventre para que a escravidão se extingua em pouco tempo. No entanto, sou o

primeiro a reconhecer que não se pode tractar imediatamente da emancipação; mas

também desejava que podessemos gosar no Paiz disso que se chama libertação de

escravos em um praso menos longo que aquelle de trianta e tantos anos”.19

Esse posicionamento, do deputado Withaker, era lugar comum entre os adeptos do

processo de emancipação do trabalho escravo. O que demonstra que ainda era distante uma

visualização do trabalho e da produção da riqueza paulista sem a presença da instituição

escrava. O que se buscava era estimular diante desse cenário a vinda dos imigrantes para a

composição da força de trabalho e da colonização na província.

Volto assim, a chamar a atenção, para a perspectiva teleológica de parcela da

historiografia que abordou a questão da escravidão pela ótica abolicionista na província de São

Paulo, com ênfase na “ transição do trabalho escravo para o trabalho livre”, pois, essa postura

empalidece o debate, tira as nervuras dos impasses colocados como desafios às ações cotidianas

dos coevos para dar as respostas aos seus problemas momentâneos e coloca como prioritárias

percepções históricas que podem levar a simplificações dos anseios, sentimentos e aspirações

que permeavam os debates intensos sobre a temática presenciado nas fontes abordadas.

Na 25ª sessão da Assembleia Legislativa da província de São Paulo, de 19 de junho de

1869, essa questão da escravidão e da imigração foi colocada nos seguintes termos pelo

deputado Whitaker:

18 A.A.L.P.S.P.1869. p.210. 19 A.A.L.P.S.P. 1869, p.210.

“ ...Para o immigrante não só serve os terrenos virgens como os já cançados,

encherga nelle uma outra face importantíssima, qual a que diz respeito à

emancipação do elemento servil. Sr. Presidente, onde vamos parar sinão refletirmos

para as consequências desta questão? V. Exc. Sabe que os escravos vindos do norte

estão encarecendo de tal forma, que quasi posso assegurar, que daqui á dous ou três

anos não teremos um escravo ainda pelo maior preço; os mananciais donde eles vem,

extinguem-se. Não sei porque não se ha de pensar nesta questão, não sei o que ha na

atmosfera que nos faz calar, quando é ella a questão mais vital, principalmente para

a província de São Paulo! Mas, Sr. Presidente, a par disto vejo que a questão é

melindrosa, que precisa de acurado estudo; mas, este acurado estudo é a respeito da

escravidão em si, e da sua emancipação, e não a respeito da substituição de braços,

que é do que falo agora...Receia-se falar nisso, oculta-se o que se pensa a respeito, e

nem sobre a immigração se quer dizer uma palavra! Começou –se a falar nisto a

quatro anos, porem, nada mais se disse, parece que era apenas um ensaio pueril...”.20

A urgência do debate sobre a abolição do elemento servil não era apenas uma questão

melindrosa que exigiria uma análise mais acurada. O melindre era na verdade uma

condicionante do processo imigratório. O próprio tráfico interprovincial21 afetava e conformava

o debate que deveria encaminhar, segundo alguns defensores, o desenvolvimento da agenda

imigrantista, a partir, de uma política de substituição de braços que naquele momento não

significava o fim do sistema escravista.

Ainda que as necessidades de mão de obra, fossem distintas, nas diferentes áreas da

expansão cafeeira na província, assim como nas demais atividades produtivas, a Assembleia

Legislativa não tinha se tornado o locus tomado pela representação em defesa de uma agenda

imigrantista de tendência abolicionista. Escravidão e imigração, acomodavam-se em uma

condição de hierarquia, complementaridade e atração.

Quanto a imigração europeia, a política oficial previa o assentamento em pequena

propriedade (núcleos coloniais), mediante a compra de lotes originários das terras devolutas.

Tratava-se de um projeto cuja execução fomentaria, em longo prazo, a imigração espontânea,

para o país. Aliás, a assembleia provincial enfrentando dificuldades em colocar em prática esse

modelo de colonização, enviou em 1842, à câmara dos deputados uma representação

informando:

20 A.A.L.P.S.P. 1869, p.233. 21 Para maiores informações sobre o tráfico interprovincial, ver: ; GRAHAN, Richard. Nos tumbeiros mais uma vez? O comércio interprovincial de escravos no Brasil. Afro-Ásia, nº 27, 2002, pp.121-160

SILVA, Ana Rosa Cloclet da. Tráfico interprovincial de escravos e seus impactos na concentração da população

da província de São Paulo: Século XIX. Campinas: Apeb, 2008.; SLENES, Robert. Grandeza ou decadência: o

mercado de escravos e a economia cafeeira da província do Rio de Janeiro. 1850-1888.In: COSTA, Iraci del Nero

(org). Brasil: História Econômica e Demográfica. São Paulo: IPE, 1986, p.103-155.

“Os obstáculos que ela tem encontrado em todas as suas vistas, e planos de

colonização estrangeira por não se achar designado por lei quaes os bens nacionais,

e quaes os provinciaes: o que a inhibe de poder dispor de uma parte da grande

extensão de terrenos devolutas, que se encontra nesta Provincia...”.22

Em parte a resposta seria dada pela lei nº 514, de 28 de outubro de 1848, ao transferir

para as províncias as terras devolutas que poderiam ser destinadas à colonização teria

provocado um alento na atividade imigratória para o país.23 De maneira geral, essa medida

proporcionou às províncias transformar a imigração em uma política regional. Além disso, essa

política de transformar os colonos em pequenos proprietários, encontrara forte resistência entre

os proprietários e políticos provinciais como por diversas vezes ficaram registradas nos debates

legislativos. A fala do presidente da província, José Antonio Saraiva, em 1855 é lapidar em

relação a esse assunto:

“ ...Estou convencido de que a grande propriedade não pode ser fracionada com

rapidez, e mesmo esse fracionamento tem limites além dos quaes não pode ir. Assim

o systema de tornar proprietários todos os colonos tem também defeitos, e defeitos

talvez tão graves como os de parceria...”.24

O acesso à terra pelos colonos, já havia sido motivo de intenso debate nas esferas

legislativas do país, e que culminaria com a Lei de Terras de 1850, que procurava legalizar as

terras particulares e, ao mesmo tempo delimitar as terras públicas e limitar o acesso aos

imigrantes.

A parceria que também decepcionaria as partes envolvidas no contrato, seria uma

alternativa, enquanto a imigração oficial não era concretizada. Uma das formas de sanar as

necessidades da agricultura residia no financiamento de passagens de colonos a serem

transportados para as fazendas de café. Esse custo caberia aos fazendeiros e excepcionalmente

ao Estado. Em São Paulo, o poder provincial, tornou-se um importante aliado dos fazendeiros

nessa política para encontrar soluções aos problemas da mão de obra, inclusive liberando

valores para os contratantes.

Nos debates legislativos de finais da década de 1860 e início de 1870, mais do que o

encaminhamento da agenda abolicionista, o que os coevos de fato se ocuparam fora com o

22 A.A.L.P.S.P.1842, p.39. 23 IOTTI, Luiza H. Imigração e colonização. Legislação de 1747-1915. Caxias do Sul: EDUCS, 2001. P.23. 24 A.A.L.P.S.P.1855, p. 404.

formato de uma imigração a ser efetivada. A escravidão era uma verdade de mais de três

séculos, enquanto a imigração nuançava altos e baixos, avanços e retrocessos, aliás, a reboque

da primeira.

Em um acalorado debate a respeito de um contrato para trazer até a província, mil

famílias, escolhidas entre agricultores do sul dos Estados Unidos, os deputados Paula Souza,

Oliveira Braga e Whithaker apresentaram em seus discursos e propostas, as complexidades dos

caminhos a serem enfrentados pelos defensores da imigração:

“Sr. B. de Paula Souza:...Mas os alemães pertencem a uma raça muito vigorosa,

trabalhadora e morigerada, mas não são os melhores, são tão bons, talvez como os

americanos no que toca amor ao trabalho, moralidade, respeito a lei e a autoridade.

(...) Elles (alemães) veem como colonos, e o projeto o que tem em vista é convidar

uma nação forte e vigorosa para conviver conosco. Immigração é uma cousa, e

colonização é outra muito diversa. Colono quer dizer cultivador, immigrante quer

dizer novo habitante. Nos queremos os americanos como paulistas novos, como

paulistas adoptivos...Só que não convem a immigração do sul, porque são homens

que possuíram escravos.

Sr. Whithaker:...Qualificou minhas ideias de antiliberais...pelo facto de ir procurar os americanos do sul, exatamente onde está mais enraizado a instituição da

escravidão.

Sr: B. de Paula Souza: Só o facto desses homens terem tidos escravos é motivo para

não serem bons entre nós? Elles trazem escravos?

Sr. Oliveira Braga: Mas, veem comprar.

Sr. B. de Paula Souza: Que comprem? É uma instituição do paiz.”.25

Esse debate em relação à diferenciação entre grupos de imigrantes que deveriam ser

direcionados para finalidades distintas e suas perspectivas de integração na sociedade paulista,

tornou-se uma constante com a imigração sob a tutela do poder provincial e apontavam para

direções que refletiam as necessidades e anseios de interesses regionais. Os estigmas

construídos pelos contemporâneos a respeito dos grupos que para cá viriam não devem ser

menosprezados para uma melhor compreensão do fluxo migratório para a província, pois entre

várias possibilidades algumas direcionaram essa complexa construção da política imigratória

no século XIX.

Pensar que a imigração, pressupõe, apenas o trabalhador livre que vem rivalizar com o

escravo, nacional ou africano, é desconsiderar o peso da própria ordem escravista, aliás,

responsável por parte das experiências fracassadas com o trabalho livre, como Ibicaba, por

exemplo. Talvez os americanos do sul, pela experiência escravista devessem ser mais aptos

para uma integração como novos paulistas em uma sociedade que construía seus valores

escravistas? Pois, como disse o deputado B. de Paula Souza: “ que comprem, é uma instituição

do paiz?

25 A.A.L.P.S.P. 1869, p.248.

Ora, as diversas fases da imigração, as diferentes formas de contratos em busca de um

ajustamento ante o padrão escravista: como a parceria, a locação de serviço e o colonato, os

tratamentos dispensados aos imigrantes e as distintas finalidades para a qual a imigração se

constituiria na província paulista, inclusive seus insucessos e decepções, para além de

demonstrar um processo guiado para a superação da escravidão pelas incompatibilidades e a

constituição de um mercado de trabalho livre como consequência da preocupação dos

cafeicultores em manter o controle sobre o processo de reorganização do mercado de trabalho,

demonstra sua complementaridade, hierarquicamente determinada pela escravidão e pela

representação que a própria instituição adquiriria e que cada vez mais definiria econômica e

socialmente a província paulista do século XIX, ou seja, a escravidão era o denominador

comum.

A lei do Elemento Servil de 1871 representaria, ao mesmo tempo, um ataque à verdade

que a escravidão tinha se constituído e sua prorrogação. Representaria também uma nova

possibilidade para se estimular a experimentada imigração estrangeira, ainda mais que se

desenvolveriam medidas restritivas ao tráfico interprovincial para São Paulo. Essas questões

acima levantadas são características que permitem problematizar esse caráter determinado,

gradual e inevitável da superação do trabalho escravo pelo trabalho livre. Assim, a agenda

imigrantista não significaria a substituição ou condenação do cativeiro e nem a escravidão um

estorvo à imigração.

Considerações Finais

A escravidão africana se tornaria central na economia da província paulista do século

XIX e a necessidade de sua manutenção e expansão seria responsável por constituições de

práticas que acabariam conformando o jogo político e a dinâmica do poder provincial. Assim,

desenvolveu-se uma peculiar política imigrantista europeia como parte constituinte da solução

do problema que a escravidão se tornaria na província em franca expansão de sua atividade

econômica, sobretudo cafeeira, e que demandaria uma crescente dependência de braços. A

escravidão, no período abordado, se recrudescia, concentrando-se inicialmente na produção do

açúcar e posteriormente do café.

A província paulista se tornaria, em 1872, a terceira maior área escravista do Império e

uma veterana na política imigracionista que mesmo com os percalços, também avançara, e seria

fundamental para a sua consolidação a partir dos anos 1880. Assim, priorizou-se, uma

abordagem do processo imigratório como uma construção socialmente determinada ante as

necessidades que os coevos se deparavam e também como um elemento complementar a

política de manutenção e de preservação e não de exclusão da escravidão na província paulista.

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