entoação das respostas das crianças

Upload: kevin-johnson

Post on 13-Apr-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/25/2019 Entoao Das Respostas Das Crianas

    1/15

    Sobre a entoao das respostas de crianas em contextosconfirmativos

    Ana Isabel Mata e Ana Lcia Santos

    FLUL / CLUL, Universidade de Lisboa

    Abstract

    The analysis of question-answer pairs in a corpus of child-adult interaction inEuropean Portuguese offers evidence that at least from 2;0 the intonation patterns ofchildrens answers varies according to the discourse context and signals early sensitivityto the pragmatic value of the question. After 2;0 there is a general increase oflow/falling pitch accents and falling boundary tones in answers, which we interpret as aconvergence with the intonation expected in declaratives. These results also call for ananalysis of answers by subtypes of questions function: F0 height and low/falling vs.high/rising pitch accents correlate with neutral/non-neutral acceptance inunderstanding confirmation-questions.

    Keywords/Palavras-chave: intonation, affirmative answers, confirmation-seekingquestions, adult-child dialogues / entoao, respostas afirmativas, interrogativasconfirmativas, dilogos adulto-criana.

    1. Introduo

    Apresentamos, neste artigo, um trabalho exploratrio sobre a entoao emdilogos espontneos adulto-criana em Portugus Europeu (PE). Sendo esta uma reavirtualmente inexplorada em Portugus, incidiremos aqui fundamentalmente sobre ospadres entoacionais de respostas afirmativas dadas em contextos confirmativos porcrianas que se encontram em estdios iniciais de desenvolvimento, explorandopotenciais correlaes entre entoao nas respostas das crianas e padro entoacional e

    valor pragmtico das perguntas dos adultos que desencadearam essas mesmas respostas.Procuramos, deste modo, no apenas obter dados sobre padres entoacionaisdisponveis nos primeiros estdios de desenvolvimento, mas, sobretudo, perceber atque ponto a escolha de padres entoacionais nas respostas determinada por umasensibilidade precoce das crianas ao valor pragmtico da pergunta do adulto codificadoem parte na entoao.

    A relao entre funo discursiva e entoao em respostas curtas produzidas poradultos foi j tratada em alguns trabalhos anteriores. Estes trabalhos mostraram que aentoao pode distinguir as respostas de acordo com a sua funo (acknowledgments/agreements, backchannels) veja-se Curl & Bell (2001) para os yeah que soagreement e os que so backchannel; Benus et al. (2007) para backchannels epara respostas curtas que so agreement.

  • 7/25/2019 Entoao Das Respostas Das Crianas

    2/15

    Por outro lado, h tambm trabalhos que verificaram a existncia de mecanismosde concordncia tonal no dilogo. Estes mecanismos consistem na adaptao da alturarelativa da voz no dilogo e caracterizam o comportamento cooperativo em dilogosentre adultos (veja-se Brazil, 1985; Couper-Kuhlen & Selting, 1996; Wichmann, 2000;Wennerstrom, 2001; Heldner, Edlund & Hirschberg, 2010 mostram que a altura da vozem backchannels se adapta altura da voz do enunciado do interlocutor).

    Tendo em conta estes resultados de investigao prvia, ser ento de esperar quea entoao adulta de respostas curtas seja afectada por, pelo menos, dois factores: (i) afuno pragmtica da resposta, que estar relacionada com a funo pragmtica dapergunta e (ii) a altura da voz no enunciado precedente. Neste trabalho, tentamosverificar at que ponto as respostas curtas das crianas so tambm afectadas por estesdois factores.

    sabido que os primeiros estdios de desenvolvimento lingustico se caracterizampor uma proporo elevada de contornos descendentes (veja-se Snow, 2006, Chen &Fikkert, 2007, entre outros). Por outro lado, h trabalho recente que sugere que oinventrio adulto de acentos nucleares e tons fronteira e os respectivos padres dealinhamento de F0 so dominados muito cedo pelas crianas, em alguns casos antesmesmo ou por volta dos 2;0. Vo neste sentido os resultados de Frota & Vigrio (2008)

    para o Portugus, Vanrell et al. (2010) para o Castelhano e o Catalo, entre outros; Chen& Fikkert (2007) no confirmam, nos dados do Holands, uma aquisio muito precocede todo o inventrio tonal adulto.

    No que diz respeito ao escalonamento de F0, Frota & Vigrio (2008) sugerem queesta uma rea ainda em desenvolvimento aos 2;0; Snow (2006) mostra que aamplitude da variao de F0 de acentos tonais se desenvolve por volta dos 18 meses.Tendo em conta os resultados de investigao anterior aqui mencionados, no claro sedevemos de facto esperar encontrar efeitos de modificao de pitch ou efeitos deadequao pragmtica da entoao nas respostas curtas produzidas pelas crianas.Contudo, caso se encontrem efeitos deste tipo, esperamos diferenas de idade,nomeadamente diferenas entre produes no perodo < 2;0 e no perodo >2;0.

    Na prxima seco, apresentamos trabalho desenvolvido anteriormente sobre aentoao de interrogativas globais confirmativas na fala dirigida a crianas. Na seco

    3, descrevemos os dados tratados neste trabalho e na seco 4 apresentamos osresultados da anlise da entoao das respostas das crianas a interrogativasconfirmativas. Mostraremos que depois dos 2;0 as respostas comeam a convergir como padro de entoao das declarativas em PE e que se comea nessa altura a observaruma correlao entre padres entoacionais nas respostas e tipo de funo pragmtica dapergunta. Na seco 5, apresentamos as concluses do trabalho.

    2. Trabalho anterior sobre a entoao de interrogativas confirmativas

    Num trabalho anterior (Mata & Santos, 2010), analismos 301 interrogativasglobais confirmativas produzidas por trs adultos e extradas de um corpus de 28h defala espontnea dirigida a duas crianas (um subconjunto do corpus de Santos

  • 7/25/2019 Entoao Das Respostas Das Crianas

    3/15

    2006/2009). Estas 301 interrogativas correspondem a todas as interrogativasconfirmativas1produzidas por adultos que obtiveram resposta afirmativa por parte dascrianas e que permitiam anlise acstica.

    As 301 interrogativas foram codificadas de acordo com trs nveis de aco quedefinem a origem do problema que justifica o pedido de confirmao (veja-se Clark1996 e tambm Rodrguez & Schlangen 2004, Venditti, Hirschberg & Liscombe 2006):

    contacto (contact), percepo (perception) e compreenso (understanding). No caso dea interrogativa confirmativa ser codificada como de compreenso, a interrogativacentra-se no significado de um enunciado que a precede; no caso de pedidos deconfirmao codificados como de percepo, o que est em causa a descodificaodo sinal e, portanto, a confirmao do que foi pronunciado. Por seu lado, asinterrogativas confirmativas classificadas como de contacto no resultam de umverdadeiro problema de comunicao: o falante produz o pedido de confirmaoparecendo desejar apenas a manuteno da interaco.

    A anlise dos diferentes subtipos de interrogativas confirmativas mostra que osvalores pragmticos influenciam a distribuio de tons nucleares e o nvel de F0:

    (i)

    H* e L+H* ocorrem sobretudo em interrogativas confirmativas codificadascomo de percepo;

    (ii)

    L*+H ocorre sobretudo em interrogativas confirmativas codificadas como decompreenso;(iii) em geral, as interrogativas confirmativas de percepo so produzidas numregisto mais alto do que as interrogativas de compreenso (nvel de F0 mais altoquer no acento nuclear quer no tom fronteira).

    As interrogativas confirmativas de compreenso foram ainda codificadas quanto anvel de aceitao (um outro nvel de aco, Clark 1996), distinguindo-se aceitaoneutra e no neutra. A aceitao no neutra corresponde aos casos em que ainterrogativa interpretada como sugerindo incorreco, incredulidade ou surpresa. Osresultados da anlise mostram uma correlao entre diferentes nveis de aceitao ediferentes acentos nucleares: H+L* (o acento nuclear mais comum em interrogativasno confirmativas em PE) ocorre principalmente em interrogativas neutras; em

    interrogativas confirmativas no neutras, encontramos sobretudo L*+H e ^H*. Naverdade, e como foi notado por Mata & Santos (2010), os acentos nucleares que seassociam a interrogativas no neutras esto associados marcao de Contraste: L*+Hfoi associado marcao de Foco estreito / contrastivo em interrogativas por Frota(1998/2000, 2002); ^H* foi associado a especificao ou correco de informao dadapor Viana et al. (2007).

    Neste trabalho, analisamos os padres de entoao de respostas afirmativasproduzidas por crianas a diferentes subtipos de interrogativas confirmativas produzidaspor adultos (compreenso, incluindo nvel de aceitao neutro e no neutro, percepo econtacto).

    1

    Definio de interrogativa confirmativa de acordo com Prvot (2004).

  • 7/25/2019 Entoao Das Respostas Das Crianas

    4/15

    3. Corpusanalisado

    Para este trabalho, usmos o mesmo corpusde fala dirigida a crianas j exploradoanteriormente no trabalho sobre interrogativas de sim-no confirmativas: foramanalisados 232 pares pergunta-resposta (

  • 7/25/2019 Entoao Das Respostas Das Crianas

    5/15

    Acentos Tonais

    H+L* H*+L L*+H L+H* H* L* ^H* ()

    Tons Fronteira

    L% H% !H% LH% HL%Towards a P_ToBI

    Acentos Tonais

    H+L* H*+L L*+H L+H* H* L* ^H* ()

    Tons Fronteira

    L% H% !H% LH% HL%Towards a P_ToBI

    Figura 1: Esquematizao de contornos de F0 para acentos tonais e tons fronteira usados naetiquetagem de pares pergunta-resposta, seguindo Towards a P_ToBI. (As linhasindicam a

    slaba acentuada.)

    Para cada par pergunta-resposta, procedeu-se medio dos valores de F0

    correspondentes a alvos altos (H) e baixos (L) em acentos tonais nucleares e tons defronteira final, e converso desses valores em semitons (ST). Para os acentos tonais, ovalor mximo de F0 (H) e o valor mnimo de F0 (L) foram medidos no interior (ou navizinhana imediata) da slaba tnica da palavra acentuada. Para os tons de fronteira,foram extradas medidas idnticas de (mximos e mnimos) de F0 no limite da fronteiradireita da pergunta e da resposta. Tanto para acentos tonais como para tons de fronteirafinal, procedeu-se ainda ao clculo da amplitude de variao de F0 (diferena entrevalores mximos e valores mnimos F0).

    4. Resultados

    4.1. Entoao das respostas de crianas em contextos confirmativos

    A anlise de 232 respostas afirmativas de crianas a interrogativas confirmativasde sim-no de adultos permite verificar um aumento generalizado de acentos tonais detipo baixo/descendente a partir dos 2;0 (2 (1)= 11.946,p=.001). Como se pode ver noquadro 2, enquanto antes dos 2;0 cerca de 50% das respostas apresentam acentos tonaisde tipo alto/ascendente - (L+)H*, L*+H - e baixo/descendente - (H+)L*-, a partir dos2;0 cerca de 70% das respostas ocorrem com acentos de tipo baixo/descendente.

  • 7/25/2019 Entoao Das Respostas Das Crianas

    6/15

    Respostas afirmativasdas crianas

    Acentos Tonais

    Subtipos deperguntas

    confirmativasdos adultos

    Grupoetrio

    Alto / Asc.

    (L+)H*, L*+H

    Baixo / Desc.

    (H+)L*

    N(%)

    Compreenso

    < 2 anos

    2 anos

    22

    21

    24

    38105(45.3)

    Percepo< 2 anos

    2 anos

    22

    18

    13

    44

    97(41.8)

    Contacto< 2 anos

    2 anos

    3

    4

    5

    18

    30(12.9)

    N(%)

    < 2 anos

    2 anos

    47 (52.8)

    43 (30.1)

    42 (47.2)

    100 (69.9)

    232(100)

    Quadro 2. Distribuio de acentos tonais nas respostas afirmativas de acordo com subtiposde pergunta e grupo etrio

    A partir dos 2;0 anos, verifica-se tambm um aumento de respostas com tons defronteira final descendentes (L%) o que particularmente visvel nas respostas aperguntas confirmativas de percepo e de contacto (veja-se a figura 2).

    Figura 2: Percentagem de fronteiras descendentes/no-descendentes nas respostasafirmativas por subtipos de pergunta e grupo etrio

    Este aumento global conjunto de fronteiras finais descendentes e acentos tonaisbaixos/descendentes resulta numa clara associao das respostas das crianas a partirdos 2;0 a um contorno nuclear descendente.

    Como foi j referido, muitos estudos (veja-se Snow, 2006 e referncias a citadas;Chen & Fikkert, 2007, entre outros) tm sugerido a existncia de uma tendncia geral,nos primeiros estdios de aquisio, para a produo de contornos descendentes. Porm,

  • 7/25/2019 Entoao Das Respostas Das Crianas

    7/15

    o efeito de idade encontrado nos dados em anlise exclui este tipo de explicao. Oaumento de contornos entoacionais descendentes em respostas afirmativas aquiinterpretado como resultado de uma convergncia com a entoao das declarativas nagramtica-alvo, cujo contorno cannico em PE : H+L* L%.

    Os resultados do quadro 2 apontam ainda para a necessidade de uma anlise dasrespostas em funo do valor pragmtico (funo) das perguntas que suscitaram essas

    mesmas respostas. Considerando cada uma das trs subcategorias (compreenso,percepo, contacto), verificamos que em respostas a confirmativas relacionadas com apercepo ocorrem mais frequentemente casos de acento baixo/descendente depois dos2;0 (2 (1)= 10.563, p=.001). As respostas a confirmativas de contacto so definidaspredominantemente com acentos baixos/descendentes em ambos os grupos etrios,muito embora a proporo destes acentos aumente depois dos 2;0. Finalmente, nasrespostas a confirmativas relacionadas com a compreenso, verificamos um aumento decasos de acento baixo/descendente depois dos 2;0 anos, porm a diferena entre gruposetrios no significativa. Na prxima seco consideraremos em particular esteconjunto de pares pergunta-resposta.

    4.2. Pistas entoacionais em respostas a confirmativas (no-)neutras

    Acentos Tonais. Para melhor compreender as diferenas de comportamento dasrespostas a interrogativas confirmativas de compreenso, devemos recordar que estasinterrogativas no so todas equivalentes e podem ser pragmaticamente subclassificadascomo de aceitao neutra / no-neutra. De acordo com o estudo que realizmosanteriormente (ver seco 2), as confirmativas de compreenso no-neutras associam-sea acentos tonais particulares - L*+H, ^H* -, apresentando as neutras frequentementeH+L*, o acento tonal mais comum em interrogativas de sim-no em PE. Ora, quando sedividem as respostas a confirmativas de compreenso de acordo com o nvel deaceitao codificado na pergunta, os resultados tornam-se claros. Enquanto antes dos2;0 no se observa uma tendncia clara, favorvel a uma associao entre acentosaltos/ascendentes ou baixos/descendentes e respostas a perguntas neutras ou no-neutras, depois dos 2;0 apenas as respostas a perguntas neutras convergem com a

    tendncia geral de ocorrncia de acentos de tipo baixo/descendente (veja-se o quadro 3).Isto significa que, a partir dos 2;0, mais provvel uma resposta a uma pergunta no-neutra associar-se a um acento alto/ascendente do que uma resposta a uma perguntaneutra. A correlao entre distribuio de acentos altos/ascendentes ebaixos/descendentes nas respostas e aceitao neutra/no-neutra nas perguntas estatisticamente significativa depois dos 2;0 (2 (1)= 4.664, p

  • 7/25/2019 Entoao Das Respostas Das Crianas

    8/15

    2;0 (Mann-Whitney Test, U=272.50, p

  • 7/25/2019 Entoao Das Respostas Das Crianas

    9/15

    descendente que se inicia num nvel mais elevado que o de uma resposta a umaconfirmativa de compreenso neutra.

    Exemplificam-se de seguida estas estratgias de resposta3. Tendo presente que aspistas entoacionais que assinalam perguntas no-neutras foram associadas a marcaode Contraste por Mata & Santos (2010), o que estes resultados sugerem que,aparentemente, a sensibilidade marcao prosdica de Contraste est a comear a ser

    construda pelas crianas a partir dos 2;0.

    Respostas a perguntas no-neutras Respostas a perguntas neutras

    Contornos descendentes

    a. Criana: INM b. Criana: INM

    100100

    200

    300

    400

    500

    600

    Funda

    mentalfrequency(Hz) 0

    tem

    H+L* L%

    100100

    200

    300

    400

    500

    600

    Funda

    mentalfrequency(Hz) 0 0.5

    sim

    H+L* L%

    c. Criana: TOM d. Criana: TOM

    100100

    200

    300

    400

    500

    600

    Fundamentalfrequency(Hz) 0 0.5

    H* L%

    100100

    200

    300

    400

    500

    600

    Fundamentalfrequency(Hz) 0 0.5

    andam

    H* L%

    Figura 4: Contornos descendentes em respostas a confirmativas de compreenso

    (no-)neutras produzidas por duas crianas 2;0

    3Figuras feitas com o programa Praat e o script de Pauline Welby. (Este script pode desenhar contornos de F0

    sobre segmentos no-vozeados.)

  • 7/25/2019 Entoao Das Respostas Das Crianas

    10/15

    Respostas a perguntas no-neutras Respostas a perguntas neutras

    Contornos no-descendentes

    e. Criana: TOM f. Criana: TOM

    100100

    180

    260

    340

    420

    500

    Fundamentalfrequency(Hz) 0

    tenho

    L*+H !H%

    100100

    180

    260

    340

    420

    500

    Fundamentalfrequency(Hz) 0

    tens

    L*+H !H%

    g. Criana: INM h. Criana: INM

    100100

    180

    260

    340

    420

    500

    Fundamentalfrequency(Hz) 0

    H* !H%

    100100

    180

    260

    340

    420

    500

    Fundamentalfrequency(Hz) 0

    H* !H%

    Figura 5: Contornos no-descendentes em respostas a confirmativas de compreenso

    (no-)neutras produzidas por duas crianas 2;0

    Uma outra questo relevante a de saber se as respostas das crianas evidenciamefeitos de adaptao da altura da voz (pitch concord) relativamente s perguntas que

    desencadearam essas mesmas respostas. No caso das respostas a confirmativas decompreenso, verifica-se, efectivamente, uma correlao entre mximos de F0 decontornos nucleares de perguntas e respostas a partir dos 2;0: para respostas comcontorno descendente, a correlao significativa entre Mx(imo)_Ac(ento) Ton(al)(assim como entre Mximo_Contorno) da interrogativa confirmativa de compreenso eMx(imo)_Ac(ento) Ton(al) da resposta (rs = .480, p (one-tailed)

  • 7/25/2019 Entoao Das Respostas Das Crianas

    11/15

    correlacionam com o nvel de F0 do contorno nuclear da pergunta, e sugerem que acriana pode utilizar mecanismos de adaptao da altura da voz entre turns.

    Por ltimo, procurmos verificar se as assimetrias observadas na distribuio decontornos descendentes / no-descendentes em funo da idade das crianas noresultariam de um efeito de variao no prprio input(i.e. na pergunta). Comparando onmero de ocorrncias de diferentes tipos de acento tonal em cada subtipo de pergunta

    confirmativa dirigida pelos adultos s crianas (compreenso, percepo, contacto,aceitao neutra vs. no-neutra), antes e depois dos 2;0, a anlise no revela diferenassignificativas. Isto significa que, no que respeita a acentos nucleares, uma perguntadirigida a uma criana antes dos 2 anos de idade semelhante a uma pergunta dirigida auma criana dos 2 anos em diante. Para alm disso, os acentos tonais nas respostas dascrianas no so uma simples cpia dos acentos nucleares que ocorrem na pergunta -no foram encontradas correlaes entre tipos de acento na pergunta e tipos de acentona resposta. Fianlmente, considerando as perguntas de compreenso que expressamaceitao neutra e no-neutra, tanto antes dos 2;0 como depois dos 2;0 so associadosdiferentes acentos nucleares aos diferentes valores pragmticos (distribuio de acentosde tipo alto/ascendente e baixo/descendente em interrogativas neutras vs. no neutras:

  • 7/25/2019 Entoao Das Respostas Das Crianas

    12/15

    a. b.

    Figura 6: Nvel de F0 nuclear (mximos de F0) em confirmativas de compreenso de acordocom nveis de aceitao e grupo etrio

    Como se sabe, a fala dirigida a crianas pode diferir da fala dirigida a adultosprincipalmente de dois modos: marcando com exagero contrastes (por exemplo,prosdicos) que fazem parte da fala dos adultos (ver Fernald & Simon, 1984 e, parauma reviso recente, Payne et al. 2010 e tambm Kempe, Schaeffler e Thoresen, 2010)ou evitando o uso de certas estruturas (por exemplo, sintcticas) nos estdios iniciais dodesenvolvimento lingustico das crianas (Evers-Vermeul, 2005, para o Holands eCosta et al. 2008 para o Portugus, com base no corpus que foi explorado nestetrabalho).

    Os resultados do presente trabalho sobre pares pergunta-resposta em dilogosespontneos adulto-criana indicam que os contrastes fonticos entre perguntas decompreenso neutras e no-neutras podem ser mais fortemente marcados em perguntasdirigidas a crianas mais velhas, o que sugere que os mecanismos usados paradesambiguao da interpretao destes subtipos de perguntas podem aumentar outornar-se mais evidentes com a idade das crianas.

    5. Concluses

    Este estudo teve como principal objectivo verificar se os padres entoacionais dasrespostas afirmativas das crianas variam de acordo com o contexto discursivo,

    manifestando uma sensibilidade precoce interpretao do valor pragmtico do input.Os resultados apresentados no presente trabalho, em conjunto com os que foram

    discutidos em trabalho anterior (Mata & Santos, 2010), mostraram que a entoao (tipode acento nuclear e nveis de F0 de acentos nucleares e tons de fronteira) permitedesambiguar a interpretao de interrogativas de sim-no que funcionam como pedidosde confirmao em fala dirigida a crianas no Portugus Europeu.

    O presente trabalho concentrou-se na anlise da correlao entre pares pergunta-resposta, nomeadamente nos padres entoacionais das respostas afirmativas de uma spalavra dadas por crianas a interrogativas globais confirmativas produzidas poradultos. A anlise dessas respostas mostra uma convergncia com o padro entoacionaldas declarativas em Portugus Europeu a partir dos 2;0. Antes dos 2;0, as respostas emanlise sugerem a existncia de um perodo caracterizado por uma menor definio de

  • 7/25/2019 Entoao Das Respostas Das Crianas

    13/15

    contrastes (cerca de 50% das respostas tem acentos tonais de tipo alto/ascendente) 5, aque se segue uma convergncia com a gramtica do adulto.

    Para alm disso, os resultados mostram que, a partir dos 2;0, a entoao nasrespostas das crianas varia de acordo com o contexto pragmtico/discursivo,correlacionando-se com subtipos de confirmativas definidos pela sua funo: acentostonais de tipo baixo/descendente - (H+)L* - e acentos tonais de tipo alto/ascendente -

    (L+)H*, L*+H -, bem como nveis de F0 (mximos de F0 em acentos tonais) dasrespostas correlacionam-se com a expresso de aceitao neutra/no-neutra eminterrogativas de confirmao da compreenso.

    Finalmente, depois dos 2;0, h ainda evidncia de uma correlao entre o nvel deF0 nuclear em perguntas e respostas, sugerindo que a criana poder usar mecanismosde adaptao da altura da voz entre turns.

    Este trabalho pode ser entendido como uma primeira tentativa de abordagem derelaes significado-forma em contexto de dilogo espontneo adulto-criana, visandouma melhor compreenso das interaces entre entoao e discurso em PortugusEuropeu.

    Referncias

    Balog, Heather L. 2010. A comparison of maternal and child intonation: Does adultinput support child production?Infant Behavior & Development33: 337-345.

    Benus, Stefan, Agustn Gravano & Julia Hirschberg. 2007. The prosody ofbackchannels in American English, In Proceedings ICPhS XVI, Saarbrcken: 1065-1068.

    Brazil, David. 1985. Phonology: Intonation in Discourse. In Teun A. van Dijk, T. (ed.)Handbook of Discourse Analysis II: Dimensions of Discourse. pp. 57-75. London:Academic Press.

    Chen, Aoju & Paula Fikkert. 2007. Intonation of early two-word utterances in Dutch. InProceedings ICPhS XVI, Saarbrcken: 315-320.

    Clark, Herbert H. 1996. Using Language. Cambridge: CUP.Correia, Susana. 2009. The Acquisition of Primary Word Stress in European

    Portuguese. Diss. Doutoramento, Universidade de Lisboa.Costa, Ana Lusa, Nlia Alexandre, Ana Lcia Santos & Nuno Soares. 2008. Efeitos de

    modelizao no input: o caso da aquisio de conectores. In Snia Frota & AnaLcia Santos (eds.) Textos seleccionados do XXIII Encontro da AssociaoPortuguesa de Lingustica, Lisboa: 131-142.

    Couper-Kuhlen, Elizabeth & Margret Selting (eds.). 1996. Prosody in Conversation:Interactional Studies. Cambridge: CUP.

    Curl, Traci S. & Alan Bell. 2001. Yeah, yeah, yeah: Prosodic differences of pragmaticfunctions. University of Colorado.

    5Tambm para outros parmetros prosdicos, nomeadamente para o acento de palavra, foi j observada emPortugus Europeu uma grande variabilidade nas produes de crianas com menos de dois anos (ver Correia,

    2009).

  • 7/25/2019 Entoao Das Respostas Das Crianas

    14/15

    Evers-Vermeul, Jacqueline. 2005. The Development of Dutch Connectives: Change andAcquisition as Windows on Form-Function Relations. Utrecht: LOT.

    Fernald, Anne & Thomas Simon. 1984. Expanded intonation contours in mothers'speech to newborns.Developmental Psychology, 20(1), 104-113.

    Frota, Snia. 1998. Prosody and Focus in European Portuguese. Diss. Doutoramento,Universidade de Lisboa. [publicado em 2000, Garland].

    Frota, Snia. 2002. Nuclear falls and rises in European Portuguese: A phonologicalanalysis of declarative and question intonation. Probus14: 113-146.

    Frota, Snia & Marina Vigrio. 2008. The intonation of one-word and first two-wordutterances in European Portuguese. Comunicao apresentada no XI InternationalConference for the Study of Child Language Conference(IASCL), Edinburgh.

    Heldner, Mattias, Jens Edlund & Julia Hirschberg. 2010. Pitch similarity in the vicinityof backchannels. In Proceedings InterSpeech 2010, Makuhari: 3054-3057.

    Kempe, Vera, Sonja Schaeffler & John. C. Thoresen. 2010. Prosodic disambiguation inchild-directed speech.Journal of Memory and Language62: 204-225.

    Mata, Ana Isabel & Ana Lcia Santos. 2010. On the Intonation of ConfirmationSeeking Requests in Child-Directed Speech. In Proceedings of Speech Prosody2010, Chicago.

    Payne, Elinor, Brechtje Post, Llusa Astruc, Pilar Prieto & Maria del Mar Vanrell. 2010.A cross-linguistic study of prosodic lengthening in child directed speech. InProceedings ofSpeech Prosody 2010. Chicago.

    Prvot, Laurent. 2004. Structures smantiques et pragmatiques pour la modlisation dela cohrence dans des dialogues finaliss. Diss. Doutoramento. Universit PaulSabatier, Toulouse III.

    Rodrguez, Kepa Joseba & David Schlangen. 2004. Form, intonation and function ofclarification requests in German task-oriented spoken dialogues, SemDial 2004,Barcelona.

    Santos, Ana Lcia. 2006. Minimal Answers. Ellipsis, syntax and discourse in theacquisition of European Portuguese. Diss. Doutoramento, Universidade de Lisboa.[publicado em 2009, John Benjamins]

    Snow, David. 2006. Regression and reorganization of intonation between 6 and 23

    months. Child Development, vol. 77 (2): 281-296.Vanrell, Maria del Mar, Pilar Prieto, Llusa Astruc, Elinor Payne & Brechtje Post. 2010.

    Early acquisition of F0 alignment and scaling patterns in Catalan and Spanish. InProceedings of Speech Prosody 2010, Chicago.

    Venditti, Jennifer J., Julia Hirschberg & Jackson Liscombe. 2006. Intonational cues tostudent questions in tutoring dialogs. In Proceedings of Interspeech 2006 - ICSLP,Pittsburgh, Pennsylvania: 549-552.

    Viana, Cu, Snia Frota, Isabel Fal, Flaviane Fernandes, Isabel Mascarenhas, AnaIsabel Mata, Helena Moniz & Marina Vigrio. 2007. Towards a P_ToBI. PAPI2007.Workshop on the Transcription of Intonation in Ibero-Romance. Universidade doMinho. (ver http://www.ling.ohio-state.edu/~tobi/)

  • 7/25/2019 Entoao Das Respostas Das Crianas

    15/15

    Wennerstrom, Ann. 2001. The Music of Everyday Speech: Prosody and DiscourseAnalysis. Oxford: OUP.

    Wichmann, Anne. 2000. Intonation in Text and Discourse: Beginnings, Middles andEnds. Harlow: Longman.